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Psicólogo
Aspectos Gerais – Elaboração de informes psicológicos (de acordo com legislação em vigor no
Conselho Federal de Psicologia). ............................................................................................................ 1
Ética profissional. .............................................................................................................................. 11
Resoluções do CFP (Resolução CFP nº 13/2018, CFP nº 09/2018, CFP N.º 001/2018). .................. 17
O Estatuto da Criança e do Adolescente e a proteção integral à Infância e à Juventude. Lei nº 8.069/90
- Estatuto da Criança e do Adolescente e suas alterações; ................................................................... 28
Crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional e familiar. .................................. 83
Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Conselho Nacional de Assistência Social e Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Aolescentes em conflito com a lei e as medidas
socioeducativas. ................................................................................................................................... 122
Lei nº 12.594/12 – SINASE. ............................................................................................................ 137
O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º outubro de 2003) e Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842,
de 4 de janeiro de 1994). ..................................................................................................................... 163
Violência intrafamiliar: conceito, diagnóstico e intervenção. ............................................................ 189
Técnicas de Resolução de Conflitos e Comunicação Não Violenta. ............................................... 202
Grupo social e familiar: influência da família e da sociedade no desenvolvimento da personalidade e
modalidades de intervenção. Norma, disciplina e poder. ..................................................................... 210
Psicologia, Direitos Humanos e Democracia. .................................................................................. 226
Psicologia social. ............................................................................................................................ 239
Sociedade e processos de exclusão e segregação. ........................................................................ 248
Criminalização e produção de subjetividades. ................................................................................ 251
Drogas, assistência e cidadania. ..................................................................................................... 258
Sexualidade, gênero e identidade. .................................................................................................. 269
Qualidade de vida na velhice. ......................................................................................................... 285
Desenvolvimento humano: fases, influências. ................................................................................. 288
O papel do psicólogo em equipe multidisciplinar. ............................................................................ 322
Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br
Um laudo pericial psicológico deve estar pautado em aspectos éticos, legais e psicológicos que
permitam informações que auxiliem o Juiz e contribua para uma justiça.
O laudo pericial consiste em um documento que será elaborado pelo perito ao final de um processo
de avaliação.
Este documento é parecido com o formato de um laudo psicológico em uma avaliação clínica, porém
diferenciando-se em algumas peculiaridades.
De forma resumida, este laudo pericial será composto pelos dados de identificação do avaliando, pelos
métodos e procedimentos utilizados pelo perito, seus achados e discussão sobre os mesmos e, por fim,
por uma breve conclusão.
Apesar de ser considerado um meio de prova, o laudo pericial não se constitui em uma verdade
absoluta e, consequentemente, é passível de crítica e questionamento.
Sob o ponto de vista legal, esta é uma das principais questões que o perito deverá atentar-se.
Conforme os itens contidos no artigo 2º do CEPP, é vedado ao psicólogo: (Alíneas)
g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica;
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar resultados
ou fazer declarações falsas.
Estas são algumas das observações dispostas no Código de Ética do Psicólogo, juntamente com o
contido no artigo 147 do Código de Processo Civil que influenciarão de forma direta na elaboração e
disposição de um laudo psicológico jurídico ou forense.
No laudo psicológico jurídico ou forense deverá constar dados extremamente objetivos e com alto grau
de precisão e clareza na discussão de seus achados, fundamentados teoricamente para que se possa
justificar a conclusão e principalmente evitar possíveis sansões administrativas ao profissional, em caso
de não observação destas considerações legais e deontológicas.
Outra importante consideração a ser feita ao redigir o laudo diz respeito ao conteúdo apresentado
neste documento.
O que é possível revelar em um laudo psicológico forense? Como fica a questão do sigilo profissional
do Psicólogo?
O sigilo das informações deve ser observado nas comunicações orais ou escritas com outros
profissionais, com a imprensa ou autoridades.
São quatro tipos de situações, nas quais este sigilo poderá ser quebrado:
a) pelo próprio consentimento;
b) dever legal, a fim de evitar a propagação de moléstias;
c) em risco de suicídio;
e) em justas causas, cujo significado prático versa sobre situações em que o sigilo deve ser sacrificado
em benefício de outro direito como por exemplo, a vida ou a saúde de outra pessoa ou da sociedade.
Uma solução recomendada pelos especialistas da área, em que o texto apresentado no laudo é se
limitar às questões pertinentes a pergunta formulada pelo juiz ou pelos advogados.
Assim, a presença de todo conteúdo que será apresentado no laudo será justificado pela necessidade
de responder (e somente responder) a questão inicialmente requerida.
CONSIDERANDO que o psicólogo, no seu exercício profissional, tem sido solicitado a apresentar
informações documentais com objetivos diversos;
CONSIDERANDO a frequência com que representações éticas são desencadeadas a partir de queixas
que colocam em questão a qualidade dos documentos escritos, decorrentes de avaliação psicológica,
produzidos pelos psicólogos;
RESOLVE:
Art. 2º - O Manual de Elaboração de Documentos Escritos, referido no artigo anterior, dispõe sobre os
seguintes itens:
I. Princípios norteadores;
II. Modalidades de documentos;
III. Conceito / finalidade / estrutura;
IV. Validade dos documentos;
V. Guarda dos documentos.
Art. 3º - Toda e qualquer comunicação por escrito decorrente de avaliação psicológica deverá seguir
as diretrizes descritas neste manual.
Parágrafo único – A não observância da presente norma constitui falta ético disciplinar, passível de
capitulação nos dispositivos referentes ao exercício profissional do Código de Ética Profissional do
Psicólogo, sem prejuízo de outros que possam ser arguidos.
ODAIR FURTADO
Conselheiro Presidente
O presente Manual tem como objetivos orientar o profissional psicólogo na confecção de documentos
decorrentes das avaliações psicológicas e fornecer os subsídios éticos e técnicos necessários para a
elaboração qualificada da comunicação escrita.
As modalidades de documentos aqui apresentadas foram sugeridas durante o I FÓRUM NACIONAL
DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, ocorrido em dezembro de 2000.
O documento deve, na linguagem escrita, apresentar uma redação bem estruturada e definida,
expressando o que se quer comunicar. Deve ter uma ordenação que possibilite a compreensão por quem
o lê, o que é fornecido pela estrutura, composição de parágrafos ou frases, além da correção gramatical.
O emprego de frases e termos deve ser compatível com as expressões próprias da linguagem
profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a diversidade de significações da linguagem
popular, considerando a quem o documento será destinado.
A comunicação deve ainda apresentar como qualidades: a clareza, a concisão e a harmonia. A clareza
se traduz, na estrutura frasal, pela sequência ou ordenamento adequado dos conteúdos, pela explicitação
da natureza e função de cada parte na construção do todo. A concisão se verifica no emprego da
linguagem adequada, da palavra exata e necessária. Essa “economia verbal” requer do psicólogo a
atenção para o equilíbrio que evite uma redação lacônica ou o exagero de uma redação prolixa.
Finalmente, a harmonia se traduz na correlação adequada das frases, no aspecto sonoro e na ausência
de cacofonias.
2.1.Princípios Éticos
Na elaboração de DOCUMENTO, o psicólogo baseará suas informações na observância dos princípios
e dispositivos do Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Enfatizamos aqui os cuidados em relação aos deveres do psicólogo nas suas relações com a pessoa
atendida, ao sigilo profissional, às relações com a justiça e ao alcance das informações - identificando
riscos e compromissos em relação à utilização das informações presentes nos documentos em sua
dimensão de relações de poder.
Torna-se imperativo a recusa, sob toda e qualquer condição, do uso dos instrumentos, técnicas
psicológicas e da experiência profissional da Psicologia na sustentação de modelos institucionais e
ideológicos de perpetuação da segregação aos diferentes modos de subjetivação. Sempre que o trabalho
exigir, sugere-se uma intervenção sobre a própria demanda e a construção de um projeto de trabalho que
aponte para a reformulação dos condicionantes que provoquem o sofrimento psíquico, a violação dos
O DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do
seu objeto de estudo.
Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear exclusivamente nos
instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções
verbais) que se configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e
interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos, bem como sobre outros materiais
e grupo atendidos e sobre outros materiais e documentos produzidos anteriormente e pertinentes à
matéria em questão. Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas requeridas de
qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem a investigar.
A linguagem nos documentos deve ser precisa, clara, inteligível e concisa, ou seja, deve-se restringir
pontualmente às informações que se fizerem necessárias, recusando qualquer tipo de consideração que
não tenha relação com a finalidade do documento específico.
Deve-se rubricar as laudas, desde a primeira até a penúltima, considerando que a última estará
assinada, em toda e qualquer modalidade de documento.
II - MODALIDADES DE DOCUMENTOS
1. Declaração *
2. Atestado psicológico
3. Relatório / laudo psicológico
4. Parecer psicológico *
* A Declaração e o Parecer psicológico não são documentos decorrentes da avaliação Psicológica,
embora muitas vezes apareçam desta forma. Por isso consideramos importante constarem deste manual
afim de que sejam diferenciados.
1 – DECLARAÇÃO
Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados psicológicos.
2 – ATESTADO PSICOLÓGICO
Os registros deverão estar transcritos de forma corrida, ou seja, separados apenas pela pontuação,
sem parágrafos, evitando, com isso, riscos de adulterações. No caso em que seja necessária a utilização
de parágrafos, o psicólogo deverá preencher esses espaços com traços.
O atestado emitido com a finalidade expressa no item 2.1, alínea b, deverá guardar relatório
correspondente ao processo de avaliação psicológica realizado, nos arquivos profissionais do psicólogo,
pelo prazo estipulado nesta resolução, item V.
3 – RELATÓRIO PSICOLÓGICO
3.2. Estrutura
1.Identificação
2.Descrição da demanda
3. Procedimento
4. Análise
5. Conclusão
3.2.1. Identificação
É a parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade de identificar:
O autor/relator – quem elabora;
O interessado – quem solicita;
O assunto/finalidade – qual a razão/finalidade.
No identificador AUTOR/RELATOR, deverá ser colocado o(s) nome(s) do(s) psicólogo(s) que
realizará(ão) a avaliação, com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no Conselho Regional.
No identificador INTERESSADO, o psicólogo indicará o nome do autor do pedido (se a solicitação foi
da Justiça, se foi de empresas, entidades ou do cliente).
No identificador ASSUNTO, o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido (se para
acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para acompanhamento ou outras razões pertinentes
a uma avaliação psicológica).
3.2.3. Procedimento
A descrição do procedimento apresentará os recursos e instrumentos técnicos utilizados para coletar
as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc) à luz do referencial teórico-filosófico que os
embasa. O procedimento adotado deve ser pertinente para avaliar a complexidade do que está sendo
demandado.
3.2.4. Análise
É a parte do documento na qual o psicólogo faz uma exposição descritiva de forma metódica, objetiva
e fiel dos dados colhidos e das situações vividas relacionados à demanda em sua complexidade. Como
apresentado nos princípios técnicos, “O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos
deste procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações históricas, sociais,
econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no processo de subjetivação. O
DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu
objeto de estudo”.
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o instrumental técnico
utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas ao sigilo das informações. Somente deve
ser relatado o que for necessário para o esclarecimento do encaminhamento, como disposto no Código
de Ética Profissional do Psicólogo.
O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em fatos e/ou teorias,
devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a dados de natureza subjetiva,
expressando-se de maneira clara e exata.
3.2.4. Conclusão
Na conclusão do documento, o psicólogo vai expor o resultado e/ou considerações a respeito de sua
investigação a partir das referências que subsidiaram o trabalho. As considerações geradas pelo processo
4 – PARECER
4.2. Estrutura
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os aspectos
relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com fundamento em referencial
teórico-científico.
Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e convincente, não deixando
nenhum quesito sem resposta. Quando não houver dados para a resposta ou quando o psicólogo não
puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão “sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver
mal formulado, pode-se afirmar “prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”.
4.2.1. Identificação
Consiste em identificar o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da solicitação e sua
titulação.
4.2.3. Análise
A discussão do PARECER PSICOLÓGICO se constitui na análise minuciosa da questão explanada e
argumentada com base nos fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no corpo
conceitual da ciência psicológica. Nesta parte, deve respeitar as normas de referências de trabalhos
científicos para suas citações e informações.
4.2.4. Conclusão
Na parte final, o psicólogo apresentará seu posicionamento, respondendo à questão levantada. Em
seguida, informa o local e data em que foi elaborado e assina o documento.
O prazo de validade do conteúdo dos documentos escritos, decorrentes das avaliações psicológicas,
deverá considerar a legislação vigente nos casos já definidos. Não havendo definição legal, o psicólogo,
onde for possível, indicará o prazo de validade do conteúdo emitido no documento em função das
características avaliadas, das informações obtidas e dos objetivos da avaliação.
Ao definir o prazo, o psicólogo deve dispor dos fundamentos para a indicação, devendo apresentá-los
sempre que solicitado.
Os documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica, bem como todo o material que os
fundamentou, deverão ser guardados pelo prazo mínimo de 5 anos, observando-se a responsabilidade
por eles tanto do psicólogo quanto da instituição em que ocorreu a avaliação psicológica.
Esse prazo poderá ser ampliado nos casos previstos em lei, por determinação judicial, ou ainda em
casos específicos em que seja necessária a manutenção da guarda por maior tempo.
Em caso de extinção de serviço psicológico, o destino dos documentos deverá seguir as orientações
definidas no Código de Ética do Psicólogo.
Questões
01. (DPE/AM - Analista Social de Defensoria - FCC/2018). Segundo a Resolução CFP n° 007/2003
e o Manual de Elaboração de Documentos Escritos,
(A) o parecer é composto de quatro elementos básicos: identificação, exposição de motivos, análise e
conclusão.
(B) o parecer é um documento de avaliação psicológica que exige a realização de um psicodiagnóstico
detalhado para se obter respostas precisas no campo do conhecimento psicológico.
(C) são três as modalidades de documentos decorrentes da avaliação psicológica: a declaração, o
laudo e o parecer.
(D) nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o psicólogo registrará
todas as informações que tenha obtido de seus pacientes.
(E) a elaboração do laudo deve contemplar apenas três itens em sua estrutura: descrição da demanda,
análise e conclusão.
03. (TRE/SP - Analista Judiciário - FCC/2017). A Resolução CFP nº 007/2003 instituiu o Manual de
Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelos psicólogos a partir de avaliações psicológicas. O
relatório ou o laudo psicológico configuram-se em documento
(A) resumido que visa apresentar o diagnóstico do avaliado, sendo obrigatório constar a Classificação
Internacional de Doença – CID10.
(B) apresentado de forma descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas
determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica.
(C) com escrita simples, cujos registros deverão estar transcritos de forma corrida, ou seja, separados
apenas pela pontuação, sem parágrafos, evitando, com isso, riscos de adulterações. No caso em que
seja necessária a utilização de parágrafos, o psicólogo deverá preencher esses espaços com traços.
(D) que tem por finalidade informar sobre as condições psicológicas de quem, por requerimento, o
solicita, com fins de justificar estar apto ou não para atividades específicas.
(E) que tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora de uma questão-problema, com base
no campo de conhecimento psicológico e em avaliação especializada.
05. (Pref. de Teresina/PI - Técnico de Nível Superior - FCC/2016). Tendo por base a Resolução
CFP no 007/2003 que instituiu o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo
psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica, uma diferença importante entre o laudo e o parecer
psicológicos é que o parecer é
(A) um documento reflexivo sobre a saúde mental do indivíduo, visando a aproximá-lo de uma
psicoterapia.
(B) a expressão de um posicionamento sobre a história de vida do indivíduo, visando a auxiliá-lo na
busca por autoconhecimento e melhora do autoconceito.
(C) uma resposta a uma consulta, a uma “questão-problema”, visando a dirimir dúvidas que estão
interferindo na decisão.
(D) uma peça de teor jurídico, visando instrumentalizar os advogados das partes a dialogarem com o
psicólogo.
(E) o modo como o psicólogo esclarece suas dúvidas sobre o caso, visando o bem estar do indivíduo.
Resolução CFP n.º 007/2003 que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos.
De acordo com a Resolução CFP n.º 007/2003, que institui o manual de elaboração de documentos
escritos produzidos pelo psicólogo, são modalidades de documentos decorrentes de avaliação
psicológica:
(A) declaração; atestado psicológico; relatório psicológico; e parecer psicológico.
(B) atestado psicológico; relatório/laudo psicológico; e parecer psicológico.
(C) declaração; atestado psicológico; e relatório/laudo psicológico.
(D) relatório/laudo psicológico; e parecer psicológico.
(E) atestado psicológico; e relatório/laudo psicológico.
Comentários
01. Resposta: A
RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003
O parecer é composto de 4 (quatro) itens:
1. Identificação
2. Exposição de motivos
3. Análise
4. Conclusão
02. Resposta: B
RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003
Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e
seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre
o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até
a conclusão do processo de avaliação psicológica.
03. Resposta: B
RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003
O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições
psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de
avaliação psicológica.
04. Resposta: B
RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003
3.2.2. Descrição da demanda
Esta parte é destinada à narração das informações referentes à problemática apresentada e dos
motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do documento.
Nesta parte, deve-se apresentar a análise que se faz da demanda de forma a justificar o procedimento
adotado.
05. Resposta: C
RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003
O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento
psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão problema”, visando a dirimir
dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de
quem responde competência no assunto.
06. Resposta: C
RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003
O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento
psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão problema”, visando a dirimir
dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de
quem responde competência no assunto.
07. Resposta: E
RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003
II - MODALIDADES DE DOCUMENTOS
1. Declaração *
2. Atestado psicológico
3. Relatório / laudo psicológico
4. Parecer psicológico *
* A Declaração e o Parecer psicológico não são documentos decorrentes da avaliação Psicológica,
embora muitas vezes apareçam desta forma. Por isso consideramos importante constarem deste manual
afim de que sejam diferenciados.
O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe
são conferidas pela Lei no 5.766, de 20 de dezembro de 1971;
CONSIDERANDO o disposto no Art. 6º, letra “e”, da Lei no 5.766 de 20/12/1971, e o Art. 6º, inciso VII,
do Decreto nº 79.822 de 17/6/1977;
RESOLVE:
Apresentação
Toda profissão define-se a partir de um corpo de práticas que busca atender demandas sociais,
norteado por elevados padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a adequada
relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um todo.
Um Código de Ética profissional, ao estabelecer padrões esperados quanto às práticas referendadas
pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura fomentar a autorreflexão exigida de cada
indivíduo acerca da sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e suas
consequências no exercício profissional. A missão primordial de um código de ética profissional não é de
normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, a de assegurar, dentro de valores relevantes para a
sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento social
daquela categoria. Códigos de Ética expressam sempre uma concepção de homem e de sociedade que
determina a direção das relações entre os indivíduos. Traduzem-se em princípios e normas que devem
se pautar pelo respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais. Por constituir a expressão de
valores universais, tais como os constantes na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
socioculturais, que refletem a realidade do país; e de valores que estruturam uma profissão, um código
de ética não pode ser visto como um conjunto fixo de normas e imutável no tempo. As sociedades mudam,
as profissões transformam-se e isso exige, também, uma reflexão contínua sobre o próprio código de
ética que nos orienta.
A formulação deste Código de Ética, o terceiro da profissão de psicólogo no Brasil, responde ao
contexto organizativo dos psicólogos, ao momento do país e ao estágio de desenvolvimento da Psicologia
enquanto campo científico e profissional. Este Código de Ética dos Psicólogos é reflexo da necessidade,
sentida pela categoria e suas entidades representativas, de atender à evolução do contexto institucional-
legal do país, marcadamente a partir da promulgação da denominada Constituição Cidadã, em 1988, e
das legislações dela decorrentes.
1
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf
Princípios Fundamentais
Art. 7º – O psicólogo poderá intervir na prestação de serviços psicológicos que estejam sendo
efetuados por outro profissional, nas seguintes situações:
Art. 8º – Para realizar atendimento não eventual de criança, adolescente ou interdito, o psicólogo
deverá obter autorização de ao menos um de seus responsáveis, observadas as determinações da
legislação vigente:
§1° – No caso de não se apresentar um responsável legal, o atendimento deverá ser efetuado e
comunicado às autoridades competentes;
§2° – O psicólogo responsabilizar-se-á pelos encaminhamentos que se fizerem necessários para
garantir a proteção integral do atendido.
Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da
confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício
profissional.
Art. 10° – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto no
Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos previstos em
lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá
restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
Art. 11° – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar informações, considerando
o previsto neste Código.
Art. 12° – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o psicólogo
registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos objetivos do trabalho.
Art. 13° – No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser comunicado aos
responsáveis o estritamente essencial para se promoverem medidas em seu benefício.
Art. 14° – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da prática psicológica obedecerá
às normas deste Código e a legislação profissional vigente, devendo o usuário ou beneficiário, desde o
início, ser informado.
Art. 16° – O psicólogo, na realização de estudos, pesquisas e atividades voltadas para a produção de
conhecimento e desenvolvimento de tecnologias:
a) Avaliará os riscos envolvidos, tanto pelos procedimentos, como pela divulgação dos resultados, com
o objetivo de proteger as pessoas, grupos, organizações e comunidades envolvidas;
b) Garantirá o caráter voluntário da participação dos envolvidos, mediante consentimento livre e
esclarecido, salvo nas situações previstas em legislação específica e respeitando os princípios deste
Código;
c) Garantirá o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo interesse manifesto destes;
d) Garantirá o acesso das pessoas, grupos ou organizações aos resultados das pesquisas ou estudos,
após seu encerramento, sempre que assim o desejarem.
Art. 17° – Caberá aos psicólogos docentes ou supervisores esclarecer, informar, orientar e exigir dos
estudantes a observância dos princípios e normas contidas neste Código.
Art. 18° – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a leigos instrumentos
e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão.
Art. 19° – O psicólogo, ao participar de atividade em veículos de comunicação, zelará para que as
informações prestadas disseminem o conhecimento a respeito das atribuições, da base científica e do
papel social da profissão.
Art. 20° – O psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, por quaisquer meios, individual ou
coletivamente:
Art. 21° – As transgressões dos preceitos deste Código constituem infração disciplinar com a aplicação
das seguintes penalidades, na forma dos dispositivos legais ou regimentais:
a) Advertência;
b) Multa;
c) Censura pública;
d) Suspensão do exercício profissional, por até 30 (trinta) dias, ad referendum do Conselho Federal de
Psicologia;
e) Cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
Art. 22° – As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos pelos
Conselhos Regionais de Psicologia, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
Art. 23° – Competirá ao Conselho Federal de Psicologia firmar jurisprudência quanto aos casos
omissos e fazê-la incorporar a este Código.
Questões
01. (UTFPR - Psicólogo - UTFPR/2017). De acordo com o Código de Ética Profissional, ao psicólogo
é vedado:
(A) sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos justificáveis, não puderem ser
continuados pelo profissional que os assumiu inicialmente.
(B) prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência.
(C) fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes ao
trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional.
(D) informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos.
(E) induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas ou de orientação sexual,
quando do exercício de suas funções profissionais.
( ) Certo ( ) Errado
03. (Pref. de Bela Vista de Minas/MG - Psicólogo - FUNDEP/2017). Sobre os deveres fundamentais
descritos no Art. 1º do Código de Ética Profissional do Psicólogo, é correto afirmar:
(A) O psicólogo deve informar, a quem de direito for, os resultados decorrentes da prestação de
serviços psicológicos, comunicando apenas o que for necessário para a tomada de decisões que afetem
o beneficiário.
(B) O psicólogo deve induzir seus pacientes a convicções de orientação sexual quando do exercício
de suas funções profissionais.
(C) O psicólogo deve pleitear ou receber comissões, doações ou empréstimos além dos honorários
contratados, assim como intermediar transações financeiras.
(D) O psicólogo deve realizar diagnóstico, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços
psicológicos em meios de comunicação, de forma a auxiliar grupos e organizações.
04. (SEDF - Professor - Quadrix/2017). Com base no Código de ética profissional do psicólogo, julgue
o item a seguir.
No art. 12, consta que o psicólogo registrará todas as informações necessárias para o cumprimento
dos objetivos do trabalho nos documentos que embasem as atividades em equipe multiprofissional.
( ) Certo ( ) Errado
05. (EBSERH - Psicólogo - IBFC/2017). As transgressões dos preceitos descritos no atual Código de
Ética do Psicólogo constituem infração disciplinar, e são previstas na legislação vigente a aplicação de
sanções e ou penalidades em casos de comprovação de tais transgressões. Assinale a alternativa que
não corresponde a uma penalidade descrita no atual Código de Ética do Psicólogo diante de uma infração
disciplinar cometida pelo profissional.
(A) Cassação do exercício profissional
(B) Multa
(C) Censura pública
(D) Suspensão do exercício profissional por até um ano
(E) Advertência
Gabarito
01. Resposta: E
Código de Ética do Psicólogo
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
( )
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a
qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais.
03. Resposta: A
Código de Ética do Psicólogo
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:
( )
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos,
transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou
beneficiário.
05. Resposta: D
Código de Ética do Psicólogo
Art. 21 – As transgressões dos preceitos deste Código constituem infração disciplinar com a aplicação
das seguintes penalidades, na forma dos dispositivos legais ou regimentais:
( )
d) Suspensão do exercício profissional, por até 30 (trinta) dias, ad referendum do Conselho Federal de
Psicologia.
O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe
são conferidas pela Lei n° 5.766, de 20 de dezembro de 1971,
CONSIDERANDO a importância da Assistência Social como política pública de acesso da população
brasileira aos direitos sociassistenciais;
CONSIDERANDO a instituição da Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social (CONPAS),
pela Resolução nº 35/2015 (art.1º);
CONSIDERANDO a presença das psicólogas e dos psicólogos nas funções essenciais de gestão do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e na composição obrigatória das equipes da Proteção Social
Básica e
2
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2018/05/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CONPAS.pdf
Art. 1º – A Comissão Nacional de Psicologia na Assistência Social (CONPAS), terá seus membros
nomeados/as por meio de portaria expedida pelo CFP, respeitados os critérios definidos neste ar go.
§ 1º – O número de membros da comissão poderá variar entre 5 (cinco), no mínimo, e 8 (oito), no
máximo.
§ 2º – É atribuição da Plenária do CFP definir a composição da comissão, indicando novos membros
ou subs tuindo os atuais.
Art. 2º – A CONPAS é constituída para contribuir com a atuação profissional da Psicologia no SUAS,
visando à qualidade ética e técnica no exercício profissional, à defesa dos direitos socioassistenciais e à
melhoria das condições e relações do trabalho como estratégia para consolidação da Política Nacional
de Assistência Social (PNAS/2004).
Art. 4º – A comissão realizará, anualmente, 2 (duas) reuniões presenciais, que deverá contar com a
participação 1 (um) representante de cada CRP, assim definidas:
I. A primeira reunião será a de Planejamento Geral e deverá garantir a articulação e a pactuação das
ações e assuntos da Assistência Social no âmbito do Sistema Conselhos de Psicologia.
II. A segunda reunião será definida e convocada pela comissão.
III. O custeio das despesas relativas à participação nessas reuniões ocorrerá do seguinte modo:
a) A participação da comissão é de responsabilidade do CFP.
b) A participação de representantes dos CRPs será em conformidade com os critérios de custeio da
Assembleia de Políticas, da Administração e das Finanças (APAF) do Sistema Conselhos de Psicologia.
Parágrafo Único – A comissão poderá convidar pessoas externas para discutir os temas da pauta.
Art. 6º – Revogam-se os arts. 2º, 3º, 4º, 5º e anexos da Resolução CFP n° 35/2015.
Rogério Giannini
Conselheiro-Presidente
Conselho Federal de Psicologia
3
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2018/04/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CFP-n%C2%BA-09-2018-com-anexo.pdf
RESOLVE:
Art. 2º - Na realização da Avaliação Psicológica, a psicóloga e o psicólogo devem basear sua decisão,
obrigatoriamente, em métodos e/ou técnicas e/ou instrumentos psicológicos reconhecidos cientificamente
para uso na prática profissional da psicóloga e do psicólogo (fontes fundamentais de informação),
podendo, a depender do contexto, recorrer a procedimentos e recursos auxiliares (fontes complementares
de informação).
Consideram-se fontes de informação:
I – Fontes fundamentais:
a) Testes psicológicos aprovados pelo CFP para uso profissional da psicóloga e do psicólogo e/ou;
b) Entrevistas psicológicas, anamnese e/ou;
Art. 4º - Um teste psicológico tem por objetivo identificar, descrever, qualificar e mensurar
características psicológicas, por meio de procedimentos sistemáticos de observação e descrição do
comportamento humano, nas suas diversas formas de expressão, acordados pela comunidade científica.
Art. 5º - Os documentos a seguir são referências para a definição dos conceitos, princípios e
procedimentos de avaliação de instrumentos psicológicos, bem como o detalhamento dos requisitos
estabelecidos nesta Resolução:
I - American Educational Research Association, American Psychological Association & National
Council on Measurement in Education (2014). Standards for Educational and Psychological Testing. New
York: American Educational Research Association;
II - International Testing Comission (2005). Diretrizes para o Uso de Testes: International Test
Commission. (http://www.intestcom.org);
III - International Testing Comission (2005). ITC Guidelines for Translating and Adaptating Tests.
(http://www.intestcom.org);
IV - International Testing Comission (2014). The ITC Guidelines on the Security of Tests, Examinations,
and Other Assessments.
(http://www.intestcom.org);
V - International Testing Comission (2013). ITC Guidelines on Quality Control in Scoring, Test Analysis,
and Reporting of Test Scores. (http://www.intestcom.org);
VI - International Testing Comission (2005). ITC Guidelines on ComputerBased and Internet Delivered
Testing. (http://www.intestcom.org);
VII - CFP (2013). Cartilha de Avaliação Psicológica. (http://site.cfp.org.br/publicacao/cartilha-
avaliacao-psicologica-2013/).
Art. 6º – Os testes psicológicos, para serem reconhecidos para uso profissional de psicólogas e
psicólogos, devem possuir consistência técnico-científica e atender os requisitos mínimos obrigatórios,
listados a seguir:
I - apresentação de fundamentação teórica, com especial ênfase na definição do(s) construto(s),
descrevendo seus aspectos constitutivo e operacional;
II - definição dos objetivos do teste e contexto de aplicação, detalhando a população-alvo;
III - pertinência teórica e qualidade técnica dos estímulos utilizados nos testes;
IV - apresentação de evidências empíricas sobre as características técnicas dos itens do teste, exceto
para os métodos projetivos/expressivos;
Art. 7º - O manual do teste psicológico deve atender a todos os incisos do Art. 6° e incluir a ficha síntese
do teste (com objetivo, público-alvo, material, aplicação e correção) e exemplo(s) de utilização,
contemplando a administração, aferição, análise e interpretação dos resultados.
Art. 8º - Os requisitos mínimos obrigatórios são aqueles contidos no Anexo I desta Resolução,
denominado Formulário de Avaliação da Qualidade de Testes Psicológicos.
Parágrafo Único - O Anexo que trata o caput deste Artigo é parte integrante desta Resolução.
Art. 9º - A submissão do teste psicológico para avaliação deverá ser realizada por meio do SATEPSI.
Parágrafo único – A submissão de teste psicológico ao SATEPSI está condicionada à indicação de
responsável técnico com CRP ativo.
Art. 10 - Os testes psicológicos submetidos ao SATEPSI serão avaliados pela CCAP, cuja constituição
e funcionamento seguirá o estabelecido pela Resolução CFP nº 003/2017, ou resoluções que venham a
substituí-la ou alterá-la.
Art. 11 - A tramitação dos testes psicológicos submetidos ao SATEPSI obedecerá às seguintes etapas:
I - Submissão on-line ao SATEPSI;
II - Designação de 2 (dois) pareceristas ad hoc para análise do teste psicológico;
III - Avaliação do teste psicológico por pareceristas;
IV - Análise dos pareceres emitidos e elaboração de relatório conclusivo por membro da CCAP;
V - Apreciação do relatório conclusivo pelo colegiado da CCAP;
VI - Apreciação e decisão pelo Plenário do CFP do relatório da CCAP;
VII - Envio do parecer final do CFP aos requerentes;
VIII - Prazo para interposição de recurso;
IX - Análise do recurso pela CCAP;
X - Apreciação da análise do recurso pelo Plenário do CFP;
XI - Envio do parecer final sobre o recurso aos requerentes.
§ 1º - A designação de pareceristas será feita pela CCAP, considerando a lista de pareceristas ad hoc
vigente à época.
§2º - Quando da análise dos pareceres pelo colegiado da CCAP, esclarecimentos ou informações
complementares poderão ser solicitadas ao responsável técnico do teste psicológico.
§3º - O CFP encaminhará o resultado da avaliação ao requerente, e quando este for desfavorável, o
requerente poderá apresentar recurso por meio do SATEPSI no prazo de até 30 dias, a contar da data de
envio da comunicação do resultado.
§4º - A análise do recurso será realizada pela CCAP na reunião subsequente ao recebimento do
mesmo.
§5º - A avaliação final desfavorável prevalecerá quando, mediante análise do recurso, a avaliação da
CCAP se mantiver, ou quando o recurso não for apresentado no prazo estabelecido.
Art. 12 - Os prazos para cada etapa descrita no Art. 11 desta Resolução são de até:
Art. 13 - Os testes psicológicos com parecer final desfavorável do CFP poderão ser reapresentados a
qualquer tempo e seguirão o trâmite previsto no Artigo 12 desta Resolução.
Art. 14 - Os estudos de validade, precisão e normas dos testes psicológicos terão prazo máximo de 15
(quinze) anos, a contar da data da aprovação do teste psicológico pela Plenária do CFP.
§1º - Caso novas versões do teste sejam apresentadas e recebam parecer favorável, versões
anteriores poderão ser utilizadas até o vencimento dos estudos de normatização, validade e precisão.
§2º - Os testes com parecer favorável no SATEPSI com data anterior à publicação desta Resolução
terão sua vigência mantida para os estudos de validade (20 anos) e para normas (15 anos).
§3º - Não sendo apresentada a revisão no prazo estabelecido no caput deste artigo, o teste psicológico
perderá a condição de uso e será excluído da relação de testes com parecer favorável pelo SATEPSI.
Art. 16 - Todos os testes psicológicos estão sujeitos ao disposto nesta Resolução, considerando que:
§1o - Os manuais de testes psicológicos devem informar que sua comercialização e seu uso é restrito
a psicólogas e psicólogos, regularmente inscritos no CRP.
§2o - Na comercialização de testes psicológicos, as editoras manterão procedimento de controle, no
qual conste o nome da psicóloga e do psicólogo que os adquiriu, o seu número de inscrição no CRP e
o(s) número(s) de série dos testes adquiridos.
Art. 17 - Os CRPs adotarão as providências para o cumprimento desta Resolução, em suas respectivas
jurisdições, procedendo à orientação, à fiscalização e ao julgamento, podendo:
I - notificar a psicóloga ou psicólogo a respeito de irregularidade, dando prazo para a sua regularização;
II - representar contra profissional ou pessoa jurídica por falta disciplinar;
III - dar conhecimento às autoridades competentes de possíveis irregularidades.
Parágrafo único - Os Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) manterão cadastro atualizado de
pessoas físicas e jurídicas que, em sua jurisdição, comercializem testes psicológicos.
Art. 18 - Será considerada versão equivalente de um teste psicológico aquela com formato diferente
de aplicação descrita na versão aprovada pelo SATEPSI.
Art. 19 - Formato de aplicação diferente daquele descrito no manual do teste aprovado pelo SATEPSI
deverá ser submetido para apreciação da CCAP e terá a seguinte tramitação:
Art. 20 - Os procedimentos e prazos para cada etapa descrita no Art. 19 desta Resolução são os
seguintes:
I – O envio deverá ser feito de forma on-line pelo SATEPSI, por meio do preenchimento dos dados de
identificação do teste psicológico e da inserção dos seguintes documentos:
a) arquivo contendo o estudo de equivalência entre os diferentes formatos de aplicação;
b) arquivo digital contendo a versão aprovada do manual;
c) carta de anuência do responsável técnico do teste psicológico aprovado no SATEPSI.
II – No ato do envio, o requerente deverá assinalar a concordância de que o estudo de equivalência
realizado tomou como base o manual da versão aprovada pelo SATEPSI.
III - O material será analisado por 1 (um) parecerista ad hoc, que terá um prazo de 20 dias a partir da
data de aceitação da atribuição para emitir o parecer, podendo esse prazo ser prorrogado por igual
período, mediante solicitação realizada no próprio sistema do SATEPSI.
IV - Após recebimento do parecer, a CCAP terá um prazo de 30 dias para emitir seu relatório
conclusivo, que será enviado para decisão do Plenário do CFP.
V - A avaliação poderá ser favorável quando, por decisão do Plenário do CFP, a versão apresentada
possua evidência favorável quanto à equivalência entre as versões do instrumento, ou desfavorável,
quando, por decisão do Plenário do CFP, a análise indicar divergências significativas entre as versões.
Nesse caso, o parecer deverá apresentar as razões, bem como as orientações para que o problema seja
sanado.
VI - Após o envio da comunicação da avaliação, e nos casos em que ela for desfavorável, o requerente
poderá apresentar recurso no prazo de 30 dias, a contar da data do envio da comunicação do resultado.
VII - A análise do recurso à avaliação desfavorável será realizada pela CCAP, que terá o prazo de 30
dias, a contar da data do recebimento do recurso do requerente.
VIII - A CCAP encaminhará seu parecer para a Plenária do CFP, que fará a deliberação final.
Parágrafo único - Os prazos previstos no caput deste artigo serão calculados em dias úteis e seguirão
o calendário de Reuniões da CCAP e do Plenário do CFP.
Art. 21- Define-se Atualização de Normas o processo de elaboração de novos estudos normativos para
testes psicológicos aprovados e com evidências de validade vigentes.
§1º - Não se trata de atualização de normas o estudo com amostras que possuam características
sóciodemográficas diferentes das especificadas no Manual do teste aprovado pelo SATEPSI.
§2º - Nesse caso, o material deverá ser submetido à nova avaliação pelo SATEPSI, seguindo as
normas desta Resolução, incluindo-se as novas evidências de validade e estudos de precisão.
Art. 23 – Os procedimentos para atualização das normas terão tramitação interna na CCAP, de acordo
com as seguintes etapas:
I - Recepção;
II - Análise;
Art. 24 - Os procedimentos e prazos para cada etapa descrita no Art. 23 desta Resolução são os
seguintes:
I - O envio deverá ser feito on-line pelo site do SATEPSI por meio do preenchimento dos dados de
identificação do teste psicológico e da inserção dos seguintes documentos:
a) estudo que gerou as novas normas, com descrição detalhada dos participantes, do período da coleta
de dados e dos índices de precisão dos escores/indicadores;
b) arquivo digital contendo a versão aprovada do manual;
c) carta de anuência do responsável técnico do teste psicológico aprovado no SATEPSI.
II – O material será analisado pela CCAP, que terá um prazo de 60 dias a partir do recebimento da
solicitação, para encaminhar sua deliberação ao Plenário do CFP.
III - A avaliação poderá ser favorável quando, por decisão do Plenário do CFP, a atualização de normas
contemplar as determinações desta Resolução, ou desfavorável, quando, por decisão do Plenário do
CFP, a análise indicar que a atualização das normas não está em consonância com a referida Resolução.
No caso de parecer desfavorável, deverão ser apresentadas as razões, bem como as orientações para
que o problema seja sanado.
IV - Após o envio da comunicação da avaliação, e nos casos em que ela for desfavorável, o requerente
poderá apresentar recurso no prazo de 30 dias, a contar da data do envio da comunicação do resultado.
V - A análise do recurso à avaliação desfavorável será realizada pela CCAP, que terá o prazo de 30
dias, a contar da data do recebimento do recurso do requerente.
VI - A CCAP encaminhará seu parecer para a Plenária do CFP, que fará a deliberação final.
Parágrafo único - Os prazos previstos no caput deste artigo serão calculados em dias úteis e seguirão
o calendário de Reuniões da CCAP e do Plenário do CFP.
Art. 25 - As normas atualizadas, a partir da data de aprovação, devem ser disponibilizadas juntamente
com o teste psicológico. Cabe aos autores, editores, laboratórios, instituições e responsáveis técnicos do
teste determinarem de que forma tal disponibilização será feita, não podendo este ser utilizado sem a
versão mais atualizada de suas normas aprovadas pelo SATEPSI.
Parágrafo único: A partir da data de aprovação das normas atualizadas, os autores, editoras,
laboratórios e/ou responsáveis técnicos do material terão o prazo de 180 dias para aplicar o disposto no
caput deste artigo.
Art. 27 - Os procedimentos para atualização de estudos de validade deverão ser submetidos para
apreciação da CCAP, e terá a seguinte tramitação:
I - Recepção;
II - Análise;
III - Avaliação;
IV - Comunicação da avaliação aos requerentes, com prazo para recurso;
V - Análise de recurso;
VI - Avaliação Final.
Art. 28 - Os procedimentos e prazos para cada etapa descrita no Art. 27 desta Resolução são os
seguintes:
I - O envio deverá ser feito on-line pelo site do SATEPSI, por meio do preenchimento dos dados de
identificação do teste psicológico e da inserção dos seguintes documentos:
a) estudos com as novas evidências de validade, contendo a descrição detalhada dos participantes;
b) arquivo digital contendo a versão aprovada do manual;
c) carta de anuência do responsável técnico do teste psicológico aprovado no SATEPSI.
Art. 29 - Os novos estudos de validade, a partir da data de aprovação, devem ser disponibilizados,
juntamente com o teste psicológico comercializado. Cabe aos autores, editores, laboratórios e
responsáveis técnicos do teste psicológico determinarem de que forma tal disponibilização será feita, não
podendo este ser comercializado sem a versão mais atualizada dos estudos de validade aprovada pelo
SATEPSI.
Parágrafo único - A partir da data de aprovação dos novos estudos de validade, os autores, editoras,
laboratórios e/ou responsáveis técnicos do material terão o prazo de 180 dias para aplicar o disposto no
caput deste artigo.
Art. 32 - As psicólogas e os psicólogos não poderão elaborar, validar, traduzir, adaptar, normatizar,
comercializar e fomentar instrumentos ou técnicas psicológicas, para criar, manter ou reforçar
preconceitos, estigmas ou estereótipos.
Art. 34 - Casos omissos ou não referidos nesta Resolução serão analisados no âmbito da CCAP e
deliberados pelo Plenário do CFP.
Rogério Giannini
Conselheiro Presidente
Conselho Federal de Psicologia
O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe
são conferidas pela Lei n.º 5.766, de 20 de dezembro de 1971, e pelo Decreto nº 79.822, de 17 de junho
de 1977;
CONSIDERANDO os princípios fundamentais previstos no Art. 1º da Constituição Federal de 1988,
que estabelece a dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito, e o
Art. 5º, que dispõe que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”;
CONSIDERANDO o Art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de
1948, o qual enuncia: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”;
CONSIDERANDO os Princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em
relação à orientação sexual e identidade de gênero presentes na Convenção de Yogyakarta, de novembro
de 2006;
CONSIDERANDO a Declaração de Durban – Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação
Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata –, que reafirma o princípio de igualdade e de não discriminação,
adotada em 8 de setembro de 2001;
CONSIDERANDO a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais, publicada em 2013 pelo Ministério da Saúde;
CONSIDERANDO o Código de Ética Profissional das Psicólogas e dos Psicólogos, editado por meio
da Resolução CFP nº 10/2005, de 21 de julho de 2005;
CONSIDERANDO as expressões e identidades de gênero como possibilidades da existência humana,
as quais não devem ser compreendidas como psicopatologias, transtornos mentais, desvios e/ou
inadequações;
CONSIDERANDO que expressão de gênero refere-se à forma como cada sujeito apresenta-se a partir
do que a cultura estabelece como sendo da ordem do feminino, do masculino ou de outros gêneros;
CONSIDERANDO que identidade de gênero refere-se à experiência interna e individual do gênero de
cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal
do corpo e outras expressões de gênero;
CONSIDERANDO que cisnormavidade refere-se ao regramento social que reduz a divisão das
pessoas apenas a homens e mulheres, com papéis sociais estabelecidos como naturais, postula a
heterossexualidade como única orientação sexual e considera a conjugalidade apenas entre homens e
mulheres cisgêneros;
CONSIDERANDO a cisnormavidade como discursos e práticas que excluem, patologizam e violentam
pessoas cujas experiências não expressam e/ou não possuem identidade de gênero concordante com
aquela designada no nascimento;
CONSIDERANDO que a autodeterminação constitui-se em um processo que garante a autonomia de
cada sujeito para determinar sua identidade de gênero;
CONSIDERANDO que a estrutura das sociedades ocidentais estabelece padrões de sexualidade e
gênero que permitem preconceitos, discriminações e vulnerabilidades às pessoas transexuais, travestis
e pessoas com outras expressões e identidades de gênero não cisnormavas;
RESOLVE:
4
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CFP-01-2018.pdf
Art. 5º - As psicólogas e os psicólogos, no exercício de sua prática profissional, não colaborarão com
eventos ou serviços que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias em
relação às transexualidades e travestilidades.
Art. 7º - As psicólogas e os psicólogos, no exercício profissional, não exercerão qualquer ação que
favoreça a patologização das pessoas transexuais e travestis.
Parágrafo único: As psicólogas e os psicólogos, na sua prática profissional, reconhecerão e legitimarão
a autodeterminação das pessoas transexuais e travestis em relação às suas identidades de gênero.
Art. 8º - É vedado às psicólogas e aos psicólogos, na sua prática profissional, propor, realizar ou
colaborar, sob uma perspectiva patologizante, com eventos ou serviços privados, públicos, institucionais,
comunitários ou promocionais que visem a terapias de conversão, reversão, readequação ou reorientação
de identidade de gênero das pessoas transexuais e travestis.
Questões
02. (CRP 2º Região - Psicólogo Orientador - Quadrix/2018) Em relação à Resolução n.° 9/2018 do
CFP, que dispõe sobre a realização de avaliação psicológica no exercício profissional do psicólogo e
regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), assinale a alternativa incorreta.
(A) é facultativo aos Conselhos Regionais de Psicologia manter cadastro atualizado de pessoas físicas
e jurídicas que, em sua jurisdição, comercializem testes psicológicos, uma vez que tal atribuição cabe às
editoras.
(B) Na comercialização de testes psicológicos, as editoras manterão procedimento de controle, no qual
deverá constar o nome do psicólogo que os adquiriu, seu número de inscrição no CRP e o(s) número(s)
de série dos testes adquiridos.
(C) Em caso de irregularidade nos testes psicológicos, é atribuição dos Conselhos Regionais de
Psicologia a notificação do psicólogo a respeito, dando prazo para a regularização.
(D) Cabe aos Conselhos Regionais de Psicologia a representação contra profissional ou pessoa
jurídica por falta disciplinar.
(E) Os Conselhos Regionais de Psicologia deverão dar conhecimento às autoridades competentes de
possíveis irregularidades no uso ou na comercialização dos testes psicológicos considerados como
favoráveis pelo CFP.
01.A / 02.A
Comentários
01. Resposta: A
Res 9/2018
Art. 2º - Na realização da Avaliação Psicológica, a psicóloga e o psicólogo devem basear sua decisão,
obrigatoriamente, em métodos e/ou técnicas e/ou instrumentos psicológicos reconhecidos cientificamente
para uso na prática profissional da psicóloga e do psicólogo (fontes fundamentais de informação),
podendo, a depender do contexto, recorrer a procedimentos e recursos auxiliares (fontes complementares
de informação).
Consideram-se fontes de informação:
I – Fontes fundamentais:
[ ]
b) Entrevistas psicológicas, anamnese e/ou;
c) Protocolos ou registros de observação de comportamentos obtidos individualmente ou por meio de
processo grupal e/ou técnicas de grupo.
02. Resposta: A
Res 9/2018
Art. 17 - Os CRPs adotarão as providências para o cumprimento desta Resolução, em suas respectivas
jurisdições, procedendo à orientação, à fiscalização e ao julgamento, podendo:
[ ]
Parágrafo único - Os Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) manterão cadastro atualizado de
pessoas físicas e jurídicas que, em sua jurisdição, comercializem testes psicológicos.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos,
e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas
entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios,
todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes,
sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente
social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a
comunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
5
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm - Acesso em 15/10/2018 às 14h00min.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento.
Título II
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência.
Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher
e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao
parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único
de Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 1o O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da atenção primária. (Redação dada pela
Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre
da gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-
nascidos alta hospitalar responsável e contra referência na atenção primária, bem como o acesso a outros
serviços e a grupos de apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré
e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal.
§ 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser prestada também a gestantes e mães que
manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se
encontrem em situação de privação de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar
saudável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação de
vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)
§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural
cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos
médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não iniciar ou que abandonar as
consultas de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. (Incluído pela
Lei nº 13.257, de 2016)
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se
encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do
adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
de 2016)
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação ou segregação, em
suas necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação. (Redação dada pela Lei
nº 13.257, de 2016)
§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos,
órteses, próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para
crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira infância
receberão formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvolvimento
psíquico, bem como para o acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e
de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar
da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
§ 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços de assistência social em
seu componente especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os
demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima
prioridade ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para
a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de
educação sanitária para pais, educadores e alunos.
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
(Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de
forma transversal, integral e inter setorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à
criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada, inicialmente,
antes de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo
segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos especiais será atendida pelo Sistema Único
de Saúde. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito meses de vida, de
protocolo ou outro instrumento construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica
de acompanhamento da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº
13.438, de 2017)
Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da
criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer
outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes
públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a
criança ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao
adolescente que:
a) humilhe;
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente
que garanta seu desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 1º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou
institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade
judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar,
decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº
13.509, de 2017)
§ 2º A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se
prolongará por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior
interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017)
§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em
relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em serviços e programas de
proteção, apoio e promoção, nos termos do § 1º do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos
incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade,
por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento
institucional, pela entidade responsável, independentemente de autorização judicial.
§ 5º Será garantida a convivência integral da criança com a mãe adolescente que estiver em
acolhimento institucional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6º A mãe adolescente será assistida por equipe especializada multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em entregar seu filho para adoção, antes ou
logo após o nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
§ 1º A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude,
que apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando inclusive os eventuais efeitos do estado
gestacional e puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2º De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá determinar o encaminhamento da gestante
ou mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência social para
atendimento especializado. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3º A busca à família extensa, conforme definida nos termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei,
respeitará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
§ 4º Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir outro representante da família
extensa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá decretar a extinção do poder
familiar e determinar a colocação da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado a adotá-
la ou de entidade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do
que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância,
recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes
ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades
compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão
familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. (Incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a
suspensão do poder familiar.
§ 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o
adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em
serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na
hipótese de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igualmente titular do
mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente. (Redação dada pela Lei nº 13.715, de
2018)
Seção II
Da Família Natural
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus
descendentes.
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da
unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou
separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento
público, qualquer que seja a origem da filiação.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao
falecimento, se deixar descendentes.
Seção III
Da Família Substituta
Subseção I
Disposições Gerais
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
§ 1º Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe
interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as
implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada
§ 2º Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido
em audiência.
§ 3º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou
de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida.
§ 4º Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta,
ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a
excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo
dos vínculos fraternais.
§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação
gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da
Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da
política municipal de garantia do direito à convivência familiar.
§ 6ºEm se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente
de quilombo, é ainda obrigatório.
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e
tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais
reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal;
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros
da mesma etnia;
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal responsável pela política indigenista, no
caso de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofissional ou
multidisciplinar que irá acompanhar o caso.
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo,
incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente
admissível na modalidade de adoção.
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.
Subseção II
Da Guarda
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou
adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou
incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a
situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de
representação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos
de direito, inclusive previdenciários.
§ 4º Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente,
ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou
adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de
prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
Ministério Público.
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.
§ 1º A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a
seu acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da
medida, nos termos desta Lei.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento
familiar poderá receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a
33 desta Lei.
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento em família acolhedora como política
pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de
adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não estejam
no cadastro de adoção. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a manutenção dos
serviços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família
acolhedora. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido
o Ministério Público.
Subseção III
Da Tutela
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do
poder familiar e implica necessariamente o dever de guarda.
Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no
parágrafo único do art. 1.729 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo
de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do
ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29
desta Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar
Subseção IV
Da Adoção
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei.
§ 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados
os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do
parágrafo único do art. 25 desta Lei.
§ 2º É vedada a adoção por procuração.
§ 3º Em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e de outras pessoas, inclusive seus
pais biológicos, devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando. (Incluído pela Lei nº 13.509,
de 2017)
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver
sob a guarda ou tutela dos adotantes.
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive
sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre
o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus
ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham
união estável, comprovada a estabilidade da família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.
§ 4º Os divorciados, os judicialmente separados e os ex companheiros podem adotar conjuntamente,
contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha
sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de
afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da
concessão.
§ 5º Nos casos do § 4º deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será
assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 - Código Civil
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a
falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em
motivos legítimos.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o
curador adotar o pupilo ou o curatelado.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam
desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.
§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu
consentimento.
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo
máximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso.
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil
mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do adotado.
§ 3º A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município
de sua residência.
§ 4º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro.
§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá
determinar a modificação do prenome.
§ 6º Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando,
observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 28 desta Lei.
§ 7º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na
hipótese prevista no § 6º do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito.
§ 8º O processo relativo à adoção assim como outros a ele relacionados serão mantidos em arquivo,
admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conservação para
consulta a qualquer tempo.
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de adoção em que o adotando for criança ou
adolescente com deficiência ou com doença crônica.
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável
uma única vez por igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela
Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito
ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de
18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais.
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e
adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido
o Ministério Público.
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfazer os requisitos legais, ou verificada
qualquer das hipóteses previstas no art. 29.
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o pretendente possui residência habitual
em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à
Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto no3.087, de 21 junho de 1999,
e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá
lugar quando restar comprovado:
I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada ao caso concreto; (Redação dada pela
Lei nº 13.509, de 2017)
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família
adotiva brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistência de adotantes habilitados
residentes no Brasil com perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos cadastros
mencionados nesta Lei; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com
as seguintes adaptações:
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá
formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional
no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual;
II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos
para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e
adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os
motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional;
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à Autoridade Central Estadual, com
cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira;
IV - o relatório será instruído com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial
elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente,
acompanhada da respectiva prova de vigência;
V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular,
observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por
tradutor público juramentado;
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e solicitar complementação sobre o estudo
psicossocial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida;
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, a compatibilidade da
legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida dos
requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta Lei como
da legislação do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá
validade por, no máximo, 1 (um) ano;
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção
perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente,
conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual.
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, admite-se que os pedidos de habilitação à
adoção internacional sejam intermediados por organismos credenciados.
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o credenciamento de organismos nacionais e
estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com posterior
comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio
próprio da internet.
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de organismos que:
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de Haia e estejam devidamente
credenciados pela Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando
para atuar em adoção internacional no Brasil;
II - satisfizerem as condições de integridade moral, competência profissional, experiência e
responsabilidade exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira;
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de
adoção internacional;
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas normas
estabelecidas pela Autoridade Central Federal Brasileira.
§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda:
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas
autoridades competentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central
Federal Brasileira;
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com
comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo
Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante
publicação de portaria do órgão federal competente;
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo
processo de adoção tenha sido processado em conformidade com a legislação vigente no país de
residência e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente
recepcionada com o reingresso no Brasil.
§ 1º Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá
a sentença ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
§ 2º O pretendente brasileiro residente no exterior em país não ratificante da Convenção de Haia, uma
vez reingressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira pelo Superior
Tribunal de Justiça.
Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha
sido deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na
hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido
à Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional.
Capítulo IV
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua
pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como
participar da definição das propostas educacionais.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios
do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso
às fontes de cultura.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de
recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a
juventude.
Capítulo V
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, sem prejuízo do
disposto nesta Lei
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de aprendizagem.
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os direitos trabalhistas e
previdenciários.
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica,
assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte;
II - perigoso, insalubre ou penoso;
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral
e social;
IV - realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola.
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade
governamental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele
participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular remunerada.
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas
ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a participação na venda dos
produtos de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente.
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão atuar de forma articulada
na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico
ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não violentas de educação de crianças e de
adolescentes, tendo como principais ações:
I - a promoção de campanhas educativas permanentes para a divulgação do direito da criança e do
adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
degradante e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos;
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, com
o Conselho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e com as entidades não
governamentais que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente;
III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais de saúde, educação e assistência social
e dos demais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
adolescente para o desenvolvimento das competências necessárias à prevenção, à identificação de
evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as formas de violência contra a criança e o
adolescente;
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de conflitos que envolvam violência contra
a criança e o adolescente;
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a garantir os direitos da criança e do
adolescente, desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o objetivo de
promover a informação, a reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de castigo físico ou
de tratamento cruel ou degradante no processo educativo;
VI - a promoção de espaços inter setoriais locais para a articulação de ações e a elaboração de planos
de atuação conjunta focados nas famílias em situação de violência, com participação de profissionais de
saúde, de assistência social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos direitos da
criança e do adolescente;
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com deficiência terão prioridade de
atendimento nas ações e políticas públicas de prevenção e proteção.
Art. 70-B.As entidades, públicas e privadas, que atuem nas áreas a que se refere o art. 71, dentre
outras, devem contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e comunicar ao
Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes.
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela comunicação de que trata este artigo, as pessoas
encarregadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do cuidado,
assistência ou guarda de crianças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado
retardamento ou omissão, culposos ou dolosos.
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões,
espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção especial outras decorrentes dos
princípios por ela adotados.
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa física ou
jurídica, nos termos desta Lei.
Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regulará as diversões e espetáculos públicos,
informando sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que
sua apresentação se mostre inadequada.
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos deverão afixar, em lugar
visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do
espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação.
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculos públicos classificados
como adequados à sua faixa etária.
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente poderão ingressar e permanecer nos
locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público
infanto juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação,
antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que explorem a venda ou
aluguel de fitas de programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo
com a classificação atribuída pelo órgão competente.
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão exibir, no invólucro, informação sobre a
natureza da obra e a faixa etária a que se destinam.
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações,
fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão
respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem comercialmente bilhar, sinuca ou
congênere ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente,
cuidarão para que não seja permitida a entrada e a permanência de crianças e adolescentes no local,
afixando aviso para orientação do público.
Seção II
Dos Produtos e Serviços
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais
ou responsável, sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou
incluída na mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por
dois anos.
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em
território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.
Parte Especial
Título I
Da Política de Atendimento
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um
conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios.
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos
da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será remunerada.
Capítulo II
Das Entidades de Atendimento
Seção I
Disposições Gerais
Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim
como pelo planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças
e adolescentes, em regime de:
I - orientação e apoio sócio familiar;
II - apoio socioeducativo em meio aberto;
III - colocação familiar;
IV - acolhimento institucional;
V - prestação de serviços à comunidade;
VI - liberdade assistida;
VII - semiliberdade; e
VIII - internação.
§ 1º As entidades governamentais e não governamentais deverão proceder à inscrição de seus
programas, especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas
alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.
§ 2º Os recursos destinados à implementação e manutenção dos programas relacionados neste artigo
serão previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das áreas de Educação,
Saúde e Assistência Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e
ao adolescente preconizado pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo único
do art. 4º desta Lei.
§ 3º Os programas em execução serão reavaliados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação da
autorização de funcionamento:
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem como às resoluções relativas à modalidade
de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos
os níveis;
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério
Público e pela Justiça da Infância e da Juventude;
III - em se tratando de programas de acolhimento institucional ou familiar, serão considerados os
índices de sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso.
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de acolhimento familiar ou institucional deverão
adotar os seguintes princípios
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar;
II - integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural
ou extensa;
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV - desenvolvimento de atividades em regime de coeducação;
V - não desmembramento de grupos de irmãos;
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes
abrigados;
VII - participação na vida da comunidade local;
VIII - preparação gradativa para o desligamento;
IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo.
§ 1º O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao
guardião, para todos os efeitos de direito.
