Você está na página 1de 5

MACROECONOMIA – POLÍTICA MONETÁRIA

AULA 4

POLÍTICA MONETÁRIA

Nesta aula serão estudados o papel e os objetivos da política monetária do governo,


bem como as políticas alternativas de política monetária dentro do modelo teórico.
Inicialmente, serão enfatizados os fatores que levam os particulares a demandar moeda,
bem como as determinantes da oferta de moeda por parte das autoridades monetárias.

A Política monetária diz respeito à atuação do Banco Central para dimensionar os


meios de pagamentos e os níveis das taxas de juro, adequando essas variáveis aos
objetivos de crescimento da produção e do emprego, com estabilidade de preços. A
atuação do Banco Central opera-se pela determinação do volume de reservas
obrigatórias dos bancos, dependendo do comportamento do público e dos bancos em
relação às quantidades de moedas que desejam reter.

Demanda de moeda

As razões pelas quais as pessoas demandam moeda são intuitivas, uma vez que é
por meio dela que os bens são adquiridos. No entanto, por que os agentes retêm moeda
em caixa se podem ganhar juros ao aplicar no sistema financeiro?

Essa preferência pela liquidez encontra resposta na falta de sincronização entre


pagamentos e recebimentos e na possibilidade de surgirem despesas não previstas. A
quantidade de dinheiro que uma pessoa retém, disponível em relação a sua renda do
período, por unidade de tempo, denomina-se encaixe médio. Essa proporção varia de O a
1, ou seja, O se a pessoa nada retém, ou 1 se deixa disponível a totalidade de sua renda
do período.

O encaixe médio (k) depende de como os indivíduos distribuem no tempo suas


despesas, dos intervalos entre pagamentos e recebimentos, bem como das facilidades de
obter crédito quando necessário, além do nível da taxa de juro. Juro alto estimula as
aplicações, mas também onera o crédito. O crédito é um dos substitutos próximos da
moeda, também denominado quase-moeda.

Segundo Keynes, as pessoas e as empresas demandam moeda pelos seguintes


motivos principais:

a. transação: para efetuar as despesas com bens e serviços de que necessitam


no período, como alimentação, transporte, matérias-primas, aluguéis, luz,
água, salários etc., assegurando a transição entre recebimentos e
pagamentos;

b. precaução: para enfrentar as despesas inesperadas do período, bem como


para poder “realizar compras vantajosas”, devido aos custos ou
àimpossibilidade de obter dinheiro por meio de empréstimos, quando
necessario;

16
MACROECONOMIA – POLÍTICA MONETÁRIA

c. especulação: os indivíduos e empresas deixam disponível determinada


quantia de dinheiro para aplicações financeiras novas, de curtíssimo prazo, em
função da expectativa de realização de ganhos extraordinários.

Os motivos transação e precaução, presentes na análise dos economistas clássicos,


dependem diretamente do nível de renda: quanto maior a renda, maior será o encaixe,
enquanto o motivo especulação depende inversamente da taxa de juro: quanto maiores
forem os ganhos das aplicações financeiras, tanto menor sera a parcela mantida no
portfólio, com o objetivo de especular no mercado financeiro, pois uma quantia maior da
renda do período estará aplicada, rendendo juros.

Em suma, a demanda de moeda depende do nível de renda nominal do período e


das taxas de juro do mercado.

Oferta de moeda

Nas economias modernas, quem oferece moeda ao público são as autoridades


monetárias, em função das necessidades dos agentes econômicos.

O conjunto de moeda manual (ou moeda corrente), depósitos a vista (moeda


escritural ou bancária) e quase-moedas formam os meios de pagamentos de uma
economia.

As quase-moedas são ativos que, apesar de não constituírem moeda, funcionam


como moeda.

Constituem exemplos os depósitos a prazo, as cadernetas de poupança, os bônus


do Banco Central, títulos privados e outros títulos do Governo Federal, que podem ser
transformados em moeda ao cabo de algum tempo.

