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Índice

Introdução....................................................................................................................................3
Breve Contextualização da origem da filosofia africana..............................................................4
Filosofia Africana........................................................................................................................5
Filosofia, modernidade e colonialismo.........................................................................................5
A filosofia africana como uma prática anticolonial......................................................................6
Filosofia africana: a luta pela razão e uma cosmovisão para proteger todas as formas de vida....6
Principais correntes da filosofia africana......................................................................................7
Corrente Cultural..........................................................................................................................7
Corrente Ideológica......................................................................................................................8
Pan-africanismo...........................................................................................................................9
Négritude.....................................................................................................................................9
Conclusão...................................................................................................................................11
Bibliografia................................................................................................................................12

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Introdução

Assim esta tese se apresenta com o objectivo de investigar a filosofia africana e como
ela propicia a descolonização epistémica da actividade filosófica. Essa descolonização
tem a característica de ressignificar a produção de conceitos, não impondo uma
universalidade, mas com o propósito de pluri-versalizar o conhecimento, ou seja,
produzir múltiplos caminhos para uma investigação filosófica. Por isso, nesta tese
coloca-se a seguinte questão: Como a descolonização seria um exercício inevitável para
estabelecer uma filosofia desde África.
Filosofia ocidental construiu um auto imagem a partir do pensamento europeu moderno
e, por conseguinte, as teses filosóficas promoveram diálogos e investigações baseadas
nas categorias de tal pensamento. Por esse motivo há uma recorrente deslegitimação das
filosofias produzidas em outros locais, principalmente referentes ao continente africano.
Isso aconteceu por meio de uma compreensão hegemónica que rotulou a produção de
conhecimento africano como incapaz de um diálogo equânime com a tradição europeia.

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Breve Contextualização da origem da filosofia africana
De fato as reflexões filosóficas de pensadores africanos não foram preservadas ou
transmitidas através de relatos escritos; a verdade é que esses filósofos permanecem
desconhecidos para nós.
Porém, isso não significa que eles não tenham existido; nós temos fragmentos de suas
reflexões filosóficas e suas perspectivas foram preservadas e transmitidas por meio de
outros registos escritos como mitos, aforismos, máximas de sabedoria, provérbios
tradicionais, contos e, especialmente, através da religião.
Porém, os autores de perspectivas originais e individuais permanecem desconhecidos
para nós. Ainda que nós saibamos que essas perspectivas têm sido fruto de profundas e
interessantes reflexões de alguns pensadores africanos no passado.
Os fragmentos das reflexões filosóficas, ideias e visões de mundo transmitidas para nós
por intermédio de aforismos, máximas de sabedoria, através de provérbios, contos,
organizações político-sociais, por meio de doutrinas e práticas religiosas não podem vir
do nada. Eles são evidências de profundas reflexões filosóficas de alguns talentosos
pensadores que eram filósofos africanos no passado, os africanos contemporâneos de
Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Hegel etc.
A filosofia tradicional africana surgiu a partir de pensadores individuais, filósofos que
reflectiram sobre questões fundamentais que surgiram da experiência humana. Professor
Wiredu diz que elas são propriedades de todos; mas, isso não que elas foram produzidas
por todos. Pensamentos e ideias transmitidos por pensadores eventualmente se
transformam em propriedade comum. Mas, isto não significa que esses pensamentos
não tenham sido elaborados por autores individuais.
A filosofia africana não deve ficar restrita à filosofia tradicional, devemos incluir
filósofos africanos contemporâneos como Kwame Nkrumah, Leopold S. Senghor,
Nyerere e Kwasi Wiredu. Os três primeiros são pessoas públicas que têm contribuído
imensamente com a filosofia política africana contemporânea, o último nome, Kwasi
Wiredu, é um filósofo académico, professor de filosofia. Sem dúvida, existem outros
filósofos em departamentos de filosofia por toda a África.

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Filosofia Africana
A Filosofia Africana não se restringe a uma única expressão. Há variadas formas de
filosofia em África. Certamente todas essas formas sofreram o impacto do colonialismo
e o confronto com o pensamento filosófico ocidental. A maneira como tais elementos
foram desenvolvidos na tentativa de produzir um pensamento próprio marca as distintas
tendências da filosofia africana contemporânea. Alguns dos principais questionamentos
referem-se à: existência ou não de uma especificidade de temas e noções de um
pensamento filosófico africano; a relação entre modernidade ocidental e tradição
africana; a possibilidade de uma filosofia oral nas diversas etnias que compõe o
continente; o papel da filosofia nas lutas pela independência política e cultural dos
países; a articulação entre sabedoria tradicional e filosofia académica.
A elaboração dessas tendências filosóficas contou tanto com a presença de pensadores
nascidos no continente africano que elaboraram textos de cunho filosófico quanto com
negros latino-americanos e caribenhos que assumiram alguma nacionalidade africana ou
que consideravam a África como sua pátria-mãe ancestral.

