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Metodologia de Investigação Científica

Manual do Curso de Licenciatura de Gestão de


Recursos Humanos

ENSINO ONLINE. ENSINO COM


FUTURO
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónico, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)).

A não observância do acima estipulado, o infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Coordenação do Programa de Licenciaturas
Rua Dr. Lacerda de Almeida. No 211, Ponta - Gea
Beira - Moçambique
Telefone: 23323501
Cel: +258

Fax: 23323501
E-mail: direcção@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz

ii
Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Pela Coordenação Direção Académica do ISCED

Pelo design Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a

Distancia (IAPED)

Dr Sergio Artur
Pela Revisão

Elaborado Por:

Msc. Zacarias Mendes Magibire – Mestrado Profissional em Administração, pela Universidade


Metodista de Piracicaba, São Paulo, Brasil.

iii
Índice

Visão geral 1

Benvindo ao Módulo de Metodologia de Investigação Científica ................................... 1


Objectivos do Módulo ..................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2
Como está estruturado este módulo .............................................................................. 2
Ícones de actividade ...................................................................................................... .3
Habilidades de estudo .................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .......................................................................................................... .5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 6
Avaliação ........................................................................................................................ 7

TEMA I: A INVESTIGAÇÃO COMO FORMA DE CONHECIMENTO 9

UNIDADE TEMÁTICA 1.1. Iniciando os Estudos Universitários ..................................... 10


Introdução ................................................................................................................... ..10
Sumário ........................................................................................................................ .13
Exercícios de auto-avaliação ......................................................................................... 13
UNIDADE TEMÁTICA 1.2. Ciência e Construção do Conhecimento .............................. .14
Introdução ................................................................................................................... .14
Sumario ....................................................................................................................... .19
Exercícios de auto - avaliação ....................................................................................... 19
UNIDADE TEMÁTICA 1.3. A Investigação Científica ...................................................... 21
Introdução ................................................................................................................... .21
Sumário ........................................................................................................................ 27
Exercícios de auto-avaliação ........................................................................................ 28
UNIDADE Temática 1.4. A estrutura de um Trabalho de Investigação Científica...........29
Introdução ................................................................................................................... 29
A. Elementos pré-textuais .....................................................................29
B. Elementos textuais ............................................................................ 31
Exercícios de auto-avaliação ........................................................................................ 33

TEMA II: A INVESTIGAÇÃO/ACÇÃO PERSPECTIVADA COMO FORMA DE RESOLVER PROBLEMAS


35

UNIDADE TEMÁTICA 2.1. Noção e Caracterísiticas da Investigação - Acção. ................ 36


Introdução.......................................................................................................... 36
Sumário ....................................................................................................................... 40
Exercícios de auto - avaliação ...................................................................................... 41
UNIDADE TEMÁTICA 2.2. Fases do Processo da Investigação- Acção ........................... 42
iv
Introdução ................................................................................................................... 42
Sumário ....................................................................................................................... 45
Exercícios de auto-avaliação ........................................................................................ 45
TEMA III: FASES DE PLANEAMENTO ............................................................................. 46
Introdução da Temática III ........................................................................................... 46
Exercícios de auto - avaliação ...................................................................................... 54
UNIDADE Temática 3.2. Citações e Referências em Trabalhos de Pesquisa. ................ 55
Exercícios de auto – avaliação ..................................................................................... 62
UNIDADE Temática 3.3. Os Elementos de Pesquisa ..................................................... 63
Introdução.......................................................................................................... 63
Exercícios de auto - avaliação ...................................................................................... 80

TEMA IV: O INVESTIGADOR 82

UNIDADE Temática 4.1. A Escolha do Método de Pesquisa .......................................... 83


Introdução.......................................................................................................... 83
UNIDADE Temática 4.2 Ética na Pesquisa .................................................................... 88
Introdução.......................................................................................................... 88
Bibliografia .................................................................................................................. 93

v
Visão geral

Benvindo ao Módulo de Metodologia de Investigação Científica

Caro estudante, bem-vindo ao Módulo de Metodologia de


Investigação Científica. A Metodologia de Investigação Científica é
um campo das ciências que se ocupa com o estudo das diferenes
áreas de pesquisa e investigação científica.
Esta cadeira permitirá que o prezado estudante, compreenda,
conheça os trajectos percorridos para realização e elaboração de
um trabalho de pesquisa.
Neste módulo, serão discutidos assuntos como: A filosofia da
ciência, os diferentes tipos de conhecimentos, métodos de
pesquisa e passos para elaboração de trabalhos científicos.

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Metodologia de


Investigação Científica deverás ser capaz de: aplicar diferentes
métodos e técnicas de investigação científica; dominar diferentes
estratégias de investigação; construir e aplicar instrumentos de
recolha de informação; analisar e interpretar os resultados obtidos
e propor soluções para as problemáticas identificadas.

Conhecer os métodos de investigação científica;


Detectar situações problemáticas no processo de
investigação;
Saber identificar as causas dos problemas;
Conceber instrumentos de análise e recolha de dados;
Programar projectos de investigação/acção;
Produzir uma representação antecipada de um processo
de transformação do real;

1
Objectivos

Propor soluções para problemas detectados.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano de todos os


cursos de licenciatura do ISCED. Poderá ocorrer, contudo, que haja
leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos
nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não sendo necessário
para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Metodologia de Investigação Científica, para


estudantes do 1º ano dos cursos de licenciatura do ISCED, está
estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.
▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em quatro Temas. Cada tema, por sua
vez comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
2
exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades práticas
algumas, incluido estudo de casos.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si,


num cantinho, mesmo recôndito deste nosso vasto Moçambique e
cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo
para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu
centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu
curso como: livros e/ou módulos, CD, CDROOM, DVD. Para além
deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas caracteristicas: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza
didácticopedagógica, etc Pode ser que graças as suas observações,
o próximo módulo venha a ser melhorado.

3
Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando... estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor
à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
4
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.
DICA IMPORTANTE: não recomendamos estudar seguidamente por
tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobretudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana. Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

5
Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os seriços de atendimento e
apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
As sessões presenciais/virtuais são um momento em que você, caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais/virtuais.
Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é de muita importância, na
medida em que permite-lhe situar, em termos do grau de
aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira
ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas.
Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os
conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e
unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais/virtuais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

6
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor,
sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamento da de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
7
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

8
TEMA I: A INVESTIGAÇÃO COMO FORMA DE CONHECIMENTO

Introdução da Unidade Temática I – Estruturação da unidade

Caro estudante, na presente unidade temática iremos nos debruçar em


torno de quatro (4) itens fundamentais sobre a investigação como
forma de Conhecimento, como são apresentados a seguir:

• Unidade Temática 1.1 Iniciando os Estudos Universitários;


• Unidade Temática 1.2 Ciência e a Construção do Conhecimento como
Instrumento de Gestão;
• Unidade Temática 1.3 A investigação Científica;
• Unidade Temática 1.4 A estrutura de um Trabalho de
Investigação.

Por isso, apelamos ao caro estudante, para que desenvolva uma postura
diferente na construção do conhecimento.

Seja bem vindo!

UNIDADE TEMÁTICA 1.1. Iniciando os Estudos Universitários

Introdução

Caro estudante, você ingressou-se no ensino superior onde a aquisição


de habilidades e atitudes específicas da vida universitária e

10
principalmente a capacidade de participar da construção do
conhecimento científico, através da investigação e da pesquisa, é
requerida.

Por isso, nesta unidade, pretendemos que você desenvolva uma


postura diferente na construção do conhecimento.

Seja bem vindo!

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Identificar as competências requeridas para o estudante


universitário;
▪ Compreender a tríade de um ensino superior: ensino, pesquisa
e extensão;
▪ Diferenciar o paradigma padrão e reflexivo no processo
educativo
▪ Diferenciar a universidade de outros níveis de ensino.

11
Objectivos

1. O Ensino Universitário

Segundo Mattar (2008, p. 100), a experiência da universidade é uma das


mais marcantes na vida de um ser humano. O estudante passa, durante
o período em que está cursando a universidade, por diversas mudanças,
como mudanças de aprendizado e cognitivas, de atitudes e valores,
psicológicos e sociais, além do desenvolvimento moral.

Fig 1. Iniciando a vida universitária

Deste modo, a universidade, na sua essência, assume o papel de


construtora de conhecimento, na sua tríade de ensino, pesquisa e

12
extensão. A pesquisa deve ser entendida como a produção de
conhecimento por uma comunidade de investigação, a extensão é a
forma de a universidade presta serviços à comunidade, oferecendo
cursos e actividades diversas, o ensino é em geral compreendido como
o momento de transmissão do conhecimento.

No entanto, a forma de «transmissão» de conhecimento muda, na


universidade. Não se trata mais de um processo em que o aluno,
numa atitude passiva do estudante deve
simplesmente absorver, simplesmente, as informações transmitidas
pelo professor. No ensino universitário, o professor é visto como
orientador de estudo, e do aluno universitário se espera uma postura
activa e reflexiva. O quadro que se segue compara o paradigma-
padrão como o paradigma reflexivo.

Quadro 1: Os paradigmas padrão e reflexivo do processo educativo


Paradigma-padrão Paradigma reflexivo
• A educação consiste na • A educação é o resultado da
transmissão de conhecimentos participação em uma comunidade de
daqueles que sabem para aqueles que investigação orientada pelo
não sabem. professor;
• O professor desempenha um • O professor está pronto a
papel de autoridade no processo de admitir erros, numa postura de
ensino; falibilidade;
• Nosso conhecimento do • Os alunos são estimulados a
mundo é inequívoco, explicável e não pensar sobre o mundo quando o nosso
ambíguo. conhecimento a seu respeito revela-se
• Os alunos adquirem ambíguo, equívoco e inexplicável;
conhecimentos por intermédio da • Os alunos pensam e reflectem,
absorção de informações e dados desenvolvendo cada vez mais o usos da
sobre assuntos específicos; uma razão, assim como a capacidade de
mente bem-educativa é uma mente serem criteriosos;
bem estruturada, • As disciplinas em que ocorrem
• Os conhecimentos são questionamentos não são
distribuídos entre as disciplinas coincidentes nem completas, e suas
nãocoincidentes e que juntas relações com os temas são bastantes
problemáticas.

13
completam o universo a ser
conhecido,

Fonte: Mattar (2008, p. 101)

A esse respeito, Sérgio Artur (2011) conclui qua a universidade deve ser
um espaço de busca do saber (pesquisa), de mediação pedagógica
(ensino) e que propicia o melhoramento da existência humana a partir
da intervenção na sociedade (extensão). Nesta tríplice função da
universidade acontece a produção, a transmissão e a aplicação do
conhecimento. Neste contexto, as universidades instituem, na sua
organização, a iniciação à investigação científica, a partir de programas
ou disciplinas específicas. No caso presente, a disciplina de Metodologia
de Investigação Científica reflecte este propósito, o de estimular,
desenvolver e viabilizar o aprender a aprender e aprender a pensar.

A diferença de fundo entre o ensino universitário e o ensino nos níveis


inferiores reside nesta triple função da universidade e na forma como o
aluno desenvolve o seu conhecimento. Enquanto nos níveis inferiores,
predomina o paradigma padrão, na universidade deve predominar o
paradigma reflexivo, onde professor é visto como orientador de estudo,
e do aluno universitário se espera uma postura activa e reflexiva.

Sumário

A universidade, na sua essência, assume o papel de construtora de


conhecimento, na sua tríade de ensino, pesquisa e extensão. A pesquisa
deve ser entendida como a produção de conhecimento por uma
comunidade de investigação, a extensão é a forma de a universidade

14
prestar serviços à comunidade, oferecendo cursos e actividades
diversas, o ensino é em geral compreendido como um momento em
que, o aluno, numa postura activa e reflexiva desenvolve o seu
conhecimento com a orientação do professor.

Exercícios de auto-avaliação

1. Indique as pricipais transformações pelas quais o aluno passa


numa universidade.

Resposta: mudanças de aprendizado e cognitivas, de atitudes e


valores, psicológicos e sociais, além do desenvolvimento moral.

2. Quais são as principais funções de uma universidade

Resposta: ensino, pesquisa e extensão.

3. O que é pesquisa.

Resposta: A pesquisa deve ser entendida como a produção de


conhecimento através de um processo de investigação.

4. Descreva as características do paradigma padrão do processo


educativo.

Resposta:

• A educação consiste na transmissão de conhecimentos


daqueles que sabem para aqueles que não sabem.
• O professor desempenha um papel de autoridade no processo
de ensino;
• Nosso conhecimento do mundo é inequívoco, explicável e não
ambíguo.
• Os alunos adquirem conhecimentos por intermédio da
absorção de informações e dados sobre assuntos específicos; uma
mente bemeducativa é uma mente bem estruturada,
• Os conhecimentos são distribuídos entre as disciplinas não
coincidentes e que juntas completam o universo a ser conhecido,

5. Discuta a diferença entre ensino universitário do ensino médio

ou primário.

Resposta: A diferença entre o ensino universitário e o ensino nos níveis


inferiores reside tripla função da universidade (ensino, pesquisa e
extensão) e na forma como o aluno desenvolve o seu conhecimento.

15
Enquanto nos níveis inferiores, predomina o paradigma padrão, onde o
aluno, numa atitude, espera absorver, simplesmente, as informações
transmitidas pelo professor. Na universidade predomina o paradigma
reflexivo, onde professor é visto como orientador de estudo, e do aluno
universitário se espera uma postura activa e reflexiva.

1. Discuta a tripla função da universidade.


Exercícios 2. Coloque um exemplo de uma situação em que a
universidade
3. Discuta um exemplo prático de extensão universitária.
4. Estabeleça as diferenças entre o paradigma-padrão e
o padrão reflexivo
5. O que significa a palavra paradigma.
6. Dê exemplos de, pelo menos 2 paradigmas.

UNIDADE TEMÁTICA 1.2. Ciência e Construção do Conhecimento

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante tenha o


domínio dos conceitos de ciência, de conhecimento e tipos de
conhecimentos.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

16
Definir os conceitos de ciência e conhecimento;
Identificar os principais tipos de conhecimento
Caracterizar os diferentes tipos de conhecimento




Objectivos

1. Conceitos de Ciência e de Conhecimento

A palavra ciência deriva do latim scire que significa «saber», oferecendo


o mesmo conteúdo etimológico que conhecimento, do latim cognosci,
que significa «conhecer» (Vaz Freixo, 2011).

O autor define ciência como um conhecimento racional, sistemático e


verificável. Ele reconhece que o conceito de ciência foi se reconstruindo
ao longo dos tempos e sistematiza as principais definições dadas por
diferentes autores (Idem, p.32):

• Ciência como a acumulação de conhecimentos sistemáticos;


• Ciência é a actividade que propõe demostrar a verdade dos
factos experimentais e as suas aplicações práticas;
• Ciência caracteriza-se poelo conhecimento racional,
sistemático exacto, verificável e, por conseguinte, fiável;
• Ciência como conhecimento certo do real pelas suas causas;
Ciência é conhecimento sistemático dos fenómenos da natureza
e das leis que o regem, obtido pela investigação, pelo raciocínio
e pela experiência intensiva;

17
• Ciência como o conjunto de enunciados
lógicos e
dedutivamente justificada por outros enunciados;

A esta síntese de conceitos e formulações, o autor citando Ander-Egg,


conclui que «ciência constitui um com junto de conhecimentos
racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados
e verificáveis que fazem referência a objectos de uma mesma
natureza».

Fig 2. A ciência e construção de conhecimento

Freixo (idem) classifica as ciências em quatro grupos, a saber:

Ciências Matemáticas (ou lógico-matemáticas) incluem a aritmética,


geometria, álgebra, trigonometria, lógica, física pura, astronomia pura,
etc.

Ciências Naturais que incluem a física, química, biologia, astronomia,


geografia física e paleontologia, etc.

Ciências Humanas ou Sociais – inclui a psicologia, sociologia,


antropologia, geografia humana, economia, linguística, psicanálise.

Ciências Aplicadas – são todas as ciências que conduzem a invenção de


tecnologias para intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades,
como por exemplo, direito, engenharia, medicina, arquitectura,
informática etc.

Conhecimento pode ser entendido como o processo pelo qual se


determina a relação entre o sujeito e o objeto (Idem).

Edgar Morin (2003) afirma que o conhecimento opera por selecção de


dados significativos: separa (distingue ou desune) e une (associa,
identifica); hierarquiza (o principal, o secundário) e centraliza (em
função de um núcleo de noções mestras). Estas operações, que utilizam

18
a lógica, são de facto comandadas por princípios de organização do
pensamento ou paradigmas, princípios ocultos que governam a nossa
visão das coisas e do mundo sem que disso tenhamos consciência.

Para Serrano e Fialho (2005), o conhecimento é um recurso intangível,


que possui a característica de dinamismo e que mediante a formação
contínua das pessoas e a aprendizagem se renova e adapta a novas
situações. Estes autores, citando NonaKa (1994); definem
conhecimento como uma crença justificadamente verdadeira.

O conhecimento representa um recurso valioso para as pessoas, para as


organizações e para a economia em geral, na medida em que é
praticamente ilimitado o potencial para emergirem novas e novo
conhecimento a partir daquele que já existe. O conhecimento cresce
quando partilhado e não se deprecia com o uso. Enquanto os recursos
materiais decrescem à medida que são utilizados, os recursos do
conhecimento aumentam com o seu uso: ideias geram novas ideias e o
conhecimento partilhado permanece com o transmissor, ao mesmo
tempo que enriquece o receptor (Davenport e Prusak, 1998 citados por
Serrano e Fialho, 2005).

2. Tipos de conhecimentos

Segundo http://pt.wikiversity.org, entre as principais formas de


conhecimento humano podemos destacar os seguintes: o senso
comum, o conhecimento religioso, o conhecimento filosófico, o
conhecimento empírico e o conhecimento científico. Este site explica
cada um destes tipos de conhecimentos da seguinte maneira:

2.1 Senso Comum

O senso comum é o nome dado ao tipo de conhecimento humano que


descreve crenças e proposições que uma pessoa acha correta, sem, no
entanto obtê-la de um conhecimento esotérico, investigação ou estudo.

