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A ILHA DA MADEIRA E A EXPANSÃO DA CULTURA E

COMÉRCIO DO AÇÚCAR NO ATLÂNTICO

ALBERTO VIEIRA
CEHA(MADEIRA

A rota do açúcar na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico tem na


Madeira a principal escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo eco sistema
e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade. Foi a partir da Madeira que a
cana-de-açúcar iniciou a expansão atlântica. Esta foi a primeira área do espaço
atlântico a receber a nova cultura, e, por isso mesmo, onde se delineou a realidade
que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil. Aqui surgiram os primeiros
contornos sociais (a escravatura), técnicos (engenho de água) e político-económicos
(trilogia rural) que materializaram a civilização do açúcar. A descoberta dos
canaviais e do açúcar na mais vetusta origem no século XV tem assim passagem
obrigatória pela ilha

A Europa sempre se prontificou a apelidar as ilhas de acordo com a oferta de


produtos ao seu mercado. O açúcar ficou como epíteto da Madeira e de algumas das
Canárias, onde a cultura foi a varinha de condão que transformou a economia e
vivência das populações. Também do outro lado do oceano elas se identificam com
o açúcar, uma vez que serviram de ponte à passagem ao Novo Mundo. O estudo do
caso particular madeirense assume especial relevância quando se pretende fazer a
reconstituição da rota do açúcar. A Madeira assume aqui um papel chave porque foi
pioneira na exploração da cultura e na sua expansão no espaço exterior próximo ou
longínquo, incluído as Canárias.

A cana sacarina, ao contrário do que sucedeu com os demais produtos e culturas


(vinha, cereais), não se resumiu apenas à intervenção no processo económico. Ela
foi capaz de moldar as sociedades que dela se serviram para firmar a sua dimensão
económica. A importância atribuída ao sector comercial conduziu a uma posição de
cultura dominadora de todo (ou quase todo) o espaço agrícola disponível e capaz de
estabelecer os contornos de uma nova realidade social. Foi precisamente esta
tendência envolvente que levou a Historiografia a definir o período da afirmação
como o Ciclo do Açúcar. A omnipresença da cultura, as múltiplas implicações nos
espaços em que foi cultivada levou alguns investigadores a estabelecer um novo
modelo de análise: os ciclos de produção assentes na monocultura.

A presença do açúcar na Madeira enquadra-se na tradição Mediterrânea da sua


valorização comercial. Aliás, foi na Sicília, onde os canaviais existiam aí desde o
século X, que o infante D. Henrique viu o exemplo para a transformação económica
da ilha, mandando vir socas de cana e mestres de engenho. Outros autores, como
Valentim Fernandes 1 , apontam diferente proveniência, como é o caso de Valência.
Em 1478 temos referência a James Timor, valenciano, mestre de açúcar na ilha
dedicado também ao comércio do produto. O mesmo surge em 1494 como
proprietário de canaviais no Funchal 2 . A cana havia chegado a esta região a partir

1
. “Ho Iffante mandou a Valença por canas de acucar...”, in Códice Valentim Fernandes, Lisboa,
1997, p.141
2
. Virgínia Rau, O Açúcar da Madeira nos fins do século XV. Problemas de Produção e Comércio, Funchal, 1962, p.23.
do mesmo destino, sob o signo dos incentivos da coroa de Aragão 3 . Se tivermos em
conta as relações existentes entre ambas as áreas sob o domínio da coroa de Aragão
e Portugal, resultantes do casamento de D. Duarte com Leonor de Aragão, estará
aberto o caminho nas duas vias para a cana de açúcar.
A cana-de-açúcar na primeira experiência além Europa demonstrou as
possibilidades de rápido desenvolvimento fora do habitat mediterrânico. Gaspar
Frutuoso testemunha isso mesmo ao referir que "esta planta multiplicou de maneira
na terra, que he o assucar della o melhor que agora se sabe no mundo, o qual com
o benefício que se lhe faz tem enriquecido muitos mercadores forasteiros e boa
parte dos moradores da terra". Tal evidência catalizou as atenções do capital
estrangeiro e nacional que apostou no seu crescimento e promoção favorecendo a
rápida afirmação.
A moenda e o consequente processo de transformação da guarapa em açúcar, mel,
álcool ou aguardente projectaram as áreas produtoras de canaviais para a linha da
frente das inovações técnicas, no sentido de corresponderem às cada vez maiores
exigências. A madeira e o metal foram a matéria-prima que deram forma a
capacidade inventiva dos senhores de canaviais e engenhos. Na moenda da cana
utilizaram-se vários meios técnicos comuns ao mundo mediterrânico. A
disponibilidade de recursos hídricos conduziu à generalização do engenho de água.
Na Madeira, o primeiro particular que temos conhecimento foi o de Diogo de Teive
em 1452. E este terá sido o primeiro engenho que se veio juntar ao lagar do infante
O infante, donatário da ilha, detinha a o exclusivo destas infra-estruturas e quem
quisessem segui-lo deveria ter autorização sua. Esta infra-estrutura resultou apenas
nas áreas onde era possível dispor da força motriz da água, ficando nos demais
espaços ficou reduzido apenas ao uso da força animal ou humana. Os últimos eram
conhecidos como trapiches ou almanjaras. O infante D. Fernando em 1468 refere as
estruturas diferenciando os engenhos de água, alçapremas e trapiches de besta. Até à
generalização dos engenhos de cilindros horizontais no século XVII, a infra
estrutura para espremer as canas era composta do engenho ou trapiche e da
alçaprema.

Não conhecemos qualquer dado que permita esclarecer os aspectos técnicos destes
primeiros engenhos. Apenas se sabe, segundo Giulio Landi, que na década de trinta
do século XVI funcionava um com o sistema semelhante ao usado no fabrico de
azeite: "Os lugares onde com enorme actividade e habilidade se fabrica o açúcar
estão em grandes herdades, e o processo é o seguinte: primeiramente, depois que
as canas cortadas foram levadas para os lugares acima referidos, põem-nos
debaixo de uma mó movida a água, a qual triturando e esmagando a cana, extrai-
lhes todo o suco".
Na ilha de São Miguel a cultura da cana está inegavelmente ligada aos madeirenses.
A eles se deveu o transplante das socas e da tecnologia. Gaspar Frutuoso conta que
em Ponta Delgada Bastião Pires contratou o madeirense Fernão Vaz, Ao qual deu
ordem como se fez um engenho de besta, como de pastel, mas o assento da mó
diferente, porque era de uma pedra grande e mui cavada, a maneira de gamela e
furada pelo fundo, por onde o sumo das canas, que dentro nela se moiam, ia por
debaixo do chão, por uma calle ou bica, sair fora do andaimo da besta que moia, e

