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Padre J. Von Den Driesch

A Chave de Ouro para o Paraíso

A Contrição Perfeita

Transcrição da edição de 1913


Tradução 2020

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Sumário

Nota do Tradutor 5
prefácio 6
Prólogo 8
Introdução 10
O que e a contrição? 12
Então, O que seria a contrição perfeita? 14
Como obter umA contrição perfeitA? 21
É difícil fazer um ato de contrição perfeito? 26
Quais efeitos produzidos pela contrição perfeita? 28
Por que a contrição perfeita e tão importante e às vezes até
necessária? 33
Quando você deve fazer um ato de contrição? 42
Ato de Contrição 44

3
Nossa Senhora do
Sorriso

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Nota do Tradutor

Este livreto foi traduzido do texto original: The Golden Key to


Paradise — Perfect Contrition, escrito pelo sacerdote J. Von Den
Driesch da Arquidiocese de Colônia — Alemanha, datado do ano de
1913.
Como você lerá no decorrer do livreto, a Contrição Perfeita é um
ato de extrema importância para nós, Católicos, seja durante a vida e
mais especialmente na hora da morte.
Peço-lhes que compartilhem este pequeno livro com o máximo de
pessoas possível, tendo em vista os tempos difíceis pelos quais estamos
passando.
Misericórdia de nós, Senhor!
Ofereço esta tradução a Nossa Senhora, nossa Mãe e Medianeira.
— Rammyze Lima

«À Vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as


nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos
os perigos, ó Virgem Gloriosa e Bendita. Amém.»

5
prefácio

Este pequeno livro é tão valioso quanto os longos tratados, tanto


pela importância soberana do assunto que se discute (um assunto,
infelizmente, muito pouco conhecido pela maioria dos Cristãos) quanto
pela abundância de doutrinas e pelo interesse de suas aplicações práticas.
«Os Grandes Meios de Salvação», é o título que Santo Afonso de
Ligório deu a um livreto sobre a oração, publicado juntamente com
muitas outras obras feitas por ele. E tão grande era sua confiança na
eficácia e no poder da oração para garantir a salvação das almas, que ele
desejaria, disse ele, ver seu livrinho nas mãos de todos. Sobre o exercício
do amor de Deus e da perfeita contrição, podemos dizer, com a mesma
verdade, que eles são «os grandes meios de salvação», porque entre um
ato de caridade ou a contrição perfeita e a aquisição da vida eterna, a
conexão é mais íntima e ainda mais próxima do que entre oração e
salvação.
Consequentemente, eu gostaria de ver este pequeno trabalho,
como o de Santo Afonso, nas mãos de todos, estou convencido de que a
leitura cuidadosa e a colocação em prática de seus ensinamentos abrirão
os portões do céu para uma multidão de almas em perigo de condenação

6
eterna sem lê-lo, e aumentaria, de maneira maravilhosa, a graça de
Deus naqueles que foram fiéis desde o batismo.
Todo Cristão deve ser profundamente instruído sobre a
importância vital do ato de contrição perfeita e da caridade, devido aos
serviços inestimáveis que esse conhecimento pode nos render na hora de
nossa morte e nos permitir prestar no leito de morte de uma pessoa que
está morrendo, a quem a Providência pode nos levar. Ninguém, mesmo
de boa saúde, deve esquecer essa verdade. Mas é desejável, no geral, que
todos mantenham profundamente gravado em seu coração como fazer a
contrição perfeita nas horas de enfermidade e nos perigos da morte.
Que este livreto agrade a Deus e que seja distribuído para quanto
mais pessoas possível. Não há dúvida de que sua leitura será
acompanhada de abundantes bênçãos.
— Padre Augustine Lehmkuhl, S.J.

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Prólogo

Esse pequeno trabalho sucinto foi providencialmente encontrado


em uma cópia decrépita de 75 anos, publicada em francês.
É inquestionavelmente o assunto mais importante que um
Católico, ou alguém com esse propósito, poderia ler — a chave do céu,
de fato. Hoje, o conhecimento da contrição perfeita é mais importante
do que nunca; o sacramento da penitência foi quase anulado pelos
inimigos da Igreja e pelos verdadeiros confessores, cada vez mais
distantes.
Observe enquanto lê este livreto, quão perfeita é a contrição, mesmo
para aqueles que não são batizados, falo para aqueles que se encaixam no
batismo do desejo (em voto). Nas palavras do profeta, não se pode deixar de
exclamar que «o Senhor teu Deus. . . é gracioso e misericordioso, paciente. . .
e pronto para se arrepender em castigar» (Joel 2, 13). Onde está a contrição
perfeita, existe a caridade, e onde a caridade está, há a graça santificante.
Essa graça, como nos ensina o Doutor Angélico, Santo Tomás de
Aquino, não se limita aos sacramentos, aos sinais e causas visíveis da graça.
E quem morre no estado de graça é salvo, tão certamente quanto os que
morrem sem ele, são condenados.

