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O MUNDO GEOGRÁFICO DE NITSCHE

Valéria Cristina Vaz Nitsche


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Valéria Cristina Vaz Nitsche

A Verdade é dura como o diamante - e delicada


como a flor do pessegueiro.
Vocês podem me acorrentar, torturar e até
destruir meu corpo, mas nunca aprisionarão
minha mente.

Pensamento de Gandhi

2
Ao adentrar na casa de um colega geógrafo, Nitsche percebeu que seu amigo estava
ocupado com um recipiente de vidro que comportava aproximadamente cento e
vinte litros de água. Logo, Nitsche perguntou:
- O quê está fazendo amigo?
- Ah...Acabei de criar um espaço para os peixes! Gostou do meu aquário?
Nitsche respondeu: Peixes necessitam de cuidados, tais como: iluminação
adequada, controle do PH, tratamento d´água e de alimentos...Você não criou
espaço para os peixes, mas sim, desenvolveu um ambiente propício a vida
aquática!

Aos meus pais que sempre me confortaram


nos momentos mais difíceis de minha jornada

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SUMÁRIO

Palavras Iniciais.....................................................................................................

Apresentação (é proibido ler)................................................................................

Introdução: a problemática existencial da Geografia............................................

As origens.............................................................................................................

O nascimento da filosofia ocidental e sua influência na Geografia.....................

Estruturas de sustentação do mundo geográfico..................................................

Uma nova abordagem conceitual sobre Espaço e Cidade...................................

A Geografia Espacial em Análise.......................................................................

Geografia...Ferramenta de Análise ou Ciência...................................................

Pensamentos que não foram utilizados em seus trabalhos.................................

Desabafo Geográfico: Influência pessoal/social e política na ciência...............

Palavras Finais...................................................................................................

Bibliografia........................................................................................................

4
PALAVRAS INICIAIS

Este livro que ora vos apresento, é uma tentativa de preservar as idéias de
meu irmão Julio César Vaz Nitsche, que se dedicou à Geografia durante o tempo
que lhe foi permitido. Escrevendo desta maneira, aparentemente se tem a impressão
que ele não está mais no mundo dos vivos. Mas ele ainda permanece conosco!
A preocupação de se fazer tal obra, recai na capacidade degenerativa de
suas memórias e de sua condição física, cada vez mais debilitada, devido ao acidente
ocorrido há algum tempo, forçando-o a permanecer mais de nove meses em um
hospital. São estas marcas e cicatrizes que possibilitam Nitsche a ver o mundo de
uma maneira diferente daqueles que não possui em sua armadura um arranhão. O
corpo e a alma necessitam de novos desafios, não há a necessidade de provar que o
outro está errado, pois o que é útil prevalecerá e o mais próximo da realidade do
momento vivido e da tecnologia desenvolvida, se concretizará.
Percebi que muito foi feito por ele, durante o tempo que ingressou na
Universidade, até os dias mais produtivos de seu estado de saúde e suas idéias são
inovadoras dentro do âmbito geográfico.
Muitas pessoas não visualizam o esforço humano de se conquistar um
diploma e a importância deste perante a sociedade. E não precisa ser um diploma
universitário, pois muitos adolescentes vindos de famílias humildes mal conseguem
terminar o ensino médio.
Nitsche, passou quatro semanas morando literalmente na rodoviária de
Brasília-DF, apenas para poder concluir e adquirir seu certificado de conclusão do
Ensino Médio, que na época era denominado de 2o Grau.
Não se pode deixar passar o tempo e não tentar mostrar ao mundo
geográfico e a população em geral, as idéias deste, que tanto lutou para se tornar um
geógrafo e desempenhar trabalhos importantes. Mas que não pode seguir adiante em
suas metas por motivo de força maior. Sendo assim, entrego a você caro leitor, o

5
memorial de meu irmão, que descrevo embasado nas anotações e nos manuscritos
que ele enviou às editoras das universidades para serem avaliadas para possível
publicação e nos artigos e trabalhos de sua autoria, expondo seu ultimo registro, que
foi adaptado e/ou interpretado por minha pessoa (Valéria C. Nitsche)1 conforme se
inicia:

APRESENTAÇÃO
(É PROIBIDA A LEITURA)

Ah...está lendo!
Sinta-se à vontade para descobrir o que está sendo abordado aqui, pois
muitas pessoas não lêem as apresentações e prefácio. Mas com este pequeno aviso
de proibição... como pode resistir?
Muitos livros e teses ofereceram valiosas contribuições às idéias sobre as
questões filosóficas e práticas geográficas, porém, não expressam uma inovação ou
análises que possam contribuir com uma nova realidade do pensamento geográfico e
social, questionando a representatividade do espaço como objeto de estudo e
formulando novas análises e praxes aos conceitos que se referem. Desta forma, o
presente manuscrito possui a intenção de demonstrar novas possibilidades,
fundamentando-se em exaustiva revisão bibliográfica, contendo uma fundamentação
às análises geográficas que deve contribuir com novos horizontes de pensamento
sobre a Geografia e seu objeto de estudo.
Nitsche, manifesta-se contra a criação de espaço realizado pelas mãos
humanas, afirmando que a sociedade não cria espaço, mas desenvolve ambiente

1
Pois Nitsche, não possui mais a clareza lógica de seu pensar e necessita de alguém para
ajuda-lo a escrever/descrever eventos, além do processo avançado de afasia
6
artificial. Com esta visão, tenta unir duas Geografias tão distantes2 através de suas
experiências relatadas em suas obras literárias e de seus trabalhos de campo, bem
como na elaboração de princípios ideológicos e metodológicos, embasando-se na
convivência e ensinamentos de seus mentores e amigos. Logo, a finalidade de tal
obra é demonstrar que há uma maneira de amenizar o efeito dicotômico3 existente na
Ciência Geográfica, desenvolvendo diagnósticos interativos voltados às análises
ambientais, bem como, o de reavaliar o conceituado objeto que embasa e estrutura a
Geografia. Porém, este livro não atende apenas as questões geográficas, pois abre
um leque de pensamento para os demais membros de todas as classes sociais.
Inclusive aos renomados pensadores e pesquisadores possuidores de títulos. Devo
enfatizar o significado e a contextualização desta obra escrita por minha pessoa, pois
muitos não conseguem interpretar o real significado do fio condutor para reflexões
variadas, que procura caracterizar as fases evolucionárias da humanidade, assim
como as manifestações e transformações, tanto da ciência geográfica, bem como,
dos aspectos que definem e explicam a funcionalidade da filosofia e sua
importância, tanto no meio acadêmico, bem como, em nossa própria vida cotidiana.
Mas não há a intenção de um aprofundamento filosófico, perante a pessoa de
Nitsche.
Vou responder algumas dúvidas que possam surgir ao longo de sua leitura,
caro leitor, como por exemplo, as que se expõem no momento:
1. O título do trabalho não é compreensível. “O Mundo
Geográfico de Nitsche”. Quem é Nitsche? Não se trata
seguramente do filósofo Nietzsche.

2
Geografia Física e a Geografia Humana
3
Estabelecer vínculo harmonioso entre as duas distintas geografias, possibilitando a
dissipação dicotômica.
7
R. O título do livro se refere ao mundo geográfico que Julio C. V. Nitsche
expõe sua vivência, suas experiências e suas aquisições de pensamentos e
reflexões. São questões pessoais vividas por este geógrafo.
2. Texto perigosamente generalista e superficial, principalmente
na parte que se dedica a filosofia.
R. Este manuscrito não tem a intenção de se tornar um tratado de filosofia,
pois os enfoques são introdutórios, para que as pessoas que não tiveram
contato com a filosofia possam entender do que trata a investigação da
dimensão essencial e ontológica do mundo real e seus princípios teóricos
que fundamentam, avaliam e sintetizam a miríade de ciências particulares.
3. Difícil definir público alvo. Não é um para-didático (todavia,
por vezes parece ser) e por vezes dirigir-se a um público mais
específico (estudantes de geografia, ou mesmo profissionais).
Neste último caso o texto peca pela argumentação pouco
desenvolvida (mais uma vez superficialidade). É um texto
introdutório ou não? Tem este propósito? O trabalho não deixa
isto claro.
R. O objetivo do livro é justamente fazer algo diferente de tudo o que se
tem feito desde o século XIX. Não deve haver um público alvo, pois
Nitsche, deseja que todas as massas de todas as classes sociais tenham
acesso a este memorial/reflexões pessoal de como é a geografia e o mundo
científico para a pessoa de Nitsche. E não há, por parte deste, exemplificar
ou deixar claro se é ou não um texto introdutório, pois a idéia é deixar a
mente do leitor atenta e pronta para encontrar e desenvolver suas próprias
conclusões4.

4
Mas os moldes do Século XX exigem um público alvo, caso contrário, não pode haver
publicação. Sendo assim, o tema se repercute mais no âmbito estudantil e acadêmico
geográfico.
8
Um exemplo: O que justifica o título “Estruturas de sustentação do mundo
geográfico?” Se o autor vê esta questão, ele não justifica porquê.
R. Esta é a maneira que Nitsche observou como é arquitetado este mundo
da geografia. Não havendo necessidade de justificar, pois a intenção, é que
os leitores tenham suas próprias conclusões e não sejam contaminados por
justificativas. Mas a explicação está diante dos seus olhos, basta saber
interpretar textos.
4. O texto condiz mais com um artigo para revista especializada,
descontando aqui a posição seguida pelo autor, que ao nosso
juízo é um tanto superficial em sua sustentação.
R. Não há porque seguir o rijo científico (ser profundamente científico e/ou
aprofundado nas questões acadêmicas), pois, este manuscrito é dedicado a
toda população brasileira e aos demais grupos de pessoas que vivem neste
planeta denominado Terra. Porém, foram feitos trabalhos de campo e de
leituras que levaram a tais conclusões, sendo que estes são tratados
cientificamente nos moldes do Século passado e remodelados para uma
nova realidade metodológica observada e experimentada por Nitsche.
A Geografia, (para Nitsche), possui duas linhas de pensamentos e
uma definição: Nós construímos espaços. Porém, não há concordância
perante a pessoa deste que desenvolve as palavras aqui interpretadas. E não
há a intenção de impor tal ideal. Pois este livro, nada mais é que: Reflexões
feitas. E a sustentação não deve ser impositiva ou defendida com vigor.
Pois cada intelecto possui a capacidade de elaborar novas
contextualizações, lendo simples idéias sem suporte científico ou
explicações.
5. É mais uma vez citado o autor que dá título a obra (e que
consta na bibliografia): Nitsche. Mas isto justifica o título?
R. Acho que os próprios leitores podem responder esta!

9
6. A obra aborda problemas de ordem epistemológica na
geografia e pela complexidade que o tema apresenta. Neste
campo carecea necessidade de um tratamento mais denso.
R. Mais uma vez digo: Este manuscrito não é tese! O texto foi feito para,
como diz o Prof. Olavo Soares, ser usado como injeção de ânimo. “Você
aplica uma injeção que estremece o cérebro e faz com que ele veja o mundo
de várias formas nunca vista antes”.
Caro decifrador de signos gráficos que traduzem a linguagem oral,
você pode achar cômico o título é proibido ler e que ainda quer ver se há
consistência científica no texto. E como se não bastasse, ainda diz que: “A
proposta explícita na introdução sugere uma crise existencial na geografia,
não deixa de ser razoável uma reflexão sobre o tema, todavia a justificativa
apresentada chega a beira do “achismo” com citações do próprio Nitsche,
uma filosofia de si mesmo.
R. Quem ler este livro saberá com certeza que tudo é exatamente isso! Uma
reflexão das coisas, que Nitsche entende/vê do mundo geográfico! Pode
chamar de achismo se quiser. Mas o importante é interpretar as construções
de frases e a maneira como se escreve tal obra. Voltando mais uma vez aos
intelectuais detentores de diploma. Seguindo em suas análises até o
momento em que diz:
7. O autor salta do Australopitecus para Engels e Popper o que demonstra a
pouca consistência de seus argumentos.
R. Não há salto! Simplesmente mostra-se como o humanóide evolui em
sua trajetória intelectual, e tais fatos demonstram que, o ser humano adquiriu
experiências e conhecimento que possibilitaram o desenvolvimento e criação de
ferramentas e habilidades para superar as fases de transformação ambiental natural5,
prosperando em sua jornada evolutiva do raciocínio e desenvolvimento corporal, o

5
Não criado e/ou alterado por nós.
10
que possibilitou a construção de sua própria cultura. Adotando este enfoque sobre a
cultura, conota-se a idéia de que para se criar e desenvolver cultura é necessário
pensar e estabelecer um raciocínio lógico e ao mesmo tempo metafísico,
estabelecendo o padrão de inteligência do ser humano dentro de sua corrida
evolutiva começada há 3,5 milhões de anos. E que, para Engels, o trabalho manual
e físico foi o responsável pela transformação de um ser com características semi-
bípede para bípede, que possuía a habilidade de caminhar ereto! Nitsche não está
realizando uma seqüência de eventos cronológicos de ação, mas sim, de pensamento
e expõe as explicações de pesquisadores e filósofos, que respaldam a evolução dos
processos que permitiram a existência de cidades e o mundo como vimos e vivemos
hoje.
8. Adentrando em outra questão, há um tratado com verbetes, desde os
gregos antigos até os primeiros geógrafos modernos. Estas descrições, além de
serem recorrentes na literatura básica do assunto estão dispostas como em um
“almanaque”.
R. Como dito, este livro é voltado e de fácil entendimento para qualquer
pessoa que se interesse pelo tema ora abordado. Quem irá trabalhar com as
informações serão os professores, profissionais, alunos e todo e qualquer indivíduo
que se interesse por estas questões. Quero levar ao público esta oportunidade de
entender o bojo filosófico que na minha concepção embasa todo o conhecimento
adquirido. E nada mais simples que disponibilizar estas informações da maneira que
é disposta no Almanaque! O professor de filosofia e/ou geografia, ou qualquer
profissional que necessitar adentrar nos enfoques que aqui descrevo, irá com
certeza, moldar em sua plena capacidade de transmissor do conhecimento, uma
ênfase maior e mais aprofundada as carências de bases epistemológicas e
filosóficas. Pois este livro não é voltado para aos que tem diplomas apenas! E quem
tem os diplomas e títulos que façam suas conotações e críticas a este memorial, mas
que retrate aos seus ouvintes a essência desta obra, que conduz a uma nova
abordagem nos métodos científicos e reflexões que trazem a tona duas questões

11
ainda não resolvidas dentro do âmbito geográfico e social. 1- Espaço é
realmente objeto de estudo da Geografia? 2- Criamos espaço ou ambientes?
Além deste fato, Nitsche está mostrando uma nova maneira de se trabalhar com os
aspectos dicotômicos enfrentados no âmbito acadêmico, mudando completamente as
condições metodológicas que vem sendo aplicado desde o Século XX.
As análises aqui postuladas podem não resolver os problemas, mas com
certeza, proporcionará uma reflexão aos novos caminhos que se pode seguir dentro
do âmbito geográfico, contribuindo com uma nova visão aos alunos do ensino
médio, bem como aos demais indivíduos que compõem nossa sociedade. Pois os
alunos de hoje vêem o mundo com o material didático e pedagógico que os
professores lhes oferecem. E estes materiais, dizem apenas que nós construímos
espaço e que organizamos o espaço. Não há outra literatura que interprete o
contraditório desta afirmação. Estes alunos tornar-se-ão formadores de opinião no
amanhã, por este motivo faz-se necessário mostrar novos rumos que se podem
seguir, tanto no âmbito acadêmico da geografia, bem como de várias outras
ramificações do saber, apreciando a trasdisciplinalidade que une e transforma o
caráter das ramificações científicas antes divergentes. Além, é claro, de demonstrar
aos demais grupos de pessoas que se interessam por este tipo de literatura6, que
existem conflitos ideológicos e metodológicos no mundo científico e no mundo que
cada indivíduo possui ou vê como sendo o mundo real.

6
Aos curiosos e a quem não concluiu o Ensino Fundamental.
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INTRODUÇÃO A PROBLEMÁTICA EXISTENCIAL DA
GEOGRAFIA

Meu irmão, entende que existe um universo onde esconde vários mundos,
algo tão abstrato quanto à radiação solar, sendo sentido apenas quando se visualiza a
pele de nossos corpos serem ruborizadas ou quando observamos falhas de
comunicação de satélites, devido às influências das atividades de nossa estrela
amarela, denominadas de ventos solares.
Este universo não é palpável, e sua visualização é livre de conceitos pré-
definidos, cada pessoa ou pesquisador pode vê-lo ou percebe-lo de várias maneiras,
pois tudo depende do idealismo formal filosófico de cada indivíduo que cria, forma
e reformula suas bases de pré-existência, recaindo na metafísica7 dos conceitos de
concretizar o abstrato, criando o concreto através de paradigmas e paradoxos.
Através da atividade cerebral do homem é que foi possível perceber o
mundo abstrato da ciência, digo abstrato porque não se pode tocar ou ver. Apenas
refletimos e fazemos uso da razão e da percepção para perceber a existência de tais
conjuntos de saberes que se adquirem pela meditação e leitura, criando desta
maneira uma doutrina filosófica que considera os conhecimentos científicos como
definitivos, negando a importância dos problemas inacessíveis aos métodos
científicos. E só podemos senti-la, quando concretizamos algo na superfície do
nosso planeta, como edifícios, casas (moradias em geral), veículos automotores,
embarcações, usinas geradoras de energia, e tudo mais que se possa construir através
das bases científicas e/ou por intermédio da vivencia e experiência. Além destes,

7
metafísica significa o conhecimento das causas primárias e dos primeiros princípios dos
conhecimentos provenientes da razão pura. E tais conhecimentos, não afirmam uma visão de
mundo ou de natureza estagnado(a).

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ainda podemos criar objetos que podem vagar no Espaço Cósmico, como
espaçonaves, telescópios, satélites, base espacial e outros.
(...) Pedi a ele: “Tu que és a sabedoria e que me conduzes por esta estância
infernal, satisfaz o meu desejo de bem conhecer este lugar (...)”. Transcrito do livro
“A Divina Comédia, Canto X.”
Neste complexo universo do pensamento humano, encontra-se um mundo
ainda inexplorado, desconhecido até mesmo pelos seus próprios habitantes. Os
habitantes deste, são denominados geógrafos e este mundo dicotômico é conhecido
por Geografia.
A Geografia ainda não possui uma exata localização, pois se tratando de um
mundo novo e inexplorado suas coordenadas oscilam entre as Ciências da Terra,
Ciências Humanas, Ciências Sociais, Antropologia e Ciências Exatas e outras.
Como se pode perceber, é quase impossível mapear com exatidão suas dimensões e
localidade científica. Tendo ainda, vários pensadores que redefinem o que é
geografia e o que o geógrafo faz. Será possível existir uma ciência assim?
Mas por quê os Geógrafos não conhecem o próprio local onde vivem?
A Geografia é uma ciência ou uma ferramenta de análise?
O Espaço é realmente o objeto de estudo da Geografia?
Por quê a Geografia não possui um posicionamento fixo em suas
coordenadas ou lugar determinado no universo científico?

“QUEM NÃO CONHECE A REGIÃO ONDE MORA, NÃO


CONHECE A SI MESMO”.

Esta frase de Nitsche (1999), tem uma conotação muito ampla, apesar de
ser bem simples em sua estruturação gramatical, pois ela expressa uma realidade que
não se percebe de imediato, sendo necessária uma análise profunda de seu
significado. Estas palavras podem ser inseridas na região de estruturação do mundo
geográfico, pois muitos geógrafos ainda não definiram e nem sabem ao certo do

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conceito básico da ciência geográfica, implicando na própria atuação do geógrafo no
mercado de trabalho. Com ênfase nestas questões, abordar-se-á as diretrizes
analíticas do pensar geografia, no intuito de colaborar com novas perspectivas ao
pensamento geográfico. Estas e outras questões estão sendo abordadas nesta obra,
conforme se inicia:

AS ORIGENS

A origem deste mundo geográfico está relacionada com os estágios de


evolução do homem, sendo classificadas em quatro estágios conforme exposto:
1º Estágio: Australopitecínio-Homo, remontando cinco milhões de anos
atrás, com diversas variedades de fósseis hominídeos e com ferramentas
rudimentares feitas de pedra.
2º Estágio: Homo erectus, com idades aproximadas de um milhão de anos
atrás, com uma duração de cem mil anos.
3º Estágio: Surgem os humanóides transicionais e em seguida os
neandertalenses e seus contemporâneos menos diferenciados.
4º Estágio: Datando de aproximadamente 40 mil anos, surgem os primeiros
vestígios de esqueletos totalmente modernos, sendo denominado de Homo sapiens.
Todos os três primeiros estágios apresentam humanóides fabricando
ferramentas e no último estágio, observa-se o homem moderno formado, adaptado
às transformações ambientais, que no processo demonstrado, o ambiente estava em
constante mutação e desequilíbrio, com variâncias climáticas, sendo estas evidências
e comprovadas através dos estudos geográficos, geológicos e paleontológicos, além
de serem evidenciados na arqueologia, através dos estudos dos ossos fósseis.
Tais fatos demonstram que o ser humano adquiriu experiências e
conhecimento que possibilitaram o desenvolvimento e criação de ferramentas e
habilidades para superar as fases de transformação ambiental, prosperando em sua

15
jornada evolutiva do raciocínio e desenvolvimento corporal, o que possibilitou a
construção de sua própria cultura.
Nas palavras de Braidwood (1907), “A cultura permanece, embora os
indivíduos que compõem um determinado grupo desapareçam. Por outro lado, a
cultura muda conforme mudam as convenções e entendimentos. Quase se pode dizer
que a cultura vive nas mentes das pessoas que a possui. Mas as pessoas não nascem
com ela, adquirem-na à medida que crescem.”
Para Braidwood, a cultura significa o modo como um grupo de pessoas
pensa, crê e vive, além de suas capacidades de manufaturar vestimentas,
instrumentos e a forma de como se fazem as coisas.
Adotando este enfoque sobre a cultura, conota-se a idéia de que para se
criar e desenvolver cultura é necessário pensar e estabelecer um raciocínio lógico e
ao mesmo tempo metafísico, estabelecendo o padrão de inteligência do ser humano
dentro de sua corrida evolutiva começada há 3,5 milhões de anos, quando surgem os
macacos hominídeos, antecessores do homem moderno. Pode-se estabelecer estas
fases de desenvolvimento da seguinte maneira: Período Paleolítico (de 3,5 milhões
a.C. a 10.000 a.C.), Mesolítico (de 10.000 a.C. a 8.000 a.C.) e Neolítico (de 8.000
a.C. a 4.000 a.C), sendo que a domesticação de animais, o surgimento da agricultura,
a utilização dos metais e a descoberta da escrita marcam o fim dessa fase.
Os exemplares de hominídeos mais antigos são: Ardipithecus kadabba
datado com aproximadamente 5.700.000 (cinco milhões e setecentos mil anos),
ainda sendo estudado pela mesma equipe internacional de pesquisa8 que descobriu
em 17 de dezembro de 1992 o primeiro dente de hominídeo datado em
aproximadamente 4. 400.000 (quatro milhões e quatrocentos mil anos), sendo que
no ano de 1994, foram encontrados mais de 90 (noventa) ossos do Ardipithecus

8
Tim Withe, Owen Lovejoy, Berhane Asfaw, Yoahannes Haile-Selassie, Giday W.
Gabriel, Paul Renee, Yonas Beyene, Gen Suwa, Leslea Hlusko, Cesur Pehlevan e
mais 40 cientistas de vários lugares do planeta.
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ramidus (Ardi)9 à oeste do rio waoache localizado na região de Afar, em Aramis, no
que atualmente denominamos de Etiópia10. Logo após, na cadeia evolucionária,
aparece o Australopithecus afarensis (a Lucy), com aproximadamente 3 milhões de
anos, encontrados em Afar na década de 20, mais especificamente em 1925. A
evolução do afarensis resulta em pelo menos duas outras linhagens: o
Australopithecus africanus e os Paranthropus boisel e robustus. Os Paranthropus
não deixam vestígios de evolução, tornando-se praticamente um beco evolutivo. O
Australopithecus africanus evolui para o Homo erectus ou Pitecanthropus, há
aproximadamente 2 milhões de anos. O Homo erectus – É o primeiro a usar objetos
de ossos e pedras como ferramentas e como arma, a empregar o fogo e
provavelmente, a falar. Evolui, há 700 mil anos, para o Homo neanderthalensis (o
homem de Neanderthal) e, há 500 mil anos, para o Homo sapiens, do qual descende
o homem atual. Porém, o mais recente achado, o sahelanthropus tchadense de 7
milh de anos, está sendo caracterizado por BRUNET, como sendo o mais antigo
ancestral do homem moderno (In: Folha de São Paulo – 15/07/2002. pp11).
A evolução histórica dos hominídeos até o Homo sapiens não ocorre de
forma linear. Agrupamentos inteiros do gênero Homo desaparecem em conseqüência
de variações climáticas, condições geográficas, miscigenação e outros fenômenos
naturais.
Existem duas teorias amplamente aceitáveis, existindo ainda, uma que não
é muito bem recebida, sobre o local onde surgem os antepassados do homem. A
primeira sustenta (com base na descoberta do afarensis), que a origem é a África
(nas savanas), de onde teria começado a se espalhar pelo mundo há 200 mil anos. A
segunda apóia-se nos achados de restos do Homo erectus em Java, Indonésia (1,8
milhão de anos), e do Homo sapiens em Jinniushan, China (200 mil anos), e diz que

9
Sendo este uma fêmea.
10
Até o momento não houve movimentos sociais ou intervenção política-
administrativa que motive a substituição do nome deste país.
17
a evolução de uma espécie ocorre em diferentes regiões da Terra, em momentos nem
sempre coincidentes. A terceira, que não é aceita por muitos antropólogos e
arqueólogos, enuncia que a África é o local de surgimento de nossos antepassados,
porém, este primórdio ser é semi-aquático e não se originou nas savanas. Esta teoria
se fundamenta em questões funcionais do corpo humanóide e fatos que tentam
elucidar simples perguntas: “Por quê estes primitivos seres andavam com apenas os
membros inferiores? E como fizeram isso? E por quê?” Mas tudo o que se sabe da
evolução humana está apenas engatinhando, Graças a descoberta do Ardipithecus
kadabba e o ramidus, confirmando muitas idéias de Darwin e ao mesmo tempo
refutando alguns pensamentos deste brilhante pesquisador. Além de refutar as
teorias que enunciam sobre a origem da bipedalidade, pois, o Ardipithecus vivia em
ambiente florestal e não em ambiente savânico, desconstruindo imediatamente os
pilares teóricos que corroboravam e respaldavam teorias sobre o ambiente de origem
do homem.
Saindo destas análises, voltamos aos períodos evolutivos de nossa condição
de ser humano, sendo assim representado:
A Idade da Pedra Lascada (Paleolítico), é o período mais longo e antigo da
história humana. Estende-se de 3,5 milhões de anos a.C. a 10.000 a.C. Os diferentes
grupos hominídeos vivem em pequenos bandos ou grupos se preferir, alimentam-se
de caça, pesca e coleta de frutos. Abriga-se em cavernas. Desenvolvem muito
lentamente a linguagem oral e a fabricação de instrumentos de osso e pedra, com os
quais caçam, guerreiam e realizam entalhes nas paredes e em diferentes momentos,
aprendem a utilizar e produzir fogo.
Entre os anos 10.000 e 8.000 a.C. (Mesolítico), o domínio sobre o fogo,
aliado à domesticação de animais ao cultivo das plantas e à fabricação de
instrumentos mais avançados, incluindo a cerâmica, promove a sedentarização dos
grupos de hominídeos, surgindo consecutivamente a divisão do trabalho baseada
principalmente no sexo. Isso não significa que a mulher ou a fêmea agia

