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Eduardo L. Krüger (1); Silmara Küster de Paula Carvalho (2); Saulo Güths (3)
(1) Eng. Civil, Doutor em Arquitetura
Prof. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia / Departamento de Construção Civil
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - CEFET- PR
krueger@ppgte.cefetpr.br
(2) Especialista em Conservação e Restauração de Obras sobre Papel,
Assessora Museológica no Conselho Estadual de Museus / COSEM- PR
paulosil@inetone.com.br
(3) Prof. Dr. LMPT/ Departamento de Engenharia Mecânica - Universidade Federal de Santa Catarina
saulo@lmpt.ufsc.br
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo avaliar as condições ambientais (temperatura e umidade do ar)
em espaços construtivos destinados a museus. A ausência de uma estrutura envolvendo conhecimento,
tecnologia, recursos financeiros e humanos tem distanciado os museus do cumprimento em preservar
seus acervos. A necessidade de se desenvolver uma metodologia adequada para o conhecimento do
ambiente em que as coleções estão inseridas é premente, uma vez que a realidade das instituições no
que se refere à preservação está ainda muito distante dos princípios de conservação preventiva
preconizado pelos especialistas da área. Vários são os fatores que desencadeiam os processos de
degradação em acervos, entretanto a temperatura e a umidade do ar em condições inadequadas são a
causa primeira de fenômenos desencadeadores de processos biológicos, físicos e químicos. Em um
ambiente impróprio para exposição ou guarda, ocorre uma aceleração nestes processos de degradação.
Porém, é possível reduzir a velocidade de degradação dos bens culturais, se houver um controle das
condições ambientais em que os mesmos se encontram. Uma das alternativas viáveis, com baixo
custo, para minimizar o processo de degradação biológica seria a partir de método passivo de
ventilação e renovação de ar. A pesquisa foi conduzida no espaço museológico da Capela do
Seminário Seráfico São Luiz de Tolosa, localizado na cidade de Rio Negro-PR. Desde o ano de 2000,
estão sendo realizadas medições da temperatura, umidade relativa, umidade absoluta e do índice de
preservação dos ambientes externos e internos. Para a coleta destes valores, foi utilizado o
equipamento (CLIMUS) - Sistema de Gerenciamento Térmico para Conservação de Coleções -
desenvolvido no Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas de Materiais
(LMPT/UFSC). Este equipamento, montado sobre uma base PC e instalado em vários museus do País,
permite o monitoramento contínuo de temperatura e umidade do ar. A partir dos dados coletados na
Capela do Seminário Seráfico São Luiz de Tolosa, foram geradas equações preditivas para a
verificação da eficácia do uso do insuflamento do ar externo para o interior do museu na amenização
das condições adversas do ambiente, procurando-se definir os períodos do ano mais adequados à
consecução do mesmo.
Palavras-Chave: Equações preditivas, espaços museológicos, monitoramento ambiental, controle
ambiental, insuflamento de ar.
Palavras-chave: equações preditivas, conforto em museus, condições ambientais em museus
1. INTRODUÇÃO
A Conservação preventiva no espaço museológico é de fundamental importância, pois está
intimamente relacionada com a preservação da identidade cultural e histórica que os bens culturais
representam para a sociedade.
A causa primeira dos processos de degradação dos materiais é a temperatura e a umidade do ar em
condições inadequadas. Dependendo da tipologia do objeto cultural, constituído de materiais
orgânicos e inorgânicos, existem três modos distintos dos objetos sofrerem alterações, e
conseqüentemente degradações: mudanças dimensionais, reações químicas e deterioração biológica.
Os fenômenos físicos, causadores de mudanças dimensionais, expansão e contração de materiais
orgânicos, ocorrem em função das variações de temperatura e umidade. Os materiais absorventes de
umidade como a madeira, o osso, o marfim, o pergaminho, têxteis, cestarias e adesivos se expandem
em elevada umidade relativa do ar, medida no ambiente, conseqüentemente sofrendo deformações,
deslocações em suas partes, veios, ruptura de fibras etc. E, em baixa umidade, estes objetos sofrem
contração.