8
Este livreto, no entanto, não tem intenção de causar polêmica, mas é
apenas para aqueles que, por ignorância da contrição perfeita, permanecem
em desespero pelo perdão na hora da morte.
Rezamos para que todo mundo que leia este livreto obtenha um
suprimento para si mesmo e espalhe cópias a toda sua família e amigos, para
que um tradutor seja encontrado em todas as línguas e que chegue até os
confins da terra. De fato, que sua propagação se torne um verdadeiro
apostolado para todo verdadeiro Católico. Quantas almas existem para
serem salvas, e que recompensa rica para si mesmo em tal apostolado!
«A caridade cobre uma multidão de pecados» (1 Pedro 4, 8).
— Reverendo Robert F. McKenna, O.P.

9
Introdução

Ao ver o pequeno livro A Chave de Ouro para o Paraíso,


suponho que você, caro leitor, experimentará a curiosidade de saber
mais sobre o conteúdo corresponde ao título.
Talvez, você seja inspirado por alguma desconfiança, e então, caro
leitor, você se perguntará com apreensão se está lidando com uma
daquelas peças sensacionalistas e infalíveis da literatura das grandes
livrarias.
Bem, então, caro leitor, não se trata desse tipo de livro, este livreto
é uma chave genuína e tangível e, certamente, fácil de alcançar: trata-se
da contrição perfeita!
A contrição perfeita pode abrir o céu para você, a todos os dias, a
qualquer momento, se você teve a infelicidade de fechá-lo através do
pecado mortal, e especialmente se, na hora da morte, você não tem ao
seu lado um padre, o dispensador de Misericórdia Divina. A contrição
perfeita será a última chave que, com a Graça de Deus, abrirá o céu
para você.
No entanto, para fazer isso, você deve ter adquirido o hábito de
usá-lo efetivamente durante sua vida. Quantas almas, graças à contrição
perfeita, foram asseguradas do céu, onde sem esse arrependimento,

10
teriam sido irremediavelmente perdidas! «Se eu pudesse atravessar o
campo pregando a Palavra Divina», disse o sábio e piedoso Cardeal
Franzelin, «meu tópico favorito de sermão seria a contrição perfeita».

11
O que e a contrição?

Contrição é uma dor da alma e um ódio pelos pecados


cometidos.
Deve ser acompanhado por um bom propósito, isto é, uma firme
resolução de se corrigir e não
pecar mais.
Para que a contrição seja real,
é necessário que seja interior,
que venha das profundezas do
coração; não deve então ser
uma fórmul a simples
pronunciada sem reflexão.
Não é necessário mostrá-lo
por suspiros ou lágrimas, etc.
Todas essas exibições podem
ser um indicador, mas elas não
são a essência da contrição.
Santa Catarina de Siena em êxtase
Isso reside na alma e na vontade
determinada de fugir do pecado e retornar a Deus.

12
Além disso, a contrição deve ser UNIVERSAL, isto é, devem ser
considerados TODOS os pecados cometidos — pelo menos todos os
p e c a d o s m o r t a i s . Fi n a l m e n t e , a c o n t r i ç ã o d e v e s e r
SOBRENATURAL e não puramente NATURAL, pois desta
forma, não haveria utilidade.
É por isso que a contrição, como qualquer outra coisa boa, deve vir
de Deus e de Sua Graça. Somente a Graça de Deus pode gerá-la em nós.
No entanto, Deus sempre nos concede a graça necessária, desde que
Lhe peçamos, desde que possuamos boa vontade e um arrependimento
sincero e sobrenatural.
Se nosso arrependimento é baseado em um motivo de interesse ou
por uma razão puramente natural (isto é, males temporais, vergonha ou
doença), teremos apenas contrição natural, sem mérito. No entanto, se
for baseado em alguma verdade da fé (ou seja, inferno, purgatório, céu,
Deus, etc.), então possuiremos verdadeiramente uma contrição
sobrenatural.
Essa contrição sobrenatural pode ser, por sua vez, PERFEITA ou
IMPERFEITA e aqui chegamos ao nosso tópico de CONTRIÇÃO
PERFEITA.

13
Então, O que seria a contrição perfeita?

Em poucas palavras, contrição perfeita é contrição baseada no


motivo do AMOR, e contrição imperfeita é aquela que é baseada no
TEMOR de Deus.
A contrição perfeita é aquela que flui do PERFEITO AMOR
DE DEUS. Agora, nosso amor a Deus é perfeito se o amamos porque
Ele é infinitamente perfeito, infinitamente belo e infinitamente bom
(amor à benevolência) ou, porque Ele nos mostrou Seu amor de uma
maneira grandiosamente admirável (amor de gratidão).
Nosso amor a Deus é imperfeito, se O amamos porque esperamos
algo Dele.
Por conseguinte, no amor imperfeito, pensamos acima de tudo nos
favores recebidos, e no amor perfeito, pensamos acima de todas as
coisas, a bondade daquelE que concede esses favores. O amor
imperfeito nos faz preferir o próprio favor, enquanto o amor perfeito
nos faz amar o Autor desses favores, e isso menos pelos Seus DONS do
que pelo amor e pela BONDADE que esses dons manifestam.

«A contrição perfeita é aquela que flui do PERFEITO AMOR DE DEUS.»

