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Pequeno Tratado sobre a Santidade pelo Sacramento da Crisma

Para termos comunhão com a Igreja caminhado na luz (Deus e os apóstolos)


O Catecismo da Igreja nos ensina que “a iniciação cristã se realiza pelo conjunto
de três sacramentos: o Batismo, que é o início da vida nova; a Confirmação, que é a sua
consolidação e a Eucaristia, que alimenta o discípulo com o Corpo e o Sangue de Cristo
em vista de sua transformação nele” (1275). Assim, ao receber o sacramento da
Confirmação pode-se dizer que a pessoa está iniciada plenamente no Cristianismo. Por
isso, continua, “é preciso explicar aos fiéis que a recepção desse sacramento é
necessária à consumação da graça batismal” (1285).

Sendo batizados somos chamados a ter comunhão com a Igreja de forma a


caminhar na luz com Deus como fizeram os Apóstolos. Esse caminho torna-se mais
fácil, e, também, um dever para aqueles que são crismados. Isso porque, a confirmação
do fiel, expressa uma relação tripla para o indivíduo.

Essas relações podem ser compreendidas como: A) Dimensão pessoal do


confirmado, onde o dom do Espírito Santo manifestado em Pentecostes é sinal do estado
adulto do cristão. Ao receber a plenitude do Espírito Santo, o crismado recebe o caráter
desse sacramento, que deve expressar-se numa autêntica vivência pessoal como
testemunha daquilo que a Igreja ensina; B) Dimensão comunitária, onde os
confirmados ficam mais perfeitamente vinculados à Igreja e, deste modo, mais
estritamente obrigados a serem testemunhas de Cristo pela palavra e ação, e a
difundirem e defenderem a fé; C) Dimensão do relacionamento com Deus, onde por
esse sacramento a participação na natureza divina torna-se ainda mais profunda. A
própria introdução geral ao rito da confirmação diz: “Por esse dom do Espírito Santo, os
fiéis são configurados mais perfeitamente a Cristo e revestidos de força, a fim de darem
testemunho de Cristo para a edificação de seu corpo na fé e na caridade.

É por essas importantes dimensões que precisamos estar atentos ao sacramento


da confirmação, do contrário, seremos como aqueles que o buscam sem de fato, desejá-
lo, fazendo-o apenas como mero “rito” gerando uma falta de vivência, pois, já que não
se compreende o que significa é impossível viver no que se deve. E, por fim, essa
incoerência cristã termina numa profunda falta de fé, pois se não se vive as realidades
sobrenaturais (espirituais) a fé perde a importância.

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Estrutura segundo a primeira carta de São João
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A Salvação em Cristo e a filiação divina como meio de configuração à Cristo


O Espírito Santo presente na economia da salvação atesta, já no Antigo
Testamento, a preparação para aquilo que seria o Novo Testamento: o povo messiânico
espera a vinda do Messias. Também no Antigo Testamento havia aqueles ungidos
especiais com cargos públicos (profetas, reis e sacerdotes), todavia, no Novo
Testamento todo o povo se torna ungido e, portanto, deve defender e anunciar o Cristo a
todos. Afinal, como diz Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, “o poder de
confessar a fé de Cristo publicamente, é como que em virtude de um ofício (quasi ex
officio)”.

Assim, vemos que este sacramento é o da missionariedade do leigo. Todos os


cristãos precisam professar a fé, porém, muitas vezes ficam esperando que os padres
façam esse trabalho. Não. Todos os crismados receberam este mandato da Igreja de
evangelizar. Pode-se dizer que, assim, conclui-se o mistério pascal de forma mais plena:
Jesus é ressuscitado, sobe aos céus e envia o Espírito Santo sobre a sua Igreja, que se
torna o corpo messiânico.