§ 2º Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional
remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da
situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação prevista no § 1º
do art. 19 desta Lei.
§ 3º Os entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo e Judiciário, promoverão
conjuntamente a permanente qualificação dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em
programas de acolhimento institucional e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes,
incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar.
§ 4º Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que
desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho
Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão o contato da criança ou adolescente com seus
pais e parentes, em cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
§ 5º As entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional somente
poderão receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e finalidades
desta Lei.
§ 6º O descumprimento das disposições desta Lei pelo dirigente de entidade que desenvolva
programas de acolhimento familiar ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da apuração
de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal.
§ 7º Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento institucional, dar-se-á
especial atenção à atuação de educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, às
rotinas específicas e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter
excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da
Juventude, sob pena de responsabilidade.
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de internação têm as seguintes obrigações, entre
outras:
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes;
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação;
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos;
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente;
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares;
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou
impossível o reatamento dos vínculos familiares;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e
segurança e os objetos necessários à higiene pessoal;
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes
atendidos;
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos;
X - propiciar escolarização e profissionalização;
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos
resultados à autoridade competente;
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual;
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes portadores de moléstias
infectocontagiosas;
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes;
XVIII - manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do
adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua
formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a
individualização do atendimento.
§ 1º Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes deste artigo às entidades que mantêm
programas de acolhimento institucional e familiar.
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as entidades utilizarão preferencialmente
os recursos da comunidade.
Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes,
ainda que em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, profissionais capacitados a reconhecer e
reportar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
Seção II
Da Fiscalização das Entidades
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem obrigação constante
do art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos:
I - às entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
Título II
Das Medidas de Proteção
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.
Capítulo II
Das Medidas Específicas de Proteção
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem
como substituídas a qualquer tempo.
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-
se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas:
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os
titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal;
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta
Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são
titulares;
III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados
a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta
expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo,
sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por
entidades não governamentais;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos
interesses e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros
interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no
respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a
situação de perigo seja conhecida;
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e
instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do
adolescente;
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de
perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada;
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os
seus deveres para com a criança e o adolescente;
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá
determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da
família, da criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
toxicômanos;
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta.
§ 1º O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais,
utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação
em família substituta, não implicando privação de liberdade.
§ 2º Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso
sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do
convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido
do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual
se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
§ 3º Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam
programas de acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento,
expedida pela autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.
§ 4º Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo
programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando
à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de
autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.
§ 5º O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo
programa de atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos
pais ou do responsável.
§ 6º Constarão do plano individual, dentre outros:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e
seus pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e
fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família
substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.
§ 7º O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do
responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade,
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo serão acompanhadas da regularização
do registro civil.
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou adolescente
será feito à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que trata este artigo são isentos de multas,
custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 3º Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado procedimento específico destinado à sua
averiguação, conforme previsto pela Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992.
§ 4º Nas hipóteses previstas no § 3º deste artigo, é dispensável o ajuizamento de ação de investigação
de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto pai em
assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer tempo, do nome do pai no assento de
nascimento são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade. (Incluído dada
pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida do reconhecimento de paternidade no
assento de nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Título III
Da Prática de Ato Infracional
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas
nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do
fato.
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101.
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou
por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão,
devendo ser informado acerca de seus direitos.
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti
comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de
liberação imediata.
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e
cinco dias.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e
materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos
órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.
Capítulo III
Das Garantias Processuais
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.
Capítulo IV
Das Medidas Socioeducativas
Seção I
Disposições Gerais
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente
as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as
circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e
especializado, em local adequado às suas condições.
Seção II
Da Advertência
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada.
Seção III
Da Obrigação de Reparar o Dano
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar,
se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma,
compense o prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra
adequada.
Seção IV
Da Prestação de Serviços à Comunidade
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse
geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros
estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser
cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em
dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho.
Seção V
Da Liberdade Assistida
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o
fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser
recomendada por entidade ou programa de atendimento.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo
ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o
defensor.
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização
dos seguintes encargos, entre outros:
I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se
necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua
matrícula;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de
trabalho;
IV - apresentar relatório do caso
Seção VI
Do Regime de Semiliberdade
Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição
para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização
judicial.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser
utilizados os recursos existentes na comunidade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas
à internação.
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo
expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante
decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado
em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério
Público.
§ 7º A determinação judicial mencionada no § 1º poderá ser revista a qualquer tempo pela autoridade
judiciária.
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto
daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e
gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades
pedagógicas.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais
ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo
comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em
sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou
responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do
adolescente.
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as
medidas adequadas de contenção e segurança.
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante
do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às
circunstâncias e consequências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e
sua maior ou menor participação no ato infracional.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária
importará na suspensão ou extinção do processo.
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo,
mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público.
Título IV
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou
responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor
da moradia comum.
Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que
necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor.
Título V
Do Conselho Tutelar
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo,
1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco)
membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma)
recondução, mediante novo processo de escolha.
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
I - reconhecida idoneidade moral;
II - idade superior a vinte e um anos;
III - residir no município.
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante e
estabelecerá presunção de idoneidade moral.
Capítulo II
Das Atribuições do Conselho
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela autoridade judiciária a
pedido de quem tenha legítimo interesse.
Capítulo III
Da Competência
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência constante do art. 147.
Capítulo IV
Da Escolha dos Conselheiros
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será estabelecido em lei
municipal e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público.
Capítulo V
Dos Impedimentos
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes,
sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e
enteado.
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste artigo, em relação à
autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da
Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital.
Título VI
Do Acesso à Justiça
Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério
Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
§ 1º A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessitarem, através de defensor
público ou advogado nomeado.
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da Juventude são isentas de custas e
emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados e os maiores de dezesseis e menores
de vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou
processual.
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à criança ou adolescente, sempre que
os interesses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de representação
ou assistência legal ainda que eventual.
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a
crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente,
vedando-se fotografia, referência ao nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive, iniciais
do nome e sobrenome.
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se refere o artigo anterior somente será
deferida pela autoridade judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a finalidade.
Capítulo II
Da Justiça da Infância e da Juventude
Seção I
Disposições Gerais
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e
da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes,
dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce
essa função, na forma da lei de organização judiciária local.
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável,
em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo;
b) bailes ou promoções dançantes;
c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
b) certames de beleza.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
a) os princípios desta Lei;
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
d) o tipo de frequência habitual ao local;
Seção III
Dos Serviços Auxiliares
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para
manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude.
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela
legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem
assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo
sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista
técnico.
Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servidores públicos integrantes do Poder Judiciário
responsáveis pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras espécies de avaliações
técnicas exigidas por esta Lei ou por determinação judicial, a autoridade judiciária poderá proceder à
nomeação de perito, nos termos do art. 156 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Capítulo III
Dos Procedimentos
Seção I
Disposições Gerais
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as normas gerais
previstas na legislação processual pertinente.
§ 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade absoluta na tramitação dos processos e
procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais a eles
referentes.
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus procedimentos são contados em dias
corridos, excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro para a
Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento previsto nesta ou em
outra lei, a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências necessárias,
ouvido o Ministério Público.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o fim de afastamento da criança ou do
adolescente de sua família de origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos.
Seção II
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do poder familiar terá início por provocação do
Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, indicando as
provas a serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e documentos.
§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os meios para sua realização.
§ 2º O requerido privado de liberdade deverá ser citado pessoalmente.
§ 3º Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou
residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, informar qualquer pessoa da família
ou, em sua falta, qualquer vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, na hora que
designar, nos termos do art. 252 e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 4º Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local incerto ou não sabido, serão citados por
edital no prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a localização.
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir advogado, sem prejuízo do próprio
sustento e de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado dativo, ao qual incumbirá
a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de nomeação.
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar,
no momento da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor.
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará de qualquer repartição ou órgão público
a apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou a requerimento das partes ou do
Ministério Público.
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido concluído o estudo social ou a perícia realizada
por equipe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao Ministério
Público, por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá em igual prazo. (Redação dada
pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público,
determinará a oitiva de testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão ou
destituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002
(Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3º Se o pedido importar em modificação de guarda, será obrigatória, desde que possível e razoável,
a oitiva da criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão
sobre as implicações da medida.
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem identificados e estiverem em local conhecido,
ressalvados os casos de não comparecimento perante a Justiça quando devidamente citados. (Redação
dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 5º Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a autoridade judicial requisitará sua
apresentação para a oitiva
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público,
por cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando, desde logo, audiência de instrução e
julgamento.
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá
ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a
criança ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta. (Redação dada pela Lei nº 13.509,
de 2017)
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do poder familiar será averbada à
margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente.
Seção III
Da Destituição da Tutela
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimento para a remoção de tutor previsto na
lei processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
Seção IV
Da Colocação em Família Substituta
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de colocação em família substituta:
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro, com expressa
anuência deste;
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança
ou adolescente, especificando se tem ou não parente vivo;
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos;
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma cópia da respectiva
certidão;
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança ou ao
adolescente.
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão também os requisitos específicos.
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou
houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser
formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a
assistência de advogado.
§ 1º Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, devidamente assistidas por advogado ou por
defensor público, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo máximo de 10 (dez) dias,
contado da data do protocolo da petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por termo as
declarações; e (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2º O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos
prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de
adoção, sobre a irrevogabilidade da medida.
§ 3º São garantidos a livre manifestação de vontade dos detentores do poder familiar e o direito ao
sigilo das informações. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 4º O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na audiência a que
se refere o § 1º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 5º O consentimento é retratável até a data da realização da audiência especificada no § 1o deste
artigo, e os pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado da data de prolação
da sentença de extinção do poder familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6º O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança.
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público,
determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional, decidindo
sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência.
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou do estágio de convivência, a criança
ou o adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de responsabilidade.
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre que possível, a criança
ou o adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, decidindo a
autoridade judiciária em igual prazo.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do poder familiar
constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em família substituta, será observado o
procedimento contraditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo.
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá ser decretada nos mesmos autos do
procedimento, observado o disposto no art. 35.
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o
contido no art. 47.
Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob a guarda de pessoa inscrita em programa
de acolhimento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este responsável no
prazo máximo de 5 (cinco) dias.
Seção V
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo, encaminhado à
autoridade judiciária.
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado à
autoridade policial competente.
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se
tratando de ato infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição
especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à
repartição policial própria.
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça a
pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da
infração.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura do auto poderá ser substituída por
boletim de ocorrência circunstanciada.
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamente liberado
pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao
representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato,
exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente
permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o adolescente ao
representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de
ocorrência.
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de adolescente na
prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério Público
relatório das investigações e demais documentos.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou
transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade,
ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do
auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial
e com informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e informalmente à sua
oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público notificará os
pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil
e militar.
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público
poderá:
I - promover o arquivamento dos autos;
II - conceder a remissão;
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida socioeducativa.
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo representante do
Ministério Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão
conclusos à autoridade judiciária para homologação.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária determinará, conforme o caso,
o cumprimento da medida.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça,
mediante despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro membro do
Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a
autoridade judiciária obrigada a homologar.
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento
ou conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de
procedimento para aplicação da medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada.
§ 1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação
do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em
sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
§ 2º A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade.
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento, estando o adolescente
internado provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
estabelecimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o adolescente deverá
ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição
policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar
o prazo máximo de cinco dias, sob pena de responsabilidade.
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária procederá à
oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o representante do Ministério
Público, proferindo decisão.
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou colocação em regime de
semiliberdade, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado constituído,
nomeará defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização
de diligências e estudo do caso.
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado da audiência de
apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa
prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada a palavra ao
representante do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para
cada um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser aplicada em
qualquer fase do procedimento, antes da sentença.
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que reconheça na sentença:
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato ato infracional;
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional.
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o adolescente internado, será imediatamente
colocado em liberdade.
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de internação ou regime de semiliberdade será
feita:
I - ao adolescente e ao seu defensor;
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á unicamente na pessoa do defensor.
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá este manifestar se deseja ou não recorrer
da sentença.
Seção V-A
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de
Criança e de Adolescente
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de investigar os crimes previstos
nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher
indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D
desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal). (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investigação
responderá pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de dados próprios,
mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessárias à
efetividade da identidade fictícia criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta Seção será numerado e tombado em livro
específico. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante a operação deverão
ser registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com
relatório circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo serão reunidos em autos
apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegurando-se a
preservação da identidade do agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes
envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Seção VI
Da Apuração de Irregularidades em Entidade de Atendimento
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita,
podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a autoridade judiciária designará
audiência de instrução e julgamento, intimando as partes.
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão cinco dias para oferecer
alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, a
autoridade judiciária oficiará à autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, marcando
prazo para a substituição.
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá fixar prazo para a remoção
das irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julgamento de
mérito.
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento.
Seção VII
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Proteção à Criança e ao Adolescente
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração às normas de
proteção à criança e ao adolescente terá início por representação do Ministério Público, ou do Conselho
Tutelar, ou auto de infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas
testemunhas, se possível.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão ser usadas fórmulas impressas,
especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, certificando-se,
em caso contrário, dos motivos do retardamento.
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação de defesa, contado da data da
intimação, que será feita:
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na presença do requerido;
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que entregará cópia do auto ou da
representação ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for encontrado o requerido ou seu representante
legal;
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não sabido o paradeiro do requerido ou de seu
representante legal.
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a autoridade judiciária dará vista dos autos
do Ministério Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária procederá na conformidade do artigo anterior,
ou, sendo necessário, designará audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão sucessivamente o Ministério Público e o
procurador do requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a critério
da autoridade judiciária, que em seguida proferirá sentença.
Seção VIII
Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, apresentarão petição inicial na qual
conste:
I - qualificação completa;
II - dados familiares;
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração relativa ao período
de união estável;
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao
Ministério Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe interprofissional encarregada de elaborar o
estudo técnico a que se refere o art. 197-C desta Lei;
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em juízo e testemunhas;
III - requerer a juntada de documentos complementares e a realização de outras diligências que
entender necessárias.
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância
e da Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a
capacidade e o preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade
responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei.
§ 1º É obrigatória a participação dos postulantes em programa oferecido pela Justiça da Infância e da
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal
de garantia do direito à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção devidamente habilitados
perante a Justiça da Infância e da Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à
adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes com deficiência, com doenças crônicas ou com
necessidades específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2º Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória da preparação referida no § 1º deste
artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou institucional,
a ser realizado sob orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da
Juventude e dos grupos de apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de
acolhimento familiar e institucional e pela execução da política municipal de garantia do direito à
convivência familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3º É recomendável que as crianças e os adolescentes acolhidos institucionalmente ou por família
acolhedora sejam preparados por equipe interprofissional antes da inclusão em família adotiva. (Incluído
pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação no programa referido no art. 197-C desta
Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das diligências
requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme
o caso, audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade
judiciária determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério
Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta
Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e
conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis.
§ 1º A ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela autoridade
judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a melhor
solução no interesse do adotando.
§ 2º A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo trienalmente mediante avaliação por
equipe interprofissional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3º Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção, será dispensável a renovação da
habilitação, bastando a avaliação por equipe interprofissional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 4º Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à adoção de crianças ou adolescentes
indicados dentro do perfil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
§ 5º A desistência do pretendente em relação à guarda para fins de adoção ou a devolução da criança
ou do adolescente depois do trânsito em julgado da sentença de adoção importará na sua exclusão dos
cadastros de adoção e na vedação de renovação da habilitação, salvo decisão judicial fundamentada,
sem prejuízo das demais sanções previstas na legislação vigente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Capítulo IV
Dos Recursos
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os relativos à
execução das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro
de 1973 (Código de Processo Civil), com as seguintes adaptações:
I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo;
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o prazo para o Ministério Público e para
a defesa será sempre de 10 (dez) dias;
III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;
IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de apelação, ou do
instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, mantendo ou
reformando a decisão, no prazo de cinco dias;
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou o instrumento à superior
instância dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo pedido do recorrente; se a reformar,
a remessa dos autos dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no
prazo de cinco dias, contados da intimação.
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149 caberá recurso de apelação.
Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que
será recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou se houver
perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando.
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do poder familiar fica sujeita a
apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de destituição de poder familiar, em face da
relevância das questões, serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente
distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão
colocados em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Público.
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de 60
(sessenta) dias, contado da sua conclusão.
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do julgamento e poderá na sessão, se
entender necessário, apresentar oralmente seu parecer.
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a instauração de procedimento para apuração de
responsabilidades se constatar o descumprimento das providências e do prazo previstos nos artigos
anteriores.
Capítulo V
Do Ministério Público
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva
lei orgânica.
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério
Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos autos
depois das partes, podendo juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada
de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo
interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou
foragido, será processado sem defensor.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo
tempo, constituir outro de sua preferência.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do processo, devendo o juiz
nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado ou, sido
constituído, tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária.
Capítulo VII
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos
assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:
I - do ensino obrigatório;
II - de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência;
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade (Redação dada
pela Lei nº 13.306, de 2016).
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
V - de programas suplementares de oferta de material didático-escolar, transporte e assistência à
saúde do educando do ensino fundamental;
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à infância e à
adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de liberdade.
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção social de famílias e destinados
ao pleno exercício do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.
X - de programas de atendimento para a execução das medidas socioeducativas e aplicação de
medidas de proteção.
XI - de políticas e programas integrados de atendimento à criança e ao adolescente vítima ou
testemunha de violência. (Incluído pela Lei nº 13.431, de 2017)
§ 1º As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros interesses individuais,
difusos ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição e pela Lei.
§ 2º A investigação do desaparecimento de crianças ou adolescentes será realizada imediatamente
após notificação aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, aeroportos, Polícia
Rodoviária e companhias de transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados
necessários à identificação do desaparecido.
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva
ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a
competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores.
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos, consideram-se legitimados
concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os territórios;
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a autorização da
assembleia, se houver prévia autorização estatutária.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos estados na
defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou
outro legitimado poderá assumir a titularidade ativa.
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as
espécies de ações pertinentes.
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas do Código de Processo Civil.
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
de atribuições do poder público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá ação
mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo
razoável para o cumprimento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor, mas
será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e
do Adolescente do respectivo município.
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em julgado da decisão serão exigidas
através de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos
demais legitimados.
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial
de crédito, em conta com correção monetária.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao poder público, o juiz
determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e
administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória sem que a
associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa
aos demais legitimados.
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os honorários advocatícios arbitrados
na conformidade do § 4º do art. 20 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil),
quando reconhecer que a pretensão é manifestamente infundada.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela
propositura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo de
responsabilidade por perdas e danos.
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas.
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério
Público, prestando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e indicando-lhe os
elementos de convicção.
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais tiverem conhecimento de fatos que
possam ensejar a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências
cabíveis.
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as
certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de quinze dias.
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei nº 7.347, de 24 de julho
de 1985.
Título VII
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
Capítulo I
Dos Crimes
Seção I
Disposições Gerais
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o adolescente, por ação ou
omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas da Parte Geral do Código Penal e,
quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública incondicionada.
Seção II
Dos Crimes em Espécie
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante
de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder
aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar
em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das
formalidades legais.
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a
constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança
ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei em benefício de adolescente privado
de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou
representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou
ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para
o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo
explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo
intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda
quem com esses contracena.
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:
I - no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;
II - prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou
III - prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por
adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha
autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio,
inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se
refere o caput deste artigo.
§ 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades
competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a
comunicação for feita por:
I - agente público no exercício de suas funções;
II - membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o
recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo;
III - representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por
meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial,
ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário.
§ 3º As pessoas referidas no § 2º deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido.
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica
por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de
representação visual:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui,
publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do
caput deste artigo.
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com
o fim de com ela praticar ato libidinoso.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I - facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica
com o fim de com ela praticar ato libidinoso;
II - pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma
pornográfica ou sexualmente explícita.
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou
pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais
explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins
primordialmente sexuais.
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma,
a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes
possam causar dependência física ou psíquica:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou
adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam
incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando
infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas
utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet.
§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração
cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990.
Capítulo II
Das Infrações Administrativas
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de
ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de atendimento o exercício dos direitos
constantes nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de comunicação,
nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a criança ou
adolescente a que se atribua ato infracional:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou adolescente
envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam
atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, além da pena
prevista neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação ou a
suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como da publicação do periódico até por
dois números. (Expressão declara inconstitucional pela ADIN 869-2)
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente
de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem
autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:
Pena - multa.
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, a autoridade judiciária poderá determinar
o fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será
definitivamente fechado e terá sua licença cassada.
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer meio, com inobservância do disposto nos
arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo público de afixar, em lugar visível e de fácil
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou espetáculo
e a faixa etária especificada no certificado de classificação:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer representações ou espetáculos, sem indicar os
limites de idade a que não se recomendem:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada em caso de reincidência, aplicável,
separadamente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem
aviso de sua classificação:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade
judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere classificado pelo órgão competente como
inadequado às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reincidência, a autoridade poderá determinar a
suspensão do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de programação em vídeo, em desacordo com
a classificação atribuída pelo órgão competente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária
poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o empresário de observar o que dispõe esta
Lei sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua participação no
espetáculo:
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária
poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da publicação deste Estatuto, elaborará projeto
de lei dispondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da política de atendimento
fixadas no art. 88 e ao que estabelece o Título V do Livro II.
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios promoverem a adaptação de seus órgãos e
programas às diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fundos dos Direitos da Criança e do
Adolescente nacional, distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas
integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os seguintes limites:
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com
base no lucro real; e
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas pessoas físicas na Declaração de
Ajuste Anual, observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de 1997.
§ 1º Revogado.
§ 1º-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com os recursos captados pelos fundos
nacional, estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas as
disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes
à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância. (Redação dada pela
Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente fixarão
critérios de utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais receitas,
aplicando necessariamente percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças
e adolescentes e para programas de atenção integral à primeira infância em áreas de maior carência
socioeconômica e em situações de calamidade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento,
regulamentará a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo.
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a forma de fiscalização da aplicação, pelo
Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais referidos neste artigo.
§ 5º Observado o disposto no § 4º do art. 3º da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução
de que trata o inciso I do caput:
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a limite em conjunto com outras deduções do
imposto; e
II - não poderá ser computada como despesa operacional na apuração do lucro real.
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de 2009, a pessoa física poderá optar pela
doação de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de Ajuste Anual.
§ 1º A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até os seguintes percentuais aplicados sobre
o imposto apurado na declaração:
I - (Vetado);
II - (Vetado);
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
§ 2º A dedução de que trata o caput:
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado na declaração de
que trata o inciso II do caput do art. 260;
II - não se aplica à pessoa física que:
a) utilizar o desconto simplificado;
b) apresentar declaração em formulário; ou
c) entregar a declaração fora do prazo;
III - só se aplica às doações em espécie; e
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em vigor.
§ 3º O pagamento da doação deve ser efetuado até a data de vencimento da primeira quota ou quota
única do imposto, observadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal do Brasil.
§ 4º O não pagamento da doação no prazo estabelecido no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela
de dedução, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto devido apurado
na Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos legais previstos na legislação.
§ 5º A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na Declaração de Ajuste Anual as doações
feitas, no respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos da Criança e
Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 poderá ser deduzida:
I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e
II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para as pessoas jurídicas que apuram o imposto
anualmente.
Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do período a que se refere a apuração do
imposto.
Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei podem ser efetuadas em espécie ou em bens.
Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser depositadas em conta específica, em
instituição financeira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. 260.
Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das contas dos Fundos dos Direitos da Criança
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo em favor do doador,
assinado por pessoa competente e pelo presidente do Conselho correspondente, especificando:
I - número de ordem;
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e endereço do emitente;
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do doador;
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
V - ano-calendário a que se refere a doação.
§ 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode ser emitido anualmente, desde que
discrimine os valores doados mês a mês.
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve conter a identificação dos bens, mediante
descrição em campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, informando também se houve
avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores.
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D e 260-E devem ser mantidos pelo
contribuinte por um prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a Receita
Federal do Brasil.
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das contas dos Fundos dos Direitos da Criança
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem:
I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente a gerir os recursos do Fundo;
II - manter controle das doações recebidas; e
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do Brasil as doações recebidas mês a mês,
identificando os seguintes dados por doador:
a) nome, CNPJ ou CPF;
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou em bens.
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações previstas no art. 260-G, a Secretaria da
Receita Federal do Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e
municipais divulgarão amplamente à comunidade:
I - o calendário de suas reuniões;
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de atendimento à criança e ao adolescente;
Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada Comarca, a forma de fiscalização da aplicação
dos incentivos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a
responder por ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de ofício, a requerimento
ou representação de qualquer cidadão.
Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil expedirá as instruções necessárias à aplicação
do disposto nos arts. 260 a 260-K.
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da criança e do adolescente, os registros,
inscrições e alterações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão efetuados
perante a autoridade judiciária da comarca a que pertencer a entidade.
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos estados e municípios, e os estados aos
municípios, os recursos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão logo estejam
criados os conselhos dos direitos da criança e do adolescente nos seus respectivos níveis.
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as atribuições a eles conferidas serão
exercidas pela autoridade judiciária.
Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
seguintes alterações:
1) Art. 121 ............................................................
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos.
2) Art. 129 ...............................................................
§ 7ºAumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
3) Art. 136.................................................................
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos.
4) Art. 213 ..................................................................
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de quatro a dez anos.
5) Art. 214...................................................................
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de três a nove anos.
Art. 264. O art. 102 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, fica acrescido do seguinte item:
"Art. 102 ....................................................................
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. "
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla divulgação dos direitos da criança e do
adolescente nos meios de comunicação social. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será veiculada em linguagem clara,
compreensível e adequada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6
(seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua publicação.
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão ser promovidas atividades e campanhas de
divulgação e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de
Menores), e as demais disposições em contrário.
FERNANDO COLLOR
Questões
02. (Câmara de Salvador/BA - Especialista - Assistente Social). Mariana está prestes a dar à luz e
solicita ao obstetra que sua prima Luci fique com ela durante o trabalho de parto. Todavia, Fábio, o
companheiro de Mariana, não concorda, alegando ser seu direito permanecer junto a Mariana durante o
trabalho de parto, uma vez que é o pai da criança que irá nascer.
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):
(A) a parturiente tem direito a um acompanhante de sua preferência;
(B) a equipe de saúde deverá designar quem acompanhará a parturiente;
(C) o pai da criança tem prioridade em acompanhar a parturiente;
(E) a avó materna tem permanência garantida junto à parturiente, devido à sua experiência;
(E) cabe ao obstetra decidir se e quem poderá acompanhar a parturiente.
03. (EBSERH - Assistente Social - INSTITUTO AOCP/2017). A respeito dos direitos da Criança e do
Adolescente, presentes na Lei 8069/93, assinale a alternativa correta.
(A) A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se
prolongará por mais de 1 ano, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse,
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
(B) A colocação em família substituta farse-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente
da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
(C) O adotante há de ser, pelo menos, dezessete anos mais velho do que o adotando.
(D) A falta ou a carência de recursos materiais constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão
do poder familiar.
(E) É dever da família velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
05. (EBSERH - Assistente Social - INSTITUTO AOCP/2017). Um adolescente de 17 anos, com dores
abdominais e mal-estar, foi até um Hospital Universitário acompanhado de sua genitora, onde, após ser
avaliado por médico, foi indicado internação por se tratar de suspeita de uma virose. A genitora relatou
que não poderia acompanhar a internação do filho, pois teria que retornar ao seu trabalho, e disse ainda
que por ele já ter 17 anos de idade, teria total condição de ficar sozinho. De acordo com a Lei 8069/90,
qual é o procedimento que o assistente social do hospital deve adotar?
(A) Por se tratar de adolescente com idade superior a 12 anos, informar a genitora que ele ficará sob
os cuidados da equipe de enfermagem.
(B) Orientar à genitora que é obrigatória a permanência em tempo integral de um dos pais ou
responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.
(C) Orientar à genitora que retorne apenas no período noturno, após seu horário de expediente no
trabalho.
(D) Orientar à genitora que seu outro filho de 16 anos poderá acompanhar a internação do adolescente.
(E) Orientar à genitora que o serviço social do Hospital ficará responsável pela internação do
adolescente.
06. (UFPA - Assistente Social - UFPA/2017). Com base na Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e
do Adolescente), é CORRETO afirmar que
(A) a adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou o adolescente, pelo prazo
que a autoridade judiciária fixar, salvo se o adotando já estiver sob a tutela, guarda legal ou guarda de
fato do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição
do vínculo.
(B) o vínculo da adoção é constituído por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante
mandado cuja inscrição consignará o nome dos adotantes como pais e o de seus ascendentes, bem como
uma observação sobre a origem do ato, cancelando o registro original do adotado.
(C) o adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao
processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos
ou, se menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e
psicológica.
(D) a adoção, que depende do consentimento dos pais ou do representante legal, produz seus efeitos
a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese de o adotante falecer no curso
do procedimento, caso em que terá força retroativa à data do ajuizamento do pedido de adoção.
(E) os divorciados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre
a guarda e o regime de visitas e desde que iniciem o estágio de convivência em até seis meses após a
separação e comprovem que existe vínculo de afinidade e afetividade entre o adotante e o não detentor
da guarda.
Gabarito
Comentários
01. Resposta: A
Lei 8.069/1990
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
02. Resposta: A
Lei 8.069/1990
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher
e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao
parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único
de Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
( )
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
03. Resposta: B
Lei 8.069/1990
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
04. Resposta: D
Lei 8.069/1990
Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher
e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao
parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único
de Saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
( )
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre
da gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016).
05. Resposta: B
Lei 8.069/1990
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia
intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência em tempo
integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. (Redação
dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
06. Resposta: C
Lei 8.069/1990
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito
ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
07. Resposta: C
Lei 8.069/1990
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo
máximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso.
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
1 INTRODUÇÃO
2 PRINCÍPIOS
Todos os esforços devem ser empreendidos no sentido de manter o convívio com a família (nuclear
ou extensa, em seus diversos arranjos), a fim de garantir que o afastamento da criança ou do adolescente
do contexto familiar seja uma medida excepcional, aplicada apenas nas situações de grave risco à sua
integridade física e/ou psíquica.
Como este afastamento traz profundas implicações, tanto para a criança e o adolescente, quanto para
a família, deve-se recorrer a esta medida apenas quando representar o melhor interesse da criança ou
do adolescente e o menor prejuízo ao seu processo de desenvolvimento. Destaca-se que tal medida deve
ser aplicada apenas nos casos em que não for possível realizar uma intervenção mantendo a criança ou
adolescente no convívio com sua família (nuclear ou extensa).
Para que este princípio possa ser aplicado, é importante que se promova o fortalecimento, a
emancipação e a inclusão social das famílias, por meio do acesso às políticas públicas e às ações
comunitárias. Dessa forma, antes de se considerar a hipótese do afastamento, é necessário assegurar à
família o acesso à rede de serviços públicos que possam potencializar as condições de oferecer à criança
ou ao adolescente um ambiente seguro de convivência.
Destaca-se que, em conformidade com o Art. 23 do ECA, a falta de recursos materiais por si só não
constitui motivo suficiente para afastar a criança ou o adolescente do convívio familiar, encaminhá-los
para serviços de acolhimento ou, ainda, para inviabilizar sua reintegração. Nessas situações o convívio
familiar deve ser preservado e a família, obrigatoriamente, incluída em programas oficiais ou comunitários
de apoio, e demais medidas previstas no artigo 101 do ECA.
Nos casos em que o motivo que ensejaria a aplicação da medida de abrigo referir-se à falta ou
precariedade de condições de habitação da família, deve-se recorrer a medidas que preservem o convívio
familiar e mantenham a família, a criança e o adolescente em condições de segurança e proteção, como
a inclusão imediata de todos seus membros conjuntamente em serviços de acolhimento para adultos com
crianças ou adolescentes e acesso à moradia subsidiada, dentre outras. Paralelamente, deve ser
Quando o afastamento do convívio familiar for medida mais adequada para se garantir a proteção da
criança e do adolescente em determinado momento, esforços devem ser empreendidos para viabilizar,
no menor tempo possível, o retorno seguro ao convívio familiar, prioritariamente na família de origem e,
excepcionalmente, em família substituta (adoção, guarda e tutela), conforme Capítulo III, Seção III do
ECA.
Todos os esforços devem ser empreendidos para que, em um período inferior a dois anos, seja
viabilizada a reintegração familiar – para família nuclear ou extensa, em seus diversos arranjos – ou, na
sua impossibilidade, o encaminhamento para família substituta. A permanência de crianças e
adolescentes em serviço de acolhimento por período superior a dois anos deverá ter caráter
extremamente excepcional, e estar fundamentada em uma avaliação criteriosa acerca de sua
necessidade pelos diversos órgãos que acompanham o caso.
Quando o prognóstico de permanência da criança e do adolescente no serviço de acolhimento for de
mais de dois anos, deve ser encaminhado à Justiça da Infância e da Juventude relatório baseado no
acompanhamento da situação pelo serviço de acolhimento e em outros serviços da rede que também
prestem atendimento à criança, ao adolescente e sua família. Tal relatório será fundamental para
subsidiar a avaliação, por parte da Justiça, quanto à melhor alternativa para a criança e o adolescente,
seja a continuidade dos esforços para o retorno ao convívio familiar ou o encaminhamento para família
substituta.
Nas situações em que se mostrar particularmente difícil garantir o direito à convivência familiar, como,
por exemplo, no caso encaminhamento para adoção de crianças e adolescentes com perfil de difícil
colocação em família substituta , faz-se especialmente necessário o esforço conjunto dos atores
envolvidos no sentido de buscar o fortalecimento da autonomia e das redes sociais de apoio das crianças
e adolescentes que aguardam adoção, e perseverar no desenvolvimento de estratégias para a busca
ativa de famílias para seu acolhimento.
Em nenhuma hipótese a perspectiva de um acolhimento de longa permanência deve acarretar a
desistência pela busca de alternativas para se garantir à criança e ao adolescente seu direito ao convívio
familiar, prioritariamente com a família de origem e, excepcionalmente, a substituta.
Todos os esforços devem ser empreendidos para preservar e fortalecer vínculos familiares e
comunitários das crianças e dos adolescentes atendidos em serviços de acolhimento. Esses vínculos são
fundamentais, nessa etapa do desenvolvimento humano, para oferecer-lhes condições para um
desenvolvimento saudável, que favoreça a formação de sua identidade e sua constituição como sujeito e
cidadão. Nesse sentido, é importante que esse fortalecimento ocorra nas ações cotidianas dos serviços
de acolhimento - visitas e encontros com as famílias e com as pessoas de referências da comunidade da
criança e do adolescente, por exemplo.
A organização dos serviços deverá garantir proteção e defesa a toda a criança e adolescente que
precise de acolhimento. Devem ser combatidas quaisquer formas de discriminação às crianças e aos
adolescentes atendidos em serviços de acolhimento e às famílias de origem, baseadas em condição
socioeconômica, arranjo familiar, etnia, religião, gênero, orientação sexual, ou, ainda, por serem pessoas
com necessidades especiais em decorrência de deficiência física ou mental, que vivem com HIV/AIDS ou
outras necessidades específicas de saúde.
De modo a possibilitar a oferta de um atendimento inclusivo e de qualidade nos serviços de
acolhimento a crianças e adolescentes, o Projeto Político Pedagógico do serviço deve prever estratégias
diferenciadas para o atendimento a demandas específicas, mediante acompanhamento de profissional
especializado. Além disso, a articulação com a política de saúde, de educação, esporte e cultura deve
garantir o atendimento na rede local a estas crianças e adolescentes (serviços especializados, tratamento
e medicamentos, dentre outros) e a capacitação e apoio necessário aos educadores/cuidadores e demais
profissionais do serviço de acolhimento. Tal aspecto é importante para garantir, de fato, um atendimento
individualizado e personalizado, com estratégias metodológicas condizentes com as necessidades da
criança e do adolescente. Todos os equipamentos da rede socioassistencial devem, ainda, respeitar as
normas de acessibilidade, de maneira a possibilitar o atendimento integrado a usuários com deficiência.
Em atenção ao princípio da não-discriminação, os serviços de acolhimento devem buscar o crescente
aprimoramento de estratégias voltadas à preservação da diversidade cultural, oportunizando acesso e
valorização das raízes e cultura de origem das crianças e dos adolescentes atendidos, bem como de suas
famílias e comunidades de origem.
Em atenção, ainda, ao princípio da não discriminação, destaca-se que a presença de deficiência ou
de necessidades específicas de saúde não deve motivar o encaminhamento para serviço de acolhimento
ou, ainda, o prolongamento da permanência da criança ou adolescente nestes serviços.
Toda criança e adolescente tem direito a viver num ambiente que favoreça seu processo de
desenvolvimento, que lhe ofereça segurança, apoio, proteção e cuidado. Nesse sentido, quando o
afastamento for necessário e enquanto soluções para a retomada do convívio familiar forem buscadas,
os serviços de acolhimento deverão prestar cuidados de qualidade, condizentes com os direitos e as
necessidades físicas, psicológicas e sociais da criança e do adolescente. Para tanto, o atendimento
deverá ser oferecido para um pequeno grupo e garantir espaços privados, objetos pessoais e registros,
inclusive fotográficos, sobre a história de vida e desenvolvimento de cada criança e adolescente.
A organização de condições que favoreçam a formação da identidade da criança e do adolescente
implica o respeito à sua individualidade e história de vida. O planejamento do atendimento no serviço
deve possibilitar, portanto, espaços que preservem a intimidade e a privacidade, inclusive, o uso de
objetos que possibilitem à criança e ao adolescente diferenciar “o meu, o seu e o nosso”.
Os antecedentes religiosos de crianças e adolescentes devem ser respeitados tanto pelo serviço de
acolhimento quanto por aqueles com os quais venha a manter contato em razão de seu acolhimento.
“Nenhuma criança ou adolescente deverá ser incentivado ou persuadido a mudar sua orientação religiosa
enquanto estiver sob cuidados” em serviço de acolhimento.
Visando a garantia do direito à liberdade de crença e culto religioso, assegurado no Art. 16 do ECA,
os serviços de acolhimento devem propiciar, ainda, que a criança e o adolescente possam satisfazer suas
necessidades de vida religiosa e espiritual. Nesse sentido, deve ser viabilizado o acesso às atividades de
sua religião, bem como o direito de “não participar de atos religiosos e recusar instrução ou orientação
religiosa que não lhe seja significativa”.
3 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
O estudo diagnóstico tem como objetivo subsidiar a decisão acerca do afastamento da criança ou
adolescente do convívio familiar. Salvo em situações de caráter emergencial e/ou de urgência, esta
medida deve ser aplicada por autoridade competente (Conselho Tutelar ou Justiça da Infância e da
Juventude), com base em uma recomendação técnica, a partir de um estudo diagnóstico, caso a caso,
realizado por equipe interprofissional do órgão aplicador da medida ou por equipe formalmente designada
para este fim. Em todos os casos, a realização deste estudo diagnóstico deve ser realizada sob
supervisão e estreita articulação com Conselho Tutelar, Justiça da Infância e da Juventude e equipe de
referência do órgão gestor da Assistência Social. Sempre que necessário, o órgão aplicador da medida
poderá requisitar, ainda, avaliação da situação por parte de outros serviços da rede como, por exemplo,
da Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente e de serviços de saúde.
Os fluxos e responsabilidades referentes à realização do estudo diagnóstico deverão ser definidos a
partir de acordos formais firmados entre os órgãos envolvidos, considerando a realidade, os recursos
existentes e o respeito às competências legais de cada órgão da rede de atendimento e do Sistema de
Garantia de Direitos.
O estudo diagnóstico deve incluir uma criteriosa avaliação dos riscos a que estão submetidos à criança
ou o adolescente e as condições da família para superação das violações de direitos observadas e o
provimento de proteção e cuidados. Com a devida fundamentação teórica, o estudo deve levar em conta
a proteção e a segurança imediata da criança e do adolescente, bem como seu cuidado e
desenvolvimento em longo prazo.
Sem a pretensão de abarcar todas as questões relevantes que deverão ser levantadas em um
diagnóstico, sugere-se que o mesmo possibilite identificar: composição familiar, história e dinâmica de
relacionamento entre seus membros; valores e crenças da família; demandas e estratégias desenvolvidas
para o enfrentamento de situações adversas; e situações de vulnerabilidade e risco às quais estão
expostos os integrantes do grupo familiar. Nessa perspectiva, recomenda-se que o estudo diagnóstico
contemple, dentre outros, os seguintes aspectos:
Composição familiar e contexto socioeconômico e cultural no qual a família está inserida;
mapeamento dos vínculos significativos na família extensa e análise da rede social de apoio da criança
ou adolescente e de sua família (família extensa, amigos, vizinhos, padrinhos, instituições, etc.); valores
Assim que a criança ou adolescente chegar ao serviço de acolhimento, a equipe técnica do serviço,
que, onde houver, poderá contar com a contribuição da equipe responsável pela supervisão dos serviços
de acolhimento (ligada ao órgão gestor da Assistência Social) para elaborar um Plano de Atendimento
Individual e Familiar, no qual constem objetivos, estratégias e ações a serem desenvolvidos tendo em
vista a superação dos motivos que levaram ao afastamento do convívio e o atendimento das
necessidades específicas de cada situação. A elaboração deste Plano de Atendimento deve ser realizada
em parceria com o Conselho Tutelar e, sempre que possível, com a equipe interprofissional da Justiça da
Infância e da Juventude. Tal Plano deverá partir das situações identificadas no estudo diagnóstico inicial
que embasou o afastamento do convívio familiar.
Quando o acolhimento tiver sido realizado em caráter emergencial e/ou de urgência, sem estudo
diagnóstico prévio, recomenda-se que este estudo seja realizado em até vinte dias após o acolhimento,
a fim de avaliar a real necessidade da medida ou a possibilidade imediata de retorno da criança ou
Diversas técnicas podem ser utilizadas no acompanhamento às famílias, como, por exemplo:
Estudo de caso: reflexão coletiva que deve partir das informações disponíveis sobre a família e incluir
resultados das intervenções realizadas. Na medida do possível deve ser realizado com a participação dos
profissionais do serviço de acolhimento, da equipe de supervisão do órgão gestor, da Justiça da Infância
e da Juventude e de outros serviços da rede que acompanhem a família;
Entrevista individual e familiar: estratégia importante, particularmente nos primeiros contatos com a
família e seus membros, que permite avaliar a expectativa da família quanto à reintegração familiar e
elaborar conjuntamente o Plano de Atendimento. Esse instrumento também pode ser utilizado para
abordar outras questões específicas, para aprofundar o conhecimento sobre a família e para fortalecer a
relação de confiança com o serviço. Nas entrevistas podem ser realizados, ainda, o genograma, o mapa
de rede social, dentre outras técnicas.
Grupo com famílias: dentre outros aspectos, favorece a comunicação com a família, a troca de
experiências entre famílias e a aprendizagem e o apoio mútuos. Possibilita a reflexão sobre as relações
familiares e responsabilidades da família na garantia dos direitos de seus membros e sobre os aspectos
concernentes ao acolhimento. Constitui importante estratégia para potencialização dos recursos da
família para o engajamento nas ações necessárias para retomada do convívio familiar com a criança ou
adolescente; Grupo Multifamiliar: espaço importante para trocas de experiências, reflexões e discussão
com as famílias, incluindo a participação de crianças e adolescentes acolhidos. O Grupo Multifamiliar
permite a compreensão de diferentes pontos de vista dos relacionamento familiares e das diferenças
entre gerações.
Visita Domiciliar: importante recurso para conhecer o contexto e a dinâmica familiar e identificar
demandas, necessidades, vulnerabilidades e riscos. Referenciada no princípio do respeito à privacidade,
a visita possibilita uma aproximação com a família e a construção de um vínculo de confiança, necessário
para o desenvolvimento do trabalho.
Orientação individual, grupal e familiar: intervenções que têm como objetivo informar, esclarecer e
orientar pais e responsáveis sobre diversos aspectos, como a medida de proteção aplicada e os
procedimentos dela decorrentes. Deve pautar-se em uma metodologia participativa que possibilite a
participação ativa da família;
Encaminhamento e acompanhamento de integrantes da família à rede local, de acordo com demandas
identificadas: psicoterapia, tratamento de uso, abuso ou dependência de álcool e outras drogas, outros
tratamentos na área de saúde, geração de trabalho e renda, educação de jovens e adultos, etc.
Como resultado dessas atividades, de forma geral o acompanhamento familiar deve contribuir para:
- A acolhida da família, a compreensão de sua dinâmica de funcionamento, valores e cultura;
A conscientização por parte da família de sua importância para a criança e o adolescente e das
decisões definitivas que podem vir a ser tomadas por parte da Justiça, baseadas no fato da criança e do
adolescente serem destinatários de direitos;
- A compreensão das estratégias de sobrevivência adotadas pela família e das dificuldades
encontradas para prestar cuidados à criança e ao adolescente e para ter acesso às políticas públicas;
- A reflexão por parte da família acerca de suas responsabilidades, de sua dinâmica de relacionamento
intrafamiliar e de padrões de relacionamentos que violem direitos;
- O desenvolvimento de novas estratégias para a resolução de conflitos;
- O fortalecimento da autoestima e das competências da família, de modo a estimular sua resiliência,
ou seja, o aprendizado com a experiência e a possibilidade de superação dos desafios;
- O fortalecimento da autonomia, tanto do ponto de vista socioeconômico, quanto do ponto de vista
emocional, para a construção de possibilidades que viabilizem a retomada do convívio com a criança e o
adolescente.
- O fortalecimento das redes sociais de apoio da família;
- O fortalecimento das alternativas para gerar renda e para garantir a sobrevivência da família.
Além das questões da metodologia do trabalho, as crenças dos profissionais acerca das famílias e o
modo como se relacionam com as mesmas, também influenciam os resultados das intervenções. Assim,
é preciso estar atento à:
Postura de respeito à diversidade, aos diferentes arranjos familiares e às mais distintas estratégias às
quais as famílias podem recorrer para lidar com situações adversas. Diversas experiências têm
demonstrado que o trabalho bem-sucedido de reintegração familiar está fortemente associado à
possibilidade de construção de um vínculo de referência significativo da família com profissionais que a
Os Serviços de Acolhimento integram o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), tendo interface
com outros serviços da rede socioassistencial, quanto com demais órgãos do Sistema de Garantia de
Direitos. Sua atuação deve basear-se no princípio da incompletude institucional, não devendo ofertar em
seu interior atividades que sejam da competência de outros serviços. A proteção integral a que têm direito
A articulação dos serviços de acolhimento com o sistema educacional é fundamental, pois a escola
constitui importante instrumento para assegurar o direito à convivência comunitária de crianças e
adolescentes. Essa articulação pode ser feita por meio da elaboração conjunta de protocolo de ação
entre o órgão gestor da assistência social e da educação, garantindo a permanente comunicação entre
Muitas crianças e adolescentes desconhecem ou não compreendem o motivo pelo qual foram
afastadas do convívio familiar, o que pode levá-los a encarar a medida como uma espécie de punição e
despertar sentimentos de insegurança, rejeição, agressividade, revolta, abandono e outros. Diante disso,
deve-se dar especial atenção ao momento de acolhida inicial da criança/adolescente, no qual deve ser
dado tratamento respeitoso e afetuoso, apresenta-lhes, inclusive, o espaço físico, as crianças e os
adolescentes que lá se encontram, seu educador/cuidador de referência - ou membros da família
acolhedora - e seu espaço privado (cama, armário, etc.). Tanto no acolhimento institucional quanto no
acolhimento familiar, é importante que as regras de convívio no novo ambiente sejam explicadas para a
criança ou adolescente acolhido. Não é necessário que isso ocorra num primeiro momento do
acolhimento, podendo estas regras ser gradativamente explicitadas. Tais normas têm como objetivo
organizar um ambiente seguro e previsível, porém com flexibilidade e espaço para o lúdico, o coletivo e
para a construção ou reconstrução de regras que incluam a participação das crianças e adolescentes, de
modo a facilitar seu desenvolvimento. As famílias acolhedoras devem ser particularmente orientadas
Crianças e adolescentes com vínculos de parentesco (irmãos, primos, etc.), não devem ser separados
ao serem encaminhados para serviço de acolhimento, salvo se isso for contrário a seu desejo ou
interesses ou se houver claro risco de abuso, tendo em vista o melhor interesse da criança e do
adolescente. Para estas crianças e adolescentes que já se encontram afastados do convívio familiar, é
particularmente importante preservar e fortalecer seus vínculos fraternos e de parentesco, o que pode
contribuir para a formação de suas identidades, preservação da história de vida e referência familiar. Por
esse motivo, é importante que os serviços de acolhimento estejam organizados de modo a possibilitar
atendimento conjunto a grupos de irmãos ou de crianças e adolescentes com outros vínculos de
parentesco, que podem ter faixas etárias distintas e ambos os sexos. O PPP deve, portanto, contemplar
estratégias para a preservação do convívio e o fortalecimento da vinculação afetiva de tais crianças e
adolescentes.
No caso de adolescentes acolhidos que possuam filhos, o atendimento deve fortalecer a vinculação
afetiva, contribuir para o desenvolvimento de habilidades para o cuidado, a construção de um projeto de
vida e o desenvolvimento da autonomia, de modo a garantir a proteção à(ao) adolescente e a seu(s)
filho(s). Esse cuidado pode contribuir para prevenir a perpetuação de ciclos transgeracionais de ruptura
de vínculos, abandono, negligência ou violência, representando importante recurso para garantir o direito
à convivência familiar da(o) adolescente e da criança. Nesses casos é importante que sejam viabilizadas
condições para assegurar às mães e aos pais adolescentes os direitos inerentes aos dois momentos de
vida: maternidade/paternidade e adolescência. O PPP dos serviços de acolhimento deve também prever
estratégias para o atendimento a estas situações.
A equipe técnica do serviço de acolhimento deverá organizar prontuários individuais com registros
sistemáticos que incluam: histórico de vida, motivo do acolhimento, data de entrada e desligamento,
documentação pessoal, informações sobre o desenvolvimento (físico, psicológico e intelectual),
condições de saúde, informações sobre a vida escolar, etc. Crianças e adolescentes com deficiência,
transtornos mentais e necessidades específicas de saúde devem ter registros e informações que
favoreçam a prestação de cuidados adequados, inclusive, relativos à sua saúde. Devem ser organizados
registros semanais de cada criança e adolescente, nos quais conste relato sintético sobre a rotina,
progressos observados no desenvolvimento, vida escolar, socialização, necessidades emergenciais,
mudanças, encontro com familiares, dados de saúde, etc.
Tais registros devem conter, ainda, informações sobre a família de origem, o trabalho desenvolvido
com vistas à reintegração familiar (visitas, encaminhamentos, acompanhamento em grupo, encontros da
família com a criança ou adolescente, preparação para a reintegração, etc.) e o acompanhamento da
família acolhedora, se for o caso. Esses registros devem ser consultados apenas por profissionais
devidamente autorizados, devendo os serviços de acolhimento ter uma política clara de confidencialidade
desses dados, observada por todos os profissionais. A transmissão pelos técnicos aos
educadores/cuidadores ou família acolhedora de informações necessárias ao atendimento das crianças
e adolescentes deve estar pautada em princípios éticos, os quais também devem pautar a postura dos
educadores/cuidadores. Os registros devem ser acessíveis à equipe, caso a criança ou adolescente seja
novamente acolhida.
Sempre que possível, a fim de promover um sentido de identidade própria, a criança e o adolescente
- com o apoio de um educador/cuidador, família acolhedora ou pessoa previamente preparada - devem
ter a oportunidade de organizar um livro de sua história de vida que reúna informações, fotografias e
lembranças referentes a cada fase de sua vida, ao qual poderão ter acesso ao longo do ciclo vital. Este
livro deve ser uma produção da própria criança ou adolescente, com fotos e outras criações de sua
autoria. No momento do desligamento esse registro deve fazer parte dos objetos pessoais que a criança
ou adolescente levará consigo.
Trabalhar com as famílias das crianças e dos adolescentes acolhidos em abrigos ou nas famílias
acolhedoras implica compreender sua configuração, buscar suas competências e entender sua inserção
na comunidade. O trabalho com essas famílias precisa favorecer a superação das questões, por vezes
bastante complexas, que contribuíram para o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar.
É importante compreender como as famílias estão vivenciando a situação de afastamento de seus filhos
e potencializá-las para a retomada do convívio e exercício de seu papel de proteção e cuidados.
As crenças e significados construídos pelas famílias acolhedoras e pelos profissionais do serviço de
acolhimento acerca das famílias de origem e vice-versa influenciam a relação entre estas e o serviço de
acolhimento. Nesse sentido, é importante atentar para a forma como as famílias das crianças e
adolescentes são significadas pelos profissionais dos serviços de acolhimento e pelas famílias
acolhedoras. Se são consideradas “capazes” ou “incapazes”, “estruturadas” ou “desestruturadas”, “parte
do problema” ou “agente transformador”. Por outro lado, os serviços de acolhimento ou a família
acolhedora também podem ser percebidos pela família como “aliados” ou “raptores de seus filhos”.
O educador/cuidador ou a família acolhedora e todos os profissionais do serviço de acolhimento devem
receber orientações para, nos momentos de visitas da família ao serviço e contato com a criança e o
adolescente, atuarem, se necessário como mediadores dessa relação, proporcionando, ainda, momentos
nos quais a família possa estar a sós com a criança e adolescente. Os profissionais do serviço de
acolhimento, famílias acolhedoras e pessoas com as quais a criança ou o adolescente venham a ter
contato em razão do acolhimento não devem se referir de modo pejorativo à família de origem. Ainda que
o afastamento tenha ocorrido por motivos graves, a criança e o adolescente devem ter sua origem –
família, comunidade, cultura - tratada com respeito.
- O PPP deve prever no funcionamento do serviço e no trabalho com as famílias de origem ações que
promovam o fortalecimento dos vínculos das crianças e adolescentes com suas famílias:
- Preparação dos serviços de acolhimento institucional e da família acolhedora para aceitação e
acolhimento dos familiares;
- Flexibilidade nos horários de visitas. Devem ser acordados com a família de origem horários e
periodicidade das visitas à criança e ao adolescente. O esquema de visitação deve ser flexível e baseado
na observação da realidade familiar e das dificuldades de acesso da família ao serviço (horários de
trabalho, distância, transporte, etc.). Podem ser organizadas, ainda, atividades que incluam a participação
da família, como almoço dominical com e para os familiares;
- Participação da família na organização e comemoração de aniversários e outras datas
comemorativas, sempre que possível realizadas no domicílio da família;
- Saídas das crianças e adolescentes para finais de semana com os familiares;
- O serviço deve também apoiar as visitas da criança e do adolescente à família;
- Telefonemas para a família de origem e destas para as crianças e adolescentes que se encontrem
acolhidos;
- Realizações de atividades recreativas e culturais com as famílias, crianças, adolescentes e
profissionais do serviço;
- Realização de “Oficinas de talentos” nas quais as famílias de origem, a criança ou adolescente
difundam seus saberes e habilidades específicas (artesanato, brincadeiras, pequenos consertos,
aproveitamento de alimentos e materiais, etc.);
- Rodas de conversas para pais e filhos, abordando temas levantados pela família, crianças e
adolescentes;
Tanto nos casos de reintegração à família de origem quanto nos de encaminhamento para família
substituta o serviço de acolhimento deve promover um processo de desligamento gradativo, com o
preparo da criança/adolescente, oportunizando-lhe a despedida necessária do ambiente, dos colegas,
dos educadores/cuidadores e dos demais profissionais. Além da criança e do adolescente, devem ser
previamente preparados também os educadores/cuidadores e demais crianças/adolescentes com as
quais tenham mantido contato em razão do acolhimento, assim com todos os membros da famílias
acolhedoras. Nesse sentido, podem ser viabilizados rituais de despedida, atividades em grupo com as
crianças e os adolescentes para tratar do desligamento, etc. É importante que a família de origem (natural
ou extensa) ou a família adotiva sejam acompanhadas após a saída da criança/adolescente do serviço.
A criança e o adolescente em processo de desligamento devem ter a oportunidade de conversar,
ainda, sobre suas expectativas e inseguranças quanto ao retorno ao convívio familiar, bem como sobre o
sentimento de saudade do ambiente de acolhimento, da família acolhedora, dos profissionais do serviço
e dos colegas. Os educadores/cuidadores ou famílias acolhedoras, particularmente aqueles que mantêm
vinculação afetiva mais significativa com a criança e o adolescente, devem ser preparados e receber
especial apoio nesse momento. Nesse sentido, é importante que no serviço de acolhimento seja
viabilizado um espaço de acompanhamento contínuo, no qual possam expressar, inclusive, a dor pela
separação da criança ou do adolescente.
Atenção especial deve ser dada à preparação nos casos de desligamento de crianças/adolescentes
que permaneceram no serviço de acolhimento por um longo período. Uma articulação permanente com
a Justiça deve garantir um planejamento conjunto do processo de desligamento, de modo a prevenir
Na história do nosso país, os serviços de acolhimentos foram geridos e tinham o quadro de pessoal
composto principalmente por pessoas voluntárias, religiosos ou leigos. Aos poucos essa realidade tem
se modificado, mas ainda hoje há a prevalência da concepção de que “basta o bom coração” para se
trabalhar nesses serviços. O reconhecimento de que todos os profissionais que atuam em serviços de
acolhimento desempenham o papel de educador, impõe a necessidade de seleção, capacitação e
acompanhamento de todos aqueles responsáveis pelo cuidado direto e cotidiano das crianças e
adolescentes acolhidos.
Para isso, em consonância com o que já está disposto na Norma Operacional Básica de Recursos
Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS), seguem algumas orientações para gestão do trabalho e educação
permanente, que devem ser adequadas às necessidades de cada município, considerando suas
particularidades.
3.6.1 Seleção
Um processo de seleção criterioso dos profissionais que atuarão nos Serviços de Acolhimento é
essencial para a garantia de contratação de pessoal qualificado e com perfil adequado ao
desenvolvimento de suas funções, possibilitando a oferta de um serviço de qualidade aos usuários. Para
tanto, deve-se prever, minimamente, os seguintes passos:
Ampla divulgação, com informações claras sobre o serviço, o perfil dos usuários, as atribuições e
exigências do cargo a ser ocupado, salário e carga horária, dentre outros;
Processo seletivo, com atenção à exigência da formação mínima para cada função e experiência
profissional;
Avaliação de documentação mínima a ser exigida: documentos pessoais, certidão negativa de
antecedentes criminais, atestado de saúde física e mental;
Avaliação psicológica e social: análise da vida pregressa, entrevista individual e atividade de grupo;
Constituem características desejáveis aos candidatos(a): motivação para a função; aptidão para o
cuidado com crianças e adolescentes; capacidade de lidar com frustração e separação; habilidade para
trabalhar em grupo; disponibilidade afetiva; empatia; capacidade de lidar com conflitos; criatividade;
3.6.2 Capacitação
Capacitação Introdutória
A capacitação introdutória tem como objetivo inserir o profissional no serviço e na equipe já existente,
permitindo ainda que acompanhe, como observador, os diferentes momentos da rotina e a possibilidade
de posterior discussão sobre as observações realizadas. O nível de experiência do profissional norteará
o repasse e o conteúdo das informações na etapa inicial de adaptação à rotina do serviço.
Abaixo são elencados temas relevantes a serem trabalhados em uma capacitação inicial:
- Apresentação do serviço, suas especificidades e regras de funcionamento;
- Apresentação e discussão do Projeto Político-Pedagógico do serviço;
- Legislação pertinente (SUAS, PNCFC, ECA, dentre outros, além do presente documento);
- SGD e rede de políticas públicas - com o intuito de que o profissional compreenda as medidas
protetivas, competências e limites de atuação de cada órgão / entidade e articulação entre as instâncias
envolvidas;
Capacitação Prática
Antes de assumir suas funções, é importante que todos os profissionais acompanhem como auxiliar a
rotina da instituição, para poder gradativamente se apropriar da função que lhe é devida.
