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\Cíl~e'ix~"l?Pe~~v~il ~enero (com seus solecit~tffrspebivJ J m.ncmJtiza 1... J o esp.

1ço , isua • mas am a e


Idade e , Stamente a forma por 814~
scteuhosa t6"1a
mente errubar.ao . ele mJtematiza: e uma ordenação, mas uma ordenaç
e:urgues1a
mesm~ we reconhece
ac1;ons~- a si mesma. Ve1am· a. recCQflflsual.
- 1: •
E, atinai, - , • - d • ·
llJ() e mJIS que uma quesrao e entase

u grJ·es~?~~O~t~t~r-nem mesmo essa pa!'"'étiilfWr.. a perspectiva e por conden.lí .. o verdadeiro ser" l a


P Quettta
er01sst de erealmente
:- e este meu m · teressante e mtnllilJls
· · ·
vastas ou por atrelar ,1 lnre e. por assim dizer, espm
O
artista, isto e. POI.. Cl.UC
ss~to agracrávelt NaJ mesma 1· mponenc1a • · · :..1
tUNwrma .i aparênciJ das coisas \Ístas. Por meio dessa loca 1
~ctg
0 da mon:e em um momento {r
~ecorro novamente 9 5° ) e a evac~lo - • na orh1ta
armta , •
do fenomeno, ·
a visio · b
penpecttva
/fre ,5tom simulações de ~ a arte religios.l o território da magia, território este em q
car à altura?

hi para este ensaio, "


int n ·ã s r irô

s atua
trihuir
e Nietzsc e;
(:) Trmorhy James Clark, 2006
IV Cosac Naiíy, 2007

rROJE'íO EDITORIAL F. COORDENAÇÃO Sônia Salzsrein


ED IÇÃO Céli.1 Euvaldo
PRErARAÇÃO Ccdlia Oliveira Ramos
REV ISÃO (;islaine Maria da Silva, Bruno Costa

INDICE Rcnnta Simôt'•


c ArA Flávia Castanhe ira
COMPOSIÇÃO Juss.u:i l'ino

FOTO DO AUTO II T. J. C lark no Masp, São Paulo, 2.005 . Renaro Srockler/Folha lma~em

Dados Intc rna cionai,; Jc Catalogaç.io na Publicação {c tr)


{Câmara Brasileira do livro, 'il', Br.1sil )

Clark, T. J. ( r 943-)
Modernismos: ensaios 'iohre política, história e teon.1
da aric: T. J. Clark
Oq~anização: Sônia Salzstem
Traduc;ão: Vera Pereir;i
S:lo Paulo: Co,;ac Naily, 2 007

16~ pp., 4 7 ils.

ISBN 978-8 5-7 \ O3 -4 90• j

r. Arte - Histúri .1 J. . Arte - T<:'.ori.1 3. Arte modernJ - H1,uma


4. Crítica de ,lrtt· 5. ~1odcrnismo (And 6 . Políric.1

1 . SJl7..stcin. Súrua r , . Título

ruu-700

lnd,ll· s r..ir;i 1..at ,íloJ;O )o.lstemárin, :


1• L l.1rk , T. J.: Fns~11u~: Politica. h t\ tôria t" teori.t c!J .1rn· 700

C.O\,\( N/\ f l Y

Hua ( ,cncral Jardim, 770, 2" a n<la r


O Jl.2.\ • 0 10 ~iio P,1ulo , i►
le i IS S r 1 1 l > 1 H r -144
l·ax IH 11 1FS78 164
www.c,i~acna iíy.com.hr

At endi, .
ncnto ao professor 1551 11 3R>\ 6595
AS CONDIÇÕES DA CRIAÇAO ARTÍSTICA'