18
passivamente no grupo, apenas representa que cada indivíduo desenvolvia suas
funções gerais e algumas específicas, como caçar e cuidar da prole.
O desenvolvimento da agricultura e o início da metalurgia, entre os anos
8.000 e 4.000 a.C., constituem os aspectos principais da chamada revolução
neolítica. Nesse período, também conhecido como Idade da Pedra Polida, os homens
agrupam-se em povoados e aumenta a divisão do trabalho, que permite a produção
de excedentes e a realização de intercâmbio com outras comunidades.
Ao adquirir estes conceitos e entendimento de suas capacidades
administrativas e de suas ações e observações, o homem pôde desenvolver a arte,
sendo esta dividida em dois grandes grupos: o primeiro grupo seria a arte portátil,
que é expressa pela maneira de se trabalhar com pedras, ossos, madeira e barro,
criando pontas de flechas, arremessadores de lança, arpão de osso, machado, panelas
e jarros. E o segundo grupo, representado pelas pinturas em cavernas e rochas e a
escultura, que são as representações de animais e grupos sociais de indivíduos
desenhados nas paredes das cavernas, ou objetos feitos de seixos moldados,
representando seres vivos como tartaruga e peixes (zoólitos).
O homem se autodescobre, com sua força de pensamento conhece os
minerais, produz abrigo, domestica animais, inicia processos extrativistas, conhece
as propriedades de curas das plantas, delimita plantações e cultiva milho, arroz e
trigo, inovando e aperfeiçoando suas técnicas e desenvolvendo novos implementos,
até conquistarem a civilização e construção de cidades.
Nas palavras de Friedrich Engels (1896, p. 01-02) “O trabalho é a fonte de
toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza,
encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho,
porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a
vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho
criou o próprio homem. Há multas centenas de milhares de anos, numa época,
ainda não estabelecida em definitivo, daquele período do desenvolvimento da Terra
que os geólogos denominam terciário provavelmente em fins desse período, vivia em

19
algum lugar da zona tropical - talvez em um extenso continente hoje desaparecido
nas profundezas do Oceano Índico - uma raça de macacos antropomorfos
extraordinariamente desenvolvida. Darwin nos deu uma descrição aproximada
desses nossos antepassados. Eram totalmente cobertos de pelo, tinham barba,
orelhas pontiagudas, viviam nas árvores e formavam manadas. É de, supor que,
como conseqüência direta de seu gênero de vida, devido ao qual as mãos, ao trepar,
tinham que desempenhar funções distintas das dos pés, esses macacos foram-se
acostumando a prescindir de suas mãos ao caminhar pelo chão e começaram a
adotar cada vez mais uma posição ereta. Foi o passo decisivo para a transição do
macaco ao homem.”
Para Engels, o trabalho manual e físico foi o responsável pela
transformação de um ser com características semi-bípede para bípede, que possuía a
habilidade de caminhar ereto. Porém esta conclusão é especulativa, pois não há nada
nos registros paleontológicos e/ou arqueológicos que sustentem tal afirmação. É
possível que sua análise se baseie na observação das atividades de alguns primatas
que permanecem em pé durante algum tempo, quando estão coletando galhos e
alimentos. Mas não se pode atribuir tal postura devido ao único pretexto do trabalho
puro, pois neste ponto, existem vários outros fatores que devem ser avaliados, como
por exemplo: O hábito comportamental reflexivo e instintivo que remonta a
ancestralidade deste indivíduo ou espécie.
Os registros fósseis apontam uma linha evolutiva já adaptada ao ser bípede
que caminha ereto, porém não foram encontrados evidencias ou vestígios fósseis
intermediários – mais antigos, que poderiam elucidar as causas dos primeiros passos
eretamente dados.
O trabalho pode não ter sido o principal responsável pelo andar ereto dos
humanóides, mas com certeza, sua contribuição foi de suma importância para o
desenvolvimento da sociedade e da civilização, sendo que Popper (1972), analisa a
evolução da vida e da emergência do ser humano e do desenvolvimento da
civilização em um padrão construtivo de três mundos, sendo assim demonstrado:

20
 Mundo 1 – Formado por coisas materiais, com uma visão objetiva de
mundo.
 Mundo 2 – É o mundo subjetivo da mente.
 Mundo 3 – Mundo de estruturas objetivas que são o produto, não sendo
este, obrigatoriamente intencional, da ação dos espíritos de criaturas vivas,
existindo independentemente desses espíritos. Um exemplo disto: Todas as
estruturas criadas pelos animais fora de seu corpo. A represa construída por
castores é um bom exemplo. Sendo assim, as próprias estruturas,
transformam-se no centro do meio ambiente do animal, para o qual se
orienta a parte mais importante de seu comportamento. E como o homem é
um animal mamífero, ele constrói ambientes conscientemente ou não11.
O ser humano adquiriu a capacidade de realizar o abstrato, criou
equipamentos e desenvolveu artifícios para a construção de suas residências,
usufruindo recursos naturais e transformando-os em matéria prima para a confecção
de suas vestes e demais objeto para seu conforto pessoal e social. A mente humana é
capaz de assimilar e estruturar raciocínios lógicos e abstratos, bem como expressar
estes sentimentos através da escrita, gestos, figuras, monumentos, estátuas, criando
simbologias, e cultuando o sobrenatural.
A união desta habilidade do pensar estrutura as classes sociais, fundamenta
a religião, cria uma visão de mundo, explora as possibilidades e inventa o estudo do
saber e do conhecimento.

11
Quando construímos um armário ou uma caixa, inconscientemente estamos criando um
ambiente, pois ao deixarmos esta caixa isolada e/ou sem higienização constante, dentro de
algum tempo, vamos encontrar: teias de aranha e até mesmo a aranha, traças, ácaros,
bactérias, fungos e outros.

21
O trabalho unifica os povos, aglomerados humanos começam a se fortalecer
culturalmente e ideologicamente, iniciando o processo construtivo das cidades e da
civilização, onde se identifica monumentos arquitetônicos, uma administração
centralizada de poder, estratificações sociais e atividades comerciais definidas. Tais
conjecturas favorecem o amadurecimento espiritual, social e cultural, que por sua
vez, trás as primeiras noções de visão de mundo, sendo mais evidenciadas nas
concepções dos primeiros filósofos.
Neste momento, o homem está pronto para buscar as questões do quem
sou, para onde vou, de onde vim... SURGEM OS PENSADORES GREGOS!

O NASCIMENTO DA FILOSOFIA OCIDENTAL


E SUA INFLUÊNCIA NA GEOGRAFIA

Para os próprios autores gregos, o estudo da filosofia iniciou-se com os


“Bárbaros”, povos que não falavam a língua grega e tal expressão não era pejorativa
ou racista, conforme conota Diógenes Laertios (que viveu no Século III), em seu
livro “Vida e Doutrina dos filósofos Ilustres”. Sendo aqui demonstrado algumas
contribuições:
Os povos da Mesopotâmia são os primeiros a observar e registrar
sistematicamente os fenômenos astronômicos. Definem os conceitos de dia, mês e
ano e organizam os primeiros calendários. Diferenciam os planetas (estrelas
errantes) das estrelas (estrelas fixas). Reconhecem os planetas observáveis a olho nu
– Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno – e desenvolvem métodos
matemáticos para calcular seus movimentos e os da Lua.
Quase todos os povos da Antiguidade desenvolvem calendários lunares,
baseados nas fases da Lua: dividem o ano em 12 meses de 29 ou 30 dias, num total
de 354 ou 355 dias. A defasagem de 11 dias em relação ao ano solar é corrigida pela
inclusão de um mês extra ao final de um certo número de anos.

22
Os egípcios são os primeiros a calcular calendários com base no ciclo das
estações: o ano tem 360 dias divididos em 12 meses de 30 dias e mais cinco dias
extras, dedicados aos deuses. Os romanos adotam o calendário egípcio em 46 a.C.,
com a introdução de um ano bissexto, com 366 dias, a cada quatro anos. Em 1582, o
papa Gregório XIII reforma o calendário Juliano: suprime dez dias de diferença que
haviam se acumulado ao longo dos séculos e, para evitar defasagens futuras, opta
pela supressão de três anos bissextos a cada 400 anos.
Os gregos sofreram influência dos povos babilônicos ou assírios, indianos,
celtas e gálatas, de acordo com o testemunho de Aristóteles em sua obra “O
Mágico”. Com estas influências, inicia-se o processo de formação das questões
filosóficas, sendo criado por Pitágoras o termo filosofia e se autodenomina filósofo
(que significa: amigo da Filosofia).
Conforme os relatos de LAERTIOS (1988), a filosofia tem uma origem
ambígua, começando com Anaxímandros e o próprio Pitágoras, sendo que o
primeiro era discípulo de Tales e o segundo, recebeu lições de Ferecides. Surgem
então, duas escolas, sendo assim descritas:
Iônica – Porque Tales, um milésio e portanto um iônio.
Italiota – Devido a Pitágoras que filosofou na Itália durante sua trajetória de vida.
A Escola Iônica termina com Cleitômacos, Crísipos e Teôfrastos, sendo que
a escola italiota, encerra-se com os Epícuros. Ainda, conforme as análises de
Laertios, a sucessão passa de Teles a Maxímandros, Anaxímenes, Anaxágoras,
Arquelaos, até Sócrates, sendo este último o introdutor da ética na Filosofia,
denominando seus discípulos de “Os Socráticos”, sendo Platão um de seus
representantes mais importantes, fundador da Academia Antiga, por meio de
Spêusipos e Xenocrates, passando a Polêmon, Crântor e Crates, sendo que o
fundador da Academia Média é Arcesílaos e Lacides figura como o fundador da
Academia Nova. A Escola Iônica finda com seus últimos representantes, passando
de Platão a Aristóteles e deste para Teôfrastos.

23
A Escola Italiota apresenta seus seguidores, assim mencionados, Ferecides
a Pitágoras, passando a Telauges (filho deste último), a Xenofanes, Parmênides,
Zênon de Elea, Leucipos, Demócritos e finalmente Epículos.
Destes fatos expostos, surgem duas correntes de pensadores, os Dogmáticos
e os Céticos, que são caracterizados pela maneira de ver o mundo e suas relações
com o que é conhecido ou não, assim posto, se atribui aos dogmáticos “aqueles que
pressupõem que as coisas são existentes”, sendo que os céticos, analisam “como não
sendo possível conhecermos as coisas”. Sendo dogmáticos ou não, muitos dos
filósofos não deixaram registros escritos, porém foram seguidos e são referenciados
até os dias de hoje, como Sócrates.
Surge posteriormente a Escola Eclética, fundada por Pôtamon de
Alexandria, que elaborou uma seleção de doutrinas de todas as existentes,
escrevendo uma obra denominada “Elementos de Filosofia” (mencionado por
LAERTIOS), sendo que sua abordagem é o critério da verdade aquilo que forma o
juízo, ou seja, o princípio dominante da alma e o instrumento usado são a percepção
acurada. Seus princípios universais são a matéria e a causa eficiente, a qualidade e o
lugar, pois aquilo de que e por que uma coisa é feita, bem como a qualidade com
que e o lugar em que algo é feito, são princípios. O fim a que ele se subordina todas
as ações é a vida levada a perfeição em todas as formas de excelência, sendo as
vantagens naturais corpóreas e ambientais indispensáveis à consecução desse objeto
devendo menciona-los para que possamos entender o desenvolvimento de cada área
do saber, citando alguns grandes nomes como:
 ARISTÓTELES: Nascido em Estagira, na Grécia do Norte, filho de médico
da corte Macedônia. Aos treze anos foi enviado para Atenas, a fim de
estudar na Academia de Platão, tendo ficado associado à mesma por vinte
anos. Logo após a morte de Platão foi para a Ásia Menor, dando
seguimento aos seus estudos biológicos e filosóficos, sendo que em 342
a.C. voltou para Macedônia como tutor de Alexandre Magno, conforme
esclarece LOSEE (1979).
24
 ARQUÊLAOS: Foi mestre de Sócrates, qualificavam-no de naturalista,
pois com ele terminou a filosofia natural, quando Sócrates introduziu a
ética. Sua teoria naturalista baseia-se no seguinte raciocínio: A água
evapora-se sob ação do calor e quando precipita condensa-se por causa do
fogo, produz a terra, ao inundar tudo em volta gera o ar, sendo assim, a
terra é delimitado pelo ar e o ar pelo fogo que circunda tudo. Os seres vivos
são gerados pela terra quando é aquecida e assim a terra produziu até o
homem.
 ERATOSTHENES: (276a.C.-196 a.C.) Matemático, astrônomo, geógrafo e
poeta grego, nasceu em Cyrene (Shahhat, Líbia). Em 240 a.C. tornou-se
bibliotecário-chefe da Biblioteca de Alexandria, ficando responsável na sua
época pelo maior acervo sobre o conhecimento humano. Eratosthenes é
mais conhecido hoje pelo seu preciso cálculo da circunferência da Terra12,
numa época aonde não se acreditava que a Terra seria redonda. Para chegar
a tais cálculos Eratosthenes empregou seus conhecimentos de astronomia
para determinar a latitude de Assuã e Alexandria no Egito, e mediu a
distância entre elas, tendo notado que a imagem da sombra de uma torre de
igual altura em Assuã e Alexandria tinha diferentes comprimentos numa
mesma hora do dia, ele chegou a conclusão de que a Terra era redonda e
calculou com estes dados a sua circunferência. Porém, existem autores que
defendem que não eram as sombras das torres que Eratosthenes media, ele
observava que um poço em Siena (Assuan) somente recebia luz solar na
lâmina d’água entre 20 a 22 de junho. Logo ele percebeu que Siena
localizava-se no Trópico de Câncer e sabia que havia um outro poço em
Alexandria com o mesmo fenômeno. Tudo o que ele fez foi medir a
distância de Siena e Alexandria, resultando aproximadamente 5.000
estádios, sendo que 1 estádio vale 41.25 metros. O seu mais importante

12
Contendo um erro de menos de 5%
25
trabalho foi um tratado sistemático sobre geografia; após ficar cego com
quase 80 anos se suicidou por inanição. Este filósofo foi o primeiro a
explicar a voz como sendo uma concussão do ar e a formação do mar se dá
através de concavidades devido a infiltrações através da terra. O sol é o
maior dos astros e todo o universo é infinito.
 PLATÃO: Nasceu em Atenas, por volta de 428/7 (?), e era membro de uma
aristocrática e ilustre família. Descendia dos antigos reis de Atenas, de
Sólon e era também sobrinho de Crítias (460/403) e Cármides, dois dos
"Trinta Tiranos" que governaram Atenas no ano de 404. Entre 409 e 404,
Lutou na Guerra do Peloponeso, sendo que em algum momento nesse
período conheceu Sócrates, e sua admiração por este ilustre pensador foi
decisiva em sua vida, tendo-o como seu mestre. O seu verdadeiro nome era
Aristócles, mas devido à sua compleição física recebeu a alcunha de Platão
("ombros largos").
 PTOLOMEU: (também Claudius Ptolomaeus, 100-70 d.C.) Astrônomo e
matemático grego, viveu em Alexandria, Egito e era cidadão romano. Seu
primeiro trabalho foi o 'Almagesti', traduzido para o árabe 500 anos depois.
Nesta obra ele propunha o sistema de geocentrismo o qual descrevia a
Terra no centro do universo com o sol, planetas e as estrelas rodando em
círculos ao seu redor. Este trabalho de Ptolomeu influenciou o pensamento
astronômico durante mais de mil e quinhentos anos até ser substituído pela
teoria heliocêntrica de Copérnico. Para a Geografia sua mais importante
obra foi “A Geografia”13 uma tentativa de mapear o mundo conhecido da
época, demarcando latitudes e longitudes de locais importantes,
acompanhadas de mapas e uma descrição de técnicas de mapeamento.
Nesta compilação Ptolomeu utilizou-se de dados estabelecidos por ele

13
Formada por oito volumes, sendo estes acompanhados de um mapa-múndi e mais 26 mapas
detalhados.
26
mesmo e de Hiparco, Strabo e Marinus de Tiro. Mesmo com informações
imprecisas este trabalho foi a principal ferramenta de orientação geográfica
e cartográfica até o fim da renascença.
 SÓCRATES: Filho do escultor Sofroniscos e da parteira Fainareté, nascido
em Atenas, no quarto ano da 77a Olimpíada, participou da campanha de
Anfípolis. Sócrates era conhecido como grande orador e filósofo da ética.
Sua morte data no primeiro ano da 95a Olimpíada, aos setenta anos de idade
(LAERTIOS, 1988).
 SÓLON: Filho de Execestides, nascido em Salamina. Sua obra mais
importante denomina-se “A Lei da Liberação”, introduzida em Atenas com
a finalidade de resgatar pessoas e bens. As pessoas requisitavam dinheiro
emprestado mediante garantia de suas próprias pessoas e bens materiais ou
animais, sendo que muitos se tornaram servos, devido ao fato do não
pagamento. Este filósofo foi o primeiro a renunciar uma dívida de sete
talentos14 cujo credor era seu pai.
 STRABO: (63a.C. - 24 d.C.), geógrafo e historiador grego, nasceu em
Amaseia15, Strabo começou seus estudos com Aristodemus e em 44 a.C. foi
para Roma estudar com Tyrannion, ex-professor de Cícero. Antes de deixar
Roma ele concluiu sua monumental obra de 43 volumes intitulada 'Esboço
Histórico'. Em 31 a.C. Strabo começou suas viagens na Europa, Ásia e
África, tendo viajado quase todo o mundo conhecido da época, ele voltou a
Roma em 17 d.C. e escreveu seu mais importante trabalho de 17 volumes
intitulado 'Geographicae' - Geografia. Esta foi a primeira vez que surgiu a
palavra Geografia. Os volumes seriam conhecidos atualmente como guias e
eram escritos para uso militar. Esta obra é o principal documento daquela

14
moeda da época
15
Atualmente: Pontus Amasya, Turquia
27
época conservado inteiro (com exceção de partes do volume sete),
conforme relata LOSEE (1979).
Sua lógica de raciocínio permitiu-lhe dizer que o princípio do universo é a água
e que o mundo é dotado de 365 dias. Tales desponta como sendo o primeiro dos
primeiros, estudando política, física, matemática, razão, imortalidade e a natureza
(seja ela universal ou humana).
TALES: Conforme Diógenes Laertios, embasado nas descrições de Dúris e
Demócritos, Tales era filho de Examias e Cleobuline, que pertenciam a família de
Nelidas, que conforme Platão, foi o primeiro a receber o título de sábio. Suas obras e
atuações recaem desde a política até a matemática, escrevendo duas obras concretas
“Do Solstício” e a outra se denominava “Do Equinócio”, sendo o primeiro a estudar
Astronomia e o primeiro a predizer um eclipse em 585 a.C., reconhecido ainda por
Calimacos como sendo o descobridor da constelação Ursa Maior. Tales foi o
primeiro filósofo a determinar o curso do sol, declarando ainda, que este astro
correspondia a 720a do círculo solar, e que o tamanho da luz emitida correspondia à
fração do círculo lunar. Determinando ainda o nome do último dia do mês o nome
de trigésimo.
Aristóteles (Da Alma, 405), afirma em seus manuscritos que Tales, observando
o âmbar e uma pedra-imã, atribuiu uma alma até aos objetos inanimados. Sendo
mencionado ainda por Panfile, que relata: “(...) Tendo aprendido geometria com os
egípcios, Tales foi o primeiro a inscrever um triângulo eqüilátero num círculo e por
esta descoberta sacrificou um boi”.
Os gregos são os primeiros a afirmar que a Terra é esférica e realiza um
movimento de rotação em torno do Sol e que a Lua apenas reflete a luz solar.
Organizam vários catálogos de estrelas e chegam a afirmar o heliocentrismo, 15
séculos antes de Copérnico, embora o geocentrismo seja predominante.
Pode-se dizer, que estes filósofos anteriormente mencionados, são os
responsáveis pelo nascimento da ciência em si, além do próprio ramo científico

28
denominado de Geografia. Porém, os que se destacam como geógrafos fundadores
de uma geografia moderna teórica-prática são:
 FRIEDRICH W. H. ALEXANDER VON HUMBOLDT: Geógrafo,
naturalista e explorador alemão, nasceu em Berlim, mais conhecido pelas
suas contribuições à geologia, climatologia e oceanografia. Ainda jovem
Humboldt foi apresentado a um grupo de intelectuais, entre os quais Moses
Mendelssohn. Em 1879 ele foi para a Universidade de Gottingen, onde
estudou arqueologia, física e filosofia. O seu interesse por botânica e
explorações foi intensificado ao conhecer Georg Forster, que acabará de
voltar de uma viagem ao redor do mundo com o famoso Capitão James
Cook. No ano seguinte, Humboldt abandonou Gottingen para estudar
geologia com A.G. Werner na escola de minas de Freiburg, tornando-se
inspetor de minas para o governo da Prússia. Uma farta herança de sua mãe
o permitiu se dedicar aos seus interesses por exploração científica. Em
1799, Humboldt explorou durante 5 anos a América Latina, visitando
países como Equador, Colômbia, Venezuela, México e Peru, além de parte
da bacia amazônica. coletando muitos dados sobre o clima, fauna, flora,
astronomia, geologia e sobre o campo magnético da Terra. Durante sua
estada no Peru fez precisas medições sobre uma corrente fria descoberta
por ele que veio a ser chamada pelo seu nome e hoje é mais conhecida
como Corrente do Peru. Após uma breve estada nos Estados Unidos da
América foi morar em Paris onde ficou até 1827, período durante qual
escreveu uma obra de 23 volumes com as descobertas feitas naquela
viagem anteriormente citada. Em 1827 viajou para Berlim e foi nomeado
assessor do rei da Prússia. Em 1829 por convite do Czar russo Nicolau I
viajou aos Montes Urais e Sibéria para fazer estudos geológicos e
fisiográficos. Dedicando sua vida a escrever sua principal obra intitulada
'Kosmos' na tentativa abrangente de descrever o universo como um todo e

29
mostrar que tudo era inter-relacionado. Humboldt foi o primeiro a mapear
pontos isotérmicos16, impulsionando o estudo da climatologia.
 KARL RITTER: Geógrafo alemão, conhecido como fundador da moderna
ciência da geografia. Ritter mostrou ao mundo o princípio da relação entre
a superfície da Terra a natureza e os seres humanos, era defensor constante
do uso de todas as ciências para o estudo da geografia. Foi professor de
geografia na Universidade de Berlin de 1820 até sua morte; seu mais
importante trabalho, 'Die Erdkunde' (Ciência da Terra, 19 volumes, 1817-
1859), enfatizava a influência de fenômenos físicos na atividade humana.
 FRIEDRICH RATZEL: Geógrafo e etnólogo alemão fundador da geografia
política moderna ou geopolítica, o estudo da influência do ambiente na
política de uma nação ou sociedade. Dele originou-se o conceito de 'espaço
vivo' (Lebensraum), que se preocupa com a relação de grupos humanos
com os espaços do seu ambiente. Ele lecionou na Universidade de Munique
entre 1875 e 1886, e desta data até sua morte foi professor de geografia da
Universidade de Leipzig. Seu conceito de 'espaço vivo' foi depois usado
pelo Partido Nacional Socialista (Nazista) para justificar a expansão
germânica e a anexação de territórios que precedeu a segunda guerra
mundial. Ritler, o ditador alemão, inspirou-se nesta visão para elaborar sua
teoria “Espaço”.
Como se pode observar, classificam-se os filósofos de várias maneiras,
como a cidade de origem, os locais onde funcionavam suas escolas, ou por
autodenominação, como os amantes da verdade (os refutacionistas) e outros devido
aos seus mestres (socráticos). Alguns adotam o nome de físicos, devido as suas
investigações voltarem-se para a natureza, surgindo ainda os éticos, que analisam
fenômenos de ordem moral e por fim, àqueles que se dedicam ao verbal,
denominados de dialéticos.