O educador/cuidador deverá passar por um período mínimo de 80 horas acompanhando, como
auxiliar, os diferentes momentos da rotina institucional, sempre sob supervisão de um educador/cuidador
experiente e da equipe técnica.
No caso de educador/cuidador residente, este período deverá ser de, no mínimo, 30 dias de
acompanhamento, como auxiliar, dos diferentes momentos da rotina da casalar, sempre sob supervisão
de um(a) educador/cuidador residente experiente e da equipe técnica.
Para garantir qualidade ao Projeto Político-Pedagógico dos serviços de acolhimento, os horários para
que os educadores/cuidadores, equipe técnica e demais funcionários possam participar de cursos,
reuniões de formação, seminários e leituras devem ter lugar no planejamento da organização e das
escalas de trabalho.
Depois da contratação, para adaptação à rotina institucional é fundamental o acompanhamento
sistemático do profissional, incrementado com capacitações continuadas. As demandas de um serviço de
acolhimento exigem resolutividade, rapidez e mobilidade, pois, com o passar do tempo, pode-se gerar
um automatismo de respostas dos profissionais. Ou seja, há grande probabilidade de se cair na rotina,
agindo sem refletir sobre o atendimento que está sendo realizado. Além disso, os casos atendidos nesses
serviços acabam afetando de alguma forma emocionalmente os profissionais. Por toda esta realidade,
algumas atividades de acompanhamento são extremamente importantes no sentido de melhorar o
desempenho do profissional, a qualidade do atendimento institucional e o bem-estar das crianças e dos
adolescentes acolhidos. São elas:
Reuniões periódicas de equipe (discussão e fechamento de casos; reavaliação de Planos de
atendimento individual e familiar, construção de consensos, revisão e melhoria da metodologia)
Formação continuada sobre temas recorrentes do cotidiano, assim como sobre temas já trabalhados
na fase de capacitação inicial, orientada pelas necessidades institucionais (promovida pela própria
instituição e/ou cursos externos):
- Estudos de caso
- Supervisão institucional com profissional externo
- Encontros diários de 15-20 minutos entre os profissionais dos diferentes turnos para troca de
informações
- Grupo de escuta mútua
- Espaço de escuta individual
- Avaliação, orientação e apoio periódicos pela equipe técnica
A seguir, serão apresentados parâmetros de funcionamento para os serviços de acolhimento, no qual
serão detalhadas, dentre outros aspectos, a formação da equipe mínima para cada serviço: i. Abrigos
Institucionais; ii. Casas-Lares; iii. Famílias Acolhedoras; iv. Repúblicas.
As orientações contidas nesse capítulo têm como objetivo estabelecer parâmetros para a organização
dos serviços de acolhimento para crianças e adolescentes, visando sua adequação gradativa ao Estatuto
da Criança e do Adolescente, ao Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, à Política
Nacional de Assistência Social e ao Projeto de Diretrizes das Nações Unidas sobre Emprego e Condições
Adequadas de Cuidados Alternativos com Crianças. Esses parâmetros devem ser ajustados à realidade
e cultura local, sem, todavia, acarretar perda da qualidade dos serviços de acolhimento já prestados.
Quando, para a proteção de sua integridade física e psicológica, for detectada a necessidade do
afastamento da criança e do adolescente da família de origem pela autoridade competente, os mesmos
deverão ser atendidos em serviços que ofereçam cuidados e condições favoráveis ao seu
desenvolvimento saudável, devendo-se trabalhar no sentido de viabilizar a reintegração à família de
origem ou, na sua impossibilidade, o encaminhamento para família substituta. Tais serviços podem ser
ofertados em diferentes serviços de acolhimento:
I. Abrigos Institucionais;
II. Casas Lares;
III. Famílias Acolhedoras; e
IV. Repúblicas.
A organização dos diferentes serviços de acolhimento tem como objetivo responder de forma mais
adequada às demandas da população infanto-juvenil. A partir da análise da situação familiar, do perfil de
cada criança ou adolescente e de seu processo de desenvolvimento, deve-se indicar qual serviço poderá
responder de forma mais efetiva às suas necessidades. Deve-se considerar, ainda: sua idade; histórico
de vida; aspectos socioculturais; motivos do acolhimento; situação familiar; previsão do menor tempo
necessário para viabilizar soluções de caráter permanente (reintegração familiar ou adoção); condições
emocionais e de desenvolvimento, bem como condições específicas que precisem ser observadas
(crianças e adolescentes com vínculos de parentesco – irmãos, primos, crianças e adolescentes com
diferentes deficiências, que estejam em processo de saída da rua, com histórico de uso, abuso ou
dependência de álcool ou outras drogas, etc), dentre outras.
O órgão gestor da Política de Assistência Social, em parceria com demais atores da rede local e do
Sistema de Garantia de Direitos, deve desenvolver estratégias para o aprimoramento constante da oferta
do atendimento a crianças e adolescentes, visando a melhor adequação às características das demandas
locais. A implantação de serviços de acolhimento deve basear-se em um diagnóstico local que busque
identificar a existência ou não de demanda por tais serviços no município e quais serviços são mais
adequados para seu atendimento. Particularmente nos municípios de grande porte e metrópoles deve
haver diversificação na oferta de diferentes modalidades de atendimento.
Cabe ressaltar que, conforme parâmetros do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e comunitária, o financiamento dos serviços
de acolhimento deve basear-se na manutenção de sua capacidade de atendimento e não no número de
vagas ocupadas.
Destaca-se que nenhum novo serviço de acolhimento para crianças e adolescentes deverá ser criado
sem atender aos parâmetros aqui apresentados e que, gradativamente, a infraestrutura dos serviços já
existentes deverá ser adequada para o cumprimento dessas exigências.
A seguir, serão apresentados os parâmetros que deverão orientar a organização dos serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes no País.
4.1.1 Definição
Serviço que oferece acolhimento provisório para crianças e adolescentes afastados do convívio familiar
por meio de medida protetiva de abrigo (ECA, Art. 101), em função de abandono ou cujas famílias ou
responsáveis encontrem-se temporariamente impossibilitados de cumprir sua função de cuidado e
proteção, até que seja viabilizado o retorno ao convívio com a família de origem ou, na sua
impossibilidade, encaminhamento para família substituta.
O serviço deve ter aspecto semelhante ao de uma residência e estar inserido na comunidade, em
áreas residenciais, oferecendo ambiente acolhedor e condições institucionais para o atendimento com
padrões de dignidade. Deve ofertar atendimento personalizado e em pequenos grupos e favorecer o
- Geral
- Crianças e adolescentes de 0 a 18 anos sob medida protetiva de abrigo.
- Especificidades
Devem ser evitadas especializações e atendimentos exclusivos - tais como adotar faixas etárias muito
estreitas, direcionar o atendimento apenas a determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender
crianças e adolescentes com deficiência ou que vivam com HIV/AIDS. A atenção especializada, quando
necessária, deverá ser assegurada por meio da articulação com a rede de serviços, a qual poderá
contribuir, inclusive, para capacitação específica dos cuidadores.
O atendimento especializado, quando houver e se justificar pela possibilidade de atenção diferenciada
a vulnerabilidades específicas, não deve prejudicar a convivência de crianças e adolescentes com
vínculos de parentesco (irmãos, primos, etc), nem constituir-se motivo de discriminação ou segregação.
Desta forma, a organização da rede local de serviços de acolhimento deverá garantir que toda criança
ou adolescente que necessite de acolhimento receberá atendimento e que haverá diversificação dos
serviços ofertados, bem como articulação entre as políticas públicas, de modo a proporcionar respostas
efetivas às diferentes demandas dos usuários.
- Número Máximo de Usuários por Equipamento
- 20 crianças e adolescentes
Localização
Áreas residenciais, sem distanciar-se excessivamente, do ponto de vista geográfico e socioeconômico,
da realidade de origem das crianças e adolescentes acolhidos.
- Fachada e aspectos gerais da construção
- Deverá manter aspecto semelhante ao de uma residência, seguindo o padrão arquitetônico das
demais residências da comunidade na qual estiver inserida.
- Não devem ser instaladas placas indicativas da natureza institucional do equipamento, também
devendo ser evitadas nomenclaturas que remetam à aspectos negativos, estigmatizando e
despotencializando os usuários.
4.2 Casa-Lar
4.2.1 Definição
O Serviço de Acolhimento provisório oferecido em unidades residenciais, nas quais pelo menos uma
pessoa ou casal trabalha como educador/cuidador residente – em uma casa que não é a sua – prestando
cuidados a um grupo de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar por meio de medida
protetiva de abrigo (ECA, Art. 101), em função de abandono ou cujas famílias ou responsáveis encontrem-
se temporariamente impossibilitados de cumprir sua função de cuidado e proteção, até que seja
Geral
Especificidades
Devem ser evitadas especializações e atendimentos exclusivos - tais como adotar faixas etárias muito
estreitas, direcionar o atendimento apenas a determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender
crianças e adolescentes com deficiência ou que vivam com HIV/AIDS. A atenção especializada, quando
necessária, deverá ser assegurada por meio da articulação com a rede de serviços, a qual poderá
contribuir, inclusive, na capacitação específica dos cuidadores.
Este equipamento é particularmente adequado ao atendimento a grupos de irmãos e a crianças e
adolescentes com perspectiva de acolhimento de média ou longa duração.
10 crianças e adolescentes
4.2.3 Características
A principal diferença entre este serviço e o Abrigo Institucional, além do menor número de crianças e
adolescentes atendidos por equipamento, está na presença do educador/cuidador residente – pessoa ou
casal que reside na casa-lar juntamente com as crianças/adolescentes atendidos, sendo responsável
pelos cuidados e pela organização da rotina da casa.
Tal profissional deve participar ativamente das decisões relacionadas à casa-lar, sendo recomendável
que o mesmo tenha autonomia para gerir a rotina “doméstica”, inclusive as despesas da casa.
Recomenda-se que também as crianças e adolescentes tomem parte nas decisões acerca da rotina da
casa, de modo que os(as) mesmos(as) reconheçam-se como parte integrante do grupo, com direitos e
deveres.
A presença do educador/cuidador residente visa proporcionar:
- estabelecimento de uma relação estável no ambiente institucional, uma vez que o educador/cuidador
residente ocupa um lugar de referência afetiva constante, facilitando o acompanhamento da vida
diária/comunitária das crianças/ adolescentes (reuniões escolares, festas de colegas, etc.),
diferentemente do que ocorre no Abrigo Institucional, onde há maior rotatividade diária de
educadores/cuidadores.
- uma rotina mais flexível na casa, menos institucional e próxima a uma rotina familiar, adaptando-se
às necessidades da criança/adolescente.
Ressalta-se que tal tarefa demanda muito deste educador/cuidador residente, por se tratar de uma
função com elevada exigência psíquica e emocional, o que torna necessária uma atenção especial na
seleção, capacitação e acompanhamento deste profissional. Além disso, é de fundamental importância a
existência de equipe técnica especializada, para acompanhamento constante das casas lares
(apoio/orientação aos cuidadores/educadores, atendimento às crianças/adolescentes e suas famílias,
articulação com o SGD, etc), o que não significa que esta equipe deva estar sediada na casa. Assim, para
que o educador/cuidador consiga cumprir bem sua função é necessário que disponha de apoio e
Localização
Similar a uma residência unifamiliar, seguindo o padrão arquitetônico das demais residências da
comunidade na qual estiver inserida.
Não devem ser instaladas placas indicativas da natureza institucional do equipamento, também
devendo ser revistas nomenclaturas do serviço que remetam à aspectos negativos, estigmatizando e
despotencializando os usuários.
4.3.1 Definição
que organiza o acolhimento, em residências de famílias acolhedoras cadastradas, de crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar por meio de medida protetiva (ECA, Art. 101), em função de
abandono ou cujas famílias ou responsáveis encontrem-se temporariamente impossibilitados de cumprir
sua função de cuidado e proteção, até que seja viabilizado o retorno ao convívio com a família de origem
ou, na sua impossibilidade, encaminhamento para adoção. Propicia o atendimento em ambiente familiar,
garantindo atenção individualizada e convivência comunitária, permitindo a continuidade da socialização
da criança/adolescente.
Geral
Especificidades
Este serviço de acolhimento é particularmente adequado ao atendimento de crianças e adolescentes
cuja avaliação da equipe técnica do programa e dos serviços da rede de atendimento indique
possibilidade de retorno à família de origem, ampliada ou extensa, salvo casos emergenciais, nos quais
inexistam alternativas de acolhimento e proteção.
Para as crianças pequenas que vivenciam situações de violação de direitos, o acolhimento familiar tem
se mostrado uma forma de atendimento adequada a suas especificidades.
Cada família acolhedora deverá acolher uma criança/adolescente por vez, exceto quando se tratar de
grupo de irmãos, quando esse número poderá ser ampliado. Neste último caso, em se tratando de grupo
de mais de dois irmãos, deverá haver uma avaliação técnica para verificar se o acolhimento em família
acolhedora é a melhor alternativa para o caso, ou se seria mais adequado o acolhimento em outra
modalidade de serviço, como Casa–lar, por exemplo. A decisão fica a critério da avaliação da equipe
técnica do programa, como também da disponibilidade da família em acolher.
A partir do momento em que uma criança/adolescente for encaminhada para o serviço, a equipe
técnica deve iniciar a preparação e acompanhamento psicossocial da criança/adolescente, da família
acolhedora, da família de origem e da rede social de apoio. Isso poderá ocorrer por meio de ações
específicas tais como:
Com a criança/adolescente:
Preparação da criança/adolescente para a entrada no programa, buscando-se estabelecer um vínculo
de confiança, fornecendo explicação da situação e esclarecimentos quanto ao acolhimento familiar. Essa
ação deve ser partilhada com o órgão que encaminhou a criança ou adolescente.
Aproximação supervisionada entre a criança/adolescente e a família acolhedora.
Escuta individual da criança/adolescente, com foco na adaptação à família acolhedora.
Acompanhamento do desempenho escolar da criança e sua situação de saúde.
Viabilização de encontro semanal entre a família de origem e a criança e/ou adolescente, o qual deverá
ser acompanhado pela equipe técnica.
Desligamento da criança/adolescente
O desligamento do programa ocorrerá quando for avaliado pela equipe de profissionais do serviço, em
diálogo com a Justiça da Infância e Juventude, com o Ministério Público, Conselho Tutelar e rede
envolvida - a possibilidade de retorno familiar (à família de origem, nuclear ou extensa); a necessidade
de acolhimento em outro espaço de proteção, ou o encaminhamento para adoção. A esta avaliação deve
suceder a preparação e o apoio específico por parte da equipe técnica, com ações:
Com a criança/adolescente:
Escuta individual e apoio emocional à criança/adolescente, com foco no retorno à família de origem e
separação da família acolhedora.
4.4 República
4.4.1 Definição
Serviço de acolhimento que oferece apoio e moradia subsidiada a grupos de jovens em situação de
vulnerabilidade e risco pessoal e social; com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados;
em processo de desligamento de instituições de acolhimento, que não tenham possibilidade de retorno à
família de origem ou de colocação em família substituta e que não possuam meios para autossustentação.
Com a estrutura de uma residência privada, deve receber supervisão técnica e localizar-se em áreas
residenciais da cidade, seguindo o padrão socioeconômico da comunidade onde estiverem inseridas, sem
distanciar-se excessivamente, do ponto de vista socioeconômico, da comunidade de origem dos usuários.
A república oferece atendimento durante o processo de construção de autonomia pessoal e possibilita
o desenvolvimento de auto-gestão, autossustentação e independência. Possui tempo de permanência
limitado, podendo ser reavaliado e prorrogado em função do projeto individual formulado em conjunto
com o profissional de referência.
Geral
Jovens entre 18 e 21 anos em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos
familiares rompidos ou extremamente fragilizados e que não possuam meios para autossustentação. Tal
serviço é particularmente indicado para o acolhimento de jovens em processo de desligamento de
serviços de acolhimento para crianças e adolescentes por terem completado a maioridade, porém que
ainda não tenham conquistado a autonomia, podendo também destinar-se a outros jovens que
necessitem do serviço.
Especificidades
6 (seis) jovens
4.4.3 Características
Os custos da locação do imóvel - no caso de imóvel alugado - e tarifas podem ser subsidiados e
gradativamente assumidos pelos jovens. As demais despesas podem ser cotizadas entre os moradores,
com subsídio quando necessário.
O grupo deve contar com supervisão técnico-profissional para a gestão coletiva da moradia (regras de
convívio, atividades domésticas cotidianas, gerenciamento de despesas, etc.), orientação e
encaminhamento para outros serviços, programas ou benefícios da rede socioassistencial e das demais
políticas públicas, em especial programas de profissionalização, inserção no mercado de trabalho,
habitação e inclusão produtiva. O apoio técnico também é essencial na organização de espaços de escuta
e construção de soluções coletivas por parte dos(as) jovens para as questões que lhes são próprias, na
construção de projetos de vida, no incentivo ao estabelecimento de vínculos comunitários fortes e na
participação nas instâncias de controle social e espaços de participação social.
Caso desejem, os(as) jovens devem ter acesso a todas as informações que lhes digam respeito que
estiverem disponíveis nas instituições que lhes prestaram atendimento durante a infância e adolescência
(Ex.: prontuários e documentos contendo informações sobre sua história de vida, possíveis familiares,
situação familiar e motivos do abrigamento). O acesso a essas informações deverá respeitar o processo
individual de apropriação da história de vida, devendo ser conduzido por profissionais orientados e
preparados.
O processo de transição do jovem do serviço de acolhimento para crianças e adolescentes para o
serviço de acolhimento em república deve desenvolver-se de modo gradativo, com a participação ativa
do mesmo no planejamento das fases subsequentes. Transições dessa natureza devem sempre ser
planejadas o mais cedo possível.
Atenção especial deve ser dada a adolescentes atendidos em serviços de acolhimento, sobretudo
àqueles cujas possibilidades de reintegração à família de origem foram esgotadas e têm reduzidas
possibilidades de colocação em família substituta. O atendimento, nesses casos, deve perseverar no
apoio ao fortalecimento dos vínculos comunitários, na qualificação profissional e na construção do projeto
de vida, bem como estar fundamentado em metodologia participativa que favoreça o exercício de seu
protagonismo.
Ações devem ser desenvolvidas visando o fortalecimento de habilidades, aptidões, capacidades e
competências dos adolescentes, que promovam gradativamente sua autonomia, de forma a que,
preferencialmente, já estejam exercendo alguma atividade remunerada quando da sua transferência para
uma república.
Para tanto, deve-se viabilizar o acesso a:
I. Programas, projetos e serviços nos quais possam desenvolver atividades culturais, artísticas e
esportivas que propiciem a vivência de experiências positivas e favorecedoras de sua autoestima;
II. Programas de aceleração da aprendizagem, para os casos de grande distorção série – idade; e
III. Cursos profissionalizantes e programas de inserção gradativa no mercado de trabalho (como
estágios, programas de adolescente aprendiz, etc.), sempre se respeitando seus interesses e habilidades.
Localização
O serviço deve funcionar em construção destinada ao uso residencial, seguindo o padrão arquitetônico
das demais residências da comunidade na qual estiver inserida. Deve-se evitar a instalação de placas
indicativas da natureza institucional do equipamento.
4.5.1 Serviços de acolhimento para municípios de pequeno porte com compartilhamento de equipe
Deve-se, excepcionalmente, recorrer a esta alternativa quando nenhuma das anteriores for de possível
implementação. Neste caso, devem ser observados, obrigatoriamente, os critérios estabelecidos para o
compartilhamento de equipe (coordenador e equipe técnica), além de asseguradas as condições para o
deslocamento semanal, tanto das famílias para o município onde se localizar a Casalar, quanto das
crianças e adolescentes para o município de residência da família de origem, de modo a favorecer o
processo de reintegração familiar.
Nos casos de crianças e adolescentes ameaçados de morte, sua manutenção no contexto familiar e
comunitário de origem pode representar sério risco a sua segurança. Trata-se de uma situação
particularmente delicada, na qual pode ser necessário o encaminhamento para serviço de acolhimento
em localidade distinta do município de residência habitual. Nestes casos, é preciso considerar que a
proximidade do serviço de acolhimento com a comunidade de origem, a manutenção das atividades
rotineiramente desenvolvidas e o convívio com sua rede social local – parâmetros que devem orientar os
serviços de acolhimento em geral – não são aconselháveis, por colocarem em risco a segurança da
criança ou adolescente ameaçado podendo também representar risco para as demais crianças e
adolescentes atendidos no mesmo serviço.
Dessa forma, sugere-se, para a operacionalização destes serviços, as seguintes estratégias:
Em estados / regiões onde houver número significativo de crianças e adolescentes ameaçados de
morte: podem ser organizados abrigos regionais ou estaduais destinados especificamente a esta
finalidade, os quais, em virtude das ameaças vividas pelas crianças e adolescentes atendidos, devem ser
implementados em locais que garantam o sigilo quanto à sua existência, necessário à proteção dos
acolhidos. Tais serviços deverão atender os parâmetros referentes a recursos humanos e infraestrutura
física constantes neste documento, devendo ser avaliada, ainda, de acordo com a realidade local, a
necessidade de disponibilização de profissional específico, que possa se responsabilizar por uma
articulação mais próxima do serviço com o Sistema de Justiça, o Sistema de Segurança Pública e
programas de proteção aos quais as crianças e adolescentes atendidos estejam vinculados. Em virtude
das particularidades desta situação recomenda-se o atendimento de crianças e adolescentes ameaçados
de morte em serviços regionalizados, organizados especificamente para esta finalidade e com maiores
condições de garantir proteção nestes casos.
Em estados / regiões onde o número de casos de crianças e adolescentes ameaçados de morte que
necessitem de acolhimento não justificar a implementação de serviços estaduais / regionais: podem ser
firmados acordos formais entre municípios de diferentes regiões, a fim de viabilizar a transferência da
crianças ou adolescente ameaçado para outro município, de modo a possibilitar seu acolhimento em
serviços distantes de sua comunidade de origem e, assim, facilitar a sua proteção. Nestas situações o
serviço deve também manter articulação com programas de proteção aos quais as crianças e
adolescentes atendidos estejam vinculados, além do Sistema de Justiça e do Sistema de Segurança
Pública, de modo a propiciar condições de segurança tanto para a criança ou adolescente ameaçado
quanto para os demais ali acolhidos.
Em todos os casos, recomenda-se que os serviços de acolhimento que atendam crianças e
adolescentes ameaçados de morte atuem em articulação com programas específicos de proteção, como
o Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte – PPCAM.
Finalmente, ressalta-se que o encaminhamento da criança ou adolescente ameaçado de morte para
serviço de acolhimento deve ser considerado apenas quando esgotadas outras alternativas que
preservem seus vínculos familiares, como, por exemplo, a mudança de contexto ou cidade acompanhado
da família, de familiar ou responsável.
Desacolhimento7
O desacolhimento ocorrerá quando houver segurança de que a criança não mais será exposta à risco
e a vulnerabilidades. Isso se dá nas seguintes hipóteses: retorno à família de origem, mediante guarda
ou tutela a terceiros com vista à referida família, mediante guarda ou tutela ou em colocação em família
substituta com vistas à adoção - nessas situações, não se caracterizando como reintegração familiar
(Cintra et al., 2007). Em todos os casos, deverá ser expedida uma Guia de Desacolhimento pela
autoridade judiciária competente. Nessa constará, dentre outros, a data do desacolhimento, identificação
da criança e a qualificação do responsável que receberá sua guarda e o endereço de residência deste.
De acordo com o ECA (1990), a guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida,
liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e de adoção, da seguinte forma: a guarda (artigos
33 a 35) obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou ao adolescente,
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais – e isso confere à criança ou
adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito; já a tutela (artigos 36 a 38)
pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica necessariamente o
dever de guarda.
7
SILVA, F. L. Como ocorre a reintegração familiar? Investigando esse processo em uma amostra de crianças acolhidas. 2012.
Questões
Gabarito
01.D / 02.D
Comentários
01. Resposta: D
Sempre que possível, deve-se procurar manter a criança ou adolescente na mesma escola em que
estudava antes da aplicação da medida protetiva, de modo a evitar rompimentos desnecessários de
vínculos de amizade e de pertencimento e modificações radicais em sua rotina, além de prejuízos
acadêmicos. Constituem exceções a tal recomendação as situações com determinação judicial em
contrário ou recomendação técnica de mudança de escola por questões relativas à preservação da
segurança e proteção da criança ou adolescente.
02. Resposta: D
Quanto aos serviços de acolhimento para crianças e adolescentes, este assunto já foi estudado
no tópico anterior.
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) foi criado em janeiro de 2004 com
a missão de promover a inclusão social, a segurança alimentar, a assistência integral e uma renda mínima
de cidadania às famílias que vivem em situação de pobreza. Para isso, o órgão implementa inúmeros
programas e políticas públicas de desenvolvimento social nas três esferas de Governo e em parceria com
instituições da sociedade civil, organismos internacionais e instituições de financiamento. Essa articulação
estabelece uma sólida rede de proteção e promoção social que quebra o ciclo de pobreza e promove a
conquista da cidadania nas comunidades brasileiras.8
A Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN/MDS) adota políticas públicas de
ampliação do acesso aos alimentos, combinando programas e ações de apoio à agricultura familiar, além
da implantação de uma ampla Rede de Segurança Alimentar e Nutricional.
A Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI/MDS) tem por missão desenvolver e
implementar instrumentos de avaliação e de monitoramento das políticas e programas sob
responsabilidade do Ministério. Promove a gestão do conhecimento, o diálogo de políticas e a cooperação
técnica em gestão pública, de forma articulada com órgãos, entidades, poderes e esferas federativas,
além de organismos internacionais e outros países.
Os cursos de capacitação na área de segurança alimentar desenvolvidos pelo MDS normalmente
contam com parcerias de outras instituições como, por exemplo, o Conselho Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (CONSEA) e a Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (ABRANDH).
O Conselho Nacional de Assistência Social, um dos órgãos protagonistas na construção e nos avanços
da política de assistência social, pauta o tema Controle Social para a realização da VII Conferência
Nacional de 2009. Com isso, pretende-se que a dimensão da participação e controle social seja tratada,
examinada e refletida pelos mais diversos ângulos e atores, ao que incluo os aspectos políticos, técnicos
e éticos desse processo. Decorridos quinze anos de regulamentação da Lei Orgânica da Assistência
Social, é chegado o momento de realizar um profundo debate sobre os caminhos do controle social nessa
política.
A propósito da reflexão que envolve a temática Participação e Controle Social no Sistema Único de
Assistência Social (Suas), sistema este instituído por meio da Resolução CNAS de nº.145, de 15 outubro
de 20041, importante se faz tecer algumas considerações que antecedem a aprovação do recente
Sistema, pois é sabido que a reorganização jurídica, política e técnica no tratamento da assistência social
como direito do cidadão e dever do estado inaugura tempo novo com a promulgação da Constituição
Federal de 1988, que no ano passado complementou duas décadas de existência. Porém, ainda para o
alcance de grande parte de seus princípios e fundamentos da democracia, é preciso a permanente vigília
e mobilização da sociedade nesse processo, especialmente daqueles que defendem os compromissos
com a justiça social e a democracia.
Cabe registrar que na conjuntura atual, com a edição da Medida Provisória n˚ 446/082, que dispõe
sobre as novas regras para certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social, o CNAS não
mais será o órgão responsável pelo processo de certificação de entidades. E que, diante dessa decisão,
é chegado o momento de o Conselho voltar-se efetivamente para sua função, aprofundar, rever e propor
novas medidas que busquem de fato o exercício do controle social no Suas. O cenário favorece o debate,
haja vista o conjunto das regulamentações aprovadas nesses últimos anos: a Política Nacional, a
NOB/SUAS e a NOB/RH, bem como o Plano Decenal, entre tantas e importantes deliberações do CNAS
e regulamentações do MDS.
8
http://www.abc.gov.br/Training/informacoes/InstituicaoMDS.aspx
9
Valdete de Barros MARTINS, V. de B. Presidente do Conselho Nacional de Assistência Social gestão 2008/2010; Representante do MDS; Assistente social;
Mestre em Serviço Social; Professora de graduação e pós graduação do curso de Serviço Social na Universidade Católica Dom Bosco.
A intenção aqui não é remeter o debate sobre a categoria controle social sob o balizamento das
diversas teorias. Assim, valemo-nos das teses de alguns estudiosos do tema como Raichelis, Correia,
Campos e Calvi. Nesse breve levantamento bibliográfico sobre o tema, o que se observa é uma
convergência dos (as) autores (as) no entendimento da categoria controle social. Raichelis apresenta
uma primeira aproximação com a questão ao eleger o CNAS como objeto de estudo de sua tese de
doutorado. No seu entendimento sobre a concepção de esfera pública, a autora propõe como elementos
constitutivos e que devem estar articulados dinamicamente: visibilidade social, representação de
interesses coletivos, democratização, cultura política e controle social, definido como:
Significa acesso aos processos que informam as decisões no âmbito da sociedade política. Permite
participação da sociedade civil organizada na formulação e na revisão das regras que conduzem as
negociações e a arbitragem sobre os interesses em jogo, além do acompanhamento da implementação
daquelas decisões, segundo critérios pactuados.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a categoria controle social está associada a uma dada concepção
de Estado. Correia destaca duas concepções que são básicas para este debate. A primeira é aquela que
entende o controle social como controle do Estado sobre a sociedade. Esse controle favorece os
interesses da classe dominante e as políticas sociais são meios utilizados para abrandar conflitos sociais.
Essa perspectiva garante o consenso social para aceitação da ordem do capital sobre os membros da
sociedade e classifica esse estado de Estado Restrito, apoiando-se na teoria de Marx sobre o Estado. A
segunda concepção apresentada refere-se ao controle social como controles da sociedade: “Nesta, a
sociedade tem possibilidades de controlar as ações do Estado em favor dos interesses das classes
A assistência social, ao compor o tripé da seguridade social brasileira, inscreve-se como direito social
e humano e incorpora objetivos como a universalidade e o caráter democrático (art.194 da C.F/88). A
partir desse reconhecimento legal, a assistência social passa a compor o sistema de seguridade social
não contributivo. E é por esse ângulo que se pretende debater o controle social na política de assistência
social. Que controle social tem movido as decisões da Política? Como vem sendo exercido esse controle?
Quais têm sido os instrumentos de efetivo controle? Os conselhos de assistência social como mediadores
institucionais têm cumprido seu papel nesse processo?
Outra questão a ser respondida: Com a aprovação da Política Nacional de Assistência Social, em
2004, e da Norma Operacional Básica, em 2005, que alterações foram introduzidas no campo do controle
social?
Inicialmente, cabe resgatar os incisos I e II do artigo 204 da Constituição Federal, pois esses impõem
o novo modelo para a condução da assistência social como direito do cidadão e como política de
seguridade social. Fica assegurada uma gestão descentralizada e participativa da política, garantindo a
possibilidade de democratizar os processos necessários ao cumprimento da lei maior. Com a
regulamentação da Lei 8.742/93 (Loas), o desenho ganha contornos mais explícitos no sentido de
imprimir a participação da sociedade na formulação e controle das ações em todos os níveis de governo.
O art.5º, que trata das diretrizes da Política, reafirma o já mencionado na Constituição, destacando-se o
inciso III do referido artigo, que revela a urgente e necessária atuação do Estado no que tange ao
desenvolvimento das ações da Política, ao instituir diretrizes para a organização da assistência social: “III
- primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera
de governo”.
Na direção de precisar o reordenamento da área encontra-se o Capitulo III da Loas, que trata da
organização e gestão:
As ações na área de assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo
constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidos por esta Lei, que articule
meios, esforços e recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos
setores envolvidos (art. 6º LOAS).
No artigo 16, a Lei explicita qual o formato dos conselhos de assistência social:
As instâncias deliberativas do sistema descentralizado e participativo de assistência social, de caráter
permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, são:
I – o Conselho Nacional de Assistência Social;
II - os Conselhos Estaduais de Assistência Social;
III – o Conselho de Assistência Social do Distrito Federal;
IV – os Conselhos Municipais de Assistência Social.
Parâmetros para a criação de uma nova cultura na condução da Política Pública de Assistência Social
são estabelecidos e os conselhos ganham expressão no processo de controle social.
Os conselhos, nos moldes definidos pela Constituição Federal de 1988, são espaços públicos com
força legal para atuar nas políticas públicas, na definição de suas prioridades, de seus conteúdos e
recursos orçamentários, de segmentos sociais a serem atendidos e na avaliação dos resultados. A
composição plural e heterogênea, com representação da sociedade civil e do governo em diferentes
formatos, caracteriza os conselhos como instâncias de negociação de conflitos entre diferentes grupos e
interesses, portanto, como campo de disputas políticas, de conceitos e processos, de significados e
resultados políticos.
Por força legal e política, desde a promulgação da Loas os conselhos de assistência social vêm sendo
implantados em todo o país. Nesse período que compreende mais de uma década, não só o CNAS como
os demais conselhos de assistência social têm enfrentado algumas dificuldades para realizarem
efetivamente o controle social, seja pela conjuntura adversa relacionada à política econômica, pelas duras
resistências do aparato governamental para se instalar e obter o reconhecimento como espaço
institucional e legítimo para o exercício do controle social, seja pela recusa dos executivos em partilhar o
poder, conforme afirma Raichelis, (2006).
Contudo, é importante reconhecer que avanços são registrados. Um primeiro balanço, que foi realizado
por ocasião da IV Conferência Nacional da Assistência Social, em 2003, quando o CNAS encomendou
uma pesquisa para subsidiar um debate sobre o tema da referida Conferência, conduzida pelo Grupo de
Estudos e Pesquisa sobre Seguridade Social e Trabalho (GESST/SER/UnB), sob a responsabilidade da
profa. Dra. Ivanete Boschetti, objetivou avaliar a implantação do sistema descentralizado e participativo
previsto na Loas, sobretudo a atuação dos conselhos estaduais e municipais no acompanhamento e
[...] no entanto, há uma significativa unanimidade nos estudos e avaliações da experiência dos
conselhos quanto à frágil presença dos segmentos populares em tais espaços, por meio de suas
associações e representações coletivas. Se a pobreza, para além de sua expressão monetária, é um tipo
de relação social que define sociabilidades e lugares dos indivíduos na sociedade, sua contraface é a
carência de representação política nos espaços públicos.
Nessa direção, prossegue a professora, “a luta pelo alargamento dos direitos sociais está diretamente
relacionada à possibilidade de ampliação da participação nos espaços públicos, o que poderá contribuir
com a formação de novos atores políticos legitimamente representados e que possam expressar suas
reais demandas e necessidades.”
Pelas questões levantadas nesse primeiro momento de reflexão, é imprescindível que se aprofunde o
debate sobre o desenho organizacional dos conselhos como instâncias democratizadoras das políticas
públicas, sendo organizados como espaços que precisam pautar ou revisitar suas agendas na direção e
perspectiva da universalização dos direitos sociais e da cidadania. Os diversos atores políticos que
compõem esse espaço democrático devem buscar estabelecer uma relação simétrica que produza e gere
uma dinâmica na construção de uma esfera pública transparente, qualificada, competente e
comprometida com os princípios e diretrizes do Sistema Público Brasileiro de Assistência Social.
Faz-se oportuno, nesse espaço de debate, lembrar que mesmo num cenário de contradições registra-
se a realização de seis Conferências Nacionais, que mobilizaram e envolveram milhares de cidadãos nas
disputas e conquistas de um número considerável de deliberações que deveriam ser observadas e
implementadas pelos governos na elaboração de seus planos e orçamentos anuais e plurianuais. Essa
também é uma responsabilidade legal, política e ética dos conselhos de assistência social. Os avanços
na regulamentação da política serão efetivos e consolidados à medida que os conselhos se tornem
Com a aprovação da Política Nacional de Assistência Social, em 2004, a categoria controle social
adquire maior visibilidade e expressão e o princípio da descentralização e participação constitui-se em
eixo fundante no processo de Implantação do Sistema Único de Assistência Social em todo o território
nacional. Vale ressaltar a importância dos fóruns de participação popular, específicos e/ou de articulação
da política em todos os níveis de governo, bem como a união dos conselhos e/ou congêneres no
fortalecimento da sociedade civil organizada na consolidação da Política Nacional de Assistência Social.
O texto ainda explicita a importância da organização de outros espaços que devem gerar o controle
social:
Na conformação do Sistema Único de Assistência Social, os espaços privilegiados onde se efetivará
essa participação são os conselhos e as conferências, não sendo, no entanto, os únicos, já que outras
instâncias somam força a esse processo.
Ainda no artigo 18, a Loas dispõe que “os conselhos têm como principais atribuições a deliberação e
a fiscalização da execução da política e de seu financiamento, em consonância com as diretrizes
propostas pela conferência; a aprovação do plano; a apreciação e aprovação da proposta orçamentária
para a área e do plano de aplicação do fundo, com a definição dos critérios de partilha dos recursos,
exercidas em cada instância em que estão estabelecidos. Os conselhos, ainda, normatizam, disciplinam,
acompanham, avaliam e fiscalizam os serviços de assistência social prestados pela rede
socioassistencial, definindo os padrões de qualidade de atendimento, e estabelecendo os critérios para o
repasse de recursos financeiros”.
Para o avanço pretendido, a política aponta para a construção de uma nova agenda para os conselhos
de assistência social. Uma primeira vertente é a aglutinação do CNAS com os conselhos nacionais das
políticas sociais integrando um novo movimento neste país. Outra é a construção de uma agenda comum
dos conselhos nacional, estaduais e municipais de assistência social. Esta última tem como objetivo
organizar pontos comuns e ações convergentes, resguardando as peculiaridades regionais.
De acordo com o artigo 18, inciso VI, da LOAS, “as conferências têm o papel de avaliar a situação da
assistência social, definir diretrizes para a política, verificar os avanços ocorridos num espaço de tempo
determinado”.
As conferências de assistência social são instâncias deliberativas com atribuição de avaliar a Política
de Assistência Social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento do Sistema Único da Assistência Social.
A convocação, pelos respectivos conselhos, para realização das Conferências de Assistência Social,
obedecerá a periodicidade estabelecida na Loas para a Conferência Nacional e legislação específica para
conferências estaduais, do Distrito Federal e municipais.
Para finalizar, entende-se que as dificuldades destacadas nesta reflexão devem servir de parâmetros
para iniciar um processo avaliativo na questão do controle social. Por outro lado, do ponto de vista político,
há um enorme subsídio legal, teórico e ético que nos capacitam a promover um debate fecundo e
importante nesse campo. Assim, o conjunto de desafios elencados a seguir deve ser considerado para
iniciar o grande debate sobre o controle social.
- Ampliar o debate sobre a questão do controle social, buscando identificar estratégias que possam
criar novos mecanismos e instrumentos de intervenção nos espaços públicos.
- Investir na capacidade de articulação entre os níveis de governo, na direção de firmar a perspectiva
do Suas como Sistema Público democrático e participativo.
- Analisar profundamente o modelo de funcionamento dos conselhos de assistência social, suas
competências, capacidade de deliberação, grau de autonomia.
- Buscar parceria com o Ministério Público para fazer valer as decisões dos conselhos de assistência
social.
- Observar as orientações do Tribunal de Contas quanto ao papel, responsabilidade e função social
dos conselhos no processo de acompanhamento e avaliação da gestão dos recursos do fundo da
assistência social, buscando certificar se os mesmos estão sendo aplicados conforme finalidade prevista
nos Planos de Assistência Social.
- Investir na articulação entre os Conselhos de Assistência Social (CNAS, CEAS e CMAS), de modo
que as deliberações no âmbito desses espaços possam conduzir ao fortalecimento do controle social no
Suas.
- Monitorar as deliberações das Conferências, especialmente o Plano Decenal, (metas e estratégias)
em cada nível de gestão.
- Dotar os conselhos de infraestrutura (material, humana e financeira), agregando a eles, dessa forma,
condições de trabalho para que viabilizem suas ações de controle social.
- Investir na capacitação dos conselheiros e secretaria executiva, de forma que a dimensão técnica
ganhe as condições necessárias para o avanço na construção de metodologias e processos que
qualifiquem a fiscalização e avaliação das ações.
- Apoiar e incentivar novas iniciativas para a criação de espaços de controle social, de forma que
contemplem com prioridade a participação dos usuários dos serviços e benefícios da política.
- Promover ações em parceria com o Ministério Público de forma a vigiar o controle social sobre as
decisões da política.
- Estimular a instalação de Frentes Parlamentares em defesa da política de assistência social.
- Estabelecer e fortalecer a articulação da sociedade civil e Estado, na perspectiva de criar iniciativas
que valorizem processos democráticos, estabeleça pactos e favoreçam as alianças, dando uma nova
direção à institucionalização do controle social.
- Atuar na direção do comando único, da ruptura com o primeiro damismo, denunciar formas de
clientelismo e de favorecimento partidário e¬/ou de grupos e outros processos que desqualificam a política
e o direito dos usuários.
- Imprimir prioridade na luta pelo orçamento público em todas as esferas de governo.
- Rever e estabelecer regulamentações que fortaleçam os princípios e diretrizes do Suas como sistema
público, descentralizado e participativo.
10
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/viewFile/1397/1097
A euforia que acompanhou a promulgação do ECA era justificada, visto que ele expressava a quebra
de um padrão nas políticas públicas voltadas para a infância e à adolescência brasileiras que tinha, no
mínimo, um século de duração. Ao adotar a Doutrina da Proteção Integral, também chamada Doutrina
das Nações Unidas Para a Proteção dos Direitos da Infância, o Estatuto rompeu com a tradição do
“menor”, expressa no Código de Menores de 1927, e com a Doutrina da Situação Irregular,
consubstanciada no Código de 1979 e na Política Nacional do Bem-Estar do Menor.
Em sintonia com a concepção assumida pelo ECA, de que crianças e adolescentes são sujeitos de
direitos, redirecionaram-se as atribuições do Estado e o papel da família e da sociedade em relação a
eles. Nesta perspectiva, lê-se no seu artigo 4º que, É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência
familiar e comunitária, além de deixá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão (Brasil, 1990, p. 23).
Dentre as transformações legais contidas no Estatuto, destacam-se algumas que melhor caracterizam
o espírito da nova lei. São elas:
a) Municipalização da política de atenção direta;
b) Eliminação de formas coercitivas de internação, por motivos relativos ao desamparo social, na
medida em que suprime a figura da situação irregular. Neste sentido, a privação de liberdade só é aceita
nos casos de flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judicial
competente;
c) Participação paritária e deliberativa do governo-sociedade civil, assegurada pela existência de
Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, nos três níveis da organização política e
administrativa do país: federal, estadual e municipal;
d) Hierarquização da função judicial, transferindo aos conselhos tutelares, de atuação exclusiva no
âmbito municipal, tudo o que for relativo à atenção de casos não vinculados ao âmbito da infração penal,
nem a decisões relevantes passíveis de produzir alterações importantes na condição jurídica da criança
ou do adolescente.
Vale destacar que a perspectiva do controle, vigente durante a Doutrina da Situação Irregular, foi
substituída pela da convivência, constituindo, sob o ECA, a ideia básica para assegurar a paz social e a
preservação dos direitos do conjunto da sociedade (Mendez, 1993; Costa, 1997; Volpi, 2001).
É nesta perspectiva que se observam os itens específicos do Estatuto que tratam do adolescente
infrator. A esse respeito, inicialmente, ressalte-se que somente os adolescentes – pessoas entre 12 e 18
anos de idade – são passíveis de cometerem o ato infracional, entendido como a transgressão das
normas estabelecidas, do dever jurídico, que em face das peculiaridades que os cercam, não pode se
caracterizar enquanto crime. Logo, ainda que os adolescentes se encontrem sujeitos a todas as
consequências dos seus atos infracionais, não são passíveis de responsabilização penal. Cabelhes,
nesses casos, medidas socioeducativas, cujo objetivo é menos a punição e mais a tentativa de reinserção
social, de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Mesmo considerando o adolescente como pessoa na condição peculiar de desenvolvimento (Brasil,
1990), ao adotar medidas socioeducativas enquanto sanções – fruto da transgressão do dever jurídico –
, o ECA foge às armadilhas das concepções retribucionista e paternalista. No retribucionismo encontra-
se a defesa do aumento da repressão na proporção da gravidade das infrações praticadas, na expectativa
da prevenção do cometimento delas; o paternalismo, por seu turno, tende a isentar de culpa os
adolescentes que as cometerem, naturalizando a prática do ato infracional.
O reconhecimento de que a obediência a regras mínimas é essencial para o convívio social requer a
responsabilização do adolescente, quando ele desenvolve condutas transgressoras desses padrões.
Considerá-los pessoas em desenvolvimento expressa tão somente a tutela especial a que têm direito, por
Questões
01. (Pref. São Luís/MA -Técnico Municipal Nível Superior - CESPE/2017). O Conselho Nacional de
Assistência Social
(A) é um órgão de caráter permanente e de deliberação colegiada.
(B) é presidido por um representante dos usuários indicado pelo Ministério Público.
(C) tem a competência de fixar normas, conceder registro e avaliar as entidades prestadoras de
serviços de assistência social.
(D) é responsável pela execução da política nacional de assistência social.
(E) permite a recondução de seus membros, cujo mandato é de três anos.
02. (UFF - Assistente Social – COSEAC). O Conselho Nacional de Assistência Social está ligado
diretamente ao(à):
(A) Ministério de Integração Regional e Interior.
(B) Secretaria Geral da Presidência da República.
(C) Ministério do Trabalho, Emprego e Renda.
(D) Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
(E) Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania.
Gabarito
01.A / 02.D
02. Resposta: D
O Suplemento de Assistência Social da Pesquisa de Informações Básicas Municipais, realizada pelo
IBGE em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MUNIC-20057.
Considerações Iniciais:
O Estatuto da Criança e Adolescente, em seu artigo 112, prevê as medidas socioeducativas a serem
aplicadas aos adolescentes que cometam ato infracional.
A aplicação das medidas socioeducativas possuem os seguintes objetivos principais:
- a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que
possível incentivando a sua reparação;
- a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do
cumprimento de seu plano individual de atendimento; e
- a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro
máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei.
DAS COMPETÊNCIAS:
Diante da instituição do SINASE em âmbito nacional, a Lei 12.594/12 estabelece quais são as
competências de atuação entre os entes da Federação (União, Estados, Municípios e Distrito Federal),
que assim se subdivide:
a) Compete à União:
Dos Programas de Meio Aberto: Nos programas de atendimento de adolescentes infratores cujo
cumprimento das medidas socioeducativas devem ocorrer em meio aberto, a Lei 12.594/12, estabelece
as competências e atribuições à direção do programa de prestação de serviço à comunidade ou liberdade
assistida, e assim determina:
Dos Programas de Privação de Liberdade: Quando, pela natureza da infração, o adolescente infrator
necessitar de medida socioeducativa em programas de privação de sua liberdade, a Lei 12.594/12,
estabeleceu alguns requisitos específicos para a inscrição de entidades que suportarão os regimes de
semiliberdade ou internação, quais sejam:
- a comprovação da existência de estabelecimento educacional com instalações adequadas e em
conformidade com as normas de referência;
- a previsão do processo e dos requisitos para a escolha do dirigente;
- a apresentação das atividades de natureza coletiva;
- a definição das estratégias para a gestão de conflitos, vedada a previsão de isolamento cautelar,
exceto nos casos previstos em lei; e
- a previsão de regime disciplinar nos termos legais.
Ademais, é proibida a construção e edificação de unidades socioeducacionais em espaços contíguos,
anexos, ou de qualquer outra forma integrados a estabelecimentos penais.
Para o preenchimento do cargo de dirigente de instituição apta a receber programa de atendimento
em regime de semiliberdade ou de internação, além dos requisitos específicos previstos no respectivo
programa de atendimento, é necessário:
A) formação de nível superior compatível com a natureza da função;
B) comprovada experiência no trabalho com adolescentes de, no mínimo, 2 (dois) anos; e
C) reputação ilibada.
Os Estados e o Distrito Federal inscreverão seus programas de atendimento e alterações no Conselho
Estadual ou Distrital dos Direitos da Criança e do Adolescente, conforme o caso, enquanto os Municípios
inscreverão seus programas e alterações, bem como as entidades de atendimento executoras, no
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, tais regras se aplicam tanto para os
programas de cumprimento em regime aberto, como também para os programas que necessitem da
privação da liberdade do adolescente infrator.
A composição da equipe técnica do programa de atendimento deverá ser interdisciplinar,
compreendendo, no mínimo, profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, de acordo
com as normas de referência.
Durante a execução das medidas sócio educativas, deverá ser observados os seguintes princípio:
- legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao
adulto;
DOS PROCEDIMENTOS:
Em todo e qualquer procedimento de apuração de infração cometida por adolescente deverá obedecer
aos preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) sendo certo que a defesa e o Ministério
Público intervirão, sob pena de nulidade, no procedimento judicial de execução de medida socioeducativa,
podendo requerer as providências necessárias para adequar a execução aos ditames legais e
regulamentares.
Para aplicação das medidas socioeducativas de prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida, semiliberdade ou internação, será constituído um processo de execução para cada
adolescente, respeitado o disposto nos arts. 143 e 144 do Estatuto da Criança e do Adolescente, e com
autuação das seguintes peças:
- documentos de caráter pessoal do adolescente existentes no processo de conhecimento,
especialmente os que comprovem sua idade; e
- as indicadas pela autoridade judiciária, sempre que houver necessidade e, obrigatoriamente:
a) cópia da representação;
b) cópia da certidão de antecedentes;
c) cópia da sentença ou acórdão; e
d) cópia de estudos técnicos realizados durante a fase de conhecimento.
Das Reavaliações: As medidas socioeducativas de liberdade assistida, de semiliberdade e de
internação deverão ser reavaliadas no máximo a cada 6 (seis) meses, podendo a autoridade judiciária,
se necessário, designar audiência, no prazo máximo de 10 (dez) dias, cientificando o defensor, o
Ministério Público, a direção do programa de atendimento, o adolescente e seus pais ou responsável.
Entretanto, a reavaliação da manutenção, da substituição ou da suspensão das medidas de meio
aberto ou de privação da liberdade e do respectivo plano individual pode ser solicitada a qualquer tempo,
a pedido da direção do programa de atendimento, do defensor, do Ministério Público, do adolescente, de
seus pais ou responsável, devendo conter no pedido de reavaliação, dentre outros motivos:
- o desempenho adequado do adolescente com base no seu plano de atendimento individual, antes
do prazo da reavaliação obrigatória;
- a inadaptação do adolescente ao programa e o reiterado descumprimento das atividades do plano
individual; e
- a necessidade de modificação das atividades do plano individual que importem em maior restrição
da liberdade do adolescente.
Nos termos da Lei 12.594/12, todas as entidades de atendimento socioeducativo deverão, em seus
respectivos regimentos, realizar a previsão de regime disciplinar.
O Regime Disciplinar das entidades de atendimento socioeducativo deverá obedecer os seguintes
princípios:
- tipificação explícita das infrações como leves, médias e graves e determinação das correspondentes
sanções;
- exigência da instauração formal de processo disciplinar para a aplicação de qualquer sanção,
garantidos a ampla defesa e o contraditório;
- obrigatoriedade de audiência do socioeducando nos casos em que seja necessária a instauração de
processo disciplinar;
- sanção de duração determinada;
- enumeração das causas ou circunstâncias que eximam, atenuem ou agravem a sanção a ser imposta
ao socioeducando, bem como os requisitos para a extinção dessa;
- enumeração explícita das garantias de defesa;
TÍTULO I
DO SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO (Sinase)
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e regulamenta a
execução das medidas destinadas a adolescente que pratique ato infracional.
§ 1º Entende-se por Sinase o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a
execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e
municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente
em conflito com a lei.
§ 2º Entendem-se por medidas socioeducativas as previstas no art. 112 da Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), as quais têm por objetivos:
Art. 2º O Sinase será coordenado pela União e integrado pelos sistemas estaduais, distrital e
municipais responsáveis pela implementação dos seus respectivos programas de atendimento a
adolescente ao qual seja aplicada medida socioeducativa, com liberdade de organização e
funcionamento, respeitados os termos desta Lei.
CAPÍTULO II
DAS COMPETÊNCIAS
Art. 6º Ao Distrito Federal cabem, cumulativamente, as competências dos Estados e dos Municípios.
CAPÍTULO III
DOS PLANOS DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
Art. 7º O Plano de que trata o inciso II do art. 3o desta Lei deverá incluir um diagnóstico da situação
do Sinase, as diretrizes, os objetivos, as metas, as prioridades e as formas de financiamento e gestão
das ações de atendimento para os 10 (dez) anos seguintes, em sintonia com os princípios elencados na
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
§ 1º As normas nacionais de referência para o atendimento socioeducativo devem constituir anexo ao
Plano de que trata o inciso II do art. 3o desta Lei.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão, com base no Plano Nacional de
Atendimento Socioeducativo, elaborar seus planos decenais correspondentes, em até 360 (trezentos e
sessenta) dias a partir da aprovação do Plano Nacional.
CAPÍTULO IV
DOS PROGRAMAS DE ATENDIMENTO
Seção I
Disposições Gerais
Art. 10. Os Municípios inscreverão seus programas e alterações, bem como as entidades de
atendimento executoras, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Art. 11. Além da especificação do regime, são requisitos obrigatórios para a inscrição de programa de
atendimento:
I - a exposição das linhas gerais dos métodos e técnicas pedagógicas, com a especificação das
atividades de natureza coletiva;
II - a indicação da estrutura material, dos recursos humanos e das estratégias de segurança
compatíveis com as necessidades da respectiva unidade;
III - regimento interno que regule o funcionamento da entidade, no qual deverá constar, no mínimo:
a) o detalhamento das atribuições e responsabilidades do dirigente, de seus prepostos, dos membros
da equipe técnica e dos demais educadores;
b) a previsão das condições do exercício da disciplina e concessão de benefícios e o respectivo
procedimento de aplicação; e
c) a previsão da concessão de benefícios extraordinários e enaltecimento, tendo em vista tornar público
o reconhecimento ao adolescente pelo esforço realizado na consecução dos objetivos do plano individual;
IV - a política de formação dos recursos humanos;
V - a previsão das ações de acompanhamento do adolescente após o cumprimento de medida
socioeducativa;
VI - a indicação da equipe técnica, cuja quantidade e formação devem estar em conformidade com as
normas de referência do sistema e dos conselhos profissionais e com o atendimento socioeducativo a ser
realizado; e
VII - a adesão ao Sistema de Informações sobre o Atendimento Socioeducativo, bem como sua
operação efetiva.
Parágrafo único. O não cumprimento do previsto neste artigo sujeita as entidades de atendimento, os
órgãos gestores, seus dirigentes ou prepostos à aplicação das medidas previstas no art. 97 da Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Art. 12. A composição da equipe técnica do programa de atendimento deverá ser interdisciplinar,
compreendendo, no mínimo, profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, de acordo
com as normas de referência.
§ 1º Outros profissionais podem ser acrescentados às equipes para atender necessidades específicas
do programa.
§ 2º Regimento interno deve discriminar as atribuições de cada profissional, sendo proibida a
sobreposição dessas atribuições na entidade de atendimento.
§ 3º O não cumprimento do previsto neste artigo sujeita as entidades de atendimento, seus dirigentes
ou prepostos à aplicação das medidas previstas no art. 97 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente).
Art. 14. Incumbe ainda à direção do programa de medida de prestação de serviços à comunidade
selecionar e credenciar entidades assistenciais, hospitais, escolas ou outros estabelecimentos
congêneres, bem como os programas comunitários ou governamentais, de acordo com o perfil do
socioeducando e o ambiente no qual a medida será cumprida.
Parágrafo único. Se o Ministério Público impugnar o credenciamento, ou a autoridade judiciária
considerá-lo inadequado, instaurará incidente de impugnação, com a aplicação subsidiária do
procedimento de apuração de irregularidade em entidade de atendimento regulamentado na Lei no 8.069,
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), devendo citar o dirigente do programa e
a direção da entidade ou órgão credenciado.
Seção III
Dos Programas de Privação da Liberdade
Art. 15. São requisitos específicos para a inscrição de programas de regime de semiliberdade ou
internação:
I - a comprovação da existência de estabelecimento educacional com instalações adequadas e em
conformidade com as normas de referência;
II - a previsão do processo e dos requisitos para a escolha do dirigente;
III - a apresentação das atividades de natureza coletiva;
IV - a definição das estratégias para a gestão de conflitos, vedada a previsão de isolamento cautelar,
exceto nos casos previstos no § 2o do art. 49 desta Lei; e
V - a previsão de regime disciplinar nos termos do art. 72 desta Lei.
Art. 16. A estrutura física da unidade deverá ser compatível com as normas de referência do Sinase.
§ 1º É vedada a edificação de unidades socioeducacionais em espaços contíguos, anexos, ou de
qualquer outra forma integrados a estabelecimentos penais.
§ 2º A direção da unidade adotará, em caráter excepcional, medidas para proteção do interno em
casos de risco à sua integridade física, à sua vida, ou à de outrem, comunicando, de imediato, seu
defensor e o Ministério Público.
CAPÍTULO V
DA AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DA GESTÃO DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
Art. 18. A União, em articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, realizará
avaliações periódicas da implementação dos Planos de Atendimento Socioeducativo em intervalos não
superiores a 3 (três) anos.
Art. 21. A avaliação será coordenada por uma comissão permanente e realizada por comissões
temporárias, essas compostas, no mínimo, por 3 (três) especialistas com reconhecida atuação na área
temática e definidas na forma do regulamento.
Parágrafo único. É vedado à comissão permanente designar avaliadores:
I - que sejam titulares ou servidores dos órgãos gestores avaliados ou funcionários das entidades
avaliadas;
II - que tenham relação de parentesco até o 3o grau com titulares ou servidores dos órgãos gestores
avaliados e/ou funcionários das entidades avaliadas; e
III - que estejam respondendo a processos criminais.
Art. 24. A avaliação dos programas terá por objetivo verificar, no mínimo, o atendimento ao que
determinam os arts. 94, 100, 117, 119, 120, 123 e 124 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente).
Art. 25. A avaliação dos resultados da execução de medida socioeducativa terá por objetivo, no
mínimo:
I - verificar a situação do adolescente após cumprimento da medida socioeducativa, tomando por base
suas perspectivas educacionais, sociais, profissionais e familiares; e
II - verificar reincidência de prática de ato infracional.
Art. 27. As informações produzidas a partir do Sistema Nacional de Informações sobre Atendimento
Socioeducativo serão utilizadas para subsidiar a avaliação, o acompanhamento, a gestão e o
financiamento dos Sistemas Nacional, Distrital, Estaduais e Municipais de Atendimento Socioeducativo.
CAPÍTULO VI
DA RESPONSABILIZAÇÃO DOS GESTORES, OPERADORES E ENTIDADES DE ATENDIMENTO
Art. 28. No caso do desrespeito, mesmo que parcial, ou do não cumprimento integral às diretrizes e
determinações desta Lei, em todas as esferas, são sujeitos:
I - gestores, operadores e seus prepostos e entidades governamentais às medidas previstas no inciso
I e no § 1o do art. 97 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); e
II - entidades não governamentais, seus gestores, operadores e prepostos às medidas previstas no
inciso II e no § 1o do art. 97 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente).
Art. 29. Àqueles que, mesmo não sendo agentes públicos, induzam ou concorram, sob qualquer forma,
direta ou indireta, para o não cumprimento desta Lei, aplicam-se, no que couber, as penalidades dispostas
na Lei no8.429, de 2 de junho de 1992, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos
casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração
pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências (Lei de Improbidade Administrativa).
CAPÍTULO VII
DO FINANCIAMENTO E DAS PRIORIDADES
Art. 30. O Sinase será cofinanciado com recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social, além
de outras fontes.
§ 1º (VETADO).
§ 2º Os entes federados que tenham instituído seus sistemas de atendimento socioeducativo terão
acesso aos recursos na forma de transferência adotada pelos órgãos integrantes do Sinase.
§ 3º Os entes federados beneficiados com recursos dos orçamentos dos órgãos responsáveis pelas
políticas integrantes do Sinase, ou de outras fontes, estão sujeitos às normas e procedimentos de
monitoramento estabelecidos pelas instâncias dos órgãos das políticas setoriais envolvidas, sem prejuízo
do disposto nos incisos IX e X do art. 4o, nos incisos V e VI do art. 5o e no art. 6o desta Lei.