14
Do amor, a contrição flui. Como resultado, nossa contrição será
perfeita, se nos arrependermos de nossos pecados por causa do perfeito
amor de Deus, seja por BENEVOLÊNCIA ou por GRATIDÃO.
Será imperfeito se nos arrependermos de nossas falhas devido ao
TEMOR DE DEUS, seja porque o pecado nos fez perder a
recompensa que nos foi prometida, ou seja, o céu; ou, porque ganhamos
o castigo imposto ao pecador, ou seja, o inferno ou purgatório.
Em uma contrição
IM PERF EITA, p ens amos
particularmente em nós mesmos
e nos males que o pecado nos
traz, de acordo com a luz da fé.
Na contrição PERFEITA,
pensamos especialmente em
Deus, em Sua grandeza, Sua
beleza, Seu amor e Sua bondade;
consideramos o pecado uma
ofensa e que foi a causa de
muitos sofrimentos sofridos para
São Clemente Maria Hofbauer
nos redimir. Desejamos não apenas o
nosso próprio bem, mas o de Deus.
Um exemplo nos ajudará a entender melhor. Quando São Pedro
negou nosso Salvador, «ele saiu e chorou amargamente». Por que ele
15
chorou? Seria pela vergonha que ele iria suportar na frente dos outros
apóstolos?
Em tal circunstância, teria sido uma dor puramente natural e sem
mérito. Seria porque o seu Divino Mestre talvez irá tirar a sua
dignidade de apóstolo e pastor supremo, ou expulsá-lo do Seu reino?
Nesse caso, a contrição seria boa, mas imperfeita. Não mesmo! Ele se
arrepende, chora porque ofendeu seu amado Mestre, tão bom, tão
Santo e tão digno de amor. Ele chora porque respondeu a esse imenso
amor com ingratidão, e isso é uma contrição perfeita.
Agora, você também, querido leitor, não tem o mesmo motivo que
São Pedro para detestar seus pecados, POR AMOR, POR UM
AMOR PERFEITO E POR GRATIDÃO?
Sem dúvida, os favores de Deus são mais numerosos do que os
cabelos da sua cabeça e cada um deles deve fazer você repetir as palavras
de São João: «Amaremos a Deus, porque Ele nos amou primeiro» (1
João, 4, 19).
E como Ele te amou?
«Eu te amei», diz o próprio Deus, «com um amor eterno, tive
piedade de ti e o atraí para mim» (Jer 31, 3).
«Com um amor eterno, eu te amei.»
Desde toda a eternidade, antes mesmo que houvesse um vestígio
de você na terra, Ele lançou sobre você esse olhar de amor que penetra
em tudo. Ele preparou para você uma alma e um corpo, céu e terra,
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com toda a ternura de uma mãe que se prepara para acolher a criança
que virá ao mundo. É Deus quem lhe deu vida e saúde; é Ele quem te
dá as coisas boas da natureza todos os dias.
Essa ideia foi
suficiente para que os
pagãos fossem levados ao
conhecimento e ao perfeito
amor a Deus. Por uma razão
maior, isso deve levá-lo até
lá — você Cristão crê no
amor e na bondade
sobrenatural de Deus por
você. Por meio do profeta,
Ele diz: «Eu tive piedade
de ti».
Você foi condenado
Transfiguração do Senhor

assim como todos os homens como


resultado do pecado original; Deus enviou o Seu único Filho, que se
tornou seu Salvador e o redimiu com Seu sangue, morrendo na cruz.
Foi em você que Ele pensou amorosamente em Sua agonia no
Jardim das Oliveiras, quando derramou Seu sangue sob os chicotes e os
espinhos, quando seguiu, carregando Sua cruz, o longo e doloroso
caminho do Calvário; quando, pregado na cruz, Ele expirou no meio de
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horríveis tormentos, foi em você que Ele pensou, com um terno amor,
como se você fosse a única pessoa no mundo. O que devemos fazer com
relação a isso? «Vamos amar a Deus, porque Ele nos amou primeiro.»
Além disso, Deus ATRAIU você a SI mesmo pelo batismo, que é
a primeira e principal graça da vida, e pela IGREJA, em cujo seio você
foi incorporado. Quantos homens foram capazes de alcançar a
verdadeira fé somente pela força do esforço e dos sofrimentos! Mas para
você, Deus lhe deu desde o berço, por puro amor. Ele atraiu você para
Si mesmo, Ele atrai você todos os dias por meio dos sacramentos e por
inúmeras graças, interiores e exteriores, com as quais Ele te ensina.
Você é, por assim dizer, submerso em um oceano, o oceano da
bondade e do amor divino, e Ele deseja novamente coroar todas essas
graças, colocando-o perto dEle e fazendo-o eternamente feliz. O que
você vai dar a Ele por esse amor?

«Ele atrai você todos os dias por meio dos sacramentos e por inúmeras

graças, interiores e exteriores, com as quais Ele te ensina.»