Existem, portanto, vários conceitos de meios de pagamentos, dependendo das


quase-moedas incluídas, como está explicitado a seguir:

 M0 = papel-moeda em poder do público (inclui as moedas metálicas e exclui a


parte do papel-moeda guardada no caixa das autoridades monetárias e dos
bancos, denominados encaixes bancários);
 M1 = M0 + os depósitos a vista nos bancos, ou moeda escritural, que em
dezembro de 1998 constituía, no Brasil, 61,8% de M1
 M2 = M1 + fundos e depósitos especiais remunerados + títulos do governo em
poder do público;
 M3 = M2 + depósitos das cadernetas de poupança;
 M4 + M3 = títulos privados.

Os agregados M2, M3 3 M4 são considerados quase-moedas, por não possuírem a


mesma liquidez do papel moeda (M0) e dos depósitos a vista.

A liquidez desses agregados é decrescente na ordem M0, M1, M2, M3 e M4. M1, por
sua liquidez e abrangência, é considerado o indicador mais preciso de oferta monetária.

17
MACROECONOMIA – POLÍTICA MONETÁRIA

Por meio das operações de mercado aberto (open market), ou seja, da compra ou
da venda de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional (NTN — Notas do Tesouro Nacional)
ou pelo próprio Banco Central (BBC — Bônus do Banco Central), as autoridades
monetárias aumentam ou diminuem a quantidade de papel-moeda em poder do público.
Quando o governo vende títulos, ele retira dinheiro de circulação, reduzindo, portanto, os
meios de pagamentos e aumentando o nível das taxas de juro. As negociações são feitas
mediante leilões, com a participação de instituições credenciadas (os Dealers).

Inversamente, se o objetivo for aumentar o volume dos meios de pagamentos, o


Banco Central comprará títulos, injetando papel-moeda na economia, o que provoca
redução da taxa de juro, ao deslocar a oferta de moeda M0 para a direita.

A própria ação do Banco Central, tentando comprar títulos, reduzirá a taxa de juro
que irá receber pelos mesmos. Inversamente, quando o desejo for vender títulos, ele
proporciona a elevação da taxa de juro dos títulos negociados.

As operações de mercado aberto afetam, portanto, tanto o volume dos meios de


pagamentos, como o nível das taxas de juro, o volume dos empréstimos do conjunto da
economia, os investimentos, a produção e o emprego.

O Banco Central também dimensiona os meios de pagamentos, alterando o


percentual das reservas compulsórias e variando a taxa de redesconto.

Os bancos são obrigados a transferir ao Banco Central determinado percentual dos


depósitos recebidos. Quando esse percentual aumenta, reduzem-se os meios de
pagamentos e vice-versa, O redesconto consiste em uma operação em que os bancos
renegociam títulos de seus clientes com o Banco Central.

Quando uma empresa necessita de dinheiro vivo, ela negocia suas duplicatas junto a
seu banco, pagando determinada taxa pela antecipação do recebimento. O mesmo fazem
os bancos, em caso de necessidade: eles lançam mão dessas duplicatas e transformam-
nas em dinheiro, descontando-as uma segunda vez, junto ao Banco Central, mediante o
pagamento da taxa de redesconto.

Quando a taxa de redesconto estiver abaixo da taxa de desconto do mercado, os


bancos podem obter lucros com a operação de redesconto. Por meio dessa taxa, o Banco
Central age, portanto, sobre a demanda de reservas por parte dos bancos. Alta taxa de
redesconto desestimula a demanda de recursos de liquidez desse tipo, influenciando
negativamente sobre o montante existente nos bancos. Inversamente, baixa taxa de
redesconto estimula os bancos a efetuarem operações de redesconto, o que eleva o
volume de suas reservas.

Teoria quantitativa da moeda

Enquanto Keynes e seus seguidores destacam o papel da política monetária sobre a


taxa de juro e, portanto, sobre a demanda agregada, Milton Friedman argumenta que a

18
MACROECONOMIA – POLÍTICA MONETÁRIA

influência da política monetária sobre o juro é transitória e que ela se exerce,


fundamentalmente, sobre o nível geral de preços.
Essa abordagem monetarista baseia-se na teoria quantitativa da moeda,
estabelecida a partir da equação de trocas, segundo a qual existe uma relação direta
entre meios de pagamentos e o lado real da economia, ou seja:

MV=PQ

onde M são os meios de pagamentos, V a velocidade de circulação da moeda, Po nível


geral de preços e Q o total de bens e serviços produzidos na economia, sendo PQ = Y, o
produto interno bruto nominal.