Art. 31. Os Conselhos de Direitos, nas 3 (três) esferas de governo, definirão, anualmente, o percentual
de recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente a serem aplicados no financiamento
das ações previstas nesta Lei, em especial para capacitação, sistemas de informação e de avaliação.
Parágrafo único. Os entes federados beneficiados com recursos do Fundo dos Direitos da Criança e
do Adolescente para ações de atendimento socioeducativo prestarão informações sobre o desempenho
dessas ações por meio do Sistema de Informações sobre Atendimento Socioeducativo.
Art. 32. A Lei no 7.560, de 19 de dezembro de 1986, passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 5º Os recursos do Funad serão destinados:
.............................................................................................
X - às entidades governamentais e não governamentais integrantes do Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo (Sinase).
...................................................................................” (NR)
“Art. 5º-A. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), órgão gestor do Fundo Nacional
Antidrogas (Funad), poderá financiar projetos das entidades do Sinase desde que:
I - o ente federado de vinculação da entidade que solicita o recurso possua o respectivo Plano de
Atendimento Socioeducativo aprovado;
II - as entidades governamentais e não governamentais integrantes do Sinase que solicitem recursos
tenham participado da avaliação nacional do atendimento socioeducativo;
III - o projeto apresentado esteja de acordo com os pressupostos da Política Nacional sobre Drogas e
legislação específica.”
Art. 33. A Lei no 7.998, de 11 de janeiro de 1990, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 19-A:
“Art. 19-A. O Codefat poderá priorizar projetos das entidades integrantes do Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo (Sinase) desde que:
I - o ente federado de vinculação da entidade que solicita o recurso possua o respectivo Plano de
Atendimento Socioeducativo aprovado;
II - as entidades governamentais e não governamentais integrantes do Sinase que solicitem recursos
tenham se submetido à avaliação nacional do atendimento socioeducativo.”
Art. 34. O art. 2o da Lei no 5.537, de 21 de novembro de 1968, passa a vigorar acrescido do seguinte
§ 3o:
“Art. 2º.......................................................................
.............................................................................................
TÍTULO II
DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:
I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao
adulto;
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de auto
composição de conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às
necessidades das vítimas;
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito ao que dispõe o art. 122
da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente);
VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente;
VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da medida;
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe
social, orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou
status; e
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo.
CAPÍTULO II
DOS PROCEDIMENTOS
Art. 36. A competência para jurisdicionar a execução das medidas socioeducativas segue o
determinado pelo art. 146 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Art. 37. A defesa e o Ministério Público intervirão, sob pena de nulidade, no procedimento judicial de
execução de medida socioeducativa, asseguradas aos seus membros as prerrogativas previstas na Lei
no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), podendo requerer as
providências necessárias para adequar a execução aos ditames legais e regulamentares.
Art. 38. As medidas de proteção, de advertência e de reparação do dano, quando aplicadas de forma
isolada, serão executadas nos próprios autos do processo de conhecimento, respeitado o disposto nos
arts. 143 e 144 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Art. 39. Para aplicação das medidas socioeducativas de prestação de serviços à comunidade,
liberdade assistida, semiliberdade ou internação, será constituído processo de execução para cada
adolescente, respeitado o disposto nos arts. 143 e 144 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente), e com autuação das seguintes peças:
I - documentos de caráter pessoal do adolescente existentes no processo de conhecimento,
especialmente os que comprovem sua idade; e
II - as indicadas pela autoridade judiciária, sempre que houver necessidade e, obrigatoriamente:
a) cópia da representação;
b) cópia da certidão de antecedentes;
c) cópia da sentença ou acórdão; e
d) cópia de estudos técnicos realizados durante a fase de conhecimento.
Art. 40. Autuadas as peças, a autoridade judiciária encaminhará, imediatamente, cópia integral do
expediente ao órgão gestor do atendimento socioeducativo, solicitando designação do programa ou da
unidade de cumprimento da medida.
Art. 41. A autoridade judiciária dará vistas da proposta de plano individual de que trata o art. 53 desta
Lei ao defensor e ao Ministério Público pelo prazo sucessivo de 3 (três) dias, contados do recebimento
da proposta encaminhada pela direção do programa de atendimento.
§ 1º O defensor e o Ministério Público poderão requerer, e o Juiz da Execução poderá determinar, de
ofício, a realização de qualquer avaliação ou perícia que entenderem necessárias para complementação
do plano individual.
§ 2º A impugnação ou complementação do plano individual, requerida pelo defensor ou pelo Ministério
Público, deverá ser fundamentada, podendo a autoridade judiciária indeferi-la, se entender insuficiente a
motivação.
§ 3º Admitida a impugnação, ou se entender que o plano é inadequado, a autoridade judiciária
designará, se necessário, audiência da qual cientificará o defensor, o Ministério Público, a direção do
programa de atendimento, o adolescente e seus pais ou responsável.
§ 4º A impugnação não suspenderá a execução do plano individual, salvo determinação judicial em
contrário.
§ 5º Findo o prazo sem impugnação, considerar-se-á o plano individual homologado.
Art. 43. A reavaliação da manutenção, da substituição ou da suspensão das medidas de meio aberto
ou de privação da liberdade e do respectivo plano individual pode ser solicitada a qualquer tempo, a
pedido da direção do programa de atendimento, do defensor, do Ministério Público, do adolescente, de
seus pais ou responsável.
§ 1º Justifica o pedido de reavaliação, entre outros motivos:
I - o desempenho adequado do adolescente com base no seu plano de atendimento individual, antes
do prazo da reavaliação obrigatória;
II - a inadaptação do adolescente ao programa e o reiterado descumprimento das atividades do plano
individual; e
III - a necessidade de modificação das atividades do plano individual que importem em maior restrição
da liberdade do adolescente.
§ 2º A autoridade judiciária poderá indeferir o pedido, de pronto, se entender insuficiente a motivação.
§ 3º Admitido o processamento do pedido, a autoridade judiciária, se necessário, designará audiência,
observando o princípio do § 1o do art. 42 desta Lei.
§ 4º A substituição por medida mais gravosa somente ocorrerá em situações excepcionais, após o
devido processo legal, inclusive na hipótese do inciso III do art. 122 da Lei no 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e deve ser:
I - fundamentada em parecer técnico;
II - precedida de prévia audiência, e nos termos do § 1o do art. 42 desta Lei.
Art. 44. Na hipótese de substituição da medida ou modificação das atividades do plano individual, a
autoridade judiciária remeterá o inteiro teor da decisão à direção do programa de atendimento, assim
como as peças que entender relevantes à nova situação jurídica do adolescente.
Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença de aplicação de nova medida, a autoridade
judiciária procederá à unificação, ouvidos, previamente, o Ministério Público e o defensor, no prazo de 3
(três) dias sucessivos, decidindo-se em igual prazo.
§ 1º É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de cumprimento de medida socioeducativa,
ou deixar de considerar os prazos máximos, e de liberação compulsória previstos na Lei no 8.069, de 13
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), excetuada a hipótese de medida aplicada por
ato infracional praticado durante a execução.
§ 2º É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos infracionais
praticados anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida socioeducativa
dessa natureza, ou que tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais
atos absorvidos por aqueles aos quais se impôs a medida socioeducativa extrema.
Art. 47. O mandado de busca e apreensão do adolescente terá vigência máxima de 6 (seis) meses, a
contar da data da expedição, podendo, se necessário, ser renovado, fundamentadamente.
Art. 48. O defensor, o Ministério Público, o adolescente e seus pais ou responsável poderão postular
revisão judicial de qualquer sanção disciplinar aplicada, podendo a autoridade judiciária suspender a
execução da sanção até decisão final do incidente.
§ 1º Postulada a revisão após ouvida a autoridade colegiada que aplicou a sanção e havendo provas
a produzir em audiência, procederá o magistrado na forma do § 1º do art. 42 desta Lei.
§ 2º É vedada a aplicação de sanção disciplinar de isolamento a adolescente interno, exceto seja essa
imprescindível para garantia da segurança de outros internos ou do próprio adolescente a quem seja
imposta a sanção, sendo necessária ainda comunicação ao defensor, ao Ministério Público e à autoridade
judiciária em até 24 (vinte e quatro) horas.
CAPÍTULO III
DOS DIREITOS INDIVIDUAIS
Art. 49. São direitos do adolescente submetido ao cumprimento de medida socioeducativa, sem
prejuízo de outros previstos em lei:
I - ser acompanhado por seus pais ou responsável e por seu defensor, em qualquer fase do
procedimento administrativo ou judicial;
II - ser incluído em programa de meio aberto quando inexistir vaga para o cumprimento de medida de
privação da liberdade, exceto nos casos de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência
à pessoa, quando o adolescente deverá ser internado em Unidade mais próxima de seu local de
residência;
III - ser respeitado em sua personalidade, intimidade, liberdade de pensamento e religião e em todos
os direitos não expressamente limitados na sentença;
IV - peticionar, por escrito ou verbalmente, diretamente a qualquer autoridade ou órgão público,
devendo, obrigatoriamente, ser respondido em até 15 (quinze) dias;
Art. 50. Sem prejuízo do disposto no § 1o do art. 121 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente), a direção do programa de execução de medida de privação da liberdade
poderá autorizar a saída, monitorada, do adolescente nos casos de tratamento médico, doença grave ou
falecimento, devidamente comprovados, de pai, mãe, filho, cônjuge, companheiro ou irmão, com imediata
comunicação ao juízo competente.
Art. 51. A decisão judicial relativa à execução de medida socioeducativa será proferida após
manifestação do defensor e do Ministério Público.
CAPÍTULO IV
DO PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO (PIA)
Art. 53. O PIA será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
atendimento, com a participação efetiva do adolescente e de sua família, representada por seus pais ou
responsável.
Art. 55. Para o cumprimento das medidas de semiliberdade ou de internação, o plano individual
conterá, ainda:
I - a designação do programa de atendimento mais adequado para o cumprimento da medida;
II - a definição das atividades internas e externas, individuais ou coletivas, das quais o adolescente
poderá participar; e
III - a fixação das metas para o alcance de desenvolvimento de atividades externas.
Parágrafo único. O PIA será elaborado no prazo de até 45 (quarenta e cinco) dias da data do ingresso
do adolescente no programa de atendimento.
Art. 56. Para o cumprimento das medidas de prestação de serviços à comunidade e de liberdade
assistida, o PIA será elaborado no prazo de até 15 (quinze) dias do ingresso do adolescente no programa
de atendimento.
Art. 58. Por ocasião da reavaliação da medida, é obrigatória a apresentação pela direção do programa
de atendimento de relatório da equipe técnica sobre a evolução do adolescente no cumprimento do plano
individual.
Art. 59. O acesso ao plano individual será restrito aos servidores do respectivo programa de
atendimento, ao adolescente e a seus pais ou responsável, ao Ministério Público e ao defensor, exceto
expressa autorização judicial.
CAPÍTULO V
DA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTE EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA
Seção I
Disposições Gerais
Art. 60. A atenção integral à saúde do adolescente no Sistema de Atendimento Socioeducativo seguirá
as seguintes diretrizes:
I - previsão, nos planos de atendimento socioeducativo, em todas as esferas, da implantação de ações
de promoção da saúde, com o objetivo de integrar as ações socioeducativas, estimulando a autonomia,
a melhoria das relações interpessoais e o fortalecimento de redes de apoio aos adolescentes e suas
famílias;
II - inclusão de ações e serviços para a promoção, proteção, prevenção de agravos e doenças e
recuperação da saúde;
III - cuidados especiais em saúde mental, incluindo os relacionados ao uso de álcool e outras
substâncias psicoativas, e atenção aos adolescentes com deficiências;
IV - disponibilização de ações de atenção à saúde sexual e reprodutiva e à prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis;
V - garantia de acesso a todos os níveis de atenção à saúde, por meio de referência e
contrarreferência, de acordo com as normas do Sistema Único de Saúde (SUS);
VI - capacitação das equipes de saúde e dos profissionais das entidades de atendimento, bem como
daqueles que atuam nas unidades de saúde de referência voltadas às especificidades de saúde dessa
população e de suas famílias;
VII - inclusão, nos Sistemas de Informação de Saúde do SUS, bem como no Sistema de Informações
sobre Atendimento Socioeducativo, de dados e indicadores de saúde da população de adolescentes em
atendimento socioeducativo; e
VIII - estruturação das unidades de internação conforme as normas de referência do SUS e do Sinase,
visando ao atendimento das necessidades de Atenção Básica.
Art. 61. As entidades que ofereçam programas de atendimento socioeducativo em meio aberto e de
semiliberdade deverão prestar orientações aos socioeducandos sobre o acesso aos serviços e às
unidades do SUS.
Seção II
Do Atendimento a Adolescente com Transtorno Mental e com Dependência de Álcool e de
Substância Psicoativa
Art 64. O adolescente em cumprimento de medida socioeducativa que apresente indícios de transtorno
mental, de deficiência mental, ou associadas, deverá ser avaliado por equipe técnica multidisciplinar e
Multisetorial.
§ 1º As competências, a composição e a atuação da equipe técnica de que trata o caput deverão
seguir, conjuntamente, as normas de referência do SUS e do Sinase, na forma do regulamento.
§ 2º A avaliação de que trata o caput subsidiará a elaboração e execução da terapêutica a ser adotada,
a qual será incluída no PIA do adolescente, prevendo, se necessário, ações voltadas para a família.
§ 3º As informações produzidas na avaliação de que trata o caput são consideradas sigilosas.
§ 4º Excepcionalmente, o juiz poderá suspender a execução da medida socioeducativa, ouvidos o
defensor e o Ministério Público, com vistas a incluir o adolescente em programa de atenção integral à
saúde mental que melhor atenda aos objetivos terapêuticos estabelecidos para o seu caso específico.
§ 5º Suspensa a execução da medida socioeducativa, o juiz designará o responsável por acompanhar
e informar sobre a evolução do atendimento ao adolescente.
§ 6º A suspensão da execução da medida socioeducativa será avaliada, no mínimo, a cada 6 (seis)
meses.
§ 7º O tratamento a que se submeterá o adolescente deverá observar o previsto na Lei no 10.216, de
6 de abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
§ 8º (VETADO).
Art. 65. Enquanto não cessada a jurisdição da Infância e Juventude, a autoridade judiciária, nas
hipóteses tratadas no art. 64, poderá remeter cópia dos autos ao Ministério Público para eventual
propositura de interdição e outras providências pertinentes.
CAPÍTULO VI
DAS VISITAS A ADOLESCENTE EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA DE
INTERNAÇÃO
Art. 67. A visita do cônjuge, companheiro, pais ou responsáveis, parentes e amigos a adolescente a
quem foi aplicada medida socioeducativa de internação observará dias e horários próprios definidos pela
direção do programa de atendimento.
Art. 68. É assegurado ao adolescente casado ou que viva, comprovadamente, em união estável o
direito à visita íntima.
Parágrafo único. O visitante será identificado e registrado pela direção do programa de atendimento,
que emitirá documento de identificação, pessoal e intransferível, específico para a realização da visita
íntima.
CAPÍTULO VII
DOS REGIMES DISCIPLINARES
Art. 71. Todas as entidades de atendimento socioeducativo deverão, em seus respectivos regimentos,
realizar a previsão de regime disciplinar que obedeça aos seguintes princípios:
I - tipificação explícita das infrações como leves, médias e graves e determinação das correspondentes
sanções;
II - exigência da instauração formal de processo disciplinar para a aplicação de qualquer sanção,
garantidos a ampla defesa e o contraditório;
III - obrigatoriedade de audiência do socioeducando nos casos em que seja necessária a instauração
de processo disciplinar;
IV - sanção de duração determinada;
V - enumeração das causas ou circunstâncias que eximam, atenuem ou agravem a sanção a ser
imposta ao socioeducando, bem como os requisitos para a extinção dessa;
VI - enumeração explícita das garantias de defesa;
VII - garantia de solicitação e rito de apreciação dos recursos cabíveis; e
VIII - apuração da falta disciplinar por comissão composta por, no mínimo, 3 (três) integrantes, sendo
1 (um), obrigatoriamente, oriundo da equipe técnica.
Art. 72. O regime disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal que advenha do ato
cometido.
Art. 73. Nenhum socioeducando poderá desempenhar função ou tarefa de apuração disciplinar ou
aplicação de sanção nas entidades de atendimento socioeducativo.
Art. 74. Não será aplicada sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar
e o devido processo administrativo.
Art. 75. Não será aplicada sanção disciplinar ao socioeducando que tenha praticado a falta:
I - por coação irresistível ou por motivo de força maior;
II - em legítima defesa, própria ou de outrem.
CAPÍTULO VIII
DA CAPACITAÇÃO PARA O TRABALHO
Art. 76. O art. 2o do Decreto-Lei no 4.048, de 22 de janeiro de 1942, passa a vigorar acrescido do
seguinte § 1º, renumerando-se o atual parágrafo único para § 2º:
“Art. 2º .........................................................................
§ 1º As escolas do Senai poderão ofertar vagas aos usuários do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem dispostas em instrumentos de cooperação celebrados
entre os operadores do Senai e os gestores dos Sistemas de Atendimento Socioeducativo locais.
§ 2º ...................................................................... ” (NR)
Art. 77. O art. 3o do Decreto-Lei no 8.621, de 10 de janeiro de 1946, passa a vigorar acrescido do
seguinte § 1o, renumerando-se o atual parágrafo único para § 2º:
“Art. 3º .........................................................................
§ 1º As escolas do Senac poderão ofertar vagas aos usuários do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem dispostas em instrumentos de cooperação celebrados
entre os operadores do Senac e os gestores dos Sistemas de Atendimento Socioeducativo locais.
§ 2º. ..................................................................... ” (NR)
Art. 78. O art. 1º da Lei no 8.315, de 23 de dezembro de 1991, passa a vigorar acrescido do seguinte
parágrafo único:
“Art. 1º .........................................................................
Parágrafo único. Os programas de formação profissional rural do Senar poderão ofertar vagas aos
usuários do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem dispostas
Art. 79. O art. 3º da Lei no 8.706, de 14 de setembro de 1993, passa a vigorar acrescido do seguinte
parágrafo único:
“Art. 3º .........................................................................
Parágrafo único. Os programas de formação profissional do Senat poderão ofertar vagas aos usuários
do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem dispostas em
instrumentos de cooperação celebrados entre os operadores do Senat e os gestores dos Sistemas de
Atendimento Socioeducativo locais.” (NR)
Art. 80. O art. 429 do Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar acrescido do
seguinte § 2o:
“Art. 429. .....................................................................
.............................................................................................
§ 2º estabelecimentos de que trata o caput ofertarão vagas de aprendizes a adolescentes usuários do
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) nas condições a serem dispostas em
instrumentos de cooperação celebrados entre os estabelecimentos e os gestores dos Sistemas de
Atendimento Socioeducativo locais.” (NR)
TÍTULO III
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 81. As entidades que mantenham programas de atendimento têm o prazo de até 6 (seis) meses
após a publicação desta Lei para encaminhar ao respectivo Conselho Estadual ou Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente proposta de adequação da sua inscrição, sob pena de interdição.
Art. 82. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis federados, com
os órgãos responsáveis pelo sistema de educação pública e as entidades de atendimento, deverão, no
prazo de 1 (um) ano a partir da publicação desta Lei, garantir a inserção de adolescentes em cumprimento
de medida socioeducativa na rede pública de educação, em qualquer fase do período letivo,
contemplando as diversas faixas etárias e níveis de instrução.
Art. 84. Os programas de internação e semiliberdade sob a responsabilidade dos Municípios serão,
obrigatoriamente, transferidos para o Poder Executivo do respectivo Estado no prazo máximo de 1 (um)
ano a partir da publicação desta Lei e de acordo com a política de oferta dos programas aqui definidos.
Art. 85. A não transferência de programas de atendimento para os devidos entes responsáveis, no
prazo determinado nesta Lei, importará na interdição do programa e caracterizará ato de improbidade
administrativa do agente responsável, vedada, ademais, ao Poder Judiciário e ao Poder Executivo
municipal, ao final do referido prazo, a realização de despesas para a sua manutenção.
Art. 86. Os arts. 90, 97, 121, 122, 198 e 208 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente), passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 90. ......................................................................
.............................................................................................
V - prestação de serviços à comunidade;
VI - liberdade assistida;
VII - semiliberdade; e
VIII - internação.
....................................................................................” (NR)
“Art. 97. (VETADO)”
“Art. 121. .................................…………………............
.............................................................................................
Art. 87. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa a vigorar
com as seguintes alterações:
“Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fundos dos Direitos da Criança e do
Adolescente nacional, distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas
integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os seguintes limites:
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com
base no lucro real; e
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas pessoas físicas na Declaração de
Ajuste Anual, observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de 1997.
.............................................................................................
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução
de que trata o inciso I do caput:
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a limite em conjunto com outras deduções do
imposto; e
II - não poderá ser computada como despesa operacional na apuração do lucro real.” (NR)
“Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de 2009, a pessoa física poderá optar pela
doação de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de Ajuste Anual.
§ 1º A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até os seguintes percentuais aplicados sobre
o imposto apurado na declaração:
I - (VETADO);
II - (VETADO);
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
§ 2º A dedução de que trata o caput:
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado na declaração de
que trata o inciso II do caput do art. 260;
II - não se aplica à pessoa física que:
a) utilizar o desconto simplificado;
b) apresentar declaração em formulário; ou
c) entregar a declaração fora do prazo;
III - só se aplica às doações em espécie; e
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em vigor.
§ 3º O pagamento da doação deve ser efetuado até a data de vencimento da primeira quota ou quota
única do imposto, observadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal do Brasil.
§ 4º O não pagamento da doação no prazo estabelecido no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela
de dedução, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto devido apurado
na Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos legais previstos na legislação.
§ 5º A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na Declaração de Ajuste Anual as doações
feitas, no respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos da Criança e
Art. 88. O parágrafo único do art. 3o da Lei no 12.213, de 20 de janeiro de 2010, passa a vigorar com
a seguinte redação:
“Art. 3º ..........................................................................
Parágrafo único. A dedução a que se refere o caput deste artigo não poderá ultrapassar 1% (um por
cento) do imposto devido.” (NR)
Art. 90. Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação oficial.
DILMA ROUSSEFF
Questões
01. (DPE/AM - Defensor Público - FCC/2018). Dentre aqueles previstos na Lei n° 12.594/2012 (Lei
do Sinase), é princípio que rege a execução das medidas socioeducativas
(A) a prioridade a práticas ou medidas que sejam ressocializadoras em detrimento daquelas que
atendam às necessidades das vítimas.
(B) proporcionalidade em relação à ofensa cometida.
(C) legalidade e especialidade, vedada a aplicação, aos adolescentes, de quaisquer dispositivos da
legislação penal ou processual dos adultos.
(D) definição do grau de controle e vigilância conforme avaliação de periculosidade do adolescente.
(E) atendimento das necessidades socioassistenciais do adolescente e sua família conforme
parâmetros fixados na sentença.
02. (DPE/RS - Defensor Público - FCC/2018). Com relação aos princípios que regem a execução das
medidas socioeducativas previstos na Lei n.º 12.594/12, que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (Sinase), pelo princípio da
(A) não discriminação, não pode o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido
ao adulto.
(B) brevidade na imposição de medidas, devem-se favorecer os meios de autocomposição de conflitos.
(C) legalidade, não pode o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto.
(D) individualização, a medida deve ser sempre proporcional à ofensa cometida.
(E) legalidade, não há ato infracional que justifique a imposição de medida socioeducativa sem prévia
lei que o defina.
04. (TJ/SC - Juiz Substituto - FCC/2017). A Lei Federal n° 12.594/12, que instituiu o SINASE −
Sistema Nacional Socioeducativo, previu como direitos dos adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa, expressamente,
(A) direito a creche e pré-escola de filhos de zero a cinco anos de idade e o direito de ser inserido em
medida em meio aberto quando o ato infracional praticado não estiver carregado de violência ou grave
ameaça e não houver vaga para internação no local de sua residência.
(B) possibilidade de saída monitorada sem prévia autorização judicial nos casos de falecimento de
irmão e de peticionar por escrito a qualquer autoridade ou órgão público, devendo ser respondido em até
10 (dez) dias.
(C) direito de receber visita, mesmo que de egresso do sistema socioeducativo e de ter acesso à leitura
em seu alojamento, mesmo que em quarto coletivo.
(D direito a creche e pré-escola de filhos de zero a cinco anos de idade e de ter acesso à leitura em
seu alojamento, mesmo que em quarto coletivo.
(E) direito de peticionar por escrito a qualquer autoridade ou órgão público, devendo ser respondido
em até 10 (dez) dias e de receber visita, mesmo que de egresso do sistema socioeducativo.
05. (MPE/PR - Promotor Substituto - 2017). Nos termos da Lei do Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (Lei nº 12.594/12), assinale a alternativa incorreta:
(A) A execução das medidas socioeducativas reger-se-á, entre outros, pelo princípio da prioridade a
práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das
vítimas.
(B) A visita do cônjuge, companheiro, pais ou responsáveis, parentes e amigos a adolescente a quem
foi aplicada medida socioeducativa de internação observará dias e horários próprios definidos pela
direção do programa de atendimento.
(C) É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos infracionais praticados
anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida socioeducativa dessa
natureza, ou que tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais atos
absorvidos por aqueles aos quais se impôs a medida socioeducativa extrema.
(D) A medida socioeducativa será declarada extinta, entre outras hipóteses, pela condição de doença
grave, que torne o adolescente incapaz de submeter-se ao cumprimento da medida.
(E) É direito do adolescente submetido ao cumprimento de medida socioeducativa,
independentemente da gravidade do ato infracional praticado, ser incluído em programa de meio aberto
quando inexistir vaga para o cumprimento de medida de privação da liberdade.
07. (DPE/BA - Defensor Público - FCC/2016). Sobre o SINASE – Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo − é correto afirmar que
Gabarito
Comentários
01. Resposta: B
Lei 12.594/2012
Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:
[ ]
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida.
02. Resposta: C
Lei 12.594/2012
Art. 35. A execução das medidas socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:
I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao
adulto;
03. Resposta: D
Lei 12.594/2012
Art. 5º Compete aos Municípios:
I - formular, instituir, coordenar e manter o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo,
respeitadas as diretrizes fixadas pela União e pelo respectivo Estado;
II - elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo, em conformidade com o Plano Nacional
e o respectivo Plano Estadual;
III - criar e manter programas de atendimento para a execução das medidas socioeducativas em meio
aberto.
04. Resposta: A
Lei 12.594/2012
Art. 49. São direitos do adolescente submetido ao cumprimento de medida socioeducativa, sem
prejuízo de outros previstos em lei:
( )
II - ser incluído em programa de meio aberto quando inexistir vaga para o cumprimento de medida de
privação da liberdade, exceto nos casos de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência
à pessoa, quando o adolescente deverá ser internado em Unidade mais próxima de seu local de
residência;
( )
VIII - ter atendimento garantido em creche e pré-escola aos filhos de 0 (zero) a 5 (cinco) anos.
05. Resposta: D
Lei 12.594/2012
Art. 49. São direitos do adolescente submetido ao cumprimento de medida socioeducativa, sem
prejuízo de outros previstos em lei:
06. Resposta: D
Lei 12.594/2012
Art. 43. A reavaliação da manutenção, da substituição ou da suspensão das medidas de meio aberto
ou de privação da liberdade e do respectivo plano individual pode ser solicitada a qualquer tempo, a
pedido da direção do programa de atendimento, do defensor, do Ministério Público, do adolescente, de
seus pais ou responsável.
07. Resposta: E
Lei 12.594/2012
Art. 3º Compete à União:
( )
§ 2º Ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) competem as funções
normativa, deliberativa, de avaliação e de fiscalização do Sinase, nos termos previstos na Lei no 8.242,
de 12 de outubro de 1991, que cria o referido Conselho.
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
11
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741compilado.htm - acesso em 15/10/2018 às 11h
Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade
ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.
§ 2º As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos princípios
por ela adotados.
Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação
a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
Art. 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei
no 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei.
TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
CAPÍTULO I
DO DIREITO À VIDA
Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos
desta Lei e da legislação vigente.
Art. 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação
de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.
CAPÍTULO II
DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE
Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a
dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na
Constituição e nas leis.
§ 1º O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:
I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as
restrições legais;
II – opinião e expressão;
III – crença e culto religioso;
IV – prática de esportes e de diversões;
V – participação na vida familiar e comunitária;
VI – participação na vida política, na forma da lei;
VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo
a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos
objetos pessoais.
§ 3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores.
Art. 13. As transações relativas a alimentos poderão ser celebradas perante o Promotor de Justiça ou
Defensor Público, que as referendará, e passarão a ter efeito de título executivo extrajudicial nos termos
da lei processual civil.
Art. 14. Se o idoso ou seus familiares não possuírem condições econômicas de prover o seu sustento,
impõe-se ao Poder Público esse provimento, no âmbito da assistência social.
CAPÍTULO IV
DO DIREITO À SAÚDE
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde
– SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e
serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial
às doenças que afetam preferencialmente os idosos.
§ 1º A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:
I – cadastramento da população idosa em base territorial;
II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;
III – unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e
gerontologia social;
IV – atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja
impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas,
filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano
e rural;
V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das sequelas decorrentes do
agravo da saúde.
§ 2º Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os
de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação
ou reabilitação.
§ 3º É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados
em razão da idade.
§ 4º Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento
especializado, nos termos da lei.
§ 5º É vedado exigir o comparecimento do idoso enfermo perante os órgãos públicos, hipótese na qual
será admitido o seguinte procedimento:
I - quando de interesse do poder público, o agente promoverá o contato necessário com o idoso em
sua residência; ou
II - quando de interesse do próprio idoso, este se fará representar por procurador legalmente
constituído.
§ 6º É assegurado ao idoso enfermo o atendimento domiciliar pela perícia médica do Instituto Nacional
do Seguro Social - INSS, pelo serviço público de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado ou
conveniado, que integre o Sistema Único de Saúde - SUS, para expedição do laudo de saúde necessário
ao exercício de seus direitos sociais e de isenção tributária.
§ 7º Em todo atendimento de saúde, os maiores de oitenta anos terão preferência especial sobre os
demais idosos, exceto em caso de emergência. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017).
Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às
necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim como
orientação a cuidadores familiares e grupos de autoajuda.
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos serão objeto de
notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à autoridade sanitária, bem como
serão obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos:
I – autoridade policial;
II – Ministério Público;
III – Conselho Municipal do Idoso;
IV – Conselho Estadual do Idoso;
V – Conselho Nacional do Idoso.
§ 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra o idoso qualquer ação ou omissão
praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico.
§ 2º Aplica-se, no que couber, à notificação compulsória prevista no caput deste artigo, o disposto na
Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975.
CAPÍTULO V
DA EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE E LAZER
Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e
serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.
Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos,
metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.
§ 1º Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de comunicação,
computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna.
§ 2º Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para transmissão de
conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da identidade
culturais.
Art. 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos
voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o
preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria.
Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante
descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais,
esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais.
Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos, com
finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de envelhecimento.
Art. 25. As instituições de educação superior ofertarão às pessoas idosas, na perspectiva da educação
ao longo da vida, cursos e programas de extensão, presenciais ou a distância, constituídos por atividades
formais e não formais. (Redação dada pela lei nº 13.535, de 2017)
Parágrafo único. O poder público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas e
incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que
facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual. (Incluído pela lei nº 13.535, de
2017)
Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas,
intelectuais e psíquicas.
Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação
de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo
o exigir.
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se
preferência ao de idade mais elevada.
CAPÍTULO VII
DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
Art. 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social observarão,
na sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram
contribuição, nos termos da legislação vigente.
Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados na mesma data de
reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do seu último
reajustamento, com base em percentual definido em regulamento, observados os critérios estabelecidos
pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991.
Art. 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a concessão da aposentadoria
por idade, desde que a pessoa conte com, no mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido
para efeito de carência na data de requerimento do benefício.
Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput observará o disposto no caput e §
2º do art. 3º da Lei nº 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários-de-contribuição
recolhidos a partir da competência de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei nº 8.213, de 1991.
Art. 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com atraso por responsabilidade da
Previdência Social, será atualizado pelo mesmo índice utilizado para os reajustamentos dos benefícios
do Regime Geral de Previdência Social, verificado no período compreendido entre o mês que deveria ter
sido pago e o mês do efetivo pagamento.
Art. 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1º de Maio, é a data-base dos aposentados e pensionistas.
CAPÍTULO VIII
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme os princípios e
diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política Nacional do Idoso, no Sistema Único
de Saúde e demais normas pertinentes.
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.
Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de
prestação de serviços com a pessoa idosa abrigada.
Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza
a dependência econômica, para os efeitos legais.
CAPÍTULO IX
DA HABITAÇÃO
Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou
desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou
privada.
§ 1º A assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência será prestada quando
verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos financeiros próprios
ou da família.
§ 2º Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso fica obrigada a manter identificação externa
visível, sob pena de interdição, além de atender toda a legislação pertinente.
§ 3º As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis
com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às
normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei.
Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, o idoso goza de
prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte:
I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades habitacionais residenciais para atendimento
aos idosos;
II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso;
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para garantia de acessibilidade ao idoso;
IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de aposentadoria e pensão.
Parágrafo único. As unidades residenciais reservadas para atendimento a idosos devem situar-se,
preferencialmente, no pavimento térreo.
CAPÍTULO X
DO TRANSPORTE
Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes
coletivos públicos urbanos e semiurbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados
paralelamente aos serviços regulares.
§ 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que faça
prova de sua idade.
§ 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento)
dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencialmente para
idosos.
§ 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco)
anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para exercício da gratuidade nos
meios de transporte previstos no caput deste artigo.
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação
específica:
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois)
salários-mínimos;
II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor das passagens, para os idosos que
excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos.
Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir os mecanismos e os critérios para o exercício
dos direitos previstos nos incisos I e II.
Art. 42. São asseguradas a prioridade e a segurança do idoso nos procedimentos de embarque e
desembarque nos veículos do sistema de transporte coletivo.
TÍTULO III
DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta
Lei forem ameaçados ou violados:
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento;
III – em razão de sua condição pessoal.
CAPÍTULO II
DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO
Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou
cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder
Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários
dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause
perturbação;
V – abrigo em entidade;
VI – abrigo temporário.
TÍTULO IV
DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO IDOSO
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Art. 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades,
observadas as normas de planejamento e execução emanadas do órgão competente da Política Nacional
do Idoso, conforme a Lei no 8.842, de 1994.
Parágrafo único. As entidades governamentais e não-governamentais de assistência ao idoso ficam
sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e Conselho
Municipal da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa,
especificando os regimes de atendimento, observados os seguintes requisitos:
I – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e
segurança;
II – apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com os princípios desta Lei;
III – estar regularmente constituída;
IV – demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.
Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos prestadoras de serviço ao idoso terão direito
à assistência judiciária gratuita.
Art. 53. O art. 7º da Lei nº 8.842, de 1994, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 7º Compete aos Conselhos de que trata o art. 6º desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a
fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-
administrativas." (NR)
Art. 54. Será dada publicidade das prestações de contas dos recursos públicos e privados recebidos
pelas entidades de atendimento.
Art. 55. As entidades de atendimento que descumprirem as determinações desta Lei ficarão sujeitas,
sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos, às seguintes
penalidades, observado o devido processo legal:
I – as entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa;
II – as entidades não-governamentais:
a) advertência;
b) multa;
c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas;
d) interdição de unidade ou suspensão de programa;
e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público.
§ 1º Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer tipo de fraude em relação ao programa, caberá
o afastamento provisório dos dirigentes ou a interdição da unidade e a suspensão do programa.
§ 2º A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas ocorrerá quando verificada a má
aplicação ou desvio de finalidade dos recursos.
§ 3º Na ocorrência de infração por entidade de atendimento, que coloque em risco os direitos
assegurados nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério Público, para as providências cabíveis,
inclusive para promover a suspensão das atividades ou dissolução da entidade, com a proibição de
atendimento a idosos a bem do interesse público, sem prejuízo das providências a serem tomadas pela
Vigilância Sanitária.
§ 4º Na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos que dela provierem para o idoso, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes
da entidade.
CAPÍTULO IV
DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Art. 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do art. 50 desta Lei:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), se o fato não for
caracterizado como crime, podendo haver a interdição do estabelecimento até que sejam cumpridas as
exigências legais.
Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa permanência, os idosos abrigados
serão transferidos para outra instituição, a expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a
interdição.
Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por estabelecimento de saúde ou instituição
de longa permanência de comunicar à autoridade competente os casos de crimes contra idoso de que
tiver conhecimento:
Pena – multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais), aplicada em dobro no
caso de reincidência.
CAPÍTULO V
DA APURAÇÃO ADMINISTRATIVA DE INFRAÇÃO ÀS
NORMAS DE PROTEÇÃO AO IDOSO
Art. 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV serão atualizados anualmente, na forma da
lei.
Art. 60. O procedimento para a imposição de penalidade administrativa por infração às normas de
proteção ao idoso terá início com requisição do Ministério Público ou auto de infração elaborado por
servidor efetivo e assinado, se possível, por duas testemunhas.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração poderão ser usadas fórmulas impressas,
especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura do auto, ou este será
lavrado dentro de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo justificado.
Art. 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a apresentação da defesa, contado da data da
intimação, que será feita:
I – pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for lavrado na presença do infrator;
II – por via postal, com aviso de recebimento.
Art. 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do idoso, a autoridade competente aplicará à entidade
de atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das providências que vierem a
ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para a fiscalização.
Art. 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou a saúde da pessoa idosa abrigada, a
autoridade competente aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da
iniciativa e das providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais
instituições legitimadas para a fiscalização.
CAPÍTULO VI
DA APURAÇÃO JUDICIAL DE IRREGULARIDADES EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO
Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento administrativo de que trata este Capítulo as
disposições das Leis nos 6.437, de 20 de agosto de 1977, e 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
liminarmente o afastamento provisório do dirigente da entidade ou outras medidas que julgar adequadas,
para evitar lesão aos direitos do idoso, mediante decisão fundamentada.
Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de 10 (dez) dias, oferecer resposta escrita,
podendo juntar documentos e indicar as provas a produzir.
Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na conformidade do art. 69 ou, se necessário,
designará audiência de instrução e julgamento, deliberando sobre a necessidade de produção de outras
provas.
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público terão 5 (cinco) dias para
oferecer alegações finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente de entidade governamental, a
autoridade judiciária oficiará a autoridade administrativa imediatamente superior ao afastado, fixando-lhe
prazo de 24 (vinte e quatro) horas para proceder à substituição.
TÍTULO V
DO ACESSO À JUSTIÇA
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Capítulo, o procedimento sumário previsto
no Código de Processo Civil, naquilo que não contrarie os prazos previstos nesta Lei.
Art. 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do idoso.
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos
atos e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior
a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.
§ 1º O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo, fazendo prova de sua idade,
requererá o benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará as
providências a serem cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do processo.
§ 2º A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge
supérstite, companheiro ou companheira, com união estável, maior de 60 (sessenta) anos.
§ 3º A prioridade se estende aos processos e procedimentos na Administração Pública, empresas
prestadoras de serviços públicos e instituições financeiras, ao atendimento preferencial junto à Defensoria
Pública da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência Judiciária.
§ 4º Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e caixas,
identificados com a destinação a idosos em local visível e caracteres legíveis.
§ 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores de oitenta anos.
(Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017).
CAPÍTULO II
DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 73. As funções do Ministério Público, previstas nesta Lei, serão exercidas nos termos da respectiva
Lei Orgânica.
Art. 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério
Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos
depois das partes, podendo juntar documentos, requerer diligências e produção de outras provas, usando
os recursos cabíveis.
Art. 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.
Art. 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada
de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
CAPÍTULO III
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS
INDISPONÍVEIS OU HOMOGÊNEOS
Art. 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos
assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao oferecimento insatisfatório de:
I – acesso às ações e serviços de saúde;
II – atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com limitação incapacitante;
III – atendimento especializado ao idoso portador de doença infectocontagiosa;
IV – serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros interesses
difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogêneos, próprios do idoso, protegidos em lei.
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo
terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça Federal e a
competência originária dos Tribunais Superiores.
Art. 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou
homogêneos, consideram-se legitimados, concorrentemente:
I – o Ministério Público;
II – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
III – a Ordem dos Advogados do Brasil;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre os fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa, dispensada a autorização da
assembleia, se houver prévia autorização estatutária.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos Estados na
defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou
outro legitimado deverá assumir a titularidade ativa.
Art. 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, na forma do
art. 273 do Código de Processo Civil.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente
do pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o
cumprimento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor, mas
será devida desde o dia em que se houver configurado.
Art. 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão ao Fundo do Idoso, onde houver, ou na
falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social, ficando vinculados ao atendimento ao idoso.
Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o trânsito em julgado da decisão
serão exigidas por meio de execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada
igual iniciativa aos demais legitimados em caso de inércia daquele.
Art. 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.
Art. 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder Público, o juiz
determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e
administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.
Art. 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória favorável ao
idoso sem que o autor lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada, igual
iniciativa aos demais legitimados, como assistentes ou assumindo o polo ativo, em caso de inércia desse
órgão.
Art. 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas.
Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério Público.
Art. 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provocar a iniciativa do Ministério Público,
prestando-lhe informações sobre os fatos que constituam objeto de ação civil e indicando-lhe os
elementos de convicção.
Art. 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercício de suas funções, quando
tiverem conhecimento de fatos que possam configurar crime de ação pública contra idoso ou ensejar a
propositura de ação para sua defesa, devem encaminhar as peças pertinentes ao Ministério Público, para
as providências cabíveis.
Art. 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as
certidões e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de
qualquer pessoa, organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo
que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de
fundamento para a propositura da ação civil ou de peças informativas, determinará o seu arquivamento,
fazendo-o fundamentadamente.
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei nº 7.347, de 24 de julho de
1985.
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4
(quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e,
subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
CAPÍTULO II
DOS CRIMES EM ESPÉCIE
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando
os arts. 181 e 182 do Código Penal.
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos
meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao
exercício da cidadania, por motivo de idade:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa,
por qualquer motivo.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação
de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não
pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza
grave, e triplicada, se resulta a morte.
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou
congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições
desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a
fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2º Se resulta a morte:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;
Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial
expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso,
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em
outorgar procuração à entidade de atendimento:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do
idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de
dívida:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens depreciativas
ou injuriosas à pessoa do idoso:
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de
administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida
representação legal:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
TÍTULO VII
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de qualquer outro agente
fiscalizador:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 110. O Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, passa a vigorar com as
seguintes alterações:
"Art. 61. ............................................................................
II - ............................................................................
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
............................................................................." (NR)
"Art. 159............................................................................
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito)
ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
............................................................................" (NR)
"Art. 183............................................................................
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos." (NR)
"Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18
(dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não
lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo:
............................................................................" (NR)
Art. 111. O art. 21 do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro de 1941, Lei das Contravenções Penais,
passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:
"Art. 21............................................................................
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60
(sessenta) anos." (NR)
Art. 112. O inciso II do § 4º do art. 1º da Lei no 9.455, de 7 de abril de 1997, passa a vigorar com a
seguinte redação:
"Art. 1º ............................................................................
§ 4º ............................................................................
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de
60 (sessenta) anos;
............................................................................" (NR)
Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, passa a vigorar com a
seguinte redação:
"Art. 18............................................................................
III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou
suprimida a capacidade de discernimento ou de autodeterminação:
............................................................................" (NR)
Art. 114. O art. 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de 2000, passa a vigorar com a seguinte
redação:
Art. 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará ao Fundo Nacional de Assistência Social, até
que o Fundo Nacional do Idoso seja criado, os recursos necessários, em cada exercício financeiro, para
aplicação em programas e ações relativos ao idoso.
Art. 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à população idosa do País.
Art. 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto de lei revendo os critérios de
concessão do Benefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, de
forma a garantir que o acesso ao direito seja condizente com o estágio de desenvolvimento
socioeconômico alcançado pelo País.
Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) dias da sua publicação, ressalvado o disposto
no caput do art. 36, que vigorará a partir de 1º de janeiro de 2004.
Questões
02. (TRF 2ªREGIÃO - Analista Judiciário - CONSUPLAN/2017) O Estatuto do Idoso regula os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos. Sobre estes direitos previstos na
Lei Federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, é INCORRETO afirmar que:
(A) Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo
tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.
(B) O Poder Público criará e estimulará programas de profissionalização especializada para os idosos,
aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas.
(C) Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da Previdência Social observarão, na
sua concessão, critérios de cálculo que preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram
contribuição, nos termos da legislação vigente.
(D) Aos idosos, a partir de sessenta e cinco anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de um salário-mínimo,
nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. O benefício já concedido a qualquer membro
da família nos termos exposto anteriormente será computado para os fins do cálculo da renda familiar per
capita a que se refere a LOAS.
04. (Prefeitura de Natal/RN - Advogado – IDECAN/2016). Estabelece o Estatuto do Idoso que NÃO
constitui obrigação das entidades de atendimento ao idoso:
(A) Oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade.
(B) Comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou
material por parte dos familiares.
(C) Fornecer vestuário adequado, se for privada, e assistência religiosa mesmo àqueles que não
desejarem e de acordo com suas crenças.
(D) Celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de atendimento,
as obrigações da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os respectivos preços, se for o
caso.
05. (MPE/GO – Promotor de Justiça- MPE/GO/2016) De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei n.
10.471/03):
(A) O Ministério Público tem legitimidade para a promoção da tutela coletiva dos direitos de pessoas
com idade igual ou superior a sessenta anos, mas não poderá atuar na esfera individual de direitos dessa
parcela da população, uma vez que a senilidade não induz incapacidade para os atos da vida civil.
(B) O idoso, que necessite de alimentos, deverá acionar simultaneamente os filhos, cobrando de cada
qual, na medida de suas possibilidades.
(C) O Poder Judiciário, a requerimento do Ministério Público, poderá determinar medidas protetivas
em favor de idoso em situação de risco, tais como: requisição de tratamento de saúde, em regime
ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; encaminhamento à família ou curador, mediante termo de
responsabilidade; abrigamento em entidade.
(D) O Poder Público tem responsabilidade residual e, no âmbito da assistência social, estará obrigado
a assegurar os direitos fundamentais de pessoa idosa, em caso de inexistência de parentes na linha reta
ou colateral até o 3º grau.
07. (PC-SC - Delegado de Polícia - ACAFE) Analise as afirmações a seguir, identifique o que constitui
crime praticado contra o idoso e assinale a alternativa correta.
l Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade.
ll Recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa,
a pessoa com mais de 55 anos.
lll Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas
ações em que for parte ou interveniente pessoa com mais de 65 anos.
lV Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão de pessoa
com mais de 70 anos, bem como qualquer outro documento, com objetivo de assegurar recebimento ou
ressarcimento de dívida.
(A) Todas as afirmações estão corretas.
(B) Apenas II e III estão corretas.
(C) Apenas I, II e III estão corretas
(D) Apenas I, III e IV estão corretas.
(E) Apenas III e IV estão corretas.
08. (MPE/SC - Promotor de Justiça - MPE-SC) Analise os enunciados das questões abaixo e assinale
se ele é Certo ou Errado.
09. (PC-SP - Investigador de Polícia - VUNESP) Minerva, 45 anos de idade, é filha de Pomona, 62
anos de idade. Ambas vivem juntas. Quando Pomona veio a adoecer gravemente, Minerva a levou para
um hospital público e lá a abandonou sob os cuidados médicos do estabelecimento, não mais retornando
para buscá-la. Essa conduta de Minerva.
(A) é considerada um crime de preconceito punível pelo Estatuto do Idoso
(B) não é considerada como crime, uma vez que Pomona, embora abandonada, foi deixada sob
cuidados médicos.
(C) não é considerada crime, por se tratar de hospital público, que tem a obrigação legal de cuidar de
Pomona.
(D) seria considerada crime pelo Estatuto do Idoso apenas se Pomona fosse maior de 65 anos de
idade.
(E) é considerada um crime pelo Estatuto do Idoso.
10. (DPE/PB - Defensor Público – FCC) O Estatuto do Idoso define o idoso como aquele com idade
igual ou superior a
(A) 60 (sessenta) anos, garantindo a ele todos os direitos previstos no respectivo diploma legal.
(B) 65 (sessenta e cinco) anos, garantindo a ele todos os direitos previstos no respectivo diploma legal.
(C) 70 (setenta) anos, garantindo a ele todos os direitos previstos no respectivo diploma legal.
(D) 60 (sessenta) anos, mas estabelecendo idades e circunstâncias diferenciadas para o exercício
pleno de todos os direitos previstos no respectivo diploma legal.
(E) 65 (sessenta e cinco) anos, mas estabelecendo idades e circunstâncias diferenciadas para o
exercício pleno de todos os direitos previstos no respectivo diploma legal.
11. (DPE/AM - Defensor Público – FCC) O Estatuto do Idoso define a violência contra o idoso como
sendo
(A) o atentado contra a pessoa do idoso, nos termos da lei penal.
(B) a prática dos crimes contra a vida, de lesões corporais, de periclitação da vida e da saúde e contra
a liberdade individual do idoso.
(C) o crime que envolver violência doméstica e familiar contra o idoso.
(D) o atentado contra os direitos fundamentais do idoso.
(E) a ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento
físico ou psicológico.
12. (DPE/SC - Técnico Administrativo – FEPESE) Assinale a alternativa correta de acordo com o
Estatuto do Idoso.
(A) É dever exclusivo dos familiares prevenir as ameaças ou violação aos direitos do idoso.
(B) A proteção ao idoso deve ser restrita à preservação de sua saúde física e mental.
(C) Somente as pessoas físicas poderão ser responsabilizadas pela inobservância das normas de
prevenção e proteção ao idoso.
(D) O Estatuto do Idoso, por ser norma especial em razão da matéria, impede a aplicação de qualquer
outra legislação.
(E) Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação a
esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
13. (TJ/RJ - Comissário da Infância e da Juventude – FCC) Segundo prevê o Estatuto do Idoso, é
obrigação da entidade de atendimento ao idoso
(A) comunicar ao juiz as situações de abandono moral ou material por parte dos familiares.
(B) celebrar contrato escrito ou verbal de prestação de serviço com o idoso.
(C) elaborar e remeter ao Ministério Público plano individual de atendimento para cada caso com vistas
à reintegração familiar.
(D) administrar os rendimentos financeiros de seus usuários.
(E) proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso.
15. (Pref. Angra dos Reis/RJ - Enfermeiro – Diarista - FEC/UFF) De acordo com o Estatuto do Idoso,
é obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade,
como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição
e nas leis. Nesse sentido, Assinale a alternativa que caracteriza o direito ao respeito:
(A) faculdade de buscar.
(B) preservação da autonomia.
(C) faculdade de buscar auxílio.
(D) a liberdade de crença e culto religioso.
(E) faculdade de buscar refúgio.
Respostas
01. Resposta: D
Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante
descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais,
esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais.
02. Resposta: D
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.
03. Resposta: B
Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:
I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para
atividades regulares e remuneradas;
II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por
meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os
direitos sociais e de cidadania;
III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.
04. Resposta: C
Lei 10741/2013
Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento:
( )
III – fornecer vestuário adequado, se for pública, e alimentação suficiente;
05. Resposta: C.
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder
Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
06. Resposta: D
a) Art. 3º, V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do
atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria
sobrevivência; b) Art. 3º, I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos
e privados prestadores de serviços à população; c) Art. 3º, VIII – garantia de acesso à rede de serviços
de saúde e de assistência social locais.
07. Resposta: D
Está questão cobra para sua resolução o conhecimento dos limites de idade previstos no Estatuto do
Idoso. Assim, a afirmativa I está correta, haja vista que de acordo com o tipificado no artigo 100, I, da Lei.
A alternativa III está correta, pois se enquadra no previsto pelo artigo 100, IV, da norma; importante aqui
destacar que embora o dispositivo legal mencionado não apresente expressamente idade, sabemos que
quando aparece a palavra “idoso” podemos presumir que se fala de pessoa com idade igual ou superior
a 60 (sessenta) anos. A afirmativa IV está correta, posto que se enquadra no previsto no art.104, da
norma. Por fim, apenas a afirmativa II está incorreta, tendo em vista que nem todos que possuem mais
de 55 (cinquenta e cinco) anos, possuem 60 (sessenta) anos ou mais e, por essa razão, nem todos serão
idosos, sendo incorreto afirmar que a proteção do Estatuto igualmente se aplica estes.
08. Resposta: A
O enunciado da questão está correto, uma vez que de acordo com o que dispõe o artigo 108 do
Estatuto do idoso, vejamos: “Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus
atos, sem a devida representação legal: Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos”.
09. Resposta: E
É o que dispõe o artigo 98 da norma: “Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de
longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei
ou mandado: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa”.
10. Resposta: D
A resposta correta é a alternativa “D”, pois está de acordo com o artigo 1º, do Estatuto do Idoso:
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
O Estatuto do Idoso é destinado a regular os direitos assegurados às pessoas, considerando-se a
idade cronológica igual ou superior a 60 anos e de dispor de seus direitos fundamentais e
de cidadania, bem como a assistência judiciária. Além de preocupar-se com a execução dos direitos pelas
entidades de atendimento que o promovem, também volta-se para sua vigilância e defesa, por meio de
instituições públicas. Tendo como seu principal objetivo, assegurar os direitos da pessoa idosa.
11. Resposta: E
De acordo com o artigo 19, §1º do Estatuto do Idoso, considera-se violência contra o idoso:
Art. 19. (...)
§ 1º Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra o idoso qualquer ação ou omissão
praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico.
(...)
12. Resposta: E
De acordo com o artigo 6º do Estatuto do Idoso:
Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação
a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
13. Resposta: E
De acordo com o artigo 50, inciso VIII, do Estatuto do Idoso:
Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento:
14. Resposta: A
De acordo com o artigo 17, “caput”, do Estatuto do Idoso:
Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar
pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.
(...)
15. Resposta: B.
Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a
dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na
Constituição e nas leis.
§ 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo
a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos
objetos pessoais.
Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências.
CAPÍTULO I
Da Finalidade
Art. 1º A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando
condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
Art. 2º Considera-se idoso, para os efeitos desta lei, a pessoa maior de sessenta anos de idade.
CAPÍTULO II
Dos Princípios e das Diretrizes
SEÇÃO I
Dos Princípios
12
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8842.htm. Acesso em 11/10/2018 às 10:43
CAPÍTULO III
Da Organização e Gestão
Art. 5º Competirá ao órgão ministerial responsável pela assistência e promoção social a coordenação
geral da política nacional do idoso, com a participação dos conselhos nacionais, estaduais, do Distrito
Federal e municipais do idoso.
Art. 6º Os conselhos nacional, estaduais, do Distrito Federal e municipais do idoso serão órgãos
permanentes, paritários e deliberativos, compostos por igual número de representantes dos órgãos e
entidades públicas e de organizações representativas da sociedade civil ligadas à área.
Art. 7o Compete aos Conselhos de que trata o art. 6o desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a
fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-
administrativas. (Redação dada pelo Lei nº 10.741, de 2003)
Art. 8º À União, por intermédio do ministério responsável pela assistência e promoção social, compete:
I - coordenar as ações relativas à política nacional do idoso;
II - participar na formulação, acompanhamento e avaliação da política nacional do idoso;
III - promover as articulações intraministeriais e interministeriais necessárias à implementação da
política nacional do idoso;
IV - (Vetado;)
V - elaborar a proposta orçamentária no âmbito da promoção e assistência social e submetê-la ao
Conselho Nacional do Idoso.
Parágrafo único. Os ministérios das áreas de saúde, educação, trabalho, previdência social, cultura,
esporte e lazer devem elaborar proposta orçamentária, no âmbito de suas competências, visando ao
financiamento de programas nacionais compatíveis com a política nacional do idoso.
Art. 9º (Vetado.)
Parágrafo único. (Vetado.)
CAPÍTULO IV
Das Ações Governamentais
Art. 10. Na implementação da política nacional do idoso, são competências dos órgãos e entidades
públicos:
I - na área de promoção e assistência social:
a) prestar serviços e desenvolver ações voltadas para o atendimento das necessidades básicas do
idoso, mediante a participação das famílias, da sociedade e de entidades governamentais e não-
governamentais.
b) estimular a criação de incentivos e de alternativas de atendimento ao idoso, como centros de
convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho, atendimentos
domiciliares e outros;
c) promover simpósios, seminários e encontros específicos;
CAPÍTULO V
Do Conselho Nacional
CAPÍTULO VI
Das Disposições Gerais
Art. 19. Os recursos financeiros necessários à implantação das ações afetas às áreas de competência
dos governos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais serão consignados em seus respectivos
orçamentos.
Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de sessenta dias, a partir da data de sua
publicação.
ITAMAR FRANCO
Questões
01. (Pref. de Fortaleza/CE - Diversas Especialidades - 2018) De acordo com a Lei nº 8.842/1994,
constitui diretriz da Política Nacional do Idoso:
(A) priorização do atendimento asilar, em detrimento do atendimento ao idoso através de suas famílias.
(B) permanência de portadores de doenças que necessitem de assistência médica permanente em
instituições asilares de caráter social.
(C) igualdade na aplicação da política nacional do idoso pelos poderes públicos, independentemente
das contradições entre o meio urbano e rural.
(D) capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na
prestação de serviços.
02. (UFRPE - Assistente Social - SUGEP/2018) Conforme disposto na Lei nº 8.842/94, faz parte dos
princípios da política nacional do idoso:
(A) o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza.
(B) o idoso carente deve ter a garantia de um salário mínimo para assegurar sua sobrevivência.
(C) o idoso deve participar através de suas organizações representativas, na formulação,
implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem desenvolvidos.
(D) a família deve ser capacitada para os cuidados necessários com os idosos portadores de doenças
degenerativas e incapacitantes.
(E) o apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento.
04. (MPE/AP - Analista Ministerial - FCC). A Política Nacional do Idoso instituída trouxe um arcabouço
legal para
(A) estabelecer que a porta de entrada do atendimento ao idoso, em geral, é a política pública de
assistência social por sua situação de vulnerabilidade em decorrência do ciclo de vida.
(B) responsabilizar unicamente a União pelo financiamento dos programas destinados aos idosos,
considerando que tais programas são de alta complexidade e estão sob a responsabilidade, execução e
supervisão das outras esferas de governo.
(C) assegurar os direitos sociais do idoso criando condições para promover sua autonomia, integração
e participação efetiva na sociedade.
(D) estimular a criação de alternativas de atendimento ao idoso que necessite ser afastado da
convivência, nas entidades não governamentais de longa permanência, em detrimento do serviço de
acolhimento institucional público.
(E) definir que a saúde e a previdência social são as políticas públicas prioritárias que devem prestar
atendimento a esse segmento populacional.
Gabarito
Comentários
01. Resposta: D
Lei 8.842/1994
Art. 4º Constituem diretrizes da política nacional do idoso:
[ ]
V - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na
prestação de serviços;
02. Resposta: A
Art. 3° A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios:
[ ]
III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
03. Resposta: A
Lei 8.842/1994
Art. 3° A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios:
( )
II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de
conhecimento e informação para todos.
04. Resposta: C
Lei 8.842/1994
Art. 1º A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando
condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
A violência assim como a política, institui seus sentidos através da relação entre os homens. Entretanto
ela é o avesso da política, pois em sua instituição ela nega o diálogo e a palavra. Paradoxalmente, a
violência é construída na sociedade e se processa de forma a romper com os próprios códigos de ordens
produzidos por ela. A violência emerge como uma agressão ao indivíduo e ao coletivo.
A definição de violência é ampla e polissêmica. A palavra violentia é oriunda do século XIII, mesmo
sabendo que ela enquanto ação existe antes disto, foi derivada do latim vis, designando a “força” ou o
“vigor”, e seu uso pode definir uma relação de força, submissão e constrangimento a outrem, se
expressando de forma material ou imaterial.
Violência vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo
violare significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos devem ser referidos a vis, que quer
dizer força, vigor, potência violência, emprego de força física, mas também quantidade, abundância,
essência ou caráter essencial de alguma coisa.
