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ÍNDICE

ÍNDICE................................................................................................................. 1
PREFÁCIO ........................................................................................................ 9
NOTA PARA A EDIÇÃO INDIANA ............................................................... 10
PREFÁCIO PARA A EDIÇÃO REVISADA ..................................................... 13
PREFÁCIO PARA A PRIMEIRA EDIÇÃO ...................................................... 15
ABREVIAÇÕES .............................................................................................. 25
EQUIVALENTES ROMANOS DO DEVANAGARI ........................................ 26
CAPÍTULO I ...................................................................................................... 27

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 27
DEFINIÇÃO DE AYURVEDA ................................................................................ 29
ÁREA DE ATUAÇÃO DO AYURVEDA ................................................................... 29
OS OITO RAMOS DO AYURVEDA ........................................................................ 30
CARACTERÍSTICAS SINGULARES DO AYURVEDA ................................................. 31
CAPÍTULO II .................................................................................................... 34

REVISÃO HISTÓRICA .................................................................................... 34


MITOLOGIA SOBRE A ORIGEM DO AYURVEDA .................................................... 34
AYURVEDA NA ERA PRÉ-VÉDICA ...................................................................... 35
AYURVEDA NA ERA VÉDICA.............................................................................. 36
AYURVEDA NO PERÍODO PÓS-VÉDICO ............................................................... 37
CRÔNICAS SOBRE A VIDA DE JIVAKA ................................................................. 38
A ESTÓRIA DE BHOJA ........................................................................................ 40
INTERRUPÇÃO DO PROGRESSO NO PERÍODO MEDIEVAL ...................................... 40
RESTAURAÇÃO DO AYURVEDA .......................................................................... 41
CAPÍTULO III ................................................................................................... 43

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ...................................................................... 43


CRIAÇÃO DO UNIVERSO .................................................................................... 43
TEORIA PAÑCA MAHABHUTA ............................................................................... 46
DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO MAHABHÁUTICA DE UMA DROGA
A PARTIR DE SUAS PROPRIEDADES ..................................................................... 48
O CONCEITO DE TRIDOSHA ................................................................................. 48

1
CONDIÇÕES DOS DOSHAS NAS DIFERENTES ESTAÇÕES DO ANO ........................... 52
FATORES RESPONSÁVEIS PELA ALTERAÇÃO DOS DOSHAS ................................... 52
SINAIS E SINTOMAS DO AGRAVAMENTO DOS DOSHAS ......................................... 53
TRATAMENTO DE DOENÇAS CAUSADAS POR PERTURBAÇÕES DOS DOSHAS .......... 53
TERAPIA DE ELIMINAÇÃO PARA CORREÇÃO DOS DOSHAS ALTERADOS ................ 54
DOENÇAS CAUSADAS PELOS DOSHAS ................................................................. 54
CONCEITO DE SAPTA DHATU ............................................................................. 59
CONCEITO DE MALA .......................................................................................... 62
SROTAS OU CANAIS DE CIRCULAÇÃO .................................................................... 63
CAUSAS DAS ALTERAÇÕES DOS SROTAS ................................................................ 65
SÍTIOS DE ORIGEM DOS SROTAS E SINTOMAS CAUSADOS POR SUAS ALTERAÇÕES ..... 66
LINHA DE TRATAMENTO ...................................................................................... 68
DIGESTÃO E METABOLISMO ................................................................................ 69
PRAKRTI OU CONSTITUINTE FÍSICO ..................................................................... 74
FATORES RESPONSÁVEIS PELA DETERMINAÇÃO DE PRAKRTI .................................. 77
CARACTERÍSTICAS DOS INDIVÍDUOS QUE POSSUEM KAPHA PRAKRTI ...................... 78
CARACTERÍSTICAS DE UM INDIVÍDUO QUE POSSUI PITTA PRAKRTI ......................... 79
CARACTERÍSTICAS DE UM INDIVÍDUO QUE POSSUI VATA PRAKRTI ......................... 80
CARACTERÍSTICAS E CONTROLE DE UMA PESSOA QUE POSSUI VATA PRAKRTI........... 81
CARACTERÍSTICAS E CONTROLE DE UMA PESSOA QUE POSSUI PITTA PRAKRTI ........ 82
CARACTERÍSTICAS E CONTROLE DE UMA PESSOA QUE POSSUI KAPHA PRAKRTI ...... 83
CONCEITO DE MENTE ......................................................................................... 84
SINÔNIMOS E SUAS IMPLICAÇÕES ......................................................................... 85
MENTE E MANAS ............................................................................................... 85
DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO ...................................................................... 85
TRÊS PONTOS DE VISTA DIFERENTES ................................................................... 86
SERES SENCIENTES E NÃO SENCIENTES................................................................. 87
ANTAHKARANA OU OS MEIOS INTERNOS DE PERCEPÇÃO ...................................... 88
LOCALIZAÇÃO .................................................................................................... 89
DIMENSÕES E NÚMEROS ..................................................................................... 90
FUNÇÕES .......................................................................................................... 90
DIFERENTES NÍVEIS DE MENTE............................................................................ 90
CLASSIFICAÇÃO DAS FACULDADES MENTAIS ......................................................... 91
COMPOSIÇÃO DAS DROGAS ................................................................................. 94
CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS .............................................................................. 95
RASA OU SABOR ................................................................................................ 96
SABORES E DOSHAS ........................................................................................... 97
GUNAS E QUALIDADES........................................................................................ 97
VIRYA OU POTÊNCIA ......................................................................................... 98
VIPAKA OU SABOR PÓS-DIGESTIVO ..................................................................... 99
PRABHAVA OU AÇÃO ESPECÍFICA ....................................................................... 99
CAPÍTULO 4 ................................................................................................... 101

MEDICINA PREVENTIVA ............................................................................ 101


DINACARYA (CONDUTA NO PERÍODO DIURNO).............................................. 101

2
LIMPEZA DA FACE ............................................................................................ 101
PROTEÇÃO DA VISÃO ........................................................................................ 101
BEBER UM COPO DE ÁGUA................................................................................ 102
EVACUAÇÃO .................................................................................................... 102
HIGIENE DOS DENTES ....................................................................................... 103
RASPAGEM DA LÍNGUA...................................................................................... 104
USO DE GOTAS NASAIS ..................................................................................... 104
MASTIGAÇÃO ................................................................................................... 104
GARGAREJOS ................................................................................................... 105
APLICAÇÃO DE ÓLEO NA CABEÇA ...................................................................... 105
GOTAS DE ÓLEO NOS OUVIDOS ......................................................................... 105
MASSAGEM COM ÓLEO ..................................................................................... 106
EXERCÍCIOS ..................................................................................................... 107
 Efeitos Benéficos dos Exercícios .......................................................... 107
 Efeitos Prejudiciais do Exercício Excessivo ......................................... 107
 Características do Exercício Correto................................................... 107
 Contra-Indicações para os Exercícios ................................................. 107
BANHO ............................................................................................................ 108
VESTIMENTAS ................................................................................................... 108
USO DE PERFUMES .......................................................................................... 108
USO DE ORNAMENTOS ...................................................................................... 108
CUIDADOS COM CABELOS E UNHAS ................................................................... 108
CALÇADOS ....................................................................................................... 108
ALIMENTOS ...................................................................................................... 109
USO DE COLÍRIO .............................................................................................. 110
FUMO ............................................................................................................. 110
 Características do Uso Correto do Fumo ............................................ 111
 Características do Uso Insuficiente do Fumo ....................................... 111
 Características do Uso Excessivo de Fumo .......................................... 111
CÓDIGO DE ÉTICA GERAL ................................................................................. 111
ESTUDO .......................................................................................................... 113
CONDUTA GERAL ............................................................................................. 113
AMIGOS CONVENIENTES ................................................................................... 114
PESSOAS INCONVENIENTES PARA A AMIZADE ....................................................... 115
RATRICARYA (CONDUTA NO PERÍODO NOTURNO) ......................................... 115
SONO .............................................................................................................. 115
 Tipos Diferentes de Sono ..................................................................... 116
 Contra-indicações ao Sono Diurno...................................................... 116
 Indicações do Sono Diurno ................................................................. 117
 Causas da Insônia ............................................................................... 118
 Medidas que Favorecem um Sono Benéfico ......................................... 118
CONDUTA DURANTE A REFEIÇÃO NOTURNA ....................................................... 118
USO DE IOGURTE À NOITE................................................................................. 118
LEITURA DURANTE A NOITE .............................................................................. 119
RELAÇÕES SEXUAIS .......................................................................................... 119
RTUCARYA (CONDUTA DURANTE AS ESTAÇÕES DO ANO) ................................ 120

3
OS DOIS SOLSTÍCIOS ........................................................................................ 120
EFEITOS DE ADANA KALA NO CORPO ............................................................... 124
EFEITOS DO VISARGA KALA SOBRE O CORPO .................................................... 124
DIETA E CONDUTA PARA O INVERNO .................................................................. 124
DIETA E CONDUTA PARA A PRIMAVERA ............................................................... 126
DIETA E CONDUTA PARA O VERÃO ..................................................................... 126
DIETA E CONDUTA PARA A ESTAÇÃO CHUVOSA ................................................... 127
DIETA E CONDUTA PARA O OUTONO .................................................................. 128
NECESSIDADES BÁSICAS .................................................................................... 129
NECESSIDADES QUE DEVEM SER SUPRIMIDAS ..................................................... 131
TERAPIA REJUVENESCEDORA............................................................................. 131
 Objetivo do Rasayana ......................................................................... 132
 Duração da Vida................................................................................. 132
 Época de Administração...................................................................... 135
 Pessoas Convenientes para o Rasayana............................................... 135
 Método de Administração.................................................................... 136
 Drogas Rasayanas............................................................................... 136
CYAVANAPRASA ............................................................................................. 137
 Dose ................................................................................................... 137
 Dieta................................................................................................... 138
OUTRAS CONDUTAS .......................................................................................... 138
PROCESSO DE MORTE ....................................................................................... 138
CAPÍTULO 5 ................................................................................................... 139

A PRÁTICA DA MEDICINA .......................................................................... 139


O EXAME DO PACIENTE .................................................................................... 139
EXAME DA IDADE DO PACIENTE......................................................................... 143
EXAME DO VIGOR DO PACIENTE ........................................................................ 144
O QUE É ESTE VIGOR? ...................................................................................... 144
O QUE É TEJAS? .............................................................................................. 144
O QUE É OJAS?................................................................................................ 145
ASPECTOS CARACTERÍSTICOS DO CORPO COMPACTO .......................................... 146
DISTÚRBIOS DO VIGOR ..................................................................................... 147
ANÁLISE DO SATTVA ........................................................................................ 147
AVALIAÇÃO DA SAÚDE ...................................................................................... 148
EXAME DA DOENÇA .......................................................................................... 150
 Nidana ou Fatores Causais ................................................................. 151
 Purvarupa ou Primeiros Sintomas ....................................................... 152
 Rupa ou Sinais e Sintomas Manifestados ............................................. 153
 Upasaya ou Terapia Exploratória ....................................................... 153
 Samprapti ou Patogênese .................................................................... 155
 Kriya kala ou Estágios de Manifestação de uma Doença ..................... 157
 Diferentes Tipos de Samprapti............................................................. 157
CAUSAS DAS DOENÇAS ...................................................................................... 157
 Negligência Intelectual (prajna paradha).............................................. 158

4
 Conjunção Patológica dos Órgãos Sensoriais e seus Objetos ............... 158
 Variações no Tempo e no Período ....................................................... 159
TRÊS TIPOS DE DOENÇAS .................................................................................. 160
DOENÇAS DO SISTEMA PERIFÉRICO ................................................................... 160
DOENÇAS DO CAMINHO INTERMEDIÁRIO ............................................................ 160
DOENÇAS DO SISTEMA CENTRAL ........................................................................ 161
SÍTIOS DE ORIGEM DAS DOENÇAS ...................................................................... 161
MODO DE DISSEMINAÇÃO DA DOENÇA ............................................................... 162
SÍTIO DE MANIFESTAÇÃO DA DOENÇA ................................................................ 163
DOENÇAS E SUAS VARIEDADES........................................................................... 163
TERAPÊUTICA .................................................................................................. 168
CATEGORIAS DE DOENÇAS ................................................................................ 170
DIFERENTES TIPOS DE TERAPIAS ....................................................................... 172
 Langhana ou Terapia de Alívio ........................................................... 173
 Brmhana ou Terapia de Nutrição ........................................................ 174
 Ruksana ou Terapia Secativa............................................................... 174
 Snehana ou Terapia de Oleação .......................................................... 175
 Svedana ou Terapia de Fomentação .................................................... 176
CAPÍTULO 6 ................................................................................................... 177

DIETA .............................................................................................................. 177


CLASSIFICAÇÃO DOS GÊNEROS ALIMENTÍCIOS E DAS BEBIDAS .............................. 178
 Sukadhanya (cereais com cerdas) ........................................................ 179
 Samidhanya (grãos comestíveis) .......................................................... 179
 Mamsavarga (carnes) .......................................................................... 179
 Saka varga (vegetais) .......................................................................... 185
 Phalavarga (frutas) .............................................................................. 185
 Harita varga (vegetais utilizados crus) ................................................. 187
 Madya varga (bebidas alcoólicas) ....................................................... 187
 Jala varga (vários tipos de água) ......................................................... 187
 Gorasa varga (derivados do leite) ........................................................ 188
 Iksu varga (produto da cana de açúcar)............................................... 188
 Krtanna varga (preparações de alimentos cozidos)............................... 188
 Aharayogi varga (acessórios das preparações) .................................... 188
CAPÍTULO 7 ................................................................................................... 189

DROGAS .......................................................................................................... 189


AÇÕES DO SABOR DOCE .................................................................................. 189
AÇÕES DO SABOR AZEDO ................................................................................ 189
AÇÕES DO SABOR SALGADO ............................................................................ 190
AÇÕES DO SABOR PUNGENTE .......................................................................... 191
AÇÕES DO SABOR AMARGO ............................................................................. 192
AÇÕES DO SABOR ADSTRINGENTE ................................................................... 192

5
CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS AYURVÉDICAS................................................... 193
PREPARAÇÕES COMPOSTAS ............................................................................. 194
NOMES DAS FORMULAÇÕES DE DROGAS .......................................................... 195
PROCESSOS FARMACÊUTICOS .......................................................................... 196
SODHANA OU PURIFICAÇÃO ............................................................................. 196
MELHORES DROGAS, DIETAS E CONDUTAS ...................................................... 197
MELHORES DROGAS PARA CERTAS DOENÇAS .................................................. 202
CAPÍTULO 8 ................................................................................................... 206

MÉTODOS DE PREPARAÇÃO DAS DROGAS AYURVÉDICAS............... 206


 Suco.................................................................................................... 206
 Pó (Curna) .......................................................................................... 207
 Decocção (Kvatha) ............................................................................. 207
 Pasta (Kalka) ...................................................................................... 208
 Infusão (Phanta) .................................................................................. 208
 Infusão fria (Situ kasaya) .................................................................... 208
 Preparação com leite (Ksira paka) ...................................................... 208
 Emplastro ou geléia (Avaleha, lehya, paka ou khanda) ........................ 208
 Ghee e óleo medicinal (taila e ghrta).................................................... 209
 Preparações alcoólicas (Asava e arista) .............................................. 210
 pílulas (Gutika, vati e modaka)............................................................ 211
 Preparações em crosta (Parpati).......................................................... 212
 Medicamentos preparados por sublimação (Kupipakva rasayana)........ 212
 Pisti .................................................................................................... 213
 Colírio (Anjana).................................................................................. 213
 Metais, minerais, pedras preciosas e outros calcinados em pó (Bhasma)
213
CAPÍTULO 9 ................................................................................................... 215

A CANNABIS E OS ANTIGOS TEXTOS MÉDICOS ................................... 215


REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 216
SINÔNIMOS ...................................................................................................... 218
MITOLOGIA SOBRE A ORIGEM DA CANNABIS ........................................................ 219
DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA EM TEXTOS ANTIGOS ................................................ 219
SEXO DA PLANTA .............................................................................................. 220
USUÁRIOS AUTORIZADOS .................................................................................. 220
PROCESSOS FARMACÊUTICOS ............................................................................ 221
FORMULAÇÃO .................................................................................................. 222
INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS .............................................................................. 223
TOXICIDADE .................................................................................................... 224
CONTROLE DOS E FEITOS TÓXICOS ..................................................................... 225
VIJAYA KALPA OU PREPARAÇÃO ESPECIAL PARA O REJUVENESCIMENTO ............. 225
CULTIVO ......................................................................................................... 226

6
PROCESSAMENTO ............................................................................................. 227
ADMINISTRAÇÃO DA TERAPIA ............................................................................ 227
DISCUSSÃO ...................................................................................................... 228
CAPÍTULO 10 ................................................................................................. 232

A DROGA TERMINALIA CHEBULA NA LITERATURA MÉDICA


AYURVÉDICA E TIBETANA ........................................................................ 232
ESTÓRIAS MITOLÓGICAS ................................................................................... 233
SINÔNIMOS ...................................................................................................... 234
VARIEDADES .................................................................................................... 235
IDENTIFICAÇÃO DOS VÁRIOS TIPOS .................................................................... 237
HABITAT .......................................................................................................... 237
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS ........................................................................... 238
ANÁLOGOS ...................................................................................................... 238
RASA, VIRYA, VIPAKA E GUNA........................................................................ 239
PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS ......................................................................... 240
 Notas .................................................................................................. 241
CAPÍTULO 11 ................................................................................................. 246

O ALHO NOS ANTIGOS TEXTOS MÉDICOS INDIANOS ......................... 246


MITOLOGIA SOBRE A ORIGEM DE LASUNA ......................................................... 247
VARIEDADES .................................................................................................... 249
SINÔNIMOS ...................................................................................................... 250
RASA OU SABOR DA DROGA .............................................................................. 251
PROPRIEDADES E AÇÕES FARMACOLÓGICAS ....................................................... 252
USOS TERAPÊUTICOS ........................................................................................ 254
ADJUVANTES PARA DIFERENTES DOENÇAS ......................................................... 256
RASONA KALPA .............................................................................................. 257
 Pessoas Adequadas para a Administração de Rasona Kalpa ................ 258
 Pessoas Inadequadas para Rasona Kalpa............................................ 258
 Estação Adequada .............................................................................. 259
 Coleta do Allium sativum..................................................................... 259
 Processamento .................................................................................... 259
 Dosagem............................................................................................. 261
 Preparação do Paciente ...................................................................... 261
 Método de Administração.................................................................... 262
 Complicações e seu Controle............................................................... 262
 Anupana ............................................................................................. 262
 Cuidados Pós-Terapia......................................................................... 263
 Duração da Terapia ............................................................................ 263
 Pathya ou Dieta Adequada .................................................................. 263
 Alimentos e Condutas Insalubres ......................................................... 264
 Complicações Decorrentes de Condutas Inadequadas ......................... 264

7
 Tratamento das Complicações............................................................. 265
 Cuidados Pós-Terapia......................................................................... 265
FORMULAÇÕES COMBINADAS ............................................................................ 265
 Notas e Referências............................................................................. 267
CAPÍTULO 12 ................................................................................................. 269

ESTUDO E PRÁTICA ..................................................................................... 269


SELEÇÃO DE TEXTOS MÉDICOS .......................................................................... 269
SELEÇÃO DE UM PROFESSOR DE MEDICINA ........................................................ 270
SELEÇÃO DO ESTUDANTE DE MEDICINA ............................................................. 271
INICIAÇÃO AO ESTUDO...................................................................................... 272
OS MÉDICOS E SUAS CARACTERÍSTICAS .............................................................. 273
CARACTERÍSTICAS DE UM BOM MÉDICO ............................................................. 273
CARACTERÍSTICAS DOS MÉDICOS FINGIDOS E PSEUDOMÉDICOS ........................... 276
CAPÍTULO 13 ................................................................................................. 278

OUTROS SISTEMAS TRADICIONAIS DE MEDICINA.............................. 278


UNANI TIBB ..................................................................................................... 278
 Princípios Fundamentais do Sistema Unani de Medicina ..................... 280
SISTEMA SIDDHA DE MEDICINA ......................................................................... 281
 Mitologia sobre a Origem do Sistema Siddha ...................................... 281
 Propositores do Sistema Siddha de Medicina ....................................... 282
 Princípios Fundamentais..................................................................... 282
 Classificação das Drogas .................................................................... 283
 Diagnóstico das Doenças .................................................................... 284
 Kalpa Cikitsa ...................................................................................... 284
EMCHI OU SISTEMA TIBETANO DE MEDICINA ...................................................... 285
 Classificação do Conhecimento ........................................................... 286
 Relações Indo-Tibetanas ..................................................................... 286
PRAKRTIKA CIKITISA (NATUROPATIA) ................................................................. 288
 História .............................................................................................. 288
 Princípios Fundamentais..................................................................... 289
 Prática da Naturopatia ....................................................................... 290
YOGA .............................................................................................................. 290
 Princípios Fundamentais..................................................................... 291
TANTRA ........................................................................................................... 299

8
PREFÁCIO

Entre a linha de frente dos eruditos em Ayurveda da nova


geração, o Dr. Bhagwan Dash é uma daquelas poucas pessoas
nas quais deposito minhas esperanças pela manutenção da
imagem pura do Ayurveda tanto na Índia quanto no exterior.
Seu novo livro é benvindo pois, considerando que o autor
está intimamente familiarizado com os conceitos do Ayurveda, sua
exposição permanece livre das distorções laboriosas que
caracterizam o trabalho das vítimas de vários tipos de complexos
de inferioridade cuja principal preocupação parece ser, de alguma
forma, ajustar os conceitos Ayurvédicos ao leito procustiano da
alopatia.
Nesta obra, sua última compilação, o Dr. Dash trabalhou
com os fundamentos do Ayurveda de uma maneira lúcida e com
estilo facilmente compreensível. O livro é lançado em uma época
em que o Ayurveda atrai a atenção dos cientistas médicos de
países desenvolvidos como os EUA e o Japão, e no momento em
que esta grande Ciência Indiana da Vida começa a se
desenvolver nas instituições médicas ocidentais. Deste modo,
esta publicação oportuna é destinada a disseminar efetivamente o
conhecimento do Ayurveda entre os estudantes da ciência médica
tanto no Oriente como no Ocidente.

Shiv Sharma
Presidente do Conselho Central de Medicina Indiana
Nova Delhi

9
NOTA PARA A EDIÇÃO INDIANA

Revelações mais recentes sobre os efeitos colaterais das


drogas alopáticas — quimioterápicos e antibióticos — têm
aterrorizado muitas pessoas em todo o mundo e existem esforços
combinados para encontrar uma alternativa para as mesmas. O
Ayurveda, a medicina tradicional da Índia, consiste de uma prática
ininterrupta desde eras pré-históricas e talvez sua posição seja a
mais viável na área. Infelizmente, devido às dificuldades da língua
na qual foram compostos os clássicos originais, o conhecimento
de seus princípios e práticas fundamentais tem permanecido
inacessível aos cientistas e pesquisadores do Ocidente e mesmo
para alguns indianos não familiarizados com o sânscrito. Para
satisfazer esta imensa necessidade estamos publicando este
trabalho do Dr. Bhagwan Dash.
O Dr. Dash não é um autor novo para os leitores. Há mais
de três décadas está ativamente conectado com a profissão
Ayurvédica – em sua pesquisa e prática. Ao lado das muitas
contribuições aos jornais estrangeiros e indianos, tem participado
de diversas conferências internacionais sobre Ayurveda, Yoga,
Medicina Tibetana e outras ciências orientais, tendo viajado para
várias regiões da Índia e países estrangeiros com esta finalidade.
São suas estas importantes publicações:
1. Caraka Samhita, com tradução e notas críticas em inglês,
baseado no Ayurveda Dipika de Cakrapani, volumes I, II, III e IV;
2. Concept of Agni in Ayurveda;
3. Ayurvedic Treatment for Common Diseases;
4. Embryology and Maternity in Ayurveda;
5. Tibetan Medicine with Special Reference to Yoga Sátaka

10
6. Ayurveda for Healthy Living.
No capítulo introdutório deste livro, são ressaltadas as
vantagens únicas do Ayurveda, seu progresso e os altos e baixos
através dos diferentes períodos da história. Descrevem-se em
detalhes os princípios fundamentais como a teoria do Pañca
Mahabhuta, as teorias do Tridosha e do Sapta Dhatu que são
essenciais para a compreensão adequada do Ayurveda. Esta
ciência atribui grande ênfase à preservação de uma saúde
verdadeira e à prevenção das doenças. Estão delineados os
vários métodos descritos no Ayurveda e praticados na Índia
antiga. A dieta representa um importante papel na prática
Ayurvédica. Conseqüentemente, detalhes sobre os vários
ingredientes das dietas e as bebidas encontram lugar neste livro.
Para ilustrar o conceito da composição e da ação de uma droga
nos diferentes clássicos ayurvédicos e Nighantus, estão descritas
em detalhes três drogas: Cannabis, Haritaki e Allium. Todas estas
drogas são extensivamente utilizadas no Ayurveda,
principalmente para propósitos de rejuvenescimento. O método
empregado na Índia antiga para a seleção de estudantes, os
ensinamentos e a iniciação dos médicos também estão incluídos.
Há muitos outros sistemas tradicionais de medicina na Índia;
alguns são contemporâneos ao Ayurveda e outros vieram para
este país posteriormente. Eventualmente, ocorre um intercâmbio
de idéias entre o Ayurveda e tais sistemas. Portanto, é fornecido
um resumo dos princípios fundamentais das medicinas Unani,
Siddha, Emchi ou Tibetana, o Prakrtika Cikitsa ou Naturopatia,
juntamente com a Yoga e os Tantras, no último capítulo deste
livro.
Se este trabalho puder auxiliar a mitigar um pouco o
sofrimento da humanidade e a promover o avanço da ciência
médica, sentiremos nossos esforços amplamente recompensados.

11
R. S. Bansal

12
PREFÁCIO PARA A EDIÇÃO REVISADA

Mesmo que as drogas de origem vegetal predominem nas


prescrições Ayurvédicas, no período pós-Budista, surgiu um ramo
especial desta ciência vital denominado Rasasastra ou
Iatroquímica. Neste ramo, descrevem-se propriedades e métodos
de processamento de metais, minerais, pedras preciosas e
rochas. É utilizado tanto para promoção como para a prevenção
da saúde verdadeira e a cura das doenças. O uso de metais, etc.
era por certo encontrado nos clássicos Ayurvédicos antes do
desenvolvimento deste ramo, mas sua utilização freqüente estava
restrita e era utilizada em forma bruta ou semi-processada. Os
monges budistas, os siddhas e os santos da escola Natha
descobriram que os produtos herbáceos isolados são
inadequados para enfrentar as alterações causadas por doenças
devastadoras e pela debilidade física. Com base em seus
experimentos, experiências e, sobretudo, poder espiritual, eles
processavam metais para torná-los não tóxicos, terapeuticamente
mais potentes, especialmente para o rejuvenescimento do corpo,
com o qual poderiam prosseguir em suas práticas espirituais sem
obstáculos, livre de doenças e da morte prematura. O objetivo
primário era atingir o estado de jivan-mukta ou da salvação da
alma, enquanto ainda vivos e enquanto ainda estivessem servindo
à sociedade.
Metais, assim como produtos vegetais, são compostos de
cinco elementos básicos denominados mahabhutas e todos os
conceitos da composição e da ação das drogas são aplicáveis aos
mesmos como um todo. A única diferença encontra-se em que
sejam utilizados em doses muito pequenas, através das quais são

13
capazes de curar muitas doenças crônicas e, portanto, incuráveis,
incluindo aquelas para as quais esteja indicado o procedimento
cirúrgico.
Na medicina moderna, algumas preparações metálicas, em
uso no passado, foram abandonadas como conseqüência de seus
efeitos tóxicos. Os cientistas e médicos modernos estão, portanto,
temerosos em utilizar as fórmulas Ayurvédicas para si e para seus
pacientes. Isto se deve principalmente à sua ignorância quanto à
realização dos procedimentos seguidos pelos médicos
Ayurvédicos na preparação destes metais, tornando-os livres de
quaisquer efeitos adversos ao organismo, antes de utilizá-los
como medicamentos.
O uso criterioso destas preparações metálicas pode
prevenir a necessidade de cirurgia em muitas doenças e, portanto,
tornar os pacientes livres dos fatores de risco. As diversas
doenças para as quais a medicina moderna não possui
medicamentos disponíveis, no momento, podem ser curadas
satisfatoriamente por estas preparações. Para eliminar a
ignorância e para atingir a iluminação, foi adicionado à esta edição
um novo capítulo sobre os ―Métodos de Preparação dos
Medicamentos Ayurvédicos‖, somado a muitas outras alterações e
suplementos.

Dr. Bhagwan Dash

14
PREFÁCIO PARA A PRIMEIRA EDIÇÃO

A utilização dos sistemas tradicionais de medicina para os


serviços de promoção da saúde, prevenção e cura das doenças
tem sido seriamente considerada em várias partes do mundo. A
Organização Mundial de Saúde, em uma de suas Resoluções,
enfatiza a utilização destes sistemas médicos pelos países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Juntamente com a
crescente apreciação dos méritos destes sistemas tradicionais de
medicina, há um aumento na demanda de livros expondo os
princípios fundamentais em que se baseiam.
Algumas destas práticas tradicionais estão apenas no
folclore e outras estavam compostas originalmente em idiomas
como o sânscrito, chinês, tibetano, mongól, árabe, persa, tamil e
simhali. Nas últimas poucas décadas houve uma exploração das
drogas destes sistemas tradicionais sem uma observação
cuidadosa aos seus princípios fundamentais. O uso destas drogas
não é meramente empírico, como considerado por algumas
pessoas, mas para alguns destes sistemas tradicionais existem
fundamentos racionais e científicos para explicar a ação e a
composição das drogas, as causas das doenças, sua prevenção,
assim como a cura e a manutenção de uma estado de saúde
verdadeiro. É necessário, portanto, que cientistas e pesquisadores
trabalhem para se familiarizarem com estes princípios
fundamentais antes de se envolverem na exploração de novas
drogas e terapias poderosas.

15
Os princípios fundamentais destes sistemas tradicionais
estão freqüentemente combinados com filosofia, religião e
aspectos aplicados. Aprender a linguagem original e examinar tais
princípios apresenta-se como um problema difícil mesmo para um
pesquisador bem intencionado. Na época em que estes textos
foram compostos, a facilidade de impressão também não existia
ou não estava bem desenvolvida. Portanto, havia um esforço
intencional da parte dos autores em produzir trabalhos sucintos e
críticos. A maioria dos trabalhos originais sobre o Ayurveda estão
escritos em versos, freqüentemente concisos e de difícil
compreensão. Como conseqüência das vicissitudes da época,
muitos destes textos foram perdidos e subseqüentemente
restaurados com o auxílio de diferentes fontes materiais então
existentes. Eram freqüentes as alterações não autorizadas e os
erros de interpretação durante tais processos de recuperação e
caligrafia. Deste modo, o preparo de um livro sobre os princípios
fundamentais do Ayurveda, com uma linguagem simples,
selecionando cuidadosamente materiais autênticos a partir destes
textos, deve-se à grande necessidade de auxiliar os
pesquisadores e estudantes neste campo da ciência.
Com relação às ciências modernas básicas, como a física
e a química, alguns destes princípios dos sistemas tradicionais de
medicina podem ser aparentemente irracionais e não-científicos.
Uma pessoa com atitude científica não deve precipitar-se em tirar
conclusões sobre eles à primeira vista. As limitações das ciências
modernas, principalmente quando relacionadas com um assunto
como a medicina, são bem conhecidas. O indivíduo não é apenas
um aglomerado de pele, músculos e ossos, mas possui uma
mente, um intelecto, o ego e uma alma. Neste campo pouco tem
sido feito pela ciência moderna. Os cientistas de todo mundo
estão imensamente preocupados com as pesquisas neste campo,
mas levará um tempo considerável até que surjam

16
empreendimentos suficientes nesta direção. Portanto, antes de
quaisquer conclusões sobre os princípios fundamentais do
Ayurveda devem ser feitas considerações adequadas para
preencher esta lacuna no conhecimento atual.
Em toda cultura, a tradição ocupa uma importante função
e, com freqüência, impõe-se uma crença irracional pelos
indivíduos da região sem a verificação da veracidade destas
práticas tradicionais. Por outro lado, em nome da civilização e da
modernização, estas práticas tradicionais são detestáveis para
alguns. Consideram tudo que é tradicional como supersticioso e
dogmático e, portanto, defendem sua total rejeição. A verdade
repousa talvez em alguma área entre estas duas linhas de
abordagem. Embora não seja nem desejável nem científico
aceitar tudo o que for tradicional como verdadeiro, sem verificação
adequada, é igualmente não científico rejeitá-los completamente
apenas por serem tradições ou antigos.
Muitos aspectos considerados mitos tornam-se agora fatos
científicos. A circulação sangüínea descrita no Susruta Samhita
(antes de 700 A.C.) era mito até Harvey. A secreção ou suco
gástrico e sua função no processo digestivo como descrito no
Caraka Samhita (antes de 700 A.C.) era um mito até Pavlov. A
prática tradicional de inoculação contra varíola (masurika) era um
mito até Edward Jenner. Mesmo atualmente, pessoas capazes de
opinar recusam-se a acreditar que pudesse ser utilizada na Índia
tal prática preventiva para uma doença tão temerosa, antes de
sua exploração científica. Esta antiga prática é predominante
mesmo nos dias de hoje (quando a varíola já está erradicada em
nosso país) pelos Malis, nas vilas de Bihar. A descrição da cirurgia
plástica como feita no Susruta Samhita teria permanecido um
mito, não fosse sua vasta propagação e aceitação no presente
pelos cirurgiões ocidentais. O transplante de cabeça descrito nos
Vedas, para o qual há uma referência neste livro, e o

17
rejuvenescimento do corpo descrito na literatura védica e nos
clássicos Ayurvédicos, como o Caraka Samhita e o Susruta
Samhita, continuam sendo considerados mitos até que sejam
demonstrados na prática. O poeta Kalidasa, na introdução de sua
memorável peça Malavikagnimitra afirma:

“Todas as coisas antigas não devem ser necessariamente


verdadeiras; todas as coisas novas não devem ser
necessariamente isentas de falhas. Para o homem sábio,
ambas devem ser aceitas apenas se permanecerem após
o teste. O insensato, entretanto, é controlado pela
corrente de opiniões alheias”.

