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Resenha do texto “Entre o plágio e a autoria: qual o papel da universidade?

” de
Obdália Santana Ferraz Silva

Estudantes, desde o ensino fundamental à universidade, convivem com a prática de


cópias de parágrafos, frases, textos inteiros com a omissão da fonte. Diante da sociedade
informatizada em que vivemos, onde textos e informações são digitalizados e tornam-se
de muito fácil acesso, a discussão sobre a cópia não autorizada de frases, parágrafos ou
textos inteiros torna-se mais acentuada.
A autora com a intenção de respoder perguntas como: de que forma os graduandos
de letras, professores em formação, estão apropriando-se dos hipertextos digitais para
produção de textos acadêmicos? Que concepção de plágio têm os graduandos de letras?
Como a universidade tem tratado a questão da cópia entre esses futuros professores de
língua materna? realizou uma pesquisa de campo com 20 graduandos de letras de uma
universidade pública do estado da Bahia.
A partir desse estudo, a autora observou que o computador e a internet estão
fortemente presentes na vida dos graduandos, os quais, em sua maioria, utilizam
hipertextos digitais para pesquisas, principalmente visando à elaboração de trabalhos
exigidos pela universidade. Os graduandos afirmam que os textos da internet são úteis
pela variedade de opções oferecidas pelos links, pelo esclarecimento de dúvidas de
determinados conteúdos, pela falta de tempo para exaustivas pesquisas bibliográficas,
entre outras.
A pesquisa conclui ainda que, na busca por caminhos mais fáceis e mais velozes,
tendo como aliada a natureza aparentemente públicado conteúdo on-line, além da
acessibilidade dos hipertextos digitais, na universidade a prática do plágio tem-se dado
de forma mais abrangente e acentuada, sendo que 36,84% dos estudantes da pesquisa
assumem claramente já terem cometido plágio de textos; 21% plagiam, mas não
assumem claramente; 41,1% dizem não ser a favor do plágio. 
O plágio ou apropriação não autorizada dos direitos intelectuais de outra pessoa
está presente não só na área da pesquisa, Letras, mas em todas as outras áreas do
conhecimento.
Diante dessa realidade, é relevante pensar em projetos e ações que estimulem o
exercício da autoria e autonomia na univerdade; bem como da reflexão sobre a prática
do plágio, pois além de se apropriar indevidamente do trabalho de outro o estudante
rouba de si mesmo a possibilidade de um outro pensar sobre o texto.
O aluno, ao invés de construirem conhecimentos e um pensar diferenciado,
estimulados pela facilidade de transitar na tela em busca de informações, cometem o ato
de plágio que pode ser três tipos: plágio integral, a transcrição de um texto inteiro sem
citação da fonte; plágio parcial, cópia de alguns parágrafos ou frases de diversas fontes
para dificultar a identificação; e plágio conceitual, apropriação de conceitos ou de uma
teoria que o aluno apresenta como se fosse de sua autoria.
Assim, acredita-se que os professores não deveriam ignorar o plágio, mas sim
implementar ações que venham a convergir para um novo paradigma no aprendizado.

Paradigma no qual a universidade convida o estudante à participação num processo


interativo, ético, com uma dimensão estética que já é própria da linguagem e da
humanidade. O estudante precisa ser ativo, gerar autonomia no processo de
comunicação e de aprendizagem, o que o permitirá desenvolver seu senso de
criatividade e mergulhar no espaço virtual infinito que é a imaginação.
A escola por muito tempo (e ainda hoje) privilegiava a transmissão dos
conhecimentos adquiridos por gerações passadas e o aluno era submetido à autoridade
do professor. Isto é, os alunos eram reprodutores do saberes de outros, plagiadores. A
prática da escrita na escola, muitas vezes, é cristalizada e enfatizada por exercícios e
provas que enfatizam a memorização, seqüência e hierarquização de conteúdos,
modelos, receitas.
Com isso, há o distanciamento do objetivo de formar autores, sujeitos autônomos,
que se responsabilizem pelo seu dizer/escrever, que transmitam sua identidade em seus
trabalhos.
O contexto atual exige a formação de alunos que sejam críticos, autônomos,
interventores, capazes de interpretar e analisar a realidade, deixando de lado o sujeito
acomodado e reprodutor de modelos textuais. E, para que isso seja possível, a escola e a
universidade devem criar práticas que possam desenvolver esses sujeitos.
A escola é necessária para reflexão e elaboração de experiências, mas ainda assim
não é suficiente, uma vez que as interações fora da escola também constituem a
experiência da autoria.
Se na escola a prática de produção de texto não é potencializada, nas universidades
essa pratica também é extremamente limitada. Por conta disso, há urgência em
implementar ações com relação à prática de produção de texto na universidade.
O aluno, pelo ato da escrita, se insere no meio sociocultural. Ele examina, avalia,
expressa ou silencia, abrindo espaço para a presença de seu interlocutor, inscreve-se nas
entrelinhas do seu texto, traça seu perfil e a sua identidade.
Portanto, quando a universidade e os professores ignoramo plágio e a necessidade
de projetos que estimulem as práticas de leitura e escrita, o aluno é levado à não-
consciência do outro, à negação da autoria, da identidade do outro e, consequentemente,
a seu silenciamento como autor, surgindo o plagiador.
No mundo atual, informatizado, ao se falar de produção de texto, leitura, autoria,
identidade, deve-se lembrar do novo espaço de leitura e escrita que exige outras
competências, relações, interações e papéis: o hipertexto. O hipertexto é um espaço de
leitura e escrita sem margens e sem fronteiras, que exige a revisão das estratégias de
lidar com o escrito, implicando no exercício de contínua busca de novos saberes,
exigindo posicionamento crítico, indagações e soluções. Ele gera associações com
outras leituras, há uma relação de intertextualidade, há a relação entre diversos textos.
Com a facilidade de busca e a quantidade de textos disponibilizados na internet, a
autora conclui que olhar para o problema do plágio na universidade torna-se ponto-
chave e um desafia para a universidade e seus professores. A universidade deve criar
práticas que estimulem a produção dos alunos e que essa produção seja reconhecida. E a
internet, reconhecida como facilitadora do plágio, deve ser usada como uma ferramenta
de produção de conhecimento, onde o graduando possa refletir, analisar e construir sua
própria identidade, ser autônomo.
Assim, pode-se concluir que a universidade, os professores e também os
graduandos devem fazer seu papel para que não haja plágio e para que a universidade
consiga formar pessoas capazes de refletir e analisar sobre os textos lidos e sobre a
realidade e serem sujeitos autônomos, que possuem sua própria identidade.

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