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FLORIANÓPOLIS - SC
2014
S729d Souza, Julianna Rosa de
A dramaturgia da dança dos orixás: reflexões sobre
arte e religião na prática artística de Augusto Omolú.
/ Julianna Rosa de Souza. – 2014.
194 p. : il. color. ; 21 cm.
Banca Examinadora:
Orientadora: ___________________________________
Profa. Dra Maria Brígida de Miranda
Universidade do Estado de Santa Catarina
Membros:
___________________________________
Profa. Dra Tereza Franzoni
Universidade do Estado de Santa Catarina
___________________________________
Prof. Dr. Julio Tavares
Universidade Federal Fluminense
INTRODUÇÃO .................................................... 19
INTRODUÇÃO
1
Esta é uma Lei Federal implementada no ano de 2003 que
estabelece o ensino de História Africana e Afro-Brasileira como
21
CAPÍTULO UM
Augusto Omolú
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sua morte.
Sobre os materiais de pesquisa ou dados
etnográficos a autora supracitada explica que estes
podem ser compreendidos por tudo aquilo à que
pesquisa se apóia. Forin cita alguns destes materiais,
como: “a seleção de documentos, a entrevista e a
observação participante” (2009, p. 80). Destaco que no
caso da presente pesquisa, situada na área teatral, os
dados etnográficos são utilizados a fim de contextualizar
a prática artística de Augusto Omolú, não se trata,
portanto, de uma pesquisa completamente etnográfica,
mas que apresenta características próximas a esta
metodologia.
Dessa maneira os materiais utilizados aqui são:
a pesquisa de campo e a observação participante feitas
no Seminário da Dramaturgia da Dança dos Orixás em
Salvador, no período de 10 janeiro a 05 de fevereiro de
2013; a entrevista realizada em 06 de maio de 2012 em
Porto Alegre; a experiência como espectadora ao assistir
as As grandes cidades sob a lua, um dia antes de
realizar a entrevista; e as conversas informais com
artistas e/ou participantes do Seminário que tiveram
contato com Augusto Omolú.
Para além destes materiais, busco também uma
metodologia que valoriza a própria corporeidade do/a
pesquisador/a. Sobre isso, Forin destaca:
Seleção de documentos, entrevistas e
observação participante constituem os
tipos de dados etnográficos admitidos nos
escritos de metodologia, mas eu destaco
aqui uma nova tendência, ao menos
aparente no meio da dança: a de
considerar as reações somáticas do
pesquisador como um tipo de dado
etnográfico. A corporeidade do
pesquisador, suas sensações e suas
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Título: The Great Cities Under The Moon. Fonte: Odin Teatret &
CTLS ARCHIVES. Na foto Augusto Omolú e os integrantes do Odin
Teatret. Espetáculo: As grandes cidades sob a lua. Direção de
Eugenio Barba, com estréia no ano de 2003. Fotografia de Tony
D’Urso. Disponível em http://www.odinteatret.dk/productions/current-
performances/the-great-cities.aspx acesso dia 10 de janeiro de
2014.
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João da Cruz e Sousa foi poeta negro catarinense, filho de
escravos e nasceu em 24 de novembro de 1861 em Desterro (atual
Florianópolis) e faleceu em 19 de março de 1898. Sobre sua vida e
obra é possível encontrar muitas informações, cito aqui a página
oficial da Fundação de Cultura Catarinense, especificamente, do
Museu Cruz e Sousa, cujo nome é em homenagem ao poeta. Sobre
isso consultar: http://www.fcc.sc.gov.br/cruzesousa/ acesso em 03
de maio de 2014. Cruz e Sousa é um dos referencias na literatura
brasileira quando se trata de simbolismo, sua poesia possui grande
complexidade. Peço licença ao leitor para trazer a voz do poeta e
escritor Ronald Augusto, que traz em seu texto Apontamentos
marginais: a poesia e a vida de Cruz e Sousa a seguinte afirmação:
“Dir-se-ia que a arte de Cruz e Sousa se desenha a partir da
interdição do seu corpo negro. Pode ser. E o poema tem algo do
estado de coisas do seu espírito. O poeta negro conspira no limite
entre vida e arte. Há som, sombra, luz e fúria (húbris) na poesia
deste homem da ilha do Desterro. Assim, malgrado a condição
emparedada em que o mundo insistia em confiná-lo – ou mesmo,
graças a ela -, Cruz e Sousa produziu sua poesia dissoluta,
provocante, cuja pulsão libertária sugere-nos que é “escrita em
sonho” e escrava da “embriaguez do ritmo, da sonoridade, da
música das palavras”” (Augusto, 2011, s/p).