O Ayurveda, assim como outros sistemas de medicina


tradicional possui características únicas. Enfatiza a promoção da
saúde verdadeira e a prevenção das doenças. A existência de
organismos e seu papel na causa de muitas doenças infecciosas
têm sido reconhecida e trabalhada. Mas para promover a cura e a
prevenção destas doenças, as drogas e as terapias prescritas nos
clássicos Ayurvédicos e administradas por médicos assim
formados não objetivam a destruição destes organismos. Alguns
destes medicamentos podem possuir efeitos bacteriostáticos ou
bactericidas, mas a maioria deles não age desta maneira. No
Ayurveda, dá-se mais ênfase ao ―campo‖ do que à ―semente‖. Se
o campo está árido, a semente, por mais potente que seja, não
poderá germinar. Da mesma maneira, por mais agressivos que a
bactéria ou o microorganismo possam ser, não serão capazes de
produzir uma doença no corpo humano, a menos que os tecidos
deste corpo estejam férteis o suficiente para aceitá-los e ajudá-los
em seu crescimento e multiplicação. A destruição destes
organismos por medicamentos não resolve o problema
permanentemente. Pode oferecer um alívio momentâneo e,

18
talvez, a resistência do indivíduo durante este período possa ser
suficientemente desenvolvida, como uma reação à infecção por
estes microorganismos, para prevenir seus ataques futuros. O
homem não vive em uma atmosfera totalmente livre de germes,
mesmo que possa minimizá-los. O que se poderia fazer
seguramente seria conservar os tecidos orgânicos infertéis e não
receptivos a estas bactérias. Se o corpo adoecer, os tecidos
devem estar tão condicionados pelas drogas, pela dieta e por
outros métodos que estes microorganismos, quaisquer que sejam
as denominações pelas quais venham a ser conhecidos,
encontrarão uma atmosfera hostil à sua sobrevivência,
multiplicação e desenvolvimento. Portanto, todos os
medicamentos e terapias, incluindo as técnicas preventivas,
prescritos no Ayurveda objetivam o condicionamento dos tecidos
e não a destruição dos organismos invasores. As drogas
empregadas como bactericidas devem exercer um efeito
semelhante nos tecidos corporais. Quando administradas em
dose suficiente para destruir os organismos patogênicos,
destroem simultaneamente os organismos da flora normal e
prejudicam o funcionamento adequado dos tecidos. Deste modo,
produzem efeitos colaterais tóxicos enquanto curam a doença. Os
medicamentos Ayurvédicos, por outro lado, enquanto condicionam
os tecidos corporais contra os organismos patogênicos,
promovem nutrição e rejuvenescimento. Quando a doença estiver
curada, o indivíduo adquire muitos benefícios colaterais. Por esta
razão, os medicamentos Ayurvédicos são tônicos. Exceto por
algumas drogas modernas, por exemplo, minerais e vitaminas,
todas as outras são exclusivamente indicadas para pacientes. As
drogas Ayurvédicas, por outro lado, podem ser administradas
tanto para pacientes como para indivíduos saudáveis
simultaneamente – em pacientes curam as doenças e nos

19
indivíduos saudáveis previnem as doenças e promovem a saúde
verdadeira.
Para ilustrar este ponto: Vasa (Adhatoda vasica, Nees.) é
prescrita freqüentemente pelos médicos Ayurvédicos para
pacientes portadores de bronquite, laringite, faringite e mesmo
tuberculose. Talvez alguns elementos desta droga tenham
propriedades para destruir alguns dos organismos que causam
estas doenças. Mas esta não é a principal razão que motiva o
médico a prescrevê-la. Estes organismos desenvolvem-se e
multiplicam-se para produzir a doença no trato respiratório apenas
quando os elementos teciduais locais estão alterados com um
excesso de kapha dosa. A Adhatoda vasica Nees., ou Vāsa,
contra-ataca este distúrbio de kapha dosa e auxilia na
manutenção deste estado de equilíbrio corporal, tornando os
organismos incapazes de produzir aquelas patologias.
No Ayurveda o tratamento prescrito não visa a correção da
região afetada isoladamente. No processo de manifestação da
doença, vários órgãos estão envolvidos. A doença tem origem em
um local particular, move-se através de um canal particular e
manifesta-se em um órgão particular. Entretanto, o tratamento
sempre objetiva a correção do sítio de origem e os canais de
circulação ao longo do local de manifestação da doença, todos
juntos. Citarei como exemplo o tratamento da bronquite asmática,
que na linguagem Ayurvédica é conhecida como tamaka svasa. A
dificuldade respiratória nesta doença é causada pelo espasmo da
árvore brônquica e, acreditando nisto, drogas broncodilatadoras
são geralmente prescritas na medicina moderna. Mas o objetivo
do tratamento Ayurvédico para esta patologia é diferente. Talvez
algumas drogas utilizadas contra estas doenças tenham efeito
broncodilatador, e isto pode ser demonstrado em experimentos
com animais, mas a maioria das drogas empregadas nestes
tratamentos não produzirá qualquer efeito semelhante e um

20
farmacologista ficará perplexo e as rejeitará definindo-as como
inúteis para o tratamento da bronquite asmática. Um clínico, por
outro lado, apreciará tais efeitos em seus pacientes, apesar de
não ser capaz de explicá-los em termos de fisiologia e conceitos
patológicos modernos. Esta doença tem sua origem no estômago
e no intestino delgado. O objetivo principal do médico Ayurvédico
é corrigir estes dois órgãos através de uma terapia com eméticos
ou administrando medicamentos que conservem os intestinos
limpos. O Haritaki (Terminalia chebula, Retz.), juntamente com
outros medicamentos, é eficaz no tratamento destes dois órgãos
e, portanto, as preparações indicadas para o tratamento da
bronquite asmática contém, invariavelmente, haritaki e outras
drogas de efeitos semelhantes.
Todos estes detalhes fornecidos acima chamam a atenção
dos cientistas e pesquisadores que não estão familiarizados com
o Ayurveda justamente pela essencialidade do conhecimento dos
fundamentos deste sistema na compreensão e apreciação
científica da ação das drogas e das terapias existentes. Este é o
objetivo principal da realização deste livro. O que está sendo
fornecido aqui serve apenas para despertar seu interesse para
estudos posteriores. Em um pequeno livro como este não podem
ser dados todos os detalhes. De fato, outros livros devem ser
escritos sobre cada um destes tópicos para explicá-los
inteiramente aos leitores.
Desejo incluir aqui uma nota de precaução. Você não deve
se deixar dominar pela idéia de que o que está escrito neste livro
seja tudo o que existe disponível sobre o Ayurveda. Não é
verdadeiro. Está sendo fornecido aqui apenas um resumo destes
princípios extraídos principalmente do Caraka Samhita. Evitei
intencionalmente os detalhes e as diferentes interpretações e
pontos de vista para não tornar o leitor confuso com muitos
detalhes ao iniciar seu estudo. Este livro é, à princípio, destinado

21
a um iniciante, um cientista ou um médico que não esteja
familiarizado com o Ayurveda e para quem o estudo dos clássicos
originais em sânscrito não seja possível.
No capítulo I, quando da definição do Ayurveda e da
elaboração de seu campo de ação, as diferentes especialidades
estão enumeradas. Devido às vicissitudes da época e à falta de
patrocínio, muitos dos ramos do Ayurveda não estão mais em
prática. Existem evidências registradas sobre a prática de grandes
cirurgias, procedimentos como craniotomia e cirurgia plástica nos
clássicos Ayurvédicos e nos trabalhos afins. Infelizmente,
tornaram-se matéria da história da medicina. Neste capítulo, estão
descritas as características próprias do Ayurveda de forma
resumida. No Capítulo II, apresenta-se uma breve revisão
histórica do Ayurveda.
No Capítulo III estão descritos vários princípios
fundamentais. Como já citado anteriormente, o Ayurveda enfatiza
muito a promoção da saúde verdadeira e a prevenção das
doenças. Com este propósito, no Capítulo IV descrevem-se
diferentes dietas e comportamentos para os horários diurno (dina-
carya) e noturno (ratri-carya) e para as diferentes estações do ano
(rtu-carya). São fornecidos de maneira sucinta diferentes tipos de
terapias rejuvenescedoras e métodos de administração que
auxiliam na promoção da saúde absoluta.
Para a análise do paciente e da doença que o acomete,
alguns métodos de diagnóstico exclusivos do Ayurveda são
descritos e delineados no Capítulo V. O Ayurveda possui sua
própria maneira de descrever a causa das doenças e de
classificar os diferentes métodos para o tratamento. Isto também
está relacionado neste capítulo. O Capítulo VI refere-se à dieta
Ayurvédica. Os ingredientes que compõem as dietas e as bebidas
estão classificadas de maneira diversa em diferentes textos

22
Ayurvédicos. Foi seguido aqui o método descrito no Caraka
Samhita.
O Capítulo VII lida com as drogas e os princípios seguidos
em sua classificação. Ilustra também o modo de ação das
mesmas. Para ilustrar o que está exposto neste capítulo, três
drogas estão detalhadas. São elas: Cannabis, Haritaki (Terminalia
chebula, Retz.) e Allium. Todas são muito utilizadas popularmente
na medicina Ayurvédica. O Haritaki é empregado em quase todas
as preparações Ayurvédicas importantes. Allium é mais utilizado
como condimento caseiro. Cannabis é mal empregada como
agente psicotrópico. Devido às suas utilidades, diferentes estórias
mitológicas são descritas nos clássicos Ayurvédicos para enfatizar
sua importância. Todos os textos Ayurvédicos descrevem estas
três drogas como produtos da amrta (ambrosia). A descrição
destas substâncias está nos Capítulos VIII, IX e X, juntamente
com as estórias mitológicas, o uso progressivo em épocas
diferentes, seus sinônimos, propriedades e ações. Na descrição
do Haritaki (Terminalia chebula Retz.), foi fornecido o material
disponível sobre esta droga na literatura médica tibetana com a
intenção de demonstrar as semelhanças e diferenças existentes
nos dois tipos de práticas tradicionais.
O estudo, a iniciação e a prática do Ayurveda eram bem
controlados no passado e diferentes regras eram sistematizadas
para os testes de seleção dos estudantes para o ensino médico. A
função de um médico genuíno era bem estabelecida e as pessoas
eram cuidadosas para não levarem em consideração médicos
falsos e charlatães. Suas características estão descritas no
Capítulo XI.
No Capítulo XII, é fornecido o resumo dos princípios
fundamentais de outros sistemas de medicina denominados Unani
Tibb, Siddha, Emchi e Prakrtika Cikitsa, juntamente com Yoga e

23
Tantra, com a intenção de demonstrar suas semelhanças com os
princípios do Ayurveda.
Todos os sistemas de medicina, tradicionais, folclóricos ou
modernos, têm seu campo de ação significativo e próprio nos
serviços de promoção da saúde, prevenção e cura nos países
desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Não é
intenção do autor minimizar ou negar a importância de qualquer
sistema de medicina ou exagerar em outros. Se abrirmos os
capítulos da história, tornar-se-á evidente que nenhuma cultura ou
civilização desenvolveu-se isoladamente. Bons ensinamentos de
outros e aspectos úteis de alguns de nossa própria tradição
sempre foram respeitados e utilizados sem reservas para o
progresso. Portanto, o Ayurveda não é a expressão exclusiva de
tudo que é verdadeiro e útil. Esta noção é contrária aos próprios
princípios fundamentais do Ayurveda e sistemas afins da cultura
indiana. De acordo com o Caraka:

(Caraka: Vimãna 8:14)


“O sábio considera o universo inteiro como seu preceptor.
Apenas o insensato encontra inimigos nele. Você deve,
portanto, aceitar sem hesitação o conselho apropriado que
pode vir de qualquer parte, mesmo de um inimigo, e segui-lo.”

Conservando na mente este conselho do Caraka, todos os


sistemas de medicina, tradicionais ou modernos, devem agir como
complementares e suplementares para cada um, de forma a
mitigar as misérias, dando alívio aos sofrimentos da humanidade.

Dr. Bhagwan Dash

24
ABREVIAÇÕES

AH - Astanga Hrdaya
AHAUN - ―All About Allopathy, Homoeopathy, Unani and Nature Cure‖,
Dr. O. P. Jaggi
AS - Astanga Sangraha
BBR - Bharata Bhaisajya Ratnakara
BP - Bhava Prakasa
BNR - Brhannighantu Ratnakara
BR - Bhaisajya Ratnavali
BYR - Brhadyoga Ratnakara
CD - Cakradatta
CS - Caraka Samhita
DN - Dhanvantari Nighantu
GN - Gadanigraha
HS - Harita Samhita
KN - Kayadeva Nighantu
KS - Kasyapa Samhita
MV - Madanavinoda
NA - Navanitaka
NR - Nighantu Ratnakara
NS - Nighantu Siromani
RN - Raja Nighantu
RVN - Rajavallabha Nighantu
SA - Sarangadhara Samhita
SGN - Saligrama Nighantu
SS - Susruta Samhita
SSM - ―Introduction to the Siddha System of Medicine‖, Dr. V.
Narayanaswami
VM - Vrndamadhava
VS - Vangasema
YR - Yoga Ratnakara

25
EQUIVALENTES ROMANOS DO DEVANAGARI

26
CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

O homem esforçou-se eternamente para se conservar livre


dos três tipos de misérias denominadas físicas, mentais e
espirituais. Neste sentido, a história da medicina é tão velha
quanto a história da humanidade. De acordo com a tradição
indiana, os quatro principais objetivos da vida humana são: o
Dharma ou a realização das Leis da vida, Artha ou a aquisição da
riqueza, Kama ou a satisfação dos desejos mundanos e Moksa ou
a salvação. A boa saúde era considerada imprescindível para a
aquisição destes objetivos.
Os sistemas tradicionais de medicina desenvolveram-se
nas várias partes do mundo durante épocas diferenciadas. Uma
forma sistemática foi-lhes dada em diferentes centros antigos de
civilização e cultura. De acordo com o Caraka, o Ayurveda ou ―a
ciência da vida‖ sempre existiu, assim como sempre existiram
pessoas que a compreendiam à sua maneira. Alguns destes
sistemas estão baseados em princípios fundamentais sólidos e
racionais e outros possuem apenas uma base empírica. Alguns
não sobreviveram e tornaram-se assunto da história da medicina,
como as medicinas grega e egípcia. E ainda outros, como os
sistemas tradicionais da Índia e da China, não apenas

27
sobreviveram, mas evoluem de forma completa sob o patrocínio
do Estado.
Ayurveda, Unani, Siddha, Emchi (tibetano) e Prakrtika
Cikitsa (naturopatia) são os vários sistemas tradicionais de
medicina ainda prevalentes na Índia. Yoga e Tantra, a princípio
destinados a aquisições espirituais, possuem também certas
indicações para a prevenção e cura de doenças psíquicas, físicas
e psicossomáticas. Além disso, muitos tipos de medicinas
populares são prevalentes em diferentes áreas tribais da Índia.
Elas possuem uma rica tradição no uso das plantas, produtos
minerais e animais que apresentam utilidade terapêutica.
Dentre os sistemas tradicionais de medicina da Índia, a
prática do Ayurveda predomina em quase todas as regiões do
país e em países vizinhos como o Nepal, Sri Lanka, Bangladesh e
o Paquistão. Unani Tibb, que significa literalmente ―medicina
grega‖, é popular em certas regiões do país, dominadas pela
população muçulmana. O sistema Siddha de medicina identifica-
se com a cultura Dravidiana predominante no Estado de Tamil
Nadu e certas áreas adjacentes aos Estados vizinhos do sul da
Índia, que possuem população de idioma Tâmil. Emchi, mais
conhecido como sistema tibetano de medicina, é popular em
certas regiões fronteiriças do norte da Índia como Laddakh, Lahul,
Spiti, Darjeeling e Sikkim. Estas áreas possuem fronteira comum
com o Tibete e a China. Os locais para a prática de Yoga, Tantra
e Prakrtika Cikitsa são centros localizados em diferentes partes do
país. Diferentes tipos de medicina popular prevalecem entre os
Adivasis ou povos tribais, em sua maioria habitantes das áreas
florestais dos Estados de Orissa, Bihar, Madhya Pradesh, Andhra
Pradesh e Rajasthan.
Há muitos aspectos em comum entre estes sistemas
tradicionais de medicina na Índia, tanto na prática como na teoria.
Cada um deles tem dado e tomado um do outro. Os

28
medicamentos de um sistema são, desse modo, livremente
utilizados pelos médicos de outro sistema, não constituindo
compartimentos estanques. Entretanto, o Ayurveda, que é o mais
popular entre a população da Índia, possui uma posição
privilegiada entre eles.

Definição de Ayurveda
A palavra Ayurveda é composta de dois termos em
sânscrito, viz., ayus significa ―vida‖ e veda significa o
―conhecimento‖; juntos significam ―ciência da vida‖. Deste modo,
definindo o sentido, é costume considerá-la sempre como ―ciência
da medicina‖. O Caraka define Ayurveda como a ―ciência com a
ajuda da qual alguém pode obter conhecimento sobre os modos
de vida úteis e prejudiciais (hita e ahita ayus), felizes e miseráveis,
coisas que são úteis e prejudiciais para tais modos de vida, sobre
a duração da vida e a sua verdadeira natureza‖. Vê-se através
desta definição que o Ayurveda enfatiza não apenas o
direcionamento a uma vida repleta de felicidade, a qual implica em
uma atitude individualista, mas também direciona à uma vida que
seja útil à sociedade como um todo. O homem é um ser social.
Ele não pode retirar-se da sociedade. A menos que a sociedade
se torne feliz, não será possível para o indivíduo obter e manter
sua própria felicidade. É com isso em mente que o indivíduo deve
fazer sempre um esforço para contribuir com a felicidade da
sociedade, e os textos Ayurvédicos estão repletos de referências
quanto às formas pelas quais a sociedade pode ser mantida feliz.
A medicina social, que é tratada como um novo conceito no
sistema de medicina Ocidental, não é nada além do que
reminiscências daquilo que tem sido preconizado e proposto no
Ayurveda há mais de 2500 anos.
Área de Atuação do Ayurveda

29
O Ayurveda não lida exclusivamente com o tratamento de
seres humanos. Dedica-se também ao tratamento das doenças
em animais e mesmo em plantas. Conseqüentemente, na Índia
antiga, santos como Nakula, Salihotra e Parasara compuseram
tratados sobre Asvayurveda, Gajayurveda, Gavayurveda e
Vrksayurveda, para o tratamento de doenças em cavalos,
elefantes, gado e em árvores, respectivamente.
O Ayurveda oferece meios racionais para o tratamento das
muitas doenças internas, consideradas crônicas ou incuráveis
para outros sistemas de medicina em uso atualmente. Ao mesmo
tempo, dá grande ênfase à manutenção de uma saúde verdadeira
para uma pessoa normal ou sadia. Desse modo, objetiva tanto a
prevenção como a cura das doenças. Para o propósito da
prevenção das doenças, os regimes devem ser adotados levando-
se em consideração o horário diurno, noturno e as diferentes
estações do ano, os quais estão descritos em detalhes. O homem
expõe-se às doenças devido aos muitos fatores externos. Mas há
alguns distúrbios aos quais o homem está exposto mesmo no
curso normal de sua vida, e. g., fome, sede, velhice etc. O
Ayurveda fornece métodos para a prevenção e o controle destas
moléstias naturais.
Os Oito Ramos do Ayurveda
São os seguintes os oito importantes ramos do Ayurveda:
1. Kayacikitisa ou Medicina Interna
2. Salya Tantra ou Cirurgia
3. Salakya Tantra ou Tratamento das Doenças da Cabeça e
Pescoço
4. Agada Tantra ou Toxicologia
5. Bhuta Vidya ou Controle de Ataques por Espíritos Malignos e
Outras Doenças Mentais
6. Bala Tantra ou Pediatria

30
7. Rasayana Tantra ou Geriatria, incluindo a Terapia
Rejuvenescedora
8. Vajikarana Tantra ou Ciência dos Afrodisíacos
Alguns estudiosos sustentam que o Pañcakarma Cikitisa
(As Cinco Terapias de Eliminação) é um ramo adicional do
Ayurveda.
Muitos clássicos foram escritos sobre cada um destes
ramos e todos eles estavam em prática. Durante o advento do
Budismo, a prática de ahimsa tornou-se muito popular.
Procedimentos cirúrgicos (que eram invariavelmente dolorosos)
eram infelizmente considerados como uma forma de himsa (lesão
ou dano) e, conseqüentemente, a prática da cirurgia (salya tantra)
foi desencorajada. Isto também causou um efeito adverso sobre
os outros ramos afins da medicina. Assim, no momento, apenas
três ramos, Kaya Cikitisa (Medicina Interna), Rasayana Tantra
(Geriatria e Terapia Rejuvenescedora) e Vajikarana Tantra
(Ciência dos Afrodisíacos) estão em prática, sendo que os outros
ramos do Ayurveda tornaram-se apenas assunto da história da
medicina.
Características Singulares do Ayurveda
A seguir estão as características singulares do sistema
Ayurvédico de medicina:
1.Tratamento do Indivíduo como um todo: Na medicina
moderna, presta-se mais atenção à correção da parte atingida do
corpo. Mas no Ayurveda, enquanto uma doença é tratada, o
indivíduo como um todo é levado em consideração, não apenas a
condição de outras partes do seu corpo como também as
condições de sua mente e sua alma, enquanto se realiza o
tratamento do paciente.
2.Baixo Custo do Medicamento: Em sua maioria, os
medicamentos Ayurvédicos são preparados a partir de drogas

31
disponíveis nas florestas do país. Portanto, sua preparação tem
baixo custo.
3.Não Envolve Câmbio Exterior: Quase todas as drogas
Ayurvédicas preparadas com vegetais, metais, minerais e
produtos animais são disponíveis na Índia. O câmbio exterior não
é utilizado para importá-los de fora. Mesmo para seu
processamento não há necessidade de especialistas estrangeiros
e de importação de equipamentos sofisticados.
4.Proveitoso para um Padrão Socialista: No passado, os
médicos costumavam preparar seus próprios medicamentos para
o tratamento de seus pacientes. Atualmente, encontram pouco
tempo para manufaturar estes remédios e, portanto, muitas
farmácias têm se estabelecido nos setores públicos e privados.
Para o estabelecimento destas farmácias, entretanto, não é
necessário um grande capital e a maioria de seus lucros é
destinada aos trabalhadores que coletam as drogas brutas e para
a mão-de-obra empregada na manufatura dos medicamentos.
Torna-se, portanto, proveitoso para sociedades com padrão
socialista.
5.Ausência de Efeitos Tóxicos: Os medicamentos Ayurvédicos
possuem atrás de si séculos de experiências tradicionais,
apresentando, portanto, poucos efeitos tóxicos no organismo
humano. Mesmo certos materiais tóxicos utilizados na preparação
dos medicamentos são sempre submetidos à desintoxicação, o
que os torna mais aceitáveis pelo organismo, antes de serem
administrados na forma de medicamento.
6.Cada Medicamento é um Tônico: As drogas da medicina
moderna, exceto as vitaminas e os minerais, são destinadas
apenas ao paciente. Todo medicamento Ayurvédico pode ser
utilizado simultaneamente por pacientes e pessoas saudáveis.
Nos pacientes, curam as doenças e nos indivíduos saudáveis,
produzem imunidade contra as mesmas.

32
7.Condizente aos Costumes da População: Com freqüência,
juntamente com os medicamentos, certas dietas e condutas são
prescritas aos pacientes. Tais procedimentos estão alinhados com
os costumes e a tradição do povo. Portanto, não são
considerados estranhos. Por outro lado, um médico Ayurvédico é
respeitado e as pessoas depositam muita confiança nele.
8.Conceito de Doença Psicossomática: As doenças não são
consideradas exclusivamente psíquicas ou somáticas. Fatores
psíquicos são geralmente descritos como causas de doenças
somáticas e vice-versa. Isto deu origem ao conceito
psicossomático de todas as doenças no Ayurveda.
9.Ênfase à Medicina Preventiva: O Ayurveda enfatiza muito a
prevenção das doenças. Prescreve-se, com freqüência, "o que
fazer‖ e "o que não fazer‖ para indivíduos saudáveis. Condutas
para diferentes horários do dia e da noite, para as estações do
ano e para pessoas dos diversos grupos etários e posições
sociais são descritas em detalhes.

33
CAPÍTULO II

REVISÃO HISTÓRICA

Mitologia Sobre a Origem do Ayurveda


De acordo com a mitologia indiana, o Ayurveda foi
percebido (não composto) primeiramente por Brahma, que
ensinou esta ciência à Daksa Prajapati, que a ensinou aos Asvini-
kumaras e que a ensinaram à Indra. Sobre a hierarquia posterior
dos transmissores do Ayurveda, os textos Ayurvédicos variam
consideravelmente.
De acordo com o Susruta Samhita, o deus Dhanvantari
recebeu-o de Indra, que o ensinou a Dividasa, que por sua vez o
transmitiu para Susruta, Aupadhenava, Aurabhra, Pauskalavata,
Gopuraraksita e Bhoja. Segundo o Caraka Samhita, Bharadvaja
aprendeu-o de Indra e ensinou-o para Atreya Punarvasu. Este
último, por sua vez, ensinou-o a Agnivesa, Bheda, Jatukarna,
Parasara, Harita, Ksarapani etc. De acordo com o Kashyapa
Samhita, Indra ensinou-o a Kashyapa, Vasistha, Atreya e Bhrgu.
Muitos trabalhos médicos diferentes foram compostos por estes
sábios do passado.
Contudo, todos eles estão agrupados sob duas escolas:
 A escola Atreya que trata principalmente da medicina e
 A escola Dhanvantari que lida primariamente com a cirurgia.

34
Muitos destes textos não se encontram mais disponíveis
nos tempos atuais.

Ayurveda na Era Pré-Védica


A Índia representou um papel de destaque na história da
tecnologia e da ciência. Esta, segundo evidências arqueológicas
atuais, começa com a Civilização do Vale do Indo,
freqüentemente referida como Cultura Harappan-Harappa,
juntamente com Mohenjo-daro, que são os importantes sítios
arqueológicos do Vale do Indo. Este período é geralmente
denominado Pré-Védico. Harappa estabeleceu laços culturais e
comerciais com os países vizinhos nas regiões da Ásia Central e
Ocidental. Esta civilização prosperou na Índia Ocidental e
Setentrional entre 2500 A.C. e 1500 A.C. Evidências obtidas das
análises dos crânios descobertos em Mohenjo-daro e Harappa
mostram que os habitantes daquela época eram aborígenes do
tipo proto-australóide. Há muitas representações sobre os selos
de Mohenjo-daro e Harappa com relação a um deus masculino,
provido de chifres e com três faces, sentado com a postura de
iogue, suas pernas duplamente dobradas, calcanhar com
calcanhar e circundado por animais. Este talvez seja o protótipo
de Shiva, considerado deus da Yoga e da Medicina.
Estas escavações em Harappa e Mohenjo-daro são ampla
testemunha da competência alcançada pelo povo da civilização
do Vale do Indo em termos de saneamento e habitação. Parece
que ambas as cidades de Mohenjo-daro e Harappa foram
construídas após cuidadoso planejamento. As casas eram
providas com confortos modernos como banheiros, lavatórios,
esgotos, tanques de água fresca, pátios e quartos de dormir. Os
esgotos principais poderiam ser tratados com o auxílio de poços
de inspeção cobertos, especialmente construídos, feitos de tijolos.
Todo o conceito de planejamento mostra uma extraordinária

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preocupação com o saneamento e a vida pública, talvez sem
paralelo nos dias de hoje.
As escavações destes sítios têm revelado substâncias
terapêuticas como Silajatu, para o tratamento do diabetis,
doenças reumáticas, etc., folhas de Azadirachta indica (A. Juss.) e
chifres do veado vermelho. Crânios nos quais foram realizadas
cirurgias cranianas também foram escavados nestes sítios. Todos
estes aspectos apontam para a alta qualidade da ciência médica
que predominava na Índia daquela época.
Ayurveda na Era Védica
Dhanurveda (a ciência do manejamento do arco e flecha),
Gandharvaveda (a ciência das artes refinadas), Sthapatyaveda (a
ciência da arquitetura) e Ayurveda (a ciência da medicina) são
considerados os quatro Upavedas ou matérias complementares
do Rk, Yajur, Saman e Atharva Vedas, respectivamente. O
Susruta estabelece claramente o Ayurveda como um Upaveda do
Atharva Veda. De acordo com Caranavyuha, o Ayurveda é o
Upaveda do Rk Veda. Segundo um outro ponto de vista, o
Ayurveda é o quinto Veda, independente dos outros quatro.
Uma análise do material védico revela que todos os quatro
Vedas estão repletos de referências aos vários aspectos da
medicina. Deuses como Rudra, Agni, Varum, Indra e Maruti foram
designados médicos celestiais. Os mais famosos médicos da
época foram os Asvins. Muitas realizações milagrosas na área da
medicina e da cirurgia foram-lhes atribuídas nos Vedas.
Considera-se conquista dos Asvins a cura de doenças graves
como Yaksma (tuberculose), a revitalização de indivíduos e
homens santos, a correção da esterilidade e a aquisição de
longevidade. Muitos procedimentos cirúrgicos como o transplante
da cabeça de um cavalo para um tronco humano e sua
subseqüente substituição por uma cabeça humana, a implantação

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de membros artificiais, a implantação da cabeça de Yajña ao seu
tronco etc., estão descritos em vários textos.
Nos Vedas estão disponíveis os princípios fundamentais da
ciência médica, inclusive os conceitos de tridosha e de sapta
dhatu, as descrições anatômicas e das muitas doenças, os
conceitos de digestão e metabolismo. Há detalhes sobre a
descrição de diferentes tipos de bactérias responsáveis pela
manifestação das doenças. Algumas destas bactérias estão
descritas como invisíveis à olho nu. Procedimentos como o parto,
a cauterização, intoxicações, tratamento dos ataques por energias
prejudiciais, terapias rejuvenescedoras e afrodisíacos são
descritos em muitos textos. As plantas medicinais também são
descritas quanto às suas diferentes partes e efeitos terapêuticos.
Descrevem-se cerca de 28 doenças juntamente com seus
medicamentos. Os métodos de preparação destes medicamentos
estão disponíveis apenas de forma sucinta. No Rk Veda, há uma
descrição de 67 plantas medicinais e no Yajur Veda 81 tipos
foram descritos. Apenas no Atharva Veda, existe a descrição de
290 plantas medicinais. Além disso, na literatura Brahmana estão
disponíveis cerca de 130 descrições destas plantas. Está
declarado no Rk Veda que Vispala, esposa do rei Khela, teve
seus membros inferiores amputados durante uma guerra. Eles
foram substituídos por um par de pernas artificiais, adaptadas ao
seu corpo através de cirurgia protética.
A sondagem da uretra foi o procedimento mais delicado já
descrito, prescrito para o alívio de uma paciente com retenção
urinária. A aplicação de sanguessugas para úlceras também está
descrita.
Ayurveda no Período Pós-Védico
No período pós-védico, o Ayurveda ocupou uma posição
respeitável através da reunião racional de conceitos metódicos e
práticas terapêuticas sistemáticas. Mesmo que os célebres textos

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clássicos do Ayurveda, o Caraka e o Susruta Samhita,
transmitidos até nós, tenham adquirido suas formas atuais após
edições provavelmente do século 7 A.C., os pensamentos e as
práticas neles ilustrados estavam indubitavelmente em voga muito
antes deste período. Em sua abordagem teórica, esta ciência da
vida deve muito às filosofias do Sankhya Yoga e de Vaisesika,
adotando os princípios da última no que diz respeito ao Dravya-
guna-vijnana (matéria médica) e às teorias do Tridosha e do
Sapta dhatu, e à primeira, relacionada à Pañcabhautika
(composição do corpo) e sua evolução a partir do Purusa Prakrti.
Crônicas Sobre a Vida de Jivaka
Durante a vida de Buda, havia um médico famoso com o
nome de Jivaka. Devido à sua competência na arte de curar, foi
por três vezes coroado rei dos médicos e dos cirurgiões. Ele era
um especialista em pediatria, excelente neurocirurgião e realizava
com sucesso grandes cirurgias abdominais. Foi um discípulo de
Atreya, o renomado professor de Taxila, um pioneiro do sistema
indiano de medicina.
Atreya estava muito impressionado pela inteligência,
perspicácia e pelo aguçado poder de observação de Jivaka,
segundo as escrituras tibetanas. Costumava pedir a Jivaka, seu
discípulo, para acompanhá-lo à residência de seus pacientes e
ajudá-lo no tratamento. Um dia, Atreya prescreveu um
medicamento o qual, segundo Jivaka, não estava correto. Dirigiu-
se ao seu preceptor e retornou novamente à residência do
paciente, alterando a prescrição. Com a substituição do
medicamento, o homem curou-se e isto impressionou muito o
professor, quando veio a tomar conhecimento do ocorrido.
A admiração e a afeição de Atreya por Jivaka não eram
apreciadas pelos colegas de classe do último, que costumavam
colocar em dúvida a imparcialidade do professor Atreya. Um dia,
este pediu a todos os seus alunos que fizessem uma avaliação

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para testar sua sabedoria, solicitando a todos, inclusive Jivaka,
que fossem ao mercado e perguntassem sobre os preços de
certos produtos medicinais. Todos retornaram e Atreya
questionou-os sobre os preços de outros produtos medicinais,
além daqueles mencionados. Não havia nenhum sobre o qual
Jivaka não pudesse responder satisfatoriamente, demonstrando o
poder de imaginação e percepção do mesmo, que era
considerado possuidor de todos os atributos de um bom médico.
A terceira estória é semelhante. Um dia, Atreya pediu a
todos os estudantes que fossem até a colina próxima e
trouxessem os itens que não possuíssem valor medicinal. Todos
os estudantes com excessão de Jivaka, retornaram com muitas
substâncias as quais, de acordo com eles, não possuíam valor
medicinal. Jivaka voltou de mãos vazias e explicou ao seu
professor que não havia nada que não possuísse um valor
medicinal. Isto demonstrava a meticulosidade do estudo de
Jivaka.
A quarta estória é sobre um elefante. Uma vez, Jivaka e
seus colegas estavam retornando de um rio após banharem-se.
Seus amigos estavam comentando divertidamente sobre as
pegadas de um elefante. Quando perguntaram a Jivaka sobre as
tais pegadas, ele respondeu que pertenciam a uma aliá, cega do
olho direito, que iria dar à luz um filhote naquele mesmo dia e que
o filhote era macho. Jivaka continuou dizendo que sobre o dorso
do elefante estava montada uma moça, cega do olho direito e que
iria dar à luz a um menino naquele mesmo dia. Isto foi narrado,
em meio a risadas, ao professor Atreya, como um exemplo da
loucura de Jivaka. Depois disso, os fatos foram verificados e
descobriram serem todos verdadeiros. Pediram à Jivaka que
explicasse como poderia ter conhecimento de tudo aquilo. Ele
disse que as pegadas do elefante eram arredondadas enquanto
as da aliá eram ligeiramente alongadas. Como ela havia comido

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apenas do capim que crescia do lado esquerdo da trilha, inferiu
que era cega do olho direito. Como as impressões de suas patas
posteriores estavam mais profundas, isto o levou a inferir que
estava prenha. Das duas, a impressão da pata direita era mais
profunda e, portanto, concluiu que iria dar à luz um filhote macho.
Da urina que eliminou, concluiu que o parto era iminente. Da
mesma maneira, explicou suas afirmações com relação à moça
que montava o elefante.
Há muitas estórias interessantes nas escrituras tibetanas,
além das descritas acima, sobre as realizações de Jivaka como
médico e como cirurgião.
A Estória de Bhoja
O Bhoja prabandha fornece uma narrativa de cirurgia
craniana realizada por dois médicos no Rei Bhoja, que reinou de
1010 a 1056 D.C. Ele sofria de um tipo grave de cefaléia e os
médicos realizaram uma craniotomia, corrigindo a doença. A
importância da descrição desta cirurgia foi a utilização de um
anestésico em pó denominado Moha curna, que tornou o rei
inconsciente. Após o término da operação, foi administrado outro
pó, denominado Sanjivani, com o qual ele recuperou a
consciência. Infelizmente, os detalhes sobre estes dois tipos de
drogas não estão disponíveis na atualidade.
Estas curiosidades foram narradas aqui com a intenção de
mostrar que durante o período pós-védico, especialmente entre
500 A.C. e 1000 D.C. o Ayurveda atingiu o apogeu de seu
desenvolvimento.
Interrupção do Progresso no Período Medieval
A ciência, por natureza, é progressiva, ainda mais no caso
da ciência médica. Qualquer interrupção no seu progresso leva a
dogmas, perdas e acúmulos de idéias supersticiosas. Durante o
período medieval, a Índia foi exposta a freqüentes invasões

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estrangeiras e a paz interna foi completamente perturbada. Havia
pouco tempo para que as pessoas pensassem na ciência, pois
estavam engajadas na luta pela segurança do país. Pensamentos
originais foram completamente interrompidos. Os livros sobre o
Ayurveda escritos durante este período são, em sua maioria,
compilações de outras fontes diversas. Durante as invasões
estrangeiras e lutas internas, muitas obras originais foram
destruídas. O que permaneceu tinha que ser preservado e
explicado às pessoas através de comentários. Indivíduos com
pouca erudição começaram a comentar e isto resultou em
interpretações errôneas, modificações não autorizadas e redações
incorretas.
Restauração do Ayurveda
É no final do século 19 e início do século 20 que a
população da Índia começa a refletir novamente acerca do
desenvolvimento do Ayurveda. O movimento nacional para a
libertação do país deu o impulso a esta revolução. Os governos
Estaduais e Central organizaram muitos comitês periciais para
investigar os problemas da ciência e sugerir medidas para
desenvolvê-las. Abaixo estão alguns detalhes destes comitês:
Nome do Estado Ano da Constituição do Comitê Pericial
1. Madras (atual Tamilnadu) 1921-22
2. Bengal (atualmente dividido) 1921-25
3. Províncias Unidas 1925-26
4. Províncias Centrais e Berar 1937-39
5. Punjab 1938
6. Bombaim 1947
7. Orissa 1946-47
8. Assam 1947
9. Mysore (atual Karnataka) 1942

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O governo Central também organizou muitos Comitês
Periciais para sugerir medidas para o desenvolvimento deste
sistema e a utilização dos médicos Ayurvédicos nos programas de
desenvolvimento da saúde do país. São eles:
Presidente do Comitê Pericial Ano
1. Sir Joseph Bhore 1943
2. Sir R. N. Chopra 1946
3. Dr. C. G. Pandit 1949
4. Mr. D. T. Dave 1955
5. Dr. K. N. Vdupa 1958
6. Mr. M. P. Vyas 1963

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CAPÍTULO III

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Criação do Universo
Diferentes pensamentos filosóficos da Índia são cultuados nos
Darsanas. Estes Darsanas estão divididos em dois grupos. Aqueles
que acreditam na autoridade dos Vedas são conhecidos como Astika
Darsanas e aqueles que não crêem nos Vedas são chamados
Mastika Darsanas. As escolas filosóficas Bauddha e Jaina e a
filosofia dos Carvakas pertencem à última categoria.
As seguintes escolas filosóficas pertencem à primeira
categoria:
1. Nyaya darsana de Gautama
2. Vaisesika darsana de Kanada
3. Sankhya darsana de Kapila
4. Yoga darsana de Patanjali
5. Purva mimansa de Jaimini
6. Uttara mimansa ou Vedanta darsana
O nome coletivo para todas estas escolas é Sad darsana.
Todas as antigas ciências da Índia como a medicina, a astrologia, a
astronomia, a poesia e a arquitetura são baseadas nestes Darsanas.
Os Nyaya e Vaisesika Darsanas são empregados para auxiliar o
Ayurveda a explicar as atividades físicas e químicas. Para descrever
certos fenômenos, tem sido utilizado o auxílio do Bauddha Darsana.

