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Programa de Educação

Continuada a Distância

Curso de
Interpretação de
Exames Laboratoriais

Aluno:
Curso de
Interpretação de
Exames Laboratoriais

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos na Referência Consultada.

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MÓDULO I

Noções Preliminares

1. Objetivos:

O presente curso tem como objetivo o aprendizado e aperfeiçoamento do


aluno com relação à “Interpretação de Exames Laboratoriais”, tendo como base o
conhecimento básico e simplificado das alterações fisiopatológicas associadas a
determinados resultados laboratoriais. É importante frisar que este curso não tem como
objetivo fundamentar ou qualificar o aluno para concluir ou mesmo diagnosticar quaisquer
doença relacionada a um determinado resultado laboratorial uma vez que tais
procedimentos é exclusividade médica, pois apenas o clínico possui qualificação para
analisar diversos resultados de exames sejam eles laboratoriais ou não, associá-los à
clínica do paciente e assim definir o diagnóstico, tratamento, etc.
O mundo tem assistido a um período acelerado de mudanças em todas as
áreas da saúde, seja na prevenção, diagnóstico ou tratamento das diversas enfermidades
que acometem a população mundial. Em função disso, é inegável a necessidade de
aperfeiçoamento de todos aqueles que militam na complexa área do diagnóstico
laboratorial e, pensando nisso, o presente curso foi revisado e reformulado, procurando se
adequar às novas mudanças observadas dentro e fora dos laboratórios clínicos. Após
minuciosa revisão, novos tópicos foram implantados e aperfeiçoados procurando
acompanhar as evoluções e atender as expectativas de todos.

2. Coleta de Material Biológico:


É de suma importância iniciar o curso como o início de toda análise laboratorial,
ou seja, com a coleta de material biológico. Como será visto adiante a coleta de material
biológico é uma importante variável pré-analítica e pode interferir diretamente no resultado

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do exame por diversas razões. A seguir serão descritas resumidamente a maneira de se
coletar sangue, urina, fezes, líquor, esperma e secreções.

2.1 Sangue:
O sangue é um tecido conjuntivo líquido e relativamente constante que circula
pelo sistema vascular, tendo como principal função a circulação de substâncias
essenciais à vida. O sangue é composto por diversos tipos celulares que constituem a
parte sólida, também chamados de “elementos figurados”, representando cerca de 45%
do volume total, os 55% restantes representam a parte líquida do sangue, composta pelo
plasma.
O plasma por sua vez é constituído por água (90%), 7% de proteínas
(principalmente a albumina, globulinas e fibrinogênio), 2% de substâncias orgânicas não
protéicas, resíduos do metabolismo celular, hormônios, gases dissolvidos como Oxigênio
(O2) e Gás Carbônico (CO2) e 1% de substâncias inorgânicas (sódio, potássio, ferro,
cálcio, etc.).
O volume total de sangue de um indivíduo adulto normal é de aproximadamente
5 litros, representando 7 a 8% de sua massa total. Sua coloração vermelha é devido à
molécula de hemoglobina, principal constituinte dos eritrócitos (glóbulos vermelhos).
É através do sangue que todos os nutrientes e substâncias orgânicas são
transportadas e é por isso que a grande maioria dos exames laboratoriais é realizada
analisando-se a composição do sangue, uma vez que esta reflete a saúde do indivíduo.
A obtenção do sangue é feita basicamente de três maneiras: punção venosa,
punção arterial e punção de pele, porém a grande maioria das análises são feitas após
punção venosa, por sua facilidade de obtenção, uma vez que as artérias são mais
profundas e doloridas para o paciente e a punção de pele não permite obtenção de
grandes volumes. A punção arterial é utilizada apenas para dosagens de gases
sanguíneos, também chamada gasometria, uma vez que a composição dos gases
sanguíneos varia consideravelmente entre artérias e veias. A punção de pele raramente é
utilizada, sendo muito comum para testes de glicose em aparelhos de uso pessoal em
diabéticos, algumas determinações de grupo sanguíneo, etc.

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Como já foi dito, a amostra de sangue recomendada para análises laboratoriais
é a amostra venosa e para tal pode-se puncionar qualquer veia do corpo e as preferidas
são as veias do antebraço:
* Veia Basílica,
* Veia Mediana,
* Veia Radial
Uma observação importante é com relação ao “Teste do Pezinho”, que
posteriormente será abordado. A amostra de sangue coletada pode ser obtida por punção
venosa, não sendo necessária a punção no calcanhar do bebê. Tal procedimento é
algumas vezes escolhido pela quantidade de sangue a ser coletada, já que a punção no
calcanhar além de mais dolorida pode ser insuficiente para a realização de todos os
testes (preenchimento dos espaços no cartão-teste).
A punção não deve ser realizada no braço ou lado em que a paciente realizou
mastectomia (retirada do seio) ou onde o paciente recebeu uma infusão intravenosa
recentemente (soro, etc.).
O mais importante em uma coleta de sangue é que a mesma seja realizada
sem traumatismos para se evitar a hemólise ou coagulação do sangue, pois em algumas
análises tais eventos interferem nos resultados. Nunca se deve aplicar “tapinhas” no local
a ser puncionado, tal procedimento era utilizado para facilitar a palpação da veia, porém
acarreta sérios problemas como hemólise e em idosos portadores de ateroma (placas de
gordura nas veias) pode-se deslocar as placas e causar sérios problemas.
A assepsia deve ser realizada utilizando-se algodão embebido em álcool 70%
em sentido único: de cima para baixo ou de baixo para cima.
O garroteamento é utilizado apenas para facilitar a punção, pois se aumenta a
pressão de retorno venoso no braço fazendo com que as veias se encham de sangue e
possam ser mais facilmente puncionadas. O garroteamento prolongado leva a uma
hemoconcentração de todos os elementos do sangue refletindo em resultados falsamente
elevados e, para evitá-la deve-se garrotear o braço do paciente por não mais que 1
minuto. A coleta deve ser realizada mediante uso de seringas e agulhas descartáveis ou
mais apropriadamente com tubos a vácuo (os tubos possuem vácuo próprio para
aspiração de volumes determinados de sangue, além de anticoagulantes próprios para

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cada dosagem). Outra grande vantagem na coleta a vácuo é a eliminação do processo de
transferência do sangue da seringa para o tubo de realização dos testes.

Sistema de coleta a vácuo


Tubos para coleta a vácuo
Fonte: www.ufrj.br
Fonte: Greiner Bio-One Brasil –
www.gbo.com

Os anticoagulantes são substâncias que impedem a coagulação do sangue. O


sangue fora das veias sofre um processo chamado de coagulação, na qual aglomera os
elementos figurados (sólidos) para impedir o “vazamento” do mesmo, tal processo é
importante para estancar sangramentos, porém impossibilita a realização de diversos
exames cujos elementos figurados do sangue são importantes (no coágulo estão
presentes basicamente as células do sangue e o fibrinogênio).
Para a maioria das dosagens bioquímicas,
hormonais e imunológicas, utiliza-se o soro sanguíneo, que
nada mais é que o sangue sem os elementos figurados e
sem o fibrinogênio, ou seja, é o sangue menos o coágulo.
É importante ressaltar que para obter o soro deve-se
centrifugar o sangue após a coagulação, utilizando-se
centrífugas, que são equipamentos que centrifugam o
Centrífuga de
sangue, separando seus constituintes pela densidade.
Laboratório
Fonte:Fanem
(www.fanem.com.br)

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Algumas dosagens utilizam o plasma sanguíneo, que nada mais é que o
sobrenadante (parte superior) do sangue colhido com anticoagulante e centrifugado, ou
seja, é o soro com algumas proteínas a mais (basicamente o fibrinogênio) e sem os
elementos figurados.

