Você está na página 1de 44

y ©

PSICÓPIO
psicópio

REVISTA VIRTUAL DE
PSICOLOGIA HOSPITALAR
E DA SAÚDE

Editor
Susana Alamy

Ano 3 - Número 5 - Fevereiro a Julho-2007


Edição Semestral - Distribuição Gratuita
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral - Distribuição Gratuita
Ano III, Número 5, Fevereiro a Julho-2007

Editor: Susana Alamy


Idealização e Realização, Capa, Editoração Eletrônica, Diagramação e Arte Final: Susana Alamy
WebMaster: Carlos Alexandre de Melo Pantaleão

Conselho Editorial:
Susana Alamy - psicóloga clínica e hospitalar, psicoterapeuta, professora de psicologia hospitalar e supervisora de
estágios em Belo Horizonte/MG. CRPMG 6956
Elisângela Lins - psicoterapeuta, psicóloga clínica e hospitalar, professora de psicologia do CESUR – Centro de Ensino
Superior de Rondonópolis. CRPMT 1281-2
Luciane Jordão Pereira - psicoterapeuta, psicóloga clínica, gestora em saúde da Prefeitura Municipal de Itabira/MG.
CRPMG 18744
Glenda Rose Gonçalves-Chaves - advogada, bacharel em Letras, mestre em Direito Internacional e Comunitário (PUC-
Minas), mestre em Literatura Brasileira (UFMG), professora de Direito Constitucional.

Direitos Autorais
Os direitos autorais dos artigos publicados pertencem ao Editor de Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e
da Saúde, Susana Alamy. Copyright © Susana Alamy. Todos os direitos reservados. Esta revista é protegida por leis de
Direitos Autorais (Copyright) e Tratados Internacionais. É permitida a sua duplicação ou a reprodução deste volume,
em qualquer meio de comunicação, eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia ou impresso, desde que integralmente. A
reprodução parcial poderá ser feita somente mediante a autorização expressa dos autores dos artigos e do editor da
revista.

Para citação da revista na bibliografia:


ALAMY, Susana (Ed.). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.3, n.5, fev-jul
2007. Disponível em: <http://br.geocities.com/revistavirtualpsicopio/>. Acesso em: (dia em números) (mês abreviado
em letras minúsculas) (ano).

Para citação de artigos da revista na bibliografia - modelo:


(Sobrenome do autor em letras maiúsculas), (nome do autor com a 1ª. letra maiúscula e as demais minúsculas). (Nome
do artigo em letras comuns). Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, Belo Horizonte, a.3, n.5,
fev-jul 2007. Disponível em: <http://br.geocities.com/revistavirtualpsicopio/>. Acesso em: (dia em números) (mês
abreviado em letras minúsculas) (ano).

Fale com o Editor


E-mail: revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br ou susanaalamy @yahoo.com.br
Correios: Av. Prudente de Morais, 290 sl. 810
Bairro Cidade Jardim
30380-000 Belo Horizonte / MG
Telefone: (31) 8774-3028

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. i
PSICÓPIO: REVISTA VIRTUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR E DA SAÚDE
Revista Semestral – Distribuição Gratuita
Ano III, Número 5, Fev-Jul-2007

SUMÁRIO

Editorial ............................................................................................................................................................................................... iii

O brincar e suas conseqüências no contexto hospitalar .............................................................................................................. 05


Dâmaris Campos Teixeira (Belo Horizonte/MG)

Luto na infância: algumas considerações à luz da teoria do Édipo em Lacan ........................................................................ 09


Carolina Alves Rezende (Salvador/BA)

O psicólogo hospitalar brasileiro: uma visão da representação enquanto profissional ......................................................... 15


Cláudia Furtado Borges (Uberlândia/MG)
Vanessa Coelho de Sousa (Uberlândia/MG)

Aspectos psicológicos que predispõem ao aparecimento e desenvolvimento do câncer ...................................................... 19


Marta Betania Cardoso Tavares Luzete (Brasília/DF)

Humanização hospitalar e qualidade do atendimento ................................................................................................................. 26


Mariana Amaral Guerra (Brasília/DF)

O trabalho da psicologia no ambulatório de angiologia ............................................................................................................. 27


Danielle Silva Veiga (Rio de Janeiro/RJ)

O abandono ao idoso ......................................................................................................................................................................... 31


Rose Mary Vilas Boas Tanajura Costa (Vitória da Conquista/BA)

Minha primeira intervenção hospitalar com criança - relato de caso ....................................................................................... 34


Luiza Gutz (Florianópolis/SC)

Legislação brasileira sobre saúde - Principais dispositivos constitucionais sobre direito à saúde ...................................... 36

Lançamento de livro - Ensaios de Psicologia Hospitalar .......................................................................................................... 38

Links - Conselhos de Psicologia ..................................................................................................................................................... 40

Eventos ................................................................................................................................................................................................ 41

Normas para envio de artigos .......................................................................................................................................................... 42

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. ii
EDITORIAL

É com grande satisfação que trazemos para os leitores a 5ª. edição da Psicópio: Revista Virtual de Psicologia
Hospitalar e da Saúde, já em seu 3º. ano de publicação. Sentimo -nos gratificados pelo nosso esforço em manter a
periodicidade proposta, uma vez que sabemos das dificuldades em manter uma revista gratuita e sem patrocínios. E
agradecemos a todos os colaboradores -autores, pois sem esses seria impossível continuar nesta empreitada.

Nossos objetivos são: promover o intercâmbio de informações, dar acesso ao conhecimento de maneira globalizada e
irrestrita, respeitar as opiniões divergentes e aprender com cada uma delas. Assim, temos alcançado cada um desses ao
longo dos três anos de publicação.

Agradecemos os inúmeros e-mails recebidos, sempre incentivadores e motivadores, demonstrando a importância da


Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde na formação e na vivência de cada um dos seus leitores.

Em uma era globalizada onde temos visto abismos cada vez maiores entre os povos, os ideais e as ações, ficamos
honrados em poder oferecer uma revista que idealiza um mundo de paz, harmonia, responsabilidade e ética, sem ônus
algum para os leitores, pois se trata de uma publicação que pode ser baixada gratuitamente através da internet ou
consultada nas bibliotecas universitárias.

Sempre recebemos muito material para publicação e todos são analisados criteriosamente, os que fogem ao propósito
desta revista podem ser revistos pelos seus autores e reencaminhados para nova avaliação, os que são aprovados são
publicados nos números seguintes. Muitas vezes publicamos o material encaminhado em números posteriores, pois não
temos como publicar todos no mesmo número, em outras vezes são deixados propositalmente para frente para que
tenhamos artigos com o mesmo tema em edições diferentes.

A partir deste número estaremos publicando a legislação referente à saúde. Para isso solicitamos a colaboração de todos
no sentindo de nos enviar a legislação de que tem conhecimento.

Trazemos neste número os artigos: O brincar e suas conseqüências no contexto hospitalar (Dâmaris Campos Teixeira),
Luto na infância: algumas considerações à luz da teoria do Édipo em Lacan (Carolina Alves Rezende), O psicólogo
hospitalar brasileiro: uma visão da representação enquanto profissional (Cláudia Furtado Borges, Vanessa Coelho de
Sousa), Aspectos psicológicos que predispõem ao aparecimento e desenvolvimento do câncer (Marta Betania Cardoso
Tavares Luzete), Humanização hospitalar e qualidade do atendimento (Mariana Amaral Guerra),O trabalho da
psicologia no ambulatório de angiologia (Danielle Silva Veiga), O abandono ao idoso (Rose Mary Vilas Boas Tanajura
Costa), Minha primeira intervenção hospitalar com criança - relato de caso (Luiza Gutz), Legislação brasileira sobre
saúde: principais dispositivos constitucionais sobre direito à saúde, lançamento do livro “Ensaios de Psicologia
Hospitalar”, agenda de eventos e links interessantes. Temas que não se esgotam e que poderão ser trazidos novamente
nos próximos números.

Agradecemos a todos que colaboraram nesta edição, aos pacientes , aos professores e supervisores que incentivam seus
alunos a produzirem e publicarem seus escritos, prática que muito valorizamos.

A responsabilidade pelos artigos publicados é inteira mente de seus autores e as opiniões expressadas nos mesmos não
necessariamente condizem com a opinião do Editor.

Todas as correspondências deverão ser encaminhadas para a Psicópio, e-mail: revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br. Os


e-mails que forem dirigidos aos autores das matérias publicadas serão repassados aos mesmos.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. iii
Desejamo -lhes uma boa leitura e esperamos sua colaboração com o envio dos seus escritos para a Psicópio: Revista
Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde.

Sejam bem-vindos!!!

Com o meu abraço,

Susana Alamy
Verão de 2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. iv
O BRINCAR E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NO CONTEXTO HOSPITALAR 1
Dâmaris Campos Teixeira 2
Orientadora: Susana Alamy

O brincar

O brincar, visto a partir de diferentes teorias, aparece como funções diversas na vida da criança e, por conseguinte,
resulta em diferentes conseqüências. Não é objetivo de este artigo explicitar minuciosamente cada teoria, mas citá-las
de maneira breve para facilitar o leitor a situar-se a respeito de algumas das diversas formas de se pensar sobre o brincar
e, posteriormente descrever os benefícios de utilizar-se de recursos lúdicos com crianças hospitalizadas.

Freud diz que o ato do brincar fica a cargo do princípio de prazer, satisfazendo a compulsão à repetição pela
aprendizagem que se consegue através do brinquedo e pelo prazer orig inado da repetição (Soifer, 1985). Além do mais,
a partir da brincadeira, é possível à criança sair do seu lugar de passiva e encarar uma postura mais ativa (Freud, 1926).

A criança estabelece a diferença entre o mundo real e o imaginário, e sente prazer ao conseguir fazer elo entre os
mundos. Assim, é dada à criança uma possibilidade de reordenar o mundo do seu jeito, de tal forma, que o princípio de
prazer se sobreponha ao princípio de realidade3 .

O brincar, para este teórico, estaria na margem da realidade, sendo constituído pela fantasia e realidade, mescladas,
sendo uma das fontes de realização de desejos.

Ao contrário de Freud, Vygotski, com sua perspectiva sócio-histórica, relata que o brincar não é uma atividade que visa
o prazer, porém, este pode aparecer em decorrência dessa. Considera que outras experiências, que não a brincadeira, são
favorecedoras ao prazer, e, que, nem toda brincadeira é tida como prazerosa. Em seu livro “A Formação Social da
Mente” (1994), Vygotski cita como exemplo os pré-escolares, que por estarem em uma fase do desenvolvimento
voltadas para a realidade de si mesmos, só terão prazer mediante brincadeiras que impliquem em resultados
considerados favoráveis.

Acrescenta que o brinquedo propicia uma zona de desenvolvimento proximal (ZDP)4 dando oportunidade à criança de
se comportar de maneira além dos seus comportamentos diários e compatíveis com sua idade. O brinquedo possui todas
as tendências do desenvolvimento de forma sintetizada, sendo ele mesmo propício ao desenvolvimento. Sendo assim,
ao possibilitar à criança uma atuação maior do que é na realidade, o brinquedo pode ser visto como uma fonte para o
desenvolvimento do pensamento abstrato.

1
Artigo desenvolvido como requisito no encerramento do Curso Virtual de Psicologia Hospitalar, ministrado pela psicóloga Susana
Alamy.
2
Graduanda de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais - UFM G
3
De acordo com Laplanche e Pontalis (2001), princípio de prazer é um dos princípios que determinam o funcionamento mental,
considerando que a atividade psíquica tem por objetivo evitar o desprazer, em virtude do prazer. Assim, o princípio de prazer não
obedece a nenhuma instância psíquica e não poupa esforços para se realizar. O princípio da realidade funciona modificando o
princípio do prazer e impondo-se como princípio regulador, procurando o desprazer de forma que o prazer possa ser adiado em
detrimento das condições impostas pelo mundo exterior.
4
Para que se entenda o conceito de zona de desenvolvimento proximal é fundamental que se compreenda os conceitos de nível de
desenvolvimento real e potencial. O nível de desenvolvimento real é a capacidade da criança de realizar tarefas independentemente.
São as etapas já conquistadas pelo desenvolvimento. O nível de desenvolvimento potencial diz respeito às capacidades da criança de
resolver tarefas com o auxílio de um companheiro que seja mais capaz em realização das mesmas. Faz referência às etapas nas quais
o desenvolvimento ainda não alcançou. A zona de desenvolvimento proximal é o caminho que as funções imaturas, mas que estão em
processo de maturação, irão percorrer para se consolidar no nível de desenvolvimento real. É a distância entre o desenvolvimento real
e potencial. (Oliveira, 1998).

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 5
Mais do que uma forma de distração, o brincar aparece como uma forma de transmissão de seus pensamentos. Então, a
partir das brincadeiras pode-se fazer várias inferências a respeito do seu estado psíquico.

O brincar na instituição hospitalar

A hospitalização tem um impacto na vida da criança, levando a uma modificação em seu comportamento devido ao
novo ambiente estranho, a traumas da doença e desconhecimento quanto aos procedimentos médicos e, ou, cirúrgicos.

Frente a esta situação, a criança se afasta do seu cotidiano, seu ambiente familia r, bem como passa a confrontar com a
realidade do seu sofrimento. O aparecimento de alguns agravantes decorrentes de sua enfermidade ou tratamento pode
tornar sua hospitalização ainda mais angustiante. De acordo com Motta e Enumo (2002), sintomas como vômito, febre e
mal-estar em geral, que podem aparecer em decorrência do tratamento, constituem-se como uma segunda doença.
Observação de comportamentos depressivos, de agressão, não colaboração ao tratamento, entre outros, podem ser
indícios de tais problemas.

Neste contexto, é necessário a atuação do psicólogo, para que propicie uma redução da ansiedade do paciente frente ao
tratamento, não apenas enfocando aspectos emocionais envolvidos, mas também auxiliando-o a lidar com aspectos
negativos referentes à hospitalização.

O brincar surge, então, como uma possibilidade de alterar o dia-a-dia da internação de crianças, uma vez que além de
ser utilizado para fins terapêuticos, realiza fantasias e possui alto potencial recreativo.

São diversas as técnicas utilizadas por profissionais, ou não, para que a hospitalização da criança ocorra de forma
menos penosa e mais adaptativa ao meio infantil. Há dezenas de grupos formados por estudantes da área da saúde que
se mobilizam e conciliam um horário destinado às crianças internadas para transmitir-lhes um pouco de carinho e afeto.
Métodos como cura através do riso, teatro do clown5 , contadores de histórias, etc., estão se tornando mais freqüentes.

O objetivo de tais técnicas é de transformar o meio hospitalar de modo que fique mais acolhedor e divertido para seus
pacientes. São utilizadas de diversas formas para que o riso seja constante, que haja interação entre os pacientes, bem
como com seus familiares. A partir de então, é possível à equipe de saúde ter uma comunicação mais acessível à
criança, e ainda dismitificar a atuação destes profissionais..

Um ambiente descontraído, no qual o riso e o esquecimento do seu padecimento prevalecem são proporcionados por
tais técnicas. Contudo, tais propostas possuem um caráter provisório, se tornando um método paliativo na busca de
diminuição da ansiedade frente a tal quadro. Implicaria em uma intervenção de caráter superficial, na qual o sofrimento
do paciente seria brevemente substituído pelo prazer do brincar.

A proposta deste tipo de trabalho não pode ser desconsiderada, visto que contribui para que o hospital se torna um
ambiente mais humanitário e acolhedor. Entretanto, não pode ser considerado como suficiente no processo de cura do
paciente por não trabalhar profundamente os conflitos e conteúdos emocionais referentes à internação.

Frente a estas questões, o psicólogo, utilizando das ferramentas do lúdico para suas intervenções, marca a distinção
entre “o brincar” para fins terapêuticos de fins meramente recreativos.

5
De acordo com Ana Elvira Wuon, em seu artigo “O Clown Visitador de crianças hospitalizadas: medicamento lúdico (2000), clown
significaria, grosso modo, palhaço.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 6
Na visão de Klein (citada por Aberastury, 1982), no brincar, a criança vence a realidade dolorosa e domina os medos a
partir das projeções feitas nos brinquedos. Afirma que tal estratégia é possível a partir da simbolização.