Não é verdade que você deve retornar algo por esses atos? Então
vamos amar nosso Deus, já que Ele nos amou primeiro.
Vamos ao que interessa: Como você respondeu ao amor de um
Deus tão amável e tão bom? Sem dúvida, com sua ingratidão e com seus

18
pecados. Mas você se arrepende dessa ingratidão? Ah! Sim, sem dúvida,
e você queima com o desejo de fazer as pazes por um amor ilimitado?
Bem, então, se é assim, você tem neste momento uma contrição
perfeita, aquela que é baseada no amor de Deus e que é chamada
CONTRIÇÃO DO AMOR OU DA CARIDADE.
Mas, ao contrário da própria caridade, há um grau, ainda mais
elevado, que consiste em amar a Deus puramente, porque Ele é
infinitamente glorioso, infinitamente perfeito e digno de ser amado, a
abstração de Sua misericórdia por nós. Vamos fazer uma comparação.
No firmamento, há um número de estrelas tão distantes de nós que não
podemos percebê-las, mas elas são todas tão grandes e brilhantes quanto
o sol que tão livremente nos transmite calor e vida.
Da mesma forma, suponha que o homem nunca esteve de posse
dessa estrela eterna que é o amor de Deus. Suponha que Deus não
tivesse criado nem o mundo ,nem criatura alguma. Ele não seria menor,
nem menos bonito, nem menos glorioso, nem menos digno de ser
amado, pois, Ele é Ele mesmo e em relação a Si mesmo o maior bem, o
mais perfeito e eu mais amável.
Esse é o sentido da fórmula: Eu lamento sinceramente. . . porque o
Senhor é infinitamente amável e deplora o pecado. Reflita um momento
e considere o amor de Deus, contemple especialmente os sofrimentos
amargos do Salvador. Nesta luz, você entenderá facilmente, e isso
perfurará seu coração.
19
Aqui estão, então, os meios práticos para alcançar uma contrição
perfeita.

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Como obter umA contrição perfeitA?

Você deve se lembrar antes de tudo que a contrição perfeita é


uma graça e uma grande graça da misericórdia de Deus.
Você deve pedir a Ele sinceramente. Peça a Ele, não apenas no
momento em que você deseja fazer
um ato de contrição, mas com
frequência. Esse deve ser o objeto
dos nossos desejos mais ardentes.
Portanto, repita com frequência:
«Meu Deus, conceda-me a
contrição perfeita por todos os
meus pecados». Nosso Senhor
concederá o seu pedido, se Ele vir
em você um desejo sincero de
agradá-Lo.
Dito isto, eis como você poderá
Precioso Sangue de Nosso Senhor facilmente fazer uma contrição
perfeita: Lance-se ao pé de um
crucifixo, na Igreja ou no seu quarto, ou onde você se imagina na

21
presença de Jesus crucificado e, à vista de Suas feridas, medite com
devoção por alguns momentos e diga a si mesmo:
«Quem, está pregado nesta cruz? É Jesus, meu Deus e meu
Salvador. O que Ele sofre? Seu
corpo mutilado coberto de
feridas, mostra os mais terríveis
tormentos. Su a alma est á
encharcada de dores e insultos.
Por que Ele sofre? Pelos pecados
dos homens e também pelos
meus. No meio de sua amargura,
Ele se lembra de mim, sofre por
mim. Ele deseja expiar meus
pecados.»
Pare por aí, enquanto o
sangue sempre quente de seu Crucificação de Jesus

doce Salvador cai gota a gota sobre sua alma.


Pergunte a si mesmo como você respondeu aos sinais de ternura do seu
adorável Salvador.
Lembre-se de seus pecados e, esquecendo por um momento o céu
e o inferno, arrependa-se especialmente porque são os seus pecados que
reduziram seu Salvador a tal estado. Prometa que não mais irá pregá-lO

22
na cruz com novos pecados e, por fim, recitar, devagar e com fervor, um
ato de contrição.
O ato de contrição pode ser expresso de várias maneiras, de acordo
com os sentimentos de cada penitente.
Abaixo está um dos mais conhecidos:
«Meu Senhor e meu Deus, arrependo-me das profundezas do meu
coração de todos os pecados da minha vida, porque por eles, recebi os
castigos da Tua justiça, nesta vida e por toda a eternidade; porque eu
respondi Teus favores com a minha ingratidão; mas especialmente
porque por eles Vos ofendi, Vós, que sois infinitamente bom e

Lado perfurado
de Jesus

infinitamente digno de ser amado. Decido firmemente alterar meus


caminhos e não mais pecar. Conceda-me a graça de ser fiel ao meu
propósito. Que assim seja.»
Nesta oração, expressamos três motivos de contrição: o primeiro é
a contrição imperfeita e os dois seguintes são a contrição perfeita. Nada

23
Adoração ao
Santíssimo
Sacramento

nos impede, de fato, de vincular esses dois tipos de contrição; o primeiro


nos leva muito mais facilmente ao segundo.
1. «Porque por eles ganhei os castigos da Tua justiça…» Isto se
refere à contrição imperfeita.
2. «Por ter respondido aos Teus favores com a minha ingratidão…»
Esse é um motivo que se aproxima da contrição perfeita e se une a ela,
pois, se tenho o sincero arrependimento de ter respondido ao amor de
Deus por minha ingratidão e meus pecados, necessariamente desejo
reparar essa ingratidão pelo meu amor. Agora, aquele que, por motivo
de amor, lamenta ter ofendido seu benfeitor, possui verdadeiramente
uma contrição perfeita, ou contrição de caridade.
3. «Mas especialmente porque por eles eu Vos ofendi…» Releia a
oração acima e você entenderá o significado dessas palavras. Lá você
verá, claramente expresso, o amor e a perfeita contrição. Para obtê-lo