O senso comum é uma forma de conhecimento informal, espontâneo,


adquirido do contato direto com o mundo, geralmente obtido por
tentativa ou erro. No senso comum são realizadas ações que achamos
que produzem um resultado eficiente, mas não temos como descrever
a cadeia de eventos que levam a este resultado. Esta forma de
conhecimento é a primeira do ser humano, e acaba sendo utilizada pela
grande maioria das pessoas nas atividades mais corriqueiras da vida
cotidiana. Porém pelo fato de ser simples e superficial, o senso comum

19
acaba sendo insuficiente, pois é um conhecimento que depende dos
sentidos humanos, que são limitados e não podem contemplar a
realidade verdadeira das coisas.

Mattar (2008) afirma que o senso comum é também denominado


conhecimento popular ou empírico e define-o como todo aquele que
todo ser humano desenvolve no contacto directo e diário com a
realidade e é utilizado, em geral, para objectivos práticos.

2.2 Conhecimentos religiosos

A religião pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas


com aquilo que a humanidade considera como metafísico,
sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto
de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.

O conhecimento religioso implica na crença de verdades obtidas de


forma divina ou sobrenatural, e desta forma são geralmente infalíveis e
cujas evidências não podem ser comprovadas, sendo geralmente
relegadas à fé ou crença pessoal. Desta forma, o conhecimento religioso
se baseia em dogmas que não podem ser refutadas nem submetidas à
análise científica.

O conhecimento religioso ou teológico apoia-se na fé e tem sua origem


nas revelações do sobrenatural. Na compreensão humana essas
manifestações são divinas e trazem a mensagem de um ser superior.
Quantas autoridades divinas e invisíveis já são nomeadas por nós,
exemplos: Buda, Maomé, Jeová e Jesus Cristo. O conhecimento
Teológico parte do princípio de que as manifestações, verdades e
evidências sobrenaturais não são verificáveis e, por serem obra do
criador divino e conterem uma atitude implícita de fé, são infalíveis e
indiscutíveis. Não é preciso ver para crer, e a crença ocorre mesmo que
as evidências apontem no sentido contrário. As verdades religiosas são
registradas em livros sagrados ou são reveladas por seres espirituais,
por meio de alguns iluminados, santos ou profetas. Essas verdades são
quase sempre definidas e não permitem revisões mediante reflexão ou
experimentos. Portanto o conhecimento religioso é um conhecimento
mítico, dogmático ou ainda espiritual, apoia-se em doutrinas que
contem proposição sagradas. Não pode por sua origem, ser confirmado
ou negado. Depende da formação moral das crenças de cada indivíduo.

20
2.3 Conhecimentos filosófico

Filosofia modernamente é uma disciplina, ou uma área de estudos, que


a investigação, análise, discussão, formação e reflexão de ideias (ou
visões de mundo) em uma situação geral, abstrata ou fundamental.

O conhecimento filosófico é aquele que é obtido pelo ato de filosofar,


isto é, através de uma análise mental em busca de respostas para certas
interrogações. O conhecimento filosófico diferencia-se do
conhecimento científico pelo fato de abarcar ideias, relações
conceituais e raciocínios lógicos que por vezes não podem ser
observados, nem mensurados e nem reproduzidos.

2.4 Conhecimentos científico

O conhecimento científico envolve uma descrição, interpretação,


explicação, ou uma verificação mais precisa de um conhecimento já
existente, a partir de um fluxo circular contínuo entre realidade
empírica e a teoria.

Sumario

Ciência pode ser definida como um com junto de conhecimentos


racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados
e verificáveis que fazem referência a objectos de uma mesma natureza.
Elas podem ser classificadas em quatro grupos, a saber: Ciências
Matemáticas (ou lógico-matemáticas), incluem a aritmética,
geometria, álgebra, trigonometria, lógica, física pura, astronomia pura,
etc. Ciências Naturais que incluem a física, química, biologia,
astronomia, geografia física e paleontologia, etc. Ciências Humanas ou
Sociais – inclui a psicologia, sociologia, antropologia, geografia humana,
economia, linguística, psicanálise. Ciências Aplicadas – são todas as
ciências que conduzem a invenção de tecnologias para intervir na
natureza, na vida humana e nas sociedades, como por exemplo, direito,
engenharia, medicina, arquitectura, informática etc.

Conhecimento pode ser entendido como o processo pelo qual se


determina a relação entre o sujeito e o objeto. Entre as principais
formas de conhecimento humano podemos destacar os seguintes: o
senso comum, o conhecimento religioso, o conhecimento filosófico, o
conhecimento empírico e o conhecimento científico.

Exercícios de auto - avaliação

1. O conceito de Ciência deriva do:

21
a. Do latim;
b. Do Grego;
c. Do Espanhol;
d. Do Inglês.

2. A Ciência é:
a. Acumulação de conhecimentos sistemáticos
b. Actividade que propõe demostrar a verdade dos factos
experimentais e as suas aplicações práticas;
c. Conjunto de enunciados lógicos e dedutivamente justificada por
outros enunciados;
d. Todas as afirmações estão correctas

3. Não faz parte da Classificação de Ciência, segundo Freixo:


a. Ciências Matemáticas
b. Ciências Naturais
c. Ciências Humanas ou Sociais
d. Ciências Gastronomicas

1. Defina o conceito de ciência


Exercícios 4. Classifique ciências, segundo Vaz Freixo.
5. Indique os tipos de conhecimentos que copnhece.
6. Discuta o senso comum, dando exemplos práticos.
7. Diferencie o conhecimento filosófico do conhecimento religioso.

22
UNIDADE TEMÁTICA 1.3. A Investigação Científica

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante tenha o domínio


sobre o papel da investigação científica na construção do
conhecimento.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Reconhecer o papel da investigação científica;


▪ Reconhecer o papel do professor e do aluno universitário na
construção do conhecimento.
▪ Entender e aplicar os princípios da investigação científica.

Objectivos

1. A pesquisa científica

23
Fig 3. A investigação cientifica

Vamos recorrer a Antônio Joaquim Severino (2007) para discutirmos


esta temática.
Para este autor, na Universidade, a aprendizagem, a docência, o ensino,
só será significativa se forem sustentadas por uma permanente
atividade de construção do conhecimento. Tanto quanto o aluno, o
professor precisa da pesquisa para bem conduzir um ensino eficaz.
Essa exigência decorre de duas injunções: primeiro quem lida com
processos e produtos do conhecimento precisam ficar em permanente
situação de estudo, pois o conhecimento é uma atividade histórica, que
se encontra em contínuo devir, e o mínimo que se exige de um
professor é que ele acompanhe o desenvolvimento do saber de sua
área; mas, além disso, impõe-se a postura investigativa porque o
conhecimento é um processo de construção dos objetos, ou seja, todos
os produtos do conhecimento são consequências de processos de
produção dos mesmos, processo que precisa ser refeito, sem o que não
ocorre apropriação, o que se reforça pelas exigências da situação
pedagógica de aprendizagem.
São dois os motivos pelos quais o professor precisa manter-se envolvido
com a pesquisa: primeiro, para acompanhar o desenvolvimento
histórico do conhecimento, segundo, porque o conhecimento só se
realiza como construção de objetos.
Tendo bem presentes as finalidades do ensino superior, aos professores
universitários se impõe o compromisso com um investimento
sistemático no planejamento de suas disciplinas, na qualificação de sua
interação pedagógica com seus alunos e numa concepção do ensino e
da aprendizagem como processo de construção do conhecimento bem
como num cuidado especial com a avaliação..
O plano de ensino deve ser a expressão de uma proposta pedagógica
que dê uma visão integral do curso pensado com vistas ao
desenvolvimento do aluno mediado pelos processos de aprendizagem.

24
Além de constituir o roteiro do trabalho docente e da caminhada do
aluno, ele deve mediar a proposta educativa visada pelo curso em geral
e pela disciplina em particular. Daí a importância que tem a justificativa
para alicerçar as programações.
A interação comunicativa, a capacidade de estabelecimento de uma
relação profissional e democrática que se configure fundamentalmente
pelo respeito mútuo, dimensão que tem a ver com o relacionamento
humano e com a necessidade de um contrato entre as partes, de modo
que a autoridade não se confunda com o autoritarismo nem a liberdade
com libertinagem.
O que está em pauta é uma concepção da aprendizagem como processo
de construção do conhecimento. Consequentemente tornase
imprescindível a adoção de estratégias diretamente vinculadas de
modo que experiências práticas possam ser mobilizadas para essa
aprendizagem. Ou seja, que a própria prática da pesquisa seja caminho
do processo de ensino e aprendizagem. Nessa linha, todas as disciplinas
do curso devem se articular, fazendo que ocorra envolvimento de todos
os docentes. É necessária uma atitude coletiva convergente em termos
de exigência de padrão de produção acadêmica.
O cuidado crítico com avaliação é exigência fundamental na prática
docente universitária. Sem dúvida, este é aspecto delicado do processo
educacional, dado o índice de poder que ele envolve. Porque quando se
torna um mecanismo de opressão estiola toda a fecundidade
pedagógica.. O critério a prevalecer aqui é o da medida da justiça, ou
seja, que não se marque nem pela dominação nem pelo protecionismo.

O ensino não pode realizar-se de forma aleatória, diletante,


espontaneisticamente conduzido, mesmo quando o professor tenha
um domínio muito grande da matéria, adquirido por acúmulo de
experiência. Toda aula, como intervenção pedagógica, exige, da parte
do professor, um cuidadoso planejamento.
Em primeiro lugar, o professor precisa planejar sua disciplina, com
antecedência. Isso não deve ser feito apenas em função de obrigações
burocráticas formais de registro acadêmico, mas em função da
necessidade de um roteiro de trabalho. Este planejamento deve ser
feito antes do início do exercício letivo, quando deve ser distribuído e
divulgado para todos os alunos. Em segundo lugar, a cada semana, a
aula deve ser preparada, roteirizada, em consonância e coerência com
o plano da disciplina e com a lógica temática em desenvolvimento.
No planejamento da disciplina, é preciso levar em conta o plano maior
do curso, uma vez que a disciplina é uma parte de um todo,

25
organicamente articulado para que possa responder, adequadamente,
ao projeto formativo do aluno.

A programação da disciplina deve conter os seguintes elementos:


Justificativa, objetivos, conteúdos temáticos, metodologia de trabalho,
avaliação, leituras complementares e cronograma.

É por isso que a programação da disciplina deve começar com a


justificativa; trata-se de mostrar aos alunos o lugar que ela ocupa, em
função de seu conteúdo, no projeto formativo. Apresentar a justificativa
é fundamental, pois todos precisamos saber a razão pela qual uma
atividade é desenvolvida. Não é válido usar apenas argumentos de
autoridade, de tradição ou de determinação legal. Qualquer que seja a
disciplina cabe um esforço no sentido de mostrar aos alunos não só sua
pertinência, mas também sua relevância para a formação naquela área.
É o momento de ressaltar, ainda que sinteticamente, a importância
formativa dos elementos constitutivos da disciplina. Justificar é sempre
uma maneira de expressar, de um lado, a razão de ser de uma atividade,
sua validade, fundamentada em bases consistentes; de outro, o
respeito pela liberdade e autonomia do aluno, que deve encontrar na
justificativa o porquê é válido cursar essa disciplina e essa programação,
de tal modo que não tenha de agir de forma mecânica ou apenas por
obrigação.
Em seguida, a programação deve explicitar seus objetivos, ou seja, o
que ela visa alcançar com relação à formação do aluno. Os objetivos são
intrínsecos à própria natureza dos conhecimentos que estarão sendo
trabalhados, a forma como eles poderão contribuir para a formação do
estudante.

Os conteúdos temáticos são as mediações informativas do


conhecimento daquele segmento da área estudada. Constam da
programação para apresentar a delimitação, o recorte temático do
conhecimento que se vai trabalhar ao longo do curso. Esses conteúdos
devem ser explicitados de maneira que não seja nem muito genérica
(pois assim não diriam nada), nem muito detalhada (pois aí ficariam
hiperespecializados) e apresentados de forma coerente e articulada. 9
Antônio Joaquim Severino (USP - Faculdade de Educação).

A metodologia de trabalho deve anunciar as modalidades das


diferentes atividades que serão desenvolvidas pela docência do
professor e daquelas que serão solicitadas dos alunos como formas de
desempenho acadêmico. Deve então anunciar não apenas as formas de

26
atuação do professor mas também as tarefas que estarão sendo
atribuídas aos discentes.

A avaliação deve antecipar os processos e os produtos que entrarão


como matéria para apreciação e avaliação por parte do professor. Estes
elementos precisam ser claramente antecipados e explicitados, sem
ambiguidades, para que fique bem claras as regras do jogo, marcando
bem a proporção que cabe à demonstração de empenho por parte do
aluno bem como a seu efetivo desempenho. O processo avaliativo é,
sem dúvida, a dimensão mais complexa e delicada da atividade de
docência. Seu critério maior há que ser a justiça. O professor deve ter
bem presente que, em matéria de avaliação, a qualidade das tarefas é
mais significativa do que sua quantidade.

Leituras recomendadas são aquelas fontes que complementam e/ou


desdobram a temática da disciplina, ela representa uma sugestão de
mais subsídios caso o aluno queira aprofundar o assunto do curso. Ao
mesmo tempo, elas, como referências bibliográficas, informam as
fontes utilizadas pelo docente na preparação de sua proposta de curso.

Finalmente, o cronograma distribui as atividades ao longo do exercício


letivo e discrimina as atividades específicas de cada aula. É muito
importante elaborar e entregar esse cronograma logo no início das
atividades letivas, de forma a que o aluno possa também organizar seu
trabalho ao longo do curso. 0 Ensino e pesquisa na docência
universitária: caminhos para a integração Antônio Joaquim Severino
(USP - Faculdade de Educação).

O envolvimento dos alunos ainda na fase de graduação em


procedimentos sistemáticos de produção do conhecimento científico,
familiarizando-os com as práticas teóricas e empíricas da pesquisa, é o
caminho mais adequado inclusive para se alcançar os objetivos da
própria aprendizagem.

Aprender é necessariamente uma forma de praticar o conhecimento, é


apropriar-se de seus processos específicos. O fundamental no
conhecimento não é a sua condição de produto, mas o seu processo.
Com efeito, o saber é resultante de uma construção histórica, realizada
por um sujeito coletivo. Daí a importância da pesquisa, entendida como
processo de construção dos objetos do conhecimento e a relevância
que a ciência assume em nossa sociedade.

27
Felizmente, a tomada de consciência da importância de se efetivar o
ensino dos graduandos mediante práticas de efetiva construção do
conhecimento só tem feito aumentar nos últimos tempos. Em todos os
setores acadêmicos, está se reconhecendo, cada vez mais, a
necessidade e a pertinência de assim se proceder. As resistências ficam
por conta da acomodação de alguns ou da ausência de projetos
culturais e educacionais de outros gestores das instituições
universitárias. Mas é preciso lutar contras essas situações e consolidar
sempre mais esta postura. Não se trata, bem entendido, de se
transformar as instituições de ensino superior em institutos de
pesquisa, mas de se transmitir o ensino mediante postura de pesquisa.
Trata-se de ensinar pela mediação do pesquisar, ou seja, mediante
procedimentos de construção dos objetos que se quer ou que se
necessita conhecerem, sempre trabalhando a partir das fontes.

Os procedimentos pertinentes à modalidade da Iniciação Científica são


os mais pertinentes para que se possa então realizar a aprendizagem
significativa, preparando os alunos que passam por essa experiência
para edificação das bases para a continuidade de sua vida científica,
cultural e acadêmica, de modo geral.
Sem dúvida, para além das exigências institucionais que implicam, da
parte dos gerenciadores da educação no país, a viabilidade e a
fecundidade da Iniciação Científica exigem, da parte dos docentes, uma
correspondente mudança de postura didático-pedagógica. Uma
primeira mudança diz respeito à própria concepção do processo do
conhecimento, a ser visto como efetiva construção dos objetos, ou seja,
impõe-se que o professor valorize a pesquisa em si como mediação não
só do conhecimento mas também, e integralmente, do ensino. Em
segundo lugar, é preciso que os docentes se disponham a uma atitude
de um trabalho investigativo com os iniciantes, cônscios das
dificuldades e limitações desse processo, assumindo a tarefa da
orientação, da co-orientação, do acompanhamento, da avaliação,
compartilhando inclusive suas experiências e seus trabalhos
investigativos, abrindo espaços em seus projetos pessoais.
De seu lado, as instâncias internas da Instituição de ensino superior
precisam assumir, não só a luta por maior número de bolsas de Iniciação
Científica junto às agências oficiais, mas também aquela pela criação de
um sistema próprio de concessão dessas bolsas, com Antônio Joaquim
Severino (USP - Faculdade de Educação) recursos próprios, apoiando
docentes e discentes que se disponham a desencadear o processo
sistemático de seu desenvolvimento. Na verdade, impõe-se toda uma

28
reformulação da mentalidade e da prática de se conceber e ministrar o
ensino nas instituições universitárias.

A aquisição, por parte dos estudantes universitários, de uma postura


investigativa não se dá espontaneamente por osmose, nem
artificialmente por um receituário técnico, mecanicamente
incorporado. De acordo com as premissas anteriormente colocadas, a
aprendizagem universitária tem muito mais a ver com a incorporação
de um processo epistêmico do que com a apropriação de produtos
culturais, em grande quantidade.
O que é exigido, então, como mediações necessárias são componentes
curriculares, com configuração teórica e com desenvolvimento prático,
que subsidiem o aluno nesse processo. O ensino/aprendizagem do
processo de construção do conhecimento pressupõe, pois, um
complexo investimento.
Primeiramente, é preciso garantir uma justificativa políticoeducacional
do processo. Trata-se de mostrar ao aluno que o conhecimento é a
única ferramenta de que o homem dispõe para cuidar da orientaçào de
sua existência, sob qualquer ângulo que ela seja encarada. A habilidade
em lidar com o conhecimento como ferramenta de intervenção no
mundo natural e no mundo social é prérequisito imprescindível para
qualquer profissão, em qualquer área de atuação dos sujeitos humanos.
Por isso mesmo, todos os currículos universitários precisam contar com
componentes, certamente de natureza filosófica, capazes de assegurar
o esclarecimento crítico acerca das relações entre o epistêmico e o
social.