3
.Ferran Garcia-Oliver, Dossier: Sucre I creixement económic a la baixa edat mitjama, Afers, Fulls
de recerca i pensament, vol. XIV, nº.32, Catarroja, 1999, 167-194;
assim fez fazer também um fuso e caixa para espremer o bagaço, e uma fornalha
com uma caldeira em cima, a maior que então se achou, onde cozia aquela calda, e
cozida a deitava em uma tacha e ao outro dia fazia o mesmo, até que fez cópia de
melado para se poder fazer assuqre.(...)com sua pouca ciência e menos experiência,
saiu aquele assuqre assim tão bom e tão fino. 4
Uma das questões polémicas prende-se com a evolução da tecnologia usada para
espremer a cana. O aparecimento e generalização dos cilindros horizontais e depois
verticais é um processo controverso que tem ocupado os especialistas nos últimos
anos sem se conseguir alcançar qualquer consenso. O primitivo trapettum era já
usado na Roma antiga para triturar azeitonas e sumagre, sendo, segundo Plínio,
inventado por Aristreu, Deus dos Pastores 5 . Mas este tornou-se um meio pouco
eficaz com a generalização da produção e comércio no decurso do século XVI,
sendo substituído pelo engenho de cilindros. É aqui que divergem as opiniões.
São várias as hipóteses para a origem do sistema, sendo a mais antiga a que aponta a
evolução como uma descoberta mediterrânica. Dois textos clássicos para o estudo
do açúcar - F. O. Von Lippmann 6 e Noel Derr 7 - atribuíram a descoberta a Pietro
Speciale, prefeito da Sicília, um importante proprietário siciliano que fez testamento
em 1474 8 . Esta tese foi rebatida por Moacyr Soares Pereira(1955) e Gil Methodio
de Maranhão(1953), que demonstram a falta de fundamento da tese siciliana.
Alguma Historiografia castelhana atribui esta invenção a Gonzalo de Veloza,
vizinho da ilha de La Palma casado com a jovem madeirense, Luísa Bettencourt que
em 1518 é referido como haber inventado un ingenio para azúcar 9 na ilha de S.
Domingos. Todavia, nos últimos anos os estudos sobre a história do açúcar no
Oriente, nomeadamente na Índia e China, reforçaram a ideia de que o sistema de
moagem da cana por cilindros tem aqui a sua origem mais remota. Por outro lado os
estudos sobre a História da Ciência revelam que o sistema de cilindros era
conhecido na Europa sendo usado em diversas actividades industriais. A mais antiga
informação refere-se ao uso na China e Índia para descaroçar o algodão, fabrico de
papel, e que terá chegado à Europa a partir de meados do século XV.
David Ferreira Gouveia 10 apresenta a evolução para o sistema de moagem da cana
como um invento do madeirense Diogo de Teive, que o teria patenteado em 1452. O
engenho de três eixos surge mais tarde no Brasil sendo considerado também uma
invenção portuguesa, inegavelmente ligada aos madeirenses aí radicados. Na
Madeira as primeiras referências a eixos para o engenho datam já do último quartel
do século XV. Entretanto em 1477 Álvaro Lopes tem autorização do capitão do
Funchal para que "faça hum enjenho de fazer açúcar que seja de moo ou
d'alçapremas, ou doutra arte...o qual enjenho será d'augoa com sua casa e casa de
caldeiras..." 11 . Depois, em 1485, D. Manuel isentava da dízima "quaesquer teyxos

4
. Gaspar Frutuoso, Livro Quarto das Saudades da Terra, vol.II, Ponta Delgada, 1981, p.211.
5. São vários os estudos sobre o tema. Veja_se:Frederick C. GJESSING, The tower windmill for guindering sugar cane, Virgin Islands, 1977; MORENO FRAGINALS, El ingenio, La Habana, 1978;
Marie Clarie AMOURE, Jean Vienne BEREN(eds), La Production du vin et de l huile en Mediterranée, Paris, 1993, pp.477/481 e 540 e segs.
6. História do Açúcar, 2 vols., Rio de Janeiro, 1952.
7. The History of Sugar, 2 vols. Londres, 1940_50.
8. Cf. Carmelo Trasselli, Storia dello zuchero siciliano, Caltamissetta-roma, 1982. A tese foi defendida com base nos textos Pietro Panzano(opusculum de autore, primordiis et progressu felicis urbis
Panonri, 1471) e Gaspar Vaccaro Panebianco(Sul richiamo della canna zucherina in sicilia e sulle ragioni che lo exigono, Lipomi, 1826), que conforme a publicação por Moacyr Soares Pereira(1955)
dos textos é evidente a falta de fundamento.
9 . RIO MORENO, Justo L. del, Los inicios de la agricultura europea en el Nuevo Mundo, (1492-1542), Sevilla, 1991, p.306

10. GOUVEIA, David Ferreira, O Açúcar da Madeira. A manufactura açucareira madeirense (1420-1550), in Atlântico, IV, 1985, 260-272
11. ANTT, Convento de Santa Clara, maço 13, nº. 1, 4 Julho 1477.
que forem necesarios para eyxos esteos cassas latadas dos enjenhos e tapumes..." 12 .
Em 1505 Valentim Fernandes refere que o pau branco era usado no fabrico de
"eixos e parafusos pera os enjenhos de açúcar". A isto associa-se o inventário do
engenho de António Teixeira, no Porto da Cruz em que são referidos como aprestos:
rodas eixos, prensas, fornalhas espeques (...) 13 . Noutro documento de 1546 refere-se
a existência deste tipo de engenho nas fazendas de Manuel Damil em Câmara de
Lobos, foreiras ao convento de Santa Clara, pois o mesmo declara que aquelle anno
mandou fazer a roda nova por ser velha a que estava e não aproveitar para servir e
os eixos servirem hum anno... 14 Por fim tenha-se em conta que os primeiros
engenhos construídos no Brasil, mais propriamente em S. Vicente, são de eixos
feitos por destros carpinteiros madeirenses que acompanharam o governador Mem
de Sá.
A situação da Madeira a partir de meados do século XV é de incremento da cultura
à qual se aliam as inovações tecnológicas de que certamente o engenho de Diogo de
Teive foi o primeiro exemplo. Se estas referências forem indício dos engenhos de
cilindros quer dizer que é na Madeira que encontrámos a mais antiga referência
desta tecnologia no espaço atlântico e será a partir daqui que a mesma se difundiu
no espaço Atlântico. Foi a partir da Madeira que se generalizou o consumo do
açúcar sendo necessária uma produção em larga escala. A pressão do mercado
europeu conduziu à rápida afirmação da cultura na segunda metade do século XV,
situação que só seria possível de alimentar com o recurso a inovações tecnológicas
capazes de atenderem a tais solicitações. A evolução para o sistema de cilindros não
reverte no melhor aproveitamento do suco da cana, mas sim em vantagens
acrescidas para a rapidez do processo de triturar a cana.
Os madeirenses estiveram ligados à promoção da cultura e construção dos primeiros
engenhos açucareiros nas ilhas Canárias, dos Açores, S. Tomé, e Brasil, chegando
mesmo ao norte de África, situação que foi interditada pela coroa em 1537. Por
outro lado a sua origem não poderá associar-se a uma influência directa da Índia ou
da China, onde estiveram muitos madeirenses, uma vez que as primeiras referências
são anteriores à primeira viagem de Vasco da Gama.

