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O surgimento dos Judeus Etíopes ainda é incerto, dentre lendas acredita-se que eles
faziam parte de uma das dez tribos perdidas, seus ancestrais remontam ao rei Salomão e à
rainha Sabá, que teriam gerado o primeiro rei etíope.
Na história judaica não encontramos relatos sobre estes judeus, tampouco na Bíblia
(pentateuco) ou Tamuld.
Dentre algumas especulações a respeito do surgimento da comunidade de judeus
etíopes, encontramos as seguintes: “seriam originários de um grupo da população local que
em determinado momento histórico, talvez tão cedo quanto quinhentos anos atrás, a partir da
leitura do texto bíblico, construiu uma identidade religiosa própria”; há ainda os que
argumentam em favor da “origem endogênica, a partir da emigração de judeus para região“ e
“outra hipótese é a da existência de alguma relação entre os judeus etíopes e a colônia judaica
na ilha de Yeb, o extremo sul do Egito” (CARVALHO, F. M.)
Dentre relatos temos a obra etíope, chamada “As gloriosas Vitórias de Amda Seyon”,
datada do século XIV, primeira narração à respeito de judeus etíopes, e depois até o século
XVII relatos diversos de ações militares contra estes judeus.
Após a imposição do cristianismo, eles passam a viver cada vez mais a margem da
sociedade e sofrem diversas restrições, como a perca da posse de terra e a proibição das
práticas religiosas. Neste período muitos são mortos ou vendidos como escravos, também
passam a ser chamados de “falashas”, uma maneira depreciativa cujo significado provável é
“estrangeiro ou estranhos”.
No século XV, um rabi chamado Ovadia de Bertinoro, em carta a Jerusalém relata a
existência de judeus etíopes no Egiot. E posterior a ele o rabi David Ben Zimra alega ter um
escravo etíope no Egito que é judeu, e ainda afirma que os mesmos descendem da tribo de
Dan e devem ser considerados como judeus legítimos.
Porém somente em 1908 rabinos de diversas comunidades foram a favor da
autenticidade desses judeus.
Em diversos aspectos este judaísmo difere muito do praticado pelos “judeus
legítimos”, pois os etíopes desconhecem a língua Hebraica e o Talmud e seu livro sagrado é o
Orit, compilado no século XIV por um cristão, além de crer também no pentateuco.
Algumas práticas e comemorações religiosas coincidem com a tradição judaica, ainda
que tenham um calendário religioso diferente. Sendo que no feriado mais importante para os
judeus etíopes há uma peregrinação e uma cerimônia que inclui rezas pelo retorno a
Jerusalém.
Dentre estas práticas, podemos perceber similitudes com o judaísmo rabínico, ainda
que alguns costumes já tenham caído em desuso dentre as mitzvot. As maiores semelhanças
referem-se a circuncisão, a divisão das suas tribos em doze, aspersão de sangue nos umbrais
da porta, casar com a mulher de seu irmão após a morte do mesmo, separação e purificação
após o parto, impureza durante a menstruação e celebração da lua nova.
Os resquícios do judaísmo na comunidade etíope se misturam com o cristianismo
vigente na região, fazendo com que esse povo tenha costumes particulares, que muitas vezes
se afastam do judaísmo tradicional.
Os judeus etíopes se auto denominam como Beta Israel e ao longo de sua existência
mantiveram sua fé e identidade lutando contra a fome, a seca e as guerras tribais.
Finalmente em 1973 foram reconhecidos como judeus pelo rabino Ovadia Yossef e no
ano seguinte, após o golpe militar muitos judeus etíopes migraram para Israel, através do
estabelecimento da Lei do Retorno. Para que isto fosse possível houve duas grandes
operações de resgate dos judeus etíopes chamadas Operação Moisés e Operação Salomão.
Apesar do reconhecimento, Israel colocou algumas imposições, como ritos de
passagem e estudo da Torá para atestarem seu “retorno” ao judaísmo.
Estas imposições ou “solicitações” causaram um conturbado embate entre a
comunidade etíope e o rabinato, agregando a isto o choque de culturas entre esta sociedade e a
sociedade maior que não os via como judeus “legítimos”.
Embate este, que até hoje perdura em Israel não somente pelo seu reconhecimento
pelo rabinato, como pelo reconhecimento pela sociedade maior.
“No primeiro momento, como a minha filha tinha problemas de se inserir num marco e ter
amigos, eu pensei que talvez fosse bom para ela porque lá se sentiria acolhida. Quer dizer,
no primeiro momento a minha reação foi até de alívio, pelo menos é judaísmo, ela não foi
parar com o bispo Macedo. Porém, isso é ser fanático, e isso eu estou falando hoje. Isso não
é judaísmo, parece a religião islâmica, fundamentalismo: que a Torá diz tudo, que a Torá
resolve tudo, não é verdade!” (p 231, TOPEL, M.)
“Então, antes de sair, eu disse para ele que nós somos judeus, que nós não observamos a
religião mas que os pais do meu marido passaram a guerra em Auschwitz e em Buchewald, e
foram judeus e morreram por ser judeus, e ele me está dizendo que nós não somos judeus e
que eles que são os bons! Eu enfrentei esse rabino e disse: o judaísmo é amor e você está
tirando a alegria dos olhos do meu filho. O meu filho nunca mais sorriu, ele virou um chato...
Meu filho está obcecado, com o olhar enlouquecido, e eu estou levando ele para um
psiquiatra, para um dos melhores psiquiatras em crianças e adolescentes. É que eu pensei
que meu filho estava ficando maluco!” (p. 232, TOPEL, M.)