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SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO AMERICANO DE TEOLOGIA

FACULDADE ADVENTISTA DA AMAZÔNIA

GABRIEL PEREIRA DOS SANTOS

EXEGESE DE JOÃO 15:7

Permanecendo em Cristo

BENEVIDES

2016
GABRIEL PEREIRA DOS SANTOS

EXEGESE DE JOÃO 15:7

Permanecendo em Cristo

Trabalho de pesquisa submetido ao


seminário Lartino-Americano de teologia
como parte dos requisitos necessários
para a classe de Hermenêutica sob
orientação Prof°. e Doutor em Teologia,
Josafá Oliveira.

BENEVIDES

2016
ARTIGO EXEGÉTICO

1. INTRODUÇÃO

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis


o que quiserdes, e vos será feito.” João 15:7

O objetivo é analisar o que Jesus tinha em mente ao utilizar o verbo “permanecer”


(me,nw), tal como aparece na passagem em questão, para se saber com mais
detalhes o que Ele queria dizer ao apresentar a condição “se permanecerdes em
mim, e as minhas palavras permanecerem em vós”.

2. PERÍCOPE: João 15:1-8

A perícope inicia-se no verso 1 do capítulo e pode ser limitada no verso 8.


Nesta parte está mais claramente delimitado o assunto da videira, numa alternância
de símiles e metáforas.

Antes: No capítulo que antecede a perícope, Jesus transmite uma mensagem de


conforto aos Seus discípulos que haviam se reunido com Ele para a realização do
lava pés. Cristo lhes diz que, embora tenha que partir deste mundo para a casa de
Seu Pai, voltaria outra vez, e enquanto isto não sucedesse Ele não os deixaria só,
mas continuaria presente no meio deles mediante a presença do Consolador (o
Espírito Santo) que posteriormente seria enviado.

Depois: Depois da perícope Jesus fala do amor a Deus e ao próximo que os


discípulos deveriam manifestar em suas vidas. Os discípulos deveriam amar a Deus
e guardar os Seus mandamentos sob todas e quaisquer circunstâncias mesmo que
isso lhes custasse a própria vida, o que eles deviam admitir como uma provável
consequência.1

1
Ver João 15:9-27.
3. CRÍTICA TEXTUAL

Greek Text – eva.n mei,nhte evn evmoi. kai. ta. r`h,mata, mou evn u`mi/n mei,nh|( o] eva.n
qe,lhte aivth,sasqe( kai. genh,setai u`mi/nÅ2

King James Version – “If you abide in Me, and My words abide in you, ask
whatever you wish, and it shall be done for you.”

The Jerusalem Bible – “If you remain in me and my words remain in you, you may
ask what you will and you shall get it.”

Amplified Bible – “If you live in Me – abide vitally united to Me – and My words
remain in you and continue to live in your hearts, ask whatever you will and it shall be
done for you.”

Almeida Revista e Atualizada – “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras


permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito.”

A Bíblia de Jerusalém3 – “Se permanecerdes em Mim e minhas palavras


permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e ser-vos-à concedido.”

Nova Versão Internacional – “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas


palavras permanecerem em vós, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido.”

Almeida Revista e Corrigida – “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras


estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.”

De acordo com as pesquisas realizadas para a elaboração deste tópico do


artigo, e a presente comparação de versões e traduções conclui-se que não há
variantes significativas do texto bíblico abordado.

4. CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL

Autoria e data – segundo a tradição cristã, João foi não somente a fonte de
informações contidas no evangelho que leva o seu nome, mas também o escritor do

2
O Novo Testamento Grego – Quarta edição revisada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
3
A Bíblia de Jerusalém: novo testamento.8ª ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1981.
mesmo. Ainda segundo a tradição, ele foi escrito no primeiro século, após os
evangelhos sinóticos. 4

Destinatário - Parece difícil determinar quais seriam os prováveis destinatários do


evangelho segundo João, pois o próprio autor não os menciona. Entretanto, a esse
respeito, Donald A. Carson afirma 5:

As inferências são em grande parte determinadas pelas conclusões a


que se chega nas áreas de autoria e propósito. Se João, filho de
Zebedeu, escreveu este livro enquanto residia em Éfeso, pode-se inferir
que preparou o livro para leitores dessa região geral do império. Mas ele
pode ter esperado que o livro tivesse a mais ampla circulação possível;
de qualquer forma, a inferência não pode ser mais certa do que a
pressuposição de autoria. (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 191)

Segundo o texto acima, o máximo que se pode fazer na tentativa de


descobrir os destinatários do evangelho em questão são inferências, implicações de
determinadas condições. Contudo, neste ínterim, os autores parecem concluir que
tais inferências não são conclusivas.

Tema e propósito do livro - O tema do livro parece ser Jesus Cristo, o Deus
encarnado, o clímax da revelação de Deus, Aquele que pode e quer transformar a
vida dos homens, e por meio do qual a salvação alcançou a humanidade.