16
Conectando pontos geográficos de mesma temperatura
30
Até o momento, vimos que a ciência se origina em uma fase de
transformação do intelecto humanóide, um estágio evolucionário entre as atividades
puramente instintivas e as primeiras noções de pensamentos inquisitivos, sendo que
a Geografia segue as mesmas proporções desenvoltas no amadurecimento
intelectual, onde é necessário aprender a se localizar e identificar pontos de extrema
importância para a manutenção de suas próprias vidas. Um destes pontos seria a
localização de fontes alimentícias, abastecimento de água, estabelecimento de
cidades e observância de postos de comercio. Um importante documento histórico
deste fato, é o mais antigo mapa já encontrado na cidade de Ga-Sur ao norte da
Babilônia, forjado em uma pequena placa de barro, datando de 2.500 anos a.C. Tal
artefato encontra-se em exposição no Museu Semítico da Universidade de Harvard.
A Geografia se origina dos conceitos filosóficos adotados no berço da
civilização humana, que se sustentaram graças aos filósofos outrora descritos. E, tais
intelectuais, fundamentaram suas idéias e concretizaram o abstrato, criando desta
maneira a Filosofia e a ciência geográfica. A contribuição destes filósofos e
pesquisadores será mais evidenciada quando tratarmos das estruturas que sustentam
a dinâmica científica geográfica, conforme se observa a seguir:

ESTRUTURAS DE SUSTENTAÇÃO DO MUNDO GEOGRÁFICO

A importância de enfatizar os filósofos e suas academias recai na


estruturação e arquitetura do pensamento científico, sendo estes os pilares que
sustentam a ciência geográfica. Pois na visão de Nitsche, é a filosofia da ciência que
embasa (sustenta) todo o processo construtivo da ciência em si 17. Sendo que a
filosofia se estrutura e se caracteriza por ramos de pensamento e análises práticas,
sendo assim demonstrado:

17
A Ciência é vista por Nitsche como um corpo sistemático/sistematizado único, formado por
ramificações e/ou sub-sistemas caracterizados por sua natureza empírica.
31
 Física – Ramo dedicado ao universo e ao seu conteúdo.
 Ética – Parte dedicada a vida e ao que se relaciona conosco. Parte da
filosofia que estuda os deveres do homem para com a sociedade e seus
deveres religiosos podendo ser denominada de ciência da moral. Reflete
sobre o bem e o mal, o que é certo ou errado e procura responder, por
exemplo, se os fins justificam os meios ou os meios justificam os fins.
Sócrates (470 a.C. -399 a.C.), passa a se ocupar de problemas relativos ao
valor da vida. O primeiro a organizar essas questões é Aristóteles. Em sua
obra destacam-se os estudos da relação entre a ética individual e a social e
entre a vida teórica e a prática. Ele também classifica as virtudes. A justiça,
a amizade e os valores morais derivam dos costumes e servem para
promover a ordem política. A sabedoria e a prudência estão vinculadas à
inteligência ou à razão.
Na Idade Média predomina a ética cristã, impregnada de valores religiosos
e baseada no amor ao próximo, que incorpora as noções gregas de que a felicidade é
um objetivo do homem e a prática do bem, um meio de atingi-la. Para os filósofos
cristãos, a natureza humana tem destino predeterminado e Deus é o princípio da
felicidade e da virtude.
Entre a Idade Média e a Moderna, o italiano Nicolau Maquiavel rompe com
a moral cristã, que impõe os valores espirituais como superiores aos políticos.
Defende a adoção de uma moral própria em relação ao Estado. O que importa são os
resultados, e não a ação política em si. Por isso, considera legítimo o uso da
violência contra os que se opõem aos interesses estatais. Maquiavel influencia o
inglês Thomas Hobbes (1588-1679) e o holandês Benedito Spinoza (1632-1677),
pensadores modernos extremamente realistas e radicais no que se refere à ética.
Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean-Jacques Rousseau e os alemães
Immanuel Kant e Friedrich Hegel (1770-1831) são os principais filósofos a discutir
a ética. Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer
aprimoramento quase ilimitado. Para Kant, ética é a obrigação de agir segundo
32
regras universais, comuns a todos os seres humanos por ser derivadas da razão. O
fundamento da moral é dado pela própria razão humana: a noção de dever. O
reconhecimento dos outros homens, como fim em si e não como meio para alcançar
algo, é o principal motivador da conduta individual. Hegel divide a ética em
subjetiva ou pessoal e objetiva ou social. A primeira é uma consciência de dever; a
segunda, formada por costumes, leis e normas de uma sociedade. O Estado reúne
esses dois aspectos em uma "totalidade ética". Nietzsche critica a moral tradicional,
derivada da religião judaico-cristã, pelo fato de subjugar os instintos e as paixões à
razão. Essa é a "moral dos escravos", que nega os valores vitais e promove a
passividade e o conformismo, resultando no ressentimento. Em oposição a ela,
propõe a "transvaloração de todos os valores", que funda a "moral dos senhores",
preconizando a capacidade de criação, de invenção, de potência. O ser humano que
assim consegue superar-se é o super-homem, o que transpõe os limites do humano.
A valorização da autonomia do sujeito moral leva à busca de valores
subjetivos e ao reconhecimento do valor das paixões, o que acarreta o
individualismo exacerbado e a anarquia dos valores. Resulta ainda na descoberta de
várias situações particulares com suas respectivas morais: dos jovens, de grupos
religiosos, de movimentos ecológicos, de homossexuais, de feministas, e assim por
diante.
Essa divisão leva ao relativismo moral, que, sem fundamentos mais
profundos e universais, baseia a ação sobre o interesse imediato. É dentro dessa
perspectiva que o filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970) afirma que a ética é
subjetiva, não contendo afirmações verdadeiras ou falsas. Defende, porém, que o ser
humano deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretendem atingir a
felicidade ou o equilíbrio.
Como reação a essas posições, o novo iluminismo, representado por Jürgen
Habermas, desenvolve a Teoria da Ação Comunicativa, dentro da qual fundamenta a
ética discursiva, baseada em diálogo, por sujeitos capazes de se posicionar

33
criticamente diante de normas. É pelo uso de argumentos racionais que um grupo
pode chegar ao consenso, à solidariedade e à cooperação.
 Dialética – A arte de raciocinar argumentativamente. É o processo de
raciocínio utilizado por ambas as ramificações citadas anteriormente.
Possui visão de mundo contrária a metafísica. Originalmente, é a arte do
diálogo, da contraposição de idéias que leva a outras idéias. O conceito de
dialética, porém, é utilizado por diferentes doutrinas filosóficas e, de acordo
com cada uma, assume um significado distinto.
Para Platão18, é o método mais eficaz de aproximação entre as idéias
particulares e as idéias universais ou puras. É a técnica de perguntar, responder e
refutar que ele teria aprendido com Sócrates (470 a.C. -399 a.C.). Platão considera
que apenas através do diálogo o filósofo deve procurar atingir o verdadeiro
conhecimento, partindo do mundo sensível e chegando ao mundo das idéias. Pela
decomposição e investigação racional de um conceito, chega-se a uma síntese, que
também deve ser examinada, num processo infinito que busca a verdade.
Aristóteles define a dialética como a lógica do provável, do processo racional
que não pode ser demonstrado.
Kant registra a perspectiva aristotélica quando define a dialética como a "lógica
da aparência". Para ele, a dialética é uma ilusão, pois se baseia em princípios que, na
verdade, são subjetivos.
Georg Wilhelm Hegel 1770-183119, tenta solucionar o problema das
transformações às quais a realidade está submetida e apresenta a dialética como um

18
Filósofo grego (427 a.C.?-347 a.C.?), seus seguidores estabelecem o platonismo que
trabalha com a distinção do mundo entre o que é visível, sensível e o que é invisível,
inteligível (mundo das idéias). Após a morte de Sócrates, em 399 a.C., deixa Atenas e se
estabelece definitivamente no Egito.
19
Escrito por F. Engels em 1877. Publicado como folheto, em francês, em Paris (1880),em
alemão, em Zurique (1882) e em Berlim (1891), e em inglês, em Londres (1892). Publica-se
segundo a edição soviética de 1952, de acordo com o texto da edição alemã de 1891.
34
movimento racional que permite transpor uma contradição. Uma tese inicial é
confrontada e esta é substituída por sua antítese. Essa antítese, que conserva
elementos da tese, é superada pela síntese, que combina elementos das duas
primeiras, em um processo contínuo de enriquecimento de conhecimentos e fatos
novos.
Segundo Hegel, a história da humanidade cumpre uma trajetória dialética
marcada por três momentos: tese, antítese e síntese. O primeiro vai das civilizações
orientais antigas até o surgimento da filosofia na Grécia. Hegel o classifica como
objetivo, porque considera que o espírito está imerso na natureza. O segundo é
influenciado pelos gregos, mas começa efetivamente com o cristianismo e termina
com Descartes. É um momento subjetivo, no qual o espírito toma consciência de sua
existência e surge o desejo de liberdade. O terceiro, ou a síntese absoluta, acontece a
partir da Revolução Francesa, quando o espírito consciente controla a natureza e o
desejo de liberdade concretiza-se na concepção do Estado Moderno.
Karl Marx e Friedrich Engels20, reformam o conceito hegeliano de dialética,
sendo denominada de dialética materialista, porque o movimento histórico, para
eles, é derivado das condições materiais da vida.
A dialética materialista analisa a história do ponto de vista dos processos
econômicos e sociais e a divide em quatro momentos: Antiguidade, feudalismo,
capitalismo e socialismo. Cada um dos três primeiros é superado por uma
contradição interna, chamada "germe da destruição". A contradição da Antiguidade
é a escravidão; do feudalismo, os servos; e do capitalismo, o proletariado. O

20
In: Stalin, Materialismo Dialético e Materialismo Histórico (1982) e Escrito por Karl Marx
e Friedrich Engels em dezembro de 1847 - janeiro de 1848. Publicado pela primeira. vez em
Londres em fevereiro de 1848. Publicado de acordo com o texto da edição soviética em
espanhol de 1951, traduzida da edição alemã de 1848. Confrontado com a edição inglesa de
1888, editada por Friedrich Engels. Traduzido do espanhol.
35
socialismo seria a síntese final, em que a história cumpre seu desenvolvimento
dialético.
A dialética também é estabelecida como lógica dentro de algumas correntes
filosóficas. Porém, pode-se estabelecer a lógica como uma ramificação distinta,
sendo assim expressa:
 Lógica: Refere-se ao raciocínio correto, a lógica surge no Ocidente com o
filósofo grego Aristóteles. Para mostrar que os sofistas podem enganar os
cidadãos utilizando argumentos incorretos. Aristóteles estuda a estrutura
lógica da argumentação. Revela, assim, que alguns argumentos podem ser
convincentes, embora não sejam corretos. A lógica, segundo Aristóteles, é
um instrumento para atingir o conhecimento científico. Só se pode chamar
de ciência aquilo que é metódico e sistemático. Na obra Organon,
Aristóteles define a lógica como um método do discurso demonstrativo,
que utiliza três operações da inteligência: o conceito, o juízo e o raciocínio.
O conceito é a representação mental dos objetos. O juízo é a afirmação ou
negação da relação entre o sujeito (neste caso, o próprio objeto) e seu
predicado. E o raciocínio é o que leva à conclusão sobre os vários juízos
contidos no discurso. Os raciocínios podem ser analisados como
silogismos, nos quais uma conclusão decorre de duas premissas. "Todo
homem é mortal. Sócrates é homem, logo, Sócrates é mortal", diz ele, para
exemplificar. "Sócrates", "homem" e "mortal" são conceitos. "Sócrates é
mortal" e "Sócrates é homem" são juízos. O raciocínio é a progressão do
pensamento que se dá entre as premissas "Todo homem é mortal",
"Sócrates é homem" e, a conclusão, "Sócrates é mortal".
No período clássico (século IV a.C ao século XIX), Aristóteles
sistematizou e definiu a lógica como uma ciência autônoma e também utilizou uma
metodologia própria. No século XVI os problemas que diziam respeito à
sistematização do conhecimento científico designava – se por “lógica menor” e no
século XIX por “lógica formal”. Os problemas que diziam respeito à verdade dos
36
juízos constituíram o objeto do que se chamou no século XVI de “lógica maior” e no
século XIX por “lógica material”. Com o objetivo metodológico de mostrar o
caminho correto para a investigação, o conhecimento e a demonstração científica, a
lógica de Aristóteles usava as seguintes fases do método científico: Observação de
fenômenos particulares; Intuição dos princípios gerais (universais) a que os mesmos
obedeciam; dedução a partir deles das causas dos fenômenos particulares. Mas sua
lógica, a partir do século XVI, começou a ser questionada, por filósofos como
Francis Bacon (1561 – 1626) e Descartes (1596 – 1650), devido ao “aparecimento”
da “ciência experimental”, que procurava atingir o universal a partir do particular, e
não mais o inverso21.
O matemático e filósofo alemão G.W. Leibniz (1646-1716) critica a lógica
aristotélica por demonstrar verdades conhecidas e não revelam novas verdades. A
lógica estabelecida pelos modernos, necessita de um método capaz de estudar
também relações entre objetos e a percepção humana referente ao modo de como se
observa algum fenômeno e/ou objetos.
No final do século XIX, o alemão Gottlob Frege (1848-1925) desenvolve
uma lógica baseada em símbolos matemáticos e na análise formal do discurso,
perfazendo desta maneira as bases da lógica moderna, que formaliza e equaciona os
raciocínios, organizando-os como sendo uma espécie de gramática, que pode ser
empregada em diversas linguagens (como a proposicional, que estuda a relação dos
juízos entre si, e a de predicados, que analisa a estrutura interna das sentenças).
Desta forma, a validade de um argumento depende exclusivamente de sua fórmula
lógica e não do conteúdo das afirmações. Pode-se concluir que ao se estudar a

21
Para os estudantes interessados na epistemologia e filosofia da Geografia, recomenda-se a
obra de Robert de Moraes – Geografia Pequena História Crítica. Esta leitura enfoca alguns
dos principais movimentos e contribuições do pensar geográfico. Uma leitura voltada ao
aprendizado. E o entendimento das idéias é bem simples e muito bem elaborado.

37
estrutura e a natureza do raciocínio humano e reproduzi-las em fórmulas
matemáticas, torna-se possível a criação de uma linguagem22.
Diante da apresentação dos grandes pensadores gregos e contribuintes do
pensamento geográfico e filosófico, sendo estes responsáveis pelas inovações e
reflexões do ser e do saber, abalizar-se-á as questões do surgimento e diretrizes da
fundamentação que implementa a epistemologia propriamente dita, partindo do
filósofo que melhor representa sua formulação...ARISTÓTELES!
Existem quatro formas de conhecimento, segundo Aristóteles: fé;
evidência; experimentação e opinião.
As três primeiras formas de conhecimento são seguras, porque se baseiam
em fatos vistos, sentidos, abruptos e reais, ou sendo convicções pessoais embasadas
na experiência espiritual e vivida; enquanto que a opinião é uma asserção fundada
em formulação de pensamentos possíveis, com a possibilidade de estes serem falsos.
A filosofia se estabelece dentro de três pilares principais:
 Gnosiologia, que estuda a natureza do conhecimento em geral;
 Epistemologia, que estuda a natureza e a fundamentação dos vários
conhecimentos científicos;
 Metodologia que estuda os processos lógicos de aquisição do
conhecimento cientifico.
Conforme Andrade Filho (2000), “A filosofia, dita conhecimento, é função do
pensamento objetivo, é conhecimento que nos faz ultrapassar as aparências e
alcançar a realidade". Racional não é só função de conhecimento, aplica-se
também a pratica, reporta-se à ação. A reflexão e a razão criticaram e destruíram
um mundo mítico e elaboraram um outro tipo de explicação: a filosofia, onde
diferente da visão mítica, há discussão, possibilidade de critica "Tudo era um caos

22
linguagem de máquina ou programas, linguagem para deficientes visuais e auditivos,
podem ser exemplos para se entender o que está sendo descrito.
38
ate se erguer a Mente para por ordem nas coisas. A filosofia brota do chão da vida
e da historia concreta de um povo”.
Para Andrade Filho (2000), esta mudança do homem em relação ao seu modo
de pensar, do mítico para o racional, ocorreu por dois motivos: 1-contradições do
pensamento mítico e o 2- fortalecimento da razão.
Filósofos como Tales (625 - 548 a.C.); Anaxágoras (585 - 528 a.C.);
Heráclito (540 - 470 a.C.); Pitágoras (580 - 497 a.C.); Platão (348 - 322 a.C.),
refletiam sobre as realidades quaisquer e tentavam descobrir seus significados e
funções. Os filósofos passaram a criar confiadamente explicações, não mais baseada
nas tradições míticas das coisas, mas às forças racionais de suas mentes. Uma figura
de desponte entre os filósofos seria Aristóteles, que discutiu lógica, epistemologia,
física, biologia, ética, política e estética. Sua principal obra foi “A Analítica
Posterior”, discussão sobre a filosofia da ciência, além desta, a Física e a Metafísica
contém discussões sobre o método científico. Chegamos ao ponto importantíssimo
que justifica toda esta exposição até o presente, conotando a abordagem do método e
a investigação científica, que mantém a sustentação e a comprovação, ou os teste
que se pode realizar para afirmar ou negar algo expresso ou não na natureza, na
sociedade ou no pensamento. Inicia-se neste momento o suporte básico para
qualquer trabalho científico, inclusive para a formulação dos termos utilizados nos
ramos da ciência atual.
Na Antigüidade, Aristóteles classificou as ciências em práticas, poéticas e
teóricas, sendo sua classificação questionada posteriormente por Platão23. Esta
divisão da ciência na Antigüidade mostra duas abordagens distintas:
 Modo linear e horizontal – tem como defensores Aristóteles, Ockham,
Descartes, Kant e o positivismo de Augusto Comte24 ;

23
Platão defendia que: Conhecer é recordar verdades que já existem em nós. Esta teoria pode
ser atestada sempre que nos deixarmos guiar pela voz do inconsciente.
39
 Modo circular e vertical – Representado por filósofos como Platão,
Echkart, Piaget, constituindo uma filosofia de uma relação objeto/sujeito
paradoxal, ou imaginário.
A filosofia da ciência pode ser dividida em duas grandes áreas:
1. A epistemologia da ciência que discute a justificação e a
objetividade do conhecimento científico, tendo como tema central
o problema da indução, o problema se encontra no fato de que os
argumentos não são logicamente válidos, pois a verdade das
premissas particular não garante a verdade da conclusão universal.
Outro ponto fundamental é a possibilidade do conhecimento de
inobserváveis a olho nu. Os instrumentalistas negam que as teorias
científicas sobre inobserváveis possam ser aceitas como descrições
verdadeiras de um mundo inobservável. Seus argumentos
contraditórios as teorias voltadas ao esclarecimento dos não
observáveis, recaem na premissa de que estas teorias são úteis para
gerar previsões observáveis. Contrapondo os instrumentalistas,
adota-se a visão realista de que a ciência pode descobrir e
descobre verdades sobre inobserváveis. Alguns filósofos da
ciência como Kuhn e Feyerabend, argumentam que a observação
está “contaminada pela teoria”. Para estes dois filósofos, a verdade
científica objetiva não é alcançável mesmo ao nível dos
observáveis, quanto mais ao nível dos inobserváveis.
Mas nem todos os epistomólogos da ciência aceitam o relativismo de Kuhn
e Feyerabend. Um argumento contra o relativismo é que as teorias científicas são
descrições verdadeiras de uma realidade independente. Muitas teorias do passado
revelam-se falsas, desta maneira conclui-se que uma vez que as teorias científicas do

24
O positivismo de Comte embasa-se na observação dos fenômenos, subordinando a
imaginação à observação, mas há outras características igualmente importantes
40
passado normalmente são falsas, então, as teorias do presente e do futuro serão
também provavelmente falsas.
Na década de 1980, alguns filósofos adotaram uma abordagem naturalista
em epistemologia da ciência. Em vez de tentar identificar regras à priori do método
científico, inspiraram-se na história da ciência e para mostrar que estratégicas
metodológicas constituem de fato meios eficazes para se atingirem objetivos. O
ponto de vista realista do objetivo da formulação de teorias científicas é a descoberta
da verdade. Muitos filósofos da ciência naturalista rejeitam a idéia de que a verdade
seja um objetivo sensato para a ciência, investigando invés disto estratégias para se
atingirem objetivo teórico.
2. A metafísica da Ciência discute aspectos filosoficamente
problemáticos da realidade desvendada pela ciência. Parte mais
central da filosofia que busca o princípio e as causas fundamentais
de tudo, tratando de questões que, em geral, não podem ser
confirmadas pela experiência direta. O termo surge por volta de 50
a.C., quando Andronico de Rodes (século I a.C.), ao organizar a
coleção da obra de Aristóteles, dá o nome de ta metà ta physiká ao
conjunto de textos que se seguiam aos da física ("metà" quer dizer
além). Historicamente, a palavra passa a significar tudo o que
transcende à física, porque nesses estudos Aristóteles examina a
natureza do ser em geral e não de suas formas particulares,
postulando a idéia de Deus como substância fundamental. Na
Idade Média, a metafísica confunde-se com a teologia, conforme
estabelecido pelo italiano santo Tomás de Aquino, afirmando que
a metafísica estuda a causa primeira, e, como a causa primeira é
Deus, ele é o objeto da metafísica.
A experiência passa a ser extremamente valorizada e a metafísica deixa de
ser considerada a base do conhecimento filosófico durante a Idade Moderna. David
Hume diz que o homem está completamente submetido aos sentidos, portanto não

41
pode criar idéias, e não é possível formular nenhuma teoria geral da realidade. Para
ele, ciência alguma é capaz de atingir a verdade, seus conhecimentos são sempre
probabilidade.
O método científico é a análise praticada por ações e reflexões, restrita aos
processos manuais de repetição de uma ação, para que se estabeleça um padrão
contínuo e que este processo, sempre desempenhe os mesmos dados ou aborde um
fenômeno natural ou artificial com as mesmas observações anteriores. Desta
maneira, as teorias são testadas através de métodos práticos, e se alguém não
concordar com os dados, deve refazer o processo metodológico e as etapas
anteriores, sem modificar ou acrescentar algo no processo. As conclusões devem ser
avaliadas conforme os dados são fornecidos com a metodologia empregada.
Esta maneira de executar ou desenvolver atividades metodológicas para
estabelecer parâmetros e dados propícios ou não a sustentação de uma teoria; na
verdade recai, no teste da metodologia e na maneira como se repete o processo
metodológico. Desta forma, a teoria fica em segundo plano e o que se comprova
realmente é a metodologia.
POPPER (1961), expressa estas questões e desempenha um papel
fundamental nesta linha de pensamento. Apesar de que poucos são os cientistas e
pensadores que gostem da abordagem deste intelectual, devido ao fato de criticar o
marxismo e até mesmo o próprio Marx. “Os princípios do historicismo — que faz
parte da tarefa das ciências sociais apresentar profecias históricas e que estas
profecias históricas são indispensáveis a qualquer teoria racional são hoje
correntes porque constituem uma parte muito importante da filosofia que gosta de
se atribuir a si próprio o nome de “Socialismo Científico” ou “Marxismo”. Poder-
se-ia, pois, definir a minha análise do papel da previsão e da profecia como uma
crítica do método histórico do Marxismo. Mas na realidade, ela não se ocupa
apenas dessa variante econômica do historicismo que caracteriza o Marxismo, pois
visa criticar a doutrina historicista em geral. Decidi, no entanto, falar como se o
Marxismo fosse o objeto principal, ou o único, do meu ataque, já que é meu desejo

42
evitar a acusação de que estou a atacar sub-repticiamente o Marxismo sob o nome
de historicismo. Gostaria, contudo, de que vos lembrásseis que, sempre que
menciono o Marxismo, tenho também em mente muitas outras filosofias da
história”, pois vou tentar criticar um determinado método histórico, considerado
válido por muitos filósofos, antigos e modernos, de idéias políticas muitíssimo
diferentes das de Marx.
Como crítico do Marxismo, tentarei imprimir à minha tarefa um espírito
liberal. Tomarei a liberdade não só de criticar o Marxismo mas também de defender
certos dos seus argumentos; e permitir-me-ei também simplificar radicalmente as
suas doutrinas. Um dos pontos em que me sinto de acordo com os marxistas é a sua
insistência em que são prementes os problemas sociais do nosso tempo e que o
dever dos filósofos é fazer face às questões em debate; que não nos devemos limitar
a interpretar o mundo, mas devemos ajudar a transformá-lo. Estou perfeitamente de
acordo com tal atitude, o tema escolhido pela presente assembléia,O Homem e a
Sociedade, mostra que é geralmente reconhecida a necessidade de discutir estes
problemas. É preciso que os filósofos não ignorem o perigo mortal em que a
humanidade veio cair -- sem dúvida o perigo mais grave da sua história. Mas que
espécie de contribuição podem os filósofos dar — não apenas como homens, não
apenas como cidadãos, mas como filósofos? Insistem alguns marxistas em que os
problemas são demasiado urgentes para que se continue a refletir e que é nosso
dever tomar imediatamente partido. Mas se -- como filósofos — nos é realmente
possível dar alguma contribuição, então devemos, decerto, recusar-nos a aceitar
precipitada e cegamente conclusões já feitas, por maior que seja a premência da
hora; como filósofos, melhor não podemos fazer senão submeter a uma crítica
racional os problemas que nos fazem frente e as soluções defendidas pelos vários
partidos. Eu creio para ser mais específico -- que o melhor que posso fazer, como
filósofo, é abeirar-me dos problemas munido das armas de uma crítica de métodos.
É isto o que me proponho fazer.” (Palavras de POPPER, 1961).

43
Em sua juventude, Popper apoiava e defendia o marxismo, porém em sua
trajetória de vivência, transformou-se em social-democrata, que posteriormente
deixa de ser, para se tornar um liberal democrata no velho sentido da palavra. Além
disso, algumas pessoas até hoje acreditam que Popper era membro do Círculo de
Viena, sendo assim, suas idéias eram contraditórias ao que ele representava. Na
verdade, Popper participava de algumas reuniões, convidado pelos amigos, porém
suas idéias sempre foram conflitantes aos pensamentos dos integrantes de tal
corporação.
Popper é considerado pela comunidade científica como o principal filósofo
da ciência depois de Hume (1711-1776) e Kant (1724-1804). Suas idéias forneciam
respaldos técnicos e científicos aos processos de metodologia, estabelecendo novas
maneiras de se observar os fenômenos e testar teorias. Dentro de sua linha de
pensamento, havia a preocupação com a utilização restrita do processo
metodológico, ao contrário de Feyerabend que defende a idéia de que tudo é válido
para atingir seu objetivo. Seus métodos devem ser utilizados e manipulados
objetivando seu pré-conceito do fenômeno.
Este tipo de análise pode ser exemplificado quando se utiliza a estatística,
pois se pode manipular os dados estatísticos conforme se deseja, para atingir um
resultado positivo ou negativo de algum fenômeno que esteja sendo estudado.
O método expressa as nossas necessidades e possibilidades materiais, bem
como, conduz ao manuseio destes, que nos encaminha ao procedimento. O método é
a aplicação de uma forma de encontrar uma solução para testar algo, não sendo um
reflexo de nossas necessidades, mas sim, a solução ou uma maneira alternativa de
suprir a nossa necessidade de testar algo.
Conforme ENCICLOPÉDIA BARSA (2000), o método significa - termo
geral que designa vários processos pelos quais se constrói a ciência. Mais
precisamente pode ser definido como uma sucessão de passos ou operações que vão
desde a formulação de um problema ate a incorporação, no patrinômio cientifico, do
conhecimento novo resultante da investigação.