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Mas para explicar o processo de origem do universo e do homem, o
Ayurveda conta com o auxílio do Sankhya Darsana, principalmente.
Evidentemente, isto não tem sido aceito por completo mas com
certas modificações.
De acordo com o Ayurveda, o universo teve origem do
Avyakta, que significa literalmente ―Não Manifestado‖. Este conceito
de Avyakta inclui tanto o Purusa (elemento consciente) como o Prakrti
(matéria primordial) do Sankhya Darsana. A partir deste Avyakta, o
universo inteiro teve sua origem como detalhado no seguinte
esquema:

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Avyakta

Mahan (Intelecto)

Ahankara (Ego)

Sattvika Rajasika Tamasika

Cinco Órgãos Cinco Órgãos Manas ou


Sensoriais Motores Mente

Sabda Sparsa Rupa Rasa Gandha


tanmatra tanmatra tanmatra tanmatra tanmatra

Akasa Vayu Tejo Jala Prthvi


mahabhuta mahabhuta mahabhuta mahabhuta mahabhuta

De Avyakta surge, consecutivamente, o Mahan (Intelecto) e o


Ahankara (Ego). O Ego possui três aspectos diferentes, sattvika,
rajasika e tamasika. Sattvi é o aspecto puro, rajas representa o
dinamismo e tamas é a energia potencial. Os tipos sattvika e rajasika
de Ahankara combinam-se para juntos produzirem os onze indriyas.
Os tipos tamasika e rajasika de Ahankara combinam-se para produzir

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cinco tanmatras. Destes tanmatras, originam-se os cinco
mahabhutas. A partir dos cinco mahabhutas tudo o que é matéria no
planeta – tanto animado como inanimado – é criado. O mundo
inanimado consiste destes mahabhutas isolados e os seres vivos
(incluindo plantas e animais) são constituídos de sua combinação,
assim como os indriyas, que são onze, as faculdades sensoriais, os
órgãos motores e a mente.
Teoria Pañca Mahabhuta
O homem possui cinco sentidos e através destes percebe o
mundo externo de cinco maneiras diferentes. Os órgãos dos sentidos
são os ouvidos, a pele, os olhos, a língua e o nariz. Através deles, os
objetos externos são não apenas percebidos mas também
absorvidos pelo corpo humano na forma de energia. Este grupo de
cinco sentidos é a base com a qual podemos dividir, agrupar ou
classificar o mundo inteiro nas cinco diferentes categorias,
conhecidas como mahabhutas. São denominados akasa (espaço?),
vayu (ar?), agni (fogo?), jala (água?) e prthvi (terra?). Os equivalentes
em língua portuguesa aqui fornecidos entre parênteses não possuem
a conotação correta e o todo das implicações dos termos originais em
sânscrito. Por exemplo, a água comum não contém apenas jala
mahabhuta, mas é composta de todos os cinco mahabhutas. Da
mesma forma, o ar não é apenas vayu mahabhuta, mas contém os
elementos que pertencem aos outros mahabhutas também. Outro
exemplo, o oxigênio está mais próximo de agni mahabhuta e o
hidrogênio, mais próximo de jala mahabhuta.
Os físicos e químicos modernos dividiram a matéria do
universo em alguns elementos básicos. Estes elementos diferem um
dos outros em certos aspectos, sendo que todos eles podem ser
classificados em cinco categorias de mahabhutas. Por outro lado,
cada átomo possui os aspectos característicos de todos os cinco
mahabhutas. Os elétrons, prótons, nêutrons etc. presentes dentro do
átomo representam prthvi mahabhuta. A força ou coesão que

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mantém atraídos seus componentes é característica atribuída à jala
mahabhuta. A energia produzida dentro do átomo quando este é
partido e a energia que permanece latente em sua forma íntegra
representam atributos de agni mahabhuta. A força do movimento dos
elétrons representa o aspecto característico do vayu mahabhuta e o
espaço no qual se movem é o atributo principal do akasa mahabhuta.
De acordo com o Ayurveda, o corpo do indivíduo é composto
de cinco mahabhutas. De forma semelhante, outras coisas do planeta
são também compostas de cinco mahabhutas. No corpo humano,
estes cinco mahabhutas são explicados em termos de dosha, dhatu e
mala e nas drogas eles representam rasa (sabor), guna (qualidade),
virya (potência) e vipaka (o sabor que surge após a digestão e o
metabolismo de uma substância).
No corpo normal de um ser vivo, estas substâncias
permanecem em uma proporção particular. Entretanto, devido à ação
enzimática no interior do corpo humano esta proporção entre os cinco
mahabhutas ou seu equilíbrio torna-se alterado. O organismo,
portanto, possui uma tendência natural para permanecer equilibrado.
Ele elimina alguns dos mahabhutas que estão em excesso e acumula
alguns que estejam deficientes. Esta deficiência de mahabhutas é
reabastecida através de ingredientes que compõem a dieta, as
bebidas, o ar, o calor, a luz do sol etc. Os pañca mahabhutas
exógenos são convertidos em pañca mahabhutas endógenos através
do processo da digestão e do metabolismo.
Mesmo durante o processo da morte, estes cinco bhutas
apresentam uma função muito importante. Eles possuem duas
formas denominadas grosseira e sutil. As cinco categorias sutis de
bhutas no interior do corpo impregnam os cinco sentidos e depois são
separados dos mesmos ocorrendo então a morte. O corpo morto
perde estes cinco sentidos, ficando em seguida composto apenas
dos cinco mahabhutas.

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Determinação da Composição Mahabháutica de uma Droga a
Partir de suas Propriedades
Substâncias pesadas, duras, resistentes, estáveis, densas,
grosseiras, não pegajosas e com abundantes qualidades
relacionadas ao olfato são compostas principalmente por prthvi;
proporcionam rotundidade, solidez, peso e estabilidade.
Substâncias líquidas, viscosas, frias, oleosas, moles, frágeis e
com abundantes qualidades relacionadas ao sabor são compostas
principalmente por jala; promovem adesividade, oleosidade, solidez,
umidade, leveza e felicidade.
Substâncias quentes, brilhantes, sutis, leves, oleosas, não-
viscosas e com abundantes qualidades relacionadas à visão são
constituídas principalmente por tejas; promovem combustão,
metabolismo, brilho, radiância e cor.
Substâncias leves, frias, não-oleosas, ásperas, não-viscosas,
sutis e com abundantes qualidades relacionadas ao tato são
dominados por vayu; promovem aspereza, aversão, movimento, não-
viscosidade e leveza.
Substâncias leves, suaves, sutis, homogêneas e com
qualidades principais relacionadas com a audição são dominadas por
akasa; promovem suavidade, porosidade e leveza.
O Conceito de Tridosha
O corpo humano, de acordo com o Ayurveda, é composto de
três elementos fundamentais denominados doshas, dhatus e malas.
Os doshas controlam as atividades psico-químicas e fisiológicas do
corpo, enquanto os dhatus entram na formação da estrutura celular
básica, de tal modo que realizam algumas funções específicas. Os
malas são substâncias utilizadas parcialmente no organismo e
excretadas também parcialmente, de forma modificada, após
realizarem suas funções fisiológicas. Estes três elementos são
definidos como estando em equilíbrio dinâmico uns com os outros

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para a manutenção da saúde. Qualquer desequilíbrio em suas
predominâncias no corpo resulta em doença e decomposição.
Como foi estabelecido anteriormente, no interior do corpo
existem três doshas que comandam as atividades psico-químicas e
fisiológicas. São eles vayu, pitta e kapha. Estes doshas são
compostos de mahabhutas. Todos os doshas possuem todos os
cinco mahabhutas em sua composição. No entanto, o dosha vayu
apresenta predominância de akasa mahabhuta e vayu mahabhuta.
Em pitta predomina agni mahabhuta. Kapha é principalmente
constituído por jala e prthvi mahabhutas.
A doutrina dos doshas representa uma parte importante no
Ayurveda, tanto quanto constitui a base para a manutenção da saúde
absoluta, para o diagnóstico e o tratamento das doenças. Uma
análise correta deste conhecimento é, portanto, essencial para a
compreensão e apreciação adequada da teoria e prática do
Ayurveda. Quando estão em seu estado normal, sustentam o corpo e
qualquer alteração em seu equilíbrio resulta em doença e
degeneração.
Estes três doshas infiltram todo o corpo. Há, entretanto,
alguns elementos ou órgãos nos quais estão, à princípio, localizados.
Por exemplo, a bexiga urinária, os intestinos, a região pélvica, as
coxas, as pernas e os ossos são sítios de vayu, principalmente. Os
sítios de pitta são o suor, a linfa, o sangue e o estômago. Da mesma
maneira, os sítios de kapha são o tórax, a cabeça, o pescoço, as
articulações, a porção superior do estômago e o tecido adiposo do
corpo. Cada um destes três doshas são novamente divididos em
cinco tipos. Estas cinco divisões representam apenas cinco diferentes
aspectos do mesmo dosha e não cinco entidades diferentes no
corpo.
As localizações e as funções destas divisões de vayu, pitta e
kapha são fornecidos na Tabela 1.

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Tabela 1
Localização Função Normal Doenças Causadas pela Alteração
A.VAYU
1. Prana Coração Respiração e deglutição do Soluços, bronquite, asma, frio,
alimento rouquidão

2. Udana Garganta Fala e voz Várias doenças dos olhos, ouvidos,


nariz e garganta.

3. Samana Estômago e intestino delgado Auxilia na ação enzimática, na Indigestão, diarréia e distúrbios de
assimilação dos produtos finais da assimilação
digestão e em sua separação nos
vários elementos teciduais

4. Apana Cólon e órgãos pélvicos Eliminação de fezes, urina, Doenças da bexiga, do ânus,
ejaculação e menstruação testículos, obstrução urinária e
diabetis.

5. Vyana Coração Auxilia na circulação dos canais, Distúrbios circulatórios e doenças


incluindo vasos sangüíneos como febre e diarréia

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Localização Função Normal Doenças Causadas pela sua Alteração
B. PITTA
1. Pacaka Estômago e intestino Digestão Indigestão
delgado
2. Rañjaka Fígado, baço e estômago Formação do sangue Anemia, icterícia etc

3. Sadhaka Coração Memória e outras funções mentais Distúrbios psíquicos

4. Alocaka Olhos Visão Distúrbios visuais

5. Bhrajaka Pele Coloração e brilho da pele Leucodermia e outras patologias da pele


C. KAPHA
1. Kledaka Estômago Umedece os alimentos auxiliando na digestão Distúrbios da digestão

2. Avalambaka Coração Energia nos membros Preguiça

3. Bodhaka Língua Percepção do paladar Distúrbios do paladar

4.Tarpaka Coração Nutrição dos órgãos sensoriais Perda da memória e distúrbio das funções
dos órgãos sensoriais

5. Slesaka Articulação Lubrificação das articulações Dores articulares e distúrbios articulares

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Condições dos Doshas nas Diferentes Estações do Ano
Durante as diferentes estações do ano, estes doshas
apresentam certas modificações. Por exemplo, vayu torna-se alterado
durante os meses de junho e agosto, ou seja, no final do verão. Pitta
sofre alteração entre outubro e dezembro, ou seja, durante o outono,
e kapha altera-se entre fevereiro e abril, ou seja, durante a primavera.
Se detarminadas medidas preventivas não forem tomadas durante
estas estações, o indivíduo estará exposto a certas doenças
causadas por estes doshas. As precauções a serem tomadas nestas
estações serão descritas posteriormente. Nos textos Ayurvédicos
clássicos, sugere-se que para promover a saúde verdadeira e
prevenir a ocorrência das doenças, a pessoa deve submeter-se a um
enema terapêutico no final do verão, a um purgativo durante o outono
e a um emético durante a primavera.
Fatores Responsáveis pela Alteração dos Doshas
Vata torna-se alterado pela supressão das necessidades
naturais que se manifestam, pela ingestão de alimentos antes de
terminada a digestão da refeição anterior, por permanecer acordado
durante a noite, falar com tom de voz aumentado, realizar exercícios
físicos além da capacidade do indivíduo, pela exposição a solavancos
durante longas viagens em um veículo, ingestão de substâncias com
sabores picante, amargo e adstringente, ingestão de frutas secas,
aborrecimentos em excesso, relações sexuais, medo, jejum, frio e
desgosto. Este dosha torna-se anormalmente alterado durante o
início da estação chuvosa.
Pitta torna-se alterado pela ingestão excessiva de alimentos
picantes, salgados e azedos, preparações alcoólicas, substâncias
quentes, moles e vidahi (alimentos que causam sensação de
queimação). Outros fatores responsáveis pelo distúrbio de pitta são
raiva, exposição excessiva ao sol e ao fogo, medo, fadiga, ingestão

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de vegetais secos e substâncias alcalinas. A indigestão e as
irregularidades na ingestão de alimentos também agravam pitta.
Alterações deste dosha ocorrem geralmente durante o outono.
Kapha torna-se alterado pela ingestão de alimentos doces,
frios, pesados, azedos e viscosos, peixes, carne, preparações
contendo gergelim, cana-de-açúcar, leite, substâncias oleosas,
alimentos e bebidas contendo água e sal em excesso, ingestão de
alimentos após a refeição e durante a primavera.
Sinais e Sintomas do Agravamento dos Doshas
Distúrbios de vayu causam rouquidão, dores em pontada, em
contração e em cólicas, descoloração da pele, indisposição,
movimentos anormais dos membros, fraturas, frieza, ressecamento,
entorpecimento e emagrecimento.
Alterações de pitta causam fadiga, sudorese, sensação de
queimação, coloração da pele, odor fétido, viscosidade, supuração,
raiva, fala desconexa, fraqueza e vertigem. É especialmente
responsável pela coloração amarela da pele.
Palidez, frieza, peso, prurido, falta de oleosidade, upadeha
(retenção das excreções através dos orifícios corporais), stimitatva
(sensação subjetiva, como se estivesse coberto com um pano
molhado), lepa (sensação subjetiva, como se houvesse um corpo
estranho aderido ao corpo), distensão, exsudação excessiva e
cirakriya (retardo na ação ou na resposta) são as manifestações das
perturbações de kapha.
Tratamento de Doenças Causadas por Perturbações dos Doshas
Bebidas, dieta, conduta e medicamentos que sejam oleosos,
quentes, estáveis, afrodisíacos, que promovam vigor, que sejam
salgados, doces, azedos, o uso de óleos, a exposição ao sol, os
banhos, as massagens, enemas, terapia inalatória, dormir, repousar,
as aplicações de ungüentos quentes, etc. aliviam vata.

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As bebidas, dietas, condutas e medicamentos que sejam
amargos, doces e adstringentes, o vento frio, a sombra, a noite, a
água, o luar, residências subterrâneas, fontes, o lótus, abraçar o
corpo das mulheres, ghee, leite, aspersão de água, purgativos,
sangrias, aplicações de ungüentos, etc. aliviam pitta.
Bebidas, dietas, condutas e medicamentos que sejam
ásperos, alcalinos, adstringentes, amargos e picantes, exercícios,
terapia do escarro, relações sexuais, caminhadas, lutas, permanecer
acordado, jogos aquáticos, padaghata (aplicar pressão sobre
diferentes partes do corpo utilizando os pés), fumar, expor-se ao calor
ou aos raios do sol, terapia esternutatória (espirros), terapia emética,
fomentação, upanaha (aplicação de ungüentos quentes), etc. aliviam
as agravações de kapha.
Terapia de Eliminação para Correção dos Doshas Alterados
Devem ser administradas terapias eméticas e de inalação
para correção das perturbações de kapha; terapias purgativas nas
doenças causadas por pitta, enemas medicinais nas doenças
causadas por vata e terapias mistas nas doenças causadas pela
combinação dos doshas.
Através da ingestão de alimentos sólidos e líquidos
constituídos por substâncias azedas, oleosas, salgadas e doces,
pode-se aliviar vayu. Da mesma forma, pitta é aliviado por
substâncias doces, amargas, adstringentes e frias. Para kapha, as
substâncias indicadas para o alívio são amargas, picantes, ásperas,
adstringentes e penetrantes. Através da administração destes
alimentos, as doenças causadas por estes doshas são curadas.
Doenças Causadas pelos Doshas
A. Doenças causadas por Vayu:
1. Nakhabheda (unhas quebradiças)
2. Vipadika (pele dos pés quebradiça)
3. Padasula (dor nos pés)

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4. Padabhramsa (protuberância nos pés)
5. Padasuptata (dormência do pé)
6. Vatakhuddata (pé torto)
7. Gulphagraha (rigidez do tornozelo)
8. Pindikodvestana (cãimbra nas panturrilhas)
9. Grdhrasi (dor ciática)
10. Janubheda (genu varum)
11. Januvislesa (genu valgum)
12. Urustambha (rigidez na coxa)
13. Urusada (dores nas coxas)
14. Pangulya (paraplegia)
15. Gudabhramsa (prolapso retal)
16. Gudarti (tenesmo)
17. Vrsanaksepa (dor escrotal)
18. Sephastambha (rigidez no pênis)
19. Vanksananaha (tensão da virilha)
20. Sronibheda (dor em torno da região pélvica)
21. Vidbheda (diarréia)
22. Udavarta (distúrbios peristálticos)
23. Khanjatva (coxeadura)
24. Kubjatva (cifose)
25. Vamanatva (nanismo)
26. Trikagraha (artrite da articulação sacroilíaca)
27. Prsthagraha (rigidez no dorso)
28. Parsvavamarda (dor no peito)
29. Udaravesta (dores em cólicas abdominais)
30. Hrnmoha (bradicardia)
31. Hrddrava (taquicardia)
32. Vaksa uddharsa (dor em fricção no peito)
33. Vaksa uparodha (bloqueio da movimentação torácica)
34. Vaksastoda (dor em facada no peito)
35. Bahusosa (atrofia do braço)

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36. Grivastambha (rigidez do pescoço)
37. Manyastambha (torcicolo)
38. Kanthoddhavamsa (rouquidão)
39. Hanubheda (dor no queixo)
40. Osthabheda (dor nos lábios)
41. Aksibheda (dor nos olhos)
42. Dantabheda (dor de dentes)
43. Dantasaithilya (perda de dentes)
44. Mukatva (afasia)
45. Vaksanga (alívio da voz)
46. Kasayasyata (sabor adstringente na boca)
47. Mukhasosa (secura na boca)
48. Arasajnata (ageusia)
49. Ghramanasa (anosmia)
50. Karnasula (otalgia)
51. Asabdasravana (zumbido nos ouvidos)
52. Uccaihsruti (dificuldade na audição)
53. Badhirya (surdez)
54. Vartmastambha (ptose palpebral)
55. Vartmasankoca (entrópio)
56. Timira (catarata)
57. Áksisula (dor nos olhos em aperto)
58. Aksivyudasa (ptose do globo ocular)
59. Sankhabheda (dor na região temporal)
60. Bhruvyudasa (ptose da sobrancelha)
61. Lalatabheda (dor na região frontal)
62. Siroruk (cefaléia)
63. Kesabhumisphutana (caspa)
64. Ardita (paralisia facial)
65. Ekangaroga (monoplegia)
66. Sarvangaroga (paraplegia)
67. Paksavadha (hemiplegia)

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68. Aksepaka (convulsões clônicas)
69. Dandaka (convulsões tônicas)
70. Tama (lipotímia)
71. Bhrama (desmaio)
72. Vepathu (tremores)
73. Jrmbha (bocejo)
74. Hikka (soluços)
75. Visada (astenia)
76. Atipralapa (delírio)
77. Rauka parusya (sequidão e rigidez)
78. Syavarunavabhasata (aparência vermelha e sombreada)
79. Asvapna (insônia)
80. Anavasthitacittatva (mentalidade instável)

B. Doenças causadas por Pitta:


As seguintes doenças são causadas primariamente por pitta:
1. Osa (aquecimento)
2. Plosa (ardor)
3. Daha (queimação)
4. Davathu (fervura)
5. Dhumaka (defumação)
6. Amlaka (eructação azeda)
7. Vidaha (sensação de queimação no peito)
8. Antardaha (sensação de queimação no interior do corpo)
9. Amsadaha (sensação de queimação nos ombros)
10. Usmadhikhya (hipertermia)
11. Atisveda (sudorese excessiva)
12. Angagandha (odor fétido do corpo)
13. Angavadarana (dor insuportável no corpo)
14. Sonitakleda (necrose do sangue)
15. Mamsakleda (necrose do músculo)
16. Tvagdaha (sensação de queimação da pele)

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17. Tvagavadarana (fissura da pele)
18. Carmadalana (prurido da pele)
19. Raktakostha (urticária)
20. Raktavisphota (vesículas vermelhas)
21. Raktapitta (tendência ao sangramento)
22. Raktamandala (pústulas vermelhas)
23. Haritatva (coloração esverdeada)
24. Haridratva (amarelecimento)
25. Nilika (molas de coloração azul)
26. Kaksa (herpes)
27. Kamala (icterícia)
28. Tiktasyata (sabor amargo na boca)
29. Lohitagandhasyata (hálito de sangue)
30. Putimukhata (odor fétido na boca)
31. Trsnadhikya (sede excessiva)
32. Atrpti (insatisfação)
33. Asyavipaka (estomatite)
34. Galapaka (faringite)
35. Aksipaka (conjuntivite)
36. Gudapaka (proctite)
37. Medhrapaka (inflamação do pênis)
38. Jivadana (hemorragia)
39. Tamahpravesa (lipotímias)
40. Haritaharidra netra mutra varcastva (olhos, urina e fezes de
coloração esverdeada e amarelada)

C. Doenças causadas por Kapha


As seguintes doenças são causadas por kapha:
1. Trpti (anorexia nervosa)
2. Tandra (sonolência)
3. Nidradhikya (sono excessivo)
4. Staimitya (timidez)

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5. Gurugatrata (sensação de peso no corpo)
6. Alasya (preguiça)
7. Mukhamadhurya (sabor doce na boca)
8. Mukhasrava (salivação)
9. Slemodgirana (expectoração)
10. Maladhikya (eliminação excessiva de resíduos)
11. Balasada (perda do vigor)
12. Apakti (indigestão)
13. Hrdayopalepa (aderência de muco em torno do coração)
14. Kanthpalepa (adesão de muco à garganta)
15. Dhamani praticaya (endurecimento dos vasos)
16. Galaganda (bócio)
17. Atishaulya (obesidade)
18. Sita gnitva (supressão do vigor digestivo)
19. Udarda (urticária)
20. Svetavabhasata e sveta mutra netra varcastva (palidez e urina,
fezes e olhos brancos)
Conceito de Sapta Dhatu
Os elementos teciduais básicos do corpo são conhecidos
como dhatus no Ayurveda. O termo dhatu significa,
etimologicamente, ―aquele que assiste ao corpo ou faz parte da
formação da estrutura básica do corpo como um todo‖. Estes dhatus
são sete e consistem em:
1. Rasa ou quilo e linfa
2. Raksa ou a fração hemoglobínica do sangue
3. Mamsa ou tecido muscular
4. Medas ou tecido adiposo
5. Asthi ou tecido ósseo
6. Majja ou medula óssea
7. Sukra ou o esperma no homem e o óvulo na mulher
Estes sete dhatus são compostos dos cinco mahabhutas:
- Jala mahabhuta predomina no quilo e na linfa

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- Prithvi mahabhuta predomina nos tecidos musculares e adiposos
- Tejas mahabhuta predomina na fração hemoglobínica do sangue
- Vayu mahabhuta predomina no tecido ósseo
- Akasa mahabhuta existe nos poros no interior dos ossos
Deve ficar claro, novamente, que todos os sete dhatus são
compostos por todos os cinco mahabhutas e apenas aqueles
predominantes foram descritos acima. Estes dhatus permanecem no
interior do corpo humano em uma proporção própria no indivíduo e
qualquer alteração no seu equilíbrio leva à doença e à degeneração.
As doenças causadas pela alteração destes dhatus são
relacionadas abaixo:

Dhatu Doenças
Rasa asraddha (anorexia), aruci (aversão), asyavarasya (mau
hálito), arasajnata (calafrio), hllasa (náuseas), gaurava
(sensação de peso), tandra (sonolência), angamarda
(dores no corpo), jvara (febre), tamas (lipotímia), pandutva
(palidez), srotorodha (obstrução dos canais), khaibya
(impotência), sada (astenia), krsangata (debilidade do
organismo), agninasa (perda da capacidade digestiva),
ayathakavali (aparecimento de rugas prematuras),
ayathakalapalitya (branqueamento prematuro dos cabelos)
Rakta kustha (doenças da pele), visarpa (erisipela), pidaka (acne),
raktapitta (hemorragia dos diferentes canais do corpo),
asrgdara (menorragia), medhrapaka (timidez), asyapaka
(estomatite), pliha (aumento do baço), gulma (tumor
fantasma), vidradhi (abscesso), nilika (mola cor azul),
kamala (icterícia), vyanga (sardas), piplu (manchas cor de
vinho do porto), tilakalaka (mola de coloração negra), dadru
(tinha), carmadala (um tipo de doença de pele), svitra
(leucodermia), pama (escabiose), kotha (erupções),
asramandala (manchas circulares vermelhas).

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Mamsa adhimamsa (granuloma), arbuda (tumor), kila (verrugas),
galasaluka (uma patologia da orofaringe), galasundika
(tonsilite), putimamsa (gangrena), alaji (um tipo de doença
da pele), ganda (bócio), gandamala (adenites cervicais),
upajihvika (uvulite)
Medas kesa jatiltbhava (emaranhamento dos cabelos),
asyamadhurya (sabor doce na boca), karapadadaha
(sensação de queimação nas mãos e nos pés), mukhasosa
(secura na boca), talusosa (secura do palato), kanthasosa
(secura da garganta), pipasa (sede), alasya (preguiça),
kaymala (aumento das excreções do corpo), kayachidra-
upadeha (aumento das eliminações pelos orifícios do
corpo), angdaha (sensação de queimação no corpo),
angasuptata (entorpecimento do corpo)
Asthi adhyasthi (hipertrofia óssea), adhidanta (hipertrofia dos
dentes), dantabheda (dor de dente), dantasula (dor intensa
dos dentes), asthibheda (dor nos óssos), asthisula (dor
óssea intensa), vivarnata (palidez), kesaloma e
smasrudosa (condições patológicas de diferentes tipos nos
cabelos), nakhadosa (condições patológicas das unhas)
Majja parvaruk (dor nas articulações dos dedos), bhrama
(vertigem), murccha (desmaios), tamas (lipotímia),
sthulamula parvaja arumsika (abscesso localizado
profundamente nas articulações dos dedos)
Sukra klaibya (esterilidade), aharsana (impotência), rogi prajanana
(geração de descendente doente), kliba prajanana
(geração de descendente impotente), alpayu prajana
(geração de descendente com pouca longevidade), virupa
prajanana (geração de descendente com malformação)

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Conceito de Mala
Os três importantes malas são as fezes, a urina e o suor. São
os produtos excretados pelo corpo e sua eliminação apropriada é
essencial para a manutenção da saúde do indivíduo. As fezes não
são compostas apenas de alimento ingerido rejeitado pelo organismo,
mas contém também substâncias eliminadas pelas células teciduais
do corpo. A evacuação adequada é, portanto, essencial para a
manutenção de um excelente estado de saúde nas células teciduais.
Se houver eliminação inadequada, as doenças não ocorrerão apenas
no trato gastrointestinal, mas também em outras regiões do
organismo. Em patologias como lombalgia, reumatismo, ciatalgia,
paralisias, bronquites e asma é essencial que o médico tome as
precauções necessárias para assegurar a eliminação adequada das
fezes antes de dar início a qualquer tratamento Ayurvédico. A
evacuação inadequada favorece o surgimento de uma atmosfera
compatível com o desenvolvimento de diferentes tipos de parasitas
intestinais, interferindo eventualmente com a flora normal do cólon, as
quais auxiliam na síntese de substâncias úteis ao organismo.
A urina é outro produto excretado através do qual muitos
materiais orgânicos são rejeitados. Ainda que a eliminação excessiva
de urina seja considerada patológica no Ayurveda, é sempre
aconselhável que o indivíduo beba a quantidade adequada de água,
tanto no verão como no inverno, de modo que haja pelo menos seis
micções durante o período diurno.
O suor é essencial para a manutenção da saúde da pele.
Exercícios adequados, terapias como a fomentação e certas drogas
ajudam o indivíduo a suar e com isto, uma grande quantidade de
produtos residuais é eliminada do organismo.
Os dhatus são elementos teciduais e também produzem
malas (produtos residuais) durante o processo metabólico.
Normalmente, as fezes, a urina e o suor possuem odor fétido. Mas

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quando o odor torna-se insuportável, o indivíduo precisa ingerir certos
medicamentos para corrigir os odores mais desagradáveis.
Srotas ou Canais de Circulação
O organismo é composto de muitos tipos de canais de
circulação através dos quais os elementos teciduais básicos, os
doshas e alguns dos produtos residuais circulam ou se movimentam
de um local para outro constante e continuamente. Para que ocorra
um funcionamento adequado do organismo, é necessário que estes
canais de circulação permaneçam desobstruídos e que o processo
circulatório continue ininterruptamente.
Uma das importantes funções destes canais é transportar o
produto da digestão do alimento através do trato gastrointestinal e
torná-lo disponível aos elementos teciduais básicos, auxiliando assim
em sua nutrição. Em resumo, incluem todos os grandes canais do
corpo como as artérias, as veias, os vasos linfáticos, o trato
gastrointestinal e o trato geniturinário, que são macroscópicos e os
delicados capilares, que são microscópicos. Todos estes canais são
classificados em treze categorias e estão descritos abaixo:
1. Canais transportadores do ar vital (prana vayu) do meio externo ao
fluxo sangüíneo
2. Canais transportadores de água (udaka), incluindo soro e linfa
3. Canais transportadores de alimentos sólidos e líquidos (anna)
4. Canais transportadores de plasma (rasa)
5. Canais transportadores da fração hemoglobínica do sangue (rakta)
6. Canais transportadores de nutrientes para os tecidos musculares
(mamsa)
7. Canais transportadores de nutrientes para os tecidos adiposos
(medas)
8. Canais transportadores de nutrientes para os tecidos ósseos (asthi)
9. Canais transportadores de nutrientes para a medula óssea (majja)

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10. Canais transportadores de nutrientes para o esperma e o óvulo
(sukra e rajas). O esperma e o óvulo em si também são transportados
por esta categoria de canais
11. Canais transportadores de urina (mutra)
12. Canais transportadores de fezes (purisa)
13. Canais transportadores de suor (sveda)
Estes canais de circulação representam um papel importante
na origem das doenças. Se a circulação ou o movimento for
interrompido ou danificado devido a fatores externos ou internos,
resultará em acúmulo de substâncias naquele canal em particular e
alteração no metabolismo do tecido, originando ama (produtos
imaturos ou não-preparados). Estes produtos são não apenas
acumulados nos tecidos, mas também circulam através de todo o
corpo com o auxílio dos outros canais que estão em funcionamento.
Eles danificam as atividades dos outros canais, dando origem às
doenças. Para conservar estes canais em movimento e
funcionamento contínuo, muitas prescrições e restrições são feitas
nos textos Ayurvédicos. O importante é a ingestão de alimentos
oportunamente, a eliminação das excreções, o atendimento às
necessidades básicas do corpo e exercícios físicos.
Srotas (canais), sira (veias), dhamani (artérias), rasayani
(canais linfáticos), rasavadhini (capilares), nadi (canais), pantha
(passagens), marga (vias), sariracchidra (espaços no interior do
corpo), samvrtasamvrta (canais com fundo cego), sthana (residência),
asaya (compartimento) e niketa (sítio) – estas são as denominações
atribuídas aos vários canais visíveis e invisíveis no interior dos
elementos teciduais do corpo. A alteração destes canais leva à
perturbação dos elementos teciduais que aí se localizam ou os
atravessam. Os canais danificados e os dhatus (elementos teciduais),
por seu lado, alteram outros canais e dhatus, respectivamente. Como
conseqüência da alteração de sua natureza, os doshas – vata, pitta e

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kapha – são responsáveis pela perturbação de todos eles (canais e
elementos teciduais)
Causas das Alterações dos Srotas
Pranavaha srotas (os canais que transportam a respiração
vital) tornam-se perturbados pelo enfraquecimento, pela supressão
das necessidades básicas, tolerância com substâncias não-oleosas,
realização de exercícios quando faminto e também outras condutas
prejudiciais.
Udakavaha srotas (canais que transportam água) tornam-se
alterados com a exposição ao calor, com a indigestão, com a
ingestão de alimentos secos e bebidas alcoólicas e pela sede
excessiva.
Annavaha srotas (canais transportadores de alimentos)
alteram-se pela ingestão excessiva de grandes quantidades de
alimentos insalubres e perda da força digestiva.
Rasavaha srotas (canais transportadores de plasma ou rasa)
alteram-se devido à ingestão excessiva de alimentos muito
gordurosos, frios e pesados, além de aborrecimentos em demasia.
Raktavaha srotas (canais que transportam sangue,
especialmente sua fração hemoglobínica) tornam-se alterados pela
ingestão de alimentos e bebidas ásperos, untuosos, quentes e
líquidos e pela exposição ao sol e ao fogo.
Mamsavaha srotas (canais transportadores de componentes
de tecido muscular) alteram-se pela ingestão de alimentos
liquidificados, grosseiros e pesados e por dormir após as refeições.
Medovaha srotas (canais transportadores de tecido adiposo)
tornam-se perturbados devido à falta de exercícios, dormir durante o
dia e pela ingestão excessiva de alimentos gordurosos e vinho.
Asthivaha srotas (canais transportadores de tecido ósseo)
alteram-se por exercícios que envolvem irritação excessiva e fricção
dos ossos e pela ingestão de alimentos que perturbem vata.

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Majjavaha srotas (canais transportadores de componentes da
medula óssea) tornam-se alterados pela opressão, liquefação, lesão
e compressão da medula óssea e pela ingestão de alimentos com
qualidades opostas entre si.
Sukravaha srotas (canais transportadores de esperma e
óvulo) alteram-se por relações sexuais em períodos inadequados
(ausência de excitação suficiente), em local inadequado, na
supressão ou no excesso de necessidade sexual e também como
resultado de cirurgia, aplicação de álcalis e cauterização.
Mutravaha srotas (canais transportadores de urina) tornam-se
alterados pela ingestão de alimentos e bebidas ou no ato sexual
realizado quando há necessidade de urinar e na supressão da
micção especialmente por indivíduos portadores de doenças
debilitantes e consumptivas.
Purisavaha srotas (canais transportadores das fezes) tornam-
se alterados devido à supressão da necessidade de evacuar,
ingestão de alimentos em grandes quantidades e antes que a
refeição anterior tenha sido digerida, especialmente em indivíduos
debilitados e com enfraquecimento da capacidade digestiva.
Svedavaha srotas (canais transportadores de suor) alteram-se
pelo excesso de exercícios, pela exposição ao calor excessivo, raiva,
desgosto, medo e pela indulgência com coisas quentes e frias sem
obedecer às recomendações prescritas.
Sítios de Origem dos Srotas e Sintomas Causados por suas
Alterações
O coração e os mahasrotas (cavidade central ou trato
alimentar) são os sítios de origem (órgãos controladores) dos canais
transportadores de prana vayu (respiração vital). As manifestações
características do desequilíbrio destes canais refletem-se em
respirações muito longas ou muito restritivas, difíceis, superficiais ou
freqüentes, associadas com ruídos e dor.

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Talu (palato) e kloman (pâncreas) são os sítios de origem dos
elementos aquosos. As manifestações características da alteração
destes canais são o ressecamento do palato, da língua, dos lábios,
da garganta e do kloman e sede excessiva.
O estômago e vamaparsva (região lateral esquerda) são os
sítios de origem dos canais transportadores de alimentos e seus
produtos. As manifestações características do desequilíbrio destes
canais são a aversão aos alimentos, anorexia, indigestão e vômitos.
Os sítios de origem dos canais transportadores dos dhatus, ou
seja, de rasa, rakta, mamsa etc. estão descritos a seguir:

Dhatus (Elementos Teciduais) Sítios de Origem dos


Canais
1.Rasa (plasma) Coração e seus dez vasos
2.Rakta (fração hemoglobínica do Fígado e baço
sangue)
3.Mamsa (tecido muscular) Tendões e pele
4.Medas (tecido adiposo) Rins e omento
5.Asthi (tecido ósseo) Tecido adiposo e glúteo
6.Majja (medula) Ossos e articulações
7.Sukra (sêmen, em especial Testículos e genitália
espermatozóides)
As doenças manifestadas pelo desequilíbrio destes dhatus
foram descritas neste capítulo. Alguns distúrbios são manifestados
pelo desequilíbrio de seus canais de circulação.
Os sítios de origem dos canais de circulação da urina são a
bexiga e vankasana (rins). As manifestações características do
desequilíbrio destes canais são a eliminação excessiva de urina
ou a completa supressão da mesma, alteração em sua
composição e eliminação freqüente ou ocasional de uma urina
espessa associada com dor.

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Os sítios de origem dos canais transportadores de fezes
são o cólon e o reto. As manifestações características de seu
desequilíbrio são a eliminação de pequenas quantidades de fezes
com dificuldade, eliminação de fezes em grandes quantidades e
muito aquosas e eliminação de fezes em cíbalos, associadas com
ruídos e dor.
Os sítios de origem dos canais transportadores de suor são
o tecido adiposo e os folículos capilares. As manifestações
características de seu desequilíbrio são a ausência ou o excesso
de perspiração, aspereza ou maciez excessiva do corpo,
sensação de queimação generalizada e calafrios.
Linha de Tratamento
Para o tratamento do desequilíbrio de prana, udaka e anna
vaha srotas (canais transportadores de respiração vital, água e
alimentos), deve-se adotar a conduta para doenças respiratórias
como asma brônquica, sede patológica e ama dosha (doenças
causadas por produtos alimentares não-digeridos e pelo
metabolismo inadequado), respectivamente.
Para a correção de doenças de rasavaha srotas (canais
transportadores de plasma, etc.) deve-se recorrer aos diferentes
tipos de jejum.
Para o tratamento de distúrbios de raktavaha srotas
(canais transportadores dos glóbulos vermelhos do sangue),
devem ser adotadas terapias como a sangria.
Doenças causadas pelo desequilíbrio dos mamsavaha
srotas (canais transportadores de tecido muscular) podem ser
tratadas por cirurgia, álcalis e cauterização.
Para o tratamento das doenças causadas por medovaha
srotas (canais transportadores de tecido adiposo) devem ser
adotadas terapias emagrecedoras.
Doenças causadas pelo desequilíbrio de asthivaha srotas
(canais transportadores de tecido ósseo) podem ser tratadas por

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pañcakarma (cinco terapias de eliminação). Para este propósito,
são úteis os enemas de leite e ghee, fervidos com drogas
amargas.
Doenças causadas pelo desequilíbrio de majjavaha srotas
(canais transportadores de medula óssea) e sukravaha srotas
(canais transportadores de esperma e óvulo) podem ser tratadas
com dietas de sabores doce e amargo, relações sexuais,
exercícios e eliminação oportuna de doshas em quantidade
adequada.
Devem ser adotadas para o tratamento de doenças
causadas pelo desequilíbrio de mutra, purisa e svedahava srotas
(canais transportadores de urina, fezes e suor, respectivamente),
terapias prescritas para o tratamento de mutrakrcchra (condições
caracterizadas pela dificuldade de eliminar a urina), diarréia e
febre
Digestão e Metabolismo
Os alimentos que vêm do meio externo devem ser
quebrados, absorvidos e assimilados. Uma substância
heterogênea deve ser transformada em homogênea. Os fatores
responsáveis por estas atividades no organismo são conhecidos
por agnis. Eles representam os vários tipos de enzimas do trato
gastrointestinal, do fígado e dos tecidos celulares.
Quando os doshas do corpo estão em estado de equilíbrio,
estes agnis, ou enzimas funcionam normalmente. Quando há
qualquer distúrbio no seu equilíbrio, a função destes agnis torna-
se prejudicada. Os quatro estados destes agnis estão resumidos
aqui:

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Estado do Sintomas Comentários
Agni
Visamagni Às vezes digere Um estado anormal de agni
lentamente, às vezes surge como resultado da
normalmente e outras influência de vata na condição
vezes produz adhamana descrita como visamagni. Este
(distenção abdominal), sula estado, algumas vezes auxilia
(cólicas), udavarta, atisara no processo da completa
(diarréia), jathara (ascite), digestão e outras vezes produz
gaurava (sensação de distensão do abdome, cólicas,
peso), antrakujana (ruídos constipação intestinal, disenteria,
de água no intestino) e ascite, sensação de peso nos
pravahana (disenteria). membros e perda dos
movimentos.
Tiksnagni Digere grandes quantidades A ação de jatharagni neste
de todos os alimentos mais estado é influenciada
freqüentes; após a digestão, predominantemente por pitta. O
produz galasosa e daha agni nesta condição é
(ressecamento da gar- estimulado em excesso sendo,
ganta), osthasosa e daha portanto, conhecido como
(ressecamento dos lábios), tiksnagni. Este digere facilmente
talusosa e daha (secura do até um alimento muito pesado
palato) e santapa em um curto espaço de tempo.
(sensação de calor e Causa uma fome voraz - uma
queimação) condição conhecida como
atyagni (ou bhasmaka por certas
autoridades). Isto possibilita que
um glutão faça a digestão de
todas as suas freqüentes
refeições. É caracterizado por
produzir secura na garganta, no
palato, nos lábios, calor e outros
desconfortos.