A EXPANSÃO DO AÇÚCAR NO ESPAÇO ATLÂNTICO

O açúcar da Madeira ganhou fama no mercado europeu. A qualidade diferenciava-o


dos demais e fê-lo manter-se como o preferido. Assim nos sugere Francisco Pyrard
de Laval: "Não se fale em França senão no açúcar da Madeira e da ilha de S.
Tomé, mas este é uma bagatela em comparação do Brasil, porque na ilha da
Madeira não há mais de sete ou oito engenhos a fazer açúcar e quatro ou cinco na
de S. Tomé" 15 .

O mais significativo da situação do novo mercado produtor de açúcar é que o


madeirense encontra-se indissociavelmente ligado a ele. A Madeira foi o ponto de
partida do açúcar para o Novo Mundo. O solo madeirense confirmou as

12. AHM, Vol. XV, p. 150, Apontamentos de D. Manuel de 22 de Fevereiro.


13. A. ARTUR, "Apontamentos históricos de Machico", in DAHM, nº 1, pp. 8_9. A dúvida está na data a atribuir ao inventário, que está anexo ao seu
testamento de 7 de Setembro de 1535, ou de 13 de Setembro de 1495, data do testamento de Isabel de Vasconcelos sua esposa.
14 . ANTT, convento de Santa Clara, nº.12, 21 de Janeiro de 1546.
15. Viagem de Francisco Pyrard de Laval, Vol. I, Porto, 1944, p. 228.
possibilidades de rentabilização e de abertura de novo mercado para o açúcar.
Também o íncola foi capaz de agarrar esta opção, tornando-se no obreiro da sua
difusão no mundo Atlântico. A tradição anota que foi a partir da Madeira que o
açúcar chegou aos mais diversos recantos do espaço atlântico e que os técnicos
madeirenses foram responsáveis pela sua implantação. O primeiro exemplo é Rui
Gonçalves da Câmara, que em 1472 comprou a capitania da ilha de S. Miguel. Na
expedição de posse da sua capitania fez-se acompanhar de canas da Lombada, que
entretanto vendera a João Esmeraldo, e dos operários para a tornar produtiva. A
estes seguiram-se outros que corporizaram diversas tentativas frustradas para fazer
vingar a cana de açúcar nas ilhas de S. Miguel, Santa Maria e Terceira 16 .

Em sentido contrário avançou o açúcar em 1483, quando o governador D. Pedro de


Vera quis tornar produtiva a terra conquistada nas Canárias 17 . De novo a Madeira
surge disponibilizar as socas de cana para que aí surgissem os canaviais. O mais
significativo desta situação é a forte presença portuguesa no processo de conquista e
adequação do novo espaço a economia de mercado 18 . Os portugueses, em especial
os madeirenses, surgem com frequência nestas ilhas ligando-se ao processo de
arroteamento das terras, como colonos que recebiam datas de terras na condição de
trabalhadores especializados a soldada 19 , ou de operários especializados que
construíam engenhos e os colocam em movimento.

O aparecimento de açúcar de outras ilhas ou do Novo Mundo provocou uma


concorrência desenfreada. O avanço do açúcar para sul ao encontro do novo habitat
gerou um boom de produção. Em S. Tomé, pela disponibilidade de água e madeiras,
os canaviais encontraram condições adequadas de cultivo e afirmação. Em 1485 a
coroa recomendava a João de Paiva que procedesse à plantação de cana do açúcar,
com o recurso a "muitos mestres da ilha da Madeira". Deste modo no século XVI a
concorrência do açúcar das Canárias e S. Tomé apertou o cerco ao açúcar
madeirense provocando a reacção dos agricultores madeirenses. Em 1527 os
lavradores de cana reuniram-se na vereação para reclamar junto da coroa face ao
prejuízo causado pelo progressivo desenvolvimento da cultura em S. Tomé.

