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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇAO CIÊNCIA E TECNOLOGIA –
BAIANO CAMPUS GUANAMBI
Distrito de Ceraíma, s/n – Zona Rural – Cx. Postal 09 – CEP 46430-000 – Guanambi,
BA.

REVISÃO DE LITERATURA
Biocombustível: Cana-de-Açúcar

Guanambi, BA.
Dezembro/2017
REVISÃO DE LITERATURA
Biocombustível: Cana-de-Açúcar

Trabalho apresentado ao Instituto Federal


de Educação, Ciência e Tecnologia,
Baiano – campus Guanambi, como
requisito de avaliação parcial da disciplina
de Cultivos Agroenergéticos.
Prof. Dr. Leandro Peixoto

Guanambi, BA.
Junho/2017
Introdução

A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.), gramínea originária do sudeste asiático,


encontrou no Brasil condições climáticas ideais para sua expansão, particularmente na região
Centro-Sul do País. O clima de duas estações, uma quente e úmida, perfeita para o
desenvolvimento da planta e outra mais fria e seca, excelente para a concentração da sacarose,
contribuiu de forma decisiva para fazer do Estado de São Paulo a principal região produtora
de cana do mundo (FESSEL, 2008).

Introduzida poucos anos após o Descobrimento, a cana-de-açúcar é reconhecida como


primeira atividade econômica documentada da história do País. A partir das espécies trazidas
originalmente, centenas de variedades foram desenvolvidas em renomados centros de
pesquisa como o Planalsucar (Programa Nacional de Melhoramento da Cana de Açúcar), o
CTC (Centro de Tecnologia da Copersucar, que posteriormente se transforrnou no Centro de
Tecnologia Canavieira) e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) (FESSEL, 2008).

A cana-de-açúcar é, atualmente, uma das principais e mais importantes culturas no


Brasil sendo o agronegócio sucroalcooleiro, segundo informações do PROCANA (Programa
da Cana-de-açúcar), responsável por aproximadamente 1,76% do PIB nacional, de acordo
com dados da safra 2008/2009. Este setor é também um dos que mais empregam no país,
gerando aproximadamente 4,5 milhões de empregos diretos e indiretos, além de congregar
mais de 72.000 agricultores e 373 usinas e destilarias, em operação ou projeto (RODRIGUES,
2010).

No Brasil, foram produzidos mais de 7 milhões de hectares de cana-de-açúcar nos


anos de 2006 e 2007 graças ao seu clima privilegiado, correspondendo a cerca de 42% do
total produzido no mundo. Desta forma, nos anos referenciados, o Brasil ficou em 1º lugar em
produção de cana-de-açúcar, mas em 2º lugar em produção de etanol, atrás dos EUA com
etanol a partir do milho (UNICA,2007), com exportações de 2,2 bilhões de litros em 2004,
US$ 520 milhões (SILVA et al., 2012).

Cada hectare tem capacidade de produzir de 50 a 100 t de cana-de-açúcar, 6 a 7,5 mil


litros de etanol, 12 t de bagaço (220 GJ – base seca) e 72 a 90 mil litros de vinhaça
(MACEDO & CARVALHO, 2005).
Biocombustíveis

O termo biocombustíveis se refere aos combustíveis líquidos ou gasosos produzidos a


partir de biomassa, destinados, principalmente, ao setor de transportes. Os biocombustíveis
líquidos incluem o metanol, etanol, butanol e biodiesel, os quais podem ser usados em
veículos, locomotivas ou geração elétrica em motores, turbinas ou células a combustível. Os
biocombustíveis gasosos compreendem o hidrogênio e o metano (DEMIRBAS, 2008).

Os biocombustíveis são obtidos através da transformação e fermentação de fontes


biológicas não-fósseis, como óleos vegetais, cereais, beterraba, sacarina e resíduos
agroindustriais, e podem ser utilizados em substituição dos combustíveis convencionais ou em
mistura com estes (MOTA et al., 2009).

Existem diferentes fontes de biomassa para a obtenção de biocombustíveis, tais como


plantas oleoginosas (macaúba, girassol, colza, soja, dendê, pinhão-manso, algas, buriti);
cereais (milho, trigo, cevada); produtos agrícolas com presença de açúcar (beterraba doce,
cana-de-açúcar, batata-doce); resíduos agrícolas e florestais; resíduos orgânicos industriais e
domésticos; gordura animal e óleo de fritura usado (HOEKMAN, 2009).