44
Na concepção de Popper, a lei da natureza é descritiva e não prescritiva,
que como em seu próprio exemplo, Popper conjectura: A água ferve a cem graus
Celsius. Esta é uma lei da natureza e não deve ser violada, porém, as asserções
explicativas de caráter geral devem ser modificadas ou abandonadas, quando estas
mostrarem ser inadequadas. Desta maneira, o que ocorre é uma lei universal natural
que não pode ser violada, mas ao experimentar novas condições e inferências
conceituais embasadas em novas experiências, revelar-se-á uma contribuição recente
aos padrões previstos. Sendo estes exemplificados da seguinte forma: A água
sempre vai ferver a 100 0 C, em condições naturais normais, dentro de uma
determinada temperatura, altitude e levando-se em consideração o material usado
para aquecer, ou o recipiente que se encontra a água. Desta forma, em altas altitudes
e em locais de clima rigoroso, a água não ferverá a cem graus Celsius. Estas
condições estabelecem um enriquecimento de conhecimento a hipótese
anteriormente descrita, porém não derruba esta teoria (a água ferve a cem graus
Celsius), apenas contribui com mais elementos para sustentar a hipótese de que um
fenômeno realmente ocorre em tais condições.
Newton foi o primeiro a adotar principiados de leis naturais, quando
realizou a experiência com o espectro da luz. No entanto a descrição sistemática do
processo metodológico na busca das leis foi elaborada por Francis Bacon. O método
que permite assentar enunciados gerais sob observações acumuladas de casos
específicos é denominado de Indução, sendo este o ponto de demarcação da ciência
e não ciência. O que se caracteriza por ciência são os enunciados científicos, os
únicos que conduzem ao conhecimento garantido, porque estão estabelecidos em
evidência observacional e experimental. Pois na concepção de Bacon, os fenômenos
se repetem mesmo com o passar dos anos e tudo é como foi antes. Neste ponto,
surge alguém com uma idéia contraditória, realçando algumas dúvidas nas propostas
de Bacon.
David Hume declarou “que embora não exista meio de demonstrar a
validade dos procedimentos indutivos, a constituição psicológica dos homens é tal

45
que não lhes resta outra alternativa senão a de pensar em termos de tais
procedimentos indutivos. Como esses procedimentos parecem ter legitimidade
prática, o homem os adota”. (Hume, 1949).
Esta percepção foi adotada após sua análise dos aparentes fatos repetitivos
dos fenômenos naturais, conforme Bacon expunha. O que Hume expressava,
resumia-se em um exemplo bem simples:
O sol pode ter surgido a cada dia, todos os dias de que tenhamos
conhecimento, mas isso não acarreta que deva surgir amanhã. Isso significa que as
leis físicas que vigoraram no passado, não acarretam logicamente que continuarão
vigorando no futuro. Assim, esta tentativa de justificar a indução é viciosa, porque
dá por assente a validade da própria indução.
Para Hume, existe uma problemática na interpretação metodológica
aplicada aos conhecimentos científicos, sendo assim exposto:
 Problema lógico: São os fenômenos que se tem registrado repetitivos e que
não se tem experiência.
 Problema Psicológico: Refere-se ao hábito de associar idéias ao
mecanismo de repetição. Ou seja: Se há uma continuidade de um
fenômeno, nossa mente de imediato crê que será sempre igual ou
semelhante ao anterior.
Nas análises de Ferigolo (1984), Popper concorda com Hume, no que diz
respeito a indução, que para eles não é aceitável. Porém estabelece uma maneira
alternativa de se resolver o problema, pois não aceitava que a indução fosse um
hábito necessário ao pensamento humano. Sendo assim, Popper cogitava que não é a
experimentação e a observação que antecedem a teoria, pois segundo ele, jamais
observamos desinteressadamente e imparcialmente os fenômenos. Popper chegou a
esta conclusão, quando em uma de suas aulas, ele realizou um teste: pediu aos
alunos para pegarem papel e lápis, e descrevessem e analisassem o que estavam
vendo. Então, vários alunos indagaram: “Mas o quê é pra descrever ou ver
professor?”
46
Para resolver o problema psicológico, Popper utiliza o princípio da
transferência, “o que é verdadeiro em lógica é verdadeiro em psicologia”, afirmando
que o irracionalismo de Hume não existe, ou seja: que nenhuma conclusão é
irracional.
Avaliando estas análises anteriormente demonstradas, pode-se concluir que
estamos sempre teorizando e para isto utilizamos toda a bagagem e experiência de
leituras, estudos, observações diretas e indiretas e outras variáveis que nos permita
adquirir conhecimento e experiências próprias. Desta maneira, pode-se inferir que a
ciência é um sistema de hipóteses e não um corpo de conhecimentos. Sendo assim, o
método é dedutivo e não indutivo. Tal observação e conclusão levaram Popper a
criar o termo “Método Dedutivo de Teste”.
Na concepção de Popper, o problema lógico da indução está na validez de leis
universais. Surge então uma indagação: “Como decidimos sobre a verdade ou
falsidade de asserções de testes?”
As leis universais transcendem a experiência, a linguagem se utiliza termos de
termos universais não definidos e de infinita regressão, não apresentando
verificabilidade. Estes termos universais tornam-se de fácil falseabilidade. Desta
forma, devemos descartar processos ou alternâncias que nos levam a uma regressão
ao infinito. Outro ponto fundamental nesta análise recai na impraticabilidade de
executar todas as observações de todos os objetos ou fenômenos em questão, o que
seria humanamente impossível de ser realizado, bem como realizar todas as
experiências imagináveis.
Segundo David Hume (In: POPPER, 1995), a causalidade enquanto relação
objetiva é apenas uma questão de associação constante, ou seja, um acontecimento
causa outro se, e só se, os acontecimentos do primeiro tipo estiverem
constantemente associados aos acontecimentos do segundo tipo. Mas esta análise
gera problemas como a questão da distinção entre genuínas leis causais da natureza e
associação acidentalmente verdadeira; um problema quanto à direção da causalidade
e por fim a questão da causalidade probabilística.

47
As análises de Popper revelam que uma teoria é confirmada por tudo aquilo
que comprovava a teoria mais antiga, mas que não obstante refuta a teoria mais
antiga pelo que não podem ser ambas verdadeiras. Portanto, não pode haver
verificação, apenas uma confirmação transitória. Não há confirmação definitiva, e,
portanto, toda a teoria é insegura, pois em cada teste existe a possibilidade de
refutação. O exemplo disto expressa-se em Popper (1991): “Até a invenção do
telefone, verificou-se que não se podia falar a distância, que não podia, portanto,
haver telefone”. Cada teoria que foi construída a partir desta lei, foi testada até este
momento.
Para Popper, as teorias que não são passíveis de teste negativos, não são
científicas. Sendo assim, Popper estabelece que existem dois tipos de testes:
 Teste Positivo: Onde ocorre a repetição aproximada ou exata dos
experimentos.
 Teste Negativo: Este é o mais importante, pois acrescentam condições
diferentes das originais para que se teste os experimentos. Caso a teoria se
mantenha após os testes negativos, diz-se que a teoria foi corroborada (não
sendo esta comprovada).
Os testes positivos levam a estagnação enquanto que os negativos acrescentam
novos parâmetros de análises, adicionando maiores conhecimentos a respeito do
fenômeno que está sendo estudado e é à base de uma lei universal.
Os cientistas devem procurar os erros nas suas teorias e não ocultá-los. Para
isso, deve-se aplicar regras metodológicas e de abordagens críticas, desta forma,
rejeitar-se-á o falseamento.
As idéias de Popper são importantes e estabelecem um padrão ético dentro
da ciência, porém como o ser humano é mesquinho, vaidoso, hipócrita, orgulhoso, e
cheio de si, o que se observa no meio científico são pessoas (cientistas) tentando
provar/confirmar e sustentar a qualquer custo suas teorias.
As maiorias das filosofias, desde Platão até os dias de Marx, tiveram
concepções que relacionavam não apenas o desenvolvimento social e histórico, mas
48
também se focava o avanço da lógica e da ciência, sendo estas alcançadas com as
conquistas da epistemologia. E Popper, não deixou de estabelecer tais correlações e
fundamentações epistemológicas. Desta forma, para solucionar problemas, Popper
propõe a livre proposição de sugestões, que passam a ser submetidas à crítica e ao
crivo do sistema de eliminação de erros.
Deve-se ressalvar, que Popper refuta teorias antigas e não preserva teorias
que não são necessariamente falsas, mas que se tornaram inadequadas. Nitsche não
concorda com Popper quanto ao refutamento ou a não preservação das teorias, pois
todas as teorias possuem algo positivo e que acrescenta conhecimento, mesmo que
estes sejam considerados errôneos. Por exemplo: Uma teoria hipotética: A água é
fria e será sempre fria, mesmo que sofra modificações em seu estado físico. De
imediato se vê que esta teoria é falsa, pois a água alterará seu estado físico graças às
mudanças de temperatura. Esta falsa hipótese corrobora na reafirmação da teoria que
fôra testada e se constatou confirmada. Vamos supor que a teoria confirmada é que
enuncia que a água sempre sofre modificações em seu estado físico graças às
mudanças de temperatura.
O não refutamento de teorias é estabelecido por FEYERABEND (1975).
Todas as teorias devem ser preservadas. E todos os métodos devem ser utilizados
para que possamos atingir nosso objetivo, e que este objetivo, se for direcionado
para a confirmação de uma teoria, o procedimento metodológico tem de ser calcado
no Método Dedutivo de Teste25.
Paul K. Feyerabend26 - Filósofo e crítico das ciências. Ao lado de Karl
Popper e Thomas Kuhn, é considerado um dos principais renovadores da história
das ciências. Este ilustre pensador criticou duramente a pretensão de neutralidade
das pesquisas científicas, cujo sucesso entendia como decorrente de fatores políticos
e retóricos, ao invés de um suposto progresso do conhecimento objetivo do mundo.

25
Conforme esclarece POPPER (1975)
26
Viena, 1924 - Zurique, 1994
49
Autor de Contra o Método (1975) e Farewell to Reason (Adeus à Razão, 1987),
Feyerabend (1975), analisa a ciência e o método por este prisma: “A diferença entre
ciência e metodologia é óbvio fato da história, indica, portanto, insuficiência da
metodologia e, talvez, também das ‘leis da razão’. Com efeito, o que se afigura
‘fugidio’, ‘caótico’, ‘oportunista’, quando posto em paralelo com tais leis tem
importantíssima função no desenvolvimento daquelas mesmas teorias que hoje
encaramos como partes essenciais de nosso conhecimento acerca da natureza. (...)
Sem ‘caos’, não há conhecimento. Sem freqüente renúncia à razão, não há
progresso. Idéias que hoje constituem a base da ciência só existem porque houve
coisas como o preconceito, a vaidade, a paixão; porque essas coisas se opõem à
razão; e porque foi permitido que tivessem trânsito. Temos, portanto, de concluir
que, mesmo no campo da ciência, não se deve e não se pode permitir que a razão
seja exclusiva, devendo ela, freqüentes vezes”, ser posta de parte ou eliminada em
prol de outras entidades. Não há uma só regra que seja válida em todas as
circunstâncias, nem uma instância a que se possa apelar em todas as situações”
(FEYERABEND, P. “Contra o Método” , cap. XV, p. 279).
O pensador e filósofo mencionado anteriormente, além de expressar que
nem todas as coisas são realmente lógicas, e que não há muitas vezes maneiras de
testa-las diretamente ou com métodos específicos, critica Popper e mostra um novo
caminho na maneira de interpretar as condições de se fazer ciência.
FEYERABEND (1975), defende a idéia de se utilizar todos os meios
possíveis. E quando algo ou algum fenômeno ocorrer inesperadamente, utilizar-se-á
argumentos que defendam sua teoria ou trabalho, sendo esta reconhecida como
hipótese ad hoc, uma hipótese para o caso. Esta análise conota uma anarquia
científica, mas que estabelece uma contribuição ao modo inovador de observar a
ciência e aplicar os métodos pertinentes. Esta visão se aplica mais especificamente
as ciências históricas e as questões onde o teste direto não é possível muitas vezes, e
os testes indiretos demandam tempo. “Contra o Método” pode ser interpretado como
uma negação aos processos eminente da razão, distorcendo de uma certa forma as

50
aplicações lógicas do método científico. Desta maneira, trabalha-se com
cientificidade e seriedade nas áreas científicas que atuam com a conduta, modo de
pensar, modo de vida e fobias humanas, além de outras referentes às áreas que
envolvem tais questões, além das ciências históricas e procedimentos não testáveis
no momento.
"O fato de ser empírico pouco importa, (...) o que vai importar, então, é a
possibilidade de conhecimentos transmitido e retido”.(SODRÉ p. 14).
A transmissão de conhecimentos no âmbito da ciência, só é válida se este
conhecimento for científico, ou seja: que este conhecimento gere informação
cientificamente comprovada, não sendo propriamente verdadeira, mas que seja o
mais próximo possível de uma interpretação correta no momento histórico de sua
elaboração27 e que esta seja passível de testes. Porém, pode haver a transmissão de
idéias e crenças, sem um respaldo técnico metodológico científico, sendo estas
caracterizadas como metafísicas, e/ou expressas em salas de aulas por um professor.
Mas se um indivíduo for transmitir algo, ou uma notícia, que se transcreva de
maneira responsável, sem o objetivo de alienar o pensamento humano, ou de
divulgar algo infundado.
E o que distingue ciência da metafísica é exatamente o que se pode ser
testado no momento ou em um futuro. É o que POPPER (1972) caracteriza ou
denomina de Demarcação. Desta maneira posta, temos duas grandes áreas
científicas: ciência histórica e ciência empírica. Exemplo de ciência histórica:
Paleontologia. Pois ela trabalha com fatos únicos, porém são aplicados métodos
diretos e indiretos (procedimento metodológico) para se alcançar um objetivo. E as
teorias postuladas dentro desta área, são passíveis de testes diretos e indiretos, que
podem ou não falseá-las. Porém o resultado final para a confirmação de uma teoria

27
Exemplo: Teorias Evolucionistas que não se aplicam mais ao presente momento, mas que
em sua época foram aceitas e defendidas por mais de cinqüenta anos.
51
paleontológica não é possível, pois os eventos não podem ser seguidos e/ou
reconstituídos em uma abordagem empírica.
Seguindo com as explanações anteriores, pode-se citar como exemplo de
ciência empírica, a Biologia e a medicina, pois suas análises voltam-se ao campo do
experimentalismo, através de tentativa e erro, modelando procedimentos testáveis
empiricamente, sendo que seus postulados podem ser confirmados, pois há a
possibilidade de reconstituir, descrever e seqüênciar eventos.
Ao se entender as estruturas que sustentam as bases metodológicas
científicas, os pensamentos e abordagens de alguns filósofos, podemos adentrar nas
questões de importância geográfica, mais especificamente aos conceitos e análises
de alguns pensadores e pesquisadores deste ramo científico. Pois, as linhas e
condutas adotadas por cada um destes referenciados no texto a seguir, são
responsáveis pelo processo evolucionário geográfico, caracterizando os moldes
conceituais e metodológicos atualmente adotados na Geografia. Possibilitando
ainda, uma análise histórica que permite desenvolver uma nova perspectiva dos
fenômenos estudados por nós geógrafos. Desta forma, vamos nos ater nas páginas
seguintes, ao modo de como Nitsche pensa sobre os conceitos de espaço e cidade.
Além de sua visão sobre os demais processos de realizações e conjecturas de
cunhos geográficos mais importantes aos olhos deste que vos escreve.

UMA NOVA ABORDAGEM CONCEITUAL SOBRE ESPAÇO E CIDADE

Muitos autores estudam, descrevem, classificam, reinventam e denominam


ESPAÇO.

52
Muitos cientistas e especialistas tentaram especificar e classificar tal
conceito dentro de sua análise corporativa comercial28. Surge então: Espaço
Geográfico, Espaço Mental, Espaço Social, Espaço Físico, Espaço Cósmico, Espaço
Regional, Espaço Urbano, Espaço Virtual, Espaço Neutro, Espaço Vital, etc...etc.
Em toda e qualquer ramificação científica surge termo correlato e
modificado de sua origem lingüística ou de sua raiz gramatical. Este fato faz com
que se abra a possibilidade de criar e inventar novas linguagens e novos
significados, porém embasados naqueles que já são descritos nos dicionários da
língua de origem. Estas invenções de termos e novas conotações embasadas em algo
já estabelecido são evidenciadas por FEYERABEND (1975) e WITTGENSTEIN
(1978). Porém pouco se fez para modificar o panorama científico ao que se refere.
Enfocando este ponto de vista, observa-se que muitos estudiosos
estabeleceram um conceito próprio de espaço, criando uma infinidade de conceitos,
sendo estes abordado amplamente por La Blach, Milton Santos, Correa, Robert de
Moraes, Foucaut, Tuan e outros. Além deste fato, ainda se estabeleceram e criaram
novos ramos dentro da Geografia, criando inclusive uma nova Geografia.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma enorme mudança no
setor científico, houve uma “revolução quantitativa e teorética da geografia”.
A Nova Geografia desenvolveu-se procurando incentivar e buscar um
enquadramento maior da geografia no contexto científico global, utilizando-se de
metas como: Rigor maior na aplicação da metodologia científica – salienta a
necessidade de maior rigor no enunciado e na verificação de hipóteses, assim como
na formulação das explicações para os fenômenos geográficos;
Desenvolvimento de teorias – sob o paradigma da metodologia científica
procurando estimular o desenvolvimento de teorias relacionadas com as

28
Todas os ramos científicos são movidos e motivados pelo mercado de trabalho. Ninguém
leciona sem receber e ninguém faz nada sem ganhar algo em troca. Vivemos em um mundo
capitalista.
53
características da distribuição e arranjo espaciais dos fenômenos; Uso de técnicas
estatísticas e matemáticas; Abordagem sistêmica.
Mas surgiram correntes contrárias ao positivismo, ou seja, a esta Nova
Geografia, como foi o caso da geografia Humanística, Geografia Idealista e da
Geografia Radical.
Desta forma descrita, verificam-se os seguintes adeptos do não positivismo,
elaborando uma distinção entre as Ciências Humanas e as Ciências Naturais, como
Friedrich Hegel (1770 – 1831) e Wilhem Dilthey (1833 – 1911) que estabeleceu a
diferença entre explicação e compreensão. Desta maneira, surge uma geografia
humana, repleta de contradições e procedimentos diversificados, que estabelecem
várias “geografias” em uma só. E uma geografia física, que mantém suas linhas mais
conservadoras e com um enfoque mais específico, permitindo pouca variação no
estabelecimento de condutas metodológicas, estabelecendo uma única geografia.
Porém há termos que se confrontam com a humanística, sendo citado como
exemplo: Região.
Palavras de TUAN (Transcrito dos Annals of the Association of American
Geographers, 66: (2), junho 1976. Título do original: Humanistic Geography.
Tradução de Maria Helena Queiroz): “As abordagens científicas para o estudo do
homem tendem á minimizar o papel da conscientização e do conhecimento humano.
A Geografia Humanística, em contraste, tenta especificamente entender como as
atividades e os fenômenos geográficos revelam a qualidade da conscientização
humana. Usarei o modelo etológico na Ciência para prover o ponto de partida para
o exame da perspectiva humanista. Outros modelos científicos reduzidos do homem
- homem econômico, por exemplo, podem também servir como ponto de partida,
mas para evitar sobreposição e confusão não os tenho usado. A sobreposição existe
porque todos os modelos científicos do homem simplificam a capacidade humana de
saber, criar e ofuscar. Pode a Geografia Humanística oferecer um novo modo de
enxergar os fenômenos geográficos? Para dar uma resposta tenho que brevemente
explorar cinco temas de interesse geral para os geógrafos: conhecimento

54
geográfico; território e lugar, aglomeração humana e privacidade, modo de vida e
economia, e religião.”
Quando se analisa somente o aspecto ou tema citado por Tuan, sem
correlaciona-los com a natureza, não caracterizamos uma Geografia pura, mas sim,
transformamos a Geografia em ramificações que intervem e sobrepõe análises não
pertinentes ao contexto geográfico (Psicologia e sociologia).
A Geografia é uma ciência de síntese na visão que vem se seguindo desde
La Blache, que recebe críticas por este aspecto, sendo assim mencionado:
Palavras de La Blache (Transcrito dos Annales De Géographie, 22 (124):
289·299, 1913.): “A Geografia é considerada como se alimentando nas mesmas
fontes de fatos da Geologia, da Física, das Ciências Naturais e, de certa forma, das
Ciências Sociológicas. Ela serve-se de noções, sendo que algumas delas são o
objeto de estudos aprofundados nas ciências vizinhas: daí vem, então, a crítica que
se faz às vezes à Geografia, a de viver de empréstimos, a de intervir indiscretamente
no campo de outras ciências, como se houvesse compartimentos reservados no
domínio da ciência. Na realidade, como veremos, a Geografia possui seu próprio
campo. O essencial é considerar qual uso ela faz dos dados sobre os quais se
exerce. Será que ela aplica métodos que Ihe pertencem? Será que traz novos
horizontes, de onde as coisas possam aparecer em perspectiva especial, que os
mostra sob angulo novo? Todo o problema é este que está aí. Na complexidade dos
fenômenos que se entrecruzam na natureza não se deve ter”. uma única maneira de
abordar o estudo dos fatos; é útil que sejam observados sob ângulos diferentes. E se
a Geografia retoma certos dados que possuem um outro rótulo, não há nada para
que se possa taxar essa apropriação de anticientífica. A Geografia compreende, por
definição, o conjunto da Terra. Este foi o mérito dos matemáticos-geógrafos da
Antigüidade (Eratóstenes, Hiparco, Ptolomeu), o de colocar em princípio a unidade
terrestre, o de fazer prevalecer esta noção acima das descrições empíricas das
regiões. É nesta base que a Geografia pôde-se desenvolver como ciência” .

55
La Blache tem a idéia que a Geografia é a ciência dos lugares e não dos
homens. Quem estuda os lugares sem a atuação humana? Sua visão de mundo é
muito restrita ao pensamento naturalista da época em que formulou suas
interpretações. Atualmente todos os ramos científicos estão trabalhando com a
interferência humana no meio, e o lugar29 só é estudado metafisicamente.
Quanto ao problema da Geografia utilizar ou avançar no campo de outras
áreas, isto é descartado, pois todos os ramos científicos se sobrepõem em um
determinado ponto, porém cada um se estabelece dentro de seu enfoque de estudo. E
o enfoque geográfico deve atender contextos ambientais, forjados por uma cadeia
interativa de elementos sociais humanos e físicos, que estabelecem ou criam
fenômenos naturais.
"A geografia é talvez a ciência de história mais longa. Ela começa, na
verdade, com as primeiras comunidades gentílicas" que através de migrações
chegaram "ao conhecimento mais amplo da superfície da Terra e a tendência ao
registro ou à transição desse conhecimento. Trata-se incontestavelmente de
material geográfico" (SODRÉ p. 13).
Como Sodré mencionou, a Geografia é um ramo da ciência muito antigo,
porém os geógrafos não construíram uma base teórica sólida, que estabelecesse o
seu objeto de estudo. Ao contrário do que se esperava, houve uma divergência ao
processo construtivo de tal elemento magno, criando ou desenvolvendo duas
geografias bem distintas.
Desta forma, inicia-se uma corrida entre os próprios geógrafos para
estabelecer regras e conceitos calcados no “Objeto Espaço”, tentando impor
metodologias embasadas na teoria de alguns filósofos práticos, pensadores,
sociólogos e outros. Tentando ainda definir Geografia, conforme se observa nestes
exemplos:

29
Marc Augé “Não lugares” (1994)
56
Definição de Geografia: segundo Albert Demangeon, em 1942 : é o estudo
dos grupos humanos nas suas relações com o meio geográfico”.
Emmanuel de Martonne define em sua obra Traité de Géographie
Physique, que a “geografia moderna encara a distribuição à superfície do globo
dos fenômenos físicos, biológicos e humanos, as causas dessa distribuição e as
relações locais desses fenômenos”. Estas duas interpretações anteriormente citadas
explanam de forma bem simplificada o objeto de estudo da Geografia, que nada
mais é do que a relação sociedade/natureza. Porém esta relação é observada
distintamente e sem uma correlação direta entre ambas.
Geografia Humanística: Possui a fenomenologia existencial como a
filosofia subjacente. Edmund Husserl (1859-1939) foi quem atribuiu os significados
contemporâneos a fenomenologia. “A fenomenologia não é nem uma ciência de
objetos, nem uma ciência do sujeito : ela é uma ciência da experiência”. Este tipo
de abordagem foi adaptada a Geografia com o desponte de Tuan, que defendia o
processo fenomenológico da capacidade do ser humano criar mapas mentais. Ou a
perspectiva de uma pessoa em se localizar mentalmente em um determinado
território ou local. E pelo simples fato de um ser consciente produzir tal elemento
cartográfico virtual, estabeleceu-se a idéia do espaço fenomenológico, sendo este de
cunho geográfico. Ainda dentro deste ramo filosófico, encontramos a Geografia
Idealista: representando uma tendência para valorizar a compreensão das ações
envolvidas nos fenômenos, procurando focalizar seus aspectos inferiores, que são os
pensamentos subjacentes às atividades humanas. O idealismo é uma alternativa ao
positivismo30.

30
Para complementar sua leitura: CHRISTOFOLETTI, A. - “As Características da Nova
Geografia” In CHRISTOFOLETTI, A. (org.) – “Perspectiva da Geografia”, 2ª edição.
São Paulo: DIFEL, 1985.
MORAES, A. C. Robert de - “A sistematização da Geografia Moderna” In: A gênese da
geografia moderna . São Paulo : Ed. Hucitec, 1989, pp. 15-25.
57
A Geografia estabelece como objeto de estudo o Espaço. Porém, existem
vários espaços conforme mencionado anteriormente. O mais interessante, é que
nenhum destes determinam com exatidão sua concreta e irrefutável alegação de ser o
objeto de estudo da Geografia. Pois o geógrafo atua enfocando a natureza que se
resume em duas coisas (o que faz parte e é natureza):
 Seres abruptos: Que são elementos encontrados em todo o universo e são
conhecidos ou nomeados como: átomo, moléculas, estrelas, sóis, planetas,
luas, minerais, rochas, montanhas, vulcões, ventos, solos, mares, rios, água,
chuva, cristais de neve, cristais minerais, sombra, vales, neve, gelo, fogo e
etc.
 Seres Orgânicos ou Bio orgânicos: São elementos orgânicos vivos e
mortos (corais e conchas, por exemplo). Sendo que os elementos mortos se
preservam em estruturas. E os vivos formam sociedades, comunidades ou
individualismo. Dentro deste grupo enquadram-se os seres humanos e suas
sociedades.
A sociedade humana estabelece, cria, transforma, regenera, convive,
desenvolve, integra e interage na natureza, concretizando novos ambientes e
modificando as paisagens naturais, estabelecendo paisagens artificiais, sempre
reajustando estas duas paisagens para o seu conforto e sustento. Esta observação
estabelece uma natureza artificial criada pelo ser humano. Pois o homem não gosta
do que é natural, ele gosta da natureza humana. Sendo assim exemplificado:

______________________– “Geografia Pequena História Crítica”, 14ª edição. São


Paulo: Ed. Hucitec, , 1987.
_____________________“O Positivismo como fundamento da Geografia” In Geografia:
pequena história crítica. São Paulo: Ed. Hucitec, 1981, pp. 21-31.
_____________________ et COSTA, W. Messias da – “Geografia crítica - a
valorização do espaço”, 2ª edição. São Paulo: Ed. Hucitec, , 1987.

58
Vamos preservar o mico-leão-dourado! Para quê? Para que no futuro eles
existam, para que nossos filhos possam ver!
Para que nossos filhos possam ver!...Não porque a natureza necessita
deles.
Vamos preservar a natureza! “Eba...Vamos!” Mas e os mosquitos da
dengue? Matamos todos, porque transmitem doenças para os seres humanos! - Mas
eles não fazem parte da natureza? Não temos que preservar a natureza? - Temos que
manter nossa maior criação a cidade sem um foco de dengue ou outra doença
causada por seres vivos, sejam doenças fabricadas pelo homem31 ou pela natureza. A
natureza pode ser pura32 ou antrópica. Exemplo de natureza antrópica: Elevação
topográfica com cobertura pedológica embasada em resíduos descartáveis33, seres
vivos clonados, diamantes forjados em laboratórios e etc. Tendo ainda, o exemplo
de natureza pura34: Nascimento de celacanto35 (latimeria chalumnae) – uma espécie
de peixe muito raro e que existe em nosso planeta desde a éra mesozóica 36.
A cidade é de natureza antrópica, no entanto, não é um espaço construído
pelas mãos humanas. É um ambiente artificial, montado, fixado e formado na
superfície terrestre (espaço terrestre), pois se fosse na lua, seria no espaço lunar”.
Mas como a cidade interage e se encaixa no âmbito da proposta de Nitsche?
Vários ambientes formam um ecossistema, pois na verdade, o ecossistema
é constituído de micro-ambientes que se integram e se correlacionam, estabelecendo
um sistema visivelmente único, porém ao se analisar particulados destes, observa-se

31
Armas biológicas.
32
Definição de hartshorne (1979).
33
Morro formado por entulho de lixo (sendo recoberto por camada de terra). Feição antrópica
geomorfológica.
34
Criado ou destruído sem a intervenção/realização humana.
35
Descoberto em 1938 na África do Sul.
36
Termo que significa vida média – sua duração foi de aproximadamente 248 milhões de anos
à 65 milhões de anos, que se divide em três períodos: Triássico, Jurássico e Cretáceo.
59
várias camadas de ambientes. Pois cada ambiente é um sistema ou vários sistemas
justapostos.
O ecossistema marinho, por exemplo, é formado por estratificação de
camadas e colunas d’água, onde se consideram a priore a profundidade, pressão,
salinidade e a intensidade do alcance da luz. As formas de vidas e os objetos não
viventes, existentes em cada camada, especificam um modo de vida e suas relações
biomotoras. O que não se percebe de imediato, é que este ambiente aquático é
formado por vários micro-ambientes, conforme demonstrado anteriormente, pois
cada estratificação representa um ambiente único. Para a pessoa de Nistche (2000),
ambiente se define como o local que estabelece condições de vida a um ser vivo,
propiciando-o o modo de vida e suas conseqüências. Ou seja: É onde uma criatura
pode viver, seja ele anaeróbico ou não. Um peixe que vive em um ambiente de alta
pressão, isto é, que desempenha suas funções vitais em grandes profundidades e
temperaturas baixas, não pode viver se trazido a 100 metros da superfície. Este
exemplo mostra que este peixe, mesmo estando em seu “ambiente aquático”, não
suportaria a temperatura mais aquecida da água e nem a baixa pressão, pois ele está
fora dos limites de seu ambiente ou do local que propicia a vida deste ser.
Para realçar tal afirmação, lembrar-te-ei que existem locais de visitação
pública criadas especificamente para atender as condições climáticas e
características similares às condições de vida das espécies que lá se encontram.
Como é o caso do parque temático “SEA WORD”, localizado em Orlando - Florida
(EUA). Nessa referida área destinada ao lazer, encontramos ambientes que atendem
aos padrões reguladores que propiciam a vida animal. A característica de maior
importância para este caso seria o ambiente criado para os pingüins37, que possui um
sistema de precipitação de cristais de gelo (neve) e temperaturas equivalentes ao seu
domínio austral.

