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PORQUE NÃO SE DEVE ASSOBIAR ???

Em meus aprendizados, dos quais recebi de meus mais velhos, sempre


soube que as pessoas iniciadas não deviam assoviar, independente de
estarem dentro ou fora de uma “casa-de-santo”.
No Terreiro do qual sou dirigente é proibido assoviar e em algum
momento ou outro, sempre aparece alguém com o habito de “assoviar
como um passarinho” e eu sempre digo:
“olhe ! não se acostume a assoviar, que isso não presta e um dia você vai
passar por maus momentos”
“Fulano ! Engole o apito”
“Ciclano ! Você está chamando quem ?”
“Beltrano ! Aquele a quem você chama vai lhe pregar uma peça das
piores.”
e a única resposta que ouço é o tradicional: - “Ago Baba” e mais nada !
Resmungo algumas palavras em Nagô e todos pensam que estou
aborrecido com os assovios; mas não é só isto, o que me incomoda é o
de não perguntar “o porque dos porquês” e isto chega a me dar
“gastura” , pois é assim que se aprende “perguntando”, já que a tradição
reza que somente responda aquilo que lhe perguntarem.
Então finalmente Baba Olófin estava ao meu lado e uma ìyáwò perguntou:
“Baba ! Porque não pode assoviar dentro da Roça ?”
Minha alegria foi tamanha que logo chamei a Roça toda:
“Meu povo ! Venham ver a pergunta desta ìyáwò, àbúrò de todos vocês.”
Sentou-se todos a minha frente, então comecei explicar o seguinte:
...é uma recomendação que os velhos não se esqueciam de fazer-nos,
porque “Elégbára é o Dono do Assovio” e assoviar é provocá-lo. Seus
assovios intempestivos e penetrantes de tal maneira que assustam os
velho, que estes não se atrevem jamais a assoviar, de medo que Elégbára
responda. É ele quem assovia nas paragens desertas e nas casas
abandonadas; como se sabe, a noite é o domínio de “entidades” de todos
os tipos; mas, durante o dia há horas perigosas que convém levar em
conta: o meio-dia e as seis da tarde, quando vagam algumas “entidades”
durante alguns momentos e nestes horários Elégbára abandona as
portas, e as casa ficam sem defesa, se assoviarem durante este período,
qualquer um dos Elégbára entrará na casa... Esta é a razão pela qual se
verte água na porta da rua e ninguém deve entrar ou sair de uma casa
nestes horários... A meia-noite a pior de todas as horas, já transitam
Egun, Èsù e Àjé com toda liberdade, então em hipótese aluma assovie
sobre tudo em altas horas da noite... Elégbára está difundido por todas as
partes “é uma rede numerosa”, todos se comunicam entre si, se enganam
mutuamente – “o Elégbára da porta, quando recebe a oferenda de um
animal destinado somente a ele, dá um jeito de afastar o Elégbára da
esquina” - ou se solidarizam uns com os outros por vingança. O que
guarda a porta confabula com o da esquina, o da esquina com o dos
quatro caminhos, o dos quatro caminhos com o da floresta e assim
sucessivamente... desta forma é necessário que o da porta esteja
satisfeito, “que seja ofertado antes de todos” conforme dispôs Olófin,
segundo certas versões de Ifà e de acordo com outras, para que não
atrapalhe a trajetória normal da vida e para que este Elégbára não
assovie para o Elégbára da esquina, o encrenqueiro e revoltado, o qual,
por sua vez, não assoviará para o Elégbára dos quatro caminhos e este,
para o Elégbára da Floresta e assim por diante... Se o da porta assoviar e
se eles acudirem a seu chamado, todos se introduzirão numa casa e nela
ocorrerá alguma tragédia lamentável. “Para aquele que assovia, todos
Elégbára entende que lhe estão chamando para adentrar a casa e a
pessoa padece as conseqüências... É essencial contentar Elégbára e não
provoca-lo com assovios ou com qualquer outro tabu... Emboscados em
cada caminho, dispões de nossa vida em todos os momentos, pode jogar
com ela como bem entender. Dono das chaves que “abrem e fecham os
caminhos e portas”, do Alem e da Terra, aos Deuses e Mortais... e as abre
e fecha à sorte e à desgraça, segundo seus caprichos... embora pequeno,
temos de considerar Elégbára, sem discussão, o mais temível do Òrìsà...
Então para minha felicidade... eis que surge uma nova pergunta:
Baba ! Então porque Òsányín assovia ?
Este direito lhe é concedido porque Òsányín pertence a família de
Elégbára, embora parente não é de forma alguma um “caminho de Èsù” e
sim uma Divindade totalmente distinta, assim como Ale “o inventor do
aguardente” também pertence a esta família, mas não é Èsù... se por um
descuido você assoviar na mata se apresentarão Òsányín e seu Elégbára
denominado de Ijelú e a eles você deverá prestar conta do chamado...
deixe esta prática de assoviar na floresta para os caçadores,
pesquisadores e admiradores de pássaros silvestres.

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