Colombo abriu as portas ao Novo Mundo e traçou o rumo da expansão da cana de


açúcar no Novo Mundo. A cultura não lhe era alheia, pois o navegador tinha no
curriculum algumas actividades ligadas ao comércio do açúcar na Madeira. O
navegador, antes da relação afectiva ao arquipélago, foi, a exemplo de muitos
genoveses, mercador do açúcar madeirense. Em 1478 encontrava-se no Funchal ao
serviço de Paolo di Negro para conduzir a Génova 2400 arrobas a Ludovico
Centurione. Com esta viagem e, depois da larga estância do navegador na ilha,
Colombo ficou conhecedor da dinâmica e importância do açúcar da Madeira. Em
Janeiro de 1494, aquando da preparação da segunda viagem, o navegador sugeriu
aos reis católicos o embarque de 50 pipas de mel e 10 caixas de açúcar da Madeira
para uso das tripulações, apontando o período que decorre até a Abril como o
melhor momento para o adquirir 20 . A isto podemos somar a passagem do navegador
16. Gaspar FRUTUOSO, Livro Quarto das Saudades da Terra, Vol. II, pp. 59, 209-212; V. M. GODINHO, Os Decobrimentos e a Economia Mundial., Vol. IV, F. Carreiro da COSTA, "A cultura da
cana-de-açúcar nos Açores. Algumas notas para a sua História" in Boletim da Comissão Reguladora do Comércio de cereais dos Açores, n1 10, 1949, 15-31.
17. Conquista de la Isla de Gran Canaria, La Laguna, 1933, p. 40.
18. José PÉREZ VIDAL, Los Portugueses en Canarias. Portuguesismos, Las Palmas, 1991; Felipe FERNANDEZ-ARMESTO, ob. cit., 14-19.
19. Pedro MARTINEZ GALINDO, Protocolos de Rodrigo Fernandez (1520-1526). Primera parte, La Laguna, 1982, pp. 67, 84-90; Guilhermo CAMACHO Y PÉREZ GALDOS, "El cultivo de la cana
de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) in Anuario de Estudios Atlanticos, n1 7, 1961, 35-38; Maria LUISA FABRELLAS, "La producción de azúcar en Tenerife" in Revista de
História, n1 100, 1952, 454/475.
20. Cristóbal COLÓN, Textos y documentos completos, Madrid, 1984, p. 160.
pelo Funchal no decurso da terceira viagem em Junho de 1498 21 . É muito provável
a presença de socas de canas da Madeira na bagagem dos agricultores que o
acompanharam. Neste momento a cultura dos canaviais havia adquirido o seu
apogeu na ilha mantendo-se uma importante franja de canaviais ao longo da
vertente sul.
A tradição anota que as primeiras socas de cana enviadas para o Novo Mundo
saíram de La Gomera. Todavia, a cultura encontrava-se aí em expansão, enquanto
na Madeira estava já consolidada. Por outro lado estão ainda por descobrir as razões
que conduziram Colombo, no decurso da terceira viagem, a fazer um desvio da rota
para escalar o Funchal. Na verdade, a Madeira foi a primeira área do Atlântico onde
se cultivou a cana-de-açúcar que, depois, partiu à conquista das ilhas (Açores,
Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e Antilhas) e continente americano. Por isso mesmo
o conhecimento do caso madeirense assume primordial importância no contexto da
História e geografia açucareira dos séculos XV a XVII.

Em princípios do século XVI deram-se os primeiros passos no arroteamento das


terras de Vera Cruz, mais tarde o Brasil. Mais uma vez, é notada a presença dos
canaviais e dos madeirenses como os seus obreiros. A coroa insistiu junto dos
madeirenses no sentido de criarem as infra estruturas necessárias ao incremento da
cultura. Aliás, o primeiro engenho aí erguido por iniciativa da coroa contou com a
participação dos madeirenses. Em 1515 a coroa solicitava os bons ofícios de alguém
que pudesse erguer no Brasil o primeiro engenho. Em ofício à casa da Índia
reclamava-se “um homem pratico capaz de ir ao Brasil dar principio a um engenho
de açúcar”. Em 1555 foi construído pelo madeirense João Velosa um engenho a
expensas da Fazenda Real.

O engenho de S. Jorge dos Erasmos, na Ilha de S. Vicente, foi feito com a mão
engenhosa de madeirenses 22 . Esta aposta da coroa na rentabilização do solo
brasileiro através dos canaviais levou-a condicionar a fuga de mão-de-obra
especializada, que então se fazia na Madeira. Assim, em 1537 os carpinteiros de
engenho da ilha estavam proibidos de ir à terra dos mouros. Com tais
condicionantes e colocados perante o paulatino decréscimo da produção açucareira
na ilha, muitos madeirenses foram forçados a ir ao encontro dos canaviais
brasileiros. Em Pernambuco e na Baía, entre os oficiais e proprietários de engenho,
pressente-se a presença madeirense. Alguns destes madeirenses foram importantes
proprietários de engenho como foi o caso de Mem de Sá ou de João Fernandes
Vieira, o libertador de Pernambuco 23 .