Freud, em seu artigo “Além do Princípio de Prazer” (1926), diz que “... em suas brincadeiras as crianças repetem tudo
que lhes causou uma grande impressão na vida real, e assim procedendo, ab-reagem6 a intensidade da impressão,
tornando-se, por assim dizer, senhoras da situação.”. E prossegue “...quando a criança passa para da passividade da
experiência para a atividade do jogo, transfere a experiência desagradável para um de seus companheiros de brincadeira
e, dessa maneira, vinga-se num substituto.” (Freud, 1926, p. 28).

Dessa maneira, o brincar aparece como um objeto de catarse para a criança, sendo nele descarregado todo o rancor com
relação à hospitalização. A partir da repetição dessa situação por meio da brincadeira, a criança domina sua angústia,
elabora suas resistências e, por conseguinte, reelabora sua internação.

Para que se compreenda corretamente uma brincadeira de criança, é necessária uma leitura dos significados dados ao
jogo naquele momento e contexto. Deve-se levar em conta que a mesma brincadeira pode ter diferentes significados.
Oferecendo um momento lúdico para a criança hospitalizada, além de se cumprir a lei7 , propicia uma estratégia de
enfrentamento da condição de fragilizada, permitindo que expresse seus medos e angústias.

Assim, sistematizando o ato de brincar, é possível à criança apropriar-se do significado dado pelo brinquedo e assimilá -
lo. Conciliando distração e terapêutica, a criança reelabora sua internação e patologia, passando a enxergar o meio na
qual está inserida sob outra perspectiva. .

A utilização de tal estratégia além de incentivar a cooperação e adaptação do paciente ao local, diminui o estresse,
ansiedade e medo, ao torná-la ativa em seu tratamento,. De acordo com Gottfried e Brown (citado por Soares e
Zamberlan, 2001), a participação da criança hospitalizada em atividades lúdicas pode acelerar sua recuperação,
diminuindo a sua permanência no hospital. Além de ser um material pedagógico de fácil compreensão facilitando ao
aprendizado dos procedimentos médicos adotados, preparando a criança psicologicamente para tais procedimentos.

Considerações finais

Todos os recursos utilizados para o restabelecimento da criança no hospital são válidos, desde que não agridam o seu
estado emocional e físico. Tais recursos já descritos contribuem para uma humanização do ambiente hospitalar,
melhorando a imagem deste perante as crianças internadas e seus familiares. Porém, salta aos olhos a carência de alguns
métodos paliativos que possibilitem a interpretação e intervenção das brincadeiras apropriadas para o caso da
hospitalização. Ao fazer ponte entre a fantasia e realidade, é possível ao psicólogo auxiliar na reelaboração da situação
em si, fazendo com que o ambiente se torne mais suportável à criança. A proposta de tal atendimento é que, através da
sua sistematização, a criança possa conviver bem com a sua realidade hospitalar independente da presença daquele
profissional.

R EFERÊNCIAS

ABERASTURY, Arminda. Psicanálise da criança: teoria e técnica. Tradução Ana Lúcia de Campos. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1982.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do adolescente. Disponível
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 23 maio 2006.

6
De acordo com Laplanche e Pontallis (2001), ab-reagir é a “descarga emocional pela qual um sujeito se liberta do afeto ligado à
recordação de um acontecimento traumático, permitindo assim que ele não se torne ou não continue sendo patogênico.”
7
Lei Federal 8069/ 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Art 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
aspectos: (IV) brincar, praticar esportes e divertir-se, entre outros.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 7
FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer. 1926. Rio de Janeiro: Edição Standard Brasileira das Obras Completas
de Sigmund Freud, 1975. V. 18.

FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar: novas recomendações sobre a técnica da psicanálise II-1914. Rio de
Janeiro: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, 1975. V. 12.

LAPLANCHE, J.; LAPLANCHE, J. B. Vocabulário de psicanálise. Tradução Pedro Tamen. 4a ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.

MOTTA, Alessandra B.; ENUMO, Sônia R. F. Brincar no hospital: câncer infantil e avaliação do enfrentamento da
hospitalização. Psicologia, Saúde e Doença, v.3, n.1, p. 23- 41, 2002, Disponível em: <http://www.sp.ps.com/pd>
Acesso em: 16 maio 2006.

OLIVEIRA, Marta K. Vygotski, aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. 4a ed. São Paulo:
Scipione, 1998.

SOARES, Maria R. Z.; ZAMBERLAN, Maria A. T. Q. Inclusão do brincar na hospitalização infantil. Revista Estudos
de Psicologia, PUC - Campinas, v. 18, n. 2, p. 64- 69, maio/ago. 2001.

VYGOTSKI, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: COLE, Michael et al. A Formação Social da Mente.
São Paulo: Martins Fontes, 1994. p.05-118.

WUO, Ana Elvira. O clown visitador de crianças hospitalizadas: medicamento lúdico. Licere- Revista do Centro de
Estudos de Laze re Recreação /EEF/UFMG. Belo Horizonte v.03, n.1, p. 35-45, 2000.

____________________
Recebido em 29/10/2006
Aprovado em 01/02/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 8
LUTO NA INFÂNCIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES À LUZ DA
TEORIA DO ÉDIPO EM LACAN
Carolina Alves Rezende 1

“Amar o perdido / deixa confundido / este coração. Nada pode o olvido / contra o sem sentido / apelo do não".
(Carlos Drummond de Andrade, “Memória”)

Introdução

O objetivo do presente trabalho consiste em apresentar brevemente algumas considerações acerca do complexo de
Édipo conforme relido por Lacan a fim de correlacioná-las com a temática do luto na infância, em especial no que diz
respeito ao processo de enlutamento decorrente da morte de um genitor. Nesse sentido, surge em função de algumas
inquietações suscitadas pelo trabalho com crianças enlutadas (con)vivendo com o HIV/Aids em uma experiência de
estágio na área de Psicologia. É comum entre essas crianças a vivência da morte de um dos pais, também afetados pelo
HIV/Aids, bem como as inúmeras fantasias (culpa, abandono, retaliação, dentre outras) que aparecem em decorrência
dessa morte. Nesse sentido, os questionamentos acerca da prática com esse público conduziram a um levantamento na
literatura acerca da temática e despertaram algumas reflexões que são expostas ao longo do trabalho. Para tanto, busca-
se inicialmente situar a importância do complexo de Édipo na teoria psicanalítica (nos estudos de Freud e releitura
lacaniana) e em seguida, propõe-se descrever os três momentos do Édipo conforme discutidos por Lacan. Por fim,
objetiva-se relacionar aspectos da teoria do Édipo à problemática do luto na infância, destacando possíveis
desdobramentos.

Teoria do Édipo – pedra angular da Psicanálise

De acordo com Laplanche & Pontalis (1970), o complexo de Édipo corresponde ao conjunto de desejos amorosos e
hostis experimentados pela criança em relação aos pais. Em sua forma positiva, o complexo apresenta-se através do
desejo da morte do rival, personagem do mesmo sexo, e desejo sexual do personagem do sexo oposto. Na forma
negativa, observa-se uma inversão na medida em que há o amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio pelo progenitor
do sexo oposto.

Esses autores destacam o papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano
atribuído ao Édipo dentro da teoria psicanalítica. Freud (1905, apud Laplanche & Pontalis, 1970) destaca a
universalidade do Édipo, considerando que “a todo ser humano é imposta a tarefa de dominá-lo”.

Ao Édipo são atribuídas funções fundamentais, dentre elas: a escolha do objeto de amor na medida em que esta é
influenciada pelas identificações inerentes ao complexo e pela interdição de realizar o incesto; o acesso à genitalidade,
considerando que a simples maturação biológica mostra-se insuficiente em tal tarefa já que a organização genital supõe
a instauração do primado do falo; e a estruturação da personalidade e constituição das instâncias como o superego –
vinculação entre a origem da moralidade e problemática edípica (Laplanche & Pontalis, 1970).

Bleichmar (1984) afirma que a expressão “complexo de Édipo” aparece em Freud em 1910, no texto “Um tipo especial
de escolha de objeto feita pelo homem”. O autor situa três conceitualizações em Freud em relação ao Édipo, pontuando
que na primeira época freudiana o complexo de Édipo aparece de maneira a orientar a sexualidade infantil e suas
emoções. A segunda formulação refere-se às identificações e sugere que a identidade sexual não é dada naturalmente, e
sim aparece como algo que se deve assumir. Por fim, o terceiro período faz referência à castração na medida em que se
compreende que o Édipo não é igual para mulher e homem.

1
Graduanda no 9º. semestre de Psicologia na UFBA - Universidade Federal da Bahia.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 9
É no sentido de apontar o caráter fundamental da problemática edípica que Moreira (2003) destaca que o momento
crucial da constituição do sujeito situa-se na cena edípica. Segundo a autora, é a partir do Édipo que o sujeito estrutura e
organiza seu vir-a-ser em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.
Assim, “não existe um sujeito que preexista a relação com os pais” (Bleichmar, 1984).

Moreira (2003) ainda pontua a importância e centralidade da teoria quando organiza o processo de crescente teorização
do Édipo em quatro movimentos: “o Édipo na teoria dos sonhos” (sonho como uma manifestação e possibilidade de
realização de um desejo inconsciente), “o Édipo no interior da problemática do pai totêmico”, “o mecanismo da
identificação no Édipo”, e por fim “o Édipo e complexo de castração”.

A idéia do Édipo possibilita a superação da teoria da sedução e introduz a teoria da fantasia e sexualidade infantil. O
Édipo nomeia a dimensão conflitiva que faltava à teoria em desenvolvimento, estruturando o funcionamento psíquico.

Em Lacan, apesar da ampliação do conceito do complexo de Édipo e da sua articulação com a estrutura da cultura,
conforme destaca Bleichmar (1984), é mantida a centralidade da teoria do Édipo, sendo o Édipo estruturante de uma
posição perante o desejo. É ao redor do Édipo que se situam conceitos centrais como a metáfora do Nome-do-pai e a
função paterna.

Mediante as considerações anteriormente destacadas, pode-se pensar na teoria do Édipo como “pedra angular” da
Psicanálise. O complexo de Édipo aparece na Psicanálise de forma central, seja nas manifestações do inconsciente, no
tratamento psicanalítico ou nas produções psicopatológicas.

Teoria do Édipo em Lacan

De acordo com Bleichmar (1984), a compreensão do Édipo em Lacan está embasada no conceito de falo e de sua
função simbólica visto que no Édipo, os personagens colocam-se distintamente perante esse falo. De acordo com o
autor, de maneira sucinta, no primeiro tempo do Édipo, a mãe tem o falo e o pai não aparece em destaque. No segundo
momento, o pai é o falo. Por fim, no terceiro tempo do Édipo, o pai tem o falo, representando alguém que o possui.

No primeiro momento do Édipo, evidencia-se uma relação fusional pela posição que a criança mantém junto à mãe,
buscando identificar-se com o que supõe ser o objeto de seu desejo (Dor, 2003). Aqui, aparecem em destaque a mãe, a
criança e o falo, de maneira tal que a criança intenciona se constituir como o falo materno. A relação imediata com a
mãe (ou com quem exerça a função materna) se estrutura de tal forma que a criança se faz de objeto que completa a
mãe, ocupando nesse sentido o lugar do falo. Neste momento, Gorski (2000) pontua que a criança encontra-se alienada
no desejo da mãe.

A maneira como se organiza a relação fusional entre a mãe e a criança parece estar relacionada aos primeiros cuidados e
satisfação das necessidades da criança através da figura materna. Bleichmar (1984) destaca que a mãe não só satisfaz as
necessidades da criança como também as constrói na medida em que traz a ela a linguagem que lhe decifra o que está
acontecendo, como ter frio ou fome. Dessa forma, pode-se pensar que a relação mãe-criança marcada pelos cuidados
corporais e pelo sentido que é atribuído ao olhar, à voz, ao grito, ao choro, propicia a passagem de algo do campo da
natureza para o campo do simbólico.

No que se refere à mãe evidencia-se a completude visto que a mesma sente que nada lhe falta e assim, tem o falo que a
completa (Bleichmar, 1984). A unidade formada pela mãe e seu filho implica no entendimento da mesma de que o filho
representa o falo e, portanto, pode-se falar na mãe fálica. Este tipo de relação corresponde ao que é comumente descrito
acerca do primeiro tempo do Édipo.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 10
No segundo momento do Édipo, a criança é apresentada ao registro da castração pela dimensão paterna. É neste sentido
que Gorski (2000) afirma que o entendimento do Édipo em Lacan deve ser pensando em torno da função paterna à
medida que esta articula o conceito de falo ao complexo de castração.

Dor (2003) coloca que a mediação paterna ocorre sob a forma de privação sendo vivida pela criança como uma
interdição e frustração. Assim, entende-se que o pai intervém na relação fusional mãe-criança, interditando a satisfação
de ambos nesta. No que tange a este tempo do Édipo, Bleichmar (1984) afirma que com relação à criança, ela deixa de
ser o falo da mãe e percebe que a mãe prefere a outro que não ela, supõe, portanto que este outro tem algo que ela (a
criança) não tem. Com relação à mãe, por outro lado, evidencia-se a importância de que esta não somente troque o filho
pelo pai, mas também não mantenha o mesmo tipo de relação dual com este, visto que o contrário implicaria na
manutenção de sua posição de mãe fálica.

Na compreensão lacaniana do segundo tempo do Édipo, verifica-se o deslocamento do objeto fálico que culmina no
encontro da criança com a lei paterna (Dor, 2003). Dito de outra forma, o surgimento do pai na relação mãe-criança, faz
com que esta perceba um outro capaz de intervir, interditar ao passo que a este passa a ser atribuído um novo valor
simbólico. A descoberta da criança de que a mãe depende da lei, sujeitando-se a ela (afinal, a mãe também é interditada)
acarreta em um deslocamento em direção à lei paterna. O pai aparece como falo na medida em que interdita, priva,
barra.

Segundo Gorski (2000), para Lacan, ao se defrontar com a lei do pai, a criança confronta-se com a castração. À criança
cabe aceitar não ser e não ter o falo assim como a mãe. O segundo momento do Édipo figura como passo essencial ao
terceiro tempo do complexo.

O terceiro tempo coincide com o tempo do declínio do complexo de Édipo. Para Bleichmar (1984), “no terceiro
momento do Édipo ficam instaurados a lei e o falo como instâncias que estão acima de qualquer personagem”. De
acordo com Dor (2003), neste momento pode ser evidenciada a simbolização da lei e aceitação desta na medida em que
o pai aparece como aquele que tem o falo, objeto desejado pela mãe.

Neste tempo, verifica-se com o declínio do complexo de Édipo a abertura para as inúmeras identificações. O menino,
identificando-se com o pai que supostamente tem o falo e a menina, identificando-se com a mãe que sabe buscar o falo
naquele que supostamente o tem.

Nesse sentido, reafirma-se a conjetura de que a concepção do Édipo para Lacan situa-se em torna das posições
atribuídas às figuras parentais e à criança no que se refere ao falo. Neste processo, destaca-se a intervenção da metáfora
paterna que propiciará o recalque originário.

Teoria do Édi po e luto na infância

Mediante as considerações destacadas é possível situar o processo de luto na infância, em especial no que se refere ao
enlutamento como decorrência de morte de um dos pais da criança, com os momentos relativos ao complexo de Édipo,
conforme são desenvolvidos na teoria psicanalítica.

De acordo com Freud (1917), o luto pode ser compreendido como uma reação à perda de um ente querido, não
constituindo condição patológica. O luto implica na perda de interesse pelo mundo externo na medida em que
representa uma reação a uma perda real de um objeto amado. Pode representar uma possibilidade de manifestação da
ambivalência nas relações afetivas, podendo em alguns casos associar-se à auto-recriminação quando a própria pessoa
enlutada sente-se culpada pela perda do objeto amado, sentindo que a desejou. Esta proposição mostra-se de grande
valia no estudo de algumas crianças enlutadas pela perda dos pais.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 11
Bowlby (1993, apud Domingos & Maluf, 2003) afirma que o luto refere-se a um conjunto de reações psíquicas,
conscientes e inconscientes, em uma experiência tal que transcende o âmbito individual. Para este autor, o luto associa-
se a uma quebra de vínculo que é percebida como desamparo, podendo desencadear ansiedade de separação e pânico.
Nas crianças, essa experiência sofre a influência dos padrões de relacionamento familiar anteriores e da reestruturação
do sistema familiar em conseqüência da perda.

