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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 29

05/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
RECDO.(A/S) : HEITOR MARQUES FILHO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS -
IBCCRIM
ADV.(A/S) : PIERPAOLO CRUZ BOTTINI

INDULTO – MEDIDA DE SEGURANÇA – TEMPO –


CONSIDERAÇÃO. Sendo a medida de segurança sanção penal, o período
de cumprimento repercute no tempo exigido para o indulto.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal em desprover o recurso extraordinário,
fixando tese nos seguintes termos: “Reveste-se de legitimidade jurídica a
concessão, pelo Presidente da República, do benefício constitucional do
indulto (CF, art. 84, XII), que traduz expressão do poder de graça do
Estado, mesmo se se tratar de indulgência destinada a favorecer pessoa
que, em razão de sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre
medida de segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo.”, nos
termos do voto do relator e por unanimidade, em sessão presidida pelo
Ministro Ricardo Lewandowski, na conformidade da ata do julgamento e
das respectivas notas taquigráficas.

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RE 628658 / RS

Brasília, 5 de novembro de 2015.

MINISTRO MARCO AURÉLIO – RELATOR

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Relatório

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
RECDO.(A/S) : HEITOR MARQUES FILHO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS -
IBCCRIM
ADV.(A/S) : PIERPAOLO CRUZ BOTTINI

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – O


assessor Dr. Marcos Paulo Dutra Santos prestou as seguintes informações:

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no


julgamento do Agravo em Execução nº 70033455783/2009,
assentou a legitimidade da extensão de indulto aos internados
em virtude do cumprimento de medida de segurança, nos
termos do artigo 1º, inciso VIII, do Decreto natalino nº 6.706/98.
Consignou não haver restrição constitucional à concessão de
indulto pelo Presidente da República aos submetidos à referida
medida, já que esta é espécie de sanção penal e, por
conseguinte, fica sujeita ao limite temporal versado no artigo 75
do Código Penal.

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Relatório

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RE 628658 / RS

No extraordinário, interposto com fundamento na alínea


“a” do permissivo constitucional, o Ministério Público do
Estado do Rio Grande do Sul argui a transgressão do artigo 84,
inciso XII, da Carta Federal. Afirma exorbitar dos poderes
atribuídos ao Presidente da República pelo Diploma Maior a
concessão de indulto ou comutação à pessoa submetida a
medida de segurança, haja vista possuir esta natureza jurídica
diversa da pena restritiva de liberdade. Segundo diz, enquanto
a pena tem caráter retributivo-preventivo, lastreada na
culpabilidade, as medidas de segurança baseiam-se na
prevenção, com fundamento primordial na periculosidade do
agente, em função da patologia por ele portada.
Salienta ser o indulto ato administrativo discricionário,
incompatível com a aludida medida, porquanto esta ampara-se
“na existência de patologia que torna o agente perigoso ao
convívio social, cuja aferição somente se viabiliza por meio de
análise técnica” (folha 72), descabendo, no caso, mera
deliberação administrativa.
Quanto à repercussão geral, diz da importância da
questão por repercutir nos processos de execução penal que
versam sobre medida de segurança, envolvendo o alcance a ser
dado a uma norma constitucional, qual seja, inciso XII do artigo
84 da Carta Maior.
O recorrido, nas contrarrazões, defende a
constitucionalidade da concessão de indulto no tocante a
qualquer tipo de sanção restritiva da liberdade (folha 76 a 80).
O extraordinário foi admitido na origem (folhas 81 e 82 –
anverso e verso).
Em 3 de março de 2011, o Tribunal, por meio do chamado
“Plenário Virtual”, assentou a repercussão geral da matéria
acerca da legitimidade da extensão do indulto aos internados
em razão do cumprimento de medida de segurança, nos termos
do artigo 1º, inciso VIII, do Decreto natalino nº 6.706/98 (folha
92). O acórdão foi publicado no Diário de Justiça de 8 de abril
de 2011.
Vossa Excelência admitiu a União como terceira,