Resumindo:
Soro: Quando o sangue é coletado sem anticoagulante, ocorre à coagulação do
mesmo, o material é então centrifugado e o sobrenadante é soro. Para facilitar a
coagulação, após a coleta pode-se colocar o tubo de ensaio contendo o sangue em um
banho-maria a 37 oC por cerca de 20 minutos e então proceder a centrifugação.
Plasma: O sangue é colhido com anticoagulante, homogeneizado e então
centrifugado, o sobrenadante é o plasma. O material recebe nomenclaturas diferentes de
acordo com tipo de anticoagulante utilizado: Plasma citratado (plasma obtido após
tratamento com o anticoagulante Citrato), Plasma heparinizado (plasma obtido após
tratamento com Heparina), etc. Em tubos de coleta a vácuo, os anticoagulantes já estão
preparados e são vendidos prontos para uso (no interior do tubo de coleta e na
concentração própria para o volume de sangue a ser coletado). Existe uma padronização
dos tubos de coleta, independentemente da marca, com relação ao anticoagulante
presente no seu interior, sendo que a diferenciação é feita pela cor da tampa do tubo. Os
mais utilizados são:

Tampas Anticoagulante Setor Material

EDTA Hematologia Vidro ou Plástico

Sorologia
Gel separador
e Vidro ou Plástico
com ativador de coágulo
Bioquímica

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Coagulação Vidro
Citrato de Sódio

Sorologia
Siliconizado sem
e Vidro ou Plástico
anticoagulante
Bioquímica

Bioquímica
Heparina
e Vidro
Sódica
Imunologia

Fluoreto de
Bioquímica Vidro ou Plástico
sódio + EDTA

Fonte: Greiner Bio-One Brasil – www.gbo.com

2.2 Urina:
O exame de urina é também chamado de Urina tipo I, Rotina de Urina, Parcial
de Urina, EAS (Elementos Anormais e Sedimentos), entre outros. Vale ressaltar que
atualmente não se utiliza o termo Urina Tipo II (hoje substituído pela solicitação específica
de urocultura, que será oportunamente descrita), porém o termo Urina Tipo I permanece
até os dias atuais.
O exame de Urina Tipo I é o método de triagem para investigar possíveis
alterações renais, infecções do trato genito-urinário, lesões, e outros e, para se processar
o exame completo de urina, deve ser observada uma série de recomendações.
Deve-se realizar completa higiene nos órgãos genitais, em mulheres tal
recomendação é de suma importância para não haver contaminação da urina com as
bactérias da flora normal. Após a higiene deve-se iniciar a micção, desprezando o
primeiro jato e em seguida coletar a amostra, ou seja, coletar o jato médio. Tal
procedimento é necessário uma vez que a parte final da uretra (cerca de 1 cm) possui
inúmeras bactérias e, ao se desprezar o primeiro jato, é feita uma “lavagem” dessas
bactérias e algumas células obtendo assim apenas a urina oriunda de locais assépticos
(sem bactérias). Em indivíduos saudáveis apenas a parte distal (1 cm) do final da uretra

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não é asséptico. Cabe ressaltar que a amostra de urina não necessariamente precisa ser
a primeira urina da manhã. Padronizou-se dessa forma apenas pelo fato de que ao dormir
tem-se um intervalo de aproximadamente oito horas sem urinar e isso faz com que a urina
formada durante a noite seja mais concentrada. Sendo assim qualquer urina pode ser
coletada desde que se observe o maior intervalo possível entre as micções para a coleta
da amostra (aproximadamente 4 horas), lembrando-se da existência, durante o dia, de
variações em relação à dieta, exercício físico, concentração da urina e uso de
medicamentos. Tal observação vale para gestantes ou pacientes com infecção urinária,
que têm uma freqüência de micção muito maior que o normal.
O volume a ser coletado deve ser no mínimo de 20 mL, não se deve adicionar
preservativos, e a amostra deve ser refrigerada, nunca congelada, para garantir sua
melhor preservação. Deve estar claramente identificada e colhida em recipiente
adequado.

Coletor de Urina/Urocultura (estéril) Coletor de Urina Tipo I (Não estéril)

Fonte: Aaro (www.aaro.com.br) Fonte: Aaro (www.aaro.com.br)

Uma vez coletada, a urina deve ser imediatamente entregue ao laboratório para
análise, o ideal é que a amostra de urina seja coletada no próprio laboratório. Caso seja
impossível a entrega imediata recomenda-se refrigerá-la por no máximo 2 horas. A
demora na análise da urina faz com que as bactérias normalmente presentes em
quantidade pequena e sem significado clínico, se proliferem em uma proporção de
duplicar sua quantidade a cada hora. Com a diminuição da temperatura (refrigeração) tal
procedimento é freado, porém após duas horas inicia-se a formação de cristais, que serão
oportunamente relatados.
Algumas análises utilizam toda a urina produzida pelo paciente durante 24
horas, essas análises servem para monitoramento da função renal, que pode variar no
decorrer do dia e, ao se analisar e calcular a urina de 24 horas tem-se uma “média” da

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função renal do paciente. Para obter a urina de 24h, precede-se da seguinte maneira:
esvazia-se a bexiga em uma determinada hora (oito da manhã, por exemplo),
desprezando-se essa micção; a partir daí coleta-se toda a urina emitida até o dia seguinte
inclusive a micção das oito horas, (ou da hora que iniciou a colheita do dia anterior). Os
procedimentos para a coleta de Urina Tipo I, como higiene e desprezar o primeiro jato,
obviamente não são aplicadas nestas análises.
Em crianças pode-se coletar a urina em
coletores de plástico próprios e estéreis. Em
casos extremos utiliza-se também a coleta por
punção suprapúbica, onde a urina é aspirada
diretamente da bexiga.

Kit para coleta de urina


Fonte:Sanobiol
(www.sanobiol.com.br)

2.3 Fezes:
A coleta de fezes para exame parasitológico não possui muitas
recomendações. A mais importante delas é em caso de suspeita clinica: devem-se coletar
várias amostras em dias alternados para se evitar o chamado período negativo. As
amostras podem ser coletadas em dias alternados até completar três amostras, podendo
ser coletadas e enviadas ao laboratório a cada coleta ou conservadas em uma solução
denominada Solução de MIF, um líquido de coloração alaranjada que permite a
conservação da amostra de fezes. Os parasitas possuem ciclos de reprodução e desta
forma, a postura de ovos, cistos, etc., também segue ciclos e o período negativo reflete o
período em que não há reprodução do parasita, não havendo postura de ovos, formação
de cistos, etc. Nesses casos o paciente pode estar sendo parasitado e seu exame
parasitológico de fezes pode ser negativo.
Existem outros exames realizados nas fezes, porém o mais conhecido é o
parasitológico em que são pesquisadas formas diversas de diversos parasitas que

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causam doenças em humanos. Alguns parasitas observados no exame não causam
doenças, porém devem ser relatados, pois refletem o contato do paciente com alimentos,
água e outros contaminados e indicam uma maior possibilidade de infecção futura por
outras parasitas. Dentre os outros exames realizados nas fezes está a pesquisa de
sangue oculto e para tal exame devem ser observadas rigorosamente as seguintes
instruções durante três dias que antecedem a coleta da amostra para realização do
exame:
* Não comer carnes vermelhas, cenoura, abóbora, nabos, rabanetes,
* Não utilizar medicamentos como Aspirina, Vitamina C, Ferro.
Tais recomendações ajudam a reduzir o número de resultado falso-positivo e ao
mesmo tempo providenciam a absorção de alimentos de difícil digestão, facilitando a
descoberta de lesões que possam sangrar apenas intermitentemente.