13
Soares, A. M de C. Construção social da violência e a negação da civilidade. Latitude, Vol. 8, 2014.
A criação de mediações que limitassem o ímpeto do homem no estado da natureza induziu à formação
de um contrato social como instrumento regulatório dos interesses distintos entre indivíduos, que, para
Rousseau, representa um pacto de direito político em que prevaleceria a soberania da sociedade e a
vontade coletiva representada pelo Estado Civil, distante do interesse singular e organizado para garantir
o interesse de todos. Tal evolução levaria o comportamento humano a substituir a conduta do “instinto”
por condutas de justiça, que recusa a violência no convívio humano. A formação desse pacto social
implicou a organização da sociedade civil como uma arena de ações coletivas, organizadas por
instituições criadas em torno de interesses e propósitos coletivos. A sociedade civil passaria a sistematizar
e fiscalizar as formas contratuais de governo, baseada na regra da lei, através da demarcação e de
regulamentações para a organização social, em que os direitos e deveres se estabeleceriam como
diretrizes para o controle e o ordenamento social.
O controle do Estado e a organização da sociedade civil exerceriam um pacto de sujeição do indivíduo
a soberania estatal, não permitindo a violência “natural”. O Estado Civil seria a instituição responsável
pelo controle da violência, e só ele, em nome do bem-estar coletivo, poderia exercer a violência legítima.
No pensamento liberal, o contrato estatal implicaria o surgimento simultâneo da sociedade política e da
sociedade civil. Para Gramsci, o conceito de sociedade civil é inseparável da luta entre as classes sociais,
e sua construção integra sua mais densa reflexão sobre o “Estado ampliado”. Na concepção gramsciana,
não há oposição entre sociedade civil e Estado; há uma relação de extensão e ajustamentos.
Conforme Gramsci, a sociedade política se elabora no seu sentido estrito. Através da coerção estatal
ela é produzida por um conjunto de aparelhos nos quais a classe dominante detém e exerce o “monopólio
legal” – aparelhos coercitivos ligados às forças armadas e à polícia. Corresponde a uma dimensão
A violência, ancorada nas relações sociais e nas tramas intersubjetivas, é um conceito amplo, transitivo
e recorrente das circunstâncias individuais e sociais. Como reflexo do ambiente cultural e histórico, a
análise da violência está também associada a outros conceitos sociais da ordem, como o poder, a força
e a potência, que convergem para o entendimento de ações e de comportamentos humanos que desafiam
o institucionalizado, o moral e o ético. A associação destes conceitos com a finalidade de problematizar
o entendimento da violência. Nesta direção, é fundamental para a compreensão de poder, força e potência
o uso das noções conceituais referenciadas principalmente nos trabalhos de Arendt, Foucault e Agamben,
no que se refere ao conceito de violência e seus desdobramentos. As tentativas de interpretação
conceitual dessa noção são sempre marcadas pela diversidade de práticas e ações caracterizadas por
contextos específicos. Portanto, a violência é um fenômeno social e culturalmente constituído ao longo
do processo civilizatório de uma sociedade, não é recente e sua incidência progressiva na
contemporaneidade induz a questionamentos que buscam explicitar as formas concretas como se
manifesta o fenômeno.
A noção de violência é, portanto, relativa, plural e contingente às circunstâncias históricas de sua
manifestação; e é muitas vezes difusa, o que dificulta a sua definição. Manifestada historicamente em
contextos de incivilidade, descivilidade, agressividade e em tantas outras situações de constrangimento,
a violência atualmente aparece naturalizada na própria sociedade civil, quando os atos violentos não são
mais “exceções”, mas manifestações práticas do cotidiano das pessoas, que normalizam gradativamente
a ação violenta. Foucault analisa o processo de normalização da violência, não por ser oficial ou legal,
mas por ser utilizada como meio de manutenção de relações de poder na dinâmica social.
O processo de normalização incorpora distorcidamente a violência no âmbito das instituições sociais
como uma conduta corriqueira e “aceitável”, o que supõe que a apreensão do sentido da norma implícita
“às situações de violência” resulte das formas concretas como os indivíduos agem, em situações
específicas, explicitando regras de poder (implícitas ou explícitas), de forma a compreender o fenômeno
do ponto de vida das mudanças da ordem social e suas formas de reprodução.
Como uma prática contraditoriamente humana, a violência revela-se desqualificadora das formas de
racionalização da vida social. A violência resulta, consciente ou inconscientemente, de dispositivos sociais
e convenções sociais construídas, que criam necessidades materiais e imateriais, as quais, quando não
alcançadas, geram conflitos, tensões e frustrações que potencializam a reprodução da violência,
manifestando-se na forma de condutas desviantes que dilaceram a moral, os valores e corroem as
relações de sociabilidade.
Como manifestação e objetivação contraditória de construção/ desconstrução de relações sociais, o
fenômeno da violência é influenciado pela mediação de aparelhos culturais, econômicos e políticos que
atuam sobre a conduta humana e sobre a ordem social expressa em um campo de disputa, marcado por
“relações de poder que influenciam comportamentos e permeiam as interações entre os grupos e as
classes”. Ainda segundo este autor, numa sociedade caracterizada por campos de disputa, a violência é
percebida como um meio de adulterar a ordem vigente e produzir mecanismos de controle alternativos
para impor sua força que desagrega e agrega, desconstrói e constrói novas ordens e representações
sociais. E nesse jogo social, empodera ou vulnerabiliza indivíduos, fortalece ou dissolve grupos.
A violência, na perspectiva de Foucault, se produz na dinâmica dos jogos de poder e se mostra cada
vez mais difusa na sociedade, envolvendo cada vez mais um número maior de pessoas, estruturando-se
cada vez mais em terrenos incertos da vida social e transitando entre fronteiras do legal e ilegal, lícito e
ilícito, formal e informal, ampliando a gravidade de dramas sociais como a exclusão social, a segregação
urbana, a pobreza e a vulnerabilidade social.
Associada ao funcionamento das redes de poder, a violência mostra-se presente na construção da
própria sociedade e na construção das relações interpessoais, institucionais, entre as individuais e as
coletivas. A sociedade se estrutura com base em relações econômicas e relações de reprodução cultural
que, por sua vez, expressam relações de poder. Conforme indica Foucault, as relações de poder são
constitutivas da sociedade e estão presentes nas relações humanas, nas contradições de classes, de
sexo, de gênero, de etnia, nas interações simbólicas, culturais, institucionais, profissionais e afetivas. O
Como categorias complexas que indicam fenômenos manifestos na sociedade, a “violência” e o “crime”
não podem ser assimilados em uma mesma matriz conceitual, nem compreendidos em definições
estanques. Como explicita Maria Stela Grossi Porto, com as constantes definições e redefinições do
espaço sociocultural, a própria nomenclatura da violência e do crime segue os contornos de uma
sociedade flexível e mutante. Para ser compreendida é necessário a percebermos como uma ação difusa,
como sugere José Vicente Tavares dos Santos, que propõem o esboço do que ele chama de “sociologia
da conflitualidade”, um paradigma explicativo que busca compreender as práticas sociais consideradas
violentas próprias da sociedade contemporânea – violência política, violência costumeira, violência de
gênero, e um conjunto de outras violências que para este autor, revelam dilemas da sedimentação de um
controle social, informal e formal que tem como fator desencadeante a violência difusa na sociedade
contemporânea.
O debate sobre a violência e a criminalidade mobilizou nos últimos anos uma série de estudos e
pesquisas nacionais e internacionais que visam buscar o entendimento deste fenômeno social, que
instaura um campo de análise problemático e conflitivo, envolvendo diferentes categorias sociológicas,
atores sociais e responsabilidades públicas. Condição que coloca o tema da violência como um problema
da ordem pública, no caso particular do Brasil, a violência encontra-se situada na história particular da
formação política do País. Sérgio Adorno defende que a violência no Brasil constituiu-se como um
fenômeno determinado sócio-historicamente e está associado à crise do sistema de segurança pública,
ao crescimento das injustiças sociais e ao esvaziamento dos direitos. Em uma perspectiva similar à de
Arendt, os trabalhos de autores brasileiros como Alba Zaluar e Vera Telles apontam que a violência
danifica o projeto humano, pois nega o uso da argumentação como possibilidade de entendimento e de
exercício político de sociabilidade.
Segundo Misse, a temática da “violência” e as referências ao “mundo do crime” emergiram, portanto,
numa série de estudos dos últimos anos, como questões vinculadas estreitamente aos deslocamentos
recentes operados nas esferas estruturantes da vida popular que, antes de mais nada, colocavam em
questão a promessa de contrapartida social do assalariamento industrial, “potencializados pela
globalização”. A violência e o crime como fenômenos sociais instituem uma “sociabilidade violenta” na
forma como formulada por Machado da Silva e Misse, que destacam que ela se manifesta na sociedade
brasileira e se insere nos diversos espaços da vida cotidiana como práticas agressivas e hostis que
anunciam novas formas de sociabilidades, marcadas pela insegurança e pelo medo. Para Ruth
Vasconcelos e Elaine Pimentel, a compreensão da violência se articula também com dimensões sócio
históricas, nos Estados do nordeste brasileiro, por exemplo, não podendo ser descartado do estudo da
violência, os ranços ainda existentes do autoritarismo e do coronelismo, condições que põem a violência
e a criminalidade como fenômeno social e cultural, que tem expressão difusa e fragmentada como um
mosaico.
O fato é que violência e crime não são sinônimos, uma vez que os atos violentos e criminais podem
estar contidos na mesma ação ou não. Há atos de violência que não se configuram em crimes, mas todos
os crimes se configuram em violência, tendo em vista que o crime em si é uma violência enquadrada e
reprimida pela lei. Enquanto a violência se refere ao constrangimento físico ou moral, a criminalidade é a
expressão dada ao conjunto de infrações que são produzidas em um tempo e lugar determinado,
constituindo-se em uma transgressão da lei e da norma, uma desobediência à imposição da regra jurídica.
O crime é o resultado da violência, e esta é um fenômeno histórico-social, podendo estar presente em
todas as práticas sociais, enquanto o crime é um fenômeno jurídico. Conforme Feltran (2008), a noção
de criminalidade violenta indica o conjunto de atos ilegais e ilícitos nos quais se utiliza da força de coerção
(violenta) ou da ameaça de sua utilização.
A representação da violência e do crime em uma sociedade não se situa apenas no âmbito jurídico-
legal, mas é também social e se associa diretamente às formas de controle exercidas pelo Estado em
relação ao ato e o que ele representa para a sociedade. Cada sociedade define nas convenções legais
de seu país o que é considerado crime. Para Émile Durkheim, a existência do crime é um fato social
normal, embora sempre abominável, e logo punível à incidência do ato criminal.
O crime não se produz só na maior parte das sociedades desta ou daquela espécie, mas em todas as
sociedades, qualquer que seja o tipo destas. Não há nenhuma em que não haja criminalidade. Muda de
forma, os atos assim classificados não são os mesmos em todo o lado; mas em todo o lado e em todos
os tempos existiram homens que se conduziram de tal modo que a repressão penal se abateu sobre eles.
Os atos criminosos e violentos estão presentes nas relações humanas nos mais remotos e
diferenciados momentos históricos. Entretanto, os sentidos desses atos se encontram presentes nas
interpretações dos efeitos que eles causam no indivíduo e na sociedade, já que os atos estão
O conceito de violência intrafamiliar inclui toda e qualquer forma de agressão causada entre pessoas
que tenham vínculos familiares ou afetivos entre si e, também, vínculos decorrentes da convivência
próxima. A violência intrafamiliar pode ser praticada contra o gênero feminino e masculino. É um tipo de
violência que ocorre dentro de casa, nas relações entre as pessoas da família, entre homens e mulheres,
pais, mães e filhos, entre jovens e idosos, além de eventuais cuidadores que podem estabelecer, mesmo
que momentaneamente, um vínculo doméstico.
Exemplo de definição para este conceito, dado por Machado e Gonçalves (2003): qualquer ato,
conduta ou omissão que sirva para infligir, deliberadamente e com intensidade, sofrimentos físicos,
sexuais, mentais ou econômicos, de modo direto ou indireto (por meio de ameaças, enganos, coação ou
qualquer outro meio) a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico privado (crianças,
jovens, mulheres, homens ou idosos) ou que, não habitando no mesmo agregado doméstico privado que
o agente da violência seja cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital.
Esta definição implica a referência a vários crimes: violência doméstica, ameaça, coação, difamação,
injúria, subtração de menor, violação de obrigação de alimentos, abuso sexual, homicídio e outros.
- Violência física
Violência física é entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal, como
por exemplo, lesões corporais e tortura. É o uso da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas
evidentes. São comuns “murros” e “tapas”, agressões com diversos objetos e queimaduras por objetos
ou líquidos quentes.
- Violência psicológica
Violência psicológica consiste na conduta que cause dano emocional, diminuição da autoestima,
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar ações,
comportamentos, crenças e decisões. São exemplos de violência psicológica: ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo
à saúde psicológica e à autodeterminação.
A violência psicológica ou “agressão emocional”, às vezes tão ou mais prejudicial que a física, é
caracterizada por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas.
Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente pode causar
cicatrizes permanentes para toda a vida.
- Violência verbal
A violência verbal normalmente se dá concomitante à violência psicológica, sendo considerada um
subtítulo daquela. Alguns agressores verbais dirigem sua “artilharia” (xingamentos, palavrões, ofensas)
contra outros membros da família, inclusive nos momentos em que estes estão na presença de outras
pessoas estranhas ao lar.
- Violência sexual
A violência sexual é entendida como qualquer conduta que constranja a vítima a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força;
que induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sexualidade; que impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais
e reprodutivos. Exemplos: estupro e exploração sexual comercial.
- Violência patrimonial
A violência patrimonial é entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos da vítima, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
- Violência moral
A violência moral é aquela entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria. Também se dá de forma verbal, porém, o conteúdo das ofensas se dá prioritariamente em falsas
acusações contra a vítima.
- Negligência
A negligência configura-se quando os pais ou responsáveis falham em prover cuidados de saúde,
nutrição, higiene pessoal, vestimenta, educação, habitação e sustentação emocional e, quando tal falha
não é o resultado das condições de vida além do seu controle.
Os diferentes tipos de violência intrafamiliar, em sua maioria não acontecem separadamente, estão
intrinsecamente relacionados e podem ser concretizados em um único ato de violência. Alguns tipos são
mais facilmente detectados do que outros. Contudo, as consequências de todos eles deixam marcas
muitas vezes indeléveis na vida de suas vítimas e familiares.
A violência contra a mulher é estrutural e está presente em nossa sociedade desde os primórdios da
civilização. Este tipo de violência é inerente aos sistemas patriarcal e capitalista, sendo usado como uma
ferramenta de controle da vida, corpo e sexualidade de mulheres.
A segregação das pessoas com deficiência fez parte da cultura das sociedades registradas
historicamente, o que já caracteriza a presença de cenários graves de preconceito e violência contra esse
segmento da população. Nos dias atuais ainda é muito difícil lidar com as minorias e com as diferenças
existentes, fazendo parte dos movimentos sociais a luta pela equidade social (garantir a igualdade de
oportunidades e direitos, mas considerando positivamente a existência das diferenças).
A falta de debate público e políticas sociais efetivas contribuem para que as pessoas com deficiência
estejam potencialmente mais expostas a situações de violência - inclusive no âmbito intrafamiliar - tendo
maior dificuldade em denunciar os abusos sofridos. Outro fator importante que devemos considerar é que,
ainda nos dias de hoje, a falta de acessibilidade provoca a perda de autonomia das pessoas com
deficiência, dificultando o rompimento com a situação de violência.
Podemos dizer que alguns fatores potencializam a vitimização da pessoa com deficiência, como a
infância, o gênero feminino e a condição de pessoa idosa, que são fatores que por si só também
caracterizam as possíveis vítimas, levando em consideração que o agressor procura estar em posição de
poder em relação ao outro (poder de autoridade, social, econômico, etc.).
A informação contribui substantivamente para o empoderamento da população, por isso, faz-se
necessário que as pessoas com deficiência e seus familiares conheçam os seus direitos e que a
Defensoria Pública participe desse processo, garantindo tanto com ações judiciais quanto
extrajudicialmente que esse público tenha direito à acessibilidade e demais direitos que compõem sua
cidadania e os protegem da violência.
A violência intrafamiliar ou doméstica contra crianças e adolescentes é uma das várias expressões da
questão social, considerada pelo Ministério da Saúde como um sério problema de saúde pública. Suas
raízes estão associadas ao contexto histórico, social, cultural, econômico e político em que se inserem
vítimas e agressores. Assim, este tipo de violência não pode ser compreendido somente como uma
questão de conflitos interpessoais entre pais e filhos.
Há alguns anos, pensava-se que a violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes era
consequência de transtornos individuais, alcoolismo, toxicomania, fragilidades socioeconômicas ou
educacionais, dentre outras de caráter individual. Contudo, segundo a literatura recente, passa a ser
compreendida como uma questão multifacetada, caracterizada principalmente por aspectos sociais e
culturais.
Tanto no Brasil como em várias partes do mundo, em diferentes culturas e classes sociais,
independente de sexo ou etnia, crianças e adolescentes são vítimas cotidianas da violência doméstica.
Os casos registrados em delegacias, conselhos tutelares, hospitais e institutos médico-legais são apenas
[...] todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou
adolescentes que - sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico a vítima - implica de um
lado, numa transgressão do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e
pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. (AZEVEDO e GUERRA, 1989).
Segundo Day et. al. (2003) a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente passam
a ser os novos paradigmas para o sistema de Justiça, para a sociedade e para o Brasil como um todo. A
nova legislação, signatária da Doutrina da Proteção Integral, reconhece direitos à criança e ao
adolescente, respeitando seu estágio de desenvolvimento. É uma das legislações mais avançadas do
mundo, que pouco a pouco começa a ser implementada.
A violência contra crianças e adolescentes apresenta-se sob diversas formas, tanto que um sintoma
ou sinal isolado não permite afirmar sua existência. Por isso, é fundamental o olhar atento e crítico dos
profissionais e da sociedade frente aos problemas identificados, tanto de ordem física, sexual como
emocional - procurando a sua correlação com o relato da possível vítima, dos familiares ou pessoas de
sua convivência.
O número de idosos no Brasil está cada vez maior, mas algumas instituições e sujeitos ainda estão
despreparados para lidar com questões próprias do envelhecimento, assim como condições psicológicas
e sociais, o que contribui para o crescimento da violência contra idosos.
Fatores sociais como isolamento, casas de longa permanência, empobrecimento da população,
dificuldades dos cuidadores ou dependência financeira dos membros da família, ampliam a possibilidade
de ocorrência de violência, uma vez que torna o idoso mais vulnerável.
Em relação aos aspectos legais, a Constituição Federal impede qualquer forma de discriminação por
idade e atribui à família, a sociedade e ao Estado o dever de amparar o idoso, assegurar sua participação
na comunidade, defender sua cidadania e bem-estar e garantir seu direito à vida. Além disso, o crime
cometido contra idosos é agravante da pena nos delitos previstos pelo Código Penal.
O Estatuto do Idoso transforma em lei o que deveria ser obrigação da sociedade. Estabelece que, ao
chegar aos 60 anos, todos têm o direito de envelhecer com dignidade, e tanto o Estado, como a sociedade
e a família têm obrigação de assegurar aos idosos do país liberdade e respeito, como pessoas humanas
e sujeitos de direitos civis, políticos, individuais e sociais garantidos pela Constituição.
A maioria dos agressores de idosos é um familiar ou algum conhecido. Uma das queixas mais
registradas é a violência patrimonial, que decorre da apropriação indevida dos bens do idoso através do
uso da violência. Os idosos acabam permitindo que os agressores se apropriem de seus bens, pelo medo
da solidão, da vida muitas vezes vulnerável em casas de longa permanência e clínicas geriátricas.
Os idosos maltratados, sendo mais vulneráveis que as demais faixas etárias, encontram-se muitas
vezes inseguros e fragilizados e, por essa razão não procuram em primeira instância os serviços
especializados. Sem o apoio de familiares e sem amizades, torna-se difícil e constrangedor procurar,
sozinho, os serviços de segurança pública especializados.
Alguns idosos são, ainda, destituídos do poder de decisão, privados de ocupar um espaço físico
próprio, do direito de escolha, da liberdade de expressão e do direito de envelhecer com saúde e plenitude
de cidadania.
A presença ativa na vida social deve ser valorizada e estimulada junto aos idosos, mediante formas
de convívio e expressão, em centros de comunidade, clubes de convivência, associações culturais, de
lazer e esportivas, atividades de recuperação da história e habilidades de uma comunidade, valorizando-
se a transmissão aos mais jovens de suas experiências e histórias de vida.
Para isso a rede de atendimento à pessoa idosa é fundamental e precisa estar articulada numa
diversidade de serviços, como a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio
do idoso.
Quando recebemos uma pessoa tentando romper o ciclo de violência, cabe a nós participar desse
processo, realizando um atendimento de qualidade e comprometimento diante da sua situação.
Algumas vezes vamos perceber que uma pessoa pode dar início a um processo judicial para se
desvincular da situação de violência, mas que tempos depois, desiste de levá-lo adiante. Esta situação é
comum nos casos que envolvem violência e laços afetivos, sendo caracterizada, segundo estudos
científicos, como um momento do perverso ciclo da violência.
Nas situações de violência intrafamiliar, devemos estar atentos para não fazer julgamentos baseados
no senso comum, mas sim colaborar no processo de fortalecimento de cidadania da vítima para que se
consiga estabelecer um cotidiano sem violência.
A vítima da violência intrafamiliar muitas vezes é conduzida a acreditar que é ela mesma a responsável
pela violência sofrida, o que contribui para a construção de sentimentos de vergonha e culpa. Neste
sentido, um atendimento inadequado pode colaborar para que esses sentimentos e condições éticas se
cristalizem, colocando mais obstáculos para o rompimento do ciclo de violência. Num atendimento a uma
vítima de violência, seja ela qual for, é importante, antes de tudo, que se constitua um ambiente sigiloso
e acolhedor, que poderá indicar à vítima o respaldo à sua necessidade, sem julgamento, e sem que ela
se sinta o “assunto do dia” na instituição.
Portanto, o atendimento deve ser realizado em um local que garanta o sigilo das informações que
estão sendo reveladas, cumprindo o princípio da Psicologia e do Serviço Social no Art. 1, Item IX, da
Deliberação CSDP 187, de 12/08/2010, bem como dos respectivos códigos de ética profissionais e
resoluções dos conselhos federais de profissão.
A violência intrafamiliar é constantemente tratada como assunto da esfera privada das relações sociais,
cabendo exclusivamente à vítima se desvencilhar dessa situação. Porém, é responsabilidade também da
sociedade e do Estado trazer essa temática ao campo público para garantirmos que todo cidadão tenha
o direito a uma vida sem violência.
- Casa Abrigo
O que é? As Casas Abrigo oferecem atendimento temporário para mulheres em risco de morte. Os
endereços são sigilosos para garantir a segurança e integridade física da mulher.
O que oferece? Assistência integral à mulher que tenha necessidade de acolhimento residencial, em
virtude de risco de morte.
- Conselho Tutelar
O que é? Órgão encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.
O que oferece? Acolhimento e averiguação de denúncias, aplicação de medidas de proteção a
crianças e adolescentes e medidas aos pais, requisição de serviços públicos
- Delegacia Especializada
O que é? Delegacia especializada no atendimento a criança e adolescentes que sofreram violência.
O que oferece? Registro de denúncias (ocorrências), investigação criminal, encaminhamento para
outros órgãos de proteção.
- Disque 100
Violência contra pessoas com deficiência
- Delegacia de Polícia
O que é? Atendimento a cidadãos vítimas de violência.
O que oferece? Registro de denúncias (ocorrências), investigação criminal, encaminhamento para
outros órgãos de proteção.
- Delegacia Especializada
O que é? Delegacia especializada no atendimento a idosos vítimas de violência.
O que oferece? Registro de denúncias (ocorrências), investigação criminal, solicitação de medidas
protetivas ao juízo competente, encaminhamento para outros órgãos de proteção.
Referência:
Autor: Marco Antônio de Oliveira Branco
Organização: Assessoria Técnica Psicossocial e Comissão de Estudos Interdisciplinares
Revisão: Assessorias Criminal e Cível
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/documentos/cam/Violencia.pdf
Questões
Gabarito
01.A / 02.Errado
Comentários
01. Resposta: A
Violência vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo
violare significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos devem ser referidos a vis, que quer
dizer força, vigor, potência violência, emprego de força física, mas também quantidade, abundância,
essência ou caráter essencial de alguma coisa.
Ao todo, podemos dizer que a mediação de conflitos tem quatro principais objetivos: a solução de
conflitos, a prevenção de conflitos, a inclusão social e a paz social. Vejamos abaixo com mais detalhes
cada um dos objetivos:
14
http://revistauniversitas.inf.br/index.php/UNIVERSITAS/article/viewFile/16/2
A prevenção de conflitos
Durante o processo de mediação, tanto o mediador quanto as pessoas envolvidas devem se
aprofundar no problema existente, de forma a buscar uma solução definitiva – ou seja, que não deixe o
problema “voltar” no futuro.
Através dessa colaboração, as pessoas já criam as condições para evitar futuros conflitos. A mediação,
nesse sentido, é transformadora, pois cria uma relação que vai além do acordo que resolveu o problema
original: essa relação de respeito entre partes envolvidas já é o primeiro passo para resolver qualquer
conflito de forma pacífica.
A inclusão social
Através do processo de mediação, as pessoas criam uma consciência maior dos seus direitos e
deveres, possibilitando uma reflexão profunda sobre as questões sociais.
Nesse processo, as pessoas percebem que, independente da classe social, todo mundo possui
direitos, e que todos podem colaborar para escolher o melhor caminho a ser tomado.
A mediação estimula as pessoas a resolver os seus próprios conflitos. Isso faz com que cada indivíduo
conheça melhor os seus direitos e deveres; e como o diálogo pode levar a uma solução de seus
problemas de modo que todos podem sair ganhando. Esse processo ajuda na inclusão social de todos,
ao perceberem o papel importante que têm na luta para fazer valer os seus próprios direitos.
A paz social
Ao conseguir uma solução pacífica para os conflitos, a mediação também previne a violência e pacifica
a sociedade. Através do diálogo, as partes envolvidas em um conflito evitam partir para a violência física
ou moral.
A mediação é um processo que se alicerça, principalmente, na solidariedade, ajuda as pessoas a
buscar os interesses em comum, a não prejudicar um ao outro, e tudo isso ajuda a criar uma cultura de
paz social.
A mediação de conflitos é geralmente definida como a interferência consentida de uma terceira parte
em uma negociação ou em um conflito instalado, com poder de decisão limitado, cujo objetivo é conduzir
o processo em direção a um acordo satisfatório, construído voluntariamente pelas partes, e, portanto
mutuamente aceitável com relação às questões em disputa.
Para mediar um conflito, é importante observar alguns princípios, ou condições. Se ignorarmos estes
princípios básicos, a mediação de conflito tem poucas chances de funcionar corretamente.
- Não-competitividade
Como dissemos antes, a mediação não é uma competição. Por isso, o conflito deve ser tratado de
maneira positiva e colaborativa. Nessa lógica, a mediação não busca criar um “vencedor” para o conflito,
mas sim uma forma de resolver o problema de forma satisfatória para todos, de forma pacífica.
- Competência do mediador
A pessoa tem que ter capacidade para resolver a controvérsia. O mediador tem que ter qualificações
mínimas para dar andamento no processo de mediação.
A pessoa que for mediar tem que ter cuidado e prudência, assegurando sempre a qualidade do
processo para obter com sucesso a solução do conflito.
Cada mediador atua como um diretor de cinema ou um maestro de orquestra, conforme salienta Jean-
François Six, quer dizer, são responsáveis pela condução do processo, mas “não tomam o lugar dos
atores ou dos músicos, a quem compreendem, infundem confiança, insuflam ritmo, trazem uma espécie
de energia suplementar e impulsionam a dar todo o seu talento. Mas ao final das contas, diretor e maestro
são tidos como os primeiros responsáveis pela obra produzida”.
- Informalidade do processo
Na mediação, não existem regras rígidas onde o processo se baseia; não existe uma forma
predeterminada. Neste método, não são seguidas as regras do Direito: existe um código de ética que
pode ser seguido, mas isso não é obrigatório, pois no Brasil não existe uma legislação que regule o
processo da mediação. Isso não significa que o compromisso assumido no processo de mediação não
tenha validade. As pessoas que participam de um processo de mediação se comprometem umas com as
outras, e elas mesmas são responsáveis pelo cumprimento de seus compromissos.
- Confidencialidade no processo
O processo de mediação é confidencial. O mediador deve manter o sigilo do que foi discutido entre as
partes, ou seja, não pode divulgar as informações discutidas durante a mediação, nem antes, durante ou
depois do processo. A confiança dos mediados no mediador também surge quando este mostra estar
comprometido com o sigilo da mediação. A juíza Ellen Gracie Northfleet, do Supremo Tribunal Federal,
afirma que:
“O clima de informalidade e confidencialidade das sessões favorecem o esclarecimento de situações
que talvez não aflorassem na sala das audiências. O diálogo que se estabelece entre as partes é mais
verdadeiro porque envolve a inteireza de suas razões e não apenas aquelas que poderiam ser deduzidas
com forma e figura de juízo”.
- Soluções ganha-ganha
A mediação de conflitos, como já foi enfatizado aqui, não é competitiva – ou seja, não segue à lógica
de que tem que haver um vencedor, e os outros são perdedores. O processo de mediação é busca para
que todos os lados saiam ganhando. Por isso, a mediação é uma solução do tipo “ganha-ganha”. As
soluções do tipo ganha-ganha caracterizam-se por atender, ao mesmo tempo, as exigências do eu
(assertividade) e do outro (compreensão). O que pede, por um lado, um autoconhecimento e um autêntico
conhecimento e escuta do outro. Muitas vezes, NÓS é que projetamos em outros as nossas próprias
sombras, criando e inventando inimigos.
15
http://formacaoredefale.pbworks.com/f/SEDH_Media%C3%A7%C3%A3o+de+Conflito_M%C3%B3dulo+8.pdf
Recepção
Receba gentilmente as pessoas e, antes de começar, peça que elas concordem com as seguintes
regras:
• Tentar solucionar o problema de forma pacífica;
• Não ofender verbalmente o outro;
• Não interromper, cada parte terá o mesmo tempo para falar;
• Guardar segredo.
Mensagens-Eu
Nesta primeira parte do processo de mediação, as “mensagens-eu” são uma forma simples de dizer o
que cada uma das pessoas envolvidas está sentindo. As “mensagens-eu” ajudam a sensibilizar as
pessoas a compreender “o outro lado”, o ponto de vista da outra pessoa, e a abrir o diálogo.
Mensagens-eu são formas de expressar os sentimentos que temos nas situações de conflito, de uma
forma não-acusatória. O contrário das mensagens-eu são as “mensagens- você”, quando nós
praticamente começamos a “acusar” injustamente as outras pessoas.
Exemplos de “Mensagens-Eu”:
• “Eu estou zangado”;
• “Estou chateado, porque você pegou meu material”;
• “Fiquei ofendido porque você me xingou”.
Exemplos de “Mensagens-Você”:
• “Você é um chato.”;
• “Você é um miserável!”;
• “Você me irrita.”
Observe que se trata, portanto, de ajudar as pessoas a se expressarem melhor, de maneira mais
construtiva. As mensagens-eu caracterizam-se, geralmente, por três fases de intervenção, a saber:
a) expressão do sentimento: eu sinto...
b) a justificativa: porque...
c) um apelo à solução: que tal se...
Procurando soluções
• Pergunte à primeira pessoa: O que você poderia ter feito de forma diferente? Parafraseie.
• Pergunte à segunda pessoa: O que você poderia ter feito de forma diferente? Parafraseie.
• Pergunte à primeira pessoa: O que você pode fazer aqui e agora para ajudar a solucionar o problema?
Parafraseie.
• Pergunte à segunda pessoa: O que você pode fazer aqui e agora para ajudar a solucionar o
problema? Parafraseie.
Para mediar conflitos, devemos ter alguns cuidados e precauções em relação às atitudes que podemos
tomar. A seguir, oferecemos algumas sugestões:
- Novo olhar para a situação negativa: O conflito também pode ser uma oportunidade de
transformação. O mediador deve fazer com que as pessoas deixem de olhar apenas o lado negativo do
conflito, e evitar que a conversa tome “outros rumos” e saia do foco – que é a solução do conflito através
do diálogo e cooperação;
- Empoderamento e igualdade: O mediador deve estar sempre atento para manter uma igualdade entre
as pessoas, pois em algumas mediações uma das partes pode querer ficar mais forte do que a outra. Ao
perceber este tipo de situação, o mediador pode interromper a mediação e conversar individualmente
com as partes, não para intimidar as partes, mas para manter o equilíbrio em situações difíceis;
- Conhecimento do conflito: Na situação conflituosa, o mediador deve conhecer bem as posições e os
interesses de cada parte envolvida.
- Influência de terceiros: Às vezes, o conflito envolve não somente as pessoas envolvidas na mediação,
mas também pessoas que vivenciaram a situação e que podem de certa forma influenciar na solução do
conflito. Na mediação comunitária, é comum a presença de um terceiro que nem sempre participou de
alguma situação em torno do conflito, mas que perante as pessoas da comunidade exerce uma certa
“influência” (líder religioso, membro de associação de bairro, agente comunitário e outros), seja para
trabalhar como mediador ou conciliador.
O papel do mediador
O mediador tem papel fundamental no processo de mediação, pois ele é quem atua como o interlocutor
das partes que querem resolver os seus conflitos. A pessoa que procura mediar conflitos tem que ter
alguns requisitos tais como: ter respeito pela comunidade em que vai agir; deve conhecer bem essa
comunidade; ser uma pessoa responsável, e procurar formação permanente, estudando e pesquisando,
sempre que necessário, a respeito de novas informações. Só assim poderá aperfeiçoar a sua prática.
Listamos a seguir os princípios básicos que todo o mediador deverá perseguir em suas práticas
cotidianas:
É inevitável que o mediador desempenhe a função de líder entre as partes que participam da mediação,
pois ele tem a função de facilitar o processo através do diálogo. Porém, é importante lembrar sempre que
o mediador, se não for um profissional especializado, no âmbito de suas funções pode ser uma pessoa
comum, que ajuda as pessoas envolvidas em conflito a dialogar. Ela vai ajudar estas pessoas a
procurarem uma solução para o conflito que estão enfrentando, de forma cooperativa e pacífica.
Como vimos, a mediação é um instrumento para a resolução de conflitos. Apesar de ser uma prática
muito antiga, documentada por antropólogos como presente em todas as culturas e religiões, só
recentemente surgiu como alternativa válida no Brasil.
A mediação é um procedimento de alcance mais profundo, utilizada quando os conflitos são antigos e
crônicos e as relações têm alguma permanência no tempo ou são relações que as partes têm interesse
em manter futuramente como, por exemplo, sociedades, vizinhança, trabalhistas, religiosos, familiares.
Tem por objetivo levar as partes a uma solução do conflito que deverá resultar em um acordo que poderá
ser homologado em qualquer fase do processo judicial.
A prática da mediação se mostra mais eficaz no campo das relações familiares, de acordo com
Barbosa, “[...] é a metodologia da tática e estratégia em que a escuta entra como atividade profissional,
altamente qualificada, permitindo decodificar, imaginar e concretizar. Trata-se de uma escuta dinâmica,
que dá sentido ao silêncio, que percebe as mensagens não verbais”.
Através da prática da mediação, poderemos chegar ao estágio em que os processos de família deixem
de ser analisados pelo Judiciário como meras abstrações jurídicas. Os protagonistas das demandas
judiciais são pessoas com histórias e querem uma resposta qualitativa para seu litígio. De acordo com
Rosa:17
[...] a mediação é um processo confidencial que estabelece uma negociação conduzida pelo mediador,
que por sua vez levará os participantes da sessão de mediação a construírem um acordo, mutuamente
aceito, de forma que permita aos envolvidos no conflito dar continuidade a um tipo de relacionamento que
seja construtivo [...]
O mediador deve ser aquele capaz de gerenciar os conflitos visando à satisfação das partes
envolvidas. Por essa razão, é de grande importância a capacitação para tal exercício e a postura ética.
De acordo com Azevedo:18
[...] No exercício dessa importante função, ele [o mediador] deve agir com imparcialidade e ressaltar
às partes que ele não defenderá nenhuma delas em detrimento da outra, pois não está ali para julgá-las
e sim para auxiliá-las a melhor entender suas perspectivas, interesses e necessidades. O mediador, uma
vez adotada a confidencialidade, deve enfatizar que tudo que for dito a ele não será compartilhado com
mais ninguém [...].
O perfil do mediador, segundo Fiorelli, é o de uma pessoa que tenha formação superior, competência
interpessoal, conhecimentos mínimos de direito, sintonia cultural, imagem pública, paciência,
autoconfiança, liderança, um agente que facilita o diálogo. Durante a sessão de mediação deverá acolher,
informar, esclarecer, administrar a participação das partes e desenvolver soluções de forma cooperada.
Os princípios éticos da mediação e do Serviço Social são muito próximos, pois são pautados no
respeito à dignidade do indivíduo, e, quanto aos saberes, “[...] deve privilegiar os conhecimentos do saber
das áreas humanas”.
Com vista a essas requisições, o profissional Assistente Social tem sido chamado, assim como
psicólogos, sociólogos e outros profissionais, a participar de sessões de mediação como mediador ou
comediador na atuação social:
[...] esses espaços sócio ocupacionais, que podem ser vinculados conforme tem sido denominado no
âmbito do Serviço Social, a presença do assistente social em equipes que prestam assistência à
população vem se mostrando fundamental. Sua participação tem sido chamada para diversas ações,
desde a identificação das demandas e articulações com a rede social, até como responsável pela
organização e desenvolvimento de trabalhos voltados para a mediação, conciliação e resolução de litígios
no âmbito judicial e extrajudicial.
De acordo com Gajardoni, é fundamental a participação de assistentes sociais e psicólogos: “esses
profissionais, em razão do caráter de seu trabalho, têm extrema capacidade de lidar com assuntos
delicados como os tratados nesse circuito”.
16
Texto adaptado de BATISTA, M.; MARTINS, E. M. G.; CAMOLESI, A. B. A Atuação do Assistente Social na Mediação de Conflitos.
17
ROSA, C. P. da. A Justiça que Tarda, Falha: a Mediação como Nova Alternativa no Tratamento dos Conflitos Familiares. Revista Síntese Direito da Família.
São Paulo: Editora Síntese; 2010
18
AZEVEDO, A. G.. Manual de Mediação Judicial. Brasília/DF: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD - 2009,
246 p.
[...] Trabalhar na perspectiva da mediação familiar com foco no entendimento das relações sociais é
desafiante, requerendo do profissional que se encontra na linha de frente da intervenção habilidades que
vão além das técnicas de negociação.
Não é raro ouvir “um bom mediador é necessariamente um bom negociador”, o que pode ser bastante
questionável, pois mediar uma ação que envolve a guarda de filhos, por exemplo, requer capacidade de
percepção e conhecimento que vão muito além da arte de negociar.
Portanto, o profissional que faz uso do recurso da mediação estabeleça conexão com os determinantes
da questão social que estão postos na problemática, como também nas implicações do conflito no âmbito
familiar e até mesmo no território no qual vive a família. Tais fatores contribuem para uma escuta
humanizada, pois qualificam “qual território” e “que famílias” estão envolvidas no conflito.
Para elas, ao trabalhar com a mediação, a questão social pode ficar mascarada, uma vez que o
problema central pode ser entendido como restringindo-se à área psíquica, ou seja, individual. O
aprofundamento revela, no entanto, que tal problemática advém de uma situação de desemprego
agravada pela dificuldade de reinserção no mundo do trabalho.
Dessa maneira, o profissional assistente social, operando com a mediação de conflitos familiares,
articula as questões privadas trazidas pelo grupo familiar com o contexto social e econômico – esfera
macrossocial”, utilizando o espaço da mediação “para a defesa de direitos, defesa de acesso à
informação, à cidadania, à desburocratização da informação, buscando com os sujeitos possibilidades
para a efetivação de direitos”, através da compreensão e explicitação dos dilemas sociais vivenciados
pelas famílias.
19
FÁVERO, T.E.; MAZUELOS, E.P.Q.. Serviço Social e acesso à Justiça – reflexões com base na prática da mediação familiar. Revista Serviço Social & Saúde
9. Campinas: Unicamp, 2010, p. 39 a 68.
20
Rosenberg. Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais I Marshall B. Rosenberg ; [tradução
Mário Vilela]. -São Paulo: Ágora, 2006
Questões
01. (IFB - Assistente Social - FUNIVERSA). Com relação à mediação de conflitos, assinale a
alternativa correta.
(A) A mediação de conflitos é uma categoria ontológica.
(B) A mediação de conflitos é um processo informal em que não existe um modelo de atuação definido
com etapas, diretrizes, princípios e regras.
(C) O papel de mediador requer atributos indispensáveis como escuta e acolhimento da fala dos
mediados, imparcialidade, confidencialidade, credibilidade e diligência.
(D) Constituem regras da mediação: o respeito mútuo, a não-violência e a participação incentivada e
não-voluntária no processo de mediação.
(E) A mediação é um processo de resolução de conflitos em que uma terceira pessoa, parcial e
independente, facilita o diálogo entre as partes para que melhor entendam o conflito e procurem alcançar
soluções criativas e possíveis.
( ) Certo ( ) Errado
03. (CONDER - Assistente Social - FGV). Com relação à política de tratamento dos conflitos de
interesses, a legislação brasileira estabelece princípios para orientar a ação dos responsáveis pela
condução dos processos de mediação e conciliação.
Assinale a afirmativa que aponta uma das características desse processo.
(A) Os conciliadores podem prestar serviços profissionais privados para uma das partes envolvida no
processo de resolução de conflitos.
(B) A manutenção do sigilo no processo de conciliação e mediação pode ser revista sempre que surjam
dúvidas quanto à veracidade dos fatos.
(C) Aos mediadores e conciliadores não se coloca a exigência de capacitação periódica e continuada
pois essa atividade não requer competências específicas.
(D) A imparcialidade dos mediadores pode acontecer quando existem diferenças sociais entre os
envolvidos nos processos de resolução de conflitos.
(E) Os conciliadores podem suspender as sessões quando acharem oportuno e identificarem algumas
dificuldades durante o processo.
Gabarito
01. Resposta: C
O processo de mediação é confidencial. O mediador deve manter o sigilo do que foi discutido entre as
partes, ou seja, não pode divulgar as informações discutidas durante a mediação, nem antes, durante ou
depois do processo. A confiança dos mediados no mediador também surge quando este mostra estar
comprometido com o sigilo da mediação. A juíza Ellen Gracie Northfleet, do Supremo Tribunal Federal,
afirma que:
“O clima de informalidade e confidencialidade das sessões favorecem o esclarecimento de situações
que talvez não aflorassem na sala das audiências. O diálogo que se estabelece entre as partes é mais
verdadeiro porque envolve a inteireza de suas razões e não apenas aquelas que poderiam ser deduzidas
com forma e figura de juízo”.
03. Resposta: E
O mediador deve estar sempre atento para manter uma igualdade entre as pessoas, pois em algumas
mediações uma das partes pode querer ficar mais forte do que a outra. Ao perceber este tipo de situação,
o mediador pode interromper a mediação e conversar individualmente com as partes, não para intimidar
as partes, mas para manter o equilíbrio em situações difíceis.
Família ou famílias?21
Todos nós temos uma imagem ideal de família. Esta família ideal, descrita por Goldani, é formada por
um casal heterossexual (ou seja, por um homem e uma mulher), legalmente casados, com dois filhos (um
de cada sexo), e todos vivendo juntos e em uma casa própria. O marido tem emprego fixo e salário
suficiente para prover todas as necessidades da família, portanto ele é, neste modelo, o principal
provedor. A mulher é a dona de casa, responsável pela economia doméstica, pela organização da casa,
pelo cuidado com as crianças, os adolescentes, os idosos e os doentes. Neste contexto, quando a mulher
trabalha fora de casa, é em tempo parcial e para “ajudar” o marido. Outra alternativa para a
complementação da renda familiar é a mulher ocupar-se de alguma atividade de geração de renda
(costurar, fazer salgadinhos, doces, entre outras) na sua própria casa. Se ela trabalhar fora de casa em
tempo integral, ainda assim é esperado que ela realize as atividades domésticas perfeitamente bem, afinal
estas atividades são entendidas como próprias das mulheres. As crianças e os adolescentes frequentam
regularmente a escola e a exploração do trabalho infanto-juvenil não existe. Esta família está livre de todo
o conflito e, mais ainda, de qualquer violência entre o marido e a esposa, entre pais e filhos ou entre
irmãos. Este texto poderia ser o do último capítulo de uma novela, porque retrata uma família idealizada
como feliz!
21
Texto adaptado de MOREIRA, M. I. C. Novos rumos para o trabalho com famílias. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social do Governo do Estado
de Minas Gerais. Belo Horizonte. Dezembro 2008.
Existem muitos modelos de família que convivem no mesmo espaço social e ao mesmo tempo:
- Nuclear simples: família em que o pai e a mãe estão presentes no domicílio; além disso, todas as
crianças e os adolescentes são filhos desse mesmo pai e dessa mesma mãe. Não há mais qualquer
adulto ou criança (que não sejam filhos) morando neste domicílio.
- Monoparental feminina simples: família em que apenas a mãe está presente no domicílio vivendo
com seus filhos e, eventualmente, com outras crianças e adolescentes sob sua responsabilidade. Não há
mais nenhuma pessoa maior de 18 anos, que não seja filho, morando no domicílio.
- Monoparental masculina simples: família em que apenas o pai está presente no domicílio vivendo
com seus filhos e, eventualmente, com outras crianças e adolescentes sob sua responsabilidade. Não há
mais nenhuma pessoa maior de 18 anos, que não seja filho, morando no domicilio.
- Monoparental feminina extensa: família em que apenas a mãe está presente no domicílio vivendo
com seus filhos e ainda com outras crianças e adolescentes sob sua responsabilidade e outros adultos
sem filhos menores de 18 anos, parentes ou não.
- Monoparental masculina extensa: família em que apenas o pai está presente no domicílio vivendo
com seus filhos e ainda com outras crianças e adolescentes sob sua responsabilidade e outros adultos
sem filhos menores de 18 anos, parentes ou não.
- Nuclear extensa: família em que o pai e a mãe estão presentes no domicilio vivendo com seus filhos
e outras crianças e adolescentes sob sua responsabilidade, além de outros adultos, parentes ou não do
pai e/ou da mãe.
- Família convivente: famílias que moram juntas no mesmo domicílio, sendo ou não parentes entre
si. Cada família pode ser constituída por “pais-mãe-filhos”, por “pai-filhos”, ou por “mãe-filhos”. Outros
adultos sem filhos, parentes ou não, podem também viver no domicílio. Nessa categoria foram também
agrupadas as famílias compostas de duas ou mais gerações, desde que, em cada geração, houvesse
pelo menos uma mãe ou um pai com filhos até 18 anos.
- Família nuclear reconstituída: família em que o pai e/ou a mãe estão vivendo uma nova união, legal
ou consensualmente, podendo também a companheira ou o companheiro ter filhos com idade até 18
anos, vivendo ou não no domicílio. Outros adultos podem viver no domicílio.
- Família de genitores ausentes: família em que nem o pai nem a mãe estão presentes, mas na qual
existem outros adultos (tais como avós, tios) que são responsáveis pelos menores de 18 anos.
Funções da família
A palavra RISCO tem muitos sentidos: aventura, incerteza, imprudência, imprevidência, perigo, entre
outros. Nos jornais, a palavra RISCO muitas vezes vem acompanhada de outras: investimento de risco
(na economia); esporte de risco (o alpinista radical que escala a montanha mais alta do mundo);
comportamento de risco (na área da saúde).
O RISCO envolve dimensões negativas e positivas. Na época das chuvas, são divulgadas as
condições das áreas de RISCO de uma cidade que devem ser evitadas porque são perigosas e os
deslizamentos de terra podem causar mortes. Esta é uma dimensão negativa.
O RISCO-aventura está ligado a uma ideia de superar obstáculos e vencê-los. No esporte radical, há
risco, e vencê-los é o objetivo do esportista. O investidor de valores corre RISCO para ganhar dinheiro.
Há profissões de RISCO, como a dos bombeiros, que são muito valorizadas pela população.
A ideia do risco está relacionada ao planejamento do futuro e à invenção de meios para avaliar os
riscos, com o objetivo de preveni-los e controlar as situações que produzem riscos.
No campo das políticas públicas voltadas para as famílias e suas crianças e seus adolescentes,
encontramos frequentemente as expressões “famílias em situação de risco social” e “crianças e
adolescentes em situação de risco pessoal e social”. Qual o sentido deste RISCO?
As famílias em situação de risco pessoal e social têm sido descritas como famílias cujos membros
apresentam baixo grau de escolaridade e recursos econômicos e culturais limitados ou precários. Além
disso, os estudiosos e os trabalhadores sociais que lidam diretamente com as famílias em situação de
risco têm percebido que tais famílias mostram padrões de comunicação e de socialização difíceis em
relação às crianças, o que muitas vezes leva ao risco da violência ou da fragilização dos vínculos.
Exemplo:
Situação: a criança fora da escola.
É um problema, uma violação do direito à educação da criança, previsto no ECA.
É um risco imediato, porque, quando não está na escola, a criança pode estar na rua exposta a toda
sorte de violência, ser explorada tendo de trabalhar, seja no espaço público ou doméstico, e também é
um risco futuro, porque a baixa escolaridade vai levá-la a postos precários de trabalho, à exclusão social
e à perpetuação da pobreza.
É preciso verificar por que aquela criança está fora da escola. Esta situação pode revelar uma série
de problemas:
- não há vagas na escola?
- há vaga em uma escola muito distante de sua casa?
- a criança não foi matriculada porque não tem Certidão de Nascimento?
- a criança não frequenta a escola porque trabalha?
- a criança não frequenta a escola porque está doente?
Examinando o problema atual de cada família, encontramos a situação de risco que o gerou, assim
como o problema atual gera outros riscos futuros. A expressão círculo vicioso dá a ideia dessas relações
entre os problemas atuais e os riscos futuros.
Enfrentando os riscos
Para enfrentar os riscos, é preciso acionar a rede, estabelecer parcerias com as instituições públicas
e comunitárias, e, mais importante, considerar a potencialidade das próprias famílias. Elas precisam ser
acolhidas, pois são pontos da rede de proteção às crianças e aos adolescentes.
Ações primárias
Elas têm um caráter preventivo. Os espaços da escola, da unidade de saúde, das igrejas, dos centros
de convivência oferecem múltiplas possibilidades para os encontros entre as famílias.
- Rodas de conversação sobre temas de interesse das famílias: educação dos filhos, saúde,
sexualidade, construção de autonomia e de limites, entre tantos outros.
-Transmissão de habilidades, ou seja, encontros intergeracionais para o compartilhamento de receitas
culinárias, formas de cultivo de hortas domésticas, confecção de brinquedos, brincadeiras, artesanato.
- Exibição de filmes, seguida de debate, de compartilhamento da apreciação do filme.
- Conferências planejadas, de modo a permitir a participação de todos.
- Programas de geração de renda: inclusão dos adultos da família em cursos de capacitação para o
trabalho e em iniciativas para a geração de renda.
Estas são algumas sugestões para que as relações comunitárias, estabelecidas pelas famílias, façam
parte do cotidiano do bairro, da vila, da comunidade.
Ações secundárias
Elas têm caráter de restauração, de reparação de um dano causado nos vínculos familiares entre pais
e filhos. Podemos entender a medida socioprotetiva de acolhimento institucional de crianças e
adolescentes como uma ação secundária que visa proteger a integridade física, emocional e moral da
criança e do adolescente e estabelecer mediações com as instituições operadoras do Direito, a própria
família e a comunidade, para que a situação de violação dos direitos seja superada. Tomada
isoladamente, a medida de acolhimento é limitada e precisa estar associada a outras ações.
- Atendimento especializado para o caso de os membros da família usarem ou abusarem de drogas
lícitas ou ilícitas; e psicoterápico para a criança e o adolescente.
- Atendimento psicoterápico para a família.
Ações terciárias
Família contemporânea
A família passou por várias transformações na segunda metade do século XIX: ampliou-se a
participação das mulheres no mercado de trabalho e nas universidades, observando-se as diferenças
entre as classes sociais, pois as mulheres mais pobres, em sua grande maioria, continuavam com pouca
qualificação e baixa escolaridade.
O casamento sofreu transformações, sendo efetivado através da anuência do casal, com a livre
escolha do parceiro, e norteado principalmente pela afinidade entre o casal e por fatores afetivos e
emocionais com bases no amor romântico.
A tradicional família nuclear apresenta transformações. Além do pai, a esposa e os filhos inserem-se
no mercado de trabalho, auxiliando nas despesas e na manutenção da família, alterando padrões de
hierarquia, autoridade e sociabilidade.
Surge a família contemporânea que é construída através de uma somatória de experiências e
trajetórias particulares, manifestando-se através de arranjos familiares diferenciados e peculiares,
denotando a impossibilidade de identificá-la como um padrão familiar uniforme e ideal.
Dentre os vários arranjos familiares, podem-se citar as famílias:
-reconstituídas, que são aquelas em que, após a separação conjugal, o indivíduo constitui uma nova
família;
- constituídas através de uniões estáveis;
- monoparentais femininas;
- monoparentais masculinas;
- nas quais avós moram e cuidam de seus netos;
- unipessoais;
- formadas por uniões homossexuais;
O modelo idealizado da família nuclear burguesa ainda perpetua no imaginário do indivíduo - coletivo.
Famílias que não fazem parte desse tipo de arranjo familiar tentam ‘adaptar’ e aproximar a sua estrutura
e padrão de funcionamento ao do ‘modelo ideal’, acreditando, muitas vezes, que não constituem uma
família, ou que a sua família é ‘errada’, quando não conseguem reproduzi-lo.
No início do século XXI, percebem-se as metamorfoses nas famílias: a diminuição do número de filhos,
a redução de número de matrimônios realizados legalmente (casamento civil), o aumento de separações
e divórcios. A divisão sexual dos papéis, ou seja, as funções socialmente destinadas aos homens e
mulheres nas famílias são questionadas, não havendo mais a rígida separação dos papéis, demonstrando
uma estrutura mais aberta e flexível.
Dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - apontam outras transformações
ocorridas na família contemporânea, entre as quais podem-se citar: a redução do tamanho das famílias,
o aumento de número de famílias chefiadas por mulheres e das unidades unipessoais, entre outros.
Esses dados demonstram que a família brasileira está moldando uma nova cultura e um novo modo
de viver, que não se adequam mais aos modelos patriarcal e burguês, pois em seu tecido familiar estão
imbricados as suas próprias particularidades, peculiaridades e valores.
Outro aspecto relacionado à família é que a mesma não é estática. A família possui um ciclo vital, é
dinâmica e se apresenta de forma diferenciada de acordo com a sua evolução, ou seja: ela também
nasce, cresce, amadurece, habitualmente se reproduz em novas famílias, encerrando seu ciclo vital com
Família e Estado
A família enquanto unidade integrante da sociedade é diretamente influenciada pela situação macro
sócio-política e econômica do país. As ações estatais atingem o microssistema familiar, atuando como
fatores desagregador e propiciador de situações de vulnerabilidade, sendo que esta última está
intrinsecamente relacionada às condições econômicas das famílias, a forma de distribuição de renda no
país e ao modo de funcionamento do modelo econômico vigente - o capitalismo.
A crise do Estado-Providência, as transformações em curso no mundo do trabalho e do capitalismo,
introduzem no cenário mundial a ideologia neoliberal e a globalização, sendo esta última um processo
pelo qual se busca a união dos mercados de diversos países, através da internacionalização do capital e
da economia, objetivando o lucro rápido.
O neoliberalismo surge na década de 70, inicialmente na Inglaterra e Estados Unidos, em decorrência
das crises do petróleo e da emergência da chamada Terceira Revolução Industrial, como uma reação
conservadora à presença do Estado nas esferas social e econômica e, aos poucos, vai se estendendo
aos países de outros continentes. Na década de 80, têm-se as primeiras marcas do neoliberalismo na
América Latina: México, Argentina, Venezuela e, mais recentemente no Brasil.
Abreu afirma que o neoliberalismo é uma ideologia capitalista que defende o ajuste dos Estados
Nacionais às exigências do capital transnacionalizado, portanto contrária aos pactos que subordinam o
capital a qualquer forma de soberania popular ou instituições de interesse público.
As vertentes orientadoras do neoliberalismo são derivadas do liberalismo clássico: promoção pelo
mérito, mercado auto regulador, desconfiança à intervenção do Estado, igualdades de chance para todos
os indivíduos.
A ideologia neoliberal pressupõe que a ação espontânea do mercado deve possibilitar um equilíbrio
de condições entre os indivíduos, de tal modo que qualquer pessoa pode conseguir seus objetivos através
da livre concorrência e livre escolha.
A questão da assistência, segundo a visão neoliberal, é encarada como um dever moral, sendo
estabelecido um limite: que esta não se transforme em direito para as classes subalternas, para os
empobrecidos, miseráveis e excluídos. A política de assistência social é utilizada apenas em situações
emergenciais, visando o atendimento somente do ‘mais pobre dos pobres’, sendo que o Estado atende
apenas o que a sociedade civil, as instituições filantrópicas e o voluntarismo não atende.
Os últimos governos do Estado brasileiro, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso
foram gradativamente implementando planos de ajustes nacionais que se adequavam à ideologia
neoliberal. O atual governo, também compactua com esta ideologia.
Desse modo, no cenário nacional continua sendo implementadas ações governamentais que
submetem o Estado brasileiro à dinâmica da globalização capitalista. Abreu aponta as seguintes:
- a redução de capital público destinado as áreas de saúde, educação, transporte, entre outras,
incentivando o desenvolvimento de serviços privados nestas áreas;
- a desregulação das relações de trabalho, transferindo-as do setor público e submetendo-as às
condições da iniciativa privada;
- a privatização e transnacionalização das empresas públicas;
- a liberação do comércio com a eliminação das barreiras alfandegárias;
- a desregulamentação da entrada e saída de capitais estrangeiros.
Com essas práticas, as classes dirigentes brasileiras estão cumprindo as exigências impostas pelos
personagens que ditam os rumos da ordem mundial: o capital financeiro especulador, os grandes
banqueiros credores do Estado, o capital multinacional, organismos capitalistas internacionais e os
governos do G7 (grupo dos sete Estados mais ricos do mundo comandados pelos EUA).
A adequação dos países a uma ideologia neoliberal é condição para que o Estado continue integrado
às relações políticas e econômicas internacionais.
A entrada do neoliberalismo e da globalização no cenário mundial traz como consequências o
surgimento de expressões da questão social generalizadas, que assumem uma amplitude global e
produzem efeitos comuns nas diversas partes do mundo, tais como: desemprego estrutural, aumento da
Considerando-se a pobreza não como sinônimo de ‘insuficiência de renda’, mas como a pobreza
socioeconômica, ou seja, a pobreza material, originada historicamente do modo em que a sociedade se
organiza. É a desigualdade produzida economicamente que se “manifesta de modo quantitativo, ou seja,
na falta de renda, de emprego, de habitação, de nutrição, de saúde”. Essa pobreza atinge grande parte
do contingente populacional do país.
Na pobreza não encontramos somente o traço da destituição material, mas igualmente a marca da
segregação, que torna a pobreza produto típico da sociedade, variando seu contexto na história, mas se
reproduzindo na característica de repressão do acesso às vantagens sociais.
Esse panorama denuncia o retraimento do Estado, a ausência de políticas de proteção social as
famílias pertencentes as camadas sociais de baixa renda e as consequências no mundo do trabalho.
Nos anos 70, Castel afirma que ao trabalho está vinculada uma série de garantias, direitos e proteções
sociais, sendo atribuída estabilidade e status ao trabalhador. Há uma seguridade social interligada ao
trabalho, o aspecto dos direitos vinculados ao trabalho é que fez com que o trabalho não fosse apenas a
retribuição pontual de uma tarefa, mas que a ele fossem vinculados direitos.