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RE 628658 / RS

porquanto em discussão Decreto do Presidente da República


relativo a indulto (folhas 119 e 120), a qual se manifesta pela
constitucionalidade do ato impugnado (folha 98 a 116).
O Ministério Público Federal opina pelo desprovimento
do recurso (folha 134 a 142).
Vossa Excelência indeferiu a participação do Estado de
Goiás como interessado, porque se debate, no caso, indulto ou
comutação e o campo próprio à atividade é o reservado à União
(folha 144 e 145), mas acolheu o pedido de habilitação do
Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM como
terceiro, ante o objetivo da Instituição de defender os princípios
e garantias constitucionais no campo do direito criminal (folha
204 a 206).

É o relatório.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Na


interposição deste extraordinário, atendeu-se aos pressupostos de
recorribilidade. A peça, subscrita pelo Ministério Público do Estado do
Rio Grande do Sul, foi protocolada no prazo legal. Conheço.
A competência privativa do Presidente da República prevista no
artigo 84, inciso XII, da Carta Federal abrange a medida de segurança,
porquanto espécie de sanção penal, inexistindo restrição à concessão de
indulto. Embora não seja pena em sentido estrito, é medida de natureza
penal, ajustando-se ao mencionado preceito, que há de ser interpretado
ontologicamente, e não literalmente, conforme busca o recorrente.
No Habeas Corpus nº 84.219/SP, de minha relatoria, julgado, em 16 de
agosto de 2005, pela Primeira Turma, com acórdão publicado no Diário
da Justiça de 23 de setembro de 2005, o Colegiado limitou a medida de
segurança ao período máximo de trinta anos, via interpretação
sistemática e teleológica dos artigos 75 e 97 do Código Penal e 183 da Lei
de Execuções Penais. Reconheceu, dessa forma, a feição penal da medida
de segurança, haja vista implicar restrição coercitiva da liberdade.
Em reforço ao entendimento de a medida de segurança possuir a
natureza de sanção penal, cito o artigo 171 da Lei de Execuções Penais,
que condiciona a execução da sentença ao trânsito em julgado, e o artigo
397, inciso II, do Código de Processo Penal, a proibir a absolvição sumária
imprópria, em observância ao princípio da não culpabilidade, versado no
inciso LVII do artigo 5º da Carta Maior.
O Presidente da República, ao implementar indulto no tocante a
internados em cumprimento de medida de segurança, nos moldes do
artigo 1º, inciso VIII, do Decreto natalino nº 6.706/98, não extrapolou o
permissivo constitucional.
Saliente-se que a Primeira Turma já apreciou o tema no Agravo

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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RE 628658 / RS

Regimental no Recurso Extraordinário nº 612.862, igualmente interposto


pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, da relatoria da ministra
Cármen Lúcia, julgado em 1º de fevereiro de 2011, com acórdão
publicado no Diário da Justiça eletrônico de 18 de fevereiro do mesmo
ano. Na oportunidade, consignou, em votação unânime, a possibilidade
de concessão de indulto aos submetidos a medida de segurança,
assentando a constitucionalidade do Decreto. A Segunda Turma, à
unanimidade, também assim se pronunciou no Habeas Corpus nº
97.621/RS, relator ministro Cezar Peluso, julgado em 2 de junho de 2009,
com acórdão publicado no Diário da Justiça de 26 de junho subsequente.
Por tudo isso, nego provimento ao recurso extraordinário, ficando
assentada a seguinte tese:

Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo


Presidente da República, do benefício constitucional do indulto
– artigo 84, inciso XII, da Carta de 1988 –, que traduz expressão
do poder de graça do Estado, mesmo em se tratando de
indulgência destinada a favorecer pessoa que, em razão de
inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre medida de
segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo.