Os fenômenos decorrentes das reações químicas ocorrem em função da elevada umidade, ocasionando
a corrosão dos metais, oxidações, a descoloração das tintas, hidrólise ácida em papéis, o
enfraquecimento dos têxteis etc. Já os fenômenos biológicos, responsáveis por ativações biológicas em
todo o material de origem orgânica, são provenientes da falta de circulação e renovação do ar, da
umidade e temperatura elevada, sendo a umidade a base para o crescimento de microrganismos.
Segundo a ASHRAE (1981) a máxima umidade relativa aceitável em ambiente de guarda de acervo é
75%, entretanto diversos autores da microbiologia afirmam que os microorganismos já começam a
proliferar-se com umidade relativa acima de 65%.
Cabe lembrar que os processos biológicos de degradação são altamente comprometedores para os
objetos de um acervo, assim como para a saúde dos funcionários e consulentes que estão em contato
direto com os mesmos. Em um ambiente impróprio para exposição e guarda de acervos, ocorre uma
aceleração nestes fenômenos.
As implicações representadas pela umidade em climas quentes e úmidos são diversas, afetando as
estruturas de edifícios, e também podendo causar o crescimento de fungos, afetando a saúde dos
ocupantes.
As condições ambientais influenciam diretamente sobre os objetos e sobre as pessoas de maneira
diversificada, sendo necessário um conjunto de ações para atender às necessidades do acervo, visando
assim à preservação da memória cultural.
Tendo em vista os altos custos para a realização de um controle climático eficaz e sendo os fenômenos
biológicos os mais comprometedores nos acervos, uma alternativa viável e menos onerosa seria a
implementação de um método passivo de ventilação e renovação de ar (GÜTHS et al., 2002). A
ventilação tem como finalidade controlar a pureza e o deslocamento do ar em espaço fechado, sendo
que, dentro de certos limites, a renovação do ar também pode controlar a temperatura e a umidade do
mesmo (COSTA, 1982). Conforme Nieves et al. (1998), as taxas de renovação de ar mais elevadas
reduzem a proliferação de fungos e bactérias.
Sebera (1994) e Reilly (1995) estabeleceram um parâmetro chamado Índice de Preservação (IP) que
relaciona a degradação química de materiais por oxidação e hidrólise com a temperatura e a umidade
relativa. Plotando o Índice de Preservação sobre uma carta psicrométrica (GÜTHS et al., 2002) mostra
que o Índice de Preservação confunde-se com a umidade absoluta para valores de umidade relativa
superiores a 50 %.
Corrêa (2003) estabeleceu uma série de critérios para operar o sistema de insuflamento de ar visando à
preservação do acervo utilizando o Índice de Preservação, além da umidade relativa, umidade absoluta
e temperaturas interna e externa.
No entanto, Güths et al. (2002) ressaltam que a ventilação do ar para o interior do museu deverá ser
criteriosa, pois dependendo da resposta da edificação a determinadas situações climáticas poderia
haver degradação das condições internas e mesmo risco de condensação nas paredes e objetos. Esse
fenômeno poderia ocorrer durante o resfriamento noturno se durante o dia fosse insuflado ar externo
com umidade absoluta elevada. A utilização de equações preditivas poderia servir como um
ferramental de grande importância para a avaliação do acionamento.
Güths et al. (2002) tem concluído que o controle primário do sistema de insuflamento visaria a
redução da umidade relativa interna a níveis inferiores a 75%, mesmo às custas de um acréscimo da
temperatura interna. Como critério secundário poderia ser utilizada a umidade absoluta (ou o Índice de
Preservação): o sistema seria acionado quando a umidade absoluta externa fosse menor que a umidade
absoluta interna.
A pesquisa, objeto deste artigo, está sendo desenvolvida no espaço museológico da Capela do
Seminário Seráfico São Luiz de Tolosa, localizados na cidade de Rio Negro-PR.