2.4 Líquor:
A coleta de Líquido Cefalorraquidiano, LCR, ou Líquor é realizada apenas por
profissionais médicos especialistas e geralmente é realizada por punção lombar ou
punção cervical. A análise do líquor possui basicamente duas investigações: a primeira é
na suspeita de meningite bacteriana ou viral e a segunda é na suspeita de doenças como
Esclerose Múltipla ou Mieloma Múltiplo, que serão posteriormente analisadas.

2.5 Esperma:
A coleta de esperma é, sem dúvida, a coleta de material biológico mais
constrangedor para o paciente e ainda que o ideal seja a coleta no próprio laboratório, a
maioria dos pacientes ainda prefere a coleta em domicílio. O grande problema da coleta
em domicílio é a demora na entrega ao laboratório e conseqüente demora na realização
do exame, o que reduz consideravelmente o número de espermatozóides vivos na
amostra (móveis). O ideal é que o exame seja realizado em no máximo 20 minutos após a
coleta, observando algumas recomendações importantes sendo a principal delas a
abstinência de 3 a 5 dias. Esse tempo é preconizado, pois é o tempo que os
espermatozóides levam para terminar sua maturação. Outra recomendação importante é
evitar a perda do material, ou seja, todo o material deve ser coletado no frasco, pois o

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volume do ejaculado é importante em uma série de cálculos no exame. Além dessas
recomendações o paciente deve realizar higiene prévia das mãos e do pênis, a coleta
deve ser por manipulação auto-erótica (masturbação), não usar quaisquer tipos de
lubrificantes e vedar o frasco imediatamente após a coleta.

2.6 Secreções em Geral:


A análise de secreções, como cultura geral, cultura para fungos, micológicos,
bacterioscopia, etc., é a que sofre maiores interferências da coleta. Uma coleta
inadequada interfere diretamente no resultado do exame, seja falso-positivo por
contaminação da amostra durante a coleta seja falso-negativo por coleta inadequada.
Cada coleta microbiológica possui sua particularidade e como o objetivo do
curso não o aprofundamento de cada coleta e sim a interpretação dos resultados, serão
abordadas aqui apenas as de maior relevância pela freqüência com que são solicitadas
pelos clínicos.
Os exames de bacterioscopia, ou seja, a
análise em microscópio de bactérias, células, etc. O local
da lesão pode ser feito de duas maneiras: a fresco e
corado. A bacterioscopia a fresco deve ser coletada com
auxílio de um swab estéril e imediatamente transferida
para um tubo estéril contendo solução salina e a análise
deve ser realizada o mais rápido possível uma vez que a
Swab estéril
grande vantagem na realização deste exame é a
possibilidade de identificar os patógenos pelo movimento.
A microscopia de campo escuro é uma variação da bacterioscopia a fresco,
pois utiliza um microscópio especial denominado microscópio de campo escuro e tal
técnica é útil na identificação do movimento de espiroquetas sendo a bactéria desta
classe de maior importância o Treponema pallidum.
A bacterioscopia corada é uma ferramenta muito utilizada que conta com o
auxílio dos corantes para realização da identificação bacteriana e, diferentemente do
exame a fresco, é necessária a confecção de duas lâminas no momento da coleta,
realizando movimentos delicados e circulares com o swab contendo amostra sobre as

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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
lâminas. Em ambos os casos a coleta deve ser realizada com auxílio de um swab estéril e
deve ser coletada diretamente do local da lesão. A bacterioscopia é uma espécie de
triagem para visualizar uma possível infecção, uma vez que apenas visualiza a presença
de bactérias ou não no local da infecção e realiza uma identificação apenas com relação à
coloração adquirida e à forma do patógeno bem como a reação inflamatória local.
Uma forma mais adequada para identificar especificamente a bactéria ou o
fungo causador da doença, é cultura de material biológico que nada mais é que cultivar o
microorganismo presente no local da lesão e através de testes bioquímicos, enzimáticos,
sorológicos, e outros, realizar sua identificação. Vale ressaltar que a cultura de material
biológico varia conforme o material a ser coletado e, conseqüentemente, varia a forma de
se cultivar o microorganismo bem como sua identificação. Desta forma a cultura de
secreções de pele utiliza um meio de cultura, a secreção vaginal para bactérias outro, a
cultura de secreção vaginal para fungos outra, e assim por diante. A nomenclatura
urocultura nada mais é que a cultura de urina e a coprocultura é a cultura de fezes.

Swab para coleta de material para cultura microbiológica.

A coleta de sangue para cultura é denominada hemocultura e a mesma deve


ser muito bem realizada para evitar uma possível contaminação e desta forma obter

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resultado falso-positivo. A presença de bactérias no sangue, denominada septicemia é um
quadro grave e de urgência e alguns cuidados devem ser tomados durante a coleta:
O exame possui maior positividade nas duas semanas iniciais da doença,
devendo o ser colhido de preferência antes que o paciente tenha tomado antibiótico.
Recomenda-se a coleta de 2 hemoculturas em locais diferentes (braços), não havendo
necessidade de intervalos maiores que 30 minutos entre as mesmas. Tal procedimento é
utilizado para eliminar o resultado de uma possível contaminação uma vez que em caso
de septicemia, o exame será positivo em ambas as hemoculturas e caso haja crescimento
bacteriano em apenas uma é forte indicativo de contaminação durante a coleta. O técnico
deve lavar as mãos com água e sabão, enxaguar bem, enxugar com papel toalha e calçar
as luvas. Fazer a anti-sepsia de toda a área (braço) com PVPI, por no mínimo 30
segundos. Deixar secar. Passar álcool 70%. Realizar a coleta.