Em seguida, é preciso assegurar igualmente uma fundamentação


epistemológica, ou seja, garantir ao aprendiz o domínio do próprio
processo de construção do conhecimento, consolidando-se a convicção
quanto ao caráter construtivo desse processo, superam Ensino e
pesquisa na docência universitária: caminhos para a integração do-se
todas as outras crenças epistemológicas arraigadas em nossa tradição
filosófica e cultural, de cunho representacionista, intuicionista etc. É
pré-requisito imprescindível para que nos tornemos pesquisadores a
explicitação dos processos básicos que emergem na relação
sujeito/objeto quando da atividade cognoscitiva. De nada valerá
ensinar métodos e técnicas se não se tem presente a significação
epistêmica do processo investigativo.

Só sobre essa base ganha sentido a inclusão de componente curricular


mediador de estratégia didático-metodológica, que cabe se designar

29
como a metodologia do trabalho científico, onde se tratará da iniciação
às práticas do trabalho acadêmico, estratégia geral de interesse de
todos os estudantes, independentemente de sua área de formação.

Finalmente, é preciso colocar à disposição dos estudantes uma


metodologia técnico-científica para o trabalho investigativo específico
de cada área. Com efeito, essa etapa não deve ser identificada ou
confundida com a metodologia do trabalho científico, pois ela trata dos
meios de investigação aplicada em cada campo de conhecimento.
Desse modo, podemos concluir que a iniciação à prática científica na
universidade exige mediações curriculares que articulem, simultanea e
equilibradamente, uma legitimação político-educacional do
conhecimento, sua fundamentação epistemológica, uma estratégia
didático-metodológica e uma metodologia técnica aplicada.

Sumário

Na Universidade, a aprendizagem, a docência, o ensino, só serão


significativas se forem sustentadas por uma permanente atividade de
construção do conhecimento. Tanto quanto o aluno, o professor precisa
da pesquisa para bem conduzir um ensino eficaz.
Essa exigência decorre de duas injunções: primeiro, quem lida com
processos e produtos do conhecimento precisa ficar em permanente
situação de estudo pois o conhecimento é uma atividade histórica, que
se encontra em contínuo devir, e o mínimo que se exige de um
professor é que ele acompanhe o desenvolvimento do saber de sua
área; mas além disso, impõe-se a postura investigativa porque o
conhecimento é um processo de construção dos objetos, ou seja, todos
os produtos do conhecimento são consequências de processos de
produção dos mesmos, processo que precisa ser refeito, sem o que não
ocorre apropriação, o que se reforça pelas exigências da situação
pedagógica de aprendizagem.

Exercícios de auto-avaliação
1. Nao faz parte da investigação cientifica a:
a. Justificativa
b. Objetivos
c. Conteúdos
d. Expeculação

30
2. A estratégia didático-metodológica pretende:
a. Designar como a metodologia do trabalho científico
b. O trabalho investigativo específico de cada área
c. O desenvolvimento do saber de sua área
d. Uma legitimação político-educacional do conhecimento

1. Justifique a necessidade da pesquisa científica na universidade.


Exercícios 2. Aponte os dois motivos pelos quais o professor precisa manter-se
envolvido com a pesquisa.
3. Indique os elementos que a programação de uma disciplina deve
conter.
4. Justifique a necessidade da justificativa.
5. Indique os elementos que deve conter a programação da disciplina,
numa universidade.

UNIDADE Temática 1.4. A estrutura de um Trabalho de Investigação Científica

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante tenha domínio da


estrutura de um trabalho de investigação, nomeadamente monografia,
dissertação e tese.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Identificar os elementos de um trabalho de investigação


científica;
▪ Caracterizar cada elemento de um trabalho de investigação
científica.

31
Objectivos

3. Estrutura de um trabalho de investigação científica (as teses,


dissertações e TCC)

Fazemos a discussão desta temática, aproveitando a sistematização


feita por Sergio Artur (2011)

Segundo este autor, os trabalhos acadêmicos – monografias,


dissertações e teses, relatórios – seguem estrutura mais ou menos
homogênea, apresentada na ordem abaixo, com pequenas variações.

Quando esses trabalhos são transformados em livros, a base é a mesma,


apenas com variações formais. A ordem dos elementos prétextuais e
pós-textuais varia eventualmente, segundo diferentes interpretações e
orientações; não há uniformidade de critérios entre as diferentes
instituições e normas.

A. Elementos pré-textuais

Capa (obrigatório) – elemento que deve constar entre as páginas


introdutórias somente quando a cobertura do conteúdo for
transparente, deve ser impressa na cobertura quando ela for opaca,
externamente; muitas vezes a capa interna é solicitada mesmo quando
a cobertura é opaca, mas em minha opinião essa exigência não faz
nenhum sentido.

1. Capa é, necessariamente, o elemento externo, para identificação do

32
trabalho. A capa contém:

a) Nome do autor (na margem superior);

b) Título do trabalho (mais ou menos centralizado na folha);

c) Instituição onde o trabalho foi executado (na margem inferior);

d) Cidade e ano de conclusão do trabalho (na margem inferior).

Veja modelo de capa e folha de rosto na unidade VI deste módulo.

2. Folha-de-rosto (obrigatório) - deve conter:

3. As mesmas informações contidas na capa;

4. As informações essenciais da origem do trabalho;

5. Errata (opcional) – onde aparecem as correções descobertas


após a impressão do trabalho;

6. Folha de aprovação (obrigatória) – é o local onde o


examinador assina e coloca a data de avaliação do trabalho;

7. Dedicatória (opcional) - tem a finalidade de oferecer o trabalho


a alguém como homenagem de gratidão especial. Este item é
dispensável, mas usual. São preferíveis as mais formais;

8. Agradecimentos (opcional) - manifestação de gratidão àqueles


que contribuíram na elaboração do trabalho. É outro item
dispensável e usual, a formalidade aqui é também
recomendada;

9. Epígrafe (opcional) - citação de um pensamento que, de certa


forma, embasou ou inspirou o trabalho. Pode ocorrer, também,
no início de cada capítulo ou partes principais;

10. Índices (obrigatórios): de figuras, mapas, tabelas, gráficos,


fotografias;

11. Lista de abreviaturas (obrigatória) – contém todas as siglas e


abreviaturas utilizadas no texto;

12. Resumo (obrigatório) - tem por objectivo dar visão rápida do


conteúdo ao leitor, para que ele possa decidir sobre a
conveniência da leitura do texto inteiro. Deve ser totalmente fiel
ao trabalho e não pode conter nenhuma informação que não
conste do texto integral. A primeira frase do resumo deve ser

33
significativa, explicar o tema principal do documento. Não
devem constar do resumo citação de autores, tabelas e figuras.
O resumo pode ser precedido da referência bibliográfica
completa do documento e deve, preferencialmente, estar
contido em único parágrafo e única página. De acordo com a
norma, o resumo deve conter até 250 palavras para monografias
e até 500 palavras para dissertações e teses. Para contar o
número de palavras do resumo, use o menu Ferramentas e
Contar palavras. O resumo deve ser vertido para o inglês, por ser
a língua de maior difusão da produção científica, sendo
facultado ainda fazer versões para outras línguas, o francês
comumente, em caso de interesse específico. Esse abstract e ou
résumé são inseridos depois do resumo.

B. Elementos textuais

Conjunto de palavras e frases articuladas, escritas sobre qualquer


suporte. É a parte em que todo o trabalho de pesquisa é apresentado e
desenvolvido; deve expor raciocínio lógico, ser bem estruturado, fazer
uso de linguagem simples, clara e objetiva.

1. Introdução - apresenta o tema e indica aos leitores a linha do


trabalho, sua motivação e o plano da obra, com alguns elementos das
conclusões alcançadas; menciona a importância do trabalho e justifica
contextual e pessoalmente a necessidade da realização do
empreendimento. A introdução deve ambientar o leitor. Cita fatos
históricos importantes e trabalhos clássicos. A caracterização do
problema, as justificativas e as hipóteses podem ser incluídas na
introdução ou destacadas à parte, quando for o caso. Autores podem
ser citados, mas não se trata de revisão; apenas trabalhos de relevância
para a caracterização do contexto devem ser citados. A introdução deve
ter cerca de três ou quatro páginas. Apresenta, no seu final, o objetivo
do trabalho, de maneira clara e direta. É importante que o objetivo
apresentado tenha relação direta com o texto exposto no corpo da
introdução.

2. Desenvolvimento - varia muito conforme o tipo do trabalho.


Em pesquisas experimentais é comum subdividir essa parte em revisão
da literatura, metodologia, resultados e discussão. Entretanto, em
pesquisas qualitativas, muitas vezes essa estrutura não é adequada. Em
qualquer tipo de pesquisa é importante apresentar os trabalhos
realizados por outros pesquisadores. A redação desta revisão da
literatura normalmente é de grande dificuldade, sobretudo pelos que
se iniciam no universo científico-acadêmico. Em face dessa dificuldade,

34
muitos optam por apenas resumir os trabalhos lidos em um ou dois
parágrafos e apresentá-los em ordem cronológica. Deve-se evitar esse
tipo de redação, pois, além de tedioso, o texto escrito dessa forma não
apresenta de maneira eficiente o que já existe publicado sobre o tema.
O texto deve apresentar as diferentes correntes de pesquisadores que
estudaram a questão, deve ser fluente e os parágrafos devem possuir
articulação entre si, cada um contendo idéias que evoluíram do
parágrafo anterior e que preparam o seguinte.

3. Conclusão - conclusões ou recomendações apresentam,


objetivamente, o desfecho do trabalho a partir dos resultados. É sempre
importante apresentá-las de maneira relativa. Evita-se a redação do
tipo “não houve influência do rádio na aculturação dos povos
indígenas…”, e se dá preferência a textos como “não foi possível
demonstrar a influência do rádio na aculturação dos povos indígenas…”.
Colocam-se lado a lado os objetivos e as conclusões, assegurando-se
que não tenham sido citadas conclusões que não foram objetivos do
trabalho.

C. Elementos pós-textuais

1. Referências bibliográficas (obrigatória) – onde constam todas


as obras citadas no texto;

2. Apêndice (opcional) – conjunto de texto e documentos que


ajudam no entendimento do trabalh, mas que são de autoria do
pesquisador;

3. Anexos (opcional) – conjunto de textos e documentos que


auxiliam no entendimento do trabalho, mas que não são da autoria do
pesquisador.

4. Glossário (opcional) - explicação dos termos técnicos,


verbetes ou expressões que constem do texto ou que o
complementem. Elemento facultativo, a ser inserido de acordo com
necessidade, é uma lista em ordem alfabética de palavras especiais, de
sentido pouco conhecido, obscuro ou de uso muito restrito, ou palavras
em língua estrangeira acompanhadas de suas respectivas definições.

35
Estrutura Modelo de um Trabalho de Investigação Científica

Fig. 4: Modelo de Estruturação de Trabalho de Investigação Científica

Exercícios de auto-avaliação
1. A estrutura de um trabalho de investigacao e composta por:
a. Elementos pre-textuais, texto e elemento pós-
textuais;
b. Elementos pós-textuais, texto e glossario;
c. Apendice, texto e paragrafos;
d. Elementos pré-textuais, texto e folha de Rosto;

2. Nao faz parte dos Elementos pré-textuais:

36
a. Dedicatoria;
b. Agradecimentos;
c. Lista de figuras;
d. Bibliografia

1. Justifique a necessidade da estruturação de um trabalho de pesquisa


científica.
Exercícios 2. Aponte as relacao entre os elementos pré-textuais e pós-textuais.
3. Indique os elementos pretextuais imprecisdivel.
4. de investigação.

TEMA II: A INVESTIGAÇÃO/ACÇÃO PERSPECTIVADA COMO FORMA DE RESOLVER PROBLEMAS

37
Introdução da Unidade Temática II – Estruturação da unidade

Caro estudante, no presente segundo tema do nosso modulos iremos


nos discutir em torno de dois (2) itens fundamentais sobre a
investigação/acção como forma de resolução de problemas e sua
importância:

UNIDADE Temática 2.1. Introdução. Noção e características.


UNIDADE Temática 2.2. Fases do processo da Investigação-acção

Por isso, apelamos ao caro estudante, para que desenvolva uma postura
diferente na construção do conhecimento.

Seja bem vindo!

UNIDADE TEMÁTICA 2.1. Noção e Caracterísiticas da Investigação - Acção.

38
Introdução
Esta unidade pretende dotar aos estudantes no concernente a
investigação – acção. Portanto ela fornece subsídios naquilo que tem a
ver com a definição do conceito e a caracterização da investigação.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Definir o conceito de investigação- acção.


Caracterizar a investigação-acção

Objectivos

1. Noção da Investigação-acção - Mas afinal o que é a


Investigaçãoacção?
Como o nome indica, são uma metodologia que tem o duplo objectivo
de acção e investigação, no sentido de obter resultados em ambas as
vertentes:

• Acção – para obter mudança numa comunidade ou organização ou


programa;
• Investigação – no sentido de aumentar a compreensão por parte do
investigador, do cliente e da comunidade (Dick 2000).

39
De uma forma simplificada podemos afirmar que a Investigação-acção
é uma metodologia de investigação orientada para a melhoria da
prática nos diversos campos da acção (Jaume Trilla, 1998 e Elliott,
1996). Por conseguinte, o duplo objectivo básico e essencial é, por um
lado obter melhores resultados naquilo que se faz e, por outro, facilitar
o aperfeiçoamento das pessoas e dos grupos com que se trabalha.

Esta metodologia orienta-se à melhoria das práticas mediante a


mudança e a aprendizagem a partir das consequências dessas
mudanças. Permite ainda a participação de todos os implicados.
Desenvolve-se numa espiral de ciclos de planificação, acção,
observação e reflexão. É, portanto, um processo sistemático de
aprendizagem orientado para a praxis, exigindo que esta seja
submetida à prova, permitindo dar uma justificação a partir do trabalho,
mediante uma argumentação desenvolvida, comprovada e
cientificamente examinada (Jaume Trilla, 1998). É um tipo de
investigação qualitativo como um processo aberto e continuado de
reflexão crítica sobre a acção (Ventosa Pérez (1996).

O grande objectivo desta metodologia, é pois, a reflexão sobre a acção


a partir da mesma. Por outras palavras: a sua finalidade consiste na
acção transformadora da realidade ou, na superação da realidade
actual. (Cembranos, 1995).

Brown e McIntyre (1981) citados por Chagas (2005), apresentam a


Investigação-acção como uma metodologia bastante “apelativa e
motivadora” porque se centra na prática e na melhoria das estratégias
utilizadas, o que leva a uma eficácia da prática muito maior.

Ana Terence, citando Haguete (1999) fala de pesquisa acção. Para esta
autora pesquisa-ação é, muitas vezes, tratada como sinônimo de
pesquisa participante ou pesquisa colaborativa. Tanto a pesquisa-ação
quanto a pesquisa participante têm como origem a psicologia social e
as limitações da pesquisa tradicional, dentre as quais se evidencia o
distanciamento entre o sujeito e o objeto de pesquisa, fator que
ressalta a necessidade de inserção do pesquisador no meio e a
participação efetiva da população investigada no processo de geração
de conhecimento.

8. Características da Investigação-acção
O investigador/actor formula primeiramente princípios especulativos,
hipotéticos e gerais em relação aos problemas que foram identificados;
a partir destes princípios, podem ser depois produzidas hipóteses

40
quanto à acção que deverá mais provavelmente conduzir, na prática,
aos melhoramentos desejados. Essa acção será então experimentada e
recolhida a informação correspondente aos seus efeitos; essas
informações serão utilizadas para rever as hipóteses preliminares e para
identificar uma acção mais apropriada que já reflicta uma modificação
dos princípios gerais. A recolha de informação sobre os efeitos desta
nova acção poderá gerar hipóteses posteriores e alterações dos
princípios, e assim sucessivamente.

Alguns autores criticam a investigação – acção. Benavente et al (1990)


considera que a Investigação-acção, pelas características que reúne e a
imprecisão dos seus instrumentos e limites, tanto pode ser encarada
com uma grande exigência, rigor e dificuldade, como pode ser um
caminho de facilidades, de superficialidades e de ilusões. Chagas (2005)
acrescenta que a Investigação-acção, usada como uma modalidade de
investigação qualitativa, não é entendida pelos tradicionalistas como
“verdadeira” investigação, uma vez que está ao serviço de uma causa,
a de “promover mudanças sociais e porque é um tipo de investigação
aplicada no qual o investigador se envolve activamente. Almeida (2001)
defende que a Investigação-acção tem sido “a parente pobre no campo
das ciências sociais” porque é pouco falada, insuficientemente
praticada, dadas as suas grandes potencialidades. Quando se utiliza,
raramente é divulgada nos meios científicos. Desde que, em 1948, Kurt
Lewin lançou a ideia da action research, tal proposta não foi bem aceite
nos círculos científicos.

Segundo Almeida (2001) existem grandes vantagens na prática desta


metodologia de investigação, a saber: ela implica o abandono do
praticismo não reflexivo; favorece, quer a colaboração interprofissional,
quer a prática pluridisciplinar; e promove, inegavelmente, a melhoria
das intervenções em que é utilizada.

Segundo Baskerville (1999) e Santos et al (2004), as principais


características da investigação - acção metodologia, nomeadamente:
• Desenvolve-se de forma cíclica ou em espiral, consistindo na
definição do âmbito e planeamento, antes da acção, seguido de
revisão, crítica e reflexão;
• Facilita um misto de capacidade de resposta e de rigor nos
requisitos da investigação e da acção;
• Proporciona uma ampla participação geradora de
responsabilidade e envolvimento;
• Produz mudanças inesperadas e conduz a
processos inovadores.