O propósito do livro, conforme Merrill C. Tenney, é apologético, cujo fim é


produzir fé em seus leitores, ou ouvintes de sua leitura (TENNEY, 2008).

5. CONTEXTO LITERÁRIO
a) Gênero Literário – Em João 15:1-6 encontramos uma parábola, a qual inclue
símiles, mas principalmente metáforas. Pode-se dizer que os versos 7 e 8
estão em forma de prosa.

4
The Seventh-day Adventist Bible Comentary. Printed in the U.S.A.: Review and Herald Publishing
Association, Revised, 1980, vol. 5, p.891.
5
Carson, D. A. Introdução ao Novo Testamento / D. A. Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris ; |
tradução Márcio Loureiro Redondo | . – São Paulo : Vida Nova, 1997.
b) Esboço do Livro6

Prólogo: O Verbo de Deus Encarnado (1:1-18)7

A. O Início do Ministério de Jesus (1:19-2:12)


B. Jesus Revela o Pai ao Mundo (2:13-12:50)
C. Jesus Revela o Pai aos Seus Discípulos (13:1-17:26)
D. Paixão e Triunfo (18:1-20:31)
E. Epílogo (21:1-25)

c) Relações entre a passagem, o contexto imediato e o mais amplo. Como o


tema da passagem se relaciona com o tema e a teologia do livro em que se
situa?

Na parábola da videira Jesus não parece querer ensinar algo novo, antes,
contudo, pretende clarificar aos ouvintes algo que Ele já vinha ensinando no
capítulo catorze do evangelho segundo João: o amor a Cristo e a guarda dos Seus
mandamentos (Jo 14:15, 21, 23, 24). Então, no verso trinta e um, Cristo Se
apresenta como o exemplo que Seus discípulos devem seguir, ou seja, assim como
Ele ama o Pai e faz a vontade do Pai, nós também devemos amar o Salvador e
guardar os Seus mandamentos.

Na parábola, Cristo Se apresenta como a videira verdadeira, e nós somos


representados pelos ramos. Assim, a dependência existente entre os ramos e a
videira torna-se um belo exemplo da dependência que deve existir do crente para
com Cristo. Pois como o ramo precisa “permanecer” na videira para dar fruto, os que
professam serem seguidores de Cristo necessitam “permanecer” em Cristo para
produzirem os frutos que Deus, o divino Agricultor, tanto espera que eles deem.

O verbo “permanecer”, por sua vez, pode ser interpretado como uma atitude
de constante obediência aos mandamentos de Cristo. Tal conclusão torna-se
claramente perceptível quando observamos João 15:9-10. É interessante notar que

6
Baseado em: Bruce, Frederick F. João : introdução e comentário. São Paulo, SP: SOCIEDADE
RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA e ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTÃO.
7
Em geral, os estudiosos do Novo Testamento (Bruce Milne, F. F. Bruce, Merril C. Tenney, D. A.
Carson, Douglas J. Moo, Leon Morris) consideram esta passagem como sendo o “prólogo” ou
introdução do evangelho segundo João.
ao mesmo tempo em que guardar os mandamentos de Cristo é apresentado como
uma condição para “permanecer” no amor de Cristo (v.9), na parábola a condição
para a frutificação (a obediência aos mandamentos de Cristo de forma aceitável a
Deus) é estar ligado a Cristo, pois “sem Mim nada podeis fazer”, disse o Mestre (Jo
15:5).

Cristo enfatiza o mandamento que os discípulos deveriam guardar, “que vos


ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”(Jo 15:12). 8 Amor ao próximo, este
parece ser o tema principal na passagem de Jo 15:12-179 e, mais uma vez, Cristo
Se coloca como o exemplo perfeito, ideal, que devemos seguir, ensinando-nos, pois,
que assim como Ele nos amou e entregou Sua vida por nós, devemos amar os
nossos irmãos. Agindo desta forma estaremos sendo testemunhas de Cristo para o
mundo (Jo 13:35; 15:8), seremos condutos por meio dos quais Deus derramará suas
bênçãos sobre o mundo.

Outro assunto que sobressai especialmente nos capítulos 14-17 é a


necessidade de crer que Cristo é o Filho de Deus, o Verbo encarnado, e esta crença
como uma condição necessária não somente à salvação (Jo 17:3), mas também
para uma obediência agradável, aceitável a Deus (Jo 15:4), como já disse Adam
Clark:

O sermão do Senhor, que ele concluiu com a oração registrada neste


capítulo, começa no versículo 13 do capítulo 13, e é um dos mais
excelentes que se podem conceber. O seu sermão no monte mostra
aos homens o que eles devem fazer, a fim de agradar a Deus. Este
sermão ( no evangelho de João ) mostram-lhes como deveriam fazer as
coisas prescritas naquele outro. No primeiro, o leitor percebe uma
moralidade estrita, que sente jamais ser capa de realizar; neste outro, o
leitor percebe que todas as coisas são possíveis para aquele que crê;
porquanto o próprio Deus que o criou virá habitar em seu coração,
capacitando-o a fazer tudo quanto ao Senhor agradar fazer por meio
dele. [...]10

