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Livro Bioenergia
Livro Bioenergia
Situação atual,
Perspectivas,
Barreiras e Propostas
José Goldemberg
Francisco E. B. Nigro
Suani T. Coelho
Goldemberg, José
Bioenergia no estado de São Paulo : situação atual,
perspectivas, barreiras e propostas / José Goldemberg,
Francisco E. B. Nigro, Suani T. Coelho – São Paulo : Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 2008.
152p. : il.
Bibliografia.
Alberto Goldman
Vice-Governador e Secretário de Estado de Desenvolvimento
José Goldemberg
Coordenador da Comissão Especial de Bioenergia
I INTRODUÇÃO GERAL.................................................................................................. 15
VI CONCLUSÕES...................................................................................................................... 137
VI.1 Meio ambiente............................................................................................................ 137
VI.2 Agricultura..................................................................................................................... 138
VI.3 Recursos humanos................................................................................................... 139
VI.4 Energia............................................................................................................................. 139
VI.5 Pesquisa, desenvolvimento e inovação.......................................................... 140
VI.6 Transportes................................................................................................................... 140
80
60
40
20
0
1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano
Fonte: BP Statistical Review – 2007
Pastagem Agricultura
Petróleo
1. Brandão et alii. (2005). Crescimento agrícola no período 1999-2004, explosão da área plantada com soja e
meioambiente no Brasil. Texto para discussão 1.062, Ipea/Dimac.
2000 2004
800
700 1980
1990
600
500
400
1980 2000
300 2005
1990
200
100
0
0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000
80 Outros OCDE
US$
China
60 USA
UE - 27
40
20
0
2004 2005 2006 2007
II.1 Etanol
energia fóssil consumida. O indicador brasileiro para cana tem um valor apro-
ximadamente 5 vezes maior do que o do etanol de milho dos Estados Unidos.
Essa enorme vantagem deve elevar-se ainda mais, se persistirem as rotas atuais.
O avanço da mecanização da colheita, o recolhimento da palha e a produção de
energia elétrica com o bagaço e a palha deverão elevar ainda mais o quociente
entre a energia renovável e a não renovável (Macedo, 2005).
Ao lado desse indicador convém salientar pelo menos mais um, de gran-
de importância para a sustentabilidade do etanol brasileiro no contexto da
agroindústria e do padrão de consumo de combustíveis brasileiros. Ele diz res-
peito à quantidade de terras utilizadas para produzir a quantidade de etanol
– hoje, aproximadamente 4 milhões de hectares2, contra algo em torno de 21
milhões para a soja e 200 milhões de hectares para as pastagens (IBGE, 2007).
O principal indicador econômico da liderança brasileira em etanol refe-
re-se a seus custos de produção, muito inferiores aos que existem em todos
os demais países. Pode-se argumentar, contra essa liderança, que ela se baseia
em custos não contabilizados – ambientais (as queimadas) e sociais (trabalho
em condições pouco edificantes). A despeito dessas práticas remanescentes, que
estão sendo eliminadas, é necessário reconhecer que a sustentação dos custos
de produção baixos não depende da prática das queimadas (Lei estadual no
10.547/00, reformulada pela Lei no 11.241 em 2002) ou do sobreesforço huma-
no. Com a supressão das queimadas e a eliminação daquele sobreesforço (pela
mecanização) ter-se-ia uma redução adicional dos custos de produção médios,
além do aumento de receitas gerado pela energia produzida pela queima da
palha em caldeiras.
Até meados da década de 1970, o álcool não tinha muita importância
econômica no país e sua produção era considerada complementar à produção
de açúcar, sendo, portanto, este produto o que impulsionava a expansão cana-
vieira, principalmente para o atendimento da demanda externa.
Após o primeiro choque do petróleo e o problema no mercado inter-
nacional de açúcar decorrente de superprodução, em 1975 foi introduzido o
Próalcool. A crise subseqüente do petróleo, associada à localização do parque
industrial automotivo brasileiro no Estado de São Paulo, deu impulso à produ-
ção paulista de etanol e incentivou a modernização e consolidação do setor.
Até o final dos anos 80, os veículos movidos exclusivamente a álcool
hidratado representavam 85% dos veículos novos na frota nacional. No entanto
nessa época, problemas de logística no abastecimento, redução dos preços do
petróleo e recuperação dos preços do açúcar no mercado internacional torna-
2. Cerca de 3,2 milhões de hectares adicionais são usados para produção de açúcar.
3. Flex fuel – veículo flexível que opera com gasolina C (gasolina com 20-25% de etanol anidro), álcool etílico
hidratado ou qualquer mistura desses combustíveis.
4. Realizado em novembro de 2007, o segundo prognóstico das áreas plantadas contempla as Regiões Sudes-
te, Sul e Centro-Oeste e os Estados de Rondônia, Maranhão, Piauí e Bahia. As informações da pesquisa do
prognóstico representam 85,6% da produção nacional prevista. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/
presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1050&id_pagina=1. Acesso em 19/1/2008.
5. http://www.unica.com.br
350
Milhões
o de cana (t)
300
250
200
150
Produção
100
50
Ano safra
Fonte: Canaplan
20
milhões de m³ /ano
15
10
Ano - Safra
10
Ano - safra
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da UNICA (2008)
O Estado de São Paulo respondeu por 69% da cana moída na safra 07/08,
na Região Centro/Sul. Mesmo com o crescimento dos outros Estados, SP deverá
responder por 67% a 68% da safra 08/09, em curso no Centro/Sul. Em termos
dos produtos obtidos, São Paulo respondeu por 73% do açúcar produzido na
região; a produção de etanol paulista correspondeu a 66% do total do Centro/
Sul, sendo diferente a proporção entre os tipos: o anidro respondeu por 69% do
obtido na região, e o hidratado por 63%. Da área total ocupada com cana, 3,9
milhões de hectares foram colhidos para a produção de açúcar e álcool.
Na verdade, justificam-se as preocupações com a expansão da cultura da
cana-de-açúcar no Estado. O aumento da área cultivada foi de 7% ao ano em
média nos últimos seis anos.