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Antecipação ao Voto

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

ANTECIPAÇÃO AO VOTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Senhor Presidente,


eminente Relator, eminentes pares, tenho a honra de acompanhar
integralmente o voto de Sua Excelência o Ministro-Relator, o Ministro
Marco Aurélio.
Também a conclusão que apresento no voto, que me permito juntar
ao feito, e subscrever integralmente as premissas e a conclusão.
Também entendo que o indulto, ao lado da anistia e da graça, são
expressões do princípio da indulgência, e, em nosso sistema, causa
extintiva da punibilidade. E a punibilidade, portanto, atinge penas e
medidas de segurança. E as medidas de segurança se apresentam,
portanto, com essa natureza punitiva.
Por essa razão, considerando esse caráter, também me associo ao
desprovimento do recurso, acompanhando o eminente Relator.

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN: Senhor Presidente, a questão


cinge-se a perquirir se a competência do Presidente da República para
conceder indulto, tal como prevista no artigo 84, XII da Constituição da
República, alcança as medidas de segurança.

O texto constitucional assim dispõe:

“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da


República:
(…)
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se
necessário, dos órgãos instituídos em lei;”

De início, calha enfatizar que o Supremo Tribunal Federal firmou o


entendimento no sentido de que, embora calcada precipuamente na
perigosidade do agente (ao invés da retribuição decorrente da
culpabilidade, que atua como fator de legitimação da pena), o instituto
da medida de segurança tem natureza punitiva.

Ademais, as penas “são em vários aspectos semelhantes às medidas de


segurança, senão pela totalidade de seus fundamentos e finalidades, pelos traços
de uniformidade de seus regimes jurídicos, forma de persecução e efeitos práticos,
que sempre resultam em especial prejuízo necessariamente aflitivo para o agente,
e o prejuízo – conforme lição de Mueller – é penalidade”. (Trecho do voto
proferido pelo Min. Sepúlveda Pertence no HC 84219, Primeira Turma,
julgado em 16/08/2005)

Por essa razão, esta Corte concluiu que às medidas de seguranças


devem ser aplicados, por exemplo, o instituto da prescrição e o tempo
máximo de duração de internação de 30 (trinta) anos, esse último

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 628658 / RS

decorrente da vedação constitucional às sanções perpétuas. Destarte,


embora, textualmente, a Constituição refira-se a penas de caráter
perpétuo, este Tribunal já interpretou que o vocábulo pode identificar as
sanções penais como um todo. Nesse sentido:

“MEDIDA DE SEGURANÇA - PROJEÇÃO NO TEMPO -


LIMITE. A interpretação sistemática e teleológica dos artigos 75,
97 e 183, os dois primeiros do Código Penal e o último da Lei de
Execuções Penais, deve fazer-se considerada a garantia
constitucional abolidora das prisões perpétuas. A medida de
segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos”
(HC 84.219, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJ
23.9.2005 – grifei).

“AÇÃO PENAL. Réu inimputável. Imposição de medida


de segurança. Prazo indeterminado. Cumprimento que dura há
vinte e sete anos. Prescrição. Não ocorrência. Precedente. Caso,
porém, de desinternação progressiva. Melhora do quadro
psiquiátrico do paciente. HC concedido, em parte, para esse
fim, com observação sobre indulto. 1. A prescrição de medida
de segurança deve calculada pelo máximo da pena cominada
ao delito atribuído ao paciente, interrompendo-se-lhe o prazo
com o início do seu cumprimento. 2. A medida de segurança
deve perdurar enquanto não haja cessado a periculosidade do
agente, limitada, contudo, ao período máximo de trinta anos. 3.
A melhora do quadro psiquiátrico do paciente autoriza o juízo
de execução a determinar procedimento de desinternação
progressiva, em regime de semi-internação” (HC 97.621, Rel.
Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, Dje 26.6.2009 – grifei).

Ou seja, a Corte tem reconhecido que a extinção da punibilidade,


nas hipóteses de medida de segurança, não se subordina à necessária
cessação da periculosidade do agente, de modo que o mero risco
decorrente do agir do inimputável não constitui argumento idôneo a
obstaculizar que a matéria submeta-se a indulto.