37
Pertence a família dos esfeniscideos, ave endêmica do hemisfério sul, que possui asas
modificadas em aletas e pés munidos de nadadeiras.
60
Mas a cidade é ou não um ecossistema?
Para alguns autores, como ODUM (1988), consideram a cidade um
ecossistema incompleto (heterotrófico), que dependem de grandes áreas, pois seus
ambientes de entrada e saída são dependentes de fatores externos e influencias
sócio-políticas. Odum não considera ser possível um sistema autotrófico porque as
relações políticas não permitem tal desenvolvimento.
Atualmente as cidades não devem ser analisadas em seu núcleo, mas sim
em sua área de abrangência, suas influencias e relações - comerciais/econômicas,
culturais, religiosas e políticas. Diante de tais anotações, observa-se que as cidades
na atual circunstância histórica refletem um sistema autotrófico, pois além das
regiões metropolitanas vinculadas ao campo e/ou ao processo de conurbação,
evidenciamos uma unificação de áreas, que estão diretamente ligadas e
administradas pelo núcleo, além de influências de políticas internas e externas.
Sabendo-se que vários ambientes formam um ecossistema. Poderia,
Nitsche, nos dar um exemplo de como isso é possível em uma cidade?
Como todo sistema complexo depende de inter-relações dinâmicas externas
e internas de sub-sistemas, tais como, fatores variáveis condicionantes38 que
desempenham o equilíbrio e/ou desequilíbrio do funcionamento do sistema global
e/ou maior, citar-se-á um exemplo de uma das várias estratificações recorrentes nas
cidades como: a malha viária, que é formada por vias e ruas, que se integram e
geram uma característica modal daquilo que se entende como um fenômeno e/ou
atributo urbano, que complementa outros contextos de características físicas e

38
Exemplos mais conhecidos: Clima - abundância ou escassez de precipitação (chuva),
variância de temperaturas médias anuais, eventos climáticos atípicos em uma determinada
região urbana e/ou regional física. Variações não corriqueiras no âmbito econômico - quebra
de sistema financeiro, falência de várias empresas ou negócios, alternância e/ou imposição
política de reação antiterrorista, manifestação pública com distúrbio civil e/ou controle de
massa, corrupção ativa e impunível, guerras e epidemias. Estes fatores,podem ser
responsáveis pela extinção de atividades que geram a riqueza local.
61
sociais, tais como: pessoas, veículos, sinalização, normas e jurisprudência. Todos
estes, desenvolvem e criam o denominado ambiente de tráfego. Este sistema permite
o fluxo de pessoal, mercadorias, documentos e dinheiro, dando origem ao ambiente
de trânsito, permitindo que outros sistemas possam funcionar, como a coleta,
reciclagem e manutenção do lixo, setor financeiro, previdenciário, judiciário,
legislativo e executivo, de segurança, educação e saúde pública. Cada sub-
sistema/sistemas descritos se interagem e se complementam com outros, originando
todos os componentes responsáveis para que existam os ambientes que integrados
aos demais, formam e desenvolvem as cidades. Sendo que o sistema viário ficaria
comprometido caso houvesse um “apagão” energético ou acontecesse uma
calamidade pública e/ou climática, desestabilizando completamente este ambiente.
Logo, temos um ecossistema (artificial autotrófico) urbano39. E a principal fonte de
energia que sustenta ou é responsável pela manutenção existencial das cidades é a
economia (global ou local), pelo menos até o momento atual. E esta economia é
criada pela força de trabalho da sociedade e do fomento e/ou das determinações
políticas, gerando o desenvolvimento, tanto da sociedade em geral, bem como, da
cidade em si. Pois a cidade é um ambiente controlado e criado por nós. Porém, caso
haja um fator variável, o desenvolvimento da cidade fica comprometido, podendo

39
Deve-se salientar que o campo e a cidade estão intimamente ligados, pois as decisões
do uso do solo, aspectos econômicos de produção e manutenção do meio ambiente, são
tomadas no âmbito urbano. Inclusive as questões indígenas. Sendo que atualmente, toda a
produção “camponesa” é voltada ao lucro, principalmente quando se visualiza o mercado
internacional. Pois a tendência é a agricultura e/ou as atividades agropecuárias serem de
precisão. Lógico, que ainda existe a produção de subsistência, porém este tipo de cultura
deve ser suplantado devido aos avanços tecnológicos e determinações administrativas
governamentais futuras. E toda a produção agrária visa o abastecimento das cidades, que no
momento presente, só é possível graças aos investimentos econômicos fornecidos pelas
cidades, além do fluxo de mercadorias campo/cidade-cidade/campo.

62
gerar as chamadas cidades fantasmas e/ou dependência tutelar política regional
distrital, municipal ou federal.
Em um futuro próximo, não teremos apenas navios, mas haverá cidades
flutuantes40, pois existem rios, mares e oceanos, além de tecnologias que propiciam
tal ideologia.
Os conceitos aqui postulados podem ferir a percepção de alguns
profissionais que estão ligados aos preceitos acadêmicos do Século XX, pois a
geografia carece de novas abordagens, principalmente ao fato de se confirmar e
defender com vigor o espaço como sendo a fonte vital dos estudos e da existência da
geografia. Sendo assim, faz-se necessário desenvolver diálogos abertos em eventos
acadêmicos, que possibilitem novas concepções ao tratado geográfico.
Nas linhas seguintes, realizaremos uma incursão analítica aos padrões que
norteiam a geografia espacial, respaldando os principais aspectos e seus pensadores
mais influentes, segundo, vivenciado por Nitsche.

A GEOGRAFIA ESPACIAL EM ANÁLISE

Antigamente, mais especificamente nas décadas de 1960 até o final de


1970, a Geografia apenas descrevia a natureza, e os professores em sala de aula,
administravam as aulas desenvolvendo trabalhos em que os alunos pintavam,
desenhavam e decoravam mapas com rios, montanhas, países e outros aspectos
físicos, associados as decorebas dos aspectos humanos. Porém, nunca fizeram uma
correlação e nem uma explicação do por que de se decorar todos aqueles aspectos
geográficos. E todo este processo vinha da academia, estabelecendo um ritmo

40
Tenho a convicção de que alguma cidade holandesa ou a italiana Veneza serão
experimentais ao se tratar deste assunto. Porém, o mais provável, é que as mãos humanas
construa suporte flutuante auto-sustentável, que propicie condições de vida a uma
aglomeração de pessoas e suas atividades.
63
desenfreado de termos “espaciais”, enquanto que os alunos sofriam com os “espaços
decorebáticos”. Porém, o que realmente os alunos necessitavam saber não era
explicado, sendo que ainda hoje encontramos pessoas que não sabem identificar no
mapa as nascentes, qual o curso do rio e a importância disto, e até mesmo, nem
sabem a que estado pertence seu município e como surgem os municípios, estados e
países41.
Até que surge a visão do Espaço Geográfico, estabelecido por Santos
(1978), sendo desenvolvidos vários trabalhos que complementavam as análises
espaciais, como as obras de sua autoria: “O Espaço Geográfico como categoria
filosófica” (1983), “Espaço e Método” (1985) e “O Espaço Interdisciplinar” (1986).
Suas análises se contrapõem a teoria do comportamento, que se fundamenta em
parâmetros psicológicos, criando a idéia de que o ser humano é produto de seu
ambiente. Para Milton Santos, o ser social é que desempenha a função de criador do
espaço, fundamentando-se em teorias de cunho sociais e não psicológicas. Graças a
este grande pensador, a Geografia inicia uma nova corrente de pensamento e
enriquece sua maneira de atuar na comunidade mundial. Porém, os geógrafos não
possuem um estabelecimento de paradigma único, defrontando-se com duas
vertentes completamente opostas ao método e aos estabelecimentos de sua
abordagem científica e profissional. Dentro de cada área geográfica, mais
especificamente dentro da visão humanística, geram-se “várias geografias”. E todas
estas Geografias estabelecem o Espaço como objeto de estudo. Mas o quê de fato é
estudado? O espaço? Não! O que sempre foi estudado pela Geografia, por mais que
não se aceitem isso, foram as relações sociais e suas influencias na natureza e vice-
versa. Sendo que atualmente, deve-se observar as relações do Homo-sapiens-
sapiens, ou como diz Nitsche: Homo-lucrum (onde ele está) simultaneamente com
as relações ambientais/físicas planetárias. Ou seja: Que tipo de influência a

41
Conforme visto por Nitsche no Município de Três Barras do Paraná.

64
sociedade humana exerce sobre a paisagem e no espaço, ao mesmo tempo em que
estes citados (paisagem e espaço) influenciam as sociedades e/ou o indivíduo
humano.
Quando se fala em aspectos geográficos associados à economia,
implicitamente se calca o impacto ambiental, pois a humanidade transforma matéria
prima (petróleo, madeira, água, gás, e outros) em bens de consumo (móveis,
canetas,tintas, tapetes, borracha e etc.).
Cada ramo científico possui sua especificidade, porém somente a geografia
estabelece a relação SOCIEDADE/NATUREZA como foco de estudo. E quando
não mais o fizer, não será Geografia. Transformar-se-á em Sociologia, Geologia e
outras áreas afins.
Outro problema evidenciado recai na maneira de como alguns trabalhos
geográficos são elaborados. Em sua maioria, é quase uma ramificação das ciências
sociais e econômicas, transformando a Geografia em um ramo destas citadas.
De outro lado, temos a Geografia Física, que muitas vezes enfoca o relevo,
a hidrografia e todos os aspectos geográficos pertinente a esta ramificação, porém
dentro de uma análise mais próxima do social. Tendo como expoentes os Ilmos.
geógrafos Aziz Nacib Ab'Saber e Helmut Troppmair, mas ainda existem
pesquisadores que se esquecem da sociedade humana e suas relações. Quando se
desencaixa a sociedade dos aspectos físicos geográficos, estamos sobrepondo áreas
de cunho geológico, pedológico e áreas afins.
Para Corrêa (1982), a Geografia não existe se não houver teoria espacial,
estabelecendo sempre o espaço como objeto de estudo da Geografia.
Corrêa (1995, p. 15 a 45) tenta especificar ou conceituar o espaço
abordando as várias definições dentro de cada corrente filosófica (pensamento
geográfico), finalizando com uma não conclusão. Na página 16 o autor menciona:
“No presente texto considerar-se-á o conceito de espaço tal como os geógrafos
entendem”.

65
Primeiramente o geógrafo não conceituou espaço ainda, ficando este debate
em aberto até os dias de hoje.
E a Geografia segue seu caminho criando subdivisões dentro de sua própria
ramificação científica. Sempre estabelecendo novos “Espaços”.
Palavras de Milton Santos (1996) “Um sistema de realidade, ou seja, um
sistema formado pelas coisas e a vida que as anima, supõe uma legalidade: Uma
estruturação e uma lei de funcionamento. Uma teoria, isto é, uma explicação, é um
sistema construído no espírito, cujas categorias de pensamento reproduzem a
estrutura espacial, organização do espaço, estrutura espacial que assegura o
encadeamento dos fatos (...) O problema é encontrar as categorias de análise que
nos permitem o seu conhecimento sistemático, isto é, a possibilidade de propor uma
análise e uma síntese cujos elementos constituintes sejam o mesmo. (...) Quando
Armando Corrêa (1982) enuncia que não há Geografia sem teoria espacial
consistente, afirma também que esta “teoria espacial consistente” só é válida se
dispuser de um conceito referente a natureza do espaço.”
Na página 73, sub-capítulo 12, Milton Santos discursa: “O espaço é o
resultado da soma e da síntese, sempre refeita, da paisagem com a sociedade
através da espacialidade. A paisagem tem permanência e a espacialidade é um
momento. A paisagem é coisa, a espacialização é funcional e o espaço é estrutural.
A paisagem precede a história que será escrita sobre ela ou se modifica para
acolher uma nova atualidade, uma inovação. A espacialização é sempre o presente,
presente fugindo, enquanto a paisagem é sempre o passado, ainda que presente. O
Espaço é igual a paisagem mais a vida nela existente; é a sociedade encaixada na
paisagem, vida que palpita conjuntamente com a materialidade. A espacialidade
seria um momento das relações sociais geografizadas, o momento da incidência da
sociedade sobre um determinado arranjo espacial. A espacialização não é o
resultado do movimento da sociedade apenas, porque depende do espaço para se
realizar.”

66
As idéias de Milton Santos estabelecem que o espaço é criado pela
sociedade, sendo sua tese formulada em base de teorias sociais, divergindo-se de
teorias psicológicas, como a teoria do comportamento, amplamente utilizada na
Geografia alemã, até os idos de 1999. Porém, a Geografia deve manter sua
independência, criando e desenvolvendo suas próprias teorias, embasadas no campo
observacional e experimental e ao mesmo tempo, nos limites históricos e
metafísicos. Evitando adentrar em campos de teorias puramente sociais, biológicos,
geológicos e/ou de cunhos específicos ao físico terrestre.
Vários trabalhos geográficos foram estabelecidos com visão de Milton
Santos. Cita-se como exemplo: Palavras de Kozel 42 (1999, p. 28) “É imprescindível
adquirir uma visão de conjunto, de mundo, de sociedade e natureza. Pensando a
cidadania como participação, integração a um todo maior estabelecido e vivido na
realidade através da relação sociedade natureza, na produção do espaço. E a
Geografia é o veículo que elegemos esse estar no mundo. Viver, pensar, participar,
localizar-se neste espaço dinâmico e contraditório é o que denominamos de espaço
geográfico. A terra é o lugar de múltiplas relações e a Geografia é uma das lentes
que permite a sua leitura. O olhar geográfico sobre o mundo se projeta através
destas múltiplas relações, onde o aluno é produtor do espaço e o espaço é o
produto. Os homens criam seus espaços. (...)”.
O espaço é conceituado e definido por Nitsche (2001) como:
Espaço: é a estrutura morfodinâmica que sustenta as paisagens e os
ambientes. E só existem dois espaços que são: O Espaço Cósmico e o Espaço
Planetário, sendo que o mais importante no momento (para a Geografia), é o espaço
terrestre. Pois é aqui no Planeta Terra que a sociedade humana estabelece suas
relações, compactuando, correlacionando, impactando de maneira positiva e ao
mesmo tempo negativa, integra-se e interage com a natureza (seja ela pura ou

42
Ilma Prof. Dra. Salete Kozel – UFPR, a quem dedico meu carinho e estima a tudo que me
ensinou e me mostrou da Geografia, do mundo e de minha própria pessoa.
67
artificial), pois o ser humano estabelece relações com a natureza pura e com a sua
própria natureza. E são estas relações que os geógrafos estudam ou devem se
preocupar.
A paisagem pode ser artificial ou natural, pois uma paisagem artificial é
aquela que foi modificada ou construída pela ação antrópica (ação do homem e sua
sociedade). Este fato está evidenciado no trabalho “Três Barras do Paraná”. Dentro
da perspectiva abordada nesta citada obra, a sociedade humana criava e construía
espaço, porém, este espaço era construído de forma sistêmica e suas relações são
todas interligadas. A contribuição maior foi demonstrar que a sociedade e o
indivíduo modificam a paisagem e restabelecem novas paisagens, ao mesmo tempo
em que criavam novos ambientes. E que toda esta relação está calcada em um
conjunto de sistemas complexos, formados por sub-sistemas. Posteriormente, se
verificou que todos os componentes paisagísticos naturais e artificiais são
sustentados e construídos em espaço concreto e definido. Pois, o ato ou fato, de se
delimitar uma área não significa construir espaço, pois se está apenas
dimensionando uma porção do espaço. Porém, o que se irá construir dentro deste
perímetro é o ambiente. Muitas pessoas entendem que ao se realizar um limite
municipal, estadual ou internacional, está se criando ou desenvolvendo um espaço.
O que ocorre, na realidade, é uma marcação/demarcação territorial espacial. Mais
nada! E esta fronteira estabelece que aquele perímetro pertence a alguém. Ou seja: a
porção espacial demarcada é o lugar onde um grupo de pessoa irá desenvolver seus
ambientes, modificando as paisagens, consecutivamente interferindo parcialmente
ou completamente no sistema que mantinha o antigo ambiente. Observe, que ao se
modificar a paisagem e interferir no meio, você estará desenvolvendo um ambiente
propício ou não a vida de alguns seres vivos, possibilitando ainda, a geração de
novas espécies e/ou compactuando com mudança comportamental ao modo de vida
de animais43 e plantas. Mas toda esta intervenção está voltada para duas metas

43
Estamos inseridos nesta classificação.
68
principais: A primeira é o lucro que se pode adquirir e a segunda é o bem estar de
alguns indivíduos ou da sociedade em geral. Pois no mundo em que vivemos, a ação
humana visualiza apenas o valor que engendra mais valor, arriscando a própria vida
humana, bem como do planeta em si.
O Homo-sapiens-sapiens44 não constrói estruturas morfodinâmicas, ou seja:
o ser humano não forja ou cria planetas ou espaço cósmico. Talvez daqui a 1000
anos o homem possa criar o projeto Gênesis (Jornada nas Estrelas II e III), porém
necessita de uma matriz ou um espaço pré-estabelecido (planetas ou grandes corpos
celestes), que se caracterizam como estruturas morfodinâmicas para atingir tal
propósito. Criando posteriormente um ambiente. Posso citar como exemplo a
criação de ilhas artificiais com o objetivo de expansão territorial para
empreendimentos imobiliários, como se evidencia atualmente na cidade de Dubai. A
configuração geográfica de Dubai limita seu desenvolvimento, pois sua costa possui
apenas 59,5 km e os condomínios e hotéis dominam a costa do Golfo Pérsico de
Dubai. Por este motivo, em 1993 iniciou-se a primeira construção da ilha artificial
de Dubai, onde o famoso hotel Burj Al Arab foi construído. Sendo este referência
para um projeto de cunho “mega-ambiental-artificial”, que se caracteriza como a
criação de ilhas artificiais. Observe que tal operação exige recursos naturais, tais
como rochas, areia, água potável e alimentos para os trabalhadores/empregados.
Além de outras fontes de materiais e energia.
Formar-se-ão lagos e/ou planificação topográfica devido ao encerramento
das atividades exploratórias de mineração de rochas (granito e calcário). Ainda
dentro deste tema, pode-se inferir que haverá mudanças de correntes marinhas locais
e as massas de ar serão influenciadas pela nova topografia, sendo que estas
modificações proporcionarão alterações no complexo sistema local e até mesmo

44
Utilizei este termo porque me lembrei de um fato joco-sério! Apresentava um trabalho em
um simpósio e disse a seguinte expressão: “O homem está impactando o meio ambiente (...)”.
E fui interrompido por uma ouvinte que disse: Mas e a mulher? Porque é só o homem?
69
global, perfazendo novos ambientes45. Esta mudança propiciará uma adaptação aos
novos padrões ambientais, desencadeando uma série de conseqüências positivas e
negativas às espécies que hoje habitam tal localidade46, inclusive para a espécie
humana, no que diz respeito a economia local e global (visando turismo, novas
atividades comerciais e empreendimentos imobiliários), modo de vida,
oportunidades financeiras e tecnológicas.
Entende-se por espaço morfodinâmico, um corpo ou objeto celeste sólido,
que sofra ao longo do tempo mutações e deformações, devido aos fatores e
processos naturais de erosividade característicos e existentes naquele espaço,
sofrendo ainda as influencias das forças geradas e/ou estabelecidas pelo espaço
cósmico (irradiações, deslocamentos planetários e/ou estrelares, planetas, asteróides
e satélites naturais e etc.).
O espaço47 nos fornece materiais e os meios para criarmos os ambientes,
bem como materiais para forjarmos ferramentas48. A sociedade humana vai utilizar
sempre os recursos naturais, para inventar recursos artificiais.
A paisagem é modificada, recriada e estabelecida pela ação humana
constantemente, porém esta paisagem está moldada e fixada em um espaço concreto
e defino (que no caso do momento presente é o nosso planeta Terra).
Quando Milton Santos refere que paisagem é coisa, sua análise não afirma
ser moral ou metafísica. Pois do ponto de vista moral, coisa é tudo o que não é uma
pessoa; ou seja, os animais e os objetos inanimados.Dentro da metafísica, coisa é o
ser enquanto essência. Analiso desta forma, que Milton Santos caracterizou a

45
Observe que não estamos construindo espaço, estamos preenchendo ou ocupando um
espaço já existente. Crie várias ilhas que preencham todos os rios, oceanos e mares. Logo,
você terá ocupado todo o espaço onde havia água disponível no planeta. Temos todo o espaço
do mundo para conquistarmos!
46
Deixo aqui esta proposta de pesquisa aos interessados em comprovar tal fenômeno.
47
Referindo-se ao Espaço Planetário – estruturas morfodinâmicas.
48
Microscópios, martelo, luneta, computador, óculos, veículos, canetas, etc...etc.
70
paisagem dentro de uma visão moral. Dentro desta visão, a sociedade não pode ser
considerada coisa. Desta forma, a sociedade não está inserida na paisagem e no
espaço ao mesmo tempo, pois se assim fosse, a sociedade seria parte integrante
paisagística natura-artificial.
Palavras de Hume (1949 n. 10 pp. 167-188): “Cada um admitirá
prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções do espírito,
quando uma pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado e
quando depois recorda em sua memória esta sensação ou a antecipa por meio de
sua imaginação. Estas faculdades podem imitar ou copiar as percepções dos
sentidos, porém nunca podem alcançar integralmente a força e a vivacidade da
sensação original. O máximo que podemos dizer delas, mesmo quando atuam com
seu maior vigor, é que representam seu objeto de um modo tão vivo que quase
podemos dizer que o vemos ou que o sentimos. Mas, a menos que o espírito esteja
perturbado por doença ou loucura, nunca chegam a tal grau de vivacidade que não
seja possível discernir as percepções dos objetos. Todas as cores da poesia, apesar
de esplêndidas, nunca podem pintar os objetos naturais de tal modo que se tome a
descrição pela paisagem real. O pensamento mais vivo é sempre inferior à sensação
mais embaçada.”
A nossa sociedade renova a paisagem e cria novas feições paisagísticas,
porém não se caracteriza como um elemento paisagístico. Na verdade, a sociedade
humana desenvolve o papel de elemento completivo do espaço (Planeta Terra) e da
paisagem, assim como os outros animais. Esta explanação exige a definição de
paisagem, sendo assim apresentada:
Primeiramente recorreremos ao dicionário Aurélio (2001), onde se expressa
a seguinte definição: Espaço de terreno que se abrange num lance de vista.
Conforme Milton Santos (In: Metamorfose do espaço habitado, Cap.5, p.
61, 1996), “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem.
Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é
formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.”

71
Nas palavras deste que vos escreve, ao se eleger a sociedade como
paisagem, atribuímos uma característica não plausível ao termo paisagem49. Porém,
se observarmos o espaço terrestre (planeta Terra) de uma altitude que nos permita
visualizar as pessoas se movimentando e atuando na superfície do nosso planeta,
temos a percepção ou idéia de uma paisagem única, composta de seres vivos e seres
abruptos, formando desta maneira a paisagem terrestre. Observando ao mesmo
tempo, que a representatividade dos atributos observável forma um conjunto,
contudo, um sistema justo posto, gerando um sistema maior inserido na própria
paisagem. Tal afirmação nos redireciona para as bases teóricas da Teoria Geral dos
Sistemas (BERTALANFFY, 1973). Desta forma, podemos concluir que a paisagem
recai na maneira de como visualizamos algo, sendo uma feição observacional ocular
instintiva. E cada ser vivo observa a paisagem diferentemente de outrem. Por
exemplo: Uma pessoa daltônica não vê a mesma coisa que um indivíduo que não
possui discromopsia. E tal exemplificação, não se estabelece apenas no campo
visual, mas também no campo de nossos sentidos ou na falta de algum deles. Logo,
algumas pessoas podem não visualizar os conjuntos sistêmicos que a paisagem nos
mostra, nem mesmo ter a consciência de que as pessoas estão encaixadas nela e que
não pertencem a ela (não somos paisagens).
Mas pôr quê os seres vivos, mais especificamente os que se locomovem50
(principalmente os humanos) não podem ser parte integrante da paisagem?
Como citado anteriormente, a paisagem tem uma característica estrutural,
não sendo estática, pois a natureza (antrópica ou natural) está sempre se
desenvolvendo ou evoluindo devido aos processos naturais ou por processos

49
A sociedade não é uma estrutura natural física (coisa). É a organização de um aglomerado
de pessoas ou grupos que ocupam uma determinada porção do espaço planetário, produzindo
com suas forças de trabalho, o ambiente propício às necessidades, tanto pessoais, bem como
sociais.
50
Permeantes, conforme proposto por Shelford (1911).
72
antrópicos. Além deste fato, todos os corpos estão em movimento, pois o espaço
planetário está inciso e é parte integrante do espaço cósmico, e este se encontra em
constante movimento.
Os seres vivos, mais especificamente os humanos (que também estão em
constante desenvolvimento, movimento e evolução), não possuem atributos
paisagísticos, porque podem se deslocar e podem ir para fora de nosso planeta. Tal
propriedade nos permite complementar a paisagem deste e/ou de um outro planeta
ou de outros corpos celestes, logo, de outros espaços. E animais que pertenciam a
uma determinada paisagem, podem se deslocar para nichos ou locais não
característicos, devido a atuação antrópica (envio de cães e macacos para o espaço
sideral, desmatamento, queimadas, poluição, ocupação territorial, exposição cultural
e/ou preservação (zoológico) e outros motivos correlatos) e/ou por imposição de
ocorrências catastróficas de natureza pura.
É importante estabelecer, que a visão de espaço de Nitsche foge dos
paradigmas que regem a Geografia atualmente, tendo um agravante maior: que a
ciência em evidencia possui o atributo de ser única, não havendo uma dicotomia
expressiva que conflui e estabelece um sub-ramo social-humano, de uma sub-
ramificação física. Este simples fato cria um problema epistemológico, remontando
o momento histórico do grande divisor paradigmático que se estabeleceu tal
dicotomia. Porém, esta nova maneira de se trabalhar com um novo enfoque sobre o
objeto de estudo da Geografia e suas praxes, estabelecem um novo divisor
paradigmal e filosófico, onde se estabelece novo procedimento metodológico e
estimulam novos conceitos para atribuir tarefas em uma ciência reunificada.
Neste momento, a Geografia passa por um período de transição, onde as
forças se divergem em um trabalho extremamente voltado aos processos físicos da
natureza e outros que se identificam com os processos extremamente sociais. Ambos
os lados lutam para preservar e manter este divisor paradigmal, mas ainda não
observei alguém tentando estabelecer uma corrente de pensamento que estabeleça
uma singularidade e exclusividade científica, que torna a geografia como única

73
dentro deste aspecto. Pois é graças a esta relação que é possível organizar algo no
espaço51, bem como, analisar fenômenos que ocorram simultaneamente no que seria
conhecido por SANTOS (1996), como espaço geográfico. Porém, estes fenômenos
são gerados por duas forças naturais, uma estabelecida no âmbito ambiental físico
natural e outra no âmbito ambiental antrópico natural (social e natura-artificial),
sendo ambos responsáveis pelas causas e efeitos de ação e reação que se
estabelecem no espaço físico52 (uma porção de área e/ou terreno da superfície
terrestre). Sendo assim, o leitor duvidante observa que todas as colaborações e/ou
interferências humanas é a concretização de um espaço originário pela sociedade
humana. Mas não considera que tais criações e interferências/influências antrópicas,
são na verdade ambientes desenvolvidos por nós seres humanos.
Destas questões postas, percebe-se que a geografia está circunscrita em
processos metodológicos e psicológicos voltados a persistência do tempo, espaço e
nossa sociedade. Sendo assim, as formulações geográficas devem atender
fenômenos naturais de ambas as naturezas conjuntamente. E suas análises não se
desprendem do âmbito científico, conforme podemos averiguar nas frases de
Nitsche, nesse texto que está por vir.