Eu poderia começar dizendo que a h1Stóna da arte ~tá em crise, mas


talvez s~ estridente demais. Perdendo o fôlego, em estado de po-
lida desagregação - essas palavras talvez formem um veredicto mais
apropriado. De todo modo, qualquer que seja a expressão us;ida, o
diagnóstico é tão prosaico - uma acusação corriqueira. um ~orriso
depreciativo trivial - que a primeira pergunta a fazer pode ser esr.1:
por que os problemas da história da arte são importantes? Que raz~
just ificam pedir a alguém que os leve a séno?
Para responder a essa pergunta tenho de lembrar-lhes, e a mim
mesmo, do que foi a história da arte em outros tempos. H.1 uma pas-
sagem do grande ensaio de Lukács de 1922, A rerfic.içJo e .z consc,;.,-
cia do proletariado , que não me sai da cabeça e ser.ira p.ua e,o.:,u
um tempo que já se foi:

E. no entanto, como não deix.iram de o~n.ir o , h1, ron.idore~ re.al-


mente 11nponanres do século"'"'· como Rict;I. D1lche, e D,ot.aJ.... a~-
sência da histón.1 reside precisamente n.1, muJ.1n~a,, ,,otrida, ~las

Publicado origmalm"nt" ,-.,mo ·Th" ConJ,0011- ,,f ,\nbtiC C""8uon·. ttnN'> L,-
tn-Jry Supp/e.,un t. 2-4 maio 1 ~-◄, rr- ~M •t>1

