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Kundaliní

A APANHADORA DE SONHOS

TANTRIKA EDITORA®

2013
Proprietária dos direitos - Ecosannyas

EUA - BRASIL - CHILE

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Introdução

Eu me chamo Amanda Stern e também sou conhecida como Ma Prem Raijakaran,


apelido espiritual dado pelo mestre Bhagwan Bhava e que aqui eu trato carinhosamente como
BB, o meu pai chama-se O’Nell Patrick Stern e a minha mãe chama-se Francisca Stern, os
meus pais foram as pessoas que me iniciaram no mundo espiritual através do contato em
nossa casa com as diferentes terapias e correntes do pensamento. O que vou contar para
vocês é a minha história com relação ao despertar de Kundaliní. Este processo de fazer-se a
luz dentro de mim.

Com 19 anos eu conheci este homem, aqui chamado de Senhor BB, na época ele foi
uma revolução em nossas vidas, para meus pais foi o que eles sempre buscaram e eu acho
que era o que eles precisavam mesmo que eles já tivessem uma larga experiência em
comunidades espirituais nos EUA, na Europa e na Índia.

Para mim BB foi o início feliz de uma iniciação bem feita e que produziu bons frutos,
não livre dos percalços do caminho, é claro, mas com a segurança e principalmente com a
continuidade, conceito um tanto abstrato para quem não conhece o Tantra. O caminho através
da mente de BB se deu de forma tranquila e com aberturas diárias na expansão da minha
consciência, os chamados eventos SLWs, mas falar de minha consciência é um tanto estranho
uma vez que sou ela mesma, mas enfim, são os percalços da expressão. Este livro conta um
pouco da minha história, e um pouco da visão de BB sobre a vida e sobre a realização
espiritual através do Tantra, quase tudo aqui relatado foi retirado do meu diário pessoal, das
gravações feitas por mim, e de sites na internet postados pessoalmente por BB, ainda me servi
de poucas cartas tipo “consulta” enviadas a ele. Este documento não é uma fórmula pronta
para ninguém, este é um relato, é um estímulo na aventura de encontrar a si mesmo.

Eu dedico estas palavras à BB, somos hoje irmãos sinceros que são a causa do
mundo, outros milhares existem, existiram e outros virão, tudo aqui é parte de meu diário de
impressões anotadas e gravadas em voz, pois a primeira coisa que ganhei de BB foi um
caderninho em branco e uma caneta Bic. Ele não me disse para que serviam, mas sei que era
para anotar, criar o hábito, e assim descobri que precisamos anotar tudo, até que mais tarde a
nossa memória perfeita se refaça, então o diário torna-se precioso, cada pedrinha do caminho,
cada dia, cada dúvida, se torna uma referência.. Que Guru lhe deu um caderno e uma caneta
de presente?

Mas BB foi mais que a fonte de minha inspiração, ele foi o transmissor de algo que
despertou em mim o maior poder do Universo, o tal do Poder Serpentino, que tem muita fama,
mas é muito pouco conhecido, aliás, até hoje não encontrei ninguém que realmente tivesse
algum conhecimento ou domínio sobre o assunto. Como isto é possível eu não sei lhes

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explicar, eu não fui a única pessoa a receber dele, o tal fenômeno. Ele brinca que é o Mantra,
mas não é Mantra algum, este é seu poder, ou o Mantra que sai de seus lábios.

Ao longo deste livro, eu copiei alguns textos do BB e outros eu os pedi com a sua
autorização para publicá-los aqui, e assim eles foram organizados por mim na mesma ordem
em que eles me serviram de apoio. Conversando com outras pessoas que passam pelo
mesmo processo, e lendo os depoimentos de outras pessoas também iniciadas, eu pude
perceber como as minhas dúvidas e as minhas preocupações eram bem parecidas com as
delas, e aí o meu diário foi valioso, pois ele continha as anotações. Eu também havia feito
algumas gravações tanto de conversas com meus pais, de meus insights, bem como de uma
palestra do BB.

Assim este livro conta a minha própria história, é mais um “documento espiritual”, um
testemunho vivo da presença de BB, este livro é dele, sem ele nada disto seria possível.

A minha intenção inicial era publicá-lo como um testemunho vivo pelo que eu passei,
mas à medida que organizava os textos, comecei a perceber que eu mesma não deveria
publicar a minha própria história, e sim que este livro seria um documento a mais na grande
produção do BB, minha mente falava por ele, e assim decidi que a minha história seria contada
com ele, ela não tinha mais sentido para mim, ela era parte do BB, então lhe ofereci a minha
história neste livro como uma Pujá, uma oferenda, como documento público.

Ao receber o livro, primeiramente eu fiquei com a impressão de que estava de certa


forma usando as impressões de alguém, como uma forma de autopromoção, mas tal
impressão se desfez quando li os relatos da Raija, sempre pontuados por histórias de
sua vida pessoal, e pelas suas impressões, que deram a este livro uma característica
de um diário espiritual, e na medida em que eu lia o texto, queria ser o interlocutor nas
passagens, e então vi que a sua vida pessoal era a moldura de um quadro, que deveria
ser levado às pessoas. E ao ler todo o documento os meus receios desapareceram por
completo, surgiu em mim a alegria de compartilhar nesta obra, com lições espirituais
tão maravilhosas e relevantes, alguns de meus textos e ideias que podem servir como
estímulo ou mesmo de resposta para muitas pessoas.

Muitas vezes nos vemos dentro do sonho de outras pessoas e não vemos que os
outros também vivem dentro de nossos sonhos, aqui temos a oportunidade de viver
dentro do sonho de alguém com coragem bastante para buscar a si mesmo, o maior
desafio humano, que é o de fazer a sua personalidade se confrontar com a
continuidade, com cada dia, com cada momento, sem esmorecer. Eu estava prestes a
publicar um ensaio sobre Tantra com a maioria dos textos aqui colocados, o que seria
dificultoso para o leitor comum e um dia eu estava sentado pensando como expor o

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Tantra, já havia inclusive contatado uma amiga editora, foi quando recebo da Amanda
(Raija) este livro, pronto e acabado. Sua história é emocionante e bela, pontuada por
suas saídas em chistes, que revelam como é humano dentro deste processo. A
Apanhadora de Sonhos é um primeiro vislumbre, o início de uma cultura de Iluminação,
que é o que eu chamo de Tantra.

Mestre Bhava

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Introdução do Presente no Passado

14 de Novembro de 2011
Califórnia, Santa Clara, Mountain View.

O alarme irritante do meu celular chia e vibra sobre o vidro do criado mudo, a minha
mão desliza no escuro tateando até encontrar o aparelho, e com a destreza de um leitor de
braile eu aciono uma tecla com o dedo anelar e então o maldito aparelho silencia.

Espreguiço-me bem na cama, e sinto o contato do lençol frio tocando meu corpo nu,
fecho os olhos e faço o SLW, no sono pós sono. Lá fora já cantam os primeiros pássaros da
manhã. Sentada na beira da minha cama eu olho as minhas coxas ainda firmes, belisco a coxa
direita como se quisesse testar a sua elasticidade, estou animada, eu sempre acordo animada
desde o meu evento, e este pensamento traz uma sensação de confiança, mas eu nem sempre
fui assim:

Passando em frente ao espelho, eu paro e me olho, encolho a barriga, empino o


bumbum, levanto os meus peitos com as duas mãos, giro a minha cabeça até a melhor
perspectiva, ajeito o meu cabelo, e digo olhando nos seus olhos:

- Quem é você?

A pergunta ecoa no quarto vazio, sem resposta. Mas, a outra surge neste momento.

Amanda ri de si mesma, e um pensamento claro atravessa sua mente, “o de que não


há ninguém mais além de quem fez a pergunta a si mesma”, esta sensação há anos atrás lhe
trazia insegurança e era o início de mais um dia de angústia e medo, entretanto hoje, não sente
mais assim.

“Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”, isto já
dizia Freud e esta mudança se dá por uma troca, e esta base de troca era o que ela havia
aprendido com BB.

Seguido a este pensamento vem outro pensamento, de que ela precisa reter bem clara
esta certeza, que o que sente hoje é completamente diferente de um ano atrás. Ela não possui
a resposta de quem ela é, entretanto a insegurança e a angústia desapareceram nela.

Será que isto seria a individualização de sua Alma? Sendo assim, quem dialoga com
quem quando ela pensa?

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Amanda retém esta frase:

- Sendo assim, quem dialoga com quem quando eu penso?

O que houve comigo?

Não mudei as minhas lembranças, não alterei os meus valores, nem os meus traumas,
que são os mesmos, a minha memória está intacta, mas os meus medos e angústias
desapareceram e eu não sei mais quem eu sou; não encontrei nenhuma verdade absoluta, na
verdade hoje eu não tenho mais nenhuma certeza, mas não tenho mais medo e também não
sofro mais. O fato de eu aceitar este diálogo comigo mesma, é o início do processo, foi o
que me disse o BB, somente agora me dei conta que antes não havia este diálogo interno em
mim, ou existia e eu não havia percebido o Ishvara, antes havia a dor e o medo.

Amanda pega o celular e aciona o Mp4 de onde ouve a voz:

.. a iniciação é o inicio deste discurso interno, o fim do medo e da dor quando os afetos
se transmutam em conceitos, é quando fabricamos com a energia dos nossos
sentimentos, os mantras internos, os nossos sonhos, e criamos assim as formas e
nomes das coisas para que nossa Alma possa trabalhar, em direção ao Espírito.

Amanda sorri, como se risse de si mesma, e logo aciona a tecla de gravação de seu
aparelho, descendo o primeiro degrau da escada de sua casa, e então diz para si mesma pelo
aparelho:

- O processo de libertação da Alma se inicia quando começamos este discurso interno,


é certo que a Alma não pode perguntar para ela mesma, mas para seu espelho, para o
seu Espírito, que não fala, não pensa, não deseja, apenas é. Vishmaya? Toda cura se
dá pelas palavras, palavras não ditas, retidas, são as doenças, já dizia Lacan.

- Bom dia dona Amanda!

Ecoa pela casa a voz forte de Irene, sua empregada, que lhe pediu para não ser mais a
sua empregada domestica, mas sua colaboradora, pois foi isto que ela aprendeu em um
curso para latinos na prefeitura de Mountain View.

- Bom dia Irene! Você está ótima!

- A senhora está mais alegre! Responde Irene.

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- Você ainda implica com ele, e com tudo que eu faço, acho que você gosta de se contrariar.

- Olha aqui Dona Amanda, eu sei que este negócio de meditação é um tremendo de
um sete um, mas gente rica gosta de ser otária, e comigo o negócio é preto no brando,
pobre não tem tempo pra enrolação, pobre quando dorme o dia fecha, não dá prá
deixar prá depois. Pobre não sonha, pobre desaba na cama, pobre sonha vendo TV e
não esta bobagem de meditação de sentar de olho fechado, fazendo lá não sei o quê.
Este tal aí da voz do gravador é um sete um, mas rico gosta de perder, e como gosta!

- É preto no brando ou preto no branco Irene?

- Há é, sempre esqueço. A senhora vai se arrepender de dar ouvido pra estas coisas, e
de viver naquele buraco lá em baixo, vai ver viu. Ele lhe deu droga só pode ser isto.

- Irene, e antes da meditação, eu era melhor?

- A senhora era normal, era boazinha comigo e tudo..., mas era mais triste, isto sim,
melhorou, mas..., a senhora não foi mais lá no terreiro de Mãe Dinha, não cumpriu as
suas obrigação, e Santo sabe como é, Santo fica com ciúme e apronta. Ontem tive que
botá lá uma oferenda pela senhora.

-Quanto foi? Quanto foi a oferenda?

-Não precisa me pagá.

-Se eu não lhe pagar então não serei eu quem cumpriu a obrigação com o Santo e sim você.

- É verdade..., então a senhora tem que me pagá.

Amanda parada na escada faz um gesto com a mão esfregando o polegar e o indicador
e diz:

- Quanto é...? Quanto é criatura de Deus?

Irene apoiada com o queixo na vassoura olha pra cima..., olha para os lados..., coça a
cabeça como se estivesse fazendo as contas, e diz:

- Mas a senhora não precisa me paga, não...

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Amanda continua olhando fixamente para Irene de uns cinco degraus acima da escada,
faz um gesto com a cabeça levantando rapidamente a cabeça, uma vez, e Irene murmura alto:

- Oitenta, não..., cinquenta dólares, acho que foi cinquenta.

- Pega oitenta dólares lá em cima da geladeira, na caixinha da cozinha.

Os olhos de Irene brilharam como se tivessem luzes. Amanda desce os cinco degraus
restantes e passa junto do corpo de Irene, lhe dá um empurrãozinho com o seu ombro tirando-
lhe de seu ponto de equilíbrio, este pequeno susto parece que acorda a sua empregada trazida
do Brasil para as tarefas do dia, mas que era uma segunda mãe para ela.

Amanda atravessa a sala e na porta da cozinha vira-se para Irene ainda subindo os
degraus com os trecos de limpeza nas mãos em direção ao segundo andar, e lhe diz:

- Na próxima obrigação do Santo, não a faça por mim, entendeu dona Irene, senão...!

Irene fingiu que não ouviu e subiu ainda mais rapidamente os degraus da escada.

Quem tem uma empregada brasileira convertida ao candomblé do Brasil na Califórnia?

Só eu mesmo! Pensa Amanda. Por isto e por outras que somos considerados os
esquisitos aqui.

Desligo o gravador.

Da janela da cozinha dava para ver a rua do condomínio e Amanda tomava seu café
em pé, encostada na pia da cozinha olhando o jardim da casa, dali dava para ver a rua e o
acesso a sua garagem. Viu a vizinha passando em frente a sua casa e parando como se
planejasse tocar a campainha, e esta visão produziu em Amanda um vago sentimento de
medo, dali ela via a vizinha claramente e percebia que ela estava com a intenção de vir até a
sua porta. Amanda pensava:

“Não vem, não vem...”

A vizinha adiantou-se uns dez passos aproximando-se da porta da frente da casa de


Amanda, o coração de Amanda bateu mais forte, sua vizinha viu uma pequena Begônia no
jardim bem junto da calçada, olhou em volta para certificar-se de que não havia ninguém lhe
vendo, e com a ponta do pé direito pisou, esmagando a Begônia. Amanda continuou com a
xícara de café na boca, e o fato de ver a vizinha esmagando a Begônia da entrada da sua casa

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a aliviou imediatamente do seu medo. Amanda sorriu, deu a volta na casa e saiu pela lateral da
casa com a xícara na mão, assim que a vizinha lhe viu, acenou dizendo: bom dia! Ao que
Amanda respondeu mudamente erguendo a xícara de café.

A vizinha se apressou em direção a sua própria casa. Amanda já respirava melhor, já


estava no comando de si mesma. E neste momento lembrou que as suas Begônias não
pegavam naquele jardim. O sentimento de insegurança que nutria por aquela vizinha abelhuda,
agora, era nulo. Maravilhada Amanda senta-se à mesa da cozinha, serve outra xícara de café.
O vapor quente subia da xícara e Amanda cheirava aquele vapor de café fresco com um
sentimento de bem estar, como se aquele café fosse um néctar dos Deuses.

No canto da mesa da cozinha dormiam uma pilha de autos de processos médicos,


cheios de papeizinhos amarelos, Post Its, que marcavam algumas páginas, amarrados por um
barbante marrom e que formavam oito volumes. Amanda os olha se recostando na cadeira,
eram os seus últimos processos, não iria mais atuar como médica analisando laudos. Em dez
anos de prática de neurologia ela havia guardado o seu salário integral em um fundo de
pensão, pensava que em 15 ou 20 anos poderia se aposentar, mas os ganhos de herança
vindos de seus pais, que haviam feito a partilha dos bens ainda em vida, já lhe davam um
grande conforto econômico.

Sua Mãe hoje com mais 60 anos havia sido a sua mentora espiritual, havia passado
por todos os tipos de grupos espirituais, desde os movimentos ligados a cultura Hindu até ao
Xamanismo, formada em filosofia ela foi uma das primeiras discípulas do Guru do Óxido
Nitroso, na época em que ele ainda se chamava Rajneesh, contava como ele produzia o riso
em si mesmo e nas pessoas pela inalação de quantidades absurdas de Óxido Nitroso, então
qualquer frase era uma piada.

Ele era o Guru da era sem internet, quando você sabia um pouco de tudo, das fofocas
do mundo espiritual, sempre contadas pelo Rajneesh em seus discursos intermináveis, e pelo
seu Tantra como sendo sexo livre, e claro, pela reverência a ele como a encarnação viva do
próprio Deus na Terra. Afinal quem não deseja um Deus assim: sexo, comida boa, sem
obrigações, e só festa todos os dias?

Todos estes processos tinham causado sérias sequelas em sua Mãe que já se
encontrava no último plano possível das terapias, a do Lítio, foi quando ela veio a conhecer o
BB. Momentos de lucidez se alternavam com os de puro pânico, e a terapia eletro convulsiva
não tinha surtido efeito algum nela, mas depois eu descobri que tudo isto era uma paranoia -
minha.

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Amanda pensava como é misteriosa a Alma humana. Sempre que se imaginava
desvendando o seu mistério..., e logo estas verdades escorriam como a areia seca entre os
dedos da mão, e as mãos vazias doíam ainda mais, pelo sentimento de solidão e abandono, foi
então que certo dia a sua Mãe lhe disse:

Mantenha o mistério, não acredite que o encontrou, além de não ser verdade, esta
convicção a jogará na alucinação de que o si mesmo se fez. Busque alguém que já fez,
e não alguém que precise caminhar com você. O fenômeno é isto, alguém lhe dar algo
o que não pode ser dado, mas que acenda a sua chama e que possa reacender ao
longo de sua vida, isto é um Guru.

Amanda interpretava as palavras de sua Mãe como uma metáfora, como a da chama
de uma vela que acende um outro pavio, transferindo assim a sua Luz, mas a chama que dá a
luz, ela não perde nada, ela não fez nada, Amanda chamava sua terapia de Preparar a vela e o
pavio, é o que o Guru faz, prepara cada um de nós para ser a Luz sem pavio, um dia. Ela
mesma já havia passado por todo tipo de conhecimentos e de Gurus, cada um com suas
fórmulas, a mesma abordagem clássica que se encontra nos livros, o faça isto e faça aquilo, se
não der certo, a culpa é sempre sua, entretanto se der certo, então foi graças ao seu Guru e
não a você.

Acostumada a ler laudos e processos de análise clinica, Amanda desenvolveu a


capacidade de estabelecer um sentido e manter o mérito da questão sem se perder no labirinto
de possibilidades laterais que cada pensamento produz. Isto lhe deu a vantagem que a afastou
do perigo de que a sua Alma viesse a cair no limbo, e para isto ela contava com Análises onde
podia debater com seu Guru virtualmente pelo SLW, todos os aspectos, tanto pessoais, como
as questões teóricas do conhecimento, mas não pensem que eram conversas on line, já era
mente a mente, Ishvara com Ishvara. Ela já havia se sentido perdida, abandonada, sozinha,
como se o chão se abrisse em um buraco e este era um sentimento que ela não desejava mais
para ninguém, nem ao seu pior inimigo, o Buraco do si mesmo é o terror total, ela sempre dizia
aos seus amigos.

Seu Guru lhe havia conduzido pacientemente ao diálogo interno além das palavras,
para a meditação, para a reconciliação com si mesma, mas faltava muito ainda a caminhar.

Amanda sou eu mesma, agora com todas as possibilidades reais sobre mim, e
com um poder real sobre mim, posso falar de mim e ser eu mesma, hoje. As portas da
percepção estão escancaradas! Mas nem sempre foi assim, antes estavam fechadas
para mim, e abertas para o mundo, e agora que estou aberta para mim mesma e estou
aberta para o mundo.

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Macaé, 16 de Janeiro de 1991.

As árvores da Praça Veríssimo de Melo estavam floridas e se ouvia o zun zun zun das
abelhas, cheguei ao auditório da prefeitura localizado no outro lado da praça e logo busquei um
lugar mais na frente do auditório, mais próximo do palestrante. As pessoas estavam bastante
agitadas neste dia, era o primeiro dia do ataque dos EUA ao Iraque, e nós víamos uma guerra
transmitida pela CNN na TV. No auditório haviam umas 60 pessoas sentadas esperando o
início da palestra cujo tema era Tantra, Kundaliní o Poder Serpentino. Na época eu não sabia
ainda o que este tema representava realmente, eu tinha somente uma vaga ideia.

O palestrante chega, ele é um homem magro e usa barba, possui um olhar um tanto
profundo, e ele me parece um pouco inseguro, o que denunciava que ele tinha muito a ensinar,
ou que talvez não se prendesse a nada ou a um método, simplesmente dava pistas aqui e ali.
Assim transcorreu a palestra. Sentei ao lado de uma colega de medicina, então BB traçou
alguns rabiscos no quadro, e fez uma rápida explanação sobre Kundaliní. Depois pediu para
sentirmos esta força em nós, e para meu completo espanto eu sentia uma leve contração na
base de minha coluna, uma contração totalmente involuntária, era uma pulsação que ia se
tornado cada vez mais forte e evidente. Jamais havia percebido tal coisa assim em meu corpo.

Terminado o evento, o prefeito da cidade que também assistia à palestra lá no fundo do


auditório, se aproxima de BB e lhe cochicha algo, naquela época eu não sabia do conteúdo do
tal diálogo, somente bem depois a minha própria mãe me contou o diálogo, pois o próprio BB
lhe havia contado. O prefeito diz no ouvido de BB em voz sussurrada:

- Sou Rosa Cruz.

E BB cochicha no ouvido do prefeito:

- Sou Margarida Bolinha.

Passado o evento, e segundo eu soube depois através de outras pessoas, o prefeito


havia enviado uma carta lhe destratando e cortando as prováveis relações que teriam no
futuro.

Minha mãe quando soube desta historia entrou em riso convulsivo, e ria tão alto como
somente os Sanyasins do Rajneesh sabiam fazer. Passado o evento da palestra nós
marcamos com BB mais tarde, pela noite, em uma pizzaria na cidade, combinamos e nós lhe
pegaríamos no Hotel Ouro Negro.

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Estávamos sentados na Pizzaria e assistíamos a Guerra do Golfo passando na TV ao
vivo, em meio a conversas sobre Yoga, Tantra etc. Estavam lá outras pessoas e o professor de
Yoga de minha mãe, o Roberto. Roberto era uma pessoa doce, calada, e foi através dele que
conhecemos o BB, eram como unha e carne, e sempre fico pensando naquela amizade
espiritual.

No outro dia pela manhã, lá pelas 4 horas da manhã, eu desperto de uma forma
estranha e percebo que eu continuo sonhando mesmo acordada na cama. E por instinto sento-
me e fecho os olhos, e então vejo que uma explosão de luzes e cores está inundando o meu
cérebro, púrpura, vermelhão, azul, e logo prismas coloridos. Abro os olhos e o quarto está
escuro, sem nenhuma fonte externa de luz, mas quando fecho os olhos a tal explosão luminosa
continua. Fico maravilhada, embevecida com aquele fenômeno. Fiquei tão impressionada com
aquilo que eu deveria ir para Niterói, pois tinha aula na UFF naquele dia pela tarde, e então
decido ficar mais aquele dia em Macaé. As cores são inexplicáveis, são explosões e sucessão
de cores que inundam a minha mente.

Minha mente ladina começa a tentar lembrar-se do que eu havia bebido na pizzaria,
imaginava que BB havia colocado LSD em minha bebida ou alguma coisa assim, eu tinha
certeza que havia sido drogada.

Bastava eu fechar os meus olhos e em instantes de formavam riscos de luz azul, que
se reuniam no centro formando um olho negro, e depois este centro negro se abria em branco
e depois Púrpura e ai vinham cores que eu jamais havia visto!

Depois do almoço eu procuro a minha colega de medicina, ela era bem mais velha que
eu, ela já era odontóloga e possuía um consultório em Macaé, estava complementando o curso
de medicina comigo, ela queria ser médica. Chego ao corredor lateral de um sobrado verde,
que dava para o seu consultório e lhe encontro sentada na cadeira da secretária, os olhos
arregalados e neste momento percebi que ela estava ainda com a mesma roupa do dia
anterior. Ficamos em silêncio nos olhando - parece que ela estava passando por algo e eu
também. Assim foi, ficamos uns 5 minutos ali, nos olhando sem nenhum incômodo, em total
silêncio. Não gravei nossa conversa, mas anotei no meu diário depois a nossa conversa:

- Amandinha eu não consigo clinicar.

Foram suas primeiras palavras.

- Basta eu me concentrar no trabalho, na boca do cliente, e a coisa vem.

O que acontece com você? Eu lhe perguntei.

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- Tudo começa a desaparecer, o mundo em minha volta começa a se desmanchar. É
insuportável, perco tudo nesta hora!

- E Eu vejo luzes coloridas. Eu lhe disse.

Ficamos as duas assim sem entender o que estava acontecendo. E na medida em que
os dias se passavam a experiência foi diminuindo cada vez mais. Carla, a minha colega de
medicina tinha que andar, andar, andar sem parar, ela dava voltas no quarteirão, era a única
maneira de deter a coisa.

Havíamos sido drogadas pelo BB, embora a Carla não tivesse ido a pizzaria, esta era a
minha suspeita na época naquela época.

Minha mãe olhava para mim com certo orgulho, e depois nos disse que aquilo só
passava embaixo de água corrente como cachoeira, chuveiro etc. que ela tinha visto isto em
Poona, segundo ela houveram dois casos lá de subida abrupta de Kundaliní, um Sanyasin
alemão que morreu e de uma garota que teve que ser medicada em hospital. Comentando com
várias outras pessoas sobre o mesmo caso, e com o BB ouvi dizer que o Paulo Coelho ficou
três dias e três noites sob o chuveiro, e aí fez promessa para a Virgem Maria, para deter o seu
arrebatamento, e que por isto ele é hoje um devoto fiel dela.

Eu voltei para as minhas atividades de estudo, mas com medo, na verdade eu estava
diante de algo que desconhecia, e a Carla, bem, ela resolveu cancelar a sua pretensão de se
tornar uma médica.

Passado um tempo, a minha Mãe decide ir ao Rio e procurar o BB. Combino com ela e
ela passa em Niterói onde eu morava e estudava, e juntas com o Roberto rumamos para o
bairro de Sepetiba, na zona oeste do Rio.

Fomos bem recebidas, era uma casa ampla embora bem simples, com uma garagem
lateral. BB era um homem de família, ali conheço a sua esposa e seu filho, sua irmã e sua
mãe. Compramos dele uns livros, um deles ele indica para a minha mãe, era O Poder
Serpentino de Sir John Woodroffe, em espanhol e em Inglês.

Na palestra em Macaé ele havia contado um pouco da história de John Woodroffe, e do


texto traduzido no livro dele, o SatCakraNirupana. Fico com a versão em espanhol e minha
mãe fica com o outro, uma versão em inglês e com outro livro denominado de Shakti e Shakta.

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A próxima semana eu passo no meu apartamento em Niterói lendo avidamente o livro
O Poder Serpentino. Li, reli, fiz anotações. Pego tudo, o livro e um caderno de notas e decido
viajar para Macaé, para a casa de minha Mãe.

Eu a encontrei sentada na varanda com os pés elevados na parede, com o


pensamento longe, um cigarro no canto da boca, e com o livro de Woodroffe no colo. Ela me
olha e diz com o cigarro no canto da boca:

- Perdi 30 anos de minha vida atrás de uma ilusão!

Um choro convulsivo se apodera dela, as lágrimas escorrem pelas suas faces, eu me


ajoelho e coloco minha cabeça no seu peito, choramos juntas, abraçadas.

Ela segura minha cabeça olhando nos meus olhos e diz mais ou menos isto como está
no meu diário:

- Puta que o pariu! Puta que o pariu! Caralho! Buceta cabeluda! Porra! O cara escreveu
isto em 1910 e eu acreditando nestes safados que jamais tiveram acesso a porra
nenhuma de Tantra! Agora entendo o BB, ele deve rir da nossa ignorância, isto sim.

Pelo que lembro-me eu a consolei dizendo algo assim:

- Sim mamãe, este barbudinho fica o tempo todo nos sacaneando, e depois que li o que ele
recomendou, me senti um pouco enganada, traída. Mas não tome por este lado, seja grata por
tê-lo conhecido e ter acesso a uma literatura técnica etc.

Minha mãe só dizia que já sabia desta porra toda...

Ela estava exorcizando os seus demônios, sim, que ela era grata por ele, pela
informação etc. Mas foram 30 anos de enganação, se sentia enganada, achava difícil descobrir
que o seu Guru não sabia de merda nenhuma de Tantra, como ela dizia. Ainda disse que havia
pensado em se matar, mas a porra de seu pai, ela me disse, que se ela se matasse, ele disse
que se mataria também!

Até então eu não suspeitava das revelações que estavam para ocorrer entre eu e a
minha mãe.

Assim foi o nosso encontro, para mim tudo era novo, mas para ela era doloroso se dar
conta da ilusão e da alienação que ela tinha vivido como uma verdade absoluta. E esta conta

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de seu passado, agora se cobrava no presente. Lidar com sua energia é produzir aquilo que
lhe liberta ou então lhe devora.

Minha Mãe piorou muito nos últimos meses, eu tinha esperança de debater com ela
sobre o Poder Serpentino, mas o seu estado era lastimável, se punia por ter acreditado no seu
Guru, mas ao mesmo tempo jamais me levou a aceitar que seu caminho era verdadeiro, no
fundo ela sabia que estava improvisando, ela sabia, tanto que jamais me estimulou a buscar o
meu Sannyas. Era esta incerteza que ainda lhe salvava e salvava a nossa relação de filha e
Mãe. Meu pai era mais prático, ele virou a chave e agora a coisa é assim. Sentou e leu os
livros de Avalon, pois este era seu pseudônimo, sem nenhum espanto, acho que meu pai já
entendia o papel do fenômeno na relação com a Alma. Sei lá.

Eu era o único vinculo que minha mãe tinha com a realidade a nossa relação de mãe e
filha era o que tinha lhe salvado, ela estava em surto, os medicamentos só aliviavam o
processo, mas não resolviam nada, a saída, era ela mesma quem tinha que encontrar, e dentro
da sua dor. Não havia outro meio.

Ela exorcizava os seus demônios e eu me maravilhava com algo que acontecia dentro
de mim, uma força sutil quase imperceptível havia sido despertada dentro de mim, as minhas
notas subiam na graduação, minha concentração era agora, perfeita, eu estava lúcida, sem
angústias ou medos. Mas isto era só o primeiro degrau da coisa.

Pelo que li depois, eu havia sido iniciada ali mesmo naquele auditório, mas a minha
mente cientifica buscava explicações e mais explicações, que ainda eu não tinha. E jamais as
teria de fato.

Não havia nenhum formalismo com o BB, ele simplesmente era o que era, não havia
criado nenhuma institucionalização do processo, a primeira coisa que me ocorreu na época era
explicar o fenômeno, e buscar na vida de BB uma explicação.

Tudo corria bem, até que um dia, três anos depois do meu primeiro SLW, eu estava
passeando por uma rua no centro de SP, quando ouvi um estalo rasgado, como se algo se
rompesse como KKRRRR e isto foi dentro de minha cabeça, e logo algo muito estranho e
aterrador ocorreu, eu tinha ido a São Paulo para uma mesa redonda na USP sobre
neurociências. No domingo de manhã, antes de voltar para o Rio eu resolvi dar uma volta no
centro velho de São Paulo. E ali estava eu na Sé, sem saber onde estava, quem eu era, parei
como se meu cérebro houvesse sido sacado de mim, eu estava lá, minha Alma estava lá, mas
não havia nenhuma conexão nem com meu corpo e nem com minha memória. Entrei em
Pânico. Olhei em frente e vi uma banca de jornais e assim criei uma meta, que era a de andar
até ela. Chegando nela criei outra meta, que foi um poste, o próximo poste e assim por diante.

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Eu parecia aqueles monges japoneses dando um passo de cada vez. Percebi que eu ouvia os
sons da rua, das pessoas, carros, mas não identificava, era apenas barulho, percebi que podia
ouvir somente um dos barulhos, e assim fiquei selecionando um ruído, depois outro... Não me
atrevia a fechar os olhos, mas percebi que à medida que eu caminhava o processo se detinha,
eu estava ao mesmo tempo eufórica e com medo, jamais havia sentido algo assim, era como
se tudo sobre mim sumisse e então voltava quando eu pensava em algo. Parei na banca de
jornal e fiquei ali fitando uma revista como se quisesse disfarçar para os demais a minha
condição precária, uma ora eu tinha surtos de riso, como uma criança que descobre um
segredo, e depois tudo ligava e desligava em mim, e neste desligar eu tinha que lutar para me
manter ali, eu lutava para viver com algo que eu não sabia o que era, lembrei-me dos
momentos em que bebi demais e estava para entrar em coma e ficava lutando, no limite do
meu corpo, para não apagar, embora fosse bem diferente. A coisa se lançava para cima e tudo
desaparecia e então eu pensava em algo e somente aí eu voltava!

Fiquei naquela borda da minha identidade, eu imaginei que fossem horas, mas depois
percebi que foram apenas alguns minutos. Então eu via um carro e não identificava, e logo
dizia que era da marca tal e aí o vínculo da minha identidade com tudo voltava!

Na hora do evento eu não me lembrei da Carla, mas depois eu entendi a situação dela,
era a mesma situação que agora acontecia comigo. Inexplicável e aterrador para quem está
muito apegada a sua identidade, ela foi completamente evaporada pela Kundaliní.

Com muito custo eu entrei no táxi e voltei ao hotel. Meu corpo tremia, vibrava, e uma
vez no quarto do hotel coloquei o aviso de não perturbe na porta, joguei um cobertor no chão e
sentei-me como se faz em meditação.

Assim que sentei as minhas costas foram amassadas para dentro por uma força
descomunal, meu abdômen entrou, meu corpo ficou rígido como uma rocha do peito para
baixo, minha respiração era mínima. Os músculos esternoclidomastoídeos foram puxados para
baixo, meu crânio estalava, rangia, minha língua era sugada pela garganta, e aí quando ela
chega a tocar o fundo, lá no palato, o processo parou assim do nada.

As contrações dos músculos expulsaram todo o sangue que mal circulava pelo meu
corpo, eu somente sentia a mesma pulsação que senti lá em Macaé.

Neste instante eu percebi que não respirava e isto me causou certo pânico, e assim fui
aprendendo a ficar quase sem a respiração, parece que todo o processo era para este fim,
levar o corpo a uma Apneia Natural.

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O que ocorreu logo depois foi algo indescritível, o meu cérebro foi inundado por uma
explosão de cores vivas que eu jamais tinha visto até então, um vermelhão que passou para o
lilás e dele para o azul turquesa, no centro era como um caleidoscópio, o meu Ajña abriu! Era
noite quando voltei daquele transe, não conseguia mover as minhas pernas, tive que deitar-me
no chão e ficar ali esperando que o meu corpo voltasse completamente. Eu via camadas de
mim mesma, como holografias, como se eu estivesse visitando a 4ª dimensão, e fiquei ali, até
que por fim, terminou, tudo cessou.

Uma sensação de gozo tomou meu corpo todo, um gosto muito específico na minha
boca, eu sentia um perfume de ervas e rosas.

Fiquei ali em gozo profundo, continuado, eu respirava e entrava em gozo!

Liguei a TV e pelo programa que estava no ar, haviam se passado umas 5 horas.

A primeira coisa que me dei conta foi: Perdi o meu voo para o Rio.

Eu estava perfeitamente normal, lembrava-me de tudo, estava completamente lúcida.


Tomei um banho e então desci para o bar do hotel e pedi um Martini Dry. Eu respirava e sentia
um gozo, eu andava e sentia um gozo, eu via a luz do bar e entrava em gozo.

Foi a coisa mais maravilhosa que senti em toda a minha vida!

O que estava acontecendo comigo? E ali no bar tracei um plano, que era o seguinte -
eu iria tentar repetir a experiência no laboratório da Universidade Federal Fluminense. Como
seria meu EEG neste momento, como seria um eletroencéfalograma com esta força no meu
cérebro? Entretanto antes precisava perguntar ao BB se já havia algum estudo a este respeito.
Como seria possível ao cérebro sobreviver tanto tempo sem o precioso e vital O² proveniente
do ar respirado?

Estaria eu passando por um surto ou um processo de Esquizofrenia ou uma psicose, e


desta forma somatizando estes efeitos no meu corpo?

Me concentrei no que sentia... E eu me sentia muito bem, acho que jamais na minha
vida estava tão bem, era como se meu cérebro tivesse sofrido uma upgrade, e esta ideia ficou
na minha Alma.

Kundaliní é a upgrade do cérebro.

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Claro, que como uma neurologista eu via o cérebro, mas era mais que ele, era um
todo, de corpo a Psique.

Olhando, e perdida em meus pensamentos para o grande espelho que cobria a parede
do fundo do bar, vendo minha imagem refletida, comecei a formar uma teoria que mais tarde
seria confirmada por BB, Kundaliní era a Luz, a luz que levava e trazia, era ela quem fazia a
conexão de tudo com tudo, e esta espécie de luz adormecida, quando posta em atividade
produzia este fenômeno, que antes era inconsciente. Mas não sei dizer se é Quem ou o Que
fazia, era um fenômeno.

Somente alguns meses depois, no meu segundo encontro com o BB é que eu iria
começar a dar um sentido a esta ideia. O que quero dizer é que este evento no Hotel em São
Paulo, mas que começou no meio da rua, foi quando eu simplesmente fui tirada de minha zona
de conforto, que o mundo como eu entendia e assim vivia protegida nele, se rompeu, e ficou
clara a ideia de que uma pessoa comum, sem um mínimo de conhecimento, ao passar por esta
experiência - entraria em colapso.

Aquilo não era imaginação e nem um surto psíquico, era algo que desconhecemos,
algo bem real, e talvez tantas pessoas tenham sido simplesmente arrebatadas, e não
possuíam uma estrutura psíquica para lidar com isto. No meu caso o Arrebatamento foi
conduzido por um mestre qualificado. Mas e se ocorresse com alguém de forma acidental?