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A Escola de Dança localiza-se na Rua da Oração, nº 1, Terreiro de
Jesus no Pelourinho. A Escola vincula-se a FUNCEB, Fundação
Cultural do Estado da Bahia. Esta por sua vez “é uma entidade
vinculada à Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia” –
informação retirada da pagina oficial da Fundação. De acordo com
esta fonte, a Escola de Dança “coordena as políticas, programas e
projetos que promovam, incentivem e desenvolvam a formação, a
criação, a produção, a pesquisa, a difusão e a memória da Dança da
Bahia, em suas diferentes configurações artísticas e atuação na
contemporaneidade, bem como possíveis interfaces com outras
áreas e com as novas tecnologias”. Portanto, este é um espaço
institucional, mantido pelo governo do Estado. Estas informações
foram retiradas de http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/ com
acesso em 21 de fevereiro de 2014.
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A caminhada do Bonfim acontece, religiosamente, todo ano, na
segunda quinta-feira de janeiro. É conhecida também por “Festa do
Bonfim” ou “Lavagem do Bonfim” e é uma das “Festas de Largo” de
Salvador. Segundo Sabino e Lody (2011, p. 36-37): “a festa do
Bonfim [...] une o sentimento religioso do culto a Oxalá – orixá que
mora no monte Okê – à imagem da Igreja que fica localizada no
monte chamado de Colina Sagrada”. A festa é marcada a todo
instante pelo sincretismo e ainda pelas estreitas fronteiras entre o
profano e o sagrado. Nas ruas saem blocos em cortejos que se
organizam para fazer a caminhada de 8km até a Igreja do Nosso
Senhor do Bonfim; devotos amarram as tradicionais fitinhas no
muro da Igreja e fazem seus pedidos; as baianas lavam os degraus
da Igreja e com um jarro de água nas mãos dão as bênçãos aos
devotos. Há também uma celebração que acontece no período da
manhã. Depois, a tarde e a noite, torna-se uma grande festa com
muitas músicas ao longo das estradas. Quando fui a Salvador para o
Seminário de Omolú, participei deste momento e foi uma
experiência incrível. No meio da caminhada, encontrei Augusto
Omolú e um grupo de participantes do Seminário. Este momento
também integrava, de certa maneira, a programação do Seminário.
Dias antes da caminhada do Bonfim, foi passada uma lista para ver
quem gostaria de fazer este trajeto até a Igreja. Da mesma maneira,
aconteceu no dia 02 de fevereiro, dia de Iemanjá no Rio Vermelho,
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Quando digo “diversos” estudos, quero me referir as leituras
bibliográficas pesquisadas nesta dissertação. Um exemplo disto é a
pesquisa de Sandra Meyer Nunes (2009) que traz um extenso
debate sobre o corpo em cena e a relação sobre as emoções do
ator, percorrendo desde o entendimento inicial de ação física de
Stanislásvki, passando por uma problematização do corpo mecânico
de Descartes. Com um rigor teórico e apurado, Nunes (2009)
apresenta as trocas incessantes produzidas e sofridas pelo corpo,
buscando nas teorias cognitivas de Antonio Damásio e nos estudos
sobre o corpomídia de Cristine Greiner, percepções que contribuiem
para um olhar complexo e não dicotomizado do corpomente.
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Esta percepção pode ser compreendida, não enquanto uma
consciência corporal, pois isto se aproxima de uma concepção
“sobre” o corpo, onde a mente (consciente) desenvolve papel
fundamental e vertical em relação ao corpo. Quando digo
“perceber”, refiro-me aos movimentos e gestos corporais – que
mesmo na tentativa de uma descrição – emergem antes mesmo do
discurso verbal ou da enunciação destes. Portanto, concordo com
Tavares (2012, p. 54) ao comentar que “é meu corpo que fala antes
mesmo de me utilizar do aparelho fonador pelo qual vou emitindo
as imagens acústicas que pronuncio, antes de me tornar consciente
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Ressalto que esta experiência aconteceu de 10 janeiro a 05 de
fevereiro de 2013. Nos anexos deste trabalho apresento o material
de divulgação. Neste material há poucas informações, não há uma
programação do Seminário, apenas uma apresentação do artista e
uma breve eplicação dos objetivos deste Seminário, isto é feito em
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Haviam vários toques e estes variavam conforme o movimento do
orixá que se estava trabalhando. Cito aqui alguns toques, seguindo
as definições dos pesquisadores Jorge Sabino Raul Lody (2011, p.