No que tange à temática da morte, Speece & Brent (1984, apud Nunes, 1998) destacam que o desenvolvimento do
conceito de morte nas crianças relaciona-se às noções de irreversibilidade, não-funcionalidade e universalidade. A
irreversibilidade faz referência à idéia da morte como algo permanente. A não-funcionalidade diz respeito ao
entendimento de que as funções vitais cessam na morte; enquanto a universalidade articula-se à compreensão de que
todas as coisas vivas morrem e neste sentido a morte é inevitável.

Kubler-Ross (1969, apud Nunes, 1998) pontua que as crianças associam a morte a um homem ou lobisomem, estando
esta ligada a uma ação má que nesse sentido clama por recompensa ou castigo. A compreensão da morte está ainda
vinculada às diferentes etapas do processo de desenvolvimento, e neste sentido Gesell (1971, apud Nunes, 1998) afirma
que crianças de seis anos relacionam a morte ao ato de matar, estando ainda presente o caráter reversível já que podem
substituir a pessoa que morreu por outra.

Mazorra (2005) afirma que a morte de um genitor é uma das experiências mais impactantes que a criança pode
vivenciar já que se perde a ilusão da onipotência infantil. O processo de enlutamento nessas crianças evidencia a
construção de fantasias das quais se apreende uma representação de desejos e o entendimento dessas perpassa pela
compreensão de como se estrutura o sistema familiar.

Dentre as fantasias que usualmente são encontradas nas crianças que perdem um genitor, destacam-se as fantasias de
culpa, de ter sido responsável pela morte do genitor (Mazorra, 2005). Nesse ponto, pode-se pensar na ambivalência
afetiva que envolve as relações e no fato de que um pensamento egocêntrico característico de uma dada fase de
desenvolvimento acentue o surgimento e manutenção de tais fantasias, chegando-se a ponto de algumas crianças
considerarem que sua raiva em re lação ao genitor pode ter lhe provocado a morte.

De acordo com Mazorra (2005), é comum encontrar casos em que a fantasia principal associada ao processo de
enlutamento esteja articulada à culpa edipiana. Neste ponto reside o maior interesse e foco do presente trabalho.

Retomando Laplanche & Pontalis (1970) tem-se que em sua forma positiva, o complexo apresenta-se através do desejo
da morte do rival, personagem do mesmo sexo, e desejo sexual do personagem do sexo oposto. Assim, na medida em
que uma criança vive a morte de um genitor evidencia-se a associação entre o acontecimento real e suas moções
inconscientes dificultando o momento de elaboração edípica, bem como do processo de luto. Nesse sentido, a morte do
objeto rival intensifica a fantasia de culpa que pode ser expressa através da persecutoriedade.

À luz da proposição e releitura lacaniana do complexo de Édipo nota-se que a vivência dos tempos do Édipo na criança
culmina na simbolização da lei e aceitação da mesma (terceiro tempo do Édipo). Neste momento, a criança situa-se na
dialética ter ou não o falo fazendo referência à castração. A morte do genitor oposto, nesse sentido, pode representar
para a criança a noção de que a realidade foi modificada em razão de seus desejos inconscientes não estando a mesma
sob efeito de uma lei supostamente instância acima de qualquer personagem. O que representaria para a criança estar
acima da lei? Que implicações psíquicas são prováveis na confrontação entre processo edipiano e processo de luto? Na
menina, conforme destaca Hahn (2005) uma possível conclusão é expressa na fantasia de que seduzir, mata.

Como desdobramento de tal fato no processo de elaboração do luto, Mazorra (2005) pontua que algumas crianças
podem buscar punição a fim de aliviar sua culpa. A autora ainda destaca que aqui a necessidade de negação da morte é
intensificada e a ausência do objeto remete à culpa pela possibilidade de concretização das fantasias edípicas.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 12
De outro lado, pode-se ainda pensar à luz da teoria do complexo de Édipo que a perda dos pais poderia representar a
perda de objetos de identificação tão relevantes na dissolução de tal complexo. O menino, identificando-se com o pai
que supostamente tem o falo e a menina, identificando-se com a mãe não mais em uma relação fusional (para isto cabe
a intervenção paterna), mas considerando que a mãe sabe buscar o falo naquele que supostamente o tem. Nesse
contexto, Felzenszwalb (2000, apud Hahn, 2005) destaca acerca da importância do pai:

O pai cumpre o papel de representar a saída, a estrada para o mundo fora de casa, longe da domesticidade. O
pai é o grande aliado da filha em sua luta para se separar psicologicamente da mãe e para estabelecer o
sentimento de individualidade feminina.

Outro aspecto interessante refere-se à fantasia de ocupar o lugar do genitor perdido. Dessa forma, quando a criança é do
mesmo sexo do genitor falecido, as fantasias familiares de reposição da figura perdida tendem a serem facilitadas
(Tinoco, 2005). Assim, na criança que vivencia o momento de elaboração edípica esse desejo pode ser acentuado, como
se a interdição simbólica, usualmente vivida como uma frustração, não tivesse tido efeito.

A vivência do momento edípico pode ainda associar-se à fantasia de retaliação presente em algumas crianças através de
ataques reais do genitor perdido. Este ataque aparece, usualmente, no temor da castração peniana (Tinoco, 2005). Essa
fantasia talvez possa ser associada à idéia de que o genitor retornaria para um possível “acerto de contas” com a criança.

Conclusão

As contribuições apresentadas no presente trabalho não esgotam as reflexões acerca das correlações entre o luto na
infância e a vivência do complexo de Édipo, e nem tão pouco abarcam uma vasta amostra que pudesse apresentar maior
validação das considerações realizadas. O trabalho apresenta-se antes como uma reflexão decorrente de um breve
levantamento na literatura sobre o tema. Não obstante, acredita-se que as inquietações levantadas podem fornecer
subsídios e funcionar como fomentador de futuros estudos que contemplem a temática em questão e vise seu
aprofundamento.

R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bleichmar, H. (1984). Introdução ao estudo das perversões – Teoria do Édipo em Freud e Lacan. Porto Alegre: Artmed
editora.

Dor, J. (2003). Introdução à leitura de Lacan. Porto Alegre: Artmed editora.

Domingos, B. & Maluf, M. (2003). Experiências de perda e luto em escolares de 13 a 18 anos. Psicologia: Reflexão e
Crítica, 16(3), p.577-589.

Freud, S. (1972). Luto e melancolia. In Edição standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud (Vol. 14, pp.
275-291). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1917)

Gorski, G. (2000). Algumas considerações sobre o complexo de Édipo em Freud e Lacan. Disponível em
http://www.psiconica.com/psimed. Acessado em: 02/06/06.

Hahn, R. (2005). A morte do pai na infância: repercussão na vida adulta. Em.: Mazorra, L. & Tinoco, V. (2005). Luto
na infância – intervenções psicológicas em diferentes contextos. Campinas: Livro Pleno, p.203-225.

Laplanche, J. & Pontalis, J.-B. (1970). Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

Mazorra, L. (2005). A fantasia e o processo de elaboração do luto na criança pela morte do genitor. Em.: Mazorra, L. &
Tinoco, V. (2005). Luto na infância – intervenções psicológicas em diferentes contextos. Campinas: Livro Pleno, p.35-
72.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 13
Moreira, J. (2003). Édipo em Freud: o movimento de uma teoria. Psicologia em estudo, 9(2), p.219-227.

Nunes, D. e cols (1998). As crianças e o conceito de morte. Psicologia: Reflexão e Crítica 11 (3), p.579-590.

Tinoco, V. (2005). O luto de crianças institucionalizadas em casas abrigo. Em.: Mazorra, L. & Tinoco, V. (2005). Luto
na infância – intervenções psicológicas em diferentes contextos. Campinas: Livro Pleno, p.147-170.

____________________
Recebido em 02/07/2006
Aprovado em 31/07/2006

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 14
O PSICÓLOGO HOSPITALAR BRASILEIRO:
UMA VISÃO DA REPRESENTAÇÃO ENQUANTO PROFISSIONAL
Cláudia Furtado Borges, Vanessa Coelho de Sousa1

RESUMO

Este artigo tem o objetivo de construir um panorama da atuação do psicólogo hospitalar brasileiro. Nesse sentido,
devemos percorrer as origens da Psicologia, a consolidação da Psicologia Hospitalar no Brasil, suas variações na
representação destes profissionais nos diferentes pontos de vistas das pessoas que compõe o contexto hospitalar. Este
trabalho resulta numa singela visão, que mostra a escassez de pesquisas com este tema; além de diversas dificuldades e
barreiras encontradas pelos psicólogos hospitalares, uma recusa e resistência por parte da equipe de saúde e dos
pacientes, más condições de trabalho, salários baixos que os levam a exercerem outras atividades. Além, que a função
para outros profissionais é restrita a pontos como sofrimento, morte ou avaliações psicológicas.
Palavras chave: representação, psicologia hospitalar, psicólogo hospitalar brasileiro.

O presente artigo surgiu com o objetivo de apresentar um breve histórico da Psicologia Hospitalar e da atuação do
psicólogo hospitalar no Brasil. Assim, tivemos o intuito a partir de uma revisão bibliográfica mostrar a representação
destes profissionais em algumas regiões do país.

Schultz e Schultz (1991), afirmou que a Psicologia é uma das mais antigas disciplinas acadêmicas e, ao mesmo tempo,
uma das mais novas. Segundo os autores, no século V a.C. Platão e Aristóteles, e outros sábios gregos, já se
preocupavam com vários temas estudados pela psicologia atualmente.

De acordo Sebastiani e Maia (2005) a psicologia se estruturou como Ciência e Profissão, a partir da segunda metade do
século XIX, com os trabalhos de Wundt na Universidade de Liepezieg. Em seus primórdios, ela foi influenciada pela
visão cartesiano-positivista.

No Brasil, a profissão de psicólogo foi regulamentada em 1962, consolidou-se prioritariamente na esfera privada, sendo
que a área clinica era a principal fonte de interesse profissional (Marcon, Luna, Lisboa, 2004). Conforme Mello (1975
in Yamamoto & Cunha; 1998), no Estado de São Paulo havia aproximadamente 80% daqueles poucos psicólogos já
exerciam atividades, exclusivas ou não, na área clínica. Este quadro permaneceu até a década de 80, quando a área de
saúde pública tornou-se mais uma possibilidade de atuação profissional.

Porém, existem relatos da presença de psicólogos no contexto hospitalar mesmo antes da regulamentação profissional
(Lamosa, 1987; Campos, 1988 in Yamamoto & Cunha; 1998), mas somente nos últimos anos o psicólogo se inseriu de
forma mais estável e significativa no ambiente hospitalar.

Laloni (1995 in Reis, 2005) afirma que a Psicologia da Saúde é uma área da psicologia que surgiu recentemente -
década de 60 - tendo sua história vinculada à aplicação de testes para avaliação da inteligência, personalidade ou
desenvolvimento motor. Porém, a partir dos anos 70, a Psiquiatria começou a estudar as doenças psicossomáticas,
dando abertura para o profissional de saúde mental em hospitais gerais, realizando interconsultas psiquiátricas de
pacientes de outras especialidades (Reis, 2005).

No Brasil, (Marcon; Luna e Lisboa 2004), o psicólogo começou a atuar na saúde pública anos 60, com maior foco na
saúde mental, principalmente em hospitais psiquiátricos, mesmo neste contexto o psicólogo ocupa um papel secundário,
sendo sua principal atuação a avaliação psicológica.

1
Alunas do 10º. período de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 15
A teoria de Hipócrates, considerando que para curar o corpo necessita conhecer o todo, pois, para ele, a alma (psique) e
o corpo (soma) estariam dialogando entre si (SIMONETTI, 2004 aput PINTO; 2005); o movimento psicossomático; e a
humanização da saúde determinada pelo Comitê Técnico do Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar do Brasil representam os antecedentes significativos para a Psicologia da Saúde (SEBASTIANI e MAIA;
2005).

A Associação Americana de Psicologia legalizou a atuação do psicólogo na área da saúde em 1978, criando a divisão de
Psicologia da Saúde, fazendo com que o homem seja visto como um ser biopsicossocial (Reis, 2005).

O Brasil tem sido considerado por algumas pesquisas como o precursor da Psicologia Hospitalar, área de atuação da
psicologia que intervem nos processos doença – internação - tratamento envolvidos pela relação paciente-familia -
equipe, utilizando teorias e técnicas específicas para a atenção às pessoas num contexto hospitalar. Os profissionais
desta área focam seu trabalho nas demandas psicológicas apresentadas no processo doença-internação-tratamento, nas
reações que podem agravar o problema do paciente ou dificultar o processo de recuperação. Além disso, temas como o
processo de morte e morrer, perdas irreversíveis causadas pela doença, angústia e sofrimento ocorridos no período da
internação também são enfoques da psicologia hospitalar (Sebastiani e Maia; 2005).

Simonetti (2004 in Pinto; 2005) considera a Psicologia Hospitalar como o campo de entendimento e tratamento de
aspectos psicológicos ligados ao adoecimento, ou seja, manifestações subjetivas da doença, tais como as crenças, os
sonhos, os conflitos, as lembranças e os pensamentos. Segundo este autor a doença não fala, o doente sim.

“A psicologia hospitalar intervém na forma do paciente conceber e vivenciar os problemas gerados pela patologia
orgânica, pela hospitalização, pelos tratamentos e pela reabilitação”. (Alamy, 2003 p.15 in Ribeiro; 2005).

Desta forma, o psicólogo hospitalar busca a promoção, a prevenção, a recuperação do bem-estar do paciente, no seu
todo. (Campos, 1995 in Ribeiro; 2005).

Atualmente, com o grande crescimento da área, vem se desenvolvendo algumas pesquisas visando verificar a inserção
do psicólogo nos hospitais e sua atuação em tal contesto. MARCON, LUNA e LISBOA (2004) desenvolveram estudos
com o objetivo de conhecer a inserção dos psicólogos que atuam em hospitais em Florianópolis, comparando os dados
obtidos com pesquisas realizadas em outros estados brasileiros. Observaram que a maior concentração de psicólogos na
área hospitalar em Florianópolis estava em instituições psiquiátricas. A grande maioria (90%) dos psicólogos na área
hospitalar era do sexo feminino. 80% dos psicólogos exerciam outras atividades profissionais em psicologia, este fato
pode ser relacionado à baixa remuneração de tais profissionais, pois mais da metade (87%) recebiam entre 3 e 9 salários
mínimos. A metade dos sujeitos da pesquisa, em sua formação profissional realizou estágio em instituição hospitalar na
Grande Florianópolis. Nesta cidade, 17% eram especialistas 14% eram mestrandos e 83% possuía curso de formação
teórico-metodológica em Psicoterapia. Já no Distrito Federal, encontraram uma maior proporção maior de profissionais
com curso de pós-graduação, sendo 39,1% no nível de especialização, 34,8% com Mestrado e 2,2% com Doutorado. A
abordagem predominante em Florianópolis foi a psicanálise, com o modelo predominante clinico, embora já encontre
um modelo de atenção integral à saúde ou biopsicossocial, já em Natal e Curitiba há um predomínio da Psicoterapia
Breve. Observou-se, tamb ém uma diversidade de trabalhos desenvolvidos junto a paciente, familiares e equipe de
saúde. (Marcon, Luna e Lisboa, 2004).