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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RE 628658 / RS

Ademais, por força do sistema vicariante, a medida de segurança


substitui a pena e, nessa qualidade, não deve configurar situação
processual mais gravosa que a reprimenda primária, pois não há
fundamento jurídico que justifique tal incremento.

Tal cenário, ao evidenciar o alto grau de similitude dos institutos,


admite, ao meu sentir, que pena e medida de segurança recebam o
mesmo tratamento constitucional.

Essa inferência também encontra guarida no plano da legalidade.


Com efeito, é cediço que o indulto constitui, ao lado da anistia e da graça,
manifestação formal da indulgentia principis e atua, em nosso sistema,
como causa extintiva da punibilidade (CP, art. 107, II). A punibilidade,
por sua vez, atinge penas e medidas de segurança, a teor do descrito no
96 do Código Penal, que revela de forma indubitável a compatibilidade
entre os institutos em apreço:

“Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe


medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta.”

Na mesma linha são os precedentes da Corte: HC 97.621, Rel. Min.


Cezar Peluso, Segunda Turma, Dje 26.6.2009; RE 611.992/RS e RE
613.127/RS, Rel. Min. Dias Toffoli; RE 630.208/RS, RE 628.151/RS e RE
628.217/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, RE 612862 AgR, Rel. Min. Cármen
Lúcia, este assim ementado:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. PENAL. POSSIBILIDADE DE
CONCESSÃO DE INDULTO AOS SUBMETIDOS À MEDIDA
DE SEGURANÇA. DECRETO N. 6.706/08. PRECEDENTES.
AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO.”

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 29

RE 628658 / RS

Diante do exposto, considerando o caráter punitivo da medida de


segurança, reconheço a competência do Presidente da República para,
nessas condições, conceder indulto, de modo que voto pelo
desprovimento do recurso.

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Voto - MIN. TEORI ZAVASCKI

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO TEORI ZAVASCKI - Também estou de


acordo, Senhor Presidente.
Eu me reporto às razões de voto em situação semelhante, proferido
na Segunda Turma, no HC 123.827.
Acompanho o Relator.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER - Senhor Presidente, da


mesma forma, acompanho o eminente Relator, subscrevendo os
fundamentos do acórdão recorrido da 4ª Câmara Criminal de Porto
Alegre, da lavra do Desembargador Marcelo Bandeira Pereira.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, eu também


acompanho o voto do eminente Relator. No primeiro momento, porque a
competência é absolutamente inequívoca entre esse vício formal, da
inconstitucionalidade formal, ele inexiste.
Agora, a situação denota uma certa questão paradoxal, porque a
medida de segurança visa a evitar exatamente que uma pessoa perigosa
possa integrar o meio social, e isso precisa ser avaliado. Então, fazer essa
correspondência de que, em razão da pena privativa de liberdade,
concede-se o indulto e a fortiori concede-se também, o indulto, a medida
de segurança, eu acho que não é uma correspondência tão exata assim.
Mas a própria lei estabelece períodos de avaliação dessa periculosidade.
O Supremo já estabeleceu o prazo máximo de 30 anos e, na pior das
hipóteses, o indultado, se não estiver em boas condições, o Ministério
Público vai requerer a sua interdição, há previsão legal para isso.
Então, aqui, a lei, no final, ela preenche aquela cláusula da
razoabilidade, que é o substancial princípio do devido processo legal
substantivo, quando ela diz que ele tem o direito ao indulto, se cumprir
esse período, mantido o direito de assistência, nos termos do art. 196 da
Constituição. Então, ele é indultado, mas se ele precisar de apoio do
Estado em qualquer área que ele seja deficitário, o Estado prestará. De
sorte que a lei é formalmente e materialmente constitucional.
Acompanho o Relator.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 29

04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Presidente, também


acompanho o Relator na esteira do que já venho votando, como, por
exemplo, no Recurso Extraordinário nº 603.149, que é de 2010, exatamente
sobre a mesma matéria e no mesmo sentido.