99-100): “entre os principais toques que formam o elenco da música
sagrada temos os sguintes nomes de acordo com as nações: Kêtu
(yorubá): Ramonha; ijicá ou jicá; agueré ou aguerê; opanijé; daró ou
illu; alujá (toque que é composto pelo “roli” e pani-pani); ibi. Jeje
(fon): Bravum; Sato; avamunha; adarrum. Angola-congo (banto):
congo; cabula; barravento”.
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Conceito teórico exposto por Michel Foucault, principalmente em
seu livro Vigiar e Punir: historia da violência nas prisões (2005), o
qual consta nas referências deste trabalho. Também acrescentarei a
esta breve reflexão o estudo da pesquisadora e professora doutora
Maria Brígida de Miranda (2003), que traz esta noção de Foucault
para pensar o treinamento do ator.
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Tradução livre do original em inglês: “Foucault’s notion of
“discipline” refers to those “methods” which transform bodies to a
state of “docility-utility”” (Miranda, 2003, p. 63).
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17
Os participantes tiveram aulas com artistas convidados, com
cantos em iorubá e aulas de teatro para trabalhar improvisação,
composição e redução dos movimentos da dança dos orixás. Dentre
os professores convidados, cito os coreógrafos Giovanni Luquini,
Mestre King, Flechão e o diretor Lau Santos.
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O número de participantes era de aproximadamente quarenta
pessoas e em algumas aulas chegava a quase sessenta, pois
Augusto Omolú convidava os alunos do Projeto Axé, que deveriam
ter entre dez a dezessete anos.
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Sobre isso aprofundo no capítulo dois, no tópico: “O axé de
Augusto Omolú e o sats de Eugenio Barba: diálogos sobre a noção
de energia no trabalho do ator”.
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Principalmente nestes últimos anos, pois seu objetivo era ficar
mais tempo no Brasil e continuar a desenvolver seminários,
agregando os trabalhos de outros artistas do teatro e da dança, com
o intuito de fomentar e aprofundar a noção de Dramaturgia da
Dança dos Orixás. Estas eram suas perspectivas, comentários feitos
em vários momentos informais no Seminário em Salvador.
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Terreiro, roça ou barracão são maneiras de se referir ao espaço
em que o ritual acontece, isto é, a casa de candomblé. Estas
expressões são muito usadas na região de Salvador. Nos encontros
com artistas e os próprios participantes do Seminário, era comum
ouvir, principalmente, a expressão roça.
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Raimundo Bispo dos Santos, conhecido artisticamente como
Mestre King, é um dos pioneiros da dança aforbrasileira, foi mestre
de muitos professores de dança, como : Flecha, Pequeno, Gilberto
Bahia, Rosângela Silvestre, Tânia Bispo e também Augusto Omolú.
Durante o Seminário em Salvador, pude assistir as aulas de King e
ainda fazer uma entrevista. Nesta entrevista não publicada, ele
conta sobre sua trajetória e sua formação, os dançarinos que
passaram por ele e ainda seu reconhecimento na área da dança,
além de ser um dos primeiros a se graduar em dança pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com setenta anos de idade,
King é um dos coreógrafos baianos de maior notabilidade no cenário
da dança afro-brasileira, pude observar isto tanto em Salvador, na
entrevista, quanto em leituras, como a dissertação de Ferreira
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De acordo com o site oficial do grupo, Theatrum Mundi Ensemble:
são espetáculos interculturais com a direção de Eugenio Barba.
Sobre isso pode-se consultar: http://www.odinteatret.dk/about-
us/about-odin-teatret/odin-teatret---en-espa%C3%B1ol.aspx –
acesso em 30 de janeiro de 2014.
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Diretor baiano e professor da Escola de Teatro da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
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CAPÍTULO DOIS
Augusto Omolú
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Iniciados podem ser chamados também de iâos, pessoas que
passam por um processo longo de preparação, este processo
chama-se bori, isto é, fazer bori, significa preparar sua cabeça (ori)
para receber o orixá. Sobre isso consultar Sabino; Lody ( 2011) e
também Zeca Ligiéro (2011) sobre a explicação da expressão “fazer
a cabeça”, que no caso é esta preparação do ori. Ambas estão
citadas nas referências bibliográficas deste trabalho.