3. Variáveis Analíticas:

3.1 Variáveis Pré-Analíticas:


As variáveis Pré-Analíticas são todas aquelas variações que podem alterar o
resultado do exame antes da coleta do material, sendo as mais importantes:
* Solicitação médica: dificuldade na identificação da requisição médica (qual
exame realizar).
* Dados do paciente: Erros com relação ao cadastro do paciente, como
nome, sexo, idade, etc. Estes fatores levam a adoção errônea dos valores de referência
adotados, fazendo com que um resultado normal para um determinado paciente seja
dado como alterado pelo erro no cadastro da idade do paciente, por exemplo.
* Preparo do paciente: Deve-se minimizar os fatores que influenciam as
determinações analíticas e que estão relacionados à atividade do paciente ou ao
momento da coleta:
* Variações diurnas: As variações diurnas fisiológicas fazem com que
exames como a dosagem do hormônio cortisol seja bem diferente se coletada pela manhã

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ou à tarde. Variações menos significativas são observadas na dosagem de Ferro sérico e
no Hemograma.
* Exercícios: A realização de atividades físicas anteriormente à coleta eleva
as dosagens de Lactato, Creatina Quinase (CPK), TGO e LDH.
* Jejum: O não cumprimento do jejum mínimo de 8 horas interfere em vários
exames, com destaque para as dosagens de Glicose e Triglicérides. Jejum muito
prolongado (48 horas) eleva a concentração de bilirrubina sérica e após 72 horas o
organismo não é mais capaz de manter a concentração plasmática de glicose.
* Dieta: A alimentação rica em gordura eleva os resultados de potássio,
triglicérides e fosfatase alcalina, já uma dieta rica em proteínas eleva a concentração de
uréia, amônia e uratos.
* Consumo de álcool: O uso de etanol eleva as taxas de lactato, urato,
triglicérides, Colesterol HDL, GamaGT e o VCM (volume corpuscular médio).
* Tabagismo: O hábito de fumar eleva a concentração de hemoglobina,
eritrócitos, leucócitos e o VCM.
* Ingestão de drogas: Diversos medicamentos interferem nos resultados dos
exames.
* Posição no momento da coleta: O volume de sangue em um adulto em pé é
cerca de 600-700 mL menor que em posição deitada.
* Garroteamento: O garroteamento maior que um minuto eleva a concentração
de lactato, enzimas séricas, proteínas, colesterol, sódio, potássio, cálcio e triglicérides.
* Stress e Ansiedade: Causam a elevação de lactato e leucócitos.

3.2 Variáveis Analíticas:


As variáveis analíticas são todas aquelas relacionadas à análise
propriamente dita e, dentre as mais importantes estão:
* Coleta inadequada: A hemólise ou coagulação do sangue durante a coleta
resulta em uma série de alterações que impossibilitam a realização de determinados
exames, por exemplo: A concentração de íons potássio no interior das células é maior
que no interstício e, com a hemólise (rompimentos dos eritrócitos) tem-se um aumento
considerável na dosagem de potássio sérico. De maneira geral, a maioria das

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interferências observadas é devido à presença de hemoglobina (hemólise causada por
dificuldade na coleta), lipemia (elevada concentração de gordura no sangue – dieta) e
bilirrubina (alterações patológicas do paciente). Estas três substâncias têm interferência
direta em praticamente todos os testes colorimétricos que tenham pico de absorção no
mesmo comprimento de onda de uma das três substâncias. Em outras palavras, os testes
para dosagem de glicose, por exemplo, cuja leitura no equipamento seja feita em um
comprimento de onda de 480 nm sofre interferência de uma eventual hemólise, uma vez
que a hemoglobina também possui um pico de absorção próximo deste comprimento de
onda. Com o avanço no desenvolvimento de novas metodologias analíticas, novos testes
estão sendo desenvolvidos, cujas leituras são realizadas em regiões próximas à do
infravermelho (600 nm ou maior) o que reduz consideravelmente a interferência destas
três substâncias nas dosagens analíticas.

Gráfico Absorbância X Comprimento de onda


Synermed Inc. - www.synermed.com.br

A coagulação do sangue no momento da coleta impede a realização de todas


as análises celulares, como principalmente o hemograma e análises genéticas. Os testes
de coagulação também são inviabilizados caso haja coagulação in vitro.
* Calibração: A calibração correta dos equipamentos é o fator mais importante
de variável analítica, uma vez que um equipamento que não esteja corretamente
calibrado é um gerador de erro sistemático, já que todos os resultados liberados pelo
equipamento não serão confiáveis.

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3.2 Variáveis Pós-Analíticas:

As principais variáveis pós-analíticas são aquelas relacionadas à digitação do


resultado. Após o correto preparo do paciente, coleta e realização do exame, o valor
obtido deve ser corretamente transcrito e/ou digitado. A troca na inserção de resultado
entre pacientes é outro fato importante e, embora pouco comum, é responsável por um
enorme transtorno para o laboratório. As variáveis pós-analíticas são evitadas com a
implementação da automação, onde é gerado um código de barra único para cada
paciente em cada coleta e assim, todos os equipamentos do laboratório fazem à leitura do
mesmo e os resultados obtidos são automaticamente inseridos no sistema, não havendo
digitação de resultados. Falhas na impressão geram resultados duvidosos bem como
laudos confusos para o clínico. Tais falhas devem ser evitadas adotando-se a
implementação de impressoras de qualidade, e adoção de laudos claros e com conteúdos
essenciais tanto para o paciente quanto para o clínico.

4. Controle de Qualidade:

O controle de qualidade (CQ) em laboratórios clínicos deixou de ser um


diferencial e passou a ser essencial em qualquer laboratório clínico, pois a qualidade na
realização de um determinado exame reflete diretamente no correto diagnóstico do
paciente bem como no correto tratamento e acompanhamento do mesmo.
O Controle de Qualidade Total ou Garantia de Qualidade Total é um termo
genérico aplicado a vários segmentos e a definição é: “Prática que inclui todos os
esforços, procedimentos, formatos e atividades dirigidas para assegurar que uma
qualidade ou produto especificado seja alcançado e mantido”. Para que seja alcançado,
deve-se controlar as variáveis pré-analíticas, analíticas e pós-analíticas, monitorar todos
os equipamentos do laboratório para obter o máximo em precisão e exatidão dentre
outras inúmeras ações. Para acompanhar e padronizar o CQ em Laboratórios Clínicos há
diversos órgãos que através de programas de qualidade certificam as empresas que se
adequarem aos procedimentos exigidos para obtenção de suas certificações. Dentre as

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mais importantes do ramo estão a ISO 9001, Sociedade Brasileira de Análises Clínicas
(SBAC) e Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC).
A principal ferramenta para o controle de qualidade em laboratórios é a
utilização de amostras controle. Estas amostras são produzidas e comercializadas
seguindo rigorosos critérios de qualidade e desta forma, juntamente com as amostras,
são fornecidas bulas com valores aceitáveis de cada analito. Se, após a análise destas
amostras, o resultado obtido não for compatível com o valor estabelecido pela empresa,
deve-se realizar a manutenção/calibração do equipamento em questão. Tais amostras
devem ser analisadas, no mínimo, diariamente no início da rotina.
O Controle Interno de Qualidade é realizado com a análise diária de amostras
controle, porém existe também o Controle Externo de Qualidade onde, periodicamente
são enviados ao laboratório pelas empresas e/ou organizações acima descrita amostras
para serem analisadas com relação a todos os exames realizados naquela empresa e os
resultados são enviados para análise. Após um ano de atividade, realizando as análises
das amostras do Controle Externo de Qualidade, o laboratório é certificado, caso obtenha
resultados precisos e exatos para tal.

EXAME DE URINA
Técnica e Interpretação

A urina é formada pela ação dos rins, cuja unidade funcional é o néfron. Cada
rim contém cerca de um milhão de néfrons, sendo responsáveis pela filtração de
aproximadamente 1,2 litros de sangue por minuto. Desse total, aproximadamente 1 mL de
urina é formada por minuto, sendo que cerca de 150 litros do filtrado glomerular são
reabsorvidos pelos túbulos renais em 24h.
O volume urinário excretado varia
conforme a alimentação, exercícios físicos,
temperatura ambiente e, particularmente com o
volume de líquido ingerido. Em crianças a
diurese é proporcionalmente maior do que do

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adulto.

