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Maga Katernin Dotsk

Humana: Damarano

Me lembro como se fosse hoje, aos meus oito anos quando percebi pela primeira vez que a
vida dos meus pais não era pra mim.

Eles eram donos de uma estalagem que cuidavam com afinco. Minha mãe até fazia alguns
trabalhos extras, lavando a roupa, costurando e realizando outras pequenas atividades em seu
tempo livre . Mesmo pequena eu já começava a realizar os serviços domésticos e até algumas
pequenas tarefas da estalagem.

Mas sempre estive distante, não realmente longe, e não era como se eu fugisse do trabalho!
Nunca, eu sabia que tinha q ajudar! Era só minha vasta imaginação que me distraia, eu não
tinha culpa de passar mais tempo sonhando acordada em desvendar os grandes mistérios do
mundo do que secando os copos.

Eu queria entender mais sobre as coisas, provar o gostinho do desconhecido e brincar com o
que fosse mais fantásticos; pra que brincar de boneca quando eu poderia imaginar estar atrás
de um segredo que mudaria a forma de ver o mundo.

Quando eu completei, onze anos. Eu conheci pela primeira vez a pessoa que abriria as portas
pra um novo mundo;

Ele chegou no final da tarde, batendo na porta da nossa estalagem ao mesmo tempo que o
crepúsculo começava a se estender pelo mundo.

Na época eu não sabia que ele seria o primeiro mago que eu conheceria, entenda; mesmo
vivendo no norte a nossa vila era afastada e recebíamos poucos arcanistas. Ele era um
pesquisador viajando atrás de uma das nossas lendas locais uma criatura de contos de fadas
que ele achava que existia de verdade.

Mesmo eu sendo só uma filha de estalageiro, eu já sabia ler na língua comum e dominava o
básico da matemática elementar, já que os escribas e contadores eram comuns na nossa
estalagem, e eu sabia ser adorável e até teimosa quando se tratava sobre buscar
conhecimentos. Eu tive um sem números de professores, que me ensinavam uma ou outra
coisa, seja pra eu deixa-los em paz ou por um outro prato cheio de comida. Então eu não era
uma completa ignorante. Mas ainda mantinha parte do meu ar sonhador e infantil.

Durante as manhãs eu era responsável por trazer a água de um antigo poço artesiano para os
fundos da cozinha, e uma das coisas que eu mais gostava era quando o Sol nascente reluzia
na superfície da água, fazendo veios de luzes dançarem; foi assim que aquele senhor notou a
minha presença pela primeira vez; admito que eu estava brincando com a água e sua luz.

Quando de repente quatro globos brancos surgiram em meio a água do balde e começaram a
emergir para próximo de mim em arcos circulares, um misto de susto e fascínio tomou conta de
mim, algo mágico estava acontecendo!!! E nisso percebi pela primeira vez, um senhor com
seus 60 anos, movendo suas mãos em enquanto balbuciava algumas palavras, no momento
que nossos olhos se cruzaram ele parou de gesticular e simplesmente caiu na gargalhada,
sumindo com os globos de luz.

E foi assim que eu descobri a magia, ele era um mago!!!! É claro que eu já tinha ouvido falar
deles, estudiosos na capital que possuíam poderes mágicos; mas nunca tinha pensado que iria
ver um tão cedo e por cima de forma tão banal.
O seu nome era Bran Helder, um estudioso de uma renomada escola de magia, especializado
em criaturas mágicos. Ele ia passar algumas semanas hospedado, mas era bem incerto o
tempo exato. Ele saia as 8h da estalagem logo após tomar o café da manhã, voltando
rapidamente para o almoço e só aparecendo de fato no final do dia. Ele gostava de ficar num
canto afastado da sala de refeições, quase nunca conversava com outros moradores ou com
as pessoas da estalagem, mas era sempre bem educado quando conversava, tinha um tom de
voz calmo e com um lampejo ocasional e intrigante de humor, ele podia pregar uma peça do
nada ou rir de algo que para o resto de nos era simplesmente banal demais pra ter alguma
graça. Não tenho vergonha de dizer que descobri tudo isso e mais algumas coisas, olhando-o
de longe e perguntando pra todos que podia, até para ele. Não demorou muito para que eu
tomasse coragem para bombardea-lo de perguntas.