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Mandagni Não é capaz de digerir Este é um estado no qual a ação
adequadamente mesmo de jathragni é conside-
uma dieta normal causando ravelmente inibida pela
udara gaurava (peso no influência dominante de kapha.
abdome), sirogaurava (peso Portanto, este estado de agni é
na cabeça), kasa (tosse), conhecido como mandagni.
svasa (dispnéia), praseka Neste estado, o agni é incapaz
(salivação), chardi (vômitos) de digerir e metabolizar mesmo
e gatrasadama (fraqueza no uma pequena quantidade de
corpo) qualquer alimento, mesmo que
seja de fácil digestão.
Samagni Digere adequadamente a No bem equilibrado estado de
dieta normal. funcionamento dos tridoshas, o
jatharagni é também formulado
para funcionar normalmente.
Este estado foi descrito como
samagni. Em outras palavras,
jatharagni assegura a completa
digestão dos alimentos ingeridos
nos horários adequados, sem
quaisquer irregularidades,
quando os tridoshas estão em
um estado equilibrado de
funcionamento.
O conceito de agni no Ayurveda é imediatamente
compreendido quando se refere às múltiplas funções atribuídas a
pitta. Não inclui apenas os agentes químicos responsáveis pelo
aharacapacana no kostha correspondente à digestão gastro-intestinal
que controla a separação de sara bhaga (fração nutriente), do ahara
(alimento) e do kitta bhaga (resíduo não-digerido ou indigerível do
alimento), mas também processos metabólicos – síntese de energia
e manutenção do metabolismo. Além disso, compreende os
processos de foto e quimiossíntese. O pacaka pitta, conhecido
também como suas variedades jatharagni, kosthagni, antaragni,

71
pacakagni e dehagni, quando está localizado em seu próprio sítio em
uma área entre amasaya e pakvasaya, participa diretamente na
digestão do alimento e ao mesmo tempo, presta-se ao suporte e ao
aumento do funcionamento dos pittas remanescentes e presentes em
outros locais do corpo. A observação feita aqui refere-se obviamente
aos outros pittas: ranjaka, sadhaka, alocaka e bhrajaka. Considera-se
que o pacaka pitta contribua em parte com os sete dhatvagnis,
sustentando e elevando a função do anterior.
Pode ser compreendido a partir do precedente que o conceito
Ayurvédico de agni inclui não apenas os cinco tipos de pittas, mas
também os dhatvagnis e bhutagnis. Há treze grupos de agnis:
Jatharagni (um), Bhutagni (cinco) e Dhatvagni (sete). Eles são
descritos abaixo:

Jatharagni
Os ingredientes alimentares possuem seis sabores
denominados: doce, azedo, salgado, picante, amargo e adstringente.
Eles são submetidos a diferentes tipos de alterações através da
digestão gastrointestinal. Os ingredientes alimentares, quebrados em
suas menores partículas possíveis, tornam-se deste modo
absorvíveis pelas vilosidades da mucosa gástrica e intestinal.

Mahabhutagni
São cinco e auxiliam na transformação dos mahabhutas
heterogêneos externos e internos.

Dhatvagni
Estes dhatvagnis ou enzimas estão localizados nos elementos
teciduais do corpo. Auxiliam na assimilação e transformação do
material nutriente recebido depois do bhutagnipaka em substâncias
homólogas aos elementos teciduais. Durante o processo de

72
assimilação, com o auxílio destes agnis, muitos produtos residuais
são produzidos. Estes produtos residuais ão os seguintes:

Elementos Teciduais Produtos Residuais após a Ação de Agni


ou Enzima
Rasa (plasma e linfa) Fleuma
Rakta (glóbulos vermelhos) Bile
Mamsa (tecido muscular) Secreção dos ouvidos, olhos, nariz, boca e
raiz do cabelo
Medas (tecido adiposo) Suor
Asthi (tecido ósseo) Cabelos e unhas
Majja (medula óssea) Substâncias gordurosas presentes nos
olhos, fezes e pele
Sukra (esperma e óvulo) Nenhum produto residual

O Ayurveda dedica grande ênfase a todos os agnis que, por


esta razão, são tratados como sinônimos de corpo físico. Antes do
médico iniciar o tratamento de qualquer doença, em primeiro lugar,
devem ser localizados os defeitos nestes agnis e devem ser feitas
tentativas para corrigi-los. A maioria dos medicamentos utilizados no
Ayurveda contém substâncias que estimulam o funcionamento destas
enzimas em diferentes níveis. Algumas das terapias eliminativas
também são prescritas no Ayurveda com a intenção de limpar os
canais de circulação e remover os produtos residuais acumulados.
Isto auxilia no funcionamento apropriado do agni.
Na juventude, o estágio de agni é suave e com o passar da
idade sua força se eleva resultando em melhora da digestão e do
metabolismo. Isto auxilia no crescimento do corpo. Após os 40 anos,
o vigor do agni permanece estável até que o indivíduo atinja os 60
anos. Durante este período, não há crescimento apreciável do corpo
e este se mantém status quo ante. Depois dos 60 anos, a força deste
agni declina. Os tecidos corporais não adquirem nutrição adequada.
Eles são reduzidos em número, tamanho e qualidade originando o

73
processo de envelhecimento. O indivíduo considera-se mentalmente
velho. O corpo torna-se mais frágil e há abundante produção de
material residual.
Quando o ar vital sai do corpo, isto é, quando o indivíduo
falece, o funcionamento destas enzimas cessa. Através da terapia de
rejuvenescimento, direciona-se o esforço para recuperar e revitalizar
estas enzimas de tal modo que elas possam manter ou aumentar
suas atividades. Isto auxilia na prevenção do envelhecimento e das
doenças associadas com o mesmo.
O alimento que ingerimos converte-se em diferentes
elementos teciduais e para todos há um tempo limitado para esta
conversão. Este tempo de conversão dos alimentos e de produção de
um tipo particular de tecido pode ser alterado através de
medicamentos. Por exemplo, afrodisíacos ou estimulantes sexuais
aumentam a produção de esperma e óvulo a partir dos ingredientes
alimentares, apenas se os agnis ou as enzimas estiverem
estimulados por certos agentes.
Uma doença é causada pela obstrução dos canais de
circulação. A obstrução surge devido ao acúmulo de produtos
residuais. Estes materiais não preparados podem ser convertidos ou
eliminados se o agni ou enzimas daquele local forem estimuladas.
Esta é a função da maioria dos medicamentos e é assim que as
doenças são curadas. Portanto, o conceito de agni ou do processo de
digestão e metabolismo é muito importante no Ayurveda.
Prakrti ou Constituinte Físico
Os doshas, denominados vayu, pitta e kapha infiltram todo o
corpo. Eles controlam as funções de cada um e de todos os tecidos
celulares e estão presentes em cada um e em todos eles. Quando o
esperma e o óvulo se unem no útero da mãe para formar um zigoto,
os doshas presentes naqueles e no próprio útero, produzem certos
aspectos característicos denominados prakrti, na linguagem
Ayurvédica. Se todos os doshas estiverem em um estado de

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equilíbrio, darão origem a um feto saudável e a criança nascida terá
uma vida saudável. Se os doshas estiverem em um estado muito
desequilibrado, impedem a concepção ou não permitem que o zigoto
se desenvolva ou resultam em malformações. Se um ou dois doshas
estiverem moderadamente em excesso, geram um tipo peculiar de
constituinte físico e temperamento psíquico no indivíduo que nascerá.
Estes aspectos característicos do corpo e da mente permanecem
com o indivíduo durante toda sua vida. Não se alteram e qualquer
mudança nos mesmos é indicativa de morte.
Basicamente, prakrti possui sete tipos: (1) vata prakrti; (2) pitta
prakrti; (3) kapha prakrti; (4)vata/pitta prakrti; (5) pitta/kapha prakrti; (6)
vata/slesma prakrti e (7) sama prakrti.
A seguir estão os aspectos característicos de uma pessoa do
tipo vata prakrti:
1. Ressecamento e aspereza da pele e do corpo;
2. Corpo esguio;
3. Estatura baixa;
4. Proeminência dos tendões e veias, aspereza dos cabelos, das
unhas, dentes, sola dos pés e palmas das mãos;
5. Aparecimento de fissuras nos membros;
6. Perda de cabelos e barba;
7. Cabelos com pontas quebradiças e coloração cinzenta e
8. Ressecamento e entorpecimento dos olhos.
Os aspectos característicos de uma pessoa do tipo pitta
prakrti estão a seguir:
1. Coloração branca da pele;
2. Ressecamento e sensibilidade do corpo;
3. Aparecimento de molas de coloração negra em excesso;
4. Sensação de calor excessivo na face e nos membros;
5. Aparecimento precoce de cabelos grisalhos e rugas;
6. Calvície;
7. Perda de cabelos com coloração marrom-avermelhado;

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8. Preguiça muscular;
9. Frouxidão das articulações;
10. Hálito desagradável;
11. Unhas, olhos, língua e palato com coloração cúprica;
12. Entusiamo;
13. Olhos pequenos e avermelhados;
14. Cílios escassos.
Os aspectos característicos de uma pessoa do tipo kapha
prakti são os seguintes:
1. Pele macia, suave e gordurosa;
2. Corpo musculoso e compacto;
3. Corpo branco e sensível;
4. Corpulento;
5. Articulações compactas;
6. Esclera dos olhos brancas e avermelhadas nos cantos externos;
7. Cabelos negros e ondulados;
8. Fronte, peito e braços proeminentes;
9. Olhos grandes e bonitos;
10. Vastas pestanas.
Os prakrti mistos, denominados vata/pitta prakrti, pitta/kapha
prakrti e vata/kapha prakrti, possuem os aspectos característicos de
seus respectivos doshas de forma combinada. No sama prakrti, que é
o melhor, todos estão em estado de equilíbrio.
Para o tratamento Ayurvédico, o conhecimento do Prakrti é
muito importante. Por exemplo, uma pessoa com vata prakrti é muito
propensa a adquirir distúrbios tipo vatika. Nestes indivíduos os
desequilíbrios de outros tipos não são muito graves e podem ser
facilmente curáveis. Para prevenir a ocorrência de patologias naquele
que é vata prakrti, deve-se evitar sempre aqueles fatores que
agravam vata e recorrer aos alimentos, bebidas e condutas que
aliviem este dosha. Alimentos untuosos e picantes são
provavelmente mais adequados a eles do que para os indivíduos que

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possuem pitta prakrti, para os quais os alimentos frios são mais
apropriados. Da mesma maneira, na administração de
medicamentos, um paciente pitta prakrti deve receber drogas
refrigerantes e um paciente kapha prakrti deve receber drogas
picantes, secas, ásperas, etc. O quinino, por exemplo, pode ser
administrado com segurança para um indivíduo do tipo kapha prakrti.
Não é muito adequado para uma pessoa que seja vata prakrti e é
prejudicial se prescrito para um paciente pitta prakrti.
Fatores Responsáveis pela Determinação de Prakrti
O prakrti, ou constituição física do indivíduo determinada no
momento da concepção, depende dos seguintes fatores:
1. As condições do esperma e do óvulo;
2. A natureza da estação do ano e as condições predominantes
dentro do útero;
3. Qualidades do alimento e as condutas adotadas pela mãe durante
o período de gravidez; e
4. Natureza dos mahabhutas que compõem o feto.
O feto torna-se perturbado por um ou mais doshas,
associados com os fatores mencionados acima. A constituição física
de um indivíduo é determinada com base nestes doshas no momento
da formação do feto.
Este prakti é também determinado com base na disposição
natural da pessoa relacionada, como segue:
1. Posição social: Por exemplo, brahmanas, em sua maioria,
recorrem à conduta pura e os ksatriyas possuem bravura. Logo, suas
crianças herdam estas disposições naturais de seus pais.
2. Característica familiar: A pureza ou outro caráter e conduta de uma
família sempre se reflete na constituição física e temperamento
psíquico do descendente.
3. Localidade: Pessoas de certas regiões possuem atitudes
peculiares durante a vida devido ao meio ambiente. Aqueles que
residem no litoral são expostos muito freqüentemente à invasão

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estrangeira. Assim, seus descendentes desenvolvem tendências
heróicas.
4. Época: Nos diferentes períodos do ano, a atitude mental e física
dos pais mostra certas peculiaridades que se refletem na constituição
física e na disposição natural do descendente.
5. Idade: A idade dos pais determina, em grande parte, sua
constituição física e temperamento psíquico. A concepção durante as
diferentes idades dos pais determina a natureza do filho.
6. Aspectos característicos do indivíduo: Os fatores mencionados
acima são comuns, e certos indivíduos possuem pureza da mente
enquanto em outros esta característica não é encontrada. Isto
também determina o prakrti dos filhos.
Os aspectos característicos dos diferentes tipos de pessoas
manifestam-se como conseqüência das atribuições específicas dos
doshas envolvidos. Elas estão descritas abaixo:
Características dos Indivíduos que Possuem Kapha Prakrti
Kapha é untuoso, macio, suave, doce, firme, denso, lento,
estável, pesado, frio, viscoso e claro. As várias manifestações do
corpo humano que possui o tipo constitucional kapha são fornecidas
a seguir:

Atributos Manifestações específicas de kapha prakrti


de kapha
Untuoso Untuosidade dos órgãos
Maciez Maciez dos órgãos
Suave Aparência agradável, sensibilidade e compleição clara
Doce Aumento na quantidade de sêmen, do desejo no ato sexual e
no número de filhos
Firme Corpo firme, compacto e estável
Denso Órgãos arredondados e roliços
Lento Lentidão da ação, da ingestão de alimentos e dos
movimentos

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Estável Lentidão para iniciar as ações, manifestações mórbidas e
irritação
Pesado Andar estável e não vacilante com toda a sola do pé
pressionando contra o solo
Frio Perda da intensidade da fome, da sede, do calor e da
perspiração
Viscoso Firmeza e solidez articular
Claro Felicidade da aparência e da face, felicidade e suavidade na
compleição e na voz

Em virtude das qualidades mencionadas acima, um homem


com o tipo constitucional kapha é dotado da excelência do vigor,
riqueza, conhecimento, energia, paz e longevidade.
Características de um Indivíduo que Possui Pitta Prakrti
Pitta é quente, aguçado, líquido, de odor carnoso, azedo e
penetrante. As várias manifestações conseqüentes a estes atributos
no corpo humano que possui o tipo constitucional pitta estão na
tabela a seguir:

Atributos de pitta Manifestações específicas de pitta prakrti


1. Quente Intolerância às coisas quentes, possui face quente, o
corpo claro e sensível, marcas cor de vinho do porto,
sardas, molas de coloração negra, fome e sede
excessivas, rugas precoces, cabelos grisalhos e
calvície, presença de alguns cabelos marrons e
tênues na face, na cabeça e em outras partes do
corpo.
2. Aguçado Penetrante, demonstra vigor físico, poder digestivo
acentuado, ingere grandes quantidades de alimento
e bebidas, incapacidade face às situações difíceis e
hábitos de glutão.

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3. Líquido Frouxidão e maciez das articulações e músculos,
eliminação de suor e fezes em grande quantidade.
4. Odor Odor excessivamente pútrido das axilas, boca,
cabeça e corpo.
5. Sabores Insuficiência de sêmen, desejo sexual e procriação.
pungente e azedo

Em virtude das qualidades acima mencionadas, um homem


com o tipo constitucional pitta é dotado com vigor moderado, tempo
de vida médio, conhecimento espiritual e materialista médios e
riqueza e acessórios da vida moderados.
Características de um Indivíduo que Possui Vata Prakrti
Vata é não-gorduroso, leve, móvel, abundante em quantidade,
rápido, frio, áspero e não-viscoso. As várias manifestações
conseqüentes a estes atributos de vata no corpo humano que possui
o tipo constitucional vatala estão expostas na tabela seguinte:

Atributos de Manifestações específicas de vata prakrti


Vata
1. Não-gorduroso Não-untuosidade, corpo esguio e pequeno, voz seca,
prolongada, irregular, bloqueada e rouca; sempre fica
acordado.
2. Leve Marcha, ações, alimentação e movimentos suaves e
inconsistentes.
3. Móvel Articulações, olhos, sobrancelhas, queixo, lábios, língua,
cabeça, mãos, ombros e pernas instáveis.
4. Abundância Loquacidade, abundância de tendões e veias.
5. Rápido Rapidez para iniciar ações, para tornar-se irritado e para
iniciar manifestações da doença; rapidez para tornar-se
aflito, com medo; rapidez para apreciar e deixar de
apreciar; rapidez em compreender e esquecer as
coisas.

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6. Frio Intolerância para as substâncias frias, torna-se
freqüentemente perturbado pelo frio; calafrios e rigidez
7. Áspero Aspereza dos cabelos, pêlos da face e das outras
partes do corpo, unhas, dentes, face, mãos e pés
8. Não-viscoso Fissura dos membros e dos órgãos, produção de
estalidos ao mover as articulações

Baseado nas qualidades mencionadas acima, os indivíduos


que possuem o tipo constitucional vata são geralmente dotados de
pequena quantidade de vigor, pouco tempo de vida, poucos filhos,
poucos acessórios da vida e pouca riqueza.
Os indivíduos que possuem constituição na qual predomina a
associação de dois doshas são caracterizados pela combinação das
manifestações dos respectivos doshas.
Um indivíduo do tipo sama prakrti, que possui todos os
doshas em estado de equilíbrio, é dotado das boas qualidades de
todos os tipos individuais descritos acima.
As pessoas que possuem vata prakrti, pitta prakrti e kapha
prakrti são mais susceptíveis às doenças causadas por vata, pitta e
kapha, respectivamente. Estas pessoas de diferentes tipos
constitucionais estão expostas a algumas doenças específicas
necessitando, portanto, de algumas terapias específicas.
Características e Controle de uma Pessoa que Possui Vata
Prakrti
Se um indivíduo tipo vatala faz uso de substâncias
agravadoras de vata, o mesmo torna-se imediatamente alterado em
seu organismo. Isto não ocorre no caso dos demais doshas. O vata
alterado perturba o indivíduo através das manifestações das doenças
resultando em perda do vigor, da compleição, da felicidade e da
longevidade. As seguintes terapias aliviam este dosha:
1.Administração adequada de fomentação e óleos;

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2.Purgativo suave preparado com gordura, substâncias quentes e
que tenham sabores doce, azedo e salgado;
3.Alimentos compostos de ingredientes com as propriedades
mencionadas acima;
4.Massagem, cataplasma, enfaixamento, aspersão, banho,
samvahana (pressão e massagem com a mão), pressão, susto,
condutas que produzam surpresa e perda da memória;
5.Uso de vinho e asavas (bebidas fermentadas);
6.Gorduras de diferentes fontes preparadas com drogas que
possuem propriedades digestivas, estimulantes, antiflatulentos,
mitigadores de vata e purgativos – eles devem ser fervidos centenas
de milhares de vezes e utilizados sob diferentes formas de
administração, ou seja, uso interno, massagem, etc.
7.Vários tipos de enemas medicinais.
Características e Controle de uma Pessoa que Possui Pitta
Prakrti
Se um indivíduo do tipo constitucional pitta faz uso de
substâncias que desequilibram pitta, este dosha torna-se
imediatamente alterado em seu corpo. Isto não ocorre com os dois
outros doshas. A alteração de pitta perturba o indivíduo com as
manifestações patológicas resultando em perda do vigor, da
compleição, da felicidade e da longevidade. As seguintes aliviam este
dosha:
1.ingestão de ghee;
2.aplicação de ghee;
3.purgação;
4.uso de drogas e dieta com sabores doce, amargo e adstringente e
propriedades refrigerantes;
5.uso de fragrâncias suaves, doces, aromáticas, frescas e
estimulantes;
6.uso de pérolas, pedras preciosas e ornamentos que permaneceram
conservadas em água fria;

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7.aspersão freqüente de água fria e ar frio com agryacandana
(Santalum album, Linn.), priyangu (Callicarpa macrophylla, Vahl.),
kaliya (candana, variedade amarela) e mrnala (haste de lótus)
combinados com utpala (Nymphaea alba, Linn.), kumuda (uma
variedade de utpala) e padma (Nelumbo nucifera, Gaertn.);
8.ouvir sons e músicas agradáveis, suaves, doces e convenientes
aos ouvidos;
9.receber informações sobre prosperidade;
10.conservar-se na companhia de amigos;
11.acompanhar-se de mulheres agradáveis, vestir roupas e
ornamentos frescos;
12.residir em construção que seja resfriada pela luz da lua e exposta
a brisas por todos os lados;
13.residir em locais frescos, nas montanhas e beira de rio, usar
vestimentas frescas e expôr-se aos ventos frios de ventiladores;
14.visitar belos jardins com ventos aromáticos, agradáveis e frescos;
15.uso de flores de padma (Nelumbo nucifera, Gaertn.) e utpala
(Nymphaea alba, Linn.) e pundarika (Nymphaea lotus, Linn.);
16.adotar outras condutas que tenham natureza suavizante.
Características e Controle de uma Pessoa que Possui Kapha
Prakrti
Se uma pessoa do tipo slesmala faz uso de substâncias
agravadoras de kapha, este dosha desequilibra-se imediatamente.
Isto não ocorre com os demais doshas. A perturbação de kapha afeta
o indivíduo através de manifestações patológicas que resultam em
perda do vigor, da compleição, da felicidade e da longevidade. As
seguintes terapias aliviam kapha:
1.administração apropriada de terapias de eliminação fortes e
quentes;
2.ingestão de dieta que não seja gordurosa, composta de
ingredientes de sabores picante, amargo e adstringente;

83
3.correr, pular, nadar, mover-se em círculos, caminhar durante a
noite, envolver-se em relações sexuais, exercícios, untar-se, banhar-
se e massagear-se com óleo;
4.ingestão de vinhos fortes, conservados por longo tempo;
5.todas as terapias aliviadoras associadas com fumaça;
6.uso de vestimentas mornas;
7.renunciar aos confortos da vida tendo em vista basicamente a
felicidade.
Conceito de Mente
O conceito de mente é muito importante e significativa tanto
para o Ayurveda como para o Yoga. No Ayurveda, as doenças são
classificadas em duas categorias, ou seja, físicas e mentais. No
primeiro, o corpo é considerado o sítio da doença e no último, a
mente. Em ambas as categorias, a mente representa um importante
papel na causa das doenças. Os fatores psíquicos exercem controle
sobre as funções fisiológicas do corpo e vice-versa. Portanto, mesmo
no tratamento de algumas doenças físicas, certas medidas psíquicas
são prescritas no Ayurveda.
O objetivo principal do Yoga é impedir as várias modificações
da mente. Este ponto é enfatizado na introdução do Yoga Sutra de
Patañjali. Diferentes tipos de Yoga prescrevem diferentes métodos
para os seguidores de suas respectivas escolas. Mas o objetivo
comum é o controle da mente e suas várias modificações, e apenas
atingindo-o pode-se realizar a verdade básica e alcançar a salvação.
A recitação de um mantra, a manutenção da postura física (asana),
os exercícios respiratórios (pranayama), a observação de uma dieta
programada e de jejuns e outros rituais semelhantes estão
relacionados principalmente com a correção das aflições mentais,
assim como as aberrações, de forma que um iogue possa prosseguir
suavemente em seu desenvolvimento espiritual.

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Sinônimos e suas Implicações
No Ayurveda, no Yoga e nas literaturas afins, o termo manas
é geralmente utilizado para indicar mente, para a qual existem cinco
sinônimos em sânscrito, ou seja, citta, caita, hrdaya, svanta e hrt. O
termo manas é derivado da raiz man que significa ―pensar‖. Portanto,
significa o instrumento ou agente primariamente responsável pelo
fenômeno do pensamento. Todos os termos sânscritos utilizados aqui
como sinônimos também possuem conotações diferentes de acordo
com seu contexto. Por exemplo, hrdaya e hrt significam ―centro‖ ou ―o
coração‖ que é o sítio da mente. Citta é um dos quatro significados
internos de percepção (antah karana) e, junto com a mente, o ego e o
intelecto, é responsável pelo fenômeno da percepção. Assim, estes
sinônimos descrevem os diferentes aspectos e atributos da mente.
Mente e Manas
O termo ―mente‖ é geralmente utilizado como o equivalente
português do termo sânscrito manas. Mas existem certas diferenças
nas implicações destes dois termos. Manas tem sido utilizado na
Índia desde a época dos Vedas e o conceito se desenvolveu em
vários estágios, sendo explicado diferentemente nas várias escolas
filosóficas. Estes detalhes serão fornecidos posteriormente. Por outro
lado, a psicologia é um dos ramos mais recentes da ciência. Seu
desenvolvimento mais significativo ocorreu apenas durante as últimas
poucas décadas no plano da filosofia Ocidental. A extensão do
conceito de manas que se desenvolveu no plano da filosofia antiga
da Índia é, entretanto, ligeiramente diferente do conceito moderno de
mente.
Desenvolvimento do Conceito
A descrição da natureza e das funções da mente está
disponível no Rk veda e no Yajur veda. Nos Upanishads o conceito
apresenta uma definição concreta e a descrição dos pensamentos
filosóficos assume uma importante posição. Uma descrição precisa

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da mente surgiu nos últimos trabalhos como Nyaya de Gautama,
Vaisesika de Kanada, Sankhya de Kapila, Yoga, Purva Mimansa e
Uttara Mimansa de Patañjali e nas escolas filosóficas de Bauddha e
Jaina. Mesmo que a psicologia não seja tratada como uma matéria
separada na literatura antiga da Índia, as várias escolas de filosofia
dedicam espaço considerável à descrição da mente e suas funções.
Três Pontos de Vista Diferentes
As teorias psicológicas da Índia antiga apresentam três visões
distintas sobre a mente. Os seguidores de Nyaya, Vaisesika e
Mimansa Darsanas apresentam uma visão mecanicista. De acordo
com eles, a mente possui proporções atômicas, sendo apenas a
conexão, a ligação entre a alma e os órgãos sensoriais que auxiliam
na produção do conhecimento. É insensível e não possui atributos
especiais como calor, tato, etc., ou como o conhecimento, o prazer, a
dor, etc. O prazer, a dor e o conhecimento, de acordo com eles, são
produzidos apenas quando a mente entra em conjunção com a alma.
Cada alma possui uma mente como sua eterna associada.
Os seguidores do Sankhya, de Patañjali e dos Vedanta
Darsanas apresentam uma visão psíquica da mente. De acordo com
eles, manas é plástica e transparente, sendo capaz de modificar-se
na forma do objeto que a percebe. Expande-se e contrai-se de
acordo com o tamanho do objeto e toma a forma daquele no qual
está interessado. A mente é insensível, mas aparentemente possui
um agente consciente devido ao seu contato com a alma, que é
abundante em consciência. De acordo com esta escola, a mente pos-
sui diferentes atributos, denominados sattva, rajas e tamas,
responsáveis pela compreensão, atividade e inércia adequadas,
respectivamente.
A terceira escola, que inclui alguns dos Agamas, apresenta
uma visão espiritualista. Uma vez que a alma é consciente, a mente
naturalmente também o é, mas sua consciência tem limitações.

86
A maioria das filosofias indianas admitem a existência da alma
somada à mente. De acordo com algumas escolas, entretanto, a
alma não existe. O Carvaka e o Bauddha Darsanas são exemplos. O
Carvaka não reconhece a existência de qualquer coisa além da
mente, à qual atribui todas as qualidades da alma.
Seres Sencientes e Não Sencientes
O universo inteiro está dividido em duas categorias
denominadas sencientes e não sencientes. Ambas as categorias de
substâncias, incluindo os seres humanos, os animais, os pássaros,
as árvores, os metais, os minerais e outros, são compostos de cinco
elementos básicos não sencientes. O que os diferencia? Existe uma
diferença entre um corpo morto e um vivo. Metais e minerais não
reagem aos estímulos da mesma maneira que as plantas e os
animais.
As diferentes escolas filosóficas da Índia atribuem funções
diferenciadas para a alma universal, assim como para a individual, na
criação da matéria universal e individual. Entretanto, a maioria
concorda que as coisas são criadas apenas quando a matéria
primordial em questão entra em contato com o elemento Consciente
o qual é designado diferentemente como alma individual e alma
experimental universal. Se assim for, qual seria a diferença entre um
objeto animado e um inanimado? O estado da mente e os sentidos é
que produzem todas estas diferenças. Através de muitos
experimentos estabeleceu-se que as plantas são conscientes e
reagem diferentemente aos vários tipos de estímulos ainda que tais
reações não sejam obviamente como aquelas manifestadas em
animais ou seres humanos. De forma semelhante, os metais e os
minerais, que são considerados insensíveis, não são absolutamente
livres de consciência. Os elétrons e os prótons, que se movem em
torno dos átomos que constituem estes objetos, observam uma certa
proporção de disciplina que representa uma forma sutil de
consciência. É com base neste conceito que são oferecidas orações

87
aos ídolos ou imagens de divindades pelos indianos. Mesmo que a
consciência não seja inteiramente manifestada nestas imagens ou
ídolos, a mente do indivíduo é desenvolvida em tal proporção pelo
encantamento de certos mantras e pela realização de certos rituais,
que se torna capaz de transferir consciência a estes ídolos e
imagens. Em troca, o indivíduo é capaz de exercer um controle sobre
si mesmo através destas mesmas imagens para as quais o mantra é
oferecido. Nós não precisamos prosseguir com este tópico
detalhadamente neste livro; este adendo serve apenas para enfatizar
que todas as coisas neste universo possuem consciência, algumas
em forma latente ou sublatente e outras, inteiramente manifestada.
O que provoca estas diferenças entre as diversas categorias
de matéria? São os estados da mente e dos órgãos sensoriais os
responsáveis? Um pedaço de metal, mesmo que composto do
mesmo material consciente, não reage à estimulação da mesma
forma que o ser humano, por que no primeiro a mente e os órgãos
sensoriais estão latentes. Nas plantas há alguma reação, mas não da
forma como ocorre nos animais e nos seres humanos, a mente e os
órgãos sensoriais estão semi-manifestados ou em estado sub-latente.
Nos animais, a mente e os sentidos estão inteiramente manifestados,
mas não na mesma extensão que nos seres humanos.
Antahkarana ou os Meios Internos de Percepção
Como foi mencionado antes, a diferença no estado da mente
e dos sentidos é responsável pelas variações na manifestação da
consciência nas várias categorias de substâncias. Estes sentidos,
que são cinco em número, são os meios externos de percepção. Eles
entram em contato com os diferentes aspectos dos objetos e, através
da visão, do tato, do olfato, da audição e do paladar, transmitem
estas sensações para os meios internos de percepção que são
primariamente quatro. São eles: manas, citta, buddhi e ahankara.
Os órgãos sensoriais externos não percebem os objetos em
sua totalidade. Eles reconhecem apenas a existência de alguma

88
coisa dentro dos limites de sua percepção. Por exemplo, um animal
está de pé em frente a alguém e, através de seu órgão visual, é
capaz de ver algo ali, mas não sabe o que é. O manas ou a mente
determina a natureza exata do objeto. Então percebe aquilo como
uma mesa ou um animal e não um ser humano defronte dele. Através
do citta, esta sensação é transmitida ao ahankara ou o ego, que é
responsável pela disseminação da percepção. Ele realiza se o animal
percebido pelos sentidos e determinado pela mente é bom ou mau
para si mesmo. Esta reação é transmitida ao buddhi ou o intelecto,
que por último determina se o animal move-se para frente ou para
trás. Os primeiros dois meios internos de percepção denominados
manas e citta estão freqüentemente juntos e, portanto, apenas três
antahkaranas ou meios internos são geralmente reconhecidos.
Localização
O coração e o cérebro são considerados como os sítios da
mente. Eles estão inter-relacionados e suas funções são
interdependentes. Os textos Ayurvédicos dão maior importância ao
coração como sítio da mente e os textos iogues enfatizam tanto o
coração como o cérebro nesta conexão. Pingala (canal simpático
direito?), Ila (canal simpático esquerdo?) e Susumna na medula
espinhal são encarregados de transportar as correntes de
consciência, segundo o Yoga. O Kundalini Sakti ou a energia latente
em um ser humano permanece dormente na região do cóccix na
forma de uma serpente adormecida. Ela é despertada por muitos
métodos do Yoga. Quando despertada, diz-se que gera um tremendo
impacto na mente da pessoa e as faculdades mentais que
normalmente permanecem dormentes tornam-se subitamente ativas.
Portanto, no Yoga, o coração, o cérebro e a medula espinhal,
incluindo os canais simpáticos, são todos considerados como sítios
da mente.

89
Dimensões e Números
Diferentes escolas filosóficas da Índia apresentam diferentes
pontos de vista sobre as dimensões da mente e se existiria mais que
uma. Todas as escolas Ayurvédicas asseguram que exista apenas
uma única mente, material e do tamanho de um átomo. De acordo
com as escolas Nyaya e Vaisesika, a mente, assim como a alma, o
tempo, o espaço e os cinco elementos básicos (mahabhutas), é um
dos nove constituintes materais deste universo. As escolas Sankhya
e Yoga afirmam que a mente, juntamente com os outros órgãos
sensoriais e motores são criações do aspecto sattvika do ego
(ahankara).
Funções
A função primária da mente é perceber o estímulo transmitido
pelos sentidos e comunicá-lo ao ego, ao intelecto etc. A reação à
percepção é então transmitida através da mente para os órgãos
motores e resulta em reflexo. Esta ação reflexa aplica-se ao
pensamento, à consideração, à formação de hipóteses, atenção e
determinação.
Diferentes Níveis de Mente
A mente possui três atributos, ou seja, sattva, rajas e tamas. A
predominância de um ou outro causa diferentes disposições
psíquicas, de forma que pessoas diferentes reagem diversamente a
certa coisa. Dependendo dos atributos, nossos níveis mentais são
classificados, de modo geral, nas cinco seguintes categorias:
1.Ksipa, no qual a mente está muito atraída pelos objetos dos
sentidos;
2.Mudha, no qual há uma tendência aos vícios, à ignorância, ao sono
excessivo e atitudes semelhantes;
3.Viksipa, mente distraída, que produz por virtude, conhecimento etc.;
4.Ekagra ou concentrada, onde a mente é limpa de impurezas e há
concentração prolongada;

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5.Niruddha, onde todas as funções mentais cessam e a mente é
deixada em seu estado original não-modificado de calma e
tranqüilidade.
Classificação das Faculdades Mentais
São de três tipos: sattvika, rajasika e tamasika. O tipo sattvika
de faculdades mentais está livre de defeitos e é dotado com aus-
piciosidade, consciência e pureza; o tipo rajasika promove disposição
colérica e o tipo tamasika sofre de ignorância. Através da permutação
e da combinação, há uma incontável variedade de atitudes mentais.
Algumas vezes, as qualidades físicas de um indivíduo são
controladas pela sua faculdade mental e vice-versa. De modo geral,
há sete categorias de sattvika, seis de rajasika e três de tamasika.
São feitas analogias com deuses, outros seres celestiais, animais e
plantas para descrevê-los. Seus aspectos característicos são
fornecidos na seguinte tabela:
Tipos de Faculdades Aspectos Característicos do Indivíduo
Mentais
A- Tipo Sattvika
1. Brahma -Pureza, amor pela verdade, auto-controle;
(compartilha das -Poder de discriminação material e conhecimento
características de espiritual;
Brahma) -Poder de exposição, resposta e memória;
-Livre de paixão, raiva, avareza ignorância, inveja,
depressão, intolerância e egoísmo.
2. Arsa (compartilha -Devoção aos rituais sagrados, ao estudo, aos
das qualidades de votos sagrados, às oferendas e celibato;
rsis) -Disposição hospitaleira;
-Livre do orgulho, do egoísmo, dos apegos, do ódio,
da ignorância, da avareza e da raiva;
-Superioridade intelectual e eloqüência;
-Poder de compreensão e retenção.

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3. Aindra (compartilha -Modo de falar dominador e autoritário;
das qualidades de -Realiza rituais sagrados;
Indra) -Bravura, vigor e esplendor;
-Livre de atitudes medíocres;
-Perspicaz;
-Devoção à várias atitudes, à aquisição de riqueza
e satisfação adequada de seus desejos.
4. Yamya (compartilha -Observação das atitudes adequadas;
das qualidades de -Início das ações no momento adequado;
Yama) -Inviolabilidade;
-Prontidão para iniciar a ação;
-Memória e domínio;
-Livre de apegos, inveja, ódio e ignorância.
5. Varuna (compartilha -Bravura, paciência, pureza e aversão à impureza;
das qualidades de -Prática de rituais religiosos;
Varum) -Inclinação para esportes aquáticos;
-Aversão à atitudes medíocres;
-Exibição de raiva e prazer nos locais adequados.
6. Kaubera -Posição social, honra, luxúrias e assistentes;
(compartilha das -Preferência por atos virtuosos, riqueza e satisfação
qualidades de Kubera) dos desejos;
-Pureza;
-Preferência pelos prazeres da recreação.
7. Gandharva -Inclinação pela dança, música, canto e exaltações;
(compartilha das -Especialista em poesia, estórias, narrações
qualidades de históricas e épicas;
Gandharva) -Inclinação por perfumes, ornamentos, ungüentos,
roupas, relacionamento com mulheres e paixões.
B- Tipo Rajasika
1. Asura (compartilha -Bravura, crueldade, inveja, domínio, movimento na
das qualidades de dissimulação, aparência terrível e falta de
Asura) compaixão;
-Prazer no auto-elogio.