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Voto - MIN. CELSO DE MELLO

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Acompanho,


integralmente, o substancioso voto do eminente Ministro Relator. Em
consequência, também nego provimento ao recurso extraordinário
interposto pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul.

Tenho para mim, Senhor Presidente, que se reveste de legitimidade


jurídica a concessão, pelo Presidente da República, do benefício
constitucional do indulto (CF, art. 84, XII), que traduz expressão do poder
de graça do Estado, mesmo em se tratando de indulgência destinada a
favorecer pessoa que, em razão de inimputabilidade ou semi-imputabilidade,
sofre medida de segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo.

É o meu voto.

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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04/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Eu entendo, data venia, que a medida de segurança
configura uma espécie de sanção penal imposta pelo Estado, pois
representa indiscutivelmente uma restrição à liberdade do cidadão. Por
essa razão, no tocante às medidas de segurança, penso que devem ser
observadas as mesmas garantias e princípios constitucionais que balizam
a aplicação da pena.
Eu louvo o objetivo voto do Ministro Marco Aurélio, ao qual adiro
integralmente para também negar provimento ao recurso extraordinário.

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Supremo Tribunal Federal
Debate

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

DEBATE

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Ministro Marco Aurélio, Vossa Excelência, então,
elaboraria a tese?

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – É difícil


lançar, porque diz respeito a decreto específico, no que previsto o
cômputo do tempo.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Peço licença, Senhor


Presidente e Senhor Relator, para propor a seguinte fórmula
consubstanciadora da tese hoje consagrada neste julgamento: Reveste-se de
legitimidade jurídica a concessão, pelo Presidente da República, do
benefício constitucional do indulto – artigo 84, inciso XII, da Carta de
1988 –, que traduz expressão do poder de graça do Estado, mesmo em se
tratando de indulgência destinada a favorecer pessoa que, em razão de
inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre medida de segurança,
ainda que de caráter pessoal e detentivo.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Adiro à


redação da tese pelo Ministro Decano.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - O Ministro Decano ficará incumbido de formular essa
tese com maior detalhe.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Pois não.

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 04/11/2015

Inteiro Teor do Acórdão - Página 20 de 29

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658


PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
RECDO.(A/S) : HEITOR MARQUES FILHO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS - IBCCRIM
ADV.(A/S) : PIERPAOLO CRUZ BOTTINI

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do


Relator, apreciando o tema 371 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso. Ausente, justificadamente, o Ministro
Roberto Barroso. Falou, pelo recorrido Heitor Marques Filho, o Dr.
Rafael Raphaelli, Defensor Público. Presidiu o julgamento o
Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 04.11.2015.

Presidência do Senhor Ministro Ricardo Lewandowski. Presentes


à sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio,
Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber,
Teori Zavascki e Edson Fachin.

Vice-Procuradora-Geral da República, Dra. Ela Wiecko Volkmer


de Castilho.

p/ Fabiane Pereira de Oliveira Duarte


Assessora-Chefe do Plenário

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Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 21 de 29

05/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
RECDO.(A/S) : HEITOR MARQUES FILHO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS -
IBCCRIM
ADV.(A/S) : PIERPAOLO CRUZ BOTTINI

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) –


Presidente, como Relator, ressalto apenas um aspecto, trocando ideias
com o ministro Celso de Mello.
Julgamos questão única: saber se o período alusivo à medida de
segurança é computável ou não para efeito de indulto. A resposta do
Plenário foi positiva. Então, a meu ver, devemos ficar nessa tese, que foi
realmente discutida e relatada por mim na Sessão anterior.
Vejo que a proposta do ministro Celso de Mello aborda temas que
não chegaram a ser examinados. Exemplo: a exclusão, quanto ao indulto,
do que previsto no inciso XLIII do artigo 5º da Constituição Federal –
crimes que não podem desaguar em graça ou indulto. Também aborda a
questão da desinternação progressiva, que não esteve em debate, e, por
último, a situação de grave dependência institucional, decorrente do
quadro clínico, do próprio beneficiário do indulto.
Então, creio, como Relator, e é a proposta que faço – e tinha
outorgado “procuração” com poderes em geral ao ministro Celso de
Mello para trazer uma proposta de tese –, que fiquemos no tema que foi