Li o relato de Gopi Krishna, um relato bem vivo e dramático da interpretação do


fenômeno feito por uma pessoa comum, que sem as condições de interpretar os eventos, entra
em um processo de psicose, e logo comigo que tinha tudo para me tornar uma devota dos
Deuses Hindus, mas eu via o acontecimento como um processo natural, próprio do homem, e
não uma intervenção de Deuses Hindus. Neste segundo encontro com BB esta dívida que eu
tinha com as minhas crenças foram quitadas.

Kundaliní é um fenômeno inerente ao homem.

Estávamos em uma sala, que era a sala de aula do Roberto, o professor de Yoga de
minha Mãe, no centro de Macaé. Todos sentados ali no carpete e encostados nas paredes, um
padrão que eu odiava e era assim em todos os centros de Yoga, não sei quem foi o idiota que
inventou isto, era sempre assim, qualquer lugar ligado a Yoga, Índia etc, era uma sala
apertada, mal ventilada, cheirando a perfume barato de incenso, e com um carpete sujo para a
gente sentar. Anos mais tarde frequentei estúdios de Yoga nos EUA e na Alemanha com chão
de madeira, amplas janelas abertas, ambientes bem iluminados e arejados, alguns com um tipo
de piso de madeira, que embaixo tinham uma espuma, eram flexíveis, limpos e muito, muito
agradáveis.

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Meu nariz já dava sinais da presença de ácaros e de química de perfumes. BB estava
nos falando sobre Kundaliní, mais ou menos a mesma coisa que ele tinha feito em outra
ocasião, eu havia pedido uns minutos com ele duas horas antes da palestra e foi então que
conversamos bastante.

Para ele Kundaliní é a Luz, a luz que está entre e dentro de toda a matéria, levando a
trazendo as informações de forma instantânea. Um poder potencial, e que pode ser posto em
uma dinâmica axial. Segundo ele a luz mantém a matéria do Universo, intermediando tanto o
lado de cá quanto além da fronteira de eventos. E outra grande dúvida que eu possuía, era
quanto às entidades ou Deuses hindus, que para ele são metáforas, são os sonhos para nos
dar a percepção, logo depois colhidos por Kundaliní. Então para manter a ideia como
conhecimento, era preciso criar uma cultura e os ritos para ensinar aos demais alguns
princípios naturais, antes mesmo de existir uma ciência, assim o hinduísmo é a representação
destes entes, e cada um destes Deuses tem as suas qualidades e os seus defeitos, algo bem
parecido com os Deuses Gregos.

Mas hoje ouvi algo que me deixou mais curiosa, quando ele afirma que:

Kundaliní desperta em todos nós quando dormimos, e quando nós acordamos, ela
dorme.

Sabem quando temos um milhão de ideias sem sentido algum e de repente um


princípio dá sentido a todas elas de uma só vez?

Eu ainda não havia ouvido ninguém falar sobre isto, mas agora começo a entender o
processo, as contrações musculares, etc... Imaginem a sua psique sonhar com o corpo
acordado, pois foi o que ocorreu comigo lá em São Paulo!

Os sonhos são os pensamentos vivificados quando o corpo está dormindo, e assim


podemos realmente ver nossos pensamentos animados, representados como em uma peça de
teatro, e foi somente 6 anos mais tarde, quando eu estava estudando semiótica para meu
doutoramento, que eu entendi isto. O signo é a representação pura, tridimensional, viva, a
construção interna que fazemos do Universo externo, nós construímos dentro de nós o mundo,
representamos a nossa peça como Alma para nós mesmos.

Eu estava sentada ali, incomodada com os ácaros, mas feliz pela oportunidade de ter
tido este contato com BB, estava esperando pelo final da palestra quando ele fazia algo, e
queria ver se eu era induzida novamente. Bem na minha frente estava minha Mãe e ali
estavam várias pessoas que eram nossas conhecidas. Uma garota lindíssima de uns 19 anos,

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com os cabelos pretos e lisos, e bem longos, estava sentada com os olhos fechados, a sua
cabeça meia tombada para traz e a boca entreaberta, sua face estava pálida como cera
virgem, indicavam que algo se passava nela.

Estava tão perdida nas minhas elucubrações que me esqueci da oportunidade de


estando junto ao BB sentir a transmissão. Imediatamente ergui minhas costas e assim que
minha coluna se alinhou, começou a pulsar. Foi tão rápido que logo meu abdômen se contraia
e meu diafragma se arqueava, imediatamente meus pensamentos se vaporizaram, e meu
cérebro inundou de luz. Minhas narinas meio fechadas pela presença dos ácaros, estalaram,
com dois plocs, e se abriram como dois tubos de ar, minha cabeça se ajeitava sozinha,
músculos deslizavam uns sobre os outros, fáscias presas se soltavam, todos os meus
músculos esqueléticos trabalhavam silenciosamente, para algum poder desconhecido,
ajustando todo meu corpo.

Um pensamento percorreu minha mente era:

Yoga em um minuto!

Tudo se fazia sozinho, Kundaliní é quem produzia as contrações abdominais e


alongamentos e respirações e não eu! Deve ter sido assim no passado remoto da Índia e
depois alguém imitou isto!

Aquilo me fez rir, e o riso me fez entrar em uma espécie de gozo, eu estava gozando ali
mesmo, mas era um gozo longo, contínuo, como lá em São Paulo - aquilo era um êxtase, a
minha Psique tinha se acostumado com o arrebatamento.

Lembro que no final da palestra fiz esta pergunta ao BB, sobre o gozo, sobre a
passagem da percepção para o gozo, que em se ativando esta força, o cume seria o gozo, o
êxtase. E assim foi, ali neste encontro que finalmente rompi com a barreira moral que eu tinha
em mim.

Eu podia gozar e entrar em puro êxtase, pois era o gozo no ponto mais alto de
Kundaliní, no topo da cabeça. O orgasmo sexual dava uma beliscada no gozo, apenas um
rápido ligar e desligar!

O Guru de minha Mãe despejava kilos de óxido nitroso para o povo rir e eu podia fazer
isto sozinha e ainda entrar em êxtase!

A garota na minha frente estava em pleno gozo, e eu também!

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Comecei a rir sem parar, lembrei-me das rodas de maconha da adolescência, e minha
risada estava fora de controle, mas fechando os olhos, lá vinha a onda, eu respirava e era
como se inalasse o gás do êxtase, a onda se agigantava e eu ficava lá em cima.

Aquilo não tinha preço! Prana e Apana colidiam e záz..., Kundaliní subia em um
segundo!

Eu podia gozar sozinha e dentro de minha cabeça!

Estava ali embriagada pelo Gozo, quando BB faz uma passagem pelas pessoas, ele se
aproxima de mim, sinto que ele corrige minha cabeça, ajustando meu crânio e bate com seu
dedo na região entre as minhas sobrancelhas, neste momento abre-se na minha mente uma
espécie de painel e surge uma luz branca, que inunda tudo, e esta luz se torna um vermelhão,
e no centro abre-se uma espécie de túnel, que se aproxima de mim, e milhões de cores se
mutam maravilhosamente, num espetáculo que jamais havia visto. Até então eu via algumas
luzes e agora não, meu Ajña Cakra abriu e eu via o cosmos dentro de mim, as luzes subiam e
derramavam, pelo menos eu sentia assim, elas derramavam pelo alto da minha cabeça.

Ele encerra a meditação batendo palmas, fazendo barulho e abro os olhos, e ele
começa a nos fazer voltar, instigando perguntas e falando coisas que eram para cortar a
aquela viagem.

A minha pergunta era sobre o gozo, não lembro exatamente das palavras, mas era
sobre a vinculação do gozo com o Tantra e sexo.

A resposta de BB foi que não somos metade de coisa alguma, nós somos inteiros, o
sexo é uma forma selvagem de gozo, uma forma primitiva, mas o gozo está dentro de nós, e
mais precisamente dentro do nosso crânio. O sexo é uma forma indireta de acessar a este
nosso Gozo perdido, pelo outro. A meditação é ir direto ao gozo, sem um outro. Mas para isto é
preciso todo o processo conhecido como Kundaliní e a confrontação do Gozo com si mesmo.

Meditar é gozar. E quando se goza, neste instante, não há mais o outro, o gozo é
o contato com si mesmo!

Estas foram as ultimas palavras do BB naquela palestra. O outro removido do cenário,


e estamos com nosso Espírito mesmo, em pleno gozo!

Logo se ouviram algumas vozes de protesto dos esotéricos de plantão, mas a


segurança do BB era incrível, sua presença era absoluta e tranquila.

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E as perguntas eram do tipo:

Quando Kundaliní chega no Cakra tal e tal ocorre isto e aquilo...

Que ela é uma força feminina...

Que ela tem polaridade etc...

BB cumpria seu papel de enrolar aqueles tolos, e como ele sabia fazê-lo. E bastava eu
fechar meus olhos que o cosmos explodia na minha cabeça. Por meses eu fiquei meditando
naquelas luzes, seguia seu processo, Kundaliní se manifestava no meu abdômen depois no
tórax e depois na minha cabeça.

Logo depois desta época eu estava me formando e namorava o Agamenon um físico lá


da UFF, ele era uma pessoa doce, tranquila, de paz, e com ele pude confrontar aqueles
conhecimentos sobre a Luz, me apaixonei pela Luz. Embora gostasse do Agamenon ele às
vezes me irritava, pois ele sempre precisava ser o centro de tudo, e a minha maior admiração
por uma pessoa, era quando ela sabia o seu lugar em qualquer situação, mas Agamenon não
era assim.

Luz é tudo no mundo, dizia o BB, e é mesmo.

Sexualmente eu me sentia mais atraída por mulheres do que pelos homens, será que
seria uma forma de sublimação sexual nesta travessia do gozo pelo outro, para um gozo de
identidade espiritual? Pode ser que sim. Mas sexo era como andar de bicicleta e meditar era
como voar num F18, embora às vezes o que nós queremos mesmo é andar de bicicleta não é
mesmo?

Fiz a tal pesquisa com EEG, e no momento em que estava em pleno gozo, os traços
estavam parados, completamente parados, como se eu estivesse morta. E a bibliografia que
recebi do BB era sobre um estudo realizado no Japão. Ela mostrava que Monges muito bem
treinados, no máximo podiam atingir o padrão do ritmo Alfa baixo. Raja Yoga, Hatha Yoga e
MT podiam no máximo reforçar o ritmo Alfa, mas com o Tantra, enquanto dura o êxtase o ritmo
Alfa está completamente ausente, neste estudo somente quando Kundaliní está no crânio,
atingimos o êxtase e cessa a atividade cerebral! Algo perto de 0,5 Hz.

A pequena morte no gozo, o nosso perdido gozo original, era a iluminação, era
Kundaliní voltando ao seu ponto de origem, desconstruindo tudo, engolindo as letras do Cakras
e produzindo o gozo de sermos o espírito imortal. Formava-se em mim uma ideia aproximada
da Apanhadora de Sonhos!

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O processo de minha Mãe

Minha mãe lutava para exorcizar os seus demônios internos, os produtos das ilações
alucinadas dela sobre os Gurus que se drogavam e cativavam seus discípulos com promessas
de uma iluminação mágica e definitiva. E minha mãe, assim como outras milhares de pessoas,
eram as vitimas desta exploração perversa que vinha se dando nos últimos 50 anos, centenas
de Gurus indianos e ocidentais são acusados de estupro, exploração sexual, e todo o tipo de
golpes para obterem fama e dinheiro. Não é agradável falar disto, mas as famílias destas
pessoas herdam pessoas destruídas, perdidas nas suas alucinações.

Certezas absurdas recheadas de conceitos hindus, o incentivo a rebeldia e um discurso


falacioso fazem vitimas como nenhuma guerra jamais tem feito. E todo este lado escondido se
deságua nos consultórios psicanalíticos e nas clinicas de recuperação.

Ninguém vê estes dramas, pois ele fica como um fardo para as famílias carregarem, e
nas infinitas e inúteis peregrinações aos psicólogos e as suas Cids, medicamentos,
tratamentos e por fim só resta a estes coitados o apego cego a uma fé suportada pela nossa
sociedade.

Minha mãe já era bem mais consciente de seu processo, mas tinha momentos ruins, as
chamadas de valas da depressão que nos assombravam, pois ela não conseguia reter nela, a
experiência, ela estava viciada no jogo dos Gurus hipócritas, o pendulo oscilava entre ela e os
astros, entre ela e a lua, entre ela e o merecimento, a culpa, a sociedade, etc. Mas mesmo este
conceito que eu nutria sobre ela, mudaria. Na verdade eu não a conhecia de fato.

Quando você não goza sexualmente você fica irritada, infeliz, mas quando você não
goza com você mesmo, você fica no limbo da existência vivendo das migalhas oferecidas pelo
cotidiano através dos outros, e assim cada dia é salvo por uma música no rádio, por um elogio
vindo de alguém, de uma noticia ruim na TV etc.

Eu sei, eu era assim. Tem um ditado na TV americana que diz que a tragédia salva o
dia de muita gente, e isto é certo mesmo, a tragédia frente a comédia, as duas pontas das
solicitações humanas, por um lado temos na tragédia o fato como agente nutridor da verdade a
ser revelada e na comédia o fato como agente nutridor da verdade a ser ocultada e levada ao
comum, sim, pois o riso é chiste do coletivo. Na comédia a tristeza fica com o sujeito e na
tragédia a dividimos como fato, e a TV é apenas isto, a divisão das nossas falhas, das nossas
dores, para que cada um de nós individualmente possa sentir-se um pouquinho mais feliz.

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A angústia está lá o tempo todo, e sempre falta algo, o Signo está aberto e nele
colocamos de tudo, até que não o reconhecemos como tal, o desfiguramos e resta-nos
reclamar e exigir dos demais, e se aborrecer um pouco para não sentir mais a angústia.

Milhares de igrejas são as possibilidades abertas, são os cânticos de sereias lhe


dizendo que há sentido nesta sociedade de doentes, ou então na busca alucinada pelo dinheiro
a qualquer custo, como se os bens pudessem aplacar a dor da existência, mas o dinheiro
apenas ajuda muito, ele manda buscar como dizem por aí, mas não resolve, aliás, nada
resolve de fato a nossa existência a não ser que possamos descobrir um sentido de existir para
nós mesmos. Que cravemos nossa identidade ali entre a tragédia e a comédia.

Minha mãe era uma vítima de ignorantes e ela também havia se locupletado destas
inserções, destas alienações – ninguém é totalmente inocente.

Eu estava interessada no processo da minha mãe e do meu pai, talvez como uma
travessia, uma projeção na incapacidade ainda de ir diretamente a mim, pelos meus próprios
meios. Meu Pai, ele já sentia e já vivia feliz, surgiu nele uma ironia fina, elegante, que já era
fruto sendo colhido, mas minha mãe me preocupava... e muito.

Eu resolvi tirar minhas férias em Macaé, na casa deles. Assim eu poderia viver mais
perto dela e observá-la com mais cuidado. Havia uma incapacidade nela de se fixar na
experiência, logo nos primeiros sinais ela era tomada por impressões, e motivações, que a
levavam a se defender admiravelmente do processo. Mas eu não era um Mestre, era apenas
uma observadora e filha.

Aquele vício de sanyasin velho, de sempre fazer do surto um teatrinho, ou vice versa,
aquilo me irritava profundamente, e ela era assim, uma velha tendo faniquitos de adolescente.
Teve momentos que quase lhe dei um tapão nas fuças, por pouco... Muito pouco, não fiz isto,
ainda bem. Era a incapacidade dela de lidar com o prazer, este era o ponto da sua fuga.
Estava tão viciada naquele teatro, naquelas conversas de maconheiros regadas a vinho e de
chistes de sovaco de cobra, e depois o sono até o meio dia - era confortável viver assim.
Embora eu fosse descobrir coisas nela que eu jamais imaginara.

Pela primeira vez eu pude ver, que eu havia sido criada num inferno, meu pai acordava
às 4 horas da manhã, regava as plantas, dava ração aos gatos. Cuidava do jardim. E depois se
trancava no seu gabinete cheio de livros e máquinas até o teto. Mas fazia isto de uma forma
muito especial. Tinha sempre um macacão destes de manga curta e impecavelmente limpo,
com seu nome gravado, ele era o exercito de um homem só, e um dia eu vou escrever sobre
isto, ele criou as condições dele viver com ele mesmo, com uniforme, horários etc. Ele

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acordava e colocava seu “uniforme” que era uma espécie de sua pele para si mesmo. Sem o
seu macacão meu pai era um nada. De perto, todos nós temos os nossos Tocs.

Ninguém tinha internet naquela época, só meu pai, o modem era um telefone acoplado,
discado. O monitor era de cor âmbar, só tinha esta cor mesmo. Ele se trancava lá e depois saia
com aquele sorriso nos lábios, se conectava com as universidades e comunidades de
informação em Israel e nos EUA.

Eu falava sobre uma pesquisa X sobre neurologia e ele citava, dizendo:

-Sim, sim... E lá vinha a tal pesquisa, ele sabia o que era, quem tinha feito, como,
onde... e o catete a quatro.

Ele me ensinou Alemão em casa, e teve uma época que eu e ele só falávamos a língua
alemã. Ele construía aparelhos eletrônicos para as empresas que trabalhavam, que prestavam
serviços para a Petrobras. Metia-se no seu gabinete, cheio de medidores de tensão,
amperímetros, osciloscópios e da lá saiam maquininhas vendidas para as empresas a 10, 20
mil dólares. Mandou fazer etiquetas vermelhas e prateadas com o nome South Texas
Instruments. Todos pensavam que era uma mega empresa americana no ramo de Petróleo,
mas não, era o meu pai no seu cafofo. E ele ganhava mais dinheiro do que nós podíamos
gastar, quando eu fui estudar na UFF, ele foi lá e comprou um apartamento de 2 quartos bem
pertinho da UFF. Pagou à vista. Fomos lá ver o prédio e um senhor que era o proprietário e
morava no térreo do mesmo prédio, disse a ele que o apartamento era uma bosta, mas pelo
aperto de mão, pela postura do velhinho, pelo sorriso, meu pai se encantou com ele, e ele pelo
meu pai, e lá estávamos nós três no corredor conversando e nada de meu pai ir ver o
apartamento, eu peguei as chaves de sua mão e fui ver o dito apartamento. Voltei e disse que
era muito bom! E os dois conversando, até que o velhinho que depois soube que era um
general aposentado, me segurou pelos ombros e disse, eu disse que era uma bosta para
despistar o inimigo. Era dele o apartamento, e não queria vender para gente bitolada, era de
seu filho que havia se mudado definitivamente para o exterior.

Na rua onde morávamos em Macaé, o meu pai era o Seu Nil, amigo dos cachaceiros,
taxistas, pilotos de helicópteros, e das inúmeras lojas e oficinas espalhadas por Macaé, aonde
nós íamos alguém sempre gritava:

Olá Seu Nil!

Tínhamos uma vida financeira confortável graças as habilidades de meu pai em


fabricar qualquer engenhoca para a complexa indústria de Petróleo e Gás, e isto ia desde

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peças para os helicópteros Sikorsky usados nas operações Offshore do mercado de óleo e gás
no Brasil, até a fabricação de circuitos integrados para as sondas submarinas.

Pouca gente sabe, mas o maior fabricante de Chips e circuitos integrados são os
Kibutz Israelenses, comunidades altamente tecnológicas. Constantemente recebíamos
encomendas destas mini fabricas em Israel.

Então o meu pai era uma preocupação menor para mim, ele vivia sempre ocupado
lidando com alta tecnologia, fazia a sua meditação diária, tinha uma vida extremamente
produtiva e solicitada e isto lhe dava um imenso prazer. Ele tinha como ir até ele mesmo. Mas
minha mãe não, ela tinha uma boa formação acadêmica, mas de alguma forma perdeu seu
senso de critica e de análise. Entrou em um processo estranho com altos e baixos.

Neste mês eu iria mais fundo em ajudá-la e de alguma forma tirá-la dos fármacos
receitados pelos psiquiatras. Que começaram pelo Aldol, depois Rivotril e depois por fórmulas
complexas que embotavam a sua alegria, e quando nada disto mais funcionava veio a terapia
eletro convulsiva, o popular eletro choque, até que um dos seus “amigos” lhe receitou o Lítio,
eu somente permiti que ela tomasse uma dose, aquilo já era demais para um ser humano.

Fiz um quadro regressivo dos medicamentos, até a uma dose mínima de manutenção,
e agora precisava estar um tempo com ela. Os diálogos abaixo foram gravados por mim e
mostram o que certos Gurus são na realidade.

- Mãe, vamos conversar por uns dias, OK? Quero saber sobre seu ponto de vista sobre
a espiritualidade, e irei gravar tudo, tudo bem?

O Gravador de rolo Akai 1700 de meu pai, fez duas gravações, cada uma com mais de
3 horas.

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Metendo um Tempo entre a Vida e a Morte

Parte I

- Mãe, tá gravando...

- Você sabe que eu falo muito, nenhum psicanalista tem paciência comigo, lembra
daquele freudiano daqui de Niterói? Que depois de 20 sessões, eu em completo
silêncio..., e ele desandou a falar como adolescente bêbada? Pois é..., e aí eu disse:

Quem é a porra do Psicanalista aqui?

O cara ficou vermelho de raiva. E aí eu disse:

Eu cobro 200 paus a hora! De bichonas como você!

E aí o cara me expulsou de seu cafofo de análise. Lembra disto? Eu já lhe contei isto
não foi?

- Sim mamãe! Já contou isto várias vezes..., mas ele disse que você o xingou de Bicha louca e
que ia lhe processar. Você xingou ele?

- Mandinha, porra..., o cara começou a soltar a Pombagira reprimida dele em cima de


mim, só porque eu o enquadrei, não aguentou ficar vinte sessãozinhas me esperando!
Claro que eu não disse assim..., como disse pra você, eu disse daquele jeito.

- Sei bem como é este jeito, é esporrado, como seus amigos doidos sanyasins. Vocês não
riem, dão gargalhadas, não falam, gritam! Mas aposto que você ficou as vinte sessões lá
caladinha de caso pensado, confessa! Foi tudo premeditado não foi?

(gargalhadas...)

- Porra você acha que eu estava lá pagando aquele boiolinha para que? Se eu fosse
homem tinha colocado o pau duro para fora, queria ver aquela bichona se desmanchar,
claro que foi..., foi premeditado, eu precisava descarregar meu coronário, e o Dr,
Rodrigo Luquesi era o viado que a puta que o pariu... mandou para minha terapia!

(Lembro que ela se debruçou, chegou bem perto de mim segurando meu braço e disse;)

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- Encontrei o rodriguinho estes dias no Shopping Plaza lá em Niterói, de mãos dadas
com um negão lindo, ele fingiu que não me viu, e aí..., soltou a mão do negão, juro em
cima do livro da Lei de Crowlei, ele soltou a mão do rapaz quando me viu..., ou seja,
ele é uma bicha pela metade. E depois eu, de propósito..., andei rápido para encontrá-
lo no corredor, e ele parou na prateleira da loja e ficou olhando uma roupinha de
neném, disfarçando né..., e o rapaz que estava com ele, o ficou questionando..., foi
demais! Aí eu parei também. Na confusão dele, ele saiu com a roupinha na mão e
passou pela porta da loja e aquele caralho eletrônico lá de segurança, começou a
apitar, Ui Ui Ui UI...quase que eu gritei. Pega!! ladrão!! Puta que o pariu... eu não me
divertia assim desde o enterro da sua tia Júlia!

- A senhora é uma perversa! Meu pai tem razão, a senhora gosta de colocar os outros em
situações constrangedoras, êta vício de filósofo, que acha que todo mundo tá pronto para um
embate o tempo todo...

- E a vida não é assim, mandinha? Eu lhe eduquei para questionar o mundo e não para
explicar merda nenhuma!

- Mas..., e a sua depressão?

- Que porra de depressão Amanda? Hein? Que depressão? Só porque eu fico zen uns
dias todo mundo acha que estou deprimida? Sou 220, mas às vezes me ligo nos 12
volts. Faço a limpeza dos Cakras, e depois volto para a porrada do mundo!

Que remédio funcionou comigo? Hein? Aquela vadia da psicóloga achava que me
dando um choque eu iria me acalmar, eu fui lá tomei aquela porra..., e depois joguei na
cara dela, que eu sou mais forte que aquela merda dela.

- Sim a senhora vive dizendo isto, coisa lá de seu Guru viciado em óxido...

- E daí se ele tomava Valium, fumava maconha e cheirava um óxidozino, e daí? Todo
mundo se droga Amanda..., e você sabe disto, ninguém vive de cara limpa! Ninguém
acorda e começa o seu dia..., assim, de cara limpa! Mas concordo que quando os
caras do grupo duro, de dentro, tomaram o poder e criaram uma farsa..., Osho é uma
farsa, Rajneesh era real, humano e falho, uma gracinha!

O amor está no humano, no falho, na contradição, e não na certeza!

- Mãe, mas ele mesmo dizia que era Deus..., Deus toma Valium? Deus fuma maconha? E
cheira óxido? Veja que nunca critiquei você e nem suas escolhas, e nem o seu Guru, mas você

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sabe que ele era só um garotinho indiano pobre deslumbrado com o poder, e em comer as
ocidentais..., todo indiano pobre sonha com riqueza e poder, ele só foi mais um, e ele lhe
comeu..., meu pai disse isto! Isto não é verdade?

- Seu pai lhe contou isto? As coisas não eram assim antes Amanda, éramos livres, o
sexo era livre, seu pai nem era meu namorado, só depois que nós começamos a andar
juntos.

- Sim, eu sei, e não me interessa lhe julgar. Eu só queria entender de onde vem esta rebeldia,
que é um vício chato...

- É um vicio chato, mas que me faz sentir viva..., me sinto viva assim mandinha, sacou?
...Era tudo um teatro, Rajneesh era uma oportunidade para a nossa loucura, só isto...,
existiam os panacas ricos para bancar os nossos sonhos, Poona nasceu como uma
oportunidade, e ele aceitou o jogo, fazia o teatrinho, encenava a sua própria vida como
Deus. E com a morte da sua paixão..., a doce fulana lá que se matou em Bombaim, ele
mergulhou em um down e não saiu mais, imagina a dor daquele sujeito, e depois ter de
seguir com seu teatrinho..., sem poder chorar..., sem poder meter a porrada em
alguém, porra!... O cara se fudeu na sua gaiola de ouro. E isto foi triste... E aí você me
pergunta por que eu continuo com isto, com a minha rebeldia. Me dá um mundo....um
mundo que valha a pena... e eu mudo. Eu mudo agora mesmo! Mas por enquanto
prefiro me manter sã, o BB disse algo legal aquela vez. Que a arte, só ela pode manter
uma linguagem pessoal, era algo assim, e por isto comecei a pintar. Senão Kundaliní
quer sair pelo cú!

- Mas mãe, quando você ficou quieta, estava sofrendo, não estava numa boa, zen..., como
você fala..., você não tomava banho, mal comia, e nem fumava mais sua maconha. Não se
abria com ninguém, só com a teoria do buraco do BB é que você começou a elaborar alguma
coisa...

- Porra mandinha, vou lhe dizer uma coisa, cá para nós Amanda..., o tal do eu como
um buraco é coisa antiga, um círculo vazio do zen, isto vem desde Hui Neng, não é
novo, o BB soube falar sobre isto porque deu à porra do circulo vazio, um sentido de
ser ao Eu, então foi isto que me ajudou pacas, o círculo vazio não significa porra
nenhuma, mas o Eu como um círculo vazio..., como um buraco, como um anel..., porra,
já é genial. Depois da historia do BB e do tal buraco a ser tampado...., e é isto que
fazemos o tempo todo, colocar alguma coisa aí que tampe a porra do buraco, então as
ideias se cristalizaram na minha mente por causa desta porra de buraco do eu. Eu não
entendo esta porra de castração, complexo de Édipo e o caralho a quatro, mas o Eu
como um buraco, cujo vazio nos angustia... E nos tira do mundo, porra esta ideia é boa

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pra caralho, faz sentido. Faz sentido com a porra toda, até com o átomo! Mas é antiga,
e não é do BB porra nenhuma!

Lembra quando você perdeu o cabaço? Lembra?

- lá vem você com a mesma história de meu cabaço..., de novo!

- É verdade, Amanda eu lhe ensinei que se você tirasse o seu próprio cabaço você
seria iluminada rapidinho e não deu outra! Porra é ponto e caralho é virgula pra mim, e
tirar o seu próprio cabaço devia ser uma lei, nenhuma mulher pode conviver o resto da
vida pensando que um dia um filho da puta meteu o pau em ti e lhe fez mulher..., que
merda! Eu pelo menos paguei o guri, fiz ele ficar de pau duro e com as mãos presas
embaixo do corpo, e sentei nele.

- Por isto você é a minha mãe!

- Claro querida, se um filha da puta de um homem tivesse me comido a primeira vez,


hoje eu seria lésbica ou uma puta de uma infeliz, isto é da lei. Se bem que sexo com
mulheres é sempre bom. Mas começar no papelzinho ridículo de buraco quente pra
homem se masturbar dentro! Eu não! Ser hetero de homem é sempre uma merda, a
não ser que role aquele lance da mulher querer, do tesão, aí tudo bem! Mas é ela que
tem que querer! Homem que é homem respeita o desejo da mulher, veja seu pai aí
como exemplo.

- Mas... eu paguei o Nelsinho, (ha..ha...ha...), eu paguei ele!

-Jura? Amanda safadinha, Jura?.., Mas o Nelsinho era apaixonado por você!

- Eu disse a ele que faria com ele..., e que se fosse de meu jeito, eu iria transar com ele, então
fomos lá pro quarto do tio Pedro, fiz ele ficar pelado, deitado na cama, e fiz ele jurar que depois
eu lhe daria o dinheiro, fiz ele jurar, repetir 3 vezes..., que depois ele receberia o dinheiro. E
depois dei o dinheiro para ele. Ele riu e disse..., pô Amanda não precisa, e tal..., mas eu fiz ele
segurar o dinheiro. Depois ele contou para o Daniel se gabando que tinha me comido e que
ainda ganhou dinheiro com isto! O Daniel me procurou também, e aí disse que precisava
recuperar o meu dinheiro..., foi aquele dinheiro que ele roubou da mãe dele, e aí que deu a
confusão comigo, lembra disto?

- E como lembro..., a mulher lá..., a mãe do Daniel disse que você era uma
prostitutazinha e eu dei um socão tão direto no olho dela, que ela rolou a escada da
escola. Mas eu não tinha conectado as coisas..., entre o Nelsinho e o Daniel, e no final

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das contas Amanda, você tirou seu cabaço grátis! Não é? Ah, ah, ah..., O Nelsinho foi
prostituido e o Daniel pagou a conta..., ah, ah, ah...por isto que digo; que mundo filho
da puta este nosso! A mãe do Daniel com o olho roxo, eu com um osso da mão
quebrado..., e você investiu no seu defloramento, e recebeu o dinheiro de volta! E você
ainda quer que eu leve a vida a sério! Não dá, é muita loucura pro meu cabeção!

Engraçado mandinha, agente aqui lembrando estas coisas todas, mas eu não consigo
lembrar de nada, quando estou só.., eu não lembro de porra nenhuma, é assim
mesmo?

- Claro mãe, eu vim passar minhas férias aqui, para isto. Tem hora que não lembro mais nada,
me sinto como se não tivesse feito isto tudo, como se não fosse eu que não tivesse vivido a
minha vida e aí conversando, záz..., volta tudo, eu me sentia insegura antes de ter passado por
aquele troço lá na primeira vez que conheci o BB, agora sinto como se fosse algo estranho a
mim, reconheço, lembro de tudo, mas o vazio não me incomoda mais.

- Bom você dizer isto Amanda..., por que..., você nunca me contou o que aconteceu, eu
e seu pai ficamos preocupados, primeiro pensamos que se tratava de uma projeção
sua com o barbudinho, mas depois vimos que era algo aí dentro de ti, e aí respeitamos
né?, Nunca perguntamos nada. E você sabe, eu sou curiosa pra cacete, fique me
remoendo, te liguei umas dez vezes pra perguntar e depois desisti. A Carlinha, lembra
dela, aquela que é dentista daqui?

- Lembro sim, nunca mais a vi depois que ela trancou o curso lá na UFF.

- Pois é..., a Carlinha foi morar na Nova Zelândia, se juntou ao Médico Sem Fronteiras
por lá e faz trabalhos na Etiópia e na Índia. Eu a vi há um ou dois anos atrás, e fiquei
impressionada com ela, toda segura, toda linda como sempre, mas você sabe que eu
não sou de elogiar ninguém, e a Carla realmente é uma pessoa integrada, crânio e
cóxis ali trabalhando junto, um fudendo e o outro gozando, ali..., mas o processo nela
foi difícil, eu tenho curiosidade de um dia conversar com ela, como ela conseguiu
domar a Bicha, a serpentinha se mexe e eu saio do sério, falo tanta merda, e ela não.

- Ledo engano..., mãe..., ela passou por poucas e boas, ela dava voltas no quarteirão a noite
toda, ficava horas no chuveiro..., mas não sei como ela trabalhou a coisa nela, a última coisa
que soube foi quando ela ficou lá em casa em Niterói um ou dois dias. Ela é mística, interpreta
tudo por um viés religioso, eu ate indiquei um livreiro no centro do Rio, aquele seu xará...., o
Chico Laissue, e aí ela pegou a barca, atravessou a Baía e voltou com os livros do Woodroffe.
Lembra quando aquela livraria era num cafofo na Travessa do Ouvidor e tinha uma mulher
maluca que vendia pirâmides e dizia que era vidente, ela ia direto lá na Globo..., falar até se me

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lembro...,bem...ela respondeu num programas de perguntas e respostas que valia um milhão,
lembra dela?

- lembrei porra, lembrei, era..., O céu é o limite!

-Isto mesmo mãe, isto mesmo!

- Absolutamente certo o cara dizia! Era Jota Silvestre o nome dele.

- Eu não lembro dela, mas Mãe ela era uma picareta parapsicologa aqui do Rio, pois ela ficava
ao lado da livraria antiga do Laissue e enquanto você ficava lá na livraria eu ficava na loja dela,
cheia de bolas de cristas e baralhos, pêndulos...

- Sim, lembro do rosto dela..., era Maria Lidia alguma coisa..., peraí, ela era uma
mulher incrível, formada em psicologia, lembro dela da TV, pra você se é parapsicologo
é picareta né ?

- Ahh..mãe, tenha a paciência, a mulher lia mão, botava cartas, limpava aura, falava com os
mortos, ela tinha um cartaz que afirmava que fazia o sujeito fazer treze pontos na loteca e tudo!

-Você é uma descrente com seu pai.

- Este seu lado místico de acreditar nestas coisas, por isto eu a admiro. Faz sentido o seu guru
ser o tal de Rajneesh.

- Aí, agora senti uma ponta de ironia. Confessa que agora você foi perversa, vai!

- Deixa eu dar um tapa no seu cigarrinho aí.

- Minha filha careta quer dar uma puxada no meu fumo, olha só!

- Eu fumo às vezes..., como recreação com meus amigos. Mas só de ter crescido nesta casa
eu acho que já fumei mais maconha que o Salassiê?

- Salassiê????...., que eu saiba ele não fumava maconha...não, não fumava não.

- Ah ah...vem com esta, o cara fundou a religião do Brown, a "Sua Majestade Imperial", His
Imperial Majesty, que significa Jah Ras Tafari ou Jah Rastafári, o cara fundou a religião da
maconha, ele foi o 225º imperador na dinastia que remontava, segundo a crença, ao Rei
Salomão e da Rainha de Sabá. Era o Leão de Judá, mas os cretinos dos Judeus não quiseram

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ir para lá, que é a terra sagrada deles, nossa né, e de fato, sabia que a arca da Aliança está
enterrada lá na Etiópia?

- Tinha ouvido falar, mas não tinha ligado as coisas, vi um filme com um pesquisador
da vida de Bob Marley e ele falava isto, mas lembro vagamente. Para quem não fuma
um baseado, você está por dentro da coisa..., ah, ah, ah, ah.
Como é mesmo Rastafári é o que?

- Jah Rastafári é sua majestade imperial. Titulo de Salassiê.

- Caralho, quer dizer que a tal igreja do Salassiê é a do Brown? Na Etiópia?

-É isto mesmo.

- Caralho, então a carlinha deve tá por lá.., ah, ah, ah, ah...

-Mamãe, eu queria lhe perguntar uma coisa.

- Quando você diz “Mamãe” está pedindo algo.

- Não é nada disso. Eu queria lhe perguntar algo sobre seu processo, eu entendi o caso do
buraco, mas e daí... Como você tem muita vivência nisto, a que conclusão você chegou afinal,
se houvesse uma frase, algo que você pudesse me dizer agora, tipo um grito de socorro,
entendeu? O que seria?

-Mandinha e suas perguntas difíceis..., semana passada pensava sobre isto, qual é a
minha cenoura pendurada na minha frente? Porra Amanda eu sei que você quer me
ajudar e tal, vi seu Pai lhe telefonando e pedindo pra você ficar comigo um tempo, mas
como eu dizia..., o que tenho pensado nestes últimos tempos se... se resume..., se
resume a...., quero eu...., eu quero ter um tempo entre a minha vida e a morte, pode
ser algo que para você tenha chegado mais cedo, e eu sou mais visceral, então...é
isto... Dar-me, ter ..., botar, meter um tempo entre a vida e a morte. É isto que eu quero
de fato agora.

O BB fala de meditação de uma forma que seria como praticar algo, mas vejo como um
tempo real, quando a minha vida se torna miserável, fútil, vadia a ponto de esgotar as
alegrias que ela pode me dar..., e então sim, a meditação não é uma prática e sim o
tempo em que se tem para resolver a coisa toda.

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Então quando eu tenho contas ..., a acertar, aí paro um tempo, e você não, já vai
construindo e pagando ao mesmo tempo.

Você pôde fazer isto ainda jovem, não foi induzida nem por mim e nem por seu pai com
culpas babacas, a sua geração se salvou, entende? E a minha foi uma desgraça, muito
careta, muita bitolação, muita culpa, e porra de análise alguma dá conta de me livrar
disto tudo... Mas você não, já entrou no mundo sendo recebida por pessoas, pelo
menos, conscientes da própria merda, eu sou assim e seu pai também, é...