Em 2002, Yamamoto, Trindade e Oliveira realizaram um estudo nos hospitais do Rio Grande do Norte, objetivando
caracterizar a atuação dos psicólogos e contribuir para o debate acerca da natureza da sua inserção no contexto
hospitalar. Seus resultados apontam que os psicólogos estão ingressando de forma significativa nos hospitais potiguares,
porém há predominância do regime parcial de trabalho e pelos recentes empregos. Observaram que metade dos
psicólogos deste estudo já iniciara suas atividades em hospitais. Todos os psicólogos deste estudo trabalham
diretamente com o paciente, desenvolvendo alguma modalidade de trabalho psicoterápico. As orientações e
aconselhamento, seguidos de avaliações psicológicas também apareceram com destaque. A segunda modalidade de
atuação de tais profissionais é com a família, desenvolvendo trabalho semelhante. A maioria trabalha com referencial
psicanalítico (56%). Os sujeitos da pesquisa consideraram sua formação proporcionada pela universidade deficiente,
necessitando complementação nas diversas formas de estudos nas pós-graduações e supervisões. Seu trabalho tem uma

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 16
boa aceitação apesar das lacunas na formação e das dificuldades da atuação profissional, porém diversas dificuldades e
barreiras foram relatadas por parte da equipe de saúde como a precariedade do material, do local; baixa remuneração e
falta de integração entre profissionais.

Yamamoto e Cunha (1998) desenvolveram uma pesquisa semelhante nos hospitais de Natal. Verificaram que a
formação de nível de graduação também foi considerada insuficiente, o que fez com que os sujeitos do estudo
buscassem um aprimoramento profissional sobre a forma de cursos (formais ou não) de especialização. Neste grupo foi
encontrada uma atração (precoce) exercida pelo trabalho no campo da saúde. A maioria atuava com referencias no
enfoque psicoterapia breve de base analítica, desenvolvendo alguma modalidade de trabalho psicoterápico com os
pacientes e trabalhos de suporte com familiares. Quanto às condições nas quais o trabalho é desenvolvido, a maioria
considera-nas insatisfatórias. Os profissionais entrevistados consideram que seu trabalho é bem recebido pelos médicos
e também pelos pacientes.

E como fica a opinião do paciente para estes profissionais? Em 2003, Nunes e Góia-Martins realizaram uma pesquisa
com este objetivo, investigar a percepção do paciente hospitalizado a respeito do psicólogo que atua em hospitais gerais,
com base na teoria das RS (Representações Sociais). Foram realizadas entrevistas semidirigida com 12 pacientes
hospitalizados em unidades de internação (enfermarias) de um hospital particular da cidade de São Paulo, sendo que
metade da amostra já havia recebido ou estavam recebendo tratamento psicoterápico, e a outra metade não havia
recebido atendimento psicológico. Seus resultados demonstraram que a maioria dos participantes (66,67%) conseguiu
expressar a percepção de algumas atividades que fazem parte do exercício profissional do psicólogo hospitalar, porém
com respostas incompletas. 83,33% dos pacientes expressaram uma atitude favorável, sendo que a metade destes
procurou-se usar palavras positivas em relação ao modo como viam o psicólogo, mas analisando essas respostas pode-
se perceber que evitariam novo contato com o profissional de psicologia hospitalar, alegando “que não viam
necessidade de serem atendidos”, identificando uma atitude desfavorável e atribuição de um valor negativo, porém
ocultado por palavras positivas. Essa recusa ao novo atendimento estava associado à visão de psicólogo trabalha com
doido. Em relação à representação social, as respostas apresentaram grande variação, de associações com figuras como
orientador, conselheiro e padre (33,33%), a estereótipo do “psicólogo bonzinho”, que tranqüiliza e conforta (8,33%).
Metade dos pacientes que não tiveram contato com o psicólogo do hospital, assim, tiveram maior dificuldade na
definição de quem é esse profissional e quais suas atribuições, já apenas 16,67% dos pacientes que tiveram contato com
ele tiveram tal dificuldade.

CONCLUSÃO

Apesar deste trabalho, ter sido elaborado a partir de poucos artigos sobre o tema, devido à escassez de pesquisas, o
mesmo nos permite construir elementos que representam o psicólogo hospitalar brasileiro. Temos (em maioria)
profissionais com base teórica psicanalítica. Encontra-se uma profunda deficiência e falta de incentivo na formação
destes profissionais, assim os mesmo buscam auxilio e orientações depois da graduação. Há também diversas
dificuldades e barreiras encontradas por tais profissionais, como a recusa e resistência por parte da equipe de saúde e
dos pacientes, as más condições de trabalho, salários baixos que os levam a exercerem outras atividades. Sua função
para outros profissionais é restrita a pontos como sofrimento, morte ou avaliações psicológicas. A família fica em
segundo plano, em suas atividades.

Pode-se ver que há várias problemáticas na Psicologia Hospitalar Brasileira. De modo geral, esta é uma área nova, os
psicólogos têm se inserindo de forma significante nos hospitais de várias regiões do Brasil. Mas é necessário modificar
e anular o estereotipo deste profissional perante seu local de trabalho e a sociedade, é primordial a valorização desta
área e destes profissionais. Percebe-se uma necessidade emergente, de investir em teorias e práticas em Psicologia
Hospitalar nos cursos de graduação, fazendo um trabalho social, comunitário e organizacional com estes alunos; além
de uma vivência na realidade deste contexto. Também é necessário, fazer um processo no intuito estreitar as relações
entre o psicólogo hospitalar e os profissionais de saúde, através de dinâmicas de grupo, reuniões multidisciplinares, e
principalmente, na definição e conscientização da equipe de saúde, dos funcionários e dos psicólogos hospitalares sobre
a importância da atuação conjunta, da intervenção em pacientes e familiares.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 17
Acreditamo s que estas, são algumas formas de reciclagem pertinente a situações relatadas, e que tal processo, poderá
modificar e renovar a representação da Psicologia nas salas de aula, na sociedade, e principalmente na Saúde Publica e
Privada do Brasil.

BIBLIOGRAFIA

ALAMY, S. Ensaios de Psicologia: a ausculta da alma. Ed. Autor: Belo Horizonte. 2003.In RIBEIRO, V. (2005).
Diferenças Entre O Atendimento Psicológico Em Meio Hospitalar E Em Consultório. Psicópio: Revista Virtual de
Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun, Ano 1, Vol. 1, n.1.

CAMPOS, T.C.P.Psicologia Hospitalar: a actuação do psicólogo em hospitais. EPU: São Paulo. 1995. in RIBEIRO, V.
(2005). Diferenças Entre O Atendimento Psicológico Em Meio Hospitalar E Em Consultório. Psicópio: Revista Virtual
de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jan-Jun, Ano 1, Vol. 1, n.1.

LALONI, D. T., ZAMIGNANI, D. R. Sobre Comportamento e Cognição. São Paulo: ARBytes, 1997. in REIS, R. M.
B. A Atuação do Terapeuta Comportamental Em Instituições De Saúde. Psicópio: Revista Virtual de Psicologia
Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez, Ano 1, Vol. 1, n.2. 2005.

LAMOSA, B.W.R. O psicólogo clínico no hospital: Contribuição para o desenvolvimento da profissão no Brasil. Tese
de Doutorado Não-publicada. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. 1987. in YAMAMOTO, O. H.;

CUNHA I. M. F. F. O. O psicólogo em hospitais de Natal: uma caracterização preliminar. Psicologia: Reflexão e


Crítica. Porto Alegre. v.11 n.2, 1998.

MARCON, C.; LUNA, I. J.; LISBÔA, M. L. O psicólogo nas instituições hospitalares: características e desafios.
Psicologia: ciência e profissão. Brasília. v.24 n.1; 2004.

MELLO, S. L. Psicologia e profissão em São Paulo. São Paulo: Ática. 1975. in YAMAMOTO, O. H.; CUNHA I. M.
F. F. O. O psicólogo em hospitais de Natal: uma caracterização preliminar. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto
Alegre. v.11 n.2, 1998.

NUNES, L. C.; GIÓIA-MARTINS,D. F. O psicólogo hospitalar na visão do paciente hospitalizado: um estudo das
representações sociais. Boletim de Iniciação Científica em Psicologia vol4. 2003.

REIS, R. M. B. A Atuação do Terapeuta Comportamental Em Instituições De Saúde. Psicópio: Revista Virtual de


Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Jul-Dez, Ano 1, Vol. 1, n.2. 2005.

SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix. 15° edição. 1991.

SEBASTIANI, R. W.; MAIA, E. M. C. Contribuições da psicologia da saúde-hospitalar na atenção ao paciente


cirúrgico. Acta Cirúrgica Brasileira. São Paulo. v. 20 supl.1,2005.

SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar – o mapa da doença.Obra resenhada.Casa do Psicólogo. São
Paulo. 2004 in PINTO, F. E. M. RESENHA: Manual de psicologia hospitalar. Psicologia: Teoria e Prática. vol 7.2005.

YAMAMOTO, O. H.; CUNHA I. M. F. F. O. O psicólogo em hospitais de Natal: uma caracterização preliminar.


Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre. v.11 n.2, 1998.

YAMAMOTO, O. H.; TRINDADE, L. C. B. O.; OLIVEIRA, I. F. O Psicólogo em Hospitais no Rio Grande do Norte.
Psicologia USP, São Paulo, v. 13, n. 1, 2002.

____________________
Recebido em 03/12/2006
Aprovado em 01/01/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 18
ASPECTOS PSICOLÓGICOS QUE PREDISPÕEM AO APARECIMENTO
E DESENVOLVIMENTO DO CÂNCER 1
Marta Betania Cardoso Tavares Luzete 2

O ser humano é um ser complexo que está em constante interação com o meio, transformando-o e criando cultura, e
sendo por ele influenciado. Suas ações decorrem da interação dos seus aspectos bio-psico-sócio-espirituais associada à
sua história de vida.

O ser saudável tem a harmonia de todos estes aspectos. Quando ocorre um fato que desequilibra um destes fatores, o
corpo é afetado como um todo. Ele, então, mobiliza seu sistema de defesa para reequilibrar-se. Porém, se o
desequilíbrio é continuo e intenso, a doença se manifesta.

“O Câncer, por exemplo, surge como uma indicação de problemas em outras áreas da vida da pessoa, agravados ou
compostos de uma série de estresses que surgem de 6 a 18 meses antes de aparecer o Câncer. Foi observado que as
pessoas reagiram a esses estresses com um sentimento de falta de esperança, desespero, desistindo de lutar por uma vida
melhor. Acredita-se que essa reação emocional dispara um conjunto de reações fisiológicas que suprimem as defesas
naturais do corpo, tornando-o suscetível à produção de células anormais”. (1)

Como se vê o Câncer não é desenvolvido por uma única causa, mas pelo somatório de várias causas. Neste artigo,
enfocarei principalmente os aspectos psicológicos que debilitam o organismo e o predispõe ao aparecimento e
desenvolvimento do Câncer, evidenciando a importância da esperança na manutenção da saúde.

E o que é Esperança?

Esperança é acreditar com confiança que se conquistará algo que se deseja. Ela está presente em todos os atos da vida. É
ela que nos faz acreditar que temos condições de aprender, de conseguir um emprego, de conquistar o ser amado, de
adquirir os bens que desejamos e de vencer as adversidades que surgem no decorrer da vida. Ela faz com que nos
sintamos senhores do nosso destino e decidamos que viver vale a pena.

Este sentimento de esperança nasce nos primeiros meses de vida, quando o mundo ainda é desconhecido para o bebê. E
a segurança básica que este estabelecerá com sua mãe será a semente da esperança que o acompanhará pela vida afora.
Durante seu desenvolvimento, cada situação nova que a pessoa conseguir enfrentar satisfatoriamente reforçará essa
confiança básica e o ajudará a aumentar o seu próprio sentimento de esperança.

E quando não se tem esperança?

Lawrence Le Shan, psicólogo experimental por formação e clínico por experiência, que trabalhou com pacientes de
câncer por mais de trinta e cinco anos, fala em seu livro O câncer como ponto de mutação (7), que as pessoas que não
tem esperanças sentem que só há dois caminhos em suas vidas:

“Elas podem ser elas mesmas, relacionar-se, existir, criar, à sua própria maneira. Se assim fizerem, ficarão
sozinhas, pois consideram que “sua maneira” de ser não é aceitável para os outros. A solidão será muito grande
para ser suportada. Ou podem seguir o segundo caminho: adaptar-se aos desejos e exigências dos outros,
enterrar sua singularidade, sua individualidade, e então serem aceitos pelos outros e – nas palavras de um
paciente – “receber migalhas de amor, o suficiente para quase sobreviver”. Entretanto, se seguirem este
caminho, ainda se sentirão basicamente sozinhas. Elas serão aceitas pelo que fazem, não pelo que são. Além

1
Trabalho produzido durante o Curso Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde, ministrado pela psicóloga Susana Alamy.
2
Pedagoga formada pela Universidade de Brasília, com habilitação em Orientação Educacional. Licenciada em Psicologia pelo
Uniceub - Brasília / DF. Psicóloga formada pelo Uniceub - Brasília / DF.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 19
disso, irão se juntar ao resto do mundo na rejeição a si mesmos, e este será um fardo adicionalmente cruel e
pesado. Considerando possíveis os dois caminhos, a perspectiva parece realmente árida e o desespero
justificado. [...] O problema subjacente ao desespero é a crença de que o eu não pode ser aceito pelo que é“.
(1992, p. 107-109)

Observe que, na ausência de esperança, não há perspectivas de uma vida melhor.


A pessoa sem esperança não se sente feliz e adoece com mais facilidade.

Como a desesperança predispõe o organismo às doenças?

A Dra. Susan A. Everson, uma pesquisadora assistente do Departamento de Epidemiologia da Escola de Saúde Pública
da Universidade de Michigan e seus colaboradores sugerem “que a desesperança na vida pode afetar os níveis de um
composto chamado serotonina no corpo.” (apud 4)

A serotonina é um neurotransmissor que regula o humor, o prazer, o apetite, entre outros. Quando as células do cérebro
estão com níveis baixos de serotonina ficam incapacitadas para mandarem mensagens de bem-estar.

John Gordon, da Universidade de Birmingham, e sua equipe encontraram provas de que a serotonina pode ajudar a
destruir células cancerígenas. (apud 9)

Percebe-se, então, que a desesperança torna possível o desenvolvimento do Câncer. Para os autores do livro Com a vida
de novo (3), a desesperança faz a pessoa sentir como se estivesse “andando sem sair do mesmo lugar”, pois, não tem
esperança de solucionar seu problema. Para estas pessoas “uma doença grave ou a morte parece ser uma saída ou um
deferimento do problema.” Apesar de nem todos os pacientes terem consciência disto “muitos, porém, se lembram de
ter experimentado sentimentos de desespero alguns meses antes do aparecimento da doença. Esta desistência da vida
tem uma função importante na interferência com o sistema imunológico e pode, através de mudanças do equilíbrio
emocional levar a um aumento da produção de células anormais. Do ponto de vista físico, cria -se um clima que é ideal
para o desenvolvimento do Câncer”.

Qual é a ligação entre emoções e Câncer?

As emoções são reações naturais que têm uma finalidade adaptativa. Elas preparam o corpo para enfrentar ou se
esquivar de situações adversas bem como favorecem a aproximação e cooperação.

“O próprio termo "emoção" (do latim, e + movere, mover-se, afastar-se) já trás implícito em si mesmo uma
ação imediata. A relação entre emoção e reação imediata fica bem explicitada nas crianças. Mas, é na criatura
adulta civilizada que mais freqüentemente se detecta uma anomalia: nelas, as emoções - impulsos arraigados
para agir - estão divorciadas de sua reação óbvia. E, na grande maioria das vezes, são essas respostas
inadequadas às emoções, principalmente aquelas penosas e desagradáveis, que desencadeiam o estresse. [...]
Durante o estresse, é estimulada a secreção de várias substâncias endógenas, tais como as catecolaminas
(adrenalina e noradrenalina), o cortisol, a prolactina e os opiáceos naturais (beta-endorfina e encefalina).Cada
uma dessas substâncias exerce um forte impacto sobre as células imunológicas e, através de reações
complexas, acabam obstruindo suas funções de destruir células malignas. O estresse acaba com a resistência
imunológica: se a sua duração for curta, essa inibição é temporária, mas, se ele for constante e intenso, a
inibição pode se tornar duradoura, ou seja, existe uma supressão do sistema imune. […] Não é, porém, a
presença do estresse, […] mas, sim, a maneira como se reage a ele que faz a diferença tanto para que o câncer
se manifeste como também na evolução positiva ou negativa da própria doença.” (10)

Como é a história de vida emocional de pessoas predispostas ao Câncer?