AS C N • ..,ôES r.A CR!.A AO ART ST ::'A I q l


N,1 minh a º.pint ão, c~sas perguntas fo ra m descartada\ peb h,~tó-
estruturas forma is, que são u s ponto~ focai , da interação do homem com fl ,ldJ ,1 rte de hoJ e . E t a lvez d evêssemos questionar sohre O que tornou
o a mbiente em qualquer momento , e que determin am ,1 natureza ohic- pos'-ívc l a ntes Je tudo formulá -las, pedir-lhes que nos dêem provas
riva da sua vida interior e exterior. \ .\,\~ 1,;so ,;ó ~e torn.1 objetivamente d e n ~a'i e coer e ntes. E por q ue os problemas d esa pareceram) Por que
possível (e por 1,so <;Ú pode ser adequ,1d amente compreendido) quandu nos rest,1ram ca ricatura~ de certas propost as num de bate permanente,
.1 individua lidade, a singularidade de uma época ou de uma figur,1 his- argumento, tra n ,;;formados por milagre em .. méto dos"' - an.ílise for-
tórica etc. se funda n ,1 n a ture✓ a d a,; ,;ua, formas c,trutura1~, 4u,indn é 1n,,~!, "iconografia"? Não respondere mos a essa, per<>" untas· samifi- ·
descoberta e revelada nela~ e por meio dela~. ca ndo o pa~sa d o ; isso é a ú ltima coisa que d esejo fazer. Deu., sahe
como e~t amos fa rtos da,;; velhas histó ri as da gra nde geração - o mag-
Jamais esqueci essa p assa gem , e por di verso,; motivos. Em prime iro nífico Wolfflin , Ri egl e seu s ta petes etc. Não quero acre,.:cntar outr.1,
lu gar, porque pro pôe uma tese ao mes m o tempo difícil e fecunda so- abs trações, e um a coisa que preci,;;a m os muito é d e uma arq ueologi,1
bre a hi stória - que s urge, é cl aro, no meio de um argumento, e não do s uj eito nes,;;e período histórico: uma história c rítica , que dewcnde
a ap resento para qu e seja con s iderada isolada mente -, que os h isto- ressupostos e lealdades. Contudo, é nc..:cssá n o ainJa redcscohri r J cs-
riadores da arte fariam bem e m rever. Mas deixemos isso de lado po r pécie d e p e n sa m e nto que sustentou a histó ria da a rte naquela época.
um instante. Ex a minemos e,;;ta c uriosa expressão: ·' os histori adores p E m p a rte , trata -se sim plesmente disco: um modo de argumc:n r,1r,
realm e nte importa ntes do ~éculo x 1x" , e repa remos nos exemplos, que um h á hito mental. Co ns ideremos o exemplo de Panofsky, em seu ma -
incluem dois his toriadores da a rte entre os três n o m es ci ta dos! Que ravi lh oso Pe rspective as Symbo lic Form IA perspectiva .:nmo forma
t em po era esse em que Ri egl e Dvorák e ram ci:ados com o os .verda- s imbólica! , publicado cm 19 2 5. No trecho a seguir, ele fala sobre a .1m-
d e iros his toriadores, preoc upado~ co m as questoes fun~a ~ ~nta1~ - as bigüida d e d a perspectiva, sobre como ela to rn,l () mundo VISU,11 ohje-
condi ções da con sciência , a n a tureza da "representaçao t F. pensa r ti vo, mens urável, e , no e nta nto, o faz depender do mar, su h1eu,·o ponto
que Lukács podia t er olhado ao redor, c m .• 9 22, e apo ~tado_ para o de referê ncia, o "único o lh o que tudo vê" lsi11gle al/-sec111g eyej:
