BAGNO, Marcos Araújo. A norma oculta, língua e poder na sociedade brasileira. 8ª Ed.
São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
Randália Amaro Pereira Dantas
Marcos Araújo Bagno nasceu em 21 de agosto de 2961 em Cataguases, MG é um professor
de lingüística e escritor brasileiro. Atua mais especificamente na área de sociolinguística e literatura infanto-juvenil, bem como questões pedagógicas sobre o ensino de português no Brasil. Bagno vem se destacando cada dia mais no meio linguístico com seus ataques aos preconceitos lingüísticos pelas grandes gramáticas e seus autores que não parecem entender as mudanças naturais da língua. A literatura acadêmica de Bagno esta voltada ao “preconceito lingüístico” o que é observado em sua obra: A norma oculta, que suscita pontos importantes na reflexão do nosso modo de falar e interagir socialmente com outros falantes. Antes de mais nada devemos observar que o autor da norma oculta não é um professor interessado em desenvolver o senso crítico de ninguém, apenas tenta acabar com o preconceito real. Em seu livro, o autor relata de forma clara e bem humorada sobre o preconceito que existe na sociedade quanto a própria língua. A discriminação quanto ao manuseio da linguagem, usado como instrumento para a dissociação das classes sociais, porque afinal de contas, este é o único termo não condenado judicialmente. O preconceito oculto existe vemos isso na prática. Defender a língua não significa menosprezar quem não pode concluir os estudos ou não teve condições ou vontade de se instruir por conta própria. Porém, durante toda obra, somos levados a crer que se não é sempre, na maioria dos casos é preconceito. “(...) em boa medida, nós somos a língua que falamos e acusar essa pessoa de não saber falar sal própria língua materna é tão absurdo quanto acusar essa pessoa de não saber “usar” corretamente a visão (isto é, capaz de enxergar, mas não é capaz de ver) ou o olfato (isto é, afirmar o absurdo de que alguém é capaz de sentir cheiro, mas não de aspirá-lo)” (pág. 17). Há erros mais errados que outros, mas o poder será sempre a justificativa, que dará a essas pessoas o direito de errar “feio” e ainda assim “ficar bem na fita“. A norma oculta não consegue acabar com os problemas que se propõe a explicitar. Durante todo o livro Bagno usa as mesmas situações para ilustrar valores opostos. Tudo parece ser relativo. Sua missão é justificar sua luta contra os gramáticos e, no fim também, justificar uma postura política pessoal. O livro esta dividido em cinco grandes partes e principais blocos: prólogo; capítulos 1, 2, 3; epilogo, foi desenvolvida em pouco menos de 194 páginas. Passa-se a analisar cada um dos grandes blocos do livro de forma resumida. No prólogo: mídia, preconceito e evolução, No prólogo, há considerações acerca da mídia (preconceito e revolução). O autor faz uma análise crítica sobre a linguagem do Presidente da Republica, Luiz Inácio Lula da Silva, sendo, um assunto que sempre esteve na mídia na época das eleições presidenciais e nem mesmo com sua vitória tal marca preconceituosa deixou ou deixará de existir nos meios de comunicação social. Bagno organiza suas idéias citando trechos da colunista política do jornal do Brasil, Dora Kramer, em 10/11/2002, sobre os constantes erros de português do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ou seja, um assunto que sempre esteve à tona em todas as eleições presidenciais, desde que o operário Lula se candidatou. Para o autor, isso nada é uma estratégia política contra imagem daquele e o que ele representa (politicamente) na história brasileira. É fácil ver isso no tom do discurso de Bagno: “seria uma ilusão supor que uma vitória como foi a de Lula nas eleições de 2002 bastaria para que o preconceito linguístico desaparecesse de vez da nossa sociedade” (p. 15). “A história pessoal de Lula é sem dúvida uma revolução quase mágica, mas é uma revolução individual, particular, digna de assombro, é claro num país tão injusto quanto o nosso” (p. 38). Mas nem mesmo com sua vitória tal marca preconceituosa deixou ou deixará de existir na mídia. Também deixa claro o autor, depois de tanto tempo pesquisando e discutindo sobre preconceito é social. Lamenta que a língua, apesar de uma atividade social, ainda é vista como algo desordenado, sem sentido ou sem valor, quando seu usuário não obedece aos preceitos normativos da gramática. O autor passa a fazer uma analise crítica do próprio texto da colunista Dora Kramer, evidenciando o quanto suas informações estão defasadas e equivocadas quanto aos conceitos empregados e o que se vem implementando nas escolas hoje. Cita exemplos do próprio texto da colunista que também comete os mesmos “erros” provando, em tese, a nulidade desses julgamentos. “Em ambas as colunas, Dora Kramer deixa bem claro seu total despreparo para tratar desses assuntos, uma vez que fala de ‘plural e concordância’ como se fosse m duas coisas distintas, como se as regras de plural não fizessem parte das regras de concordância ( verbal e nominal), como de fato fazem” (p. 22) Porém, lembremos que Bagno tenta desacreditar a opinião dos jornalistas usando o mesmo julgamento: eles também cometem erros e não sabem do que falam. As criticas negativas contra Lula valem-se do mesmo teor, ele não tem conhecimento para isso ou aquilo, ou seja, é incapaz de fazer algo. “As observações da jornalista, portanto, demonstram a atitude autoritária de quem se acha com o direito de opinar e propor legislação sobre o que desconhece, apenas