24
com mais facilidade, adicione as seguintes palavras ao seu ato de
contrição, oralmente ou no seu
coração:
« M a s e sp e c i al men t e
porque, pelos meus pecados,
eu Vos ofendi, Vós, que sois
infinitamente bom e
infinitamente digno de ser
amado. Que é meu Salvador e
Quem morreu na cruz pelos
meus pecados.»
Depois vem a su a
decisão: «Resolvo firmemente
alterar meus caminhos e não
Corpus Christi
mais pecar…».
Mas você dirá: «isso é fácil para outra pessoa, mas para mim, é
algo muito elevado e quase impossível.» Você acha que isso é verdade?
Não acredite nisso!

«Decido firmemente alterar meus caminhos e não mais pecar. Conceda-

me a graça de ser fiel ao meu propósito. Que assim seja.»

25
É difícil fazer um ato de contrição
perfeito?

Sem dúvida, a contrição perfeita é mais difícil do que a


contrição imperfeita, necessário para a confissão.

No entanto, não há ninguém que, com a Graça de Deus, não possa


obter a contrição perfeita, desde que deseje sinceramente. A contrição
está na vontade e não no sentimento, embora, mesmo sem lágrimas, sua
intensidade deve ter alguma proporção com o pecado ou pecados que
cometemos.
Aliás, esta é uma consideração muito apropriada para nos
encorajar. Antes da época de Nosso Senhor, na lei antiga, a contrição
perfeita foi, por 4000 anos, o único meio de obter o perdão pelos
pecados. Novamente, em nossos dias, não existe outra forma de perdão
para milhares de pagãos e hereges. Agora, é verdade que Deus não
deseja a morte do pecador, Ele não pode desejar impor uma contrição
perfeita impossível de alcançar. A contrição deve, pelo contrário, estar
ao alcance de todos os homens.
Bem, então, se tantos infelizes que vivem e morrem podem obter
essa contrição perfeita longe (embora não por culpa própria) da corrente
de graça e da Igreja Católica, seria uma contrição perfeita tão difícil
para você que tem a boa sorte de ser Cristão e Católico, você que é

26
objeto de graças muito maiores e que é mais bem-ensinado do que esses
pobres infiéis?
Eu irei mais longe. Frequentemente e sem ao menos suspeitar,
você tem uma contrição
perfeita. Por exemplo,
quando você escuta com
devoção a Santa Missa,
quando faz
fervorosamente as
Estações da Cruz,
qu ando medit a com
devoção diante de uma
imagem de Jesus
Crucificado ou de Seu
Divino Coração.
Primeira Comunhão Algumas palavras são
suficientes para expressar o amor mais ardente e a contrição mais
sincera. Algumas delas são, por exemplo, as orações jaculatórias: «Meu
Deus e meu tudo»; «Meu Jesus, misericórdia»; «Meu Deus, eu Vos amo
acima de todas as coisas»; «Meu Deus, tenha piedade de mim, um
pobre pecador»; «Meu Jesus, eu Vos amo.»

27
Quais efeitos produzidos pela contrição
perfeita?

Alguns efeitos verdadeiramente admiráveis! Para o pecador,


graças à contrição perfeita, ele imediatamente recebe perdão por cada
uma de suas faltas antes mesmo de confessar. No entanto, ele deve
t om ar um a re s oluç ã o p ara
confessar-se em um momento
oportuno; é claro, que esta
resolução está incluída na contrição
perfeita. Toda vez que ele faz uma
contrição perfeita, as dores do
in f e rno s ã o i me d i a t a men t e
remetidas, ele recupera todos os
seus méritos passados e deixa de
ser um inimigo de Deus para ser
Seu filho por adoção e co-herdeiro
do céu.
Para o homem justo, a contrição
Santo Afonso Maria de Ligório perfeita aumenta e fortalece o
estado de graça. Apaga os pecados veniais que ele detestou e aumenta
nele o amor verdadeiro e sadio de Deus. Aqui estão os maravilhosos
efeitos da misericórdia divina na alma do Cristão devido à contrição
28
perfeita. Talvez essas maravilhas possam parecer impossíveis para você.
Sem dúvida, você poderia achar que, em perigo de morte, pediríamos
contrição; mas é certo que a todo momento uma contrição perfeita
produz tais efeitos? Esse ensino sobre a contrição perfeita é bem
fundamentado? Eu lhe respondo que é tão sólido quanto a rocha sobre a
qual minha Igreja é construída e tão certo quanto a própria palavra de
Deus.
No Concílio de Trento, a Igreja, ao explicar as principais verdades
contestadas pelos hereges, declara (Sessão XIV, cap. 4) que a contrição
perfeita, aquela que procede do amor de Deus, justifica o homem e o
reconcilia com Deus, até antes da recepção do sacramento da
penitência.

« A contrição perfeita aumenta e fortalece o estado de graça. Apaga os

pecados veniais que ele detestou e aumenta nele o amor verdadeiro e


sadio de Deus.»