Como método, foi realizada a mensuração da temperatura e umidade do ar dos ambientes externos e
internos, através do equipamento CLIMUS (GÜTHS, 1998). A partir dos dados coletados, foram
geradas equações preditivas (KRÜGER, 2003) para a verificação da possibilidade ou não da aplicação
do insuflamento do ar externo para o interior do museu.
3. CLIMA DA REGIÃO
No Paraná, o clima em sua maior parte é subtropical, devido à influência da altitude. A cidade de Rio
Negro está localizada no segundo planalto paranaense a uma altitude de 780 m, latitude 26º 25’50” S e
longitude 49º 47’30” W. O clima é subtropical úmido mesotérmico, com verões frescos, sendo a
temperatura média inferior a 22° C, e invernos com ocorrências de geadas severas e freqüentes com
temperatura média inferior a 18° C, não apresentando estação seca.
O registro contínuo da temperatura e umidade do ar em museus é uma fonte fundamental de
informação. A partir do monitoramento, pode-se realizar um diagnóstico das condições de preservação
onde estão inseridas as coleções. Com base nesses dados também é possível gerar equações preditivas
que permitam avaliar a dinâmica do comportamento climático da edificação. Através do conhecimento
das condições climáticas do ambiente se poderá avaliar e estabelecer alternativas e metas que visem
minimizar os problemas de degradação decorrentes do ambiente inadequado onde o acervo se
encontra.
É importante evidenciar que, no caso de museus, o procedimento do monitoramento deverá ser
abrangente no período mínimo de um ano, quando o ambiente experimenta variações estacionais.
Segundo Ogden (2000), um bom programa de monitoramento inclui um plano para a coleta de
informações e a manutenção dos instrumentos. Ele deve identificar os espaços a serem controlados, os
procedimentos a serem adotados e as formas de gravar as informações desejadas.
Para o devido monitoramento do ambiente foi instalado na capela o equipamento CLIMUS.
Este sistema de medição e aquisição de sinais é montado sobre uma base PC e permite
conectar sensores de temperatura, umidade, velocidade do ar, radiação ultravioleta,
luminosidade etc. A aquisição dos sinais dos sensores é realizada a cada 30 segundos, mas os
dados são armazenados no disco rígido em médias horárias. O sistema também permite um
acompanhamento à distância, via FAX-modem ou rede computacional. A figura 2 mostra o
sistema CLIMUS com 4 módulos Temperatura/Umidade Relativa. O sensor de temperatura é
um termo-resistor NPC e o sensor de umidade do tipo capacitivo, com incertezas de medição de 0.3°C
e 3 %, respectivamente. Os sinais são transmitidos com padrão 4-20 mA, e o módulo de aquisição é
conectado ao micro via porta paralela. Para a captação de dados na Capela foram instalados sensores
de temperatura e umidade relativa no ambiente interno e externo. A Periodicidade da calibração dos
sensores é anual. O método de calibração é feito por comparação com termômetro rastreado, com
incerteza de 0,1°C.
Fig. 2 Sistema de Gerenciamento Térmico para Conservação de Coleções
4. PARÂMETROS IDEAIS
Conforme Souza (1994), os parâmetros de UR (%) para o Brasil eram os mesmos recomendados para
a Europa, entre 50-55%. No entanto, a comunidade internacional de conservadores e cientistas
reconhecem que ainda é preciso estudos mais aprofundados quanto à estabilidade das coleções face às
condições geográficas diversas em que as mesmas estão inseridas. O que se observa são os processos
de degradação nas coleções quando as condições de temperatura e umidade se apresentam extremas e
variáveis. Segundo Thomson (1998), é importante que se defina quais as condições necessárias e
favoráveis de temperatura e umidade para os diversos tipos de objetos, limites máximos e mínimos,
para posteriormente decidir qual são a temperatura e umidade mais adequadas para cada ambiente,
evitando-se assim os problemas advindos da variação dos mesmos. Diante da diversidade dos
materiais de acervo, as condições externas serão propícias ou não, dependendo da natureza de cada
objeto. Sendo assim, conforme Ramp (1998), “o melhor modo de determinar as condições climáticas
interiores é registrando a temperatura e umidade em um longo período de tempo” .