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Ressalto que minha escolha por Zeca Ligiéro é devido a reflexão
que este faz entre o ritual e as performances afro-brasileiras na área
teatral, porém indico estudos como: Roger Bastide (1985), Pierre
Verger (1987; 2000) e Edson Carneiro (1986) para um olhar mais
específico sobre as práticas religiosas afro-brasileiras.
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Edward Gordon Craig, ator, encenador e cenógrafo inglês (1872-
1966). “Craig idealizava um ator que unisse uma natureza generosa
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uma proposição de Barba para que não haja uma separação entre o
teatro e a dança e logo entre o ator e o bailarino. Logo nas primeiras
páginas de seu livro, o diretor alerta: “[...] lendo a palavra “ator”,
dever-se-á entender “ator e bailarino”, seja mulher ou homem; e ao
ler “teatro” dever-se-á enteder “teatro e dança” (Barba, 1994, p. 22).
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LUME é Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas da UNICAMP,
fundado por Luís Otávio Burnier , na época professor no
Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes na mesma
universidade. Assim, “em 1985, junto de [Carlos]Simioni e da
musicista Denise Garcia, Burnier funda oficialmente o LUME”. Para
saber mais sobre o LUME, acessar sua página
http://www.lumeteatro.com.br/ - Informações retiradas deste site com
acesso em 31 de janeiro de 2014.
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Embora, não seja aprofundada a noção de “comportamento
restaurado” do pesquisador Richard Schechner, digo que Zeca
Ligiéro fundamenta-se nesta acepção para falar destas dinâmicas
culturais e o modo como estes comportamentos foram recuperados
após a diáspora. A partir das teorias de Schechner, Ligiéro afirma
que : “a ética e a mítica ioruba foram recuperadas no Brasil através
de uma liturgia fortemente calcada numa linguagem de movimentos
e gestos dramáticos que compõe a dança sagrada” (2011, p. 150).
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Sobre isto pode-se consultar Rustom Bharucha (1996 ) e Patrice
Pavis (1996; 2008), citados nas referências deste trabalho.
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Jerzy Grotowski (1933-1999) foi um importante diretor do século
XX, que aprofundou as pesquisas do diretor russo Constantin
Stanisláski sobre o trabalho do ator. Segundo Nunes (2009, p. 75):
“Tanto Stanislavski quanto Grotowski situaram o trabalho sobre as
ações e o comprometimento do corpo como chave para o contato
com a memória, as emoções, os sentimentos e demais estados
considerados anímicos. As ações permitiram o acesso a um
potencial criativo e orgânico [...]”. Ao lado de Grotowski, estiveram
Peter Brook, Eugenio Barba e Thomas Richards, sendo este último o
assistente mais recente que em seu livro Trabalhar com Grotowski:
sobre as ações físicas (2012 ) revisita os conceitos do diretor
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CAPÍTULO TRÊS
Augusto Omolú
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Orô de Otelo é o primeiro solo de Augusto Omolú com direção de
Eugenio Barba, apresentando a primeira vez na ISTA em Londrina
em 1994. Depois de quase duas décadas de trabalho com o Odin
Teatret e as colaborações na ISTA, este espetáculo torna-se
referência para a compreensão da pesquisa sobre a Dramaturgia da
Dança dos Orixás que o artista brasileiro desenvolvia. Este
fragmento está disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=wsAozYpkvPM com data de
publicação em 24 de novembro de 2011.
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A palavra correta é câmara, entretanto, opto neste escrito por
“câmera”. Sobre estas diferenças consultar Santos (2012).
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Como foi visto no primeiro capítulo desta dissertação, Augusto
Omolú entra em 1994 como colaborador na ISTA, e ano de 2002 ele
se torna integrante do Odin. No entanto, em entrevista (2012b),
quando indagado sobre sua participação no grupo dinamarquês, ele
responde que se vê como um colaborador, e diz assim: “Entrei aqui
como um colaborador e agora me sinto justamente como um
colaborador” (entrevista realizada um ano antes de seu falecimento).
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Sanjukta Panigrahi (1944 – 1997) dançarina de Odissi, uma dança
clássica indiana. Na carta de varley, ela diz que Sanjukta foi uma
das fundadoras da ISTA . Eugenio Barba, por sua vez, cita a
importante presença da dançarina indiana em seu livro A canoa de
papel. Além disso, no livro A arte secreta do ator, há muitas imagens
de Sanjukta danaçdno, com movimentos de oposição, de equilíbrio e
desequilíbrio feitos na dança indiana.