Nas seguintes condições o volume urinário é


aumentado (poliúria): diabete mellitus, certas
afecções do sistema nervoso, amiloidose renal,
rim contraído, emoções, frio e ingestão
excessiva de líquidos.
Nota-se diminuição de volume (oligúria): nefrite aguda, febre, diarréia, vômito,
choque, desidratação, nefropatia tubular tóxica, enfarte hemorrágico do rim, moléstias
cardíacas e pulmonares.
O exame rotineiro de urina é um método simples, não-invasivo e proporciona ao
clínico uma variedade de informações preciosas sobre patologia renal e do trato urinário
e, por dados indiretos, algumas patologias sistêmicas. A variedade de sinonímias é algo
relevante sendo Exame de Urina Tipo I, Sumário de Urina, Elementos Anormais e
Sedimentos (EAS), Parcial de Urina os mais empregados. Apesar de simples, está entre
os exames mais solicitados devido à simplicidade na realização, baixo custo e facilidade
na obtenção da amostra para análise tornando-se exame de rotina, já utilizado desde a
mais remota antiguidade. O exame do primeiro jato da urina é recomendado quando o
objetivo é a investigação do trato urinário inferior, mais especificamente a uretra. A urina
de primeiro jato carreia células e bactérias presentes na uretra, tornando-a uma boa
amostra indireta para outras avaliações, como as uretrites com pouca secreção. A
diferença de celularidade encontrada entre o primeiro e segundo jatos auxilia a localizar a
origem do processo.
Basicamente o exame de urina é composto por quatro etapas distintas:
- avaliação da amostra,
- análise física,
- análise química,
- análise microscópica do sedimento.

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1. Avaliação da Amostra:
A avaliação da amostra é a visualização da amostra, principalmente alguns
dados importantes para realização do ensaio como o recipiente de coleta, volume da
amostra coletada, etc. Alguns laboratórios relatam nos laudos o volume urinário da
amostra, porém clinicamente não tem significado algum, apenas serve como dado nos
casos em que a análise urinária tenha sido prejudicada devido ao volume insuficiente para
a realização do exame, fato em que deve solicitar nova amostra ao paciente, o que
conclui a ausência de significado clínico o volume urinário da amostra. Outra informação
não muito relevante ainda observada nos laudos de urina é o odor. O cheiro característico
da urina recentemente emitida tem sido atribuído a ácidos orgânicos voláteis presentes e,
com o envelhecimento, o cheiro torna-se amonical. A alimentação interfere diretamente no
odor da urina, mas em todos os aspectos atualmente não se relatou importância clínica
para o odor da urina.

2. Análise Física:

2.1 Densidade:
A densidade ajuda a avaliar a função de filtração e concentração renais, bem
como o estado de hidratação do corpo. É obtida por meio de densímetros, no caso
chamado de urinômetro, de refratômetro ou mesmo verificada na própria fita de análise de
urina. Normalmente a densidade da urina oscila entre 1,015 e 1,025. O rim normalmente é
capaz de diluir ou concentrar a urina conforme a ingestão de líquidos, se maior ou menor,
podendo a densidade variar entre 1,001 e 1,030 ou mais. Tornou-se hábito, em nosso
meio expressar a densidade da urina em milhar 1.015 ou 1.020, por exemplo, quando o
correto é 1,015 ou 1,020 (um vírgula zero quinze ou um vírgula zero vinte).
A densidade urinária depende diretamente da proporção de solutos urinários
presentes (cloreto, creatinina, glicose, fosfatos, proteínas, sódio, sulfatos, uréia, ácido
úrico) e o volume de água. Normalmente varia entre 1.015 a 1.030. Densidades
diminuídas podem ser encontradas na administração excessiva de líquidos por via
intravenosa, reabsorção de edemase transudatos, insuficiência renal crônica, uso de
drogas, quadros de hipotermia, aumento da pressão intracraniana, diabetes insipidus e

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hipertensão maligna. Densidades elevadas podem ser encontradas na desidratação,
diarréia, vômitos, febre, diabetes mellitus, glomerulonefrite, insuficiência cardíaca
congestiva, insuficiência supra-renal, proteinúria, síndrome de secreção inapropriada de
hormônio antidiurético (SIHAD), toxemia gravídica, uropatias obstrutivas e no uso de
algumas substâncias, como contrastes radiológicos e sacarose.

2.2 Aspecto:
O aspecto normal é límpido, entretanto, uma ligeira turvação não é
necessariamente patológica, podendo ser decorrente da precipitação de cristais e de sais
amorfos não-patológicos. A turvação patológica pode ser conseqüência da presença de
células epiteliais, leucócitos, hemácias, cristais, bactérias e leveduras. Pode ocorrer a
presença de depósito por excesso de muco em função de processos inflamatórios do trato
urinário inferior ou do trato genital, ou pela presença de grande quantidade de outros
elementos anormais. A urina deixada em repouso por algum tempo, forma um pequeno
depósito (constituído por leucócitos) denominado nubécula. Esta é mais acentuada nas
mulheres.

Límpido

Opaco

Turvo

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2.3 Cor:
A cor da urina é variável e depende da maior ou menor concentração dos
pigmentos urinários, de medicamentos ou elementos patológicos nela eliminados e de
certos alimentos.
A cor habitual da urina é amarelo citrino, o que se deve, em sua maior parte, ao
pigmento urocromo. Essa coloração pode apresentar variações em situações como
diluição por grande ingestão de líquidos, o que torna a urina amarelo-pálida. Uma cor
mais escura pode ocorrer por privação de líquidos. Portanto, a cor da urina pode servir
como avaliação indireta do grau de hidratação e da capacidade de concentração urinária.
Em condições patológicas (estado febril, por exemplo) o teor de uroeritrina
aumenta e a urina torna-se acentuadamente vermelha. As urinas ácidas em geral são
mais escuras do que as alcalinas. Em estados patológicos a urina pode apresentar
diversas colorações.
Os glóbulos vermelhos serão verificados ao microscópio, após centrifugação,
ou mesmo pela sedimentação espontânea. A hematúria de origem glomerular
(glomerulonefrite aguda) jamais apresenta coágulos, ao passo que, em outros tipos de
hematúria, como no traumatismo ou tumor, eles freqüentemente estão presentes. A urina
de aspecto leitoso pode resultar da presença de pus, ou grandes quantidades de cristais
de fosfato.
O uso de diversos medicamentos e a ingestão de corantes alimentares também
pode causar alteração da cor da urina. Há numerosas possibilidades de variação de cor,
sendo a mais freqüente a cor avermelhada (rosa, vermelha, vermelho-acastanhada). Em
mulheres, deve-se sempre afastar a possibilidade de contaminação vaginal. A cor
avermelhada pode acontecer na presença de medicamentos, hemácias, hemoglobina,
metaemoglobina e mioglobina. As porfirias também podem cursar com coloração
vermelha ou púrpura da urina. Também é freqüente a cor âmbar ou amarelo-
acastanhada, pela presença de bilirrubina, levando a urina a se apresentar verde-escura
em quadros mais graves.