Amanda eu levei décadas para ter um pouco de paz interior, eu fui criada na culpa
cristã e você não. Entende isto?

- Claro mamãe.

Eu me fudi toda, não recebi uma cultura mínima que me desse esta..., esta base que
você tem, eu precisava de terapia, de viver minha fúria..., e também o meu amor, mas
com você é diferente, vocês já internalizaram isto, já compreendem, tanto que vocês
amam as nossas musicas..., o nosso tempo...., Amam porque entendem. A minha
geração teve que lutar nas praças, protestar, tirar o soutien e o caralho a quatro.... e
vocês entendem isto vendo filmes, por que? Porque a porra da cultura é passada pelo
inconsciente, a minha geração foi a do confronto. A música..., ela historia isto, o
Rock..., depois o Rock progressivo..., depois o Pop, a arte toda conta a mesma história
porque isto é coisa do inconsciente. Não é genética, e você como médica já sabe disto,
é além, tem algo além, e entre nós.

- A luz.

Viu só, como é fácil para vocês! Agora imagine..., nós sem informação alguma, íamos
para a Universidade para ter informação de ponta, a sua é abençoada, e a linguagem
do BB é para vocês, apesar dele também ter vivido naquele período, eu sou produto do
confronto ideológico e ele é inteligente, sabe disto. Então eu preciso separar a vida da
meditação, e você não..., você internaliza tudo no instante. A mesma coisa aconteceu
com a linguagem..., porra, rapidinho já tem semiótica, e Freud nem sonhava com uma
porra destas, uma ciência do símbolo, do Signo, eu tive que ler Sassure, Levi Straus,
Barthes, e você em meia hora entende o sentido de uma semiologia, e eu não.

- Mas Sassure viveu antes de Freud!

Eu sei disso, mas ninguém sabia do cara ainda. Amanda, eu lia um livro e não
conseguia distinguir o personagem da produção literária, nós acreditávamos

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literalmente na informação, como no famoso episódio do Orson Wells relatando a
invasão marciana no rádio, numa novela..., e as pessoas passaram a acreditar que se
tratava de uma invasão de marcianos de fato!

Kundaliní pra mim é uma energia, o fogo que me incendeia e queima meu Karma e tal,
e pra você não, é uma luz, que projeta os sonhos na tela da mente, etecétera e tal.
Então só agora que minha ficha começa a cair, devagar, prende ali,e acolá. E pra você
é zum..., você já entendeu.

- Eu não tinha pensado nisso.

-Pois então pense, pois a sua geração nasceu no mundo da informação e a minha no
caos da desinformação, e da guerra fria. Eu tinha sonhos sobre Kundaliní, sonhos que
o livro do Avalon pôs ralo abaixo..., caralho... Mas eu sei que é a arte que imita a vida,
e dou total razão ao modo de BB ver a coisa, ele está certo, eu não duvido disto, mas
meu coração..., minha mente, estava ainda perturbada pela escuridão, e um foquino de
luz..., mesmo enganoso, me alegrava...entende isto? Eu não tinha a menor noção de
que Tantra tinha algo a ver com símbolo, achava que era energia sexual, Shakti e esta
babaquice toda. Toda a minha biblioteca esotérica virou lixo depois que li os livros
indicados por BB, eu sabia que os Cakras eram feitos de pétalas e de letras, mas
jamais imaginei que aquilo era a porra do alfabeto..., eu acreditava nas entidades etc,
que na verdade... Letras...elas são as porras das entidades..., está tudo na linguagem,
só isto para mim foi como ser atropelada por um trator D8. Demorei um ano para
entender que quando eu falo e penso, estou lidando com as entidades, as letras, e
você, você aprendeu logo assim, de cara. E te digo mais..., se não tivesse visto você e
outras pessoas, serem transmitidas pelo BB eu não tinha lhe dado ouvidos.

Caralho nós somos seres falantes que usamos a porra do poder do Universo para criar
um mundo interno e externo, com as letras e eu..., ignorava isto, que é o beabá da
coisa!

- Por isto você quase morreu naqueles dias, e depois quis ir lá buscar mais informação, quando
fomos a Sepetiba na casa dele e compramos os livros.

- Eu estou na terapia da vida minha filha, tudo em que eu acreditava caiu por terra. Só
naquela vez..., em que fomos lá no Roberto, ver a ultima palestra do BB é que senti de
fato, já estava despojada, aberta e aí sim senti a tal vibração, uma vez na Yoga
também senti a mesma coisa, mas agora, é algo estranho, latente em mim, então
mudei, antes acreditava nesta coisa de Kundaliní como um evento definitivo, agora,
depois do BB..., acho que é mais uma coisa..., mais intrínseca do ser humano mesmo

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como você diz, e a coisa dos sonhos e do sono. Mas..., meleca de vida, eu tenho que
me livrar de muito lixo sobre o qual, eu..., construí...todas as minhas certezas. Isso é
foda!

Tudo que você sabe, é destruído por um babaca assim... e aí a gente fica fudido solto
na rua, fora da nossa casinha, perdida. O medo voltou, eu achava linda aquela mancha
ali na parede, quando choveu prá caralho e manchou a tinta, hoje eu olho e vejo uma
merda de mancha, to doida pra comprar uma lata de tinta e pintar esta casa!

(choro...)

Fim da primeira parte

Anotações no diário:

Saí desta conversa com a minha mãe com minha alma destroçada, eu era sempre
segura de mim, e agora estava me sentindo mal, muito mal, aprendi mais do que ensinei, nem
meus conhecimentos sobre neurologia ou análise tem algum valor, diante de uma Alma que se
abre para nós, somos atingidos pela mesma dor, não há condução de análise, não há nada, é
claro que o vínculo materno me afeta, mas não se trata mais disto. Preciso dormir!

Dormi como uma pedra, e hoje pela manhã não consegui fazer minha meditação, foi
como se o sono e o sonho continuassem agora ao mesmo tempo, estou dormindo, sonhando e
pensando ao mesmo tempo.

Tudo se misturou. Eu imaginava ajudar minha mãe, e agora vejo claramente o milagre
da vida, eu estava me achando acima, que havia compreendido alguma coisa, que poderia
ajudar, não há mais nenhuma separação, entre a ação e a consciência.

Caminhei pela praia depois da gravação, eu precisava ficar só, eu queria um


companheiro com esta qualidade, que pudesse me deixar só, mesmo estando presente e ali ao
meu lado. Existe esta pessoa?

Havia combinado com minha mãe outra noitada de conversas, mas preciso de mais
tempo. E assim foi, nós não forçamos mais nada, deixei o gravador pronto, guardei
cuidadosamente a fita do rolo na caixinha, após verificar o áudio, e ele está perfeito, lacrei a fita
em um saco sem ar, e escrevi: Metendo um Tempo entre a Vida e a Morte.

Eu esperava gravar o inventário espiritual de uma suicida, mas não, gravei a verdade
humana, que deve ser a mesma, contada de outra forma por outras pessoas. Ela agora pintava

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seus quadros, recebi vários deles aqui nos EUA e fizemos uma exposição em Los Angeles, ela
não é mais a pessoa histriônica da época destas gravações, é suave, doce, mas muito firme
nas suas decisões. Esteve em perigo, realmente a beira do suicídio, mas as novas
perspectivas, a visão do Tantra, trazida pelo BB, lhe deram um sentido interno, dela mesma,
sem isto, seria a loucura. Somente 28 dias depois da primeira gravação surgiu a vibração, a
Vibe ideal, para a segunda gravação.

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Parte II

- Amandinha e as suas anotações e gravações...

- Pois é Mãe... Alguém precisa ter espírito de cientista por aqui.

- Basta o seu pai né? Esta eu não te contei ainda.., acredita que um dia destes a Flávia
foi tirar o lixo do gabinete dele e encontrou uma cobra coral morando lá dentro. Até aí,
tudo bem, pode acontecer, mas o pior, o pior mesmo foi ele depois vir dizer que já tinha
visto a cobra..., e que esqueceu de tirá-la de lá! Pode uma porra destas? Como
daquela vez que de manhãzinha começou a gritar que haviam roubado seu carro,
aquela beleza de Brasília velha, cheia de buracos de ferrugem, e muito tempo depois
lembrou que tinha ido buscar uns coxins com ela lá na rodoviária, no ônibus da 1001, e
voltou pra casa de taxi..., foi o motorista do ônibus que já conhece a peça que é seu
pai, quem viu o caro dele lá e empurraram o lixo para um estacionamento.

- É o carro que depois virou pesqueiro? Foi esta Brasília não foi?

- Sim, levaram ela sem óleo e lavada, sem os estofamentos, com um helicóptero e
jogaram no pesqueiro dos estrangeiros, lá na ponta Negra, já tem uns 30 carros lá, o
vizinho aqui do lado só mergulha lá.

- Mas foi isto que acabou com a pesca de balão, por aqui, senão eles tinham exterminado os
peixes.

- Foi mesmo.

- Outra do meu pai foi..., aquela vez que ele vinha para o Rio..., acho que vinha de São Paulo e
desceu em Vitória, desembarcou e só se deu conta quando viu a cor dos táxis do aeroporto...,
(ha... ha... ha...) meu pai é pior que você!

Mãe..., mudando de saco de plástico pra mala de veludo, um dia destes eu encontrei no centro
do Rio com o Nirav, o Clauss, e ai conversamos, aquele que vinha sempre aqui em casa visitar
o meu pai, e ele disse uma coisa esquisita, que foi o pai que pilotava o avião do Rajneesh. Isto
é verdade?

- Sim, em parte..., ele (Rajneesh) exigia uma chegada triunfante no Oregon, e aí


locaram um avião turbo hélice, e pintaram na lateral..., o seu nome bem grande... óhhh,
...isto é escondido hoje, mas foi assim mesmo, ele precisava fugir da Índia, devia

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milhões de rúpias de impostos...., e lá...., pelas leis hindus ele seria preso. Então ele
voou escondido para os EUA e depois para o Oregon, com um passaporte de turista.
De terninho, gravata e tudo, e com a sua secretária indiana.

Mas ele cismou que precisava chegar ao Oregon, lá no lugar da comuna, em seu avião
particular, e a empresa deles locou um avião bem grande, para uns 20 lugares e então
pintaram na lateral o seu nome. Então como seu pai tinha brevê e tal, foi ele quem
pilotou o dito avião. Teve mais um ou dois voos que ele fez com ele, depois eles não
tinham mais grana, foi aí que compraram o seu relógio de diamantes e outras joias
muito caras.

- E ele não fala nada sobre isto...

- O seu pai vive no presente, sempre foi assim, o passado..., ele não se apega a nada.
Ele é um homem estranho, até para mim..., eu que vivo com ele há anos.

- Vocês já se conheciam bem nesta época?

- Nos víamos sempre nos Kirtans, e no restaurante, mas ele era muito sério, era do
grupo dos alemães, tensos como a porra..., ainda em Poona, e só começamos a nos
conhecer espiritualmente mesmo, anos depois..., lá no Oregon. Eu tinha um
apartamento em Bombaim com um banheirinho, e entupia o maldito ralo, e um dia ele
foi lá consertar para mim, pegou minhas toalhas, colocou num saco, e levou para
lavanderia, deu uma faxina no nosso muquifo, era meu e da Mirna. Quando eu cheguei,
estava tudo limpo, organizado, e aí vi a porta que não trancava a segunda volta da
fechadura, e ela já estava funcionando. Porra! O cara consertou tudo! Até a segunda
volta da fechadura! Me apaixonei!

Disse obrigado pra ele, e ele nem sequer se virou para mim, de costas para mim, e só
fez um balaço com a cabeça, e foi aí que eu me apaixonei duplamente.

Toda a merda que o Bhagwam falava perdeu o sentido, minha periquita começou a
dizer... é ele! É ele! Uns dias depois estávamos em um lugar, o pessoal tentava
produzir verduras por hidropônia num riozinho fedorento nos fundos lá em Poona e
estávamos consertando os canos, e eu tentava em vão desrosquear um flange gigante,
com a chave de grifo, mas eu estava forçando a chave com as mãos perto da boca da
chave, e o seu pai chegou, segurou minhas mãos e as pôs lá no fim do cabo da chave
que era longo, tinha uns 50 centímetros e disse , tenta agora! E então a porra rodou
suavemente, mas o jeito dele fazer isto foi demais. Tem muito homem babaca por ai,
sem a menor paciência para ensinar as coisas, que quer se mostrar..., entende? E ele

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não, ele quer ensinar da forma mais desapegada possível, e aí eu reparei nele, o cara
é multi, é piloto com horas e horas de missão no Vietnã, consertava qualquer coisa, era
chamado de Dr. Pardal pelo Rajneesh. Ele cita o seu pai em alguns livros, sacaneando
ele..., é claro..., Pela sua precisão Alemã, e ele nem é alemão! E um dia eu peguei um
livro com o Rajneesh citando ele, corri para lhe mostrar..., e ele levantou os olhos um
segundo e depois voltou a fazer o que estava fazendo.

Amo este cara!

- Então você voltou para o Brasil?

-Sim eu estava grávida em Poona, e lá não haviam as condições para ter uma criança.

- Papai é demais mesmo, eu acordava para ir a escola, com suco, pãozinho quente, e
sanduíche na lancheira..., e aí ele no caminho dizia, ali ó, um carro X , motor tal, com tantos
HPs, ali ó um helicóptero tal, com o motor construído por um maluco nos EUA, que fez um
carro...não lembro o nome do carro...

- Tucker

- Isto, Tucker..., ele me contou toda a história do carro, cujo motor era tão bom, que foi o
primeiro motor de helicóptero... , com motor de 6 cilindros horizontais de 5,8 litros o mesmo
usado nos helicópteros Bell...lembra quando ele ganhou uma aposta do tio Mário? Lembra
disto?

- Aquilo foi demais, Mário é chato pra caralho e um puta de um canastrão e seu pai fez
picadinho dele..., a história da lanterna preta ou a da Dekavê?

- Não lembro desta da Dekavê.

- Era aniversário da Júlia, lá na casa da estrada das Canoas, e o Mario garganta...,


como sempre, bom..., ele começou a falar de carros..., até que tocou no assunto de
como ele teve que pôr um pano com água fria em cima da bobina da sua Dekavê,
quando subiam a Serra de Teresópolis. E seu pai disse..., de qual bobina? O Mario
caiu na gargalhada e disse: Pô Stern, que porra é esta, de..., “bobinas”? Nenhum carro
tem mais de uma bobina! E seu Pai que normalmente ignoraria qualquer um, mas
estava de saco cheio do Mário, disse: Dekavê tem 3 bobinas..., o Mario caiu na
gargalhada, chamou todo mundo da piscina e ria como um hiena... e seu pai..., na
maior calma..., e foi aí que ele disse: Aposto meu carro contra o seu que a Dekavê
tinha 3 bobinas..., ficou aquele silêncio no churrasco..., a sua tia Júlia conhecendo o

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marido dela, começou com o deixa disso, mas aí o Mário, já com a cara cheia de Bala,
se enfureceu, chamou todo mundo como prova da aposta, e deu mais uma chance ao
seu pai desistir da aposta. Seu Pai esticou a mão, e o Mário, um tolo, foi lá e apostou.
E ainda sacaneou seu pai dizendo... Stern..., hoje você vai voltar pra Macaé de ônibus!

Que vergonha Amandinha,..., que vergonha eu passei nesse dia. Seu pai me fez trazer
o nosso carro e ele trouxe o Opala SS novinho do Mário. A tia Júlia não acreditava que
seu Pai faria isto, mas fez, ficou com o carro do Mario uns seis meses, depois devolveu
para a Júlia.

- Lembro disso, lembro disso..., O tio Mário nunca mais veio aqui em casa.

- Amandinha, o Mário virou a piada lá no Instituto do Café, toda a diretoria tava lá no


churrasco e ele quis aparecer. Me apavorou ver seu Pai na maior calma pedindo as
chaves do carro do Mário, baixou o espírito de combate lá do Vietnã nele, o Mário
amarelo querendo bancar o sujeito honesto e tal..., e sua tia tendo um troço lá dentro,
os amigos do Mario elogiando sua honradez etecétera e tal, mas ele por dentro, tava
muito puto. Seu pai colocou as chaves do Opalão no bolso e continuou no churrasco
como se nada tivesse acontecido, até aquela altura todos achavam que ele ia devolver
as chaves do carro depois, no final da festa. Minha irmã Júlia coitada chegou a dizer
pra ele não levar o Mario muito a sério..., que tava bêbado e tal..., mas seu pai foi
implacável. Fiquei uma semana sem falar com ele, e ele nada. Na mesma..., como se
nada tivesse acontecido. Deve ter sido a porra do Vietnã, ele se desliga, liga o foda-se
e pisa até o VDO.

Eu não conheço o seu pai..., esta é a verdade, eu juro por Deus. Não tenho medo dele,
não tenho..., medo não...., mas ele tem um lado sombrio...não é sombrio, é...mais
como um vazio, animal..sei lá...frio, sim é isto, ele é frio. Vira uma chavinha lá dentro e
agora é outra coisa..., também o que ele já viu na vida e já passou...

- Minhas amigas de escola tinham medo dele, vinham aqui e tal, mas tinham medo dele,
instinto de criança é forte. Acho que boa parte de minha personalidade pragmática, é dele,
influência dele. Este complexo de Electra vem disto, ele é muito forte e doce ao mesmo tempo.
Eu falei para ele há uns dias atrás o que você me disse sobre ter tempo entre a vida e a morte.
Ele me olhou, tirou os óculos, e disse que isto é um luxo, que ele não teve este luxo, e não
pode ter mais. E aí eu perguntei, por quê?

Ele pegou uma caneta da mesa, colocou na minha mão, e disse que agora a caneta estava na
minha mão, eu boiei legal na situação..., achei que havia entendido..., mas não sabia se tinha
entendido o que ele quis dizer. E aí perguntei se era o agora o que interessava, estas coisas...,

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e ele disse que agora é depois...não... ele disse... Que agora já é depois. Foi isto. Agora já é
depois. E aí ele me olhando perguntou onde estava a caneta? E quando olhei para as minhas
mãos, não havia caneta alguma nelas..., eu juro mãe...eu fiquei ali em pé sem entender nada.
E lhe beijei dizendo que ele era um ladrão de tempo, ele riu e disse, esta é uma ótima ideia,
mas que ele..., ele vivia no tempo, no único tempo que existe. E que nós..., devem ser eu e a
senhora..., que nós temos o luxo de criar e viver em outros tempos.

- Amandinha sobre a lanterna preta, você deve estar se confundindo, com UZI, pois a
história que aconteceu com ele foi com uma metralhadora UZI, lá no Oregon.

- Porra mãe..., eu contei pro Carlinhos que era um AR15..., ah, ah, ah, ah...não sei desta da
lanterna preta!

- Viu? Você falou Porra..., falou palavrão..., e quem sai aos seus não degenera ah, ah,
ah..., Esta história da UZI...ela foi a gota d’água para mim e para o seu pai, com a
comuna lá no Oregon. Já estávamos insatisfeitos com o rumo das coisas, pessoas lá
passando fome, doentes..., E o grupo lá da Sheela só torrando milhares de dólares em
joias, comidas, carros, e o caralho a quatro. A Sheela Pastel Cambalacho era como
nós chamávamos a vadia.

- Mas o Guruzão sabia de tudo, não?

- De início nós imaginávamos que ele também era uma vítima do grupo, mas depois
vimos como ele conduzia a coisa como um ditadorzinho de merda..., eu vi, porra..., eu
vi ele dizendo que: se mataria ..., escuta bem amandinha, ele disse que se mataria se
não fosse do jeito que ele havia ordenado..., ele usava isto o tempo todo, para mandar
suas ordens, e a coisa foi piorando, ele foi se degradando, e ele ficou paranoico
mesmo, desconfiava de todo mundo, achava que qualquer um que discordava dele era
um agente da CIA, porra...a CIA estava cagando e andando prá ele, sabe com era? Ele
criava estas ficções para manter a indignação das pessoas em alta..., eu sempre achei
que jamais diria isto, mas porra! Ele era inteligente e aprendeu a manipular as pessoas,
foi muito doído ver aquela figura que era um Deus para nós, muito puto, dizendo..., no
seu inglês fajuto:

If you have not done this, I'll kill myself..., mas isto foi dito, foi dito com uma raiva e de
uma forma que nunca tinha visto. E o grupinho que estava junto a ele, fingia que
anotava tudo num bloquinho, que anotava o que ele havia pedido, e aí em um segundo
depois ele entra no Hall com uma cara de Deus realizado e o povo o saudava como a
um Hitler de barba e depois saia de lá do salão, puto de novo. Ali acabou a minha fé e
confiança naquele homem, juro por Deus. Eu vejo hoje como um aprendizado, sabe,

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um processo de Krisnamurtização feito a fórceps, as minhas pernas ficaram bambas
naquela hora lá..., e corri para o nosso trailer para chorar, a coitada da Mirna foi atrás
de mim, e veio com a conversa de que era preciso ser assim, para transformar o
mundo e blá, blá, blá.

Acredita que ele cismou e mandou comprarem um escudo de Plexiglass para porem na
frente dele na hora do Darshan! Ele cismou que um Sanyasin ia assassiná-lo, ele se
achava um Jesus pronto para ser traído por um Judas.

Eu já te contei isso!

- Sim, mas sempre tem algo que você vai acrescentando.

- No outro dia que eu vi, o nosso grupinho foi para a Gleba Proibida, lá no fundo, atrás
da comuna, para o meio do deserto, e lá nós meditávamos em paz, somente lá nós
tínhamos a liberdade de conversar francamente, sem as escutas e as delações, pois lá
era pior que conviver com a KGB. O Caldel que foi o primeiro a denunciar a farsa toda,
ele dizia, que o deserto não tem grampo. E lá eu ouvia os horrores do dia. Naquele dia
eu estava triste, por mais informações que tivesse, mas até então eu..., eu mesma...,
eu mesma não tinha visto nada, entende?

(enxuga as lágrimas)

- Sim.

- Quando vi de fato, eu desmontei. Esta proximidade com seu pai..., e você..., foi, foram
vocês que me salvaram, senão eu juro que teria me suicidado como a queridinha do
Bhagwan fez depois, o O’Nell e você me salvaram, e começamos a fazer planos para
as nossas vidas. Eu já era discriminada lá por ter filho, por ter você, mas eu mesma
não admitia isto. O deserto, no fim da tarde é mágico, as coisas se assentam. E o
Bhagwam era tão inteligente..., que..., que depois, passou a ganhar dinheiro com os
casamentos arranjados, dentro da comuna, primeiro ele era contra casamentos e filhos
e depois mudou, dizem que ele teve uma empresa para isto, não sei, não tenho provas,
mas toda aquela utopia só poderia unir as pessoas, não tenha dúvida disto, os
casaizinhos se formavam por todos os cantos, as pessoas buscavam se salvar daquele
inferno como elas podiam. Todo o processo de ser indivíduo, foi por água abaixo, era
só um discurso dele, ele não havia experimentado porra nenhuma diferente do que
qualquer pessoa havia passado na vida comum. Sacou?

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E aí no Darshan uns dias depois..., eu vi, lá na frente..., apenas um homem comum,
suas palavras não mais me enfeitiçavam. Primeiro se abateu sobre mim a paranoia de
achar que ele intencionalmente..., exatamente isto, que ele estava me colocando à
prova, estas coisas..., era um surto egocêntrico que fazia as pessoas serem exploradas
e mal tratadas, e mesmo assim continuarem ali. E os terapeutas, aqueles filhos da
puta, já batiam nisso o tempo todo, como lavagem cerebral, que isto era o seu Ego que
estava sendo dissolvido pela energia do Bhagwan....blá blá blá.

Puta..., puta que o pariu! Aquilo era uma máquina de fabricar malucos, são estes os
coitados dos Sanyasins do Rajneesh, pessoas manipuladas para serem exploradas.
Hoje eu vejo assim..., pois vendo você e o BB, e a coisa do fenômeno, ele existe, mas
hoje eu acho que o fenômeno precisa ser visto de uma forma..., de uma forma limpa, e
digo mais, ser pessoal como o BB e o cara lá da Austrália ensinam.

- E sobre a UZI, conta de novo sobre a UZI!

- Pois é, foi o seu pai, sabe como ele é..., o mesmo insondável de sempre e tal. Mas
um dia eu vi isto mudar, foi quando nos deparamos com vários Sanyasins de roupa
laranja com seus malas e tal, perto do portão portando metralhadoras UZI. Não sei se
foi trauma do Vietnã que voltou nele naquela hora, mas o seu pai rodou a baiana, como
dizem lá no norte. Aquele homem pacifico, gentil... , quando viu os caras com
metralhadoras UZI, primeiro ele apurou a vista como se não acreditasse muito no que
via..., parou e foi em direção ao primeiro do grupo, que era um magrela narigudo e com
óculos fundo de garrafa, se achando o rei da cocada..., porra..., o seu pai lhe segurou
no braço, pelos dedos da mão e o sujeito teve que se agachar, como aquela luta, a
mão virada para trás e num piscar...a alça da Uzi deslizou pelo braço, seu pai
empurrou o braço do magrela dando meia volta ele teve que seguir o movimento, e se
estatelou de cara no chão, e seu pai já estava com a arma nas mãos, os outros
correram em direção a ele.

E ele ali em pé..., olhando a arma, puxou a trava, tirou o carregador e viu a munição
real no carregador. O magrela gritava histericamente no chão empoeirado. E seu pai
colocou a arma no chão com o cano sobre uma pedra..., e pááá..., pisou no centro da
arma com toda a sua força, os outros o empurravam e tal. Uma puta de uma discussão
em inglês e em alemão entre eles, e até ouvi um Seu Viado em português. A poeira
subiu, e seu pai saiu de lá andando com aquele seu passo rápido, de metro em metro.
Nem falou comigo, rumou direto lá para o cantão, para o lugar das oficinas.

Os bobões juntaram o magrela, juntaram a UZI e começaram a catar os projeteis


espalhados no chão. Assopraram e limparam a arma tentando puxar o pino que

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engatilha..., e nada..., a arma não prestava mais. Aí se estabeleceu uma baita de uma
confusão com o seu pai.

A tropa se reuniu novamente, e veio um mais exaltado, chegou por trás e deu um
pescoção no magrela e depois rumaram para o canto onde estavam os chefes da
máfia.

Eu fiquei ali em pé. Completamente imóvel e sozinha vendo aquilo tudo, não conseguia
me mover e uns idiotas do outro lado da cerca, os fudidos, que queriam entrar na
comuna e não conseguiam, porra eles gritavam como loucos.

Ao longe vi dezenas de carros abandonados, eram os malucos que vinham para cá a


abandonavam seus carros, os carros baratos ficavam ali mesmo e os demais a grupo
vendia ou os usava.

Uma felicidade me invadiu, eu via a contradição, os loucos querendo entrar no


hospício, e os loucos do lado de cá armados com Uzis, e me veio um pensamento:

Quem está preso? Afinal..., quem está preso?

Todo o meu sonho de viver em uma comunidade, ali se desintegrou como manteiga
quente..., no sol do deserto! A...C...A...B...O...U !

Eu me vi..., dentro de uma roupa ridícula,..., com um mala com a fotinha do Rajneesh,
fiquei ali olhando a fotinha, por uns 20 minutos, as minhas lágrimas escorriam pelo meu
rosto, e pingavam no chão seco do deserto do Oregon, quanto mais eu chorava, mais
sentia vontade de chorar, se uma dia alguém ouvir estas gravações pode me achar
ridícula, ou uma louca, mas nem a morte de alguém querido, pode lhe tirar os seus
sonhos. E os meus, os meus sonhos..., tinham sido destruídos, toda minha energia
tinha sido habilmente explorada, eu voltava ao mundo do capital, aquele marxismo
hindu...., era uma farsa, uma farsa que tinha me custado a metade de minha vida.
Nunca mais teria um Guru na minha vida, por isto este canalha é o maior guru do
mundo, entende a minha ironia?

Minha cabeça tentava significar tudo, e hoje tem uns doidos que imaginam que tudo
era de caso pensado..., para aniquilar nosso ego..., porra nenhuma..., não era não,
esta..., a nova versão..., Osho..., Eu vivi tudo isto!

Amandinha, eu tinha ralado muito para juntar dinheiro e ir atrás do meu sonho e ali
vendo meus pés encardidos, unhas sujas, e aquela roupa desbotada, e eu com um

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colarzinho com uma fotinha num escapulário de plástico, primeiro eu chorei e você me
conhece que logo, logo eu faria uma piada sobre isto.

Assim que recobrei minha consciência, andei até o lugar das oficinas das crianças e lá
lhe peguei no colo, e fui para o cantão esquerdo, pois seu pai viva lá. Um monte de
sucata, e lá estava ele sentado em sacos de fertilizante, bebendo numa garrafinha de
uísque, daquelas de bolso.

Normal como ele é hoje, ele me olha e diz? Vamos embora deste hospício? E ali
mesmo combinamos de no dia seguinte..., sairmos, e foi assim.

Andamos com um carro velho por uns 25 Kilometros, seu pai parou, disse que
precisava pegar uma coisa no deserto, ele desceu do carro levando as chaves e depois
desceu um declive ao lado da estrada de terra seca, desceu mais um declive, e eu
desci do carro correndo com você no colo e fui atrás dele, seguindo as suas pegadas,
até uma depressão no terreno,... Ele se virou, me viu e continuou, foi descendo até
uma clareira pequena, com areia avermelhada, começou a passar a ponta dos pés no
chão, até topar em algo e ali desenterrou uma pá destas dobráveis, destas usadas
pelas forças armadas, depois seguiu até uma rocha que pesava uns 50 kilos, e a
empurrou fazendo uma alavanca com a pá, ali, embaixo de onde estava a pedra ele
cavou, não muito...., e tirou um saco, com um plástico preto. Aproximei-me e ele jogou
a pá para bem longe.

Voltamos para o carro, eu carregava o saco amarrado com arame e ele pegou você no
colo e ele me disse: aí está o Nosso Seguro!

Eram 250 mil dólares! Viajamos até Warm Springs naquele lixo de carro, uns dois dias,
três eu acho...,ficamos na casa de um amigo de seu pai em um rancho lindo, eles eram
Batistas, nossa..., comida de verdade, gente de verdade..., o nome dele era Don. Uns
dias depois fomos para Portland.

Uma semana depois estávamos no Rio.

Viemos para Macaé, onde ele tinha amigos já implantando um centro de apoio e voos
para a Petrobrás, e..., foi aí que compramos esta casa.

Mas tem uma coisa que nunca te contei, naquele dia da confusão da UZI...

- De onde ele tirou este dinheiro?

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- Ele nunca me disse e eu nunca perguntei, já elaborei várias teorias. Mas ele viajava
para fora da comunidade às vezes, para comprar equipamentos, pode ter sido em uma
destas viagens que ele enterrou o dinheiro lá. O que eu nunca te contei foi que...,
acredita que eu enterrei o meu mala no mesmo buraco, lá? Pois é.

Não imagina com isto me fez bem, foi simbólico para mim, troquei o meu passado, pelo
meu futuro, era como se tivesse tirado uma tonelada do meu peito, na hora lembrei do
doce..., do carinhoso mestre..., lá de Ponna, pobre, humilde, desapegado, e senti um
amor, mas que... , se transformou naquilo lá embaixo de uma pedra no meio do
deserto.

There's a lady who's sure all that glitters is gold


And she's buying a stairway to heaven
When she gets there she knows if the stores are all closed
With a word she can get what she came for

(Há uma senhora que tem certeza que tudo o que brilha é ouro
E ela está comprando uma escadaria para o paraíso
Quando ela chega lá descobre que se as lojas estiverem todas fechadas
Com apenas uma palavra ela consegue o que veio buscar)

And she's buying a stairway to heaven!

(E ela está comprando uma escadaria para o paraíso)

There's a sign on the wall, but she wants to be sure…

(Há um sinal na parede mas ela quer ter certeza)

Oh, it makes me wonder


Oh, it makes me wonder

(isto me faz pensar..oh …)

Acredita que quando o seu pai arrancou naquele carro lá no meio do deserto... o rádio
poeirento do carro tocava Stairway To Haven....?

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Que saudade de ouvir a guitarra de Jimmy Page, a voz rouca de Robert Plant, e bateria
seca de John Bonham e o teclado de John Paul Jones!...Chega de xurumelas em
sânscrito! Porra! Ah, ah, ah, ah..., meus Deus..., que saudade do mundo de verdade!

Aquela música naquele momento foi coisa de Deus, uma benção pelo melhor que o
homem fez até hoje sobre transcendência espiritual e o cacete a quatro.... o Rock!
Minha Alma repousa no Rock’in roll.

- Mãe, que lindo, estou emocionada!

- Pois é e vocês falam assim..., estou emocionada e blá, blá blá..., mas nós não, nós
não falávamos, nós sentíamos..., e se alguém falasse era brocada na hora.

Pode publicar esta porra toda aí, porque é tudo verdade, amandinha..., eu vou lhe dizer
uma coisa, quero que preste bem atenção.

- Sim, mamãe, estou ouvindo.

- Não foi uma..., nem duas ou três vezes, que você..., você mesma..., insinuou coisas
sobre meu Guru, o Guruzão, como você costuma dizer, e eu não podia dizer nada...,
sacou fantoche? Eu tinha que ficar caladinha..., então não faça mais isto, levei tempo...,
muito tempo..., para me recuperar e tal, e aí eu ficava na minha, remoendo minhas
memórias, tentando entender certas coisas, foi duro, foi difícil voltar para mim mesma e
para minhas lembranças e valores, e ao mesmo tempo ter de defender as suposições
de alguém sobre o dito cujo, eu poderia concordar e tal, mas não foi assim, eu poderia
dizer que ele foi um filho da puta de um indiano que queria comer uma ocidentais...,
mas houve um antes, quando ele mesmo acreditou nele, sacou isto?

- Sim, entendo.

- Depois se fudeu legal..., se perdeu na fantasia dele mesmo, e levou todo mundo
junto, como Buda, que teve quatro discípulos, apenas quatro, e depois vieram os
sacanas e mudaram a porra toda, a mesma história de Jesus, que foi traído por
Judas,..., o que quero dizer com isto?

- Não sei ainda, não sei. O que?

- Que esta passagem, se dá..., pela perda, e não pelo ganho, sacou isto? Que somos
perversos mesmo. Alguém precisa pagar a porra da conta. E nós Sanyasins
merecemos, pois pagamos a conta, tivemos aquilo que nós merecemos, ele mesmo se

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tornou a expressão da nossa loucura, ele não tinha nada pra ensinar, era um
casamento perfeito, nós fingíamos que estávamos aprendendo e recebendo sua
energia e ele fingia que recebia nossa energia e que ensinava. Qualquer universitário
de barba pode fazer o que ele fazia, mas..., e aí sim vem a coisa..., é preciso haver
este acordo, este pacto, e nem ele é culpado e nem nós somos, hoje, eu vejo que foi
uma furada e tal..., mas na época as pessoas precisavam disto. Ele aprendeu a nos
explorar..., pelas nossas fraquezas e faltas..., foi quando ele se tornou um homem
comum para mim, eu vi que estava pronta para uma busca de verdade, madura. O BB
fala para pessoas prontas, porque ele está pronto, sacou? Mas não vamos demonizar
os picaretas do caminho, pois é com eles, que nós..., aprendemos..., e sempre de uma
forma dolorosa , pela perda...., por buscar...., fora, em vez de em nós mesmos.

Então quando você nasceu, de certa forma..., isto não estava resolvido em mim.
Ilusão? Não sei se pode ser dito assim, se o seu professor de primário diz que átomo é
uma bolinha tão pequena, tão pequena que não dá pra ver..., então não podemos..., ou
melhor, não devemos..., não devemos criticá-lo.

- Eu..., imaginava que suas ausências eram sequelas, destes tempos e não posso..., que você
não podia, desvincular dele, ninguém sai ileso de um troço destes!

- Pode ser, pode ser, mas é comigo agora, sacou? Não adianta mais bombardear o
guruzão, claro que tem muita gente estúpida, a maioria é assim, e o que vamos fazer?
Eu poderia estar dando a xota pra ganhar dinheiro, ou ter casado com um filho da puta
que me fudia todo dia, e depois babava na cama..., mas não, eu fui buscar os meus
sonhos...

- Pesadelo, que virou pesadelo.

- Mas..., é..., virou pesadelo, mas eu tentei..., eu acreditei naquele viadinho, eu sei
disto, e to me lixando pra ele, hoje, como disse o livro do alemão, O Deus que não deu
certo! Me fudi, o Deus revelou um demônio em nós..., e nele. Dejavú de cú é pica!
Dejavú de cú é pica..., minha filha!

Hoje ...., hoje mesmo, nós temos condições de experimentar a coisa, diretamente, e eu
fique cismada com isto, e lendo lá o Sir fulano..., caralho, isto foi em 1910!, quer dizer
que a porra do Tantra, já existia em 1910, tudo certinho.

- Mãe vou desligar o gravador.

Anotei no meu diário:

50
Não havia visto, mas o dia estava nascendo, os primeiros passarinhos já cantavam,
verifiquei as gravações,e estavam perfeitas. Lacrei tudo em um segundo pacote. E saí pela
porta da frente da Rua, a cerca era baixa de madeiras branca, sentei no meio fio, e fiquei ali a
pensar, ouço o barulho de água e era meu pai já acordado ligando seu sistema de irrigação
das roseiras, ele vai até a rua para, e com as mãos no quadris diz:

Vou fazer um café daqueles para a gente!

Fico olhando seus passos e imaginado meu pai, aquele senhor ali, pilotando o avião do
Osho, trocando tapas com sanyasis..., resolvo não contar isto para ninguém, ninguém
acreditaria, somente dois anos mais tarde, no Chile onde fomos encontrar seu ex colegas do
Oregon, que ouvi mais histórias. Muitos vendiam drogas lá dentro, muitos cobravam para as
pessoas sem posses entrarem na comuna, muitos agenciavam abortos, vendiam informações.
Sim, aquilo lá era realmente um inferno.