41
A figura apresenta-nos, através da espiral auto-reflexiva lewiniana o
processo cíclico das fases que estão presentes na Investigação - acção
referidas anteriormente.

Podemos, assim, afirmar que a Investigação-acção é uma metodologia


dinâmica, uma espiral de planeamento e acção e busca de factos sobre
os resultados das acções tomadas, um ciclo de análise e
reconceptualização do problema, planeando a intervenção,
implementando o plano, avaliando a eficácia da intervenção (Matos,
2004).

Figura nº 2 – Espiral auto-reflexiva lewiniana. Fonte: SANTOS, Elci;


MORAIS, Carlos; PAIVA, João (2004)

42
Ana Terence, recorrendo-se aos autores Eden; Huxham (2001); Lima,
(2005); Maciel (1999); Thiollent (1997) e Vergara (2005) apresentam as
principais características da pesquisa-ação, quando utilizada em
organizações como método para geração de conhecimento:
• É flexível, pois se delineia à medida que se desenrola, de modo que o
pesquisador não conhece antecipadamente o caminho que irá percorrer
para atingir os objetivos definidos por ele mesmo e pelos demais
envolvidos na investigação;
• É um método adaptável, que auxilia os pesquisadores e usuários a
lidarem com a inserção de conhecimentos na prática; Demanda o
envolvimento integral do investigador na tentativa de mudar a
organização; − preconiza que o problema de pesquisa deve ser
formulado com base nos dados coletados para o diagnóstico e na
discussão do tema com os sujeitos envolvidos, não, a priori, pelo
pesquisador, o que faz pressupor a participação ativa de pesquisadores
e representantes dos grupos implicados bem como a existência de um
diálogo aberto entre estes;
• Resulta na interação do pesquisador com os sujeitos envolvidos, que
colaboram na identificação dos problemas organizacionais e de sua
possível solução, tendo, como princípio, a não pré-determinação e
adaptação situacional, uma vez que as próprias relações estabelecidas
no ambiente de pesquisa variam e não são totalmente previsíveis;
• Está orientada para o futuro, pois facilita a criação de soluções
voltadas para um futuro desejado pelos interessados, processo no qual
o presente é considerado um momento de análise da situação vigente
e o futuro próximo uma instância a ser levada em conta ao se
delinearem as ações e suas chances de êxito;
• Estabelece que os dados coletados representem a realidade
organizacional como um todo e não uma amostra da mesma,
configurada estatisticamente, sendo, de forma geral, obtidos por meio
de técnicas implicativas e interativas, como entrevistas, discussões em
grupo e observação participante;
• Propõe que os dados sejam levantados, tendo em vista elaborar-se o
diagnóstico organizacional, ou seja, a identificação dos problemas e a
formulação de alternativas de soluções, ajustadas às necessidades reais
da organização, e, finalmente,
• Demanda desenvolvimento teórico para informar um
desenvolvimento de prática mais confiável e consistente, de modo que
ferramentas, técnicas, modelos ou métodos desenvolvidos são
possíveis expressões do resultado da pesquisa-ação.

43
Sumário
A investigação-acção é uma metodologia de investigação orientada
para a melhoria da prática nos diversos campos da acção (Jaume Trilla,
1998 e Elliott, 1996). Por conseguinte, o duplo objectivo básico e
essencial é, por um lado obter melhores resultados naquilo que se faz
e, por outro, facilitar o aperfeiçoamento das pessoas e dos grupos com
que se trabalha. Ela orienta-se pata a melhoria das práticas mediante a
mudança e a aprendizagem a partir das consequências dessas
mudanças e permite ainda a participação de todos os implicados.

As principais características da investigação – acção metodologia,


nomeadamente:
• Desenvolve-se de forma cíclica ou em espiral, consistindo na
definição do âmbito e planeamento, antes da acção, seguido de
revisão, crítica e reflexão;
• Facilita um misto de capacidade de resposta e de rigor nos
requisitos da investigação e da acção;
• Proporciona uma ampla participação geradora de

responsabilidade e envolvimento;
• Produz mudanças inesperadas e conduz a
processos inovadores.

Exercícios de auto - avaliação

1. O conceito de investigação-acção refere-se a:


a. Uma metodologia de investigação orientada para a
descoberta da prática nos diversos campos da acção;
b. Uma metodologia de investigação orientada para a
melhoria da prática nos diversos campos da acção;
c. Uma regra de investigação orientada para a melhoria da
prática nos diversos campos da acção;
d. Todas as opções estão correctas

2. É a característica da investigação-acção:
a. Dificultar um misto de capacidade de resposta e de rigor
nos requisitos da investigação e da acção;
b. Facilita um misto de capacidade de resposta e de rigor
nos requisitos da investigação e da acção;
c. Ocultar um misto de capacidade de resposta e de rigor
nos requisitos da investigação e da acção;
d. Mostrar um misto de resposta e de rigor nos requisitos
da investigação e da acção;

44
3. A Acção visa:
a. Orientar mudança numa comunidade ou organização ou
programa
b. Debater mudança numa comunidade ou organização ou
programa
c. Obter mudança numa comunidade ou organização ou
programa
d. Recorrer a uma comunidade ou organização ou
programa

1. Defina o conceito de investigação-acção


Exercícios 3. Qual é o foco desta metodologia de investigação
4. Discuta os ciclos da investigação-acçao
5. Quais são as características da investigação-acção

UNIDADE TEMÁTICA 2.2. Fases do Processo da Investigação- Acção

Introdução

Esta unidade pretende dotar os estudantes no concernente as fases da


investigação – acção.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Identificar as fases investigação- acção.


▪ Analisar o papel da investigação no processo educativo

45
Objectivos

4. Fases do processo da Investigação -acção

A Investigação-acção deve estar definida por um plano de investigação


e um plano de acção, tudo isto suportado por um conjunto de métodos
e regras. São as chamadas fases neste processo metodológico. Assim,
para se concretizar um processo de Investigação-acção, segundo Pérez
Serrano (1994) apresentado por Jaume Trilla (1998) será necessário
seguir quatro fases:

1. Diagnosticar ou descobrir uma preocupação temática, isto é o


“problema”.
2. Construção do plano de acção.
3. Proposta prática do plano e observação de como funciona.
4. Reflexão, interpretação e integração dos resultados.

Replanificação.

Para Kuhne e Quigley (1997) apresentado por Almeida (2005), as fases


da Investigação-acção assumem a configuração apresentada na figura
seguinte:

46
Figura nº 1 – Fases da Investigação-acção apresentada por Kuhne, G.
W., & Quigley, B. A. (1997). Fonte: Almeida (2005)

Da comparação da Investigação-acção com as metodologias


quantitativas, torna-se claro que a Investigação-acção sugere uma
intervenção que pode ser benéfica quer para a organização quer para o
investigador e para a comunidade.
O tipo de aprendizagem proporcionado pela Investigação-acção
permite a compreensão e a vivência de um problema
sócioorganizacional complexo. O domínio ideal do método é
caracterizado por um “conjunto social” em que o investigador é
envolvido activamente, havendo benefícios expectáveis quer para a
organização, quer para o investigador; o conhecimento adquirido pode
ser imediatamente aplicado; e a investigação é um processo que liga
intimamente a teoria à prática.

A investigação para a acção e intervenção educativa


O contributo da Investigação-acção na prática educativa pode e deve
levar a uma participação mais activa do professor, como agente de
mudança. Segundo Benavente et al (1990), “os processos de mudança
são problemática nuclear da Investigação-acção”. Ao utilizar-se esta
metodologia o que se pretende é a mudança na forma e na dinâmica da
intervenção educativa que realizamos no dia-a-dia no palco da nossa
acção – a escola. É aquilo que Perrenoud (1989) apresentado por
Benavente et al (1990) designa por “Sociologia da Intervenção”. Esta

47
intervenção capaz de produzir mudança só é possível quando nos
implicamos todos (comunidade educativa) num mesmo dinamismo de
acção e intervenção.
Mudar implica alterar mentalidades, formas de estar e actuar. É
complicado, porque, tendo como objectivo melhorar a vida das pessoas,
pode estar a pôr em conflito as suas crenças, estilos de vida e
comportamentos. Para que essa mudança seja efectiva, é necessário
compreender a forma como os indivíduos envolvidos vivenciam a sua
situação e implicá-los nessa mesma mudança, pois são eles que vão
viver com ela (Sanches, 2005).

Para o mesmo autor, a Investigação-acção vai permitir que os


destinatários também assumam as responsabilidades de saber e decidir
quais as mudanças que pretendem. É da análise destas decisões que
podemos dar o próximo passo no processo da Investigação-acção.
Deste processo resulta a qualidade e a eficácia desta metodologia.

A estratégia mais eficaz para que ocorram as necessárias mudanças na


comunidade educativa será o envolvimento de todos os intervenientes,
numa dinâmica de acção-reflexão-acção. Neste sentido, a Investigação-
acção surge como uma metodologia eficaz. Nesta perspectiva, e na
opinião de a Investigação-acção pode ajudar o professor/educador a
“desenvolver estratégias e métodos” para que a sua actuação seja mais
adequada, bem como, “propiciar técnicas e instrumentos de análise da
realidade, assim como formas de recolha e análise de dados.” O
contributo desta metodologia é necessária para uma reflexão
sistemática sobre a prática educativa com o objectivo de a transformar
e melhorar. E este é o grande desafio que se impõe a todos nós, actores
empenhados e envolvidos nesta dinâmica de acção na intervenção
educativa (Froufe Quintas, 1998), Associar a Investigação-acção à
prática educativa do professor significa, para Matos (2004), tomar
consciência das questões críticas relativas à aula, criar predisposição
para a reflexão, assumir valores e atitudes e estabelecer congruência
entre as teorias e as práticas.

Moreira (2001) apresentada por (Sanches (2005) refere isso mesmo: “A


dinâmica cíclica de acção-reflexão, própria da investigação-acção, faz
com que os resultados da reflexão sejam transformados em praxis e
esta, por sua vez, dê origem a novos objectos de reflexão que integram,
não apenas a informação recolhida, mas também o sistema apreciativo
do professor em formação. É neste vaivém contínuo entre acção e
reflexão que reside o potencial da investigação-acção enquanto
estratégia de formação reflexiva, pois o professor regula continuamente

48
a sua acção, recolhendo e analisando informação que vai usar no
processo de tomada de decisões e de intervenção pedagógica.”

Sumário
A Investigação-acção deve estar definida por um plano de investigação
e um plano de acção, tudo isto suportado por um conjunto de métodos
e regras. São as chamadas fases neste
processo metodológico. As principais fases desta metodologia
resumem em fase de planificação, de acção e de reflexão. A
Investigação-acção exerce um forte contributo na prática educativa. os
processos de mudança são problemática nuclear da Investigação-acção.
Ao utilizar-se esta metodologia o que se pretende é a mudança na
forma e na dinâmica da intervenção educativa que se realiza no dia-a-
dia na escola.

Exercícios de auto-avaliação

1. As fases da investigação – acção são:


a. Planificação, acção e reflexão;
b. Planificação orientação e implementação;
c. Orientação, implementação e reflexão;
d. Acção, reflexão e planificação.

2. Os objetivos da investigação-acção, visam:


a. Construção do plano de acção;
b. Execução do plano de acção;
c. Avaliação do plano de acção
d. Discutir o plano de acção

1. Indique as fases da investigação-acção, segundo Pérez Serrano.


Exercícios 2. O que implica a fase da planificação da investigação, no

3. Quais são as actividades mentais da fase de reflexão segundo


Kuhne e Quigley
4. Discuta o contributo da investigação acção no processo
educativo.

49
TEMA III: FASES DE PLANEAMENTO

Introdução da Temática III

Caro estudante, no presente tema do nos modulo, vamos debater em


torno de três (3) itens fundamentais sobre a fase de planeamento de
uma pesquisa, como são apresentados a seguir:

UNIDADE 3.1. Tipos de pesquisa


UNIDADE 3.2. As citações e Referências Bibliografica

Por isso, apelamos ao caro estudante, para que desenvolva uma

50
postura diferente na construção do conhecimento.

Seja bem vindo!

UNIDADE Temática 3.1. Introdução. Tipos de pesquisa

Introdução

Esta unidade pretende dotar os estudantes no concernente os tipos de


pesquisa.

Ao terminar esta unidade temática, o estudante deve ser capaz de:

Identificar os tipos de pesquisa


Caracterizars os diferentes tipos de pesquisa
47
Objectivos

2. Tipo de Pesquisa
Segundo Sérgio Artur (2011), a classificação dos tipos de pesquisa pode
ser feita quanto:
a) A abordagem – pesquisas qualitativas e quantitativas;
b) Ao nível de investigação – pesquisa básica e aplicada;
c) Aos objectivos – pesquisa exploratória, descritiva.
d) Aos procedimentos de recolha de dados – pesquisas
experimentais, quase experimentais e não experimentais e;
e) As fontes de informação – pesquisas de campo, de laboratório e
bibliográficas.
A opção pelo tipo, método ou técnica de pesquisa, depende muitas vezes,
“da natureza do problema que preocupa o investigador, ou do objecto
que se deseja conhecer ou estudar (...) também, do domínio que o
pesquisador tem no emprego destas técnicas. Isso significa que a escolha
do tipo de abordagem nas pesquisas não é feita em vão, mas a partir dos
objectivos que o pesquisador pretende alcançar com a sua investigação
(Idem).

Em seguida, passamos a discutir cada um destes tipos de pesquisa


(Sergiop Artur, 2011; Gil 2002)

Pesquisa quantitativa
As pesquisas quantitativas são aplicáveis em situações nas quais se exige
um estudo exploratório, buscando-se um conhecimento mais profundo
52
do problema ou objecto de estudo. Por exemplo, na análise de
desempenho, relação de causa e efeito, incidências e índices.
Nas pesquisas quantitativas “as informações são de natureza numérica.
O pesquisador busca classificar, ordenar ou medir as variávies para
aprensentar estatítisticas, comparar grupos ou estabelecer associações.
Alguns exemplos podem ilucidar a abordagem quantitativa são: (1) as
pesquisas de intenção de voto, na qual o pesquisador pergunta – se a
eleição fosse hoje, em que o eleitor votaria? Ou (2) Quando um
pesquisador/educador questiona – qual é a incidências da evasão escolar,
considerando sexo, faixa etária e rendimento familiar nas escolas da
cidade da Beira?
No primeiro exemplo podem ser calculados os percentuais dos votos de
cada candidato a partir da amostra, com a devida margens de erro o
resultado pode ser generalizado para uma população maior e concluirse:
“se a eleição fosse hoje venceria o candidato Y”.
No segundo exemplo o pesquisador apura os dados do questionário e
calcula os percentuais por sexo, faixa etária e rendimento familiar e faz
suas generalizações, dentro de uma margem de erro.
Assim, pode-se ver que uma das principais características da pesquisa
quantitativa é a generalização, a partir de uma amostra é possível
estender, com certa margem de erro, o resultado da pesquisa para toda
a população.
Assim, a pesquisa quantitativa faz uso do raciocínio indutivo, através do
qual “pela observação dos fatos desprovida de preconceitos, pode-se
chegar a uma ‘lei geral’”.
A pesquisa quantitativa utiliza “a descrição matemática como uma
linguagem, ou seja, a linguagem matemática é utilizada para descrever as
causas de um fenómeno e as relações entre variáveis, etc.
Geralmente, nessas pesquisas o problema é formulado com a intenção
de saber:
a) A relação entre variáveis (qual é a relação entre idade, sexo,
rendimento familiar na evasão escolar?);
b) A causa (O que provoca a evasão escolar?)
c) O efeito ou consequência (Qual é o efeito de métodos expositivos
na aprendizagem de crianças da primeira de 4 a 7 anos?);
d) A incidência (Qual é o número de caso novos de evasão em Buzi
em 2010);
e) A prevalência (Qual é o número de casos de evasão escolar na 5ª
classe, em Maringué entre 2005 a 2010?).
Para concluir, a abordagem quantitativa faz a leitura dos factos a partir
dos princípios do positivismo de Augusto Comte, com base no empirismo
53
de Locke, Newton e Bacon. Todos estes defendem que as ciências
humanas devem adoptar métodos das ciências naturais, que privilegiam
a separação ou o dualismo entre o sujeito e o objecto de estudo, a
neutralidade da ciência com relação a todos os valores e a regularidade
dos fenómenos ou factos sociais (se acontece aqui assim, pode acontecer
assim também em qualquer parte do universo).

Pesquisa qualitativa

Diferentemente da primeira abordagem, a pesquisa qualitativa “o


pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria e dos dados, entre
o contexto e a acção, usando a lógica da análise fenomenológica, isto é,
da compreensão dos fenómenos pela sua descrição e interpretação”
(TEIXEIRA: 2000:124).
Essas pesquisas são também denominadas de pesquisas interpretativas e
elas privilegiam as experiências dos pesquisadores.
O que está em jogo, na pesquisa qualitativa é a busca ou o levantamento,
por parte do pesquisador, de “opiniões, as crenças, o significado das
coisas nas palavras dos participantes da pesquisa (...) ela mostra as
atitudes e os hábitos de pequenos grupos, selecionados de acordo com
perfis determinados” (VEIRA: 2009:7).
Diferentemente, da pesquisa quantitativa, a pesquisa qualitativa não
generaliza as suas conclusões, elas servem apenas explicar situações
referentes àquele grupo social.
Alguns exemplos podem ilucidar a aplicação de pesquisas qualitativas:
(1) Por ocasião das eleições nos conselhos escolares o pesquisador pode
questionar as pessoas – “que qualidade um membro do conselho deve
ter?” ou “quais são os principais problemas que a escola enfrenta?”;
(2) Para saber sobre as desistências numa escola o pesquisador
perguntaria – “Por que é que as meninas ou meninos desistem da
escola?”.
Em ambos exemplos o pesquisador depois analisaria o conteúdo das
respostas.
Por isso, que pode-se considerar a pesquisa qualitativa, segundo Teixeira
(2000:126) como o momento em que “o social é visto como um mundo
de significados passível de investigação e a linguagem dos atores sociais
e suas práticas as matérias primas dessa abordagem”. Neste caso os
problemas são formulados com a intenção de saber:
A percepção (qual é a percepção dos alunos sobre o conhecimento
recebido na escola?);
a) O significado (o que significa para os professores o currículo local?);
54
b) O processo, a trajectória, o percurso (quais são os aspectos que
caracterizam os bons professores?);
c) Os saberes, conhecimentos (que saberes os professores tem sobre
métodos construtivistas de ensino?);
d) As práticas (o que fazem os professores para controlar a disciplina em
sala de aula?).
Para Teixeira (2000) a investigação qualitativa é descritiva, na qual se dá
uma importância vital aos significados do que é dito ou observado e os
dados são colectados no seu ambiente natural.