Filosofia, modernidade e colonialismo


No sentido mais amplo, deve se entender por “período colonial” aquele que cobre mais
ou menos o que Cornel West definiu como “a era da Europa”. Segundo West, este
período – entre 1492 e 1945 – for marcado pelos avanços da Europa no transporte
oceânico, na produção agrícola, na consolidação do Estado, a burocratização, a
industrialização, a urbanização e a dominação imperial que deu forma ao devir do
mundo moderno.4E, considerando que a dominação colonial e imperial da África foi,
em sua origem, foi um elemento constitutivo chave na formação histórica das
manifestações económicas, políticas e culturais da era da Europa, incluída a Ilustração,
resulta imperativo que no estudo da natureza e dinâmica da modernidade europeia
examinemos as produções intelectuais e filosóficas da época, para compreender o modo
como, na maioria dos casos, justificaram o imperialismo e o colonialismo. Tem sido
demostrado que aspectos significativos das produções filosóficas de Hume, Kant, Hegel
e Marx se originaram em – e são inteligíveis unicamente na medida em que se
compreendem como um desenvolvimento orgânico dentro dos contextos sócio
históricos, mais amplos, do colonialismo europeu e da ideia de etnocentrismo: a Europa
é o modelo da modernidade, a cultura e a história em si mesmas. E é precisamente este
exame crítico das intenções coloniais inerentes a filosofia moderna ocidental o que

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anima ao menos uma parte dos filósofos modernos africanos. Se trata do projecto
filosófico de Serequeberhan descreveu de forma apropriada como “a crítica do
etnocentrismo”.
A filosofia africana como uma prática anticolonial
a) A partir do contexto colonial devemos explorar o significado do livro que, no
nível continental, mais influiu no desenvolvimento e autoconsciência da história
da filosofia africana no século XX. Estou falando de A filosofia bantu, do padre
Placide Tempels (1945). Como escreveu o autor, o objectivo do livro era o de
servir aos colonialistas europeus como manual de “filosofia” africana. Como
argumentava o livro, os europeus precisavam compreender a visão de mundo e
as crenças dos africanos para que a linguagem dos missionários e os projectos
“civilizadores” pudessem ser implementados nos nódulos vitais das estruturas da
fé e na interioridade existencial do africano. Assim a colonização poderia se
tornar bem-sucedida, e bem-sucedida em um sentido substancial. A obra de
Tempels é, portanto, predominantemente uma exposição dos sistemas
ontológicos dos baluba, um grupo étnico do Zaire – onde Tempels, que era um
missionário belga, trabalhou durante muitos anos. Tempels acreditava que a
ontologia dos baluba fundamentava e regulava a existência ética, política e
econômica diária do africano. Para elevar a existência “pagã” do africano até a
“civilização”, é necessário trabalhar através deste sistema ontológico, que como
vimos, serve de base para a subjectividade dos bantus.

Filosofia africana: a luta pela razão e uma cosmovisão para proteger todas as
formas de vida
Jean Bosco Kakozi: O filósofo sul-africano Mogobe Ramose publicou, em 1999, um
pequeno livro para falar sobre a filosofia africana a partir da noção de ubuntu. Em um
dos capítulos desse livro, ele diz que o problema da Filosofia na África é o problema da
luta pela razão. Por que ele fala de luta pela razão? A filosofia ocidental excluiu muitos
povos do mundo do uso desse atributo eminentemente humano que é a razão. Foram
excluídos povos indígenas, africanos e asiáticos. Hegel, na Fenomenologia do Espírito
ou nas Lições sobre a Filosofia da História, diz que a África é uma região que não é de
muito interesse para a humanidade pois é uma região que está fora da História. A luz da
razão ou o espírito da História, como ele diz, nasceu no Oriente, na Ásia, e foi
caminhando para o Oeste, na direcção da Europa, sem passar pela África. O Egito, para

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ele, não teria nada a ver com a África, sendo uma espécie de preâmbulo da Europa. A
História, diz ainda Hegel, é racional. São seres racionais que fazem a História. Então,
aqueles que não usam a razão não estão na História.
Mogobe Ramose diz que a Filosofia na África tem uma tarefa e uma responsabilidade
muito importante que é lutar pela razão. A Filosofia, assinala, deve começar também
por esse problema, dizendo que a razão está presente na África e que as pessoas usam a
razão. Todo o ser humano usa a razão. Ramose fala desse desafio e de sua relação com
o ubuntu.