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2.4 pH:
Avalia a capacidade de manutenção renal da concentração de íons
hidrogênio no plasma e líquidos extracelulares. Participando do equilíbrio ácidobase, os
rins, quando em funcionamento normal, excretam o excesso de íons hidrogênio na urina.
Portanto, o pH da urina reflete o pH plasmático e é um indicador da função tubular renal.
Normalmente variando entre 5,0 e 7,0.
Valores elevados podem ser encontrados na alcalose respiratória, em dietas
com grande ingestão de vegetais e frutas cítricas, hiperêmese ou o uso prolongado de
sonda nasogátrica, na presença de cálculos renais, infecção das vias urinárias,
especialmente por microrganismos que utilizam uréia (Proteus e Pseudomonas sp.),
síndrome de Cushing, hiperaldosteronismo, hipocalemia, insuficiência renal, síndrome de
Fanconi e superdosagem de álcalis. As drogas também podem alterar o pH urinário, como
os diuréticos e a terapia alcalina (bicarbonatos).
Valores diminuídos podem ser encontrados em acidose metabólica e
respiratória, perda de potássio, dieta rica em proteínas, infecção das vias urinárias por
Escherichia coli, diarréias severas, diminuição de cloro, fenilcetonúria e tuberculose renal.
O uso de anestésicos e de ácido ascórbico, assim como de outras drogas podem diminuir
o pH urinário.

3. Análise Química Qualitativa:

Nos últimos anos, numerosos avanços têm sido notados com relação às tiras
reagentes, objetivando tornar a análise química urinária e mesmo a dosagem de
elementos da urina mais rápida, simples e econômica. A utilização destas tiras dispensa
conhecimentos teóricos e preparo básico do técnico nos laboratórios de patologia clinica.

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Após imersão da tira reagente na urina
pode-se analisar a presença qualitativa e
semiquantitativa de glicose, corpos cetônicos,
bilirrubina, urobilinogênio, proteína, hemoglobina,
hemácias, leucócitos, nitrito, pH e densidade.
Atualmente há aparelhos automatizados que medem a absorbância nas tiras
reagentes e fornecem as diversas taxas dos elementos eliminados na urina. Tais
aparelhos são muito úteis em grandes rotinas urinárias.

3.1 Corpos Cetônicos:


Os corpos cetônicos, principalmente a acetona, é um subproduto do
metabolismo da gordura e dos ácidos graxos que proporciona fonte de energia para as
células quando as reservas de glicose estão exauridas ou quando a glicose não pode
penetrar nas células devido à falta de insulina. A acetona que passa para a corrente
sangüínea é quase totalmente metabolizada no fígado. Quando é formada em velocidade
maior do que o normal, é excretada na urina. O jejum ou a dieta podem determinar o
aparecimento de corpos cetônicos na urina. O uso de algumas drogas pode levar aos
resultados falso-negativos, entre elas o captopril, a levodopa e o paraldeído.

3.2 Bilirrubinas:
São oriundas do metabolismo da hemoglobina, formada pelas células do
sistema retículo-endotelial. Encontra-se no sangue sob as formas livres (não-conjugadas)
e combinadas (conjugada ao ácido glicurônico e à albumina). A bilirrubina na urina é
observada quando a bilirrubina sérica conjugada encontra-se acima de 2 mg/dL, e pode
ser detectada antes da coloração amarela da pele e mucosas.
A elevação da bilirrubina sérica conjugada (direta), é a responsável pelo
aparecimento de bilirrubina na urina, uma vez que a mesma pode ser filtrada no glomérulo
quando em concentrações elevadas. Portanto, valores elevados podem ser encontrados
em doenças hepáticas e biliares, lesões parenquimatosas, obstruções intra-hepáticas e
extra-hepáticas, neoplasias hepáticas ou do trato biliar. Ao contrário, estará sempre

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ausente nas icterícias por hemólise. Alguns casos de doença biliar obstrutiva crônica
podem cursar com níveis alterados de bilirrubina sérica e ausência de bilirrubina na urina.
Falso-negativos podem ser induzidos pelo uso de ácido ascórbico e exposição da urina à
luz intensa por longo tempo.

3.3 Urobilinogênio:

O urobilinogênio é um produto de redução formado pela ação de bactérias


sobre a bilirrubina conjugada no trato gastrintestinal. A maior parte do urobilinogênio é
excretada nas fezes. Pequena parte é reabsorvida através da via êntero-hepática e
reexcretrada na bile e na urina, onde rapidamente se oxida a urobilina. Os níveis urinários
de urobilinogênio geralmente são maiores do início ao meio da tarde, mantendo-se em
níveis inferiores a 1 mg/dL. O aumento do urobilinogênio na urina indica a presença de
processos hemolíticos ou disfunção hepática. Acha-se elevada também na policitemia, no
cisto hemorrágico do ovário, na doença hemolítica perinatal, em alguns estágios da
malária, na insuficiência cardíaca e na cirrose hepática.

3.4 Hemoglobina:
A presença de hemoglobina na urina pode ser proveniente de diferentes
estados de hemólise intravascular, em que uma quantidade excessiva de hemoglobina
satura a capacidade de ligação com a haptoglobina. Nessas condições, fica livre no
plasma, sendo filtrada pelo glomérulo e em parte reabsorvida pelo sistema tubular. O
restante é excretado na urina. A outra causa é a presença de hemácias liberadas no trato
urinário por pequenos traumas, exercícios extenuantes ou patologias das vias urinárias,
em que as hemácias são lisadas, liberando hemoglobina. A verdadeira hemoglobinúria é
rara, sendo mais freqüente a segunda situação, em que a hemoglobinúria é
acompanhada pela presença de hematúria.

3.5 Glicose:

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Vários hidratos de carbono (glicose, lactose, galactose, frutose) podem
ocasionalmente estar presentes na urina. O mais freqüente é a glicose, constituindo a
glicosúria. A glicose presente na urina reflete os níveis séricos da glicose associados à
capacidade de filtração glomerular e de reabsorção tubular. Normalmente, a glicosúria só
se manifesta quando os níveis séricos se encontram acima de 160/180 mg/dL.
A glicosúria pode ser causada tanto pelo diabetes mellitus como por outras
patologias, como doenças renais que afetem a reabsorção tubular e nos quadros de
hiperglicemia de outras origens que não a diabética.

3.6 Nitrito:
A presença de nitrito na urina indica infecção das vias urinárias, causadas por
microrganismos que reduzem o nitrato a nitrito. O achado de reação positiva indica a
presença de infecção nas vias urinárias, principalmente por bactérias entéricas.