Os biocombustíveis devem ter ganho de energia líquida, benefícios ecológicos, serem


economicamente competitivos e produzirem sem competir com o abastecimento de alimentos.
Pode-se concluir que, de todos os parâmetros, a cana-de-açúcar é hoje a melhor alternativa
para a produção de biocombustível. Além da energia química (etanol), a cana-de-açúcar
diversifica a matriz energética com a produção de energia elétrica e calor a partir do bagaço e
dos restos culturais, contribuindo assim, para a redução no uso de energia fóssil e a poluição
ambiental. (ANDREOLI & SOUZA, 2007).

O investimento na tecnologia dos biocombustíveis é atualmente uma importante


alternativa para a questão energética mundial e pode surtir efeitos positivos em diversas áreas
da economia global. São muitos os temas que ligam a produção de energia mais limpa à
temática ambiental. A começar, o grave problema do aquecimento global somado à
necessidade de substituição dos combustíveis fósseis, altamente poluidores, por fontes mais
sustentáveis de fornecimento energético. Como revelou relatório do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU (Organização das Nações Unidas),
é urgente a necessidade de se criar alternativas à matriz energética mundial. O etanol
brasileiro constitui, inegavelmente, uma alternativa viável. Além disso, atende ao
comprometimento brasileiro de criar mecanismos de desenvolvimento sustentável e limpo
(RODRIGUES, 2010).

Programa Proálcool

A crise do petróleo incidida ao longo da década de 1970 assolou os países


industrializados como consequência do aumento acelerado e substancial dos preços dos
combustíveis fósseis, afetando sobremaneira todos os países importadores de petróleo,
principalmente aqueles em desenvolvimento como o Brasil, culminando em altas exorbitantes
nos índices inflacionários, desestruturando consideravelmente as políticas econômicas da
época. Os efeitos da crise trouxeram à tona a necessidade de se obter fontes alternativas de
energia, evidenciando o surgimento da primeira etapa do Programa Nacional do Álcool
(Proálcool), na segunda metade da década de 1970, viabilizado pelo Decreto nº 76.593, tendo
como principal vertente a substituição dos combustíveis derivados do petróleo, por
combustíveis de origem vegetal (THEODORO, 2011).
O desenvolvimento do Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, surgiu em principal
vertente como medida político-econômica e teve como principal meta a reestruturação da
economia nacional, proporcionando subsídios valiosos para o desenvolvimento das pesquisas
e implantação do álcool como principal alternativa de combustíveis menos onerosos, em
substituição aos derivados do petróleo, culminado na tentativa de reerguer a indústria
nacional, principalmente a automobilística, incentivar o consumo e reduzir as exorbitantes
taxas inflacionárias que impactavam o desenvolvimento econômico nacional, fatos que
levaram o Brasil ao aprofundamento e agravamento econômico, seriamente impactado pelas
graves crises financeiras mundiais (ARAÚJO et al., 2013).
Em um primeiro momento, o Proálcool teve por base implantar o etanol como aditivo
à gasolina e, em sua segunda fase, iniciada em 1979, deu-se início à utilização de etanol puro
nos motores (E100) (JUNIOR et al., 2008).
Por intermédio da Petrobras, não somente foram instituídos postos para venda de
etanol, como também o estabelecimento do preço do produto que era vendido a preço bem
mais reduzido do que a gasolina. De 1975/1976 até 1984/1985, a produção de etanol
aumentou em 20 vezes (KOHLHEPP, 2010) alcançando 12 bilhões de litros.