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 20
Dra. Elida Evans, psicanalista junguiana, autora do livro A psychological Study of Câncer, concluiu, após análise de
cem pacientes cancerosos, que muitos deles tinham perdido alguém querido um pouco antes da doença se manifestar.

“Ela via esses pacientes como pessoas que haviam investido a sua identidade em um objeto ou papel individual
(uma pessoa, um trabalho, um lar), ao invés de desenvolver a sua própria individualidade. Quando o objeto ou
função lhes era retirada, esses pacientes tinham de enfrentar a si mesmos, com poucos recursos para fazê-lo“.
(apud 3 p.63)

O Dr. Le Shan, descreve em seu livro Brigando pela vida: aspectos emocionais do câncer (6), descobertas semelhantes
ao de Elida Evans:

“Com base em minhas observações, o padrão emocional do paciente de câncer parece possuir três elementos
principais. O primeiro envolve uma infância ou adolescência marcada por sentimentos de isolamento. Há a
sensação de que os relacionamentos intensos e significativos são perigosos e provocam sofrimento e rejeição.
O segundo elemento do padrão concentra-se no período em que é descoberto um relacionamento significativo,
permitindo que o indivíduo desfrute a sensação de ser aceito pelos outros [...] e encontre um sentido para sua
vida. O terceiro aspecto vem para o primeiro plano, quando ocorre a perda daquele relacionamento central.
Agora há um sentimento de desespero absoluto, relacionado ao sentimento de solidão da infância, porem mais
intenso. Nessa terceira fase, é predominante a convicção de que a vida não encerra nenhuma esperança. E,
algum tempo após o início da terceira fase, surgem os primeiros sintomas do câncer”. (1994, p.58)

De mais de 500 pacientes cancerosos com quem Le Shan trabalhou, “76% dos pacientes que entrevistou partilharam
deste tipo básico de historia emocional. Dos pacientes cancerosos que estavam em terapia intensiva com ele, mais de
95% tinham este padrão. Apenas 10% dos pacientes não-cancerosos demonstravam este modelo de vida.” (apud 3 p. 64)

O Dr. W. A. Greene, que analisou por 15 anos as experiências sociais e psicológicas dos pacientes com leucemia e
linfoma, também observou esta vivência de perda de um relacionamento importante na vida do paciente.

“Tanto para os homens como para as mulheres, segundo Greene, a maior perda era a ameaça de morte da mãe,
ou para o homem uma “figura maternal”, como, por exemplo, a esposa. Outros acontecimentos emocionais
importantes para a mulher eram a menopausa ou mudança de domicílio; no caso de homens, perda ou ameaça
de emprego, aposentadoria ou ameaça de aposentadoria. Greene chegou à conclusão de que a leucemia ou o
linfoma se desenvolviam num ambiente em que o paciente fora forçado a lidar com perdas e separações que
produziam um estado psicológico de desespero, desesperança e descontinuidade.” (apud 3 p. 65-66)

No livro Quem ama não adoece (11), o Dr. Marco Aurélio Dias da Silva comenta sobre este histórico de vida
característico de pacientes com câncer, ressaltando que:

“Eles não conseguem conviver bem com as perdas que a vida lhes traz, possivelmente em decorrência de más
experiências infantis de privação e desespero. Mais tarde, na vida adulta, diante de situações como perdas e
separações de pessoas queridas e importantes, toda a sensação de desespero infantil seria revivida – porém não
de fato vivenciada, com forte tendência a negar e não exprimir o afeto”. (pg.153)

Que traços de personalidade são característicos de pessoas que desenvolvem o Câncer?

Stephanie Simonton, no seu livro A família e a cura (12), fala que, tanto nos estudos de Le Shan quanto no trabalho de
Caroline B. Thomas, psicóloga da Universidade de Johns Hopkins, que durante 30 anos fez entrevistas extensas com
mais de 1300 pessoas, há “um perfil bastante característico das pessoas que desenvolvem câncer”:

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 21
“Thomas revela que muitas pessoas com câncer experimentam uma falta de intimidade com seus pais durante o
período de crescimento, raramente demonstravam emoções fortes e eram em geral “muito passivas”. Eram
claramente pessoas que, por causa da sua baixa auto-estima, colocavam outras pessoas em primeiro lugar e
ignoravam a si mesmos e suas próprias necessidades de várias maneiras”. (p.27)

Stephanie comenta, ainda, que nos estudos feitos pelo Dr. Le Shan, com pacientes cancerosas, ele descobriu que “essas
pessoas reprimiam o seu desespero e não expressavam dor, raiva ou hostilidade em relação às outras pessoas, o que,
sem dúvida, é mu ito estressante. [...] Os outros, em geral, o viam como pessoas maravilhosas, sempre rindo e brincando.
[...] a qualidade positiva, a bondade destas pessoas, era na realidade um sinal tanto do seu fracasso em acreditarem
suficientemente em si mesmas como da sua falta de esperança”. (p.26)

Dr. Marco Aurélio Dias da Silva (11) explica que as pessoas portadoras de Câncer “são generosas e prestativas de uma
forma compulsiva e tendem a priorizar as necessidades dos outros em relação às próprias. [...] Ocorre que tais pessoas,
na verdade, não se amam. Ser compulsivamente generosas para os outros é o caminho que vêem parta receber de volta o
mínimo de amor de que desesperadamente necessitam”.

Percebe-se, então, que além da falta de esperança, a baixa estima e a repressão das emoções são traços característicos de
pessoas que desenvolvem o Câncer. Vamos, então, falar um pouco sobre eles:

Baixa estima

A baixa estima se traduz pela dificuldade em aceitar elogios, pois a pessoa não se acha merecedor das coisas boas da
vida. A pessoa não se cuida, nem se trata muito bem, pois, não gosta de si próprio. A pessoa se sente incapaz e
inadequado perante a vida. Em seus relacionamentos, ela não se acha digna de receber amor, culpa os outros pelos erros
e encara todas as críticas como ataques pessoais. Normalmente, se sujeita a qualquer tipo de relacionamento só para ter
alguém ao seu lado, tornando-se dependente deste vínculo e não tendo forças para sair dele.

Segundo Alírio de Cerqueira Filho, médico homeopata e psicoterapeuta, a ausência da auto-estima positiva impede
nosso crescimento psicológico.

“A auto-estima positiva funciona como se, na realidade, fosse o sistema imunológico da consciência. Fornece
resistência, força e capacidade de regeneração. Quando é baixa a auto-estima, nossa resistência diante da vida e
suas adversidades diminui. Ficamos aos pedaços diante de vicissitudes que uma percepção mais forte de si
mesmo poderia superar. Nesse caso, tendemos a ser mais influenciados pelo desejo de evitar a dor do que de
vivenciar o prazer. Fatores negativos têm sobre nós mais poder do que os positivos”. (2)

Existem várias causas para este tipo de atitude. E, assim como a falta de esperança, a baixa estima tem origem na
infância. O bebê que não tem suas necessidades básicas atendidas de forma satisfatória, não cria uma relação de
confiança e segurança com a mãe e, portanto, não começa a desenvolver uma expectativa positiva em relação ao
mundo. Sem esta relação de confiança básica, ele não adquire confiança em si mesmo, que é a base da auto-estima. E,
se ainda for humilhado, criticado, desencorajado em seu processo de autonomia, não desenvolverá a auto-estima,
duvidará de sua própria capacidade e se sentirá indigno de receber amor.

Repressão das Emoções

Em nossa cultura, muitas pessoas, reprimem suas emoções negativas ao se confrontarem com os estímulos estressantes
do dia-a-dia, demonstrando um comportamento social politicamente correto. Essa repressão se manifesta pela negação
da emoção e pelo não extravasamento dela. Porém, como já vimos anteriormente, quando as situações estressantes são
demasiadamente intensas e/ou freqüentes, começa a haver um desgaste orgânico predispondo o organismo às doenças.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 22
Alguns pesquisadores observaram, em seus estudos, que pacientes cancerosos tem dificuldade de expressar emoções
negativas.

O Dr. D.M. Kissen percebeu que a diferença entre os fumantes que desenvolviam câncer no pulmão e as pessoas que,
apesar de fumarem tanto quanto aqueles, não desenvolviam a doença, era que os pacientes cancerosos tinham “poucas
saídas para descarregar suas emoções”.

O Dr. Bruno Keopfer, em um dos primeiros estudos psicológicos feitos sobre Câncer, conseguiu predizer qual seria a
velocidade de crescimento do tumor (rápido ou vagaroso) a partir da negação dos sentimentos dos pacientes. “Os que
sentiam uma grande necessidade de manter uma ‘boa’ imagem quando estavam sofrendo emocionalmente tinham um
crescimento mais rápido dos tumores”. (apud 3 p.84)

Stephanie Simonton (12) afirma que a pessoa cancerosa pode “mascarar a raiva, com também encobrir e negar a
depressão que dela resulta”. Para ela a pessoa com mais chances de ter esta conduta é o primeiro filho.

“As estatísticas mostram uma maior incidência de câncer nas pessoas que são os primeiros filhos. Uma
possível razão é que a família pressiona mais o primeiro filho a crescer rápido. A criança é levada a negar sua
vulnerabilidade desde tenra idade. De maneira típica, o 2º filho, que nasce em geral quando o 1º tem entre 18 e
36 meses, passa a receber toda a atenção da família. Naturalmente, o 1º filho fica muito assustado e passa a se
sentir rejeitado. Ele está numa idade em que deveria estar agindo de forma provocadora e assertiva, dizendo
não à mãe para poder se definir como pessoa. Crianças que recebem autoridade para fazer isto e conhecem os
limites impostos pelos adultos aprendem que é seguro estarem separadas da mãe e zangadas com ela. Mas, com
o novo bebe por perto, tudo isto adquire uma nova perspectiva. Agora, não é seguro gritar com a mãe. Tudo
tornou-se incerto. Adicionem-se a esses fatores o temperamento e a crença dos pais a respeito da raiva e da
vulnerabilidade. Se forem criados de maneira tradicional, eles vão dizer ao pequeno John que ‘aja como
homem’ a partir do momento que ele começa a andar - em outras palavras, que ele não deve chorar nem
depender dos outros. E se a mãe estiver sobrecarregada com um segundo filho que lhe dá problemas, a menina
mais velha será incentivada a ser uma ‘mamãezinha’ aos dois anos de idade. De uma forma ou de outra, esses
são alguns dos fatores que levam o adulto a negar seus sentimentos e a ter sintomas físicos quando está sob
tensão”. (p. 84-85)

Qual a importância de conhecer o perfil psicológico do paciente com Câncer?

Para o Dr. Marco Aurélio Dias da Silva (11), o perfil psicológico desempenha uma função importante tanto na origem
quanto na evolução do câncer:

“Mesmo os que negam a importância do psiquismo no desencadear do Câncer concordam que sua evolução,
uma vez presente, seja influenciada de forma significativa pela personalidade do doente, sua maior ou menor
resistência psíquica e ainda por sua maior ou menor disposição de lutar pela vida. Aqueles que renunciam e se
entregam evoluem mal e morrem logo. Os que mantêm acesa a chama da esperança e crença na vida; os que
querem genuinamente viver; os que têm atitudes positivas, força de vontade e objetivos na vida e assumem o
compromisso de lutar por eles; os que não se limitam apenas a aceitar passivamente o que dizem os médicos...
estes evoluem melhor, vivem mais e podem até curar-se. Além disso, mesmo que venham a morrer, o período
entre o conhecimento da doença e a morte será provavelmente, não só maior como também melhor, em termos
de bem-estar e qualidade de vida.” (pg. 154)

Carl e Stephanie Simonton realçam, também, que a atitude do paciente aumenta as defesas do organismo.

“Os sentimentos de fé e esperança como as preces têm o poder, já comprovados cientificamente, de colaborar
no restabelecimento do sistema imunológico e provocar a destruição das células cancerígenas. Geram emoções
fortemente positivas que estimulam a pineal, levando a glândula a produzir quantidades ideais de melatonina,

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 23
assegurando de forma mais intensa a defesa imunológica, levando o organismo a atacar rapidamente os vírus e
as bactérias. A prece envia substâncias químicas que permitem a elevação da endorfina, encefalina e
serotonina, responsáveis pela sensação de bem estar, e que auxiliam o movimento cerebral”. (8)

Qual o papel do psicólogo junto aos pacientes cancerosos?

Os pacientes cancerosos, assim como todos os outros enfermos, devem ser tratados por uma equipe multiprofissonal, de
preferência atuando inter ou transdisciplinarmente, onde todos os seus aspectos são tratados com igual importância.

O psicólogo deve ter como enfoque principal do seu trabalho psicológico a manutenção da saúde e a prevenção das
doenças. Seu objetivo deve ser o de ajudar a pessoa a se identificar com o ser saudável que há nela, através de:

· Fortalecimento da auto-estima;
· Encorajamento da esperança;
· Estímulo à expressão de sentimentos e emoções;
· Descoberta de maneiras positivas de superar ou de conviver com emoções negativas;
· Aceitação dos sentimentos e emoções, sem julgamento de valor nem sentimentos de culpa;
· Valorização do perdão, pois, quando o cliente conseguir se perdoar e perdoar aos outros, estabelecerá relações
mais saudáveis e prazerosas.

Agindo assim, o psicólogo permite ao paciente reduzir vários fatores psicológicos que debilitam e tornam o organismo
propenso ao aparecimento e desenvolvimento do câncer.

Quando a doença já está instalada e há a necessidade de internação é importante que o profissional estimule a adesão do
paciente ao tratamento e reduza os impactos do adoecer e da internação no enfermo, através de atos da humanização
hospitalar.

É fundamental que o psicólogo conheça os estágios que o paciente passa na sua terminalidade, os quais foram descritos
por Elizabeth Kübler-Ross em seu livro Sobre a morte e o morrer (5), para que possa oferecer ao paciente uma melhor
qualidade de vida possível, dentro das possibilidades.

Além da atenção ao doente, o psicólogo também deve promover a saúde de seus familiares e de toda a equipe que o
assiste.

Conclusão

Ao enfocar os aspectos psicológicos que debilitam o organismo e o predispõe ao aparecimento e desenvolvimento do


Câncer, percebi que além da esperança, a fé e o amor são fundamentais na recuperação da saúde.

Ter fé é acreditar no que não se vê, é confiar no que o médico diz. A fé é a base para a esperança e o amor. A esperança
estimula a buscar tratamentos, na expectativa da cura, do bem-estar e o amor proporciona o apoio da família, a
aceitação incondicional de si mesmo, o auto-perdão, a troca de emoções positivas com outras pessoas e uma qualidade
melhor de vida.

Estes três fatores permitem ao paciente enfrentar a doença com mais segurança, fazer melhores escolhas, estabelecer
relacionamentos positivos e harmônicos que proporcionarão equilíbrio psicológico e saúde.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 24
R EFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

1. CABRAL, Ana Paula Tolentino et al, em parceria com o Professor-orientador: Fernando Pimentel Souza . O Estresse
e as Doenças Psicossomáticas: Relação com Câncer. Revista de Psicofisiologia, vol. 1, números 1 e 2. 1997
(completo). Disponível em: <http://www.icb.ufmg.br/lpf/revista/revista1/volume1_estresse/cap2_cancer.htm> Acesso
em: 16 jun. 2006

2. CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Por que precisamos de auto-estima? In: Núcleo de Estudos Científicos do Instituto
Brasileiro de Plenitude Humana. Disponível em:
<http://orbita.starmedia.com/~estima/por_que_precisamos_de_aut_estima.html > Acesso em: 18 jun. 2006

3. CREIGHTON, James L.; SIMONTON, O. Carl; SIMONTON, Stephanie Matthews. Com a Vida de Novo - Uma
abordagem de auto-ajuda para pacientes com câncer. SP, Summus Editorial, 1987.