O COMÉRCIO ATLÂNTICO E O AÇÚCAR. O desenvolvimento sócio-


económico do mundo insular articula-se de modo directo, com as solicitações de
economia euro-atlântica: primeiro região periférica do centro de negócios europeus,
ajustou o seu desenvolvimento económico às necessidades do mercado europeu e às
carências alimentares europeias, depois, mercado consumidor das manufacturas de
produção continental em condições vantajosas de troca para o velho continente e,
finalmente, intermediário nas ligações entre o Novo e Velho Mundo. A partir de
princípios do século XVI, o Mediterrâneo Atlântico define-se como centro
fundamental de contacto e apoio ao comércio africano, Índico e americano.
21. Fray Bartolomé de las CASAS, Historia de las Indias, Vol. I, México, 1986, p. 497.
22
. Cf. Revista USP, nº.41, 1989. Sobre a presença madeirense no Brasil veja-se Maria L. Santos, Os Madeirenses na
Colonização do Brasil, Funchal, 1999.
23
. José Antônio Gonsalves de Mello, João Fernandes Vieira. Mestre de Campo do Terço de Infantaria, Lisboa, 2000.
A tudo isto acresce que os interesses da burguesia e aristocracia dirigente peninsular
entrecruzam-se no processo de ocupação e valorização económica das novas
sociedades e economias insulares. Esta componente peninsular é reforçada com a
participação da burguesia mediterrânica, atraída por novos mercados e pela fácil e
rápida expansão dos seus negócios. Por isso, um grupo de italianos, mais ou menos
ligados às grandes sociedades comerciais mediterrânicas, participa activamente no
processo de reconhecimento, conquista e ocupação do novo espaço atlântico. Com
efeito, eles interessaram-se pela conquista do arquipélago canário, expedições
portuguesas de exploração geográfica e o comércio ao longo da costa ocidental
africana. A sua penetração no mundo insular ficou facilitada e favoreceu a sua
posição muito importante na sociedade e economia insulares.
O investimento de capital de origem mercantil, nacional ou estrangeiro surgiu
apenas numa óptica da nova economia, sendo gerador de novas riquezas adequadas
a um aproveitamento comercial de acordo com as necessidades do mercado
europeu. Assim, o comércio foi o denominador comum para os produtos a
introduzir, sendo valorizados os activadores da nova economia de mercado. Aqui, a
cana de açúcar e o cobiçado produto final, o açúcar, detém uma posição cimeira.
A Madeira foi no começo o mais importante entreposto. Os descobrimentos
aliaram-se ao comércio e, por isso, desde meados do século XV, manteve-se um
trato assíduo com o reino, activado com as madeiras, urzela, trigo e, depois, com o
açúcar e vinho. Este movimento alargou-se às cidades nórdicas e mediterrânicas,
com o aparecimento de estrangeiros interessados no comércio do açúcar.
O regime do comércio do açúcar madeirense nos séculos XV e XVI, segundo
opinião de Vitorino Magalhães Godinho, “vai oscilar entre a liberdade fortemente
restringida pela intervenção quer da coroa quer dos poderosos grupos capitalistas,
de um lado, e o monopólio global, primeiro, posteriormente um conjunto de
monopólio cada qual em relação com uma escápula de outra banda”. Deste modo o
comércio apenas se manteve em regime livre até 1469, altura em que a baixa do
preço veio condicionar a intervenção do senhorio, que estipulou o seu exclusivo aos
mercadores de Lisboa. Ao madeirense, habituado a negociar livremente com os
estrangeiros, isto não agradou. Mesmo assim o Infante D. Fernando decidiu em
1471 estabelecer o monopólio a uma companhia formada por Vicente Gil, Álvaro
Esteves, Baptista Lomelim, Francisco Calvo e Martim Anes Boa Viagem. Desta
decisão resultou um aceso conflito entre a vereação e os referidos contratadores.
Passados vinte e um anos a ilha debatia-se ainda com uma conjuntura difícil no
comércio açucareiro, pelo que a coroa retomou em 1488 e 1495 a pretensão do
monopólio, mas apenas conseguiu impor um conjunto de medidas regulamentadoras
da cultura, safra e comércio, que ocorrem em 1490 e 1496. Esta política, definida no
sentido da defesa do rendimento do açúcar, irá saldar-se mais uma vez num
fracasso, pelo que em 1498 foi tentada uma nova solução, com o estabelecimento de
um contingente de cento e vinte mil arrobas para exportação, distribuídas por
diversas escápulas europeias.
Estabilizada a produção e definidos os mercados do açúcar, a economia madeirense
não necessitava de tão rigorosa regulamentação, pelo que em 1499 o monarca
acabou com algumas das prerrogativas estipuladas no ano anterior, mantendo-se, no
entanto, até 1508 o regime de contrato para a sua venda, pois só nesta data foi
revogada toda a legislação anterior, ficando o trato em regime de total liberdade.
Assim o definiu o foral da capitania do Funchal, em 1515, ao enunciar que “Os
ditos açúcares se poderão carregar para o Levante e Poente e pera todas outras
partes que os mercadores e pessoas que os carregarem aprouver sem lhe isso ser
posto embargo algum”.
A Madeira atraiu a primeira vaga de mercadores forasteiros, mercê da prioridade
atribuída à cultura dos canaviais no processo de ocupação. Só o impediram as
ordenanças limitativas da sua residência na ilha. Em meados do século XV a coroa
facultou a entrada e fixação de italianos, flamengos, franceses e bretões, por meio
de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado europeu para o
açúcar. Mas, o impacto e a influência destes foi lesivo para os mercadores nacionais
e coroa, pelo que se foi necessário impedir que os mesmos pudessem “asy
soltamente trautar todos”, pelo que o senhorio proibiu a sua permanência como
vizinhos. A questão foi levada às cortes de Coimbra de 1472-1473 e de Évora em
1481, reclamando a burguesia do reino contra o monopólio de facto, dos mercadores
genoveses e judeus no comércio do açúcar, propondo a sua exploração nesse regime
a partir de Lisboa.
O monarca comprometido com esta posição vantajosa dos estrangeiros, mercê dos
privilégios que lhes concedera actuou de modo ambíguo procurando salvaguardar os
compromissos anteriormente assumidos e as solicitações dos moradores do reino ao
estabelecer limitações à sua residência no reino e fazendo-a depender de licenças
especiais. Quanto à Madeira foi a impossibilidade da sua vizinhança sem licença
expressa da coroa e a interditação da revenda no mercado local. A Câmara, por seu
turno, baseada nestas ordenações e no desejo expresso dos moradores ordenara a
sua saída até Setembro de 1480, no que foi impedida pelo senhorio. Somente em
1489 foi reconhecida a utilidade da presença dos mercadores estrangeiros na ilha,
ordenando D. João II ao duque D. Manuel, então Duque de Beja, que os
estrangeiros fossem considerados como “naturaes e vizinhos de nossos regnos”.
Na década de noventa, de novo, os problemas do mercado açucareiro conduziram ao
ressurgimento desta política xenófoba. Os estrangeiros passaram a dispor de três ou
quatro meses, entre Abril e meados de Setembro, para comerciar os seus produtos,
não podendo ter loja e feitor na cidade. Somente em 1493 D. Manuel reconheceu o
prejuízo que as referidas medidas causavam à economia madeirense, afugentando os
mercadores, pelo que revogou todas interdições anteriormente impostas. As
facilidades concedidas à estadia destes forasteiros conduziram à sua assiduidade
bem como à fixação e intervenção na estrutura fundiária e administrativa.
A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira foi dominada pela presença
de italianos, flamengos e franceses, que surgiram no Funchal atraídos pelo tão
solicitado “ouro branco”. Os primeiros e, de entre eles os florentinos e genoveses
foram, desde meados do século XV, os principais agentes do comércio do açúcar
alargando depois a sua actuação ao domínio fundiário através da compra e laços
matrimoniais.
Na década de setenta, mediante o contrato estabelecido com o senhorio da ilha,
detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o comércio do açúcar,
sendo representados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer Leão. No
último quartel do século juntaram-se Cristóvão Colombo, João António Cesare,
Bartolomeu Marchioni, Jerónimo Sernigi e Luís Dória. A este grupo seguiu-se, em
princípios do século XVI, outro mais numeroso que alicerçou a comunidade italiana