Agora, o Concílio em nenhum lugar diz que isso é apenas nos


casos em que há perigo de morte. Portanto, a contrição perfeita sempre
produz tal efeito. Além disso, na medida em que a Igreja confia nas
palavras de Jesus: «Se alguém Me ama» — e com uma contrição
perfeita, nós realmente O amamos — «Meu Pai o amará, e Nós iremos a

29
ele e faremos nele, morada» (São João 14, 23). Deus não pode viver em
uma alma manchada pelo pecado. A contrição perfeita ou a contrição da
caridade enxugam os pecados.
Esse sempre foi o ensinamento da Igreja, dos Santos Padres e de
seus Doutores: Baius foi condenado por ter defendido o contrário. De
fato, se, como dissemos agora, a contrição perfeita deve ter produzido
efeitos admiráveis
no Antigo
Testamento, na
e ra d a le i d o
medo, produzirá
ainda mais esses
efeitos no Novo
Testamento, onde
a lei do amor
Confissão
reina.
Então, alguém dirá: «se a contrição perfeita enxuga o pecado, de
que adianta confessá-lo depois?» É verdade que a contrição perfeita
produz os mesmos efeitos que a confissão, mas não os afeta
independentemente do sacramento da penitência, pois a contrição
perfeita supõe precisamente um firme propósito de confessar os
mesmos pecados que acabaram de ser perdoados. Pois, confessar todos
os pecados, pelo menos os mortais, é uma lei de Jesus Cristo e uma lei
30
que não pode mudar. É necessário confessar os pecados assim que
possível após o ato de contrição? A rigor, isso não é necessário, mas
exorto vivamente que o faça. Assim, você estará mais seguro de ser
perdoado e obterá, ao mesmo tempo, as graças preciosas ligadas ao
sacramento da penitência, aquelas que são chamadas de graças
sacramentais.
Talvez agora você se sinta tentado a dizer para si mesmo: «Se é
fácil obter a remissão de pecados através da contrição perfeita, não
preciso me preocupar em confessar. Vou pecar sem escrúpulos e serei
dispensado da dívida por um ato de contrição perfeito! » Quem pensa
dessa maneira não terá sequer uma sombra de contrição perfeita. Ele
não amaria a Deus acima de tudo, pois não teria o desejo sério de
romper com o pecado e mudar de vida, condição exigida igualmente
pela confissão e pela contrição perfeita.
Ele poderia muito bem se enganar, mas nunca poderia enganar a
Deus. Quem realmente tem uma contrição perfeita, está inteiramente
decidido a renunciar ao pecado mortal. Ele se purificará o mais rápido
possível no sacramento da Penitência e, por sua boa vontade auxiliada
pela Graça de Deus, ele se manterá longe do pecado e se fortalecerá
cada vez mais no estado feliz como filho de Deus.
A contrição perfeita é uma grande ajuda para aqueles que leal e
sinceramente desejam recuperar e preservar o estado de graça, e
especialmente para aqueles que caem no pecado por hábito, ou seja,
31
que, apesar de sua boa vontade, caem de vez em quando, devido a seus
maus hábitos e sua própria fraqueza. É, no entanto, inteiramente
diferente para aqueles que usam a contrição perfeita como meio de
pecar impunemente: transformam o Remédio Divino do perfeito
arrependimento em um veneno infernal. Não esteja entre os últimos,
meu querido leitor, e não permita que uma graça tão preciosa o atenda
mal.

A Morte do Justo e a Morte do Pecador

32
Por que a contrição perfeita e tão
importante e às vezes até necessária?

É importante ao longo da nossa vida e no momento da nossa


morte.
Em primeiro lugar, é importante durante a nossa vida. O que, na
realidade, é mais importante que a graça? Embeleza nossa alma; ela a
penetra e a transforma em criatura de uma nova ordem, tornando-a
filha de Deus e herdeiro do céu. Torna todas as obras e sofrimentos do
Cristão dignos da vida eterna; é a varinha mágica que transforma tudo
em ouro — no ouro de méritos sobrenaturais.
O que, ao contrário, é mais triste do que um Cristão em estado de
pecado! Todos os seus sofrimentos, todas as suas obras, todas as suas
orações permanecem áridas, sem mérito para o céu. Ele é um inimigo
de Deus e, se morrer, ele vai para o inferno.
O estado de graça, portanto, é de importância capital e necessário
para o Cristão. Se você perdeu a graça, pode recuperá-la de duas
maneiras:
(1) por confissão;
(2) pela contrição perfeita.
A confissão é o meio comum, mas como nem sempre está
disponível, Deus nos deu um meio extraordinário: a contrição perfeita.

33
Suponhamos que um dia você tenha a infelicidade de cometer um
pecado mortal. Depois
das preocupações do dia,
no silêncio da noite, sua
consciência desperta;
condena-o com força e
você está em agonia. O
que estás a fazer? Bem,
então, Deus coloca em
suas mãos a chave de
ouro, que abrirá para
você os portões do céu.
Arrependa-se
intensamente dos seus
pecados, pelo amor do
Deus bom e abundante. Último Julgamento

« Ele poderia muito bem se enganar, mas nunca poderia enganar a

Deus. Quem realmente tem uma contrição perfeita, está inteiramente


decidido a renunciar ao pecado mortal.»