d e bate e m c11rsu, ~cm soluç ã o, aci rra d o , muita ~ ve7.e\ e ~ca rnu,:~:iº ·
. ., . nome~ - W a rhurg, Wiilfílin , Pa nof\k y, Saxl, Se os~er 1A perspecti , ,1l m,1tema t1 za 1---1o e,p.1<;0 visu,1I. 111.1, a111d,1e e,p.1ç11 v1SuJ I
A 11sta uc
. t~ t':· 11131\ a impres~ao -
qut· temo~, ,a< , ler
- · que rea 1mente impor .. . L 0 qul' ele m,ltl'111,lt17.1; é uma orden,1ç:io, 111.1, uma ordenaç:io J ,1 Jpar~n
- nao e o . cic~ ,f,. que havia um a<.:ordo entre
· • · Ja :ute dc\~a cp .. , ~~ c·ia vi,u,tl . E, a fin .tl , nJo é ma ts que urn,1 q11e~1ão de: ênta,c w ,1 a.:u, açjo
a me Ih or 111s tona ' ' . . . tõ c, rele va nte, e ,nc-
se us protagonisra-; a rl·\pe1to de qual\ eram ª' qut, . e. l'Ontr,1 a pn,pect 1v;1 é por .:ondc:n,ir "11 verdadeiro , er"' ,1 ,tpJrénu.1 J a,
·. a m a ne1r·1 conto ª' pc,q11 1, :1\ 111a1, 11111111c:1, .:ots.is v1Sta, <lll por ,11rel.u .1 livre e , por .1>'1111 d11cr. c,p1ntual 1111u1,jr,
viráveis . O que unporta e · · ' . .. . , rrazl·lll de volt ,1
- 11 teno<,·1, m111t:1, \Ci'.t' 110 da for111 .1 .1 ap,1rênt:1,1 d,1, .:<1 1',\ S v1,t,1,. Por 1111'.lll de..sJ itJL,1111,l(;ão <lo uh-
<,a S, as de5cohcrta<; mai s n ,s l, , , •;-·1 d a prodw,::io ,irtbrt l,l.
, . d111cn , ~o Jn- ,1 n.uun; , 1 1,·10 do ,1rt1, t,1 11.1 ,·1rbir,1 do fcni,rneno, ,1 visão pt·r,pt:ltl\ ,I hloqutiJ pM,I
ao terreno l 1a5 d 15lor ' • . - ( \1 : é 1dm1 ssivl'I l.1 .ir
' 1· - 1 ·n ·1ç:i o :1rtl\liC:lf , 1,1'>, , - .. • · • • 1c"1 rio e,1c ,·111 que J nhra J c
1 111,1g1a , t nri
Quai s s.'io ª" co nt içocs l ,1 l , , . . . , il 1vr,1 por "produ1;.10 ,1 a rt,· rcl1g 10,.1 o Jcrritorio la
- · ·lho r \ uh,t1t111r t:"" ·1 1 · · - • t
cm "criaçii o "? N ;io ~c n :1 lllt: . d ir11 , 1' e o que qm·r<"III"' ,H ll' l' por st ,o ,1 prot 11tor,1 t o m1 agre ... 1, rn •1, ·1hr,· a '1rt,· rd1~10,.1 1 . 1
1 ·1 • 1
. - ,, , ) (, . i~ ,:i o "" reotr~" ~ 0 · ' ' - . . d .1 v1
o t,·rrit orio . ~.10,
- t 1l' ntro d o qu,11 11 1111·1a,..••rc , ~, tc,rin' uni., cxpC'ri~nua
ou " s ignihcaçao · <U , I ' . I .. I ' ,er.1 ll lll ,I qlll'St.lCI pnn
1 1tcru11s l O : 11 u , ' 1
Jizc r qu ,111do fo l;imo., c 111 n .' d , d i ·i o pi<.:túrt<.:,1, o11 d1· uni íl" i111nl1:1ta do l',pcn.1dor...
t '. ·nico, ou e rr,1 ~· ·-~
cipa lmcntc de rec ursos e.: , 1 .f 1' r v1den10:111cn1t:, .1, rn
,. _, . l · lhcs ta1 o rm, . , • .co, co m to d a :1 fori.a
. Ja <li ·~li-t1c.1
crtú rio de ideia<; e o s llll l05 te . 1 , l í ,e 1or11011 lug,1r-.:01n111n. 1:., ,e e• 11111 p c n,a rnc nto d1al
. et1 . - ,ni po-
P _ , . o s t·t cont<>l a quL ' ., dl'-
hipótc,cs cstao cerra~ - n;sp , . . .: l ue ,1 lg u11 , " 111:1rcna1, . d 1 . . -
d t: r e a 1nr um campo de 111 vc,t1gaç:10 e ptrrnitir JL . ( IC dc:t<:rmina<l,1' r er-
. : . . ·l.15 11111,1 hicr.1rq111.1 , 5cr.1 1 . . . ., ' d , f k ,.q ~ _ 11..:omodamentl·
,., nta, , q:1111 formul a da\. 1-. o e11,:110 e 1 a no " Y' · 1
"li ·
tvb, h avt:r.1 cntn e ' F q hiL·ra rqu1 :1 l' h x,1.
tcnninam a utl·1··IZ,H, , •'io
,
dl' outro,. ·' •