Fonte: TR 2
II.2 Biodiesel
Fonte: Conab (2007), IBGE (2005) e MDIC/Secex (2007); dados trabalhados pelos autores do TR 1
*Os itens produção, importação, exportação e disponibilidade referem-se a tonelada de óleo
1 Referem-se às exportações de óleo bruto
Usina Piloto
Em planejamento
4500
4501 - 15000 Paraíso
Catanduva
15001- 40000
40001- 60000
Lins São Simão
60001- 227000
Tupã
Em construção
600
601 - 100000 Charqueada
60001- 120000
Construída, produzindo
750
751 - 6000
6001 - 17000
17001- 60000
Fonte: TR 2
Figura 10. Evolução das áreas de vegetação nativa no Estado de São Paulo
3
1973
2,5
1989
hectares
2 2000
milhões de h
1,5
0,5
0
Mata Capoeira Cerradão Cerrado Campo
5
4,5 Nativa
4 Plantada
e hectares
3,5
3
2 5
2,5
milhões de
2
1,5
1
0,5
0
1973 1989 2000 2006
Ano
80
60
40
20
0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
25
1991
milhões de m³ stereos
20 2005
15
10
0
Indústria Energia Serrada
40
35
30
milhões de m ³ stereos
25
20
15
10
Outros usos
5 Energia
0 Indústria
Consumo
Produção
38000 Produtores
Fonte: modificado de PDFS, 1993, conforme TR 12.
9. Cogeração é o processo de produção simultânea de energia elétrica e térmica a partir de uma mesma
fonte, no caso o bagaço da cana.
10. Proinfa – Programa, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), estabelece a contratação de
3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), produzidos por fontes eólica, biomassa e
pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), sendo 1.100 MW de cada fonte.
11. MWmédio refere-se à energia total fornecida no ano (MWh) dividida pelo número total de horas do ano.
Etanol 152
Petróleo 1
Hidroeletricidade 3
Carvão 4
Empregos/energia (petróleo=1)
Fonte: Goldemberg (2002)
Química/Petroquímica 220
Metalurgia 145
Bens de Capital 98
Automobilística 91
Intermediária 70
Bens de Consumo 44
Etanol (agro+ind) 11
1000 US$/ Emprego
Fonte: Goldemberg (2002)
Figura 17. Contratações mensais dos cortadores de cana no Estado São Paulo
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
Jan/03 Jul/03 Jan/04 Jul/04 Jan/05 Jul/05 Jan/06 Jul/06 Jan/07
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
Jan/03 Jul/03 Jan/04 Jul/04 Jan/05 Jul/05 Jan/06 Jul/06 Jan/07
Conforme os dados da Canaplan, 2007 (TR 2), 31% da área colhida em São
Paulo foi realizada com máquina, sendo que 76% dela foi mecanizada sem queima12.
Após o Decreto federal no 2.661/98, o Estado de São Paulo editou a Lei estadual
no 10.547/00, reformulada pela Lei no 11.241 em setembro de 2002, estabelecendo
um cronograma para erradicar a queima da cana no Estado com fins de proteção
ambiental (conforme discutido adiante, no capitulo III.5.) e mitigar a emissão de gases
poluentes emitidos. Segundo esta legislação, a área mecanizável a ser colhida crua,
deve atingir 50% em 2010. Na realidade, em nota do Protocolo Ambiental da Secre-
taria de Meio Ambiente (TR 4), estes índices atingiram 47% em 2007. Apesar disso,
conforme figuras 17 e 18, não houve redução no número de empregos no setor, por
causa da elevada taxa média de crescimento da área colhida no Estado nos últimos
5 anos, da ordem de 8% a.a. (Lora, 2006). Note-se que, de 2007 para 2008, a área de
cana colhida cresceu 17%, conforme a Secretaria de Meio Ambiente do Estado.
Vale mencionar, também, que o Estado de São Paulo ainda recebe traba-
lhadores de outros Estados para o corte da cana-de-açúcar (55 mil migrantes do
norte de Minas Gerais e dos Estados do Nordeste, segundo os sindicatos rurais).
12. Informações da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo mostram que na safra 2006/2007
a colheita mecanizada de cana correspondeu a 34% da cana colhida e que, em 2007/2008, esta fração
passou para 47%. Estes dados indicam, inclusive, uma redução da área de cana queimada.
Tabela 3. Distribuição das ocupações (%) por grau de instrução no setor
sucroalcooleiro, Estado de São Paulo, 2007
máquinas nas áreas mecanizáveis15 para o ano de 2021 e a partir de 2031 nas
áreas atualmente não-mecanizáveis. O prazo maior pressupõe que a tecnologia
do maquinário de corte será adaptada para o atendimento de áreas com maior
declividade. A legislação também estabelece a instituição gradual da mecaniza-
ção antes desses prazos; por exemplo, até 2016, 80% das áreas de pouco declive
devem estar mecanizadas e 10% das áreas atualmente não mecanizáveis devem
ser mecanizadas.
Além disto, conforme já mencionado na seção II.5, visando um acordo
entre usineiros e ambientalistas, foi assinado o Protocolo Agroambiental em 2007.
Este antecipa para 2014 o fim da queima da palha da cana-de-açúcar nas la-
vouras mecanizáveis do Estado de São Paulo e, para 2017, nas áreas atualmente
não-mecanizáveis. Este protocolo que tem caráter voluntário apresentava ade-
são, em março de 2008, de 85% das usinas do Estado e também da Associação
dos Fornecedores de Cana. Para as áreas mecanizáveis, a previsão é que 70%
do total esteja mecanizado até 2010.
Como resultado prático, observa-se que, apesar do aumento da área
colhida de cana na última safra em 548 mil hectares (17%), houve redução da
área queimada em 108 mil hectares e já foram declarados aproximadamente
117 mil hectares de matas ciliares para proteção ambiental.
Por sua vez, o biodiesel é uma proposta promissora, que deve ser bem
estudada e equacionada, quanto a balanços energético e de carbono, emissões
em motores e efluentes líquidos (principalmente os que contenham metanol).