34
Pelo contrário, quanto deve-se ter pena do Cristão que ignora a
prática da contrição perfeita. Ele vai para a cama e se levanta no estado
de pecado mortal. Ele vive dessa maneira dois, três, quatro ou mais
meses, de ano para ano, talvez. A noite escura em que ele está envolto
não é interrompida por um momento após a confissão. Um estado triste,
viver quase sempre em pecado mortal, como inimigo de Deus, sem
mérito para o céu e em perigo de condenação eterna!

Jesus carregando a Cruz

Outro benefício: se antes de receber um sacramento, digamos


Confirmação ou Matrimônio, por exemplo, você se lembra de um
pecado não perdoado, a contrição perfeita permite que você receba esse
sacramento dignamente. Somente para a Comunhão é necessária a
confissão.

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Mesmo para um Cristão em estado de graça, a prática frequente
de contrição perfeita é muito útil.
Primeiro, nunca estamos certos de estar em estado de graça.
Portanto, toda contrição perfeita aumenta essa certeza. Muitas vezes
nos ocorre pensar se cedemos à
tentação. Tais dúvidas atrasam e
desencorajam a alma no caminho
da virtude. O que devemos fazer
então? Examinar a nós mesmos
se temos ou não consentido a
tentação? Isso seria infrutífero.
Faça uma contrição perfeita e
fique tranquilo.
Mesmo supondo que
possuímos a certeza de estar em
estado de graça, a contrição
Jesus coroado de espinhos perfeita ainda será muito útil
para nós. Cada ato de contrição perfeito aumenta a graça e um grama de
graça vale mais do que todos os tesouros do mundo.
Cada contrição perfeita apaga os pecados veniais que desfiguram a
alma; assim a alma cresce cada vez mais bonita. Cada contrição perfeita
remete ao castigo temporal devido ao pecado. Lembremo-nos das
palavras do Salvador sobre Maria Madalena: «Muitos pecados são
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perdoados, porque ela amou muito» (São Lucas 7, 47). E se esse perdão
do castigo temporal nos faz apreciar e valorizar indulgências, boas
obras, ação de esmola, caridade para com Deus, que é a rainha das
virtudes e que fica na primeira fila dessas boas obras.
Por fim, com cada ato de contrição perfeito e com amor, nossa
alma se fortalece no bem e, portanto, tem firme confiança de obter a
graça suprema da perseverança final.
A prática da contrição perfeita é, portanto, muito importante
durante a nossa vida, mas principalmente na hora da nossa morte e,
sobretudo, se estamos em perigo de morte súbita.
Um dia, um grande incêndio eclodiu numa cidade densamente
povoada e muitos foram encontrados mortos. Entre as muitas pessoas
que gritavam no pátio de uma casa, uma criança de doze anos de joelhos
implorava pela graça da contrição; então ele pediu aos companheiros
que orassem com ele. Inteiramente infeliz, talvez eles lhe devessem a
sua salvação.
Portanto, perigos semelhantes nos ameaçam a todo momento e no
momento em que menos esperamos. Você pode ser vítima de algum
acidente, cair de uma árvore, ser atropelado por um trem ou um ônibus;
você pode ser pego de surpresa à noite por um incêndio no seu quarto;
você pode dar um passo em falso em uma escada ou cair no meio do seu
trabalho.

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Alguém te leva embora, morrendo. Correm para procurar um
padre, mas o padre está atrasado e o tempo é curto. O que você faz?

Juízo Final

« Cada ato de contrição perfeita aumenta a graça e um grama de graça

vale mais do que todos os tesouros do mundo.»

Imediatamente faça uma contrição perfeita. Arrependa-se


poderosamente por amor e gratidão a Deus e a Jesus Cristo Crucificado.
A contrição perfeita terá lhe proporcionado a chave para o céu. Não é
lícito que todos esperem até a última hora, na esperança de estarem
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livres de todo pecado, por não fazerem um simples ato de contrição
perfeita.
É muito duvidoso, de fato, que a contrição perfeita possa valer
para aqueles que abusaram dela para pecar. Os benefícios detalhados são
principalmente para quem tem boa vontade. «Mas», você me
perguntará, «terei tempo para fazer uma contrição perfeita?» Sim, com
a graça de Deus.
A contrição perfeita não requer muito tempo, especialmente se,
durante a sua vida, você a pratica com frequência. Leva apenas um
instante para fazê-lo das profundezas da sua alma. Além disso, a Graça
de Deus é mais eficaz no momento do perigo, e nossa mente é muito
mais ativa. Na porta da morte, os segundos parecem horas. Eu falo por
experiência própria.
Em 20 de julho de 1886, cheguei muito perto da morte. Era uma
questão de oito a dez segundos de dor, o tempo que leva para rezar meio
Pai Nosso. Nesse breve momento, milhares de pensamentos passaram
pela minha cabeça. Toda a minha vida passou diante de mim com uma
velocidade inimaginável; ao mesmo tempo, pensei no que estava
reservado para mim após a morte. Tudo isso, repito, aconteceu durante
o curto período de meio Pai Nosso. Felizmente, minha vida foi
poupada. Deus assim desejou que eu pudesse escrever A Chave para o
Paraíso.