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2. Raksasa -Intolerância, raiva constante, violência, crueldade,
(compartilha hábitos de gula e preferência por alimentos não-
qualidades de um vegetarianos;
Raksasa) -Sono excessivo e indolência;
-Disposição invejosa.
3. Paisaca -Gula;
(compartilha das -Apego às mulheres;
qualidades de um -Aprecia permanecer com mulheres em lugares
Paisaca) solitários;
-Hábitos sujos, não aprecia a limpeza;
-Covardia e disposição aterrorizante;
-Faz uso de dieta e condutas anormais.
4. Sarpa (compartilha -Bravura quando com disposição colérica e
das qualidades de um covardia quando não-colérico;
Sarpa ou cobra) -Reação suave;
-Indolência excessiva;
-Disposição medrosa ao caminhar, alimentar-se e
em outras condutas.
5. Praita (compartilha -Excessivo desejo por comida;
das qualidades dos -Excessiva disposição dolorosa no caráter e nos
Pretas) passatempos;
-Inveja;
-Atitudes sem discriminação, avareza e inatividade
excessivas.
6. Sakuna -Apego excessivo à paixão, alimentação e atitudes,
(compartilha das instabilidade, falta de compaixão e ausência de
qualidades de um ganância.
pássaro)
C- Tipo Tamasika
1. Pasava -Disposição ameaçadora;
(compartilha das -Falta de inteligência;
qualidades de um -Conduta e dieta repulsiva;
animal) -Relações sexuais e sono excessivos.

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2. Matsya (compartilha -Covardia, falta de inteligência, gula, instabilidade,
das qualidades de um paixão constante e disposição raivosa;
peixe) -Inclinação por movimentos constantes e desejo
por água.
3. Vanaspatya -Indolência, tolerância por comida e deficiência em
(compartilha das todas as faculdades intelectuais.
qualidades da vida
vegetal)

Composição das Drogas


Assim como todas as coisas do universo, uma droga é
composta dos cinco mahabhutas, denominados akasa, vayu, tejas,
jala e prthvi. É difícil definir a composição bháuthika de uma droga
considerando apenas a aparência física. É preciso diferenciá-la das
demais, baseando-se no sabor destas drogas. Por exemplo, se uma
substância possuir sabor doce, pode ser inferido que nela predomina
prthvi e jala mahabhutas. De forma semelhante, se possuir sabor
azedo, nela predominam jala e agni mahabhutas; no sabor salgado,
predominam prthvi e agni mahabhutas; no sabor picante,
predominam agni e vayu mahabhutas; na droga que possui sabor
amargo predominam vayu e akasa mahabhutas e se possuir sabor
adstringente predominam prthvi e vayu mahabhutas.
Como foi descrito anteriormente, os doshas no corpo também
são compostos destes cinco mahabhutas, ou seja, em kapha
predominam prthvi e jala mahabhutas; em pitta predominam agni
mahabhuta e em vayu predominam vayu e akasa mahabhutas.
Quando uma doença é causada por um distúrbio de kapha
dosha, devem ser administradas ao paciente bebidas e drogas que
possuam menos prthvi e jala mahabhutas. Este necessita mais de
agni, vayu e akasa mahabhutas. As drogas com sabores picante,
amargo e adstringente (o último é apenas parcial) contém
predominantemente estes três mahabhutas. Portanto, os

94
medicamentos que possuem estes sabores denominados picante,
amargo e adstringente são administrados ao paciente portador de
uma doença na qual predomine kapha dosha. A mesma regra dirigirá
a seleção das drogas para doenças causadas pelos outros doshas.
O que foi apresentado acima é apenas uma breve explicação
sobre a ação das drogas Ayurvédicas. Há muitos outros fatores
considerados durante a seleção de uma droga, como os atributos
(gunas), as potências (viryas), os sabores que surgem após a diges-
tão do alimento ou substância ingerida (vipakas) e a ação específica
(prabhava). Todos estes fatores internos da droga são em sua
maioria inter-relacionados e interdependentes, pois representam
diferentes aspectos dos mahabhutas que compõem a droga.
Classificação das Drogas
Dependendo de sua fonte original, as drogas são classificadas
em três grupos denominados:
1. audbhida ou drogas de origem vegetal;
2. jangama ou produtos animais e
3. parthiva ou metais, incluindo minerais.
As drogas de origem vegetal são novamente divididas em
quatro grupos denominados:
-vanaspati – vegetais que possuem frutos, mas não flores;
-vanaspatya – aqueles que têm tanto frutos como flores;
-virut – trepadeiras;
-osadhi – plantas anuais que morrem após dar frutos.
Da mesma forma, as drogas de origem animal foram
classificadas em quatro grupos:
-jarayuja – mamíferos;
-andaja – ovíparos;
-svedaja – que nascem da umidade; e
-udbhijja – que hibernam na terra e saem quando há ambiente
apropriado.

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Dependendo de seus efeitos, as drogas são classificadas em
três categorias denominadas:
1. Samana – aquelas que aliviam os doshas;
2. Kopana – aquelas que desequilibram os doshas e os dhatus; e
3. Svasthahita – aquelas que auxiliam na manutenção da saúde
verdadeira.
As drogas também podem ser classificadas em cinco grupos
dependendo da predominância de um ou de outro dentre os cinco
mahabhutas.
Rasa ou Sabor
O sabor ou rasa é definido pela língua e pelos efeitos da
droga ou da dieta sobre o corpo do indivíduo. Há seis rasas ou
sabores. Dois mahabhutas combinam-se para produzir cada um
deles. São os seguintes:

Sabor Mahabhutas predominantes

1. Doce Prthvi e Jala


2. Azedo Jala e Tejas
3. Salgado Prthvi e Tejas
4. Picante Vayu e Tejas
5. Amargo Vayu e Akasa
6. Adstringente Vayu e Prthvi

A fisiologia moderna não aceita como isolados os sabores


adstringente e picante, pois são considerados como efeitos sobre a
pele e membranas mucosas de certos ingredientes presentes nas
drogas. Mas no Ayurveda eles são tratados como sabores
específicos. Os efeitos provocados pelos diferentes sabores sobre o
corpo serão descritos posteriormente.

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Sabores e Doshas
Os sabores doce e salgado elevam kapha e reduzem vata. Ao
contrário, os sabores amargo e adstringente elevam vata e reduzem
kapha. Os sabores picante, azedo e salgado elevam pitta e os
sabores doce, amargo e adstringente reduzem pitta. O sabor doce
promove atividades anabólicas e nutre todos os elementos teciduais.
O sabor azedo estimula as enzimas do corpo e auxilia no processo
metabólico dos elementos teciduais. O sabor azedo estimula as
enzimas do corpo e auxilia no processo metabólico dos elementos
teciduais, mas apresenta efeitos adversos sobre sukra ou sêmen.
Portanto, não é recomendado como um elixir. Os quatro sabores
remanescentes, denominados salgado, picante, amargo e
adstringente apresentam um efeito depletivo sobre os elementos
teciduais. Destes, o sabor salgado produz morosidade dos tecidos e
os outros três sabores reduzem sua qualidade.
Gunas e qualidades
Nas drogas existem dez pares de qualidades ou atributos que
se opõem. No total são vinte, como descritos a seguir:

1.Guru ou pesado -Laghu ou leve


2.Manda ou embotado -Tiksna ou aguçado
3.Sita ou frio -Usna ou quente
4.Snigdha ou gorduroso -Ruksa ou não-gorduroso
5.Slaksna ou macio -Khara ou áspero
6.Sandra ou denso -Drava ou líquido
7.Mrdu ou mole -Kathina ou duro
8.Sthira ou estável -Sara ou fluido
9.Suksma ou sutil -Sthula ou grosseiro
10.Visada ou não-viscoso -Picchila ou viscoso

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Estas características referem-se tanto à natureza física como
farmacológica. Mas no contexto do medicamento é sua ação
farmacológica que determina os atributos de uma substância. Os
efeitos dos gunas ou qualidades são substituídas pelos efeitos dos
sabores nas drogas.
Virya ou Potência
Existem muitas qualidades ou atributos em uma droga, mas é
denominado virya o principal atributo ativo, aquele que auxilia na cura
e prevenção das doenças. As drogas são divididas em duas
categorias dependendo de seu virya ser aquecedor ou refrescante.
Este aspecto da droga é sempre avaliado pelo médico Ayurvédico ao
prescrever um medicamento. As substâncias que possuem potência
aquecedora produzem aumento da temperatura corporal. Por outro
lado, a substância que possui potência fria produz uma redução da
temperatura corporal. Além destas duas potências (denominadas
quente e fria), de acordo com o Ayurveda, há outros seis atributos
predominantes que determinam o efeito terapêutico de uma droga.
Todas estas oito potências estão enumeradas abaixo:

1. Laghu ou leve
2. Guru ou pesada
3. Sita ou fria
4. Usna ou quente
5. Snigdha ou gordurosa
6. Ruksa ou não-gordurosa
7. Manda ou embotada
8. Tiksna ou aguçada

A composição dos mahabhutas presentes nestes viryas ou


potências é fornecida aqui:

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Nome do Virya Mahabhutas

Sita (fria) Prthvi e Jala


Usna (quente) Tejas
Snigdha (gordurosa) Jala
Ruksa (não gordurosa) Vayu
Guru (pesada) Prthvi e Jala
Laghu (leve) Tejas, Vayu e Akasa
Manda (embotada) Jala
Tiksna (penetrante) Tejas

Vipaka ou Sabor Pós-Digestivo


Durante o processo digestivo, os ingredientes que compõem
os alimentos e as drogas passam por três diferentes estágios de
transformação em virtude da ação enzimática no trato
gastrointestinal. Assim, o produto do primeiro estágio possui sabor
doce, o segundo apresenta um sabor azedo e o terceiro estágio,
picante. Estes estágios são denominados avasthapakas. Os produtos
destes avasthapakas passam por futuras transformações sob a ação
enzimática nas células teciduais e este processo pode produzir os
sabores doce, azedo e picante. Estes sabores, que emergem depois
que o produto da digestão é exposto à reação enzimática, são
conhecidos como vipaka. Uma substância que possui vipaka doce
altera kapha, aquela que possui vipaka azedo altera pitta e o vipaka
picante desequilibra vayu. Pitta e vayu são aliviados por um vipaka
doce, kapha e vayu são aliviados pelo vipaka azedo e kapha é
aliviado pelo vipaka picante.
Prabhava ou Ação Específica
Algumas drogas fundamentam sua ação em seus sabores,
outras com base em seus atributos, há aquelas que agem
dependendo de sua potência e outras ainda que baseiam sua ação

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em seu vipaka. As ações de algumas drogas não pertencem a
nenhuma destas categorias. Elas possuem ações específicas para
curar doenças que não podem ser explicadas com base em rasa,
guna, virya ou vipaka. Esta ação específica é conhecida como
prabhava. Duas drogas podem ser similares em sabor, atributo,
potência e vipaka, mas a ação de uma pode ser diferente da outra.
Isto se deve ao prabhava ou ação específica da droga.

100
CAPÍTULO 4

MEDICINA PREVENTIVA

DINACARYA (Conduta no Período Diurno)

O indivíduo deve levantar-se da cama no início da manhã


antes do nascer do sol. Este é considerado um horário auspicioso,
quando há menos barulho na atmosfera e todo o meio ambiente
está impregnado de calma e paz. Levantar-se da cama e oferecer
orações ao deus (de sua crença ou religião) cria tal impacto no
indivíduo que ele desfruta de felicidade durante todo o dia. Antes
de se levantar da cama, deve-se traçar seu programa de trabalho
para o dia.
Limpeza da Face
Na estação chuvosa, no verão ou no inverno, o indivíduo
deve lavar a face com água, imediatamente após levantar-se da
cama. Isto auxilia na limpeza das secreções acumuladas nos
olhos, nas narinas e na boca durante a noite, além de produzir
frescor. No inverno deve ser utilizada água morna para este
propósito.
Proteção da Visão

101
Enquanto lavar a face, deve-se pegar um bocado de água,
fechar a boca e conservar os olhos tão abertos quanto possível.
Com a mão cheia da água de uma torneira e com uma mínima
força deve-se aspergi-la sobre os olhos. Isto é considerado muito
útil para preservar e promover a visão. Deve-se tomar cuidado
para não aplicar força quando aspergir a água. Depois as
pálpebras devem ser friccionadas levemente de forma a
massagear gentilmente os globos oculares.
Beber um Copo de Água
Após lavar a face e a boca, deve-se beber um copo de
água. Isto está prescrito para todas as estações, todos os dias,
pois auxilia na eliminação apropriada de fezes e urina. Algumas
pessoas têm o hábito de tomar chá para este propósito. A ação
reflexa produzida pelo chá da manhã é diferente daquela
produzida pela água fria. A última produz apenas pressão,
estimulando os intestinos a iniciar os movimentos para a
evacuação. O chá, sendo quente, age tão intensamente sobre os
intestinos que seu efeito estimulante é perdido após alguns dias e
o indivíduo desenvolve constipação. A cafeína contida no chá ou
café produz alguns efeitos adversos sobre as glândulas do trato
gastro-intestinal que a água fria não produz. No entanto, ela está
contra-indicada para os indivíduos acometidos por resfriado, tosse
ou qualquer lesão na garganta.
Evacuação
Deve-se adquirir o hábito de ir ao banheiro após levantar-
se pela manhã. Às vezes, o indivíduo não sente a necessidade de
evacuar, por certas razões. Ou a refeição da noite anterior não foi
digerida adequadamente ou o indivíduo não dormiu de forma
apropriada. O hábito de beber um copo de água fria pela manhã
elimina estas dificuldades causadas pela indigestão e sono
inadequado, fazendo com que o indivíduo consiga os movimentos

102
para a evacuação. Pessoas expostas à preocupação demasiada
ou aquelas com temperamento irritadiço, sensível ou colérico,
produzem vayu em excesso no estômago, que se acumula no
intestino durante a noite. Tal vayu é formado também pela
ingestão excessiva de alimentos fritos e legumes (dala). A
formação de vayu ocorre da mesma forma em pessoas que
ingerem vegetais folhosos e frutas em quantidade adequada.
Qualquer que seja a causa, quando formado, vayu cria certa
obstrução no movimento intestinal. O indivíduo pode sentir, às
vezes, que a evacuação foi completa, mas após algum tempo,
volta a sentir a necessidade novamente e há pessoas que
evacuam três ou quatro vezes pela manhã, antes de satifazerem
tal necessidade. Isto causa muitas inconveniências e, em muitos
casos, a evacuação permanece incompleta resultando em perda
do apetite, indigestão, cefaléia, sensação de incômodo, fadiga e
mesmo sonolência. O vento, quando formado em excesso, exerce
pressão sobre o coração e pode causar palpitações. Portanto, é
necessário que o indivíduo tome certas precauções com sua
alimentação, com as bebidas e o sono, de modo a conseguir
movimentos de eliminação pela manhã. Entretanto, caso sinta
necessidade pela segunda vez, não deve bloqueá-la
forçadamente. Não é bom para a saúde.
Higiene dos Dentes
Deve-se utilizar o graveto dental cuja extremidade tenha
sido esmagada e que possua os sabores adstringente, picante ou
amargo. Isto deve ser feito para que as gengivas não sejam
lesadas. Removem-se assim o odor desagradável da boca, a
sujeira da língua, dos dentes e da boca causados pelos alimentos.
Além disso, os dentes são mantidos limpos e saudáveis.
Karanja (Pongamia pinnata, Merr.), karavira (Nerium
indicum, Mill.), arka (Calotropis gigantea, R. Br. E Ait.), malati
(Aganosma dichotoma, K. Schum.). kakubha (Terminalia arjuna,

103
W. e A.) e asana (Terminalia tomentosa, W. e A.) – os ramos
destas e de outras árvores com propriedades (sabores) idênticas
são recomendados para utilização como varetas dentais.
Raspagem da Língua
Raspadores de língua devem ser feitos de ouro, prata,
cobre, estanho ou bronze. Suas extremidades não devem ser
pontiagudas, mas sim curvadas para facilitar a raspagem. A
sujeira depositada na raiz da língua dá origem a um odor
desagradável. Portanto, a língua deve ser esfregada
regularmente.
Uso de Gotas Nasais
Deve-se inalar Anu taila todos os anos durante as três
estações: no outono, na primavera, quando o céu está sem
nuvens e na estação chuvosa.
Aquele que recorre à terapia nasal, na época correta, de
acordo com o método prescrito, não será acometido por qualquer
processo mórbido nos olhos, no nariz e nos ouvidos. Seus cabelos
e barba não se tornarão brancos ou grisalhos; não haverá queda
de cabelos, que crescerão abundantemente. Doenças como
torcicolo, cefaléia, paralisia facial, trismo, rinite, enxaqueca e
tremores da cabeça são curadas pela terapia inalatória. As veias,
articulações, ligamentos e tendões da cabeça e do pescoço são
nutridos pela inalação e adquirem mais vigor. A face torna-se
jovial e roliça e a voz torna-se clara e estável. Todos os órgãos
sensoriais tornam-se límpidos e ganham considerável vigor. As
doenças relacionadas com a cabeça e o pescoço não acometem
o indivíduo repentinamente. Mesmo que esteja envelhecendo, a
idade não afeta sua cabeça, na forma de cabelos grisalhos etc.
Mastigação

104
Quem deseja paladar e hálito límpidos e agradáveis deve
conservar na boca (mastigando) as folhas de jati (Myristica
fragrans, Houtt.), de katuka (Hibiscus abelmochus, Linn.), de puga
(Areca catechu, Linn.), kakkola (Piper cubeba, Linn.), suksmaila
(Elettaria cardamomum, Maton.), a haste da flor da lavanga
(Syzygium aromaticum, Merr. E L.M.), a folha fresca da tambula
(Piper betle, Linn.) e o extrato de karpura (Cinnamomum
camphora, Nees. e Eberm.)
Gargarejos
O gargarejo com óleo de gergelim é benéfico para
revigorar mandíbulas e maxilares, a profundidade da voz, a
flacidez da face e para melhorar a sensação gustativa e o bom
paladar pelos alimentos. A pessoa habituada a tais gargarejos
nunca sente sequidão na garganta e os lábios não se tornam
quebradiços. Os dentes não apresentam cáries e desenvolvem
raízes profundas. O indivíduo não apresentará dor de dentes e
não sentirá o incômodo pela ingestão de substâncias azedas. Os
dentes podem mastigar até mesmo os produtos comestíveis mais
duros.
Aplicação de Óleo na Cabeça
Aquele que aplica regularmente óleo de gergelim sobre a
cabeça não é acometido por cefaléia, calvície, cabelos brancos,
nem queda de cabelos. O vigor de sua cabeça e fronte é
especialmente intensificado. Os cabelos tornam-se negros, longos
e com raízes profundas. Os órgãos sensoriais funcionam
adequadamente. A pele da face torna-se mais brilhante. A
aplicação de óleo de gergelim sobre a cabeça produz sono
agradável e felicidade.
Gotas de Óleo nos Ouvidos

105
As doenças do ouvido resultantes do desequilíbrio de vata,
os torcicolos, o trismo, as dificuldades na audição e surdez são
evitados se realizada a instilação de gotas de óleo, regularmente,
dentro do canal auditivo externo.
Massagem com Óleo
Assim como uma engrenagem, uma pele seca ou o eixo de
uma carreta tornam-se mais fortes e resistentes através da
aplicação de óleo, da mesma maneira, através da massagem com
óleo, o corpo humano torna-se forte e com a pele macia. O corpo
torna-se menos susceptível às doenças causadas por vata e mais
resistente ao esforço e ao cansaço.
Vayu predomina no órgão sensorial do tato e este órgão
está localizado na pele. A massagem é extraordinariamente
benéfica para a pele. Deve-se portanto realizar massagem com
óleo regularmente.
Mesmo que seja submetido a lesões e ao trabalho
extenuante, se a pessoa realiza a massagem com óleo
regularmente, o corpo não se torna muito prejudicado. Seu estado
psicológico torna-se suave, brando, forte e encantador. Através da
massagem com óleo feita regularmente, a investida violenta da
idade é interrompida.
Quando feita na sola dos pés, pode-se curar a aspereza, a
imobilidade, o ressecamento, a fadiga e o entorpecimento.
Promove vigor e estabilidade aos pés. A visão torna-se clara e os
distúrbios de vata são aliviados.
Através da massagem com óleo feita com regularidade nos
pés, assegura-se a prevenção da ciatalgia, das fissuras nos pés,
da constricção dos vasos e ligamentos dos pés.
A unção do corpo elimina o mau cheiro, controla a
sensação de peso, a sonolência e o prurido, remove a sujeira
indesejável e os desconfortos da sudorese.

106
Exercícios
É conhecido como exercício físico a ação física agradável
e capaz de proporcionar estabilidade e vigor ao corpo. Deve ser
praticado com moderação.

 Efeitos Benéficos dos Exercícios


Os exercícios físicos proporcionam leveza, habilidade no
trabalho, estabilidade, resistência aos desequilíbrios e alívio dos
doshas, especialmente kapha. Estimula o poder digestivo.

 Efeitos Prejudiciais do Exercício Excessivo


Exercícios físicos em excesso causam esgotamento,
exaustão, consumpção, sede, rakta pitta (sangramento em
diferentes partes do corpo), pratamaka (uma forma aguda de
dispnéia, tosse, febre e vômitos).

 Características do Exercício Correto


Sudorese, aumento do ritmo respiratório, uma sensação de
leveza do corpo, funcionamento adequado dos órgãos são
indicativos do exercício realizado corretamente.
Não se deve fazer exercícios rindo e falando, não se deve
fazer viagens a pé, caminhadas noturnas ou manter relações
sexuais em excesso, mesmo se já estiver habituado às mesmas.

 Contra-Indicações para os Exercícios


São contra-indicados para pessoas que emagreceram por
causa de atividade sexual excessiva, que engordaram por viajar a
pé e para aqueles que estão sob o domínio da raiva, do medo, do
desgosto e do esgotamento. Não estão indicados para crianças,
idosos e pessoas com constituição vatika e cuja profissão exige o

107
uso demasiado da fala. Não se deve fazer exercícios físicos
quando com fome ou sede.
Banho
O banho é purificador, estimulante sexual e revitalizante.
Elimina a fadiga, o suor e a sujeira. Proporciona vigor ao corpo e é
um auxiliar por excelência para o aumento da vitalidade corporal.
Vestimentas
Vestir roupas limpas promove charme físico, reputação e
longevidade. Previne a ausência de auspiciosidade, proporciona
prazer, graça, competência para participar de conferências e boa
sorte.
Uso de Perfumes
O uso de perfumes e ornamentos estimula a libido, produz
aroma agradável no corpo e aumenta o charme e a longevidade.
Fornece corpulência e vigor, é agradável à mente e previne a
ausência de auspiciosidade.
Uso de Ornamentos
O uso de pedras preciosas e ornamentos leva à
prosperidade, auspiciosidade, longevidade e graciosidade. É
agradável e charmoso. Direciona para a longevidade do corpo.
Cuidados com Cabelos e Unhas
O adorno e o corte dos cabelos, da barba (incluindo o
bigode) e das unhas aumenta a corpulência, a libido, a
longevidade, o asseio e a beleza.
Calçados
O uso de calçados é proveitoso para a pele dos pés e para
a visão que se tem deles. Protege-os do ataque de répteis, micro-

108
organismos, etc. Fornece vigor, facilita a demonstração de força
física e é um estimulante da libido.

Alimentos
Deve-se ingerir alimentos em quantidade adequada.
Repetindo, a quantidade de alimentos a ser ingerida depende da
força digestiva, incluindo o metabolismo individual. Para que não
perturbe o equilíbrio dos dhatus e doshas do corpo, para que seja
digerida e metabolizada no período de tempo adequado, a
quantidade de alimentos deve ser levada em consideração.
Gêneros alimentícios como sali (Oryza sativa, Linn.),
sastika (uma variedade de Oryza sativa), mudga (Phaseolos
mungo, Linn.), a codorna comum, perdiz cinza, antílope, coelho,
wapiti (espécie de veado norte-americano), sambar indiano, etc. -
mesmo que sejam leves para a digestão, por natureza, devem ser
ingeridos de acordo com as medidas prescritas. De forma
semelhante, preparações à base de farinha de trigo, cana-de-
açúcar e leite, tila (Sesamum indicum, Linn.), masa (Phaseolos
radiatus, Linn.) e carne de animais aquáticos e de pântanos,
mesmo pesados para a digestão, por natureza, precisam ser
ingeridos em quantidade adequada.
Não se deve concluir a partir daí que a descrição de
alimentos pesados e leves não tem qualquer importância. Os
gêneros alimentícios leves possuem qualidades de vayu e agni
mahabhutas, predominantemente. Nos alimentos pesados
predominam as qualidades de prthvi e ap mahabhutas. De acordo
com suas qualidades, os alimentos leves são estimulantes do
apetite e, por natureza, considerados menos prejudiciais mesmo
se ingeridos além da quantidade prescrita. Por outro lado, ali-
mentos pesados são supressores do apetite e quando ingeridos
em excesso são muito prejudiciais, a menos que haja grande força
digestiva e metabolismo adquiridos pelo exercício físico. Se os

109
alimentos são pesados, apenas ¾ ou metade da capacidade
gástrica deve ser preenchida. Mesmo no caso de alimentos leves,
sua ingestão excessiva não é benéfica para a manutenção da
força digestiva e do metabolismo.
Os alimentos certamente auxiliam o indivíduo, fornecendo
vigor, compleição, felicidade e longevidade, sem perturbar o
equilíbrio dos dhatus e doshas do corpo, quando ingeridos em
quantidade adequada.
Uso de Colírio
Deve-se aplicar regularmente um colírio preparado com
antimônio, pois é útil para os olhos. Rasanjana (uma preparação
de Berberis aristata, D.C.) é aplicado uma vez ao dia durante
cinco ou oito noites para lacrimejamento dos olhos, que são
susceptíveis aos desequilíbrios de kapha. Portanto, os colírios que
aliviam kapha são benéficos para conservar a visão límpida.
Um colírio mais potente não deve ser aplicado nos olhos
durante o dia, pois estes, enfraquecidos pela drenagem, serão
adversamente afetados pela visão do sol. Portanto, o colírio
indicado para a drenagem deve ser, via de regra, aplicado apenas
durante a noite.
Fumo
No Ayurveda, diferentes tipos de cigarros são indicados
para serem fumados. São preparados a partir de drogas vegetais
e não contém tabaco ou narcóticos, como a Cannabis.
Fumar alivia a sensação de peso na cabeça, as cefaléias,
a rinite, a enxaqueca, dor de ouvido, dor nos olhos, tosse, soluço,
dispnéia, bloqueio na garganta, debilidade dos dentes, secreção
patológica dos ouvidos, do nariz e dos olhos, o odor purulento
exalado pelo nariz e pela boca, dores de dentes, anorexia, trismo,
torcicolo, prurido, processos infecciosos, palidez da face,
salivação excessiva, bloqueio da voz, tonsilite, uvulite, alopécia,

110
perda da consciência, acinzentamento do cabelo, espirros,
sonolência excessiva e hipersomnia. Fortalece também os
cabelos, os ossos do crânio, os órgãos sensoriais e a voz. As
doenças relacionadas com a cabeça e o pescoço resultantes de
vata e kapha não acometem as pessoas que utilizam a inalação
de fumaça via oral.
São prescritos oito horários específicos, pois nestes
períodos vata, pitta e kapha tornam-se alterados. Deve-se fumar
após o banho, após as refeições, após a raspagem da língua,
espirros, escovação dos dentes, após a inalação de substâncias
medicinais, aplicação de colírios e após dormir. Esta inalação
nestes oito períodos previne doenças da cabeça e do pescoço
causadas por vata e kapha. A inalação deve ser feita três vezes –
três baforadas de cada vez.

 Características do Uso Correto do Fumo


Sinais como leveza do peito, da garganta, da cabeça e
liquefação de kapha são aspectos característicos de que o
indivíduo fuma corretamente.

 Características do Uso Insuficiente do Fumo


Bloqueio da voz, presença de kapha (muco) na garganta e
sensação de peso na cabeça são característicos da inalação
insuficiente de fumaça medicinal.

 Características do Uso Excessivo de Fumo


Quando o indivíduo fuma em excesso, seu palato, cabeça
e garganta tornam-se ressecados e quentes. O indivíduo sente
sede e torna-se inconsciente. Há sangramento excessivo e
ocorrência de vertigens e lipotímias. Os órgãos sensoriais tornam-
se quentes.
Código de Ética Geral

111
Não se deve dizer mentiras, tirar o que é de propriedade de
outros, nem desejar ardentemente a esposa ou a propridade de
outrem. Não se deve possuir quaisquer vícios. Não se deve
revelar os defeitos ou segredos dos outros. A pessoa deve evitar a
companhia de pessoas não-virtuosas, traidoras, lunáticas,
medíocres, decadentes, desonestas e aborteiras. Não se deve
favorecer as atividades rancorosas e pecaminosas.
Não se deve dirigir veículos perigosos, dormir em uma
cama sem cobertas, sem travesseiro, pequena ou irregular. Não
se deve caminhar nas vertentes acidentadas das montanhas,
subir em árvores e banhar-se em rio de fluxo turbulento. Não se
deve pisar na sombra de familiares ou daqueles nascidos de
famílias nobres. A pessoa não deve movimentar-se em torno do
fogo, rir ruidosamente e eliminar flatos com ruídos. Não bocejar,
espirrar ou gargalhar sem cobrir a boca, coçar as narinas, rilhar os
dentes, fazer sons com as unhas, bater os ossos ou cavoucar
terra, cortar palha, trabalhar com barro e manter diferentes partes
do corpo em posição inadequada. Não se deve olhar fixamente
para os planetas ou para objetos indesejáveis, impuros ou
condenáveis. Não se deve violar a sombra de uma árvore
sagrada, de um professor, de uma pessoa respeitável ou
indesejável. Durante a noite não se deve entrar no terreno de um
templo, de uma árvore sagrada, pátios públicos, cruzamentos,
jardins, cemitérios e abatedouros. Da mesma forma, não se deve
entrar em uma casa solitária ou floresta sozinho. Não se deve
manter relações sexuais com mulheres, amigos ou empregados
de má conduta. Não se deve manter inimizade com homens bons
e nem amizade com homens maus. Não se deve dar alternativas
para favorecer atitudes desonestas. Não se deve favorecer atos
desprezíveis ou assustadores, nem se deve recorrer à valentia,
sono, vigília, banhos, bebidas ou alimentos em excesso. Não se
deve sentar por longo tempo com os joelhos para cima. A pessoa

112
não deve se aproximar de cobras ou de animais com dentes
perigosos e chifres. Deve-se evitar os ventos do leste, o sol, as
nevascas e as tempestades. Não se deve provocar brigas. Não se
deve aproximar do fogo estando abaixo do mesmo. Não se deve
tomar banho logo após exercitar-se, após ter feito um gargarejo e
se não estiver nú. Não se deve deixar a cabeça em contato com a
roupa usada durante o banho ou bater nas extremidades dos
cabelos. Após o banho não se deve vestir a mesma roupa usada
anteriormente. Não se deve sair sem estar em contato com pedras
preciosas, sem ghee, sem tocar os pés de pessoas respeitáveis,
sem tocar objetos auspiciosos ou flores. Não se deve passar por
pessoas respeitosas ou objetos auspiciosos conservando-se à
esquerda, nem conservando outros do lado direito.
Estudo
Não de deve estudar se não houver iluminação suficiente,
quando os alojamentos parecem estar queimando, durante uma
erupção de fogo, terremotos, festivais importantes, queda de
meteoros, eclipses solar ou lunar, em dia de lua nova, ao ama-
nhecer e ao anoitecer. Não se deve estudar sem ser iniciado por
um professor. Enquanto estudar, não se deve recitar o som das
palavras incompletamente, em voz alta, rouca, sem a acentuação
apropriada, sem a simetria morfológica adequada,
demasiadamente rápido, vagarosamente, com preguiça excessiva
e com grau de intensidade muito alto ou muito baixo.
Conduta Geral
Não se deve desviar dos princípios gerais aprovados. Não
se deve quebrar qualquer código de conduta. Não se deve
caminhar durante a noite nem em local impróprio. A pessoa não
deve se satisfazer com a ingestão de alimentos, estudos, relações
sexuais ou sono durante o amanhecer ou anoitecer. Não se deve
fazer amizade com crianças, com os idosos, os gananciosos, os

113
tolos, pessoas em estados aflitivos e com os eunucos. Não se
deve ter qualquer inclinação ao vinho, jogos de azar ou
prostitutas. Não se deve ser convencido, hostil, inábil, nem
indulgente na calúnia. Não se deve insultar os Brahmanas, nem
marcar as vacas. Não se deve utilizar palavras ásperas com as
pessoas idosas, professores, agrupamentos ou reis. Não se deve
falar muito, nem expulsar pessoas da família, pessoas
relacionadas, que tenham ajudado durante a época de
dificuldades e aqueles que conhecem segredos particulares ou
familiares.
Não se deve ser excessivamente impaciente ou confiante.
Não se deve ser negligente na manutenção dos empregados.
Deve-se confiar nos homens de sua própria família. A pessoa não
deve se divertir sozinha. Não se deve possuir caráter, conduta,
maneiras e doenças incômodas. Não se deve acreditar em todos
nem suspeitar de todos. Não se deve ser meticuloso demais em
todas as ocasiões.
Não se deve ter o hábito de adiar nem favorecer quaisquer
atividades sem a análise adequada. Não se deve ser um escravo
dos sentidos nem deixar à solta sua mente volúvel. Não se deve
infligir demasiada responsabilidade ao intelecto e aos sentidos.
Deve-se evitar práticas dilatórias em excesso. Não se deve rea-
lizar atividades sob um acesso de raiva ou de exaltação. Não se
deve permanecer sob contínuo desgosto. A pessoa não deve se
tornar envaidecida pelas realizações nem desesperada pelas
perdas. Deve-se lembrar sempre de sua própria natureza. Deve-
se ter fé na correlação de causa e efeito, ou seja, nas boas e más
ações e seus resultados correspondentes e sempre agir baseado
nisto. Não se deve ser complacente com suas próprias ações.
Não se deve perder o ânimo nem lembrar-se de suas injúrias.
Amigos Convenientes

114
Deve-se fazer amizades com pessoas que tenham
adquirido maturidade em virtude de sabedoria, aprendizado,
idade, conduta, paciência, memória e meditação. Aqueles que são
maduros e instruídos, que se mantém na companhia de pessoas
maduras, aqueles familiarizados com a natureza humana, aqueles
livres de todas as ansiedades, aqueles que se comportam bem
com todos, que são pacíficos, que seguem um curso de ação
direto, aqueles que defendem a boa conduta e aqueles cujo
verdadeiro nome e cuja visão sejam auspiciosos são pessoas
convenientes para a amizade.
Pessoas Inconvenientes para a Amizade
Deve-se evitar a companhia de pessoas de conduta, fala e
mente pecaminosas, caluniadoras, com inclinação natural para
brigas, que sejam condescendentes com comentários sarcásticos
sobre os outros, os gananciosos, aqueles que invejam a
propriedade dos outros, os cruéis, que são condescendentes com
a difamação de pessoas, aqueles de mente volúvel, que servem
ao inimigo, os destituídos de compaixão e aqueles que não
seguem um curso de vida virtuoso.

RATRICARYA (Conduta no Período Noturno)

Sono
Quando a mente se torna exausta ou inativa e os órgãos
motores e sensoriais estão fatigados, o indivíduo sente sono. O
sono é nada mais que a disposição da mente em um local
desconectado com os órgãos motores e sensoriais. Quando
ocorre a exaustão da mente, o indivíduo também fica exausto,
pois suas ações são dependentes do funcionamento da mesma.
Portanto, quando esta se dissocia de seus objetos, o indivíduo

115
também se dissocia dos objetos da percepção. Como resultado,
os órgãos motores e sensoriais tornam-se inativos, levando ao
sono.
O sono adequado favorece o indivíduo com felicidade,
nutrição, vigor, virilidade, conhecimento e longevidade. Por outro
lado, o sono inadequado leva à miséria, ao emagrecimento,
fraqueza, esterilidade, ignorância e até à morte prematura.
Quando em excesso ou em horário impróprio, ou mesmo a vigília
prolongada, retiram tanto a felicidade como a longevidade.

 Tipos Diferentes de Sono


Dependendo dos fatores causais, o sono pode pertencer a
sete tipos diferentes:
1.causado por excesso de tamas na mente;
2.causado pelo desequilíbrio de kapha;
3.causado por esforço mental;
4.causado por exaustão física;
5.agantuka ou um tipo exótico de sono indicativo de mau
prognótico e que leva à morte iminente;
6.causado por uma complicação de outras doenças como
sannipata jvaral; e
7.causado pela própria natureza da noite que leva ao sono
fisiológico.

 Contra-indicações ao Sono Diurno


Dormir durante o dia em outras estações do ano que não
seja o verão é desaconselhável, pois causa desequilíbrio de
kapha e pitta. Pessoas obesas, apegadas à ingestão de alimentos
gordurosos, com constituição slaismika, portadoras de doenças
causadas pelo desequilíbrio de kapha e aquelas pessoas
acometidas de dusivisa (intoxicação artificial) nunca devem dormir
durante o dia. Ao transgredir esta prescrição com relação ao sono
diurno, o indivíduo estará susceptível a halimaka (um tipo grave

116
de icterícia), cefaléia, timidez, sensação de peso no corpo,
indisposição, perda da força digestiva, hrdayopalepa (uma
sensação de muco aderido ao coração), edema, anorexia,
náuseas, rinite, enxaqueca, urticária, erupções, abscessos,
prurido, entorpecimento, tosse, doenças da garganta, bloqueio da
memória e da inteligência, obstrução dos canais circulatórios do
corpo, febre, debilidade dos órgãos sensoriais e motores e
aumento dos efeitos tóxicos dos venenos artificiais. Desta
maneira, a pessoa deve manter em mente as vantagens e
desvantagens do sono durante as várias estações do ano de
modo que isto possa proporcionar felicidade.