51
Kundaliní

O ano de 2005 chegou, e eu era uma outra pessoa, transformada pela luz, meu
pai e a minha mãe continuavam firmes, uma aproximação de meu namorado com o
pessoal da Siemens trouxe-me a possibilidade de pesquisar laudos de tomografia, em
conjunto com o pessoal que fabricava aquelas máquinas, eu criei um programa
desenvolvido pela Siemens para isto. E minha vida mudou-se para Santa Clara, nos
EUA. O problema das máquinas era a interpretação que se dava às imagens, é um
trabalho de equipe, mas nem isto me anima tanto como antes.

Comprei uma boa casa em Mountain View, na Califórnia, graças ao dinheiro


que meu pai e minha mãe me deram, eles viviam fartamente com o que tinham, e não
tinham desejo de possuir mais e mais.

Eles já viviam aqui pelo menos 6 meses do ano, e meu pai fez aqui na minha
casa uma claraboia de Mayer, da Whittlesey and Glass, comum nos palácios Indianos
de Deli. A luz solar entra em todos os aposentos da casa com claridade e com
sombras perfeitas, coisa que nenhum projeto de iluminação artificial poderia fazer.

Minha casa tinha Alma, fiz um quarto de meditação, logo apelidado pela minha
mãe de “Chiqueirinho de Deus”, e com a internet eu analiso laudos médicos do mundo
todo, e também posso acompanhar as intermináveis e loucas discussões sobre Tantra
no mundo virtual. Participo de alguns fóruns com o BB, leio suas publicações, e vejo
uma evolução conceitual nele, em vez de se abrir, ele cada vez mais se fixa, nos
conceitos chaves do Tantra.

Minha experiência se manteve como desde o início do processo, pouco aprendi


sobre os motivos de quando a força se desloca os músculos estriados se contraem,
não existe nada sobre isto em nenhum tratado de medicina. Tetania dizem uns, mas
não é verdade. Contrações involuntárias que ajustam seu corpo a um processo
desconhecido, não podem ser chamados simplesmente de tetania. Tetania é
produzida pela hipocalcemia, tomei cálcio e magnésio, e nada mudou, as contrações
continuam. Então surge uma teoria que é absurda, mas plausível.

As membranas Axonais dos neurônios se despolarizam!

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Esta é minha tese, como isto é feito, eu não sei explicar, mas é isto. Se
tomarmos um axônio, uma célula nervosa como a representação, e ela se
despolarizar, e isto significa perder a sua função, resulta na contração involuntária do
tecido, e tal reação começa pela base da coluna, na glândula de Luschka, uma
glândula na ponta do cóccix, que se espalha pelo plexo pélvico e depois ocorre no
abdômen, no plexo solar e finalmente no tórax, se espalhando pelo pescoço e cabeça.
Nenhum tratado de anatomia ou de endocrinologia revela o que esta glândula produz.
Será o Soma?

Mas porque no sono isto não ocorre? Porque no sono os músculos não se
contraem?

O acontecimento se dá como se as células nervosas fossem sendo desligadas


de baixo para cima, a partir do Cóccix. Outras pessoas passaram pela mesma
experiência, eu leio relatos e até converso com algumas delas, mas o ruído da crença,
não permite um diálogo mais proveitoso. As pessoas são iniciadas pelo BB, e sentem
a mesma coisa que eu, mas nada pode ser explicado de uma forma mais definitiva.

Então vou lhes brindar com o que existe até hoje sobre o assunto, quase tudo
abaixo eu retirei das intervenções feitas pelo BB no assunto, não existe nenhuma
documentação sobre Kundaliní, só breves especulações. Em uma determinada época
eu imaginava que George Feuerstein fosse uma boa fonte, mas ele repete o mesmo,
que dizem as especulações, nada mais.

Texto cedido pelo BB especialmente para este livro:

“Desde que conheci o conceito de Kundaliní, vi aí algo novo, e lá se vão 40


anos desde a minha primeira leitura do tema. Após anos de estudo, prática, e a
leitura, desde as simples abordagens de reproduzir o que outros disseram,
desde as lições das sociedades esotéricas, moda nos anos 60 e 70, até o
encontro com mestres qualificados, que mesmo sem nenhum motivo ou
intenção de dar ênfase a este ou aquele sistema, eles falaram o que eles
pensaram sobre o assunto, assim irei citar aqui todas as possíveis versões do
tema Kundaliní na esperança de conduzi-los a uma viagem através do tempo e
dos pontos de vista que surgiram dentro das mais variadas escolas hindus e
ocidentais.

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Todas as escolas adotaram a ideia, desde as seitas secretas da igreja católica,
os esotéricos, os cabalistas, yogues, tântricos, a também os adeptos do
Shaktismo. Estes últimos causaram o maior estrago, pois vincularam Kundaliní
a Shakti, como sendo a Mãe divina, e assim houve uma mistura entre ritos
agâmicos, que eram cultos do Shaktismo, cultos para a deusa mãe, com o
conceito de Kundaliní. Temos o esforço inútil de Sir John Woodroffe no livro
Princípios do Tantra, em que ele, em 900 páginas, tenta por todos os meios
vincular a Shakti a Kundaliní, validando assim os ritos de adoração ao processo
de Kundaliní.

Nenhum tema espiritual é tão misterioso e desconhecido como Kundaliní, para


os mais afeitos ao tema eles irão diretamente ao final buscando lá a
significação tão esperada sobre Kundaliní, e os leitores comuns formarão seu
juízo a partir da leitura, onde tento apresentar historicamente as muitas versões
sobre Kundaliní.

Kundaliní

História e contextos

Até o ano de 1913 não se tinha notícias e nem ideia sobre Kundaliní, o seu
conhecimento estava restrito a um grupo muito reduzido de tântricos na região
de Bengala, Índia, e no afã de provar uma existência anterior, vários autores
tentaram em vão vincular passagens de escrituras onde se lê Shakti, Serpente,
Fogo, Chama, Poder etc. A uma alusão de que tais escrituras eram as
primeiras e, portanto, elas já conheciam o tema Kundaliní. O mundo ocidental e
inclusive a cultura da própria Índia veio conhecer Kundaliní pela leitura do
primeiro livro sobre o assunto editado em inglês no ano de 1918, como O poder
Serpentino, de autoria de Sir John Woodroffe, que escreveu com o pseudônimo
de Arthur Avalon. Consta que Woodroffe havia publicado em 1913, o texto em
questão no meio de outros textos e somente em 1918 ele o publica como
SatCakraNirupana.

54
Até então poucas pessoas haviam lido o manuscrito de família, escrito pelo
Tântrico chamado de Swami Púrnánanda. SatCakraNirupana não é um texto,
ele é o sexto capítulo de um texto maior chamado de SríTattvaCintámaní.
Comentado por Shankara e por Visvanátha por volta do século XVI, e ainda
segundo alguns biógrafos o SatCakraNirupana, foi escrito em 1577.

Cumpre dizer que nesta obra é onde surge tanto o conceito de Kundaliní
quanto o de Cakras, bem como o das Nadís.

Parentes de Púrnánanda forneceram o texto. Púrnánanda foi um Brahmane da


província de Kasyapa Gotra, os seus antepassados eram muito pobres e
migraram para a região de Bengala. Na família nasceram dois tântricos,
Púrnánanda e Sarvánanda, os descendentes do último moram ainda em Mehar
e os descendentes de Púrnánanda em Mymensingh. Antes da Diksha, da sua
iniciação no Tantra, Púrnánanda era chamado de Jagadánada, e era dito que
ele copiou um manuscrito do sábio Visnupuránam, isto foi no ano de 1528. O
manuscrito original está em poder de Hari Kishore Bhattácárya.

Jagadanada tomou a Diksha de Brahmánanda, e adotou o nome espiritual de


Swami Púrnánada emigrando para a província de Assam, se fixando no
Ahsram de Vasisthasrama, próximo a cidade de Gauhati, em Assam. Segundo
registros, em 1577 ele compilou o SatCakraNirupana, dentro do
SríTattvaCintámi.

Antes de se citar Kundaliní e os Cakras neste texto, não havia nenhuma


referência a estes, todas as escrituras yoguinas e tântricas, faziam alusão aos
Bhúta Súddhi, que provinha da ideia de purificar os elementos do corpo através
de dietas e exercícios que produzissem uma elevação do ar, Vayu, por um tubo
de ar, por onde passa um raio etc. Por toda literatura antiga da Índia se vê
passagens assim, como também na literatura Sufi e também na literatura dos
Índios africanos e americanos

Até 1918 o dicionário Sânscrito citava os Cakras como: Depressões circulares


no corpo, para fins da quiromancia. Sushumna era citado como sendo uma
força; vejam que é no SatCakraNirupana que se define Sushumna como a
matéria dentro do canal vertebral e define Citriní Nadi como a membrana do

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Epêndimo e Brahma Nadi como o canal do Epêndimo. A Notocorda, e o tubo
neural da embriologia somente foram descobertos em 1890. E temos aqui um
trabalho explicando estas estruturas em 1577.

Pela primeira vez na humanidade temos no SatCakraNirupana um trabalho que


vincula a estrutura nervosa com o som, e mais, com todo o alfabeto humano
que se constrói através dos Cakras em um alfabeto, e que vincula o
desenvolvimento do pensamento aos sons, como energias, como imagens,
com os arquétipos com todos os detalhes. A Psique assim se constrói pela
linguagem. O primeiro trabalho apresentando por Jung foi sobre o
SatCakraNirupana.

Também é inédito em toda a história humana a vinculação do conceito de


Kundaliní com a origem do Universo como um som, vinculado a uma estrutura
no corpo humano. Talvez a riqueza do texto tenha produzido tantos factoides, o
mais famoso é representar Kundaliní como uma serpente, o que não existe no
texto original, no verso 10 e 11 diz que “ela está enrolada em três voltas e
meia, como a serpente está enrolada em Shiva” a simples exemplificação de
que Kundaliní está enrolada sobre si, como a serpente está enrolada em Shiva,
levou a todos supor que ela seja uma serpente ígnea, e vou a titulo de
ilustração, citar os autores que tentaram conceituar Kundaliní, levando o
conceito para outras interpretações, como força ou como poder ou como
divindade, e me parece, e fica evidente o total desconhecimento dos autores no
século XX e XXI do texto original, quais serão os motivos de tais distorções?

A Escuridão

[Segundo documentos indianos antigos, bem como autores contemporâneos, a


kundalini é uma forma de bioenergia latente no corpo humano, concentrada na
base da coluna vertebral, na região dos órgãos genitais, transmissores de vida
e força; Por meio de técnicas esta «energia da serpente» pode ser despertada
e guiada ao longo da coluna vertebral através de vários chakras até ao cérebro
(White, 1977).]

Na citação acima, o autor como um adepto da meditação transcendental


vincula Kundaliní a algum tipo de energia do corpo humano.

56
-//-
[A kundaliní não é um mito ou uma ilusão. Não é uma mera hipótese ou uma
sugestão hipnótica. A kundaliní é uma substância biológica que existe no
organismo. Ela não é psicológica, filosófica, ou transcendental. O seu despertar
gera impulsos elétricos através de todo o corpo, e estes impulsos podem ser
detectados por aparelhos científicos modernos; O acordar dos chakras é um
importante evento na evolução humana. Não deve ser confundido com
misticismo ou ocultismo, porque com o acordar dos chakras há mudanças na
consciência e na mente. Estas mudanças têm significativa relevância e relação
com a vida do dia-a-dia. Com o despertar da Kundaliní não apenas visões
transcendentes têm lugar. Ocorre também o desenvolvimento da inteligência
criativa e o acordar de faculdades supramentais. A Kundaliní é a energia
criativa; é a energia da auto-expressão. Não só a mente muda, bem como as
nossas prioridades e afetos. Porém, esta transformação pouco tem a ver com a
vida moral, religiosa ou ética de cada um. Tem mais a ver com a qualidade das
nossas experiências e percepções. Tal como na reprodução, uma nova vida é
criada. Ocorre como uma metamorfose. Há até a possibilidade de todo o corpo
físico ser reestruturado; Por exemplo, quando ela acabou de despertar e somos
incapazes de dirigi-la, é chamada Kali. Kali, a primeira manifestação da
Kundaliní é um poder terrível; é o poder inconsciente do Homem. Kali subjuga
completamente o indivíduo, o que é representado pela sua dança sobre o
Senhor Shiva. Isto acontece às vezes devido a instabilidade mental; neste
caso, as pessoas ao tomarem contacto com o seu inconsciente vêem
inauspiciosos e ferozes elementos – fantasmas, monstros, etc.; Quando Kali
desperta desloca-se para cima para encontrar a manifestação ulterior,
tornando-se Durga, a supraconsciente, que outorga glória e beatitude. Durga é
a removedora das circunstâncias nefastas da vida e a dadora do poder e da
paz que se libertam do múládhára chakra. Em suma, quando já somos capazes
de dirigir a kundaliní e usá-la para propósitos benéficos, e nos tornamos
poderosos à sua custa, é chamada Durga (Satyananda, 1984).]

Satyananda usa os fundamentos do SatCakraNirupana, mas os leva a


uma desastrada adaptação ao Shaktismo, ora a Kundaliní é uma
energia que produz impulsos elétricos, ora ela é uma divindade que
manifesta possessões espirituais, e distúrbios psicológicos, e em outros
momentos ela liberta, há também a tentativa de explicar Kundaliní como

57
o poder do inconsciente e até uma reestruturação do corpo físico. O
autor como norma dos pensadores esotéricos, vincula o homem a
Natureza, mistura e confunde o poder criador e para isto distorce ao
interpretar as figuras mitológicas hindus, lhes dando características de
semi Deuses que agem pelo homem. Os valores humanos nada tem a
ver com os valores naturais, então Kundaliní nesta análise acaba como
um poder a ser dirigido, como a vontade, na sacralização do humano. O
autor utiliza nomenclatura ocidental, inclusive escreve errado os termos
de sua própria língua, denunciando que suas fontes foram os textos
esotéricos, usa conceitos como inconsciente, sem nenhuma base sobre
tais conceitos.
-//-

[A kundaliní é um termo feminino por ser o Poder Ígneo, de natureza feminina,


isto é, de polaridade negativa; A kundaliní está “adormecida” como uma
serpente de fogo, enroscada 3 vezes e meia em torno do svayambhu linga(m)
(falo), no múládhára chakra o centro de força que todos possuímos junto à
base da coluna vertebral e órgãos genitais; Enquanto a kundaliní está
adormecida, é como se fosse uma chama congelada, um fogo parado. Uma
vez desperta, é tão poderosa que o Hinduísmo a considera uma deusa, a Mãe
Divina, a Shakti Universal; Termo sânscrito que pode ser traduzido por energia
ou força. Por extensão, esposa ou companheira no sádhana (prática, ritual)
tântrico. É também um nome ou qualidade da Mãe Divina e,
conseqüentemente, designa também a kundaliní ;De fato tudo depende dela
conforme o seu grau de atividade – a tendência do Homem à verticalidade, a
saúde do corpo, os poderes paranormais, a iluminação interior que o arrebata
da sua condição de mamífero humano e o catapulta em uma só vida à meta da
evolução sem esperar pelo fatalismo de outras eventuais existências”.
“Podemos definir a kundaliní como uma energia física, de natureza nervosa e
manifestação sexual. Quando é despertada é conduzida pelo sistema nervoso
central até ao cérebro; Mediante esse processo alquímico de transmutação da
energia genésica em poder criador, exacerbam-se a inteligência, a criatividade,
percepções e estados expandidos de consciência; (De Rose, 1992, 2007)]

O autor autodidata Luiz Sérgio de Rose que é conhecido como


professor de Rose tem até livros sobre Kundaliní, e ora ela é uma
energia física, ora é um poder da mulher, ora é o próprio poder e

58
também segundo ele, ela é o segredo da evolução humana. Inclusive
ele é criador de um tipo de Yoga, que em sua base se propunha a fazer
a tal evolução, sem nenhum efeito ou resultado. O autor até afirma
conhecer a polaridade elétrica de Kundaliní, sendo ela o neutro da
eletricidade.

Há uma enorme desconhecimento deste autor sobre Kundaliní, muita


confusão e contradição de conceitos, que ora são produtos de uma
prática e ora são de origem comportamentais, sociais. Neste autor
podemos ver Kundaliní como um narcisismo tal que este poder,
segundo ele, pode produzir milhões de anos de evolução, e isto, ora
pela manifestação sexual, ora energética, ora comportamental de
Kundaliní. Se o autor estudasse um pouco de genética saberia a
diferença entre uma célula meiótica e uma célula mitótica. Segundo eu
soube nas suas orientações aos seus alunos, eles não podem viajar a
Índia para investigar ou estudar outros autores, todos os conceitos
devem ser somente os que ele ensina, nada mais pode ser entendido
sobre o tema. Quando ele diz: “Mediante esse processo alquímico de
transmutação da energia genésica em poder criador, exacerbam-se a
inteligência, a criatividade, percepções e estados expandidos de
consciência” há tamanha confusão que Kundaliní passa a ser e energia
genésica, o poder criador, quer dizer o poder de Deus! Ora sabemos
que a Luz não é poder criador, pelo contrário, ela escapa do processo
de criação, o poder criador se dá pelo confinamento da luz nas
estruturas pré organizadas, na Natureza, e o homem nada tem a ver
com isto, apenas seu corpo físico esteve dependente da Natureza. Isto
é tão correto que 99,99% dos nossos genes são idênticos a de um
chipanzé, e nenhum chipanzé evoluiu no sentido humano.
-//-
[De acordo com a opinião dos antigos mestres, o aparelho reprodutor tem duas
funções: a reprodução e a evolução. A Kundaliní é a guardiã da evolução
humana. Com o despertar da Kundaliní dá-se a reversão do aparelho
reprodutor e o seu funcionamento mais como mecanismo de evolução do que
de reprodução, enviando para o cérebro um fino fluxo de “energia nervosa”
muito potente (G. Krishna, 1985)]

59
Gopi Krishna escreveu um livro pioneiro, muito interessante e
impactante sobre sua experiência pessoal com Kundaliní. De forma
simples o autor descreve o que lhe ocorreu, um surto de natureza
psicótica como produto de uma experiência mística transformadora.
Surto este em que novos valores devem surgir daí, com uma nova
estruturação da personalidade.
-//-
[Na Índia, a kundaliní-shaktí também é conhecida por: bhujangí, kutilangí,
shaktí, íshwarí, kundalí, arundhatí (Eliade, 1954, 1989), dêvátma shaktí
(Swêtáshvatara Upanishad, citada por Rama, 1990), chiti (Muktananda, 1994,
1994), chiti kundaliní (Muktananda, 1994), cit-kundaliní (Feuerstein, 1998),
kúlakundaliní (Feuerstein, 1998; Sivananda, 1991), bhujanginí, phaní, nágí,
chakrí, saraswatí, lalalná, rasaná, samkiní, rájí, sarpiní, mani, ashtá-vakrá,
átma-shaktí, avadhútí, kuntí, entre outros nomes (Feuerstein, 1997). O
despertar da kundaliní é designado por udghata (Sivananda, 1986).]

Acima um bloco com um apanhado de autores que se arriscaram e


arriscaram as suas reputações ao tentar definir o que seja Kundaliní,
sempre vinculando-a a algum tipo de conhecimento ou crença.
-//-
[O Tantra Álôka de Abhinava Gupta distingue a púrna-Kundaliní, a prána-
kundaliní e a urdhwa-kundaliní. A primeira é o poder divino enquanto
Plenitude (púrna); a segunda é o poder divino na sua manifestação de energia
da vida (prána); a terceira é o poder divino enquanto serpente acordada
movendo-se para cima (urdhwa). (citado por Feuerstein, 1998)]

As pessoas forçam no sentido de dizer que Abhinava Gupta já citava


Kundaliní porém no seu Tantra Alôka ele cita Shakti como o poder
divino e não Kundaliní, pelo menos nas traduções que tive acesso não
vi a palavra Kundaliní, escrita.
-//-
[Nenhum samádhi é possível sem despertar a kundaliní, que se encontra
latente na base da coluna (múládhára chakra). Até um vêdantin (um estudante
do Jñána Yoga – Yoga do conhecimento) para conseguir o jñána nishtha
(esclarecimento), só mediante o despertar da kundaliní que está adormecida no
múládhára chakra. Não é possível o estado supraconsciente ou samádhi sem
despertar esta energia primordial, quer se trate de Rája Yoga (Yoga mental),

60
Bhakti Yoga (Yoga devocional), Hatha Yoga (Yoga da força) ou Jñána Yoga”
(Sivananda, 1953)]

O grande Swami Sivananda teve em sua vida a companhia de um dos


maiores sábios da humanidade, Krishnanada. E assim cautelosamente
já assinalava uma mudança no Advaita Vedanta, tão fervorosamente
pregado, Sivananda era contra o Tantra, que ele dizia ser uma heresia,
e ao mesmo tempo viu no conceito de Kundaliní um elemento comum,
verdadeiramente espiritual, sabiamente levado adiante por Krishnanada.
Em seus últimos dias Krishnanada teve a grandeza de falar sobre
Kundaliní como uma heurística, e não mais como um poder ou energia,
chegou próximo aquele lugar proibido, em que somos tudo que há para
ser realizado, e o que nos falta está em como nos relacionamos com os
outros.
-//-
[De acordo com Mircea Eliade (1954, 1989), a Kundaliní corresponde ao poder
sagrado experimentado como um calor extremo nas iniciações militares. Para
este autor, vários termos do vocabulário “heroico” indo-europeu (e.g., furor,
ferg, wut, ménos) exprimem justamente esse “calor mágico” e essa cólera que
caracterizam, nos outros planos da sacralidade, a incorporação do “poder”; tal
como um yogin (praticante de Yoga) ou um xamã (adepto do Xamanismo), o
jovem herói “aquece” durante um combate iniciático.]

Mircea Eliade foi um historiador romeno, estudioso do Yoga e do Tantra,


e de símbolos, foi quem cunhou a palavra Hierofania, O sagrado
manifesta-se sempre como uma realidade inteiramente diferente das
realidades naturais, é uma experiência fundante que mais tarde é
institucionalizada e mantida como culto, e o culto é um ato cultural. Este
Tumo Mágico dos budistas, é o que Kundaliní é para ele, como um
poder transformador, capturado por uma hierofania.
-//-
[À escala cósmica esta Shaktí é designada pelo nome de Mahakundalí, o
Grande Poder Enrolado. À escala microcósmica (humana) é denominada
Kundaliní, a enrolada, a energia que, no termo do processo involutivo produziu
(produz) o psiquismo e o corpo, e continua a ser o suporte da manifestação
individual (Tara Michael, 1978)]

61
Tara Michael, acadêmica com um profundo conhecimento sobre o Yoga
e o Tantra, lê diretamente o Sânscrito, ela tem a melhor tradução até
hoje sobre o SatCakraNirupana, publicada no livro “Corps Subtil Et
Corps Causal, lês siz cakra Et Le kundaliní yoga”. O extrato acima é
precioso, pois posiciona Kundaliní como suporte indireto da
manifestação individual, como a psique e corpo. É a única autora que
entende a involução, o recolhimento da manifestação natural, como
sendo o princípio da Psique, do homem. Isto vai de encontro a todos os
curiosos e teóricos do tema, mas é totalmente acertada a sua
orientação, o homem com sua Kundaliní dormindo, significa a já
conquistada autonomia do homem frente à Natureza. Kundaliní está
ativa em todos os demais seres, exceto no homem. No homem o
processo involutivo de Kundaliní produziu o domínio do som, da
comunicação, do Signo.
-//-
Com os exemplos acima podemos começar um esboço no assunto, pois
as culturas tomam uma experiência transformadora como um rito de
passagem, como uma Diksha, em que o sujeito, uma pessoa só se vê
como sujeito, até o ponto em que ele deixa ser ele mesmo, ao se
satisfazer com os gestos e ritos, com as culturas, de um outro. Nesta
nova cultura ele encontra mais explicações e sentidos do que naquela
que ele abandonou ou transcendeu. Não há uma passagem no escuro,
há sim a troca de um sistema de ritos por outro, mais bem elaborado,
melhor significado, este foi o motivo de que todas as culturas indianas
adotaram imediatamente Kundaliní como já fazendo parte dela. Então
ela representa uma heurística, algo que não se sabe exatamente o que
é, mas existe e tem um lugar em qualquer cosmogonia. A mesma coisa
aconteceu com a palavra Libido, imediatamente ela significava tudo
dentro da teoria psicanalítica, a fonte das pulsões, e até houve a união
dos conceitos, Kundaliní e libido. São conceitos que se encaixam no
espaço vazio deixado por uma explicação faltante. Mas Kundaliní não é
libido, nem é uma energia de polaridade negativa, nem nada do que se
pareça com uma Shakti, uma Deusa, nem um fogo, nem calor, nem o
Espírito Santo, e nem uma força telúrica.

Uma pessoa não pode descrever o que ela sente, mas ela pode usar
palavras que possuem o mesmo sentido e assim dizer ao outro que o

62
que ela sente é parecido com o que ela sente, mas jamais é igual, e isto
tem uma razão, ela não sabe o que ela sente, ela pode sim utilizar
palavras que descrevam uma proximidade, mas não se trata da mesma
coisa que se sente. Assim usamos dor, alegria, raiva, angústia para
descrever estes estados, palavras que aprendemos de outros relatos
vindos de outras pessoas. Se em um campo tão mais fácil como o das
emoções ou estados mentais, é impossível a comunicação precisa
daquilo que sentimos, e o fazemos por uma proximidade, então como
iremos definir Kundaliní como sendo aquilo que nos dá a existência,
como ser individual, humano?

Levada para o ambiente da crença, ela serviu como bode expiatório de


deuses que não poderiam criar o homem, e assim assumir todo o ônus
de sua criação, mesmo com a desculpa de que deram o livre arbítrio ao
homem. Kundaliní entrou aí como um poder autônomo, sem origem,
sem a vontade divina, vindo sabe-se lá e de onde, pois Deus não
poderia criá-la, a não ser que ele não estivesse no comando e sim a
Mãe. Então sem uma saída filosófica, a mãe, a mulher, sempre
responde pelos atos alheios. Fruto de uma traição de Perséfone com
Hades? O milagre da virgindade de Maria? Porque será que quando
não há explicação a mulher simboliza esta possibilidade? Porque os
mitos são inúteis quando os gêneros não contam como uma diferença?

Levada para o terreno do mito, como uma explicação dos antigos cultos
agâmicos da Índia, Kundalini explicava Shiva, o Mito masculino que
transfere seu poder divino a uma Shakti, e ela cria o homem, e sobre a
mulher recai esta nuvem de cidadã de segunda classe. Shiva sai e vai
meditar nas montanhas e quando volta vê o seu filho Ganesha, ele lhe
barra a entrada em sua casa, e enfurecido por ter sido barrado por um
desconhecido, ele decepa a cabeça do menino, e ao perceber que era
seu filho, retira a cabeça de um elefante e a coloca no corpo do filho,
surgindo assim Ganesha o Guardião. A brutalidade do ato de Shiva é
para representar a sua pureza, ele não sabia e nem queria filho algum,
ele era um Deus! E um Deus não poderia ter um filho! De onde surgiu
este menino? Tudo recaí sempre sobre a nossa cidadã de segunda
classe, a mulher.

63
Com Kundaliní surge uma possibilidade até então impensada, o poder
genésico está no homem, pronto para gerar um novo ser, sem sexo!
Manobras sexuais, ritos sexuais logo surgem para validar este poder e
transmutá-lo em força usada na iluminação dos yogues, o mais famoso
é o rito com cinco coisas que começam com M, em que consideram a
mulher um objeto (Artha), um meio de fazer Kundaliní subir, é claro,
para que o homem se ilumine. Certa vez perguntei a um mestre indiano
famoso, sobre a Kundaliní nas mulheres, ele em voz baixa diz: Elas não
tem Kundaliní, elas não podem serem iluminadas.

O leitor que desconhece tais fatos pode duvidar da existência destes


ritos, mas os que já tentaram conhecer o mundo do Tantra já se
bateram com todo o tipo de ritos, criados para simplesmente justificar-se
perante suas próprias comunidades, para explicar sua cultura.

Várias escolas esotéricas advogam que este poder somente é desperto


em uma relação Homo sexual, o leitor não está lendo errado e nem eu
estou equivocado, vários grupos ligados as grandes religiões, hoje
ainda advogam isto: Que a relação homo sexual masculina produz o
despertar desta força. Um escritor e ocultista conhecido, precursor
desta ideia de Kundaliní, foi o Bispo Leadbeter. Ele foi um dos
fundadores da Teosofia, defendia este principio, tendo contra si
dezenas de acusações e estupros cometidos contra meninos. É tão
delirante nas teorias narrativas de uso de Kundaliní que ele diz que
matou vários negros e índios, raça imunda e inferior, segundo ele, e que
isto foi na Bahia em 1860, e que seu irmão foi morto nesta batalha, mas
nasceu em seis meses e cresceu no Sri Lanka e ele foi até lá
reconhecer o seu irmão morto na Bahia, encarnado em um bebê e que
em uma semana usando sua Kundaliní, o seu irmão já tinha 50 anos e
se chamava Jinarasadasa. Ele relata em seu livro:

[Dessas tribos, muitas tinham adotado um tipo de esquálida semi-


civilização, mas muitas outras ainda eram selvagens, indomadas e
indomáveis - homens que viam o trabalho fosse de que espécie fosse,
como a mais profunda degradação, e que odiavam o homem branco
com um ódio tradicional, inflexível, e que (estranho como possa
parecer) iam ainda além da reciprocidade do infinito desprezo dos

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fidalgos espanhóis de sangue azul. Será, sem dúvida, incompreensível
para muitos de nós que um selvagem seminu possa manter qualquer
outro sentimento que não seja o da inveja pela nossa civilização
superior, por muito que não gostem de nós, mas só posso dizer que o
mais autêntico e natural sentimento do Índio Vermelho para com o
homem branco é puro e implacável desprezo...” “Eu passei a mão no
meu rifle também - porque eu também tinha um. Naquela região
selvagem nem mesmo o pequeno Gerald jamais saiu sem seu
minúsculo revólver metido no cinto, e eu, habitualmente, levava um par
de Colts, e carregava um rifle comigo, sempre que saía para uma
caminhada. E essas precauções não eram de forma alguma
desnecessárias...assim matei dezenas destes selvagens. “Salvo Por
Um Espírito”, Leadbeater, p. 109.]

A descrição feita por Leadbeater de relações inter-raciais baseadas em


ódio seria motivo de riso, se não fosse tão ofensiva. A frase em que
afirma que “por fim vem o pior, os mestiços”, segundo ele, é como é o
povo brasileiro: “Por fim, vem o pior, os chamados mestiços, meio
sangue – raça mesclada que parecia, como às vezes acontece com
este tipo de raça, combinar todas as piores qualidades das raças de
ambos os progenitores.” Assegurando que “os mestiços combinavam
todas as piores qualidades das raças de ambos os progenitores”, é
digna de especial atenção por seu tom, que antecipa a ideologia
fascista.

O que a narrativa de Leadbeater mostra é apenas o racismo, a loucura


evidente, o desprezo pela vida humana e a fantasia irresponsável de
que negros e indígenas são moralmente inferiores aos brancos. Ele e o
seu irmão, na Índia, ganhavam dinheiro vendo átomos e moléculas e
descrevendo-as, escrevendo cartas de parentes mortos, enfim
aplicando todo tipo de golpe. Ele foi considerado um crápula pelo líder
da independência indiana Mahatma Gandhi. O sacerdote Charles
Leadbeater evitou habilmente as investigações policiais de que foi alvo
na Austrália. Foi o mesmo reverendo Bispo Leadbeater quem
sequestrou na Índia um menino, e o trouxe para o ocidente, e o
preparou para ser a encarnação de Cristo. Porém com a morte suspeita
de seu irmão Nitya em 13 de novembro de 1925, este menino saiu das

65
garras do bispo, negou todo o engodo preparado para ele ser o Cristo
reencarnado, ele foi Krishnamurti, o grande filosofo e pensador hindu.

Após sair deste antro de loucura a educação foi sempre uma das
preocupações de Krishnamurti. Ele fundou várias escolas em diferentes
partes do mundo onde crianças, jovens e adultos podem aprender
juntos a viver um quotidiano de compreensão da sua relação com o
mundo e com os outros seres humanos, de descondicionamento e de
florescimento interior.

Assim insanos, loucos, criminosos, pessoas com sérias perturbações


mentais, fizeram e fazem uso do termo Kundaliní para justificarem todo
tipo de aberração.

O hinduísmo é um grupo de pontos de vista filosóficos e religiosos,


coerente, coeso, ético, que traz ao hindu as respostas que precisam em
suas vidas e nada tem a ver com invenções como Invasão ariana, Yôga
pré ariano, Kundaliní com polaridade elétrica, ou Energia feminina. Uns
fazem isto pela necessidade que tem de explicar as suas próprias
projeções e outros como um meio de explorar economicamente os mais
jovens. Em 1500 quando Cabral descobria o Brasil, o Tantra como
semiótica já existia, o Tantra já postulava que nossa Psique era feita de
alfabeto, inserindo as letras e o poder da mais valia como Matrikas e
Shakti, ou seja, Lacan e Marx fariam isto 400 e 500 anos depois!
Ignorantes e criminosos como o Bispo Leadbeater copiaram os textos
antigos e retiraram as letras dos Cakras, iludindo os adeptos do
esoterismo e espiritismo como se não se tratasse de uma semiótica,
claro que por ignorância.

Uns dizem que para despertar Kundaliní é preciso alinhar o Kanda;


outros dizem que é preciso tomar passes de Reiki: outros dizem que é
preciso estar fazendo sexo sem gozar por 3 horas; outros dizem que é
preciso sentar sob uma lâmpada de 500 Watts sobre a cabeça; outros
que é preciso sentar nas costas de um cadáver fresco, desenhar um
Yantra e meditar, e em minutos Kundaliní sobe e neste momento o
cadáver gira a cabeça e pergunta ao Yogue sobre o seu desejo, então
se o yogue não perder a concentração ela chega ao topo da cabeça e o

66
yogue alcança a iluminação; um senhora pega em flagrante traindo o
marido com o carteiro, diz que quando ela saiu de uma aula de yoga e
caiu na escadaria da escola de Yoga, bateu o cóccix no chão e
Kundaliní subiu, e desde então ela é forçada por esta energia a fazer
sexo todos os dias.

Milhares de pessoas no mundo todos os dias fazem seu Sadhána,


sentam e ativam esta força através de mantras, sufis giram,
meditadores batem os pés no chão, outros batem o cóccix, outros
prendem a respiração, outros fazem tudo isto junto com gestos,
mantras, respiração, etc.

O leitor deve estar assombrado com tantas versões, mas não são
histórias ou folclore, estas práticas, elas são ensinadas como grandes
segredos iniciáticos!”
(Texto do Livro “O Livro Negro do Yoga – mestre Bhava)

67
A vida morna na Califórnia

Minha casa em Mountain View tem uma espécie de porão com paredes feitas com
quase um metro de espessura de concreto e aço, está encravado na terra, era um antigo
abrigo atômico originário da paranoia americana de um ataque nuclear durante o período da
Guerra Fria, e na sua lateral tem um reservatório para 30 mil litros de água potável, que se
mantém sempre cheio, por uma espécie de boia eletrônica ou elétrica, não sei bem. A estante
do fundo do corredor da casa se abre em uma escadaria que dá acesso ao abrigo, e uma
antiga porta de submarino foi instalada como porta, cuidadosamente restaurada, mas já com
um fecho eletrônico. Ali ninguém entra. Este é o meu Chiqueirinho de Deus, como diz minha
mãe, ali me encontro comigo mesma, ali é o meu centro, minha Alma da Casa. O abrigo é
amplo, com um sistema de ventilação próprio, meu pai desmontou a estrutura de filtros de ar, e
os substituiu por filtros mais atuais, iônicos. Os americanos são um povo preparado para o que
der e vier, existem lojas especializadas que vendem kits completos para viver uma semana, um
mês ou anos, neles tem de tudo, menos água, mas têm pacotes de comida liofilizada,
medicamentos, armas, munições e até alarmes mecânicos de presença.

Quando comprei a casa o vendedor disse-me que havia um quarto de pânico lá em


baixo, me mostrou de cima, da porta que dá acesso a escada, eu desci, mas ele ficou lá em
cima, ali eu me senti muito segura. Comprei a casa. O quarto do abrigo é com camas presas
ao concreto, nas paredes, são feitas de aço, ali podem viver 10 pessoas por um mês.

Com pequenas mudanças, mantive quase tudo como era originalmente, substitui os
colchões, pintei tudo com uma tinta de cor verde limão claro, do mesmo tom que pintam a
fuselagem interna das aeronaves, meu pai quando viu, abriu um sorriso, lá embaixo era como
uma aeronave de combate, a minha máquina. No canto direito logo depois da porta havia uma
pequena oficina de reparos, com um torno de bancada e ferramentas ainda sem uso. Há
armários de aço para roupas, e lá dentro de um deles os dois pares de botas de adultos e duas
de crianças denunciavam quem morava ali, eram dois adultos e duas crianças. Eu imaginava,
que aquelas crianças eram pessoas diferentes, elas deveriam ter se divertido muito naquela
casa.

Eu trancava a porta da casa, descia para o abrigo e dormia, sentia-me segura e


inatingível, dentro do abrigo não se ouvia nenhum ruído, absolutamente nada, era o local
perfeito para a minha viagem interior.

Lembro que uma vez, logo que eu mudei-me para cá, fiquei dois dias lá embaixo, dormi
como se tivesse dormindo pela primeira vez na minha vida.

68
As velhas baterias de submarino que estavam apodrecidas lá, foram substituídas por
um gerador Briggs, e baterias de longa duração. Mas nada disto ficava em uso, no dia a dia o
abrigo se mantinha com energia elétrica vinda do fornecimento comum. Ali não havia sinal de
celular e nem sinal de rádio, o contato com o mundo exterior se dava por um cabo coaxial, que
ligava a uma antena no exterior.

Pelo duto deste mesmo cabo, instalei lá em cima uma câmera na frente da casa, e
outra no corredor, e lá embaixo eu podia, se eu quisesse, ver tudo o que se passava por um
monitor de Cristal Líquido, a minha empregada Irene jamais desceu aqui, nem para conhecer,
e a ordem era clara, se alguém tocasse a campainha na porta da casa, não atendesse, pois
quem eu queria ver, tinha meu celular. Neste ponto adoro os EUA, podem se passar anos sem
que ninguém lhe procure na sua casa.