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Esta peça foi escrita entre 1603 e 1604. Utilizarei aqui a obra
publicada no ano de 2011 com tradução de Barba Heliodora, da
Editora Nova Fronteira. A referência bibliográfica completa desta
obra segue nas páginas finais desta dissertação.
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Tradução livre do original em inglês: “Reading Shakespeare's
"Othello", the performer, an elegantly dressed black man, gets
carried away by the story. The performer enacts the main characters
- Othello, Desdemona, Iago, according to the words which are sung
in Verdi's "Otello". The performer changes from one character to
another, building dialogues between them, but also reacting to the
characters he interprets” - publicado na página do Odin Teatret.
Disponível em http://www.odinteatret.dk/productions/multicultural-
projects/or%C3%B4-de-otelo.aspx acesso dia 22 de janeiro de 2014.
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Além dos elementos da natureza, dos toques e cantos, cores e
roupas específicas para cada orixá, há também a ferramenta que
cada orixá traz. Assim, estas ferramentas são compreendidas como
“[...] insígnias que identificam o caráter, a função e as histórias dos
orixás. São elas: Ogó para Exu; Obé para Ogum; Damatá ou ofá
para Odé; Ofá e abebê para Logun Edé; Xaxará para Omolu; Dã
para Oxumaré; Abebê para Oxum e Iemanjá; Abiri para Nanã; Oxê
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2011, p. 86).
Estas emoções poderiam ser representadas pelo
ator, tradicionalmente, por gestos e expressões que
singificassem ódio, maldade, amor e bondade.
Entretanto, em Orô de Otelo, a dramaturgia inglesa é
afetada pelas tensões da dramaturgia da dança dos
orixás. A raiva de Otelo torna-se o trovão de Xangô; o
desespero de Desdêmona são ventos e tempestades de
Iansã, alternados pela vaidade de Oxum e a paciência de
Iemanjá; a luta entre Cassio, Iago e Otelo transforma-se
em sequências de cavalgadas de Ogum, com o olhar
atento de Odé (ou Oxóssi) e o machado de dois lados de
Xangô.
Sobre a composição desta dramaturgia da dança
dos orixás, o artista brasileiro afirma o seguinte:
Quando eu faço qualquer movimento está
sempre relacionado há algo, as imagens,
assim como os orixás se relacionam
sempre a algo. Por exemplo, a espada é
elemento característico de Ogum, a
espada, os escudos, os movimentos de
ataque, defesa e proteção, a energia de
guerra. (Omolú, 2012a).
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Em Orô de Otelo foram utilizadas outras danças de orixás, como
Nanã, Ossaim e Omolu. Entretanto, como estes movimentos
dançados são executados de maneira rápida, não foi possível parar
o frame e recortar como imagem para analisar, assim escolhi os
principais orixás, partindo dos três personagens de Shakespeare.
Além disso, acredito que o artista conseguiu criar em seu espetáculo
uma fluidez entre os movimentos dos orixás, o que muitas vezes
torna impossível dizer passo a passo o movimento específico do
orixá. Para isso, seria necessária a presença do artista em vida para
que ele mesmo pudesse explicar a sua criação e composição junto
ao diretor.
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PÁGINAS FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ANEXOS
45
Entrevista concedida por Augusto Omolú para Julianna Rosa no
dia 06 de maio de 2012, em Porto Alegre (RS) no Hotel Plaza Porto
Alegre, durante o 7° Festival Palco Giratório-SESC.
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No dia 02 de junho de 2013 Augusto Omolú foi brutalmente
assassinado em sua chácara (Chácara Omolú) no Bairro
Buraquinho na cidade de Salvador (Bahia – Brasil). Augusto era
ator/dançarino integrante do grupo dinamarquês Odin Teatret,
dirigido por Eugenio Barba.
158
47
A presente entrevista faz parte da pesquisa de mestrado em teatro
de Julianna Rosa, bolsista CAPES e Acadêmica do Programa de
Pós-Graduação em Teatro (PPGT-UDESC).
159
Esta foi a única foto encontrada com o artista em cena. Na foto Iben
Nagel Rasmussen e Augusto Omolú contracenando. Título original: Ode
to progress. Direção de Eugenio Barba. Fotografia de Estudio Blau.
Imagem disponível em http://performatus.net/uma-carta-para-recordar/
com acesso em 10 de janeiro de 2014.
174
Ur-Hamlet (2006)