Dizer isso, significa dizer que a partir da Paixão, morte e ressurreição de Cristo,
somos mais intimamente ligados a Deus. Foi na Cruz, através do sangue e água que
jorraram do lado aberto de Jesus, que a Igreja sacramental nasce, ou seja, é instituído o
batismo, pela água, que abre as portas para todo o povo poder tornar-se Filhos de Deus,
e, pelo sangue, a Eucaristia, que nos alimenta e permite permanecer unidos a Cristo. Ele
sendo a Cabeça e nós somos o seu Corpo. Nos tornando santos e ungidos Nele.

No entanto, o sacramento da Crisma possui uma íntima ligação com o batismo e


com a Eucaristia, por isso, diz o Catecismo: “a liturgia da Crisma começa com a
renovação das promessas batismais e com a profissão de fé dos confirmados. Assim
aparece com clareza que a Confirmação se situa na sequência do Batismo. Quando um
adulto é batizado, recebe imediatamente a confirmação e participa da Eucaristia”
(1298).

Com isso, pela Confirmação, os cristãos, isto é, os que são ungidos, participam
mais intensamente da missão de Jesus e da plenitude do Espírito Santo, de que Jesus é
cumulado, a fim de que toda a vida deles exale "o bom odor de Cristo."

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Estrutura segundo a primeira carta de São João
Pequeno Tratado sobre a Santidade pelo Sacramento da Crisma

A partir dessa unção e integração em Cristo, recebemos também os efeitos


próprios desse sacramento, sendo eles: a efusão especial do Espírito Santo, como
outorgado outrora aos apóstolos; o enraizamento mais profundo da filiação divina; a
união mais sólida a Cristo; o aumento dos dons do Espírito Santo; o aperfeiçoamento do
vínculo com a Igreja; e o recebimento de uma força especial do Espírito Santo para
difundir e defender a fé.

Fidelidade aos Mandamentos e o Rompimento com o pecado

Tendo compreendido a necessidade de comunhão com a Igreja para caminhar na


luz e alcançar a salvação como filhos de Deus, precisamos de uma verdadeira e
autêntica fidelidade a Deus, que se expressa na fidelidade aos seus mandamentos. De
fato, ser fiel aos mandamentos está diretamente ligado ao rompimento com o pecado,
pois, como sabemos, seguir a Lei divina nos aproxima de Deus, o que, necessariamente,
nos afasta do pecado.

É verdade que, afastar-se do pecado, muitas vezes, gera em nós um desconforto


por ter que abandonar as nossas próprias convicções, falsamente criadas para o nosso
comodismo. A luta pela santidade exige do cristão sacrifícios, e é por isso que a própria
palavra “testemunha” é um desdobramento etimológico da palavra martírio que vem do
grego martýrion, que significa "testemunho". Pelo latim eclesiástico, martyriu significa
“sofrimento e suplício de mártir.” Assim, vemos que verdadeiros e Santos cristãos
caminham sempre com o peso da cruz em direção ao Céu, mesmo com sofrimentos,
afinal, “completamos em nosso corpo os sofrimentos de Cristo1”

Essa coragem para ser fiel aos mandamentos e romper com o pecado vem do
Espírito Santo, pois, como foi para os Apóstolos, em Pentecostes, onde, até então,
estavam fechados no cenáculo, com medo, a partir do derramamento do Espírito Santo
saem para testemunhar e até mesmo derramar o próprio sangue, como mártires. O
Pentecostes, portanto, fornece a chave de leitura do sacramento da confirmação e a
forma correta do qual todo crismado deve viver.

Assim, vemos a necessidade de nos purificarmos nesse mundo, através de nossas


orações e obras, para realizar a vontade de Deus em nossas vidas. Esse é o desejo de
Cristo, e, obviamente, da Igreja, como dita o catecismo: “A Igreja não quer que nenhum

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Cl 1,24

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Pequeno Tratado sobre a Santidade pelo Sacramento da Crisma

de seus filhos, mesmo se de tenra idade, deixe este mundo sem ter-se tornado perfeito
pelo Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo” (1314).