Com o fim do meu trabalho na Siemens, eu sentia-me bastante leve, sem


compromissos, mas não que eu gostasse de ócio, pelo contrário, meu tempo agora seria mais
bem aproveitado em coisas que eu desejava fazer.

Pilotar avião era o primeiro item da minha lista, já tinha concluído o curso básico, já
havia feito algumas horas com instrutor, e agora queria voar, mas com o meu pai. Então eu fui
para a minha última aula com instrutor, iria pilotar sozinha o avião e o instrutor me avaliaria,
mas não era ainda o voo solo.

No hangar do Google logo à nossa frente no Aeroporto Federal Moffett Field em


Montain View, há Boeings 757, Boeings 767, jatinhos Gulfstream V, e vários aviões bimotores a
hélice. E pensar que tudo isto começou com uma brincadeira de garotos em uma garagem!

Meu instrutor é o velho Clark, e estamos no Cesna 172, aguardando a liberação da


nossa decolagem, o aviãozinho corre na pista, ouço seu motor tilintar, ruídos sincrônicos das
juntas do concreto na pista batendo nos pneus, fazem um ruído que aumenta a frequência
denunciando a rápida aceleração da aeronave, e de repente somos suspensos no ar, Clark
com seus óculos escuros espelhados, e com o seu clássico bigodão anota uma prancheta,
curva a esquerda e lá vou eu. Passo por cima da ponte de Newark, e estou voando sobre a
Baia de São Francisco. Clark me mostra o mapa e aponta para Fremont. De lá tomo o corredor
aéreo de volta a pista de Moffett Field.

O pouso é suave, um quick apenas, e novamente o clap, clap das juntas nos pneus.
Faço o processo de atravessar as pistas, e logo vejo nosso hangar, sigo a linha amarela no
chão até um T final. Clark desce e faz um sinal com os braços em x.

Meu coração agora bate mais forte, que emoção!

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Meu pai não sabe ainda, tive que esconder dele, quero lhe fazer uma surpresa.

Clark dá uma volta na aeronave, numa espécie de inspeção visual, chuta um dos
pneus, verifica os calços, e se apressa para me encontrar na sombra. Faz um sinal de OK com
a mão, dando seu sorriso largo de sempre.

Na volta para casa, lembro que a minha lista de desejos estava diminuindo, eu estava
tão desligada ouvindo a melô do cafetão, Smooth Operator de Sade, que bati no carro parado
na minha frente!

Nunca havia nem mesmo arranhado um carro em toda minha vida, e agora bato em um
carro parado no sinal na minha frente. Um sujeito de Jeans e boné desceu do carro e olha para
a traseira de seu carro, e apontou para o plástico colado no seu parchoques, e riu. Shit
happens o popular Merdas Acontecem! O carro dele era uma destas Cherokees com aquela
estrutura para reboques, nem arranhou, mas o meu, bem, estraçalhou o párachoques dianteiro
do meu carro.

Faltava agora o voo solo.

Amo o Brasil, mas a América é onde eu quero viver para sempre, um dia eu disse isto e
meu pai arrematou, com uma frase que foi direto para meu diário:

Quem morre na America morre feliz.

Aquela expressão me tocou profundamente, revolveu a minha Alma, eu sentia uma


verdade profunda nela, e na ocasião nós conversamos sobre isto, e ele sentia isto do Brasil,
adorava o Brasil e o povo Brasileiro, mas morrer no Brasil, para ele era ser condenado a viver
no mundo dos mortos. Como aquilo me abalou, eu não sabia bem explicar, mas era verdade.
Há um ranço com a morte no Brasil, algo pesado, espírita, pois a coisa espírita brasileira é
pesada, um horror mesmo, basta ver um filme espírita americano e um filme espírita brasileiro,
um horror!

Ele me disse que o maior consolo deles no Vietnã, era a certeza de que todos eles, que
eles seriam enterrados na América, este era um compromisso do comando de Guerra de
Washington, algo bem estranho para quem não viveu na América, mas com um profundo
significado para eles. O lema que diz que Os fuzileiros não deixam ninguém para trás vem
desta coisa bem Americana. Eles amam a America! Amam sua pátria como um solo sagrado! E
é.

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Nós brasileiros fomos tão bombardeados contra o “imperialismo dos EUA”, contra a
“ditadura militar”, que nós perdemos o vinculo com a nossa pátria amada, perdemos o vínculo
com um solo sagrado para o nosso corpo, há uma incerteza perene na Alma do brasileiro, o
Brasil ainda não é nosso!

Com a certeza da reeleição de Lula em 2006 eu não suportei mais ficar lá, não pelos
motivos políticos e partidários, mas pela decepção moral, me fazia muito mal ler jornal ou ver
TV no Brasil. Surgiu a oportunidade de trabalhar aqui, e foi bom, eu não suportaria mais o
Brasil.

Eu preciso respirar liberdade e respeito ao cidadão, e aqui na América, é assim. Se eu


quiser abrir uma loja, abro e tenho incentivos, se quiser fabricar alguma coisa, fabrico e tenho
incentivos, e todos os americanos pensam da seguinte forma; legal, sentem orgulho e tal. No
Brasil do Lula, o cara vai te denunciar, falar mal de você. Eu odeio isto no povo brasileiro, esta
bitolação espiritual.

A Mãe América é representada pela estátua da liberdade como sendo a Lúcifer dos
Maçons e eles têm um círculo dedicado a um estranho misticismo e sistemas de crenças
ocultistas. Uma vez que Lúcifer é bom para eles, eles construíram a estátua para secretamente
representarem isto para os outros maçons do futuro chamados de Illuminatis que tem acesso
ao mesmo conhecimento. Ela segura a Luz na sua mão direita, a tocha que a Estátua da
Liberdade está segurando representa a tocha de Prometeu, que significa Lúcifer no ocultismo.
A história mitológica grega de Prometeu é a mesma alegoria de roubar o fogo, que no caso é o
conhecimento de Deus ou dos Deuses, e que uma vez dado aos seres humanos, assim causou
a ira de Deus, do original. Segundo BB se representa pelo Shiva enfurecido dos Tibetanos.
Lúcifer é simbolicamente o salvador por causa do conhecimento oculto, o auto-conhecimento e
o raciocínio intelectual que ele nos dá metaforicamente, junto com a capacidade de pensarmos
racionalmente e elevar-nos a Deuses entre todos os outros animais na Terra.

Esta luz que nos faz ser, nos faz falar e pensar, e viver como um Deus vivo na Terra.

No livro de Magia de Crowley temos a seguinte citação:

"Esta serpente, Satanás, não é o inimigo do homem, seja ele quem fez da nossa raça deuses,
conhecendo o bem e o mal, ele ordenou 'Conheça a ti mesmo' e ensinou a iniciação. Ele é o
'Diabo' do livro de Troth, e seu emblema é o Baphomet, o Andrógino que é o hieróglifo da
perfeição arcana"

Pois bem queridos amigos brasileiros eu sou amiga de Satã, adoradora fiel da Luz, do
luxo e do conforto, e isto é Kundaliní no contexto hindu! Eu tinha percebido estas verdades de

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forma quase inconsciente, mas elas alcançaram de fato a minha consciência quando li o texto
de BB:

Kundaliní e percepção

A lei do Mundo

“O homem vagava sem esperança na escuridão da mortalidade, de vida em vida,


vivendo e morrendo sem luz ou entendimento, em sua servidão eterna ao Demiurgo e
ao seu exército de espíritos, como agem os animais irracionais. No fim, o espírito da
rebelião entrou na criação sob a forma de Luz que se fez, e Lúcifer, que sob o disfarce
de uma serpente tentou o homem a revoltar-se contra os mandamentos de Jeová (o
Demiurgo). Demiurgo figura como o agente que, embora não seja o criador da
realidade, organiza e modela a matéria caótica pré existente de acordo com os
modelos perfeitos e eternos, sendo por isto chamada de Natureza, a Prakriti dos
hindus. Na Grécia, este personagem cósmico era conhecido como Prometeu, o que
trouxe o fogo impregnado dos Deuses que iria liberar a vida latente nesta multidão de
potencialidades de germes. Esta luz está guardada no homem sob a forma de
potência, para pensar e sonhar, construir a sua própria realidade. Deus existe somente
para ele, e assim todos os seres irracionais o seguem sem rebelião, pois nascem e
morrem pelo corpo, mas o homem não, ele saiu do paraíso da natureza, a serpente
representa esta traição, quando a luz se faz (Lúcifer) no homem. A partir deste
momento Deus não tem poder mais sobre o homem, apesar de possuir um corpo, este
homem o usa como veículo para sua vida pessoal, é desta forma que os hindus
representam a ideentidade, é ideen a Deus, ao espírito, mas não o segue mais, pois é
ele mesmo. Quando nós criamos vida própria, quando nós falamos o verbo, quando
usamos o poder da luz nas palavras, criamos um mundo que não é mais natural,
embora nossa percepção seja perfeita, aquilo que vemos nada mais tem a ver com
Deus. A beleza de Deus vista na natureza, que é bela vista pelos nossos olhos, mas a
vida destes seres é automática, sem nenhuma forma de liberdade, sem nenhuma
escolha. Somente o instinto.

Dormindo em cada célula, está a mesma luz nos animais e vegetais, seguindo o
programa estabelecido pelo Demiurgo, pela natureza. Mas em nós esta luz se fez, e se
faz em nós como chama que se levanta e ilumina nosso intelecto, produzindo as letras
e assim as palavras. Deus toma conta da natureza, e de nós toma conta Lúcifer, a
nossa própria luz.

Esta, precisamente, é a passagem da luz Natural para a luz que somos nós, a da
ideentidade, somos iguais a luz Natural, mas em nós ela trai o criador, pois ela é

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idêntica a ele. Somos Judas. Há grupos que pensam em se sacrificar, para voltar a ser
a mesma luz antes de Lúcifer, mas não é possível - nós somos ele. Nenhum ser
humano coloca a percepção abaixo do instinto, não pode mais. Então ser humano é
sair do automatismo, da predação insana, de corpo que mata, de corpo que ama, de
corpo que reproduz, para a aventura de ser si mesmo, de romper definitivamente com o
arquiteto. E isto é elevar a nossa luz, a metáfora da serpente que sobe para nosso
Crânio.

Estamos condenados a liberdade.

Aprenda logo a Lei! “


(Mestre Bhava)

Quem é Satã, quem é Lúcifer na cultura hindu? Pesquisando mais sobre Lúcifer,
encontrei algumas referências judaicas interessantes:

A própria história de Lúcifer, o primeiro filho de Deus, mais bela e sabia criatura,
conhecida pelo cognome de «o portador da luz», a quem o Pai entregou o poder sobre a morte,
que se havendo rebelado contra o seu pai por se desejar tornar igual a Ele, acabou expulso do
reino celestial, exilado para sempre no «sheol», ou o «mundo dos mortos». Por se opor ao seu
pai e á tirania desse Deus HYHV, o seu filho exilado passou a chamar-se «opositor» ou
«adversário», que em hebraico se escreve: «Satã». «Satã» não é por isso um «nome» que
designa uma entidade em particular, mas antes um «titulo» ou um «adjetivo» que define todo
aquele que de «opõe» ao deus HYHV. Porque na verdade Lucifer e Satanás são duas
entidades diferentes, a Igreja na sua teologia oficial não considera Lúcifer o «Diabo», mas
apenas um «anjo caído» - Petavius, De Angelis, III, 3, 4. Lúcifer era um anjo de Luz que
havendo-se rebelado contra o seu pai, gerou uma guerra celestial. Havendo-a perdido, Lúcifer
e os todos os anjos que o apoiaram, ( cerca de 1/3 dos anjos dos céus), foram banidos da
presença de Deus e exilados no mundo dos mortos, ou «Sheol». Lúcifer é também conhecido
por ser o «portador da luz», pois é o anjo da sabedoria . Lúcifer tentou oferecer a sabedoria a
Eva, dando-lhe a provar o fruto da arvore do conhecimento, ( conforme no livro de gênesis),
facto que acabou gerando a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Algumas tradições místicas
hebraicas afirmam que Caim é filho de Lúcifer e não de Adão, fato pelo qual Deus desgostava
dele e o rejeitou, conduzindo-o ao homicídio de Abel. Afirmam também certas tradições
místicas que foi contra Lúcifer que Jacob lutou, pois Lúcifer era o anjo guardião de Caim e
confrontou Jacob, desejando vingar-se do seu protegido. Lúcifer pode facultar sabedoria sobre
todos os mais profundos segredos místicos e do oculto, assim como pode conceder um dos 6
dons das trevas.

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Sendo que Shiva representa para os Hindus a destruição, a destruição do estabelecido
para a renovação do poder no homem, pois Shiva é quem domina a serpente Kundaliní que
está enrolada em seu pescoço, Shiva é o garoto mau ele é bad boy da trindade hindu. Se
Brahma é o criador e Vishnu é o preservador, Shiva é o destruidor! A sua montaria é o búfalo
Nandi, que representa o poder e a potência, a justiça e a ordem moral.”

Então a minha indignação e sede de justiça estavam certas, havia um fundo de


verdade, e ele, Shiva, aquele que sempre carrega o seu fiel tridente, também como faz o
Lúcifer! Shiva é Lúcifer, mas a nossa fé brasileira, construída em cima de um cristianismo
unilateral, bem diferente do da Europa e dos EUA, nos fez ver, como brasileiros, que a busca
pela justiça e pela ética seria como uma espécie de afronta ao Deus criador, pois é ele que
promoverá a Justiça divina no final. Para mim bastava! O Mito do Brasil tinha enchido meu
caneco, tenho horror a corruptos e hipócritas, eles também existem em todos os lugares do
mundo, mas uma vez expostos, não continuam a representar ninguém mais, mas no Brasil eles
têm vida longa deitados eternamente em berço esplendido, ao som do mar azul de céu
profundo.

Minha sede de justiça tinha um fundo de verdade, eu precisava respirar ar puro!

Ora, então fiquei uns dias pensando:

Se Kundaliní é a luz que renova este poder no homem todos os dias, e é o que nos dá
o poder de dominar as forças do Cosmo, pela palavra, pelos signos de luz.

Então:

Quem se imagina que sentando e despertando a sua Kundaliní alcançará o poder


beatífico, alcançará uma libertação consentida pelo criador, quem pensa assim está
duplamente enganado. Tanto quanto a forma, quanto aos fins. A renovação consciente e diária
deste poder, é um ritual, digamos que para os confusos que ele é um rito satânico, uma afronta
a Deus! Dormimos e sonhamos para liberar esta força renovadora, o poder Luciferino.

Em casa revirei minhas gravações, anotações etc. Eu tinha captado algo naquela
última palestra do BB, algo que era sutil, e aquelas palavras vagas cravaram no meu
inconsciente algo que ia se revelando a cada dia.

Vejam que a partir de minha implicância com a mística brasileira, e a história de meu
pai sobre morrer na America e tal, e a minha vivência aqui na América..., foi que percebi, que
tudo se relacionava com algo perdido no meu porão, pois o inconsciente é nosso porão de
Lúcifer, o inferno, o inferno mesmo. E por dias vasculhei minhas caixas cuidadosamente

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embaladas, não encontrei a dita caixinha com as gravações, e constatei algo decepcionante:
deveria estar justamente no container que havia se extraviado na minha mudança para os
EUA! Eu precisava ouvir aquela gravação lá de Macaé!

Pense Amanda ! pense!

Minhas ideias estavam soltas, agora faltava um elo, eu já tinha ouvido o BB falar e não
adiantava a comunicação com ele por e mail, eu queria ouvir o que ouvi lá em Macaé, anos
atrás.

Uma coisa estava clara para mim, o Gozo como um processo de libertação na
meditação era a passagem, tal como eu experimentei em Macaé, um gozo perdido, gozo de
ser si mesmo, um belo de um foda-se para Deus! Outra conclusão era que, Kundaliní era a Luz
revelada como espírito livre de Deus, independente, mas Idêntico a Deus.

Aos poucos o cenário se clareava, faltava algo, lembrava precisamente da passagem


na Diksha, lembrava das etapas deste aprendizado, mas algo se mantinha oculto. Então decido
estudar a Puja, uma oblação aos deuses, no caso esta Puja era um sacrifício de minha Alma
para a Luz? Começo a pensar que sendo eu um si mesmo, igual a Deus, estes sacrifícios são
apenas etapas de crescimento em favor de uma expansão do si mesmo, algo bem marxista,
econômico!

Nada como a prática, então tomei a atitude de tentar recuperar meu HD que estava em
um PC velho, ainda em Macaé, pois lá estavam as gravações que eu fiz. Sei até em que canto
do cafofo do meu pai está a minha máquina velha.

São 3 horas da manhã, fiz todas estas anotações no meu diário e então planejo
amanhã bem cedo, de ligar para minha mãe, pois depois de amanhã eles viajam para cá,
quero pedir que eles tragam o HD.

Três dias depois eu abraço meu pai e minha querida mãe no aeroporto de São
Francisco, ele como me conhece bem, logo leva a mão no bolso de seu velho casaco de piloto,
e tira um saquinho destes que lacram, o famoso Zip Lock. Era o HD! Era a porra do HD! No
cantinho dentro do saco onde estava o HD, havia um saquinho com agentes dessecantes
como nas embalagens de vitamina C efervescentes. Meu pai é um perfeccionista.

Dois dias depois volto na TEC, um laboratório que recupera qualquer HD, o sujeito
disse que fez a imagem, linguagem estranha para mim, e então me dá um HD externo, que
estava com o preço embutido nos custos de recuperação.

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Tranquei-me no meu chiqueirinho de Deus, tomei banho e conectei o HD externo, e o
texto da gravação era este:

O Renovar das suas forças pela Luz é um Puja à força, à luz, é reconhecer que somos
seres de Gozo, de poder. Pois somente o gozo aquiesce, anui a luz! Na nossa psique
está o programa do Universo, o mesmo para seguir o processo dos animais e plantas,
o nosso cérebro primitivo, reptiliano, automático. Puja é uma oferenda sacrifical, uma
espécie de culpa original, Mea Culpa, um pedido de perdão para o Demiurgo,
representado no hinduísmo pelo filho de Shiva, um pedido de graça, uma confissão
sacrificial aos nossos antepassados, para a Natureza, para a Prakriti. Um homa Puja a
Ganesha. A assumição de si mesmo, passa pelo Puja, como uma volta a chama
original, é uma permissão para o gozo e para o desejo. Este é o mecanismo, que nós
criamos para gozar consentidamente, um pedido a Deus, ao demiurgo. Entretanto
quem trabalha com a luz, trabalha com as palavras e não com a luz diretamente,
portanto desce, ao centro da raiz, faz uma expiação de suas culpas e manchas, para
continuar a ser alguém que é idêntico a Deus, mas que cria um mundo de percepções
á revelia do automatismo natural. O problema está no gozo, pois este Ser atormentado,
ou se culpa pelo gozo, ou se anula dele assumindo uma santidade que anula os seus
desejos.

Kundaliní é este processo, esta luta travada entre o Deus criador, doador de seu corpo,
pela inteligência da natureza, e entre você mesmo, como entidade independente. Uns
imaginam que devam oferecer seus agradecimentos como Puja a Mãe, uma forma de
fazer uma intermediação com o criador que um dia teve que ceder a ela, senão o
mundo não existiria, mas esquecem que a mãe sofre do mesmo problema. O que está
em questão é se vamos seguir o mesmo processo herdado, seguir o Demiurgo, ou se
vamos nos rebelar, pois Tantra e Kundaliní são a forma de fazer esta revolução e não
se acovardar diante do criador, desde os Nathas isto é claro, então quando sentimos o
poder vibrar em nosso corpo, ele pede mais que comida, bebida e reprodução, ele
pede que encontremos o caminho, pela via sagrada, pela via Real, ele quer se
emancipar da natureza, ser o espírito mesmo que nos anima.

Desta forma, Kundaliní representa um caminho, um processo de emancipação do Ser,


não pela negação de nossa origem, mas pela superação das limitações impostas pela
linguagem, em como você se representa, não existe acordo algum com Deus, ele
precisa ser superado, pois os seus códigos já estão superados quando falamos e
pensamos. Então temos um oceano de letras, para fazer delas a nossa própria
identidade, e com isto a percepção do mundo se transforma por que o que você verá,
daqui para a frente, sempre será novo, quer neste corpo, quer em um novo corpo.
Nada mais pode destruir aquilo que foi forjado pelo fogo. Diz um ditado hindu que

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somente nos libertamos quando dançamos sobre nosso cadáver, como Kali a terrível.
Metaforicamente esta é a ideia real do processo, que sempre é pessoal, pois o si
mesmo é a única coisa sua, íntima, que é somente sua, e nada poderá lhe separar
disto. Kundaliní é a via de emancipação espiritual.

Então em um primeiro momento... a Puja é a remissão das culpas, até que o Gozo não
mais exija uma fruição para o outro. Comece pelo começo, pela culpa, esvazie o seu
inferno e depois goze, mas fique atento agora, para fazer tudo com plena
consciência,... O seu corpo irá reclamar, serão normais as reações, ele dominava, e
agora mudou tudo, sentirá coisas estranhas, pois o mecanismo está sendo
desmantelado. O animal está sendo treinado para voltar a ser o que ele é. Este é o
processo. A máquina continuará máquina, mas você será você...

Apenas sinta seu corpo, agora mesmo, não interfira nele, deixe ele agir, vamos fazer a
experiência agora, sentem de forma confortável e deixe o seu corpo agir...apenas o ar
entra e sai...não faça nenhum esforço...observe as reações em seu corpo...deixe a
energia fazer seu trabalho...ajude mantendo o corpo ereto, mas sem nenhum esforço,
Yoga é para isto, alongamento é para isto.

Se o corpo tremer, balançar,...deixe acontecer...

Agora diminua o ritmo da respiração... Ao mínimo... Respire somente o necessário para


ficar assim... Você não está relaxando, nem dormindo, nem meditando... Apenas
esperando, e observando. Deixe a força agir...

Estava tudo lá, como eu desconfiava, o BB já estava dando as dicas da coisa,


passando a mensagem para os nossos inconscientes trabalharem. O Diabo não veste Prada,
mas roupa preta e tem barba!

Dizem que a curiosidade matou o gato, e eu queria morrer, queria ir adiante, A Porra da
Luz como disse minha Mãe, é a Porra da Luz. Einstein estava certo, do modo dele e tal, mas
estava certo, a Luz era a soberana do universo, o capeta mesmo. Ele tinha fugido da Garrafa!

A máquina do Demiurgo nos transformava em bananas, prontos para estourar os


miolos ou viver uma vida ridícula, a tal Matrix era boazinha?... porra nenhuma, era uma teia de
amortecer e matar identidades. E ai... Lembrei-me dos agentes Smiths do filme e livro Matrix,
dos irmãos Wachowski. Todos iguais.

Matrix era a Teia envolvente da realidade produzida pela Natureza, que nos fazia viver
como ratos, e morrer pela causa dela, pela continuidade do sistema. Mas não é fácil lutar

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contra o sistema, ele nos dá conforto, prazer, e principalmente a sensação de que estamos
vivos, e que a vida tem algum sentido. Somente quando enterramos um amigo, que a nossa
ficha cai, antes eu imaginava que se minha mãe ou meu pai morressem, eu iria junto, não ia
segurar sozinha o pau de merda sem ter a quem passar adiante. Mas hoje, depois de alguns
anos na luta na conquista por mim mesma, começo a mudar esta ideia.

Não tinha pílula vermelha e nem azul, a escolha era uma armadilha, o Arquiteto tem a
inteligência e experiência de todo o tempo do Universo, era preciso ser radical com o
Demiurgo. Eu até tracei algumas linhas no meu diário, pois queria lhe dizer algo:

“Caro Jeová, você me deu o corpo, agradeço, você me deu um sistema para
viver, agradeço, meu corpo depende de comer e respirar a porra do seu ar, quem não
viveu para entender isto, perdeu, se fudeu, foi eliminado do jogo, você deve se
alimentar destes bostas, mas agora o papo é entre nós dois, primeiro, que vou queimar
meu corpo, mas não enterrá-lo, ou então lacrá-lo numa urna de aço, as bactérias que
me comerem irão morrer junto. Expiro o Co2, cago minha merda, suo, enfim já lhe pago
pelo que eu como, bebo, e pelo que respiro, pois este é seu sistema. Não lhe devo
nada, não lhe pedi nada, estamos quites! Ocorre que eu aprendi a falar e pensar, e isto
lhe assusta, mas não se preocupe, pois não vou incitar uma rebelião, cada um que se
resolva, quer punir alguém puna os mestres. Agora entendo Judas. Mas a maioria está
sob seu comando cozinhando os humanos, e os conduzindo de volta para a sua fôrma,
felizes, com sua mediocridade. Os que se libertaram estão fora se seu alcance, e não
tem motivações políticas, não lutam pelo Seu Céu.

Como disse minha mãe, vá cuidar dos cães de rua, dos bêbados e das crianças, a sua
proteção é uma farsa. Mas eu respeito a sua missão, se era para nos dar vida própria,
saiba que você é um bom filho da Puta, pois não ensinou porra nenhuma, é isto!

Fique na sua que eu sigo o meu caminho!

Lembra da Lilith? Lilith foi feita do mesmo barro que você fez Adão. Mas Lilith cansou-
se de sempre ficar por baixo, fudendo com Adão durante os atos sexuais, como os
cães e todos os animais, e ela foi se queixar com Você:

“Fomos criados iguais e devemos fazê-lo em posições iguais”.

Cansada de que você não atendesse às suas reivindicações, ela foi embora do
Paraíso, aliando-se com os Inimigos do Eterno. Além de ser traidora do adãozinho ela
foi se aliar aos Anjos Caídos. Você não engoliu esta até hoje não é?

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Escapei de seu alcance, a masmorra nunca esteve trancada, a Luz me levou a ver que
minha emancipação passa por cima de você, mesmo que algo me aconteça, saiba
logo, que será fruto das contingências, e não de uma deliberação sua, me mate agora!
Vamos! Me mate agora!...viu? nada aconteceu e não é porque não é minha hora e sim
por que você não pode me eliminar! Mas eu posso me eliminar, eu tenho esta
liberdade, então assim ficamos quites, agradeço pela proteção de minha vida como
criança, claro que você fez isto, me protegeu pelo fato de que eu podia reproduzir e
alimentar a sua corja, mas enfim, agora é tarde!”

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Pegando a Luz

Pego a 380 Freeway até a Sand Hil Road, entramos nesta rodovia uns
quilômetros e logo entramos no campus da Stanford University, pegamos a rua à
direita em direção ao edifício de Física na Rua Pueblo. Hoje vamos encontrar a maior
autoridade mundial, em física de partículas, o gênio Dr. Leonard Susskind. Pelo que
tenho lido sobre ele, ele era encanador aos 19 anos e ficou muito contrariado em uma
palestra de Hawking então decidiu estudar e provar que o Universo era diferente do
que Hawking falava, e o resultado foi que ele provou que Hawking estava errado.
Stephen Hawking afirmava que as informações dentro de um buraco negro eram
perdidas para sempre. Demorou 28 anos para Leonard Susskind formular a sua teoria,
e ele provou que Hawking estava errado. Em seguida ele publicou a sua teoria em seu
livro, The Black Hole War. A Guerra do Buraco Negro é um livro dirigido ao leitor leigo.
A solução para o problema, que concluiu a guerra entre os dois é a do princípio
holográfico, que foi primeiramente proposto, mas somente foi dada uma precisão na
Teoria das Cordas quando interpretada por Susskind.

"Susskind anula Hawking em discussão sobre dilema quântico". Eram as


manchetes daqueles dias. Foi no dia 21 de Janeiro de 2011 que eu vi pela primeira
vez em uma comunidade do BB a coletânea de palestras de Susskind, e de lá para cá
fui lendo o homem.

Susskind é diretor do instituto de física de Stanford, homem simples, com um


humor agradável. Estou com o chato do meu ex namorado, o Agamenon, que também
é professor de física e um dos caras que mais entendem de teoria quântica no Brasil.

Nestes três meses fiquei enfronhada no mundo da física, que eu conhecia bem
pouco, a primeira surpresa é que ele (Leonard Susskind) não quer gravar uma
entrevista, então teremos apenas uma conversa informal. Temos 40 minutos do tempo
do único sujeito em todo o planeta Terra, que pode nos dar algo mais, sobre a Luz.

Entramos na sala e lá estava Susskind sentado, com um bloco de anotações e


um copo de suco sobre a mesa. Era uma mesa redonda, feita de Freixo amarelo, logo
nos apresentamos e ele me pareceu cansado e incomodado. Nós havíamos sido
“indicados” pela Siemens, então ele como um bom pesquisador parece que estava

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claramente ali unicamente para fazer o seu papel, pois nestas grandes empresas
milhões de dólares são investidos em pesquisas na Física. Eu fui apresentada como
“Cientista da Siemens” e o Agamenon, já era seu conhecido à distância.

Trocamos os nossos cartões de visita e Susskind senta-se a mesa, e olha o


relógio. Aquilo mostrava que ele iria cumprir os 40 minutos do encontro e nada mais.
Vendo-o ali na minha frente ele era idêntico aos vídeos, tanto na aparência como no
comportamento e isto me agradava, pois no mundo das ciências puras é assim, as
pessoas são simples.

A conversa começa com um convite feito pelo Agamenon para uma rodada de
palestras no Brasil, e ele não se mostra muito interessado, mas combinam de
programar o evento através das Universidades.

Meu bloco de anotações foi cuidadosamente ordenado, e a primeira questão


era se o Bóson de Higgs existisse mudaria alguma coisa no desenvolvimento de seu
trabalho sobre multiuniversos. Ele diz mais ou menos isto:

“Que a teoria da cosmologia inflacionária teria diluído os grávitons primordiais


quando o Universo se estendia. As temperaturas associadas com a inflação
estão muito abaixo da escala de Planck, então não há nenhum mecanismo
para reabastece-los significativamente. Em outras palavras, a inflação coloca
um limite prático sobre a densidade de energia no início do universo que é
susceptível de ser muitas ordens de grandeza menor do que a escala de
Planck.”

E aí lhe digo:

- Eu estou contente que você salvou o mundo ao vencer a tal guerra do Buraco Negro.

Ele não se sente nem um pouco lisonjeado.

Passo para Susskind a ideia do BB sobre um Universo elástico, sobre o campo


de Energia Ponto Zero que é extremamente sutil. Isso praticamente lhe desperta a
atenção. Explico a interpretação das interações cósmicas feitas pelos hindus como em
frequente expansão e retração, como Tan e como Tra. E que o resultado seria uma
projeção, de um ponto zero, chamado de Nada, simbolizado por um ponto. E ainda

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falo que a “respiração” deste ponto, é o que era tomada pelos hindus como um som
básico, falo sobre o OM etc.

Ele praticamente acordou ali neste momento, e contei sobre o conceito de uma
luz que produzia este movimento básico, produzindo no homem os estados de vigília,
sonho e sono, nas suas três fases.

Agamenon praticamente se encolheu na cadeira, temendo a reação de


Susskind, mas ele começou a anotar no seu bloco, e pediu alguma referência
histórica, citei os textos, e ele pergunta se estas ideias do BB estavam em algum livro
acadêmico. Então lhe dou o endereço do blog e o e mail do mestre.

Papo maravilhoso, por quase duas horas. Além de um Gênio da física ele era
conhecedor do pensamento esotérico e logo falávamos da escola de Bohr, Bohr que
encontrou na filosofia chinesa do Yin-Yang uma expressão antiga de sua concepção
filosófica, tanto que colocou o tradicional símbolo do Yin-Yang no centro do brasão
que desenhou quando foi agraciado com a Ordem do Elefante da Dinamarca. O lema
do brasão é Contraria Sunt Complementa, Os Contrários são Complementares.

Einstein exclamou que “Deus não joga dados”, criticando o princípio de


incerteza, ao que Bohr respondeu: “Você não acha que deveríamos ser cautelosos ao
usamos a linguagem ordinária para atribuir propriedades a Deus?”

No final do encontro uma ideia se formava em minha mente, a de que o


Demiurgo jogava um jogo que estávamos descobrindo, cada nova etapa da física
como da química e da biologia eram a revelação deste mecanismo natural. Mas a luz,
ela também fazia parte disto, mas havia escapado, desempenhava um papel às vezes
estranho, e na medida em que iam sendo descobertas as leis da matéria, as
contradições surgiam!

Ali tive a sensação de estar à frente de algo que jamais terminaria, em um


processo de expansão e logo uma volta a Luz original!

Susskind então nos diz que será preciso que muitos físicos se reciclem, que há
uma imensa resistência no âmbito dela, para estas novas ideias. Mas foi enfático e até
irônico ao dizer que não se trata de nenhum mistério a La Capra, mas de um modo
diferente de ser e estar no mundo, e que todo empenho dele hoje era na formação de

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pessoas habituadas a pensar na física, com esta perspectiva, mas sem bagunçar o
que foi feito até hoje, pois tudo era uma interpretação em um sentido que não podia
ser perdido. Ele diz que foi este o motivo dele ser físico, provar que as leis básicas são
fundamentos e não joguetes de interesses imediatos.

Despedimos-nos, e a minha sensação era agora de grande segurança, as


minhas incertezas estavam certas, eu não estava enganada, nem havia sido
enganada por BB. O meu próprio acelerador como milhões de Kilômetros me dava um
relato fiel e muito próximo do que a física buscava estudar e fundamentar como lei.

Agamenon segurava o cartãozinho de visitas de Susskind na mão, e estava


longe, processando com sua mente o encontro com o Deus da Teoria das Cordas.
Paramos em um local para almoçar e ele começa dizendo que estava impressionado
com a singeleza e por isto, a segurança de Susskind, e que era difícil ser simples.

Ser simples no meio da Física é um sinal de genialidade. E aí Agamenon


começa a me perguntar sobre a meditação, e o que houve na minha relação com o
BB.

Senti uma ironia na sua colocação, pensei em argumentar, mas homem é foda,
uma vez que se sinta inferiorizado por outro macho, se corrói e sempre lança uma
farpa ali e outra lá. Não dá para ter um papo altruísta com alguém que se sinta
ultrajado, e sem motivos, pois jamais fiz acordo nenhum com ele. Susskind o havia
posto no chão, e o cara em vez de aproveitar, ficou naquela Bad Trip de físico
ultrapassado e abaixo dele.

Como aquilo me irritou! Pela dimensão limitada e emotiva dele, insinuando algo
relativo a sexo ou sei lá o que, e me dei por conta que deveria começar a pôr em
prática ali mesmo o fim de um relacionamento que já durava uns 17 anos. Aquela
mente brilhante da Física no Brasil não passava de mais um ditadorzinho querendo
manter sua reserva de atenção e sexo.

Então lancei uma isca, disse que o meu relacionamento com o BB não era
deste mundo, que havia sido o encontro do meu gozo perdido, pois para Agamenon,
gozo era sexo e ponto final! A sua tez pálida ficou vermelha.

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Aqui e ali eu ouvia insinuações, e sempre relevei, entendia como uma
provocação, um ciúmes infantil, mesmo que nossa relação tivesse se esgotado há
muitos anos atrás, ele ainda agia como se tivesse algum poder sobre mim. Dois
amigos de anos e anos, e ali em um restaurante numa estrada da Califórnia eu senti o
estranhamento por ele, estava terminado, nem como um amigo eu o queria mais!
Como se algo fosse rasgado, eu vi pela primeira vez, o meu ex amigo. Foi horrível! Ver
seu poder sobre mim se revelar como uma birra e contra uma pessoa que nem estava
aí para mim... Ele se tornou ridículo. A pessoa quando se torna ridícula, então as suas
máscaras caem para nós!

Mas podia piorar e piorou, quando ele disse que eu idolatrava o BB, por um
momento eu me calei e pensei bem no que iria dizer, podia lhe dizer que sim ou que
não e tal...ele tinha me dado o poder de decisão, mas juro que por amor a ele, pela
nossa amizade e para manter um clima de cordialidade nos dois dias que ele ainda
estaria na minha casa, eu decidi ser uma idiota, passar por idiota era a forma correta
de lidar com a situação.

Não me contive e disse que gostava das ideias de BB, que eram originais, e
representavam muito bem os acontecimentos e ainda que ele estava criando uma
linguagem nova sobre a espiritualidade, uma nova maneira de ver a vida, e lidar com o
fenômeno.

Quando eu disse fenômeno, e foi de propósito, pois ele odiava este termo,
odiava porque desconhecia completamente, o que era, Agamenon era um materialista,
bobo, infantil, apesar de conhecedor de Física Quântica, era um sujeito limitado.

Então ele repete o que sempre coloca nestas horas de aperto, ele diz:

- Fenômeno, que fenômeno é este?

Sabe quando você já conversou sobre uma coisa com uma pessoa, varias
vezes e ele volta a perguntar só mesmo para te chatear? Então fui grossa e disparei
meu Tomahok:

Cliquei no gravador que estava no bolso da jaqueta:

- O mesmo fenômeno que já te expliquei umas 50 vezes, aquele mesmo!

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- Há sim..., mas...

Então interrompi lhe dizendo:

- Foda-se se você entendeu ou não! Foda-se!

- Estou te irritando tanto assim?

- Não, você está, ou é, ou sente-se inferiorizado, pelo BB que nem conhece, e agora
pelo Susskind, você sempre reage assim nestes momentos em que você não é centro
de atenção, só é feliz quando dá aulas, quando está no comando de suas turmas,
fazendo as mesmas piadas sem graça. Muitas pessoas se tornam assim, qualquer
coisa que abale sua zona de conforto é motivo de deboche. Mas eu não sou a sua
analista, então termino por aqui a nossa conversa.

- Você sempre quer terminar com a razão, eis aí! Disse ele.

- Agamenon, nós não gostamos das mesmas coisas, nós não compartilhamos das
mesmas ideias, nós não temos os mesmos sonhos, eu nem mesmo lhe convidei para
vir para cá, mas você veio como o meu amigo e agora vai embora como uma pessoa
comum. Eu paguei a sua passagem de vinda e de volta pelo fato de saber de suas
limitações com relação a grana, foi um gesto de prazer para mim, quando você disse
no telefone que daria tudo para conversar com o Susskind. Agora aproveite, esteja
aqui nem que seja para melhorar o seu Inglês.