Principais correntes da filosofia africana


Distinguiremos três grandes tendências da Filosofia Africana contemporânea. Tal
divisão didáctica visa facilitar uma visão panorâmica e não pode ser tomada como algo
fechado, uma vez que há pontos e autores em comum entre as correntes.
Corrente Cultural
A corrente Cultural reconhece a existência de uma filosofia na África tradicional (isto é,
nas diferentes etnias: dagara, dogons, iorubá, bantu, wolof, akan, dentre outras),
examina os elementos filosóficos presentes em distintas manifestações culturais (na
religião, nas formas de organização social, nas línguas, por exemplo) e explora de modo
sistemático os complexos do pensamento tradicional. Essa corrente tende a uma forma
de pensamento coletivo, transmitido oralmente e expresso nas línguas africanas
autóctones. Suas ideias são frequentemente compreensíveis ao indivíduo comum e
tratam sobre o modo de vida de um povo, as regras sociais de uma comunidade, a
sabedoria dos ancestrais, as relações entre o ser humano e a natureza, entre casais e
entre governantes e governados, questões religiosas como a relação entre os mortos e os
vivos e a existências das divindades. A corrente cultural opõe-se ao mito de que os
africanos possuem uma “mentalidade primitiva”, pouco desenvolvida e por isso seriam
incapazes de produzir um pensamento abstrato, conceitual.
Dentro da corrente cultural destacam-se três perspectivas:
a) Etnofilosofia: procura apresentar a coerência e o conjunto das cosmovisões
tradicionais africanas, demonstrar a racionalidade existente nas práticas rituais, nos
mitos, nos contos, nos provérbios africanos dos distintos povos. A etnofilosofia concebe
o pensamento africano tradicional como filosófico e utiliza o método etnográfico para
realizar suas pesquisas. Um dos marcos iniciais da etnofilosofia foi o livro Filosofia

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Bantu do missionário belga Placide Tempels sobre o pensamento dos povos de língua
bantu. Outros representantes são: Alexis Kagame e
Kwame Gyekye.

b) Filosofia da Sagacidade: trata dos “sábios filosóficos”, ou seja, das reflexões de


uma pessoa conhecedora dos saberes do seu povo, um pensador crítico e
racional. Para Henry Odera Oruka, o principal representante dessa perspectiva,
“a filosofia dos sábios” consiste “nos pensamentos expressados por homens e
mulheres sábios em qualquer comunidade dada. Esses pensamentos podem ser
expressados por escrito ou como máximas não-escritas e argumentos associados
a algum (uns) indivíduo(s) sábio(s). A filosofia-dos-sábios é uma maneira de
pensar e explicar o mundo que flutua entre a sabedoria popular (máximas
comuns bem conhecidas, aforismo e verdades gerais de sentido comum) e a
sabedoria didática, uma sabedoria exposta e um pensamento racionalizado de
alguns indivíduos dentro de uma comunidade (H. O. Oruka. As perguntas
básicas sobre a filosofia-dos-sábios em África, 1994).
c) “Ensinamentos ancestrais”: assemelha-se à etnofilosofia, porém tem um
carácter menos sistemático. Nessa perspectiva temos algumas obras que apresentam os
ensinamentos tradicionais de um povo sobre um tema específico, dando ênfase às
questões relacionadas às relações sociais, pessoais e à espiritualidade. Uma
representante dessa linha é a filósofa Sobonfu Somé.

Corrente Ideológica
Em filosofia termo ideologia apresenta vários sentidos. O sentido do termo nesta
corrente da Filosofia Africana é o de ideias-mestras orientadoras da acção política. A
corrente ideológica, portanto, caracteriza-se por preocupações fundamentalmente
políticas. Os trabalhos e estudos desenvolvidos pretendem, em primeiro lugar, corrigir a
situação política e cultural dos povos de África sob o regime colonial e imperialista dos
europeus. Nesse sentido, procuram analisar a condição de África em sua totalidade ou
dos negros pelo mundo afora. O marxismo exerceu influência em boa parte de seus
teóricos, que também dialogaram com outras correntes filosóficas europeias como o
existencialismo. O grande tema é a libertação e a busca pela autonomia política,
económica e cultural. Seus principais autores normalmente escrevem nas línguas
europeias (inglês, francês, português), com excepção dos autores de língua árabe. As