l
- 4

- repleto desse modo de ariru rne ntu · o ra -i fi r 111 d cul ra l. (Achei muno divertido d
" ·· · • a n o que a nega ~ d . qua n o, ano~ ar - •
rlus.io t·,p.1cral 11,1 Idade Médi.1 "é u m·t .0 d ' .- . çao a da esposa do vice- reitor dr . . ras, pmtaram o retrato
. • e n rçao para a visão ve d uma universidade oc d d
J e1r,1mente moder na do espaço" ora pe d . r a- cadeira de a rma r na escadaria f upa a, senta a numa
. . ' • rguntan o por que a mova - em rente ao edifício seg d
esta c.111cas vezes ligad a a um a renú n..:ia das real·· - . çao 0 exem plar de um conhecido liv d h' , . ' uran o no colo
. . . . - rzaçoes anteriores ao - . ro e istona da arte. Segundo decla-
pn111 1c1v1s1110, a ret rocessos in versões " de d ' ro u a retrata d a, para gaud1 0 da im " .
. . - . . , ' mo o que vemos Donatello pren~a 1oca 1' o livro fazia pa rte d0
surgir nao do class1..:1smo desb o ta do dos seguido res de A lf seu protesto con tra a atividade milit f d . ..
. . _. rno o, mas de ante e a avor a civilização" )
um,1 tendenc1a ex plic ita de revivescência d o gótico " . Esses p roblemas são p · d. ·
. . . ' or assim rzer, exte rnos - determinantes
Esse mod
. _ o. d e pensa r é h o je e m di a d esd enhad o nos melhores c1r- - mas ins1p 1dos. É como . se a história da a r e precisasse mais ser msti-'
t · ·
c ul os _d a. h1 sto
. n a . d a a rre - po r ser uma prática do hegel· ·
ianismo, meros gad a , como. se estivesse prestes a se desintegrar• A 1conogra · fi a e- um
exerc1c1os Ju ve111s ..:om os quais Pa nofsky se fo rmo u • Pen so, ao con- exem plo eviden te: degenerou no espaço de uma g - d
. . _ , eraçao, e uma po-
trá ri o, qu e foram .
esses exercícios que manti vera m seu (o de Pa nofsk y ) lênrn::a so bre a tra d1çao
. e suas formas , de um debate sob re as con d.1-
pensa menro v ivo, e a a usên cia deles na aborrecida lite ratura profissio- ções em q ue um pintor se defronta com uma ideologia, em desorde-
n a l p osterio r sobre p erspectiva é que ocasiono u a perda das dimensões nad a caça d e remas
. . . - cem imagens do Bom Selvagem, com cmquenta · ··
d o p ro blem a . É estranho nota r com o os reacio nários da esquerda e da a ltos-fo rn os prnnit1vos de lambuj a. E esse é apenas o caso mais óbvio
direita ho je e m dia a presenta m com o a rg umento final a mes ma ca rica- de um a deca d ência generalizada .
tura d e H egel - um H egel idealista e s uperficia l, um Hegel cristão, um Po r que isso aconteceu ? Porque, como já sugeri, os conceitos em
H egel sem "a p a ixã o e o la vo r do p a rticula r" . N a histó ria da arte - e que se assentava m os problemas paradigmáticos foram incapazes de
creio que ta mbém em o utros campo s - é justa mente do legado de He- se renovar. Temos de desco brir diferentes modos de definir as questões,