4. A Desesperança é um risco para pressão alta. Bibliomed, Inc: Boa Saúde. Disponível em:
<http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=2665&ReturnCatID=487> Acesso em: 18 jun. 2006

5. KÜBLER-ROSS, Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo, Martins Fontes, 1998.

6. LE SHAN, Lawrence. Brigando pela vida: aspectos emocionais do câncer. [Tradução Denise Bolanho; revisão
técnica Ruth Rejman]. SP, Summus, 1994.

7. LE SHAN, Lawrence. O Câncer como ponto de mutação: um manual para pessoas com câncer, seus familiares e
profissionais de saúde. [Tradução de Denise Bolanho; revisão técnica de Ruth Reveca Rejtman]. SP, Summus,1992.

8. LOPES, Wilson e MAGNAVITA, Mônica. A importância do paciente em sua cura in : Oncoguia Disponível em: <
http://www.oncoguia.com.br/recursos_espirit/01_cura.asp > Acesso em: 20 jun. 2006

9. Possível ligação de Prozac com o câncer cria polêmica. In: BBC Brasil.com: Saúde & Tecnologia. 26 de março, 2002
. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/020326_prozacml1.shtml> Acesso em: 17 jun. 2006

10. SILVA, Glaci Ribeiro da. Câncer: um predador maligno cercado de mitos. In: Gazeta do Racionalismo Cristão.
Diponível em: < http://www.racionalismo -cristao.org.br/gazeta/saude/cancer.html. Acesso em: 19 jun. 2006

11. SILVA, Marco Aurélio Dias da. Quem ama não adoece: o papel das emoções na prevenção e cura das doenças. SP,
Editora Best Seller. 9ª edição.

12. SIMONTON, Stephanie Matthews. A família e a cura: o método Simonton para famílias que enfrentam uma doença
[tradução de Heloísa Costa] SP, SUMMUS, s/d

____________________
Recebido em 02/01/2007
Aprovado em 01/02/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 25
HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR E QUALIDADE DO ATENDIMENTO
Mariana Amaral Guerra 1

Discutimos sobre humanização hospitalar muitas vezes pensando apenas no respeito, na afetividade e na emoção. Um
dos aprendizados mais proveitosos que trago da graduação é a necessidade em aprender a trabalhar em equipe, ponto
que vejo como essencial para que se fale sobre humanizar. É preciso a divisão de cargos e espaços, o amparo ao
paciente e o apreço pela função que o outro exerce. É preciso dar lugar a atividades multidisciplinares. O bom
atendimento, um local adequado de espera e um tratamento digno de qualquer pessoa – seja ela rica, pobre, pagante ou
não de plano de saúde. Não é surpresa para ninguém que o Sistema Único de Saúde, SUS, encontra-se desfinanciado e
mal administrado. Ponto positivo a favor da desumanização! Para que consigamos trabalhar com um mínimo de
sucesso, evolução e ordem com a temática em questão não basta só vontade ou determinação. Necessita-se de um
incentivo àqueles que além do papel de “cuidador” também precisam aprender a viver em um ambiente de diferenças,
de incontáveis erros, de superação e de desgaste. Uma aplicação correta e coerente dos programas de Qualidade e
Humanização do Atendimento Hospitalar se converteria em resultados mais claros, tanto para as ações dos profissionais
ali inseridos quanto para a auto-estima de servidores e pacientes desta Instituição. Hospital por si só já é um retrato vivo
da doença, da tristeza, do sofrimento e da frieza. É preciso trabalhar o emocional, a subjetividade, a interação, a troca de
calor humano e principalmente o bem-estar de quem convive ali, independente de ser paciente ou profissional. E
acreditem se quiser, o avanço tecnológico responsável pela indiscutível melhoria dos recursos, é também marcado por
uma desvantagem imensurável. Seu aspecto maquinal acaba por automatizar as ações. Mais do que nunca é preciso
saber como harmonizar a tecnologia e a as intervenções que só ‘pessoas’ estão capacitadas a realizar. Pessoas dotadas
de competências, habilidades específicas, moral e individualidade, aptas a fazerem, sim, mais do que realizam
constantemente em seus ofícios. Objetos não são o foco do trabalho. Objetos são instrumentos facilitadores deste. A
melhoria do atendimento deve constituir uma busca incessante para qualquer Instituição de Saúde e a grande questão
precisa ser “tornar humano” o contato entre aquele que ‘sofre’ e aquele que ‘cuida’.

____________________
Recebido em 10/10/2006
Aprovado em 01/02/2007

1
Aluna do 8º. semestre de Psicologia da Universidade Católica de Brasília - UCB.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 26
O TRABALHO DA PSICOLOGIA NO AMBULATÓRIO DE ANGIOLOGIA
Danielle Silva Veiga1

Neste artigo desejo relatar um pouco do que foi meu trabalho como estagiária do ambulatório de Angiologia da Santa
Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro em 2005. Primeiramente gostaria de falar um pouco do ambulatório e do nosso
serviço.

A responsável pelo serviço é a psicóloga Maria Alice Lustosa de Abreu, minha supervisora na especialização em
Psicologia Hospitalar. O serviço é o mais recente dentre os ambulatórios cobertos pela equipe de Maria Alice. Fazem
parte dele, três psicólogas formadas e ex-alunas do curso que se revezam em três manhãs por semana. Após conversar
com o chefe do ambulatório e saber o que era esperado da Psicologia, foi instituída uma pesquisa chamada “Perfil da
Paciente de Angiologia” que visa conhecer um pouco melhor o perfil da clientela que freqüenta este ambulatório. Mais
tarde foi instituída uma outra pesquisa chamada: “Grau de Satisfação com o Companheiro” que visa conhecer um pouco
melhor a relação da paciente com seu marido/namorado e com a doença. As pesquisas são realizadas por estagiários e
discutidas ao final do primeiro período letivo. A pesquisa ajuda também a instituir novos serviços de acordo com o
perfil da clientela.

Outros serviços da Psicologia são o grupo de sala de espera (informativo/educativo) e o atendimento individual quando
necessário. Pacientes que necessitem, são encaminhadas ao serviço de Psicoterapia Breve da supervisora, que é gratuito
e na própria Santa Casa.

Participei da pesquisa e do grupo de sala de espera durante seis meses, junto com a psicóloga Judite, que ficava no
mesmo dia que eu.

Para o estagiário, a vista da Angiologia pode ser um pouco chocante, pois este deve se deparar com pessoas com as
pernas feridas, escurecidas, por vezes muito inchadas. Algumas feridas estão tão mal cuidadas que fazem os próprios
médicos se sentirem mal com os curativos, como no caso de uma senhora com uma úlcera profunda.

São casos de varizes, erisipela, trombose, linfedema, úlcera... nomes com os quais o estagiário acaba ficando
familiarizado.

A relação com os médicos foi excelente. Todos me acolheram de braços abertos, inclusive me fornecendo um auditório
onde eu pudesse ter privacidade com as pesquisadas.

As pacientes também aceitavam bem a pesquisa, algumas reagindo com desconfiança a princípio, crendo se tratar de um
teste no qual deviam ser aprovadas ou achando que teriam que se comprometer a responder outras vezes. No entanto,
quando esclarecidas, se tornavam cooperativas e gostavam de contar seus problemas, incluindo dramas familiares.

A chefe do ambulatório, que valoriza bastante a Psicologia, dizia ter conseguido curar algumas pacientes apenas após
atendimento psicológico. Percebemos muitos ganhos secundários com a doença (benefício do INSS, atenção,
diminuição da responsabilidade), mas também um sofrimento consciente enorme.

Muitas vezes privadas de uma vida normal, faziam as tarefas domésticas sentindo inúmeras dores, dores que nunca
cessavam. Tinham a auto-estima diminuída por uma vergonha de mostrar o corpo, as feridas, um sentimento de
desvalorização, de estar sobrecarregando os outros. Muitas se apegavam na fé para negar essa realidade, fazendo da
Igreja sua única vida social, dizendo que Deus iria ajudá-las e que “cristão não pode ficar triste”, por isso procuravam
sorrir mesmo nos momentos mais difíceis, como se chorar fosse um desafio a Deus.

1
Psicóloga, CRP 05/31191. Especializanda em Psicologia Hospitalar - Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 27
Mas como ajudar essas pessoas tão carentes de necessidades básicas? Tendo que trabalhar ao invés de fazer repouso,
não podendo comprar um remédio mais caro? Apesar de todo esforço dos médicos, em fortalecer a relação médico-
paciente e de todo carinho em acolher essa pessoa, muitas vezes o esforço era vão. Por carência material, a pessoa
acabava não seguindo à risca o tratamento. Seja porque eram domésticas que não podiam perder o emprego, seja porque
eram mulheres solteiras que necessitavam fazer as tarefas de casa. Seja porque eram pessoas sem renda que viviam do
INSS.

Onde entra então a Psicologia?

Bem, não podemos resolver estas questões sociais e sim trabalhar com as emoções implicadas por elas. Fazer a paciente
compreender o mecanismo psicológico da doença e mesmo como funciona a nossa circulação, já é uma grande ajuda.
Ficamos ás vezes frustrados, pois após uma explicação trabalhosa, a paciente parece não ter absorvido quase nada. Isso
se dá devido à ansiedade e o medo de perder a consulta médica tão penosamente marcada ou à própria angústia da
doença. Quando se está muito angustiado, a “cabeça fica nas nuvens”. Apenas após repetidas explicações, o paciente
compreende o mecanismo de sua doença.

Alguns nem querem saber por excessiva idealização do médico. Ele vai cuidar dela, ela está nas mãos dele e o
importante é que ele saiba o que está fazendo. Isto pode ser também uma defesa, uma regressão em relação à doença.

Gosto muito do termo “co-responsabilidade” usado por Maldonado e Canella. Os autores dizem que o paciente é
igualmente responsável pelo tratamento e não apenas o médico. E isto é importante deixar claro para nossos pacientes.
Aos poucos eles são capazes de compreender o outro lado da moeda.

A Psicologia trabalha o simbolismo do sangue e da circulação, os estressores ocultos na vida do paciente, suas difíceis
relações familiares e sua relação com o médico. Alguns pacientes acham difícil entender a relação entre estresse e
doença, não conseguem perceber como a emoção influencia no corpo, o que já foi chamado um dia de Alexitimia. O
alexitímico era aquele paciente concreto, sem simbolismo. Hoje em dia são pesquisadas outras hipóteses para o mesmo
problema.

O encaminhamento à Psicoterapia Breve tem ajudado os pacientes a melhorarem seu emocional, influindo também na
sua imunidade. Os pacientes que por acaso morem muito longe são encaminhados para locais próximos à sua
residência.

O grupo de sala de espera auxilia na identificação dos pacientes com seus iguais. Nele surgem dúvidas como, por
exemplo: se se pode usar aquele chazinho que o vizinho recomendou ou como passar roupa sem forçar as pernas. A
psicóloga auxilia com sugestões e os pacientes trocam entre si. Uma paciente relatou muito envergonhada, certa vez,
que havia passado açúcar na úlcera, pois disseram que era muito bom, e que só piorou a vida dela, tornando a ferida
muito pior. Há também a imp ortância de se orientar a família, que muitas vezes pensa que o paciente é preguiçoso, não
quer fazer nada, principalmente nos casos em que não há lesão aparente.

Não é incomum ver pacientes deprimidos (especialmente mulheres), vítimas de maridos violentos, alcoólatras, e que
continuam dizendo que o marido é muito bom para elas, pois não têm como se sustentar sozinhas e precisam viver
aquela situação. Usam desculpas como: “Quando ele não bebe é uma ótima pessoa”. A depressão é a forma de exprimir
a realidade de uma doença crônica e que torna a vida muito limitada. No entanto, vemos pacientes muito fortes,
resistindo às dificuldades da vida e seguindo em frente. Talvez uma “calosidade” por viver exposto às variadas
intempéries.

O psicólogo deve ser uma pessoa muito acolhedora e disponível. Apto para “traduzir” a linguagem médica para os
pacientes e vice-versa, entendo o “nervoso” como angústia, ansiedade ou depressão, explicar que imunidade é a defesa
do organismo contra as doenças e muitas outras coisas. O psicólogo é visto como aquele com quem conversar, um outro

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 28
“doutor” mas que é diferente, aquele que educa, orienta. Após rompida a primeira barreira de comunicação, os pacientes
têm prazer em relatar suas experiências ao psicólogo. Mas não é só uma barre ira lingüística que separa o psicólogo do
doente e sim uma barreira cultural. Devemos nos pôr na “pele” daquela pessoa e entender os fatos como se fosse ela.
Essa é a verdadeira empatia.

O psicólogo também deve estar pronto para entender as crises do acompanhante como num caso que ocorreu comigo. A
sala de pesquisa era no segundo andar (não havia outra) e para isso, o paciente deveria subir uma escada pequena. Ao
convidar uma senhora para a pesquisa e ela aceitar, o acompanhante me abordou irritado perguntando que pesquisa era
essa. Após explicar, disse que ela deveria ir até a sala. Ele, mais irritado ainda, gritou que eu não deveria fazer uma
senhora de idade naquelas condições se levantar, que se ela estivesse bem das pernas não estaria na Angiologia.
Agradeci e saí. Essa pessoa se comportou da mesma forma agressiva com os médicos e foi proibida de entrar na sala de
consultas. Mais tarde vim a descobrir que se tratava do ex-patrão da paciente. Ela morava na casa dele por não ter para
onde ir. A paciente era portadora de úlcera e estava muito mal cuidada. Neste caso, a agressividade parecia estar sendo
usada para evitar que a paciente me contasse eventuais maus tratos ou queixas a ele.

Ás vezes aparecem pacientes mais jovens como o caso de Trombose Venosa Profunda que estudei para meu trabalho de
primeiro semestre. O paciente tinha 36 anos, no entanto, seu estado psicológico era bastante sério. Aparentemente o
paciente estava ótimo: ria, brincava e colaborava bastante, mas uma coisa me chamou atenção: sua alegria ao falar da
doença e aprender os termos médicos. Analisando sua história e as doenças “raras” que apresentou desde adolescente,
vemos um ganho secundário muito grande que provavelmente o levará a ter novos episódios de trombose um dia.

As aparências enganam. Assim, nem sempre o paciente choroso está mal. Chorar é uma reação normal a um momento
de perda. O reconhecimento da perda, ajuda a reorganizar a vida. O paciente falante e brincalhão pode estar também
ocultando um enorme sofrimento. Em geral essa é a forma dos homens lidarem com a doença: com um aparente
conformismo ou brincando com a situação.

Em relação aos médicos, não tive nenhum problema. Felizmente a médica chefe tem a filosofia de que é bom que o
doente tenha apenas um médico responsável por ele e o rodízio é evitado ao máximo. Os horários são respeitados e a
espera é mínima. Até os pacientes somatizadores e “simuladores” são acolhidos.

Eu havia escolhido o caso de uma senhora de 80 anos para meu estudo de caso. Ela se queixava de má circulação e eu
desejava conversar com o médico para saber seu diagnóstico. Algumas semanas depois vi a paciente deitada numa maca
e rodeada de médicos a examinando. A médica chefe e os residentes discutiam a possível patologia e nada era
conclusivo. Quando conversei com a médica, ela me disse que a paciente não tinha nada! Absolutamente nada de
angiológico. A paciente extremamente feliz, dizia: “Ainda bem que esse meu corpo velho serve para alguma coisa. Os
médicos ainda estudam nele!”. Então me explicaram que a paciente continuava em atendimento, pois fazia daquela
doença sua vida e com ela obtinha atenção. Tomava medicação para males menores que tinha.

Resumindo: Estagiar na Angiologia foi uma lição. O caminho para se descobrir à paciência, a flexibilidade e a
tolerância necessárias para este tipo de trabalho não é fácil. O contato com os pacientes foi muito gratificante e também
o aprendizado de como trabalhar em equipe. Lembro-me de minha pesquisa de monografia onde eu perguntava aos
psicólogos se eles criam na interdisciplinaridade. A maioria deles me dizia que cria, mas apenas tinha visto pequenas
parcerias. Hoje posso dizer que vi um trabalho em equipe acontecer e que dá resultado! Fiquei muito feliz quando uma
das médicas no final do período convidou a Psicologia a fazer parte de sua monografia da residência. Ela falaria de
pacientes com úlcera e gostaria de incluir um capítulo sobre Psicologia e entrevistar as psicólogas sobre seus pacientes.
Imediatamente a proposta foi aceita e as trocas começaram a se efetuar.