Hoje em dia existem pesquisas que são quali-quantitativas, ou seja, que


envolvem as duas abordagens, o que significa dizer que longe de se
oporem elas se complementam, trazendo maior riqueza para os
resultados das investigações e a construção da ciência.

Pesquisas Exploratórias

Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar m a i o r familiaridade


com oproblema, com vistas a torna-lo mais explícito ou a constituir
hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo
principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu
planeamento é , portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a
consideração dos mais variados aspectos relativos ao facto estudado.
Na maioria dos casos, esse tipo de pesquisas envolve: (a) levantamento
bibliográfico, (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiencias
praticas com oproblema pesquisado; e (c) analise de exemplos que
“estimulem a compreensão”.

Pesquisas descritivas

A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descricao das


carac- terfsticas de determinada populacao ou fenomeno ou, entao, 0
estabelecimento de relacoes entre variaveis. Sao inumeros os estudos
que podem ser classificados sob este titulo e uma de suas
caracterfsticas mais significativas esta na utilizacao de tecnicas
padronizadas de coleta de dad os, rais como 0 questionario e a
observacao sistematica.

Entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que têm por


objetivo estudar as caracterfsticas de urn grupo: sua distribuicao por
idade, sexo, procedencia, nivel de escolaridade, estado de saude fisica
e mental etc. Outras pesquisas deste tipo sao as que se propoem a
estudar o nivel de atendimento dos orgaos publicos de uma
comunidade, as condicoes de habilitacao de seus habitantes, o indice
de crimi- nalidade que ai se registra etc. Sao incluidas neste grupo as
55
pesquisas que tern por objetivo levantar as opinioes, atitudes e crencas
de urna populacao. Tarnbern sao pesquisas descritivas aquelas que
visam descobrir a existencia de associacoes entre variaveis, como, por
exemplo, as pesquisas eleitorais que indicam a relacao entre
preferencia politico-partidaria e nivel de rendimentos ou de
escolaridade.

Algumas pesquisas descritivas vao alem da simples identificacao da


existencia de relacoes entre variaveis, e pretendem determlnar a
natureza dessa relacao. Nesse caso, tem-se uma pesquisa descritiva
que se aproxima da explicativa. Ha, porem, pesquisas que, embora
deftnidas como descritivas com base em seus objetivos, acabam
servindo mais para proporcionar uma nova visao do problema, o que
as aproximadas pesquisas exploratórias.

Pesquisas explicativas

Essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores


que deterrninam ou que contribuem para a ocorrencia dos fenomenos.
Esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da
realidade, porque explica a razao, o porquê das coisas. Por isso mesmo,
é o tipo mais complexo e delicado, ja que o risco de cometer erros
aumenta consideravelrnente.

Pode-se dizer que o conhecimento cientifico esta assentado nos


resultados oferecidos pelos estudos explicativos. Isso nao significa,
porem, que as pesquisas exploratorias e descritivas tenham menos
valor, porque quase sempre constituem etapa previa indispensavel
para que se possa obter explicacoes cientificas. Uma pesquisa
explicativa pode ser a conrinuacao de outra descritiva, posto que a
idenn- ficacao dos fatores que determinam um fenomeno exige que
este esteja suficientemente descrito e detalhado.

As pesquisas explicativas nas ciencias naturais valem-se quase


exclusivamen- te do metodo experimental. Nas ciencias socials, a
aplicacao deste metoda reveste- se de muitas dificuldades, razao pela
qual se recorre tambem a outros metodos, sobretudo ao observacional.
Nem sempre se torna possfvel a realizacao de pesquisas rigidamente
explicativas em ciencias sociais, mas em algumas areas, sobretudo da
psicologia, as pesquisas revesrem-se de elevado grau de controle,
chegando mesmo a ser chamadas "quase experimentais".

Outra forma de classificar pesquisa é com base nos procedimentos


técnicos utilizados, para a colecta de dados. Deste modo, as pesquisas
podem ser: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, a pesquisa
expe- rimental. A pesquisa ex-post facto e o estudo de caso.
56
PESQUISA BIBLIOGRAFICA

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida c o m base em material já


elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.
Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho
d e s s a natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir
de fontes bibliográficas. Boas partes dos estudos exploratórios podem
ser definidas como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre
ideologias, bem como aquelas que se propõem a analise das diversas
posições ace rca de um problema, também costumam ser desenvolvidas
quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas.

Fig 6. Etapas da pesquisa bibliografica

As fontes bibliográficas são em grande número e podem ser assim


classificadas:

Os livros constituem as fontes bibliográficas por excelência. Em função


de sua forma de utilização, podem ser classificados como de leitura
corrente ou de referenda.

Os livros de leitura corrente abrangem as obras referentes aos diversos


generos literarios (romance, poesia, teatro erc.) e tambern as obras de
divulgacao, isto e, as que objetivam proporcionar conhecimentos
cientificos ou tecnicos.

Os livros de referencia, tambem denominados livros de consulta, sao


aqueles que têm por objetivo possibilitar a rapida obrencao das
informacoes requeridas, ou, entao, a localizacao das obras que as
contem, Dessa forma, pode-se falar em dois tipos de livros de
referenda: livros de referenda informativa, que contem a informacao
que se busca, e livros de referenda remissiva, que remetem a outras
fontes.

Os principais livros de referenda informativa sao: dicionarios,


enciclopedias, anuarios e almanaques. Os livros de referenda remissiva
podem ser globalmente designados como catalogos, sao constitufdos
57
por uma lista ordenada das obras de uma colecao publica ou privada.
Ha varios tipos de catalogos, que podem ser clas- sificados de acordo
com ocriterio de disposicao de seus elementos; os tipos mais
importantes sao: alfabetico por autores, alfabetico por assunto e
sistematico. Neste ultimo, as obras sao ordenadas segundo as
referencias 16 gicas de seu conteudo.

Publicacões periódicas sao aquelas editadas em fasciculos, em


intervalos regulares ou irregulares, com a colaboracao de varies autores,
tratando de assuntos diversos, embora relacionados à urn. Objetivo
mais ou menos definido. As principais publicacoes periodicas sao os
jomais e as revistas. Estas ultimas representam nos tempos atuais uma
das mais importantes fontes bibliograficas. Enquanto a materia dos
jornais se caracteriza principalmente pela rapidez, a das revistas tende
a ser muito mals profunda e mais bern elaborada.

A principal vantagem da pesquisa bibliografica reside no fato de pennitir


ao investigador a cobertura de uma gama de fenomenos rnuito mais
ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa
vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de
pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaco. Por exemplo, seria
impossivel a urn pesquisador percorrer todo o territorio brasileiro em
busca de dados sobre populacao ou renda per capita; todavia, se tern a
sua disposicao uma bibliografia adequada, nao rera maiores obsraculos
para contar com as informacoes requeridas. A pesquisa bibliografica
tambem e indispensavel nos estudos historicos. Em muitas situacoes,
nao ha outra maneira de conhecer os fatos pass ados se nao com base
em dados bibliograficos.

Essas vantagens da pesquisa bibliografica tern, no entanto, uma


contrapartida que pode comprometer em muito a qualidade da
pesquisa. Muitas vezes, as fontes secundarias apresentam dados
coletados ou processados de forma equivocada. Assim, urn trabalho
fundamentado nessas fontes tendera a reproduzirou mesmo a amp liar
esses erros. Para reduzir essa possibilidade, convem aos pesquisadores
assegurarem-se das condicoes em que os dados foram obtidos, analisar
em pro fundidade cada informacao para descobrir possiveis
incoerencias ou contradicoes e utilizar fontes divers as, cotejando-as
cuidadosamente.

Exercícios de auto - avaliação

1. As pesquisas qualitativas e quantitativas define a pesquisa quanto


à:
a. A abordagem
b. Ao nível de investigação
c. Aos objectivos
58
d. As fontes de informação

2. Quanto aos procedimentos de recolha de dados, define-se:

a. Pesquisas experimentais, quase


experimentais e não experimentais.
b. Pesquisa básica e aplicada
c. Pesquisa exploratória, descritiva.
d. Pesquisas de campo

1. Aponte os diferentes tipos de pesquisa estudados nesta unidade?


Exercícios 2. pesquisa.
3. Discuta o termo pesquisa quanto aos objectivos
4. Fale dos objetivos duma pesquisa.
5. Estabeleça a relação entre a pesquisa bibliografica e a pesquisa
documental.

UNIDADE Temática 3.2. Citações e Referências em Trabalhos de Pesquisa.

Esta unidade pretende dotar os estudantes de conhecimentos sobre as


citações, o tipo de citações e as diferentes formas de fazer uma citação.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Definir o conceito de citação


▪ Identificar os tipos de citações
▪ Explicar as diferentes formas de fazer uma citação.

59
Objectivos

1. Tipos de citações

Segio Artur (2011), recorrendo a diferentes autores discute a temática de


citações no trabalho de pesquisa, da seuinte maneira:

As citações podem ser:

Literais ou transcricções – quando as palavras do(s) autor (es) são


transcritas tal com aparecem na obras. Por sua vez estas, ao longo do
trabalho escrito podem ser classificadas de:

a) Citações literais ou transcricções curtas – são as que não ultrapassam


três linhas quanto inseridas no texto que está a ser escrito e sempre
devem aparecer entre aspas. O(s) autor(es) citados pode(m) ser
vinculado(s) no inicio ou no fim da citação.

Exemplos:

Fazenda (2001, p.48) afirma que “a vida académica deve favorecer tanto
a construção como a socialização dos conhecimentos”.

Ou

Entenda-se que “a vida académica deve favorecer tanto a construção


como a socialização dos conhecimentos” (FAZENDA, 2001, p.48).

b) Citações literais ou transcricções longas – são as que ultrapassam três


linhas quando inseridas no texto que está a ser escrito. Elas devem
constituir um parágrafo isolado que é destacado com um recuo de 4 cm
da margem esquerda, com letra menor que a do texto. Normalmente,
não precisam estar entre aspas. Igualmente, o(s) autor(es) pode(m)
estar no inicio ou fim da citação.

Exemplos:

Fazenda (2001, p.16) afirma que: No conhecimento científico há que se


grifar a exigência da definição dos problemas que se têm em mente
solucionar, porque neste procedimento está sempre presente a
intencionalidade, mediante a qual são definidas certas formas e
processos de ação, ficando claro que há sempre pretensão de se atingir
o melhor índice de validade e de fidelidade do conhecimento de um
fenômeno.

60
Ou

No conhecimento científico há que se grifar a exigência da definição dos


problemas que se têm em mente solucionar, porque neste
procedimento está sempre presente a intencionalidade, mediante a
qual são definidas certas formas e processos de ação, ficando claro que
há sempre pretensão de se atingir o melhor índice de validade e de
fidelidade do conhecimento de um fenômeno (FAZENDA, 2001, p.16).

As citações em paráfrase: quanto as ideias do(s) autor(es) de uma obra


são misturadas com as de que escreve o texto. O(s) autor(es) citado(s)
pode(m) ser vinculado(s) no início ou final da frase.

Exemplos:

Fazenda (2001) refere que a vida académica tem a finalidade de


estimular no estudante a capacidade de construir e socializar
conhecimento.

Ou

A vida académica te a finalidade de estimular no estudante a capacidade


de construir e socializa conhecimentos (FAZENDA, 2001).

Citação de uma citação: é a transcricção ou a paráfrase de uma fonte


intermediária, ou seja, de autor(es) citado(s) na obra que está sendo
pesquisada. Esta pode obedecer as mesmas regras referentes às
citações literais (curtas e longas) ou em paráfrases. O(s) autor(es)
citado(s) pode(m) ser vinculado(s) no início ou fim da citação.
Normalmente, usa-se a expressão latina apud, que significa citado por.

a) Exemplo de citação de uma citação literal e curta:

Para Japiassu (apud FAZENDA, 2001, p.18) “cada enfoque


epistemológico elucidar a atividade científica a seu modo. Cada um tem
uma concepção particular do que seja ciência”.

Ou

Para Japiassu apud Fazenda (2001, p.18) “cada enfoque epistemológico


ilucida a atividade científica a seu modo. Cada um tem uma concepção
particular do que seja ciência”.

Ou

61
Por isso, “cada enfoque epistemológico elucidar a atividade científica a
seu modo. Cada um tem uma concepção particular do que seja ciência”
(JAPIASSU apud FAZENDA, 2001, p.18).

b) Exemplo da citação de uma citação literal longa:

Para Bastos & Kelle (apud FAZENDA, 2001, p.31)

Decorar é reter a forma material e não o conteúdo inteligível de


determinado conhecimento, ao passo que memorizar é reter a forma
significativa de um conteúdo inteligível, ou seja, reter a sua
compreensão. A memorização possibilita o refraseamento de algo
conhecido e não sua simples repetição (...).

Ou

Para Bastos & Keller apud Fazenda (2001, p.31)

Decorar é reter a forma material e não o conteúdo inteligível de


determinado conhecimento, ao passo que memorizar é reter a forma
significativa de um conteúdo inteligível, ou seja, reter a sua
compreensão. A memorização possibilita o refraseamento de algo
conhecido e não sua simples repetição (...).

Ou

Decorar é reter a forma material e não o conteúdo inteligível de


determinado conhecimento, ao passo que memorizar é reter a forma
significativa de um conteúdo inteligível, ou seja, reter a sua
compreensão. A memorização possibilita o refraseamento de algo
conhecido e não sua simples repetição (...) (BASTOS & KELLER apud
FAZENDA, 2001, p.31).

c) Exemplo da citação de uma citação em paráfrase

Bastos & Keller (apud Fazenda, 2001) referem que a memorização ajuda
a reter por mais tempo um determinado conhecimento que o acto de
decorar.

Ou

Bastos & Keller apud Fazenda (2001) referem que a memorização ajuda
a reter por mais tempo um determinado conhecimento que o acto de
decorar.

Ou

62
A memorização ajuda a reter por mais tempo um determinado
conhecimento que o acto de decorar (BASTOS & KELLER apud FAZENDA,
2001).

Em suma, as citações fazem parte da vida acadêmica e são muito


utilizadas nos trabalhos de pesquisa.

2. As Referências Bibliográficas

É importante sublinhar que as citações feitas ao longo do texto devem ser


indicadas no fim do trabalho na bibliografia final ou referências
bibliográficas.

De igual modo, Sergio Artur (Idem), explica de forma didáctica esta


temátrica, como se segue:

A referência bibliográfica é composta de seguintes dados: autor, título


do livro, edição, local de publicação, editora e data. Estes são os
elementos essenciais para a caracterização de uma obra.

A - Exemplos de apresentação de referências bibliográficas:

I – Obras publicadas por pessoais físicas.

1) Caso de um(a) autor(a)

TEIXEIRA, Elizabeth. As Três metodologias: académica, da ciência e da


pesquisa. 5 ed. Belém: UNAMA, 2001.

Importante observar:

- O apelido do autor que inicia a referência e é escrito em letras


maiúsculas;

- O título da obra que aparece destacado (em itálico, sublinhado ou em


negrito/bordado) e cabe ao estudante a escolha de uma das formas para
usar em todo o trabalho;

- A edição só é indicada a partir da 2ª;

- Se o local da publicação não aparecer na obra usa-se a abreviatura s.l.


(sem local).

- Se a data da publicação não aparecer na obra usa a s.d. (sem data).

63
2) Caso de vários autores

a) Quando a obra é escrita por até três autores, todos eles constarão da
referência, conforme a ordem que aparece na capa do livro e os nomes
serão separados por ponto e vírgula.

Ex.: RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner Rocha e DAVIS, Cláudia.


Psicologia do Desenvolvimento. v.4. São Paulo: EPU, 1981.

b) Quando a obra é escrita por mais de três autores, constará apenas o


primeiro e acrescenta-se a expressão «et al.» como forma de mencionar
os demais.

Ex.: BLOOM, Benjamin S. et al. Taxionomia de objetivos educacionais:


domínio cognitivo. Porto Alegre: Globo, 1973.

c) Quando a obra é colectiva, com vários autores e organizado ou


coordenado por um deles, constará na referência apenas o nome do
organizador ou coordenador e acrescenta-se entre parêntesis (org.)

Ex.: SILVA, Marco (org.). Educação Online: teorias, práticas, legislação,


formação corporativa. São Paulo: Loyola, 2003.

II – Obras publicadas por entidades colectivas

1) No caso de serem entidades colectivas, como associações, institutos e


semelhantes, o nome delas aparece no lugar do nome do autor.

Ex.: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Normalização da


documentação no Brasil.

2) No caso de entidades ligadas a órgãos públicos, constam nesta ordem


os seguintes elementos: país, órgãos, repartição.

Ex.: MOÇAMBIQUE, Assembléia da República. Sistema Nacional de


Educação (SNE). Reajuste e adequa as disposições contidas na lei nº
4/83. Lei nº 6/92. INM, BR nº 19, I Série, 104, 1992.

III – Referência de artigos de revistas

a) Artigos assinados obedecem à seguinte sequência: autor, título do


artigo, título da revista com destaque gráfico (itálico, negrito ou
sublinhado), local da publicação, volume ou tomo, páginas inclusivas,
data, segundo a pontuação do exemplo abaixo:

64
BRAÇO, António Domingos e MORAES, Célia Ribeiro de. Uma reflexão
sobre as reformas de ensino no Brasil. Trilhas. Revista do Centro de
Ciências Humanas e Educação, Belém, v. 4, n. 2, p.79-84, dez. 2003.