Com o advento da internacionalização do mercado, da globalização e dos princípios de concorrência,
eficiência e lucratividade, o trabalho passa a ser alvo de redução de custos.
Para reduzir os custos, ocorre a flexibilização do mercado de trabalho, associada à desproteção e à
desmantelação dos direitos trabalhistas. Essa flexibilização pode ser interna, ou seja, a que impõe a
A família aparece como demanda para o Serviço Social quando ocorre algum problema ou conflito na
função social, ou seja, quando a família por um certo motivo não consegue cumprir o seu papel.
Deve-se apreender a família do ponto de vista teórico com um pensamento crítico, desvelando a
realidade, analisando as relações de totalidade e principalmente considerando as determinações
históricas, para não culpabilizá-la e nem fazer uma psicologização das questões que são sociais.
Para se ter uma visão crítica de família é preciso analisá-la como uma construção histórica, como
apontamos no segundo item deste trabalho.
A ação do Assistente Social deve ser transformadora, buscando a emancipação e o
autodesenvolvimento da família. O profissional deve atuar nas demandas, essas demandas deverão
providenciar respostas, as demandas institucionais que são demandas objetivas, imediatas, devem ser
respondidas com o desenvolvimento e a utilização de instrumentos (meios) para atingir seus objetivos,
estes instrumentos podem ser: os bens, serviços, benefícios, programas e projetos, porém o âmbito da
ação profissional deve transcender a demanda institucional, passando assim para a demanda sócio
profissional, compreender as demandas na sua totalidade, as suas contradições, a sua relação com a
sociedade e assim o Assistente Social deve articular, criar meios para que família crie condições para
cumprir a sua função social.
O Assistente Social como um profissional que tem como seu objeto de intervenção as necessidades
sociais, deve intervir nas expressões da Questão Social. Estas expressões da Questão Social rebatem
no campo de trabalho como uma consequência do sistema que fundamenta o capitalismo, aparece no
sujeito individual e/ou coletivo em situação de vulnerabilidade social e pessoal, e é no âmbito da família
que se encontram o maior número de demandas, e é nela também que deve estar a ação do Assistente
Social.
22
Texto adaptado de SILVA, J. C. M. Assistente Social.
Este profissional deve agir com sua formação embasada nas diretrizes curriculares, com seu
fundamento na teoria social crítica. O profissional deve ter um perfil teórico-crítico (tem que ter capacidade
para fazer uma leitura crítica da realidade), técnico-operativo (profissional interventivo, que tem um
arsenal de técnicas e instrumentos que possibilitam a intervenção) e ético-político (o agir tem uma
intenção, tem valores do código de ética). Tendo assim um práxis transformadora que supere o
imediatismo.
A entrevista
As entrevistas com as famílias podem ser feitas em vários momentos do processo de trabalho. Na fase
inicial, a realização da entrevista com pais, tios, avós ou responsáveis pelas crianças e pelos adolescentes
objetiva uma aproximação com a família que possibilita conhecer os modos próprios de organização da
vida cotidiana, as dificuldades vividas e as formas de enfrentamento dessas dificuldades. Podemos
também avaliar as demandas da família, suas expectativas e disponibilidades.
A entrevista é ainda uma oportunidade de percebermos o grau de conhecimento da família sobre os
equipamentos sociais e públicos disponíveis em sua comunidade, além da inclusão e frequência de seus
membros nos programas sociais oferecidos.
A entrevista é uma situação de interação entre, no mínimo, duas pessoas. É também um ótimo recurso
para resgatar a história familiar. Mas ela não deve parecer um “interrogatório policial”, e sim uma
conversação na qual o entrevistado se sinta acolhido e escutado.
Escutar é a palavra-chave na entrevista, não apenas escutar o que seu entrevistado diz com palavras,
como também com o corpo. O corpo fala!
Para escutar, é preciso uma postura de interesse pelo outro, considerar o que está sendo dito. Não é
necessário que o entrevistador fique calado o tempo todo, é possível estabelecer um diálogo.
Ambiente: imagine uma entrevista em local sem privacidade alguma, sala barulhenta ou onde algumas
pessoas transitam ou interrompem constantemente. A situação fica tensa, o entrevistado irá sentir-se
constrangido e será difícil estabelecer um laço de confiança entre o entrevistado e o entrevistador. Por
isso, é fundamental preparar o ambiente para a realização da entrevista: uma sala silenciosa onde o
entrevistado e o entrevistador tenham privacidade e não sejam interrompidos. A preparação do ambiente
revela a disposição de acolher as pessoas.
Esclarecimento: é preciso esclarecer o entrevistado quanto aos motivos e objetivos pelos quais ele foi
convidado para a entrevista. O entrevistado, seja qual for o fato que motivou a entrevista, precisa
compreender a razão de sua presença naquele lugar e se sentir à vontade para responder o que lhe for
perguntado.
Atitudes do entrevistador: o entrevistador deve ser pontual e saber o nome do entrevistado.
Todos nós gostamos quando somos chamados pelos nossos nomes, afinal este é um sinal de
reconhecimento. A postura do entrevistador é importante, ele deve procurar olhar para o entrevistado e
desta forma comunicar que está interessado na sua narrativa.
Anotações: a anotação, durante a entrevista, pode inibir o entrevistado; se for necessário anotar
alguma informação, peça-lhe licença para fazê-lo. Terminada a entrevista, tente lembrar o que foi dito e
anotar o que poderá ser útil para o acompanhamento posterior daquela família.
É possível realizar várias sessões de entrevista com a mesma família. Em alguns momentos, podemos
começar entrevistando um membro da família, aquele que demandou a entrevista ou que foi encaminhado
para ela, e depois marcar um encontro com todo o grupo familiar.
Podemos também realizar entrevistas coletivas, ou seja, com todos os membros da família ao mesmo
tempo. No caso de haver crianças pequenas, podemos deixar, na sala da entrevista, alguns brinquedos,
papel e giz de cera para que elas desenhem. Os brinquedos e o desenho são os meios de expressão das
crianças.
Para a realização de uma entrevista, é preciso ter alguns cuidados.
- Elaborar um roteiro prévio: qual o tema da entrevista e quais dados pretende-se obter.
Dramatização
É um recurso para o trabalho em grupo. Serve para esclarecer melhor um tema confuso, para
sensibilizar as pessoas a fim de que compreendam o ponto de vista do outro, as dificuldades que cada
um tem para exercer cotidianamente os seus papéis de pai, mãe, marido, esposa, filho(a), professor(a),
educador social, entre outros. A dramatização pode também ser um recurso para a problematização de
um assunto novo para o grupo.
No grupo de pais ou responsáveis pela criança e pelo adolescente, vamos escolher coletivamente um
fato para ser dramatizado e, também em conjunto, decidir a distribuição dos papéis. Este fato deve ter
sido significativo para o grupo, pode ter sido vivenciado na comunidade, na igreja, na escola, no posto de
saúde, como também ser uma notícia de jornal ou uma cena de novela.
Terminada a dramatização, o grupo é convidado a discutir a experiência. É preciso tempo e espaço
para conversar sobre o que cada um pôde pensar sobre aquele fato, o que sentiu e o que aprendeu.
Grupos de reflexão
O recurso de formar grupos com famílias para discutir problemas comuns e buscar construir soluções
tem sido bastante promissor. As pessoas se sentem encorajadas quando estão entre iguais. Perceber
que há outras pessoas com problemas semelhantes encoraja a expressão e fortalece a solidariedade
grupal.
Na primeira fase do trabalho, faremos um levantamento dos temas de interesse do grupo. É importante
que o animador não leve nada pronto, pois levantar os temas de interesse com o grupo é um meio de
responsabilizá-lo pela tarefa.
Na segunda fase, discutiremos cada tema com base na percepção e nos valores dos membros do
grupo. O grupo fará um inventário do que sabe daquele assunto e de suas fontes de informação. Para
que esse conhecimento inicial possa ser transformado, é preciso, em primeiro lugar, valorizá-lo.
Na terceira fase, levantaremos dúvidas sobre os assuntos tratados, faremos uma lista de perguntas e
planejaremos coletivamente como resolver as dúvidas. Por exemplo: a decisão pode ser convidar um
palestrante; neste caso, a lista de perguntas deverá ser encaminhada a ele para preparar seu contato
com o grupo.
Na quarta fase, o grupo fará seus comentários sobre a palestra e a avaliação dos resultados: as
dúvidas daquele tema foram esclarecidas? Qual será o próximo assunto a ser discutido?
A organização do trabalho em fases dá ao grupo a noção de continuidade e, ao mesmo tempo, de uma
tarefa que tem princípio, meio e fim.
Qual o ponto comum entre as estratégias de intervenção propostas?
A família, seja qual for sua configuração, é um grupo de sujeitos ativos, que têm problemas e
dificuldades, e também possibilidades. Vamos potencializar as possibilidades, fazer uma aliança com os
aspectos positivos.
Levar tudo pronto e colocar as famílias numa posição passiva, desvalorizar suas potencialidades e
considerar que elas não têm qualquer conhecimento e possibilidade trazem alguns efeitos indesejáveis:
resistência a qualquer tipo de proposta; cristalização da baixa autoestima; indisponibilidade para a
mudança.
Não é uma tarefa fácil, para as equipes que trabalham nos programas destinados à família, registrar
suas experiências. As demandas do cotidiano exigem ações rápidas, contínuas e emergentes. Todos nós
temos na cabeça a imagem do “bombeiro apagando incêndio”. Ainda assim, toda intervenção realizada
deve ser registrada. O registro é um ato político capaz de dar visibilidade à situação das famílias, seus
problemas, suas necessidades, bem como, às necessidades das equipes de trabalho.
Por meio dos registros, é possível avaliar as intervenções e buscar o aprimoramento delas. A prática
cotidiana é uma maneira de produzir conhecimento e, deste modo, o registro é uma forma de fazer com
que este conhecimento possa circular entre aqueles que trabalham com famílias nos diversos programas
e aqueles que pesquisam e estudam as famílias. Este registro, então, torna-se um importante elo de
ligação entre a teoria e a prática. A teoria produz a prática, mas também a prática produz a teoria. O nome
deste movimento é práxis.
A família, seja qual for o seu modelo, é uma referência na vida de homens e mulheres, independemente
de idade, vinculação étnico-racial ou país de origem, ou seja, em todas as sociedades humanas, existe
família. Mas cada sociedade tem normas particulares que norteiam a organização familiar, e cada família
se organiza de modo singular.
Quais são as funções universais da família?
A família é responsável pela socialização primária de suas crianças, isto quer dizer que é na família
que a criança aprende a falar, conhece as regras de sua sociedade e internaliza as noções de “certo” e
de “errado”. Além disso, a família transmite aos seus membros hábitos alimentares, tradições, valores
éticos, religiosos, modos de comemorar os aniversários e os casamentos, e de lidar com a morte.
A família também faz uma mediação entre os indivíduos e a sociedade mais ampla. É a família que
inicia a criança nas práticas religiosas, por exemplo. Também é ela que leva a criança a frequentar a
escola, que, por sua vez, demanda que a família acompanhe a trajetória escolar da criança.
A família não pode substituir nem a sociedade nem o estado na defesa e promoção dos direitos de
cidadania de suas crianças e seus adolescentes, mas pode e deve mediar e lutar por esses direitos, e
precisa ser amparada, quando necessário, para realizar seu papel. as funções universais da família não
devem ser tomadas para uniformizar todas as famílias, e sim para compreender alguns limites éticos. A
postura ética indica o que a família deve fazer e, ao mesmo tempo, o que não deve fazer. Ela deve cuidar
de suas crianças, e não abandoná-las ou maltratá-las, seja qual for seu modelo ou sua estrutura.
O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF, consiste no trabalho social com
famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva da família, prevenir a
ruptura de seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua
qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e
proativo. O serviço PAIF integra o nível de proteção social básica do SUAS. (Tipificação Nacional de
Serviços Socioassistenciais).
Surgimento
O PAIF foi concebido a partir do reconhecimento que as vulnerabilidades e riscos sociais, que atingem
as famílias, extrapolam a dimensão econômica, exigindo intervenções que trabalhem aspectos objetivos
e subjetivos relacionados a função protetiva da família e ao direito à convivência familiar.
O PAIF teve como antecedentes o Programa Núcleo de Apoio à Família (NAF - 2001), e o Plano
Nacional de Atendimento Integrado à Família (PNAIF- 2003). Em 2004, o MDS, aprimorou essa proposta
com a criação do Programa de Atenção Integral à Família (PAIF).
Em 19 de maio de 2004, com o decreto 5.085 da Presidência da República, o PAIF tornou-se “ação
continuada da Assistência Social”, passando a integrar a rede de serviços de ação continuada da
Assistência Social financiada pelo Governo Federal.
23
http://mds.gov.br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/assistencia-social/psb-protecao-social-basica/projetos-psb/servico-de-protecao-e-atendimento-
integral-a-familia-2013-paif
Concepção de família
A família para a PNAS é o grupo de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos
e, ou de solidariedade. A família, independente dos formatos ou modelos que assume, é mediadora das
relações entre os sujeitos e a coletividade. Caracteriza-se como um espaço contraditório, cuja dinâmica
cotidiana de convivência é marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades, sendo a
família a base fundamental no âmbito da proteção social.
Objetivos
• Fortalecer a função protetiva da família, contribuindo na melhoria da sua qualidade de vida;
• Prevenir a ruptura dos vínculos familiares e comunitários, possibilitando a superação de situações de
fragilidade social vivenciadas;
• Promover aquisições sociais e materiais às famílias, potencializando o protagonismo e a autonomia
das famílias e comunidades;
• Promover o acesso a benefícios, programas de transferência de renda e serviços socioassistenciais,
contribuindo para a inserção das famílias na rede de proteção social de assistência social;
• Promover acesso aos demais serviços setoriais, contribuindo para o usufruto de direitos;
• Apoiar famílias que possuem, dentre seus membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por
meio da promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares.
Usuários do PAIF
Constituem usuários do PAIF as famílias territorialmente referenciadas ao CRAS, em situação de
vulnerabilidade social decorrente da pobreza, do precário ou nulo acesso aos serviços públicos, da
fragilização de vínculos de pertencimento e sociabilidade e/ou qualquer outra situação de vulnerabilidade
e risco social.
Vale ressaltar que isso não significa que todas as famílias residentes nos territórios de abrangência
dos CRAS e que vivenciam tais situações precisam ser obrigatoriamente inseridas no PAIF. O
atendimento pelo Serviço deve ser de total interesse e concordância das famílias, precedido da análise
da equipe técnica.
Dessa forma, há uma série de indícios possíveis de serem obtidos a partir das estatísticas nacionais
que, combinados, podem representar situações agravadas de vulnerabilidade social e de reprodução da
pobreza entre gerações.
O que é a Acolhida?
É o processo de contato inicial do usuário com o PAIF e tem por objetivo instituir o vínculo necessário
entre as famílias usuárias e o PAIF para a continuidade do atendimento sócio-assistencial iniciado. A
Acolhida ocorre em grande parte na recepção do CRAS. Deve ser cuidadosamente organizada, para se
constituir referência para as famílias. A acolhida é primordial na garantia de acesso da população ao
SUAS e de compreensão da assistência social como direito de cidadania.
É importante que as ações do PAIF sejam adequadas às experiências, situações, contextos vividos
pelas famílias. Portanto, ao implementá-las cabe refletir sobre o tipo de família a que a ação se destina e
se ela terá algum significado.
Referências:
http://mds.gov.br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/assistencia-social/psb-protecao-social-basica/projetos-psb/servico-de-protecao-e-atendimento-
integral-a-familia-2013-paif
Questões
01. (MPE/SE - Analista do Ministério Público - FCC) De acordo com o Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família (PAIF), é correto afirmar que família é um
(A) conjunto de pessoas unidas somente pela ascendência e descendência.
(B) conjunto de pessoas unidas somente pela descendência e afinidade voluntária.
(C) grupo social unido por vínculos de ascendência, descendência, afinidade e (ou) solidariedade.
(D) grupo concebido a partir da convivência individual, com o reconhecimento de direitos e
possibilidades de intervenção.
(E) conceito abstrato, definido no PAIF de forma diferente da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS, 2004).
02. (CIAAR - Oficial Temporário - CIAAR) Para os efeitos do disposto no da Lei nº 12.435, de 06 de
julho de 2011, a família:
(A) é definida pelos membros que compõem o núcleo residencial, restrito aos que possuam afinidade
de consanguinidade e que convivam na mesma casa.
(B) é restrita aos membros da família nuclear, pai, mãe e filhos, desde que residam sob o mesmo teto.
(C) é formada pelos arranjos familiares que incluem a família nuclear e a extensa, como também o
requerente e todos aqueles que estejam solicitando os benefícios no mesmo processo.
03. (TJ/RO - Analista Judiciário - CESPE) De acordo com a PNAS, o princípio da matricialidade da
família:
(A) fundamenta-se no conceito de família como unidade econômica para a realização da avaliação
social.
(B) recomenda que se adote a concepção de tutela para as famílias que se encontram em situação de
pobreza extrema, pois estão incapacitadas de desempenhar seu papel adequadamente.
(C) concebe um modelo idealizado de família, com estrutura definida.
(D) alerta para os riscos que se corre nos trabalhos ao adotar visões disciplinadoras que visam
enquadrar as famílias em normas rígidas, independentemente do universo cultural a que pertencem.
(E) reconhece que a família só exerce o seu potencial protetivo quando não está vulnerabilizada.
04. (TJ/RO - Analista Judiciário - CESPE) De acordo com o ECA, no processo de colocação de
criança ou adolescente indígena em família substituta, deve-se
(A) respeitar a identidade social da criança ou do adolescente, bem como suas instituições, desde que
não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição Federal.
(B) dispensar a autorização judicial para os casos de transferência da criança ou adolescente a
entidades que atuam em defesa da causa indígena.
(C) dispensar a etapa de preparação, por se tratar de situação em que se aplica a excepcionalidade
em razão da preservação da cultura e das tradições da criança ou do adolescente.
(D) priorizar famílias que residem no meio rural.
(E) excluir a participação de representantes antropólogos nas equipes de acompanhamento do caso.
05. (CEFET/RJ - Assistente Social - EXATUS) “Os programas que visam o repasse direto de recursos
dos fundos de assistência social aos beneficiários como forma de acesso à renda, visando o combate à
fome, à pobreza e outras formas de privação de direitos que levem à situação de vulnerabilidade social,
criando possibilidades para a emancipação, o exercício da autonomia das famílias e indivíduos atendidos
e o desenvolvimento local”, de acordo com a NOB/SUAS são denominados de:
(A) Enfrentamento à pobreza
(B) Benefícios eventuais
(C) Transferência de Renda
(D) Salário família
06. (METRÔ/DF - Assistente Social - IADES). De acordo com o Serviço de Proteção e Atendimento
Integral à Família (PAIF), é correto afirmar que família é um
(A) conjunto de pessoas unidas somente pela ascendência e descendência.
(B) conjunto de pessoas unidas somente pela descendência e afinidade voluntária.
(C) grupo social unido por vínculos de ascendência, descendência, afinidade e (ou) solidariedade.
(D) grupo concebido a partir da convivência individual, com o reconhecimento de direitos e
possibilidades de intervenção.
(E) conceito abstrato, definido no PAIF de forma diferente da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS, 2004).
Gabarito
Comentário
01. Resposta: C
A família para a PNAS (e também adotado no PAIF) constitui como um grupo de pessoas que se
acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e, ou de solidariedade. A família, independente dos
formatos ou modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade.
Caracteriza-se como um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é marcada por
conflitos e geralmente, também, por desigualdades, sendo a família a base fundamental no âmbito da
proteção social.
03. Resposta: D
De acordo com a PNAS, a centralidade considera que família, independente dos formatos que assume,
é mediadora do indivíduo e a coletividade. Reconhece ainda que a família não deve ser entendida como
uma casa onde vivem pai, mãe e filhos, mas devido às transformações sociais surgem novas concepções
de famílias que devem ser consideradas principalmente como um grupo de pessoas que convivem em
determinado lugar e que se acham unidas por laços de sangue, solidariedade. Por essa razão o SUAS o
não faz distinção para a forma que a família é constituída, o importante é incluir os membros do grupo
familiar em programa e projetos sociais para que saiam da situação de exclusão.
04. Resposta: A
Sobre este assunto o ECA dispõe:
Art.28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
§ 6º Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou proveniente de comunidade remanescente
de quilombo, é ainda obrigatório:
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural, os seus costumes e
tradições, bem como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais
reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal
05. Resposta: C
Segundo o MDS, transferência de renda constitui programas que visam o repasse direto de recursos
dos fundos de Assistência Social aos beneficiários, como forma de acesso à renda, visando o combate à
fome, à pobreza e outras formas de privação de direitos, que levem à situação de vulnerabilidade social,
criando possibilidades para a emancipação, o exercício da autonomia das famílias e indivíduos atendidos
e o desenvolvimento local.
06. Resposta: C
O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF, consiste no trabalho social com
famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva da família, prevenir a
ruptura de seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua
qualidade de vida.
O encontro entre a Psicologia e os Direitos Humanos no Brasil pode parecer algo dispensável,
prioritariamente por duas razões. A primeira delas é que, para alguns, propor a convergência entre a
Psicologia e os Direitos Humanos pode soar como uma obviedade, tendo em vista os diversos campos
de atuação da Psicologia que hoje incidem em questões relativas aos Direitos Humanos. Abordar essa
temática seria uma questão já superada, já que esse diálogo se encontra em profícuo desenvolvimento.
A segunda razão seria exatamente o contrário, ou seja, para outros, propor um diálogo entre Psicologia
e Direitos Humanos pode significar uma sobreposição de áreas, já que o campo dos Direitos Humanos
tradicionalmente sempre foi algo relacionado ao Direito.24
Entende-se que, cada vez mais, torna-se imprescindível explicitar o diálogo entre esses dois campos,
não apenas para demonstrar os pontos que possuem em comum, mas principalmente para fundamentar
teoricamente quais as conexões entre Psicologia e Direitos Humanos. Secundariamente, evidenciar aos
24
https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/viewFile/6790/4913
Psicologias e Psicologias
Em relação à Psicologia, cabe colocar que, esta foi regulamentada como categoria profissional em
1962, período histórico que precedeu no país a instalação do golpe militar, regime ditatorial que suprimiu
a democracia. Não há como minimizar a relevância desta conjuntura sócio-política, considerando que um
dos principais objetivos da Psicologia, na época, dizia respeito à adaptação e ajustamento do indivíduo.
De acordo com a Lei n. 4.119 (1962) e com o Decreto n. 53.464 (1964) que dispõem sobre os cursos
de formação em Psicologia e a profissão de psicólogo, é possível verificar que a função precípua dessa
nova categoria profissional era produzir perfis psicológicos – realizando diagnósticos psicológicos – e
promover a adequação dos indivíduos em seus respectivos contextos, como bem explicita o art. 13, § 1º,
alínea d, ao expressar “solução de problemas de ajustamento”.
Vale dizer ainda que, nessa época, os locais de atuação da Psicologia estavam prioritariamente
circunscritos ao ambiente escolar, às indústrias – sendo o trabalho direcionado para processos de seleção
e recrutamento de pessoal – e à clínica strictu sensu, entendida aqui como o atendimento psicoterapêutico
individual em consultório.
A fim de ilustrar isso, é interessante trazer a descrição feita por Bock (2001) sobre o trabalho da
Psicologia:
Psicólogo: estuda o comportamento e mecanismo mental dos seres humanos, realiza pesquisas sobre
os problemas psicológicos que se colocam no terreno da medicina, da educação e da indústria e
recomenda o tratamento adequado:
a. Projeta e realiza experimentos e estudos em seres humanos para determinar suas características
mentais e físicas;
b. Analisa a influência de fatores hereditários, ambientais e outros mais na configuração mental e
comportamento dos indivíduos;
c. Faz diagnósticos, tratamentos e prevenção de transtornos emocionais e da personalidade, assim
como dos problemas de inadaptação ao meio social e de trabalho;
d. Cria e aplica testes psicológicos para determinar a inteligência, faculdade, aptidões, atitudes e outras
características pessoais, interpreta os dados obtidos e faz as recomendações pertinentes (p. 26-27).
Procura-se demonstrar aqui que não é à toa que exatamente num governo ditatorial se gesta uma
profissão que busca criar perfis e trabalhar para o ajustamento de pessoas que não se enquadram ao
“normal”. Fatos como esse revelam as construções históricas que são feitas, de acordo com seus
respectivos contextos e possibilidades.
Desse modo, é interessante trazer Nietzsche (1887, citado por Foucault, 2003) para se pensar a
questão do conhecimento. Intencionalmente o filósofo afirma que o conhecimento foi inventado e não
aborda sua suposta origem, fazendo a importante distinção entre origem e invenção:
Nietzche afirma que, em determinado ponto do tempo e determinado tempo do universo, animais
inteligentes inventaram o conhecimento; a palavra que emprega invenção é frequentemente retomada
em seus textos e sempre com sentido e intenção polêmicos. Quando fala em invenção, Nietzche tem
sempre em mente uma palavra que opõe a invenção, a palavra origem.
Quando diz invenção é pra não dizer origem (p. 14).
Assim, pode-se inferir que, nessa lógica, o conhecimento em si não possui origem, mas sim, foi
inventado. Em outras palavras, as verdades históricas que, em determinados períodos ganham validade,
em detrimento de outras, não passam de invenções/criações que, por razões diversas, ganham o estatuto
de legitimidade perante a sociedade. Nesse contexto de construção do conhecimento, a Psicologia
surgiria no contexto brasileiro.
Feito esse preâmbulo sobre a trajetória desenvolvido pela Psicologia como ciência e profissão e os
Direitos Humanos, enquanto direitos, deveres e cidadania para todos, pode parecer que não há ponto de
interseção entre esses campos. No entanto, considerando que, por excelência, a Psicologia trabalha com
seres humanos em suas mais diversas condições, situações e contextos, o mesmo se aplica aos Direitos
Humanos. Não se quer dizer aqui que se trata da mesma intervenção, mas, sim, do mesmo objeto de
trabalho, ou seja, o ser humano.
Elegendo a dignidade humana como eixo fundante dos Direitos Humanos, torna-se possível pensar
nessa meta também para a Psicologia, na medida em que esta trabalha para o desenvolvimento e a
melhoria do ser humano e suas condições de vida nas mais diversas esferas. A constatação de que
ambos os campos buscam, direta ou indiretamente, a dignidade humana reforça a similaridade entre a
Psicologia e os Direitos Humanos. Ou seja, o pensar teórico e a práxis cotidiana de ambos os campos
possibilita uma aproximação fundamental.
Nessa perspectiva, é de suma importância trazer a reflexão de Camino: “Os Direitos Humanos não
seriam uma questão externa à Psicologia, mas algo que se coloca diariamente em nossa prática
profissional e acadêmica. Nossa prática, nossa ciência tem a ver diretamente com a construção dos
Direitos Humanos”.
Nesse sentido, não só existe a interlocução entre Psicologia e Direitos Humanos, como também se
torna importante ressaltar que a prática profissional da Psicologia tem relação direta com a construção
dos Direitos
Humanos.
Isso permite avançar nessa análise e compreender que, do ponto de vista teórico-prático, uma
intervenção psicológica pode contribuir para construir ou não os Direitos Humanos de uma determinada
sociedade. Em outras palavras, significa afirmar que, o agir profissional pode incorrer em construção dos
Direitos Humanos ou no seu contrário.
Considerando ainda que o sofrimento humano tem sido um dos principais objetos de estudo e
intervenção da Psicologia, infere-se que frequentemente violações de Direitos Humanos são colocadas
aos profissionais, tendo em vista que, muitas vezes, violações vem acompanhadas de sofrimento e
adoecimento psíquico. Nessa lógica, fica o questionamento sobre o que foi e tem sido feito pelos
profissionais nessas situações de violações?
De um lado, levando em conta o paradigma individualista antes determinante na Psicologia, a resposta
pode ser bastante preocupante. Porém, de outro, avaliando as mudanças ocorridas na profissão e
fazendo uma análise contextualizada, a resposta pode ser menos inquietante e mais condizente com uma
Psicologia crítica.
Apenas a título exemplificativo dessa realidade, é possível tomar o Movimento de Luta Antimanicomial
como expressão da proximidade entre Psicologia e Direitos Humanos. Após décadas de violações de
direitos em instituições psiquiátricas, os trabalhadores dos serviços, usuários e familiares se organizaram
para enfrentar uma realidade cotidiana de violência e arbitrariedade.
Entendendo esse movimento como importante instrumento de mudança, foi através dele que se tornou
possível estabelecer diretrizes de intervenção com o objetivo de resgatar a dignidade dessas pessoas e
iniciar a Reforma Psiquiátrica. Funda-se, nesse movimento, um fecundo diálogo entre a Psicologia e os
Direitos Humanos, na medida em que se passou a questionar o tratamento dispensado nos hospitais
psiquiátricos, ensejando uma verdadeira mudança de paradigma na saúde mental brasileira.
Isso evidencia a necessidade dos Direitos Humanos, cada vez mais, integrarem a formação a ação
profissional da Psicologia, para fortalecer e qualificar o pensar teórico e a práxis psicológica. Essa nova
perspectiva de análise e compreensão do ser humano, baseada no diálogo entre a Psicologia e os Direitos
Humanos, é fundamental para se construir uma sociedade menos injusta e que tenha como princípio
norteador o respeito à dignidade humana.
Psicologia e a Democracia
Tão antiga quanto o próprio ser humano, a busca da igualdade talvez seja o propósito mais complexo
e controvertido que se impõe na vida em sociedade. Ser igual implica, por pressuposto, a existência do
plural: ao menos duas pessoas são necessárias, interagindo no mesmo espaço de vida. E essa
A literatura mostra flagrante discrepância entre os conceitos de Estado liberal e Estado democrático.
No primeiro, o particularismo do poder se define na ideia da propriedade, enquanto no segundo a
distribuição do poder se contrapõe às ideias de autocracia e oligarquia. Em cada qual, a questão da
cidadania deve ser tratada sob ótica diversa. Como no caso brasileiro o modelo de Estado, o tipo de
regime e a ideologia navegam ora em águas liberais, ora em águas democráticas, não é sem motivo que
se torna imprescindível, aqui, melhor caracterizar esses aspectos. Até porque, mais recentemente, essa
pauta de discussão se amplia pela inclusão de um novo item, qual seja a validade atual da dicotomia
direita-esquerda: o tema começou a ser veiculado no último livro Bobbio(1995) e invade os meios
acadêmicos de todo o Ocidente.
Para o mesmo Bobbio (1990), por liberalismo entende-se uma concepção de Estado possuidor de
poderes e funções limitadas, em contraposição ao Estado absoluto. Por democracia, entende-se uma
forma de governo em que o poder está nas mãos da maioria, em contraposição às formas autocráticas.
Todavia, a compatibilidade projetada entre liberalismo e democracia nem sempre tem sido real através
da história. Originalmente, o liberalismo paternalizado por Locke e presente na Revolução Francesa, está
representado pela conquista burguesa do poder político, tomado à aristocracia e implicando um modelo
de cidadania que alcança apenas o proprietário (Buffa). O conceito de homem livre se vincula à ideia de
que todos são proprietários de seu próprio corpo e, por extensão, de seu próprio trabalho: nesse sentido,
a liberdade aí implícita é assegurada pelo arbítrio pessoal quanto ao uso desse organismo auto-
apropriado. Uma liberdade evidentemente limitada, até porque coloca um sentido absolutamente ingênuo
de autodeterminação, especialmente quando se sabe, na Psicologia como em toda ciência social, que as
contingências subjacentes ao ir-e-vir não são apenas internas: normas, regras, convenções, crenças,
práticas e tantas variáveis mais entram nessa composição causal. O exemplário dessa pseudoliberdade
é imenso: para qualquer trabalhador assalariado, um contrato com o proprietário representa, quase
sempre, uma condição de subordinação e não de igualdade. Alçar à condição de cidadão, para ambos,
não tem o mesmo preço. Historicamente, na verdade, o cidadão acaba sendo tão-somente proprietário.
É por essa razão que o Zeitgeist da Revolução Francesa, acabou disseminando-se a ideia de uma
proposta educacional para os proprietários e outra para os não-proprietários ou cidadãos de "segunda
categoria", se isso é possível. A divisão parcelar do trabalho, mormente na Inglaterra de Adam Smith
(1723-1790) serve como justificativa (negativa) para que o Estado imponha uma educação básica que
inclui o trabalhador: supõe-se que o povo (limitadamente) instruído é ordeiro, de modo que o que se
propõe para a maioria da população é apenas o mínimo. E o modelo liberal para fazer do trabalhador, na
verdade, um cidadão passivo que, apesar de tudo, tem alguns poucos direitos (Buffa).
O liberalismo, enquanto concepção de Estado, apresentou-se robustecido após a Revolução
Francesa, consolidando-se como modelo teórico compatível com a realidade moderna. Todavia, por mais
que tente ser aliado, esbarra em alguns pressupostos da democracia enquanto forma de governo muito
mais antiga e que tem nuanças particulares em cada Estado onde se aplica. No Brasil, por exemplo, a
aliança liberal-democrata é reconhecível nas ações de governo, que ora são centradas na privatização
de serviços e empresas, com um consequente desmonte de um aparato estatal considerado arcaico e
ora, paradoxalmente, se dirigem à personificação do governo enquanto mantenedor do controle social do
Estado. Para sumariar, o peso histórico da democracia assegura a ela, hoje, a condição de forma de
25
Texto adaptado de Kester Carrara, disponível em http://www.scielo.br/
O conservadorismo populista tão ao gosto, nos quase quinhentos anos de Brasil, à maioria dos homens
que ocuparam cargos públicos, tem feito disseminar o conceito de que direitos são matérias de
concessão. Sob o discurso da ampliação de direitos (de voto, de greve, de amparo à saúde etc.), pratica-
se o manobrismo da barganha eleitoreira, como se fosse lícito prometer à população o que já lhe pertence
e exigir dela o que não pode ser objeto de permuta. Esse imaginário político converte-se em triste
realidade que se dissemina ao longo da história brasileira, fazendo crer que a cidadania é algo que pode
acontecer, de forma mais ou menos plena, de conformidade com a boa vontade (a "vontade política") do
governante. Tais práticas, aliadas ao descaso para com a educação e a cultura, têm tornado fáceis as
Weffort (1981)- na época professor adjunto do departamento de Ciências Sociais da USP- analisando
a questão dos direitos sociais e participação e diante de um Brasil em que "nem o liberalismo, nem a
classe operária e, talvez menos ainda, nem a burguesia apresentam a nitidez que podemos perceber nos
países mais modernos" (p-139), crê prudente indagar se poderia os trabalhadores contribuir para a
conquista da democracia. Estava implícita a concepção de participação, embora ainda fosse incipiente
uma efetiva forma de governar democrática, ainda hoje em processo de consolidação. Desde esse
momento da história brasileira, em que a comunidade acadêmica manifestava clara consciência da
necessidade de democratização, pouca coisa se fez quanto a instrumentalizar respostas práticas à
pergunta de Weffort, sem os riscos do paternalismo. Caminhou-se pela via artificial do consentimento
administrativo, político e legal: o mecanicismo e o artificialismo do direito consentido provêm justamente
do seu caráter de benesse da autoridade. Não se pode fazer o mesmo com a cidadania, na sua inteira
acepção: quando se passa da conquista à concessão, a legitimidade desmorona. Até mesmo quanto ao
próprio conceito de autoridade, que não se impõe (porque transforma-se em autoritarismo), mas se
conquista.
A emancipação social, por essa ótica, requer o envolvimento, a participação, a crença, a consciência
e muito trabalho de todos quantos a vejam como condição que não privilegia o particular, até porque
quando apenas alguns levam vantagem, não só a maioria perde, mas todos perdem, ainda que em
momentos e instâncias diferentes (Carrara).
A procura da igualdade implica, por tautologia, que se parta de uma condição de desigualdade,
ademais uma fonte estrutural de mudanças, tal como aponta Demo (1988): da reunião dos desiguais
nasce a conquista participativa, vinculada a uma visão de política social que implica interligação à questão
da infraestrutura econômica, na medida em que toda política efetivamente social significa mudanças na
ordem econômica. Na prática, pode-se constatar medidas econômicas que distribuam ou concentrem
renda, por exemplo, com as consequentes implicações as tensões sociais. Para Demo (1988), a
construção participativa de uma sociedade majoritariamente desejada ressalta a dimensão política, mas
não sua supervalorização desligada do processo econômico, bem como ressalta a importância do
conceito de desenvolvimento, em contrapartida a crescimento (porque para o primeiro concorre a
O rol de pressupostos para uma ação da Psicologia em qualquer projeto de construção da cidadania
pode parecer mais amplo que a dimensão da própria ação. Afortunadamente, não há excesso de zelo em
se delimitar com clareza as razões e implicações, menos estratégicas que éticas, dos principais
mecanismos em jogo no processo. Em particular no caso brasileiro, onde a Psicologia tem curta história
e, via de regra, sofre as mazelas das adaptações teóricas importadas, não é sem tempo que a consciência
ética do psicólogo seja estimulada para agir de modo consequente. A partir da concepção de que constitui
cidadania a qualidade social de uma sociedade organizada sob a forma de direitos e deveres majoritários
e não o que é engodo corriqueiro-uma série de valores do psicólogo enquanto pessoa (por mais virtuosos
que possam parecer), o profissional deve buscar suas fontes, de qualquer natureza teórica, de modo a
pensar um projeto que implique o desenvolvimento coletivo.
Respeitados os pressupostos sócio-políticos do projeto, o passo seguinte consiste na escolha da
natureza teórica do trabalho. Será mais progressista, mais "engajado", politicamente correto, trabalhar
com esta ou aquela abordagem? Há alternativas teóricas que são incompatíveis com um trabalho
comunitário? Desafortunadamente ou felizmente, não há respostas prontas para estas questões. No
entanto, seguramente não é a linha teórica que delimita a amplitude e alcance de um projeto de
construção da cidadania, mas uma demarcação clara da conquista pretendida. Ajuda muito tentar
responder com nitidez à tradicional e sempre atual questão: a quem a Psicologia estará servindo nesse
momento? Se a resposta representar avanços coletivos na direção da democracia, da igualdade e da
cidadania, qualquer obstáculo relacionado à natureza teórica poderá ser superado.
O trabalho básico do profissional estará centrado no colocar integralmente o conhecimento acumulado
em Psicologia a serviço dos setores majoritários da população que reivindicam mudança: nessa direção,
todas as vertentes teóricas têm contribuições a oferecer, sem distinção. Ainda que nenhuma delas,
isoladamente, possa responder completamente a todas as dúvidas formuladas, o conhecimento em
Psicologia possui hoje argumentos sólidos para inúmeros problemas. Além disso, cabe ao bom
profissional a necessidade de ser transparente às contribuições teóricas divergentes, desde que
assentadas em pelo menos uma de duas virtudes: bons dados e argumentação sólida. Qualquer outra
postura pode implicar ortodoxia infrutífera: já se disse que a Psicologia atual possui diversas construções
teóricas sérias, porém igualmente possui alguns modismos perigosos. Finalmente, nessa questão da
preferência teórica, a própria multiplicidade de concepções é uma questão de direitos e liberdade de
pensamento implícita na ideia de cidadania. Aliás, inserida na constituição brasileira: há psicólogos de
todas as formações e espera-se que a pluralidade das teorias adotadas possa representar uma vocação
democrática da própria área.
Outra consideração refere-se ao local de atuação do psicólogo: deve atuar no ambiente natural, na
clínica, em organizações? No caso da cidadania, onde é seu espaço de trabalho? Também neste caso a
resposta deve compatibilizar-se com os resultados esperados. Sabe-se que quanto mais distante da
realidade onde se dá o fenômeno, tanto mais demorada ou difícil a transferência de resultados. Nesse
A psicologia é usualmente definida como ciência do comportamento humano e a psicologia social como
aquele ramo dessa ciência que lida com a interação humana. Um dos maiores propósitos da ciência é o
estabelecimento de leis gerais por meio da observação sistemática. Para o psicólogo social, tais leis
gerais são desenvolvidas a fim de descrever e explicar a interação social. 26
Sob a luz dos presentes argumentos, a tentativa contínua de construir leis gerais do comportamento
social parece mal direcionada, e a crença associada a ela de que o conhecimento da interação social
pode ser acumulado como nas ciências naturais revela-se injustificada. Em essência, o estudo em
psicologia social é fundamentalmente um empreendimento histórico. Estamos essencialmente engajados
em incontáveis questões contemporâneas. Utilizamos metodologia científica, porém os resultados não
são princípios científicos no sentido tradicional. No futuro, historiadores poderão voltar-se para tais relatos
do passado a fim de alcançar uma melhor compreensão acerca da vida nos dias atuais. Entretanto, é
provável que os psicólogos do futuro encontrem pouco valor no conhecimento contemporâneo. Esses
argumentos não são puramente acadêmicos e não se limitam a uma simples redefinição de ciência. Aqui
estão implicadas significantes alterações na atividade de campo. Cinco dessas alterações merecem
atenção.
Entre psicólogos acadêmicos encontra-se difundido um preconceito contra a pesquisa aplicada, um
preconceito que é evidenciado pelo enfoque dado à pesquisa pura pelos periódicos de prestígio e pela
dependência de promoção e manutenção de contribuições à pesquisa pura em oposição à pesquisa
aplicada. Esse preconceito baseia-se, em parte, na suposição de que a pesquisa aplicada é de valor
transitório. Enquanto esta se limitaria a resolver problemas imediatos, a pesquisa pura contribuiria para
um conhecimento básico e duradouro. Do ponto de vista atual, o solo no qual se assentam tais
preconceitos não é merecedor de respeito. O conhecimento que a pesquisa pura se dedica em
estabelecer é também transitório; generalizações nessa área de pesquisa geralmente não perduram. A
tal ponto que, quando generalizações da pesquisa pura têm grande validade transhistórica, podem estar
refletindo processos de interesse periférico ou importantes para o funcionamento da sociedade.
Psicólogos sociais são treinados para usar ferramentas de análise conceitual e metodologia científica
a fim de explicar a interação humana. No entanto, dada a esterilidade em aperfeiçoar os princípios gerais
ao longo do tempo, essas ferramentas mostram-se mais produtivas quando usadas na resolução de
problemas de importância imediata para a sociedade. Isso não implica que tais pesquisas devam ser de
alcance restrito. Um defeito fundamental de grande parte das pesquisas aplicadas é que os termos usados
para descrever e explicar são relativamente concretos e específicos para o caso em mãos. Enquanto os
comportamentos concretos estudados pelos psicólogos acadêmicos são frequentemente mais triviais, a
linguagem explicativa é altamente geral, e assim mais amplamente heurística. É assim que os argumentos
presentes sugerem uma intensa focalização em assuntos sociais contemporâneos, baseados na
aplicação de métodos científicos e ferramentas conceituais largamente generalizadas.
O objetivo central da psicologia é tradicionalmente encarado como a predição e o controle do
comportamento. Do nosso ponto de vista, esse objetivo é despropositado e oferece pouca justificativa
para a pesquisa. Princípios do comportamento humano podem ter valor preditivo temporalmente limitado,
e seu alto conhecimento pode torná-los impotentes como ferramentas de controle social. Todavia,
previsão e controle não precisam servir de pedras angulares do campo. A teoria psicológica pode
desempenhar um papel excessivamente importante enquanto dispositivo de sensibilização. Pode
esclarecer-nos acerca da gama de fatores que potencialmente influenciam o comportamento sob várias
condições. A pesquisa pode também oferecer algumas estimativas da importância desses valores num
determinado momento. Seja no caso do domínio da política pública ou dos relacionamentos pessoais, a
psicologia social pode aguçar a sensibilidade de um indivíduo para influências sutis e apontar suposições
sobre o comportamento que não se mostraram úteis no passado.
Quando se pede um conselho ao psicólogo social sobre um provável comportamento em uma situação
concreta, a reação consiste em desculpar-se. É necessário explicar que o campo ainda não se encontra
suficientemente desenvolvido a ponto de que predições confiáveis possam ser feitas. Do nosso ponto de
26
GERGEN, K. J. A psicologia social como história. Psicol. Soc.: Florianópolis, 2008.
27
AGUIAR, S. G.; RONZANI, T. M. Psicologia social e saúde coletiva: reconstruindo identidades. Psicol. pesq.: Juiz de Fora, 2007.
Na fomentação de uma nova política pública de saúde, abrem-se espaços de trabalho para a
psicologia, que passa a problematizar a aplicação das práticas tradicionais em novo cenário de atuação.
Outras ferramentas de intervenção – mais apropriadas para a efetiva inserção na área – devem ser
construídas para o trabalho na Saúde Pública, a fim de que possam contribuir com as transformações
propostas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Psicologia Social da Saúde, que compreende, em seus
pressupostos, uma intervenção mais local e coletiva, tem sido um importante campo de conhecimento e
prática para construir formas diferenciadas de intervenção na saúde.
Martinez Calvo coloca que a promoção de saúde se origina nas ciências que se ocupam do
comportamento social.
Se nas propostas da atenção primária objetiva-se trabalhar com promoção, o interesse para a
psicologia é evidente. As ações promocionais, segundo Calatayud, necessitam apoiar-se em conceitos
puramente psicológicos, tais como: hábitos, atitudes, motivação, interações pessoais e familiares e
habilidades. Faz algumas recomendações para o trabalho dos psicólogos:
1) identificar os problemas que requerem atenção prioritária;
2) para esta identificação, as informações sobre a comunidade são a fonte para a tomada de decisões;
3) trabalhar em equipe com profissionais de outras disciplinas, compartilhando conhecimentos;
4) estimular a participação dos membros da comunidade, levando em conta sua opinião na definição
das prioridades e as estratégias, tornando-os multiplicadores.
Segundo Calatayud, há um conjunto de temas que geralmente aparecem como prioritários para a
psicologia na atenção primária, “e este caráter prioritário se deve ao fato de que são temas que mais
afetam o estado de saúde das pessoas, os quais se recebem a correta atenção, podem conduzir a
melhorias importantes na saúde da população”.
Como veremos adiante, cada um destes temas relaciona-se com aspectos biológicos, sociais e
psicológicos. Estes últimos nos servirão de pauta para guiar o trabalho do psicólogo na atenção
primária.
1) Saúde Reprodutiva
Alguns problemas que afetam a saúde reprodutiva e podem ser abordados pela psicologia:
- práticas sexuais que conduzem a gravidez indesejada, ou contágio de doenças sexualmente
transmissíveis;
- gravidez na adolescência;
- aborto induzido;
- comportamento de risco para o bom desenvolvimento da gravidez (álcool, drogas, etc.);
- Preparação insuficiente da gestante e da família para os cuidados físicos e emocionais do recém-
nascido;
- insuficiente conhecimento de comportamentos paternos que propiciem a satisfação das
necessidades psicológicas do bebê no primeiro ano de vida.
Segundo o autor, tais questões podem ser trabalhadas com grupos para adolescentes, gestantes,
grupos com familiares das gestantes, grupos com mães a respeito das necessidades do primeiro ano de
vida da criança, entre outros.
Da formação à ação
Pensar a atuação do psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde não é uma tarefa fácil. O tempo de
inserção destes profissionais é relativamente pequeno; há um contingente reduzido de profissionais
atuando na área — apesar de vir aumentando gradativamente — existem poucas pesquisas mais
sistemáticas, tanto nacionais quanto locais, sobre a atuação do psicólogo neste campo específico de
trabalho.
Spink sustenta que a pratica em instituições requer uma expansão do referencial teórico utilizado em
dois sentidos:
a) expansão do referencial contextual, ou seja, a busca de dados que permitam melhor localizar o
psicólogo e outros atores envolvidos na dinâmica social e/ou institucional;
b) “expansão do referencial teórico, no sentido de conseguir trabalhar com alteridade, ou seja, com a
perspectiva de um “outro” definido culturalmente como diferente do eu”.
O que está em pauta no primeiro caso é a compreensão das determinações sociais mais amplas que
afetam a relação profissional do psicólogo e as pessoas ou grupos que recebem algum tipo de
intervenção. Já no segundo caso, o que está em pauta é a aceitação de uma realidade multiforme, cuja
definição, ou mesmo a percepção, é fruto de uma sociedade determinada e, dentro desta, de classes e
segmentos sociais específicos.
Dessa forma acreditamos que, ainda hoje, os psicólogos buscam um modelo para “fazer psicologia”
nos serviços de saúde. Reconhecemos que o trabalho é complexo e requer do psicólogo um
embasamento amplo de várias áreas do conhecimento. É um modelo que está continuamente sendo feito,
uma identidade sendo formada:
Acreditamos que podemos ser mais úteis ao campo da assistência pública à saúde a partir do momento
que nossa cultura profissional passe a fornecer modelos mais ampliados de atuação, os quais não se
revelem como barreiras à troca de saberes com outros profissionais, e que o psicólogo possa se
reconhecer como um trabalhador da saúde, preocupado com a promoção do bem-estar da população.
Discutir a formação necessária para a inserção institucional do psicólogo na área da saúde exige um
momento anterior de reflexão sobre as especificidades desta prática. Ao procurar entender e pensar a
formação do psicólogo para a prática em instituições, estamos, na verdade, buscando subsídios para a
sua inserção em uma organização. Entretanto, esta organização é sobre determinada por normas gerais,
que estão intimamente ligadas às representações coletivas que, com o passar dos anos, atingem o
estatuto de normas universais ou leis.
A compreensão do processo de institucionalização destas normas e, portanto, a compreensão do pano
de fundo que formata o cenário no qual se desenvolve nossa prática é obviamente um ingrediente
importante para um desempenho profissional consciente e conscientizador.
Questões
01.B / 02.D
Comentários
01. Resposta: B
A psicologia social, tendo como arena de atuação a complexa relação entre a esfera individual e a
social, tem necessariamente uma vocação interdisciplinar, sendo suas fronteiras permeáveis às
contribuições de uma variedade de outras disciplinas afins. “Cabe à psicologia social recuperar o indivíduo
na intersecção de sua história com a sociedade. Abandonar, portanto, a dicotomia indivíduo sociedade”.
Inclusão:
De acordo com o artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos é um conjunto de meios e
ações que combatem a exclusão, provocada pelas diferenças de classes sociais, idade, sexo, escolhas
sexuais, educação, deficiências, preconceitos raciais etc.
A Inclusão Social tem como objetivo oferecer oportunidades de acesso à tudo para todos.
O processo de inclusão vem sendo aplicado em cada sistema social, na educação, nos ambientes de
trabalho, no lazer, nos transportes etc. Todo o sistema deve ser inclusivo, educação, trabalho, lazer e
meio de transporte para todos!
'' Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de
consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. ''
Exclusão:
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a exclusão relaciona-se à dificuldades ou problemas
sociais que levam ao isolamento e até à discriminação de um determinado grupo. O sociólogo francês
Robert Castel, definiu a exclusão social como o ponto máximo atingível no decurso da marginalização,
sendo este, um processo no qual o indivíduo se vai progressivamente afastando da sociedade através de
rupturas consecutivas com a mesma.
A pobreza pode, por exemplo, levar a uma situação de exclusão social, no entanto, não é obrigatório
que estes dois conceitos estejam intimamente ligados. Um trabalhador de uma classe social baixa, pode
ser pobre e estar integrado na sua classe e comunidade. Deste modo, fatores/estados como a pobreza,
o desemprego ou emprego precário, as minorias étnicas e ou culturais, os deficientes físicos e mentais,
os sem-abrigo, trabalhadores informais e os idosos podem originar grupos excluídos socialmente mas,
não é obrigatório que o sejam.
''Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente
Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de
opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente,
sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. ''
Inclusão social28
Inclusão social é um conceito usado de forma bastante genérica, tanto nos livros quanto nos discursos
políticos. Para entender o que significa esse termo, é preciso compreender antes seu oposto, a exclusão
social. Nos anos 1970, a Europa sofria com as consequências de uma grande crise econômica, o que
causou o empobrecimento de uma parte de sua população. Naquele momento, a França – que antes
havia alcançado um alto patamar de qualidade de vida com emprego para praticamente toda a população
– assiste a exclusão de algumas categorias do mercado de trabalho. Nessas categorias estavam, por
exemplo, idosos, deficientes físicos e imigrantes. É nesse contexto que se usa pela primeira vez o termo
“exclusão social”, para designar setores que foram momentaneamente excluídos de uma sociedade que
já havia superado a pobreza. A expressão “inclusão social” emerge aí para designar as políticas
assistencialistas voltadas especificamente para esse público.
Nos anos 1990, organismos internacionais recuperam esse conceito, dando a ele um sentido mais
amplo. Exclusão social passa a significar o processo de privação do acesso aos direitos sociais como um
28
BETONI, C. Inclusão social, disponível em https://www.infoescola.com
29
http://portal.mec.gov.br/
A epilepsia é a condição neurológica crônica mais comum em todo o mundo e afeta todas as idades,
raças e classes sociais. Impõe, aos(às) seus(suas) portadores(as), um peso grande nas áreas
psicológica, física, social e econômica, revelando dificuldades não só individuais, mas também familiares,
escolares e sociais, especialmente devido ao desconhecimento, crenças, medo e estigma.
Dificilmente um(a) professor(a), com alguns anos de profissão, não experienciou na escola cenas de
crises epilépticas. Embora atualmente exista maior consciência por parte da comunidade sobre a
epilepsia, suas causas, as formas de tratamento e as consequências para o(a)s portadores(as) desse tipo
de enfermidade continuam devastadoras para suas vidas pessoal e social. Principalmente no caso de
crianças.
A pessoa que tem epilepsia, além de sofrer com os problemas neurológicos causados pela doença,
pode ter de enfrentar, no decorrer de sua vida, um obstáculo difícil de transpor: o de ser socialmente
estigmatizada. As eventuais convulsões ou crises de um(a) epilético(a), geralmente, assustam quem as
assiste quando elas acontecem em um ambiente social como a escola, por exemplo. E para a criança
com epilepsia, sofrer o estigma chega a ser pior que a própria doença.
A estigmatização a que são submetidos(as) epiléticos (as) e até mesmo o preconceito que sofrem
costumam marcar profundamente suas vidas. Portadores de epilepsia sofrem com o estigma, o
preconceito, a vergonha e o medo do desconhecido.
A epilepsia é uma doença cerebral caracterizada por convulsões, que vão desde as quase
imperceptíveis até aquelas graves e frequentes. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de
50 milhões de pessoas no mundo sejam portadoras de epilepsia, sendo que destas, 40 milhões estão em
países subdesenvolvidos. Apesar desse cenário alarmante, a organização afirma que 70% dos novos
casos diagnosticados podem ser tratados com sucesso, desde que a medicação seja usada de forma
correta.
Os tipos de epilepsia mais frequentes nos países do Terceiro Mundo são aqueles relacionados às
condições precárias de higiene, falta de saneamento básico, atendimento médico insuficiente e de baixa
qualidade e problemas nutricionais. A alta incidência, sobretudo nas áreas rurais, de portadores de
epilepsia causada por neurocisticercose é uma fato que denuncia a baixa qualidade de vida da população
dos países em desenvolvimento.
No Brasil, é estimado que existam três milhões de pessoas com epilepsia, sendo que a esse número
somam-se 300 novos casos por dia. Aproximadamente 50% dos casos de epilepsia têm início na infância
ou adolescência. Provavelmente, a maioria dessas pessoas carrega o “status de epiléptico”, mas muitos
ainda não sabem que o tratamento existe e é eficaz, podendo controlar 80% dos casos. Entretanto, em
países como o Brasil, o tratamento dado a uma parcela significativa da população não é adequado, devido
à baixa qualidade do sistema de saúde aliada ao preconceito e à estigmatização. Estes dois últimos têm
como fator perpetuante o mito decorrente da falta de informação correta.
Questões
01. (CEFET/RJ - Psicólogo - CESGRANRIO). Com a globalização e com as novas formas de contrato
de trabalho, a distinção da inclusão e da exclusão do mundo do trabalho vem sendo cada vez mais difícil
de sustentar.
02. (UFES - Assistente Social - AOCP). A institucionalização e legitimação do Serviço Social como
profissão, no Brasil, têm como fundamento processos de reprodução social da vida, e nestes,
particularmente, as diversas manifestações da questão social, como a pobreza, a subalternidade e
(A) a cidadania.
(B) a democracia.
(C) a exclusão social.
(D) o trabalho.
(E) a justiça social.
Gabarito
01. C / 02. C
Comentários
01. Resposta: C
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a exclusão relaciona-se à dificuldades ou problemas
sociais que levam ao isolamento e até à discriminação de um determinado grupo. O sociólogo francês
Robert Castel, definiu a exclusão social como o ponto máximo atingível no decurso da marginalização,
sendo este, um processo no qual o indivíduo se vai progressivamente afastando da sociedade através de
rupturas consecutivas com a mesma.
02. Resposta: C
A pobreza pode, por exemplo, levar a uma situação de exclusão social, no entanto, não é obrigatório
que estes dois conceitos estejam intimamente ligados. Um trabalhador de uma classe social baixa, pode
ser pobre e estar integrado na sua classe e comunidade. Deste modo, fatores/estados como a pobreza,
o desemprego ou emprego precário, as minorias étnicas e ou culturais, os deficientes físicos e mentais,
os sem-abrigo, trabalhadores informais e os idosos podem originar grupos excluídos socialmente mas,
não é obrigatório que o sejam.
O fenômeno delitivo30
O estudo do fenômeno delitivo tem apresentado diversas classificações ao longo da história, ora
tratando-o como manifestação individual, ora social, ou, ainda, conjugando-se ambos os fatores. No
entanto, a extensa lista de classificações denota a persecução dos doutrinadores em catalogar tipos
delinquentes que não se definem no cotidiano, vez que indicar delinquência somente a partir do autor do
fato representa deixar de fora todas as vicissitudes sociais.
Apresenta-se a seguir, apenas para fins didáticos, a classificação proposta pelo Prof. Hilário Veiga de
Carvalho, citado por Maranhão (1981), que se refere ao indivíduo que comete o crime e as influências
para que o ato delitivo ocorra. Nesta classificação, associa-se a origem do comportamento criminoso a
dois tipos de fatores: as forças do meio e as forças intrapsíquicas.
30
Fiorelli, José Osmir. Rosana Cathya Ragazzoni Mangini. Psicologia Jurídica, 8ª edição, São Paulo: Atlas, 2017.
Hipóteses
Diante da abrangência do assunto, cabe ressaltar a importância de não limitar as abordagens a uma
visão reducionista, quer pelo aspecto biológico, quer social. Os estudos acerca da influência do meio vêm
ganhando maior destaque, hajam vistas as dimensões apontadas por Baratta (1990; 1999) e Zaffaroni
(1998); por outro lado, estudos sobre o funcionamento cerebral e influências endócrinas algumas vezes
recebem proeminência.
Comentam-se, a seguir, duas dessas hipóteses. a) O crime como resultado da privação
Do ponto de vista das teorias que privilegiam a percepção, demonstra-se que a privação tem antes um
efeito relativo do que absoluto. Trata-se, aqui, da relação figura e fundo.
Se, por um lado, a privação, tanto econômica, quanto afetiva, pode influenciar negativamente no
desenvolvimento do ser humano, por outro, encontram-se diversos exemplos na vida cotidiana que
indicam a possibilidade de um comportamento adaptativo e resiliente que levam indivíduos a reagir
satisfatoriamente, do ponto de vista social, mesmo quando submetidos a ela. Por exemplo, comunidades
carentes cuja adesão a comportamentos criminosos é irrelevante ou situa-se dentro dos padrões da
população.
Assim não fosse, um país com imensos desequilíbrios econômicos como o Brasil veria a população
que mais padece de privações engolida por um turbilhão de delitos, o que, absolutamente, não acontece.
A situação oposta ratifica essa conclusão; os graves delitos cometidos por indivíduos no outro extremo
da cadeia social (que se suspeita tenham incidência dentro da média desse tipo de comportamento) tanto
sinalizam para a veracidade do efeito da percepção sobre os comportamentos como para a evidência de
que a privação nem sempre é determinante para o comportamento delituoso.
