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O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

Ana Carolina da Veiga Dias

“Então o Senhor Deus declarou: não é bom que o homem esteja só; farei para ele
alguém que o auxilie e lhe corresponda”, está escrito no primeiro livro da Bíblia. Explica o
Catecismo da Igreja Católica que “a Sagrada Escritura começa pela criação do homem e da
mulher, à imagem e semelhança de Deus, e termina com a visão das núpcias do Cordeiro. Do
princípio ao fim, fala do matrimônio e do seu mistério, da sua instituição e do sentido que
Deus lhe deu, da sua origem e da sua finalidade, das suas diversas realizações ao longo da
história da salvação, das suas dificuldades nascidas do pecado e da sua renovação no Senhor,
na Nova Aliança de Cristo e da Igreja”.
No livro à Jovem Esposa diz-se que o matrimônio é “a santa ascensão de uma
montanha em cujo cimo Deus espera”. Esta instituição é em sua origem e essência sagrada,
nas palavras do Papa Leão XIII, “não recebida dos homens, mas fazendo parte da natureza,
visto ser Deus seu autor e ter sido desde o princípio a imagem da Encarnação do Verbo de
Deus”. Tendo a santa união entre homem e mulher sido também maculada pelo pecado,
passando a ser ameaçada pela discórdia, o egoísmo e a infidelidade, quando mandou Seu Filho
Amado, Deus quis renová-la.
Recorda-se que o primeiro milagre de Jesus, por intercessão de sua Mãe Maria, foi nas
bodas de Caná, pelo bem dos noivos. Tendo acabado o vinho da festa, o que na época seria
uma grande desonra e vergonha aos recém-casados, ele transformou água no melhor dos
vinhos. A Igreja vê nesse fato a confirmação da bondade de Deus para com o matrimônio e “o
anúncio de que, doravante, seria um sinal eficaz da presença de Cristo”, um Sacramento.
Os Sacramentos são "forças que saem do Corpo de Cristo para curar as feridas do
pecado e para nos dar a vida nova do Cristo". Pe. Paulo Ricardo ensina que “são as formas que
Jesus escolheu para distribuir ao longo da história, nas várias gerações cristãs, a graça
santificante que brota da Sua Cruz, do Seu Corpo”. Assim sendo, é apenas dentro da Igreja
Católica, pela celebração do Sacramento do Matrimônio, que os noivos podem se unir em
carne, espírito e alma até a morte, recebendo de Deus a benção e as graças que selam sua
comunhão.
Então, explica o Papa Pio XI, com a celebração deste sacramento, quando os cônjuges
começam a submeter-se um ao outro por amor a Cristo, “abrem para si mesmos o tesouro da
graça sacramental, onde podem haurir as forças sobrenaturais para cumprir a sua missão e os
seus deveres fielmente, santamente, com perseverança, até a morte”. Pois, “aos esposos que
procurem viver o matrimônio neste espírito cristão, não serão poupadas as provações e as
renúncias (Cristo não veio a este mundo suprimir o sofrimento); mas terão encontrado a senda
da felicidade terrestre”, completa o autor de A Intimidade Conjugal.
Assim, vê-se que o matrimônio é uma missão confiada por Deus aos esposos e que “a
fidelidade de coração como de corpo é um verdadeiro dever de estado do qual devemos dar
contas a Deus”. A aliança de ouro dos casados, símbolo do compromisso, sobre a qual repousa
a benção da Igreja e de Deus, não representa somente a fidelidade mútua entre eles; bem no
fundo, reclama a fidelidade para com Deus, escreve Dr. M. Kreuser.
“Pode parecer difícil, e até impossível, ligar-se por toda a vida a um ser humano”,
assevera o Catecismo, mas, por ser mesmo difícil, por este sacramento, os esposos podem ser
testemunhas do amor fiel de Deus pelos homens, amor “forte como a morte” que “nem as
águas conseguem apagar”, e, principalmente, da fidelidade de Cristo para com sua Igreja.
São Paulo orienta: "maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela”. Cristo a amou até o fim, até o Calvário, após uma vida inteira de sacrifícios.
Ele se doou pelos homens, pela Igreja, com um alegre e decidido amor, amor em forma de
cruz.
E justamente porque este amor de Deus por nós é irrevogável, infinito e definitivo, e o
amor entre os esposos a sua representação, o vínculo matrimonial é indissolúvel. Após
receberem o Sacramento, os esposos passam a ser uma só carne, não podendo homem
nenhum separar o que Deus uniu. Jesus mesmo disse a seus discípulos: “quem se divorciar de
sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar
de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”, razão pela qual não existe divórcio ou
separação para a Igreja Católica. Nas palavras de São Francisco de Sales: “Deus junta o marido
e a mulher em seu próprio sangue: e por isso é que esta união é tão forte que antes se deve
separar a alma do corpo de um e de outro do que separar-se o marido da mulher”.
Cientes da grandiosidade do matrimônio, que aqueles casais que vivem juntos e ainda
não receberam a benção de Deus a procurem depressa e que aqueles que já foram ou vão ser
agraciados por este sacramento possam ter sempre em mente, como ensina o Papa Pio XI, que
estão juntos “não com vistas a interesses caducos nem para satisfação dos prazeres, mas para
cooperarem juntamente na consecução de bens mais altos e eternos”, que não se esqueçam
de que seu amor não pode ser fundado “somente na inclinação dos sentidos, que em breve se
desvanece”, sofre a lenta usura que corrói todas as coisas humanas. A harmonia entre os
esposos e nos lares não é muitas vezes espontânea nem provém unicamente dos sentimentos,
mas é sempre o resultado do esforço mútuo, da firma decisão e vontade de amar sempre e
para sempre, doando-se e sacrificando-se pela felicidade e santidade do cônjuge.
Que cada esposo e esposa possa exclamar como Santa Gianna Beretta Molla, que
escreveu a seu marido em 1955: “o Senhor me concedeu a graça extraordinária de
compartilhar contigo parte de tua vida. Quero mesmo fazê-lo feliz e ser aquela que você
deseja: bondosa, compreensiva e disposta aos sacrifícios que a vida há de nos oferecer”.

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