gel que precisamos n os apropria r, p a ra usá -lo , criticá-lo, refo rmulá-lo. e aí e ntra a h istó ria socia l da a rte - minha seara, mi nha ~especiali-
Qualquer d essas coisas requer exumá -lo . M a is qu e rudo, é necessá rio d ad e " . J á d eve ter ficado claro que não estou interessado na história
rea lizar um m aciço t ra ba lho de tradução. Po r que meu exem plar do socia l d a a rte com o fato r de uma alegre diversificação do objeto, pa-
Spatromische Kzmstindustrie, d e Rieg l !tex to 9 , 1901 ] é uma horro- ra lela a o utras va riedades metodo lógicas - formalista. ·'modernista.,,
rosa traduçã o condensad a para o italia no? Por que Dvorá k, Warburg pseudo fre udi a n a , fíl mica, feminista, " radical·•, todas elas pressurosa-
e inclusive o Buckha rdt no p a pel de histo riador d a arte a inda estão mente à cat a d o Novo. O nde está escrito diversificação. leia-se de-
confina dos a o seu idio ma m a terno? Po r causa do esno bismo e da pre- sintegração. O qu e precisa mos agora é justo o oposto: concentração,
g uiça, suspeito; e d e um co mpreensível m edo dos textos em questão. a rg umentos a lterna tivos no luga r da desastrosa coexistência, uma via
Até a qui m e limitei, proposita lme nte, a fa la r so bre o passa do. de acesso aos a ntigos d ebates. É isso que a história social da arte tem .1
M as a g ra nde p erg unta sem dúvida é: como o passado desapareceu? oferecer: ela é o lugar onde as perguntas de,·em ser feitas. e onde elas
Com o essas qu estões, a quele p a radigm a, se perderam? _ não p o dem ser fe itas à maneira antiga.
H á muitas resp o stas possíveis, e evitarei a lgum as com uma espe- Tudo isso ta lvez pa reça simples: mas nfo pode ser feiro apenas
cie de en fa d o . Nã o me proponho a discutir como a história da arte se muda nd o d e tática. N a ve rdade. as antigas questões da história da
to rnou ser va da a rte de mercad o , verificando datas para os marcha11d 5 • a rte se estruturavam em torno de determinadas crenças, determina-
fornecend o pedigrees para os colecio na do res ricos - emb_ora eu esteJa dos p ress upostos inquest ion,i,·eis: a idéia de artista; do artist a como
cercad o d e p rovas d a estupidez e da ó bvia corrupção que disso resultam. "cria d o r " d a o bra ; a noção d e um a sensibilidade preexistente - com
1 · - · d arte tornou-se o
Kurt Forster escreveu a resp eito de como a 11stona a b 'd relaçã o à forma, ao espaço. ao sentimento do mundo como criação de
, · d bom gosto ordem e oa vi a,
veículo p ara conceitos prontos e face1s e , . d d Deus o u d os d e uses - que .1 obra d evia .. expressar .. . Essas crenças ero-
uma " h istó ria compensa tó ria,, pa ra a Bildungsburgertum [soc1e a e
dira m o o b jeto , con verteram pergunt.1s em respostas, excluir am. por