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Bem! A primeira coisa que tive que fazer em tal perigo foi fazer o
que eles nos ensinaram
no catecismo - um ato
de contrição - e
recorrer a Deus, na
busca de Sua proteção.
Na verdade, foi então
que aprendi a amar e
va l o r i z a r, c o m o é
apropriado, a contrição
perfeita. Depois disso,
eu o fiz conhecido e
valorizado em todos os
lugares quando tive a
O discípulo amado
oportunidade. Que
pena que as pessoas não entendem melhor sua importância neste último
momento!
Todo mundo corre; eles não entendem as lágrimas e os gritos; eles
perdem a cabeça; eles vão procurar o médico ou o padre; eles trazem
água fresca e todos os remédios que possuem. E enquanto a pessoa
doente está em agonia, talvez ninguém tenha pena de sua alma imortal;
ninguém lhe sugere que faça uma contrição perfeita.

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Se você se encontrar em uma situação semelhante, apresse-se ao
lado da pessoa que está morrendo e, apresentando-lhe com calma e
serenamente, se possível, a imagem de Jesus Crucificado, com uma voz
forte e firme, diga-lhe para pensar e repetir do fundo de sua alma, o que
você está prestes a dizer. Então, lenta e claramente, recite o ato de
contrição, embora pareça que a pessoa doente não entende e não
compreende nada. Você terá feito um trabalho extremamente bom que
lhe renderá sua eterna gratidão. Mesmo se você estiver lidando com um
herege, ajude-o nos últimos momentos à mesma maneira. Não é
necessário falar com ele sobre confissão. Incentive-o a fazer um ato de
amor a Deus e a Jesus Crucificado, recitando-lhe lentamente o ato de
contrição.

« A prática da contrição perfeita é, portanto, muito importante durante

a nossa vida, mas principalmente na hora da nossa morte e, sobretudo,


se estamos em perigo de morte súbita.»

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Quando você deve fazer um ato de
contrição?

Se você me seguiu cuidadosamente até este ponto, caro leitor,


permita-me lhe pedir imediatamente: por Deus e por sua alma, não
deixe fazer um ato de contrição junto com suas orações, todas as noites.
Certamente, às vezes não é pecado não fazê-lo, mas o que ofereço é um
conselho bom e útil. Não diga
que o exame da consciência e
a contrição perfeita são bons
apenas para os sacerdotes e
para as almas perfeitas; não
diga: «Não tenho tempo. À
noite, estou cansado demais!»
De quanto tempo você
precisa? Meia-hora? Quinze
minutos? Não, alguns
minutos serão suficientes.

O Rosário
Você faz algumas orações em
sua cama? Bem, depois de orar, pense alguns momentos sobre as falhas
e os pecados daquele dia e recite lenta e fervorosamente, aos pés do
crucifixo, o ato de contrição. Comece esta noite e você não se
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arrependerá. Se você tiver a infelicidade de cometer um pecado mortal,
não permaneça nesse estado. Restaure-se com uma contrição perfeita.
Restaure a si mesmo de uma só vez, ou pelo menos em suas orações da
noite, e sem demora vá confessar.
Finalmente, querido leitor, mais cedo ou mais tarde a hora da
morte o atingirá e, se Deus o proibir, ocorrerá inesperadamente.
Você sabe o remédio; você sabe onde encontrar a chave para o céu.
Se você tiver tempo para se preparar, que sua última ação seja um ato de
amor a Deus, seu Criador, seu Redentor, seu Salvador, um sincero e
perfeito ato de contrição por todos os pecados de sua vida.
Depois disso, jogue-se nos braços da Misericórdia Divina.
E agora vos deixo, querido leitor. Releia este livrinho e coloque-o
em prática. Aprecie a contrição perfeita; pratique este meio precioso de
obter a Graça, que a Providência colocou em suas mãos. Em suma, a
verdadeira chave para o paraíso.

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Ato de Contrição

Meu Senhor e meu Deus, me arrependo do fundo do meu coração de


todos os pecados da minha vida, porque por eles ganhei os castigos da
Tua justiça, nesta vida e por toda a eternidade; porque eu respondi Teus
favores com a minha ingratidão; mas especialmente porque por eles Vos
ofendi, Vós que sois infinitamente bom e infinitamente digno de ser
amadO. Decido firmemente alterar meus caminhos e não mais pecar.
Conceda-me a graça de ser fiel ao meu propósito. Que assim seja.

Como já acontecia com os profetas, o apelo de Jesus à conversão e à


penitência não visa primariamente as obras exteriores, «o saco e a cinza», os
jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência
interior: Sem ela, as obras de penitência são estéreis e enganadoras; pelo
contrário, a conversão interior impele à expressão dessa atitude cm sinais
visíveis, gestos e obras de penitência.
A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um
regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o
pecado, uma aversão ao mal, com repugnância pelas más acções que
cometemos. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de
vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua
graça. Esta conversão do coração é acompanhada por uma dor e uma tristeza
salutares, a que os Santos Padres chamaram animi cruciatus (aflição do
espírito), compunctio cordis (compunção do coração).
— Catecismo da Igreja Católica 1430-31

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