GEOGRAFIA...FERRAMENTA DE ANÁLISE OU CIÊNCIA?

51
Organizar algo no espaço não implica em eleger o próprio como objeto de estudo da
Geografia. Pois esta organização se dá graças a relação sociedade/natureza e não o contrário.
Observe que estamos falando em organização no espaço e não do espaço. Pois não se
organiza o espaço, tal possibilidade somente é possível se for em um espaço virtual (realidade
virtual computacional ou imaginário mental).
52
Uso este termo para que seja interpretado de forma proximal à realidade dos geógrafos da
atualidade e que compreendem a Geografia com a visão mais conservadora, se comparada a
do autor deste.
74
A Geografia deve ser científica e não apenas uma ferramenta de análise,
pois todas as ciências são em sua essência uma ferramenta de análise53. Pois existem
bases teóricas e práticas metodológicas concretamente formadas e evidenciadas,
caracterizando uma abordagem empírica, isto é: que se descarta o metafísico, baseia-
se apenas na experiência pura, com possibilidade de falseamento e aplicação de
métodos para teste direto ou indireto.
Porém, observamos que tais processos estão cognitivamente ligados a uma
abordagem não empirista, ou em que, num dado momento não há como estabelecer
um padrão concreto de abordagem empírica. Tal análise condiciona a Geografia
como sendo uma ciência histórico/empírica54. Histórica quando não há a
possibilidade de recriar ou verificar uma característica repetitiva de um determinado
fenômeno, portanto é uma ocorrência ou fato único. Um exemplo disto: As
condições climáticas do Período Devoniano. E empírica, quando se pode testar,
analisar e verificar, direta ou indiretamente um fenômeno que se constata no
momento, podendo ou não ter um padrão histórico evolucionário (seja ele natural ou
não). Exemplo: Êxodo rural municipal.
A Geografia enfoca esta relação e ainda descreve e prescreve estas relações
e suas feições naturais ou artificiais. Porém cada pesquisador desenvolve este
enfoque de maneira específica, dentro de uma análise paradigmática, estabelecendo
um enfoque puramente sócio-econômico ou puramente relevando aspectos físicos.

53
Todo e qualquer ramo científico se estabelece ou é criado para analisar algo, um efeito ou
um fato. Pode-se analisar uma doença, um ferimento, uma anomalia estrutural arquitetônica
ou biológica, anomalias climáticas, e outras que possam surgir ao longo deste comentário. A
ciência por si só, estabelece um processo analítico de todas as coisas e objetos, sejam
biológicos ou abruptos, funcionais ou não. Desta forma, todos os ramos científicos são
ferramentas de análises contínuas; e apenas deixará de ser, quando o ser vivo que aplica e
desenvolve a ciência, cessar sua existência (não me refiro aos cientistas apenas, refiro-me a
espécie humana).
54
Descartando a idéia de que a geografia é uma ciência de síntese.
75
Assim posto, pergunta-se: A Geografia é realmente que tipo de ciência:
Social ou Física?
O que faz gerar esta dúvida, recai no objeto de estudo da Geografia que até
o presente momento não foi caracterizado concretamente. Nenhuma outra ciência
enfoca as relações sociais humanas com as relações naturais físicas conjuntamente.
Por este motivo a Geografia deve estabelecer este conceito e parar de teorizar
espaço.
Quando o geógrafo não mais possuir dúvidas com relação ao seu objeto de
estudo, e quando adquirir coragem e se unir com seus colegas geógrafos para se
impor no mercado científico (mercado de trabalho), estas dúvidas não mais serão
cogitadas.
O espaço terrestre é o mais importante para o contexto geográfico (no
momento), pois o próprio nome da ciência Geografia advém do entendimento de
descrever a Terra. Porém, apenas descrever, não condiciona a área de estudo como
uma ciência, sendo necessário desenvolver teorias e encontrar respostas aos
questionamentos que equacionam e expressam o funcionamento da dinâmica dos
elementos físicos terrestres, associados à dinâmica dos elementos extraterrestres,
vinculando e correlacionando estes citados, a nossa sociedade e sua participação nas
alterações e/ou influências diretas e indiretas, tanto destes elementos, quanto dos
elementos sociais, estabelecendo a dinâmica antrópica, desenvolvendo-se esta, em
base da RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA.
Quando acontecer de os pesquisadores desenvolverem pesquisas
conjuntamente, a sociedade científica, bem como a sociedade em geral, irão receber
muito mais informação e a ciência avançará muito mais rápido. Pois no atual estágio
de desenvolvimento humano, o individualismo atrasa o progresso científico.
Às vezes um pesquisador está desenvolvendo um trabalho semelhante ao
do colega ao lado (ambos pertencem à mesma instituição), porém não se unem para
expor as idéias e juntamente publicarem os conhecimentos adquiridos. E mesmo que
as idéias sejam opostas, mas se objetivo ou o enfoque for o mesmo, deve-se

76
trabalhar da mesma forma e publicar o trabalho como um diálogo de contra pontos,
que irá adicionar conhecimento e gerar interpretações positivas aos seus leitores.
Pode-se citar como exemplo, a obra “Modernização Reflexiva” (1995).
A Geografia se preocupa com as atividades e relações humanas no meio,
sendo este o ponto fundamental. Desta maneira, observa-se que são as relações
humanas e suas influências ao ambiente e vice-versa - onde o homem está55, que é
estudado pela ramificação científica ora analisada. E tal estudo condiciona ao
expoente das profissões voltadas ao planejamento urbano/rural e/ou se preferir
planejamento ecológico-econômico, que para Nitsche é representado apenas pela
concepção de PLANEJAMENTO AMBIENTAL56. Pois a bagagem intelectual do
profissional geógrafo57 capacita o indivíduo a atuar de forma mais significativa e
vicinal no âmbito de elaboração de planos de desenvolvimento governamentais que
visem o aprimoramento do uso dos recursos humanos e naturais. Sendo estes,
estudados conjuntamente, buscando o equilíbrio entre as disposições e necessidades
humanas e das exigências mínimas para se manter o nosso Planeta vivo. Qualquer
ação de desenvolvimento social/econômico, deve respaldar uma confluência às
questões naturais puras e vice-versa (caso ainda queira desenvolver projetos
voltados à natureza pura). Empregando-se métodos científicos que se enquadrem no
bojo deste discurso e/ou tema.
As etapas e todo o procedimento metodológico empregado na área
geográfica de tem que ser de cunho científico e não apenas analítico ou descritivo.
Porém, a noção de que "tudo o que é científico elabora-se na experimentação"

55
Planeta Terra, Marte, Lua, nave espacial, estação espacial e Espaço Cósmico.
56
Pois em sua concepção, ao criarmos e desenvolvermos atividades que alteram e criam
ambientes naturais e artificiais, estamos dentro de uma perspectiva psicológica que respalda
um ambiente único (ecológico rural/urbano e ecológico natural puro). Descartando a idéia de
que ambiental é referência para a natureza pura. Conforme era tratado pelas geografias
(planejamento ambiental e planejamento urbano/rural).
57
Bacharel.
77
retrata o compromisso do cientista em mostrar-se fiel ao método científico. Por
outro lado, apoiar-se na experimentação não retém o raciocínio intuitivo ou mesmo
transcendental. Esta é uma análise própria dos empiristas ou dos positivistas dos
séculos XIX e XX, não devendo ser supervalorizada. É equivocado pensar que
novas idéias surgem graças exclusivamente à experimentação. Novas idéias, mesmo
no campo das ciências, surgem através do livre pensar58, ou até mesmo de uma
manifestação do subconsciente (sonho), que direta ou indiretamente está ligado as
suas necessidades.
Um fato óbvio deste cizaniar tal conceito, recai na simples questão
funcional das coisas criadas pelo homem. Por quê foram criadas?
Exemplo: Vamos imaginar que você leitor, está nascendo neste momento,
sem pai, nem mãe. Não há uma civilização, não existem ferramentas, nem utensílios
domésticos, você está sozinho em um mundo formado por plantas, animais, rochas,
e todo os outros objetos paisagísticos encontrados no espaço terrestre. Logo, você
sente fome, tem que se alimentar. Mas tudo o que vê são pequenos roedores
correndo e se escondendo entre as rochas. O que você faz? Intuitivamente, sua
primeira ação será correr atrás do alimento. Então, se cansa de ir e vir sem resultado.
Qual sua segunda ação? Arremessar uma pedra no roedor com uma atiradeira! Desta
maneira, você criou um método para caçar roedores, com o auxílio de uma
ferramenta que sua intuição criou, embasada na experimentação e associado com a
sua necessidade pessoal. Porém, você pode observar este pequeno ser indo e
voltando, mas ao contrário do primeiro exemplo, ao invés de você correr atrás do
alimento, sua atitude será de elaborar uma armadilha, pensando em cercá-lo com
pedras. Desta maneira, seu intelecto organizou e deduziu algo sem a
experimentação. E as melhorias de sua armadilha virão somente depois de analisar
os acontecimentos ocorridos após a construção de seu artifício. Ou seja: Suas

58
Podemos citar como exemplo: As conjecturas de Albert Einstein (1879-1955) que
resultaram em sua teoria da relatividade especial (1899).
78
observações experimentais se iniciam quando você constata que os roedores estão
saltando sobre o amontoado de rocha utilizado para cercar os roedores. Sua mente
reage de imediato e o obriga a elevar a altura, criando um muro com apenas uma
saída. Depois de algum tempo, começa a surgir uma hipótese: Será que esta
armadilha pode ser usada para apanhar outros animais? Você deduz que é possível,
pois se consegue aprisionar roedores, pode-se encurralar outras espécies.
Palavras de Mesquita Filho (1993): “Nada impede que uma idéia venha a
ser aceita até mesmo quando não há experiência alguma a comprová-la.
Inadmissível, a princípio, seria a aceitação de um conceito a contrastar com a
existência de dados experimentais consistentes a falseá-lo.
Porta (1999), retrata o conhecimento "a priori", a embasar as ciências
empíricas, com as seguintes palavras: "Se há um conhecimento que tenha as
qualidades de necessário e universal então ele não pode ser empírico e, em
conseqüência, é, por oposição, 'a priori'."
O caráter universal da ciência empírica está explícito na regra científica
fundamental. Por paradoxal que possa parecer, universalidade implica em
apriorismo e conhecimento "a priori" é aquele que não pode ser suficientemente
fundamentado pela experiência. Logo, a regra científica fundamental não é
justificável pela experimentação e nem passível de falseabilidade. Não obstante, o
paradoxo se desfaz pela própria regra, pois ao afirmar que os demais princípios
"também" são universal num contexto espaço-temporal, a regra garante-nos que
tais princípios possam ser enunciados em decorrência de observações particulares
(rigorosamente falando, deixam de ser princípios, transformando-se em leis). Ou
seja, a regra científica fundamental assume todo o apriorismo inerente à ciência.
Por exemplo, Galileu ao reduzir o atrito chegou à conclusão que o movimento dos
corpos terrestres se conserva (inércia), falseando o argumento de Aristóteles. Longe
de ir contra a experimentação, a regra científica fundamental dá suporte à
experimentação, como que a garantir a evolução de um idealismo transcendental
(teorização) para um realismo experimental (prática”).

79
Estes argumentos foram descritos aqui, devido ao fato de muitos estudantes
acadêmicos registrarem suas idéias de que a Geografia não é uma ciência, e sim,
uma ferramenta que auxilia outras áreas do conhecimento. Sendo a ciência um corpo
único; a Geografia e todos os outros ramos científicos são ferramentas para se
alcançar o conhecimento e a busca pelo saber.
As estruturas que sustentam as bases de criação e existência da Geografia,
estão calcadas em um complexo discernimento filosófico da realidade observada
pelo pesquisador, das relações humanas, das leis que regem um ou mais sistemas,
ordem de elaboração existencial de paradigmas, fundamentação epistemológica,
aquisição da experiência, metodologia dedutiva ou inconsciente, posicionamento das
idéias de vivacidade de um argumento idealizador dos parâmetros que sustentam
uma hipótese ou uma teoria, compartimentos distintos ao que se refere a subdivisões
da ciência, imposição política administrativa, influências de poder e por fim,
elaboração de conceitos que determinam o objeto de estudo de uma ciência e/ou
ramo científico.
Todos os seres vivos exercem um papel importante na estruturação da
paisagem e são influenciados direta ou indiretamente pelos processos naturais
responsáveis pela manutenção da vida, tanto destes seres, quanto do espaço
planetário em si. Desta forma, a Geografia se enquadra dentro das ciências
ambientais e/ou ciências da terra. Tal análise somente é possível no campo limite,
entre as questões físicas e as questões humanas, entendendo que o equilíbrio
ecológico se mantém graças às pesquisas propícias ao desenvolvimento e
estabelecimento do bem estar social, bem como do bem estar natural. Pois
atualmente é o ser humano e sua sociedade que estabelece e decide o que vive e o
que deixa de viver no planeta. Estabelecendo ainda, o que se mantém natural ou não.
(Sendo que os fenômenos naturais têm pouca influencia, se comparado ao final do

80
Século XIX, mas que muitas vezes são decisivas e definitivas59). Quando cito que a
geografia deve se estabelecer dentro das Ciências Ambientais, é porque nos
concentramos a estudar o impacto (positivo ou negativo) que a sociedade causa ao
meio físico e vice-versa. A sociedade humana é uma característica natural antrópica
e o ser humano é natural60 (próprio da natureza pura). O que se estuda não é a
atuação da sociedade no meio apenas, mas esta interação conjunta da natureza pura,
natureza humana e nós – ser social. Estabelecendo desta maneira um conjunto
sistêmico e dinâmico, que não pode ser separado, sendo que este conjunto de
fenômenos se estabelece na crosta terrestre61. Por exemplo: O geógrafo estuda as
influencias/mudanças climáticas e suas conseqüências à sociedade, estabelecendo
ainda, as influencias que a sociedade exerce aos aspectos climáticos (poluição
atmosférica – chuva ácida e outras proposições que surgirem em sua mente). Desta
forma, não se avalia um aspecto social puro, ou um aspecto físico in sito62, mas um
fenômeno natural - gerados pela natureza pura63 e antrópica ao mesmo tempo. As
análises e seus resultados gerados por este tipo de abordagem, propiciarão um
diagnóstico interativo que possibilitará ações de planejamento governamentais e/ou
de cunho particular científico/empresarial. Mencionando como exemplo: O estudo
das transgressões marinhas causadas pela mudança climática em uma determinada
região, onde ocorre a redução da faixa litorânea, comprometendo as estruturas de
moradias e/ou comerciais, bem como, intervindo nas atividades sócio-econômicas
e/ou particulares de cada indivíduo. Mas seja lá qual for a atitude tomada, haverá
com certeza, uma mudança significativa na paisagem. Nesse momento, surge a

59
Exemplo: Impacto de corpos celestes, implosão solar, terremotos, maremotos, ou qualquer
outra catástrofe de cunho imprevisível e de grande poder de destruição em massa.
60
Pelo menos até este momento do início do Século XXI (2009).
61
Nesse momento de nossa história.
62
Não relevando apenas os fenômenos atmosféricos, caso contrário, estaria sobrepondo o
campo da meteorologia.
63
Hartshorne (1979).
81
necessidade de se realizar um monitoramento constante dos processos previstos e
identificar os não previstos, após as realizações das obras e implementações
mitigadoras, bem como, as efetivas determinantes definitivas.
Em um único trabalho científico geográfico pode apresentar questões de
cunhos testáveis e não testáveis, mesclando postulados históricos e empíricos64.
Graças a esta particularidade, é que se torna possível estabelecer união entre a
Geografia Física e a Humana, desencadeando uma nova perspectiva ao contexto
geográfico. Mas para que tal proposta obtenha sucesso, é necessário refutar o espaço
como objeto de estudo65. Além de visualizar que a ciência é um corpo único, o
conjunto global formado por grandes áreas do conhecimento, sendo estas
constituídas de grupos de especialização profissional que possui várias sub-
ramificações. Para exemplificar esta afirmação, observe esta configuração a seguir:

64
Nitsche (1999, 2000 e 2001)
65
Exclua o espaço das questões geográficas...e você terá uma Geografia. Pois o espaço
sempre fica em segundo plano quando se trata destas, tanto físicas como humanas.
82
Observação pessoal + Matemática + física + química + história +
filosofia.

Ciência = Ciências Naturais / Ciências humanas

Biologia Sociologia
Zoologia Educação
Botânica Civismo

Sendo que a Geografia (atualmente) não deixa de se ramificar dessa forma:

GEOGRAFIA

FÍSICA HUMANA

Estrutura do Planeta Terra Sociedade

ESPAÇO

83
Na concepção de Nitsche, a Geografia deve abranger os principais
conhecimentos de relevância social e os ambientais, enfocando não o espaço, mas as
relações entre as dinâmicas exercidas pelo papel individual de cada um (elemento),
que irá resultar na complexa inter-relação dos elementos sociais e ambientais,
originando a perspectiva proximal, que irá respaldar o resultado final dos estudos
geográficos. Tal interpretação nos leva ao novo contexto estrutural do tronco
científico geográfico, sendo este ramificado desta forma:

GEOGRAFIA

Sociedade Natureza

Influências sociais no meio natural Influências naturais no meio social

RELAÇÃO SOCIEDADE/NATUREZA

Geomorfologia, Climatologia, Hidrografia, Biogeografia. Estes são os


principais arcabouços da Geografia, conforme identificado por Nitsche. Mas não se
pode visualizar e/ou interpretar que estes componentes do conhecimento científico-
geográfico sejam conceituados e utilizados da mesma maneira que vem sendo, desde
1990. Logo, faz-se necessário expor as idéias e os conceitos atribuídos por ele.

Geomorfologia: Dentro dessa visão de Nitsche, esta sub-ramificação se


subdivide em quatro ramos:
84
1- Geomorfologia Geral: Responsável por estudar a formação, o
modelado do relevo e seus aspectos globais, do planeta habitado pelos
seres humanos.
2- Geomorfologia Evolutiva: Tem por objetivo descrever as grandes
formas de relevo de uma determinada área e/ou região, visando
compreender a história da compartimentação geomorfológica,
pesquisando sua evolução cronológica.
3- Geomorfologia Antrópica: Objetiva estudar e analisar os processos,
as causas e seus efeitos no modelado de relevo criado e/ou modificado
pela atuação da sociedade humana.
4- Geomorfologia Corretiva: Visa o estudo de aplicações e praticas
metodológicas para sanar problemas de cunho sócio-ambiental,
geralmente ligado às áreas de risco e de pleito econômico.

Climatologia ramifica-se em duas principais áreas:

1- Geoclimatologia, responsável pelo estudo, descrição e classificação


das condições climáticas do planeta habitado pelo ser humano e suas
relações com o próprio e os demais seres vivos.
2- Antropoclimatologia: Trata das questões climáticas diretamente
ligadas às atividades socioeconômicas (Ex. ilhas de calor – área
urbana).

Hidrografia; subdivide-se em duas principais:

1- Geohidrografia; presta-se ao entendimento das relações entre a litologia


e o fluido e/ou substância (H2O) do planeta ocupado.

85
2-Hidrogeografia: Estudo das relações sociais com os vários tipos de
águas existentes em um planeta habitado.

Biogeografia; preocupa-se com as relações sociais humanas com todas as


demais espécies existentes em um determinado planeta. Limita-se a
responder a seguinte questão: Como a sociedade humana interfere na vida
individual e/ou social dos demais seres vivos. E vice-versa. Para Nitsche,
fica assim dividido:

1- Geoecologia: Estudo global das interelações humanas com os demais


seres.
2- Ecologia: dedica-se ao estudo dos ecossistemas.
3- Biogeografia Aplicada: Aplicação dos conhecimentos biogeográficos,
visando o desenvolvimento de metodologia e práxis para atenuar e/ou
resolver questões de cunho sócioambientais e econômicos. Caro leitor
observe que estes conceitos não se desprendem do corpo científico
geográfico, muito menos extrapolam para outras áreas do saber. Sendo
assim, as interpretações aqui postuladas, nos levam ao conceito
proposto por Nitsche neste momento:

86
Com esta idéia pode-se criar e desenvolver trabalhos acadêmicos voltados a
uma visão única de inter-relação geográfica, unindo as duas ramificações que
compõem a Geografia, bem como, estabelecendo vínculos metodológicos com as
ciências afins e/ou distintas, que caracterizam
transdisciplinalidade/interdisciplinaridade. Podendo ainda trabalhar com diversas
teorias e métodos. Estas afirmações podem ser confirmadas nos trabalhos realizados
por alunos do Curso de Geografia Magister da Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI-SC) em parceria com a Universidade do Contestado-Mafra/SC (UnC-
Mafra), no ano de 2005, que foram embasados nas formulações anteriormente
citadas, com a finalidade de estabelecer um elo de ligação entre a Geografia Física e

87
Humana, estabelecendo um diagnóstico ambiental interativo66. Sendo assim
apresentado67:
Estas atividades que se seguem, foram sugeridas com base nos primeiros
parâmetros metodológicos seguidos por NITSCHE (1999), sendo este, a primeira
tentativa de se estabelecer uma conexão entre a Geografia Humana e Geografia
Física. Tal obra possibilitou realizar as pesquisas, que ora vos são apresentadas:
 Trabalho de pesquisa desenvolvido pelos professores-
alunos: Marilei T. M. Heleodoro, Alberto Manoel Rodrigues e Rita de
Cássia Plácido. Este projeto visa auxiliar as prefeituras municipais, com a
participação das escolas, no planejamento de cidades, mais especificamente
ao que se refere a criação de áreas verdes68, sendo assim transcrito:

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O projeto em si iniciou-se sem grandes pretensões, o que era pra ser


observado e analisado, tornou-se de grande vulto envolvendo alunos compondo de
equipes trabalhando de maneira dinâmica e prática, exigindo uma resposta em que o
meio-social pudesse ser modificado a favor da escola e da comunidade.
A partir deste momento, sob o olhar crítico e com empolgação das
equipes, obteve-se a idéia de ocupar a área em frente à escola, pertencente ao
Governo Municipal.
Entre várias apresentações uma das equipes elaborou com ajuda das
Oficinas de Marcenaria sob a orientação do Professor Alberto M. Rodrigues e da
Professora Rita de Cássia Plácido, responsável pela Oficina de Artesanato, a
maquete com a principal idéia de transformação e recuperação da área, constando de

66
Denominação dada por Nitsche (2000).
67
Com autorização dos alunos.
68
Parques municipais.
88
um parque infantil, pista de bicicross, e áreas para preservação e recuperação da
mata ciliar do arroio de Matadouro.
Diante de tal perspectiva, iniciou-se o levantamento no dia 15 de
novembro de 2004, por esta equipe que vos escreve, realizando incursão à área foco,
com a finalidade de realizar a demarcação delineadora dos limites do futuro e
pretendido parque. Além de estabelecer quais as ações a serem tomadas quanto à
realização do projeto de pesquisas. Munidos de dois GPS Garmim de 24 canais e
outro de 12 canais, foram plotados os pontos ao longo da área em estudo.

As coordenadas em UTM, sendo os pontos:


A: 0618939/7112979;
B: 0618903/7113090;
C: 0618847/7113240;
D: 0618 823/7113132.