- Viu só como você é de verdade? Uma...

- Chega Agamenon, pode parar por aí!

Bom, o que fiz para tornar suportável a nossa companhia naquele momento foi
jogar a azeitona do meu prato nele, apenas isto!

E aí ele deu um sorrisozinho. Eu brinquei com a situação, mas havia decidido,


Agamenon estava fora da minha já bem curta lista, de amigos. Quando chegamos à
minha casa ele se encaminhou para o quarto de visitas, e eu rumei direto para o
porão, mal sabia que jamais veria o Agamenon na minha vida novamente.

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Lá pelas 19 horas vejo meus pais chegando, ouço uma algazarra, e subo para
jantar com eles e com Agamenon, peço a Irene para chamá-lo no quarto de visitas, ela
se vira e diz que ele se picou no mundo! Sinto um alívio inexplicável, ele havia ido
embora.

Nunca mais o vi e nem conversamos mais. Eu pensava na teoria


compensatória de Bohr, um dia maravilhoso que terminava assim.

Meus pais logo pararam com o alvoroço deles, e minha mãe fez um gesto
típico com as mãos com se perguntasse o que tinha acontecido. O que eu disse:

- Ele que se foda!

Na confusão da retirada do Agamenon, ouço um miado, ouço novamente, e


vem da sala na porta da frente, chegando lá vejo uma gaiola de transporte de animais
e dentro dela estava o Raj, o meu gato!

Pego a gaiola e desço ao porão com meu pai e minha mãe atrás de mim,
entramos, fecho a porta blindada e abro a gaiola.

- Raj, era ele mesmo! O meu gatinho lindo, que tinha sumido dois dias antes de eu
embarcar para os EUA!

Não acreditava que ele estava ali na minha frente e vivo! Abro a gaiola e ele sai
e se esfrega em mim, fazendo aquele troço com o rabo, tremendo o rabo! Que alegria!
Que alegria! Ele é um pelo curto brasileiro, destes todo rajado com rajas pretas em
todo o corpo cinza, um cinza com um tom esverdeado.

Ele logo faz o reconhecimento do lugar, eu sonhava que um dia teria um gato
para morar naquele lugar, já havia dado o Raj como morto. Logo ele sobe na bancada
e dali sobre para as prateleiras iguais as de um ônibus que rodeiam toda sala do
abrigo, meu coração estava feliz, eu estava muito feliz!

Esta era a surpresa dos meus pais, pois quando mudei para cá, ele sumiu dois
dias antes da minha viagem,o meu vizinho, o senhor, o tal que era General do Exército
disse que eu não me preocupasse, que ele cuidaria do Raj. Mas viajei com a sensação

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de que ele estivesse morto. Então quando ele apareceu por lá, o General Vasconcelos
fez contato com meu pai, tentou muitas vezes, até que uma conhecida em comum
disse ao meu pai que o General tinha encontrado o Raj. Mas como não havia mais
tempo, combinaram de enviar o Raj, para a casa do filho dele em São Francisco, e
eles tinham ido lá buscá-lo, era uma surpresa para mim.

O dia tinha sido semeado de surpresas, desagradáveis e agradáveis, e eu


precisava agora processar tudo.

Minha mãe logo percebeu que o Agamenon já fazia parte da coleção de


homens que não deram conta de uma relação comigo. No jantar ela não se conteve e
disparou, largando os talheres, batendo as mãos e dizendo mais ou menos isto:

- Você se livrou do filho da puta, não era mau sujeito, mas agora eu posso lhe
dizer uma coisa amandinha, eu tenho um dom que é de ver pessoas que são
invejosas, e ele tinha inveja de você em tudo, não ia dar certo, tem gente assim
mesmo, chega a me dar arrepios.

O que respondi foi mais ou menos isto:

- Mãe, eu não acredito nisso, e ele nem era mais meu namorado há anos, eu o tinha
como um amigo, mas agora nem isto mais ele é.

Mas ai ocorreu algo estranho eu sonhei duas noites o mesmo sonho, eu


chegava perto do Agamenon pelas suas costas e levava a minha mão, sobretudo sem
tocá-lo, e ele caia em um abismo, duas noites seguidas o mesmo sonho ocorreu, era
exatamente a mesma coisa, faltava um palmo para eu tocá-lo e ele caia no abismo.
Jamais um sonho tinha se repetido comigo, sendo exatamente da mesma forma, e em
duas noites consecutivas.

Um mês depois soube da morte do Agamenon, ele estava em uma festa com
amigos dele na barra da tijuca, um bairro do Rio, e de repente, no meio da festa ele se
jogou do prédio com 14 andares, caiu sobre um táxi estacionado e o taxista que
dormia dentro do carro, ficou paraplégico.

Não chorei, somente lamentei o seu ato. Mas eu o compreendia, sim eu o


compreendia.

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Pois é meu diário, as mandíbulas de puro aço de Deus destroçaram o
Agamenon, e fizeram picadinho dele, não o critico pelo seu ato insano, não é fácil, o
sistema é bruto e não poupa ninguém. E os idiotas ainda rezam para Deus, mas mal
sabem que o que ele quer é o seu sangue derramado. Segundo a N.O.M., a Nova
Ordem Mundial, a metade da raça humana será sacrificada, pois os rebeldes
inventaram de tudo para escapar, e se reproduzem como moscas, pondo em risco o
equilíbrio do próprio planeta. Começo a acreditar em Ufos e nas teorias da
Conspiração, a luta entre a Luz e Deus começou, e nem uma Tsunami, ou uma guerra
sangrenta fará a menor diferença na contabilidade geral, então quem conhece a
verdade precisa tramar contra Deus, para sobreviver! Temos que parar a reprodução,
temos que nos tornar humanos!

Para mim era muito fácil escrever assim, dentro de meu abrigo Nuclear, mas os
escravos do sistema não podem dar-se ao luxo nem de pensar um pouco sobre isto,
eles precisam trabalhar para manter a coisa funcionando. A roda precisa continuar
moendo carne humana todos os dias! Bois, vacas, porcos e aves precisam ser criados
para serem abatidos para sustentar Deus e sua sanha voraz.

Almas perturbadas precisam subir e esperar um lugar na fila para voltarem ao


milagre de animarem algum corpo. Deus os põe no mundo e os escraviza na máquina
da Matrix.

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A “tal” de Biunivocidade, enfim um Princípio de alguma coisa.

A complementaridade de Bohr, a elasticidade de Susskind, o Big Bang eram ideias que


quando tomadas por quem não as conhece, produz mais deformação que a revelação de algo.
Convenci-me de que o Tantra era realmente secreto na Índia antiga, um conhecimento para
Reis e Governantes, sábios e pensadores, estava tão mesclado com outras histórias que era
impossível alguém conseguir ver ali algum principio. As pessoas não sabem o que é um
principio e nem um fundamento.

Vendo o símbolo do Tao, em que Yin e Yang se completam e logo se mutan para uma
nova etapa de complementaridade infinita, num eterno jogo, então comecei a pesquisar como
tal ideia não existia na Índia antiga, e na verdade existia como Tan e Tra, mas era um segredo
de apenas uma escola. Todo o hinduísmo simplesmente ignora que a serpente de luz,
Kundaliní seja este processo, humano, comum. Este conhecimento esteve restrito a um grupo
especifico em uma região específica da Índia medieval. Levado a China e ao Tibet, como
sendo a ciência da realidade, assim o Tantra se espalhou pela Ásia.

Porém lendo alguns artigos do BB, vi lá que a tal da dualidade, só é aparentemente


dual, na verdade ela é tripla para os hindus, pois a luz é contada como uma terceira instancia,
não é o jogo simples de Yin e Yang. Algo precisa levar e trazer alguma coisa, não se trata de
um esgotamento de um lado para que o outro surja, não, este automatismo pertence a
Natureza e não ao homem.. Este algo é a Luz! Na natureza ela tem seu papel fotônico, mas no
homem, esta obra está encerrada, já chegamos onde deveríamos chegar, então o Tantra não é
para quem ainda vive na ilusão de uma evolução.

A vontade, Icchá; o conhecimento, Jñana e a ação, Kriya colocam em movimento a


máquina de Tattvas, como inércia, movimento e o retorno, conhecidas com Tamas Tattwa,
Rajas Tattwa e Sattva Tattwa. Ou seja, o primeiro movimento do Universo resultou em um
produto, e logo e uma volta ao ponto de origem, como uma inércia. Porém o trabalho deste
primeiro triângulo prosseguiu e prossegue infinitamente, pois uma primeira energia produz
algum trabalho. O interessante neste processo dialético é que a volta ao estado de repouso,
inercial, somente se dá, quando Sattva produz outra força denominada de Rajas, e este atinge
a inércia final, como um produto, o mais importante neste esquema é que Tamas não pode ser
o fim, não pode ser Sattva, e daí surge um novo ciclo em um novo triângulo de forças, temos
então a representação nas três nestas figuras de propriedade e autoria do BB:

89
1 2

Em um instante a teia tomou todo o Universo, assim está no Tantra Sutras do BB. O
Tantra levado para a China no século VII antes de Cristo, lá foi adotado como Tao, mas o
nome original estava no corpo do Tattva Samasah, texto atribuído a Kapila. Ele se chamava de
Samkhya séculos antes de Cristo, Samkhya era Tantra, não havia dúvida sobre isto.

Um primeiro “anjo” escapou da teia, pois o primeiro momento é Sattva, é produto


idêntico ou ideem como diz o BB, igual ao Espírito original, este primeiro foi Lúcifer, igual ao
espírito, mas é uma segunda emanação cósmica, esta identidade cósmica é que é Kundaliní, e
agora eu entendo a palavra usada por BB como espelhamento original, e Ideen.

No seu blog ele coloca uma associação com os estados, Jagrat, Svapna e Susputi:

“O Jiva ou a Alma parecem ser uma cópia da suprema consciência que parece sofrer
três estados de ser: a vigília, o sonho e sono profundo. Estar acordado é a condição
em que a consciência está associada a objetos externos tendo uma existência
pragmática para a Alma. Então se diz que é Jiva de uma Alma quem sofre experiências
de Ser. Mas ele não sabe o que ela, a Alma, é.

As experiências do indivíduo na vigília são possíveis através da operação das


competências de vários agentes que formam o corpo subtil. O auditivo, o tátil, o visual,
o paladar e os sentidos olfativos, o vocal, o preênsil, o locomotor, o gerador e os
órgãos excretores, os cinco respirações vitais, denominados, respectivamente, o Prána

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ou a energia central, Apana ou o curso de energia para baixo, Vyana ou a energia
circulante, Udana a energia que nos expande e Samana a energia de igualdade final ou
empate. São os quatro locais do “órgão” psicológico, o pensamento, o intelecto, e o ego
(Eu) é tudo isto junto que nos dá uma experiência individual. O Prána regula a
absorção de substâncias; o Apana regula sua digestão; o Vyana a circulação, e o
Udana a liberação da energia positiva dessas substâncias, também é o Apana que
promove a eliminação dos resíduos.

A característica distintiva da consciência de vigília é a de que os seus conteúdos são


objetos físicos. Os princípios são os meios do gozo dos objetos, bem como o
sofrimento da vida mortal. O Jagrat ou o estado de vigília é o último na evolução do
universo, mas o primeiro na ordem de retorno a origem. O sonho e os estados de sono
profundo seguem-se a vigília. A vigília é chamada de o primeiro com referência à
experiência, mas não com referência ao fim da evolução ou criação, pois o primeiro
estado da criação foi o sonho. Isso é a vigília e por isto ela é chamada de o primeiro,
por que todos os outros estados são abordados por este, e por que a partir dele o
estado de sonho e o estado de sono profundo são conhecidos.

A partir de um estudo do estado de vigília se terá que proceder ao estudo do sonho e


sono profundo. Quando começamos a analisar o Universo por causa da realização pela
ideentidade original, teremos que lidar com o estado de vigília em primeiro lugar, e ir
compreendendo a natureza dos objetos concretos no começo. É então que podemos
gradualmente compreender o sutil, como o causal da natureza das coisas, por uma
linguagem.

Svapna é o Sonho, é o segundo plano, onde o Jiva, onde ele está consciente de
objetos internos e age por meio de semelhantes meios que aprendeu na vigília, mas
agora se trata de conhecimento e ação. Os objetos da consciência sonhando são sutis
em comparação com os do estado de vigília. A mente em sonho cria vários objetos que
excedem os das impressões produzidas nas experiências de vigília. A mente pode
reproduzir toda a sua vida de vigília. No mundo dos sonhos a mente é o observador,
bem como a percepção ao mesmo tempo. Ele, o sonho, cria objetos sem a ajuda de
todos os meios externos, mas baseados neles. Aqui, os sentidos externos estão em
repouso, há apenas uma manifestação do conhecedor e do conhecido em afinidade
com as coisas que se gozam na condição de vigília. As suas ações normais cessaram
e a Alma se move no meio das vibrações, sutis, perto da garganta, no mesmo local
onde as consoantes dão vida as vogais, e iluminam por seu brilho a heterogeneidade
do mundo do sonho. Os fenômenos dos sonhos nada mais são que os estados da
mente, e do pensamento, sozinhos, embora a Alma considere a exterioridade de
experiência como real. O mundo dos sonhos é objetivo, mas apenas para o sonhador.

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Depois vem o estado de sono profundo em que a Alma não deseja qualquer objeto,
nem vê qualquer sonho. Este terceiro estado do Jiva é chamado Prajna, cuja esfera é a
ignorância completa sobre a natureza do Espírito, em que todas as experiências se
tornam uma só e a mesma experiência, e que por isto, goza de bem-aventurança e
fornece uma chave contínua para o conhecimento dos outros dois estados. O Som e
outros objetos dos sentidos não são sentidos aqui devido à cessação da mente.
Mesmo o Eu está aqui em repouso. Há apenas o véu da ignorância de quem se é. Uma
análise do sono sem sonhos nos conduz ao reconhecimento da existência do Espírito
em todos os três estados. A lembrança do sono, quando se retorna para o estado de
vigília, indica que o testemunho dos três estados é um deles. Este testemunho é
idêntico ao Espírito.

Quando a mente está em um estado de quietude, devido à ausência do desejo e das


suas atividades, ela é desfeita no sono por Kundaliní, em uma condição inconsciente,
de ausência de toda a dor e por um gozo de proximidade inconsciente com o Ishvara.
Como o estado de sono é a condição causal da vida empírica, e traz o conhecimento
das sementes de experiência escondidas nele, conhecer seus sonhos lança uma luz
imensa em toda a vida do indivíduo, cujos personagens ou signos ficam
temporariamente dissolvidos no corpo de sonhos.

A Alma Universal que animou a primeira alma, se chama de Ishvara, o criador de si


mesmo. Em certo sentido, o estado de vigília do Jiva, da Alma, forma uma ligação entre
ele e as manifestações do Ishvara como sonhos e como identidade igual, como sono.
Assim o estado de vigília é estar no seu melhor estado, como uma Alma viva e
presente no mundo, mas limitada pela linguagem, tanto na noção de si mesmo como
na comunicação com os demais.

Quem faz este processo se refazer infinitamente, é Kundaliní, que ao se deslocar


produz o sonho, produz a visão e a sensação do mundo sem o corpo, e também
produz o gozo de ser da Alma como Espírito, como o próprio Ishvara. Pensar e sonhar
são a vigília e o sonho, cuja diferença se dá apenas no corpo estando ele em repouso
ou não.

Então não imagine que Kundaliní seja uma energia, não é, ela é aquilo que cria o
mundo das formas pela nomeação das coisas, pela construção e desconstrução do
Signo, até que possamos dar nomes definitivos a coisas, este processo se dá em um ir
e vir, como Tantra. Nós só falamos porque os signos, mesmo tendo o mesmo nome,
são diferentes para nós, pois senão não precisaríamos falar. Ou seja, somos seres
acabados e mesmo assim temos que criar uma linguagem comum, esta é a nossa
tarefa, já evoluímos, agora precisamos acordar como criadores de nós mesmos.”

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Com este texto autoexplicativo, eu coloco aqui um outro texto sobre Kundaliní

Texto de BB sobre Kundaliní como representação dimensional:

“A luz é a radiação de pequenos pacotes de luz chamados de Fótons e eles viajam a


300 mil Quilômetros por segundo. Assim nós vemos os objetos por que a luz refletida
neles chega aos nossos olhos. A luz do Sol é o produto do Plasma solar, da energia
passando por um gás. Mas a luz não se restringe ao que vemos, na verdade na
matéria toda ela revela tudo na matéria e não somente o que vemos. Primeiro se
achava que a luz fossem corpúsculos, depois se descobre que são pacotes de luz, que
se comportam de forma estranha, quando um fóton de luz colide com um elétron,
ambos comportam-se como corpos materiais. Então a luz faz uma ligação entre as
partículas em uma velocidade em que não há tempo, logo uma partícula “sabe” da
outra, o tempo todo, pela luz. As partículas quando mudam de lugar emitem luz,
energia radiante que é o que vemos e chamamos de Luz. O Universo é a loucura de
UM Pixel feliz.

Então basicamente a luz se comporta produzindo um comportamento duplo, ora onda,


ora partícula. Como partícula o tempo não existe, como onda o tempo existe, e vemos
a luz sempre como onda, ela passa e ilumina a face exposta produzindo uma sombra
com o aspecto da figura abaixo, nesta figura a luz passa através de duas fendas e
depois atinge o fundo produzindo a sombra característica, vários feixes de luz a partir
do centro, até as duas bordas laterais, as franjas. Este experimento simples se chama
dupla fenda.

A luz passa pelas duas aberturas e produz um padrão como se fosse a onda do mar
passando por duas frestas, desta forma a parte mais clara recebe mais luz e as laterais
menos luz, produzindo um padrão conforme a figura (e)

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Tudo bem é assim mesmo que ocorre quando uma luz passa por uma fenda dupla,
cada partícula de Luz forma a imagem com o padrão de uma onda no fundo. Sabendo-
se que ondas se anulam entre si produzindo um padrão de interferência, com o da
figura acima, a Hitachi construiu um gerador de partículas que lançava uma partícula
por vez, pois assim não haveria a interferência entre elas.

A Hitachi através do Dr. Akira Tonomura, testou este equipamento que pode emitir uma
partícula por vez, e emitiu elétrons através de uma dupla fenda um por vez e não
bilhões como em uma luz, o resultado foi que como na figura (a), depois (b), depois (c)
e finalmente (d). Os elétrons mesmo emitidos um por vez, em velocidades próximas da
luz, tal que uma única partícula poderia dar 4 voltas na terra e depois atingir o alvo,
eles se comportavam como partícula até as fendas, depois se comportavam como se
fosse uma onda. Produzindo o mesmo padrão como onda de luz, revelando que há um
duplo comportamento, partícula-onda. Ondas produzem o padrão de onda, pois as
partículas emitidas ao mesmo tempo colidem umas com as outras gerando um padrão
de interferência como na figura (e), então mesmo que elas sejam enviadas uma por
vez, elas “colidem” como se outras, ou ela mesma (é isto mesmo!) estivesse lá ao
mesmo tempo!

Na figura (a) poucas partículas atingem o fundo, em (b) mais partículas atingem o
fundo e em (c) já surge um padrão de ondas, quando deveríamos ver apenas duas

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faixas como na figura abaixo, pois as partículas passariam e outras colidiriam com o
anteparo. A luz que vemos sempre se comporta como onda, mas a mesma luz quando
não a vemos, ela se comporta como partícula! Como partícula ela existe na quarta
dimensão, quinta, sexta, sétima oitava, nona e décima dimensão. No nosso tempo
medido em segundos, a mesma partícula poderia ter feito o padrão da figura, sozinha!
Ela pode sair passar pela fenda dar três voltas na terra, ou seja, passar quantas vezes
quiser pelas fendas e depois atingir o fundo e o que temos é o padrão das figuras (d, e)

O que aconteceu? Nosso cérebro nem é capaz de processar direito o ocorrido, e é


assim que se comporta a matéria dentro de nós, e em tudo. Partículas agindo sem
tempo, ou melhor, em um tempo espaço de 300 mil Km por segundo, fazendo seu
trabalho dentro do átomo, e até em moléculas, e nós com nossa visão vemos a luz
iluminando as coisas por um padrão completamente diferente daquele na matéria.

Se fossemos representar as dez dimensões em um corpo ela seria o Calbi yau abaixo:

Dadas estas explicações básicas, então voltemos ao conceito de Kundaliní e


imaginemos agora como iremos representar que dentro do corpo existem as 7
dimensões internas da matéria, pois três delas, são o nosso corpo manifestado, pela

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altura, largura e profundidade, mas tudo, toda a matéria do Universo tem as outras sete
dimensões que nós não vemos. Então existem 10 dimensões espaciais e uma
dimensão de tempo. Lembremos que para o Tantra nós somos seres prontos, já
evoluídos, concluídos, então Kundaliní já fez o seu trabalho e agora “dorme”.

Como mostrar em um signo, em um desenho, isto? Foi este o desafio dos antigos
mestres do Tantra, como simbolizar isto tudo ao mesmo tempo?

Para termos uma vaga ideia de um começo desta simbolização nós teríamos que
conseguir passar das três dimensões para uma quarta dimensão, e para isto a matéria
teria que se dobrar sobre ela mesma em meia volta como em uma banda de Moebius:

Então uma meia volta na matéria significa uma dimensão a mais, pois se cria um
circuito infinito no espaço para a partícula, pois ela está tanto no lado da terceira
dimensão como também percorre o lado de dentro da fita em um circuito infinito, e
assim se a partir do comprimento desta fita eu dobrar outra vez, tenho a quinta
dimensão e assim sucessivamente até a 10 dimensão. Cada dobra destas é uma
meia volta na matéria, e são precisos 3,5 voltas para eu ter as 7 dimensões que
faltam.

Colocando em um plano bidimensional, em duas dimensões, teremos uma figura


parecida com a figura abaixo com 3,5 voltas em torno do eixo:

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Então por todos estes motivos Kundaliní é representada dando 3,5 voltas em torno de
seu eixo, como está nos textos de Tantra medievais. Este eixo foi chamado de sinal, ou
marca da presença do Espírito em um corpo e por isto é chamado de Linga”

O que temos no texto acima e colocado por mim neste livro é uma apresentação
magnífica sobre a continuidade dada pelo BB como sendo um processo bi unívoco, ou seja, a
expansão ou Tan se dá até uma retração, que também é conhecida como libertação ou Tra.
Mas vocês podem pensar que tenha sido fácil o fato de eu mesma ter arrumado os textos de
forma a clarear as informações cedidas, mas não foi, pois isto exigia que eu tivesse um
comprometimento na prática, aliada ao estudo dos textos do BB e a checagem tanto no campo
das ciências, como no Tantra medieval Hindu. O que me levou a entender definitivamente o
Tantra como sendo Kundaliní um meio de resgatar diariamente a nossa iluminação perdida
pelo uso do Ishvara.

Tantra é continuidade dentro do aspecto Espiritual, Psíquico e Físico, está claro que o
que nos foi dado foi a oportunidade de conhecer a nós mesmo, o tal de si mesmo, e é uma
oportunidade única, não há outra, nem haverá outra, pois a Alma e tudo o que ela fez é
destruído pela força de Kundaliní, uma vez sem o corpo. Todo novo dia é uma nova
oportunidade de trilhar o caminho da iluminação mística. De se aproximar de si mesmo. Os
mecanismos do corpo são automáticos, como são as leis da física e da química, mas isto não é
emancipação, emancipar-se é justamente conhecer o processo que nos mantém, para então
ser além dele, que é o que somos.

Não me peçam explicações sobre como é isto, só sei dizer que se dá pelo começo,
pelo fenômeno despertado em nós de forma consciente, em que assistimos acontecer com nós
ao invés do sono profundo e a volta a uma vigília inconsciente.

Tudo isto é proveitoso, mas ainda faltava algo sobre o Tantra que pudesse ser aplicado
na minha vida de forma natural, diária, como um modo de viver, como uma filosofia de minha
vida. Não posso deixar de citar aqui o uso da espacialidade, Vastu, onde o Ser constrói seu

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espaço em torno de si, de forma a receber o reflexo de si mesmo. É uma das modalidades de
se ter consciência.

E então fui encontrar esta preciosidade no meio de centenas de textos produzidos pelo
BB:

A iluminação Mística do Tan e do Tra

“O Tantra trata da libertação pelo processo de meditar, meditar é o conhecer e o se


desapegar, deve ter-se o entendimento e a sabedoria, que significa o conhecimento e o
desfazimento, conhecer é se condicionar a algo, algum objeto, então a cultura, o
conhecimento, é o condicionamento por um lado e pelo outro o descondicionamento, o
desapego, ou seja o desfazimento. Há uma expansão no conhecer e logo uma
libertação, Tan e Tra. Por este motivo o Cakra de comando é o Ajña, ele comanda este
processo, Pralaya e Laya, construção e dissolução, ou na linguagem um Viloma e
Anuloma.”

Verso 52 do SatCakraNirupana

“O yogui sábio e excelente arrebatado em êxatase e consagrado aos pés de


loto do seu Guru, deverá conduzir Kundaliní junto com sua alma até o senhor
dela (Íshvara como Shiva) na morada de libertação dentro do Lótus puro e
meditar sobre ela, que concede todos os desejos como a consciência em todos
os corpos. Quando o Yogui conduz desta forma a Kundaliní, deverá fazer com
que todas as coisas se absorvam nela.”

(Continua)
“No verso 52 do SCN (SatCakraNirupana) o texto trata da ativação desta força, e a
dissolução de tudo nela, então diz que se dá o Samadhi, o êxtase, e que o yogui deve
conduzir Kundaliní junto com sua Alma até o local da libertação dentro do lótus da
cabeça e deve meditar na deusa luz como a consciência em todos os corpos e deverá
fazer com todas as coisas se absorvam nela, Laya.

O que isto significa? Que Kundaliní é o único meio pelo qual percebemos o mundo,
seja ele material ou psiquico, e que a libertação se dá quando o Tântrico sabe disse,
tem plena convicção disso, não por crença, mas por erudição, por um discurso e assim
na meditação tudo é desfeito, se dissolve nela, e isto se dá na subida do processo,
antes do Cakra Ajna, no Vishudha, aí onde surgem as vogais na linguagem e tudo é

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dissolvido, ou seja o Cakra ou lótus que contém tudo anterior ao Ajña, se dissolve nele
entre o Ha e o Ksa.

Cakras não são dimensões fixas, são dinâmicas, estão em uma linha ao longo do
Brahma Dvara ou caminho da libertação, ou a via cósmica dentro de nós, e um vem do
outro, uma dimensão sai da outra, assim a Iluminação mística se dá na dissolução
daquilo que foi construído, Tra, e o que foi construído ou conhecido é Tan. Logo o
sentido secreto é que nenhuma Kundaliní subiu pela coluna e nem atravessou Cakra
algum esta é uma ideia equivocada, mas pode ser sentida assim. Os Cakras são as
dimensões, as sete que nós não vemos, uma dentro da outra, representadas como
letras, como um alfabeto, capaz de produzir uma cultura, um mundo, capaz de produzir
a imaginação, a vida e a morte.

Na meditação tudo que foi despertado pela Kundaliní, ou seja, tudo que foi percebido
no seu dia de vigília deve ser dissolvido, para que ela volte a ser Kundaliní novamente
lá no Cakra Muladhara. O sonho já é uma meditação feita de forma inconsciente, e
sono já é o estado de êxtase da iluminação mística, mas sem a consciência de si.
Então o processo já existe, todos fazem isto, todos os dias, e não poderia ser diferente.
Nenhum Guru lhe dá o poder de fazer isto, isto é equivocado, o Guru lhe esclarece que
isto já é e-vidente, então já imaginou o poder do guru? Ele lhe devolve a si mesmo, não
lhe leva a mais problemas e alucinações.

Quando somos tomados por um insight, temos um Tan, um SamPrajnataSamadhi, que


envolve em reconhecer um objeto, conhecendo profundamente a sua natureza e, em
seguida, tornando-se um com ele, se identificando com ele. Em outros termos é um
conhecimento Integral, o conhecimento do objeto realizado por Kundaliní, a sua
dimensão conheceu algo que é seu em alguém ou em algum objeto.

O AsamPrajnataSamadhi, ou Laya, ou Tra, a libertação, ela se refere a um estado em


que todos os objetivos e cognições são transcendidos, e o Tântrico se identificou com o
próprio objeto supremo, o si mesmo, aquilo que foi incorporado, já é seu pelo poder de
origem e não pela forma ou nome.

Desta forma, uma iniciação, Diksha, pode ser dada como um meio do adepto meditar
até o Samadhi quando o iniciador passa para o adepto o seu Diksha Mantra, em uma
meditação de terceiro grau ou Sukshma. Nesta categoria há o AsamPrajnataSamadhi
quando Kundaliní chega ao Sahasrara Chakra, no topo da cabeça. Em uma meditação
comum, mas correta, o objeto é identificado pela Alma, Gozado e depois dissolvido
naturalmente.

99
Mas novos SamPrajnataSamadhi surgem, pois novos objetos são colocados como
meio do si mesmo ser ele mesmo através destes objetos, e no AsamPrajnataSamadhi
estes meios são destruídos, e não são mais substituídos, embora as Aksharas
continuem lá. Os objetos podem ser substituídos, em qualquer manifestação, mesmo
que seja grosseira ou sutil, ou nas faculdades do Eu (ego) e na percepção de si.
Segundo a filosofia do Tantra a identificação com um objeto, sutil ou refinado, ainda é
uma identificação com uma projeção de si mesmo. E daí se eu sou atraído por algo que
é uma projeção de mim mesmo? O Tantra não luta, ele reconhece o fenômeno. Todos
nós somos atraídos por objetos que são projeções de nós mesmos, somos um corpo
cósmico, temos que continuar nossa jornada de conectividades, não há limite! Pode-se
concluir que mesmo nas alturas da felicidade e do gozo, continua a semente da
ignorância de sua verdadeira natureza, mas e daí? Kundaliní é a manifestação de tudo,
como corpo material, valor emocional, e espiritual. O que importa é a continuidade da
destruição dos meios em relação a si mesmo, que se revela, continuando.

Para realizar e sustentar a Alma como sua verdadeira identidade, o estado de êxtase
NirBijaSamadhi, AsamPrajnataSamadhi, (Samadhi sem sementes) o Tra, deve ser
atingido repetidas vezes, através da meditação. O esforço final é a graça de ser o si
mesmo como personificação total. O objetivo final não é para gerar uma melhor
Karmam ou Samskaras. A libertação consiste na dissolução. Para se ganhar a sua
verdadeira base em si mesmo, SvaRupaTantra. Como esta essência é a mesma em
todos, isto o adepto precisa experimentar em seu desenvolvimento, pois iremos ficando
parecidos com os demais. As diferenças vão desaparecendo.

A reiterada realização do êxtase de AsamPrajnataSamadhi ou NirBijaSamadhi


estabelece as sementes de Nirodha, os gozos de libertação, que não mais serão feitos
pelo recalque, tipo freudiano, mas pelo Gozo mesmo. Em primeiro lugar se deve
reconhecer o procedimento, conhecer sua Alma, Jiva, e, em seguida, substituir as
Samskaras de identificação por outros em um fluxo continuo e depois os dissolver
imediatamente como gozo e liberdade, Bhukti (gozo) e Mukti (liberdade), isto é o
Tantra.

Você não irá sentar e ativar sua Kundaliní, ela está funcionando, nas dez dimensões,
agora mesmo.

Até os padrões psíquicos e mentais comuns, incluindo subconsciente, forças


motivadoras etc, são dissolvidos neste estado de iluminação mística que é referida na
literatura tantrica por termos como “Unmani”, um ponto onde não há mais o retrocesso,
pelo cessar do pensamento. Essas expressões sugerem uma condição que está além
da mente como lugar de si mesmo. No que diz respeito ao efeito do Tantra sobre a

100
atividade mental como prática em questão, o conceito de “dissolução” é, muito mais
adequado do que alternativas como a destruição, erradicação, transcendência,
negação ou denegação. Este conceito depende do primeiro grau de meditação, ou na
sua clinica, como sua alma. Você quer massacrar sua alma, limitá-la, condicioná-la ou
conduzi-la a liberdade?

Os Vrittis, os condicionamentos construtivos dos componentes da personalidade, são,


portanto, essenciais para a função psicofísica, eles não desaparecem, e sim são
substituídos pela cognição gradual de cada êxtase na iluminação mística por uma
ligação com uma linguagem mais adequada na condição de liberto. Assim, não é
apropriado rotular como “Morte” ou “morto” a parte mais elevada do estado de
Samadhi. Samadhi é a Grande morte que se faz todos os dias. Estes Vrittis são
realmente purificados dos modos dogmáticos, limitados, e dos habituais modos de
resposta automática, o caminho é apagado propositalmente sobre a criação do Ishvara
e a fonte da vontade da Alma. Atingir este estado Supercognitivo repetidamente é em si
uma forma de Tantra, a derradeira a alcançar um estado permanente Kaivalya,
libertação.

Desta forma a libertação, Kaivalya, é um fenômeno, não é um processo de substituição


de sua matriz de linguagem, pois agora a linguagem segue o processo e não ao
contrário. Como for e onde for, o Ser poderá ser.

Para quem não passa pela experiência, mas a imagina, pode parecer um não ser, e é
para quem tenta fazê-lo por cognição, mas para quem sofre a experiência ela é um-
não-ser-que-resolve, lá na origem, todas as questões, e é desta forma que os sintomas
desaparecem e não se fetichizam mais, não precisam mais vir a tona como novos
substitutos para o Ser.

Isto é simbolizado como diz o verso acima, deve-se conduzir com a Alma a Kundaliní, e
depois dissolve-la. Se você não fosse um ser multidimensional, nada disto ocorreria,
amor, paixão, interesse, vontade, animação, são manifestações de sua alma sendo
elevada para cima, então você irá sentar, ou meditar, ou seja, conduzir sua Kundaliní
com sua alma para aprender o processo.

O Tan já está ocorrendo todos os dias, todos os momentos, uma criança com fome
deseja apenas alimento, uma vez alimentada, deseja brincar, e brincando deseja outras
coisas, todos somos ilimitados.

Então você não pense que seu corpo sutil existe, não, ele ainda não existe é só uma
massa amorfa produzida pelas percepções, pensamentos, sentimentos etc.

101
Depois da apresentação de Kundaliní como aquela que representa o espaço
multidimensional, 3 + 7. Três dimensões é o espaço que ocupamos, como ser no
mundo, com mais 7 dimensões internas, e interna é uma referência vaga, então
podemos com cuidado e na medida do tempo entrar no espaço Místico, mítico, mágico,
como queriam chamar, do Tantra.

O rito é a certificação deste espaço para um grupo, onde os personagens


participantes, tem papéis claros e específicos na Sadhana.

A primeira questão que logo surge é:

Como personalidade, que lugar eu ocupo onde vivo, e com as pessoas com que
convivo no trabalho, família, diversão etc. Onde é o meu centro?

Então a minha proposta a partir de agora, é sair da loucura de uma Kundaliní Narcísea,
de que um Deus nos colocou aqui sem nenhuma explicação e começar a entrar na
abordagem real do Tantra, de que nós não fazemos parte da natureza criada pelo Deus
criador, nós escapamos do paraíso, nós não fomos expulsos.

Onde é seu centro? Quais as relações entre espaço e você mesmo como identidade
(espiritual) e como corpo físico e Alma?

Qualquer terapia integrativa, bem como esporte, etc. podem lhe colocar no espaço
novamente, mas como manter-se nele, sob que leis isto funciona?

Quem é o seu filho, a sua mãe, o seu marido, a sua esposa, o seu irmão (ã) vizinho,
chefe etc. neste espaço místico? Qual o papel deles para você?

Quem é você, para si mesmo?

A Terceira Visão, é o pensar, é o visualizar como você cria este espaço, vivendo aqui
como uma pessoa comum, com as atividades cotidianas de todos. Então o mergulho
nesta descoberta e nas relações se transforma, não devido a uma doutrina, mas devido
ao seu papel, e o papel de todos estes personagens na sua história.

Vamos começar a entender este processo desconhecido até mesmo no meio de


pessoas que praticam e lidam com Yoga e Tantra. A vida que vivemos com nós
mesmos deve ser a mesma que vivemos com os outros, mas para se chegar a este
plano de conectividade, antes temos que resolver em nós mesmos, como tratamos o
gozo, o usufruto, como direito inalienável ou como o fruto das relações e do nosso

102
trabalho? Recompensa das nossas relações sociais? O gozo autorizado pelo outro é a
fonte de todos os seus problemas.

Não é uma utopia viver das duas formas, negociando, trabalhando, produzindo e
também viver desapegado de qualquer compensação, pois somos forçados a isto, a
construir e a se libertar.”

Depois de ler os textos do BB senti que a responsabilidade sobre as nossas vidas iam
além de sermos apenas joguetes do Demiurgo, a nossa casa é um centro de relações, onde
vivem os personagens, e a nossa maneira de dizer, é exatamente como estabelecemos as
relações, como nos ligamos aos personagens, nossos filhos, pais e mães e amigos.

Nós mesmos criamos o Inferno e o Céu, temos o poder, e eu tinha colocado tudo na
conta de Deus, ou do destino, o que dá no mesmo. Era a hora de eu começar a viver minha
vida totalmente consciente, e nada mudaria e nem ninguém perceberia minha mudança, era
apenas uma questão de percepção.

No meu abrigo foi onde eu pude, após a minha precoce aposentadoria, bem ou mal, foi
lá que eu pude finalmente me dedicar a ir em frente no processo, e pus um Post It amarelinho,
como dos primeiros, originais, ele grudado na bancada de trabalho com a missão: “Ser o Si
Mesmo de Mim.

Os meus pais viriam morar definitivamente comigo em quatro meses, então decidi lhes
dar atenção e depois eu teria quatro meses de total isolamento, agora com Raj e com uma
generosa doação a Irene, ela voltaria ao Brasil, agora definitivamente.