O membro direito da equação de trocas denomina-se de lado real da economia,


enquanto o membro esquerdo compreende o aspecto nominal. A variável real diz respeito
às quantidades produzidas e comercializadas (Q), enquanto as variáveis nominais são os
preços e a quantidade de moeda (V sendo um parâmetro constante).

Multiplicando-se o produto físico (Q) pelo nível geral de preços (P), obtém-se o
produto interno bruto nominal (Y). A variável Y poderá apresentar crescimento real em
determinado período, se foi Q quem se expandiu, permanecendo os preços constantes.
Inversamente, o crescimento será apenas nominal, se Q permanecer constante e P variar.

Na prática, tanto Q como P crescem e a variação real é depurada da nominal pelo


deflacionamento, usando-se um índice de preços qualquer.

A velocidade de circulação da moeda, ou velocidade-renda da moeda, corresponde


ao número de vezes que o estoque de moeda passa de mão em mão, em um mesmo
período, possibilitando as transações. Pela equação, constata-se que V = PQ/M, ou seja,
esse parâmetro é igual ao produto nominal dividido pelos meios de pagamentos.

O conceito de V mais usado é o correspondente aos meios de pagamentos M1 sendo


ele igual a 21, significa que, no mês de outubro de 1998, a mesma moeda estava sendo
usada 21 vezes ao ano para realizar transações.

Trazendo estes valores para 05/2007 temos: Total do Meio Circulante Nacional: R$
74.278.619.912,15. PIB brasileiro em 2006 R$ 2 322 818 376 000,00. A mesma moeda esta sendo
usada 31 vezes ao ano para realizar transações.

No curto prazo, V permanece relativamente constante, variando em prazos mais


longos por mudanças de hábitos do público, como emprego mais generalizado de
cheques e cartões de crédito, o que diminui o uso de moeda manual.

Se a moeda bancária não aumentar na mesma proporção da redução da moeda


manual, M1 cai e V sobe. Da mesma forma, quanto mais verticalizadas forem as
empresas, ou menos terceirizadas, tanto menos elas realizarão transações, o que
aumenta o valor de V. Com expectativas inflacionárias, o valor de V também cresce, pois
as pessoas retêm menos moeda em relação ao produto total da economia.

19
MACROECONOMIA – POLÍTICA MONETÁRIA

Por outro lado, como se observa pela equação, diminuindo o valor de V,


permanecendo constante o termo PQ, a quantidade de meios de pagamentos precisa
aumentar.

Segundo a teoria quantitativa da moeda, o parâmetro v é constante no curto prazo.


Considerando que o produto Q também seja constante em pequenos períodos, estando a
economia próxima do pleno emprego, então se estabelece uma relação entre o estoque
de moeda, M, e o nível geral de preços, P, ou seja, P será uma função da oferta
monetária M.

Assim, a abordagem monetarista da inflação afirma que o aumento dos meios de


pagamentos M provoca elevação do nível geral de preços. Isso ocorre porque a economia
procura automaticamente o equilíbrio entre o setor monetário e o lado real.Isso também
se explica porque, em períodos muito pequenos, o nível da produção não poderá elevar-
se, estando todos os recursos empregados.

Desse modo, como regra de política monetária, em uma situação de estabilidade de


preços, com pleno emprego de recursos, os monetaristas postulam que os meios de
pagamentos precisam crescer no mesmo ritmo do crescimento do produto real, para
assegurar a manutenção dessa estabilidade.

Em situações inflacionárias, eles propõem uma política monetária contracionista: os


meios de pagamentos devendo crescer menos do que o nível geral de preços. Pelo
contrário, em épocas recessivas, admitem uma política monetária expansionista.

Nesse caso, os meios de pagamentos crescem mais do que o produto real. Em


qualquer situação, o Banco Central precisa ficar sempre atento, porque os bancos têm a
faculdade de expandir os meios de pagamentos, o que pode gerar inflacão.

20

Você também pode gostar