 Indicações do Sono Diurno


Dormir durante o dia, em todas as estações, está indicado
para aquelas pessoas que estão exaustas com a realização de
atividades como cantar, estudar, pela ação de bebidas alcoólicas,
relações sexuais, que estejam exaustas pelo efeito da terapia de
eliminação, por transportar peso excessivo, por caminhar longas
distâncias; o sono diurno está indicado para aqueles portadores
de diarréia, sede, tuberculose, cólicas, dispnéia, soluços,
insanidade, aqueles que estão em jejum, que são muito idosos ou
muito jovens, fracos e debilitados, para aqueles que sofreram uma
queda ou agressão, que estão exaustos por viagem em veículo,
pela vigília, raiva, desgosto e medo e para aqueles que estão
habituados ao sono diurno. O equilíbrio dos dhatus e o vigor é
mantido e kapha nutre os órgãos e assegura a longevidade.
No verão, as noites tornam-se mais curtas e vata está em
desequilíbrio devido à absorção de fluidos (adana). Portanto,
durante esta estação, o sono durante o dia está indicado para
todos.

117
 Causas da Insônia
Pode ser causada por eliminação de doshas do organismo
e da cabeça através de purgação e de vômitos, pelo medo,
ansiedade, raiva, fumo, pelos exercícios físicos, sangria, jejum,
por dormir em cama incômoda, pela predominância de sattva e
pela supressão de tamas que levam à dominação do sono
excessivo.
Os fatores mencionados acima, somados à sobrecarga de
trabalho, à idade, às doenças, especialmente aquelas causadas
pelo desequilíbrio de vata, como as cólicas, etc., são conhecidos
por causar perda de sono, mesmo em indivíduos normais. Alguns
possuem insônia pela sua própria natureza.

 Medidas que Favorecem um Sono Benéfico


Se por um motivo ou outro o indivíduo é acometido por
insônia, pode ser curado através de massagem, unção, banho,
ingestão de sopa preparada com animais aquáticos, animais do
pântano ou domésticos; é benéfico ingerir arroz sali com iogurte,
leite, substâncias oleosas e álcool, adquirir prazer psíquico, sentir
odores perfumados, ouvir sons de sua própria apreciação, a
aplicação de samvahana (massagem do corpo com as mãos),
aplicação de ungüentos calmantes para os olhos, cabeça e face,
dormir em uma cama e uma casa confortáveis e no horário
adequado.
Conduta Durante a Refeição Noturna
O alimento deve ser ingerido o mais cedo possível durante
a noite. Deve haver um intervalo suficiente entre a ingestão da
refeição e o horário de dormir. Isto auxilia na digestão adequada
do alimento e resulta em um bom sono também. Esta refeição
deve ser leve e facilmente digerível, tanto quanto possível.
Uso de Iogurte à Noite

118
A ingestão de iogurte durante a noite está estritamente
proibida. Ingerido de outra maneira ele é benéfico à saúde, mas
apresenta um efeito prejudicial aos canais de circulação,
obstruindo-os. Isto resulta em bloqueio do sono e distúrbio do
metabolismo. É especialmente prejudicial para pacientes
portadores de asma, bronquite e reumatismo.
Leitura Durante a Noite
Com iluminação adequada, pode-se ler livros durante
algum tempo. Mas deve ser deixado claro que a luz artificial da
noite não é completamente harmoniosa com as necessidades dos
olhos. Basicamente, tal iluminação prejudica seriamente a visão.
Portanto, a leitura durante a noite deve ser evitada tanto quanto
possível, ou a mesma deve ser leve. Escrever durante a noite
afeta seriamente a visão.
Relações Sexuais
Não se deve manter relações sexuais com mulheres em
período menstrual ou com aquelas que estão doentes, ou seja,
impuras ou que tenham qualquer processo infeccioso ou mesmo
com uma mulher feia na aparência, que tenha má conduta ou que
seja destituída de habilidade. Não se deve manter relações se-
xuais com uma mulher que não seja amiga ou pela qual não se
esteja apaixonado ou com desejo ardente, ou que esteja
apaixonada por outra pessoa, ou casada com outro ou que
pertença a outro nível social. A atividade sexual em qualquer outro
órgão que não seja o genital deve ser evitado. As relações
sexuais também estão proibidas debaixo de árvores religiosas, em
pátios públicos, sobre um cruzamento, em jardins, no cemitério,
em abatedouro, na água, em clínicas médicas ou na residência de
Brahmanas ou professores ou em templos. Tais atividades devem
ser evitadas durante o amanhecer e o anoitecer e nos dias
auspiciosos (dias de lua cheia, pratipat etc.) Não se deve manter

119
relações sexuais quando impuro, sem haver ingerido afrodisíacos
ou sem desejo intenso, sem ereção, sem haver ingerido qualquer
alimento ou após sua ingestão excessiva, em locais impróprios,
quando há necessidade de urinar, após exercício ou esforço
físico, durante jejuns, estando exausto e em locais sem
privacidade. Deve-se adquirir o hábito de ingerir um copo de leite
com açúcar antes e depois do ato sexual.

RTUCARYA (Conduta Durante as Estações do Ano)

Os Dois Solstícios
O ano está dividido em seis estações. O movimento do sol
para o norte e sua ação de desidratação ocasiona três estações a
começar de sisira (final do inverno) até o verão. O movimento do
sol para o sul e sua ação de hidratação gera as outras três esta-
ções começando pela estação chuvosa até hemanta (começo do
inverno). A tabela a seguir fornece detalhes destas estações. [A
tabela sobre as estações fornecida na página seguinte cita os
meses conforme o calendário no hemisfério norte. Pode-se fazer a
correspondência com as estações no hemisfério sul da mesma
forma. Sendo assim, sisira (fim do inverno) corresponde aos
meses Julho-Agosto e Agosto-Setembro, e assim por diante.]
No período de visarga ou de emissão (hidratação), os
ventos não são muito secos como no período de adana ou
desidratação. O período de emissão compartilha
predominantemente das qualidades da Lua. Durante este período,
a Lua com suas propriedades refrescantes naturais, encanta
continuamente o mundo com seus raios suavizantes. O período
de desidratação, por outro lado, é dominado pelas qualidades de
agni (―fogo‖). Deste modo, estes três – o Sol, o vento e a Lua –
sendo governados pelo tempo, pela natureza e pela órbita

120
planetária, constituem as causas do tempo, da estação, do sabor
das drogas e da dieta, do desequilíbrio dos doshas e do vigor
corporal

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Ayana Estações Meses segundo o Meses do calendário
calendário indiano ocidental
Uttarayana 1.Sisira (fim do inverno) I-Magha janeiro-fevereiro
Adana kala ou o II-Phalguna fevereiro-março
período de 2.Vasanta (primavera) I-Caitra março-abril
desidratação II-Vaisakha abril-maio
3.Grisma (verão) I-Jyestha maio-junho
II-Asadha junho-julho
Daksinayana 1.Varsa (monções) I-Sravana julho-agosto
Visarga kala ou o II-Bhadrava agosto-setembro
período de 2.Sarat (outono) I-Asvina setembro-outubro
hidratação II-Kartika outubro-novembro
3.Hemanta (início do inverno) I-Margasirsa novembro-dezembro
II-Pausa dezembro-janeiro

123
Efeitos de Adana Kala no Corpo
Durante o período de desidratação, não apenas o Sol com
seus raios, mas também os ventos com velocidade e
ressecamento acentuados, absorvem a umidade da terra. Os
ventos influenciam progressivamente o final do inverno, a
primavera e o verão, ressaltando os sabores amargo, adstringente
e picante, respectivamente – todos apresentam efeitos secativos
e, conseqüentemente, os seres humanos tornam-se debilitados.
Efeitos do Visarga Kala sobre o Corpo
Durante a estação chuvosa, o outono e o inverno, o Sol
movimenta-se para o sul e seu poder de aquecimento é diminuído
por vários fatores, ou seja, o tempo, a direção, as tempestades e a
chuva. A Lua, entretanto, não está afetada. A terra é aliviada de
seu calor pela água da chuva. As drogas que possuem sabores
azedo, salgado e doce fazem com que a gordura corporal
aumente durante a estação chuvosa, o outono e o inverno,
respectivamente. Como resultado, os seres humanos também
aumentam progressivamente seu vigor durante o período de
visarga ou de emissão.
Durante o início e no final do período de desidratação, a
debilidade prevalece nos seres humanos. No período
intermediário, o vigor torna-se moderado. Entretanto, no final do
período de emissão e no início do período de desidratação, os
seres humanos adquirem considerável acúmulo de vigor.
Dieta e Conduta para o Inverno
Durante o frio do inverno, a força digestiva dos seres
humanos portadores de boa saúde e vigor é aumentada por causa
da retenção proporcionada pelo vento frio, tanto que é capaz de
digerir qualquer tipo de alimento, independente de seu peso ou

124
quantidade. Quando não consegue combustível apropriado, o
fogo digestivo afeta os fluidos nutritivos, resultando em de-
sequilíbrio de vata, que possui qualidade fria. Portanto, durante o
inverno, deve-se ingerir caldos de carne de animais aquáticos ou
do pântano, que são mais gordos, cujos sabores sejam
gordurosos, azedos e salgados. Deve-se ingerir também carne de
animais que habitam em tocas, e bhrta (preparação de carne
picada) preparada com animais do tipo prasaha (animais que
comem aos bocados). Além disso, deve-se beber madira e sidhu,
tipos de vinho e açúcar.
Seu tempo de vida nunca diminuirá se, durante o inverno,
adquirir o hábito de ingerir uma preparação de leite de vaca, suco
de cana-de-açúcar, gordura, óleo, arroz recentemente colhido e
água quente. No inverno, a pessoa deve recorrer à massagem,
unção, aplicação de óleo na cabeça e fomentação pelo processo
jentaka. Deve-se permanecer em residência subterrânea ou no
interior de um apartamento aquecido.
Deve-se observar que os veículos, roupas de cama e
assentos estejam bem cobertos, especialmente por cobertores
pesados, couro, tecidos macios, cordas e cobertas de lã. A
pessoa deve vestir roupas pesadas e quentes e esfregar seu
corpo com aguru (Aquilaria agallocha, Roxb.) Deve-se abraçar
uma mulher saudável com mamas bem desenvolvidas e roliças,
que tenha o corpo esfregado com aguru também. Ele deve então
deitar-se na cama intoxicado de forte paixão. Deve-se favorecer o
relacionamento sexual durante o inverno. Devem ser evitados os
alimentos e bebidas leves, pois eles desequilibram vata. Não se
deve ficar exposto à frente fria. Deve-se evitar a subalimentação e
a ingestão de papas.
As estações hemanta (início do inverno) e sisira (final do
inverno) são de natureza quase similar, sendo que a única
diferença está no fato de que, no último, o ressecamento causado

125
por adana (absorção) e o frio causado pelas nuvens, pelo vento e
pela chuva prevalecem. Desta forma, o que está prescrito para
hemanta (início do inverno) deve ser seguido também durante
sisira (final do inverno). Deve-se permanecer em uma residência
que não possua correntes de vento e que seja aquecida –
principalmente durante sisira. Dietas e bebidas que possuam
sabores amargo, penetrante e adstringente devem ser evitadas,
pois são leves e, portanto, desequilibram vata. Durante sisira,
deve-se evitar a ingestão de alimentos e bebidas frias.
Dieta e Conduta para a Primavera
Durante a primavera, o kapha acumulado está em estado
líquido por causa do calor do sol, alterando, dessa forma, o poder
digestivo e causando muitas doenças. Assim, deve-se utilizar
terapias na forma de eméticos e outras, e evitar alimentos
pesados, gordurosos, azedos e doces. Evite dormir durante o dia.
Com a chegada da primavera, deve-se recorrer freqüentemente
aos exercícios, aos banhos de óleo, ao fumo e à aplicação de
colírio. Os orifícios excretores devem ser lavados regularmente
com água morna. Deve-se lambuzar o corpo com candana
(Santalum album, Linn.) e aguru (Aquilaria agallocha, Roxb.) e
ingerir alimentos constituídos de trigo, carne de sarabha (wapiti),
sasa (coelho), ena (antílope), lava (codorniz comum) e kapiñjala
(perdiz cinza). Deve-se apreciar o florescer das mulheres e dos
jardins.
Dieta e Conduta para o Verão
Durante o verão, o sol evapora a umidade da terra com
seus raios. Nesta estação, a ingestão de dietas e bebidas doces,
frias, líquidas e não-gordurosas está prescrita. Deve-se ingerir
mantha frio (um tipo de cereal), juntamente com açúcar, assim
como carne de animais ou pássaros de região árida, ghee e leite
com arroz sali (Oryza sativa, Linn.) evitando-se assim qualquer

126
doença. Bebidas alcoólicas devem ser evitadas ou podem ser
ingeridas em pequena quantidade, adicionando-se bastante água.
Deve-se evitar a ingestão de alimentos salgados, azedos, picantes
ou pungentes. Devem ser feitos exercícios físicos também nesta
estação. Durante a noite, após lambuzar o corpo com pasta de
sândalo, deve-se dormir sobre o telhado da casa, ao ar livre, em
local que esteja frio pelos raios da Lua. A pessoa adornada com
pérolas deve sentar-se confortavelmente com as delícias do
abanar dos leques e o toque de mãos macias – ambos resfriados
com água de sândalo. É preferível que o indivíduo mantenha-se
indiferente quanto às relações sexuais e que aprecie os jardins, a
água fria e as flores durante esta estação.
Dieta e Conduta para a Estação Chuvosa
O corpo enfraquecido durante o período de desidratação
tem a força digestiva também diminuída. Durante as chuvas
ocorre um enfraquecimento pelo desequilíbrio de vata e dos
outros doshas. O poder digestivo também está afetado por causa
do gás que sai da terra, precipita e aumenta a acidez da água.
Conseqüentemente, ocorre um desequilíbrio de vata e dos outros
doshas. É aconselhável que o indivíduo seja moderado com
relação à dieta e à conduta durante esta estação. Deve-se evitar a
ingestão de mantha (cereal) diluído em excesso e de congelados,
dormir durante o dia, banhar-se com água de rios, exercitar-se em
exceso, movimentar-se no sol e dedicar-se às relações sexuais. O
uso de mel está livre no preparo de bebidas e alimentos.
Se os dias estiverem mais frios por causa das chuvas
pesadas acompanhadas de tempestades, deve-se ingerir uma
dieta e bebidas que sejam eminentemente salgadas, azedas e
gordurosas. Isto funciona como um antídoto efetivo para o
desequilíbrio de vata durante a estação chuvosa.
Para normalizar o poder digestivo, deve-se ingerir cevada
envelhecida, trigo ou arroz sali (Oryza sativa, Linn.) juntamente

127
com carne de animais de solo árido e sopa de vegetais. Além
disso, deve-se beber os tipos madhvika e arista de licores, água
da chuva pura ou água de fonte ou lago pequeno, fervida e
resfriada, misturada com um pouco de mel. É aconselhável fric-
cionar o corpo, aplicar unção, tomar banho e usar adornos
perfumados durante a estação. Deve-se usar roupas leves e
limpas e residir em uma casa livre de umidade.

Dieta e Conduta para o Outono


As partes do corpo, adaptadas às chuvas e ao frio, são
subitamente expostas ao calor do sol no início do outono. Desta
forma, o pitta acumulado durante as chuvas torna-se geralmente
alterado. Nesta estação, devem ser ingeridas, em quantidade
adequada e quando haja bom apetite, alimentos e bebidas que
sejam doces, leves, frios e amargos, potencialidades estas
capazes de aliviar pitta. Além disso, as carnes de lava (codorna
comum), kapinjala (perdiz cinza), ena (antílope), urabhra
(carneiro), sarabha (tipo de veado norte-americano) e sasa
(coelho), arroz, cevada e trigo estão indicados durante o outono. A
ingestão de ghee, preparado com medicamentos amargos, a
purgação e a sangria também estão prescritos para esta estação.
Deve-se tomar banho de sol, ingerir carne, óleo e gordura de
animais aquáticos e de pântano, preparações salgadas e alcalinas
e iogurte associado ao alimento. Não se deve dormir durante o
dia, nem se expôr ao gelo e aos ventos do leste. A água é exposta
ao calor do Sol durante o dia e aos raios resfriantes da Lua du-
rante a noite. É purificada e desintoxicada pela estrela Canopus
(agastya). Isto é conhecido como ―hamsodaka‖, ou seja, a água
que é imaculadamente limpa e benéfica como néctar, para
banhar-se, beber e nadar. O uso de adornos feitos de flores do
outono e vestimentas limpas, assim como os raios da Lua durante
as noites são benéficos por excelência, nesta estação.

128
Necessidades Básicas
O corpo vivo tem algumas necessidades naturais. São
elas: 1) micção; 2) defecação; 3) relações sexuais; 4) eliminação
de flatos; 5) vômitos; 6) espirros; 7) eructação; 8) bocejo; 9) fome;
10) sede; 11) lágrimas; 12) sono; e 13) respiração alterada pelo
esforço. Elas não podem ser suprimidas. A inibição destas
necessidades básicas origina muitas complicações que precisam
ser devidamente corrigidas.
1) Necessidade miccional: A supressão da necessidade de urinar
causa dores na bexiga e pênis, disúria, cefaléia, arqueamento do
corpo e distensão do abdome inferior. Para superar estas
complicações, deve-se fazer banho de imersão, massagem, gotas
nasais de ghee e todos os três tipos de enemas (basti).
2) Necessidade de defecar: Se a pessoa bloqueia a vontade de
evacuar, ocorrem cólicas, cefaléia, constipação e flatulência,
cãibras nos músculos das panturrilhas e distensão do abdome.
Nestes casos estão indicados fomentação, massagem, banho de
imersão, supositórios e enema. Deve-se ingerir alimentos e be-
bidas laxantes por natureza.
3) Necessidade da relação sexual: Dor no pênis e testículos,
indisposição, dor cardíaca e retenção urinária são causadas pela
supressão do desejo de ejacular. Neste caso, estão indicados
massagem, banho de imersão, ingestão de madira (tipo de vinho),
galinha, arroz sali (Oryza sativa, Linn.), leite, aplicação de enema
não-gorduroso e relações sexuais.
4) Necessidade de eliminar flatos: Suprimir a necessidade de
eliminar flatos causa retenção de fezes, urina e flatos, distensão
abdominal, dor, exaustão e outras doenças abdominais
conseqüentes ao desequilíbrio de vata. Neste caso, estão
indicados oleação, fomentação, supositórios, ingestão de
alimentos e bebidas com ação antiflatulenta e enema.

129
5) Necessidade de vomitar: Doenças como prurido, urticária,
anorexia, pigmentação negra da face, edema, anemia, náuseas,
doenças da pele e erisipela são causadas pela supressão da
necessidade de vomitar. Nestes casos, estão indicados a indução
de vômitos, o fumo, a sangria, a ingestão de alimentos e bebidas
não-gordurosas, exercícios físicos e purgativos.
6) Necessidade de espirrar: Com a supressão da necessidade de
espirrar, surgem doenças como torcicolo, cefaléias, paralisia
facial, enxaqueca e debilidade dos órgãos sensoriais. Para tal,
deve-se aplicar massagem e fomentação na região da cabeça e
do pescoço e o uso de fumo com gotas nasais. Deve-se também
ingerir alimentos que são recomendados para aliviar vata, assim
como ghee após as refeições.
7) Necessidade de eructar: A supressão da eructação causa
soluços, dispnéia, anorexia, tremor e bloqueio ao funcionamento
adequado do coração e pulmões. O tratamento para este distúrbio
é o mesmo daquele utilizado para soluços.
8) Necessidade de bocejar: Sua supressão causa convulsões,
contrações, entorpecimento, tremor, agitação (pravepana) e
arqueamento do corpo. Para o tratamento devem ser utilizadas
drogas que aliviam vata.
9) Fome: Com a supressão da fome o indivíduo estará sujeito ao
emagrecimento, à fraqueza, alterações na compleição corporal,
indisposição, anorexia e vertigens. Neste caso, deve-se ingerir
alimentos gordurosos, quentes e leves.
10) Sede: A supressão causa ressecamento da boca e garganta,
surdez, exaustão, fraqueza e dor cardíaca. Devem ser tratados
com bebidas frias e calmantes.
11) Lágrimas: Sua retenção causa rinite, doenças dos olhos, do
coração, anorexia e vertigens. Dormir, beber vinho e conversas
agradáveis são condutas benéficas para superar estes distúrbios.

130
12) Necessidade de dormir: A supressão da necessidade de
dormir causa bocejo, indisposição, sonolência, cefaléias e
sensação de peso nos olhos. Para eliminá-los, a pessoa deve
descansar e recorrer à condutas que aliviam vata.
Estas são as doenças causadas pela supressão de várias
das necessidades básicas. Uma pessoa que deseja prevenir estes
distúrbios não deve suprimi-las.
Necessidades que Devem ser Suprimidas
Aquele que deseja bem-estar durante sua vida e depois
dela, deve suprimir necessidades relacionadas com imprudência e
ações prejudiciais – verbais, mentais e físicas. Da mesma forma,
uma pessoa inteligente deve reprimir a satisfação de neces-
sidades relacionadas com ganância, tristeza, medo, raiva,
vaidade, mentira, inveja, apego demasiado e maldade. Deve-se
reprimir a necessidade de falar palavras extremamente ásperas,
caluniar, mentir e usar palavras impróprias. A violência contra
quem quer que seja e as necessidades relacionadas com tais
ações físicas, incluindo o adultério, o roubo e a perseguição,
devem ser contidas. Uma pessoa virtuosa que seja livre de todos
os vícios da mente, da fala e das ações físicas é de fato feliz e
somente ela deleita-se com os frutos da virtude (dharma), da
riqueza (artha) e do desejo (kama).
Terapia Rejuvenescedora
Todos neste planeta, cientistas e médicos estão
empenhados na descoberta de medicamentos e métodos de
prevenção e cura das doenças dos seres humanos. Por esta
razão, e também por causa do aperfeiçoamento das condições
nutricionais, o tempo de vida dos indivíduos tem aumentado
proporcionalmente. Nos países desenvolvidos do Ocidente, as
realizações conseguidas nesta área são louváveis.

131
A longevidade individual origina muitos problemas sociais e
psicológicos. O mais importante é o geriátrico, ou o controle do
idoso, que tem se tornado numeroso na sociedade. Os idosos não
são capazes de adaptação às mudanças nas condições sociais e
ambientais. Com as desvantagens psicológicas à parte, devido ao
processo de envelhecimento que continua ininterruptamente, há
um bloqueio no funcionamento dos órgãos sensoriais e motores.
Portanto, surge o enfado em suas vidas e eles se tornam um
encargo para a sociedade.

 Objetivo do Rasayana
Rasayana ou as terapias rejuvenescedoras, prescritas no
Ayurveda, são destinadas a remover estas dificuldades da vida do
idoso. O Caraka, quando definiu o campo de ação da terapia
rasayana, estabeleceu que, com sua aplicação, o indivíduo torna-
se dotado de longevidade, memória, intelecto, saúde verdadeira,
juventude, compleição, excelência na cor da pele e na voz, vigor
dos órgãos sensoriais e brilho. Em resumo, o objetivo da terapia é
manter a juventude do indivíduo juntamente com a duração da
sua vida. Ao invés de uma sociedade de pessoas idosas e
inválidas, a terapia objetiva a criação de uma sociedade de
pessoas com o vigor da juventude – tanto físico como mental.

 Duração da Vida
A duração da vida está dividida em quatro partes. Até os
20 anos, o indivíduo cresce, as células teciduais se multiplicam e
as enzimas nelas presentes auxiliam na síntese de mais tecidos
fornecendo nutrição adequada e outras condições apropriadas.
Dos 20 aos 40 anos de vida as células teciduais continuam a
aumentar em número e qualidade. Mas sua multiplicação e cres-
cimento não é tão rápido como na primeira fase. O homem cresce
em experiência. Seu campo de atividades aumenta e, portanto,
ele se expõe a maior tensão e stress. Ele não pode estar

132
despreocupado como até os 20 anos de sua vida. O período de
estudos está terminando e ele está inteiramente maduro para
casar-se e assumir um trabalho. A faculdade criativa de sua mente
torna-o ansioso para criar coisas novas e o ego em seu
subconsciente quer que ele supere seus colegas e associados. O
casamento proporciona-lhe a responsabilidade adicional de uma
vida compartilhada e as crianças geradas devem ser muito bem
cuidadas. Ele satisfaz sua necessidade sexual biológica. O sê-
men, considerado o elemento mais vital do corpo humano, é
perdido. No Ayurveda, dá-se muita ênfase à preservação do
sêmen. O celibato ou a limitação sexual é considerada condição
imprescindível para a manutenção da boa saúde do indivíduo. Por
mais ideal que a situação ou conceito possam ser, o homem está
sempre exposto às fantasias sexuais. A perda é quase que
satisfatoriamente reabastecida pela nutrição conseguida pela
alimentação. Mas este reabastecimento é sempre limitado. A
preocupação e a ansiedade ao qual o homem está exposto
durante este período da vida começa a afetar o funcionamento
das enzimas responsáveis pela síntese de células teciduais. Então
ele sofre. O crescimento físico é limitado e não está em
consonância com suas atividades mentais.
Dos 40 aos 60 anos há uma fase de estagnação. Se o
indivíduo está provido de nutrição adequada e está livre de
preocupações e ansiedades excessivas ele é capaz de manter
sua saúde. As atividades mentais, sem dúvida, expandem em
dimensão, o poder de julgamento aumenta e o senso de
discriminação torna-se nítido e aguçado. Durante este período, o
indivíduo deve conter o excesso de atividades sexuais e se não o
fizer, o processo de degeneração física já começa desde então. O
processo de envelhecimento se manifesta. Os cabelos tornam-se
grisalhos e eventualmente surge a calvície. As rugas aparecem na
face e em outras partes do corpo. A capacidade sexual torna-se

133
limitada e o apetite diminui. Quaisquer caprichos da natureza,
como calor excessivo, frio ou exposição à chuva torna-o doente.
As atividades mentais fazem com que perca noites de sono. Se
ele obedece à conduta indicada e faz uso de uma dieta adequada,
pode levar uma vida saudável até os 60 anos. Mas não há
possibilidade de crescimento posterior das células teciduais. Os
tecidos gordurosos acumulam-se mais e mais, mas isso não é
sinal de um melhor metabolismo. Indica, na verdade, menor poder
das enzimas corporais para metabolizar os tecidos na produção
de energia e, portanto, eles se acumulam no abdome, nádegas,
pescoço e face.
Dos 60 anos em diante, chega o período do declínio.
Quaisquer atitudes que a pessoa possa tomar não poderá
prevenir o processo do envelhecimento. Seu metabolismo tecidual
diminui. Encontram-se mais produtos residuais e mesmo com as
melhores dietas, condutas e bebidas, o corpo torna-se mais e
mais enfraquecido. Os ossos experimentam mudanças. Há
calcificação excessiva. As articulações tornam-se ressecadas e o
líquido da membrana sinovial no espaço entre duas extremidades
ósseas torna-se seco. Os órgãos vitais como o coração, os rins e
o fígado diminuem suas atividades. O sistema nervoso torna-se
frágil e as artérias perdem sua elasticidade. Portanto, o homem
fica exposto a doenças como a elevação da pressão sangüínea,
insônia, aumento da próstata, reumatismo, cirrose hepática,
osteoartrites e outras. Qualquer fratura dos ossos não se cura
rapidamente. Se o pâncreas diminui sua atividade, surge o
diabetis. A lente dos olhos torna-se opaca e o indivíduo sofre de
catarata. As gengivas perdem seu vigor e seus dentes caem. O
sistema nervoso interrompe seu funcionamento adequado e a
pessoa torna-se incapaz de ouvir os sons. Sua vida torna-se
miserável e ele se torna um peso para os membros de sua família,
assim como para a sociedade.

134
O rasayana, ou a terapia para o rejuvenescimento, objetiva
conservar as enzimas das células teciduais dentro de sua
condição funcional normal. Estas células devem ser revitalizadas
e sua composição precisa ser alterada. A tranquilidade da mente
deve ser promovida e os nervos, assim como os ossos, precisam
ser conservados flexíveis e calmos. Isto previne o processo do
envelhecimento e torna o indivíduo livre de qualquer doença
mesmo durante a idade avançada. Ele é capaz de enxergar tão
claramente quanto antes e a agudeza da audição continua. O
brilho em sua face e a coloração da pele permanece como
anteriormente. É com estes aspectos em mente que a pessoa
deve recorrer à terapia rejuvenescedora.

 Época de Administração
Quanto mais cedo a terapia for administrada melhor será
para o indivíduo. Em idade mais avançada esta terapia isolada
não funciona satisfatoriamente. Seus efeitos tornam-se limitados.
Antes de iniciar a terapia dois pontos devem ser observados:
1. O corpo do indivíduo deve estar limpo da sujeira ou dos
produtos metabólicos através de terapias especializadas, como
purgativos e eméticos.
2. O indivíduo deve estar instruído para pensar, falar e trabalhar
de tal maneira que seja proveitoso para o desenvolvimento
saudável da sociedade. De fato, o Ayurveda dá grande
importância a estas condutas, que são consideradas por terem
efeitos rejuvenescedores sobre o corpo humano.

 Pessoas Convenientes para o Rasayana


Aqueles que falam a verdade, que estão livres da raiva,
que não ingerem álcool, que não se envolvem em atividade
sexual, que não lesam ninguém, que evitam o esforço excessivo,
cujo coração seja tranquilo, aquele que é cortês, dedicado à
repetição de cantos sagrados e ao asseio, aqueles dotados com o

135
poder da compreensão, que doam esmolas, assíduos em esforço
espiritual, que se deleitam em venerar deuses, vacas, brahmanas,
professores, pessoas mais graduadas e mais velhas, aqueles
dedicados à não-violência, à compaixão, moderação e equilíbrio
entre a vigília e o sono, habituados à ingestão de leite e ghee,
familiarizados com a ciência do clima, das estações, do
doseamento, versados em bom comportamento, desprovidos de
egoísmo, de conduta irrepreensível, que fazem uso de
alimentação saudável, que são de temperamento espiritual e
ligados aos mais velhos e às pessoas que acreditam nos deuses,
auto-controlados e devotados aos textos escriturais são
convenientes para receberem a terapia rejuvenescedora.

 Método de Administração
Esta terapia é administrada de duas maneiras diferentes.
Uma delas é conhecida como método Kutipravesika e o outro é
denominado método Vatatapika. Para o primeiro tipo, deve-se
elaborar preparativos para a construção de um tipo especial de
chalé onde o indivíduo será confinado. Este método é
inconveniente para a pessoa que precisa continuar seu trabalho.
Para esta, o segundo método para a terapia rejuvenescedora é
mais indicado. Pode-se recorrer a esta terapia enquanto se dedica
à sua profissão.

 Drogas Rasayanas
Muitas drogas estão descritas nos clássicos Ayurvédicos
destinadas ao rejuvenescimento e são prescritas pelos médicos
Ayurvédicos. As mais importantes são: amalaki (Emblica
officinalis, Gaertn.), bibhitaka (Terminalia belerica, Roxb.), haritaki
(Terminalia chebula, Linn.), guduci (Tinospora cordifolia, Miers.),
brahmi (Herpestis monniera, H.B.K.), punarnava (Boerhaavia
diffusa, Linn.), mandukaparni (Hydrocotyle asiatica, Linn.),
yastimadhu (Glycyrrhiza glabra, Linn.), sankhapuspi (Evolvulus

136
alsinoides, Linn.) e vidanga (Embelia ribes, Burm. F.) Há algumas
plantas venenosas como bhallataka (Semicarpus anacardium,
Linn.) e vatsanabha (Aconitum heterophyllum, Wall.) que também
são bem conhecidas por seus efeitos rejuvenescedores.
Muitas drogas de origem mineral como o mercúrio, o
enxofre, o ouro e silajatu (resina mineral ou betume) também são
extensivamente utilizadas para o propósito do rejuvenescimento.
Estas drogas são transformadas em suas formas não
tóxicas e assimiladas antes de serem empregadas para o
propósito do rejuvenescimento. O modo de administrar, o método
de preparação, a dosagem, a dieta e as precauções a serem
tomadas durante a administração destas terapias variam de droga
para droga. Normalmente requerem a supervisão de especialistas.
Cyavanaprasa
Há muitos processos farmacêuticos para tornar estas
drogas assimiláveis e agradáveis. O mais comumente utilizado
pelos médicos Ayurvédicos é o Cyavanaprasa. Os médicos o
consideram mais um alimento do que um medicamento.

 Dose
Para obter o efeito rasayana através do processo
Cyavanaprasa, as drogas devem ser ingeridas em doses de duas
colheres de sopa, duas vezes ao dia (um total de quatro colheres
de sopa diariamente), de preferência em jejum, com um copo de
leite a cada dose. Para conseguir o efeito desejável, deve ser utili-
zado durante um tempo consideravelmente longo. A duração
desta terapia depende da idade e de outras condições físicas e
psicológicas do indivíduo. A dose deste medicamento deve ser
gradualmente aumentada. Ele é absolutamente não-tóxico, mas
eventualmente pode suprimir a força digestiva se a dose for
excessiva e rapidamente aumentada.

137
 Dieta
O leite e seus derivados (que não sejam azedos) são
considerados benéficos se ingeridos juntamente com este
medicamento. Se não houver obesidade, podem ser fornecidos
alimentos gordurosos e com amido em quantidade
proporcionando ao indivíduo uma boa capacidade digestiva. O
ghee de vaca produz efeito sinérgico se ingerido junto com o
medicamento. Enquanto tomá-lo, devem ser evitadas substâncias
azedas e o sal em excesso. A pessoa pode obter resultados em
certo período de tempo se o sal-gema for utilizado no lugar do sal
marinho comum.
Outras Condutas
O indivíduo deve estar livre de aborrecimentos e
ansiedades tanto quanto possível e evitar o excesso de relações
sexuais. A observação do brahmacarya ou celibato é condição
imprescindível para a obtenção do efeito rasayana de qualquer
droga ou medicamento.
Processo de Morte
Uma pessoa está viva enquanto o prana ou a ―força vital‖
está ativa. Quando esta força vital cessa, a pessoa está morta.
O que acontece durante o processo de morte? Uma
descrição gráfica deste processo é fornecido no Susruta samhita:
Sarira sthana 9:11. A força da vida ou prana percorre todo o corpo
através das dhamanis ou artérias, que são compostas dos cinco
mahabhutas (elementos básicos). Estas dhamanis estabelecem
um íntimo contato entre as cinco faculdades sensoriais e os cinco
órgãos dos sentidos por cinco vezes. Subseqüentemente, estas
cinco faculdades sensoriais estabelecem contato com os cinco
mahabhutas (elementos básicos) no momento da morte ou
pancatva (desintegração dos cinco mahabhutas) do indivíduo.

138
CAPÍTULO 5

A PRÁTICA DA MEDICINA

O Exame do Paciente
Para determinar a exata natureza da doença, o médico
Ayurvédico, na grande maioria das vezes, conta com oito tipos de
exames do paciente antes de prescrever qualquer medicamento.
São eles: 1) pulso; 2) urina; 3) fezes; 4) língua; 5) voz; 6) toque
(pele); 7) olhos e 8) aspecto físico geral (akti). Estes exames são
conduzidos considerando-se os princípios fundamentais do
Ayurveda. Portanto, são inteiramente diferentes do exame do
pulso e outros realizados por médicos da medicina ocidental.
1) Exame do pulso: É realizado no início da manhã quando o
paciente está em jejum. Não pode ser executado após o banho,
alimentação ou massagem com óleo, pois o pulso torna-se
alterado e não indica a condição correta do paciente. Da mesma
forma, o paciente que está com sede ou fome não é conveniente
para o propósito do exame do pulso.
Este exame é realizado utilizando-se a artéria radial,
percebida no local cerca de meia polegada abaixo do polegar. Nos
homens é examinado o pulso da mão direita e nas mulheres, o da
mão esquerda. Para este propósito, o braço deve ser estendido
adequadamente e a mão deve ser conservada em posição ligei-
ramente flexionada. Simultaneamente, os dedos, incluindo o
polegar, devem estar em posição estendida. O médico deve
examinar o pulso com o auxílio de sua mão direita. Os três dedos,

139
indicador, anelar e médio, utilizados no exame, são conservados
sobre o punho, sendo que o indicador permanece próximo ao
polegar do paciente. Uma pressão suave e uniforme é aplicada
através das extremidades destes dedos sobre o pulso e a
pulsação da artéria é sentida. O médico precisa aplicar a pressão
e fazer isso repetidamente para determinar corretamente o dedo
exato no qual a pulsação é mais sentida. Se a pulsação é mais
sentida no indicador, vayu é dominante. Quando sentida no dedo
médio, predomina pitta e no dedo anelar, indica agravação de
kapha no corpo do paciente.
Além disso, o médico deve determinar também o
movimento do pulso. Se for sentido como o movimento de uma
cobra ou sanguessuga, isto indica uma predominância de vayu.
Se houver pitta em abundância, o pulso se move como um corvo,
uma rã ou um pardal. No caso de kapha, o movimento do pulso é
como o de um cisne, um pavão e um galo. Se o pulso movimenta-
se às vezes como uma cobra e outras vezes como uma rã, isto
indica uma predominância de vayu e pitta. Nos pacientes que
apresentam predominância de vayu e kapha, o pulso move-se
como uma cobra ou um cisne. Movimentos no pulso semelhantes
ao de um macaco e um cisne indicam predominância de pitta e
kapha. Quando todos os três doshas estão alterados, o pulso
move-se como um pica-pau.
Se a pulsação é regular em trinta batimentos então está
claro que o paciente sobreviverá. Se surgirem interrupções, isto
indica morte iminente. Além do que foi estabelecido acima, nos
textos Ayurvédicos há uma descrição minuciosa com relação à
natureza do pulso nas diferentes doenças e é muito
freqüentemente utilizada pelos médicos como método de
comprovar as doenças.
2) Exame de urina: Para o exame da urina, uma amostra deve ser
coletada durante o último quarto da noite e deve ser guardada em

140
um recipiente de vidro. O exame, entretanto, deve começar depois
do nascer do sol. A urina que é eliminada primeiro deve ser
desprezada e a remanescente deve ser coletada para exame.
Se houver predominância de vayu, a urina torna-se
amarelo-pálida. Quando há predominância de kapha, a coloração
torna-se branca e há muita espuma na amostra. Uma urina
amarela ou vermelha é indicativa da dominância de pitta.
A urina deve ser conservada em um recipiente limpo e
largo e sobre a superfície devem ser pingadas algumas gotas de
óleo com conta-gotas. Se o óleo espalhar-se imediatamente então
a doença do paciente é curável e se as gotas se espalharem
lentamente é certo que o paciente falecerá. Se um paciente sofre
de indigestão, sua urina assemelha-se ao suco de lima fresca ou à
pasta de sândalo. Em um distúrbio causado pela indigestão, sua
urina assemelha-se à água de arroz e quando o indivíduo
apresenta uma febre aguda, a urina é volumosa e sua
transparência é reduzida.
Se as gotas de óleo se espalham na direção leste, o
paciente será provavelmente curado de sua doença muito
brevemente. Quando as gotas se espalham para o sul, isto indica
que o paciente portador de uma febre será curado lentamente.
Quando se espalham para o norte ou oeste, o paciente está
indubitavelmente livre de qualquer doença. Quando se espalha
para o sudeste e surgem falhas no óleo, o paciente morrerá. Nos
textos Ayurvédicos há uma descrição minuciosa sobre o valor
diagnóstico e prognóstico da análise da urina.
3) Exame de fezes: Quando há predominância de vayu, as fezes
tornam-se duras e secas. A coloração amarela indica agravação
de pitta e a coloração branca, uma predominância de kapha.
Quando todos os três doshas estão perturbados, as fezes
apresentam três cores diferentes. O desequilíbrio de vayu está

141
indicado nas fezes que são eliminadas aos pedaços e são
ásperas, esfumaçadas e cobertas com espuma.
Se uma pequena porção de fezes cai na água e afunda,
isto indica a presença de ama, ou seja, produtos não-digeridos e
não-metabolizados estão presentes. Se flutuar na água, indica
que as fezes estão livres de qualquer defeito. Os textos
Ayurvédicos estão repletos com referências às diferentes
colorações, consistências, odores, etc. das fezes em diferentes
condições patológicas.
4) Língua: Quando vayu está desequilibrado, a língua apresenta-
se fria e áspera ao toque e surgem fissuras em sua superfície. Na
predominância de pitta a língua apresenta uma coloração
vermelha ou azul. Se kapha for predominante, a língua é branca e
excessivamente viscosa. Quando todos os três doshas estão
desequilibrados a língua apresenta coloração preta e há erupções
espinhosas sobre ela.
5) Voz: Se houver predominância de kapha, a voz torna-se grave.
Voz clara e nítida indica a dominância de pitta e uma voz seca e
áspera indica predominância de vayu.
6) Toque (pele): A pele apresenta-se quente se o paciente é
portador de uma doença causada por pitta. Quando o distúrbio é
causado por vayu, a pele é fria. Na dominância de kapha, é
úmida.
7) Olhos: Os olhos de uma pessoa portadora de doenças
causadas por vayu são secos e embaçados. O paciente refere
sempre uma sensação de queimação dentro dos olhos. Quando o
distúrbio é causado por pitta, há aversão à luz e sensação de
queimação nos olhos. Untuosidade e embotamento dos olhos
indica predominância de kapha. Os olhos de tal paciente são
geralmente úmidos e há lacrimejamento profuso. As condições
dos olhos são muito significativas na determinação do prognóstico
de uma doença.