Conforme ensaios realizados no IPT (Nigro, 2007), as emissões em mo-
tores representativos da frota nacional mostram um acréscimo de 1,9% nas
emissões de NOx e reduções de 3% nas emissões de CO, 4% nas de hidrocar-
bonetos e 2,5% nas de material particulado, para cada 10% de biodiesel (etílico
ou metílico de mamona ou de soja) adicionado ao diesel. Além disso, por ser um
combustível derivado da biomassa (renovável), apresenta balanço de carbono
mais favorável do que o diesel. Os dados atualmente disponíveis, para o biodie-
sel de soja, nas condições brasileiras, indicam um balanço energético (baseado
na análise do ciclo de vida) de 2,7:1, conforme estudo do CENBIO/USP com o
IPT para o Ministério de Ciência e Tecnologia em 2007.
Quanto ao biogás, produzido a partir de aterros sanitários, efluentes líqui-
dos e resíduos rurais, ele oferece uma interessante oportunidade para gerenciar
corretamente os resíduos orgânicos, simultaneamente à geração de energia,
conforme já discutido anteriormente. A recuperação de biogás é uma forma
Paulo tem hoje duas principais fontes de informação: o mapa dos solos, com
baixa intensidade (1:500.000), que cobre toda a superfície do Estado; e o
mapa em escala 1:100.000, que cobre cerca de 15% da área nas regiões cen-
tral, leste e em torno do município de Marília, e que é uma escala compatível
com o zoneamento ecológico-econômico do Estado.
No dia 18 de setembro de 2008 as secretarias de Meio Ambiente e de
Abastecimento e Agricultura do Estado editaram a Resolução conjunta SMA-SAA
N 004 que dispõe sobre o Zoneamento Agroambiental para o setor sucroalcoo-
leiro no Estado, a qual será discutida em maiores detalhes no capítulo III.
Automóveis Caminhões
Tratores de Rodas
Comerciais Leves
+ de 1000 cc a
Tributos
Ônibus
+ de 2000 cc
Caminhão-
Caminhão-
Trator
Gás/Álc/
Flexfuel Gasolina Álc/ Álc/
Gasolina
Flexfuel Flexfuel
IPI 9,0 15,0 13,0 25,0 20,0 10,0 5,0 5,0 0,0 5,0
2002 ICMS 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 7,0
e
2003 PIS/Cofins16 8,26 8,26 8,26 8,26 8,26 8,26 5,77 4,29 4,29 4,29
% no preço total 27,9 34,2 31,7 26,0 20,4 19,2 15,5 14,3
IPI 7,0 13,0 11,0 25,0 18,0 8,0 5,0 5,0 0,0 0,0*
2004
ICMS 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 7,0
a
2007 PIS/Cofins17 11,60 11,60 11,60 11,60 11,60 11,60 8,10 6,02 6,02 6,02
% no preço total 27,1 30,4 29,2 36,4 33,1 27,3 22,2 20,6 20,6 12,0*
Fonte: Anfavea
Posição em 31 de dezembro de cada ano
(*)Nova posição a partir de 1o/1/2006, em virtude do decreto federal 5.618/2005 (DOU de 13/12/2005},
que reduziu de 5% para 0% a alíquota do IPI. Antes, a participação no preço, com IPI de 5% era de 15,6%.
16 . A partir de 1o/11/2002, recolhimento de PIS e Cofins dos fornecedores e concessionárias pelos fabrican-
tes por substituição tributária - Lei federal no 10.485 de 3/7/2002.
17. A partir de 1o/7/2004, recolhimento de PIS e Cofins pelo sistema não-cumulativo. Lei federal no 10.865
de 30/4/2004.
0,2
0,15
0,1
0,05
0
MG
GO
AM
MA
MS
AC
RO
RN
MT
TO
SC
BA
CE
PA
AP
DF
RS
SE
ES
RR
AL
PB
SP
PR
PE
RJ
PI
Para o álcool, a menor alíquota é 12% (SP) e a maior 30% (PA), com uma
média de 24%. No caso do Estado de São Paulo, a alíquota de 12% para o álcool
hidratado (contra 25% para gasolina C) faz com que o álcool seja economica-
mente mais competitivo com a gasolina do que em outros Estados. Entretanto,
esse tipo de benefício impõe limitação à expansão do etanol em outros Estados
porque não permite tratar uniformemente o mercado brasileiro.
Para o biodiesel, que é misturado obrigatoriamente ao diesel na pro-
porção de 3% em volume, há incidência monofásica de PIS/Cofins no produ-
tor industrial com desoneração total ou parcial da tributação, em função do
tipo de produtor, região e oleaginosa, com alíquotas menores para Norte e
Nordeste e para os produtos que apresentem o selo social. Este selo é con-
cedido pelo governo federal para produtores que adquirem uma quantidade
de matéria-prima de agricultores familiares (no Nordeste e semi-árido, a
quantidade mínima é de 50%, no Sudeste-Sul é 30% e no Norte e Centro-
Oeste é 10%).
Nesse caso, os incentivos ou reduções variáveis nas alíquotas de PIS/Pa-
sep e Cofins dependem da origem da matéria-prima e da região do país: a taxa
cobrada é de R$ 0,22/l para os produtores que não têm o selo e que compram
todo tipo de matéria-prima em qualquer região do país; de R$ 0,15/l para os
que não têm o selo, mas utilizam palma e mamona originárias das Regiões
Norte e Nordeste; de R$ 0,07/l para os que foram certificados com o selo,
mas adquirem matéria-prima de qualquer região; e nula para os que têm o selo
e utilizam palma e mamona vindas do Norte e do Nordeste (Moreira e Vilela,
2007, apud Gorren, 2008).
As alíquotas de ICMS também variam conforme a Unidade da Federação,
para o caso do biodiesel, indo de 12% (RS) até 19% (Rio de Janeiro), sendo a
média igual a 17%.
diesel existem cinco normas brasileiras em vigor, uma delas aplicável apenas ao
biodiesel de mamona. Além das normas nacionais, no contexto dos biocombus-
tíveis também são amplamente utilizadas as normas norte-americanas emitidas
pela American Society for Testing Materials (ASTM).
A necessidade de garantia e controle da qualidade das medições quími-
cas, a importância de se diminuir custos e evitar duplicação de análises, conferem
uma importância crescente à utilização de Materiais de Referência Certificados
– MRC’s, que são rastreados a referências nacionais ou internacionais, e que são
utilizados na validação e controle da qualidade de métodos e na calibração de
instrumentos analíticos.