O trabalho da Psicologia em Angiologia é muito recente, mas os primeiros passos foram dados e eu creio que “uma
grande jornada começa com um pequeno passo”.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 29
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

Lemgruber, V. Psicoterapia Breve: A Técnica Focal. Porto Alegre: Artmed, 1990.

Maldonado, M.T. e Canella, P. A Relação Médico Cliente em Ginecologia e Obstetrícia. Rio de Janeiro: Atheneu ,
1981.

Silva, A.F.R. da e Caldeira, G. Alexitimia e Pensamento Operatório. IN: Mello Filho, J. Psicossomática Hoje. Porto
Alegre: Artmed, 1992.

Veiga, D.S. Fatores Estressantes no Trabalho do Psicólogo Hospitalar em Enfermarias. Monografia de Conclusão de
Curso.[Não Publicada] Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
Disponível em: www.geocities.yahoo.com.br/danielle_veiga

____________________
Recebido em 12/08/2005
Aprovado em 01/10/2005

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 30
O ABANDONO AO IDOSO
Rose Mary Vilas Boas Tanajura Costa1

Atualmente o envelhecimento é um tema que vem adquirindo importância cada vez maior, tanto mundial, quanto
nacionalmente. Estima-se hoje que, no Brasil, a população de idosos represente um contingente em torno de 15 milhões
de pessoas e, nos próximos anos, poderá superar 30 milhões de pessoas. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), “os números mostram que atualmente 1 em cada 10 pessoas tem 60 anos ou mais e
para 2050, estima-se que a relação seja de 1 para cada 5 em todo mundo, e de 1 para cada 3 nos paises desenvolvidos”.

Outro dado importante divulgado nesta pesquisa é com relação às pessoas com mais de 100 anos; para o ano de 2050
essa população deverá ultrapassar 2 milhões de pessoas. O rápido aumento da população idosa se deve à redução das
taxas de mortalidade e ao declínio das taxas de fecundidade. Acrescentando-se a isso os avanços nas áreas científicas e
tecnológicas, possibilitando aos indivíduos uma expectativa de vida cada vez maior. Contudo não basta acrescentarmos
anos à nossa vida, se isso não for acompanhado de melhora nos recursos sociais, econômicos e culturais que possam
proporcionar a esse idoso uma vida com qualidade e satisfação pessoal.

Em seu processo de envelhecimento, a pessoa idosa pode vir a sofrer alterações de diversas ordens favorecedoras de
condição de fragilidade, muitas vezes associada a uma doença crônico-degenerativa ou a um quadro de comorbidade.
Tal condição torna o idoso dependente de cuidados de outrem, podendo expô-lo a situações de risco de violência
intrafamiliar, quando seus cuidadores forem familiares convivendo em contexto de relacionamentos disfuncionais.

Sabemos que na maioria dos casos, o idoso em condição de dependência necessita de ajuda familiar, especialmente de
um cuidador para auxiliá -lo na satisfação das necessidades básicas. Gera-se com isso a exigência de adaptação, por
parte do idoso, às novas situações que lhe são apresentadas, as quais nem semp re são fáceis ou possíveis. A falta de
capacidade adaptativa do idoso à nova vivência das alterações nas relações familiares pode estar associada a rupturas
várias, como de suas atividades laborais e de mudança nas relações anteriores, que alteram o seu estilo de vida e o
fazem dependente de outrem e do ambiente familiar. Isto abre possibilidades para os conflitos intergeracionais. Os
limitados recursos das famílias, aliados à sobrecarga de abrigar e cuidar de um membro idoso fragilizado em seu
contexto doméstico, podem gerar dependências multifacetadas de difícil administração. Há diminuição e deterioração
da qualidade das relações interpessoais no interior da família, imperando um clima de estresse, tanto para o idoso
cuidado quanto para a família cuidadora (ALVAREZ, 2001).

Antigamente o saber e o conhecimento acumulados, resultados da experiência de vida, eram a maior riqueza do idoso,
colocando-o em posição de destaque na sociedade. Atualmente o saber é privilégio dos mais jovens, deixando o idoso à
margem da sociedade, perdendo a sua condição social. Sabemos que por um lado, a sociedade marginaliza o idoso, por
outro lado, o próprio idoso tem dificuldades de abrir mão de suas próprias convicções, tornando-se rígido nos seus
pensamentos e comportamentos, não sendo capaz de ao longo de sua vida construir seus objetivos, planejar o futuro,
evitando a dependência e cuidados de familiares. Segundo Elias “o modo como uma pessoa morre depende em boa
medida de que ela tenha sido capaz de formular objetivos e alcançá-los, de imaginar tarefas e realizá-las. Depende do
quanto que a pessoa sente que sua vida foi realizada e significativa ou frustrada e sem sentido”. Portanto percebo com
isso que o processo de morte torna-se mais fácil para aqueles que sentem ter cumprido a sua parte e mais difícil para
aquele que sentem ter fracassado na realização das metas.

Sobre o estatuto do idoso

Depois de seis anos de tramitação no Congresso Nacional, o Estatuto do Idoso foi aprovado em setembro de 2003 e
sancionado pelo Presidente da República no mês seguinte. O Estatuto, entre outras coisas, tipifica crimes contra o
idoso, proíbe a discriminação nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade, determina

1
Formada em Pedagogia / Orientação Educacional pela Universidade Católica de Salvador (1976). Reg MEC. L 0041.
Latu Sensu em Psicologia da Educação com ênfase em Psicopedagogia Preventiva pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (2002). Programa Prepes.
Estudante do 8º. semestre de Psicologia na Faculdade de Tecnologia e Ciências de Vitória da Conquista / Bahia.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 31
o fornecimento de medicamentos pelo poder público e garante descontos de 50% em atividades culturais e de lazer para
os maiores de 60 anos e gratuidade nos transportes públicos para pessoas acima de 65 anos.Trata-se de um conjunto de
leis que estabelece os procedimentos legais que devem acontecer para melhoria da situação da população idosa do
Brasil.

A família deve ser o ponto de apoio do idoso em todos os momentos e circunstâncias. Esta sofreu mudanças
importantes decorrentes da maior participação da mulher no mercado de trabalho, da redução do tamanho da família, do
surgimento de novos papéis de gênero e da maior longevidade.

Assim diz o art. 3º título 1 do Estatuto do Idoso: “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária”.

Há uma especificação no parágrafo único, inciso V: “priorização do atendimento ao idoso por sua própria família, em
detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria
sobrevivência".

No art. 4º, determina-se que “Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência ou
opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma de lei”. No convívio familiar há
o respeito, o carinho e as melhores condições de vida que cada indivíduo idoso necessita. O Estado assumirá a
responsabilidade quando não houver condições de manter a pessoa de idade avançada no convívio com a família.

O Estatuto prevê o respeito à inserção do idoso no mercado de trabalho e à profissionalização, tendo em vista suas
condições físicas, intelectuais e psíquicas. Nosso mercado está voltado para os jovens; tornam-se, portanto,
imprescindíveis mudanças que estimulem a participação do idoso no processo de produção. Eles podem e devem
contribuir com a sua experiência para o crescimento do país. Estão asseguradas oportunidades de acesso à cultura,
esporte e lazer com propostas e programas voltados para esta idade, além da facilidade do encontro de cursos especiais
que são fundamentais para preservar a saúde física e mental do idoso. O Brasil gasta aproximadamente 22% de tudo o
que investe em saúde no tratamento hospitalar da população idosa. O Estatuto contempla esta questão no Capítulo IV,
onde está assegurada a atenção integral, bem como políticas de prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde
do idoso. O capítulo reservado à Previdência Social prevê os direitos constitucionais que estão sendo desrespeitados,
como a vinculação das aposentadorias e pensões ao salário mínimo; a garantia de um salário mínimo para todo o idoso
que a renda mensal per capita da família não ultrapasse um salário mínimo (1/4 do salário mínimo); a garantia de que o
aposentado receba o mesmo número de salários mínimos que recebia na época em que se aposentou, além do
recebimento de uma indenização pelo que não foi pago e correção dos valores a receber daí para frente.

Envelhecimento e Depressão

O envelhecimento traz consigo adversidades dignas de atenção e cuidados. Essas adversidades podem se acentuar ainda
mais quando a depressão estiver associada ao processo do envelhecimento. A depressão em idosos tende a ser
recorrente, mudando com isso o estilo de vida desses indivíduos e, por conseguinte exigirá da equipe de saúde, um
acompanhamento a longo prazo. Os sintomas mais conhecidos podem ser caracterizados por lentidão dos processos
psíquicos, humor irritável, redução de energia, incapacidade de sentir alegria, e ou prazer, pensamentos negativos,
dificuldade de concentração, desânimo, apatia, idéias de ruína, desamparo, entre outros. As principais queixas do idoso
estão em torno do sentimento de perda, que podem estar relacionados na perda da própria saúde físicos, do papel, social
antes desempenhado e das pessoas próximas e amigas. (Savóia)

Narrarei um atendimento que fiz no Hospital onde faço estágio, e que me deixou bastante triste quando percebi o
abandono de um pai idoso pelos seus filhos.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 32
J.O. tem 76 anos, já foi operado da uretra duas vezes, e da próstata uma vez, é cardiopata, hipertenso e diabético. Ficou
viúvo há quinze anos atrás, segundo ele, era um homem sadio quando tinha esposa, depois que ela partiu, ele fica
sempre doente, recentemente interna no hospital num espaço de quinze dias entre a alta anterior e a reinternação. Desta
vez, ele ficou internado por dez dias e eu o atendi cinco dias diferentes, durante este período, nos meus horários, não
apareceu nenhum familiar, perguntei a Enfermeira chefe e as auxiliares sobre os filhos do Sr. J., e eles disseram-me que
também nunca viram, liguei para um número de telefone que constava no prontuário, e a resposta é que não conhecia
este Sr. Ao conversar com ele, o mesmo falou-me que tinha 12 filhos, sendo 11mulheres e um homem, todos casados.
Perguntei porque eles não estavam ali? Esclareci que lhe era permitido, no caso de paciente acima de 60 anos, o
acompanhamento de um familiar. Ele então me revelou que ninguém tinha tempo para ele, que se ele tivesse dinheiro
todos estariam lá, já tentou se matar duas vezes, comprando arma, por solidão. No dia da alta hospitalar, eu fui para
conversar com um familiar, encontrei a filha, a mesma disse-me que tinha pressa, que ele não aceita as coisas, que é
muito difícil, e que todos trabalham, inclusive que ele tem neto, genro e filho Pastor de Igreja Evangélica e que
estes ficam na igreja até 22hs. Eu chamei atenção, sobre o cuidado que o pai dela precisava, e sobre tudo que passava
com ele. Então concluo dizendo que este paciente passa por uma violência afetiva, moral, que é ser abandonado pelos
filhos. Os momentos de prazer em nossas vidas são ímpares, e esses devem ser vividos com quem se ama. Acredito
que este idoso não tenha construído durante a sua vida hábitos, objetivos para o seu futuro, amizades sinceras. Também
não trabalhou a perda da esposa, hoje vive em casa com uma filha adotiva que “não conhece a leitura, e só sabe fazer a
comida, não me faz companhia,” palavras dele. Diante de tudo isso, é bastante deprimido, talvez pela falta de
companhia dos filhos, o que mais me intrigou neste fato é que com tantos filhos, este idoso vive só, e me pergunto
porque estes filhos não o colocam em uma instituição onde residem idosos? Ou mesmo façam um revezamento entre
eles, já que são tantos, onde possam estar fazendo companhia a ele? O médico ao dar a alta hospitalar, disse a ele que
daí a oito dias, precisava falar com alguém da família, isso me foi contado por ele. Também passei esta informação do
médico para a filha do paciente. Acho que ele já desconfiava do diagnóstico, pois na saída nos disse: eu já sei o que ele
vai dizer, que eu estou com “aquela doença ruim” este pode ter sido o motivo de sua tristeza, de não querer se alimentar,
e não fazer questão da presença dos filhos. Realmente o diagnóstico era um câncer de próstata, e por conta da alta
hospitalar não mais soube notícias deste idoso. Apenas concluo que se a família passasse a se interessar por ele, e
tivesse interesse no diagnóstico, poderia poupá-lo de tanto sofrimento, fazendo companhia ao mesmo.

R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVAREZ, A. M. Tendo que cuidar: a vivencia do idoso e de sua família cuidadora no processo de cuidar e ser
cuidado no contexto domiciliar. 2001. 183 f. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) - Centro de Ciências da Saúde,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estatuto do idoso/ Ministério da Saúde. 1 ed., 2ª reimpressão - Brasília. M.S.
2003. Acesso em 01 de setembro de 2006.

ELIAS, N. A solidão dos Moribundos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios.
Disponível em http://www.ence. ibge.gov.br./publicações relatórios_técnicos.

SAVOIA, G.M. Org. A interface entre a Psicologia e Psiquiatria: Novo conceito em saúde mental. São Paulo: Rocca.
2006.

____________________
Recebido em 23/09/2006
Aprovado em 01/02/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 33
MINHA PRIMEIRA INTERVENÇÃO HOSPITALAR COM CRIANÇA
RELATO DE CASO
Luiza Gutz1

Data do Primeiro Atendimento: 23/01/2007


Paciente: Juninho
Idade: 10 meses
Mãe: Maria
Data da internação no Hospital da Criança em Belo Horizonte MG: 20/01/2007
Diagnóstico do encaminhamento: bronquite + dispnéia progressiva
Diagnóstico atual: pneumonia + asma + dispnéia progressiva
Exames solicitados: hemograma + raio x
Medicações administradas: dipirona (analgésico/antitérmico), prednisona (corticóide), amoxicilina (antibiótico),
berotec (broncodilatador)

Motivo da internação segundo relato da mãe: peito chiando + febre + tosse

O relato da mãe

Maria, a mãe, relata que é a primeira internação de Juninho e que os outros três filhos, todos mais velhos, nunca
precisaram de hospitalização. Conta que a notícia da necessidade de internação de Juninho foi impactante, deixando-a
angustiada e desesperada por imaginar que “o pior” pudesse acontecer, referindo-se a morte. Maria diz que a primeira
crise de Juninho foi na madrugada de sábado para domingo, com febre, tosse e chiado no peito. Conta que Juninho
demonstrou-se motivado pela novidade do primeiro dia no hospital, por estar em local diferente do seu meio. Porém, no
dia seguinte apresentou-se agitado e impaciente, principalmente com a presença dos profissionais da saúde usando
jaleco branco. A mãe relata que a criança foi atendida pela equipe de enfermagem para coleta de sangue e administração
de medicação endovenosa. Possivelmente Juninho associou a dor física com a presença dos profissionais de jaleco
branco, fenômeno este conhecido no ambiente hospitalar como síndrome do jaleco branco. Relata ainda que a agitação
e impaciência de Juninho, além da presença dos profissionais de branco, estiveram relacionadas com a permanência de
uma tala no seu pé esquerdo impedindo-o de ficar em pé no berço, o que foi solucionado com a retirada da mesma.
Embora eu estivesse de jaleco branco, Juninho não se mo strou incomodado com a minha presença, fato atribuído ao
contato verbal mantido com ele a respeito do meu objetivo em vê-lo e a razão do jaleco branco. Maria fala que é seu
primeiro contato com a psicologia e sente-se à vontade ao falar, apontando o jaleco branco e a tala como dificuldades
encontradas e enfrentadas na internação hospitalar. Quanto aos pais, mãe e pai moram juntos. Ambos trabalham fora e
as duas filhas mais velhas ficam com Juninho. Maria diz que deseja contratar uma babá para ficar com Juninho o dia
inteiro. Atribui esse desejo ao reconhecimento da necessidade de Juninho em ficar com ela, principalmente após uma
crise excessiva de choro quando Maria ausentou-se do hospital e sentiu-se obrigada a retornar para conforto do filho.
Evidencia-se ansiedade de separação da mãe para o filho? Sentimento de culpabilização da mãe? Sentimento de
dependência do filho ou da mãe? Depois de algum tempo de contato com a psicologia, Maria demonstra-se mais
tranqüila com a situação de Juninho e reconhece que o melhor lugar no momento para ele estar é o hospital com toda
sua assistência. Diz estar aguardando a alta do filho e ansiando pelo retorno à sua casa, embora entenda que caso
necessário ficará o tempo que for preciso no hospital.