Considerando a importância da estabilidade das condições ambientais no interior do museu, seguem
abaixo os valores de UR recomendáveis para cada categoria de objeto, sugeridas por Guichen (1984):
• Objetos inorgânicos – metais, pedra e cerâmicas – entre 0% e 45%;
• Objetos inorgânicos – vidro sensível – entre 42% e 45%;
• Objetos inorgânicos – fósseis – entre 45% e 55%;
• Objetos orgânicos – madeira, papel, têxteis, marfim, couro, pergaminho, pinturas, espécimes
naturais – entre 50% e 65%;
Objetos provenientes de lugares úmidos antes do tratamento – pedra, mosaicos, madeira, cerâmicas – à
100% .
Onde o GTmax é a média do período do parâmetro externo, DelT é a diferença entre a média interna e
a média externa e b é a relação das mudanças diárias.
Assim, fórmulas foram geradas para a capela, considerando como variáveis dependentes a temperatura
interna mínima, média e máxima e a umidade absoluta interna mínima, média e máxima. As equações
com seus respectivos coeficientes de determinação são apresentadas na tabela abaixo (Tab.1).
Tab. 1: Equações geradas para a Capela
TEMPERATURAS INTERNAS
Tmin = 1,047Gtmin+0,635 Textmin-GTmin+4,765 R²min = 0,87
A figura 3 abaixo mostra as médias de cada mês de monitoramento quanto à umidade absoluta interna
e externa.
18
16
Razão de Umidade (g/Kg)
14
12
10
6
1 2 3 4 5 6 7
Mês
Se esse for o caso, significa que o nível de vapor d’água interno é mais alto que o externo. Então, a
ventilação forçada poderia ser usada, uma vez que reduziria a umidade interna por meio da renovação
do ar.
O limite, estabelecido para a umidade relativa máxima interna nos espaços museológicos é de 65%. A
partir deste índice ocorre a proliferação de fungos de acordo com estudos de microbiologia
(SHELHORN & HEISS, 1974, entre outros). O limite inferior pode ser fixado em 30% de umidade
relativa, de acordo com Sebera (1994), entretanto abaixo deste limite os objetos orgânicos ficarão
muito inflexíveis. Para as condições internas analisadas, o limite mais baixo para materiais orgânicos
(que inclui pinturas) foi adotado em 50%. Desta forma, se a citada condição é verificada, a ventilação
forçada seria considerada como uma possível estratégia passiva para melhorar as condições ambientais
internas.
O procedimento consistiu primeiro no cálculo das umidades relativas correspondentes em ambientes
internos e externos para a pressão de saturação (que levam em consideração a temperatura do ar) e as
umidades absolutas relacionadas, considerando que a TBS máxima ocorre com a umidade absoluta
mínima. A equação abaixo (2) (ASHRAE, 1981) foi usada para converter a temperatura interna e
externa e respectivas umidades absolutas em umidade relativa:
−1
⎡ φ ⎤ ⎡ φ ⎤
w = 0.62198 × ⎢ × pws ⎥ × ⎢p − × p ws ⎥
⎣100 ⎦ ⎣ 100 ⎦ (2)
onde:
w = umidade absoluta [Pa/Pa]
p = pressão atmosférica [Pa]
φ = umidade relativa [%]
pws = pressão de saturação da água [Pa], obtida em função da temperatura T [K]
A pressão de saturação para a faixa de temperatura de 0ºC a 200ºC foi calculada como segue
(3) (ASHRAE, 1981):
80,00
75,00
UR [%]
70,00
65,00
60,00
55,00
1
13
17
21
25
29
33
37
41
45
49
53
57
61
65
69
73
77
81
85
89
93
97
101
dias
58,00
53,00
UR [%]
48,00
43,00
38,00
1
13
17
21
25
29
33
37
41
45
49
53
57
61
65
69
73
77
81
85
89
93
97
101
dias
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