Embora o Brasil seja há muito tempo, um dos maiores produtores mundiais
de álcool etílico e de ter adotado um conjunto extenso de ações por parte do go-
verno federal com o objetivo de pôr em prática um grande programa de produção
de biodiesel, é fato que ainda não está disponível no Brasil qualquer material de
referência certificado específico para esses produtos. Entretanto o Inmetro e o IPT
vem trabalhando nesta área e devem apresentar em breve seus resultados.
Neste contexto, os MRC’s tornam-se estratégicos no sentido de vencer
as barreiras comerciais fortemente regulamentadas no fórum da Organização
Mundial do Comércio OMC e, principalmente, as técnicas interpostas pelos países
desenvolvidos que, geralmente, querem proteger sua própria produção.
Mediante o acordo de cooperação Brasil – Estados Unidos na área de eta-
nol, o Inmetro junto com o NIST (National Institute for Standards and Technology),
sua contraparte norte-americana, ficaram incumbidos de realizar um levantamen-
to das necessidades metrológicas dos dois países no âmbito das suas relações
técnicas e comerciais específicas. Um dos itens de pauta é o de MRC’s de etanol,
que está em discussão entre essas instituições. Além deste item, outros temas
também são abordados, como o das especificações de etanol, compatibilidade
de normalização, entre outros, contando com diferentes parceiros em cada caso
específico, tais como ASTM e ABNT, nas questões de normalização.
Para que seja garantida a qualidade dos combustíveis comercializados no
Estado de São Paulo, atualmente existem programas de monitoramento e fiscali-
zação de amostras, promovidos pela ANP e pela Secretaria de Estado dos Negó-
cios da Fazenda de São Paulo e alguns controles realizados pelo Ministério Público
e Delegacias de Segurança Pública – geralmente baseados em denúncias.
A ANP, desde 1999, por meio de convênios estabelecidos com institu-
tos de pesquisas e universidades, tem avaliado a qualidade dos combustíveis
comercializados no Estado de São Paulo, mapeando as não-conformidades e
direcionando as ações de fiscalização desta agência. A partir de junho de 2006,
a mistura óleo diesel/biodiesel (B2) comercializada nos postos revendedores,
passou, também, a ser avaliada por este monitoramento.
Diesel
10
AEHC
8
Não - conform
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 jan - jul
2008
Ano
Fonte: ANPc
ROTA 1
Serviços
Fluxo
Base de Fluxo de Entrega
Primário
distribuição Revendedores/
e/ou Base no Exterior
Mistura
Central de coleta
Base de distribuição/
B.de Distribuição
Grandes Clientes/
Fluxo ou Mistura
Fluxo de
Porto
Primário
Transferência
Equipamentos
ROTA 2
Fonte: TR 9
5
Superávit anual de e tanol (m³)
-1
Total
Tipo DER Concessões DERSA Estadual Federal Municipal Total
Fonte: Transpetro
18. Plano Decenal de Expansão de Energia 2007/2016 – MME- Capítulo VII, pág. 770
19. Plano Decenal de Expansão de Energia 2007/2016 – MME - Capítulo VII, pág. 769 e 770.
anuais de US$ 30 milhões; após um período de redução, volta hoje para cerca
de US$ 20 milhões. Em média, cerca de 60% desse orçamento foi dedicado ao
desenvolvimento de variedades de cana. O CTC teve uma característica impor-
tante, a de ter trabalhado muitos anos nas áreas agrícola e industrial. Atualmente
existem investimentos privados adicionais importantes em transformação gené-
tica da cana e bioinformática.
Ainda em São Paulo, a FAPESP investiu cerca de US$ 6 milhões em
programas relacionados ao etanol de 1992 a 2005 (FAPESP, 2007). Deste total,
26% foi usado em bolsas de estudo (formação de pessoal), 11% em programas
regulares (pequenos projetos de pesquisa) e 63% em projetos especiais (entre
os quais o mapeamento genético da cana, com o CTC e o processo de hidrólise
rápida, com a Dedini).
Conforme o CNPq, em 2004 havia no Brasil pelo menos 42 grupos de
pesquisa trabalhando na agricultura da cana-de-açúcar (com cerca de 255 douto-
res) (FAPESP 2007), sendo os principais no IAC e na ESALQ. Também o nível da
tecnologia brasileira para produção de etanol combustível é considerado o melhor
do mundo (como atestam os custos de produção e as eficiências de conversão).
Por tudo isso, na área de pesquisa em cana-de-açúcar, o Brasil mostra o maior
número de publicações técnicas no mundo entre 2001 e 2005 e, em pesquisa de
etanol combustível, aparece em terceiro lugar (etanol de milho incluído).
Observe-se que a atuação cientifica é reduzida (assim como nossos re-
sultados publicados) quando se trata de tecnologias radicais, que serão as cha-
ves para o sucesso de nossa produção/uso de etanol no futuro: hidrólise de
celulose, células de combustível a etanol e gaseificação de biomassa.
Esses dados, juntamente com a quase nula participação do Brasil em
patentes relativas à cana-de-açúcar, etanol combustível ou hidrólise (como
exemplo de tecnologia disruptiva) (FAPESP, 2007), mostram que nossa posição
competitiva pode ser abalada no futuro se não houver muito mais pesquisa e
desenvolvimento na área de transformação industrial da cana.
O estágio de evolução tecnológica da produção e uso do etanol em São
Paulo tem sido extensamente discutido e é bem conhecido. A evolução entre
1975 e 2000 pode ser indicada por:
• acréscimo de 33% na produtividade agrícola (t cana / ha);
• acréscimo de 8% no teor de sacarose na cana;
• acréscimo de 14% no rendimento de conversão industrial para etanol;
• acréscimo de 130% na produtividade da fermentação.