O perigo do mundo, a concupiscência da carne e a vitória em Cristo

Ao nos decidirmos por esse caminho de perfeição cristã, precisamos ter em


mente que, assim como Cristo, mesmo que por motivos diferentes, sofreremos quedas.
Enquanto em Cristo as quedas que sofre são devidas ao peso dos pecados de toda a
humanidade do qual Ele carrega em seus ombros, em nós, as quedas são consequências
de nosso próprio pecado, ou seja, de nossa concupiscência.

Desde o pecado original, cometido por nossos primeiros pais, Adão e Eva,
sofremos com a perda dos dons outrora dados a eles por Deus. A justiça original, que
permitia a harmonia da criação, o conhecimento moral infuso, que nos guiava para o
caminho do bem e a própria imortalidade, que permitiria a vivência eterna com Deus, do
qual “escutávamos até os seus passos,” foram perdidos e, ainda, passamos para um
estágio desordenado, em que, por nós mesmos, tendemos para o mal em nossas ações.

Nesse “novo mundo” corrompido com a entrada do pecado, o Cristão precisa


estar continuamente vigilante, para que a corrupção mundana não tome conta de seu
coração. Como sabemos, os sacramentos são os meios sobrenaturais, visíveis e eficazes
para o reordenamento humano. No entanto, a graça sacramental pressupõe a natureza
humana, ou seja, se não cooperarmos com a Graça jamais venceremos esse estágio de
“mortos no pecado” que infelizmente possuímos.

Essa cooperação exige de nós algumas ações e cuidados. Precisamos, ao longo


da vida, estar atentos a Igreja, cujo Cristo é a cabeça e nós os membros, para sermos
santificados e educados na Fé. A partir disso, seremos capazes de formar as nossas
consciências para então tornar a luta contra o mal mais clara e evidente aos nossos
olhos.

A consciência bem formada nos torna melhor disponíveis à Graça do Espírito


Santo, portanto, embebecidos com os Seus dons, cujo na Crisma recebemos a plenitude,
teremos o discernimento necessário para fazer escolhas corretas que nos ajude na
ordenação de nosso coração, e a escapar do perigo de nos tornarmos ou sermos
influenciados pelo “anticristo”, ou seja, aqueles que mesmo conhecendo a vontade de
Deus escolhem o pecado.

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Pequeno Tratado sobre a Santidade pelo Sacramento da Crisma

Nesse processo, aprendemos o que é o amor, ou seja, conhecemos mais


perfeitamente a Deus que atuou na história da salvação da humanidade, entregando o
seu próprio Filho como perfeito e último sacrifício para a redenção dos pecados, através
do derramamento de Seu sangue na Cruz. Eis, aí, a maior prova de amor que
poderíamos dar: Doar a vida por aqueles que a gastam afastando-se de nós (Cristo
morreu por nós ainda pecadores, isto é, deliberadamente distantes de Deus.).

A partir do maior dos exemplos, dado por Deus, para que possamos afastarmo-
nos do mundo, romper com o pecado, sermos autênticos filhos de Deus seguindo os
seus mandamentos como verdadeiras testemunhas, é necessário amar. No entanto, o
desejo de Deus é que movidos por esse amor, amemo-nos uns aos outros, que é
exatamente o oposto daquilo que o mundo nos pede.

Dessa forma, a exemplo da Trindade Santa, precisamos espelhar no mundo o que


chamaremos de “triangulo amoroso cristão” que consiste na necessidade de amar ao
próximo para conseguir amar verdadeiramente a Deus, assim como nos ensina São João
em sua primeira carta (4,20): “Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é
mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus,
a quem não vê.”

Enfim, o verdadeiro Crismado, ou seja, testemunha, ou cristão, ou católico, ou


Santo, pois cada uma dessas palavras significam a mesma coisa para os confirmados
que de fato buscam a Deus, devem viver pela Fé. Somente pela Fé em Jesus Cristo que,
com a Sua ressurreição, nos deu a graça de também vencermos a morte e habitar no seio
da comunhão Trinitária, poderemos, na terra e até mesmo nos céus, sermos verdadeiros
intercessores na Salvação de todos os nossos irmãos.

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Estrutura segundo a primeira carta de São João

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