Poder-se-ia fazer a seguinte pergunta em relação à parábola: Por que Cristo


utilizou como elemento principal a videira e não outra árvore qualquer? Há uma boa
razão para isso. Segundo Ralph Gower (2012, p.103), “uma escultura de um cacho

8
Ver também: João 13:34-35; 15:17; 17:11, 21-23.
9
Pode-se fazer um link entre Jo 13:35 e 15:8.
10
Citado por Champlin em O Novo Testamento Interpretado, vol. 2, p.774.
de uvas com frequência adornava o exterior da sinagoga”, isso porque a videira
possuía um significado especial para o povo de Israel, o que pode ser evidenciado
no Salmo 80:8-16, e ainda mais explicitamente em Isaías 5:7.11 Nestas passagens,
portanto, a nação de Israel é apresentada como a videira de Deus.

Por fim, na parábola da Videira e os Ramos, com muita maestria e tremenda


sabedoria, Cristo pintou para Seus ouvintes um quadro comum, mas de onde
poderiam extrair lições preciosíssimas, e imprescindíveis ao crescimento espiritual.

Relação do Texto com Teologia do Livro

O evangelho segundo João enfatiza Jesus como o eterno Filho de Deus, o


Pai, que veio ao mundo para salvar a humanidade. Ele, Cristo, é apresentado como
o clímax da revelação de Deus, pois “o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é
quem o revelou”(Jo 1:18). Os relatos e ensinos contidos no quarto evangelho são
apelos constantes para que o leitor creia que Jesus Cristo é o Filho de Deus.

Na parábola da videira, é possível enxergar sem problemas o tema da


salvação pela graça, bem como da santificação. Em primeiro lugar, porque somente
através de Cristo – a Videira verdadeira, o Caminho, a Verdade e a Vida – pode o
pecador produzir frutos dignos de arrependimento, ser justificado e apresentado
como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12:1). E em segundo lugar,
porque não basta estar conectado a Cristo hoje, mas é vitalmente necessário
permanecer, o que pode significar uma vida de constante obediência a vontade de
Deus.

6. ANÁLISE TEOLÓGICA

O tema da santificação contido na parábola da videira, e mais


especificamente em João 15:7, permeia toda a Bíblia, pois tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento encontram-se passagens em que Deus requer de Seu povo estrita
obediência aos Seus justos preceitos, a Sua vontade (Lv 18:4-5; 20:7-8; 26:3-4; Ef
2:8-10; Mt 12:50)12.

11
Ler Isaías 5:1-7.
12
Ver também Lv 11:44-45; 19:1;26:12-13; Dt 4:40; 5:32; 7:11; 11:8, 13, 22, 32; 18:13.
Embora alguns defendam que a graça de Cristo torna desnecessária a
guarda dos mandamentos da Lei moral, não é isto que a Bíblia ensina. Tão certo
como a fé não anula a lei, antes a confirma (Rm 3:31), assim, também, a graça de
Jesus não anula a nossa necessidade de santificação, antes, a mantém (Ef 2:8-10).
Afinal, “sem a santificação ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14).13

7. CONCLUSÃO
Em vista de tudo o que foi exposto, conclui-se que o ato de “permanecer” em
Cristo significa amá-Lo e guardar os Seus mandamentos, pois essa é a Sua vontade
para nós e, ao mesmo tempo, uma condição para o cumprimento do que está escrito
na segunda parte do texto em João 15:7, que diz: ...“pedireis o que quiserdes e vos
será feito”.
Uma vez que nossa vontade está sob o domínio e regimento de Cristo e Sua
palavra não desejaremos coisa alguma que venha a desagradá-Lo ou fazer-nos mal.
Antes, desejaremos as coisas que são para a glória de Deus e, consequentemente,
para o nosso verdadeiro benefício. O contrário disto pode ser visto na carta de Tiago
4:3 : “pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos
prazeres”.

13
Almeida Edição Contemporânea Revisada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUCE, Frederick F. The Gospel Of John : Introduction, exposition e notes.


Michigan : Grand Rapids, Copyright c 1983.

CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento / D. A. Carson, Douglas J. Moo e


Leon Morris ; | tradução Márcio Loureiro Redondo | . – São Paulo : Vida Nova, 1997.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado : versículo por


versículo: Volume 2: Lucas, João / Russell Norman Champlin. São Paulo: Hagnos,
2014.

GOWER, Ralph. Novo Manual dos Usos & Costumes dos Tempos Bíblicos.
2ªed. Rio de Janeiro, RJ : Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2012.

TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e análise / Merrill C. Tenney ;


tradução Antonio Fernandes; revisado por Walter M. Dunnet. – São Paulo : Shedd
Publicações, 2008, p. 210.

O Novo Testamento Grego – Quarta edição revisada. Barueri, SP: Sociedade


Bíblica do Brasil.

The Seventh-day Adventist Bible Comentary. Printed in the U.S.A.: Review and
Herald Publishing Association, Revised, 1980, vol. 5

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