residente, destacando-se, aqui, Lourenço Cattaneo, João Rodrigues Castigliano,
Chirio Cattano, Sebastião Centurione, Luca Salvago, Giovanni e Lucano Spinola. O
estrangeiro para manter a amplitude de operações comerciais nas ilhas contava com
um grupo de feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristovão
Bocollo, Matia Minardi, Capella e Capellani, João Dias, João Gonçalves e Mafei
Rogell. Note-se que o grupo inicial é, na sua maioria, constituído por italianos,
ligados ao comércio do açúcar, e que os segundos pertencem a algumas famílias
mais influentes da ilha.
Os mercadores-banqueiros de Florença destacaram-se nas transacções comerciais e
financeiras do açúcar madeirense no mercado europeu. A partir de Lisboa, onde
usufruíam uma posição privilegiada junto da coroa, controlavam uma extensa rede
de negócios que abrangia a Madeira e as principais praças europeias. Primeiro
conseguiram da Fazenda Real o quase exclusivo do comércio do açúcar resultantes
dos direitos reais por contrato directo a que se seguiu o exclusivo dos contingentes
estabelecidos pela coroa em 1498. Assim, tivemos Bartolomeu Marchioni, Lucas
Giraldi e Benedito Morelli com uma intervenção marcante no trato do açúcar, na
primeira metade do século XVI. A manutenção desta rede de negócios foi
assegurada pela acção directa dos mercadores, dos seus procuradores ou agentes
subestabelecidos. Benedito Morelli em 1509-1510 tinha na ilha, como agentes para
o recebimento do açúcar dos quartos, Simão Acciaiuolli, João de Augusta, Benoco
Amador Cristóvão Bocollo e António Leonardo. Marchioni em 1507-1509 fazia-se
representar em operações idênticas por Feducho Lamoroto. João Francisco Affaitati,
cremonês, agente em Lisboa de uma das mais importantes companhias comerciais
da época, participou activamente neste comércio entre 1502 e 1526, por meio de
contratos de compra e venda dos açúcares dos direitos reais (1516-1518, 1520-1521
e 1529) e pagamentos em açúcar a troco de pimenta. O mesmo actuou, ainda, em
sociedade com Jerónimo Sernigi, João Jaconde, Francisco Corvinelli e Janim
Bicudo, quer isoladamente, tendo para o efeito como feitores e procuradores na ilha,
Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão Bocollo, Capela de Capellani, João Dias,
João Gonçalves, Matia Manardi e Maffei Rogell.
A penetração deste grupo de mercadores na sociedade madeirense foi muito
acentuada. O usufruto de privilégios reais, o relacionamento familiar favoreceram a
sua mistura com a aristocracia terratenente e administrativa. A sua intervenção é
notada na estrutura administrativa, abrangendo os domínios mais elementares do
governo, como a vereação e as repartições da fazenda, todas com intervenção
directa na economia açucareira. Foram maioritariamente proprietários e mercadores
de açúcar. Instalaram-se nas terras de melhor e maior produção e tornaram-se nos
mais importantes proprietários de canaviais. Assim, sucedeu com Rafael Cattano,
Luís Dória, João e Jorge Lomelino, João Rodrigues Castelhano, Lucas Salvago,
Giovanni Spinola, João Antão, João Florença e Simão Acciaiuolli e Benoco
Amatori.
Os franceses e flamengos, a exemplo dos italianos, surgiram na ilha, desde finais do
século XV, atraídos pelo rendoso comércio do açúcar. Não se enraizaram na
sociedade insular mantendo uma condição errante. O seu interesse é única e
exclusivamente a aquisição do açúcar a troco dos seus artefactos, alheando-se da
realidade produtiva e administrativa. O caso de João Esmeraldo é a excepção. Os
franceses afirmaram-se pelas operações de troca em torno do açúcar, enquanto os
flamengos mantiveram uma posição subalterna e mesmo como grupo interveniente
no mercado madeirense. Os franceses tiveram uma presença muito activa no
comércio do açúcar, na primeira metade do século XVI. Eles surgiam com
frequência nas comarcas do Funchal, Ponta do Sol, Ribeira Brava e Calheta, onde
adquiriam grandes quantidades de açúcar que transportavam aos portos franceses
nas suas embarcações. Neste trato evidenciaram-se mestre António, Archelem,
António Coyros, António Caradas e Francisco Lido. Os últimos aliaram a Madeira à
rede de negócios das Canárias como ramificação das praças nórdicas e andaluzas.
As escápulas, até 1504, e o produto dos direitos reais foram canalizados ao mercado
europeu, quer por carregação directa, quer ainda, por negócio livre ou a troco de
pimenta. Este açúcar era arrendado por mercadores ou sociedades comerciais,
sedeados em Lisboa, sendo de destacar a actuação dos italianos, como João
Francisco Affaitati e Lucas Salvago. As operações comerciais em torno do açúcar,
no período de 1501 e 1504, estiveram centralizadas em mercadores ou sociedades
comerciais que, a partir de Lisboa, controlaram este trato por meio de uma
complicada rede de feitores ou procuradores. A sua intervenção, dominante nos três
primeiros decénios do século, decresceu de forma acentuada na última década. Isto
atesta que os mercadores estrangeiros, em face da conjuntura de instabilidade do
mercado açucareiro madeirense nos primeiros trinta anos, fizeram-no substituir pelo
de outras origens.
A comunidade italiana controlava a quase totalidade do comércio do açúcar com as
principais praças europeias sendo seguida da portuguesa e da castelhana. Os
mercadores nórdicos não apresentam uma posição de relevo nestas operações. Isto
demonstra, mais uma vez, que a rota e mercado flamengo mantive-se sob o controlo
da nossa feitoria. No período de 1490 a 1550 os italianos detiveram o exclusivo do
comércio na primeira década e uma posição dominante nas duas seguintes, sendo
substituídos pelos portugueses na década de trinta, e também por castelhanos e
franceses. Ainda, no grupo dos mercadores estrangeiros nota-se uma tendência
concentracionista, pois apenas os cinco principais detiveram 71% do açúcar
transaccionado. Todos eles apresentam valores superiores a dez mil arrobas,
enquanto nos nacionais apenas um tem mais de 1080 arrobas.
João Francisco Affaitati, mercador cremonês de família nobre, chefe da sucursal em
Lisboa da companhia Affaitati, uma das principais dessa praça, surge no período de
1502 a 1529 como o principal activador do comércio do açúcar madeirense, tendo
transaccionado sete vezes mais açúcar que todos os portugueses. Durante este
período, arrematou em 1502, as escápulas de Águas Mortas, Liorne, Roma e
Veneza. Conjuntamente com Jerónimo Sernigi, João Jaconde e Francisco Cornivelli
conseguiu a venda do açúcar dos direitos (1512-1518, 1520-1521, 1529) e actuou
em operações diversas de compra directa de açúcar e da sua troca por pimenta ou
dívidas. Para manter esta amplitude de actividades comerciais contava na ilha com
um grupo numeroso de feitores ou procuradores. Por outro lado aceitou procuração
de Garcia Pimentel, Pedro Afonso de Aguiar e João Rodrigues de Noronha.
A rede de negócios funchalense, em torno do trato do açúcar, foi criada e
incentivada pelo mercador estrangeiro, alemão ou italiano, que aí aportou depois da
reconfortante e vantajosa escala em Lisboa. Ele controlou as principais sociedades
intervenientes no comércio açucareiro, não obstante ter morada em Lisboa, Flandres
ou Génova. O seu domínio atingiu, não só, as sociedades criadas no exterior com
intervenção na ilha, mas também, o grupo de agentes ou feitores e procuradores
substabelecidos no Funchal. A escolha era criteriosa: primeiro os familiares, depois
os compatrícios enraizados na sociedade e só, depois, os madeirenses ou nacionais.
A dimensão das principais casas intervenientes no trato açucareiro madeirense pode
ser definida a partir do número de representantes. E aqui destacam-se Baptista
Morelli, B. Marchioni, Welser, Claaes, Charles Correa, Pero de Ayala e Pero de
Mimença. Os Welsers e Claaes actuaram na praça do Funchal por intermédio de
agente estabelecido em Lisboa, respectivamente, Lucas Rem e Erasmo Esquet, que
depois substabeleceram feitores residentes no Funchal. O primeiro tinha, em
princípios do século XVI, como interlocutores no Funchal João de Augusta, Bono
Bronoxe, Jorge Emdorfor, Jácome Holzbuck, Leo Ravenspurger e Hans Schonid.
Estes procuradores e feitores, na condição de interlocutores dos mercadores
europeus não se ligavam apenas a uma sociedade, pois alargavam a sua acção a um
grupo numeroso de societários.