3.7 Proteínas:
Em indivíduos normais, uma pequena quantidade de proteína é filtrada pelo
glomérulo (albumina, alfa-1 e alfa-2-globulinas), sendo sua maior parte reabsorvida por
via tubular e eliminada em pequenas quantidades pela urina. São considerados normais
valores de até 150 mg/ 24 h. O aumento da quantidade de proteínas na urina é indicador
inicial de patologia renal. Entretanto, não são todas as patologias renais que cursam com
proteinúria, a qual não é uma condição exclusiva de doença renal, podendo aparecer em
patologias não-renais e em algumas condições fisiológicas. As proteínas são excretadas
em velocidades diferentes e em momentos variáveis durante o período de 24 horas,
sendo maior durante o dia e menores durante a noite. As proteinúrias podem ser
classificadas, quanto à sua origem, como pré-renal, renal e pós-renal.
Pré-renal: Algumas patologias não-renais, como hemorragia, estados febris,
algumas endocrinopatias, distúrbios convulsivos, neoplasias, queimaduras extensas,
mioglobinúria, hemoglobinúria, mielomas, superexposição a certas substâncias (ácido
sulfossalicílico, arsênico, chumbo, éter, fenol, mercúrio, opiáceos), lesão do sistema
nervoso central, leucemia (mielocítica crônica), obstrução intestinal, reação de
hipersensibilidade, toxemia, toxinas bacterianas (difteria, escarlatina, estreptocócica

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aguda, febre tifóide e pneumonia) podem levar a proteinúrias ditas pré-renais. A
proteinúria transitória pode surgir em conseqüência de estados não-patológicos, como
estresse físico (exercícios intensos) ou emocional, desidratação, dieta (proteínas em
excesso), exposição ao frio e posição do corpo (proteinúria ortostática).
Renal: Pode ocorrer em decorrência de comprometimento glomerular, tubular
ou intersticial, glomerulonefrites, síndrome nefrótica, nefro-patia diabética, hipertensão
(maligna, renovascular), amiloidose, doença policística, lúpus eritematoso sistêmico,
nefropatia membranosa, pielonefrite (crônica), tumores, malformações congênitas,
síndrome de Goodpasture, trombose da veia renal, acidose tubular renal, necrose tubular
aguda, intoxicação por metais pesados e algumas drogas.
Pós-renal: Contaminação por material de área genital (uretral e genital),
infecções do trato urinário superior e inferior (uretrites e cistites) e prostatites.

4. Análise Microscópica do Sedimento:

Para proceder ao exame microscópico do sedimento urinário, a urina deve ser


recente, ao contrário, os elementos organizados (cilindros, hemácias, leucócitos) perdem
sua estrutura normal, dificultando ou tornando impossível a identificação. Sempre que
possível à urina deve ser mantida no refrigerador até o momento da centrifugação. Para
obtenção do sedimento, mistura-se a mostra de urina, de preferência a primeira da manhã
e coloca-se 10 ml em um tubo cônico, resistente, levando à centrífuga. Centrifuga-se,
durante 5 minutos, a cerca de 1.500 rpm. Formado o sedimento, por meio de
centrifugação, decanta-se o líquido sobrenadante, agita-se o resíduo que fica no fundo do
tubo, transfere uma pequena porção para lâmina e recobre com lamínula.
Leva-se a lâmina, assim preparada, ao microscópio e examina-se com luz
reduzida e pequeno aumento para visão de conjunto e, em seguida com objetiva de 40X,
para identificação e contagem dos elementos observados.
A finalidade da análise microscópica é detectar e identificar os elementos
insolúveis. Esses elementos incluem: eritrócitos, leucócitos, células epiteliais, bactérias,
leveduras, parasitas, muco, espermatozóides, cristais e artefatos. Como alguns não têm
significado clínico e outros são considerados normais, a menos que presentes em

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quantidades muito grandes, o exame do sedimento urinário deve compreender tanto a
identificação quanto a quantificação dos elementos encontrados. O exame microscópico
ainda é um auxiliar valioso no diagnóstico. No sentido de melhorar sua fidedignidade há a
padronização das técnicas, do aprimoramento do controle de qualidade e da educação
constante do pessoal técnico.

4.1 Células Epiteliais:


É comum o achado de algumas células epiteliais. Podem ser de três tipos de
acordo com seu local de origem: células pavimentosas, transicionais e dos túbulos renais.
A maioria não tem significado clínico, representando uma descamação de células velhas
do revestimento epitelial do trato urinário. O achado de células com atípicas nucleares ou
morfológicas pode indicar a presença de processos neoplásicos necessitando de
investigação específica. A presença de fragmentos epiteliais e de células de origem
tubular pode estar ligada a processos de necrose tubular aguda e a lesões isquêmicas
renais, entre outras lesões do rim.
* Células Pavimentosas: são as mais freqüentes e menos significativas.
Provêm do revestimento da vagina e das porções inferiores da uretra masculina e
feminina, podem ser encontradas em grande número nas amostras de urina de
mulheres, colhidas sem usar a técnica de jato médio estéril.
* CélulasTransicionais: originam-se do revestimento da pelve renal, da bexiga
e da porção superior da uretra. São menores que as pavimentosas, esféricas, caudadas
ou poliédricas com núcleo central. Raramente têm significado clínico, a menos que sua
quantidade seja grande e sua forma anômala.
* Células dos Túbulos Renais: são as mais importantes porque, quando sua
quantidade é grande, há indício de necrose tubular. São especialmente importantes na
rejeição do enxerto renal. Sua presença traduz a existência de doenças causadoras de
lesão tubular, entre as quais pielonefrite, reações tóxicas, infecções virais, rejeição de
transplante e efeitos secundários da glomerulonefrite.

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4.2 Hemácias:
Podem estar presentes em pequena quantidade na urina normal (3 a 10 por
campo), porém a presença aumentada de hemácias na urina tem relação com lesões na
membrana glomerular ou nos vasos do sistema urogenital. O seu número também ajuda a
determinar a extensão da lesão renal. A observação de hematúria microscópica pode ser
essencial para o diagnóstico de cálculos renais. Também é preciso considerar a
possibilidade de contaminação menstrual em amostras de urina feminina. A presença de
hematúria indica lesões inflamatórias, infecciosas ou traumáticas dos rins ou vias
urinárias. O exercício extenuante pode levar a hematúria discreta. A forma da
apresentação das hemácias, segundo alguns autores, pode indicar sua origem, servindo
como um diagnóstico diferencial de hematúrias de origens glomerular e não-glomerular.
Quando se apresentam em sua forma esférica habitual, seriam de origem mais distal no
trato urinário; quando crenadas (irregulares), teriam origem glomerular.

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4.3 Leucócitos:
Podem estar presentes em pequena quantidade na urina normal (5 a 10 por
campo). Normalmente neutrófilos. Quantidades aumentadas indicam a presença de
lesões inflamatórias, infecciosas ou traumáticas em qualquer nível do trato urinário. Deve-
se sempre excluir contaminação por via genital. Embora os leucócitos, assim como as
hemácias, possam passar para a urina através de uma lesão glomerular ou capilar. O
número elevado de leucócitos na urina é chamado de piúria e indica a presença de
infecção ou inflamação no sistema urogenital. Entre as causas mais freqüentes de piúria
estão às infecções bacterianas, tais como pielonefrite, cistite, prostatite e uretrite, mas a
presença de leucócitos também pode ser observada em doenças não-bacterianas, como
a glomerulonefrite, o lúpus eritematoso e os tumores. Os leucócitos são maiores que as
hemácias, medindo cerca de doze mícrons de diâmetro. São mais facilmente observados
e identificados porque contêm grânulos citoplasmáticos e núcleos lobulados.