142
8) Características físicas: Pacientes dominados por vayu
apresentam geralmente pele e cabelos secos e quebradiços. Não
apreciam coisas frias e não possuem paciência, memória,
intelecto, esforço e amizade em si mesmos. Pacientes portadores
de doenças causadas por pitta possuem excessiva sede e fome.
Sua pele torna-se amarela e quente. A palma das mãos, a sola
dos pés e a face apresentam coloração de cobre. São geralmente
agressivas e egoístas, possuem poucos cabelos, levemente
avermelhados. O paciente que apresenta doenças causadas por
kapha tem articulações, ossos e músculos compactos. Eles não
sofrem de sede, fome, tristeza e dor.
Exame da Idade do Paciente
Em resumo, a idade está dividida em três categorias,
denominadas bala (jovem), madhya (idade adulta) e vrddha
(velhice). Antes dos 16 anos de idade uma pessoa é chamada
bala (jovem) e dos 16 aos 70 anos, é chamada madhya (adulta).
Depois desta idade é denominada vrddha (velho). A idade adulta
é novamente dividida em três estágios denominados vrddhi
(crescimento), yauvana (juventude) e sarva sampurnata (término
do crescimento). O estágio vrddhi (crescimento) vai até os 12
anos de idade, o período yauvana (juventude) vai até os 30 anos
e até os 40 anos todos os elementos teciduais e órgãos teciduais
estão cheios de vigor e potência.
Uma vida feliz possui dez aspectos denominados: 1) balya
(tenra idade), 2) vrddhi (idade de crescimento), 3) chavi (essência
da individualidade), 4) medha (intelecto), 5) tvak (maciez da pele),
6) drsti (visão), 7) sukra (sêmen), 8) vikrama (espírito venturoso),
9) buddhi (sabedoria), 10) karmendrya (excelência dos órgãos
motores).
Em jovens e idosos, o médico não deve administrar as
terapias agni kriya (terapia de cauterização), ksara kryia (terapia
com álcalis) e vireka (eméticos e purgativos). Quando estas

143
pessoas são acometidas de doenças que podem ser curadas
apenas com a administração destas terapias, devem ser utilizadas
de forma suave e gradual.
Exame do Vigor do Paciente
Está declarado no Susruta: Sutrasthana 35:35 – ―O vigor é
o fator mais importante do corpo, pois uma pessoa dotada do
mesmo realiza todas as atividades‖.
Existem algumas pessoas magras e franzinas que
possuem grande vigor dotado com vida. Há muitas pessoas
gordas que possuem menos vigor. Portanto, um médico deve
analisar de maneira crítica o aspecto saudável e o vigor de um
paciente através de sua habilidade na execução de exercícios de
esforço físico.
O que é este Vigor?
A essência ótima dos dhatus (elementos teciduais),
começando de rasa (plasma) e terminando em sukra (sêmen) é
denominado ojas. Este é conhecido também como bala (vigor) no
contexto da ciência médica. Por causa do vigor há estabilidade e
nutrição dos tecidos musculares e a pessoa permanece sem
restrições para realizar qualquer esforço. Torna-se dotado com a
excelência da voz e da compleição. Os órgãos sensoriais externos
e internos são capazes de realizar suas atividades com a
plenitude de suas capacidades.
O que é Tejas?
Tejas origina-se do agni mahabhuta. Durante o processo
gradual de metabolismo dos elementos teciduais, uma substância
denominada vasa é excretada da gordura acumulada no abdome.
Na mulher é produzida em excesso. Esta substância é
denominada Tejas. Como conseqüência, há nas mulheres maciez,

144
ternura, menos pêlos no corpo, alegria, visão, estabilidade, poder
de digestão e de metabolismo, beleza e graça.
O que é Ojas?
Ojas possui a natureza de soma ou jala mahabhuta. É
gorduroso, branco, frio, estável, fluido, vivikta (que permanece
separado dos outros) e macio. Está localizado no coração e é um
dos excelentes sustentadores da vida. Nos seres vivos, o corpo
juntamente com seus membros é infiltrado por este ojas.
De acordo com o Caraka samhita, da mesma forma como
as abelhas produzem mel coletando material das flores, ojas é
coletado da essência dos elementos teciduais por agnis
(enzimas), como pacaka, etc. Aquele que se aloja no coração, é
predominantemente branco e ainda ligeiramente avermelhado e
amarelado é conhecido como ojas. Se ojas for destruído, o ser
humano é levado à morte.
Ojas possui seis sabores e pode ser de dois tipos: um
deles é de coloração amarela e o outro é branco.
O universo possui duas qualidades conhecidas e que se
denominam qualidade de aquecimento (agni guna) e qualidade de
resfriamento (soma guna). Portanto, ojas pode ser de dois tipos –
branco e vermelho-amarelado. Se houver redução na quantidade
da variedade branca de ojas, isto leva a condições extremamente
graves e dolorosas. Se o ojas em sua variedade vermelho-
amarelada estiver reduzido em quantidade, o corpo torna-se
repleto de água, ou seja, o paciente sucumbe à morte
instantânea. De acordo com Krsnatreya, a morte nestas condições
é certa. A variedade vermelho-amarelada de ojas é um tipo
superior e o corpo possui uma quantidade aproximada de oito
gotas do mesmo.
De acordo com o Caraka: Sutrasthana 17:117, o kapha em
seu estado natural promove vigor corporal na forma de ojas.

145
Quando em condições mórbidas, tranforma-se em excreções e
causa sofrimentos.
O vigor possui três variedades denominadas uttama
(superior), adhama (inferior) e madhyama (moderado). É também
classificado de outra forma:
1.Sahaja bala (vigor hereditário): o vigor produzido como resultado
da natureza do rasa (plasma, etc.) no corpo é conhecido como
sahaja bala.
2.Kalakrta bala (vigor obtido durante diferentes estágios da vida):
a condição do corpo durante as diferentes fases da vida determina
este tipo de vigor.
3.Yuktikrta bala: este tipo de vigor é produto resultante de
condutas, dietas e drogas apropriadas.
Apenas a primeira variedade de vigor, sahaja bala,
produzido como resultado da natureza específica de rasa (plasma
etc.) está dividida em três categorias, ou seja, o tipo superior de
vigor, o tipo inferior e o tipo moderado.
Uma pessoa livre de doenças, com lento processo de
envelhecimento, habilidosa em sua profissão, competente no
conhecimento espiritual e científico, que seja limpa e que tenha
um corpo compacto é denominada sadia (svastha).
Aspectos Característicos do Corpo Compacto
Uma pessoa que possua ossos adequadamente
distribuídos, cujas articulações sejam bem consolidadas e
resistentes, cujos músculos sejam bem distribuídos e que possua
um corpo forte é considerada compacta (susamhata). Dentre os
tipos físicos, o compacto é o melhor. Aqueles não muito
compactos são de natureza moderada e os completamente não
compactos são os piores. A terceira categoria física possui o tipo
inferior de vigor. Se o indivíduo desmaia, morre ou adoece quando
acometido de um tipo de sangramento grave ou enfrenta uma
situação séria de desgosto ou medo, deve ser considerada uma

146
pessoa muito fraca – tanto mental como fisicamente, mesmo se
possuidora de um físico avantajado.
Na pessoa fraca que apresenta excessivo desequilíbrio dos
doshas, o médico deve recuperar o vigor e eliminar os doshas
gradualmente.
Distúrbios do Vigor
Existem três tipos de distúrbios no vigor ou ojas
denominados vyapat, visramsana e ksaya. O primeiro tipo de
distúrbio de bala é caracterizado por sensação de peso e
entorpecimento do corpo, glani (uma sensação de estar coberto
com um pano molhado), descoloração, sonolência, dormir
excessivamente e edema corporal causados por vayu.
O segundo tipo, visramsana, é caracterizado por frouxidão
e prostração do corpo, desequilíbrio dos doshas, esforço e
inabilidade para realizar muito trabalho.
O terceiro ou ksaya é caracterizado por desmaio, fraqueza
muscular, estupor, delírio, inconsciência, manifestações de sinais
e sintomas já descritos com relação aos tipos vyapat e visramsana
e mesmo à morte.
Dependendo da variedade, do quanto os doshas estão
desequilibrados e do vigor do paciente, devem ser prescritas
terapias para o tratamento destas condições. O paciente deve
evitar a tristeza, a inveja, a raiva, a timidez, os exercícios, as
atividades sexuais, incluindo a visão de mulheres e a exibição do
vigor de sua capacidade. Deve-se recorrer a terapias rejuve-
nescedoras e afrodisíacas. Para este tratamento deve-se utilizar a
linha de conduta sugerida para a tuberculose (ksaya) e febre
crônica (jirna jvara). Diferentes tipos de óleos medicinais
empregados para alívio de vayu são benéficos nesta condição.
Análise do Sattva

147
Sattva pode ser de dois tipos denominados bhirutva
(covarde) e sahisnutva (possuidor do poder de tolerância). A
pessoa que possui o último tipo de sattva pode ser submetida a
terapias violentas (fortes). O paciente que pertence à primeira
categoria deve receber apenas terapias suaves, após ser
consolado. Estes pacientes, de acordo com a doutrina médica,
necessitam de mais esforços.
Avaliação da Saúde
A salubridade (satmya) apresenta quatro tipos
denominados:
1)deha satmya (saudável para o corpo): as coisas que quando
ingeridas habitualmente são benéficas para o corpo são
conhecidas como deha satmya. Por exemplo, para algumas
pessoas, o iogurte, o leite, o álcool e a carne são salutares e para
o corpo de outras são benéficos alimentos como peya (uma sopa
de aveia rala), sopa de vegetais, sopa de carne, cereais, trigo etc.;
2)desa satmya (saudável para a região): por exemplo, iogurte,
leite, karira e coisas doces são benéficas em algumas regiões;
3)rtya satmya (saudável para a estação): substâncias gordurosas
e quentes são benéficas no início do inverno, substâncias
pungentes, amargas e não-gordurosas são saudáveis no final do
inverno e substâncias agradáveis, refrescantes e doces são
benéficas no verão;
4)roga satmya (saudáveis para a doença): por exemplo, na febre,
a administração de peya (sopa rala de cereais) e a purgação são
benéficas; para o paciente acometido por vômitos, a terapia de
fomentação é benéfica e no resfriamento crônico, a terapia de
inalação e o fumo são salubres.
Quando administrar uma droga, deve-se conservar em
mente a dosagem, a natureza da prescrição, os efeitos
terapêuticos, a natureza da região e do clima, o estágio da
doença, etc. Porém os bons ou maus efeitos de uma substância

148
não podem ser verificados sem utilização habitual durante um
período suficiente de tempo. Se o álcool for ingerido em
quantidade limitada, cura doenças causadas pelo alcoolismo.
Ingestão de veneno na quantidade de uma tila (do tamanho de
uma semente de gergelim) funciona como um néctar. Quando mel
e ghee são ingeridos juntos em quantidades iguais, agem como
venenos no organismo. A combinação de álcalis e substâncias
azedas produz adoçamento instantâneo. A adição de puga (noz
de areca) à tambula (folha de bétele) auxilia na manifestação de
odor, cor e sabor agradáveis. Kodrava cura rakta pitta (uma
doença caracterizada por sangramento em diferentes partes do
corpo). Mas quando kodrava é misturado com outras substâncias
que possuem propriedade vidahi (que produz sensação de
queimação) passa a ser fator causal de rakta pitta. O açúcar
mascavado indiano causa agnimandya (supressão do poder
digestivo). Mas quando oferecido junto com abhaya, pippali, etc.
cura agnimandhya. Diferentes tipos de saktu (farinha de milho
torrada) são agravadores de vayu e são não-gordurosos. Mas
quando ingeridos na forma de uma bebida, adicionando-se água,
produzem um efeito nutritivo. Sunthi (gengibre seco) é preparado
a partir de ardraka (gengibre verde). Mas o primeiro é mais leve
que o último por causa do processamento. Sali (arroz da
variedade vermelha) é leve para a digestão. Mas a massa
preparada com ele é pesada mesmo em comparação com
godhuma (trigo). Mudga é constipante e leve por natureza. Mas
kulmasa (a preparação de mudga através da adição de outros
grãos) é purgativo e pesado.
As substâncias salutares produzem vigor instantaneamente
e não elevam de forma patológica os doshas. O leite de vaca que
funciona geralmente como um laxativo, pode causar constipação
em algumas pessoas.

149
O leite possui sabor doce e refrescante. Mas o iogurte
preparado do leite apresenta qualidades opostas. O ghee
preparado a partir do leite possui, no entanto, propriedades
similares ao último. A manteiga do leite, adstringente e azeda,
funciona como constipante. Mas quando torna-se excessivamente
azeda funciona como laxativo. Kakamaci colhido recentemente
causa rejuvenescimento, mas quando envelhecido age como um
veneno. O rabanete tenro alivia todos os doshas, mas quando
muito maduro, agrava todos eles assim como os outros rizomas.
Para curar os vômitos, doenças cardíacas e tumores
fantasmas está prescrita a terapia emética. Enemas são
normalmente contra-indicados para hemorróidas e kustha
(doenças de pele crônicas, incluindo a hanseníase). Mas em
determinadas condições, os enemas podem ser úteis para estas
doenças.
Semelhanças na natureza da estação e no dosha torna a
febre facilmente curável. Da mesma forma, semelhanças nos
dusya (elementos teciduais) tornam prameha (doenças urinárias
crônicas, incluindo o diabetis) facilmente curáveis. Rakta gulma
torna-se facilmente curável apenas quando atinge o estágio
crônico.
Os alimentos saudáveis tornam-se prejudiciais se ingeridos
à noite, no caso de um indivíduo doente. Saktu (farinha de milho
torrada) é geralmente prejudicial se ingerida em forma seca, mas
é benéfica para um paciente acometido de prameha (doenças
urinárias crônicas, que inclui o diabetes).
Um médico sábio deve conservar sempre em mente os
apontamentos acima e depois examinar os diferentes aspectos do
paciente e das terapias.
Exame da Doença
Para o tratamento de uma doença é essencial determinar a
natureza exata da mesma com referência especial aos doshas,

150
dhatus, malas, srotas e agnis envolvidos em sua manifestação.
Algumas destas doenças recebem nomes e outras não possuem
denominação disponível. De fato, os clássicos Ayurvédicos
enfatizam que os médicos não sejam muito específicos sobre o
nome da doença. De acordo com estes clássicos, os nomes são
atribuídos para algumas patologias apenas como exemplo para
facilitar na compreensão da vasta gama de doenças
remanescentes para as quais os nomes não são fornecidos.
Como este número é muito vasto, não é possível denominar todos
eles. Com relação a cada doença, com ou sem nome, os
seguintes pontos precisam ser cuidadosamente examinados:
1. Nidana ou a causa da doença;
2. Purvarupa ou primeiros sinais e sintomas;
3. Rupa ou sinais e sintomas reais da doença;
4. Upasaya ou terapia exploratória;
5. Samprapti ou patogênese.

 Nidana ou Fatores Causais


Os fatores causais das doenças serão descritos
posteriormente. Estes fatores causais são divididos nas seguintes
quatro categorias:
1. Sannikrsta ou aqueles que produzem doenças muito
precocemente
2. Viprakrsta ou aqueles que causam efeitos retardadores na
produção da doença
3. Vyabhicari ou aqueles que não são fortes o suficiente para
causar uma doença
4. Pradhanika ou aqueles que possuem efeitos instantâneos na
produção da doença, como os venenos poderosos.
Alguns destes fatores causais desequilibram os doshas,
outros causam a doença diretamente e o terceiro grupo de fatores
acarreta ambos. Por exemplo, certos tipos de alimentos,
dependendo de seus sabores, desequilibram certos doshas e

151
estes causam as doenças. Nestes casos, a produção dos
distúrbios não está diretamente conectada com os fatores causais,
mas sim com o desequilíbrio dos doshas. A ingestão de barro é
considerada a responsável pela produção de uma patologia
denominada pandu, resultante do sammurchana (aglomerado
mórbido) dos doshas, dhatus, agnis e srotas. O desequilíbrio dos
doshas não é a causa primária da patogênese. Há certos fatores
causais responsáveis tanto pelo desequilíbrio dos doshas como
pela produção da doença. Por exemplo, se uma pessoa ingere
alimentos enquanto viaja sobre um animal ou um veículo será
provavelmente acometido pela gota. Os doshas responsáveis pela
gota estão desequilibrados e esta doença encontra assim o ambi-
ente apropriado para sua produção. Estas classificações em
fatores causais são muito importantes para o tratamento
Ayurvédico visto que, para a primeira categoria de doenças, uma
simples terapia é suficiente para promover a cura e para a
segunda categoria de doenças são necessárias terapias
elaboradas para corrigir o sammurchana ou aglomerado mórbido.
Estes fatores causais podem ser divididos posteriormente
em dois grupos denominados exógenos e endógenos. Vários tipos
de dieta, comportamento e efeitos das estações do ano são
fatores exógenos. O desequilíbrio dos doshas e dhatus são
fatores endógenos causadores das doenças.

 Purvarupa ou Primeiros Sintomas


Antes que a doença se manifeste realmente, após o
aglomerado mórbido dos doshas, dhatus, agnis e srotas, a
ocorrência precisa passar por diversos estágios. No primeiro
estágio surgem alguns sintomas, mas eles não são bem definidos.
O conhecimento do estágio é muito importante pois auxilia o
médico no diagnóstico antes da completa manifestação da
doença. Auxilia também no diagnóstico diferencial e na
determinação do prognóstico. Certos conselhos e proibições

152
devem ser seguidos neste estágio para prevenir sua
manifestação. Se os primeiros sintomas surgem em quantidade, o
prognóstico é ruim e tais pacientes são de difícil tratamento. A
partir destes primeiros sinais e sintomas pode-se diferenciar entre
rakta pitta (condição caracterizada por sangramento nas
diferentes partes do corpo) e prameha (doenças urinárias
crônicas, incluindo o diabetis mellitus).
Há dois tipos de primeiros sintomas: gerais e específicos.
Alguns destes sintomas iniciais indicam apenas a natureza geral
do distúrbio. Outros indicam a exata natureza da doença que irá
se manifestar e são específicos.

 Rupa ou Sinais e Sintomas Manifestados


Quando a doença está inteiramente manifestada aparecem
certos sinais e sintomas. Nos textos Ayurvédicos os sinais e
sintomas de cada uma destas doenças são descritos em detalhes.
São indicativos dos estágios patológicos e dos doshas, dhatus,
agnis e srotas envolvidos na manifestação da doença. Indicam
também o prognóstico da doença, as terapias, a dieta e a conduta
que serão prescritas para o paciente.

 Upasaya ou Terapia Exploratória


Algumas vezes, os fatores causais, os sintomas iniciais e
os sintomas reais não indicam inteiramente a natureza da doença.
Um médico frente a estas condições recorre a algumas terapias
exploratórias para averiguar corretamente a natureza do distúrbio.
São dezoito tipos de terapias exploratórias a seguir:
1.Medicamentos que são contrários aos fatores causais, por
exemplo, administração de drogas aquecedoras, como o gengibre
seco, para o tratamento de febre causada por kapha;
2.Dietas contrárias aos fatores causais, por exemplo, administrar
sopa de carne e arroz para o tratamento de febre causada por
vayu;

153
3.Condutas contrárias aos fatores causais, por exemplo,
conservar-se acordado durante a noite para corrigir kapha, o qual
é desequilibrado pelo sono diurno;
4.Medicamentos contrários à doença, por exemplo, a
administração de indrayana (sementes de Holarrhena
antidysenterica, Wall.) para o tratamento da diarréia;
5.Dieta contrária à doença, por exemplo, masura para o
tratamento de diarréia;
6.Conduta contrária à doença, por exemplo, provocar tenesmo
para corrigir udavarta (uma condição caracterizada pelos
movimentos ascendentes do vento abdominal);
7.Medicamentos contrários a ambos, os fatores causais e a
doença, por exemplo, administração de dasamula (denominação
dada a um grupo de dez drogas cujas raízes são utilizadas no
medicamento) para curar edemas causados por vayu;
8.Dieta contrária aos fatores causais e à doença, por exemplo,
utilização de manteiga por um paciente portador de grahani ou
espru causado por vayu e kapha;
9.Condutas contrárias aos fatores causais e à doença, por
exemplo, permanecer acordado à noite, comportamento este que
possui efeito secativo para corrigir a oleosidade;
10.Medicamentos que parecem ser semelhantes aos fatores
causais, mas funcionam adversamente, por exemplo, aplicação de
ungüento morno para o tratamento de inflamação causada por
pitta;
11.Dieta que parece ser semelhante aos fatores causais, mas que
age contrariamente, por exemplo, o uso de vidahi (dieta que causa
sensação de queimação) para corrigir uma condição inflamatória;
12.Condutas que parecem ser semelhantes ao fator causal, mas
que agem contrariamente, por exemplo, assustar um paciente que
sofre de insanidade causada por vayu;

154
13.Medicamentos que parecem ser semelhantes à doença, mas
que agem contrariamente, por exemplo, administração de madana
(Randia dumetorum, Lam.) no tratamento de vômitos;
14.Dieta que parece ser semelhante à doença, mas que age
contrariamente, por exemplo, uso de leite para o tratamento de
diarréia;
15.Condutas que parecem ser semelhantes à doença, mas que
agem contrariamente, por exemplo, fazer uso de tenesmo para
emese no tratamento de pacientes que sofrem de vômitos;
16.Medicamentos que parecem ser semelhantes a ambas, a
causa e a doença em si, mas que agem adversamente, por
exemplo, aplicação de ungüento de aguru (Aquilaria agallocha,
Roxb.), quente em sua potência, para o tratamento de
queimaduras;
17.Dieta que parece ser semelhante à causa e à doença em si,
mas que age adversamente, por exemplo, ingerir álcool para
corrigir o alcoolismo;
18.Condutas que parecem ser semelhantes às causas e à
doença, mas que agem adversamente, por exemplo, recorrer a
exercícios como natação para o tratamento de urustambha
causada por vayu.

 Samprapti ou Patogênese
O processo através do qual uma doença se manifesta é
denominado samprapti ou patogênese. As doenças são de dois
tipos, exógenas e endógenas. Se a vitalidade do corpo não é
capaz de sobrepujar os efeitos dos fatores causais, as doenças do
tipo endógeno ocorrem. Estes fatores causais podem também
desequilibrar os doshas ou suprimir as atividades dos agnis ou
enzimas resultando na formação de ama. Com freqüência ambos
ocorrem simultaneamente. Este ama obstrui os canais de
circulação e desta forma a nutrição para as células teciduais sofre

155
redução resultando no bloqueio das funções dos tecidos relaci-
onados.
Como foi estabelecido anteriormente, há sete grupos de
tecidos ou dhatus. Um ou mais dhatus ou elementos teciduais
podem ser afetados simultaneamente. Como o processo
metabólico de todos estes dhatus estão interligados, o
desequilíbrio de um leva freqüentemente ao distúrbio do outro.
Portanto, nas doenças crônicas como alguns tipos de febres,
kustha (doenças de pele crônicas, incluindo a hanseníase),
visarpa (erisipela) e masurika (varíola) quase todos os dhatus são
gradualmente atingidos. Seus sinais e sintomas característicos
estão descritos nos textos Ayurvédicos.
Além deste bloqueio ao fluxo de nutrientes, a obstrução do
canal de circulação por ama pode gerar um transbordamento dos
nutrientes teciduais na direção oposta, resultando, eventualmente,
na formação de alterações orgânicas semelhantes a nódulos
(granthi). A diversificação do fluxo para uma direção inteiramente
diferente é também uma das possibilidades.
A formação de ama deve-se ao bloqueio das funções de
agni (enzimas) e ao desequilíbrio dos doshas, estando estas duas
condições interrelacionadas. O agravamento dos doshas em um
local em particular pode bloquear as funções do canal, com
possível obstrução do mesmo, resultando na supressão das
atividades enzimáticas, assim como na formação de ama. Da
mesma forma, a obstrução do canal por ama resulta no
agravamento dos doshas. Assim, tanto como causa ou como um
efeito, ambos, o ama e os doshas agravados, estão presentes,
juntamente com os srotas (canais alterados) e os dhatus
(elementos teciduais), em todos os tipos de doenças endógenas.
Sua mera existência não é suficiente para a manifestação de uma
doença. Realmente essencial para este propósito é o aglomerado
mórbido de todos estes quatro fatores, o que na linguagem

156
Ayurvédica denomina-se sammurchana. Nas doenças exógenas
este aglomerado ocorre depois que a doença já está manifestada,
enquanto que nas doenças endógenas, sammurchana precede a
manifestação da doença.

 Kriya kala ou Estágios de Manifestação de uma Doença


Para a manifestação de uma doença, no primeiro estágio,
os doshas patológicos acumulam-se em um local particular. Este
estágio é chamado sancaya. É o local de origem da doença.
No segundo estágio, denominado prakopa, os doshas
estão agravados. No terceiro estágio, prasava, estes doshas
alterados infiltram-se para outras partes diferentes do corpo. No
quarto estágio, chamado sthana samsraya, os doshas alterados e
difundidos acumulam-se em um local em especial, que é o sítio de
manifestação ou adhisthana da doença. O sexto estágio é
denominado vyakti, no qual os sintomas da doença são
manifestados. Conseqüentemente, características especiais da
doença se manifestam, e este estágio é denominado bheda ou de
diferenciação.

 Diferentes Tipos de Samprapti


Samprapti ou patogênese é de dois tipos: samanya ou
geral e visesa ou específico. Quando o nutriente ou posaka
dhatus está alterado para causar a doença, denomina-se
samanya saniprapti e quando os posya dhatus ou elementos
teciduais básicos estão alterados, chama-se samanya samprapti.
Mas a doença resultante continua até que visista samprapti seja
corrigido.
Causas das Doenças
As causas de todas as doenças foram classificadas no
Ayurveda dentro das três categorias seguintes:

157
1.Negligência intelectual (prajnaparadha)
2.Conjunção doentia dos órgãos sensoriais com seus objetos
(Asatmyendriyartha samyoga)
3. Excentricidades do tempo e das estações do ano (kala-
parinama)

 Negligência Intelectual (prajna paradha)


Uma pessoa cujo intelecto, paciência e memória estejam
bloqueados submete-se a si mesmo à negligência ao intelecto em
virtude de suas más ações. Esta blasfêmia intelectual desequilibra
todos os doshas.
A estimulação forçada das necessidades básicas, a
supressão da manifestação das mesmas, exibição de vigor
exagerado, excessos na atividade sexual, negligência com relação
ao tempo de tratamento, início da ação em momento inadequado
(ou seja, utilização excessiva, incorreta ou a não utilização das
terapias), perda da modéstia e da boa conduta, desrespeito às
pessoas respeitáveis, divertimentos que envolvem atividades e
objetos prejudiciais, recorrer a fatores causadores de insanidade,
movimentos sem qualquer relação com o bom comportamento do
local e da época, amizades com pessoas de má conduta, a não
realização de atividades salutares, a malícia, as futilidades, o
medo, a raiva, a ganância, a ignorância, a intoxicação e confusões
ou más-ações que resultam em rajas ou tamas, todos estes
constituem blasfêmia intelectual originando várias doenças.

 Conjunção Patológica dos Órgãos Sensoriais e seus


Objetos
Inclui a utilização excessiva, errônea e a não-utilização dos
objetos, das ações sensoriais e do tempo. Por exemplo, olhar fixa
e excessivamente para substâncias muito luminosas constitui
utilização excessiva dos objetos visuais. Não olhar absolutamente
para nada equivale à não utilização. Da mesma forma, seu uso

158
incorreto seria olhar para as coisas muito próximas dos olhos ou
muito longe, ou coisas muito horríveis, assustadoras,
surpreendentes, insolentes, medonhas, deformadas e alarmantes.
A utilização excessiva dos objetos auditivos seria ouvir um
barulho confuso emitido por tambor e tímpano, choro muito alto,
etc. A não-utilização seria não escutar absolutamente nada.
Escutar palavras grosseiras, notícias sobre a morte de amigos,
sons insultantes, agressivos e assustadores constituem sua
utilização errônea.
Os odores excessivamente pungentes, intensos e
intoxicantes constituem uma utilização excessiva do órgão
sensorial do olfato. Não sentir nenhum cheiro é sua não-utilização.
O uso inadequado é sentir odores excessivamente pútridos,
desagradáveis, sujos, de decomposição cadavérica e gases
venenosos.
A ingestão de várias substâncias com diversos sabores
equivale à utilização excessiva da faculdade gustatória. Não fazer
uso algum seria a não-utilização. Ingerir alimentos sem observar
as regras prescritas constitui uso inadequado.
O excesso de banhos frios e quentes, massagens, unções
etc. equivale à utilização excessiva das faculdades táteis. Não
fazer uso do tato é uma condição patogênica. O uso de banhos,
massagens e unções e de outras substâncias quentes e frias sem
observar as indicações, tocar locais ásperos, objetos sujos,
infectados e prejudiciais constitui utilização inadequada.

 Variações no Tempo e no Período


Um ano é uma unidade de tempo, dividida posteriormente
em inverno (hemanta), verão (grisma) e monções (varsa),
caracterizados por frio, calor e chuvas respectivamente. Se uma
estação do ano em particular manifesta-se excessivamente, isto
pode ser considerado uma utilização excessiva do período.
Quando a estação se manifesta em menor proporção, seria sua

159
não-utilização. Por outro lado, se suas características são
contrárias às normais, equivaleria à utilização errônea (por
exemplo, chuva no inverno, frio nas monções, etc.) Uma pessoa
exposta a estas excentricidades das estações torna-se vítima de
muitas doenças.
Três Tipos de Doenças
Os três cursos da doença são: sakha (sistema periférico),
marmasthisandhi (órgãos vitais e articulações) e kostha (sistema
central). O sistema periférico inclui os elementos teciduais como
sangue, pele etc. – este é o caminho externo da doença. Os
órgãos vitais são basti (bexiga urinária), coração, cabeça etc. Os
ossos são unidos por ligamentos e tendões – este é o caminho
intermediário da doença. Kostha (sistema central) é conhecido
como mahasrotas (o grande canal), sarira-madhya (porção central
do corpo), mahanimna (a parte mais profunda do corpo),
amapakvasaya (estômago e intestinos) – este é o caminho interno
da doença.
Doenças do Sistema Periférico
Distúrbios como ganda (bócio), pidaka (erupções), alaji
(agitação), apaci (escrófula), carmakila (verruga), adhimamsa
(granuloma), masaka (mola), kustha (doenças crônicas da pele,
incluindo a hanseníase), vyanga (sardas), a variedade externa de
visarpa (doença de pele caracterizada por disseminação aguda),
svayathu (edema), gulma (tumor abdominal), arsas (hemorróidas)
e vidradhi (abscessos) pertencem ao sistema periférico.
Doenças do Caminho Intermediário
Os distúrbios que ocorrem no caminho intermediário são:
paksavadha (hemiplegia), paksagraha (convulsão tônica),
apatanaka (convulsão clônica), ardita (paralisia facial), sosa
(doenças consumptivas), rajayaksma (tuberculose),

160
asthisandhisula (dor articular), gudabhramsa (prolapso retal) e as
doenças da cabeça, coração e bexiga.
Doenças do Sistema Central
Distúrbios como jvara (febre), atisara (diarréia), chardi
(vômitos), alasaka (inércia intestinal), visucika (diarréia por cólera),
kasa (tosse), svasa (dispnéia), hikka (soluços), anaha
(constipação), udara (doenças abdominais), pliha (doenças
esplênicas), a variedade interna de visarpa (doença de pele
caracterizada por uma disseminação aguda), svayathu (edema),
gulma (tumor abdominal), arsas (hemorróidas) e vidradhi
(abscesso interno) pertencem ao sistema central.
Sítios de Origem das Doenças
Todas as doenças, de acordo com seus udbhavasthana ou
sítios de origem, estão divididas em dois grupos. O primeiro grupo
caracteriza-se por originar-se da formação de ama, sendo este
resultante da digestão inadequada do alimento no trato gastro-
intestinal como resultado da diminuição de agni (agnimandhya).
Este ama assim formado é absorvido e circula através do
organismo levando ao srotodusti, seguido por srotorodha. As
doenças resultantes destas alterações patogênicas são
denominadas amasayodbhava. Amasaya é a parte superior do
trato gastro-intestinal, incluindo o estômago e o intestino delgado,
onde estes distúrbios têm origem. Todo ingrediente alimentar é
composto dos cinco mahabhutas em uma proporção definida. O
conteúdo mahabháutico dos alimentos determina sua afinidade
relativa para influenciar o processo nutricional das células
teciduais, compostas de dhatus que possuem uma espécie
semelhante de razão mahabháutica em sua composição.
Portanto, mesmo o ama formado como resultado da digestão
inadequada de tal alimento produzirá distúrbios apenas nos
tecidos para os quais possui afinidade preferencial.

161
O segundo grupo compreende as doenças
pakvasayodbhava, ou seja, aquelas que têm origem a partir de
pakvasaya. Este consiste da parte inferior do trato gastro-
intestinal, através da qual é excretada a maioria dos produtos
residuais do corpo ou malas. Se por alguma razão, por exemplo,
por causa de hábitos irregulares, ocorrer o bloqueio de um ou
outro canal ou srotamsi pelos quais as excreções são
transportadas dentro do trato gastro-intestinal, haveria um
acúmulo destes produtos excretados levando ao srotorodha,
seguido por srotodusti.
Dentre os três doshas mencionados acima, kapha e pitta
originam-se de amasaya ou da parte superior do trato gastro-
intestinal, enquanto vata surge de pakvasaya ou da porção inferior
do trato-digestivo. É extremamente importante compreender a
patogênese essencial de uma doença, especialmente quanto ao
seu local de origem, uma vez que o tratamento no Ayurveda
objetiva a remoção do dosha do mulasthana (raiz) da doença,
assim como a quebra do círculo vicioso, ou seja, samanya
samprapti e por meio disto, visa erradicar por inteiro o processo da
doença.
Modo de Disseminação da Doença
O ama pode seguir diferentes rotas para transportar-se do
local de origem para a região do corpo onde revela sua existência.
Baseando-se em sua trajetória de disseminação, todas as
doenças são classificadas em três categorias principais.
Primeiramente, há doenças que se disseminam através do trato
alimentar-respiratório, conhecidas como kosthanusari. Outras po-
dem infiltrar-se através dos fluidos circulantes como rasa e rakta,
sendo denominadas sakhanusari, enquanto o terceiro grupo é
conhecido como marmasthi-sadhyanusari, ou seja, admite-se que
se dissemine através dos órgãos vitais, ossos e articulações. Este
conceito adquire um significado importante sobre o tratamento.