A COMUNIDADE SEFARDITA DA MADEIRA E O AÇÚCAR NO


ATLÂNTICO. No Portugal dos séculos XV e XVI a presença de comunidade
sefardita era importante detendo um papel destacado na economia e finanças 24 .
Note-se que judeu era sinónimo de negociante 25 . O despoletar do processo dos
descobrimentos atlânticos e os consequentes mercados e rotas comerciais fez com
que a sua atenção estivesse para aí virada detendo idêntico protagonismo 26 . Neste
contexto, a Madeira, porque assumir um papel evidente em todo o processo, foi o
primeiro pólo de atracção desta comunidade. As perspectivas eram promissoras,
pois o lançamento em meados do século XV da cultura açucareira transformou a
Madeira num dos principais mercados atlânticos. A atracção principal era o açúcar
que tinha mercado assegurado no Mediterrâneo e norte da Europa. Por ele a
Madeira acolheu, primeiro judeus, genoveses e venezianos e, depois, flamengos e
franceses. Com o açúcar estavam encontrados os ingredientes fáceis para atrair os
agiotas da finança e comércio internacional.

Um dos factos comprovativos do interesse da comunidade sefardita pelo açúcar


revela-se em meados do século XVI em que a crise da produção madeirense fez
alargar a diáspora a novos mercados mais promissores como Pernambuco no Brasil.
Para a comunidade judaica a Madeira foi o primeiro alvo da expansão europeia que
os levou depois aos quatro cantos do Novo Mundo, acompanhando o rasto do
açúcar e do tráfico dos escravos no espaço atlântico. Perante isto importa conhecer
qual o papel que estes assumiram neste primeiro poiso da diáspora atlântica. Até ao
estabelecimento do tribunal de inquisição em Portugal (1536) não é fácil identificar
a comunidade judaica na documentação. Todavia a sua presença fazia-se sentir de
forma evidente em múltiplos domínios de sociedade e economia portuguesa. A
evidente xenofobia, testemunhada pela documentação, fazia com estes procurassem
iludir as suas crenças religiosas, apagando todo o rasto possível. Apenas com a
instituição do tribunal do santo ofício foi possível estabelecer o rasto do grupo
convertido ou não ao Cristianismo 27 .

A Madeira não foge à regra e a xenofobia é uma das armas usadas entre a
concorrência das diversas sociedades mercantis. Na década de sessenta o principal
alvo dos madeirenses foi os judeus e genoveses porque monopolizavam o comércio
do açúcar. Em 1461 os moradores solicitaram ao infante D. Fernando a proibição da
sua actividade na ilha, como compradores de açúcar ou arrendatários dos direitos 28 .
É fácil encontrar os judeus em ligação estreita aos genoveses, controlando parte
significativa do comércio dos novos espaços atlânticos. A sua presença nas ilhas é
evidente desde os inícios da ocupação. Difícil é encontrar o rasto da sua presença,

24
. A Bibliografia é extensa. Aqui destacamos apenas os textos de Maria José Ferro Tavares. Vide Bibliografia no final.
25
. cf. José G. Salvador, Os Cristãos-novos e o comércio no Atlântico meridional, S. Paulo, 1978, 149; António José Saraiva,
Inquisição e Cristãos Novos, Lisboa, 1994, 134-135.
26
. Vide Maria José Ferro Tavares, os judeus na época dos descobrimentos, Lisboa, 1995.
27
. Para a Madeira não existe estudo completo sobre a inquisição como é o caso de Paulo Braga, A Inquisição nos Açores,
P.D., 1997.
28
. AHM, Vol. XV, 1972, 14-15, 3 de Agosto de 1461.
pois tal como nos diz José Gonçalves Salvador 29 “muitos vão para as ilhas e se
acobertam sob a capa de cristãos”.

Os judeus estão envolvidos em todas as actividades, todavia, como nos refere Maria
José Ferro Tavares, “a actividade mercantil e a ocupação principal”. E dentro
destas parece que tiveram uma predilecção especial pelos negócios baseados no
açúcar. Pelo menos é a opinião de José Gonçalves Salvado 30 , que é peremptório em
afirmar que “os hebreus sefarditas aparecem identificados com as actividades
ligadas ao açúcar primeiro nas ilhas adjacentes a Portugal e depois nas demais
possessões”.

A estratégia dos judeus para o domínio do mercado açucareiro do espaço atlântico


passou por uma estreita aliança com os mercadores flamengos e italianos
nomeadamente os genoveses. Esta aliança foi denunciada nas Cortes de 1471-72,
mas continuou nos decénios seguintes. No caso do comércio do açúcar da Madeira é
comum encontrar-se esta forma de actuação. Assim, quando o comércio do açúcar
estava sujeito a um monopólio da Coroa entregue a sociedades estes surgem aliados
aos Leme, Lomellini e Marchione. No caso do comércio do açúcar com a Flandres
foi uma sociedade entre os Leme e Abravanel que controlou o processo. Já para as
cidades italianas foram Moisés Latam e Guedelha Palaçam que se associaram a B.
Marchione.