Nos dez anos do Proálcool foram investidos cerca de 16 bilhões de dólares em


pesquisas genéticas para melhoria da cana-de-açúcar e gerados subsídios ao preço do álcool,
além da compra de novas máquinas agrícolas com financiamento a juros baixos. Entretanto,
após um período fértil para o setor sucroalcooleiro, a partir do ano de 1985 iniciou-se uma
fase de crise no setor causada, principalmente, pela diminuição dos investimentos no
Programa (LOPES, 1996). A dependência exclusiva da cana-de-açúcar e a inexistência de
mercado externo de etanol foram as principais limitações do programa, pois impediam que o
governo regulasse o preço do combustível ao consumidor. Em 1985, com a queda no preço do
petróleo no mercado internacional, o governo não conseguiu manter os subsídios. O setor
sucroalcooleiro foi sendo desregulado, pondo fim às cotas regionais, ao controle da
exportação e dos preços. Além disso, a tecnologia incipiente dos motores naquela época
também causou rejeição pelos consumidores. Das medidas que compunham o programa
original, restou basicamente apenas a obrigatoriedade da mistura de 25% de álcool anidro à
gasolina (RODRIGUES; ORTIZ, 2006).
Houve adaptações significativas em todo o processo produtivo do álcool como fonte
de energia, principalmente na indústria automotiva nacional, que, a partir do fim da década de
1990 e início da década de 2000, intensificou a produção de veículos bicombustíveis, os
chamados flex, modificando sobremaneira as etapas e os procedimentos até então assumidos,
admitindo, a partir de então, a denominação de etanol, por questões estratégicas de
comercialização, tornando capacitada e diversificando sua aplicabilidade, salientando um
extenso desenvolvimento tecnológico para a sua produção no mercado nacional,
principalmente no ramo automotivo (FILHO apud ARAÚJO, 2013).
Desde o ano de 2006, o Brasil é autossuficiente no abastecimento de petróleo, o que
significa que a nova euforia para a ampliação da produção de biocombustíveis é atribuída à
discussão internacional sobre a mudança do clima e às tentativas do aumento da produção de
energias renováveis com consequente diminuição de emissão de CO2 , visando natural- mente
à enorme subida do preço da energia fóssil – o petróleo. O Brasil apresenta condições naturais
extremamente favoráveis para a produção de biocombustíveis, potencial que certamente será
útil para firmar seu lugar como futuro líder do etanol no mercado internacional (KOHLHEPP,
2010).

Etanol

O etanol, ou álcool etílico, consiste em um composto orgânico oxigenado de fórmula


química C2H5OH. Sua produção é dada a partir da fermentação de produtos agrícolas como
cana- de-açúcar, milho, trigo, beterraba, dentre outros (Andreoli & Souza, 2006).
O etanol pode ser considerado como forma de combustível deveras benéfica, devido
ao fato de ser considerado uma fonte de energia renovável, acarretando consideráveis
inovações para a fomentação do desenvolvimento tecnológico, incondicional ao seu uso,
considerando as melhorias evidenciadas, principalmente na logística dos setores envolvidos
(MACEDO, 2007).

A produção de etanol por base de açúcares, como é o caso da cana-de-açúcar, é mais


simples do que quando comparada com a produção por meio de materiais amiláceos, como o
trigo e o milho, e celulósica, como o bagaço da cana. Nos caso de matérias amiláceas ou
celulósicas, há a necessidade da transformação da matéria prima em açúcares simples por
ações enzimáticas, enquanto na cana os açúcares já estão disponíveis na biomassa (BNDES;
CGEE, 2008).

No caso do etanol proveniente da cana-de-açúcar, o principal componente da


fermentação é a sacarose do caldo, ou seja, o açúcar. A substância final dos processos de
destilação e retificação é uma mistura binária etanol-água, que pode ser destinada diretamente
ao abastecimento de veículos ou, ainda, sofrer desidratação e originar o álcool anidro, que é
utilizado como aditivo da gasolina (RODRIGUES, 2010).

O Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, responsável por 37% (24
milhões de m3) de toda a produção mundial (65,6 milhões de m3) (UNICA, 2009; RFA,
2008). Em 2008, exportou cerca de 5,1 milhões de m3 de etanol, 35% da produção nacional,
sendo quase 60% dessa exportação foi destinada aos Estados Unidos e Países Baixos. O preço
médio de exportação foi de US$ 470,00 por m3 de etanol (SECEX, 2009).

Ainda em constante procura por mudanças para o desenvolvimento econômico e social


neste âmbito, é notório o avanço cada vez mais acentuado no relacionamento comercial
internacional, frente às melhorias tecnológicas adotadas, potencializando o mercado com a
expansão do setor produtivo do álcool, garantindo às indústrias seu aumento substancial,
comprometendo as expectativas das atividades produtoras do álcool destinado aos
combustíveis veiculares, o etanol modificou o cenário social, condicionando a absoluta
produção da cana-de-açúcar, como face importante aos programas de desenvolvimento
econômico e social brasileiro (MIZIARA, 2009).
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