B4 AS CONDICÔES DA. CRI.\CÁ0 -"R1 ~T CA \ .•.\5


r exemplo, to d a a história das condições da pro dução a rtísri,-~ (O
extenso
p orque o tra balh o toma um determ · d
, .. . . .
.
ma o coniunto de .
.' ' . . - • ~u . tccni cos e fo rmas t ra d1c1onais e O tr f proced1rnenros
pa ragr afo d ~ rdcofo~ra a/ema sobre Ra tael e a divisão do tra balho . . . ans orma em ferram
modifica r a 1deolog1a - para transcrevê-! , ' emas para
- que p renuncia. a h 1ston a da a rre com o tra ba lho - fo i ig nor a d o tanto . . a, represenra-l.1 El d
a nód1no, m e ra il ust ração: esta mos cerc d d _ . · e po e ser
pelos m arxistas .q ua nto pelos antim a rxistas· ) N ão é preciso d 1'zer q ue a os e replicas da id l .
m as o processo de traba lh o cria O espaço eo ogia,
as crenças - a s im p les e vulgar m etafísica - s,io tudo O qu e sobrou 'd . no qua I, em determ . d
m omen tos, urna I eologia pode ser ava liad O ma os
p ara a histó ri a d a a rre e m nossos dias. To d o o tra ba lho d e Riegl e " d - ,, d a. processo de rigorosa e
Pa no fsk y, contra a na tureza dos conceitos que usavam , foi completa- comp lera a aptaçao os ma teriais ideológ· , f
. d . . , . icos as orrnas e códigos
m e nte relegad o . ap ropn a o s aos rna ten a ,s tecrncos disponíveis I b - _ , ·
- d l am em e um processo
d e reve 1açao os e emen tas - os elementos histoncos · - · isoláveis
. n
Pa ra escapa r dessa situaçã o me pa rece necessário empreender um
m al m ente ocultos pelo véu da " naturalidade" _ ue c . ' or-
esforço teórico e prá tico. Precisa mos d e fa tos - sobre pa trocinadores e . . 'd 1, . , q onstiruern esses
co lecio na d o res, sobre a come rcia lização da a rte, sobre a condição so- m esm os ma te n a 1s I eo og1cos. E um modo dereSra--los, de exarnmar .
seus fun damentos.
cial d o a rtista , sobre a estrutura d a p rodução d e a rte-, mas precisamos
ta mbém sa ber que perg untas fazer aos ma teriais. Precisamos importar Pe nsem
. e m Vermeer, q ue é pa ra mim urna' ped ra de roque, nao - so.
um no vo conjunto d e co nceitos, e co nservá -los em uso - inseri-los no da qua. lida d e com o d a na tureza altamente evanescente desse processo.
m éto d o d e tra ba lh o. Tenta rei explicar sucinta mente a que ripo de ques- C reio q ue a obra . d e Vermeer explora o faro de que roda,·deo1og1·a e•
tio na m entos estou m e referindo. p o r na tureza mcoere n re: s uas parres não se encaixam· . genera 1·1-
, , .s uas
O prim e iro diz respeito à relação entre a o bra de a rte e sua ideo- zações não con seguem coexistir com nenhuma imagem isolada em
lo gia. Po r id eolog ias (o co nceito m e pa rece ser sempre plural, em- nenhum gra u d e p recisão (e a precisão é em si mesma sempre pa;cial,
bora to d as a s ideologias a limentem umas às outras e compartilhem sempre produz ida pela id eologia ) nos materiais com que O pintor tra -
a m es m a fun ção ) ente ndo os co rpos d e cre nças, imagens, va lo res e balha . O qu e observa m os em Vermeer é a sutil - infinitamente sutil
técnicas d e representação pelos qua is as classes sociais, em conflito - fa lta de sin cronização entre dois interiores diferentes, que a ideologia
umas com as o utras, tenta m " na turaliza r " s uas histórias pa rticula res. pretende n os fazer c rer q ue são compatíveis: entre o espaço e o mobi-
To da s as ideologias reivindicam para a relação específica e controver- liári o daquelas salas ascéticas e rebuscadas, e o espaço e o mobiliário
tida com os m eios d e p rodução o predicado d a inevitabili da de, seu de um d e te rminad o o lha r, uma vida interior particular.
fundam e nto n a natureza huma na . To mam como sua ma téria básica M a is uma vez, o que nos sustenta é, de um lado, a sensação de
a s limitações e contradições rea is de uma dad a sirua\ão histó rica_- e que a visão n esses q uadros não apresenta problema algum, esrá sob
são o brigad as a fazê-lo, p o rque d o contrário q ual sen a ~eu conreudo, contro le (com a ajuda , na turalmente, dos mais recentes disposit ivos
que d e fenderia m ? - , m as genera liza m as repressões, 1111ag111am as mecâ nicos); d e o utro lado, olha ndo mais intensamente, remos a im-
0
contradições resol vidas. pressão de que o q ue vem os é uma t rama de improbabilidades, esrra-
A o bra d e arre te m uma relação muito específica com esses_m;'. - nhezas, pe rdas de foco, a m eaça do ra intimidade, in inteligíveis deslo-
teriais ideológicos. Ideologia é o que o qu ad ro é, e O que ele nao e. camentos no espaço. A pró pria luz nos aparece ali, 111.Jis do que em
, m os dizer que o "estilo " é a form a da ideolog ia, o que sugere nenhuma outra pa rte, com o a lgo neutro e inefavcl; e, no ent:111ro, aré
(p o d en a - cJ ·1 ) A 'deologw
.d d e a s limitações de uma história os estJ os.
a n ecess1 a e ' b
' •
halh o ª luz é Permitida d entro dessas salas, até sua cl.1rid:1de nos é apresrn-
é o conte úd o sonhado, sem o tra balho sonhad o. E, em ora o rra d .. - rad '-1 co m o o e,e e 1to
· técnico que de faro é - o 1·1d ro 1mpecave,· - 1 a d eco-
- ' · seJa con JCIO
e m si - os meios e os ma teria is d a pro d uçao a rt1st1ca - • ·- ração be m arruma d a.