Havendo na área uma edificação, onde se localiza a sede da Associação


de Moradores Vila das Flores, surgindo a hipótese de implementar junto ao local
uma Biblioteca Pública, para atender a população, em pesquisa, leitura e
entretenimento.
Foi realizada uma reunião com as atuais Presidentes da Associação de
Moradores da Vila das Flores e Vila Solidariedade, Mafra-SC, no dia 05 de
fevereiro de 2005, para expor o projeto e pedir a colaboração, através de suas
representantes, para o engajamento da comunidade. Obtendo-se êxito nesta reunião,
onde ficou esclarecida às dúvidas, sobre a ocupação da área por pessoas moradoras
desses bairros.
Além deste fato, os autores deste projeto, solicitaram apoio na realização de
um abaixo-assinado, requerendo ao poder público o uso da área localizada em frente
à unidade escolar, e auxílio no levantamento de dados ambiental e social das
comunidades que norteiam a escola. Abordando o assunto sobre a implementação da

89
biblioteca na sede da associação a qual foi aceita imediatamente pelas dirigentes,
sendo de grande valia para a comunidade em geral. Neste mesmo dia cogitou-se o
lançamento de uma campanha de arrecadação de livros novos e usados, onde
posteriormente a campanha ganhou ênfase com a divulgação na mídia falada e
escrita, através do jornalista Edwardes J. Sartori, que detém na Rádio São José um
Programa diário intitulado de J. Sartori, onde os acadêmicos, solicitaram aos
ouvintes a doação de livros, deixando endereço e telefones para contato e também
no Jornal Tribuna da Fronteira onde o público respondeu prontamente. A escola
através da oficina de marcenaria projetou e executou a montagem de estantes e
materiais, colaborando para a concretização da biblioteca, sendo o 1º bairro a ter
uma; servindo de exemplo a outros bairros que quiserem aderir a idéia.
Além do estabelecimento da área e da elaboração da biblioteca,
surge a necessidade de preservação da mata ciliar, objetivando o controle de cheias,
bem como, a preservação ambiental realizada pelos alunos de todas as idades. Sendo
assim, realizou-se a coleta de folhas para análise, seguindo a metodologia
desenvolvida por SANCHES e BENEDETO apub, Josué Camargo Mendes (1988).
Pois seja qual for a faixa etária do indivíduo, poderá colaborar nas investigações
fitoflorísticas, sem saber do processo de classificação e sistematização das espécies,
sejam elas animais e/ou vegetais. Com este método, pode-se trabalhar em vários
níveis de aprendizado, iniciando-se no pré até o último ano do Ensino Médio. Sendo
que os professores de ciências, geografia e biologia podem realizar tarefas escolares
que se caracterizam dentro de cada faixa etária, optando em apenas coletar amostras
e/ou até mesmo classificar as espécies que compõem a mata ciliar do futuro e
pretendido parque.
Enfocando a metodologia anteriormente descrita, estabeleceu-se
quatro áreas ou táxons de 6m x 6m, distantes 6 metros uma das outras, usando uma
trena, quatro (4) balizas de 2 metros de altura, e os 2 GPS anteriormente citados,
estabelecendo desta maneira os pontos de amarração do terreno. Estes se localizam
em uma altitude de 774 metros aproximadamente, portanto abaixo da cota de

90
enchentes que é de 779 metros no município de Mafra-SC, fixado por lei nº 1431 de
11 de junho de 1986.
Para o levantamento de cunho social, elaborou-se um questionário e os
dados pesquisados serão apresentados em forma de tabelas. Indicando amostras de
pesquisas do espaço geográfico denominação de Santos (1996) e/ou como denomina
Nitsche (2001), ambiente social, professores, alunos e famílias das comunidades que
rodeiam a Unidade Escolar, divididos em partes de acordo com a pretensão da
pesquisa, contendo perguntas relevantes ao que se destina.
Chegou-se a conclusão que em 350 questionários distribuídos para famílias
de alunos C.E.M. “Beija-Flor”, bem como para a comunidade local, somente 160
questionários foram preenchidos e devolvidos, tornando assim nosso universo de
pesquisa, equivalendo ao percentual de 45,7%.
Com o intuito de não repetir questionários a uma mesma família, foi
pesquisado com antecipação; classificando números de irmãos, a série e a professora
regente, tornado-se a pesquisa mais próxima da realidade.
Através de cobranças e pedidos repetitivos não voltaram 190 questionários,
num total de 54,2%, o que chamou a atenção por ser um número significativo e sem
justificativa para tal acontecimento. (In: HELEODORO, RODRIGUES e
PLÁCIDO. A Participação da Escola no Planejamento Ambiental Urbano. Mafra,
2005. Monografia (Graduação) – Setor de Geografia da Universidade do Contestado
– Mafra/SC.).
Ao analisar o procedimento metodológico deste trabalho anteriormente
mencionado, pode-se perceber que existe a concretização do processo de
transdisciplinalidade/interdisciplinalidade, pois muito se discursa sobre tal
aplicação, mas pouco é praticado e feito. Logo, observa-se a união de três ciências,
sendo estabelecido relação harmoniosa entre a Geografia Física, Geografia Humana
e a Paleontologia, tendo ainda a participação da História, que embasa este
diagnóstico, no que se refere aos processos do desenvolvimento urbano/rural local.
Além de estabelecer tais vínculos, nota-se que há aplicação para todas as disciplinas

91
que compõem a grade do currículo escolar69, podendo surgir n. possibilidades para
as práxis educacionais acadêmica, embasadas em fatos científicos gerados por
procedimentos geográficos, estabelecendo a relação sociedade natureza como objeto
de estudo e não o espaço. Pois não se analisa o espaço apenas70, mas as relações que
ocorrem nele.
Após as avaliações deste projeto, pode-se analisar a próxima pesquisa,
observando as diferenças modelar do procedimento metodológico e suas aplicações:
 Esta pesquisa que ora vamos ler, refere-se ao impacto
causado pelo cultivo e reflorestamento de pinus71, na região de Rio
Negrinho – SC, sendo desenvolvido pela professora-aluna Marli Stoeberl
Fernandes, que descreve seu rol metodológico como se segue:

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

“Seguindo as observações de NITSCHE (1999, 2000 e 2001), observa-se


que sua estruturação monográfica e suas análises atende as duas áreas da Geografia,
logo, segue-se este procedimento na pesquisa ora apresenta”.
Para que este trabalho alcançasse seus objetivos foi necessária a busca de
informações destas empresas com relação às questões sociais e ambientais, através
de telefonemas, e-mails e entrevistas pessoais com os responsáveis pelo
departamento do meio ambiente de cada empresa.
A pesquisadora também recorreu de dados referentes às empresas
Moveleiras atuantes no Município, e leis ambientais vigentes no órgão responsável
da Prefeitura Municipal de Rio Negrinho-SC.

69
Dos Ensinos: Fundamental, Médio e Superior
70
Ao observar e estudar apenas o espaço, você, tornar-se-á astrônomo ou geólogo.
71
gênero pinus da classe Gimnospermas.
92
As bibliografias que foram consultadas, durante todo o processo de
trabalho de campo, bem como, o de escritório, fizeram parte dos acervos de
bibliotecas, museus, universidade, aquisição pessoal de livros e busca na internet.
Os levantamentos das características fisiográficas do Município
tais como as geológicas, geomorfológica, hidrográficas, climáticas e pedogenéticas,
foram realizadas através de consultas à projetos elaborados pela Battistella (EIA-
RIMA) 1988 e Tese de mestrado “APAs de Rio Dos Bugres” da autora Dalagnoll
(2001).
Para os dados referentes aos aspectos econômicos e demográficos
foram fornecidos pela Prefeitura Municipal de Rio Negrinho (SENSO 2000) e
Sindicatos Dos Trabalhadores de São Bento do Sul. Tendo ainda, dados obtidos por
questionários formulados e emitidos pela própria autora, aos órgãos competentes
administrativos das empresas anteriormente citadas.
Para a aquisição de foto aérea panorâmica, teve
participação de diversos setores como as empresas pesquisadas,
Prefeitura Municipal do Município, Câmara de Vereadores do
Município, acervo histórico do Museu Carlos Lampe, colegas e
fotógrafos autônomos e profissionais. Além de fotografias tiradas pela
própria autora. Estas fotos desempenham um papel fundamental para a
visualização das áreas pesquisadas, bem como dos impactos
causados72. Ainda, graças ao uso do programa Corel Draw 5, pode-se
delimitar áreas de interesse e/ou fenômenos nas próprias fotografias.
A Secretaria do Planejamento e Infra-estrutura da Prefeitura
Municipal de Rio Negrinho-SC, forneceu todo o material cartográfico,

72
Os impactos podem ser positivos e negativos.
93
sendo utilizados o Mapa Municipal Estatístico em escala 1:50.000 e
Mapa Rodoviário com escala de 1:50.000.
Estes dados foram analisados e correlacionados a fim de estabelecer um
diagnóstico interativo (Nitsche, 1999), que se preza auxiliar no estabelecimento de
decisões que envolvam o desenvolvimento sustentável da região, o enriquecimento
de material técnico/bibliográfico para a prefeitura do Rio Negrinho; e ainda, prestar
assistência ao projeto (Plano Diretor da Cidade de Rio Negrinho) desenvolvido pela
Prefeitura do Município, tendo a frente a bióloga Leoni Furts. O embasamento
teórico e empírico faz parte deste projeto, o primeiro destina-se a busca no
pensamento e idealização do processo de construção do projeto, sendo que o
segundo, faz-se no procedimento do trabalho de campo, pois cada ponto citado foi
visitado e analisado por quem manuscrita esta divulgação”. (In: FERNANDES,
Marli Stoeberl. Diagnóstico dos Impactos Ambientais/Sociais Causados pelas
Madeireiras no Município de Rio Negrinho – SC. Mafra, 2005. Monografia
(Graduação) – Setor de Geografia da Universidade do Contestado – Mafra/SC.).
Nota-se que os próprios alunos ainda não concretizam as idéias de Nitsche
em sua plenitude, pois ainda estão ligados aos padrões geográficos que os
formaram/capacitaram.
Após exposição destas pesquisas, tem-se a impressão aparente de um
“saladão” esta maneira de se trabalhar com uma geografia única, pois quem tem
visão geográfica humana vai identificar linhas que se enquadra neste campo do
saber, o mesmo acontecendo com os geógrafos físicos.. É uma salada que não pode
ser servida a duas classes distintas, pois seu sabor é homogêneo e não permite ser
apreciado por paladares dicotômicos.

94
PENSAMENTOS QUE NÃO FORAM UTILIZADOS EM SEUS
TRABALHOS

Nestas páginas seguintes, exponho pensamentos e reflexões que não foram


contextualizadas e/ou descartadas no projeto Três Barras, pois Nitsche, preferiu não
adentrar nos temas que ora exponho, mas deixou suas anotações expostas em sua
pasta de pesquisa sobre a região.
Devo salientar que este projeto surgiu de uma simples idéia: realizar um
panfleto explicativo sobre o Município em questão. Porém, o secretário de educação
pediu para que fosse elaborado um livro que abordasse os aspectos mais relevantes
desta área territorial. Nitsche respondeu: “Não posso desenvolver um livro, pois
estou no 2o ano do curso de Geografia.” – Não se preocupe, daremos todo o apoio
necessário, disse o secretário. Com estas palavras de incentivo, este geógrafo iniciou
o projeto um mês depois desta conversa e se dedicou aos estudos, servindo este,
como objetivo e tema de sua monografia. Não sei se alguém realizou algo parecido
na UFPR e/ou em outras instituições. Mas que foi algo corajoso e merecedor de
reconhecimento...Isso foi!
O problema é que quando Nitsche terminou o trabalho, a Prefeitura local
não quis pagar a editoração e publicação do referido livro, alegando falta de verbas.
Desta forma, para baixar o valor do manuscrito, começaram a reduzir o conteúdo
didático, descartando mapas e fotografias que seriam de suma importância para o
aprendizado, tanto dos alunos, bem como para a população em geral. Assim sendo, o
livro foi lançado da maneira que se encontra hoje nas bibliotecas da UFPR, UEL,
UEM, UEPG, Biblioteca Pública do Paraná, algumas bibliotecas do Saber e outras.

95
Ao conhecer um pouco desta história, decidi procurar escritos e
pensamentos que Nitsche realmente não utilizou em seu manuscrito. E tentar
descobrir a razão de não tê-lo feito. Logo, encontrei os seguintes apontamentos, que
transformei em cinco perguntas, pois as anotações eram dispersas, aleatórias e
formuladas em um contexto único, como um livro sem capítulos.

1- O que é Geografia?

Definir geografia na atual conjuntura política geográfica é algo


extremamente complicado e difícil, pois muitos ideólogos e geógrafos que seguem
uma linha partidária socialista, comunista, liberalista, enfim, que se prendam aos
parâmetros partidários políticos, verão uma maneira de atuação do geógrafo e de
uma geografia mais voltada para as questões sociais. Esta visão, reflete a impressão
de que o geógrafo é um sociólogo ou economista que trabalha com auxílio de
mapas, recaindo naquilo que se ensina nas salas de aula dos ensinos fundamental e
médio, como sendo a matéria que só fala de ricos e pobres. Atualmente isso mudou
um pouco, mas muito falta para desenvolver uma geografia que realmente
corresponda e responda aos apelos do que se deve expor e ensinar nas aulas e/ou
sala de aula! Tendo ainda, os profissionais que se desprendem dos focos partidários
políticos, atuando de uma maneira mais voltada às questões ambientais naturais
puras, enfatizando o clima, o solo, a vegetação, o relevo e a hidrografia, gerando no
âmbito estudantil um capítulo à parte dos fenômenos econômicos e sociais. Dessa
forma, os autores de livros escolares (voltados especificamente a Geografia) tentam
correlacionar essa diversidade de idéias e atuação, desenvolvendo uma linguagem
adaptativa correlativa das questões geográficas, geológicas, econômicas, sociais e
históricas. Que muitas vezes abordam textos marxistas, socialistas, comunistas, e
liberalistas, tentando explicar o desenvolvimento econômico e social brasileiro, bem
como territórios e ocupações. Este cenário nos leva ao que hoje é denominado de

96
espaço socioeconômico. As explicações e abordagens nos livros, guia-nos para a
falsa convicção de que o geógrafo tem a capacidade e/ou obrigação de saber tudo. E
ninguém sabe tudo! Um ramo científico que engloba tudo...Não é ciência e/ou
científico. Os geógrafos, atualmente, se detêm aos enunciados de outras áreas ,
remodelando-as para explicar suas análises geográficas. Não porque querem, mas
sim, por se acostumarem com a linha evolutiva geográfica, que vem enraizada (esta
maneira de se fazer geografia) desde 1947. Sendo remodelada e adaptada até os dias
atuais, porém, sem a preocupação de se desvincular das teorias sociais, psicológicas,
econômicas e históricas. Os geógrafos se preocupam em explicar movimentos de
excluídos, questões econômicas que geram pobreza e riqueza das massas sociais,
sempre se respaldando em mapas para diferenciar suas análises das outras áreas do
conhecimento que abordam o mesmo tema. Pode parecer superficial esta resposta,
mas por mais que se tente rebuçar ou florear...O resultado final é a mesma
conclusão!
A geografia deveria seguir seu próprio caminho, enfocando questões de
cunho estratégicos ao desenvolvimento territorial, preservação dos recursos,
provendo a sustentabilidade socioecológica local e/ou regional. Assim declarado,
posso afirmar que geografia é a ciência que se encarrega das questões de
planejamento ambiental. Não se esquecendo que o ambiental, refere-se ao ambiente
que nós construímos, criamos e/ou modificamos (físico e humano conjuntamente,
não podendo ser separado).

2- Que tipo de ambientes criados pelo ser social se encaixa no que é


proposto?

Pode-se citar algumas cidades, como: Brasília (BR) e Las Vegas (EUA),
ambientes criados e desenvolvidos em uma porção da crosta terrestre, sendo
totalmente modificada em suas características primárias e possuindo uma paisagem

97
única, com a criação de lagos, piscinas artificiais, inclusão de espécies alóctones
(animais e vegetais), edificações voltadas para moradias, assistência social,
militares, políticas, religiosas, voltadas para o divertimento pessoal e social,
construção de ruas, avenidas, estradas, e outras estruturas que surgirem em sua
mente.

3- Quais os locais que os geógrafos poderiam atuar, ou que falta sua


presença?

Esta questão é a mais importante no que se reflete a atuação do geógrafo no


mercado de trabalho, pois muitos reclamam dos limites e/ou barreiras profissionais
enfrentados pelos profissionais desta área do saber. “Ou é sala de aula, ou é um
gabinete que atende ao complemento de atividades de outros”.
Basta querer ir até onde se faz necessário a presença do geógrafo. E todos
os municípios nacionais necessitam de respaldo tecnológico e didático que somente
o geógrafo é capaz de exercer e fornecer.
A Amazônia brasileira sempre necessitou dos serviços e atenção dos
geógrafos, desde a década de 50 (1950). Mas esperamos sempre os engenheiros,
biólogos, historiadores, arqueólogos e novas ramificações científicas e tecnológicas
surgirem, para que os geógrafos (“principalmente os sociólogos e partidários
políticos”) iniciem as críticas ao que é feito. Pois não vi nenhum representante da
Geografia em Três Barras do Paraná, quando se iniciava o desenvolvimento do
projeto da Usina de Salto Caxias, quem dirá do acompanhamento de todo o processo
que circundava e norteava a construção ora citada. Depois de tudo feito é fácil
criticar ou apontar erros!

98
4- Reflexões sobre a Amazônia?

Muitos dizem que a Amazônia pertence ao Brasil, como sendo um território


ou uma área que está dentro dos limites de diviso brasileiro, rica em biodiversidade,
minerais e de grande potencial econômico (abrangendo todos os tipos de exploração,
serviços e atividades lícitas e ilícitas, que de uma forma ou de outra, contribui para a
economia global e local). Sempre observei a Amazônia como sendo brasileira, que é
do Brasil, faz parte de nosso País. Não é uma área ocupada como se fosse uma
colônia reivindicada por uma nação e/ou país. Muitos estrategistas brasileiros têm a
mesma visão, porém, não conseguiram impor na prática, projetos para o
desenvolvimento ambiental desta região. Pois existem vários fatores que
impossibilitam um planejamento ambiental eficiente, pois temos: políticos
corruptos, atuação de empresas comerciais73 voltadas para a exploração de recursos
(madeira, minerais e outros), OnGs estrangeiras, nacionais e “trambiqueiras” (ONGs
que não exercem atividades que deveriam), tráfico de armas e drogas, biopirataria,
falta de contingente fiscalizador e controlador, aceitação de subornos (referente aos
fiscais de várias instituições que lá atuam), a colaboração positiva ou negativa dos
políticos locais, bem como, dos que estão em Brasília, além das interferências
políticas internacionais, a questão dos povos nativos (indígenas), prostituições
infanto-juvenis e várias outras questões e percepções que possam surgir ao longo
desta temática. Mas a primordial tarefa de se mudar este cenário e poder
implementar na integra um projeto de planejamento e desenvolvimento ambiental,
está na liberação de recursos financeiros. E mais um problema se desponta: Quando
se fala em recursos do governo (recursos que virão dos cofres públicos, ou seja, do
bolso do povo brasileiro), imediatamente nos defrontamos com a supervalorização,
tanto dos produtos industriais (manufaturados), e dos mais variados custos que

73
Legitimadas e ilegais.
99
envolvem materiais e pessoal (transportes, mão-de-obra, alimentação, estadia,
maquinário, equipamentos de sondagem, utilização de radares, e vários outros
equipamentos técnicos de campo) e outros serviços correlatos. Bem como, da
produção científica, mental e literária.
O desenvolvimento amazônico é possível, desde que, haja: (a) a injeção de
recursos e principalmente, fiscalização e controle destes. (b) Cumprimento das leis
de todos os âmbitos (ambientais, criminais, civil e outras) seja a quem for, (c)
continuidade das obras (“custe o que custar”), (d) vontade política e vergonha na
cara.
E quem deve atuar na Amazônia? – Excluindo as ONGs estrangeiras e as
“trambiqueiras”, e até mesmo as nacionais, pois elas existem graças ao descaso do
governo que não exerce seu papel de integrador e fomentador do desenvolvimento
ambiental,. Ressalvando que alguns estrategistas militares não se incomodam com a
presença destas ONGs, mas se preocupam com aquelas que não exercem atividades
legais.
Para o governo é cômodo acolher as diversas organizações que lá estão,
pois é um gasto a menos no orçamento. E nas palavras desta que transcreve estes
pensamento (Valéria C.V. Nitsche), complemento dizendo: “Sobra mais para gastar
com as Olimpíadas, emprestar dinheiro para os países mais pobres e com a Copa do
Mundo!” Enquanto isso, possuímos estradas com longos trechos intransitáveis e/ou
que afetem a segurança dos condutores de veículos que por lá são obrigados a rodar,
caindo em buracos e quebrando peças, sistema único de saúde deficitário, segurança
pública...o quê é isso? E outras áreas que todos nós sabemos necessitar dos recursos
que são gastos pelo nosso riquíssimo país que se desponta no G7, G8 e no Conselho
de Segurança Internacional. Somos tão ricos que estamos resolvendo problemas de
outros países, como Honduras e Haiti.
E Nitsche continua...
Devemos implementar uma ação conjunta com as Forças Armadas
(Exército, Marinha e Aeronáutica), as universidades federais, com a população local

100
indígena e engendrar projetos que viabilizem o processo de desenvolvimento
amazônico, pois desta forma, não será necessário terceirizar serviços e/ou
contingente de pessoal. Sendo que muitos desses serviços são prestados por
teóricos74 que nunca pisaram na floresta e/ou mata adentro. Nunca mergulharam nos
rios, ou lavaram seus pés nas águas de alguns dos canais amazônicos.
Mas não podemos ser ingênuos ao acreditar que teremos um
desenvolvimento sustentável na integra, ou que é possível realizar um processo
100% sustentável desta região. Pois nada atualmente é realmente sustentável!
Espero que pelo menos façam redes de esgoto ecológicas!
Nós temos a falsa convicção que ao se utilizar biocombustível estamos
fazendo um favor ao planeta, pois combatemos o efeito estufa. Mas e os outros
efeitos? O etanol é algo maravilho para os veículos e para a Terra. Quantas
monoculturas existem para atender ao mercado nacional e mundial? Até quando
estes solos serão produtivos? Ah...mas fazemos o ciclo vernal! E o óleo de mamona
também é maravilhoso! Os carros elétricos que carregam as baterias em sua casa. De
onde vem tanta eletricidade? E as vestimentas e revestimentos feitos de Rattus
norvegicus...São bem interessantes. Não? E as bombas atômicas que foram
lançadas, os mísseis que estão sendo projetados e disparados todos os dias, seja em
treinamento ou em emprego de forças armadas e/ou revolucionárias/terroristas. Os
vários foguetes (de vários países) lançados para o espaço...São feitos como e de quê
material? Quantos satélites orbitantes há e quanto lixo há em nossa órbita terrestre?
Falamos tanto em não usar plásticos, materiais que prejudiquem a natureza,
economizar água e luz, além de controlar o efeito estufa. Mas o que foi feito
juridicamente e o quê o legislativo fez para que as fábricas de automóveis
diminuíssem seu ritmo de fabricação, que tipo de tinta (pigmentação) automotiva foi
desenvolvida para não agredir o meio ambiente, quantos materiais, além de plástico,

74
Geógrafos, sociólogos, pedagogos, advogados, ecólogos e outros profissionais
necessários ao processo que ora descrevo.
101
são gastos para se fazer (apenas) o protótipo de um molde de um determinado
projeto automobilístico e quantos são necessários para se fazer centenas de veículos?
E por quê não fazem veículos que não ultrapassem 140 Km/h? Qual o custo
ambiental de se fazer apenas o modelo mais simples (mais barato) de uma fábrica de
veículos? Além dos veículos (fabricados no mundo todo), ainda temos, os aviões,
helicópteros, embarcações (canoas, barcos, iates, navios, submarinos, veleiros e
outros), bicicletas, motocicletas, patins, skate, televisores, geladeiras, equipamentos
de som, computadores, equipamentos médico-hospitalares, seringas e injeções,
sacolas, pulseiras, relógios, calculadoras, canetas, todos os tipos de tinturas e
pigmentos (cabelo, automotiva, imobiliárias, mobiliárias, corporais e outras tantas),
calçados, chaves, chaveiros, bonés, cosméticos, remédios, etc...e etc.
Por mais ecológicos que tentamos ser, não há como usufruir sem impor um
custo ambiental (físico e humano). E quem paga a conta é o nosso planeta! Mas
como amenizar isto? – O ser humano tem que parar de ser ganancioso, acomodado e
preguiçoso!
Ao ler estas exposições, pode-se perceber o do por quê não foram utilizadas
em seus manuscritos e artigos. Nitsche não consegue admitir uma geografia
puramente voltada aos preceitos teóricos que embasam a geografia humana e a
politização fervorosa nas linhas de pensamento humanístico/social. Não questiona as
fundamentações geográficas físicas, porque não é observada uma rigorosa defesa das
idéias e ideais partidários. A preocupação recai em desenvolver teorias e ações de
cunho natural físico. Porém, deixa claro que a geografia deve se ater ao conjunto
físico e humano, relevando sempre uma relação entre o objeto físico (exemplo:
classificação do solo) e a sociedade. Pois muitos geógrafos físicos ainda não
estabelecem tal conduta. E muito dos geógrafos humanos não gostam de trabalhar
com questões físicas.

102
4- O quê dizer sobre a transferência de tecnologia?

É importante observar que o país detentor da tecnologia, deve ser


compreendido como o transmissor e/ou dispersor tecnológico, sendo que o país que
capta esta transmissão, deve ser entendido como receptor tecnológico. Porém, não
haverá transferência de informação se o receptor não possui massa critica pensante
para compreender o que está sendo repassado. Quantos engenheiros e geógrafos são
formados anualmente no Brasil? Garanto que se você pesquisou esta informação,
verá que o número é extremamente inferior e infenso aos países detentores de
tecnologia e de um sistema educacional avançado. Deixo aqui a oportunidade de
nosso caro leitor realizar uma pesquisa: Aponte no mapa-múndi os países que
possuem os maiores índices de massa crítica intelectual e faça uma comparação com
os índices brasileiros. Depois, faça uma correlação dos estados brasileiros que
possuem condições de se estabelecer como receptor tecnológico. Ficarão surpresos
com a representativa gráfica que surgirá diante de seus olhos. E não basta possuir
um efetivo intelectual voltado apenas para as questões de tecnologias avançadas
(aeroespacial, robótica, informática e informação), necessitar-se-á de um programa
social-profissional que possibilite o avanço tecnológico recebido em uma área do
conhecimento. Sendo que particulados desta tecnologia, deve ser repassado para
outras áreas, impedindo desta forma, que haja uma especialização estagnada,
provendo e fomentando alternativas para novas aplicações tecnológica e pessoal
capacitado para entender, controlar e administrar. O mais simples exemplo que
posso cambiar, seria: O joystick, que foi criado para jogos computacionais, depois
foi transferida e sofisticada (a tecnologia) para o uso em aviões e cadeiras de rodas
motorizadas.
A única maneira de se alcançar este patamar intelectual, está no
melhoramento do ensino de base público e privado, além de implementar novamente
o valor cívico e comportamental social. Pois não basta apenas ensinar as matérias

103
(por parte dos professores) e os alunos fingirem que estão aprendendo ou estudando.
Tem de haver educação comportamental, tanto para os alunos e professores, quanto
para os pais. As pessoas deixaram de respaldar o valor patriótico, as questões éticas
e o respeito próprio. Pois se você não respeita a si mesmo e seu País ou se acha bom
demais para ambos...Como pode respeitar o próximo? E isso implica, também, na
maneira como o Estatuto da Criança e do Adolescente é moldado e estabelecido.
Protegeu-se demasiadamente esta porção da camada social, que muitos pais e
professores não atuam mais por medo de levar um tiro, temor que seu filho ou aluno
cometa suicídio, ou simplesmente se acomodaram passando-se por bonzinhos e
amigos, não tendo pulso para impor o NÃO! Com certeza, tal atitude influenciará na
atuação deste indivíduo na sociedade (escola, convívio social, bem como no
mercado de trabalho e várias outras que seu julgo permitir).
Estamos em pleno Século XXI e ainda nos deparamos com professores
lecionando para classes distintas de alunos na mesma sala de aula, onde estudantes
da 2a e 3a série dividem o aprendizado com educandos da 4a série, seja por falta de
estrutura e/ou material. Traduzindo...Falta investimento e fiscalização do governo
federal75 ao que se refere ao repasse, controle e administração do dinheiro destinado
aos estabelecimentos públicos e privado. Não apenas exigindo a documentação e
comprovantes, mas indo ao local para ter certeza que aquela quantia está sendo
empregada, de fato, ao que se destina. Mas isso parece ser impossível de ser feito! É
só parar de salvar bancos, repassar verbas para ONGs, doar dinheiro ao mundo,
deixar de bancar políticos corruptos e pagar salários astronômicos.

75
Cabendo ao governo federal, pois se deve fiscalizar as instâncias municipais,
estaduais e incluindo as federais.
104
DESABAFO GEOGRÁFICO: INFLUENCIA PESSOAL/SOCIAL
E POLÍTICA NA CIÊNCIA
O prego que se desponta
é o que recebe martelada (Prov. Japonês).

