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Prólogo – Coisas que valem a pena

Aquela era uma pintura que valeu a pena.


Assim como o dia em que Erin decidiu cortar ela mesma as faixas que prendiam sua
cabeça. Assim como o dia em que aceitara ir naquele ridículo jantar natalino, e
ganhara o melhor presente de sua vida. Assim como no dia que aceitara se mudar para
aquele prédio maldito em New Jersey. Mesmo com tudo o que acontecera, havia valido a
pena se mudar para aquele lugar, e valera a pena ser presa injustamente.
Assim como valera roubar aquelas canetas. Sammuel sempre lhe dera dicas de
desenhos, e apesar de seus desenhos serem infinitamente melhores que os da garota,
sempre a encorajara e elogiava seus desenhos. Ele frequentemente colava os desenhos de
Erin em seu armário, ou os guardava em uma pequena caixa que mantinha somente para
aquele propósito.
Erin... Já era difícil pensar nela com seu próprio nome. Naquele lugar, era sempre
A2, presa, ou outros nomes, de mais baixo calibre. Mas, Erin reconhecia que merecera
cada um deles. Havia pagado o preço pelos apelidos, e alguns poucos, ela mesma havia
espalhado pelos corredores daquela prisão, e pelo seu antigo prédio em New Jersey.
Naquela manhã, Erin fez algo que a havia restaurado o pouco de sanidade que ainda
restava nela mesma. Com suas calejadas mãos, havia conseguido roubar alguns canetões
de quadro branco que ficavam estritamente guardados na sala do diretor. Obviamente,
algum tempo depois, os policiais que guardavam as celas logo encontraram todas as
canetas, mas um tanto quanto tarde demais. A cela de Erin estava pichada. Totalmente
pichada. Com a caneta vermelha, desenhara a linha do horizonte e um grande deserto de
areia, com uma bela bola de praia enterrada nos grãos. O oceano havia sido pintado de
azul, e o coqueiro fora com a caneta preta.
A praia se tornara o melhor desenho que ela já desenhara. Havia valido a pena o
castigo que recebera, após os guardas descobrirem que aquilo jamais sairia. Erin sabia
que teria que pintar

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