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Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 22 de 29

RE 628658 / RS

alvo de deslinde pelo Tribunal. Assento simplesmente: o tempo referente


à medida de segurança é computável para efeito de indulto. Deixo de
entrar em questões outras que não foram objeto de debate e de decisão
pelo Tribunal.

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Debate

Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 29

05/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

DEBATE

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, talvez


ontem não tenha sido feita esta indagação: esse paciente submeteu-se à
medida de segurança por alguma causa referente à inimputabilidade ou à
periculosidade em stricto sensu?

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Penso que o Ministro


MARCO AURÉLIO, como Relator da causa, terá melhores condições de
responder à indagação de Vossa Excelência.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - E essa pergunta está


intimamente ligada à proposta de Vossa Excelência, porque, se nós
estabelecermos pura e simplesmente que é possível a concessão de
indulto ao imputado, submetido à medida de segurança, evidentemente
que isso é de uma largueza tal que, se ele for inimputável e ainda
apresentar algum sintoma de doença mental, é deferível o indulto e
coloca-se na rua uma pessoa que é inadequada ao convívio.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) –


Presidente, como Relator, presto um esclarecimento: a única controvérsia
que chegou ao Tribunal – mediante recurso do Ministério Público – foi a
alusiva ao cômputo ou não do período da medida de segurança para
efeito de indulto. A devolutividade ocorreu nesses termos. Estamos em
sede extraordinária. Não podemos extravasar os limites do que colocado
como causa de pedir no próprio recurso. O processo não é objetivo, mas
subjetivo.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: O E. Tribunal de


Justiça do Estado do Rio Grande do Sul entendeu inexistir

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Debate

Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 29

RE 628658 / RS

incompatibilidade entre o decreto presidencial concessivo do indulto e a


situação do beneficiário eventualmente sujeito a medida de segurança
pessoal e detentiva.

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Proposta

Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 29

05/11/2015 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658 RIO GRANDE DO SUL

PROPOSTA

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Talvez, eminente Ministro-Decano e Ministro-Relator,
nós pudéssemos aproveitar esse esforço feito pelo Decano, em boa hora,
e, aproveitando o que Sua Excelência nos propõe, dizermos assim:
reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo Presidente da
República, do benefício constitucional do indulto (Constituição Federal,
art. 84, XII), que traduz expressão do poder de graça do Estado, mesmo se
se tratar de indulgência destinada a favorecer pessoa que, em razão de
sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre medida de
segurança. E, eventualmente, trocarmos esse ponto por uma vírgula,
dizendo: ressalvadas as restrições - ou vedações - constitucionais e legais,
porque, na verdade, é o que Vossa Excelência propõe, só que de forma
um pouco mais elaborada.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Não


posso presumir o excepcional: que o Presidente da República viria a
implementar indulto afastando, do cenário normativo, o que se contém
na Carta quanto à impossibilidade. Por isso, fico com a primeira parte.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Da proposta.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – A minha,


talvez, tenha primado por um poder de síntese, quem sabe excessivo,
porque estou muito preocupado, Presidente, com o tempo das Sessões.
Por isso, às vezes, procuro resumir, não lendo o relatório, o voto, fazendo
resumo.
Agora, quanto à primeira parte que Vossa Excelência acaba de ler,

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Supremo Tribunal Federal
Proposta

Inteiro Teor do Acórdão - Página 26 de 29

RE 628658 / RS

adiro à proposta.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Está bem.
Então, talvez, deixaríamos fora essa ressalva, que, creio, o Ministro-
Decano a colocou por razões pedagógicas, para evitar qualquer
controvérsia futura. Se nós, então, puséssemos um ponto depois da
"medida de segurança", eu acho que atenderia aos objetivos tanto do
Relator e, creio que, do Plenário de um modo geral.