Isto levou a produção no Centro-Sul do Brasil a apresentar parâmetros
como abaixo (Seabra, 2006):
• produtividade: 82,4 toneladas de cana por hectare (tc/ha), sem irrigação;
• teor de sacarose (pol) na cana de 14,5%;
dentre as quais cinco eram empresas privadas: Duratex, Eucatex, Ripasa, Suzano
e VCP (IPEF, 2002). De todo modo, convém ressaltar que apenas parte dessas
atividades apresentava alguma relação direta com temas energéticos.
Por conta da adoção de novas tecnologias, a silvicultura de interesse para
as aplicações energéticas evoluiu de forma expressiva nas duas últimas décadas,
levando o incremento médio anual (IMA) das formações de eucalipto a se
elevar de 25 para 50 m3st/ha.ano21 nas florestas comerciais bem administradas
(Bacha, 2006).
Esse valor é bastante superior ao alcançado nos países de clima tempera-
do, cujas condições climáticas têm limitado tal incremento em níveis inferiores a
10 m3st/ha.ano. Esses números são suficientes para indicar o potencial brasileiro
e os avanços já conseguidos. Do ponto de vista da utilização da biomassa lenho-
sa, especialmente para geração de calor em fornos e caldeiras, equipamentos
em geral produzidos pelos mesmos fabricantes que atendem o setor canavieiro,
as tecnologias convencionais estão disponíveis no Brasil e apresentam boa efi-
ciência, podendo incorporar sistemas de limpeza de gases e controle automa-
tizados. Processos inovadores para essas aplicações, como combustão em leito
fluidizado, já estão em fase de comercialização.
As tecnologias com gaseificação de biomassa têm sido pouco utilizadas;
entretanto é importante mencionar a empresa localizada em Campinas, Termo-
quip, fundada em 1981 e detentora de tecnologia própria, que oferece gasei-
ficadores de diversas concepções (co-corrente, co-corrente de duplo estágio,
com fluxo cruzado e com leito fluidizado) com bom desempenho e capacidade
entre 0,5 a 5 Gcal/h (Termoquip, 2007).
O quadro tecnológico no exterior é similar: os sistemas de combustão
direta de biomassa para aplicações industriais mostram uma tecnologia madu-
ra, enquanto os sistemas com gaseificação ainda estão em desenvolvimento,
visando ampliar o campo de combustíveis utilizados e aperfeiçoar os projetos
térmicos, especialmente nos procedimentos de alimentação de combustível e
controle operacional, buscando uma operação estável, com baixas emissões e
boa conversão energética.
Com relação aos processos de biodigestão anaeróbia que permitem re-
duzir o potencial poluidor e valorizar energeticamente, pela produção de biogás,
o material orgânico contido em efluentes líquidos e resíduos urbanos, três ver-
tentes principais devem ser consideradas: os biodigestores rurais, os biodigesto-
res de fluxo ascendente com manto de lodo (Upflow Anaerobic Sludge Blanket
- UASB) e os sistemas de coleta e tratamento de biogás em aterros sanitários.
gênio) por m3 de digestor, com uma redução de 70% a 80% do DQO (Prosab,
2003). Para os aterros sanitários, o reduzido número de sistemas demonstra
que cabe ainda fomentar seu estudo e efetiva difusão. Reitere-se que apesar da
possibilidade de produzirem energia, tais unidades vêm se justificando principal-
mente por motivos ambientais e, em muitos casos, o biogás gerado é queimado
em flares sem qualquer uso.
Para todas as tecnologias de biodigestão comentadas, a utilização do bio-
gás produzido é de grande interesse mas relativamente incipiente, sobretudo
considerando as possibilidades de uso em motores e turbinas de combustão
interna e eventual geração de energia elétrica. Excetuando-se os estudos ex-
perimentais realizados pelo CENBIO nesse sentido (CENBIO, 2005a e 2005b ),
praticamente não se dispõem de trabalhos dirigidos para implementar o uso do
biogás, inclusive considerando as condições e implicações para seu emprego em
mistura com outros gases combustíveis, como o gás natural.
São Paulo tem uma boa base de recursos nesse sentido, com diversas
instituições atuantes em bioenergia, em suas múltiplas acepções, podendo se
destacar entre elas duas unidades no âmbito da Universidade de São Paulo: o
CENBIO, já mencionado acima, e o Pólo Nacional de Biocombustíveis, localiza-
do na Esalq em Piracicaba. Na Unicamp deve ser mencionado o Nipe – Núcleo
Interdisciplinar de Planejamento Energético, que tem realizado diversos estudos
para os biocombustíveis. Essas unidades têm se aplicado no estudo dos biocom-
bustíveis, com ênfase no etanol de cana-de-açúcar, mas também têm efetuado
estudos sobre biodiesel e outras formas de bioenergia.
O mais consolidado e abrangente desses centros é o CENBIO, que reali-
za principalmente estudos técnico-econômicos e desenvolve diversos projetos-
piloto de sistemas bioenergéticos, utilizando biogás de plantas de tratamento de
esgotos, óleos vegetais no contexto amazônico, sistemas de gasificação de resí-
duos agroindustriais, entre outros22. O Pólo Nacional de Biocombustíveis foi ins-
talado recentemente e tem se dedicado aos estudos de viabilidade e potencial
de biocombustíveis líquidos. Especificamente direcionado ao biodiesel e com
menor número de pesquisadores, o Ladetel, Laboratório de Desenvolvimento
de Tecnologias Limpas, situado no Departamento de Química da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP informa ter desenvolvido
tecnologia própria para plantas de transesterificação, que foi exportada para
duas unidades construídas nos Estados Unidos (FAPESP, 2007).
Finalmente, quanto ao biodiesel e como observado anteriormente, trata-
se de um programa bioenergético em seus primeiros estágios e seria equivoca-
22. http://cenbio.iee.usp.br
23. Muito curiosamente, ao mesmo tempo em que o petróleo é livremente importado, o seu substituto
ambiental sofre toda sorte de restrições, incluindo a proibição de substituir o MTBE.
III.1 Etanol
50 Moto - Gasolina
40 Auto - Flex
30
Auto - Etanol
20
Auto - GNV
10
Auto - Gasolina
0
Vendas de autos exp.