Além disso, reconhece-se que são inúmeras as vias de solução da privação, que não a delinquência,
tais como:
- a elaboração psíquica; influenciada, sobremaneira, pela aquisição de novas habilidades e pelo
desenvolvimento cognitivo, para o qual a escola contribui fortemente;
- o deslocamento ou a sublimação, como acontece com o relacionamento amoroso, a dedicação a
atividades de alcance social (lucrativas ou não), a prática de atividades prazerosas;
- procedimentos obsessivos estereotipados, socialmente ajustados, como a concentração no trabalho
e sua utilização com objeto substitutivo;
As Modalidades de Crime
A conduta humana é tipificada como crime a partir da ilicitude e materialidade do fato. Antes, porém,
da realização do delito, esta ação percorre um caminho subjetivo que vai da leve sugestão interna ou
desejo à intenção, decisão e o efetivo cometimento, o qual, não encontrando resistências internas e/ou
externas, eclode para o social.
Nesta seção, privilegia-se o enfoque psicológico sobre estas condutas, relembrando que o
comportamento humano é dinâmico e em constante interação com os demais.
O sistema de crenças coloca justificativas para os comportamentos que escapam à normalidade social.
São situações de extrema gravidade, em geral envolvendo grupo significativo de pessoas que se apoiam
mutuamente, em suas ações, em torno de motivos relacionados com suas crenças. O denominador
comum é a aderência a valores ou códigos de seus próprios grupos.
Encontra-se, por exemplo, em pessoas com forte ligação a grupos religiosos, rigorosos e polarizados.
Alguns exemplos dão a dimensão do potencial alcance desse tipo de movimento:
- a Ku-Klux-Klan nos EUA (surgida no Tennessee, em 1865; ativa até 1944, notabilizando-se pelas
torturas e linchamentos); ainda mantém simpatizantes;
- a Inquisição, movimento religioso que protagonizou dezenas de milhares de assassinatos.
A manifestação contemporânea corresponde aos grupos de skinheads (que pregam o preconceito
contra outros grupos, corno, por exemplo, os homossexuais); grupos ultrarradicais de torcidas
organizadas; equipes de luta etc.
O ponto central nesses movimentos é a inexistência de sentimento de culpa. Liderança forte,
sentimentos de afiliação intensos, simbologia marcante e de grande significado estimulam a coesão e a
perseguição dos objetivos comuns.
Avalia-se que, do ponto de vista de estrutura psíquica, esses indivíduos comungam de sentimentos
relacionados a:
- medo (de perda de benefícios, por exemplo);
- inferioridade (real ou apenas percebida; presente ou futura);
Tem especial interesse para o Direito a intenção que cerca o ato criminoso, por parte de quem o
comete. Sob essa ótica, os delitos dividem-se em dois grandes grupos:
- o delito culposo, que consiste na prática de ato voluntário, porém, com resultados involuntários;
- o delito doloso, em que ocorre ato voluntário com resultado esperado.
Delito doloso
Delito culposo
O Código Penal refere-se a três situações às quais aplica-se a classificação de delito culposo:
- a imprudência;
- a negligência; e
- a imperícia.
O caso paradigmático pode ser o do cirurgião que "esquece" uma ferramenta no interior da cavidade,
provocando a morte do paciente, ou ainda o empregado que, contrariado com o que ele interpretou como
"injusta determinação do patrão", "esquece-se" de trancar a porta da loja e esta é saqueada.
Sob a ótica da psicologia, todas essas situações apresentam interpretações que roubam a
responsabilidade das mãos do acaso, para transferi-la, em variados graus, para as mãos do autor —
ainda que se reconheça o caráter inconsciente do comportamento delituoso.
Para ancorar esse raciocínio, será utilizado o caso que envolve três personagens:
a) Wilson, o jovem imprudente;
b) Ivã, o pai negligente; e
c) Neuza, a mãe dependente.
De Wilson, tudo se espera. Das drogas leves à pesada; dos pequenos delitos aos graves; no final do
túnel espera-o, não a luz, mas a escuridão do homicídio, por exemplo.
Nesse percurso, a saga de Wilson encontra-se já diagramada aguardando a arte-final dos
acontecimentos. O destino, pacientemente, ajusta o story board para inserir as vítimas involuntárias — a
senhora com a filhinha que aguarda o ônibus e receberá o efeito da derrapada do BMW; ou o aposentado
que se livrará da fila mensal pela bala perdida no assalto ao banco ou algo assim.
É preciso desenhar esse percurso. O que move Wilson? A aventura ou a busca do desfecho? Qual
desfecho?
Wilson vai colocando depósitos na caderneta de poupança de culpas que acumula (reveja-se o
conceito de dissonância cognitiva, no capítulo de teorias). Não há saques. A contabilidade emocional não
consegue fechar o ativo dos comportamentos com o passivo dos compromissos.
Se ao observador externo apresentam-se as cores da imprudência, ao analista revela-se a busca da
redenção - a "pulsão de morte" de Freud - que se realiza por meio do Outro para voltar para ele mesmo.
Não tem a coragem para se enfrentar, mas tem a vantagem de o Outro nada significar para ele. Assim
"morre" Wilson, quando sepulta os valores sociais sob as ferragens ou fere-os mortalmente pela via
simbólica da hemorragia de um desconhecido e resgata o investimento acumulado.
A defesa de Wilson será paga pelo pai, ainda que nisso ele empenhe tudo o que já angariou. Wilson,
o mesmo que roubou dele e dos irmãos as atenções de Neuza, que se tornou o "queridinho da mamãe".
Depois que ele chegou, a família transformou-se. Tudo girava em tomo dele. Nada mais se fazia sem
que ele não fosse o centro das atenções.
Ivã descuidou da escolinha. Não prestou atenção quando ele começou, mais tarde, a repetir. Não tinha
tempo. Não tinha vontade. Alguém tinha que cuidar dos mais velhos...
Afinal, ele tinha a mãe (que já não era esposa...). Mas, agora, poderia contar com o pai, que não iria
abandoná-lo, mesmo distante. Não se rasga a promissória da paternidade.
Neuza, coitada, depois que Wilson nasceu, viveu para ele. Só para ele. Conhecia-lhe os mínimos
gestos e desejos. A ele dedicava todas as preces e sofria com seus fracassos.
Delinquência ocasional
Denomina-se "ocasional" o delito praticado por agente até então socialmente ajustado e obediente à
lei, que só chegou à ação antissocial respondendo a uma forte solicitação externa (MARANHÃO, 1981,
p. 52). Em geral, apresenta uma personalidade ajustada aos padrões de normalidade.
Alguns dos casos aqui apresentados referem-se a esse tipo de comportamento (casos 1.1, 1.4, 2.2,
7.1).
Já se tratou aqui da prática de pequenos delitos e de seu impacto na construção de um comportamento
rotineiro, principalmente quando a cada delito não corresponde algum tipo de consequência.
Nesse caso, surge o condicionamento para o ato delituoso, cuja remissão torna-se difícil pela
frequência com que as oportunidades se apresentarão.
A delinquência ocasional, entretanto, de grande dimensão - como o homicídio - surge como resposta
a uma forte emoção e sua repetição torna-se mais improvável pelas características do momento ou do
agente
Estas considerações têm por finalidade reafirmar ao leitor a importância de se dar atenção aos
pequenos delitos porque, pela via da delinquência ocasional, eles se tornam a porta para comportamentos
delituosos persistentes e evolutivos.
Delinquência psicótica
A espécie restritiva é uma inovação que corresponde ao cometimento de crimes menos graves e que
encontra eco na desinstitucionalização, na desinternação progressiva e na luta antimanicomial.
Delinquência neurótica
Na delinquência neurótica, a conduta delitiva é encarada corno uma manifestação dos conflitos do
sujeito com ele mesmo. O que incomoda o psiquismo reflete-se no ato, com a finalidade inconsciente
(total ou parcial) de punição. Trata-se, pois, de urna delinquência sintomática.
A punição serve para aplacar um sentimento de culpa de outra origem (o conflito primário).
Delinquência profilática
O agente entende que estará evitando um mal maior e não revela remorso; por exemplo, a eutanásia.
Nas situações anteriormente citadas, em que grupos atuam movidos por poderosas crenças comuns,
pode haver a interpretação de que suas ações tenham a genuína missão de profilaxia social.
Se essa compreensão (eventualmente) não passa pelos líderes, que se aproveitam dos benefícios
econômicos dos movimentos, não se estranhe de que seja percebida como real por substancial parte dos
liderados. Isso, entretanto, não significa que as fragilidades psíquicas e a personalidade antissocial não
constituam elementos predominantes nesses indivíduos.
As questões que envolvem a delinquência profilática são de grande complexidade e devem ser
analisadas com estreita observância dos aspectos sociais e culturais que sobre ela exercem influência
determinante.
Elas podem, por exemplo, no caso de violência doméstica, em que pai ou mãe inflingem severos
castigos aos filhos, resultar de um procedimento já convencional na história familiar, pelo qual os
progenitores mesmos passaram. Não praticar esse tipo de procedimento significaria, sob a ótica da
família, a não assunção de responsabilidade sobre a educação das crianças.
Contornos diferentes, porém relacionados, ganham os delitos praticados por justiceiros, presos em
cumprimento de penas, e até mesmo por representantes das forças de segurança pública. Sob a ótica da
assepsia social, manifestam-se em homicídios, sevícias e torturas. Evidencia-se um tênue limite entre o
caráter "pedagógico" que lhes imprimem seus autores, procurando evitar o "mal maior", e um caráter
meramente vingativo.
É comum, por exemplo, que em prisões determinados delitos sujeitem aqueles que os praticaram a
também experimentá-los, praticados por outros presos. Por exemplo, o abuso sexual; deve-se cuidar para
garantir a integridade física do detento, porque esse tipo de crime, em geral, desperta sentimentos de
repugnância e desejo de vingança para os demais sentenciados.
Indo além: há ações a tal ponto não toleradas pela população prisional que o castigo, não havendo
nada que o impeça, é a morte daqueles que a praticaram, retomando uma forma antiga de se fazer justiça,
a pena de Talião, o "olho por olho, dente por dente". Esse procedimento funciona como uma expiação de
culpa, com a qual os sentenciados se redimem, senão perante a sociedade, perante os próprios
psiquismos.
Drogas são substâncias utilizadas para produzir alterações, mudanças nas sensações, no grau de
consciência e no estado emocional. As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com
as características da pessoa que as usa, qual droga é utilizada e em que quantidade, o efeito que se
espera da droga e as circunstâncias em que é consumida.
Geralmente achamos que existem apenas algumas poucas substâncias extremamente perigosas: são
essas que chamamos de drogas. Achamos também que drogas são apenas os produtos ilegais como a
Apostila gerada especialmente para: Betânia Mueller 023.712.580-32
. 258
maconha, a cocaína e o crack. Porém, do ponto de vista da saúde, muitas substâncias legalizadas podem
ser igualmente perigosas, como por exemplo o álcool, que também é considerado uma droga como as
demais.
Drogas psicotrópicas são aquelas que atuam sobre nosso cérebro, alterando de alguma maneira nosso
psiquismo, podendo deprimir, estimular ou perturbar a atividade do Sistema Nervoso Central.
As drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo por essa razão denominadas
psicoativas. Basicamente, elas são de três tipos:
- Drogas que diminuem a atividade mental, também chamadas de depressores. Afetam o cérebro,
fazendo com que funcione de forma mais lenta. Essas drogas diminuem a atenção, a concentração, a
tensão emocional e a capacidade intelectual. Exemplos: Ansiolíticos (tranquilizantes), álcool, inalantes
(cola), narcóticos (morfina, heroína);
- Drogas que aumentam a atividade mental, são chamadas de estimulantes. Afetam o cérebro, fazendo
com que funcione de forma mais acelerada. Exemplos: Cafeína, tabaco, anfetamina, cocaína, crack;
- Drogas que alteram a percepção, são chamadas de substâncias alucinógenas e provocam distúrbios
no funcionamento do cérebro, fazendo com que ele passe a trabalhar de forma desordenada, numa
espécie de delírio. Exemplo: Lsd, ecstasy, maconha e outras substâncias derivadas de plantas.
Álcool:
A ingestão de álcool provoca diversos efeitos, que aparecem em duas fases distintas: uma estimulante
e outra depressora.
Nos primeiros momentos após a ingestão de álcool, podem aparecer efeitos estimulantes, como
euforia, desinibição e loquacidade (maior facilidade para falar).
Com o passar do tempo, começam a surgir os efeitos depressores, como falta de coordenação motora,
descontrole e sono. Quando o consumo é muito exagerado, o efeito depressor fica exarcebado, podendo
até mesmo provocar o estado de coma. Os efeitos do álcool variam de intensidade de acordo com as
características pessoais.
Solventes ou Inalantes:
- Primeira fase: A chamada fase de excitação, que é desejada, pois a pessoa fica eufórica,
aparentemente excitada, sentindo tonturas e tendo perturbações auditivas e visuais. Também pode
aparecer tosse, espirros, muita salivação e as faces podem ficar avermelhadas.
- Segunda fase: A depressão do cérebro começa a predominar, ficando a pessoa confusa,
desorientada, com a voz meio pastosa, visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez;
ela começa a ver ou a ouvir coisas.
- Terceira fase: A depressão aprofunda-se com redução acentuada do estado de alerta, incoordenação
ocular (a pessoa não consegue mais fixar os olhos nos objetos), incoordenação motora com marcha
vacilante, fala “enrolada”, reflexos deprimidos, podendo ocorrer processos alucinatórios evidentes.
Cocaína e Crack:
Os efeitos provocados pela cocaína ocorrem por todas as vias (aspirada, inalada, endovenosa). Logo
após do uso, o usuário tem uma sensação de grande prazer, intensa euforia e poder.
A tendência do usuário é aumentar a dose da droga na tentativa de sentir efeitos mais intensos. Porém,
essas quantidades maiores acabam por levar o usuário a comportamento violento, irritabilidade, tremores
e atitudes bizarras devido ao aparecimento de paranóia. No caso do usuário de crack, isso provoca um
grande medo e desconfiança e passam a vigiar o local onde usam a droga. Eventualmente, podem ter
alucinações e delírios. A esse conjunto de sintomas dá-se o nome de “psicose cocaínica”. Além dos
sintomas descritos os usuários de cocaína e crack perdem muito peso em poucas semanas e perdem o
interesse sexual.
Tabaco (cigarro):
Quando o fumante dá uma tragada, a nicotina é absorvida pelos pulmões, chegando ao cérebro
aproximadamente em nove segundos.
Os principais efeitos da nicotina no sistema nervoso central consiste em elevação do humor,
estimulação e diminuição do apetite.
A nicotina produz um pequeno aumento no batimento cardíaco, na pressão arterial, na frequência
respiratória e na atividade motora.
O uso intenso e constante de cigarros aumenta a probabilidade de ocorrência de alguma doenças
como, por exemplo, pneumonia, câncer de (pulmão, laringe, faringe, esôfago, boca, estômago etc.),
infarto de miocárdio, bronquite crônica, enfisema pulmonar, derrame cerebral, úlcera digestiva e etc.
Maconha:
Efeitos físicos agudos: os olhos ficam avermelhados, a boca fica seca, o coração dispara, de 60 a 80
batimentos por minuto ou até mesmo mais (taquicardia).
Os efeitos psíquicos agudos dependerão da qualidade da maconha fumada e da sensibilidade de quem
fuma. Para uma parte de quem fuma os efeitos são de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento,
sentir-se menos fadigado, vontade de rir, e para outras pessoas os efeitos são mais para o lado
desagradável, pois, sentem angústia, temerosas de perder o controle mental, trêmulas, suadas. È o que
comumente chamam de “bad trip” (má viagem).
Há, ainda, perturbação na capacidade da pessoa calcular o tempo e espaço e um prejuízo de memória
de curto prazo e atenção.
Aumentando-se a dose ou dependendo da sensibilidade, os efeitos psíquicos agudos podem chegar
até a alterações mais evidentes, com predominância de delírios e alucinações.
No caso do delírio a pessoa escuta a sirene da ambulância e julga que é a polícia que vem prende-la.
Na alucinação a pessoa tem uma percepção sem o objeto, isto é, a pessoa pode ouvir a sirene da
polícia ou ver duas pessoas conversando quando não existe nem sirene nem pessoas.
Os efeitos físicos crônicos da maconha já são de maior gravidade. A maconha contém alto teor de
alcatrão e nele existe uma substância chamada benzopireno, conhecido agente cancerígeno.
Outro efeito físico adverso do uso crônico da maconha refere-se á testosterona. Consequentemente o
homem terá muita dificuldade de gerar filhos e é importante dizer que o homem não perde interesse
sexual, só fica incapacitado de engravidar sua companheira.
Sabe-se que o uso continuado interfere na capacidade de aprendizagem e memorização e pode induzir
a um estado de “amotivação”, a pessoa não tem vontade de fazer mais nada, pois tudo fica sem graça e
sem importância.
LSD:
O Lsd atua produzindo uma série de distorções no funcionamento do cérebro, trazendo como
consequência uma variada gama de alterações psíquicas.
Ecstasy:
A droga apresenta efeitos semelhantes aos estimulantes do sistema nervoso central, (agitação), bem
como efeitos perturbadores (mudança na percepção da realidade).
Seus efeitos mais marcantes são a sensação de melhora nas relações entre as pessoas, o desejo de
se comunicar, melhora na percepção musical e aumento nas percepções das cores.
O Ecstasy causa, também, diminuição do apetite, dilatação das pupilas, aceleração do batimento
cardíaco, aumento da temperatura do corpo (hipertemia), rangido de dentes e aumento na secreção do
hormônio antidiurético.
Muitos usuários relatam ter um episódio depressivo nos dias após o uso da droga, o que é chamada
de depressão de meio de semana. Fadiga e insônia também são comuns.
Dependência
Podemos definir uso como qualquer consumo de substâncias (experimental, esporádico ou episódico),
abuso ou uso nocivo como sendo um consumo de substâncias que já está associado a algum prejuízo
(quer em termos biológicos, psicológicos ou sociais) e, por fim, dependência como o consumo sem
controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário.
Dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua (sempre) ou periódica
(frequentemente) para obter prazer. Alguns indivíduos podem também fazer uso constante de uma droga
para aliviar tensões, ansiedades, medos, sensações físicas desagradáveis etc. O dependente caracteriza-
se por não conseguir controlar o consumo de drogas, agindo de forma impulsiva e repetitiva.
Para compreendermos melhor a dependência, vamos analisar as duas formas principais em que ela
se apresenta: a física e a psicológica.
A dependência física se caracteriza pela presença de sintomas e sinais físicos que aparecem quando
o indivíduo para de tomar a droga ou diminui bruscamente o seu uso: é a síndrome de abstinência. Os
sinais e sintomas de abstinência dependem do tipo de substância utilizada e aparecem algumas horas ou
dias depois que ela foi consumida pela última vez. No caso dos dependentes de álcool, por exemplo, a
abstinência pode ocasionar desde um simples tremor nas mãos a náuseas, vômitos e até um quadro de
abstinência mais grave denominado “delirium tremes”, com risco de morte, em alguns casos.
Já a dependência psicológica corresponde a um estado de mal-estar e desconforto que surge quando
o dependente interrompe o uso de uma droga. Os sintomas mais comuns são ansiedade, sensação de
vazio, dificuldade de concentração, más que podem variar de pessoa para pessoa.
Com os medicamentos existentes atualmente, a maioria dos casos relacionados a dependência física
podem ser tratados. Por outro lado, o que quase sempre faz com que uma pessoa volte a usar drogas é
a dependência psicológica, de difícil tratamento e não pode ser resolvida de forma relativamente rápida
e simples como a dependência física.
A dependência de substâncias psicoativas (álcool e drogas) é uma síndrome médica bem definida
internacionalmente, cujo diagnóstico é realizado pela presença de uma variedade de sintomas que
indicam que o indivíduo consumidor apresenta uma série de prejuízos e comprometimentos devido ao
seu consumo. É considerada doença crônica quando essa acompanha o indivíduo por toda sua vida.
Como toda doença crônica, o tratamento é voltado para a redução dos sintomas, que afetam não apenas
o paciente, más toda a comunidade ao seu redor, períodos de controle da enfermidade são observados
no tratamento, más uma das características fundamentais é o retorno de toda a sintomatologia (recaídas)
em alguns períodos da vida do indivíduo. Apesar dos prejuízos que o indivíduo passa a apresentar pelo
uso de drogas, outra característica fundamental da dependência é o fato de o sujeito ainda assim manter
o consumo ou frequentemente a este retornar. Perde-se, parcial ou totalmente, a capacidade de controlar
o uso, a droga passa a controlar a rotina do indivíduo. A definição como “síndrome” implica uma série de
sintomas que necessitam estar todos presentes ao mesmo tempo para o diagnóstico ser realizado. Este
fato resulta em uma variedade de quadros clínicos que se apresentam aos diferentes serviços de
atendimento, garantindo as diferenças individuais entre os pacientes dependentes.
O tratamento deste transtorno psiquiátrico deve, portanto, incluir aspectos comuns a todos os
indivíduos acometidos (aspectos comuns da população de dependentes), bem como aspectos
individualizados de cada paciente.
Os resultados do tratamento mais frequentemente citados são a redução do consumo de substâncias,
a diminuição na utilização de sistemas de saúde e a menor participação em comportamentos ilícitos,
associados direta e indiretamente ao uso de drogas e álcool.
O tratamento consiste na elaboração de determinada estratégia para obtenção de seus objetivos.
Também é uma forma de intervenção para obtenção de cura ou alívio para o paciente. Estratégias e
intervenções lançam mão de modalidades e terapias: Modalidade: cada aspecto ou diversa feição das
coisas; Terapia: parte da medicina que se ocupa da escolha e administração dos meios para curar
doenças ou obter alívio do indivíduo acometido. Cada uma destas possui sua própria forma de atuação,
ou Método: conjunto dos meios dispostos convenientemente para obtenção de um fim, modo de proceder.
A internação geralmente está mais indicada em casos mais severos, por se constituir em refúgio mais
seguro para pacientes menos capazes de resistir por conta própria ás “fissuras” pelo consumo de drogas.
Deve-se enfatizar, porém, que a internação não é tratamento, más sim uma estratégia modalidade
terapêutica para a promoção da abstinência, que é apenas a parte inicial do tratamento. Para que algum
resultado seja obtido, a internação deve estar obrigatoriamente vinculada a seguimento ambulatorial e a
grupos de autoajuda.
A utilização de intervenções farmacológicas não apenas são estratégias válidas e disponíveis, como
muitas vezes salvam a vida de dependentes em determinadas condições.
Categorias dos agentes farmacológicos utilizados no tratamento das dependências:
Tratamento terapêutico
As principais formas de atuação dos profissionais podem ser agrupadas segundo as modalidades:
O objetivo final de todas estas técnicas é que o paciente desenvolva capacidade de evitar
comportamentos associados ao consumo, lidando melhor com relacionamentos e com fontes de estresse,
aumentando a autoestima e promovendo uma mudança significativa do estilo de vida do paciente.
Algumas Definições
Experimentador: pessoa que experimenta a droga, levada geralmente por curiosidade. Aquele que
prova a droga uma ou algumas vezes e em seguida perde i interesse em repetir a experiência.
Usuário Ocasional: utiliza uma ou várias drogas quando disponíveis ou em ambiente favorável, sem
rupturas (distúrbios) afetiva, social ou profissional.
Usuário Habitual: faz uso frequente, porém sem que haja ruptura afetiva, social ou profissional, nem
perda de controle.
Usuário Dependente: usa a droga de forma frequente e exagerada, com rupturas dos vínculos
afetivos e sociais. Não consegue parar quando quer.
Dependência: quando a pessoa não consegue largar a droga, porque o organismo acostumou-se com
a substância e sua ausência provoca sintomas físicos (quadro conhecido como síndrome da abstinência),
ou porque a pessoa acostumou-se a viver sob os efeitos da droga, sentindo um grande impulso de usá-
la com frequência (“fissura”).
Escalada: é quando a pessoa passa do uso de drogas consideradas “leves” para as mais “pesadas”,
ou quando, com uma mesma droga, passa de consumo ocasional para consumo intenso.
Tolerância: quando o organismo se acostuma com a droga e passa a exigir doses maiores para
conseguir os mesmos efeitos.
Poliusuário: pessoa que utiliza combinação de várias drogas simultaneamente, ou dentro de um curto
período de tempo, ainda que tenha predileção por determinada droga.
Redução de danos
- Os projetos em sua maioria são desenvolvidos marginalmente ao Sistema Único de Saúde, com
pouca integração formal com outras instâncias;
- Seu espectro de ação em nosso meio é limitado, não tendo na maioria dos lugares atingidos todos
os setores que necessitam de seu trabalho na comunidade.
Mas, por outro lado, mudanças vem ocorrendo. Por exemplo, nas capitais do país e cidades com certo
números de habitantes, são implementados os CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e
Drogas).
As Equipes são formadas por profissionais Multidisciplinares (entre eles Psiquiatras, Psicólogos,
Assistentes Sociais, enfermeiros, Terapeutas Ocupacionas, e Redutores de Danos).
Em muitas cidades o SUS implementa o tratamento para usuários de Drogas, e entre as capitais, cita-
se Recife, Salvador e São Paulo como modelos de gestão.
Projetos como Consultórios nas Ruas também são executados em convênio com o SUS.
A ABORDA foi criada em 1997, durante o 2º Congresso Brasileiro de Prevenção da Aids, em Brasília.
Os objetivos, daquela época até os dias de hoje, não mudaram muito: a implementação e o fortalecimento
da Redução de Danos como política pública, e a defesa da dignidade do redutor de danos.
Nos últimos 10 anos, houve grandes transformações nas perspectivas de Redução de Danos. Inscritos
no cotidiano do SUS a partir da necessidade de enfrentamento das formas de transmissão do HIV ligadas
ao compartilhamento de equipamentos de uso de drogas injetáveis, os redutores de danos contribuíram
significativamente na luta contra a Aids, e abriram um leque de novas possibilidades na forma de se fazer
e pensar saúde no Brasil. A Redução de Danos, hoje, constitui-se em um conjunto de políticas públicas
ligadas ao enfrentamento dos eventuais problemas relacionados ao uso de drogas, articulando distintas
realidades: prevenção ao HIV/Aids e hepatites, promoção integral de saúde às pessoas que usam drogas
e diminuição da violência. Tal articulação consiste no apoio/incentivo ao protagonismo das pessoas que
usam drogas, na busca pelo cuidado de si e manejo do seu uso de drogas.
Discutir as temáticas sobre drogas, ampliando a discussão numa perspectiva cientifica e do ponto de
vista do impacto social da estratégias de redução de danos com os diversos segmentos sociais- governos,
sociedade civil organizada, universidades, profissionais de saúde, educação, mídia, iniciativa privada e
todas as áreas de interface com o fenômeno das drogas.
- Planejar novas parcerias com organizações do Brasil e do exterior para otimizar e aprimorar as
práticas de redução de danos e Direitos Humanos das pessoas que usam álcool e outras drogas e sua
rede de interação social, visando garantia de direitos.
- Elaborar propostas que visem novas políticas para as drogas no Brasil, em conjunto com todas as
esferas de interface para o fenômeno de drogas, buscando a defesa dos Direitos das pessoas que usam
álcool e outras drogas e sua rede de interação social
- Articular redes permanentes de comunicação entre as várias iniciativas já existentes, com o
objetivo de ampliar as discussões para outras instancias, ações que discutam as questões das drogas
licitas e ilícitas, assegurando qualidade de vida e defesa de direitos das pessoas que usam álcool e outras
drogas e sua rede de interação social
- Fiscalizar o cumprimento de normas constitucionais.
- Apoiar iniciativas de políticas públicas aos usuários de drogas lícitas e ilícitas.
No Brasil, Grã-Bretanha e em vários países do mundo, a Redução de Danos (RD) é uma política de
saúde pública e um conjunto de estratégias práticas, voltados para o campo do uso de drogas, que visam
reduzir danos desse uso, sejam biológicos, sociais, econômicos ou culturais, sem necessariamente
interrompê-lo, levando em consideração a liberdade de escolha das pessoas e a liberdade de uso do seu
próprio corpo. A Redução de Danos também pode ser compreendida como um movimento social e
político, que tem como objetivo contribuir para transformação da visão de mundo e a postura da sociedade
diante do problema das drogas, possibilitando diálogo na sociedade e expressão das pessoas que usam
drogas, sobre os usos, necessidades, desejos, direitos e deveres. Observe-se, porém, que esse modelo
ou princípio de intervenção pode ser aplicado a outras áreas da saúde pública e promoção da saúde que
não os problemas associados e decorrentes da drogadição.
Questões
02. (SUSA - Psicólogo – FGV). Em relação à Política de Redução de Danos, assinale a afirmativa
correta.
(A) A política de redução de danos tem, como objetivo principal, diminuir o consumo de álcool e drogas.
(B) O Brasil não tem uma política oficial de redução de danos.
(C) A grande preocupação das políticas de redução de danos é a formulação de práticas que diminuam
os danos para os familiares dos usuários de drogas.
(D) A política de redução de danos não inclui medidas em relação a pacientes aidéticos.
(E) O incentivo ao comportamento de não dirigir veículos, no caso do uso de bebidas alcoólicas, está
incluído na política de redução de danos.
03. (MPE/GO - Psicólogo - FUNIVERSA). A dependência química constitui hoje problema de saúde
experienciado por um contingente significativo da população. Considerando esse contexto, os municípios
precisam organizar-se para atender a pessoas acometidas por essa patologia, indo ao encontro dos
pressupostos da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Uma das drogas de ampla ingestão é o álcool. O consumo desse é um dos hábitos sociais mais antigos
e difundidos entre as populações, já que está correlacionado a ritos religiosos, valores sociais e culturais,
além de lhe serem conferidos efeitos como calmante, afrodisíaco, estimulante de apetite, desinibidor,
entre outros. Além do mais, "a cultura pode influenciar o padrão e o contexto, assim como a quantidade
do consumo de álcool e o padrão desse consumo pode, por sua vez, ser um determinante importante dos
problemas com bebida".
Cerca de 15% das pessoas que consomem álcool progridem para o alcoolismo. Esse é um dado
realmente preocupante, já que tal patologia pode prejudicar tanto a qualidade de vida dos sujeitos
alcoolistas, como do seu meio familiar e social.
A respeito do assunto abordado no texto IV, assinale a alternativa que apresenta o encaminhamento
a ser dado por um psicólogo, caso constate a dependência química em um paciente dele.
(A) Fazer o acompanhamento psicoterápico por algum tempo e, depois, se necessário, encaminhar o
paciente para a manutenção, cujo objetivo é reorganizar a vida do paciente.
(B) Entrar em contato com a família e sugerir a interdição temporária do dependente, bem como
encaminhá-lo para uma clínica de desintoxicação, visando à reorganização de seus hábitos.
Gabarito
Comentários
01. Resposta: E
A vulnerabilidade às drogas está diretamente associada aos fatores culturais, sociais, políticos,
econômicos e biológicos.
02. Resposta: E
No trânsito podemos citar como exemplo de redução de danos não dirigir veículos automotores se usar
bebidas alcoólicas, para evitar acidentes automotivos.
02. Resposta: C
Com relação ao atendimento aos dependentes químicos, cabe destacar que apresenta duas fases: a
desintoxicação, que visa a retirada das drogas, e a manutenção, que tem por objetivo reorganizar a vida
do sujeito sem o uso delas. Cabe assinalar que, quando o paciente procura voluntariamente o tratamento
e tem participação ativa na definição de programas terapêuticos, é maior a possibilidade de sucesso da
intervenção. Na maior parte dos serviços ambulatoriais, um dos critérios para o ingresso nesses espaços
é de que o usuário venha desintoxicado, portanto, preconizando somente a segunda fase do tratamento
aos dependentes químicos, a manutenção.31
03. Resposta: E
Na tolerância, o organismo se acostuma com a droga e passa a exigir doses maiores para conseguir
os mesmos efeitos.
A sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois
independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessidade
fundamental dos seres humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo inerente, que se
manifesta desde o momento do nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa do
desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída ao longo da vida, encontra-se
necessariamente marcada pela história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e sentimentos,
expressando-se então com singularidade em cada sujeito. Indissociavelmente ligado a valores, o estudo
31
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1806-69762007000200005&script=sci_arttext
Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as primeiras vivências de prazer. Essas
primeiras experiências sensuais de vida e de prazer não são essencialmente biológicas, mas constituirão
o acervo psíquico do indivíduo, serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil se
desenvolve desde os primeiros dias de vida e segue se manifestando de forma diferente em cada
momento da infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em que é um dos aspectos
essenciais de desenvolvimento global dos seres humanos.
A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a partir das possibilidades individuais e de
sua interação com o meio e a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra, aos primeiros
movimentos exploratórios que a criança faz em seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças. As
crianças recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou “julgamento” do mundo adulto em que
está imersa, permeado de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer, o que comporá a
sua vida psíquica.
Nessa exploração do próprio corpo, na observação do corpo de outros, e a partir das relações
familiares é que a criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina. Preocupa-se então
mais intensamente com as diferenças entre os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as
expressões que caracterizam o homem e a mulher. A construção do que é pertencer a um ou outro sexo
se dá pelo tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive nas expressões diretamente
ligadas à sexualidade e pelos padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino. Esses padrões
são oriundos das representações sociais e culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos
sexos e transmitidas pela educação, o que atualmente recebe a denominação de relações de gênero.
Essas representações absorvidas são referências fundamentais para a constituição da identidade da
criança.
As formulações conceituais sobre sexualidade infantil datam do começo deste século e ainda hoje não
são conhecidas ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de crianças, inclusive educadores.
Para alguns, as crianças são seres “puros” e “inocentes” que não têm sexualidade a expressar, e as
manifestações da sexualidade infantil possuem a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja
existência se deve à má influência de adultos. Entre outros educadores, no entanto, já se encontram
bastante difundidas as noções da existência e da importância da sexualidade para o desenvolvimento de
crianças e jovens.
Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem alterações hormonais que, muitas vezes,
provocam estados de excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade masturbatória e instala-
se a função genital. É a fase das descobertas e experimentações em relação à atração e às fantasias
sexuais. A experimentação dos vínculos tem relação com a rapidez e a intensidade da formação e da
separação de pares amorosos entre os adolescentes.
É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de todos os profissionais da educação a postura
a ser adotada, dentro das escolas, em face das manifestações da sexualidade dos alunos.
Como dito anteriormente, sexo também é coisa de criança33. Tendo sempre em mente que cada
criança é uma criança, vamos pensar o desenvolvimento sexual da criança.
Tomando por base os modos de viver e expressar a dimensão humana, temos seis períodos distintos
– primeira infância, fase pré-escolar, segunda infância, adolescência, maturidade e terceira idade. Aqui
vamos nos ater apenas aos três primeiros: primeira infância (0 a 2 anos), fase pré-escolar (2 a 6 anos) e
segunda infância (6 a 10 anos).
32
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Orientação Sexual. Portal MEC.
33
Colunista Portal Educação, 2013 em http://www.portaleducacao.com.br.
“A educação sexual começa a partir das atitudes dos pais, no momento em que decidem ter filhos”.
As primeiras atitudes dos pais podem proporcionar ou um ambiente afetivo e amoroso, ou um ambiente
ríspido e tumultuado. Esse ambiente será a primeira influência no desenvolvimento da criança. É “nos
primeiros anos de vida que se estabelecem as bases do comportamento erótico do adulto e se inicia a
formação de uma sexualidade saudável”.
Neste período (0 a 2 anos) a criança começa a explorar seu mundo através de seu corpo, de suas
sensações. Será através do gosto, do cheiro, do toque, do olhar e do ouvir que a criança vai experimentar
o prazer. Essa relação com seu corpo e com os sentidos formará suas atitudes sexuais mais tarde.
A relação que essa criança tem com seus cuidadores também será definidor das suas atitudes
relacionais. Esse primeiro vínculo é um primeiro passo. Ele será fortalecido, ou não, no seu
desenvolvimento.
É nessa fase que começamos a amar e sermos amados. A nossa capacidade de amar e de se
relacionar está diretamente ligada a esse aprendizado na infância.
A identidade de gênero é a condição de pertencer a um sexo. Nesta fase a criança começa a definir-
se como menino ou menina. Os pais e educadores(as) devem, neste momento, favorecer o processo de
identificação da criança, através da brincadeira. Mostrar as diferenças e semelhanças entre ser menino
e ser menina (evitar ao máximo estereótipos!). Reforçar a visão de sexo da criança, sem nunca
desvalorizar o sexo oposto. A questão não é superioridade/inferioridade, mas sim diferenças.
O papel sexual diz respeito ao comportamento que a criança terá diante sua identidade de gênero.
Importante evitar a manutenção de preconceitos de comportamentos tipicamente masculinos e/ou
femininos.
É a conhecida fase dos porquês. Além das perguntas, as crianças querem ver e saber. Com tantas
perguntas, é um bom momento para ensinar às crianças os nomes corretos das partes de seu corpo.
Como parte de seu desenvolvimento a masturbação aparece como curiosidade natural da criança de
seu corpo e suas sensações. É um jogo exploratório de sensações. Não tem a mesma conotação da
masturbação na adolescência e no adulto. Assim, é um bom momento para ensinar às crianças sobre a
Período no qual a sexualidade entra em latência. Ou seja, entra em adormecimento para ser mais bem
elaborada. É um momento de sensualidade, pois as crianças estão aptas a experimentar as sensações.
Por isso, há muitos jogos sexuais nesta fase. O lúdico aparece na imitação de modelos. É um momento
em que pais e educadores(as) devem tomar cuidado com o que falam e com o que fazem. A criança está
em constante observação. Assim, é um bom momento para transmitir informações e valores (confiança,
respeito, amor, honestidade, responsabilidade), as crianças estão prestando atenção.
É nesse período que se fortalece a identidade de gênero e prepara a criança para o próximo período,
a puberdade.
Alguns tipos:
- Cócegas;
- Pegar nos próprios genitais e nos dos / das coleguinhas;
- Brincadeiras de médico;
- Brincadeiras de papai e mamãe.
Atenção: essas brincadeiras devem ser feitas com crianças da mesma idade.
Ainda sobre os jogos sexuais, Suplicy afirma que “os professores constataram que em geral os jogos
sexuais são realizados na hora do recreio. As crianças escolherem um lugar protegido, fora da vista do
adulto; não tiram a roupa e brincam de médico e de papai-e-mamãe. Se esses jogos forem observados,
mas não atrapalharem nenhuma atividade, não precisam ser interrompidos, pois fazem parte do
desenvolvimento sexual da criança. O professor só deve estar atento para que não haja coação nessas
brincadeiras”.
Os jovens e a sexualidade34
Para realizar uma prática adequada de Orientação Sexual com jovens, é necessário que o profissional
conheça o público beneficiário de sua ação, ou seja, de quem e com quem falamos na condição de
educadores.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei 8.069, de 13 de julho de 1.990 – Art. 2º)
“considera-se criança, [...], a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre
doze e dezoito anos de idade” (Brasil, 1990).
Muitos autores que se preocupam com a temática da infância e juventude afirmam que não é possível
definir o período que compreende a infância e a adolescência apenas pela faixa etária. Quando podemos
afirmar que uma criança deixou de sê-lo e passou a ser adolescente? Quais comportamentos são
considerados infantis, juvenis e/ou adultos? Estes são questionamentos complexos.
Em todos os questionamentos que formulamos a respeito dos seres humanos, devemos sempre
conceber o homem enquanto ser integral, biopsicossocial. Desta forma, precisamos considerar as
34
BRANCO, M. A. O.; PINTO, M. J. C.; VIANNA, a. M. S. A. Orientação Sexual com Jovens: Construindo um Exercício Responsável da Sexualidade. Simpósio
Internacional de Educação Sexual da UEM, 2009.
Nos garotos ocorre o aparecimento da barba, e a laringe se alarga provocando a tendência da voz se
tornar mais grave. Também ocorre o aumento da massa muscular, com consequente ampliação da força
física, e o aumento do pênis e testículos.
Nas garotas ocorre o aumento dos seios, quadris, nádegas e coxas, dando ao corpo o aspecto de
mulher em fase adulta. A partir da puberdade a garota passa a menstruar, característica que sinaliza que
seu organismo está pronto para gerar filhos.
É preciso deixar claro que puberdade não é sinônimo de adolescência. Puberdade compreende as
transformações corporais que tornam o corpo humano adequado para a reprodução, deixando de ser um
corpo infantil para tornar-se um corpo adulto. A adolescência compreende um período mais extenso e
significativo que a puberdade, sendo esta etapa constituinte daquela.
O termo adolescência vem do termo latino adolescere, que significa “crescer, engrossar, tornar maior”.
Em relação à dimensão psicológica, segundo Canosa Gonçalves et. al. e Tavares, as crianças que se
tornam adolescentes também passam por transformações. A principal delas é em relação à própria
identidade. Neste momento, o adolescente necessita se reconhecer num corpo transformado, que não é
mais o corpo infantil que ele tinha, e que agora é um corpo adulto, visivelmente modificado.
Outro passo importante é a consolidação de si próprio enquanto pessoa “independente”, sob o ponto
de vista da determinação de suas escolhas pessoais e da responsabilidade que elas trazem. É neste
momento que pode haver uma divergência, e até um questionamento, com as regras determinadas pela
família e pela sociedade.
Na adolescência é comum ocorrer uma identificação muito intensa do jovem com seu grupo de “iguais”,
em geral outros jovens. Não é raro este grupo (galera, turma, etc.) compartilhar um determinado modo de
conversar, de se vestir, enfim, de se comportar. Esta identificação com o grupo é importante na construção
da própria identidade (pessoal, sexual, social) do adolescente.
Em geral, nesta fase do desenvolvimento ocorrem as primeiras manifestações da sexualidade adulta,
ou seja, o primeiro beijo, o “ficar”, o namoro, as primeiras experiências eróticas. Trata-se de uma busca
pelo outro para um relacionamento afetivo-sexual. “A adolescência é uma fase de descobertas, de
desafios e a sexualidade humana talvez seja, para a maioria dos jovens, o aspecto mais interessante
desta jornada”.
Em relação à dimensão social, precisamos considerar que a adolescência enquanto processo de
desenvolvimento humano não é universal, ou seja, não é igual para todos os jovens. Cada um vivenciará
a sua adolescência de acordo com suas condições de vida, o seu lugar de moradia, a dinâmica de sua
família de origem, as características de acesso à escola ou aos serviços de saúde, as modalidades de
lazer a que tem acesso, dentre outros condicionantes. Todas as transformações vivenciadas pelo jovem
são construídas mediante as relações sociais que eles estabelecem. Não existe um “padrão”. Cada
indivíduo, a partir de sua realidade social, vivenciará sua juventude de forma particular.
Não devemos pensar a juventude como crise, mas como um processo do ciclo vital do jovem. Isto quer
dizer que devemos compreender o jovem não enquanto um “problema” ou um “fardo”. Deve ser
compreendido sempre a partir da sua pessoa em condição peculiar de desenvolvimento inserida num
determinado contexto sociocultural.
Outro fator importante a ser abordado é o prolongamento da juventude. Atualmente vivenciamos uma
clara dificuldade em delimitar o término deste período. Não é raro encontrarmos pessoas que pretendem
Citando Suplicy et. al. “Orientação Sexual é um processo de intervenção sistemática na área de
sexualidade, realizado principalmente nas escolas e envolve o desenvolvimento sexual compreendido
como: saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, autoestima e relações de
gênero. Enfoca as dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e espirituais da sexualidade, através
do desenvolvimento das áreas cognitiva, afetiva e comportamental, incluindo as habilidades para a
comunicação e a tomada responsável de decisões”.
Percebemos a concordância de Suplicy et. al. com Ribeiro em afirmar que a Orientação Sexual é
uma prática interventiva sistemática na área da sexualidade. Suplicy et. al., na definição citada,
enfatiza que a Orientação Sexual deve ser pensada e executada a partir da consideração do orientando
enquanto ser integral, ou seja, devem ser consideradas suas dimensões fisiológicas, sociológicas,
psicológicas e espirituais no exercício de sua sexualidade. Além disso, a Orientação Sexual deve
contemplar diversos aspectos do desenvolvimento sexual dos indivíduos, ou seja, saúde reprodutiva,
relações interpessoais, afetividade, imagem corporal, autoestima e relações de gênero. Compreende-se
o ser humano enquanto ser sexuado inserido num meio social, que continuamente se relaciona com
outros seres humanos. Desta forma, amplia-se o enfoque da Orientação Sexual no Brasil que, no início e
meados do século XX priorizava a dimensão biológica da sexualidade. No final do século XX e nos dias
atuais, deve-se compreender a sexualidade enquanto manifestação humana, com desdobramentos além
da mera reprodução e da possibilidade de contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Tais
aspectos não devem ser descartados, mas deve-se somar a eles outros aspectos como o prazer, as
relações afetivas e os papéis sexuais na (re)definição de gênero.
Neste contexto, Santos e Bruns apontam que um dos objetivos da Orientação Sexual é levar o
indivíduo a valorizar o prazer, o respeito mútuo, possibilitando-lhe uma vivência mais íntegra e feliz.
No Brasil, a sexualidade tem sido um aspecto polêmico do cotidiano das pessoas, desde a época da
Colônia do século XVI.
Barroso e Bruschini afirmam que, no início do século XX, esta influência europeia manifesta-se no
Brasil através de algumas correntes médicas e higienistas de sucesso na Europa. Tais correntes
pregavam a necessidade de uma Educação Sexual eficaz no combate à masturbação e às doenças
venéreas (termo utilizado na época para referir-se às doenças sexualmente transmissíveis – DST´s) e
que preparasse a mulher para desempenhar adequadamente seu “nobre papel de esposa e de mãe”.
Notamos que, logo no início de suas atividades no Brasil, a Orientação Sexual carrega uma característica
de incitação do medo aos jovens (combate à masturbação e às doenças sexualmente transmissíveis –
DST´s), além de ser impregnada pela chamada ideologia de gênero machista (preparar a mulher para
desempenhar adequadamente seu papel de esposa e mãe).
Neste momento, emerge a produção de teses, livros e manuais que tratam da Orientação Sexual,
todos baseados no modelo médico higienista vigente. Referenciando este período, Chauí cita uma obra
datada de 1938, de autoria de Oswaldo Brandão da Silva, intitulada Iniciação Sexual-Educacional. Este
livro, segundo consta, tinha um conteúdo destinado somente aos “meninos de valor”. Segundo esta
autora, o autor da obra não explica o significado do termo “valor”, mas fica claro que as meninas estavam
proibidas de ler tal obra, pois deveriam manter-se inocentes e ser iniciadas na vida sexual apenas por
seus maridos. Interessante ressaltar que, do grupo de meninas excluídas do acesso ao conteúdo da obra,
não fazem parte as prostitutas. Estas eram consideradas uma tentação para os meninos enquanto
aquelas eram chamadas de meninas de “boa família”.
Entre as décadas de 1920 e 1940, mesma época em que foi publicado o manual citado por Chauí,
foram publicados vários outros livros de orientação sexual cientificamente fundamentados, escritos por
médicos, professores e até sacerdotes. Assim foi criada a sexologia enquanto campo oficial do saber
médico.
Na época das primeiras experiências em Orientação Sexual nas escolas brasileiras, o país vivia seu
período histórico e político chamado de ditadura militar. Em 1964, a população assiste à chegada das
forças armadas ao poder da República Federativa do Brasil, através da imposição do Golpe de Estado.
A partir daí, o regime militar reprime não só as manifestações políticas, mas também as manifestações
sexuais e as implicações nos padrões de comportamento delas decorrentes.
De 1989 a 1992, na cidade de São Paulo, foi desenvolvido um abrangente projeto de Orientação
Sexual nas escolas municipais, com a participação do renomado GTPOS (Grupo de Trabalho e Pesquisa
em Orientação Sexual). Este projeto atingiu 30.000 alunos e foram capacitados 1.105 professores para
oferecer ações de orientação sexual nas escolas.
Nota-se que, desde as primeiras experiências de projetos de Orientação Sexual na década de 1960,
não existiram ações continuadas, sendo que estes projetos historicamente ficaram atrelados às vontades
político-partidárias de prefeitos ou governadores.
Ribeiro corrobora dizendo que, somente com a aprovação da LDB – Lei de Diretrizes e Bases em 1996
e o estabelecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997 como linhas a serem seguidas para
se concretizar a meta da educação para o exercício da cidadania, a Orientação Sexual teve oficialmente
reconhecida sua necessidade e importância enquanto ação educativa escolar.
Podemos constatar na maioria dos programas de Orientação Sexual executados no Brasil, ainda nos
dias atuais, uma tendência de mostrar apenas os problemas e possíveis más consequências da
sexualidade. Em geral, no conteúdo destes programas são enfatizadas (quando não são exclusivas) as
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis e as gravidezes precoces na adolescência, com
maternidade e/ou paternidade indesejadas. Este conteúdo não sensibiliza os jovens para a discussão
construtiva do tema sexualidade humana. Eles costumam não se sentir à vontade para receber uma
adequada Orientação Sexual, pois identificam claramente a repressão sexual que experimentam em seu
meio social, aqui também reproduzida pelos profissionais orientadores sexuais.
Em contato com um conteúdo de Orientação Sexual que prioriza os problemas advindos de uma
vivência inadequada da sexualidade e não os aspectos afetivos, prazerosos, e de respeito às relações
humanas, os jovens costumam não perceber uma relação coerente entre o conteúdo abordado e suas
próprias experiências reais concretas. Comenta-se que o sexo traz problemas, mas a maioria dos jovens
percebe suas experiências sexuais como prazerosas, surgindo aí um paradoxo.
Desta forma, urge a necessidade da discussão de conteúdos adequados à realidade dos jovens para
que eles possam realmente tomar atitudes responsáveis na vivência de suas sexualidades. Assim, um
programa efetivo de Orientação Sexual deve reconhecer o exercício prazeroso da sexualidade, sem
deixar de contemplar as medidas de proteção à saúde e os métodos contraceptivos para tornar possível
a emergência de maternidades e paternidades responsáveis, no momento de escolha consciente de cada
pessoa que deseje ter filhos.
Nos dias atuais, percebe-se a crescente preocupação de alguns pais e educadores diante do número
de gestações na adolescência. Segundo o Ministério da Saúde, enquanto a taxa de fecundidade de
mulheres adultas tem caído nas últimas quatro décadas, entre as mulheres jovens existe uma relação
inversamente proporcional. “Desde os anos 90, a taxa de fecundidade entre adolescentes aumentou 26%.
Tal preocupação mobiliza e estimula o avanço das ações em orientação sexual, o que pode ser
intensamente benéfico para os jovens, visto que eles poderão ter maior acesso a programas desta
natureza. No entanto, cabe questionar se pais e educadores ainda mantêm seu foco sob uma concepção
repressiva da sexualidade humana, desejando que uma Orientação Sexual possa produzir uma atitude
Percebemos o complexo dever atribuído à Orientação Sexual no âmbito escolar na medida em que é
sua função a reflexão contínua sobre as informações constantes recebidas pelos jovens em suas relações
sociais. Daí decorre a necessidade de que os profissionais que executam programas de Orientação
Sexual tenham conhecimentos científicos suficientes e adequados para abordar as demandas cotidianas
da juventude em relação à sexualidade. É preciso que, pela Orientação Sexual, os jovens possam formar
suas opiniões a respeito do tema para propiciar um pleno exercício de suas sexualidades.
Apesar da clara proposição dos PCN de conceber a Orientação Sexual no âmbito escolar enquanto
tema transversal extremamente importante para a formação de valores conscientes pelos jovens em
relação à sexualidade, muitas dificuldades têm permanecido no exercício diário desta prática educacional.
Como sexo é um assunto intensamente repleto de repressões em nossa sociedade ocidental, muitos
educadores não manifestam interesse sobre o tema, deixando de buscar formação adequada para o
trabalho de Orientação Sexual com a juventude.
Além dos profissionais diretamente em contato com os jovens, há uma grande parcela de educadores
que são dirigentes de estabelecimentos educacionais e, reproduzem as mesmas repressões sociais em
relação à sexualidade, não contribuindo positivamente para a execução de bons programas de Orientação
Sexual, uma vez que não acreditam que este tema seja importante para a comunidade estudantil ou
acreditam que falar sobre sexualidade com jovens estudantes pode induzi-los à prática precoce de
relações sexuais.
A Orientação Sexual na escola ainda tem um extenso caminho a ser trilhado para que a sexualidade,
presente na vida de todas as pessoas, possa ser tratada (e aprendida) pelos profissionais da educação
e seus respectivos educandos sem os massacrantes e silenciadores tabus e com respeito e propriedade,
para inibir práticas inadequadas e produzir práticas saudáveis do exercício da sexualidade.
O Educador/Orientador Sexual
Retomando a discussão sobre a definição dos termos “educação sexual” e “orientação sexual”
presente no item “Orientação Sexual X Educação Sexual” deste trabalho, encontramos com maior
frequência na literatura especializada o termo “educador sexual” referindo-se àquele profissional que
Marcas epistemológicas
O modo de compreender a diferença evoluiu no sentido de pensa-la junto com o seu duplo, seu
contrário, seu avesso, ou seja, ela é sempre relacional e dificilmente bipolarizada. Esse modo de
compreensão aguça a sensibilidade humana e sua condição de experimentar, de se (auto)inventar.
A relevância do debate crítico ancorado no domínio discursivo da heterossexualidade que,
pretensiosamente hegemônica e unificada em um modo de ser, desconsidera outras formas que não
atendem às suas práticas discursivas. Pensamos que essa situação reflete-se diretamente nas práticas
curriculares, prejudicando o entendimento de diversas relações sociais e culturais presentes na escola, e
mais amplamente, na sociedade. Estamos entendendo como currículos as ações escolares, culturais e
tecnológicas (arquitetura, livros didáticos, vestimentas, músicas, conteúdos e dizeres científicos, meios
midiáticos e outros) que, significadas na cultura, ensinam e regulam o corpo, produzindo subjetividades
e arquitetando formas e configurações de viver na sociedade.
A discussão na escola
Na escola, as atitudes de hostilidade às identidades sexuais dissidentes são capazes de gerar
inúmeras situações de violências homofóbicas. Algumas, que não se encontram na esfera dos números
e dados quantitativos, são vivenciadas no silêncio e ocultadas na invisibilidade.
A discriminação afirma o “direito” dos que discriminam e a subalternidade dos que são discriminados.
Nesse sentido, ela é observada nos espaços-tempos escolares. As identidades vinculadas às
expectativas de gênero e/ou sexo biológico estão no interior das hierarquizações e classificações sociais,
tanto quanto nos currículos e, mais amplamente, nas ações e relações do cotidiano escolar.
A sexualidade, infelizmente, é algo temido e capaz de gerar tantos discursos na sociedade, na ciência
e na cultura. Sua estreita relação com o conhecimento amedronta os que se nutrem da arrogância, porque
fragiliza suas verdades e certezas.
Foucault35 nos ajuda a observar que é preciso fortalecer, aprofundar e prosseguir contra a dicotomia e
lógica binária, até que as oposições binárias deixem de ter sentido e se consolidem convivências
solidárias, em contextos sem discriminações e violências. Como estratégia para fazer difuso o antigo jogo
de poder que se instala na relação entre opressor e oprimido, a proposta foucaultiana é a “proliferação”
de saberes sobre os seres humanos e as relações e de poder que os oprimem, de tal modo que o modelo
jurídico de poder como opressão e regulação deixe de ser hegemônico. Talvez, desse significado de
“proliferação” de saberes, possamos retirar as bases para “proliferar” inúmeras e ilimitadas formas de
compreender os seres humanos, sem as violências, já tantas vezes vivenciadas, e com tantas
exterminações em massa, como na Segunda Guerra, devido à não aceitação do “outro”, a quem se atribui
dessemelhança e desigualdade, potencializando os efeitos destrutivos da xenofobia que, em todas as
suas manifestações, incluindo as homofóbicas, conduz e justifica a aversão, o domínio ou a eliminação
dos “estranhos”, que ameaçam e incomodam o exercício arbitrário do poder.
35
FOUCAULT, M. História da sexualidade – A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
BISSEXUAL: pessoa que tem desejos, práticas sexuais e relacionamento afetivo-sexual com pessoas
de ambos os sexos;
CORPO: inclui além das potencialidades biológicas, todas as dimensões psicológicas, sociais e
culturais do aprendizado pelo qual as pessoas desenvolvem a percepção da própria vivência. Não existe
um corpo humano universal – mas sim corpos marcados por experiências específicas de classe, de etnia,
de raça, de gênero, de idade. Visto que os corpos são significados e alterados pelas diferentes culturas,
pelos processos morais, pelos hábitos, pelas distintas opções e possibilidades de desejo, além das
diversas formas de intervenção e produção tecnológica. Por isso, o corpo é uma produção histórica.
Foucault ao analisar instituições como escolas, prisões, hospitais psiquiátricos, fábricas, fala das
maneiras como as diferentes disciplinas controlam, domesticam, normalizam os corpos. Sua preocupação
é com as práticas sociais, sendo que é no corpo que se dá o controle da sociedade sobre os indivíduos.
Os corpos apresentam as marcas do processo de passar ou não pela escola como o auto disciplinamento,
o investimento continuado e autônomo do sujeito sobre si mesmo.
Louro parte do pressuposto antropológico de que "os corpos são o que são na cultura”, isto é, que os
corpos adquirem seu significado apenas através dos discursos na cultura e na história. Essa vertente se
afasta das discussões teóricas nas quais o corpo é tido como “natural”, no qual o biológico determina o
gênero.
DESIGUALDADE: é um fenômeno social que produz uma hierarquização entre os indivíduos e/ou
grupos que não permite o tratamento igualitário (em termos de mercado de trabalho, de acesso a bens e
recursos, para todos e todas.
Essa desigualdade existe na divisão dos atributos entre homens e mulheres. Esse desnível se
evidencia em vários contextos: familiar, social, escolar, religioso, econômico, político,... Dessa forma, fica
claro que existem fronteiras que separam atitudes e comportamentos tidos como apropriados, válidas e
legítimas relacionadas ao sexo masculino e ao feminino.
DIFERENÇA: indivíduos e/ou grupos possuem várias formas de distinção e de semelhanças (cor, sexo,
idade, nacionalidade). A desigualdade pauta-se por essas diferenças e semelhanças que constituem os
indivíduos e/ou grupos.
DIREITOS SEXUAIS: direitos que asseguram aos indivíduos a liberdade e a autonomia nas escolhas
sexuais, como a de exercer a orientação sexual sem sofrer discriminações ou violência. Os direitos
sexuais englobam múltiplas expressões legítimas da sexualidade, como por exemplo, o direito à saúde –
direito de cada pessoa de ver reconhecidos e respeitados o seu corpo (autonomia), o seu desejo e o seu
direito de amar (reconhecimento da diversidade sexual).
GÊNERO: conceito formulado a partir das discussões trazidas do movimento feminista para expressar
contraposição ao sexo biológico e aos termos “sexo” e “diferença sexual”, distinguindo a dimensão
biológica da dimensão sexual e, acentuando através da linguagem, “o caráter fundamentalmente social
HETERONORMATIVIDADE: termo utilizado para expressar que existe uma norma social que está
relacionada ao comportamento heterossexual como padrão. Dessa forma, a ideia de que apenas o padrão
de conduta heterossexual é válido socialmente, colocando em desvantagem os sujeitos que possuem
uma orientação sexual diferente da heterossexual.
HETEROSSEXUAL: quem tem atração sexual por pessoas do sexo oposto ao seu, e relacionamento
afetivo-sexual com elas. Heterossexuais não precisam, necessariamente, terem vivido experiências
sexuais com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto para se identificarem como tal.
HOMOAFETIVO: é um termo utilizado para descrever relações entre pessoas do mesmo sexo e tem
relação com os aspectos emocionais e afetivos envolvidos na relação amorosa e sexual entre essas
pessoas.
HOMOFOBIA: termo usado para descrever vários fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
discriminação e à violência contra os homossexuais (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas
com orientação sexual diferente do padrão heterossexual). O termo, no entanto, não se refere ao conceito
tradicional de fobia, facilmente associável à ideia de doença e tratados com terapias e antidepressivos.
Atualmente, grupos lésbicos, bissexuais e transgêneros, com o intuito de conferir maior visibilidade
política à suas lutas e criticar normas e valores postos pela dominação masculina, propõem, também, o
uso dos termos lesbofobia, bifobia e transfobia.