Perguntei sobre a magia e os livros, sobre o que ele conseguia fazer e também sobre os outros
tipos de conjuradores, aprendi um pouco sobre tudo isso e muito mais sobre os seres
encantados e mágicos. Eu aproveitava todo tempo possível para conversar com ele, mesmo
que possivelmente eu o importunasse, tanto em suas refeições quanto em seu descanso, ele
nunca chegou a se queixar comigo ou á qualquer outra pessoa. Ele parecia ter tanto gosto em
compartilhar sobre as coisas mágicas quanto eu de ouvir.

Com o passar dos dias percebi, que eu lembrava-o de sua filha, uma moça, em suas palavras
encantadora; e tão curiosa quanto eu era na minha idade, que infelizmente pereceu num surto
de pragas no Sul. Já ele percebeu, que eu não só escutava o que ele dizia como também
aprendia, e isso deve ter intrigado-o. Depois de uma semana, ele me perguntou sobre a minha
formação e eu lhe disse que o pouco que sabia eu tinha aprendido com aqueles que iam a
estalagem, mas que outra grande parte era resultante do meu aprendizado rápido e as vezes
até autodidata.

Me lembro claramente das palavras que ele proferiu depois da minha explicação. “bem minha
cara, entenda a magia é tanto uma arte quanto uma ciência. Algo que deve ser estudado com
afinco e dedicação; eu diria que é entre as áreas do conhecimento, aquela mais complicada de
se lidar e talvez por isso à mais notável. Não direi que tens talento para isso; pois não quero lhe
dar falsas esperanças e também por não acreditar que a busca do conhecimento arcano e sua
manipulação sejam obras de algum pré-requisito de nascimento. Mas talvez você tenha
facilidade para vislumbrar parte da trama envolvendo a questão; o estudo da magia não é algo
rápido ou de fácil realizações. Veja bem, é um trabalho de uma vida; por isso eu não poderia de
modo algum lhe ensinar, mas talvez eu tenha um ou outro truque a lhe mostrar”

E assim, ele começou seriamente a me ensinar sobre as magias, felizmente ele tinha alguns
livros sobre magia em sua bagagem, aos quais ele me dava acesso em sua ausência. Todo fim
do dia, ele me questionava sobre algo que eu tinha lido. A maior parte eram coisas complexas
demais e que não me fazia sentido. Mas mesmo assim eu tentava impressionar-lo. Aos poucos
comecei a entender verdadeiramente a trama mágica e o que era realmente a magia.

Isso durou pouco tempo, um mês e meio depois do começo de meus estudos orientado. A
pesquisa Hélder tinha chegado ao fim, segundo ele, não tinha dado em nada. E agora ele tinha
que voltar pra escola da qual fazia parte para relatar seus resultados. Era uma despedida.

Ao partir, ele me deixou um pequeno livro e uma promessa; quando eu conseguisse algum feito
mágico, e se quisesse entrar na escola da qual ele fazia parte. Ele seria o meu patrono, e
tentaria garantir minha admissão sem cobrar as taxas comuns da escola. É claro que meus
pais não gostaram nada da idéia, eles queriam que eu me casasse com alguém decente do
nosso vilarejo e constitui-se aquilo que eles chamavam de uma família decente e respeitável.
Um total disparate, por isso decidi continuar meus estudos escondida, e quando eu finalmente
conseguisse alguma coisa eu iria atrás da escola de magia, meus pais querendo ou não.

Passei noite e mais noite, lendo o livro que Bran me dera, decorando os gestos e palavras de
poder, mentalizando o tecido da realidade e tentando faze-lo torcer-se à minha vontade.
Chegando ao ponto de saber os capítulos de cor, eu ia ao poço murmurando encantamentos e
passava as horas de lazer fazendo praticando os gestos. Quando eu finalmente completei
meus doze consegui algum resultado, uma pequena estática que percorreu todo meu corpo.

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