103
Iludida pela Liberdade - Tra

Há dois dias já estou isolada do mundo, agora quero ir mais fundo, está tudo sob o
meu controle, e a minha única ligação com o mundo, será uma ida ao supermercado para me
abastecer de algo que eu venha a necessitar, ou fazer as incursões de captação, coisa que
somente explicarei depois. Contas no débito automático, meu carro colocado na garagem
durante a madrugada, assim ninguém saberia se estou ou não em casa, luzes automatizadas,
aspersores automatizados, o lixo seria estocado para depois ser descartado durante a
madrugada, janelas trancadas, a lista era longa.

A caverna estava pronta. Eu somente faria o que eu desejasse e somente veria quem
eu desejasse. Não moveria uma palha para ninguém, mergulharia no meu Eu, me conheceria
por dentro!

Seria a Mulher invisível por quatro meses!

500 filmes e milhares de músicas eram o meu apoio cultural, para as horas de
desespero.

Uma semana depois eu entro na boate Irish perto do Hotel Confort Inn, saia curta de
couro preta, blusa de voil e jaqueta, me chamo Jane. Sento-me à mesa no canto e peço um
drink. Um sujeito destes que usam roupa de vaqueiro sem jamais terem subido num cavalo, me
olha por baixo do braço, o meu gravador está pronto no bolso de cima da jaqueta. Ele me dá
uma olhada, duas, três, e o tempo todo fico olhando para ele com aquele olhar de Uma
Thurman, como em Pulp Fiction. O cara ajeita o bigode, tamborila a mão no balcão, enquanto
um DJ checa os cabos de seus equipamentos. A boate começa a lotar, eu já tinha vindo aqui
com uns amigos, e logo a boate está cheia, o som alto, mas limpo, torna-se suportável quando
cheia, os corpos absorvem o som. Paredes de vidro amplas separam o ambiente das mesas de
onde estou, é um salão bem amplo cheio de pessoas dançando.

O falso caubói se aproxima, pede para sentar, e logo vai sentando, antes fez uma
reverencia fingida, bancando o humilde ou cavalheiro, não sei bem, e logo me oferece um
drink, eu pergunto como se chama e ele diz que se chama Holden. Levo a minha mão
esquerda para me apresentar e o cara se confunde, a Jane é foda, ela já tinha percebido que
ele era destro. Ele vira a mão direita dele e segura a minha mão esquerda de forma
desajeitada. Ligo o gravador.

- E aí Holden, o que você quer de mim?

Ele titubeia, dá uma risadinha e diz – Eu vi você sozinha aqui e pensei que poderíamos
fazer alguma coisa.

104
- Menino safado, eu acho que o Holden quer é me comer! Eu disparo olhando nos olhos dele.

Ele se anima e logo pergunta, alisando o bigode preto. - Quanto você cobra?

- Pode ser muito, pode ser pouco ou pode ser nada, e isto, isso só depende de você!

Holden se interessa. E logo começa o seu jogo e dispara – Se depender de mim então
será de graça!

- Só se você for um bom menino! Eu cobro caro, eu vim aqui..., pois estava meia deprimida,
não vim aqui buscar clientes, meu namorado me deixou, então fiquei chateada. Normalmente
eu cobro 1000 dólares por uma fodinha.

Holden levanta a ponta do chapéu. E logo se ajeita na cadeira.

- Mil dólares?

Faço um sinal de positivo com a cabeça. E digo.

- Isto mesmo.

Fico em pé e lhe pergunto se não valho isto.

- Vale sim, claro que vale, mas...

- Mas o que? O que você faz Holden?

- Eu piloto empilhadeiras em uma empresa..., e então; o que eu tenho que fazer para te
comer de graça.

- Uau..., direto ao ponto, eu gosto disto num homem. Mas é o seguinte, eu menti, eu tenho um
marido, e o cara é muito rico, e eu estou procurando um homem, mas um homem mesmo...
Que possa matá-lo para mim, então me disseram que aqui vinha um vaqueiro que era matador
de aluguel, e que se vestia como você, mas não acho que seja você, Holden. Matando o velho
ganha 100 mil dólares, mas me enganei. Não foi?

Holden coça o bigode, dá um sorriso maroto, dá uma boa olhada em volta, desabotoa o
botão mais alto da camisa Jeans, e gagueja dizendo:

– Sou eu mesmo!

- Bem que desconfiei, pois me disseram que era uma pessoa comum, quer dizer que você é o
matador de Palo Alto?

105
Ali mesmo o coitado do trabalhador já estava lidando com uma mulher que queria
matar o desgraçado do marido rico, e ele mesmo já estava se passando pelo suposto matador.
Começou a contar a sua experiência de matador e tal, e até me deu seu numero de celular,
que era o seu numero secreto.

A primeira incursão de captação tinha terminado, o mundo era um lugar infernal, cheio
de falsidades, eu sempre precisaria desta vacina, ver o mundo como ele é, precisava sentir na
pele como a coisa toda fede, e ter a certeza de como nós todos vivemos em uma sociedade
hipócrita. Era fácil iludir o sistema, mas não era esta a minha intenção, eu precisava deste
veneno, pois quanto mais fundo eu ia em direção ao Si Mesmo, mais tolerante, mais
consciente eu ficava. Eu tinha sido treinada neste mundo falso de pessoas hipócritas, conhecia
as armas e todos os velhos truques sujos. Em menos de uma hora um sujeito bem induzido já
se tornava incentivado a assassinar, bastava tocar o botão certo, na hora certa.

Mas minha segunda incursão era mais perigosa, mas isto eu só farei depois de ir mais
para dentro de mim.

Embora não soubesse ainda que todos os meus planos iriam por água abaixo, pois em
um mês de isolamento começou o processo que eu chamo de identificação progressiva com a
Blue Pearl, era a coisa que fazia todos os que viveram em isolamento, pirarem. A Psique tem
seus sistemas de segurança, e um deles é projetar luzes, para manter o foco de quem está
isolado, uma última barricada de defesa da psique.

Como o sistema é sábio e seguro, pois senão teríamos milhões de loucos e assassinos
pelo mundo. Vocês não vão me entender agora, mas o assassino é aquele que repete seu
sonho indefinidamente, fixado, e por isto ele mata, para viver este mesmo momento, uma,
duas, três vezes ou mais.

Eu acordava sempre lá pelas 5 da manhã, preparava meu desjejum, dava a ração


preferida do Raj, foi quando eu a vi pairando sobre a pia, eu vi uma esfera azul, já tinha visto
isto lá em Macaé e depois em São Paulo, mas na época ela passou despercebida, e agora
quando eu olhava para ela, ela sumia, eu me abstraia e ela surgia, tentava ver com os meus
olhos e ela desaparecia. Até já deram um nome para esta coisa azulada, chamada de
fosfenismo.

No mesmo dia sentei para fazer a ascensão da luz, eu não fazia isto todos os dias,
sempre era preciso um ciclo de dois ou três dias para então fazer.

Eu fechava os meus olhos e a pérola azul estava lá, mas não podia olhá-la
diretamente, então descobri que o princípio do fenômeno não era ver com os meus olhos, e
sim ver com a minha mente, mas os olhos estavam condicionados a ver por eles, e comecei a
descobrir que era algo na minha testa, e depois de uma hora, consegui olhar com minha mente

106
para a pérola azul. Imediatamente um som agudo disparou como um chini chini chini...mas ele
não vinha dos meus ouvidos, como a luz não vinha dos meus olhos.

Era um som maravilhoso que vinha de dentro de mim e também estava fora de mim.
Mas havia esquecido uma instrução preciosa do BB, de quando em travamento na ascensão
de Kundaliní eu teria de seguir um som ou uma luz interior. O Travamento significa não ter
acesso ao gozo. A força quando sobe e atinge a minha garganta, paralisa o meu corpo, ela
ajusta o meu crânio, mas não há nada mais a ser feito, mas eu sempre achei que se dissolver
em um som ou numa Luz era piegas demais, eu teria que acreditar antes, nisso.

Toda minha luta estava aí, eu tinha a sensação do corpo e depois era travada, o que
não aconteceu em Macaé e em São Paulo, e mais algumas vezes mais quando entrei no
êxtase.

O que faltava? O que ocorreu antes que não ocorre agora?

Ao mesmo tempo eu não poderia acreditar em alienações vindas da cultura hindu, eu


não me dava ao luxo de errar.

Quanto mais afastada eu ficava, maior ficava a minha dificuldade com relação ao gozo,
e eu esperava, pois eu investi nisto supondo justamente o contrário! Eu teria que descobrir a
relação que eu tinha com o meu Gozo. Eu teria que entrar na fonte infinita das pulsões
freudianas. Eu não poderia me autorizar no meu próprio gozo, e isto era algo esquisito,
estranho, eu mesma estava me boicotando, por algum mecanismo de segurança.

E num certo dia eu saí bem cedo, levei o lixo e o dispensei em uma lixeira umas vinte
quadras de distância. Tomei um café da manhã em um trailer, que na verdade era um vagão
de trem antigo. Estava distraída tomando meu café da manhã quando uma mão pousa no meu
ombro direito, era a Carla e sua namorada americana, ela chama-se Julien.

Imediatamente minhas forças deram as caras, e ali conversamos por quase duas
horas, eu sabia, pois minha mãe havia comentado que ela estava morando ou namorando uma
garota que era professora em Stanford, mas juro que jamais imaginava que um dia a
encontraria em Mountain View.

E num impulso inconsciente, eu as convido para irem a minha casa no dia seguinte.
Ainda no carro pensava Amanda fez merda, faço algumas compras, compro alguns vinhos
bons daqui mesmo da Califórnia, e é quando me dou conta de que tudo que eu havia planejado
estava indo por água abaixo, mas mesmo assim, achei justo me dar boa companhia e um papo
agradável, não sei bem porque, mas eu me senti bem, muito bem.

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Os gatos são seres videntes, pois assim que cheguei em casa o Raj era outro gato, de
dorminhoco passou a brincar com o pêndulo das persianas. O meu projeto de iluminação
definitiva começava a fazer água, meu Titanic bateu no Iceberg do gozo. Eu ainda não sabia o
motivo deste bloqueio.

Julien era doutora em Psicologia experimental e era uma expert nos Experimentos de
Milgram e no Experimento de Stanford que foram as duas experiências coletivas do Ovo da
Serpente, uma feita por Milgram e a outra em Stanford sobre a revelação do nosso lado negro.
O experimento Milgram e o Experimento da Prisão de Stanford eram assustadores em suas
implicações sobre o perigo que se esconde no lado negro da natureza humana. E ali
conversando com ela percebi o meu erro, o lado negro, aquela zona desconhecida, precisava
estar viva e intocada, e sempre que eu a atualizava, para usar uma expressão usada pelo BB,
eu me sentia viva, e então o gozo era possível. O meu erro era o de supor que haveria uma
perenidade, uma renovação contínua somente a partir de minha iluminação defintiva, então
percebi que a Luz ou Kundaliní é apenas o limite de um lado, que explode e passa ao outro
lado, assim a culpa, e o pecado eram tão vitais como a pureza. O lado negro era co essencial
ao da Luz.

O Mito da Yogui da Caverna era uma farsa. Eu tinha errado! E tive que rever meus
conceitos, pois o que nutria o sistema era bem humano, era a vantagem, o poder, a vontade
vinha daí. Não havia nada de espiritual nisto, éramos o que Nietzsche martelava: Homens com
gana de poder!

O lado negro é o lado da força, já dizia Darth Vader!

O bem venceu no final, mas o herói Luke Skywalker descobre que o lado negro
também fazia parte dele. Darth Vader, o epítome do mal nesse seriado, era na verdade, o seu
pai. E eu tinha caído no engano do Demiurgo, nosso Pai é o Mal, não se engane mais!

Camus disse:

The only way to deal with an unfree world is to become so absolutely free that your very
existence is an act of rebellion.

(A única maneira de lidar com um mundo sem liberdade é tornar-se tão absolutamente
livre que sua existência é um ato de rebeldia).

Quem eu era há dois dias atrás senão alguém do bem que se imaginava dominando o
poder pelo bem?, e que ele me abençoaria simplesmente por eu ter sido iniciada na força! O
monismo é uma farsa.

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Sim, eu tinha sido mesmo iniciada, mas eu não sabia como lidar com ela, este era o
fato!

Quando ela existe significa vida. Quando ela falta significa a morte, como sua única
conselheira! Estava aprendendo o Tan e o Tra, da forma mais real, aprendendo a perder na
derrota e aprendendo a ganhar na vitória, e eu somente queria ganhar, havia criado para mim
mesma uma ficção grotesca de Yogui do bem, um retrato tosco de filha de Deus, e eu queria
na verdade era ser sua filha, mas estava sozinha, era humana e caminhava com minhas
próprias pernas e eu tinha a razão, era comigo, tudo estava comigo, não havia com quem
dividir minha vida. Eu só poderia caminhar ao lado de pessoas na mesma situação, apenas
isto.

Pus a porra do lixo na rua, de baby dol, e naquele momento eu era a dona da rua, não
temia mais porra nenhuma!

Meus sonhos eram ridículos, o que eu buscava era um absurdo e agora eu via, os
sonhos vem do embate social, eles vem do ranger de dentes de meu Es, o popular Id de Freud.
O problema não estava aí de fato, pois desta forma o meu Ich, o popular Ego, estava sem
função, pois a sua função, a função do Eu, que é o Ego ou Ich é a de administrar os conflitos, e
eu queria me isolar deles! Eu ainda confundia o Eu com o Ego, mas eles eram a mesma coisa!
Mesmo lendo em Alemão, a quantidade de porcarias em Inglês e em Português tinham me
levado ao engano. Eu fiz uma distinção entre Eu e Ego que não existia, apesar de ter visto este
alerta, vindo do BB como um fundamento.

O Eu existe para lidar com a porcaria toda! O Eu não caminha para a emancipação
pela justiça e pela Paz, o Eu precisa do conflito como seu alimento, a Paz para o Eu é a sua
morte, lenta e triste. O próprio Eu projeta um outro Eu, chamado de Alter Ego, projeta os seus
limites, projeta seu espelho. Sem ele o Eu não possui nenhuma função, minha concepção
desta dinâmica da Psique estava completamente equivocada. E me ocorreu um ditado Japonês
que diz que o conflito é sempre uma oportunidade.

Demiurgo 1, Amanda 0. Este era o placar real.

O meu abrigo jamais poderia ser um refúgio espiritual, o meu Refúgio Espiritual era a
caverna do meu coração!

Em uma meditação prolongada o experimento da minha caverna tinha sido um


sucesso, pois na segunda incursão de captação, que foi o encontro com minha amiga Carla,
mesmo que eu estivesse sem a intenção de encontrar ninguém, como a do Holden, bom, neste
segundo encontro foi onde ocorreram os fatos para meu esclarecimento.

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Tudo se encaminhou para meu esclarecimento! Mas eu ainda não sabia como lidar
com o processo, isto estava claro. Podemos chamar o lado negro de loucura?

A loucura do isolamento de indivíduos, de cidades e de nações, sempre foi catastrófica,


o muro precisa ser derrubado tanto literalmente como no caso do muro de Berlim, como o
nosso próprio muro que coloca para dentro de nós aquilo que rapinamos e deixamos do lado
de fora, o que não colhemos, tanto o que não desejamos como o que não podemos conquistar.

A Apanhadora de Sonhos não respeita os muros! Ela o fura com a sua luz, ligando o
mundo espiritual a identidade que se isola!

Texto de BB

Adote o seu lado negro com Carinho

A razão, ao invés de descobrir-se como uma medida conciliadora, encobriu a loucura, o


lado negro, e a dominou, mas sem poder destruí-la totalmente. Experimentos
mostraram isto, ela não foi destruída, ela foi levada para as instituições psiquiátricas
pelos diagnósticos; para os mosteiros; ou então a loucura foi admitida como arte. A
civilização, racional, com o seu espírito científico continuado, obrigou a um
renascimento da tragédia do mundo nas realizações filosóficas e artísticas que
conhecemos como modernidade que é uma volta à tragédia grega.

O lugar da loucura admitida era no plano espiritual, era aceita como uma visão
privilegiada por que não importunava a sociedade, mas no momento em que um artista
começa a sua produção infligindo a loucura nas pessoas, como um traço unário, de
origem, comum a todos nós, é admitida como um processo de rebeldia frente ao
estabelecido. O artista é a denúncia da racionalização, deste confronto entre a
racionalização da loucura, que denuncia a história. A arte é antes de tudo a ultima
barricada, frente ao grande irmão, consumimos arte para manter a loucura viva em nós,
em um ato espiritual de fé no homem.

A razão não concilia, ele tenta destruir, tornando o lado negro, um desconhecido, em
algo com forma, algo domesticado, portanto produto dela. Esta luta está no cerne da
origem do homem, na negação do outro, e no contato com o si mesmo, onde tudo é
permitido, onde a lei não alcança.

Espiritualistas desavisados podem tomar outra cultura como resposta, e serem


alienados por um saber estranho, ainda desconhecido, e sem saber estarem ainda
racionalizando algo, que julgam ser o contato original com a sua força. Nenhuma
cultura, pela própria limitação da linguagem, será viável. Embora somente por ela
possamos dar nosso grito de emancipação, como a expressão de si mesmo.

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A loucura pelo seu principio original, selvagem, puro, identificatório... é o que tange a
Alma em direção ao Espírito, mas ela não pode se comunicar com si mesma em seu
espelho, o que resulta na angústia e o Signo do desejo embaralhado, indefinido, sem
uma razão legitimadora. O traço unário da Loucura é marca comum, do initium
comunis, o desejo desta comunicação é a marca do desejo, estampada em todos nós,
a angústia como sinal do desejo.

A angústia, ela é necessária, entretanto não é ela que produz a depressão e nem a
loucura institucionalizada, a angústia é a busca de um sentido, sentido este que é de
um domínio, o da captura dos nossos sonhos, através de um filtro, pois a angústia é o
sonho bruto, e o sonho ele é o único veículo de comunicação direta entre os homens e
o Espírito e também, a expressão das necessidades da Alma. É essencial satisfazer as
necessidades de sua Alma, assim como as de seu corpo. O sonho permite liberar-se e
trazer o equilíbrio, em uma ultima palavra, o sonho permite que capturemos o Signo.

Com ele temos o sinal, a marca, o selo...nomes diferentes, da mesma coisa, sempre,
mas não se deixe iludir, saia todos os dias para apanhar os teus sonhos!

A arte, ela representa exatamente um filtro de sonhos para nós sonharmos juntos, pelo
mesmo Signo, mas de formas diferentes, na mesma conexão. Então a vigília, os
sonhos e o sono, não são três instâncias do ser, são apenas duas, pois sonhar
acordado é o pensar, é colher os seus próprios frutos, apanhados pelos sonhos, ou
seja, usados na sua iluminação. Este poder iluminador que desfaz sonhos e os
constrói, o faz para que possamos viver identificados com nossa essência. Sem ela
(Kundaliní) nada se renovaria, não haveria um novo dia e nem novos sonhos para
apanhar, e nem um futuro para criar.

A Julien e a Carla tinham sido as minhas anjas enviadas por Lúcifer, as exterminadoras
da limitação e da santarrice opaca e sem brilho. O brilho havia voltado e eu estava no Jogo
novamente!

E então foi que entendi algo, que pode ser a maior descoberta da psique lendo o
extrato do texto do BB acima:

A angústia, ela é necessária, entretanto não é ela que produz a depressão e nem a
loucura institucionalizada, a angústia é a busca de um sentido, sentido este que é de
um domínio, o da captura dos nossos sonhos, através de um filtro, pois a angústia é o
sonho bruto, e o sonho ele é o único veiculo de comunicação direta entre os homens e

111
o Espírito e também, a expressão das necessidades da Alma. É essencial satisfazer as
necessidades de sua Alma, assim como as de seu corpo. O sonho permite liberar-se e
trazer o equilíbrio, em uma ultima palavra, o sonho permite que capturemos o Signo.

Com ele temos o sinal, a marca, o selo...nomes diferentes, da mesma coisa, sempre,
mas não se deixe iludir, saia todos os dias para apanhar os teus sonhos!

A arte, ela representa exatamente um filtro de sonhos para nós sonharmos juntos, pelo
mesmo Signo, mas de formas diferentes, na mesma conexão. Então a vigília, os
sonhos e o sono, não são três instâncias do ser, são apenas duas, pois sonhar
acordado é pensar, é colher os seus frutos, apanhados pelos sonhos, ou seja, usados
na sua iluminação. Este poder iluminador, que desfaz sonhos e os constrói, o faz para
que possamos viver identificados com nossa essência. Sem ela (Kundaliní) nada se
renovaria, não haveria um novo dia e nem novos sonhos para apanhar, e nem um
futuro para criar.

O sentido de apanhar os sonhos é o de que o seu próprio sentido foi esgotado, pois
esta captura se dá no campo do Real, onde estão todas as letras soltas, portanto não
há um ato deliberado de se fazer isto, deve-se estar aberto, vulnerável. Por isto o Tan
como passagem ao Tra pode se dar de forma deliberada, sendo por Isto mesmo
chamada de meditação, pela força que desconstrói o construído, força esta que emana
de todas as estruturas do Universo como uma nota básica, da raiz. Com isto quero
dizer que o Signo não pode ser deliberado, intencional, ele é o produto entre o tudo e o
sujeito. O que está em sua mãos é um processo de reconhecimento, da possibilidade
de esgotar aquilo que foi construído, em favor de algo que está por vir.

Ou seja eu agora precisava criar o meu futuro! Que responsabilidade, pois agora eu era
consciente!

O Tantra e a renovação espiritual de Kundaliní nos tornam Apanhadores de nossos


sonhos! Eu estava me renovando, mas não estava criando meu futuro, estava apenas no meu
passado. Meus sonhos haviam sido apanhados a vida toda e agora era a minha vez de
apanhar os meus sonhos.

112
Apanhando os meus sonhos e vivendo ali no arrebatamento
final

Sonhar é preciso, viver não é preciso, e nas sábias palavras de Fernando Pessoa,
sonhar era “Navegar” como diz a velha canção, Navegar é preciso, Viver não é preciso!

O sujeito sempre se encaminha para se evadir da cena, fazendo a sua partida errante
para o mundo puro, Navegando na busca daquilo que é rejeitado por todos, ele busca o que
ninguém possui, para depois retornar a cena com seu potinho de ouro. Não era esta, bem lá no
fundinho do coração, a verdade metafórica dos navegadores? O homem não escapa de sua
sanha econômica nem mesmo quando diz: Eu te amo minha querida!

“O homem é o mundo e onde ele se comprime, e o mundo é o homem, onde ele


sonha”, estas palavras de BB encerram uma sutileza do discurso, por um lado a ficção de um
sujeito, e, portanto um que fala pela metáfora, e pelo outro lado onde toda a realidade se faz
presente.

Ilusão, sim, é uma grande ilusão se qualquer das partes, se adonar do direito de um
discurso de mundo puro! Eu estava iludida, tinha criado a ficção de um mundo puro
resguardado das garras da realidade em um ridículo abrigo nuclear.

Não tenham dúvidas! Muitos discursos são reais, mas eles são baseados em uma
base, em uma estrutura de ficção, meramente simbólica. Esta passagem do sonho, como uma
Revelação, como a fruição de algo ainda não captado, não a passagem do Tan para o Tra, que
é a iluminação, pela desconstrução sempre beatífica do construído, pois a desconstrução é
sempre beatífica, mas sim, e eu quero dizer com todas as letras: que a Renovação feita depois
do Tra para uma volta a um novo Tan, ela é projetada a partir de algo que escapou, e que é
capaz de por isto mesmo, mostrar a conduta do sujeito neste novo sonho sonhado como
realidade.

Aprendi a duras penas através da dor e das palavras de BB que Os sonhos inserem o
Outro novamente no seu sujeito, renovam, então não se pode apanhar os sonhos
deliberadamente, o sentido de apanhar os sonhos é o de que o seu próprio sentido foi
esgotado, pois esta captura se dá no campo do Real, onde estão todas as letras soltas. Esta
última frase de BB, abriu-me, expandiu, clareou aquilo que estava me tornando uma alienada.
Então eu começo uma série de práticas de Kundaliní com uma perspectiva muito mais próxima
do real.

O Espírito mostra-me a partir de algo que escapou de mim que a minha identidade é a
mesma dele, e esta renovação que era sentida como alguém me importunando, era a angústia,
o sinal do desejo, me dizendo: Não foi desta vez!

113
Puta que o pariu, a coisa era mais simples que eu imaginava, e o degrau que subi
desta vez, levou-me até a plataforma, onde se fazem as oferendas diretamente ao Espírito.
Mas eu não podia dar nada, a minha Puja era uma farsa, na verdade a Puja era apenas
reconhecer, não a existência do Espírito, isto é falso, mas sim reconhecer que eu, apesar de
ser idêntico a ele, e de ter me identificado com ele, e por isto, por eu ter tido o poder de sonhar
que eu não havia feito o atingimento final idêntico a ele - pois éramos iguais! O Ideen do BB, foi
o que calou a minha boca, alisou as lavras na minha mente. Eu não posso ser o Espírito, não
intermediado por uma linguagem, se eu tento ser, eu fico diferente Dele! Se não tento, perco a
oportunidade, e também não sou idêntico a ele!

Finalmente caiu a ficha de verdade tão repetida por BB.

Somos duais, se somos a mesma chama do Espírito, ele como a chama-origem, não
podemos realizar o ser ele, e sim ser o si mesmo, em mim!

Mas eu tinha o poder de criar a vontade!

O poder emanava do fato de que minha chama é idêntica a dele, mas a luz, ela se fez
em mim, está em mim.

O sonho é a entrada no transe de ser no mundo, e eu estava querendo separar,


manter-me isolada, pura, idêntica ao espírito, livre do transe!

Ser uma Apanhadora de Sonhos era então o mesmo processo que li de um autor
indiano, que somente nos iluminaremos definitivamente quando todos forem iluminados. Eu
estava no campo de centeio, colhendo, como no livro dos assassinos. Neste momento ocorreu
na minha mente algo estranho, havia uma ligação entre esta história do livro “O Apanhador no
Campo de Centeio”, de J.D. Salinger e a minha história. Todo assassino se identifica com este
livro.

Até então eu não havia ligado as coisas, pois o sujeito lá da boate Irish, o falso Caubói
se chamava Holden, e Holden é o personagem do livro de Salinger, e então na internet
pesquisei o nome Holden:

“Muito ligado em dinheiro e posição, sua personalidade se sobressai quando você está
diante de um desafio. "Vem quem tem " seria um bom lema na sua vida. Dificilmente passa
dias preocupado com problemas, pois é do tipo que encontra soluções para os problemas em
segundos. Tem uma imagem de uma pessoa meio solitária, e que não gosta de brincadeiras.
As vezes um pouco distante e severa. Deve tomar cuidado para toda esta eficiência não estar
escondendo um pequena insegurança.”

114
Holden era o nome de um Xamã que fazia previsões em Jerusalém, e a personalidade
do Holden do “The Catcher in the Rye” era parecida com a do Salinger, ou seja, o Holden no
livro era ele mesmo. E então o meu complexo de isolamento em busca da perfeição podia ser
chamado de um Complexo de Holden!

Como uma mulher sem filhos eu estava fadada a esta falta, que não se faz presente no
homem, mas em mim, sendo uma mulher, e tendo um filho... eu poderia ter alguém no mundo,
poderia realizar minha fantasia Narcísica. Quem sabe não é o momento para eu ter um filtro
para os meus sonhos?

E começo a pensar em um pai sem rosto, penso nos bancos de sêmen anônimos,
muito comuns aqui na Califórnia. E não posso deixar de comentar o que se diz por aqui, que
artistas como Mel Gibson e outros, que super atletas e grandes pensadores, vendem seu
sêmen a estes bancos a preços absurdos. Ganham dinheiro batendo punheta! Esta é a
verdade.

Vejam que o meu iluminamento não me deixou mais maleável, pelo contrário, era a
porra do Demiurgo, era ele que me atazanava com a ideia do filho e a cochichava no meu
ouvido. Mas nada disto importava mais, eu ia vencer sem ele, sem seu sisteminha barato de
reprodução, claro que a maternidade é uma coisa maravilhosa, espiritual, e quem sabe um dia
eu não seja mãe? Mas agora não era a solução, eu faria sim, um dia eu usaria o Demiurgo, eu
usaria o sistema.

Toda mãe sabe desta implicação, para o homem é só cuspir com o pau na bucetinha
molhada, quentinha e fértil, ter o seu gozinho, e se sentir macho prá caralho, humilhado na
verdade por perder a ereção, entretanto as implicações do ato para o feminino não terminam
aí, mas como eu me inaugurei comendo homem, aquilo foi fundamental, aquele ato aprendido
de minha mãe foi a benção, fui eu quem fiz. Eu fui por cima, eu tava no controle, e ainda
paguei ao Guri.

Quem ler-me um dia, se alguém ler isto, pode me achar uma maluca, mas minha mãe
fudeu com Freud ao quebrar ali a sua castração e fudeu literalmente com Rajneesh, mas isto
ela nega e um dia eu ainda descubro a verdade.

Até um cão, fode e se reproduz, logo ser mãe não é nada demais, mas gestar e colocar
uma pessoa no mundo, educá-la como uma outra pessoa, isto é realmente algo espiritual,
então como mãe, nós usamos o sistema, e ele nos usa, e depois damos uma banana prá ele,
ao dar nome a um filho, educar e ver o seu filho ser uma pessoa pronta para se emancipar.

Nem preciso dizer que as minhas meditações a partir do dia em que caí na real da
situação, foram outras, lembrei da primeira vez em Macaé, sentia algo que não estava sob meu
controle, se manifestando dentro de mim, e meu medo, a minha angústia, sendo traduzida,

115
sendo analisada e posta sob a lei dos discursos, mas hoje vejo que fui conduzida
pacientemente e de forma honesta, mesmo a distância, pelo BB, sinto que ele já passou por
tudo isto, já sabia da longa jornada que eu tinha pela frente.

Aqui na Califórnia o tempo passa devagar, mas sem a sensação de perda de um amor
longínquo ou perdido, as coisas aqui são diferentes, como na canção dos Eagles:

On a dark desert highway, cool wind in my hair


Warm smell of colitas, rising up through the air
Up ahead in the distance, I saw a shimmering light
My head grew heavy and my sight grew dim
I had to stop for the night

(Numa estrada escura e deserta, vento fresco em meus cabelos


Cheiro morno de baseado, se erguendo pelo ar
Logo à frente à distância, eu vi uma luz trêmula
Minha cabeça ficou pesada e minha visão embaçou
Eu tive que parar para dormir)

There she stood in the doorway


I heard the mission bell
And I was thinking to myself
This could be Heaven or this could be Hell

(Lá estava ela na entrada da porta;


Eu ouvi o sino da recepção
e estava pensando comigo mesmo:
"Isso poderia ser o Céu ou o Inferno".)

Then she lit up a candle and she showed me the way


There were voices down the corridor
I thought I heard them say

(ela acendeu um candelabro e me mostrou o caminho.


Havia vozes pelo corredor,
Eu acho que ouvi elas dizerem.)

Welcome to the Hotel California


Such a lovely place…
Such a lovely face

116
Plenty of room at the Hotel California
Any time of year …
You can find us here

(Bem-vindo ao Hotel Califórnia,


Que lugar encantador...
Que rosto encantador.
Vários quartos no Hotel Califórnia,
Qualquer época do ano,
você pode nos encontrar aqui.)

Her mind is Tiffany-twisted, she got the Mercedes-Benz


She got a lot of pretty, pretty boys, that she calls friends
How they dance in the courtyard, sweet summer sweat
Some dance to remember, some dance to forget

(Sua mente é depravada, ela tem um Mercedes-Benz,


Ela tem vários lindos, lindos rapazes, que ela chama de amigos.
Como eles dançam no jardim, o doce suor de verão,
Alguns dançam para lembrar, alguns para esquecer.)

So I called up the Captain


Please bring me my wine
He said, we haven't had that spirit here since nineteen sixty-nine
And still those voices are calling from far away
Wake you up in the middle of the night
Just to hear them say

(Então eu chamei o Capitão,


"Por favor, traga-me meu vinho".
Ele disse: "Nós não temos essa especiaria aqui desde 1969".
E ainda assim aquelas vozes estão chamando, à distância,
Te acordando no meio da noite
Só para ouvi-las dizerem)

Welcome to the Hotel California


Such a lovely place …
Such a lovely face
We're livin' it up at the Hotel California
What a nice surprise …

117
Bring your alibis

(Bem-vindo ao Hotel Califórnia,


Que lugar encantador ...
Que rosto encantador.
Nós estamos vivendo no Hotel Califórnia,
Que surpresa agradável ...
tragam seus álibis)

Mirrors on the ceiling


The pink champagne on ice
And she said, we are all just prisoners here, of our own device

(Espelhos no teto,
Champagne Rosê no gelo,
E ela disse: "Nós somos todos apenas prisioneiros aqui, por nossa própria conta")

And in the master's chambers


They gathered for the feast
The stab it with their steely knives
But they just can't kill the beast

(E no aposento do mestre,
Eles se reuniram para a festa.
Eles apunhalavam aquilo com seus punhais de aço,
Mas simplesmente não podiam matar a besta.)

Last thing I remember, I was


Running for the door
I had to find the passage back
To the place I was before
Relax, said the night man

(A última coisa que me lembro, eu estava


Correndo para a porta
Eu tinha de encontrar a passagem de volta
Para o lugar onde estava antes.
"Relaxe", disse o porteiro,)

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We are programmed to receive
You can check out any time you like
But you can never leave

(Nós somos programados para receber,


Você pode assinar a saída quantas vezes quiser,
Mas você nunca poderá sair!)

Quem começa a viagem para si mesmo jamais termina, pois irá começar a sua viajem
pelo Universo de si mesmo, esta era a verdade. Os tolos que ficassem idolatrando um Deus
fudido que gerenciava tudo, pois pela atração ele iludia das partículas até aos homens, eles
que fiquem atrás da bucetinha cósmica da Deusa, ou da pica lisa e sempre dura de Shiva! Não
é uma questão de gênero, não é sexual.

Um dia posso ser acusada de ficar remoendo o caso, e de fazer pouco das religiões e o
caralho a quatro, mas não creio que os religiosos apegados ao Demiurgo deem muita
importância as minhas palavras, eles tem o dom Foucoltniano de me dizer louca, eles podem
refrescar seus miolos se satisfazendo no sexo, ou então alugando as suas almas para Deus
colocando orações todos os dias em seus corações hipócritas. Mas minha Alma é rebelde, ela
não se satisfaz nem com pica lisa, e nem com xotinha apertada, pois tudo isto é produto, não é
matéria prima, isto é econômico, não é espiritual, a lei do mundo é simples, a lei de Deus é
simples à beça! Ela é econômica! Xotinha apertada se compra e pica lisa também! Mas a
liberdade, esta você mesmo precisa continuar a fazer!

Todos estes ritos são aberrações do animal que fala e pensa. O Homem fode e quer
que sua foda seja mais do que ela é para justificar assim a sua loucura na Alma.

Quer ser religioso? É simples, seja casto. Nem me atrevo a comentar este mundo, o do
homem casto realmente, ele está fora da nossa compreensão, um voto neste sentido é um
pacto com o Demiurgo, tipo:

“Óh Demi, não vou fuder mais... e você não fode mais comigo! Fechado?

Claro que a admiração pela beleza substitui a foda muito bem, cria o preciosismo das
formas, cria a tal da estética da viadagem, pois não adianta fugir do enquadramento! Admite-se
então o homo como um lugar idêntico, tipo, “estamos na mesma merda parceiro!” Freud estava
certo no quesito homo, homo masculino, pois o homo feminino nada tem a ver com isto.

119
Como acho que todo mundo tem o direito de dar o cú, o problema não se resolve nem
com medidas drásticas como esta, pois como diz a minha amada mãezinha em sua sabedoria
tantrica, Dejavú de cú continua sendo Pica!

Cada um que apanhe os seus sonhos como melhor lhe aprouver! O que eu não
consegui ainda entender é a homossexualidade feminina, é um mistério este jogo dos iguais
sem falo! Justa e democrática.

Sonhar e apanhar os seus sonhos e fazer a realidade é a única democracia do


Universo, que é igual, para todos!

Por enquanto eu fico aqui sendo apanhada nos meus sonhos, e fazendo um futuro para
mim, pois esta Lei não muda em nenhum canto do Universo. E se eu voltar um dia a contar
como me libertei, será mentira, pois já é assim, e será por que eu caí em um buraco negro por
aí, e fui reciclada na marra, mas será difícil, pois a luzinha não se apaga mais em mim!
Encontrei a fonte!

Daqui da Califórnia, agradeço pelo BB, este livro é dele e para ele, e de uma certa
forma eu fui só um meio, a minha história apenas ilustra o que seja uma transmissão, que eu
recebi na época até de uma forma bem desrespeitosa, desconfiada, tipicamente humana, e foi
graças aos meus pais e as suas experiências anteriores, que eu pude mastigar a coisa toda,
sem eles eu seria tragada pela ilusão da morte diária e acordaria iludida de que apenas eu
dormi mais uma noite.

Amigos, eu nunca mais dormi na minha vida, apenas fui encontrar a Apanhadora dos
meus Sonhos!

Eu nunca havia fumado um cigarro em toda minha vida, a não ser um baseadinho
recreacional e hoje pela manhã eu fui colocar o lixo na rua, a porra da vizinha me olhando lá do
canto de seu jardim, eu de baby doll preta, curtíssima, com metade da bunda de fora, com
sapatos pantufas do tigrão e com um cigarro da minha mãe no canto da minha boca, e claro,
sendo escoltada pelo Raj. A filha da puta da vizinha baixou a cabeça e fingiu que não me via.
Pus o lixo no tambor e tirei uma tragada longa e então olhei para a vizinha e logo eu fui
andando em sua direção, fui lá..., no canteiro dela, ela fingindo que não me via, e daí eu pisei
na porra de uma florzinha amarela dela.

Nada de protestos indignados vindos lá da bruxa do 71, o silêncio ecoou na rua. E o


Raj ali paradinho, sentado na calçada assistindo a tudo com o seu olhar atento. Ainda na
calçada dela eu levo o meu cigarro ao chão e o esmago com uma pedrinha.

120
Me aproximo da minha porta andando como o John Wayne, e o Raj dá um pulinho
emitindo um som e vai encontrar-me roçando nas minhas pernas, estendo as mãos me
agachando um pouco e ele salta nos meus braços!