6% a.a. e de motos
10% a. a
40
AEHC
Milhões
35 Gasolina lex
60% F
30 GNV/10³
40% Flex
Volume Anual (m³)
25
20% Flex
20
15
10
Ano
Fonte: Cálculo dos autores
Figura 28. Fração da frota de veículos flexíveis operando com AEHC em função da
relação de preços entre o AEHC e a gasolina C, nos postos, em cada unidade da
Federação.
100%
90% outros
80% BA
CE
70%
DF
60%
GO
Fração Flex a AEHC
50% MG
40% PR
PE
30%
RJ
20% RS
10% SC
0% SP
40% 50% 60% 70% 80% 90%
Tabela 7. Fração da frota de veículos flexíveis que utilizam AEHC, para dois cenários
de preço de etanol e de petróleo
Produção expandindo
8,5%
a.a.
45
40 Vendas de autos exp. 6% a.a. e de
motos 10% a.a.
35 Exportação expandindo 14% a.a.
volume Anual (m³)
30
25
20
15
10
5
0
Ano
Fonte: Cálculo dos autores
14
12
milhões de ha
10
Figura 31. Estimativa da área de cana para indústria para produção de álcool e açúcar
em São Paulo
6
milhões de ha
2006 2012
Produção de Produção de
Produção de etanol Produção de etanol
matéria-prima matéria-prima
milhões Participação Total Para milhões Participação Total Para
litros (Mt) etanol litros (Mt) etanol
(Mt) (Mt)
Trigo 504 32,3% 109,3 1,4 4.034 40% 135,9 11,2
Cevada 440 28,2% 53,6 1,1 440 4% 46,1 1,1
Milho 200 12,8% 44,6 0,5 1.291 13% 51,9 3,2
Centeio 200 12,8% 7,8 0,5 200 2% 9,1 0,5
Beterraba 88 5,6% 141,7 0,8 3.864 38% 120,7 35,2
Vinho 128 8,2% - - 256 3% - -
Total 1.560 100% 357 4,3 10.085 100% 363,7 51,2
Fonte: Jank et al, 2007
27. A produção de biodiesel nos Estados Unidos é mínima, relativamente ao etanol: em 2005 produziu 290
milhões de litros contra 15 bilhões de litros, respectivamente (Unctad, 2006).
Produção
300
Etanol
250
milhões de ton eladas
200
150
100
50
Fonte: Earth-Policy.org
instalada indicam 45,2 bilhões de litros em 2009. Com uma capacidade ociosa
de 10%, os EUA seriam capazes de produzir 41,7 bilhões de litros em 2012
(47% a mais do que as metas do RFS), demandando 107 milhões de toneladas
de milho. Isto representa 7,4% da demanda por gasolina.
No Brasil, conforme analisado no TR 3, a capacidade instalada no setor
industrial tem respondido ao grande crescimento dos últimos anos. Embora o
modelo tradicional seja o fornecimento de usinas completas (chave na mão ou
turn-key), apenas algumas poucas unidades foram vendidas completas pela Dedi-
ni, sendo as demais implantadas com participação (elevada) da empresa.
Esta lógica dos investimentos das novas usinas em instalação, em conti-
nuidade a um modelo tradicional, ressalta uma percepção, pelos investidores,
de que o fornecimento da usina completa, chave na mão, custa mais caro e
não oferece vantagens significativas que compensem os custos de investimento
adicionais. Correta ou não, esta percepção contribui para explicar os patamares
diferenciados de produção e eficiência que existem no setor.
Uma alternativa – em contraposição ao modelo chave na mão – é o EPC
– Engineering, Procurement and Construction – baseado na parceria entre forne-
cedores (especializados) de equipamentos, firmas de engenharia (uma dezena
de empresas especializadas e bastante competentes), prestadores de serviços e
a usina (em formação ou em expansão). Uma das principais vantagens do EPC,
segundo os seus defensores, é a flexibilidade de aquisição de equipamentos, por
abrir a possibilidade de compra de vários fornecedores, permitindo uma análise
das condições de preço e prazo de entrega. É possível argumentar que a princi-
pal vantagem seja a condição que ela abre aos fabricantes de equipamentos par-
ciais de participarem do fornecimento de soluções integradas, sem perderem o
seu foco e a correspondente especialização no respectivo segmento.
Com relação à cadeia agrícola, conforme apresentado no TR 2, o setor
apresenta boas perspectivas de continuar a ser adequadamente estruturado,
com tendência de aumento na produtividade agrícola.
A expansão da cana-de-açúcar continuará dependendo de três fatores
principais: qualidade do solo; precipitação pluviométrica e logística. Determinado
por investimentos intensificando a logística no campo, e reduzindo a distância
econômica entre as várias importantes áreas de escoamento para os portos, é
esperado um aumento no valor da terra. Isto deve ocorrer na região do Triân-
gulo Mineiro e porção sul do Estado de Goiás, com investimentos em rede de
alcooldutos, atualmente em análise pela Petrobras e com grande possibilidade
de ocorrer em razão de compromissos assumidos pelo governo de Goiás.
A cana-de-açúcar não é uma cultura prejudicial ao solo, com razoável
adaptação aos terrenos com fertilidade média e alta porosidade ou permea-
bilidade, isto é, solos arenosos. Obviamente, uma terra com maior fertilidade
III.2 Biodiesel
Tabela 9. Estimativa da demanda por biodiesel por região geográfica – Brasil, 2008 a 2011
Demanda (m3)
Região por B5 (m3) (m3) (m3)
B2 - 2008 B3 - 2009* B5 - 2011
Norte 80.000 123.000 210.000
Nordeste 124.000 192.000 329.000
Sudeste 375.000 577.000 986.000
São Paulo 200.000 308.000 526.500
Sul 170.000 263.000 451.000
Centro-Oeste 99.000 153.000 263.000
Brasil 848.000 1.308.000 2.237.000
Fonte: Projetada pelo TR 1 e adaptada pelos autores, com base em dados do Balanço Energético Nacional de 2007
Nota: * B3 a partir de 1° de julho de 2008
Tabela 10. Capacidade de produção das usinas de biodiesel, por região geográfica e
para o Estado de São Paulo, julho/2008.