por reverenciar o senso comum, sem criticá-lo com instrumento teórico adequado: não sendo linguista nem pedagógica com que fundamentação ela pode sustenta suas propostas de revisão dos currículos escolares?” (p. 23). Quanto ao presidente Lula e a muitos cidadãos brasileiros, ele resume: “Lula é um usuário extremamente competente dos múltiplos gêneros discursivos que tem à sua disposição e este é o verdadeiro significado de saber falar bem uma língua” (p. 36). No capítulo um: Por que norma? Por que “culta”? O autor inicialmente questiona a que tipo de norma culta se refere os que direta ou indiretamente lidam com língua portuguesa, o autor interroga sobre a norma culta, forma lingüística que todo o povo civilizado possui, é a que assegura a unidade da língua nacional, mas tendo dois sentidos: a língua popular e a normativa que é elaborada por regras gramaticais. já que há dois sentidos para ela: primeiro é o que é normal, frequente e habitual, segundo o que é normativo, elaborado, regra imposta. Normalmente o segundo é mais usado e difundido, pois é o que “tem mais ampla circulação na sociedade”. Segundo o autor, é mais um preconceito do que um conceito, pois trata a língua como sendo única e estática havendo, portanto, somente uma maneira “certa” de falar ou de escrever. Já no primeiro refere-se a linguagem concretamente empregada pelos cidadãos que pertencem aos segmentos mais favorecidos da nossa população. O autor propõe designar formas linguistas existentes na realidade social, tendo em vista alguns impasses para o uso de norma-padrão na qual designa o modelo ideal da língua; as variedades de prestigio, para designar variedades lingüísticas: e as variedades estigmatizadas, que são as variedades linguísticas que caracterizam grupos sociais. O capítulo dois: um pouco de história: o fantasma colonial e a mudança linguística. Continua o autor neste capítulo, evidenciando os problemas recorrentes no Brasil do preconceito lingüístico, enraizados em muitos de nossos cidadãos, principalmente da elite nacional, pois é dela que surgem as duas direções do preconceito: um é de "dentro da elite para fora", enquanto o outro é "de dentro da elite para ao redor de si mesma" (p.76). O autor interroga sobre a norma culta, forma lingüística que todo o povo civilizado possui, é a que assegura a unidade da língua nacional, mas tendo dois sentidos: a língua popular e a normativa que é elaborada por regras gramaticais. Também neste capítulo traça um percurso histórico interessante desde o período colonial, em que a língua portuguesa não era maioria no território nacional, até os dias atuais, com a existência do poder da mídia. Mantendo, inclusive a crítica aos meios de comunicação que contribuem para o alastramento do preconceito lingüístico. Na página 124, lê-se que nas sociedades onde a cultura escrita é onipresente, existem instituições que inibem as forças de mudança da língua. O autor esquece-se de dizer que essas sociedades são as mais ricas, democráticas e justas, além de terem enorme influência econômica, social e cultural nos países de terceiro mundo. Esse poder nasce quando há oportunidades para povo ter acesso a uma boa educação. Ao tentar justificar a falta dessa educação no Brasil, Bagno presta um desserviço ao país. Ao invés de lutar para que as pessoas evoluam, ele parece querer que as respeitem pela sua ignorância, é fundamental esse respeito para existir uma democracia. Mas naquele, ao poupar alguém pela sua incapacidade, tomamos um caminho muito perigoso. Não é apenas uma questão gramatical. Mas sim uma questão de integridade física: se duas pessoas não sabem se expressar, se eles não se compreendem, terminam sempre usando a violência. Capítulo três: Por uma gramática do português brasileiro o autor faz uma abordagem, no campo lingüístico, sobre uma transformação da gramática do português brasileiro, pois só traduzindo em normas e regras esse linguajar do dia-a-dia que, talvez, houvesse uma aceitação da palavra dos pesquisadores lingüistas. Não deixa de refazer sua crítica à gramática normativa, que recorre somente às questões de certo e errado com caráter prescricional, não se preocupando com uma análise total da obra literária para realmente admitir que neste texto as regras funcionam mesmo. Ou seja, não basta tirar alguns exemplos, que são modelos da norma padrão, e deixar de lado todo o restante da obra. As gramáticas normativas, segundo o autor, optam pelos exemplos que, de antemão, consideram bons e bonitos. Por isso clama pela produção de dois tipos de gramática: a prescritiva e a de referência. E por último o epílogo: Norma [o]culta, a gramática não-escrita Com muita propriedade, o autor, nesta conclusão, volta mais uma vez seus olhos para a maneira como as pessoas vêem a norma culta. Algo intransponível, de difícil acesso e "garantia suficiente para a inserção do indivíduo na categoria dos que podem falar; dos que sabem falar, do que têm direito à palavra" (p. 191). Enquanto, na verdade, sabe-se que a discriminação, de fato, é social. Não basta o domínio da norma-padrão para ser aceito na sociedade e não ser discriminado, pois as variantes de cor da pele, sexo, modo de se vestir etc. são mais importantes que qualquer diploma. Considera, ainda, que a variação estilística é uma realidade a que os falantes não podem escapar: o desempenho dos falantes, em situações de diferentes graus de formalidade, permite a observação de diferenças na norma culta, em correspondência a diferentes graus de formalidade na linguagem.