Daniel Borrillo faz uma leitura epistemológica e política desse conceito, não para compreender a
origem e o funcionamento da homossexualidade, mas para “analisar a hostilidade provocada por essa
forma específica de orientação sexual”. Segundo este autor quando a homossexualidade requer
publicamente sua expressão é que se torna insuportável, pois rompe com a hierarquia da ordem sexual.
Por isso, a tarefa pedagógica deve ser questionar a heterossexualidade compulsória e mostrar que a
hierarquia de sexualidades é tão insustentável quanto a de sexos, bem como incluir a ideia de diversidade
sexual em livros e apostilas escolares.
HOMOSSEXUAL: é a pessoa que tem atração sexual e afetiva por pessoas do mesmo gênero e
relacionamento com elas.
HOMOSSEXUALIDADE: é a atração sexual e afetiva por pessoas do mesmo sexo. Cabe uma
ressalva, não é correto o uso do termo homossexualismo, porque reveste de conotação negativa,
atribuindo-lhe significado de doença e aberração. Por isso, devemos preferir a utilização dos termos
homossexualidade, lesbianidade, bissexualidade, travestilidade, transgeneridade e transexualidade.
IDENTIDADE SEXUAL: Identidades sexuais se constituem através das formas como vivemos nossa
sexualidade, e refere-se a duas questões diferenciadas:
1) é o modo como a pessoa se percebe em termos de orientação sexual;
2) é o modo como ela torna pública (ou não) essa percepção de si em determinados ambientes ou
situações. Quer dizer, corresponde ao posicionamento (nem sempre permanente) da pessoa como
homossexual, heterossexual, ou bissexual, e aos contextos em que essa orientação pode ser assumida
pela pessoa e/ou reconhecida em seu entorno.
LESBOFOBIA: termo usado para descrever vários fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
discriminação e à violência contra as lésbicas (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com
orientação sexual diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
MACHISMO: é a crença de que os homens são superiores às mulheres. É uma construção cultural
que definiu que as características atribuídas aos homens, tem um valor maior. Se pensarmos na educação
de meninos e meninas, veremos que há um tratamento diferenciado que reproduz as manifestações de
machismo nos meninos, e às vezes, nas próprias meninas. Ao incentivar (infidelidade, violência
doméstica, esporte, diferença de direitos).
MASCULINIDADE: Faz oposição ao termo feminilidade e diz respeito a imagem estereotipada de tudo
aquilo que seria próprio dos indivíduos homens, ou seja, às características e comportamentos
considerados por uma determinada cultura como associados ou apropriados aos homens. Ver
feminilidade, pois são conceitos relacionais que não passíveis de serem entendidos separadamente.
RACISMO: conjunto de princípios que se baseia na superioridade de uma raça sobre a outra. A atitude
racista é aquela que atribui qualidades aos indivíduos conforme seu suposto pertencimento biológico a
uma determinada raça. Não é apenas uma reação ao outro, mas é uma forma de subordinação do outro.
TRANSEXUAL: pessoa que possui uma identidade de gênero diferente do sexo designado no
nascimento. Homens e mulheres transexuais podem manifestar o desejo de se submeterem a
intervenções médico-cirúrgicas para realizarem a adequação dos seus atributos físicos de nascença
(inclusive genitais) à sua identidade de gênero constituída.
TRANSFOBIA: termo usado para descrever vários fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
discriminação e à violência contra transexuais (ter desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com
orientação sexual diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
TRANSGÊNEROS OU TRANS: são termos utilizados para reunir, numa só categoria, travestis e
transexuais como sujeitos que realizam um trânsito entre um gênero e outro.
TRAVESTI: pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade de gênero
oposta a seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade.
Muitas travestis modificam seus corpos através de hormonioterapias, aplicações de silicone e/ou cirurgias
plásticas, porém vale ressaltar que isso não é regra para todas (Definição adotada pelo Conferência
Nacional LGBT em 2008)
Questões
01. (SEDUC/SP - Conhecimentos Pedagógicos - FGV) Leia o fragmento a seguir. “Além das novas
demandas e dos entraves do cenário escolar e suas próprias condições de vida e de trabalho, o professor
ainda se depara com outras dificuldades que complicam a realização das intenções dos PCNs de ênfase
em parâmetros curriculares não tradicionais, como sexualidade e gênero”. (Abramovay et al., 2004)
Assinale a alternativa que apresenta a proposta que tem como objetivo mitigar o apresentado no
fragmento.
(A) Suspender a aplicação do tema transversal orientação sexual.
(B) Deixar o tema da sexualidade e da afetividade como responsabilidade exclusiva dos professores
da área de Biologia, já que configuram o “saber competente”.
(C) Capacitar os professores para lidar com o tema sexualidade.
(D) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual aos movimentos sociais.
(E) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual às famílias dos alunos.
02. (SEDUC/RJ - Conhecimentos Básicos - CEPERJ) Uma das questões formativas fundamentais
da vida humana, incorporadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, é a orientação sexual. Segundo
os PCNs, as questões relativas à orientação sexual devem constituir:
(A) uma nova disciplina com horário específico de aulas na escola
(B) uma nova área de conhecimento a ser desenvolvida em interface com as agências de educação
permanente da sociedade
(C) uma área de conhecimento específica do ensino médio e tratada como disciplina
(D) um tema específico a ser tratado nas aulas de Biologia e Sociologia
(E) um tema transversal que permeia as diferentes disciplinas e áreas de conhecimento
03. (IF/PE - Assistente de alunos) Leia a seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e
diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais e devem ser discutidos em diferentes
instâncias da sociedade”. A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se
(A) exclusivamente às características físicas e biológicas entre o corpo do homem e da mulher, do
menino e da menina.
(B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram construídas a partir do século XXI.
(C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram construídas exclusivamente depois dos
movimentos feministas.
(D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram construídas no decorrer da história da
humanidade por meio dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela sociedade.
(E) exclusivamente às características físicas e biológicas entre o corpo do homem e da mulher, depois
que eles atingem a maturidade sexual.
04. (IF/PE - Assistente de Alunos) Leia a seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e
diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais e devem ser discutidos em diferentes
instâncias da sociedade”. A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se
(A) exclusivamente às características físicas e biológicas entre o corpo do homem e da mulher, do
menino e da menina.
(B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram construídas a partir do século XXI.
(C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram construídas exclusivamente depois dos
movimentos feministas.
(D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram construídas no decorrer da história da
humanidade por meio dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela sociedade.
Gabarito
Comentários
01. Resposta: C.
A letra A trata a suspensão do tema e essa não é uma pratica proposta uma vez que a orientação
sexual esta como tema transversal nos PCN desde 1995.
A letra B trata de deixar o tema como responsabilidade do professor de biologia, está errada pois como
tema transversal não é um saber competente de uma única disciplina.
A letra C está correta.
A letra D sugere delegar a responsabilidade pela orientação sexual aos movimentos sociais, está
errada pois os movimentos sociais podem até tratar o tema mas não deve ser colocado como
responsabilidade destes.
A letra E está errada uma vez que a responsabilidade pela orientação sexual não deve ser somente
da família mas também da escola.
02. Resposta: E.
O governo federal brasileiro, através do Ministério da Educação - MEC, em seus Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997), estabelece a Orientação Sexual no Ensino Fundamental enquanto tema
transversal, isto é, um assunto a ser trabalhado em todas as disciplinas escolares, por quaisquer
professores que se sintam mobilizados, sempre que houver espaço na grade curricular ou em horários
extraclasses.
03. Resposta: D.
Ao falar em sexo referem-se às características físicas e biológicas de cada um, às diferenças entre um
corpo de homem e de mulher, de menino e de menina. Porém ao falar em gênero, trata-se às diferenças
que foram construídas ao longo da história da humanidade por meio dos costumes, ideias, atitudes,
crenças e regras criadas pela sociedade.
04. Resposta: D.
Quando falamos em sexo nos referimos às características físicas e biológicas de cada um, às
diferenças entre um corpo de homem e de mulher, de menino e de menina.
Mas, quando falamos em gênero, nos referimos às diferenças que foram construídas ao longo da
história da humanidade por meio dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela sociedade.
Relações de Gênero: “...Saber a respeito das diferenças sexuais - histórica, social e culturalmente
construída. Portanto relativa, contextual, contestável e mutável. É um saber que atravessa todas as
relações que se constituem na sociedade, organizando as relações de poder a partir do significados que
cada sociedade atribui à diferença sexual”. É mais do que a maneira que as pessoas se relacionam é o
jeito de olhar e compreender a realidade.
Velhice36
36
Revista Kairós Gerontologia, 15(3). Online ISSN 2176-901X - Print ISSN 1516-2567. São Paulo (SP), Brasil, 2012
37
Ageísmo: discriminação relacionada à idade.
No século XXI psicólogos do desenvolvimento enfrentam novos desafios uma vez que as novas
concepções de atuação profissional que enfatizam a prevenção e a promoção de saúde fazem com que
profissionais de várias áreas busquem na psicologia do desenvolvimento subsídios teóricos e
metodológicos para sua prática profissional. O que está em questão é o desenvolvimento harmônico do
indivíduo, que integra não apenas um aspecto, mas todas as dimensões do desenvolvimento humano
sejam elas: biológicas, cognitivas, afetivas ou sociais. 38
38
Texto adaptado de Márcia Elia da Mota, disponível em http://pepsic.bvsalud.org/
Plasticidade Cerebral
A ação da criança depende da maturação orgânica e das possibilidades que o meio lhe oferece: ela
não poderá realizar uma ação para a qual não tenha o substrato orgânico, assim como não fará muitas
delas, mesmo que biologicamente apta, se a organização do seu meio físico e social não propiciar sua
realização ou se os adultos não a ensinarem.
O ser humano aprende somente as formas de ação que existirem em seu meio, assim como ele
aprende somente a língua ou as línguas que aí forem faladas. As estratégias de ação e os padrões de
interação entre as pessoas são definidos pelas práticas culturais.
Isto significa que a cultura é constitutiva dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem.
A criança se constitui enquanto membro do grupo por meio da formação de sua identidade cultural,
que possibilita a convivência e sua permanência no grupo. Simultaneamente ela constitui sua
personalidade que a caracterizará como indivíduo único.
39
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag1.pdf
Desenvolvimento cultural
A partir da sua ação e interação com o mundo (a natureza, as pessoas, os objetos) e das práticas
culturais, a criança constitui o que chamamos de função simbólica, ou seja, a possibilidade de representar,
mentalmente, por símbolos o que ela experiencia, sensivelmente, no real.
O desenvolvimento da função simbólica no ser humano é de extrema importância, uma vez que é por
meio do exercício desta função que o ser humano pode construir significados e acumular conhecimentos.
Todo ensino na escola, de qualquer área do conhecimento, implica na utilização da função simbólica.
As atividades que concorrem para a formação da função simbólica variam conforme o período de
desenvolvimento. Por exemplo, o desenho e a brincadeira de faz-de-conta são atividades simbólicas
próprias da criança pequena, que antecedem a escrita: na verdade, elas criam as condições internas para
que a criança aprenda a ler e a escrever.
A linguagem escrita, a matemática, a química, a física, o sistema de notação da dança, da música são
manifestações da função simbólica. As aprendizagens escolares são apropriações de conhecimentos
formais, ou seja, conhecimentos organizados em sistemas. Sistematizar é estabelecer conceitos, ordená-
los em níveis de complexidade com regras internas que regulam a relação entre os elementos que os
compõem. Todo conhecimento formal é representado, simbolicamente, pela linguagem de cada sistema.
Por exemplo:
a) a2 = b2 + c2
b) 15 + 36 = 51
c) O gato correu atrás do cachorro.
O cachorro correu atrás do gato
Em b e c temos uma regra importante que é o valor posicional: a posição dos elementos simbólicos
determina o significado (1 e 5) 15 é diferente de 51. O mesmo se aplica ao gato que corre atrás do
cachorro, em que se explicita a ação inversa do cachorro que corre atrás do gato.
A função simbólica é a atividade mais básica das ações que acontecem na escola, tanto do educador
como do educando. Quando os elementos do currículo não mobilizam adequadamente o exercício desta
função, a aprendizagem não se efetua.
Apostila gerada especialmente para: Betânia Mueller 023.712.580-32
. 291
Nesta dimensão do simbólico, as artes destacam-se, pois são elas as formas mais complexas de
atividade simbólica humana. Anteriores aos conhecimentos formais, elas propiciaram a estruturação dos
movimentos e das imagens de forma que eles pudessem evoluir culturalmente para sistemas de registros.
Percepção
A percepção é realizada pelos cinco sentidos externos. O ser humano desenvolve estes sentidos
desde que não haja impedimentos nos órgãos dos sentidos ou nas estruturas cerebrais que processam
a percepção de cada um deles. Quando isto acontece, um sentido “compensa” o outro: a pessoa
desenvolve mais o tato quando não enxerga, desenvolve mais a visão quando não ouve. Nestes casos,
também, o ser humano pode desenvolver os dois subsentidos externos que são a vibração e o calor.
Isso revela que os sentidos funcionam com interdependência, o que tem uma relevância fundamental
para os professores, pois o ensino deve mobilizar várias dimensões da percepção para que o aluno possa
“guardar” conteúdos na memória de longa duração.
Há maior empenho em perceber algo quando há algum interesse neste “algo”. Por exemplo, quando
alguém ouve uma música de um cantor de quem gosta muito, fica atento e evoca a melodia ou a letra.
Se for uma canção nova e se reconhece a voz do cantor, mobiliza os processos mentais da memória
auditiva a partir da percepção auditiva, ou seja, seleciona a canção, destacando-a das outras informações
sonoras e/ou ruídos presentes no ambiente.
Por outro lado, a percepção pode criar um interesse novo. Ao ser introduzida a um conhecimento novo,
uma pessoa pode se interessar ou não por ele, dependendo das estratégias utilizadas por quem o
introduz. Assim, em sala de aula, não é somente o conteúdo que motiva, mas, sobretudo, como o
professor trabalha com o conteúdo, seja ele da escrita, artes ou ciências.
A percepção visual é o processamento de atributos do objeto como cor, forma e tamanho. Ela acontece
em regiões do córtex cerebral e há fortes indicações de que estas regiões sejam as mesmas ou estejam
muito próximas daquelas que “guardariam” a memória dos objetos. Desta forma, percepção e memória
estão muito próximas nas aprendizagens escolares.
Memória
Toda aprendizagem envolve a memória. Todo ser humano tem memória e utiliza seus conteúdos a
todo o momento. São três os movimentos da memória: o de arquivar, o de evocar e o de esquecer. Ao
entrar em contato com algo novo, o ser humano pode criar novas memórias, ou seja, arquiva este
conhecimento, experiência ou ideia em sua memória de longa duração. As impressões gravadas na
memória de longa duração, a partir das experiências vividas, podem ser “evocadas”, trazidas à
consciência. Outras experiências, informações, vivências, imagens e ideias são esquecidas.
Sabemos que estes movimentos têm uma participação do sistema límbico no qual se originam nossas
emoções. A memória é modulada pela emoção. Isto quer dizer que os estados emocionais podem
“interferir”, facilitando ou reforçando a formação de novas memórias, assim como podem, também,
enfraquecer ou dificultar a formação de uma nova memória.
Quanto ao tempo, os tipos de memória são muito importantes para o educador, pois as aprendizagens
escolares dependem da formação de novas memórias de longa duração. Muitas vezes, no entanto, os
conteúdos ficam no nível da curta duração e desaparecem rapidamente. O desafio da pedagogia é
formular metodologias de ensino que transformem esta primeira ação da memória (curta duração) em
memórias de longa duração. É importante mencionar aqui que temos, também, a possibilidade de formar
uma memória ultrarrápida que desaparece após a sua utilização, como quando, por exemplo, gravamos
um número de telefone para discá-lo e, logo em seguida, já o esquecemos.
Quanto à natureza, temos vários tipos de memória. Temos a memória implícita, a memória explícita e
a operacional. A memória explícita pode ser semântica ou episódica.
Para as aprendizagens escolares, precisam ser mobilizadas a memória explicita semântica e a
memória operacional.
Para a formação de novas memórias dos conteúdos escolares ao aluno precisa, desde o início da
escolarização, ser ensinado o que fazer e como para aprender os conhecimentos envolvidos nas
aprendizagens escolares. O aluno precisa ser capaz de “refazer” o processo da aprendizagem. Refazer
implica tanto em recapitular o conteúdo ensinado, como em retomar as atividades (humanas) que o
levaram a “guardar” o conteúdo na memória de longa duração.
Memória operacional
Como o próprio nome diz, a memória operacional se ocupa das operações, ou seja, um sistema de
ações organizadas, segundo a natureza do comportamento. Por exemplo, está na memória operacional
o comportamento de andar, de dirigir, de dançar. São comportamentos que se efetuam, muito
rapidamente, para os quais não há “tempo” para comandos do cérebro. São comportamentos que têm
uma ordem de movimentos a ser seguida e esta ordem já está “fixada” na memória.
Na memória operacional estão as conjugações verbais, isto é, os tempos futuro, presente e passado
do verbo. Assim, a organização da ação no tempo se realiza com a participação deste tipo de memória.
Este fato tem implicações para as aprendizagens escolares. Com estas descobertas somos levados a
rever o ensino da sintaxe em português: a gramática é necessária para o aluno, pois fornece estrutura
para a apropriação e organização da linguagem escrita e a organização das informações em todas as
matérias.
Por exemplo, podemos motivar o aluno para um fenômeno científico que será estudado com o
concurso da mobilização da imaginação: como será que a energia elétrica surge na represa? Como será
que a luz chega à lâmpada?
Que será que acontece com a semente debaixo da terra? Como será que o computador guarda tanta
informação? Porque o rio muda de cor?
Levantar hipóteses para qualquer destas questões implica em ter liberdade de pensamento. Isto é, a
capacidade imaginativa no ser humano tem como base a liberação da experiência sensível imediata,
desta forma a pessoa pode lidar, livremente, com o acervo mental que detém de imagens, informações,
sensações colhidas nas várias experiências de vida, juntamente com as emoções e sentimentos que as
acompanharam.
O desenvolvimento humano e a aprendizagem, na escola, envolvem, precisamente, esta dialética de
receber informações por meio dos sentidos e ter a possibilidade de ir além delas pelas funções mentais.
De acordo com a publicação de Marcia Regina Terra40 o estudo do desenvolvimento do ser humano
constitui uma área do conhecimento da Psicologia em que concentram-se no esforço de compreender o
homem em todos os seus aspectos, englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo grau
de maturidade e estabilidade. Tal esforço, conforme mostra a linha evolutiva da Psicologia, tem culminado
na elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a partir de diferentes metodologias e pontos
de vistas, as condições de produção da representação do mundo e de suas vinculações com as visões
de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade.
Assim, dentre essas tantas teorias tem-se a de Jean Piaget, que, como as demais, busca compreender
o desenvolvimento do ser humano. No entanto, ela se destaca de outras pelo seu caráter inovador quando
40
http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/
Cada uma dessas fases é caracterizada por formas diferentes de organização mental que possibilitam
as diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a realidade que o rodeia. De uma forma geral,
todos os indivíduos passam por esses períodos na mesma sequência, porém o início e o término de cada
uma delas pode sofrer variações em função das características da estrutura biológica de cada indivíduo
e da riqueza (ou não) dos estímulos proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver inserido. Por
isso mesmo é que esta forma de divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida.
41
Tafner, M. A construção do conhecimento segundo PIAGET. s/d. Em http://www.cerebromente.org.br/
Sensório-motor
Para Piaget o universo que circunda a criança é conquistado mediante a percepção e os movimentos
(como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo).
Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação
para assimilar mentalmente o meio, é nesse período que a criança começa a discriminar ainda que de
forma pouco desenvolvida o meio que o cerca.
Segundo Lopes, as noções de espaço e tempo são construídas pela ação, configurando assim, uma
inteligência essencialmente prática, ou seja, é no contato direto com o objeto que o bebe começa a
construir a noção de espaço e de tempo de forma que ainda não há, neste período, uma construção
simbólica desenvolvida.
Considerando que esse período é marcado pela construção prática das noções de objeto, espaço,
causalidade e é assim que os esquemas vão "pouco a pouco, diferenciando-se e integrando-se, no
mesmo tempo em que o sujeito vai se separando dos objetos podendo, por isso mesmo, interagir com
eles de forma mais complexa." Nitzke diz que o contato com o meio é direto e imediato, sem
representação ou pensamento.
Exemplos: O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o que é posto em sua boca; "vê" o que está
diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-lo a boca.
Pré-operatório
Para Piaget, o que marca a passagem do período sensório-motor para o pré-operatório é o
aparecimento da função simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. Assim, conforme
demonstram as pesquisas psicogenéticas, a emergência da linguagem acarreta modificações importantes
em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez que ela possibilita as interações
interindividuais e fornece, principalmente, a capacidade de trabalhar com representações para atribuir
significados à realidade. Tanto é assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste estágio do
desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às possibilidades de contatos interindividuais fornecidos
pela linguagem.
É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma
representação, e esta substituição é possível, conforme Piaget, graças à função simbólica. Assim este
estágio é também muito conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica.
Contudo, Macedo lembra que a atividade sensório-motor não está esquecida ou abandonada, mas
refinada e mais sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua aprendizagem,
permitindo que a mesma explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimentos
e percepções intuitivas.
Exemplos: Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de
salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não
relaciona as situações.
Operatório-concreto
Conforme Nitzke, neste estágio a criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem,
casualidade ,..., sendo então capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade.
Apesar de não se limitar mais a uma representação imediata, depende do mundo concreto para abstrair.
Um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a capacidade da
representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação observada.
Operatório-formal
De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de
equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta. Isso
não quer dizer que ocorra uma estagnação das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na
adolescência, como enfatiza Rappaport, "esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo
adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão
como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental".
A representação agora permite à criança uma abstração total, não se limitando mais à representação
imediata e nem às relações previamente existentes.
Agora a criança é capaz de pensar logicamente, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender
mais só da observação da realidade. Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam
seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as
classes de problemas.
Exemplos: Se lhe pedem para analisar um provérbio como "de grão em grão, a galinha enche o papo",
a criança trabalha com a lógica da ideia (metáfora) e não com a imagem de uma galinha comendo grãos.
Em resumo, conforme aponta Coll, as relações entre teoria psicogenética x educação, apesar dos
complicadores decorrentes da "dicotomia entre os aspectos estruturais e os aspectos funcionais da
explicação genética" e da tendência dos projetos privilegiarem, em grande parte, um reducionismo
psicologizante em detrimento ao social, pode-se considerar assim que a teoria psicogenética trouxe
contribuições importantes ao campo da aprendizagem escolar.
Assim como no reino animal, para o ser humano pensamento e linguagem têm origens diferentes.
Inicialmente o pensamento não é verbal e a linguagem não é intelectual.
Convém ressaltar porém que o desenvolvimento da linguagem e do pensamento se cruzam, assim
com cerca dos dois anos de idade as curvas de desenvolvimento do pensamento e da linguagem, até
então separadas, encontram-se para, a partir daí, dar início a uma nova forma de comportamento. É a
partir deste ponto que o pensamento começa a se tornar verbal e a linguagem racional. Inicialmente a
criança aparenta usar linguagem apenas para interação superficial em seu convívio, mas, a partir de certo
ponto, esta linguagem penetra no subconsciente para se constituir na estrutura do pensamento da
criança. Sendo assim se torna possível à criança utilizar a linguagem de forma racional, atribuindo-lhe
significados.
A partir do momento que a criança descobre que tudo tem um nome, cada novo objeto que surge
representa um problema que a criança resolve atribuindo-lhe um nome. Quando lhe falta a palavra para
nomear este novo objeto, a criança recorre ao adulto. Esses significados básicos de palavras assim
adquiridos funcionarão como embriões para a formação de novos e mais complexos conceitos.
42
Texto adaptado disponível em http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/vigo.html
Teoria Vygotskiana43
Vygotsky trabalha com teses dentro de suas obras nas quais são possíveis descrever como: à relação
indivíduo/ sociedade em que afirma que as características humanas não estão presentes desde o
nascimento, nem são simplesmente resultados das pressões do meio externo, elas são resultados das
relações homem e sociedade, pois quando o homem transforma o meio na busca de atender suas
necessidades básicas, ele transforma-se a si mesmo. A criança nasce apenas com as funções
psicológicas elementares e a partir do aprendizado da cultura, estas funções transformam-se em funções
psicológicas superiores, sendo estas o controle consciente do comportamento, a ação intencional e a
liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do espaço presente. O
desenvolvimento do psiquismo humano é sempre mediado pelo outro que indica, delimita e atribui
significados à realidade, dessa forma, membros imaturos da espécie humana vão aos poucos se
apropriando dos modos de funcionamento psicológicos, comportamento e cultura. Neste caso podemos
citar a importância da inclusão de fato, onde as crianças com alguma deficiência interajam com crianças
que estejam com desenvolvimento além, realizando a troca de saberes e experiências, onde ambos
passam a aprender junto.
Vygotsky defende a educação inclusiva e acessibilidade para todos. Devido ao processo criativo que
envolve o domínio da natureza, o emprego de ferramentas e instrumentos, o homem pode ter uma ação
indireta, planejada tendo ou não deficiência, assim, pessoas com deficiência auditiva, visuais, e outras
podem ter um alto nível de desenvolvimento, a escola deve permitir que dominem depois superem seus
saberes do cotidiano. As crianças cegas podem alcançar o mesmo desenvolvimento de uma criança
normal, só que de modo diferente, por outra via, é muito importante para o pedagogo conhecer essa
peculiaridade, é a lei da compensação, não é o limite biológico que determina o não desenvolvimento do
surdo, cego, mas sim a sociedade que vem criando estes limites para que os deficientes não se
desenvolvam totalmente.
A segunda tese refere-se à origem cultural das funções psíquicas que se originam nas relações do
indivíduo e seu contexto social e cultural, isso mostra que a cultura é parte constitutiva da natureza
humana, pois o desenvolvimento mental humano não é passivo, nem tão pouco independente do
desenvolvimento histórico e das formas sociais da vida. O desenvolvimento mental da criança é um
processo continuo de aquisições, desenvolvimento intelectual e linguístico relacionado à fala interior e
pensamento e impondo estruturas superiores, ao saber de novos conceitos evita-se que a criança tenha
que reestruturar todos os conceitos que já possui. Vygotsky tinha como objetivo constatar como as
funções psicológicas, tais como memória, a atenção, a percepção e o pensamento aparecem primeiro na
forma primária para, posteriormente, aparecerem em formas superiores, assim é possível perceber a
importante distinção realizada entre as funções elementares (comuns aos animais e aos humanos) e as
funções psicológicas superiores (especificamente vinculada aos humanos).
A terceira tese refere-se a base biológica do funcionamento psicológico o cérebro é o órgão principal
da atividade mental, sendo entendido como um sistema aberto, cuja estrutura e funcionamento são
moldados ao longo da história, podendo mudar sem que ajam transformações físicas no órgão.
A quarta tese faz referência à característica mediação presente em toda a vida humana em que
usamos técnicas e signos para fazermos mediação entre seres humanos e estes com o mundo. A
linguagem é um signo mediador por excelência por isso Vygotsky a confere um papel de destaque no
processo de pensamento. Sendo esta uma capacidade exclusiva da humanidade. Através da fala
podemos organizar as atividades práticas e das funções psicológicas. As pesquisas de Vygotsky foram
realizadas com a criança na fase em que começa a desenvolver a fala, pois se acreditava que a
verdadeira essência do comportamento se dá a partir da mesma. É na atividade pratica, ou seja, na
coletividade que a pessoa se aproveita da linguagem e dos objetos físicos disponíveis em sua cultura,
promovendo assim seu desenvolvimento, dando ênfase aos conhecimentos histórico-cultural,
conhecimentos produzidos e já existentes em seu cotidiano.
43
COELHO, L.; PISONI, S. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação. Revista e-Ped- FACOS/ CNEC Osório. Vol 02/2012.
Vygotsky e a educação
A escola se torna importante a partir do momento que dentro dela o ensino é sistematizado sendo
atividades diferenciadas das extraescolares e lá a criança aprende a ler, escrever, obtém domínio de
cálculos, entre outras, assim expande seus conhecimentos. Também não é pelo simples fato da criança
frequentar a escola que ela estará aprendendo, isso dependerá de todo o contexto seja questão política,
econômica ou métodos de ensino. Conforme foi visto até aqui, aulas onde o aluno fica ouvindo e
memorizando conteúdos não basta para se dizer que o aprendizado ocorreu de fato, o aprendizado exige
muito mais. O trabalho pedagógico deve estar associado à capacidade de avanços no desenvolvimento
da criança, valorizando o desenvolvimento potencial e a zona de desenvolvimento proximal. A escola
deve estar atenta ao aluno, valorizar seus conhecimentos prévios, trabalhar a partir deles, estimular as
potencialidades dando a possibilidade de este aluno superar suas capacidades e ir além ao seu
desenvolvimento e aprendizado. Para que o professor possa fazer um bom trabalho ele precisa conhecer
seu aluno, suas descobertas, hipóteses, crenças, opiniões desenvolvendo diálogo criando situações onde
o aluno possa expor aquilo que sabe. Assim os registros, as observações são fundamentais tanto para o
planejamento e objetivos quanto para a avaliação.
Infância
Memória dos bebês44
Você consegue se lembrar de alguma coisa que aconteceu antes dos seus 2 anos de idade?
Provavelmente não. Os cientistas do desenvolvimento propuseram várias explicações para esse
fenômeno comum. Uma explicação, sustentada por Piaget e outros, é que eventos dessa época não são
armazenados na memória, porque o cérebro ainda não está suficientemente desenvolvido. Freud, por
outro lado, acreditava que as primeiras lembranças estão armazenadas, porém reprimidas, porque são
emocionalmente perturbadoras. Outros pesquisadores sugerem que as crianças só conseguem
armazenar eventos na memória quando podem falar sobre eles.
Pesquisas mais recentes que utilizam o condicionamento operante com tarefas não verbais e
apropriadas para a idade sugerem que o processamento da memória nos bebês pode não ser
fundamentalmente diferente do que acontece com crianças mais velhas e adultos, salvo que o tempo de
retenção dos bebês é mais curto. Esses estudos constataram-que os bebês repetirão uma ação dias ou
semanas mais tarde - se eles foram periodicamente lembrados da situação em que a aprenderam.
Em uma série de experimentos realizados por Carolyn Rovee-Collier e associados, os bebês foram
submetidos a condicionamento operante para mexer a perna e ativar um móbile preso a um dos
tornozelos por uma fita. Bebês de 2 a 6 meses, aos quais foram apresentados os mesmos móbiles dias
ou semanas depois, repetiam os chutes, mesmo quando seu tornozelo não mais estava preso ao móbile.
Quando os bebês viram esses móbiles, deram mais chutes do que antes do condicionamento, mostrando
que o reconhecimento dos móbiles acionava a lembrança de sua experiência inicial com esses objetos.
Em uma tarefa semelhante, crianças de 9 a 12 meses foram condicionadas a pressionar uma alavanca
para fazer um trem de brinquedo percorrer um circuito. A extensão de tempo que uma resposta
condicionada podia ser retida aumentou com a idade, de dois dias para crianças de 2 meses a 13
semanas para crianças de 18 meses.
A memória de bebês novos sobre um comportamento parece estar associada especificamente ao
indicativo original. Bebês entre 2 e 6 meses repetiam o comportamento aprendido somente quando viam
o móbile ou o trem original. Entretanto, crianças entre 9 e 12 meses experimentavam o comportamento
em um trem diferente se não mais que duas semanas se passassem desde o treinamento.
Um contexto familiar pode melhorar a evocação quando a lembrança de alguma coisa enfraqueceu.
Crianças de 3, 9 e 12 meses inicialmente podiam reconhecer o móbile ou o trem num ambiente diferente
daquele onde foram treinadas, mas não depois de passado muito tempo. Lembretes não verbais
periódicos por meio de uma breve exposição ao estímulo original podem manter uma lembrança desde a
primeira infância até entre 1 e 2 anos de idade.
Pelo menos um importante pesquisador da memória refuta a alegação de que as memórias
condicionadas sejam qualitativamente as mesmas das crianças mais velhas e dos adultos. De uma
perspectiva evolucionista do desenvolvimento, as habilidades se desenvolvem à medida que podem
realizar funções úteis na adaptação ao ambiente. O conhecimento procedural e perceptual demonstrado
logo cedo pelos bebês ao chutar um móbile para ativá-lo não é a mesma coisa que a memória explícita
de uma criança mais velha ou de um adulto sobre eventos específicos. A primeira infância é uma fase de
grandes transformações, e é improvável que a retenção de experiências específicas seja útil por muito
tempo. Essa pode ser uma das razões de os adultos não se lembrarem de eventos que aconteceram
quando eram bebês. Mais adiante discutiremos pesquisas sobre o cérebro que lançam alguma luz sobre
o desenvolvimento da memória na primeira infância. 45
44
PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano, 12ª edição, 2013, editor: AMGH.
45
ROVEE-COLLIER, C.; HARTSHORN, k. & DIRUBBO, M. Long-term maintenance of infant memory. Developmental Psychobiology.
Intervenção Precoce
A intervenção precoce é um processo sistemático de planejamento e fornecimento de serviços
terapêuticos e educacionais para famílias que precisam de ajuda para satisfazer as necessidades de
desenvolvimento de bebês e crianças em idade pré-escolar.
Emoções
Emoções, como tristeza, alegria e medo, são reações subjetivas à experiência e que estão associadas
a mudanças fisiológicas e comportamentais. O medo, por exemplo, é acompanhado de aceleração dos
batimentos cardíacos e, geralmente, de ações de autoproteção. O padrão característico de reações
emocionais de uma pessoa começa a se desenvolver durante a primeira infância e constitui um elemento
básico da personalidade. As pessoas diferem na frequência e na intensidade com que sentem uma
determinada emoção, nos tipos de eventos que podem produzi-la, nas manifestações físicas que
demonstram e no modo como agem em consequência disso. A cultura também influencia o modo como
as pessoas se sentem em relação a uma situação e a maneira como expressam suas emoções.
Desenvolvimento da autonomia
À medida que a criança amadurece - fisicamente, cognitivamente e emocionalmente - ela é levada a
buscar sua independência em relação aos vários adultos aos quais está apegada. "Eu fazer!" é a frase
típica da criança quando começa a usar seus músculos e sua mente para tentar fazer tudo sozinha - não
somente andar, mas alimentar-se, vestir-se e explorar o mundo.
Erikson identificou o período entre 18 meses e 3 anos como o segundo estágio no desenvolvimento
da personalidade, autonomia versus vergonha e dúvida, marcado pela passagem do controle externo
para o autocontrole. Tendo atravessado a primeira infância com um senso de confiança básica no mundo
e uma autoconsciência florescente, a criança pequena começa a substituir o julgamento dos cuidadores
pelo seu próprio. A "virtude" que emerge durante esse estágio é a vontade. O treinamento do controle
Irmãos
O relacionamento entre irmãos desempenha um papel distinto na socialização. Conflitos entre irmãos
podem tornar-se um veículo para a compreensão de relações sociais. Lições e habilidades aprendidas
nas interações com os irmãos são passadas para os relacionamentos fora de casa
É comum os bebês se apegarem a seus irmãos e irmãs mais velhos. Embora a rivalidade possa estar
presente, a afeição também estará. Quanto mais o apego dos irmãos aos pais for um apego seguro,
melhor será o relacionamento entre eles
No entanto, à medida que os bebês tornam-se mais independentes e autoconfiantes, inevitavelmente
entram em conflito com os irmãos - pelo menos na cultura norte-americana. O conflito entre irmãos
aumenta dramaticamente depois que a criança mais nova atinge os 18 meses. Durante os próximos
meses, os irmãos mais novos começam a ter uma participação mais intensa nas interações familiares e
se envolvem com maior frequência nas disputas em família. À medida que isso acontece, eles tornam-se
mais conscientes das intenções e dos sentimentos dos outros. Começam a reconhecer o tipo de
comportamento que vai transtornar ou irritar os irmãos mais velhos e quais os comportamentos
considerados "feios" ou "bons".
À medida que se desenvolve a compreensão cognitiva e social, o conflito entre irmãos tende a se
tornar mais construtivo, e o irmão mais novo participa de tentativas de reconciliação. O conflito construtivo
entre irmãos ajuda as crianças a reconhecerem as necessidades, os desejos e os pontos de vista uns
dos outros, e também ajuda a aprender como brigar, discordar e chegar a um acordo no contexto de um
relacionamento seguro e estável.
Podíamos considerar há alguns tempos atrás que o primeiro vínculo de afeto se dava na relação entre
a mãe e o bebê, pelo fato dela ser a figura que gerou e mais do que isso, por ser ela a pessoa que sempre
está presente em sua vida, amamentando, cuidando.
Hoje, esse padrão de mãe acabou sendo um pouco desmistificado, devido a sociedade capitalista que
vivemos entrando em cena a figura dos avós, babás.
Entretanto, algumas atividades são exclusivas da mãe, como por exemplo o leite materno, ninguém
melhor do que ela para saber a sensação que é ter um filho em seus braços, em um contanto íntimo com
o seu corpo e seu interior.
“Todo o processo físico funciona precisamente porque a relação emocional se está desenvolvendo
naturalmente”. (WINNICOTT, 2008, p.33)
Afastar um bebê de sua mãe por qualquer motivo que seja é um dos momentos mais sacrificantes para
os dois, principalmente quando a criança vai tomar uma vacina, o adulto sabe que aquele momento é
para o bem da vida da criança, contudo esta não faz ideia do porquê retirarem-na no colo de sua mãe ou
quem estiver dela cuidando para passar por um grande momento de dor.
O bebê quando chega próximo dos 9 meses, começa a brincar, jogar objetos, segurar e geralmente
faz isso quando tem um adulto por perto, para chamar a atenção e assim pegar para ele. Esse é um bom
momento para tirar a criança do leito materno, pois já demostra a capacidade que o bebê tem em
abandonar as coisas.
O pai também precisa estar presente, vivendo junto com a mãe os momentos de início da vida do
bebê, e segundo Winnicott, se o pai não estiver presente para servir-lhe de alvo, ela detestará a mãe e
isso confundi-la-á, visto ser à mãe que a criança mais profundamente ama.
Se a mãe de repente, não estiver mais presente, seja pelo motivo que for, haverá toda uma mudança
no psicológico dessa criança, pois ela perde aquele sentimento de calma que via na figura da mãe. Se a
mãe retornar novamente ao lar, terá que construir novamente tudo isso em sua cabeça, seu coração,
levando muito tempo para ter esse sentimento.
Crianças que sofrem desilusões tendem a fazer coisas que geralmente não fariam se estivessem
felizes e satisfeitas, como por exemplo pintar as paredes, cortar flores de jardins, entre outras travessuras.
Em alguns momentos, a criança acaba retrocedendo para ver se chama a atenção e recebe novamente
atenção ou pensa que pode crescer fisicamente, sem se preocupar com seu amadurecimento interno. O
fato mais corriqueiro de retroagir está no fato da criança voltar a chupar o dedo.
Porém, o pior momento da ruptura dos laços é a separação dos pais, ainda mais se a criança já
conseguir entender um pouco do que está acontecendo ao seu redor, pensando no que poderá lhe
acontecer de ruim, na saudade de ter os pais juntos para passearem, isso tudo lhe causará fortes danos
mentais.
Infelizmente muitos pais esquecem que apenas se separam do marido/mulher e não do filho, muitos
apenas pagam uma pensão (os que pagam) e acham que isso basta, afeto, amor, não precisa existir para
constituição da felicidade.
Um dos pais ou ambos podem constituir uma nova família, fazendo com que a criança perca vínculos
com a sua família originária (avôs, tios). Além disso, um dos pais prefere morar em outra cidade ou até
mesmo outro país, fazendo com que o filho tenha que conviver com outra cultura, escola, amigos. Ou
seja, toda sua base solidificada acaba sendo destruída.
46
GOSS, A. F. G.; RENNES, P. Formação e rompimento dos laços afetivos. UNESP, 2010.
Não só Winnicott, mas, precisamente ele, discutiu muito a importância da amamentação para a relação
entre a mãe e o bebê. Essa prática é considerada a primeira e mais significativa relação na construção
dos laços afetivos. “Todo o processo físico funciona precisamente porque a relação emocional se está
desenvolvendo naturalmente”.
Imaginem afastar um bebê do contato de sua mãe por alegações de que se precisam fazer exames
ou tomar vacinas ou, ainda, preencher informações desnecessárias naquele precioso momento em que
o bebê se desliga da mãe no nascimento e procura o reencontro de maneira desesperada. O que deveria
ser crucial neste momento?
Nada pode ser mais importante para mãe ou para o bebê que o contato entre mãe e filho. É a relação
mais profunda de amor e, portanto, um dos mais importantes alicerces para a segurança e tranquilidade
do bebê. A amamentação não é um ato mecanizado e para que produza o efeito esperado, não deve ser
mecânico o procedimento realizado, em outras palavras, a amamentação não terá o mesmo efeito se a
enfermeira der a mamadeira desinteressadamente e, após terminar, devolver o bebê para mãe ou ainda
pior: colocá-lo para dormir. Onde estaria o estabelecimento de vínculo afetivo neste ato mecanizado? Ou
mesmo nos hospitais, onde insistem em embrulhar o bebê que não pode usar as mãos para sentir o
contato com sua mãe? Na amamentação todo cenário criado em torno da mãe e seu bebê é importante.
A vivacidade com que a mãe toma o bebê nos braços, o carinho com que o abraça e conversa com ele,
o ato de deixar suas mãozinhas livres para que toque seu seio, seu próprio rosto, esse contato, essa
relação entre mãe e filho, é extremamente importante na construção dos laços afetivos iniciais.
Para que a amamentação se torne, de fato, o primeiro importante passo para a formação dos vínculos
afetivos, a amamentação só poderá ter horários estabelecidos quando essa relação que deve ser
incentivada ocorrer de maneira natural. Se o bebê quiser mamar e sua mãe não o fizer porque ainda não
é a hora, quero dizer, não chegou o próximo horário da mamada (a cada três horas, aproximadamente),
A criança faz-se necessário amor e dedicação para um desenvolvimento adequado. Além disso, ela
vai precisar de um lar estável, onde encontre além de amor e dedicação, um lar com atitudes consistentes,
com rotinas para que a criança saiba construir seu mundo sem surpresas grandes quando ainda não é
hora. A criança cujos pais souberem que para criarem um filho de maneira saudável não é necessário
nenhum profundo conhecimento ou inteligência além do normal, mesmo porque alguém que possuir o
conhecimento em anatomia não vai garantir que seu filho seja saudável, essa pessoa deve saber que
para tanto só é necessário amor profundo e dedicação, atenção total àquele ser que precisa de amor
para se desenvolver e que se isso não lhe faltar, com certeza teremos uma base sólida de construção da
personalidade onde ninguém nem nada no mundo poderão destruir. É exatamente dessa forma que se
formará um indivíduo com perfeita saúde mental para enfrentar as adversidades da vida.
[...] se a mãe não souber ver no filho recém-nascido um ser humano, haverá poucas probabilidades
de que a saúde mental seja alicerçada com uma solidez tal que a criança, em sua vida posterior, possa
ostentar uma personalidade rica e estável, suscetível não só de adaptar-se ao mundo, mas também de
participar de um mundo que exige adaptação.
Importante também se faz a mãe permitir que o filho viva suas experiências salvaguardando seus
direitos dentro de casa. É necessário para início que a criança tenha seu espaço, seu mesmo, onde
ninguém tenha que dizer a ela o que pode fazer ou não ou mesmo como algo deve ser feito. Um espaço
só dela, um canto onde possa brincar sem se preocupar se vai sujar ou bagunçar, um lugar, uma parede
só sua que possa pintar e rabiscar, se expressar sem preocupações. Nesse local reservado, ela se sentirá
com direito e segurança para realizar suas ideias, fantasias, brincar e crescer saudável. Já vimos como
a brincadeira, o brincar é fundamental para a criança. Garante Winnicott que é grande a compensação
quando a mãe permite que a criança tenha seus direitos assegurados, desta forma, no início e, mais
tarde, aumentando os direitos e responsabilidades das crianças, deixando, por exemplo, que a criança
planeje ou ajude a organizar seu aniversário, um passeio ou qualquer outra responsabilidade dada a ela
que a permita viver como indivíduo onde a família confia e, portanto, cresce de maneira maravilhosa.
Podemos também observar que a criança, como já dito anteriormente, precisa de um ambiente estável
e seguro, com rotinas e horários estabelecidos para sua segurança interior. As crianças não gostam de
uma confusão que não cessa, nem da total bagunça que a falta de rotina se caracteriza. Isso faz com que
se sintam inseguras para se desenvolverem, sentindo-se o tempo todo dependente dos pais. Não há
segurança para voarem sozinhas e, portanto, para que se arriscarem? A criança pode então ser lesada
se a mãe não se mostrar preocupada com os seus direitos. A mãe que não é dependente e é
suficientemente confiante de seu papel como mulher e mãe, saberá deixar seu filho ter direitos, crescer
de maneira progressiva, saudável. É claro que o outro extremo, aquela mãe que permite que os filhos
façam tudo como querem, é de igual ou pior modo prejudicial para todos, principalmente para a criança,
que perde sua maior orientação para a vida.
O holding é descrito por Winnicott como uma fase em que a mãe ou substituta:
– Protege da agressão fisiológica.
– Leva em conta a sensibilidade cutânea do lactente... e a falta de conhecimento por parte deste da
existência de qualquer coisa que não seja ele mesmo.
– Inclui a rotina completa do cuidado dia e noite adequada a cada bebê e segue também as mudanças
instantâneas do dia-a-dia que fazem parte do crescimento e do desenvolvimento do lactente, tanto físico
quanto psicológico. O holding (segurar) inclui especialmente o holding físico do lactente...”
Como já foi mencionado anteriormente, o primeiro e mais persistente vínculo afetivo é o da mãe e seu
filho. É talvez o único vínculo que persiste até a vida adulta, possibilitando afirmação de que a relação
entre mãe e filho, mesmo depois de separados, quando o filho se torna adulto, é o vínculo que nem
mesmo a morte dissocia.
Entretanto de uma forma um tanto paradoxal, é importante salientar que o comportamento do tipo
agressivo desempenha um papel crucial e decisivo na manutenção dos vínculos afetivos. Esse
comportamento assume duas formas distintas: primeiro ataques de afugentamento de intrusos e,
segundo, a punição de um parceiro errante, seja ele esposa, marido ou filho. Há provas de que boa parte
do comportamento agressivo de um tipo desconcertante e patológico tem origem em uma ou outra dessas
formas.
Os vínculos afetivos e os estados emocionais caminham juntos. Sendo assim, muitas das emoções
humanas surgem durante a formação, manutenção e rompimento dos vínculos afetivos.
Em termos subjetivos podemos descrever que a ameaça da perda gera ansiedade e a perda real causa
tristeza, ao passo que ambas as situações podem despertar raiva.
Finalmente, a manutenção incontestada de um vínculo é experimentada como uma fonte de segurança
e a renovação de um vínculo como uma fonte de júbilo.
Portanto, qualquer pessoa interessada em estudar os problemas na formação dos vínculos afetivos de
um indivíduo, vai efetivamente se deparar com distúrbios de personalidade que muito frequentemente
essas pessoas estão sujeitas a desenvolverem.
Para iniciarmos, é comprovadamente produtivo considerar muitos distúrbios psiconeuróticos e de
personalidade nos seres humanos como um reflexo de um distúrbio da capacidade para estabelecer
vínculos afetivos, em virtude de uma falha no desenvolvimento na infância ou de um transtorno
subsequente.
Aqueles que padecem de distúrbios psiquiátricos – psiconeuróticos sociopáticos ou psicóticos –
manifestam sempre uma deterioração da capacidade para estabelecer ou manter vínculos afetivos, uma
deterioração que, com frequência, é grave e duradoura e, em muitos casos, é primária derivando de falhas
no desenvolvimento, que terão ocorrido numa infância vivida num ambiente familiar que não foi propício
ao desenvolvimento do ser humano, permitindo-nos classificá-lo como um lar que não é ideal.
Ao examinarem as possíveis causas dos distúrbios psiquiátricos na infância, ficou constatado que o
problema encontra-se na ausência de oportunidades para estabelecer vínculos afetivos ou, ainda, as
repetidas rupturas dos vínculos que foram estabelecidos.
Foi sistematicamente apurado que duas síndromes psiquiátricas e duas espécies de sintomas
associados são precedidas por uma elevada incidência de vínculos afetivos desfeitos durante a infância.
As síndromes são a personalidade psicopática (ou sociopática) e a depressão; os sintomas persistentes,
a delinquência e o suicídio.
No psicopata, a capacidade de estabelecer e manter os vínculos afetivos são dificultosas ou até
mesmo inexistentes. É constatado que tais indivíduos foram seriamente perturbados na infância pela
morte, separação ou divórcio dos pais ou, ainda, por outros eventos que resultam na deficiência ou ruptura
dos vínculos afetivos. A incidência desses tipos de problemas são maiores nesses grupos do que em
qualquer outro.
[...] as mulheres que perderam a mãe por morte ou separação antes dos onze anos de idade, são mais
propensas a reagir à perda, ameaça de perda e outras dificuldades e crises na vida adulta mediante o
desenvolvimento de um distúrbio depressivo do que mulheres que não experimentaram essa perda na
infância. Em segundo lugar, se uma mulher sofreu uma ou mais perdas de membros da família por morte
ou separação antes dos 17 anos de idade, qualquer depressão que se desenvolva subsequentemente é
susceptível de ser mais grave do que uma mulher que não tenha sofrido perdas desse tipo. Em terceiro
lugar, a forma assumida pela perda na infância afeta a forma de qualquer doença depressiva que possa
desenvolver-se mais tarde.
Quando a perda na infância foi devida a separação, é provável que qualquer doença que seja
subsequentemente contraída mostre características de depressão neurótica, com sintomas de ansiedade.
Quando a perda se deve a morte, qualquer doença que se desenvolva subsequentemente poderá
apresentar características de depressão psicótica.
Ansiedade, depressão ou até mesmo suicídio são os tipos mais comuns de problemas atribuídos aos
rompimentos dos laços afetivos. Sabemos que crianças separadas das mães até os primeiros cinco anos
de idade são frequentes em pacientes mais tarde diagnosticados como psicopatas ou sociopatas.
Sabemos, também, que grandes perdas afetivas (poderão acarretar?) acarretarão, mais tarde, problemas
potencialmente perigosos. Entre essas perdas faz-se necessário citar o luto e o pesar na infância.
A busca da identidade A busca da identidade - que Erikson definiu como uma concepção coerente do
self, constituída de metas, valores e crenças com os quais a pessoa está solidamente comprometida -
entra em foco durante os anos da adolescência. O desenvolvimento cognitivo dos adolescentes lhes
possibilita construir uma "teoria do self". Como Erikson enfatizou, o esforço de um adolescente para
compreender o self não é "uma espécie de enfermidade do amadurecimento". Ele faz parte de um
processo saudável e vital fundamentado nas realizações das etapas anteriores - na confiança, autonomia,
iniciativa e produtividade - e lança os alicerces para lidar com os desafios da idade adulta.
Entretanto, uma crise de identidade raramente é totalmente resolvida na adolescência; questões
relativas à identidade surgem repetidamente durante toda a vida adulta.
47
PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano, 12ª edição, 2013, editor: AMGH.
Sexualidade
Ver-se como um ser sexual, reconhecer a própria orientação sexual, chegar a um acordo com as
primeiras manifestações da sexualidade e formar uniões afetivas ou sexuais, tudo isto faz parte da
aquisição da identidade sexual. A consciência da sexualidade é um aspecto importante da formação da
identidade que afeta profundamente a auto imagem e os relacionamentos. Embora este processo seja
impulsionado biologicamente, sua expressão é, em parte, definida culturalmente.
Durante o século XX, uma mudança importante nas atitudes e no comportamento sexual nos Estados
Unidos e em outros países industrializados trouxe uma aceitação mais generalizada do sexo antes do
casamento da homossexualidade e de outras formas de atividade sexual anteriormente desaprovadas.
Com o acesso difundido à internet, o sexo casual com conhecidos virtuais que se conectam por meio das
salas de bate-papo online ou de sites de encontro de solteiros tornou-se mais comum.
Telefones celulares, e-mail e mensagens instantâneas facilitam que adolescentes solitários arranjem
esses contatos com pessoas anônimas, sem a supervisão dos adultos.
Questões
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PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano, 12ª edição, 2013, editor: AMGH.
03. (FUNTELPA - Psicólogo - IDECAN). Sobre o desenvolvimento psicológico, Vygotsky afirma que
“A internalização de formas culturais de comportamento envolve a reconstrução da atividade
psicológica...” Tal afirmativa denota que:
(A) O uso de signos externos é também radicalmente reconstruído.
(B) Os processos psicológicos permanecem tal como aparecem nos animais.
(C) As mudanças nas operações linguísticas são tímidas.
(D) A fala egocêntrica se fortalece fazendo surgir a fala externa.
(E) Deixam de ser internalizadas as atividades sociais e históricas.
04. (Pref. de Fortaleza/CE- Psicólogo - 2016) Ao se falar de zona de desenvolvimento proximal, está-
se referindo à teoria de desenvolvimento de:
(A) Henri Wallon.
(B) Lev Vygotsky.
(C) Carl Gustav Jung.
(D) Jean Piaget.
06. (MPE/ES - Agente Técnico - VUNESP) Para Jean Piaget, o processo de assimilação
(A) é um mecanismo automático e determinado biologicamente, no qual o indivíduo é relativamente
passivo.
(B) envolve a eliminação de esquemas anteriores do indivíduo decorrente da aquisição de novas
informações.
(C) equivale ao processo de adaptação, porque este implica, necessariamente, revisão de
conceitos diante de novas situações.
(D) está diretamente relacionado ao processo de linguagem e, consequentemente, à socialização.
(E) corresponde a uma integração de novas informações a estruturas prévias do indivíduo.
08. O momento certo para desmamar o bebê ocorre quando ele começa a iniciar suas brincadeiras.
Atirando seus brinquedos, pois demonstra que já está chegando o momento do desapego.
( ) Certo ( ) Errado
09. Winnicott descreve o holding como uma fase em que a mãe ou substituta protege da agressão
fisiológica, – Inclui a rotina completa do cuidado dia e noite adequada a cada bebê e segue também as
mudanças instantâneas do dia-a-dia que fazem parte do crescimento e do desenvolvimento do lactente,
tanto físico quanto psicológico, além de proteger da agressão fisiológica.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito
01.C / 02.D / 03.A / 04.B / 05.D / 06.E / 07. certo / 08.certo / 09.certo
Comentários
01. Resposta: C
Para Piaget, os modos de relacionamento com a realidade são divididos em 4 períodos distintos, no
processo evolutivo da espécie humana que são caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer
melhor" no decorrer das diversas faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento. São eles:
-1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)
- 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)
- 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)
- 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)
02. Resposta: D
O brinquedo é um mundo imaginário onde a criança pode realizar seus desejos, o ato de brincar é uma
importante fonte de promoção de desenvolvimento, sendo muito valorizado na zona proximal, neste caso
em especial as brincadeiras de ‘faz de conta’. Sendo estas atividades utilizadas, em geral, na Educação
Infantil fase que as crianças aprendem a falar (após os três anos de idade), e são capazes de envolver-
se numa situação imaginária. Através do imaginário a criança estabelece regras do cotidiano real.
03. Resposta: A
A teoria vygotskyana é instrumental, histórica e cultural. É instrumental, por se referir à natureza
mediada das funções psicológicas superiores. Diferentemente dos animais, que mantém relação direta
com a natureza, o processo de hominização surge com o trabalho, que inaugura a mediação com o uso
de signos e instrumentos, permitindo a modificação do psiquismo humano e da realidade externa,
respectivamente. Em um movimento dialético, os seres humanos criam novos cenários, que determinam
novos atores, novos papéis.
04. Resposta: B
Um dos princípios básicos da teoria de Vygotsky é o conceito de "zona de desenvolvimento próximo".
Zona de desenvolvimento próximo representa a diferença entre a capacidade da criança de resolver
problemas por si própria e a capacidade de resolvê-los com ajuda de alguém.
05. Resposta: D
(A) INCORRETA – O aprendizado se dá através da relação do sujeito com o meio e impulsiona o
desenvolvimento.
(B) INCORRETA – Para Vygotsky o desenvolvimento se estabelece a partir da aprendizagem e pelas
relações sociais, esse é o eixo fundamental de sua teoria.
(C) INCORRETA - a aprendizagem ocorre antes do desenvolvimento portanto, não são coincidentes.
(D) CORRETA - é pela mediação (relação social) que ocorre a aprendizagem e,
consequentemente, o desenvolvimento
(E) INCORRETA - O desenvolvimento só é possível através da aprendizagem
49
Parâmetros para a Atuação de assistentes Sociais na Política de Assistência Social.
Exemplo:
Embora Serviço Social e Psicologia, principais profissionais hoje inseridos no SUAS, possuam
acúmulos teórico-políticos diferentes, o diálogo entre essas categorias profissionais aliará reflexão crítica,
participação política, compreensão dos aspectos objetivos e subjetivos inerentes ao convívio e à formação
do indivíduo, da coletividade e das circunstâncias que envolvem as diversas situações que se apresentam
ao trabalho profissional. É possível construir, a partir dessa ação interdisciplinar, um cenário de discussão
sobre responsabilidades e possibilidades na construção de uma proposta ético-política e profissional que
não fragmente o sujeito usuário da política de Assistência Social. O trabalho em equipe não pode
negligenciar a responsabilidades individuais e competências, e deve buscar identificar papéis, atribuições,
de modo a estabelecer objetivamente quem, dentro da equipe multidisciplinar, encarrega-se de
determinadas tarefas.
A inserção do Psicólogo em empresas tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, seja em
empresas públicas, privadas ou de outras modalidades. Aliado a isso, em muitas dessas empresas o
psicólogo atua numa equipe multiprofissional, sendo requisitado a trabalhar de forma integrada com
profissionais de outras áreas, como médicos, enfermeiros, assistentes sociais, pedagogos, etc.
50
Conselho Regional de Psicologia 9ª Região GO. 2015.
Conforme determinado nos artigos expostos acima, destaca-se que cabe ao psicólogo que integra uma
equipe multiprofissional realizar somente atividades que estejam embasadas nos conhecimentos técnicos
reconhecidos e fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. Portanto, tais
psicólogos devem ser cautelosos ao serem solicitados a colaborarem com outros profissionais, tendo
sempre em foco que não podem assumir atividades que sejam privativas de outra profissão. Assim, caso
recebam demandas que extrapolem seu campo de atuação, deverão encaminhá-las para o profissional
ou instituição competente.
A título de exemplo, no caso de instituições que possuam equipes multiprofissionais constituídas por
psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais ou pedagogos, os psicólogos não poderão ministrar
medicamentos, que se constitui em atividade privativa de enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enfermagem, farmacêuticos e médicos. Neste exemplo, o profissional psicólogo que administrar
medicamento estará incorrendo no exercício ilegal de profissão e poderá responder a processo ético no
Conselho de Classe, bem como ser denunciado aos órgãos competentes. Por fim, ainda neste caso
hipotético, caso o psicólogo tome conhecimento do exercício ilegal de profissão por um psicólogo ou outro
profissional, deverá apresentar denúncia ao órgão competente.
02. (DPE-RJ- Técnico Superior Especializado- FGV) Um trabalho multidisciplinar é aquele em que
uma equipe de profissionais de diferentes áreas
(A) discute permanentemente suas práticas em busca de soluções para problemas complexos.
(B) mantém espaços de diálogo permanente que permitam a recomposição de trabalhos parcelares.
(C) elabora projetos conjuntos de ação para enfrentamento de situações, ainda que atuem
individualmente
(D) reúne-se com periodicidade sistemática para discutir casos e processos institucionais.
(E) estabelece uma ação coletiva no planejamento e na execução de suas intervenções.
Gabarito
01.A / 02.B
Comentários
01. Resposta: A
Nas equipes multiprofissionais os profissionais de diversas áreas distintas trabalham de forma
integrada.
02. Resposta: B
Trabalho multidisciplinar reúne diferentes profissionais que por seus ramos distintos podem até
fracionar o trabalho, mas que ao final se juntam para construir um todo.