Norte 137.100
Nordeste 525.700
Sudeste 716.440
São Paulo 646.740
Sul 733.100
Centro-Oeste 483.300
Brasil 2.595.640
Fonte: ANP
Pereira (2004). O mercado chinês tem sido o destino da maior parte das
exportações brasileiras de soja em grão28.
O Estado de São Paulo tem pequena participação na oferta da maioria
das oleaginosas, com exceção do amendoim, do qual o Estado é o maior produ-
tor. Entretanto, conforme mencionado, o grão passou a ser destinado principal-
mente à indústria confeiteira e ao consumo in natura. Em termos de oleaginosas
o Estado apresenta um quadro deficitário que possivelmente se manterá para
o biodiesel. A melhor perspectiva para o Estado, em termos de produção de
biodiesel, é a utilização de gorduras animais, em decorrência da grande concen-
tração de frigoríficos e abatedouros, que poderiam responder por cerca de 200
milhões de litros por ano.
Pelo acima exposto e pela pouca competitividade com o óleo diesel
(uma vez que a mesma tendência de elevação dos preços internacionais do
petróleo tem sido acompanhada pelos preços das oleaginosas), as perspectivas
futuras de utilização de biodiesel ficarão restritas ao porcentual mandatório da
legislação. Enquanto o sistema de ciência e tecnologia não desenvolver varieda-
des de oleaginosas que sejam produtivas em solos com pouca aptidão para cul-
tura de alimentos e, portanto, de menor valor econômico, o biodiesel manterá
a necessidade de subsídios.
28. A
s aquisições da China passaram de apenas 0,41% para 29,5% das exportações brasileiras de soja entre
1996 e 2004, conforme Perez e Barbosa (2005).
Funções ENERGIA
Ambientais
PROCESSO
Florestas ENERGIA
SERRARIA
Funções
Produtivas ENERGIA
Fonte: TR 12
Tabela 11. Projeção da demanda por madeira no Estado de São Paulo em 2032
1% a.a. 3% a.a.
Crescimento da demanda (vegetativo) (otimista)
Demanda total (em 106 m3 c/ casca) 48,7 79,6
Demanda energética(em 10 m c/ casca)
6 3
17,0 27,8
Área reflorestada (em 106 hectares) 1,21 1,99
Fonte: TR12
III.4 Cogeração
29. Esses leilões são organizados pela Aneel, visando a compra de energia de produtores
independentes.
30. No leilão realizado em setembro de 2008 foram comercializados 184 MWmédio de
energia gerada por usinas do Estado de São Paulo.
Tabela 12. Parâmetros utilizados e resultados da simulação com queima de bagaço e palha
Montante comercializado
Total a ser
Ano comercializado (MWméd) nos leilões de energia Leilão em São Paulo
(MWméd)
2007 875 - -
2008 891 16 1° Leilão de Energia Nova
2009 980 89 1° Leilão + 2° Leilão
2010 1.054 74 Leilão de Fontes Alternativas
2011 1.093 39 3° Leilão de Energia Nova
Fonte: TR 8
31. UNICA
32. Coerente com estimativa COGEN Novembro 2005 – cerca de 3300 MW em 144 usinas.
Tabela 14. Potencial de geração de excedentes para o Estado nas safras 2006/2007 e
2012/2013 utilizando apenas bagaço como combustível
Tabela 15. Potencial de geração de excedentes para o Estado nas safras 2006/2007 e
2012/2013 utilizando bagaço e palha como combustível
Acréscimo
é
Tecnologias MWmédio
Fonte: TR 8
Tabela 17. Potencial de geração elétrica por biogás e biomassa (exceto cana) no Estado
Alternativas Potencial (MWmédio)
Aterro sanitário 250
Biogás 250
Processo térmico n.a.
Esgoto 100
Resíduos rurais n.a.
Vinhaça 1000
Biomassa florestal 1500
Licor negro 1500
Outros resíduos n.a.
Total 2850
Fonte: TR 8
Obs.: (n.a.) significa não avaliado por falta de
informações mais precisas
Área não-mecanizável, declividade superior a 12% e/ou com queima menor que 150 ha
Ano Porcentagem de eliminação
1 Ano (2011)
o
10% da queima eliminada
5 Ano (2016)
o
20% da queima eliminada
10o Ano (2021) 30% da queima eliminada
15 Ano (2026)
o
50% da queima eliminada
20 Ano (2031)
o
Eliminação total da queima
III.7 Tributação
III.8 Logística
(a safra 07/08 paulista de cana alcançou 292 milhões de toneladas, sendo parte
direcionada para a produção de açúcar e outras finalidades de menor expres-
são), as distâncias são de menor porte.
Segundo os autores do estudo em questão, um cenário conservador
para o potencial de produção e consumo interno do álcool combustível no
Estado de São Paulo, para 2016, seria o de uma produção de 20,9 bilhões de
litros, dos quais 8,4 bilhões são previstos para consumo no Estado, 5 bilhões
seriam destinados à exportação e 7,5 bilhões de litros a outros Estados. Vale
destacar que a expansão da cultura da cana vem ocorrendo principalmente na
região oeste do Estado.
Por sua vez, o potencial de exportação de álcool do sistema Sul/Sudeste,
passando por São Paulo, em 2014, estaria entre 7 bilhões (cenário conservador)
e 12 bilhões de litros (cenário otimista) conforme estudo realizado pela Secre-
taria dos Transportes e pela UNICA, em 2006, sobre alcoolduto.
A Figura 35 adiante apresenta as produções e fluxos de etanol para 2016.
Fonte: TR 8
35. Plano Decenal de Expansão de Energia 2007/2016 - MME - Capítulo VII, pág. 772.
SENADOR CANEDO
Projetos dutoviários da Petrob
a íb
nraa
R.
Pa
HIDROVIA TIETÊ-PARANÁ
BELO HORIZONTE Projeto de expansão hidroviá
Barragem Água Vermelha
nd
e UBERABA
APARECIDA DO TABOADO
R.
Gra
RIBEIRÃO PRETO
R.
RODOANEL
ARAÇATUBA
R.