4.4 Cristais:
É um achado freqüente na análise do sedimento urinário normal, raramente
com significado clínico e com ligação direta com a dieta. Os cristais são formados pela

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precipitação dos sais da urina submetidos à alteração de pH, temperatura ou
concentração, o que afeta sua solubilidade.
A principal razão para a identificação dos cristais urinários é detectar a
presença de alguns tipos relativamente anormais, que podem representar um sinal de
distúrbios físico-químicos na urina ou têm significado clínico específico, como os de
cistina, leucina, tirosina e fosfato amoníaco magnesiano. Podem também ser observados
cristais de origem medicamentosa e de componentes de contrastes urológicos. A cistina
está ligada ao defeito metabólico cistinúria, além de responder por cerca de 1% dos
cálculos urinários. Como a tirosina e a leucina são resultados de catabolismo protéico,
seu aparecimento na urina sob a forma de cristais pode indicar necrose ou degeneração
tecidual importante. Os cristais de fosfato amoníaco magnesiano estão relacionados a
infecções por bactérias produtoras de uréase. Apesar de não existir uma relação direta
entre a presença de cristais e o desenvolvimento de cálculos, alguns autores apontam à
existência de diferenças morfológicas entre os cristais dos pacientes que desenvolvem
calculose com uma apresentação de formas maiores, agregadas e bizarras.
O recurso mais útil na identificação dos cristais é o conhecimento do pH da
urina, pois ele determinará o tipo de substâncias químicas precipitadas. Os cristais
geralmente são classificados não só como normais e anormais, mas também segundo a
urina em que está presente: ácida ou alcalina.

4.4.1 Cristais Normais:


* Urina ácida: os cristais mais comumente encontrados na urina ácida são os
uratos, constituídos por ácido úrico, uratos amorfos e urato de sódio. Como o nome
indica, os uratos amorfos são constituídos por grânulos castanho-amarelados organizados
em grumos. Os cristais de oxalato de cálcio também são freqüentes na urina ácida e são
facilmente reconhecidos como octaedros incolores em forma de envelope.
* Urina alcalina: a maioria dos cristais observados na urina alcalina é formada
por fosfatos, como o fosfato triplo, o fosfato amorfo e o fosfato de cálcio. Os cristais de
fosfato triplo são talvez os mais facilmente identificáveis, porque costumam ser
constituídos por prismas incolores denominados “tampa de caixão”.

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4.4.2 Cristais Anormais:
Os cristais anormais mais importantes são: cistina, colesterol, leucina,
tirosina, bilirrubina, sulfonamidas, corantes radiográficos e medicamentos. A maioria dos
cristais anormais tem formas características, sendo também encontrados em urina ácida
ou neutra: existem provas bioquímicas para sua possível identificação.

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4.5 Cilindros:
São elementos exclusivamente renais compostos por proteínas e moldados
principalmente na luz dos túbulos contornados distais e túbulos coletores. Indivíduos
normais, principalmente após exercícios extenuantes, febre e uso de diuréticos, podem
apresentar pequena quantidade de cilindros, geralmente hialinos. Sua formação é
influenciada pelos elementos presentes no filtrado e pelo tempo de permanência dentro
do túbulo. Nas doenças renais, se apresentam em grandes quantidades e em diferentes
formas, de acordo com o local da sua formação. Os mais comuns são os cilindros
hialinos. São compostos principalmente pelas proteínas de Tamm-Horsfall, considerados
normais em pequenas quantidades (0 a 2) e, em maior quantidade, em situações como
febre, desidratação, estresse e exercício físico intenso. Os cilindros podem estar
presentes em diferentes patologias como os hemáticos (doença renal intrínseca),
leucocitários (pielonefrites), de células epiteliais (lesões túbulos renais), granulosos
(doença renal glomerular ou tubular e algumas situações fisiológicas) e céreos
(insuficiência renal, rejeição a transplantes e doenças renais agudas e estase do fluxo
urinário).
A aparência dos cilindros também é influenciada pelos materiais presentes
no filtrado no momento da sua formação e pelo período de tempo em que eles
permanecem no túbulo.
* Cilindros Hialinos: os cilindros mais freqüentes são de tipo hialino. A
presença de 0 a 2 desses cilindros por campo de pequeno aumento é considerada
normal. Assumem significado clínico quando seu número é elevado, como é o caso de
glomerulonefrite, pielonefrite, doença renal crônica e insuficiência cardíaca congestiva.
* Cilindros Hemáticos: os cilindros celulares podem conter hemácias,
leucócitos ou células epiteliais. A presença de cilindros celulares geralmente indica
grave doença renal. A existência de cilindros hemáticos é muito mais específica,
indicando que o sangramento provém do interior do néfron.

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* Cilindros Leucocitários: o aparecimento de cilindros leucocitários na urina
significa infecção ou inflamação no interior dos néfrons. São refringentes, têm grânulos
e, serão visíveis os núcleos multilobulados.
* Cilindros Granulares: é freqüente observar cilindros granulares grosseiros e
finos no sedimento urinário; podem ter significado clínico ou não. Sua excreção aumenta
após estresse e exercício físico rigoroso.

4.6 Bactérias:
Normalmente a urina não tem bactérias. No entanto, se as amostras não forem
colhidas em condições estéreis, pode ocorrer contaminação bacteriana sem significado
clínico. As amostras que ficarem à temperatura ambiente por muito tempo, também
podem conter quantidades detectáveis de bactérias, que representam apenas a
multiplicação dos organismos contaminantes. A presença de nitrito na fita reativa é um
dado complementar a presença de bactérias na urina, mais precisamente enterobactérias.

4.7 Muco:

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Produzido pelo epitélio do túbulo renal e células epiteliais. A presença
excessiva de muco decorre de processos inflamatórios do trato urinário inferior ou do
trato genital. O muco é um material protéico produzido por glândulas e células epiteliais
do sistema urogenital. Não é considerado clinicamente significativo e sua quantidade é
maior quando há contaminação vaginal. Microscopicamente, é visto como estruturas
filamentosas com baixo índice de refração, o que exige observação em luz de baixa
intensidade.

4.8 Leveduras:
As leveduras, geralmente Candida albicans, podem ser observadas na urina
de pacientes com diabetes mellitus, de mulheres com candidíase vaginal. São facilmente
confundidas com hemácias e por isso deve-se observar atentamente se há brotamentos.

4.9 Parasitas:
O parasita encontrado com mais freqüência na urina é o Trichomonas
vaginalis, devido à contaminação por secreções vaginais. Esse organismo é flagelado,
sendo facilmente identificado por seu movimento rápido no campo microscópico.
Contudo, quando não se move, o Trichomonas vaginalis pode ser confundido com um
leucócito.

4.10 Espermatozóides:

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Por vezes encontram-se espermatozóides na urina após relações sexuais ou
ejaculação noturna: não têm significado clínico.

4.11 Cálculos Renais:


O achado de grumos de cristais em urina quente, recém eliminada indica
que existem condições para a formação de cálculos, tendo-se observado aumento da
cristalúria nos meses de verão em pessoas que formam cálculos renais. A análise de
cálculos renais excretados é importante no tratamento do paciente. Aproximadamente
75% deles contêm oxalato de cálcio, sendo possível evitar formações futuras através de
mudanças da dieta.

4.12 Artefatos:
Podem ser encontrados contaminantes de todos os tipos na urina,
principalmente nas amostras colhidas em condições impróprias ou em recipientes sujos.
O que mais confunde os estudantes são as gotículas de óleo e os grânulos de amido (pó
de talco), por se parecerem com hemácias.

---------- FIM MÓDULO I ----------

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