IV – Referência de artigos de jornais

Citam-se ao autor, o título do artigo, o título do jornal, cidade, data


completa, número ou título do caderno, secção ou suplemento,
indicação da página e eventualmente a coluna.

a) Artigo assinado: MUIANGA, Francisco. 65% dos funcionários com nível


elementar. Diário de Moçambique, 18 mar. 2009, p.5

b) Artigo não assinado: RISO não cura doença, mas fortalece o


organismo. Diário de Moçambique, p.10, 18 mar. 2009.

V – Referências de casos especiais

1. Enciclopédias, publicações de congressos e outras obras similares: a


referência é o próprio título, em letras maiúsculas:

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ILUSTRADO – LAROUSSE.

2. Teses não publicadas: obedece-se a mesma referência do livro e indica-


se a natureza, instituição, entre parênteses:

BRAÇO, António Domingos Braço. Educação pelos Ritos de Iniciação: a


contribuição da tradição cultural ma-sena ao currículo forma das
escolas em Moçambique. 2008. 151 p. Dissertação (Mestrado em
Educação) PUCSP. São Paulo. 2008.

3. Escritos mimeográficos:

ROXO, Roberto M. História da filosofia: pré-socráticos e Sócrates. São


Paulo: Faculdades Associadas do Ipiranga, s.d. 53p. (Mimeo).

VI – Referência bibliográfica de documentos registrados em fontes


electrónicas

1. Internet: indicar o nome do autor do documento (quando existe), o


título do documento, a página da Internet e a data do acesso:
MOURA, Gevilacio A. C. De (1996). Citações e referências a documentos
eletrônicos. Disponível em:

65
http://www.elogica.com.br/user/gmoura/refere/html. Acesso em: 15
dez. 2000.
2. Documentos em CD-ROM
a) Referência de todo o material do CD-ROM:
Segredo Mágico. Juceila. n. 11456 Sons d’África, s/l, 2004. 1 CD-ROM. IV
Simpósio Trabalho e Educação: Gramsci, política e educação. Belo
Horizonte: FAE/UFMG, 2007. 1 CD-ROM.

b) Referência de uma parte, uma música, por exemplo:


Casa Bamba. Martinho da Vila. Coração de Malandro. Faixa 6, n.
10.046 RCA, s/l, 1989. 1 CD-ROM.
c) Referência de material gravado em vídeo:
Dança com Lobos. Dir. Videolar. s/l, s/d.

Exercícios de auto – avaliação


1. Fazenda (2001, p.48) afirma que “a vida académica deve favorecer tanto a
construção como a socialização dos conhecimentos”. O exemplo acima referese
a uma:

a. Citação literal ou curta;


b. Citação de uma citação
c. Citação em paráfrase
d. Todas as alíneas sao correctas

2. Citação em parafrase significa:


a. Quanto as ideias do(s) autor (es) de uma obra não são misturadas
com as de que escreve o texto.
b. Quanto as ideias do(s) autor(es) de uma obra são misturadas
com as de que escreve o texto.
c. Quanto o(s) autor(es) de uma obra são misturadas com as de que
escreve o texto.
d. Quanto a ideia doautorde uma obra é misturada com a de que
escreve o texto.

3. Referências bibliográficas de documentos registrados em fontes


electrónicas não podem ser as encontradas na: a. Internet;
b. CD-ROM
66
c. Em video;
d. Em documentos físicos

1. Aponte as diferenças e semelhanças entre as citações Literais e

Exercícios 2. Indique os elementos fundamentais de uma citação.


3. Justifique a diferença de uma citação em paráfrase
Citação de uma citação

4. Fale da relação de uma citação e de uma referência.

UNIDADE Temática 3.3. Os Elementos de Pesquisa

Introdução

Esta unidade pretende dotar os estudantes no concernente aos


elementos fundamentais de um projecto de pesquisa.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Identificar os elementos de pesquisa


▪ Caracterizar os diferentes elementos de pesquisa
▪ Aplicar esses elementos em trabalhos de pesquisa

67
Objectivos

1. As fases de um projecto de pesquisa

Segundo Sergio Artur (2011), Temos que ter consciência que o exercício
da pesquisa começa desde a preparação desta até a produção do
relatório final.

Nesse processo podemos identificar as seguintes etapas:

1. Preparação e delimitação do problema;

2. Construção do plano ou projecto de pesquisa;

3. Execução do plano (colecta e análise de dados)

4. Construção e apresentação do relatório


(monografias, Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC,
dissertações, teses).

Nesta unidade será dado destaque especial a primeira etapa da


pesquisa: a preparação e a delimitação do problema de pesquisa. As
outras etapas serão estudadas em unidades específicas, na disciplina de
Metodologia Científica, neste e nos próximos módulos.

1ª etapa: a preparação e delimitação do problema

Muitos autores consideram que a pesquisa começa com a identificação


do tema a ser pesquisado e por isso mesmo, induzem aos estudantes
universitários (principalmente quanto estes chagam no 4º ano) a
buscarem temas que, às vezes, nada têm a ver com as suas inquietações
cotidianas.

Por isso, Teixeira (2000:107) propõe que o primeiro passo a ser dado
na investigação é a identificação do problema da pesquisa e a
elaboração das questões norteadoras, “o problema a ser estudado
deverá ser o marco de referência para todas as decisões.

Isso significa dizer que a escolha do tema a ser pesquisado, depende da


identificação do problema de pesquisa.

Como então, identificar e escolher um problema de pesquisa?

68
Magibire (2007) afirma a definição de um problema de pesquisa é
comentada através de diferentes enfoques. Gil (1999, p. 49) concebe
um problema como uma questão não resolvida e que é objeto de
discussão em qualquer domínio do conhecimento. Santaella (1999, p.
114) acrescenta que não há problema sem uma indagação central, uma
dificuldade que se quer resolver, portanto o problema de pesquisa é
uma interrogação que implica em uma dificuldade não só nos termos
teóricos ou práticos, mas também é capaz de sugerir uma discussão que
pode, em alguns casos, passar por um processo de mensuração, para
terminar em uma solução viável por meio de um estudo sistematizado.
Vergara (1997, p. 21) enfatiza que uma questão não resolvida pode
estar referida a alguma lacuna epistemológica ou metodológica
percebida, a alguma necessidade de pôr à prova uma suposição, à
interesses práticos, à vontade de compreender e explicar uma situação
do cotidiano, ou outras situações. Máttar Neto (2002, p. 143)
acrescenta que um problema implica uma ou mais dúvidas ou
dificuldades em relação ao tema que se propõe, e, portanto, formulálo
envolve perguntas que o trabalho procura responder. Portanto, não se
pode propor um problema de pesquisa onde não há dúvida, um querer
saber mais ou uma inquietação.

Teixeira (2000) citado por Sérgio Artur sugere que para a definição de
um problema, seja levada em conta a experiência do pesquisador: o
que ele tem lido? Em quê trabalha? O que lhe preocupa nas suas
experiências profissionais? Assim pode-se definir como requisitos para
a escolha do problema: (a) conhecimento suficiente sobre o problema
e interesse pelo mesmo; (b) a experiência profissional e, (c) as leitura
feitas pelo pesquisador.

No campo de educação os problemas educacionais podem emergir dos


processos de ensino-aprendizagem, da avaliação, gestão, da ética, das
metodologias, etc.

Um problema de pesquisa na educação é algo que está acontecer em


algum lugar (o locus), envolve um aspecto do contexto educacional (o
conceito) e nesta situação estão envolvidos pessoas (actores sociais).

Uma situação problema apresentada na forma descritiva e terminar com


uma pergunta, denominada questão de pesquisa, ou norteadora.

Todo o problema de pesquisa deve ser associado a um tema de


investigação, que é normalmente uma área de investigação científica.

É importante referenciar que a identificação de um problema de


pesquisa é um “exercício mental” que culmina com a sua sistematização

69
– delimitação. Vejamos abaixo o que é importante para a definição do
problema de pesquisa:

Primeiro: Breve descrição das características sócio-económicas e


culturais; ideia do estado de saúde do sistema de saúde no local a
pesquisar (país, distrito, localidade, bairro, etc.); se possível pode-se
apresentar dados estatísticos;

Segundo: Uma descrição concisa da natureza do problema – a


descrepância entre o que é e o que deve ser – e o tamanho, distribuição
e severidade (que está afectado, onde, desde quando e quais são as
consequências para os afectados e para os serviços).

Terceiro: A colocação de uma pergunta de pesquisa, também


denominada de questão norteadora, questão principal ou pergunta de
base. Lembre-se que em pesquisas de graduação recomenda-se que
seja apenas uma a questão que vai nortear a pesquisa.

Exemplo da delimitação de um problema de pesquisa:

Tem-se observado que nas escolas de ensino básico de Marromeu um


alto índice de desistência de raparigas. Por exemplo, ano lectivo de
2010, 18% das meninas matriculadas de 1ª a 5ª classe abandoram a
escola. Normalmente, pais e encarregados de educação encarram a
situação como sendo normal e não se questionam sobre o impacto que
isso pode ter na vida daquelas crianças. Perante esta situação coloca-se
a seguinte questão (norteadora):

- Qual é o significado social construído em torno da presença ou ausência


na rapariga na escola no distrito de Marromeu?

Veja que neste exemplo estão presentes: situação problema – o alto


índice de desistâncias da de raparigas, que está relacionada com o
tema – género e educação. E ainda, um locus – distrito de Marromeu
e, os actores sociais – as raparigas.

Lembre-se que um problema de pesquisa não é uma pergunta, mas sim


a descrição de uma situação que inquieta, que culmina na elaboração
de uma questão, que vai nortear a pesquisa.

Em suma, os problemas devem ser sempre reais, o perigo de escolher


temas antes da identificação do problema é de que o
estudante/pesquisador acaba inventando problemas onde não existem,
o que torna díficil a realização da pesquisa.

70
A revisão bibliográfica

Porém, a delimitação precisa do problema somente acontece quanto o


pesquisador possuir conhecimento sobre o tema relacionado com o
problema.

Neste caso, é pertinente a revisão bibliográfica, cujo objectivo é de


“aumentar o acervo de informações e de conhecimentos do
investigador com as contribuições teóricas já produzidas pela ciência,
para que, sustentando-se em alicerces de conhecimentos mais sólidos,
possa tratar o seu objecto de investigação mais seguro” (KÖCHE:
1997:131).

Pela revisão bibliográfica é possível compreender, à luz das teorias os


diferentes aspectos presentes no problema a ser investigados.

A revisão bibliográfica é feita a partir de fontes primárias e secundárias


é importante para a montagem do plano de pesquisa (projecto),
principalmente para a componenete do referencial teórica.

2. Definição dos objectivos de pesquisa

Um dos aspectos importante em uma investigação científica é a


definição de seus objectivos, ou seja, Por que se pretende investigar? O
que se espera obter? Os objetivos de uma pesquisa resumem o que se
deverá alcançar com o estudo.

Podemos distinguir numa pesquisa o objectivo geral e os objectivos


específicos.

O objectivo geral é o que orienta naquilo que se pretende alcançar em


níveis gerais. Normalmente, o objectivo geral é definido a partir da
pergunta ou questão norteadora.

Exemplo – A partir do problema delimitado na unidade anterior, relativo


à desistência das mulheres na escola, foi formulada a seguinte questão
norteadora:

Qual é o significado social construído em torno da presença ou ausência


da rapariga na escola no distrito de Marromeu?

Neste caso, o objectivo geral seria:

Analisar o significado social construído em torno da presença ou ausência


da rapariga na escolha no distrito de Marromeu.

Veja que nesse exemplo, apenas substituiu-se a conjunção “qual” com o


verbo no infinitivo “analisar”.
71
Os objectivos específicos de uma pesquisa abordam os diferentes
componentes do problema, os factores chaves que se assumam e que
possam causá-lo.

As principais características de objectivos específicos são:

i) Quantificação do problema (necessário); ii)

Cobertura os diferentes aspectos do problema; iii)

Realísticos, que tenham em conta as condições locais; iv)

Utilização de verbos de acção, que possam ser avaliados e

medidos.

Um exemplo de objectivos específicos relacionado com o objectivo


geral dado acima:

i) Identificar os índices de desistências escolar das raparigas no


distrito de Marromeu, por idade e classe;

ii) Verificar possíveis variações nos discursos sociais e culturais


que justificam a presenças e/ou ausências das raparigas nas
escolas no distrito de Marromeu;

iii) Identificar fatores sócio-economicos e culturais que influem na


presença e/ou ausência das raparigas na escola, no distrito de
Marromeu.

Podemos notar que os objectivos específicos são definidos a partir de


verbos de acção e que sejam mensuráveis, ou seja, é possível avaliar no
final da pesquisa se a acção foi ou não realizada.

9. - Formulação das hipóteses

Cooper e Schindler (2003) comentam que a hipótese é uma declaração


sobre conceitos que podem ser julgados como verdadeiros ou falsos
caso se refiram a fenômenos observáveis.

Para Marconi e Lakatos (2007), a hipótese deve ainda propor


explicações para certos fatos e, ao mesmo tempo, orientar a busca de
outras informações.

Vergara (1997), reconhecendo que uma pesquisa qualitativa não


requer, necessariamente, hipótese e nem suposição, admite que, na
prática, alguma intuição se tenha a respeito da resposta ao problema.

72
Huot (2002, p.53) define que a «hipótese de investigação é a resposta
temporária, provisória, que o investigador propõe perante uma
interrogação formulada a partir de um problema de investigação».

Para Vaz Freixo (2011, p.164 - 165), «as hipóteses constituem um


elemento útil para justificar o estudo e garantir-lhe uma orientação. (…)
As hipóteses devem ser formuladas no presente, sob forma de
declaração e descrevem a relação entre uma ou mais variáveis».

Para Sérgio Artur (2011), numa pesquisa a hipótese é construída pela


necessidade de desenvolver uma explicação para o problema. Uma
hipótese é a previsão duma relação entre um ou mais factores e o
problema em estudo, que pode ser testada.

Por exemplo, do problema acima, pode-se ser construída da seguinte


forma:

A presença da rapariga na escola (1), resulta de um processo de


intervenção educativa da escola que envolve a família (2).

ou

Se incrementarmos a o processo de intervenção educativa da escola com


o envolvimento dos pais (2) então a presença da rapariga será mais
efectiva (1).

Podemos, no exemplo acima que há uma relação entre causa (2) e efeito
(1), conectados pelas expressões “resulta” e “se... então”.

Podemos utilizar outras expressões para a construção das hipóteses:

a) É directamente proporcional;
b) Está inversamente relacionado;
c) Produz;
d) Se... Então...
e) Resulta;
f) Há relação significativa entre;
g) Etc.

Para a construção de hipóteses mais sólidas, é importante que o


pesquisador tenha uma boa base teórica e um conhecimento profundo
do tema a ser abordado.

73
10. Variáveis de estudo
Segundo Vaz Freixo (p. 174), «uma variável pode ser definida como
qualquer característica da realidade que pode tomar dois ou mais
valores mutuamente exclusivos. Refere-se ainda «a qualquer
característica que numa experiência é manipulada, medida ou
controlada». Para o mesmo autor, uma variável pode ser classificada de
diferente maneiras, conforme o tipo de utilização que dela se faz numa
investigação. Algumas podem ser manipuladas, outras controladas.

O autor enfatiza a necessidade de definição e operacionalização de


variáveis afirmando que «assim, uma variável é necessária depois de
formular uma hipótese; o investigador deve identificar e definir o
estatuto das variáveis, tanto na hipótese como em qualquer outro
ponto da investigação». O mesmo autor considera que «operacionalizar
as variáveis significa formula-las numa forma observável e mensurável,
convertendo-as em factores disponíveis para serem manipulados,
controlados e examinados». (Idem)

Segundo Sérgio Artur (2011), em alguma pesquisa há necessidade da


definição das variáveis. Uma variável “é uma característica de um
indivíduo, objecto ou fenómeno, que pode tomar diferentes valores”
(VARKEVISSER, 1988:92).

Por exemplo: idade, peso, distância (casa, hospital), salário, etc.

As variáveis, em primeiro nível, podem ser classificadas em:

a) Variáveis numéricas – que são características de indivíduos,


objectos ou fenômenos que são expressas em números. Por
exemplo: peso, salário, idade, altura, nota, etc.

b) Variáveis categóricas – que são características de indivíduos,


objectos ou fenómenos que são expressas em categorias. Por
exemplo: cor, resultado da doença, tipo de comida, localização
da escola, resultado final, etc.

Em, outro nível, podem ser classificadas em:

i. Variável dependente – que é usada para descrever ou medir o


problema a estudar.

74
ii. Variável independente – que é utilizada para descrever ou
medir os factores assumidos como causas ou que pelos menos
influenciam o problema.

Por exemplo, se um pesquisador investiga sobre a malnutrição entre


crianças:

Ser malnutrido – é variável dependente de estudo;

Hábitos alimentares, educação da mãe, etc – são variáveis independentes.

Há aquelas que são consideradas variáveis de base – que são as que


estão presentes em todos os estudos, independentemente da sua
natureza. Por exemplo: idade, sexo, estado civil, religião, situação
socioeconómica.

Numa investigação científica a definição das variáveis de estudo ajuda


na elaboração dos instrumentos de coleta de dados, pois as variávies
oferecem os indicadores de análise.

5. Os instrumentos e técnicas de colecta de dados

Sérgio Artur (2011) sistematiza as principais técnicas e instrumentos de


recolha de dados nas pesquisas científicas, a saber: a entrevista, a
observação e o questionário. Um aspecto importante a considerar é que
a escolha de cada um dos instrumentos ou técnicas depende o tipo e da
finalidade da investigação a ser realizada, das abordagens, das fontes
de informações, entre outros factores.

Seguidamente, vamos detalhar cada um dos instrumentos e técnicas vom


forma de explictá-los para uma melhor compreensão.