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Senhor Presidente,


estou de acordo com a proposição de Vossa Excelência. Acredito que,
colocando-se um ponto após "medida de segurança", contempla-se todas
as preocupações que aqui foram manifestadas, e é coerente com o
julgamento de ontem.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Sim.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Para


encerrarmos, Presidente, adiro.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Acho importante


fazer-se referência aos semi-imputáveis eventualmente sujeitos a medida de
segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo (CP, art. 98).

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Vossa Excelência, Presidente,


entende que essa redação protege essas pessoas que ainda podem
padecer de alguma enfermidade e sejam colocadas na rua, sem ter onde
morar, sem ter qualquer estabelecimento?

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Não constará


qualquer menção à denominada alta programada, de resto prevista na
Lei da Reforma Psiquiátrica.

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Proposta

Inteiro Teor do Acórdão - Página 27 de 29

RE 628658 / RS

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Decidirá


caso a caso, acreditando no bom senso do julgador.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Eu creio que ninguém tem nada contra que nós
avancemos um pouco para além de "medida de segurança" e incluamos
exatamente "ainda que de caráter pessoal e detentivo". Todos de acordo?

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - De acordo, o próprio Relator


aderiu.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Na verdade, Ministro Marco Aurélio, o que Vossa
Excelência propôs, a meu ver, está contido nesta sugestão do eminente
Decano que, enfim, elaborou um pouco mais sobre o tema, mas as duas
propostas, a meu ver, coincidem.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Como um bom


Decano, Sua Excelência é professoral!

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Como ficará, Senhor


Presidente, a redação do enunciado consubstanciador da tese ora em
exame por este E. Plenário?

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI


(PRESIDENTE) - Eu vou, então, dizer como ficou:
Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo Presidente da
República, do benefício constitucional do indulto (Constituição Federal,
artigo 84, XII), que traduz expressão do poder de graça do Estado, mesmo
se se tratar de indulgência destinada a favorecer pessoa que, em razão de
sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre medida de
segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo.
Todos de acordo? Então, é essa a tese.

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 05/11/2015

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 628.658


PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
RECDO.(A/S) : HEITOR MARQUES FILHO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
INTDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO GERAL DA UNIÃO
INTDO.(A/S) : INSTITUTO BRASILEIRO DE CIENCIAS CRIMINAIS - IBCCRIM
ADV.(A/S) : PIERPAOLO CRUZ BOTTINI

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do


Relator, apreciando o tema 371 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso. Ausente, justificadamente, o Ministro
Roberto Barroso. Falou, pelo recorrido Heitor Marques Filho, o Dr.
Rafael Raphaelli, Defensor Público. Presidiu o julgamento o
Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 04.11.2015.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, fixou tese nos seguintes


termos: “Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo
Presidente da República, do benefício constitucional do indulto
(CF, art. 84, XII), que traduz expressão do poder de graça do
Estado, mesmo se se tratar de indulgência destinada a favorecer
pessoa que, em razão de sua inimputabilidade ou semi-
imputabilidade, sofre medida de segurança, ainda que de caráter
pessoal e detentivo”. Ausentes, justificadamente, a Ministra
Cármen Lúcia, participando como palestrante do XVI Encuentro de
Magistradas de los más Altos Órganos de Justicia de Iberoamerica,
em Havana, Cuba, e o Ministro Roberto Barroso. Presidência do
Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 05.11.2015.

Presidência do Senhor Ministro Ricardo Lewandowski. Presentes


à sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio,
Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber, Teori Zavascki
e Edson Fachin.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Odim Brandão Ferreira.

p/ Fabiane Pereira de Oliveira Duarte


Assessora-Chefe do Plenário

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Extrato de Ata - 05/11/2015

Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 29

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