Olho e vejo a minha “empregada” Irene observado tudo pela janela da minha cozinha,
ela faz uma cara engraçada com os olhos arregalados. Depois de um exílio forçado de 3
meses no Brasil, ela voltou diferente. Chegou ao exagero de dizer que ia morrer de Banzo no
Brasil, a minha mãe disse que ela chorava todo dia, chegou até a dar maconha pra criatura
fumar, mas foi pior, pois ela ria, chorava, e se mijava ao mesmo tempo.

Meus pais chegam amanhã, e a minha casa está pronta para eles, redecorei o meu
quarto para eles, e eu me mudei para o abrigo Nuclear.

Minha mãe se alinhou com seus sonhos, não toma mais remédios, assumiu seu papel
de artista tão bem que já faz um grande sucesso, eu às vezes eu a olho nos olhos e não vejo
mais a sua luta neles, e sim a necessidade, a necessidade de continuar, mesmo que pela arte.
Meu pai descobriu isto sozinho, talvez como um último estágio de sobrevivência nos campos
de batalha do Vietnã e por tudo que ele viu e leu, apenas foi uma confirmação daquilo que ele
mesmo encontrou em si mesmo para sobreviver no inferno da guerra. Já vivemos os três em
minha casa como se fossemos sozinhos, e uma atmosfera espiritual inebria nosso
relacionamento, cada um é o que é, e não há a tensão de impor nada ao outro. O Silencio é
ouro e não oprime ninguém por aqui.

A vida segue seu rumo.

Não se preocupe tanto, nenhum cinzel da mentira pode corroer mais a sua Luz, nem
que você mesmo queira apagá-la, lá no fundo você sabe que estará se enganado. Fomos
abençoados e ao mesmo tempo amaldiçoados pela possibilidade de sermos conscientes!
Kundaliní já fez o seu trabalho em nós e há mais de10 mil anos atrás segundo o BB e o Raul
Seixas.

Todas as minhas memórias estão intactas, mas elas não aram mais a minha mente,
elas não plantam mais sementes, a não ser que eu queira, a minha mente agora é minha,
como um quadro branco onde eu posso colocar qualquer coisa, não com a dor de um escritor
ou artista, mas com a liberdade absoluta, e isto é um maravilhar-se constante, cada dia é uma
maravilha.

Também não ajo mais impingindo nos outros um mistério, me portando como um
Mago, como uma charlatã barata. Meus sonhos são flechas que mesmo lançadas, podem ser
queimadas antes de atingir o alvo. Não são puros, não, mas eles são a expressão no limite do
possível, bem próximos do que meu coração sente, e ao mesmo tempo muito além do que é
esperado, então eles são sempre inéditos!

121
E por isto eu vivo ali na borda, onde tudo acontece, antes que o sonho exista como
fato. E neste estado eu aprendo ainda como uma iniciante - a lidar com a força. Não existem
mais nem o BB e nem os outros iniciados a quem eu possa consultar, pois estamos vivendo na
mesma borda da realidade dentro a dentro de tudo, na imediatez das coisas, como ele diz. E
desde este momento, eu tenho encontrado outras pessoas que também vivem por aqui
sonhando e ela apanhando os nossos sonhos! Algumas enlouquecidas e internadas por não
saberem lidar com a coisa, e tudo isto pela simples falta de um discurso, nelas. Kultur, o mundo
não precisa de profetas silenciosos e de corações piedosos, o mundo precisa de Cultura, o
alimento da Alma.

Os acordados sabem do que lhes falo, pois os fatos em si só acontecem muito tempo
depois, e como uma consequência deste processo!

Esta antecipação me permite hoje ter uma visão, antes dos fatos.

Vidência? Sim pode ser, mas não no sentido mais barato como é empregado e tem
sido entendido deste então, assim a máxima de Neruda é falha quando ele diz que Somos
livres para fazer as nossas escolhas, mas somos prisioneiros de suas consequências, estas
escolhas não existem, não no sentido da liberdade, pois a verdadeira escolha se dá na perda
diária de seus sonhos, e na reação a este arrebatamento pulsional em quem tem seus sonhos
apanhados, e eles se tornam os nossos sonhos, e ela é real, é um fenômeno. A colheita
depende somente de nós quando o arrebatamento tiver o sentido de continuidade e não mais
um sentido de liberdade, pois o sentido de liberdade, ele trabalha na utopia do poder
individualizado, e assim ela jamais foi ameaçada, por ninguém.

Querer continuar é tudo, e somente quer continuar quem sente que as coisas são boas.
Pense nisto!

Hoje a minha vida corre solta, e as minhas escolhas servem para modelar um futuro
luminoso, mas não se trata nem de esperança e nem de confiança no destino, NÃO, trata-se
de aceitar ter os seus sonhos colhidos, para que eles voltem e representem melhor o meu
futuro, pelos outros. Tantra é continuidade.

O significado esotérico disto tudo é que hoje a Apanhadora de Sonhos, vem até o meu
centro conhecido como comando, Ajna, colhe os meus sonhos, e os faz voltarem a serem
letras, e desta forma sou eu quem decido, eu comando o que eu desejo pensar e sentir, estou
no comando absoluto sobre as minhas vontades. Os Nathas e os Sidhas já não existem há
séculos e séculos, e o conhecimento real, Raj, sobre o Tantra, ele veio desaparecendo e
perdendo-se quando se tentava atender as exigências dos diferentes grupos.

BB relata que recebeu sua Diksha de um monge hindu, mas que ele, que este monge,
foi apenas um “cavalo”, um médium, pois o mestre de Tantra estava vivo e há milhares de

122
Kilômetros do local da iniciação, então sua Diksha foi do tipo wireless, ele não nos conta o que
ocorreu, e na época em que se comentava sobre este fato o BB era sempre tomado no sentido
da paranormalidade, mas hoje, vejo como fui tola muitas vezes por julgar algo que eu ainda
não conhecia, e é assim mesmo.

Existem vários níveis de Sonhos, cada sonho possui uma porta, uma passagem para
outro sonho, dentro do sonho anterior, já dominei o processo que é muito parecido com a
fantasia no filme A Origem. A tal substância dos sonhos hoje é a maior fonte de pesquisas no
campo da neurologia, eu mandei fazer várias fórmulas. Quando sonhamos, o nosso nível
enzimático no cérebro cai consideravelmente na mesma medida que aumenta a Serotonina.
Por isso a dificuldade de notarmos que nós estamos sonhando.

Wild
Uma combinação é muito poderosa e é conhecida com a técnica Soma . Então
quem não tem a possibilidade de ser iniciada por um mestre na arte de lidar com as
manifestações da sua Luz, pode recorrer a esta fórmula, que irá realçar os seus sonhos, e
pode ser um início para descobrir o seu mundo interno, espiritual.

Eu atingi o meu SLW com a Kundaliní, mas reconheço que os níveis de Enzima no
cérebro são insuficientes para manter a lucidez, então fiz a fórmula para todos que desejam ser
meditadores lúcidos.

No momento em que a apanhadora faz seu trabalho em mim, outras camadas do


inconsciente se aproximam, e assim cada vez mais estamos sendo este um outro cada vez
mais idêntico a nós. Entramos em outra conexão com tudo, e as revelações se manifestam
como novos Signos. As percepções sob o impacto da Apanhadora dos Sonhos são
visualizações do futuro, ainda não ocorreram os fatos! Cada pessoa está sob o impacto deste
arrebatamento, mas de forma inconsciente, pois elas dormem no próprio sonho.

Dizem os adeptos da teoria do fim do mundo, que no final dos tempos termos um
arrebatamento total, então não saberemos quem somos, nem onde estamos e nem mesmo
onde é a porta de sua casa, e nem mesmo como caminhar até ela, estes teóricos dizem que
será coletivo, e que a Apanhadora de Sonhos passará e levará todos os sonhos de todos, o
que é considerado normal na vida das pessoas simplesmente desaparecerá por 3 dias e três
noites, o bastante para dar um reset no planeta, não posso dizer que será assim e nem a data
precisa, mas está muito perto de como será e já está sendo, pois os nossos padrões de
normalidade mental já foram ultrapassados há anos.

Então prepare-se! Eu fui fazendo isto aos poucos e ao longo de 20 anos, mas o
coletivo não será assim. Se você analisar bem a atual sociedade perceberá que já está
ocorrendo o arrebatamento, o que levará a radicalização de uns, dos mais reacionários, e a um
retrocesso nas relações sociais.

123
BB diz que a mídia, como a ferramenta do nosso Fórum Mundial, comum a todos, já é
o primeiro passo de implantação de uma novo sistema de relações, pois os sonhos individuais
passaram ao plano da coletividade, e agora de forma escancarada, global, e manipuladas pela
mídia global. Os que não acreditam se unirão em grupos radicais, mas o trator cósmico está aí,
revelou-se timidamente com a TV e hoje atinge 90% das pessoas do planeta. A
instantaneidade é o Signo como um poder mundial. Pois quanto mais nos aproximamos de
uma significação comum a todos nós, maior será o desafio da nossa personalidade!

O famoso Correr para as colinas só funciona nos filmes Hollywoodianos!

A Arca de Noé é você começar o quanto antes a ver por si mesmo como a apanhadora
de sonhos age! Então aprenda a salvar os seus Signos antes da enchente de Pixels.

Termino este livro citando BB, aqui ela amarra as pontas soltas, para quem ainda não
viu o Tantra como uma semiótica de libertação:

Tantra, uma Semiótica de libertação.

“Não se iluda, Deus não controla mais nada! E esta verdade traz a angústia de viver, e
a angústia nos faz sentir, e o sentir nos faz pensar, e o pensar nos faz sonhar, e é
sonhando que encontramos um meio de vencer o Medo. O medo é o primeiro sintoma
de si mesmo, a sua raiz, e o sonho é o primeiro sinal da emancipação. O presente
imaginado de uma outra forma é a única rota de escape, pois de uma outra forma já é
sonhar, e da mesma forma é pensar, embora no mundo conectado de hoje possamos
capturar outras formas vindas do outro, como se fossem nossas. Mas para os puristas,
eu vou logo dizendo que nós sempre colhemos do outro para sonhar, então não se
engane e nem se torture tanto, tentando manter uma integridade, originalidade, ela
jamais existiu, sempre tivemos que aprender no outro, sonhar é precisamente fazer
diferente a mesma coisa, Ser. O inconsciente não é um arquivo, nem uma memória
coletiva e nem nada próximo disto, ele é como nós buscamos, como nós colhemos os
nossos sonhos. Você pode levar a sua vida toda iludido por uma pureza, como se tudo
estivesse em algum lugar, mas o problema é bem maior, pois tudo está em todo o
lugar, e entre tudo há algo ligando tudo a tudo, a Luz, levando e trazendo,
imediatamente tudo. Os tolos creem na emancipação julgando que em algum lugar ou
em algum tempo, possa ser realizada esta identidade, e assim sacrificam a si mesmos,
precisam se sacrificar por um Deus. Quem caminha no caminho já sabe que esta
realização não se dá pelo Conteúdo, mas pela Forma como sonhamos. Forma e
Conteúdo são duas faces constitutivas do mesmo fenômeno, mas no Tantra, o
Conteúdo é constituído da mesma identidade, portanto o fenômeno se dá apenas na
dança dos Signos, dos Símbolos no mundo. Claro que este caso de semiótica serve
exclusivamente para si mesmo e não para as relações no mundo, onde cada sujeito se

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projeta de uma forma diferente, pois ele está preso a cadeia de seus conteúdos sem a
oportunidade de abrir mão deles.

No mundo nós buscamos a nossa identidade no outro, e assim mudamos o nosso


conteúdo crendo em uma evolução da identidade, mas no espiritual, esta regra termina,
e a Forma assume seu lugar como único modificador de seu discurso. Assim a forma, o
significante, a expressão, assumem a dinâmica do processo, pois o significado é o
mesmo. O significado ser o mesmo é o que eu que chamo de identidade. Isto viola a
tradição, viola a história, viola a origem, pois todo este passado foi construído pela
evolução, pela mudança da identidade. O ponto de mutação se dá aí, no fim de um
processo e o início deste outro. Então o mundo torna-se um campo onde se pode
colher e enquanto estivermos separados, será assim. Os Sonhos são colhidos todos os
dias pelo sono, justamente para reparar esta ilusão no conteúdo. O fenômeno precisa
apagar os seus sonhos todos os dias, pois eles não expressam mais o seu significado,
a sua verdadeira identidade. Embora os sonhos sejam um processo semiótico, eles
também reparam o sistema nervoso com o qual enfrentaremos o dia seguinte, o que
ocorre é que não possuímos uma reserva de vitaminas e minerais que possa abastecer
o nosso sistema nervoso na mesma demanda que o usamos, então quem não vive
exclusivamente para a sua vida espiritual e precisa trabalhar, precisa de suplementos
que contenham aquilo que é vital para o perfeito funcionamento do nosso cérebro, uma
teoria de enteógenos diz que estes produtos são produzidos no Hipotálamo, mas eles
não têm uma entrega satisfatória. Então aí entra o Yoga como um conjunto que pode
atender a esta demanda, tanto pelo estímulo por exercícios, como relaxamento, como
orientações. Se por um lado esprememos o nosso Soma pelo Hatha, pela força, tirando
o máximo que podemos, temos que nutrir-nos tanto com suplementos como por um
sistema de vida que nos permita continuar em um determinado padrão de atividade. E
isto nos leva a discussão do esgotamento das formas, que é um fato que ocorre,
quanto mais nos aproximamos da identidade, do conteúdo idêntico, mais necessitamos
da dinâmica das formas. Isto segue até um determinado ponto, quando a forma colhida
sempre será diferente, inédita. Então um filósofo, um pensador, um iluminado, ele colhe
no mundo para manter-se, mas ele não se confunde mais com a identidade do outro,
então ele tem a liberdade de não controlar mais o outro e nem iludir. E isto pode ser
bem aterrador para os demais. A Semiótica é um modo de ver o mundo, pela injunção
biunívoca da realidade, e no caso do Tantra, temos uma mesma identidade de fundo, e
entre elas um mundo criado pela cores e formas, que dançam como pixels entre nós.
Então não podemos dizer que este mundo entre nós é ilusório e nem dizer que a
identidade seja ilusória, a palavra ilusória denuncia um fim a ser atingido, um ideal, mas
o ideal semiótico é a continuidade, uma realidade vinda das formas que altera a nossa
perspectiva, e aquilo que o mesmo Pixel diz para o outro, já nos diz uma outra coisa, e
esta outra coisa que nos motivou, logo será transcendida. Então temos entre nós um
mundo de cores e formas, que nos produzem ideias e sonhos, mas é o mesmo Pixel

125
que produz outras cores, outras ideias e outros sonhos no outro. Então em um dia de
Luz, o mesmo Pixel produz milhões de ideias e palavras, cria um Universo para nós, e
esgotados precisamos dormir e repararmos a nós mesmos, então o mesmo fenômeno
que cria uma realidade para sonharmos e pensarmos vem e apanha os nossos sonhos
durante o sono. Os Hindus e os Chineses dizem de uma substância verde brilhante que
temos em nós, e que ela é a responsável que permite que o nosso cérebro volte a
sonhar acordado, vendo um mundo e o nomeando. Nós podemos criar qualquer
realidade, e isto é um fato, somente o homem pode fazê-lo. As letras e as palavras
designam a Forma, criam um mundo, que vemos, sentimos, percebemos.”

Este livro é o meu relato até o momento, e como uma cientista na área de Neurologia e
neurociências, como uma pesquisadora de imagens obtidas por meios magnéticos eu comecei
a ver que a experiência com Kundaliní é de fato algo que explica muitos pontos vagos na
Neurociência, e alguns são muito relevantes. Eu comecei a pensar se a imobilidade voluntária,
como feito na meditação e no relaxamento não enviariam uma ordem ao nosso sistema
nervoso e se esta ordem desencadearia a produção de substâncias como melatonina, apenas
como um exemplo, pois a melatonina não produz o entorpecimento que se segue no processo
realizado em vigília. Então a experiência com Kundaliní é somente um lado do processo e o
outro lado é como a resposta orgânica interpreta o fenômeno. Nas minhas análises cheguei ao
conhecido Soma Hindu, extraído do suco de plantas, onde a tal substância verde é citada como
coadjuvante na experiência de libertação.

Soma não é uma droga alucinógena ficcional como descreve Aldous Huxley no seu
romance denominado de Admirável Mundo Novo e na sua novela chamada de Ilha; Neil
Gaiman na novela American Gods, diz que o Soma se refere a ser "a oração concentrada",
uma bebida desfrutada pelos deuses (que se alimentam de adoração do povo), mesmo
aqueles não-hindus, como Odin; Maharishi Mahesh Yogi no seu programa de Meditação
Transcendental para obtenção de poderes que sua técnica envolve uma noção de "Soma",
supostamente com base no Rigveda; No hinduísmo, Soma é um Deus que era representado
como um Touro ou um pássaro, e às vezes como um embrião, mas raramente como um ser
humano adulto. No hinduísmo, o Deus Soma evoluiu para uma divindade lunar.

A lua cheia é o tempo para pressionar e coletar a bebida divina que escorre do Cakra
Sahasrara. A Lua é também o cálice do qual os deuses bebem Soma, identificando assim
Soma com o Deus da lua, Chandra. A lua crescente significava a metáfora do Soma por recriar
a si mesma, pronto para ser bebido de novo; Terence McKenna postula que o candidato mais
provável para o Soma é o cogumelo Psilocybe Cubensis, um cogumelo alucinógeno que cresce
em esterco de vacas em certos climas quentes e muito úmidos. Na Índia é identificado Cubenis
Psilocybe e são facilmente identificados e reunidos para consumo após as chuvas, e são muito

126
eficazes alucinógenos, ele foi tão longe como a hipótese do possível papel do Cubensis que
cresce no esterco do gado na vida das classes mais baixas, que continua totalmente
inexplorado: E a tese dele é que é P. Cubensis o responsável pela elevação da vaca a um
status sagrado. O arqueólogo greco-russo Viktor Sarianidi alega ter descoberto vasos e
socadores de madeira usados para preparar Soma em 'templos zoroastrianos' em Bactria. Ele
afirma que os navios que transportavam as plantas tenham revelado resíduos e impressões de
sementes deixadas para trás durante a preparação do Soma. Além do resíduo de efedrina, os
arqueólogos descobriram os restos de sementes de Papoula e Cannabis. Os navios também
tiveram impressões criadas por sementes de Cannabis. Cannabis é bem conhecido na Índia
como Bhang e, por vezes, as sementes de papoulas são usados com bhang para fazer o ritual
bebida Bhang Ki Thandai; Em 1989, Harry Falk observou que nos textos, tanto Haoma e Soma
foram citados por aumentar a atenção e a consciência, e não coincidem com o fato da
consciência alterar os efeitos de um enteógeno, e que nisso não há nada ou Xamã visionário
ou Védico ou nos textos dos Antigos iranianos.(Falk, 1989) Falk cometeu um erro crucial ao
assumir que a efedrina reage como efedrina do corpo, efedrina é menos potente que a
adrenalina e mais potente broncodilatador. Falk também afirmou que as três variedades de
Ephedra da efedrina (geradiana) também têm as propriedades atribuídas a haoma pelos textos
do Avesta. (Falk, 1989) Na conclusão do seminário 1999 Haoma-Soma em Leiden, Houben
escreve: apesar das tentativas fortes para acabar com ephedra por aqueles que estão ansiosos
para ver Sauma (Haoma e Soma) como um alucinógeno, seu status como um forte candidato
para o Soma rigvédico e Haoma Avestan ainda está de pé. (Houben, 2003). Em toda a
literatura vemos a mesma interpretação literal de que o Soma seja um suco extraído do talo de
uma planta e em nenhuma interpretação feitas nestes 3000 anos nós não temos a visão
metafórica, que é bem típica do Tantra neste processo de extrair este suco espremendo o talo
de uma planta, ou seja as tentativas de se procurar uma planta que seja aquela que possui o
Soma, não resultaram em nada.

Tanto o Soma e o Haoma são derivados do termo Proto-Indo-iraniano Sauma. O


nome cita a tribo Hauma-varga e está relacionado com a palavra e provavelmente, relacionada
com o ritual. A palavra é derivada de uma raiz indo-iraniano Sav-(sânscrito sav-/su) "a
pressionar", ou seja, Sau-ma é a bebida preparada, pressionando os caules de uma planta. A
raiz é Proto-Indo-Europeia (costurar) Certamente não se tratava de uma planta alucinógena, e
nem que contivesse uma droga, mas sim de uma alusão a pressão feita no talo do caule da
planta. Que planta é esta que precisa ser pressionada para fazer sair dela o Soma? Lendo o
SatCakraNirupana e em consultas ao BB, cheguei a conclusão que se tratava de espremer o
talo do Cakra Sahasrara, o hipotálamo, pois os Cakras são descritos como lótus, e está bem
claro que na linguagem usada, não se referia a uma planta externa e sim a pressão feita no
talo do Cakra Sahasrara. Esta pressão faz a liberação de hormônios e este é o verdadeiro
Soma que escorre da glândula Pineal, sendo o talo o hipotálamo, a glândula Pituitária.

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Verso 41 SatCakraNirupana – Dentro do Sahasrara está a Lua cheia sem a marca da
lebre, (pura, toda branca, uma luz branca) resplandecente como o céu claro, derrama seus
raios com profusão e é úmida e fria como néctar...; 42 - ela é tão delgada com a fibra do talo do
loto e dela flui a corrente contínua do néctar; 50 - aquele que aprende da boca do Guru, o
processo que abre o caminho para a grande libertação,..então desperta a Devi mediante
Humkára...e por meio do ar e do fogo a eleva dentro do Brahmadvára; 53 – A bela Kundaliní
bebe o néctar e retorna...produzindo a bem aventurança eterna e transcendente.

Então todo o processo de Kundaliní atinge seu auge quando pressiona o hipotálamo,
coisa que eu pude sentir na prática, uma absurda pressão que espreme o hipotálamo. Beber
Soma produz imortalidade (Amrita, Rigveda 8.48.3). Amrita é foneticamente e conceitualmente
muito semelhante ao grego Ambrosia; tanto é que é a bebida dos Deuses, e que os fez
divindades. Indra e Agni são retratados como grandes consumidores de Soma.

Agni é uma divindade Hindu, um dos mais importantes dos Deuses Védicos. Ele é o
Deus do fogo e o aceitador de sacrifícios. Os sacrifícios feitos a Agni vão para todas as
divindades porque Agni é um mensageiro comum para os outros deuses. Ele é sempre jovem,
porque o fogo é re-aceso todos os dias, e também imortal. Indra ou Sakra é o Rei dos deuses
ou Devas e Senhor do Céu ou Svargaloka na mitologia hindu. Ele é o Demiurgo. Novamente
temos a Dupla Agni e Indra o Demiurgo e a Luz, ou o Jeová e Lúcifer.

Então é perfeitamente normal que Kundaliní produza o pingar do Soma, a bebida dos
deuses, sendo bebida pela luz na sua volta feita no Tântrico, gerando o êxtase. Sem seu
alimento Somático Indra ou o Demiurgo não tem mais poder sobre o Homem, o homem se
eleva ao mesmo patamar deles.

Refiz o processo centenas de vezes, percebi e estudei que havia uma substância que
produz a ligação entre os neurônios e que era fundamental como enzima, sem ela, mesmo as
pressões feitas no hipotálamo produzem muito pouco Soma. Esta enzima eu denominei de
Wild
Soma , a minha sugestão é ingerir casulas de Lecitina e ovos para o Vegans, ou então o
Cacau natural que tem o suplemento em boas quantidades, exceto pelo Cacau, todos estes
Wild
alimentos tem uma concentração de Soma muito baixa, mas são os únicos alimentos que o
possuem. O que eu faço uso, eu requeri aqui nos EUA o direito e está em processo de registro
para futuros Royaltes.

Muitas pessoas durante toda a sua vida tem uma ou duas experiências espontâneas
com Kundaliní, e isto durante toda a sua vida, mas estas experiências são sempre lembradas
como espetaculares por que ocorreram quando havia Soma em abundância, geralmente tais
experiências ocorreram no sonho interrompido, SLW, logo depois que a pessoa voltou a
dormir. Ora, justamente quando se dorme é que Kundaliní está ativa, e se acordarmos na fase
certa do sono NREM e a pessoa voltar a dormir, e se permanecer consciente nesta fase, esta

128
experiência inesquecível ocorre como uma Meditação Tântrica no símbolo, como uma visão
panorâmica de seu Signo, SLW, mas na verdade é Kundaliní que ativou o terceiro olho, o Ajña
Cakra. Esta passagem foi utilizada pelo BB como uma antiga técnica indiana de mosteiro,
quando as pessoas são acordadas no meio da noite e forçadas a meditar depois de um dia de
uma rotina repetitiva e monótona. Não conheço esta técnica, apenas li há uns quatro anos
atrás BB descrevê-la como uma alternativa abrupta e que foi conhecida na Índia medieval
como Hatha, os meios pela força eram os métodos empregados para forçar Kundaliní, são tais
métodos que permanecem secretos e são ensinados somente na Diksha. No método aberto ou
abrupto os Monges então batiam nos meditadores recém acordados com réguas chatas de
madeira, e o choque liberava os bloqueios. Mas professores de Yoga estúpidos transformaram
a técnica milenar em uma aula.

Com o ritmo atual em que vivemos nós esgotamos antes do meio dia a nossa dose de
Soma produzida durante o período de sono, e convém lembrar que o Soma não é exatamente
uma substância e sim a resposta colinérgica nas sinapses, é como se uma árvore de natal
fosse o nosso cérebro e de repente a maioria das luzes da árvore de natal se desligassem,
então as sinapses precisam tomar outros caminhos, que são a repetição de um padrão de
segurança, e isto causa Stress e cansaço, falta de foco, e diminuição dos processos cognitivos.

Na prática nós maltratamos bastante o nosso cérebro, pois a aceleração e as


necessidades do ritmo de vida atual exigem muito mais do que o nosso sistema nervoso
suporta, como efeito temos as doenças de fundo imunológicas, as alergias, as dores, as
doenças oportunistas e o esgotamento tanto físico quanto mental. Diante deste quadro a
maioria das pessoas precisa recorrer aos fármacos tanto para dormir, como para manter-se
alerta e também precisam fazer o uso da drogadicação até mesmo para as atividades de
recreação.

O que está errado nisto tudo é que as vesículas sinápticas tem um volume fixo de
hormônios de conexão, então há um declínio cognitivo que atinge o seu ápice ao meio do dia, e
depois de uma soneca reparadora nós voltamos a subir um pouco, para depois cair a curva de
Soma, até a noite de sono. Portanto o Soma extraído do talo, do Hipotálamo, espremido pela
contração involuntária de Kundaliní, esvazia os agentes enzimáticos ativando a produção de
hormônios nas vesículas sinápticas. E isto depende de fatores como o ritmo respiratório e do
coeficiente entre inspiração e expiração, muito explorado no domínio do Prana pelo ritmo
respiratório.

Foi na Diksha que recebi de BB, foi onde aprendi a colidir ao máximo o Apana, e ao
máximo o Prana da segunda emanação, resultando em dois momentos que atingem o seu
ápice, tanto na estimulação de Kundaliní na base da coluna como na sua “subida” ao cérebro.
Controlando o Prana controlamos Kundaliní, mas somente a respiração não funciona, é preciso
também a vontade e a visualização interna do processo a partir da nota básica. Esta vontade

129
com a visualização interna é uma processo que se chama de Nyasa, que o Guru, “coloca” no
iniciado no momento da Diksha, também era chamado de Selo, Mahamudrá. Mas como o
objetivo aqui não é descrever a Diksha, pois ela é uma passagem feita pelo mestre, então
mesmo que a pessoa por meios auto-suficientes entenda e chegue ao processo em si, ela não
obtém sucesso, pois não ultrapassa a sua própria noção de si mesmo. Parece-me que o papel
do Guru é duplo, é tanto o de ensinar o processo, como o de, pela sua presença, produzir um
fenômeno que é comum entre duas pessoas, encontrar um Guru que conheça o processo já é
quase impossível, pois existem centenas de versões diferentes na interpretação do fenômeno,
e a meu ver o menor equívoco leva a uma ampla gama de possibilidades.

Estas são as minhas impressões, e quem desejar lidar com a Apanhadora dos Sonhos
sem uma vida dedicada a isto, pode fazê-lo, mas com um espaçamento maior entre as
práticas, tanto que outros grupos de Tantra indicam uma vez ao Mês como o tempo ideal, o
que é de certo exagero, uma vez por semana é o ideal sem o suplemento de enzimas. Minha
amiga Julien ainda não foi iniciada e está fazendo uso, tanto ela como grupos sob sua rigorosa
supervisão com a administração de placebos nos grupos para se ter uma amostra real de seus
Wild
efeitos, e em sua primeira avaliação o Soma se mostrou muito eficiente, é um caminho e é
uma alternativa bastante promissora para as pessoas comuns que podem ter acesso ao evento
SLW. A Carla, como eu, foi iniciada pelo BB e concorda comigo na falta de enzimas para se ter
uma abundância de Soma, cuja produção parece ser regulada pelo ciclo lunar.

A colheita depende somente de nós quando o arrebatamento tiver o sentido de


continuidade e não mais um sentido de liberdade, pois o sentido de liberdade, ele trabalha na
utopia do poder, e ela jamais foi ameaçada, por ninguém.

“Quando Kundaliní se ativa [sobe] o corpo dorme, quando Kundaliní dorme [desce] o
corpo acorda” Nesta frase genial BB nos passa o fundamento do segredo, e logo penso que o
sono NREM e REM sejam viagens que ela faz, indo e voltando, construindo sonhos e os
apanhando, 2,3,4, 5 vezes durante uma noite.

Embora o objetivo deste livro seja o de descrever o meu processo, eu quis dividir com
os possíveis leitores deste livro as minhas descobertas e incentivar que você apanhe os seus
sonhos, e que faça a sua colheita consciente, pois estamos aqui para isto, para viver os nossos
sonhos. Vivendo ou não os seus sonhos, ela virá e levará todos eles, mas vivendo você saberá
o que escapou de si, e então irá sonhar e viver mais e melhor! Não existe nenhuma outra vida
para viver a não ser a de construir a sua realidade, e este é o nosso poder, é humano e
inalienável. Negando este poder você estará no limbo da existência e o aceitando você estará
frente a frente com o desafio de criar.

“Toda a cultura humana seja como for não poderá controlar as perturbações
trazidas as suas vidas, pois o instinto como Eros apenas é uma força diária de

130
renovação, e não de oposição a Cultura. Eros cria novas oportunidades, abastece o
Universo, como uma mola enrolada, que se achata e logo empurra, eternamente.
Nosso corpo é erótico, e não trava uma luta com a cultura para dominar suas forças, se
há um mal estar na nossa civilização como Freud denuncia, ele é produto do engodo,
da crença que temos na nossa Cultura, então não se engane, ela é apenas um meio, e
não o fim, o fim chama-se continuidade, oportunidade, expansão ou com queiram dizer.
Eros comanda a vida no Universo, e a cultura é seu produto, nunca houve oposição e
nem luta alguma. Este poder como dinâmica em nosso corpo, este poder dimensional
enrolado, ele é Kundaliní. Tantra é renovação e continuidade, diária, primeiro como a
formação de uma personalidade pela primeira emanação cósmica, depois pela
representação do Ser e finalmente pela libertação” Mestre Bhava.

Gratidão eterna ao BB e a todos que sabem que sonham.

ANEXOS

Método SLW

Deixo aqui o método SLW, que vem do inglês Semiotic Landscape Wild,
paisagem ou a visão semiótica selvagem, que foi desenvolvido pelo mestre BB como
uma alternativa no conhecimento de si mesmo para as pessoas sem a oportunidade
de um contato direto com um mestre, ela é feita através do fenômeno Kundaliní e
muito utilizada no Tantra como o método de visualização direta. Eu ri uma semana
depois de ler um livro de um suposto mestre de Tantra hindu que publicou um livro
sobre o assunto, o dito livro chama-se Cakras , Energy Centers of transformation , do
autor Harish Johari, ele promete um método de visualização, mas o autor jamais
esteve com um Guru tântrico na sua vida, o dito livro não contém nada a na ser as
clássicas pinturas dos Cakras. Como já detalhei ao longo deste livro, o único estado
consciente é a vigília, chamado de Jagart, então o objetivo do método SLW, é pegar a
Kundaliní ascendida, diferente da Diksha onde se aprende a elevá-la e a trabalhá-la.
No SLW usamos a oportunidade dela estar em cima, para então meditarmos. Alguns
autores norte americanos usam a sigla SLW, para sonho lúcido Wild, uma cópia do
método indiano, totalmente fora do seu contexto original. Como consultora do método
aproveito a oportunidade para dizer que ele requer um bocado de disciplina e de
paciência, não force, não racionalize, apenas execute e fique no On/Off do processo.

Método SLW

Resumo e dados cedidos pelo Mestre BB.

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Deve-se dormir 5, 6, ou 7 horas de sono normal e depois por um mecanismo
externo o meditador deve acordar e voltar a dormir, porém agora como uma SLW, uma
visão panorâmica semiótica dos Signos.

a) Dormir 5 a 6 horas (ou utilizar as duas janelas diárias, após meio dia e após
as 18hs sem dormir apenas relaxar)
b) Acordar e relaxar até atingir um ponto de congelamento ou imobilidade do
corpo. Mas não se pode despertar demais, apenas para recobrar uma leve
consciência. Começar com a atenção na Garganta e ir para o item “c”.
c) Ler os Sutras do Tantra – significa costurar, isto é ficar entre a vigília e o
sonho alternadamente, pode-se escolher uma palavra que venha a mente e
repeti-la de forma soletrada. Esta é a parte mais importante da técnica,
experimentar este On/Off repetidamente. Se uma palavra escolhida não
funciona então deixe por conta de seu sonho. Entre no sono e saia, este é
o método.
d) Ir para a palavra seguinte que surge desta palavra e assim prosseguir.
e) O fio de palavras, os Sutras, produzem por homonímia um Campo de
Sonhos, pode-se entrar nele e assim modificá-lo, estar nele ou vê-lo e até ir
modificando-o, ou então sair e ir para fora dele, no caso “f”.
f) Sair do corpo fisco, e entrar em outros campos de sonhos alheios.

Os itens “e” e “f” são as duas possibilidades a serem exploradas, é melhor


primeiro se habituar a explorar os seus campos de sonhos e ir modificando-os,
isto é a meditação mística do Tantra.

Após cada meditação anotar todas as impressões, pois elas surgem ao longo
do dia trazidas pelos signos que nós vemos no transcorrer do nosso dia. O que
está acontecendo é a alteração do subconsciente, é uma meditação profunda
que transforma completamente o meditador, pelo método místico de Kundaliní.

Dados técnicos:

Frequências e equivalências para pesquisas

Vigília ou atividade do corpo físico, Shtula Sharira – de 25 a 15 HZ ou ciclos por


segundo, ou faixa β (Beta).

Sonho ou atividades da Consciência, Suksma Sharira – de 15 a 7 HZ ou ciclos


por segundo, ou faixa α (Alfa); e de 7 a 3 HZ ou ciclos por segundo, a faixa θ

132
(Teta). Alguns tântricos dividem o Suksma em dois, e na faixa mais baixa
chamam de Jyoti Sharira, o que é correto, pois é a luz , o brilho das letras.

Na faixa Beta nós estamos ativos e na faixa Alfa estamos cada vez mais
concentrados e o corpo cada vez mais relaxado, na Alfa baixa, por volta de 7
HZ estamos próximos do sonhos, que começa na faixa de 7 até 3 ciclos por
segundo, chamado de sono REM. O sono sem sonhos está entre 3 e 0,5 Hz
que é a faixa Δ (Delta) ou sono NREM.

É no sono NREM que Kundaliní sobe e ativa o sono REM.

Padrão de cores.

A cortina além do horizonte de eventos é de cor Púrpura, e depois é a


chamada matéria escura. A cor púrpura foi sem dúvida o corante de maior
renome e mais caro de todos os corantes antigos. Era um símbolo de riqueza e
distinção. Na Roma antiga só o imperador tinha o direito de usá-la.

O imperador Nero chegou a punir com a morte o seu uso. O corante era
produzido a partir de espécies de um molusco do gênero Murex. Cada espécie
do molusco dava a sua variedade de púrpura. O tom varia muito desde o
Carmin até o Magenta. Mas não existe nenhum corante até hoje que chegue ao
padrão que se vê surgir no Ajña Cakra. No padrão internacional chamado de
RGB, de Red, Green e Blue, seria algo próximo do RGB (255, 0, 73). Vejam
que a faixa de verde está zerada, justamente aquela que é descrita como
sendo o Soma, verde brilhante, que junto com o Vermelho e o Azul irá produzir
todas as demais frequências de luzes. Isto tudo é muito próximo do estudo dos
Quarks.

133
“Eu posso determinar a minha vida em duas fases, antes e depois do BB. Antes havia o Outro do Outro, e
depois de ter recebido a minha Diksha com o BB, eu aprendi que é precisamente, por não haver o Outro
do Outro, é justamente o que dá a consistência do fenômeno. Antes eu era uma pessoa fracionada,
pedaços que se uniam por um sentido frágil, submisso ao meio, embora estivessem já orientados pelos
meus desejos de descoberta de um si mesmo em mim. Com as experiências eu pude sentir, ver, sofrer no
meu corpo, algo que escapava da minha compreensão, tudo está entre nós e o Outro, mas o Outro era
matizado quando via nele mais um Outro, agora não, há o Outro e há o meu Eu, então o fenômeno está
comigo, agindo sem mais alguém além do Outro. Luzes e cores, sons e sensações foram um processo
para desnudar o Outro diante de mim, ou a ilusão de um gozo por ele, ou como uma ilusão do meu
gozo... Gozar a vida dentro do meu corpo, existir, foi a aceitação do meu Avatar físico. Na identificação do
Outro pelo Sukhsma, não há outro além do idêntico a mim, e viver assim, é viver livre. Certamente meu
destino foi mudado, minha rota alterada, graças ao encontro com o Mestre Bhava”

Raija Karan

134

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