A. A observação
É um método de colecta de dados que se apropria da capacidade selectiva
da mente humana.

Lüdke e André (1986:25) consideram que para que se torne “um


instrumento válido e fidedigno de investigação científico, a observação
precisa ser antes de tudo controlada e sistemática”.

A planificação cuidadosa e rigorosa da observação é importante,


sabendo-se que normalmente, as pessoas vêem sob os olhos da sua
formação e das sua história de vida.

Assim, planificar a observação significa “determinar com


atencendência, ‘o quê’ e ‘como’ observar” (ibidem). Isso acontece com
delimitação do objecto de estudo, do problema e do foco da
investigação.

75
Cabe, também, nesse sentido, o observador definir o grau de sua
participação na observação designadamente: observação participante
(no qual o observador fica face a face com o pesquisado e tem
possibilidades de modificar as situações) ou não participante.

A planificação da obsrvação não envolve apenas a definição do objecto e


do foco da observação, mas também, o preparo material, físico,
intelectual e psciológico do observador/pesquisador.
A observação é um dos instrumentos da pesquisa qualitativa e ela
permite que o pesquisador chegue mais perto da “‘perspectiva dos
sujeitos’ [e] acompanhar as experiências diárias dos sujeitos, pode
aprender a sua visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem
à realidade que os cerca e às próprias ações” (LÜDKE & ANDRE:
1986:26).

Para Lüdke e André (1986) os principais conteúdos da observação são:

1. Descrição dos sujeitos – aspectos físicos, formas de vestir, falar,


sentar, escrever, etc.;
2. Reconstrução dos sujeitos – suas manifestações nos gestos,
depoimentos que devem ser registados, analisados e
interpretados;
3. Descriação de locais – ambientes físicos, localizações, forma de
organização dos espaços, todos os elementos devem ser
registados;
4. Descrição de eventos especiais – ocorrências e respectivos
sujeitos envolvidos;
5. Descrição de actividades – o registo do que foi realizado pelos
observados e o comportamento dos mesmos ao realizar as
actividades;
6. Comportamento do observador – o registo de atitudes,
sentimentos, acções e conversas durante a oservação.
Um elemento que carece de uma atenção especial é o registo das
observações. Hoje em dia, muitos meios tecnológicos permitem um
maior registo, como por exemplo, o registo através de filmagens,
gravações de audito, fotografias entre tantos outros, mas há que
destacar a importância da bloco ou caderno de anotações que deve
acompanhar todo um bom observador.

B. A entrevista
A essência da entrevista é a palavra e a interacção, pois ela tem como
principal alvo as comunicações verbais e não verbais. Ela é uma das
principais técnicas nas pesquisas em ciências humanas e sociais.

76
Para Lüdke e André (1986) a entrevista deve ser permeadas por um
clima de estimulação e de aceitação mútua, entre o pesquisador e o
pesquisado, que facilita a fluência das informações, podendo-se ser
captadas de forma imediata assuntos pessoais e de natureza íntima ou
temas complexos.

Antes o pesquisador ir a uma determinada entrevista necessita elaborar


o roteiro de perguntas, que podem orientar a sua investigação. Estes
roteiros permitem que as entrevistas sejam classificadas em:

a) Entrevista não estuturada ou não padronizada – neste caso o


instrumento é mais flexível. Apesar de envolver um roteiro
prévio, as questões podem ser ampliadas a medida em que o
entrevistado fala, ou deixar que ele fale em perguntas aberta e
amplas.

Essas entrevistas são mais longas, no entanto, o entrevistado


pode revelar informações importantes, sem necessidade de ser
questionado.

b) Entrevista estruturada ou padronizada – “quanto o pesquisador


tem que seguir muito de perto um roteiro de perguntas feitas a
todos os entrevistados de maneira idêntica e na mesma ordem”
(idem, p.34). Isso permite uma comparação dos dados e melhor
tratamento estatístico, pois os resultados são uniformes.

Em ambos casos é importante que o pesquisador: utilize uma


linguagem adequada, respeite o tempo e horários marcados para a
realização da entrevista, as informações colhidas, que não podem
ser distorcidas, a cultura e os valores do entrevistado. Nunca pode
o investigador forçar o entrevistado à uma resposta e deve ter
sempre em mão um roteiro.

O pesquisador deve decidir, também, sobre a forma para registar a


entrevista – gravação, anotações em blocos ou ambos – todavia,
toda a entrevista só pode ser gravada com a autorização expressa
do entrevistado.

Sugestões de planeamento

Quem deve ser entrevistado

Procure selecionar pessoas que realmente têm o conhecimento


necessário para satisfazer suas necessidades, ou seja, qual é a
população-alvo ou a amostra da pesquisa

Magibire (2007), recorrendo-se a outros autores analise este dois


conceitos. Define-se população-alvo (ou universo) como a coleção de
77
elementos ou objetos que possuem a informação procurada pelo
pesquisador e sobre os quais devem ser feitas inferências (MALHOTRA,
2001, p. 302; COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 150). A amostra é uma
parte do universo escolhida segundo algum critério de
representatividade (VERGARA, 2004, p. 50). Segundo esta autora, a
amostra pode ser probabilística ou não-probabilística.
A amostra probabilística é baseada em procedimentos estatísticos.
Nela, cada elemento da população tem uma chance fixa de ser incluído
na amostra, baseando-se no conceito de seleção aleatória. A amostra
não-probabilística não utiliza seleção aleatória. Ela é arbitrária,
subjetiva e, portanto, confia no julgamento pessoal do pesquisador
(MALHOTRA, 2001; COOPER; SCHINDLER, 2003). Selltiz et al. (1967, p.
584), comentam que se podem escolher cuidadosamente casos que
devem ser incluídos na amostra e, deste modo, desenvolver amostras
que são satisfatórias de acordo com as necessidades da pesquisa. Bauer
e Gaskell (2003, p. 41) consideram que uma amostra representa a
população se a distribuição de algum critério é idêntica tanto na
população como na amostra.

Figura: Definição da amostra (https://pt.surveymonkey.com)

Plano da entrevista e questões a serem perguntadas

Prepare com antecedência as perguntas a serem feitas ao


entrevistado e a ordem em que elas devem acontecer.

78
Pré-teste
Procure realizar uma entrevista com alguém que poderá fazer uma
crítica de sua postura antes de se encontrar com o entrevistado de
sua escolha.

Diante do entrevistado

- Estabeleça uma relação amistosa e não trave um debate de


idéias.

- Não demonstre insegurança ou admiração excessiva diante do


entrevistado para que isto não venha prejudicar a relação entre
entrevistador e entrevistado.

- Deixe que as questões surjam naturalmente, evitando que a


entrevista assuma um caráter de uma inquisição ou de um
interrogatório policial, ou ainda que a entrevista se torne um
"questionário oral".

- Seja objetivo, já que entrevistas muito longas podem se tornar


cansativas para o entrevistado.

- Procure encorajar o entrevistado para as respostas, evitando


que ele se sinta falando sozinho.

- Vá anotando as informações do entrevistado, sem deixar que


ele fique esperando sua próxima indagação, enquanto você escreve.

- Caso use um gravador, não deixe de pedir sua permissão para


tal. Lembramos que o uso do gravador pode inibir o entrevistado.

C. O questionário
O Questionário, numa pesquisa, é um instrumento ou programa de
coleta de dados. Se sua confecção é feita pelo pesquisador, seu
preenchimento é realizado pelo informante.

Vieira (2009:15) define o questionário como sendo o “instrumento de


pesquisa constituído por uma série de questões sobre determinado
tema”, que normalmente é entregue aos respondentes para o
preenchimento e as respostas transformadas em dados estatísticos.

Por ser um instrumento mais barato é deveras utilizado nas pesquisas


em ciências sociais, humanas e de saúde e podem produzir dados de
bom nível.

A linguagem utilizada no questionário deve ser simples e direta para


que o respondente compreenda com clareza o que está sendo
perguntado. Não é recomendado o uso de gírias, a não ser que se faça
79
necessário por necessidade de características de linguagem do grupo
(grupo de surfistas, por exemplo).

Todo questionário a ser enviado deve passar por uma etapa de préteste,
num universo reduzido, para que se possam corrigir eventuais erros de
formulação.

Conteúdo de um questionário:

a) Carta Explicação – que deve conter:

– A proposta da pesquisa;

– Instruções de preenchimento;

– Instruções para devolução; – Incentivo para o preenchimento e;

- Agradecimento.

b) Itens de Identificação do Respondente


Para que as respostas possam ter maior significação é
interessante não identificar diretamente o respondente com
perguntas do tipo NOME, ENDEREÇO, TELEFONE etc., a não ser
que haja extrema necessidade, como para selecionar alguns
questionários para uma posterior entrevista (trataremos das
técnicas de entrevistas posteriormente).

Normalmente, num questionário podem ser feitas perguntas


sobre factos, opiniões, atitudes, preferências, grau de
satisfação, valores, razões, motivos, esperanças, crenças, entre
tantas.

Exemplos de questões nos questionários:

Sobre factos: quantos professores trabalham na escola?

Sobre opinião: você acha que a passagem semi-automática


contribui para a fraca qualidade do ensino em Moçambique?

Sobre atitudes: você bateria uma criança indisciplinada na sala de


aula para se comportar melhor?

Sobre preferências: prefere trabalhar sozinho ou em grupo?

Sobre satisfação: em que medida está satisfeito com o


rendimento da sua disciplina?

80
Tipos de aplicação dos questionários

Para Vieira (2009) são três as principais formas de aplicação

dos questionários:

1) Questionários de autoaplicação – nas quais se entre o


questionário ao responde e este preenche e o envia depois.
O envio pode ser feito por correio, pela internet ou outras
formas. Tem algumas desvantagens: as respostas podem
demorar e muitas pessoas podem não responder o
questionário enviado. As principais vantagens do
questionário de autoaplicação são: a possibilidade do
respondente responder na hora e espaço que quiser e a não
influência do pesquisador na colecta da informação;
2) Questionários aplicados em entrevistas por telefone – muito
usados pelas empresas de marketing, de telefonia móvel e
fixa e nas pesquisas de marcado.
3) Questionários aplicados em entrevista face a face – estes são
feitos por meio de entrevista na qual o pesquisador
preenche o formulário com perguntas, geralmente,
estruturadas;
Na elaboração dos questionários há que planificar os objectivos e a
escolha dos respondentes e outros elementos importantes que
constam no projecto de pesquisa.

A criação dos itens formulário segue as regras abaixo.

Itens sobre as questões a serem pesquisadas.

Formulário de itens sim-não, certo-errado e verdadeiro-falso;

Ex.: Trabalha? ( ) Sim ( ) Não

Respostas livres, abertas ou curtas;

Ex.: Bairro onde mora: ______________________________


Formulário de múltipla escolha; Ex.: Renda Familiar:

( ) Menos de 1 salário mínimo

( ) 1 a 3 salários mínimos

( ) 4 a 6 salários mínimos

( ) 7 a 11 salários mínimos ( )

Mais de 11 salários mínimos

Questões mistas.

81
Ex.: Quem financia seus estudos?

( ) Pai ou mãe

( ) Outro parente

( ) Outra pessoa

( ) O próprio aluno

Outro: _____________________________________

D. Ficha documental
A ficha documental é um dos meios para a colecta de dados,
principalmente nas pesquisas qualitativas. Sobre este assunto pode
rever a unidade V deste módulo, relativa as Práticas de
documentação.

6 - Elaboração do projecto de pesquisa


Um bom pesquisador elabora um projecto de pesquisa apenas depois:
de ter identificado o problema e definido a questão norteadora,
associando-o a um tema e de ter aprofundado o conhecimento sobre o
problema a pesquisar a partir de uma revisão bibliográfica. Ou seja,
todos os aspectos vistos nas unidades anteriores fazem, directa ou
indirectamente, parte do processo de elaboração do projecto de
pesquisa.

Para Teixeira (2000), Köche (1997) e Severino (2007) um projecto de


pesquisa é um plano escrito onde aparecem explícitos os seguintes
itens:

1. Título – que expressa, com maior fidelidade possível, o conteúdo


tématico do estudo. Normalmente, nos projectos de pesquisa o
título é provisório e pode ser alterado no relatório final;

2. Tema de estudo – é a apresentação do tema e dos conceitos mais


gerais do que vai ser investigado.

3. Justificativa – é a explicitação das razões que levam a pesquisar o


tema, a motivação e a importância ou relevância do estudo, (por
que é investigado?). pode ser destacada a contribuição dos
resultados da pesquisa para a sociedade.

Na justificativa o pesquisador pode se referir aos estudo


anteriores já realizado sobre o tema, para assinalar suas
limitações e destacar a necessidade de novos estudos. Neste
82
momento é importante mostrar a revisão literária, quem já
pesquisou sobre o tema e a que conclusões chegou.

4. Situação Problema – é a descriação da situação que está a causar


interesse pela pesquisa, como por exemplo: uma ausência, uma
dificuldade, uma contradição (veja o exemplo da unidade
anterior);

5. Questão Norteadora – que se refere a principal pergunta que


deve ser respondida pela pesquisa.

Nos estudos de graduação é aconselhável que o pesquisador


identifique apenas uma questão, para dar melhor foco à
pesquisa;

6. Hipóteses – é a explicitação das possíveis respostas para


soluccionar o problema, já que todo o trabalho científico é um
raciocínio demonstrativo de alguma hipótese. Essas podem ser
divididas em:

6.1 – Hipóteses primárias – possíveis respostas mais plausíveis;

6.2 – Hipóstese secundárias – possíveis respostas mais distantes


na solução do probemas.

7. Objectivos – os resultados que precisam ser alcançados para a


construção de toda uma demonstração que podem ser expressos
em dois grupos:

7.1 – Objectivo geral – o que se pretende alcançar com a pesquisa


realizada (numa pesquisa cabe apenas um objectivo geral);

7.2 – Objectivos específicos – o que será feito ao longo do estudo


para responder as perguntas;

8. Quadro téorico – é a apresentação dos referênciais


teóricosmetodológicos, as categorias e os conceitos nas quais o
pesquisa irá se fundamentar. É importante caracterizar e definir
os aspectos referentes ao tema.

9. Metodologia (fontes, procedimentos e etapas) – é a definição dos


seguintes aspectos:

9.1 – Tipo de estudo – características e razões de escolha

9.2 – Local e contexto da realização da pesquisa

9.3 – Fontes de informação – definição da população e do


universo da pesquisa e das amostras para a colecta de dados.

83
9.4 – Técnicas de colecta e análise de dados – definir se na
pesquisa serão usado a entrevista, o questionário e/ou a
observação. Referir-se qual técnica será usada para quais
sujeito, as etapas de análise dos dados.

10. Aspectos éticos – é referencial como será garantido o anonimato


e o consentimentos dos informantes;

11. Cronograma – o pesquisador deve distribuir no tempo disponível


as actividades previstas pela pesquisa;

12. Orçamento – a difinição dos recursos financeiros necessários;

13. Referências bibliográficas – assinalar de acordo com as normas


técnicas aprendidas todas as fontes consultadas;

14. Apêndices – é todo o texto elaborado pelo pesquisador, tal como


o guião da entrevista, observação e o questionário.

15. Anexos – é todo documento não elaborado pelo autor da


pesquisa e que possa ilucidar o trabalho, tal como, mapas,
recortes de regulamentos e leis, etc.

É bom lembrar que este esquema de um projecto de pesquisa


pode variar, principalmente na sequência dos seus elementos,
conforme as normas de cada instituição de ensino, no entanto,
os elementos presentes são sempre comuns em todos os
proejctos de investigação.

Exercícios de auto - avaliação

1. A 1ª Etapa na fase de elaboração de pesquisa é:


a. Preparação e delimitação do problema
b. Construção do plano ou projecto de pesquisa
c. Execução do plano
d. Construção e apresentação do relatório

2. “é a apresentação do tema e dos conceitos mais gerais do que


vai ser investigado”. A definição acima se refere a:

a. Titulo
b. Tema de estudo;
c. Justificativa;
d. Metodologia de estudo.
84
3. Justifique a necessidade da preparação de um projecto de
4. Discuta o termo “projecto de pesquisa”.
Exercícios 5. Aponte as fases de elaboração de um projecto de pesquisa.
6. Indique os elementos de programação de uma pesquisa
7. Justifique a necessidade da justificativa.
8. Fale da necessidade dos objetivos numa pesquisa.
9. Indique os elementos necessarios para elaboração de uma
pesquisa.

TEMA IV: O INVESTIGADOR

Introdução da Unidade Temática IV

Caro estudante, na presente unidade temática iremos nos debruçar em


torno de dois (2) itens fundamentais sobre a investigação e pesquisa,
como são apresentados a seguir:
85
UNIDADE Temática 4.1. A escolha do método de pesquisa
UNIDADE Temática 4.2. A ética na pesquisa

Por isso, apelamos ao caro estudante, para que desenvolva uma postura
diferente na construção do conhecimento.

Seja bem vindo!

UNIDADE Temática 4.1. A Escolha do Método de Pesquisa

Introdução

Nesta unidade temática, pretendemos que você tenha um domínio sobre


os métodos de pesquisa.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

86
▪ Identificar os métodos de pesquisa
▪ Caracterizar os diferentes métodos de trabalho de pesquisa

Objectivos

A. Os métodos de pesquisa
Segundo Caravalho (2009), o jogo da ciência só é possível se o
investigador tiver uma ideia muito clara da ordem que espera da
realidade observada. Fora desse quadro de ordem, os factos não têm
significação. Os investigadores procuram os factos que são decisivos
para a confirmação ou negação das suas teorias. As teorias são
enunciadas acerca do comportamento dos objectos de interesse do
investigador.
Para o mesmo autor, a capacidade do investigador não é feita pelos
instrumentos que utiliza. Com efeito, os laboratórios não fazem o
cientista, as espingardas não fazem o caçador, as canas de pesca não
fazem pescadores, as algemas não fazem os detectives, etc. O que torna
os indivíduos cientistas, caçadores, pescadores e detectives é o
conhecimento que possuem das entidades que estudam (animal, peixe,
gente) e os métodos que utilizam para pô-los em prática.
O autor afirma que método refere-se à especificação dos passos que
devem ser dados, em certa ordem, para alcançar um determinado fim
Para o autor, há diferença entre método (a abordagem) e os
procedimentos operacionais (as técnicas) utilizados no
desenvolvimento da investigação. O método é o caminho e os passos
para se atingir um determinado objectivo. A técnica é a parte material
(os instrumentos) que fornece operacionalidade ao método. Assim, o
87
método caracteriza-se por uma abordagem mais ampla, em nível de
abstracção mais elevado dos fenómenos observados; as técnicas ou
procedimentos operacionais correspondem a operações com finalidade
mais restrita em termos explicativos e geralmente limitados a um
domínio partícula.