~:sdo fi xa d o d e ntro d e limites ideológicos, pe rmeado po r pres~ui~s


id,eológicos, ainda a ssim o fato d e ele ser realizado é dec1s1vo. sso
Esse é apenas o in ício d e urna descrição: csrou cons..:irnrc J r ,uJ~
deficiê nc,as.
-· 5 e a a presento m esmo assim, l; como um rxcmp 1O d o ripo

336 AS rON ü lCO:. e; OA ('RI AÇAD AH r .., '1 .. A 1 ; \ -

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de relação com que esta m os tratando - para mostrar com 0 - uma d e terminada vertente d h' . .
. . ' a re 1açao . . a rstona marx·1511
entre a ohra e a 1deolog1a pode ser problemática e • •ao mes mo tempo duto da 1magmação. (É a p • -, me p.lrece um pro -
ermanente con ·· • .
estudo d e Walter Benjamin se b _ SCH.' nci.t d1,so que torna 0
capaz d e um a descrição c ompleta . · ) re 8audela1r, 011 e·
R esta-me pouco espaço para indicar o outro tipo de qu -
chcz fl,111h ert, d e Sarr . e ª .onsc,cna de classe
. . . . . . estao per- re, muno mJ1~ útc1, do
adversários "científicos".) que •1 m,11oria dos ~eu,
tmente a h1 ston a socia l da arte _ O prohle ma é o ·seguint'" '-• qu a,~ · fo ram
exa tamente as condições e a s relações da produção ·1rti'st,·1.:,
•a no ca\o Rt'firo-me a qui as condições
' •
dete rm ina da "subjeti vidade" - . em ille se const1ru iu t' rnmou fornu
específico de uma obra? Por que foram mados justamente c, .,es mate- . . . I _ . comp etamenrc tak-1 c·ompl ·t 1111 • .
riais ideológicos e não outros? O que de fato determinou c ... sc encontro l rrdutave
' •
Naoc
<
· x• rst'd
e . ecerrn nenh um nutro top1co
- ' t. tlltt
. . rn.1" ,11sccpr11·t'I
particula r entre a ohra e a ideologia? Quando di sse que esse outro npo a um tra ta mento 1deolog1co· é nr,s '
. . . ' . t terreno 411t· o , v.:lho, L"t>nt:t·tr, is ,t·
d e questão é diferente cio primeiro, não pensei em fazer uma distinção acumulam,
. • . 111s1
, stentes, li~o nieadore~ , promctcn ti o to . rn ccn • , dl.l\·c,
1
rígida . Ao contrário , não é poss ível diferenciar esse~ problemas dos do . m1 steno.. E, no entanto, ~e prnprtam , t ' t·
' tn t ormll 1,lt1,1, nenhum., r e, -
demais que já descrevi; cu até diria, diante do escá rnio dos semiólogos, qu1 sa podena

nos esclarecer melhor sohr.t u. nnn ,~1111, 11 111.i .1 1JenloA1
- .1.
que uma pergunta n ão pode 5er fei ta sem a outra. Não acredito, por Este e, enfim, o campo tias amb,çúe\ J,1 histúr,.1 J .1 ,Hll' . { )11 to1
exe mplo, que <.e possa inc lu!,ive identificar a ideo logia de uma ohra e deve ria ser. '
sem fazer pergunta<, d e!,SC gênero .
E a onde nos levam essas ind agações? A uma descrição , minuciosa,
da identidade de clas!.e do traba lhador e m questão, bem como dos
modos p e los quai'> es.,a identidade tornou di sponíveis determinados
m a teriai s ideológico!. e di<;fa rço u outros, tornou man ejáveis certo'> ma -
teriai s e completame nte refrat á rio'> outro<,, tota lmente Ji stintos, in:1s, i-
mi lávei!,. Levam a urna explicaçã o <lo modo como a obra adquiriu '>lia
forma púhlica - " que de se java m '>CU., patrocinadores, o que ,cu pú -
blico percebia . Para Jc'>l'.ohrir '"""• terno, d e pesqu,,ar a apropriação
n ão-verbal <la ohr:1 que à '> ve:,e<, dei xa p1, ta, 11:1, margen, tio di,rnr,o
do~ l'.rítini'>, na co ntnhilacbde Jo, 111archands, na eventua l tr,1n,m111.1
çã o ck um título il m editla que u111 4uatlro pa,,a de rn;io t:111 111:i o. __
Toda, cs~a'i qt1t''>r<-1c, 11<1, tr.i,•t·m de vo lt a a o te rnt<>íl" qut· ÍK:t
;llém da itlcologia : cb~ indicam º" 111 ;1ft'rtai' de 4ut· ,e fa ,., " 11 ,e ~e, -
· J · , " rdl'"logt
faz 'l ideoi<>"ia ; ela'> 110, lt-mhr:1111 qut· ;1 rd e ,a e 111<,tant • .
• , ' n 1 . 1 1Vl' I
c 1. ~ e~pecífic:1, é u111 ;1 1o lit·t· - ,:_. da c"é ncia da tdl'" "14'ª ,er ,n, • '
1 k wd" t· 11, 10
variável, o nipre,e rll"t', não t•, 1;1r t·111 1uga r a gu m , u,., r t · .
•J I J · . . N" t·n1.1111 1 1, P"r t'',\t
mudar nada , forma t' crn11cu o :1 tt·rn .1 ,11m 111 t · .
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me'>m<> tipo dt· raztie,, o :irgumt·nto ,1qu1 lt 111 , t f I l.
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