Quanto ao atendimento

O primeiro contato foi receptivo por parte de Maria que mantinha Juninho dormindo em seus braços. Maria
demonstrou-se disposta para anamnese estabelecida. No decorrer do encontro Juninho desperta do sono voltando seu
olhar para mim. Apresento-me a ele dizendo que meu nome é Luiza, sou estagiária de psicologia e que sua mãe me
contara do acontecido com as injeções. Digo ainda que meu objetivo é vê-lo, saber como ele está se sentindo e
conversar também com sua mamãe. Juninho recebe atento e com tranqüilidade as palavras. Sigo com a anamnese
estabelecida até sentir-me desconfortável com os inúmeros questionamentos e com o início da agitação de Juninho.
Percebo que o incômodo é meu e interrompo o processo, retomando o acolhimento e o alívio da situação de

1
Estudante da 10ª. fase do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 34
desconforto, interagindo de maneira lúdica (dentro da disponibilidade de recursos) com uma puls eira que eu tinha no
punho e escondendo-me e reaparecendo atrás de uma folha de papel. A intenção da brincadeira foi tirar o foco da
criança da situação conflitante e mostrar-lhe o desaparecer e reaparecer das figuras a sua volta. Juninho apresenta-se
menos agitado e atento para os acontecimentos ao seu redor.
A intervenção psicológica foi válida para organizar os conflitos apresentados pela mãe, resignificar os medos da criança
e reconhecer as limitações da futura psicóloga que escreve.

Data do Segundo Atendimento: 24/01/2007

O encontro com a criança

Juninho em pé no berço olha atentamente ao seu redor e por vezes toca carinhosamente com suas mãos o braço de sua
mãe. Ao me aproximar de Juninho sorrio a ele dizendo que eu havia voltado para vê-lo e saber como estava sentindo-se
no hospital. Seu olhar atento me fez perceber que Juninho entendia o que eu comunicava a ele. Passado alguns minutos
a criança começa a sorrir e aproximar-se de mim para tocar-me com suas mãos. O contato físico entre nós deu abertura
para eu perguntar a ele como sentia seus pezinhos, tocando-os lentamente. Seu olhar voltou-se para seus pés e
seguidamente deu pulinhos no berço segurando-se com as mãos na grade, sorrindo e balbuciando. Falei para ele que eu
entendia que sua expressão era de alegria e que eu me alegrava em vê-lo melhor. Aos poucos fomos nos aproximando
mais e ele divertia-se ao ficar em pé no berço segurando minhas mãos. Perguntei se gostaria que eu o pegasse no colo e
erguendo os bracinhos entendi que sim. Por vezes Juninho tossiu, enquanto segurava-o em meus braços. Disse a ele que
uma das razões de sua permanência no hospital era para aliviar sua tosse e permitir a recuperação de sua saúde.
Enquanto Juninho e eu interagíamos, a mãe Maria olhava nosso movimento dizendo para seu filho que o sentia alegre e
animado. Juninho retribuía as palavras da mãe com sorrisos. Considerando a capacidade de compreensão sensória
motora de Juninho com seus 10 meses, a intervenção psicológica buscou clarificar os acontecimentos frente a
hospitalização e o adoecimento, facilitar a adaptação da criança à esse processo e proporcionar equilíbrio emocional
para a continuidade do processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança.

Data da alta hospitalar: 25/01/2007

____________________
Recebido em 08/02/2007
Aprovado em 08/02/2007

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 35
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE SAÚDE

PRINCIPAIS DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS SOBRE DIREITO À SAÚDE

Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, Título VIII, Capítulo II, Seção II, Da Saúde.

DA SAÚDE

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da
lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de
terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade.

§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade
social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único renumerado
para § 1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos
de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)

I - no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)

II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e
dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas
aos respectivos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art.
156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
29, de 2000)

§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)

I - os percentuais de que trata o § 2º; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das
disparidades regionais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 36
III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital
e municipal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de
2000)

§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de
combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas
atribuições e requisitos específicos para sua atuação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006)

§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde
e agente de combate às endemias. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006) (Vide Medida provisória nº
296. de 2006)

§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que
exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o
cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 51, de 2006)

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo
diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem
fins lucrativos.

§ 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins
lucrativos.

§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no


País, salvo nos casos previstos em lei.

§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias
humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e
seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção
de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e
águas para consumo humano;

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos
psicoativos, tóxicos e radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio amb iente, nele compreendido o do trabalho.

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 37
LANÇAMENTO DE LIVRO

ENSAIOS DE PSICOLOGIA HOSPITALAR

Susana Alamy nesta 2a. edição brinda-nos com mais alguns textos importantes na área da psicologia hospitalar, como
“o psicólogo no CTI” e “anotações em prontuários médicos”, dentre outros, além de acrescentar mais detalhes aos
textos já publicados anteriormente.

Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma é um livro que trata com singular singeleza dos problemas
acarretados a partir do adoecimento e das internações hospitalares, mostrando como o sofrimento se processa ao longo
do caminho do paciente, seus questionamentos e suas dificuldades.

É escrito de maneira a fazer refletir sobre a psicologia hospitalar e sua prática, com a intenção de contribuir para o
avanço desta ciência e para o aperfeiçoamento das suas diretrizes, tendo como meta o tratamento do sofrimento
humano.

Título: Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma

Autora: Susana Alamy

2ª. edição, revista e ampliada, 2007

312 páginas

ISBN: 978-85-907091-0-7

Sites:
http://livro-net.sites.uol.com.br
http://susanaalamy.sites.uol.com.br

E-mails:
susanaalamyalamy@yahoo.com.br
susanaalamy@uol.com.br

- Lançamento previsto para 17-04-2007 -

S UMÁRIO do livro Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma, 2ª. edição

. Prefácio (Profa. Mércia Moreira)


. Prefácio da 1a. edição
. Sobre a autora
. Psicologia hospitalar - conceito
. Introdução à psicologia hospitalar
. Da violência no processo do adoecer
. A maca
. Identidade do psicólogo no meio hospitalar
. Primeiros passos no atendimento psicológico dentro do hospital
. CTI: uma experiência ruim
. Peculiaridades dos pacientes de CTI, enfermaria, apartamento, ambulatório de urgência, ambulatório eletivo
. Paciente no CTI e familiares no corredor: uma demanda de atendimento psicológico

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 38
. O psicólogo no CTI
. Problemas que interferem no atendimento de enfermaria - como contorná-los?
. Técnicas auxiliares em psicoterapia hospitalar
. Relato de um caso - atendimento de uma paciente afásica
. Anexo com desenhos ilustrativos
. Cefaléia tensional psicogênica
. Relato de uma experiência
. Terapias para o alívio da dor-de-cabeça
. Resultados obtidos em um estudo realizado com pacientes encaminhados ao ambulatório de cefaléia
. Caso SMMS
. Caso PGM
. Anamnese de cefaléia
. Crianças hospitalizadas
. Caso Maria
. Do efeito iatrogênico da palavra
. Caso João
. Interconsultas e atendimentos inter, multi e transdisciplinares
. Relato de um caso de atendimento transdisciplinar
. Anotações em prontuário médico
. Psicologia hospitalar: um espaço para pesquisas
. Psicoterapia hospitalar
. Considerações sobre psicoprofilaxia cirúrgica
. Caso Juliana
. Minhas primeiras reflexões sobre atendimentos psicológicos a pacientes queimados terminais
. A morte no contexto hospitalar
. Relato de um caso de preparação de um familiar para a morte do seu ente querido
. Fragmentos de alguns dos meus atendimentos a pacientes diante da morte
. Dor de morrer
. Do impacto do diagnóstico
. O paciente oncológico: abordagem geral
. Uma experiência com grupos de crianças com câncer
. Caso FAM - um caso em particular, acompanhamento individual de um paciente terminal
. Experiência em grupo com a equipe de enfermagem após a morte de FAM
. Criança portadora de leucemia - caso clínico
. Lição de vida
. Paciente terminal e equipe interdisciplinar
. Psicossomática em hospital geral
. Caso Débora - um erro médico
. Projeto de implantação de um serviço de psicologia em hospital geral

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 39
LINKS

CONSELHOS DE PSICOLOGIA

Conselho Federal de Psicologia CRP 11 - CE / PI / MA


http://www.pol.org.br http://www.crp11.org.br

CRP 01 - DF / AC / AM / RO / RR CRP 12 - SC
http://www.crp -01.org.br http://www.crpsc.org.br

CRP 02 - PE / NORONHA CRP 13 - PB / RN


http://www.crppe.org.br http://www.crp13.com.br

CRP 03 - BA / SE CRP 14 - MT / MS
http://www.crp03.org.br http://www.crp14.org.br

CRP 04 - M G CRP 15 - A L
http://www.crp4.org.br http://www.crp15.org.br

CRP 05 - RJ CRP 16 - ES
http://www.crprj.org.br http://www.crp16.org.br

CRP 06 - SP
http://www.crpsp.org.br/

CRP 07 - RS Psicologia Hospitalar


http://www.crprs.org.br http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/

CRP 08 - PR
http://www.crppr.org.br

CRP 09 - GO / TO
Colabore enviando sua sugestão de links para
http://www.crp09.org.br
publicação: revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br

CRP 10 - PA / AP
http://www.crp10.org.br

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 40
EVENTOS
EAD - Ensino a Distância (cursos regulares)
Curso Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde
Período: Turmas regulares - consulte o site IX Simpósio Mineiro de Oncologia e IX Encontro dos Ex-
URL: http://br.geocities.com/cvpsihospitalar/ Residentes do CEOMG
E-mail: cvpsihospitalar@yahoo.com.br Período: 11 a 14 de abril de 2007
Local: Belo Horizonte / MG
URL: http://www.ceomg.com.br

Livro: Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma


Autora: Susana Alamy
Edição: 2ª. ed., revista e ampliada Congresso Interdisciplinar de DOR da USP - 2007
N. de páginas: 312 Período: 10 a 12 de maio de 2007
Local: Belo Horizonte e internet Local: São Paulo / SP
Lançamento: abril de 2007 URL: http://www.convencoesreboucas.com.br
URL: http://livro-net.sites.uol.com.br
E-mail: susanaalamy@uol.com.br e
susanaalamy@yahoo.com.br
X Congresso Norte Nordeste de Psicologia - V CONPSI
Local: Maceió / AL
Período: 23 a 26 de maio de 2007
II Congreso Argentino de Salud Mental URL: http://www.crp15.org.br/~vconpsi
Local: Buenos Aires / Argentina
Período: 22 a 24 de março de 2007
URL: http://www.aasm.org.ar/
V Conferência Internacional de Onco-Hematologia
Período: 25 a 27 de maio de 2007
Local: Mogi das Cruzes / SP
I Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida da Área de http://www.abrale.org.br/fique_atualizado/interno.php?id=525
Saúde
Período: 23 a 25 de março de 2007
Local: São Paulo / SP
URL: http://proex.epm.br/eventos06/qualidadevida/index.htm IV Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em
Saúde, XIV Congresso da Associação Internacional de
Políticas de Saúde e X Congresso Latino-Americano de
Medicina Social
1º. Congresso Brasileiro de Atenção Domiciliar Período: 13 a 18 de julho de 2007
Período: 28 a 31 de março de 2007 Local: Salvador / BA
Local: Cascavel / PR URL: http://www.congressosalvador2007.com.br
URL: http://www.abrasad.org.br/cobrad

XI Simpósio de Atualização em Psiquiatria Geriátrica: Curso de Inverno de Psicologia Hospitalar - CIPH 2007
“Casos de Difícil Manejo: Como Abordar e Tratar” Período: 23 a 28 de julho de 2007
Período: 30 a 31 de março de 2007 Matrículas: 02 de maio de 2006 a 06 de julho de 2007
Local: São Paulo / SP Local: Belo Horizonte / MG
URL: http://www.pompeiaeventos.com.br URL: http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br

Curso: Psicologia Hospitalar em Hospital Geral - PHHG


Período: 06 de abril a 08 de junho de 2007 __________________________
Matrículas: 01 de março a 02 de abril de 2007 Para divulgar seu evento contate-nos pelo e-mail:
Local: Belo Horizonte / MG revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br
URL: http://br.geocities.com/psicologiahospitalar/
E-mail: psicologiahospitalar@yahoo.com.br

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 41
FORMULÁRIO PARA ENVIO DE ARTIGOS

NORMAS PARA ENVIO DE ARTIGOS


Os textos (artigos, relatos de casos clínicos, relatos pessoais, monografias, teses, resenhas, pesquisas, estudos, comunicação, carta ao
editor) deverão ter no máximo 20 (vinte) laudas, estarem digitados com letra Times New Roman, tamanho 12 (doze), espaçamento
simples, margens superior, esquerda e direita de 2 cm, margem inferior de 3 cm, as páginas não deverão ser numeradas e nem usados
os cabeçalhos e rodapés (para alguma anotação usar “nota”) e obedecerem rigorasamente aos padrões da Associação Brasileira de
Normas e Técnicas (ABNT), bem como estarem digitados no Word. Não serão aceitos textos digitados em outros formatos e/ou
outro programa de edição de texto que não seja o Word. Devem ser enviados por e-mail (revistavirtualpsicopio@yahoo.com.br)
ou pelos Correios (impresso e em disquete) para o endereço: Av. Prudente de Morais, 290, sl. 810, bairro Cidade Jardim, CEP 30380-
000, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, acompanhados deste Formulário. O envio dos originais, seja por e-mail ou pelos Correios,
implica pelo autor, automaticamente, na aceitação dos Termos Para Publicação da Psicópio – Revista Virtual de Psicologia
Hospitalar e da Saúde, sem retribuição financeira, e assume total responsabilidade pelo seu conteúdo. Os originais impressos e em
disquete não serão devolvidos.

TERMOS PARA PUBLICAÇÃO


Os autores do presente artigo ou relato de caso clínico ou relato pessoal ou monografia ou tese ou resenha ou pesquisa ou estudo ou
comunicação ou carta ao editor asseguram que participaram e se responsabilizam pelo seu conteúdo, bem como pela correta citação
de outros autores no corpo do texto. Têm ciência que os trabalhos poderão ser submetidos à revisão da língua portuguesa e que isso
poderá implicar em correções sem prejuízo do seu conteúdo. Têm ciência de que todos os trabalhos publicados pela Psicópio –
Revista de Psicologia Hospitalar e da Saúde passam a ser de propriedade intelectual do seu Editor. Têm ciência que os manuscritos
enviados serão apreciados pelo Editor e poderão ser rejeitados para a publicação. Estão de acordo com a linha editorial desta revista.
Os autores que enviarem seus textos automaticamente concordam com os Termos Para Publicação.

FORMULÁRIO PARA ENVIO DE ARTIGOS


Título do artigo:

Nome(s) do(s) autor(es):

Qualificação do(s) autor(es) (profissão, número de registro profissional e órgão expedidor):

Pequeno currículo do(s) autor(es) (colocar nome de cada um e seu pequeno currículo) :

E-mails dos autores (colocar o nome do autor e o respectivo e-mail em frente ao mesmo):

Endereços completos dos autores (não será disponibilizado na internet) (colocar o nome do autor e o
respectivo endereço em frente ao mesmo – com rua/av./praça, no., complemento, cidade, estado e CEP ):

Local (cidade/estado/país) e data:

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 42
Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde
Revista Semestral - Distribuição Gratuita
Ano 3, Número 5, Fevereiro a Julho-2007

Formato A4, e-book, miolo com 43 páginas


Idealizada, planejada e executada em Belo Horizonte - MG - Brasil
Editor independente: Susana Alamy

Disponível em: http://geocities.yahoo.com.br/revistavirtualpsicopio

Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da Saúde. Belo Horizonte, Fev-Jul 2007, Ano 3, n.5. 43

Você também pode gostar