Neste contexto, e no entendimento deste autor, oi investigador pode


valer-se para a sua pesquisa de dois tipos de métodos, a saber: (1) Os
métodos de abordagem e (2) os métodos de procedimentos.

Sergio Artur, sistematiza esse dois grandes grupos de métodos:

1. Método de Abordagem

a) Dedutivo: Parte de teorias e leis mais gerais para a ocorrência de


fenômenos particulares.

b) Indutivo: O estudo ou abordagem dos fenômenos caminha para


planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais
particulares às leis e teorias mais gerais.

c) Hipotético-dedutivo: que se inicia pela percepção de uma lacuna nos


conhecimentos acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo
dedutivo, testa a ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese.

Esse processo pode ser mais bem compreendido a partir do esquema a


seguir abaixo apresentado:

88
Figura 1- Método científico hipotético-dedutivo

Conhecimento prévio Observação Factos,


(referencial teórico) (percepção significativa) fenômenos,
+ situações
Imaginação criativa

CONTEXTO
DE
PROBLEMA
(dúvida)
DESCOBERTA

HIPÓTESES

Testagem das hipóteses


(observação descritiva ou experimentação)
Intersubjectividade e falseabilidade

Interpretação e avaliação da testagem das hipóteses


CONTEXTO
DE
JUSTIFICAÇÃO
Rejeição das Não rejeição das
hipóteses
hipóteses
(corroboração)

Nova teoria

Novo problema

Fonte: Adaptado do Köche (1997:70), citado por Sérgio Artur (2011).

Köche (1997) mostra, a partir do esquema acima apresentado, que a


investigação científica começa a ser desenvolvida a partir da
necessidade de construção e testegem de possíveis soluções para um
problema que decorre de um fenómeno, facto, situação ou de algum
conhecimento teórico. O que se busca não são soluções elaboradas,
mas modelos hipotéticos capazes de explicar a realidade.

89
O método científico hipotético-dedutivo decorre em dois contextos que
se interligam:

O primeiro, é o contexto da descoberta, no qual à luz dos fenómenos e


do conhecimento disponível é identificado o problema (aquela dúvida
que não pode ser respondida com o conhecimento disponível) e a partir
da competência do investigador são formuladas as hipóteses, soluções
provisórias. É preciso enfatizar que quanto maior é o conhecimento
prévio (referencial teórico) do pesquisador, sua imaginação criativa e
capacidade de observar a realidade (factos, situações, fenómenos, etc.)
maior será a sua capacidade de identificar problemas e formular
hipóteses.

O segundo, é o contexto da justificação, no qual as hipóteses


formuladas são confrontadas e testados com dados empíricos, a partir
da experimentação e com objectividade. Neste processo verifica-se a
interpretação e avaliação das hipóteses, quanto confirmadas geram
novas teorias e posteriomente dão origem a novas dúvidas (problemas)
ou que podem ser rejeitadas.

Nessa perspectiva o método científico desenvolve-se sobre um contexto


cíclico, no qual novos conhecimentos (teorias) são susceptíveis de
questionamentos, ou seja, de gerarem novos problemas e
posteriomente, novas teorias. Isso porque a ciência contemporânea é
impregnada numa concepção de ser “uma investigação constante, em
contínua construção e reconstrução, tanto das suas teorias quanto dos
seus processos de investigação” (KÖCHE, 1997:78).

Do esquema 1 pode-se deduzir que os elementos do método científico


são: o problema, as hipóteses, o referencial teórico, testagem,
interpretação e avaliação das hipóteses (que podem ser confirmadas ou
rejeitadas) e os resultados (teorias).

d) Dialético: que penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação


recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética
que ocorre na natureza e na sociedade.

2. Método de procedimento

a) Histórico: Parte do princípio de que as atuais formas de vida e de agir


na vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, por
isso é importante pesquisar suas raízes para compreender sua natureza
e função.
b) Monográfico: Para Lakatos e Marconi (1996, p. 151) é “[...] um
estudo sobre um tema específico ou particular de suficiente valor
representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Investiga
90
determinado assunto não só em profundidade, mas em todos os seus
ângulos e aspectos, dependendo dos fins a que se destina”.
c) Comparativo: Consiste em investigar coisas ou fatos e explicá-los
segundo suas semelhanças e suas diferenças. Geralmente o método
comparativo aborda duas séries de natureza análoga tomadas de meios
sociais ou de outra área do saber, a fim de detectar o que é comum a
ambos.

Este método é de grande valia e sua aplicação se presta nas diversas


áreas das ciências, principalmente nas ciências sociais. Esta utilização
deve-se pela possibilidade que o estudo oferece de trabalhar com
grandes grupamentos humanos em universos populacionais diferentes
e até distanciados pelo espaço geográfico. (FACHIN, 2001, p.37).

d) Etnográfico: Estudo e descrição de um povo, sua língua, raça,


religião, cultura...

e) Estatístico: Método que implica em números, percentuais, análises


estatísticas, probabilidades. Quase sempre associado à pesquisa
quantitativa.

Para Fachin (2001, p. 46), este método se fundamenta nos conjuntos de


procedimentos apoiados na teoria da amostragem e, como tal, é
indispensável no estudo de certos aspectos da realidade social em que
se pretenda medir o grau de correlação entre dois ou mais fenômenos.
Para o emprego desse método, necessariamente o pesquisador deve ter
conhecimentos das noções básicas de estatística e saber como aplicá-
las.

1. Defina o termo “Método”!


Exercícios
2. Discuta o conceito método de pesquisa.
3. Indique os elementos a observar no método de pesquisa.
4. Quais os métodos de pesquisa por si estudados? Estabeleça a
diferença de cada um deles.
5. O que é o Método científico hipotético-dedutivo

UNIDADE Temática 4.2 Ética na Pesquisa

91
Introdução

Nesta unidade temática, pretendemos que você tenha um domínio


sobre os métodos de pesquisa.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

▪ Identificar os principais factores da ética na pesquisa


▪ Caracterizar os diferentes aspectos da ética na pesquisa

Objectivos

Ética e responsabilidade na pesquisa


Segundo Teixeira (2000) as directrizes básicas em pesquisa científica
foram estabelecidaas pela primeira vez em 1947, no Código de
Nuremberg, no qual ficou definido que seria indispensável o
consentimento do participaente de pesquisa clínica. Este código tinha
com principal finalidade controlar atrocidades cometidas pelo regime
nazista.

Em 1964, foi redigida a declaração de Helsinque pela Organização


Médica Mundial que estabelece os princípios orientadores da pesquisa
médica e em 1982 as Directrizes Internacionais para pesquisas
Biomédicas, que envolvem seres humanos.

A preocupação com as questões éticas surge quanto a ciência, ou os


seus pesquisadores, extrapolam os limites da dignidade humana,
principalmente nas experiências com seres humanos.

92
Um dos grandes princípios na pesquisa é o consentimento esclarecido
dos envolvidos, dos participantes. Tal deve ser feito com clareza e uma
linguagem acessível.

Normalmente, em todas as pesquisas no momento de colecta de dados


é importante ter em mãos uma carta de apresentação (credencial). Se
os informantes for menor, uma autorização expressa do encarregado
ou responsável.
É preciso ter em conta que o pesquisador ao lidar com a pessoa humana
deve preservar sempre a sua dignidade. Ademais, a ciência não é feita
apenas de certezas, mas também de erros, que quanto cometidos em
humanos podem deixar sequelas graves.

Hoje, o debate sobre a ética na pesquisa atinge também outros seres


animais.

Os principais aspectos éticos que devem fundamentar a realização das


pesquisas científicas são:

1. A legalidade: a observância das normas dos comités de ética da


área científica em referência;
2. O profissionalismo: manifestado na verdade racional e fidelidade
aos factos e na busca de conhecimentos sólidos;

3. A confidencialidade e privacidade: que consiste na não utilização


dos dados/resultados em prejuízo das comunidades e pessoas
pesquisadas;
4. A boa fé ou confiança: manifestada no consentimento livre e
esclarecido, na liberdade de participação das pessoas sem
represálias;
5. O respeito pela integridade das pessoas;
6. O retorno dos dados: assumindo-se o compromisso de que os
participantes sejam informados sobre os resultados da pesquisa;
7. O não plágio: em nenhum momento o pesquisador deve se
apropriar do trabalho intelectual de outrem com sendo seu.

Importancia da Ética na Cesquisa Científica

“Ciência sem consciência – a importância da ética na pesquisa


científica”.

O analista do Kings College Fellipe Gracio em seu artigo “Scientists can’t


claim to be neutral about their discoveries”publicado no “The
93
Conversation” nos brinda com uma reflexão de visceral importância
sobre a ética aplicada às pesquisas.

Nesse artigo ele questiona o quanto de isenção um cientista pode


alegar, quando por fim suas descobertas são mal aplicadas e podem
representar um perigo para a humanidade.

Essa sensação persegue a história humana, desde que inventos


magníficos como o navio, o automóvel e o avião, foram transformados
em máquinas de guerra.

Ou mesmo ante as brumas radioativas de Hiroshima e Nagasaki —


Oppenheimer — o pai da bomba atômica — num discurso emocionado
se autodenominar “a morte, o destruidor de mundos”.

Figura 1: "bomba_nuclear"

Isso apenas para citar alguns poucos exemplos.

À medida que a pesquisa científica afeta o mundo convém ficarmos de


sobreaviso. Isso por que a ciência é feita por pessoas. E todas as pessoas,
mesmo sendo cientistas, possuem interesses, intenções e ambições.
Para agravar esse quadro, a ciência é financiada por governos e por
empresas — cujas políticas podem nem sempre visar o bem comum –
entendendo essa expressão, em seu sentido mais amplo como sendo o
bem, em sua essência, estendido para toda a humanidade.

Fica cada vez mais claro que pesquisa científica atual, em seus passos
mais decisivos, está condicionada às regras de financiamento, às

94
expectativas sobre seus resultados e às forças sociais e de instituições
que moldam seus rumos.

Ora vejamos:

• Ninguém investe sem a expectativa de ganhar dinheiro com seu


investimento;
• Mesmo moralmente condenadas, a ambição e a ganância
continuam a ditar as regras do mercado também no século XXI.

Ou não?

Na década de 1950, quando Jonas Salk — um dos cientistas que


participou do desenvolvimento da vacina contra a poliomielite — foi
questionado sobre se ele patentearia a vacina. Ele respondeu com outra
pergunta:

— Você poderia patentear o sol?

Em outras palavras:

Pode um cientista propor ou aceitar a privatização de um


conhecimento que beneficiaria a todos?

Existem duas linhas de pensamento sobre essa questão:

O primeiro viés advém de empresas (e de governos) que comercializam


ciência e tecnologia e são detentores de muitas patentes. Seu principal
argumento pode ser assim resumido:

Como o investimento em programas de pesquisa científica é


extremamente oneroso, tanto para empresas quanto para nações é
natural oferecer garantia para os investidores de que ocorrerá o retorno
desses investimentos. E tais garantias passam invariavelmente pela
reserva de mercado e obviamente a privatização das descobertas,
protegidas por leis de propriedade intelectual.

O argumento contrário à privatização dos resultados aponta que a


restrição do uso de muitas descobertas atrapalha o aperfeiçoamento da
própria descoberta, além de reprimir a inovação e o desenvolvimento
de novos produtos.

Além de que, ao negar o benefício a outro ser humano se estaria


também praticando uma forma de desumanidade. Por exemplo,

A indústria farmacêutica Novartis tentou bloquear recentemente a


fabricação na Índia de um medicamento genérico aplicado na terapia do
câncer.
95
Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Ciências Econômicas, tem uma posição
radicalmente contra as leis de propriedade intelectual.

Ele enfatiza que essa prática visa apenas garantir lucros exorbitantes
para as desenvolvedoras, que por congelamento do desenvolvimento
científico, certifica-se de não haver concorrência.

Pela lei dos mercados é fácil observar o que se resulta de um monopólio,


seja em que área for. Ele dá o exemplo da Myriad Genetics, uma
empresa que alegou propriedade intelectual sobre genes humanos.
Este é um exemplo extremo, mas suas observações são amplamente
aplicáveis .

Ele explica que, neste caso:

Geneticistas têm argumentado que o registro de patentes sobre os


genes realmente tende a impedir o aperfeiçoamento de vários testes
genéticos (como prevenção de doenças genéticas, por exemplo), e de
modo geral, interferir com o avanço da própria ciência.

Todo o progresso científico é fundamento em conhecimento. Ao tornar-


se esse conhecimento menos disponível impede-se o progresso, ou na
melhor das hipóteses, torna-o menos imediato.

É fácil observar que o cientista está no centro deste processo e ele não
pode mais se furtar das questões éticas envolvidas em seu trabalho.

Não pode mais evadir-se das questões pertinentes sobre a natureza do


progresso científico, sobre as decisões de financiamento de suas
pesquisas, ou quais forças estão por trás dos ditos investidores e quais
são os interesses que servem.

Eu mesmo, não canso de repetir para meus alunos, que nossas decisões
sobre as nossas carreiras afetam não só nossas vidas, mas também a
dos que nos cercam.

Eu como cientista não posso alegar neutralidade em questões como


esta. Nenhum cientista pode.

E se Jonas Salk tivesse decidido trabalhar para uma empresa


farmacêutica e patenteasse a vacina contra a poliomielite? Quantas
pessoas morreriam, ou teriam sequelas por toda a vida?

Considere-se uma questão relevante para o futuro:

Se uma vacina contra a malária ou contra AIDS fosse desenvolvida,


deveria ser protegida por registro de patentes, de tal forma que os

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preços desse monopólio maximizassem sua receita, mas não seus
resultados na saúde pública?

De modo mais geral: os cientistas podem realmente justificar os


resultados previsíveis dos projetos em que estão envolvidos?

O que deve ser feito, então, para maximizar o benefício da ciência


visando o bem comum?

Para começar, podemos educar os cientistas e também fiscalizá-los.

E para isso é necessário que o cidadão busque inteirar-se do que vem a


ser ciência e de qual é o real trabalho do cientista.

É preciso que cada um busque entender as decisões tomadas tanto


pelos cientistas quanto pelas instituições de pesquisa e querer fazer
parte delas.

É legítimo e necessário pedir aos cientistas e aos acadêmicos, e também


às instituições, que justifiquem o uso que dão aos fundos de
investimentos em pesquisa;

É justo fiscalizar as ações privadas e públicas nos programas sociais, e


debater as prioridades políticas na esfera pública.

E também submeter as decisões sobre a investigação científica e suas


metas de trabalho ao escrutínio da sociedade.

A ciência é uma força incrivelmente poderosa que consome uma grande


quantidade de recursos, por isso precisamos ter certeza de que está
sendo orientada numa boa direção e para tal é necessário que cada
cidadão procure cumprir com o seu papel.

1. Aponte dois motivos pelos quais a necessidade da introdução da ética


na pesquisa.
Exercícios 2. Indique um facto real da ignorância total da ética na pesquisa.
3. realização das pesquisas científicas.
4. Discuta o termo “intergridade académica”.
5. Fale da importância da ética na investigação cientifica.
6. Que aspectos éticos são importantes a observar na realização da
pesquia?

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Bibliografia

Bibliografia Recomendada

• Gil, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed.


São Paulo: Atlas, 2008.
• GERHARDT, Tatiana Engel & SILVEIRA, Denise Tolfo, Denise Tolfo.
Métodos de pesquisa. 1ª ed. Editora da UFRGS, 2009.
• FONSECA, João José Saraiva. Metodologia da Pesquisa Científica.
Universidade Estadual do Ceará, Maio de 2002.
• MARCONI, Marina de Andrade & LAKATOS, Eva Maria.
Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. - São Paulo: Atlas,
2003.
• PRODANOV, Cleber Cristiano & FREITAS, Ernani Cesar de.
Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da
pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. – Novo Hamburgo: Rio
Grande do Sul - Brasil, 2013.
• SILVA, Edna Lúcia da & MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da
pesquisa e elaboração de dissertação. 3. ed. rev. atual.
Florianópolis, 2001.

Bibliografia Complementar

• ARTUR, Sérgio Daniel. Metodologia de Investigação Científica.


UCM, 2011.
• CARVALHO, J. Eduardo. Metodologia do Trabalho Científico:
SaberFazer da investigação para dissertações e teses. Editora
Escolar, 2009.
• FREIXO, Manuel João Vaz. Metodologia Cientifica: Fundamentos,
Métodos e Técnicas., 3ª. Ed. Institup Piaget: Lisboa, 2011.
• MAGIBIRE, Zacarias Mendes. O Processo de Migração da
Universidade Pedagógica de Moçambique para as Tecnologias
de Informação: Um estudo de caso (Dissertação de Mestrado).
Unimep: São Paulo, 2007.
• MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria, Técnicas de
• Pesquisa, 6ª. Ed. Atlas: São Paulo, 2007.
• MATTAR, João. Metodologia de Científica, na era da Informática.
9ª. Ed. Saraiva: São Paulo, 2008
• MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. 4ª ed,
Instituto Piaget: Lisboa, 2005.
• SERRANO, António; FIALHO, Cândido. Gestão do Conhecimento:
O novo paradigma das organizações, 3ª ed. FCA: Lisboa, 2005.

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• http://pt.wikiversity.org. Introdução à Metodologia
Científica/Formas de conhecimento. (acessado em Setembro de
2014)

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