Ainda está para nascer o cientista ou


pesquisador que tenha coragem de
admitir críticas ao seu trabalho, e ainda,
mostrar falhas em suas teorias ou
trabalhos científicos para seus próprios
alunos ou colegas. E se algo não for
explicado de forma clara...HIPÓTESE
AD HOC!
(Diálogos entre Ferigolo e Nitsche)

Estas palavras que vamos ler, foram escritas por Nitsche, demonstrando
como é o mundo vivido por ele e o que esta mundividência nos revela.
“Ainda observamos dentro de qualquer ramificação científica, a inveja,
orgulho e a mesquinhez de pesquisadores, mostrando o quanto evoluímos
negativamente aos próprios processos de transformação cultural, social e humano.
Tais atitudes levam a ciência ao abarrotamento de pensamentos não construtivos. E
isso é expresso dentro das academias, quando um professor tenta prejudicar um
aluno que possui idéias mais dinâmicas. Ou quando um colega pesquisador descreve
ou transcreve trabalhos de alguém (que ele não gosta) e não cita ou referencia tal
fonte. Ou ainda, não lê o trabalho de seu “rival”, ou rouba-lhe as idéias e publica
antes de seu “algoz” ou colega. Tal conduta insere na reformulação do que é ético.
Outro problema, e até mesmo podemos denominar de preconceito ou
etnocentrismo científico, expressa-se no que seria o “abismo” existente entre o

105
profissional licenciado em Geografia e o profissional bacharel em Geografia. Para
muitos, o geógrafo é aquele que possui o bacharelado, desta forma e única, são os
verdadeiros geógrafos. E aqueles que possuem a licenciatura, são apenas professores
de geografia.
Diante deste dilema, pergunto: Se o professor de geografia (que não possui
o bacharelado) adquiri todo o seu conhecimento dentro do Curso de Geografia e
toda sua formação foi embasada pelos conhecimentos transmitidos por bacharéis
(pois antes de serem mestres e doutores, tiveram que ser alunos e adquirir o título de
bacharel), então a que classe pertence estes professores de Geografia? Logo se
conclui que são geógrafos! A alegação dos bacharéis é sustentada por uma
interpretação funcional do procedimento das atividades dos professores de
Geografia: O professor não executa atividades de pesquisa, não realiza incursões à
campo, logo não é geógrafo. Outro motivo seria: Que os professores não são
obrigados a realizar monografias desenvolvidas em procedimentos metodológicos
científicos (em algumas instituições).
Porém o que se observa, é que o professor desta área do conhecimento
sempre realizou pesquisas, direta ou indiretamente, ao contrário de muitos
professores universitários, que usam folha de acetato amarelada, queimada pelo uso
contínuo e por longo período do retro-projetor e/ou dados de datashow/media com
assuntos que foram elaborados em uma de suas primeiras aulas. Ou ainda, que
executam suas atividades em laboratórios, sem ao menos ir ao campo para avaliar
suas reflexões, que foram embasadas na literatura. Os professores das redes de
ensino estão sempre aperfeiçoando seus conhecimentos, improvisando materiais,
realizam cursos, freqüentam cursos e desenvolvem pesquisas (particulares ou não),
principalmente os mais jovens ou recém chegados. Claro que há exceções! Na
realidade, o Bacharel em Geografia realiza e desenvolve pesquisa, detendo o
conhecimento e retendo o saber; logo, o professor de geografia apenas transmite os
conhecimentos adquiridos pelo saber de outros. Mas nada impede que o licenciado
desenvolva pesquisas, tudo depende se sua vontade pessoal. Assim posto, pode-se

106
dizer que os professores são responsáveis pela transmissão dos conhecimentos e pela
introdução dos alunos ao mundo do conhecimento. Logo, não são cientistas, porém,
são geógrafos76!
Uma outra questão deve ser levantada, a, de que ainda estamos vivendo
uma rivalidade étnica científica, forjada77 pelo etnocentrismo de alguns países. Uma
exemplificação sem ornato seria expressa desta maneira:
Certa vez Nitsche assistiu um documentário sobre dinossauros carnívoros,
no programa televisivo denominado “Paleo-World”, que foi elaborado pela
Discovery Channel (2001). Neste documentário, alguns paleontólogos americanos
realizaram algo tão jocoso e que ao mesmo tempo demonstrava uma idiolatria norte-
americana tão consistente, pois, se esqueceram que os dinossauros nunca foram
norte-americanos ou sul-americanos. Ocorreu o seguinte:
O Tyrannosaurus rex sempre foi o mais espetacular dinossauro de todos os
tempos (para algumas pessoas), devido ao seu tamanho e possível ferocidade,
descoberto em 1902 e desenhado pela primeira vez pelo norte-americano Henry
Fairfield Osborn. Até que no ano de 1995 foi descoberto o giganotosaurus
(Giganotosaurus carolinii), por uma equipe de cientistas argentinos, Rodolfo Coria
e Leonardo Salgado, do Museu Argentino de Ciências Naturais em Neuquén, perto
dos Andes (Argentina), medindo 15m de comprimento por 7m de altura. Considera-
se que o Tyrannosaurus, em média, tem 13 m de comprimento por 5 m de altura.
Com estas diferenças de tamanho entre um fóssil e outro, os americanos
realizaram uma comparação de superioridade e agilidade destes seres, comparando-
os como se existissem no mesmo Período. Além disto, ainda fizeram um
comparativo entre estes dinossauros com lutadores de boxe, sendo que o lutador de
calção vermelho e azul representava os EUA - América do Norte, e o outro lutador
representava a América do Sul. Claro, estes lutadores estavam também

76
Há o geógrafo licenciado e o geógrafo cientista, ou se preferir pesquisador.
77
Não possui o significado de falso!
107
representando os “dinos” ora citados. Na conclusão e parte final deste documentário,
disseram que o Giganotossaurus não era páreo para o indestrutível T. Rex.
Este fato hilário mostra um quadro sombrio aos quesitos científicos e até
mesmo ético para a ciência. Pois o pesquisador deve, antes de qualquer coisa, ser
neutro e expor os fatos de maneira a não tomar partido nas questões pertinentes a
sua pesquisa. Um cientista deve registrar os fatos e concluí-los com seriedade e
cientificismo, sem expor suas opiniões pessoais que possam demonstrar uma
rivalidade, preconceito ou desilusão, mas apresentar os resultados integralmente
conforme foram adquiridos durante o processo de investigação. Neste caso, a
opinião pessoal terá que retratar uma hipótese ou teoria, mas não conotar algo
irrelevante ao conhecimento, como é o caso da conclusão e a visão destes que
realizaram o tal vídeo.
E por falar em desenvolver uma hipótese, muitos autores e pesquisadores
tentam induzir a pesquisa para que alcance o resultado de sua idéia quanto a um
fenômeno, ocultando informações que poderiam contradizer sua hipótese, para que
não seja reprovada sua tese. Este procedimento mostra que não há o
amadurecimento do pensamento, de que, mesmo reprovada sua hipótese o trabalho
foi concretizado e mostrou um novo rumo ao conhecimento científico. Logo, não
interessa se sua idéia primária (hipótese original) estava errada, o que importa é a
contribuição de sua pesquisa que retrata uma nova realidade, pois surge uma nova
hipótese e/ou fato científico. Porém, deve-se ponderar e pensar muito bem se em sua
pesquisa deve ou não ocultar um fato histórico, tal como: se foi ou não realizada
uma obra pública (asfaltamento de estradas), ou que envolva nomes de pessoas e/ou
famílias. Nitsche, em sua pesquisa do Município de Três Barras do Paraná, esteve
diante deste dilema. Pois naquela região aconteceram revoltas e chacinas, devido à
posse de terras. E em sua concepção, o melhor seria relatar o fato, mas ocultar os

108
nomes das pessoas envolvidas. Desta maneira, preserva-se a harmonia e convivência
social, evitando rivalidades entre as famílias envolvidas78.
Ainda dentro desta análise, observa-se que existem problemas étnicos
históricos, que são mais percebidos na área da arqueologia, mas que existe em todos
os ramos científicos. Pode-se citar como exemplo o caso do povo de Clovis (data de
11. 500 a.C.), sendo estes os primeiros colonizadores da América. Esta teoria está
em “Xeque” atualmente, pois existem fatos e atos científicos que comprovam que
existiram povos ancestrais aos de Clovis, sendo estes datados de 20.000 anos,
portanto 8.500 anos antes do que se entendia como sendo a primeira colonização.
Mas o problema não está apenas em descartar a “Teoria da Passagem do Estreito de
Bering” (Beringea), mas recai em um dilema de etnia relacionada aos índios
americanos, que sempre aceitaram serem de descendência asiática79. Assim posto,
pergunto: Quais são os reais motivos para não aceitar esta teoria? Questão étnica ou
o medo de contrapor uma ideologia norte americana? Quanto a questão étnica, é
fácil de compreender, pois se os filhos da terra não forem de descendência asiática,
todos os indícios levam a crer que são de origem européia. Ou seja: os mesmos
povos que os dizimaram. Este fato por si só, desencadeia entraves a confirmação da
Teoria Beringeana.
Ainda enfatizando este tema, deve-se expor que muitos cientistas que
escavaram além da linha de 11.500 anos, foram caracterizados de loucos pela
comunidade científica, além de conotarem, que estes mesmos pesquisadores
forjaram fatos históricos, científicos e arqueológicos. E toda esta discussão surgiu
porque alguém, como Niède Guidon (arqueóloga brasileira) resolveu realizar
ciência, escavando além do limite de Clovis. Descobrindo vestígios dos primeiros

78
Dedico à Ilma. Prof. Dra. Jônia (minha professora de Geografia Rural-UFPR) este
importante aprendizado.
79
Isto é o que defendem os contrários a esta nova teoria, embasados nas entrevistas com os
próprios filhos da terra (os índios).
109
habitantes americanos, que datam, de no mínimo, aproximadamente 60.000 anos
atrás (entrevista com a própria pesquisadora, na TVCâmara, na data de 15/06/2008
(Fonte:
>http://www.camara.gov.br/internet/TVcamara/default.asp?selecao=MAT&velocida
de=100k&Materia=50995<)). Sendo que muitos cientistas não tinham coragem de
expor suas novas descobertas (que retratavam ancestralidade a linha estipulada), por
medo de serem excluídos, debochados ou ridicularizados por seus colegas que se
dizem cientistas. Cito Darwin como um dos que sofreram com esta ignorância e
arrogância expressa por membros das sociedades científicas em geral e as cúpulas
sociais que não desejam a ciência etérea.
Devemos refutar e desprezar aqueles “cientistas” que pagam para adquirir
suas monografias de graduação, dissertação de mestrado ou tese de doutorado, pois
há muito tempo se constata tal atividade, principalmente depois da criação e
desenvolvimento da internet, onde é possível encontrar páginas de pessoas que
prestam serviços de elaboração de trabalhos científicos/acadêmicos. Não sei quem é
mais desprezível, se os que cobram para realizar tais atividades, ou se aqueles que
pagam e pedem tal “prestígio”.
Uma maneira de se atenuar tal atividade, seria a realização de bancas
científicas de avaliação. Pois atualmente muitas instituições não aderem tal conduta,
devido ao tempo e aos custos. Alguns acham que é desnecessário formar uma banca
para avaliar um trabalho de doutorado, mestrado ou de graduação. Esta perspectiva
facilita e viabiliza o comércio monográfico científico. Com a imposição da banca,
pelo menos o falso profissional/cientista deve se dar ao trabalho de ler o que os
outros fizeram por ele. Devemos ainda, menosprezar àqueles professores que
plagiam trabalhos de alunos e os consultores (parceiros) de conselhos editoriais, que
avaliam uma obra, adquirem (pajeiam) as informações mais importantes e
desenvolvem seus próprios artigos e/ou obras literárias, reprovando o manuscrito
antecedente.

110
“Canudo” não significa nada, pois muitos recebem diplomas universitários
e medalhas, mas obtiveram tais horarias graças às idéias e trabalhos de outros. Além
de existirem livre-docentes que não possuem postura educável e de bons modos,
sendo totalmente deseducados. Pois o diploma e títulos são símbolos que
representam, não apenas a instituição, mas a capacidade intelectual do indivíduo
possuidor deste. Mas este título não delega ao seu detentor o poder de ser mal
educado ou de desrespeitar qualquer semelhante80.
Encontra-se ainda no meio acadêmico, pessoas que realizam pós-
graduação, com o intuito de obter uma aposentadoria remunerada ao nível que se faz
jus e não se preocupam com a representatividade de sua titularidade. Além daqueles
que ingressam no ensino superior apenas para receberem o veículo automotor
prometido pelos pais e/ou por imposição da família.
“A Ciência está se tornando cada vez mais corrupta, graças ao
intelecto macaco humano!”
Outro problema dentro da ciência e das análises geográficas, recai na visão
política de cada pesquisador. Sendo assim, existem os petistas81 e os representantes
ou adeptos de outros partidos políticos. Enfocando tal situação, nota-se que a
Geografia deixa de ser uma ciência para se transformar em um patamar político.
Pois muitos dos trabalhos científicos e/ou acadêmicos são moldados dentro da visão
de cada pesquisador partidário.
Este problema foi observado vividamente no ano de 1995 e 1998, quando
representantes e organizadores dos Encontros de Estudantes de Geografia (nos anos
citados), promoveram passeatas em apoio aos “Sem Terras” e outros grupos que

80
Semelhante...SIM! Só porque você possui diploma, não significa que é o Presidente do
Brasil! Principalmente ao que se refere à pessoa de Luiz Inácio Lula da Silva – presidente de
nosso País.
81
Que são adeptos do partido dos trabalhadores.
111
empunhavam bandeiras de partidos políticos, além das bandeiras que representavam
os grupos de desencaixados82 e seus movimentos.
A Geografia, como todos os outros ramos científicos, faz parte da
CIÊNCIA, e a ciência não deve estabelecer concordância ou discordância política. A
ciência existe para desenvolver trabalhos e buscar soluções para amenizar problemas
sociais e ambientais, independente de ações ou respaldo político, promovendo um
equilíbrio e bem estar para ambos os lados (sociedade/político/natureza). A ciência
tem de trabalhar para encontrar o equilíbrio entre as ações governamentais e as ações
sociais, vinculadas aos desejos de ambas as partes. Responsabilizando-se ainda, em
fornecer as diretrizes para as atuações e determinações políticas para o caso
estudado e/ou analisado cientificamente. Muito diferente do que ocorre nos dias
atuais.
Aos detentores dos poderes, legislativos, executivos e judiciários, devem
se lembrar que trabalham para o povo. Sendo que este mesmo povo é quem paga
seus honorários, soldos, diárias, horas extras, viagens e etc. Este balanceamento de
forças estabelecerá uma melhoria na qualidade de vida dos indivíduos, bem como do
próprio Planeta.
O pesquisador tem de ser partidário, pois o regime governamental impõe tal
posição, pois ele (o pesquisador) é um cidadão eleitor e pode se candidatar, sendo
que as leis de nosso País o obrigam a votar. Mas a ciência tem de ser apolítica e não
servir de patamar político. Logo, o pesquisador deve ser cientista e não servir aos
interesses políticos, quando prestigia apenas um lado e/ou um grupo minoritário de
oportunistas.
Vivemos em um mundo capitalista, desta forma, imediatizamos o suporte
científico-político em nossa postura de trabalho. E as atuações governamentais
influenciam as ações científicas, pois as verbas de uma pesquisa ou de uma área

82
Conotação e descrição de Giddens (1991), neste caso específico são os Sem Terras e Sem
Tetos.
112
científica, muitas vezes são geradas por chaves partidárias e seus adeptos. Esta
postura se estabelece em todos os setores de vivencia e de trabalho, desde o regime
interno de uma instituição até os alicerces da comunidade em geral (nosso próprio
lar).
O sistema político administrativo de qualquer entidade ou país exerce uma
pressão no desenvolvimento de pesquisas, muitas vezes atrasando a evolução
positiva científica. Quando um determinado laboratório ou instituição, não apoiou
um membro do partido ou chapa, muitas vezes é desencaixado ou excluso das
atividades e do elemento que agora está no controle. Desta forma, este representante
atual do poder público ou privado veta as verbas pertinentes. Por outro lado, libera
verbas para vários setores que o apoiou, mesmo que estes setores desenvolvam
trabalhos irrelevantes ao desenvolvimento científico e social.
Este tipo de atitude mostra que a sociedade (que paga os impostos para ver
e ter o desenvolvimento científico) fica desfalcada, enquanto que o “intelecto-
macaco-humano brinca de para quem vai o dinheiro”.
No momento atual, lutamos pelo capital e suas virtudes, sendo assim,
deflagramos guerras, revoltas e revoluções, simplesmente para ganharmos mais
dinheiro, reivindicar direitos ou obter riquezas naturais (petróleo, madeira, etc.).
Vivemos em um mundo capitalista!
As estruturas governamentais e/ou particulares devem ver a ciência como
apolítica e apóia-la, para que o nosso planeta, as instituições governamentais ou não
e a sociedade como um todo, possam receber informações/ações benéficas ao
processo evolutivo construtivo de um mundo melhor para todos.
O indivíduo social (uma pessoa) não consegue separar o profissional do
pessoal, além de que todos os campos científicos estão presos aos limites políticos.
A dificuldade de se exercer tal função dentro das ciências, é que não há como se
desvincular das relações pessoais entre o político e o representante do grupo
científico (que acaba se transformando em político). Desta forma, um fica devendo
favores ao outro ou sempre reivindicando algo. E como estes representam (direta ou

113
indiretamente) a ciência, de imediato a ciência se torna política por imposição de
favores prestados, pela labuta de conquistas de direitos e concessões, e/ou
simplesmente por imposição governamental. Devemos nos lembrar que muitos
projetos científicos necessitam de verbas públicas, privadas e ou privada/pública.
Tais verbas, somente são concedidas dentro de uma análise sócio-política e com
manobras políticas. Porém não devemos levantar bandeiras, mas sim, trabalhar para
encontrar soluções e propiciar um equilíbrio social/ambiental responsável e justo.
Desta forma, a ciência respaldará projetos administrativos sócios-políticos,
sustentando as ações políticas e não o contraditório, como muito se apresenta
atualmente.
Não vos esqueceis de mais um obstáculo, este denominado de “ignorância
religiosa”; cito apenas um exemplo: Existem escolas norte-americanas que não
admitem a teoria evolucionista de Darwin, proibindo os professores de divulgar,
comentar ou ensinar as descobertas científicas deste renomado intelectual. Não
esqueçamos de Galileu Galilei e Nicolau Copérnico, que também foram severamente
castigados por não acatar as palavras dos deuses papais e a divindade religiosa (a
igreja).
Este exemplo demonstra que muitos estudiosos teólogos e religiosos (não
importa a qual religião pertença) ainda não estão preparados para a ciência, pois
duas forças extrapolam a vontade pessoal e moral destas pessoas. Uma dessas forças
seria a compenetração aos votos monásticos, que exerce uma relevante coação ao
desempenho racional, gerando conflitos no âmago espiritual e imortal do homem. A
segunda força, recai na maneira de expor um sentimento reprimido existente em
alguns grupos de pessoas, que não suportam a idéia de que nossos ancestrais foram
ou são primatas. Mais especificamente...macacos! Sendo assim, se eqüivalem do
pressuposto de que nós, os seres mais perfeitos do universo fomos criados à imagem
e semelhança de Deus. Espero que Deus não seja nem um pouco parecido com estes
seres imaculados que deflagram guerrilhas, mentem, corrompem, vendem e
compram seus semelhantes, roubam-lhes as idéias, humilham e matam as pessoas.

114
Se assim for, então realmente estamos no patamar mais alto de toda a divindade
espiritual desprovida de alma sã. Logo, estamos no inferno! E Gandi, mais que
ninguém, conheceu e combateu a ignorância humana e suas “virtudes” regidas nos
Séculos XIX e XX. Porém, jamais recebeu o realmente merecido “PREMIO
NOBEL DA PAZ”. Pois este prêmio, somente foi oferecido aos pacificadores que
empunhavam armas e conquistaram a paz com sangue, opressão e medo.
Um cientista pode ter fé e crer em uma entidade divina, sem se
comprometer com suas análises científicas. Porém, não há como ser cientista crendo
em religião ou sendo fanático religioso e/ou acerbar crendices e instituições (time de
futebol, partido político e outras inferências que surgirem em sua mente). A religião
repele e isola um grupo de indivíduos, declina o cientificismo e a evolução positiva
das sociedades. A crença e a fé em algo ou alguém propõe a união das pessoas e
auxilia a concretizar ideais e coisas.
Mas por quê algumas vezes no texto ora lido, aparece a palavra “evolução
positiva/negativa”?
Nitsche entende que não existe involução, como muitos falam e o
dicionário descreve como: movimento regressivo, processo de regredir. Involução,
para Nitsche significa: Não mutável, que não modifica, que não se transforma. E
tudo na natureza se transforma para algo melhor ou pior83. E quando o dicionário se
refere a palavra processo, conota-se a idéia de ação continuada. Assim sendo, pode-
se afirmar que evolução negativa refere-se a uma mudança inferior, ruim,
inadequada e/ou regressiva (que pode ser bom ou não)84.

83
Este termo é relativo, pois o que é pior para alguns/algumas espécies, pode ser bom ou
melhor para outras.
84
Para medicina: um carcinoma que regrediu ou se estabilizou (evoluiu negativamente, sendo
bom para o paciente). Para a Geografia: Um solo rico que perdeu seus nutrientes graças as
atividades sociais (é ruim para a agricultura).
115
Voltando ao assunto especificado, faz-se necessário expor todos os
relevantes conhecimentos adquiridos pelas pesquisas científicas, para que possamos
evoluir positivamente e prosperamente, caminhando para o futuro e não mais para
uma idade das trevas.
Palavras de Morus85 (Utopia, p.13) “Não somos profetas para saber, antes
de experimentar, se a legislação polilerita convém ou não ao nosso país. Todavia,
parece-me que depois do pronunciamento da sentença de morte, o príncipe poderia
decretar o sursis, a fim de experimentar este novo sistema de repressão, abolindo,
ao mesmo tempo, os privilégios dos lugares de asilo. Se a experiência desses bons
resultados, adotaríamos o sistema; se não, que os condenados continuem a ser
levados ao suplício. Essa maneira de proceder apenas suspende o curso da justiça e
não oferece nenhum perigo no intervalo. Irei mesmo além, creio que seria muito útil
tomar medidas igualmente moderadas e sábias para reprimir e acabar com a
vagabundagem. Temos acumulado leis sobre leis contra este flagelo e o mal é hoje
pior do que nunca. Apenas terminara o cardeal, os louvores mais exagerados
acolheram as opiniões expendidas por Sua Eminência, as quais não tinham
encontrado senão desprezo e desdém quando sozinho as sustentara.””

85
São Tomás Morus, ex-lorde chanceler do Reino da Inglaterra, foi decapitado porque se
opôs ao divórcio de Henrique VIII e não aceitou o ato pelo qual aquele monarca rompeu com
o Papado. Essa obra descreve um Estado imaginário sem propriedade privada nem dinheiro,
preocupado com a felicidade coletiva e a organização da produção, mas de fundamento
religioso. Seu modelo é a República e As leis de Platão. Além de lançar as bases do
socialismo econômico, Morus cunhou a palavra utopia, que significa literalmente o não-lugar
de nenhum lugar.

116
PALAVRAS FINAIS

"A história da ciência é a história das substituições de


paradigmas após uma situação de crise à qual pode se
seguir uma revolução científica".
(I. L. ARAÚJO)

Temos que concordar! “A Geografia não está em crise...Os geógrafos


estão!” Palavras de Milton Santos, transcrita na reportagem da Revista Scientific
American, nº 4, ano 1. p. 24-26. Ed. Duetto. São Paulo, 2002.
As palavras de uma aluna (do ensino fundamental) da cidade de Rio Claro
no Estado de São Paulo, “Geografia é aquela matéria que só mostra coisas de ricos
e pobres” (frase descrita na Revista Galileu, nº 134, ano 12. p. 86-87. Ed. Globo.
São Paulo, 2002), demonstra bem esta sobreposição dos enfoques sociais e o
desencaixe geográfico.
A Geografia não é uma ciência restrita ao social, pois se assim fosse, se
estabeleceria no campo da sociologia, e outras ciências sociais. A observação desta
aluna do ensino fundamental esclarece muito bem o que se desenvolve em sala de
aula durante a disciplina de Geografia. Os professores não têm muita culpa, pois
suas praxes se voltam ao que foi aprendido nas academias. E os geógrafos que
desenvolvem os livros didáticos ou apostilas, enfocam muitas vezes uma geografia
fora de seu objeto de estudo.
Além de realizar pesquisas voltadas à natureza, os geógrafos devem
trabalhar para desenvolver projetos e propostas que auxiliem no desenvolvimento,
crescimento e prosperidade de todas as camadas sociais, inclusive políticas e
militares. Podendo ser estas globais (mundialmente falando) ou locais. Tendo

117
sempre a visão de que estudamos os fenômenos físicos e humanos como uma
relação mutualística estreita e indefinidamente fundamental e funcional, devendo ser
analisadas cientificamente, comparando-as e correlacionando-as conjuntamente. Tal
propriedade de análise impõe um estudo simultâneo das ocorrências físicas e sociais.
Ou seja: Como a sociedade contribui para aquele fenômeno? E como este fenômeno
interfere no meio social? Este tipo de enfoque somente é observado e analisado pela
Geografia. Nenhuma outra ciência possui esta característica e/ou enfoque.
Realizar um levantamento populacional e elaborar uma pirâmide de classes,
não é de cunho geográfico. Porém, quando se faz tais procedimentos enfocando a
sustentabilidade ecológica das duas naturezas, então este é um trabalho
exclusivamente do geógrafo.
Desde o surgimento do primeiro hominídeo na superfície terrestre,
estabeleceu-se a relação individual e social deste ser com os demais componentes da
natureza. E a ciência que melhor visualiza esta relação é a Geografia. Não a
Geografia Humana e não a Geografia Física, mas a Geografia que estabelece a
relação sociedade/natureza na íntegra.
A Geografia é e sempre foi a Ciência das relações humanas com a natureza
(relação do homem/sociedade onde ele(a) está). O que os geógrafos objetivam são as
relações, fluxos, dinâmica desenvolvimentista, correlações e interações que se
estabelece entre a sociedade humana e seus impactos (positivos e negativos) com a
natureza e vice-versa. Logo, o espaço por si só, é irrelevante aos questionamentos
geográficos.
Este é o “Mundo Geográfico de Nitsche”, criado pela ciência e
vivido/dividido pelos geógrafos, que são os habitantes deste ambiente controlado
por eles mesmos. Um mundo repleto de vales encaixados na formulação do pensar,
com uma rica hidrografia com redes de pensamentos mistos e relevo moldado na
estruturação filosófica da ciência e aplicação de métodos.

A Geografia deve conceber suas próprias teorias!

118
E a você que chegou a ler até aqui, agora tem algo novo para analisar e
discutir com seus colegas ou com sigo mesmo. Você pode até desenvolver uma
atividade acadêmica, familiar ou social, criando um tribunal para julgar estas
questões aqui postuladas.
Afinal...nós criamos espaços ou ambientes?
Espero que este trabalho de meu irmão tenha alcançado seu
objetivo de mostrar novas perspectivas aos questionamentos
geográficos. Aproveito para agradecer aos nobres leitores por esta
oportunidade de explanar tais pensamentos e por sua espontânea
leitura deste memorial.

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