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elaborações filosóficas da corrente ideológica são mais acessíveis aos intelectuais,
políticos, estudantes e camadas urbanas.
Três enfoques se destacam nessa corrente:
a) Pan-africanismo: movimento político de contestação ideológica às doutrinas
que postulavam a inferioridade dos negros. Inicialmente articulado fora do continente
africano por afrodescendentes das Américas, Caribe e Europa, tendo à frente o
intelectual William E. B. Du Bois. Contou com ampla inserção nas massas negras e
influenciou líderes políticos de diversos estados africanos (Nigéria, Gana, Quênia, por
exemplo). Partia da compreensão de que os africanos nada poderiam esperar de
benefício da dominação colonialista. Apontava para a necessidade da união dos povos
negros espalhados pelo mundo, a unificação dos africanos e o resgate de suas origens
culturais. Um dos principais representantes foi Kwame Nkrumah, filósofo e
posteriormente presidente de Gana.

c) Négritude: movimento literário e cultural iniciado na década de 1930 pelo poeta


martinicano Aimé Césaire e outros artistas negros de língua francesa. Pretendia
redescobrir antigos valores e modos de pensar africanos, de modo a promover o
sentimento de orgulho e dignidade de ser negro e ser africano. De acordo com
Leopold Sédar Senghor, um dos seus principais teóricos, a negritude foi "a
conscientização e o desenvolvimento dos valores africanos".
A palavra négritude em francesa deriva de nègre, termo que no início do século XX
tinha um caráter pejorativo, utilizado normalmente para ofender ou desqualificar o
negro, em contraposição a noir, outra palavra para designar negro, mas que tinha um
sentido respeitoso. A intenção do movimento foi justamente inverter o sentido da
palavra negritude ao pólo oposto, impingindo-lhe uma conotação positiva de afirmação
e orgulho racial.
Na concepção de Aimé Césaire, negritude é simplesmente o ato de assumir ser negro e
ser consciente de uma identidade, história e cultura específica. Césaire definiu a
negritude em três aspectos: identidade, fidelidade e solidariedade. A identidade consiste
em ter orgulho da condição racial, expressando-se, por exemplo, na atitude de proferir
com altivez: sou negro! A fidelidade é a relação de vínculo indelével com a terra-mãe,
com a herança ancestral africana. A solidariedade é o sentimento que une,
involuntariamente, todos os "irmãos de cor" do mundo; é o sentimento de solidariedade
e de preservação de uma identidade comum.

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c) Anticolonialismo: refere-se às reflexões de alguns autores que também se
engajaram nas lutas contra o colonialismo em África e receberam influências do pan-
africanismo. Entretanto, seus trabalhos se distinguem em dois pontos principais: 1) uma
marcada crítica ao movimento da négritude por considerar que suas análises não
levavam adequadamente em conta os aspectos sociais e econômicos do racismo e
terminavam por defender uma visão “romântica” das tradições africanas; 2) pelas
discussões acerca da violência revolucionária, do papel da educação e da cultura no
processo de libertação política e pela defesa de um humanismo radical solidário com as
lutas por liberdade em qualquer parte do mundo.
Dois autores, dentre outros, se destacam por suas obras, militância política e
repercussões entre intelectuais e movimentos políticos e sociais: Frantz Fanon e
Amílcar Cabral.

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Conclusão
África, tem uma história que é inolvidável na memoria dos africanos, que é do seu
envolvimento da tendência da evolução social, colocando na perspectiva de dominado,
pois foi uma das mãos-de-obra mais preferencial na europa, pela sua capacidade de
trabalho, no entanto, mesmo depois da abolição da escravatura em 1836, as saídas
clandestinas continuaram e a exploração continuou, entretanto, actualmente há enorme
vinculação das políticas na era da globalização, em que muitos são objecto do mesmo e
poucos são mentores.
A ideologia da negritude foi antes de tudo, um movimento de resgate da humanidade do
negro, o qual se insurgiu contra o racismo imposto pelo branco no contexto da opressão
colonial. O movimento tinha a proposta de repudiar os valores estéticos da civilização
ocidental. Havia uma tendência dos povos negros colonizados na África e nas Antilhas
de assimilar o padrão cultural europeu, alienando-se dos valores da cultura africana.

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Bibliografia
MARITAIN, Jacques. A Anti modernidade, Roma, Edição logos, 1972.
MORIN, Edgar e KEREN, Anned. Terra Pátria, 2a Ed. Lisboa, Storia editor, 2001.
NGOENHA, Severino E. Terceira Questão, Publifiks edições, Maputo, 2015.
ROUSSEAU, Jean Jeacques, Discurso sobre as Origens das Desigualdades. S. Pauo,
Edição
KIZERBO, Joseph.– Introdução: As tarefas da História na África. In: História da
África Negra – Volume 1, Portugal: Biblioteca Universitária – Publicações Europa-
América, 2009.
HEGEL (G.W.F.), La philosophie de l´histoire, Paris, Le Livre de Poche, 2009.
(Versão Traduzida em português).
Appiah (Kwame Anthony), Na casa do meu pai – A África na filosofia da cultura, Rio
de Janeiro, 1997.

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