Titêe
- Existente (Trecho Oeste)
BATAGUAÇU PRES EPITÁCIO - Em construção (Trecho Sul)
PRES PRUDENTE RIO DE JANEIRO - Projeto (trechos Norte e Leste
BAURU
STA MARIA DA SERRA
PAULÍNIA FERROVIA
PIRACICABA CAMPINAS RIO DE JANEIRO
OURINHOS
S. JOSÉ DOS CAMPOS RIO DE JANEIRO FERROANEL
SEPETIBA ILHA D´ÁGUA - Trecho Norte
LONDRINA
MARINGÁ SÃO PAULO - Trecho Sul
SÃO SEBASTIÃO
SANTOS Cidade
PERUIBE
PA R A N Á
Porto
á
P ran
R. a
O C E A N O AT L Â N T I CO
GUAÍRA CURITIBA
ARAUCÁRIA Escala aproximada: 1 cm = 50 km
PARANAGUÁ
HIDROVIA TIETÊ-PARANÁ
Pa
R.
Canal PereiraBarreto
- principal
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - secundária
Terminal Três Lagoas
RIBEIRÃO PRETO
R.
RODOANEL
ARAÇATUBA
- Existente (Trecho Oeste)
dutoras de biodiesel atualmente aprovadas pela
R.
Titêe
SANTOS Cidade
aproximadamente
PA R A N Á 23% do consumo brasileiro, PERUIBE
Porto
á
P ran
O C E A N O AT L Â N T I CO
GUAÍRA CURITIBA
Isto equivaleria a pouco mais de 900 milhões de litros de biodiesel por ano. Essa
cifra corresponde a 4,3% da produção de etanol, prevista para 20,9 bilhões de
litros nesta data, de maneira conservadora.
Esses números denotam a pequena influência do biodiesel na demanda
agregada de suporte logístico no conjunto do programa. Por outro lado, em-
bora a situação do Brasil como importador de diesel possa se alterar, não se
devem esperar fluxos expressivos de exportação de biodiesel até 2016. Não
haverá, portanto, pressões adicionais sobre os sistemas portuários e respectivas
linhas de abastecimento.
Tudo considerado, é de se supor que os sistemas rodoviário e ferroviário
venham a desempenhar o papel mais importante na logística do biodiesel sem,
entretanto, demandar novos projetos.
37. ANP Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis, Sefaz Secretaria da Fazenda do Estado de São
Paulo, SSP Secretaria de Estado da Segurança Pública, MP Ministério Público.
Mello et al. (2007), tendo por base estudo da Abiove38, indicam que a
produção de biodiesel é viável apenas a uma cotação do óleo de soja abaixo
de US$ 480/t no mercado internacional. No início do programa, a soja estava
cotada em US$ 420 a tonelada. Com o aumento do preço já verificado dos
óleos vegetais e da sua tendência futura de crescimento, esta se configura como
a principal barreira ao biodiesel de soja.
Por sua vez, a produção em pequena escala de óleos vegetais como a
mamona, produzida no sistema de agricultura familiar, apresenta custos eleva-
dos, apesar das vantagens sociais já mencionadas.
Com relação ao sebo bovino, sua disponibilidade para biodiesel não é su-
ficiente para atender o mercado e suas cotações têm crescido com o aumento
da demanda.
tarifas de 253% a 605% sobre o preço CIF41 do etanol não desnaturado e tarifa
de 52,24% sobre o preço CIF do etanol desnaturado. No caso do biodiesel a
tarifa é de 36,82% sobre o preço CIF.
Além das barreiras comerciais mencionadas, há também barreiras técni-
cas, como por exemplo, as exigências referentes à especificação do biodiesel,
face às diferenças entre os padrões técnicos do biodiesel de colza (utilizado na
Europa) e o biodiesel fabricado no Brasil (de soja, mamona e palma).
O tipo de matéria-prima utilizada atualmente na produção do biodiesel brasi-
leiro faz com que este produto não atenda por completo às especificações européia
e norte-americana, em particular no caso da mamona. Deverão ser realizadas altera-
ções nos limites especificados, o que pode tornar necessário misturar matérias-pri-
mas na produção para adequar o biodiesel nacional aos padrões internacionais.
Ainda no contexto do comércio exterior, os países estão atentos à cria-
ção de barreiras técnicas, por meio de regulamentos considerados tendenciosos,
que impeçam o livre comércio. A OMC42 mantém um painel de notificações de
criação de barreiras técnicas enviadas pelos países da comunidade internacional,
com o objetivo de dar tratamento justo às contendas.
Para os biocombustíveis está havendo um aumento no número de noti-
ficações relacionadas à demonstração da qualidade, particularmente quanto ao
atendimento de especificações dos produtos.
Se não houver nenhuma manifestação contrária por parte dos países in-
teressados, este procedimento pode vir a causar importantes dificuldades para
a futura comercialização dos biocombustíveis.
Além das barreiras técnicas sobre a qualidade dos biocombustíveis, exis-
tem diversas outras barreiras que poderão ser criadas. Atualmente acredita-se
que há uma tendência de criação de novas barreiras relacionadas aos aspectos
da produção dos biocombustíveis e associadas às exigências de demonstração de
relações adequadas com a mão-de-obra envolvida e de ausência de agressão am-
biental. Essas barreiras poderão vir a ser aspectos fundamentais na viabilidade dos
negócios direcionados à exportação de biocombustíveis. O problema em relação
às exigências é que sua posição ainda não foi negociada dentro da OMC.
No caso do álcool, o Brasil pode ser alertado em relação ao seu pro-
cesso produtivo, pelo uso da queimada na colheita da cana-de-açúcar, além de
problemas em relação a questões trabalhistas. Por não serem questões regula-
mentadas dentro da OMC, o Brasil deve dar grande atenção em relação ao seu
tratamento, principalmente pelo fato do biocombustível ter sua comercialização
associada à preservação do meio ambiente. Neste trabalho, as barreiras e desa-
fios à sustentabilidade foram detalhados no item IV.1.
46. Prevendo a antecipação da proibição da queima da palha de cana no Estado para 2014 em áreas com
declividade até 12% e para 2017 em áreas com declividade superior
VI.2 Agricultura
VI.4 Energia
VI.6 Transportes
Termos de Referência
TR 12 – Florestas Energéticas
Elaboração: Eduardo Pires Castanho Filho
Referências Específicas
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Ficha Técnica