De acordo com o livro de estimos do açúcar do Funchal em 1494 31 é evidente a


presença de judeus, como Isaac Abeacar, Moisés Benagaçam e David de Negro nas
transacções açucareiras, representados na ilha através de procuradores italianos
como era o caso de Dinis Sernige, Lucas César, Sisto Lomellini. Ainda, segundo V.
Rau, os judeus junto com outros estrangeiros, aqui dominados pelos genoveses,
dominavam em 1494 as transacções açucareiras com 11.373 arrobas, o equivalente
a 64% do total em causa 32 . Esta posição não está longe da realidade desta e
posterior centúria, uma vez que os dados por nós apurados entre 1490 e 1550
apontam de novo para a esmagadora presença dos mercadores italianos com 80%
das operações comerciais do açúcar madeirense 33 .

Não obstante ser visível as operações de judeus e cristãos novos no Funchal, apenas
foi possível identificar os seguintes mercadores com este rótulo:

MERCADOR DATAS Açúcar Obs.


arrobas
Vicente Afonso 1569-91
Fernão Álvares 1555-66 211 Natural de Olivença
Luís Álvares 1591 vizinho de Santa Cruz
Francisco Fernandes Cea 1591 Loja Rua dos Mercadores
Gaspar Fernandes 1509-94 240
Manuel Gonçalves 1554-70 Natural de Guimarães
Gaspar Lopes Homem 1560-02 Natural de Ponte Lima
Niculau Nunes 1591
Álvaro Nunes 1594-617
António Pereira 1530-86 Natural de Braga, feitor da alfândega e rendeiro
Diogo Lopes Pereira 1585-94 Vizinho de Nossa Senhora do Calhau

29
. Os cristãos novos e o comércio Atlântico Meridional, S. Paulo, 1978, 246.
30
. Os magnatas do Tráfico Negreiro, S. P., 1981, 87.
31
. Publ. V. Rau, O açúcar na Madeira, Funchal, 1962.
32
. Ob.cit., p. 24
33
. O Comércio Inter-Insular, Funchal, 1987, 130.
Diogo Rodrigues, o velho 157,5
Duarte Rodrigues 1509-94 158
Manuel Rodrigues 1594
Francisco Roiz Tavira 1576-626
João Roiz Tavira 1568-626
Rodrigo de Veiga 1594 Natural da ilha residente em Lisboa
Francisco Roiz Vitória 34 1591

Os aferidores mais importantes da religiosidade dos madeirenses são, sem dúvida,


os testemunhos exarados, primeiro nos diversos livros das visitações e depois nos
processos perante o Santo Ofício. A inquisição exercia a actividade através do
tribunal de Lisboa, a quem pertencia todo o espaço atlântico. A acção do tribunal
nestas paragens não era permanente e fazia-se através de visitadores aí enviados. Na
Madeira e nos açores realizaram-se três visitas: em 1575 por Marcos Teixeira, em
1591-93 por Jerónimo Teixeira Cabral e em 1618-19 por Francisco Cardoso Tornéo,
mas só é conhecida a documentação das duas últimas. Nas ilhas foi evidente a
conivência das autoridades com a presença da comunidade judaica, o que resultou
em facilidades à sua fixação quando perseguidos no reino. Em finais do século
dezasseis foram arrolados 94 cristãos novos, mas em 1618 o seu número não passou
de 5, quando sabemos que em 1620 eram 58 os judeus que pagava a taxa. A
presença da comunidade judaica era evidente. Os judeus, maioritariamente
comerciantes, estavam ligados, desde o inicio, ao sistema de trocas nas ilhas, sendo
os principais animadores do relacionamento e comércio a longa distância.

A criação do tribunal do Santo Ofício em Lisboa conduziu a que os judeus


avançassem no Atlântico à frente das perseguições: primeiro nas ilhas e depois no
Brasil. Tal diáspora fez-se de acordo com os vectores da economia atlântica pelo
que deixavam atrás um rasto evidente na sua rede de negócios. O açúcar foi sem
dúvida um dos principais móbeis da sua actividade nas ilha e no Brasil. O
relacionamento destes espaços com os portos nórdicos conduziu a uma maior
permeabilidade às ideias protestantes, o que gerou inúmeras cuidados por parte do
clero e do Santo Ofício. A incidência do comércio da Madeira no açúcar, pastel e
vinho conduziu ao estabelecimento de contactos assíduos com os portos da Flandres
e Inglaterra, que não era bem visto pelo tribunal. Isto deverá ter favorecido a
presença de uma importante comunidade, o que veio a avolumar as preocupações
dos inquisidores. As perseguições movidas pelo Santo Ofício conduziram a que
muitos destes judeus se refugiassem nas ilhas Canárias, Cabo Verde, S. Tomé e,
finalmente o Brasil. A juntar a isto está a crise da produção açucareira madeirense
em contrastante com a promissora cultura nas terras brasileiras que conduziu a que a
diáspora se alargasse até aqui. E de novo os judeus estam ligados à produção
açucareira 35 .

CONCLUSÃO. A Madeira assumiu um papel fundamental na expansão do açúcar


no espaço Atlântico e na definição das principais rotas e mercados do produto. O
ensaio da cultura na ilha provou as suas elevadas possibilidades económicas no
novo espaço, fruindo de terrenos férteis e de novas condições, como o recurso
massivo à escravatura, que propiciaram a produção e comércio em larga escala. Foi

34
. É o único sob o designativo de judeus, os demais são cristãos-novos.
35
. MELLO, José António Gonsalves de, Gente da nação: cristãos-novos e judeus em Pernambuco, Recife:, 1989;
RIBEMBOIM, José Alexandre, Senhores de Engenho judeus em Pernambuco colonial 1542-1654, Recife, 1995;
SALVADOR, José Gonçalves, Os Cristãos-Novos. Povoamento e Conquista do Solo Brasileiro (1530-1680), S. Paulo, 1976.
na Madeira que o açúcar iniciou uma nova fase de fulgor que animou a economia
atlântica. Os madeirenses podem ser com propriedade definidos como os seus
arautos da expansão atlântica, mas foram os genoveses e venezianos que nos
legaram o mercado. A eles juntam-se os judeus que fugidos da Inquisição
acompanharam o processo de avanço da cultura para o Sul e Ocidente.

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-"O açúcar na Madeira. séculos XVII e XVIII", in III CIHM, Funchal, 1993,
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- A Rota do Açúcar na Madeira, Funchal, 1996

WITTE, Charles-Martial de, "La production du sucre a Madère au XVeme siècle


d'après un rapport au capitaine de l'ille au Roi Manuel Ier", in Bulletin des Études
Portugaises et Brésiliennes, n.° 42-43, Lisboa, 1981-1986.

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