162
Portanto, as doenças sakhanusari podem ser tratadas
satisfatoriamente com medidas pancakarma muito elaboradas
como snehana e svedana, enquanto os distúrbios kosthanusari,
como svasa roga (asma brônquica), podem ser tratados com
sucesso mesmo sem medidas tão elaboradas.
Sítio de Manifestação da Doença
O adhisthana ou o sítio de manifestação da doença
representa papel vital em sua patogênese. O Ayurveda descreve o
sítio de manifestação da doença em termos de dhatus (elementos
teciduais) e srotamsi ou canais. O corpo como um todo é
composto de sete dhatus. Os canais ou srotamsi abrangem os
vasos sangüíneos e linfáticos e os espaços intercelulares semi-
permeáveis de suas paredes. Eles suprem os dhatus com nutrição
a partir dos produtos finais da digestão e da respiração. Cada um
dos sete dhatus divide-se posteriormente em dois tipos,
dependendo das funções fisiológicas que representam no corpo.
Assim, há o posaka dhatu que nutre o posya dhatu que obtém
nutrição do anterior, mantendo por meio disso suas funções
específicas. Os srotamsi são conseqüentemente denominados de
acordo com o posaka dhatu que transportam. Além destes
dhatuvaha srotamsi, há outros canais para o transporte de
elementos, como oxigênio (ambarapiyusa), água, etc.,
denominados pranavaha e udakavaha srotamsi, respectivamente.
Doenças e suas Variedades
Nos diversos textos Ayurvédicos, as doenças são
enumeradas de maneiras diferentes. Aquela descrita no Caraka
Samhita e suas variedades são fornecidas a seguir:
1) Udara (doenças abdominais crônicas) possui oito tipos: vatika,
paittika, slaismika, sannipatika, plihodara (conseqüente a
distúrbio esplênico), baddhodara (conseqüente à obstrução

163
intestinal), chidrodara (conseqüente à perfuração intestinal) e
dakodara (ascites).
2) Mutraghata (patologia urinária) possui oito tipos: vatika, paittika,
slaismika, sannipatika, asmarija (por cálculos no trato urinário),
ukraja (pelo sêmen) e sonitaja (causada pelo sangue).
3) Ksira dosha (distúrbios do leite) possui oito tipos: descoloração,
odor fétido, sabor desagradável, viscosidade, espumosidade,
não-oleosidade, peso e excesso de gordura.
4) Retodosha (distúrbios do sêmen) possui oito tipos: escassez,
ressecamento, espumosidade, ausência de coloração branca,
odor pútrido, excesso de viscosidade, combinação com outros
dhatus (elementos teciduais) e elevada gravidade específica.
5) Kustha (doenças crônicas da pele, incluindo hanseníase)
possui sete tipos: kapala, udumbara, mandala, rsyajihva,
pundarika, sidhma e kakana.
6) Pidaka (abscesso ou carbúnculo) possui sete tipos: saravika,
kacchapika, jalini, sarsapi, alaji, vinata e vidradhi.
7) Visarpa (doenças de pele caracterizadas por uma disseminação
aguda) possui sete tipos: vatika, paittika, slaismika, agnivisarpa,
kardamaka, granthi visarpa e sannipatika visarpa.
8) A diarréia possui seis tipos: vatika, paittika, slaismika,
sannipatika, bhayaja (causada pelo medo) e sokaja (causada
pela mágoa).
9) Udavarta (doenças abdominais caracterizadas pela retenção
das fezes) possui seis tipos: vataja (causada pelos flatos),
mutraja (pela urina), purisaja (pelas fezes), sukraja (pelo
sêmen), chardija (pelo vômito) e ksavathuja (por espirros).
10) Gulma (tumor abdominal) possui cinco tipos: vatika, paittika,
slaismika, sannipatika e raktaja (pelo sangue).
11) Doenças esplênicas são de cinco tipos: como acima.

164
12) Kasa (tosse) possui cinco tipos: vatika, paittika, slaismika,
ksataja (causadas pela ulceração) e ksayaja (pelo
enfraquecimento).
13) Svasa (dispnéia) possui cinco tipos: mahasvasa, urdhvasvasa,
chinnasvasa, tamakasvasa e ksudra svasa.
14) Hikka (soluços) possui cinco tipos: mahahikka, gambhira
hikka, vyapeta hikka (intermitente), ksudra hikka e annaja
hikka (pelo alimento).
15) Trsna (sede) possui cinco tipos: vatika, paittika amaja (pela
digestão inadequada), ksayaja (devido à consumpção) e
upasargatmika (como uma manifestação secundária).
16) Chardi (vômitos) possui cinco tipos: dvistartha samyogaja (por
entrar em contato com artigos detestáveis), vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.
17) Anorexia possui cinco tipos: vatika, paittika, slaismika,
sannipatika e dvesaja (devido à repugnância).
18) Doenças da cabeça possuem cinco tipos: vatika, paittika,
slaismika, sannipatika e krmija (causadas por infecção).
19) Doenças do coração possuem cinco tipos: ver acima.
20) Pandu (anemia) possui cinco tipos: vatika, paittika, slaismika,
sannipatika e mrdbhaksanaja (pela ingestão de terra).
21) Unmada (insanidade) possui cinco tipos: vatika, paittika,
slaismika, sannipatika e agantuja (por causas exógenas).
22) Apasmara (epilepsia) possui quatro tipos: vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.
23) Doenças dos olhos possuem quatro tipos: vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.
24) Doenças dos ouvidos possuem quatro tipos: vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.
25) Pratisyaya (coriza) possui quatro tipos: vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.

165
26) Doenças da boca possuem quatro tipos: vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.
27) Grahani possui quatro tipos: vatika, paittika, slaismika e
sannipatika.
28) Mada (intoxicação) possui quatro tipos: vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.
29) Murccha (lipotímia) possui quatro tipos: vatika, paittika,
slaismika e sannipatika.
30) Sosa (consumpção) possui quatro tipos: tensão excessiva,
supressão das necessidades básicas, debilidade e dieta
irregular.
31) Esterilidade possui quatro tipos: bijopaghataja (causada por
alterações no esperma), dhvajabhangaja (pela atonia dos
órgãos genitais), jaraja (pela idade) e sukra ksayaja (pela
diminuição do sêmen).
32) Sotha (edema) possui três tipos: vatika, paitika e slaismika.
33) Kilasa (doença crônica da pele) possui três tipos: leucoderma
de coloração vermelha, cobre e branca.
34) Rakta pitta (doença caracterizada por sangramento de várias
partes do corpo) possui três tipos: urdhavabhaga (distúrbio
dos canais superiores), adhobhaga (distúrbio dos canais
inferiores) e ubhayabhaga (distúrbio dos canais inferiores e
superiores).
35) Jvara (febre) possui dois tipos: aquela que surge do frio (o
paciente deseja substâncias quentes) e aquela que surge do
calor (o paciente deseja substâncias frias).
36) Vrana (úlcera) possui dois tipos: endógena e exógena.
37) Ayama (curvatura do corpo) possui dois tipos: opistótono e
emprostótono.
38) Grdhrasi (ciatalgia) possui dois tipos: vatika e vataslaismika.
39) Kamala (icterícia) possui dois tipos: kosthasraya (hepática e
pré-hepática) e sakhasraya (obstrutiva).

166
40) Ama (distúrbio resultante de metabolismo e digestão
inadequada) possui dois tipos: alasaka (inércia intestinal) e
visucika (diarréia colérica).
41) Vatarakta (gota) possui dois tipos: gambhira (profunda) e
uttana (superficial).
42) Arsas (hemorróidas) possui dois tipos: suska (sem
sangramento) e ardra (com sangramento).
43) Urustambha (uma condição caracterizada por rigidez da coxa)
possui um tipo: amatridosaja.
44) Samnyasa (coma) possui um tipo: sannipatika.
45) Mahagada (perversão psíquica) possui um tipo: resultante de
perversão moral e mental.
46) Krimi (bactérias incluindo parasitas) possui vinte tipos: yuka e
pipilika (que parasitam a pele e o cabelo); kesada, lomada,
lomadvipa, saurasa, audumbara e jantumatr (que residem no
sangue); antrada, udaravesta, hrdayada, curu, darbhapuspa,
saugandhika e mahaguda (causados por kapha); kakaruka,
makeruka, leliha, sasulaka e sausurada (que habitam as
fezes).
47) Prameha (um tipo de patologia urinária) possui vinte tipos:
udakameha, iksubalikarasameha, sandrameha,
sandraprasadameha, suklameha, sukrameha, sitameha,
sanairmeha, sikatameha, lalameha (que são resultantes de
slesman); ksarameha, kalameha, nilameha, lohitameha,
manjisthameha e haridrameha (por pitta); vasameha, ma-
jjameha, hastimeha e madhumeha (por distúrbios de vata).
48) Yoniroga (doenças do trato genital feminino) possui vinte tipos:
vatika, paittika, slaismika, sannipatika, raktayoni (menorragia),
arajaska (amenorréia), acarana (colpite por micose), aticarana
(vaginite crônica), prakcarana (vaginite deflorativa), upapluta
(dismenorréia secundária), paripluta (vaginite aguda),
udavartini (dismenorréia primária), karnini (endocervicite),

167
putraghni (tendência ao aborto), antarmukhi (inversão do
útero), sucimukhi (pequenos pontos pretos), suska
(coloerosis), vamini (profluvium seminis), sandhayoni (órgãos
sexuais femininos não desenvolvidos) e mahayoni (prolapso
uterino).
Terapêutica
Na ocorrência de desequilíbrio dos doshas corporais são
utilizados geralmente três tipos de terapias. São elas: limpeza
interna, limpeza externa e cirurgia. Nas doenças causadas por
ações de energias prejudiciais e outros utiliza-se a psicoterapia.
Doenças causadas por dieta inadequada, por exemplo, são
eliminadas por medicamentos indicados para limpeza interna. A
terapia de purificação externa é aquela cujo efeito terapêutico
ocorre pelo contato externo com o corpo, tal como a massagem, a
fomentação, unção, infusão e amassamento. A terapia cirúrgica
compreende as incisões, excisões, acupuntura, ruptura,
erradicação, fricção de substâncias com superfície áspera, as
suturas, a aplicação de álcalis e sanguessugas, raspagem e
sondagem. A psicoterapia é administrada através de homa (o ato
de fazer uma oferenda derramando-se ghee no fogo), do jejum, de
prayascitta (rituais propiciadores), oferecimento de orações às
divindades e brahmanas, recitação de mantras, bali (sacrifícios) e
svastyayana (recitações auspiciosas).
Na prescrição de uma terapia, o médico Ayurvédico
examina cuidadosamente tanto o paciente como a doença. A
seleção de medicamentos e terapias, entretanto, depende de
considerações sobre as seguintes variantes:
1)Variações relacionadas aos doshas: a quantidade de doshas
pode estar diminuída ou alterada ou pode permanecer em um
estado de equilíbrio. Os doshas podem variar de acordo com
seus movimentos ascendentes, descendentes ou laterais ou de
acordo com suas localizações nos caminhos central, periférico

168
ou intermediário. Os doshas também podem variar conforme
alterações em seu local de origem (svadesa) ou em qualquer
outro local (paradesa) ou se sua alteração é primária
(svatantra) ou secundária (paratantra). O distúrbio de um dosha
pode variar em termos de seus aspectos particulares. Por
exemplo, o desequilíbrio de vata poderia estar relacionado, al-
gumas vezes, à alteração de alguns de seus atributos apenas,
por exemplo, frialdade, leveza, etc. Os doshas podem também
variar na forma como alteram diferentes dhatus. Da mesma
maneira, estes doshas podem variar de acordo com a estação
do ano, com a constituição do paciente e conforme os dhatus
afetados.
2)Variações relacionadas à droga: as drogas podem variar em
seus efeitos conforme sejam novas, velhas, verdes, secas,
combinadas com outras drogas e seus diferentes métodos de
preparação. Elas também variam conforme sua ação efetiva
sobre os doshas do corpo em virtude de seu rasa (sabor), virya
(potência), vipaka ou prbhava (ação específica).
3)Variações relacionadas com a localização: os locais variam
conforme sejam pantanosos, áridos, comuns ou muito
agradáveis.
4)Variações relacionadas ao tempo: o tempo pode variar de
acordo com as mudanças sazonais ou com as mudanças do
dia, da noite, tarde, manhã etc., ou de acordo com a
periodicidade das doenças, como uma febre que dura oito dias,
etc.
5)Variações relacionadas ao vigor: este pode variar conforme seja
inerente, adquirido ou resultante do tempo (estação, idade,
etc.) Pode variar também conforme seja superior, medíocre ou
inferior.

169
6)Variações relacionadas ao corpo: este pode ser gorduroso,
magro, compacto ou poroso. Pode variar conforme a natureza,
os métodos de preparação, combinação, quantidade, etc.
8)Variações relacionadas com a salubridade: esta pode variar
dependendo da localidade, tempo (idade e estação), doença,
constituição, natureza e moradia.
9)Variações relacionadas com a mente: pode variar conforme
esteja associado com mágoa, tristeza, felicidade, medo, etc.
10)Variações na constituição corporal conforme seja originada por
vata, etc.
11)Variações relacionadas com agni: ocorrem variações de
acordo com a idade, ou seja, infância, juventude, velhice e
seus diferentes estágios.
Categorias de Doenças
As doenças são divididas em três categorias,
denominadas: 1) Adhyatmika (tem origem no próprio indivíduo), 2)
Adhibhautika (originada de objetos externos) e 3) Adhidaivika
(originada de causas oportunas).

1)Doenças Adhyatmika
Tal tipo de doença pode ser de três variedades:
a)Adibalaja ou hereditária: Estas doenças ocorrem como resultado
da alteração do esperma e do óvulo dos pais. Kustha (doenças
crônicas da pele, incluindo a hanseníase), arsas (hemorróidas) e
doenças semelhantes pertencem a esta categoria. Este tipo de
doença, adibalaja, é subdividida entre duas categorias: aquelas
originadas do pai e aquelas originadas da mãe.
b)Janmabalaja ou congênita: Este tipo de doença é resultante de
dieta e conduta inadequadas da mãe durante o período de
gestação. Jatyandha (cegueira congênita), pangu (imobilidade dos
membros), mudez, impotência, fala sossegada ou gagueira,
nanismo etc. pertencem a esta categoria e são também

170
subdivididos em dois tipos: rasaja ou causada pelo distúrbio do
quilo ou do plasma da mãe e dauhrda apacaraja ou causada pelo
controle inadequado da mãe durante o estágio bi-cardíaco da
gestação.
c)Dosabalaja: Estas doenças ocorrem como resultado da
inadequação da dieta e da conduta do indivíduo. São subdivididas
também em dois tipos: amasayottha ou doenças que se originam
no estômago e na porção superior do intestino delgado e
pakvasayotta ou doenças originárias do intestino grosso.

2.Doenças Adhibhautika
São as sanghata balaja ou doenças causadas pela
alteração por objetos externos. Nos seres humanos estas
patologias são denominadas agantu (corpos estranhos). São
subdivididas também em dois tipos: vyalaja causadas por animais
selvagens e sastraja, causadas por armas, etc.

3.Doenças Adhidaivika
Estas doenças estão caracterizadas nas três categorias
seguintes:
a)Kalabalaja ou sazonal – Resultantes da chuva, do frio ou do
calor nas diferentes estações. Tais doenças subdividem-se nos
seguintes dois tipos: vataja (aquelas que surgem do vento) e
atapaja (aquelas que surgem dos raios de sol). As doenças
sazonais ou kalabalaja podem ser novamente subdivididas em
outras duas categorias: vyapanna rtuja, que se originam das
excentricidades da estação e avyapanna rtuja, que se originam da
estação em sua normalidade. Quando as doenças são causadas
pela anormalidade das estações, o médico deve tratar tais
pacientes com drogas coletadas precocemente. Podem ser
tratadas também através de tapas (penitências), ausadhi (drogas
ou talismãs) e devatarcana (oferecimento de orações aos deuses).

171
As doenças que ocorrem durante as estações normais devem ser
tratadas de acordo com a natureza das mesmas.
b)Daivabala sambhuta ou doenças causadas pelo
descontentamento dos deuses. Tais doenças são causadas pela
ira dos deuses e suas maldições. São de duas variedades:
upasargaja ou contagiosa e atharvana krta ou doenças causadas
por rituais tântricos prejudiciais. Estas doenças podem ser
subdivididas também em outros dois tipos: aquelas causadas por
raios e fogo e aquelas causadas por pisaca (espíritos prejudiciais)
etc. Novamente, estas doenças podem ser divididas em duas
categorias: samsargaja (doenças epidêmicas ou contagiosas) e
akasmika (acidentais), manifestadas como resultado de ações
prejudiciais do passado.
c)Svabhavabalaja ou doenças naturais: fome, sede, velhice, sono,
egoísmo, paixão etc. São conhecidas como doenças naturais.
Diferentes Tipos de Terapias
As terapias Ayurvédicas são classificadas em seis
categorias ou seja: 1) Langhana ou terapia de alívio, 2) Brmhana
ou terapia de nutrição, 3) Ruksana ou terapia secativa, 4)
Snehana ou terapia de unção, 5) Svedana ou terapia de
fomentação e 6) Stambhana ou terapia adstringente. As drogas
utilizadas para tais terapias possuem certas características
descritas aqui:

Terapia Características da drogas


1.Langhana ou terapia de Leve, quente, pungente, não-viscosa,
alívio áspera, sutil, seca, fluida e dura.
2.Brmhana ou terapia de Pesada, fria, macia, gordurosa, grossa,
nutrição volumosa, lenta, viscosa, estável e lisa.
3.Ruksana ou terapia secativa Áspera, leve, seca, pungente, quente,
estável, não-viscosa e dura.

172
4.Snehana ou terapia de Líquida, sutil, fluida, gordurosa, viscosa,
unção pesada, fria, lenta e macia
5.Svedana ou terapia de Quente, pungente, fluida, gordurosa ou
fomentação áspera, sutil, líquida, estável e pesada.
6.Stambhana ou terapia Fria, lenta, macia, lisa, grosseira, sutil,
adstringente líquida, estável e leve.

 Langhana ou Terapia de Alívio


A terapia langhana pode ser administrada da seguinte
maneira:
1)Administração de quatro tipos de terapias de eliminação, como a
emética, a purgativa, o enema tipo niruha e inalação;
2)Controle da sede;
3)Exposição ao vento e ao sol;
4)Ingestão de drogas que estimulam a digestão;
5)Jejum; e
6)Exercício físico.
Com o objetivo de reduzir peso, a terapia de eliminação
deve ser administrada para aquelas pessoas que possuem corpo
forte e obeso, acometidas de doenças resultantes do excesso de
kapha, pitta, sangue e excreções combinadas com o desequilíbrio
de vata.
Doenças como vômitos, diarréia, inércia intestinal, febre,
constipação, sensação de peso no corpo, eructação, náuseas,
anorexia e distúrbios cardíacos causados pelo desequilíbrio de
kapha e pitta, que possuam natureza moderada devem ser
tratadas, no início, por drogas que promovam a digestão.
Se as mesmas doenças possuem natureza moderada,
devem ser tratadas através do controle da sede e da fome (jejum).
Quando os indivíduos fortes são acometidos de doenças
de natureza moderada, podem ser curados através de exercícios
físicos e da exposição ao sol e ao vento. Fica compreendido que

173
quando estes indivíduos são acometidos por doenças de natureza
suave, podem ser curados através da mesma conduta.
A terapia de emagrecimento deve ser administrada durante
o inverno (hemanta e sisira – maio a agosto) para os pacientes
portadores de doenças de pele e patologias urinárias crônicas,
para aqueles que possuem corpo volumoso associado à
obesidade e fluidez e mesmo para aqueles que sofrem de
doenças resultantes do desequilíbrio de vata.

 Brmhana ou Terapia de Nutrição


A carne fresca de animais, peixes e pássaros que vivem
em seu habitat natural e abatidos por artifícios não-tóxicos, como
flechas e outros, é nutritiva. As pessoas acometidas habitualmente
por debilidade, velhice, fraqueza, tuberculose pulmonar, pelo
emagrecimento, esforço decorrente de longas viagens, por
excessos sexuais e de vinho requerem esta terapia durante todo o
verão.
Para pacientes que emagreceram por causa de doenças
consumptivas, hemorróidas e espru deve ser administrada sopa
de aves e animais carnívoros (ou melhor, sopa da carne destes
animais, que é leve por natureza) submetida a métodos especiais
que a tornem mais leve para a digestão. Isto auxilia, promovendo
nutrição.
Banho, unção, sono, enema juntamente com drogas
untuosas e doces, açúcar, leite e ghee constituem métodos de
nutrição universais.

 Ruksana ou Terapia Secativa


Constituem terapias secativas a ingestão de substâncias
adstringentes, pungentes e amargas, pasta de óleo de mostarda e
gergelim, mel, etc. e relações sexuais.
Pacientes que sofrem de doenças caracterizadas pela
obstrução dos canais corporais, pela predominância de um dosha

174
em excesso, que se manifesta nos órgãos vitais, como a
―espasticidade das coxas‖ (urustambha), gota e doenças urinárias
crônicas devem ser tratados através da terapia secativa.

 Snehana ou Terapia de Oleação


Para a terapia de oleação são administrados ghee, óleo,
tecido adiposo próprio do músculo (vasa) e medula óssea (majja).
Entre estes, o melhor é o ghee devido ao poder para assimilar
efetivamente as propriedades das drogas nele fervidas. Ghee
alivia pitta e vata, é eficaz para rasadhatu e sukradhatu (sêmen).
Possui um efeito refrescante e suavizante sobre o corpo. Fornece
claridade à voz e à compleição.
O óleo alivia vata. No entanto, não desequilibra kapha.
Proporciona vigor corporal, é benéfico para a pele. É quente,
estabilizador e controla a incidência de enfermidades nos órgãos
genitais femininos.
A gordura presente no músculo é prescrita para o
tratamento de lesões, fraturas, traumas, prolapso uterino, otalgia e
cefaléia. Intensifica a virilidade individual, auxilia na oleosidade e é
útil para aqueles que praticam exercícios físicos.
A medula óssea eleva o vigor, sukra (sêmen), rasadhatu,
kapha, medodhatu (gordura) e majja (medula espinhal). Além
disso, intensifica o vigor físico, especialmente dos ossos, e é útil
para a oleosidade.
O ghee deve ser ingerido no outono (sarat); a gordura
presente no músculo e a medula óssea devem ser ingeridas no
mês de vaisakha (equivalente ao período de outubro-novembro) e
o óleo, durante as monções (pravrt). Substâncias excessivamente
gordurosas não devem ser ingeridas quando está extremamente
frio ou quente.

175
 Svedana ou Terapia de Fomentação
No Ayurveda foram descritos trinta tipos de terapia de
fomentação juntamente com seus modos de administração,
indicações e contra-indicações. A fomentação é útil para
pratisyaya (coriza), tosse, soluço, dispnéia, sensação de peso no
corpo, cefaléia, dor de ouvido, aspereza na voz, obstrução
espasmódica da garganta, paralisia facial, de um único membro
ou hemiplegia, inflexões do corpo (vainamaka), distensão
abdominal, constipação, supressão da urina, vijrmbhaka, rigidez
no dorso, cintura, abdome e nas laterais do corpo, ciatalgia,
disúria, aumento do escroto, indisposição, dor e rigidez dos pés,
joelhos, panturrilhas, edemas, khalli (neuralgia das extremidades
superior e inferior), doenças resultantes da diminuição do proces-
so digestivo e metabólico, nos calafrios e arrepios, nos distúrbios
da articulação do quadril por vata (vata kantaka), nas dores em
cólica, em contração e por distensão, rigidez, excesso de peso,
entorpecimento e nos distúrbios que atingem todo o corpo.

176
CAPÍTULO 6

DIETA

Na ciência moderna os gêneros alimentícios são


classificados, à princípio, dependendo de sua composição
química, recebendo denominações como carboidratos, proteínas,
lipídios, vitaminas, minerais, etc. No Ayurveda, tal classificação
baseia-se na ação biológica dos gêneros alimentícios e em seu
rasa (sabor). Por exemplo, baseando-se em seu conteúdo de
carboidratos, todas as variedades de arroz devem ser conside-
radas como um único grupo. Mas o Ayurveda considera que o
arroz colhido recentemente é pesado para a digestão, e esta
característica altera kapha. Se utilizado continuamente, produz
muitas complicações. Mas o arroz estocado por mais de seis
meses é considerado leve e mais benéfico para o indivíduo
normal. O arroz recentemente colhido produz mais gordura
corporal do que o arroz envelhecido. Portanto, para um indivíduo
que possui um bom poder digestivo, o arroz novo é nutritivo,
enquanto que para o indivíduo obeso, mesmo sem bom poder
digestivo, o arroz envelhecido é nutritivo.
Há três tipos de arroz denominados sali, sastika e vrihi.
Com relação à botânica, todos pertencem à mesma família e
espécie. O nome latino é Oryza sativa (Linn.) Mas de acordo com
o Ayurveda, há uma grande diferença em seu valor nutritivo.

177
Enquanto os tipos sali e sastika aliviam os doshas e mantém seu
equilíbrio, o terceiro tipo de arroz desequilibra-os.
Existem muitos outros ingredientes alimentícios
constituídos quimicamente de amido considerados produtores de
um efeito depletivo sobre o corpo humano. Por exemplo, o tipo de
milho koradusa (Paspalum scrobiculatum, Linn.) produz um efeito
depletivo e reduz rapidamente a gordura do corpo.
Grãos comestíveis contém geralmente proteínas, mas de
acordo com o Ayurveda alguns deles, como masa (Phaseolus
mungo, Linn.), são considerados leves para a digestão, reduzindo
a gordura corporal. O kulattha (Dolichos biflorus, Linn.), por outro
lado, é excessivamente nutritivo para estes tipos de pacientes.
O Ayurveda enfatiza a dieta adequada para o tratamento
dos pacientes. Para todas e para cada uma das doenças são
descritos os gêneros alimentícios saudáveis e insalubres.
Classificação dos Gêneros Alimentícios e das Bebidas
No Ayurveda, os ingredientes utilizados nas dietas são
classificados em 12 grupos, a seguir:
1. Sukadhanya (cereais com cerdas)
2. Samidhanya (grãos comestíveis)
3. Mamsa (carnes)
4. Saka (vegetais)
5. Phala (frutas)
6. Harita (saladas)
7. Madya (vinhos)
8. Ambu (água)
9. Gorasa (leite ou laticínios)
10.Iksuvikara (produtos do açúcar de cana)
11.Krtanna (preparações alimentares)
12.Aharayogin (gêneros alimentícios acessórios)

178
 Sukadhanya (cereais com cerdas)
O primeiro grupo, cereais com cerdas, é subdividido nas
seguintes categorias:
Sali, sastika, vrihi - três tipos diferentes de arroz
Syamaka (Setaria italica, Beauv.)
Yava (cevada)
Godhuma (trigo)

 Samidhanya (grãos comestíveis)


As propriedades dos seguintes grãos são descritas com
muita freqüência:
Masa (Phaseolus radiatus, Linn.)
Rajamasa (Vigna cylindrica, Skeels.)
Kulattha (Dolichos biflorus, Linn.)
Makustha (Phaseolus aconitifolius, Jacq.)
Canaka (Cicer arietinum, Linn.)
Tila (Sesamum indicum, Linn.)
Simbi (Dolichos lablab, Linn.)
Adhaki (Cajanus cajan, Millsp.)
Avalguja (Psoralea coryfolia, Linn.)
Nispava (Um tipo de simbi)
Kakandoma (um tipo de simbi)
Atmagupta (Mucuna prurita, Hook.)
Uma (Linum usitatissimum, Linn.)

 Mamsavarga (carnes)
Dependendo de suas qualidades, as carnes dos animais
utilizados como alimento são classificadas em oito grupos:
1. Prasaha (animais e aves que comem aos bocados)
Go (Bos taurus)
Khara (Asinus equidae)
Asvatara (mula)

179
Ustra (Camelus dromedarius)
Asva (Equus cabalus)
Dvipi (Felis pardus)
Simha (Felis leo)
Rksa (Melusus labiatus)
Vanara (Semnopithecus)
Vrka (Canis lupus)
Vyaghra (Felis tigris)
Taraksu (Hyaena striata)
Babhru (Herpestes mungo)
Marjara (Felis domesticus)
Musaka (Mus musculus)
Lopaka (Vulpus bengalensis)
Jambuka (Canis aureus)
Syena (Accipiter gentilis)
Vantada (Canis familiaris)
Casa (Cyanocitta cristata)
Vayasa (Corvus splendens)
Sasaghni (Aquilar chrysaetos)
Madhuha (Pernis apivorus)
Bhasa (Gypatus barbatus)
Grdhra (Vulture monachus)
Uluka (Bubo bengalensis)
Kulingaka (Ploceus bengalensis)
Dhumika (Athene brama)
Kurara (Pandion heliactus)
2. Bhumisaya (animais que vivem em tocas)
Sveta Kakulimrga (Python molurus)
Syama Kakulimrga (Python molurus)
Citraprstha Kakulimrga (Python reticulus)
Kalaka Kakulimrga (Python molurus)
Kurcika (Erinaceus europaeus)

180
Cillata (Neomys fodiens)
Bheka (Rana)
Godha (Iguanidae)
Sallaka (Acanthion leucura)
Gandaka (Geckonida)
Kadali (Marmota)
Nakula (Herpestes mungo)
Svavit (Manis pentadactyl)
3. Anupa (animais que habitam áreas pantanosas)
Srmara (Sus cristatus)
Camara (Poephagus grumnicus)
Khadga (Rhinocerus unicornis)
Mahisa (Bos bubalus)
Gavaya (Bos frontalis)
Gaja (Elaphus indicus)
Nyanku (Cervus porcinus)
Varaha (Sus scrofa)
Ruru (Rucervus durancelli)
4. Varisaya (animais aquáticos)
Kurma (Chelonia)
Karkataka (Brachyura)
Matsya (Pisces)
Sisumara (Dolphinus gangetica)
Timingila (Cetacea)
Sukti (Margaritifera)
Sankha (Gastropode)
Udra (Peixe-gato)
Kumbhira (Crocodylus porosus)
Culuki (Neomeris phocaenoides)
Makara (um grande crocodilo indiano)
5. Varicara (aves que se movimentam na água)
Hamsa (Cynus olor)

181
Krauñca (Anthropoides virgo)
Balaka (Ardea nivea)
Baka (Ardea goliath)
Karandava (Anser albifrons)
Plava (Pelicanus onocrotalus)
Sarari (Rhynchops)
Puskarahva (Ardea sibirica)
Kesari (Oedienemus crepitans)
Manitundaka (Haematopus ostrolegus)
Mrnalakantha (Plotus anginga)
Kadamba (Anser anser)
Kakatunda (Sterna hirandu)
Utkrosa (Anas platyrhynchos)
Pundarikaksa (Nyroca ferina)
Megharava (Cygnus buccinator)
Ambukukkuti (Gallinula chloropus)
Ara (Recurvirostra avocetta)
Nandimukmkhi (Phoenicopterus roseus)
Vati (Podiceos ruficellis)
Sumukha (Oceanitidae)
Sahacari (petrel)
Rohini (Anas crecia)
Kamakali (Phaethon rubricauda)
Sarasa (Megalornis grus)
Raktasirsaka (Ardea purpurea)
Cakravaka (Anas cascara)
6. Jangala (animais que habitam florestas de terra seca)
Prsata (Cervus axis)
Sarabha (Cervus canadensis?)
Rama (Cervus elaphus)
Svadamstra (Tregulus meminna)
Mrgamatrka (Cervus elaphus)

182
Sasa (Leporidae)
Urana (Ovis vignei)
Kuranga (Antilope cervicapra)
Gokarna (Antilope picta)
Kottakaraka (Cervus muntjae)
Caruska (Gazelle bennetti)
Harina (Antilope cervicapra)
Ena (Cervus rusa)
Sambara (Cervus unicolor)
Kalapucchaka (Odocoilus?)
Krsna (Moschus moschiferus)
Varapota (Antilope cervicapra)
7. Viskira (aves galináceas)
Grupo I
Vartiraka (Coturnix coromandelia)
Kapiñjala (Francolinus vulgaris)
Vartika (Coturnix silvatica)
Cakora (Perdix rufa)
Upacakra (Perdix rufa)
Kukkubha (Coccyzus)
Raktavartma (Gallus ferruginous)
Lava (Turnix suscitates)
Grupo II
Vartaka (Turnix indica)
Vartika (Coturnix silvatica)
Barhin (Pavo cristatus)
Tittira (Arborophila torquala)
Kukkuta (Galloperdix spadicea)
Kanka (Ardeidae)
Sarapada (Ciconia boycinia)
Indrabha (Leucocerea aureola)
Gonarda (Ardea sibirica)

183
Girivartaka (Coturnix coturnix)
Krakara (Ardea virago)
Avakara (Pavo cristatus)
Varada (Platela leucorodia)
8. Pratuda (aves que bicam)
Satapatra (Picus martius)
Brngaraja (Lanalidae)
Koyasti (Centropus chlorhynchus)
Jivañjivaka (Chalcurus)
Kairata (Pheanicophaes pyrrhocephalus)
Kokila (Endynamis honorata)
Atyuha (Molpastes haemorrhous)
Gopaputra (Molotthrus)
Priyatmaja (Argya caudata)
Latta (Musciapidae atricapilla)
Lattasaki (Musciapidae techitrea)
Babhru (Pega de Bengala)
Vataha (Dendrocitta rufa)
Dindimanaka (Ramphistos piscivorous)
Jati (Upapa indica)
Dundubhi (Lophoceros birostris)
Pakkara (Thereiceryx zeylonicus)
Lohaprstha (Alcedo ispida)
Kulingaka (Ploceus bengalensis)
Kapota (Chalesphaps indica)
Suka (Psittacula spengeli)
Saranga (Palaeonis torquatus)
Cirati (Timelidae)
Kanku (Torquatus rosa)
Yastika (Nectarinidae)
Sarika (Tordus salica)
Kalavinka (Passer domesticus)

184
Cataka (Passer montanus)
Angaracudaka (Microscelsis psaroidies)
Paravata (Columba treron)
Pandavika (Columba palumbas)

 Saka varga (vegetais)


As propriedades dos seguintes vegetais estão relacionadas
com freqüência no Ayurveda:
Patha (Cissampelos pareira, Linn.), susa (Cassia occidentalis,
Linn.), sati (Hedychium spicatum, Ham. e Smith.), vastuka
(Chenopodium album, Linn.), susisannaka (Marsilea minuta,
variedade indica), kakamaci (Solanum nigrum, Linn.),
rajaksavaka (Euphorbia microphylla, Heyne), kalasaka
(Corchorus capsularis, Linn.), kalaya (Lathyrus sativus, Linn.),
cangeri (Rumex dentatus, Linn.), upodika (Basella rubra, Linn.),
tanduliyaka (Amaranthus tricolor, Linn.), mandukaparni (Centelha
asiática, Urban.), brotos tenros de vetra (Salix caprea, Linn.),
kucela (uma variedade de Cissampelos pareira, Linn.), vanatikta
(Cyclea peltata), karkotaka (Momordica dioica, Roxb.), avalguja
(Psoralea corylifolia, Linn.), patola (Trichosanthes cucumerina,
Linn.), sakuladani (Picrorhiza kurroa, Royle e Benth.), flores de
vrsa (Adhatoda vasica, Nees.), variedade arredondada de kalaya
(Lathyrus aphaca, Linn.), kembuka kathillaka (Boerhaavia
diffusa, Linn.), gojihva (Onosma bracteatum, Wall.), vartaka
(Solanum melongena, Linn.), tilaparni (Gynandropsis gynandra,
Briquet), karavellaka (Momordica charantia, Linn.), nimba
(Azadirachta indica, A. Juss.), parpataka (Fumaria parviflora,
Lam.)

 Phalavarga (frutas)
As seguintes frutas são geralmente descritas no Ayurveda:
Kharjura (Phoenix sylvestris, Roxb.), phalgu (Ficua hispida, Linn.
f.), amrataka (Spondias pinnata, Kurz.), bhavya (Dillenia indica,

185
Linn.), parusaka (Grewia asiatica, Linn.), draksa (Vitis vinifera,
Linn.), badara (Zizyphus jujuba, Lam.), aruka (Prunus persica,
Batsch.), karkandhu (Zizyphus nunmularia, W. e A.), nikuca
(Artocarpus lakoocha, Roxb.), paravata (Psidium guajava, Linn.),
kasmarya (Gmelina arborea, Linn.), tanka (Pirus communis,
Linn.), kapittha (Feronia limonia, Swingle), bilva (Aegle
marmelos, Corr.), amra (Mangifera indica, Linn.), jambu
(Sysygium cumini, Skeels), badara (Zizyphus jujuba, Lam.),
gangeruki (Grewia populifolia, Vahl.),harira (Capparis decidua,
Edgew.),bimbi (Coccinia indica, W. e A.), todana (uma variedade
de Grewia populifolia, Vahl.), dhanvana (Grewia tiliaefolia, Vahl.),
panasa (Artocarpus heterophyllus, Lam.), moca (Musa
paradisiaca, Linn.), rajadana (Mimusops hexandra, Roxb.), lavali
(Cicca acida, Merrill), nipa (Anthocephalus indicus, A. Rich.),
satahvaka (Asparagus racemosus, Willd.), pilu (Salvadora
persica, Linn.), tirnasunya (Pandanus tectorius, Soland.),
vikankata (Gymnosporia spinosa, Fiori), pracinamalaka
(Flacourtia jangomas, Raeusch.), ingudi (Belantites aegypatiaca,
Delile), tinduka (Dispyros peregrina, Gurke), bibhitaka
(Terminalia belerica, Roxb.), viksamla (Tamarindus indica, Linn.),
amlavetasa (Rheum emodi, Wall.). karcura (Hedychium
spicatum, Ham. e Smith), nagaranga (Citrus reticulata, Blanco),
vatama (Prunus amygdalus, Batsch.), aksota (Juglans regia,
Linn.), mukula (Pistacia vera, Linn.), nikuca (Artocarpus
lakoocha, Roxb.), urumana (Prunus armeniaca, Linn.),
slesmataka (Cordia dichotama, Forst. F.), ankota (Alangium
salviifolium, Wang.), sami (Prosopis spicigera, Linn.), karañja
(Pongamia pinnata, Merr.), amrataka (Spondias pinnata, Kurz.),
dantasatha (Citrus medica, Linn.), karamarda (Carissa carandas,
Linn.), asvattha (Ficus religiosa, Linn.), udumbara (Ficus
racemosa, Linn.), plaksa (Ficus lacor, Buch. e Ham.), nyagrodha

186
(Ficus bengalensis, Linn.) e bhallataka (Semecarpus
anacardium, Linn. F.)

 Harita varga (vegetais utilizados crus)


Jambira (Citrus medica, Linn.), surasa (Ocimum sanctum, Linn.),
yavani (Trachyspermum amni, Sprague), arjaka (Ocimum
gratissimum, Linn.), sigru (Moringa oleifera, Lam.), saleya
(Trigonella foenumgraecum, Linn.), mrstaka (Brassica nigra,
Koch.), gandira (Euphorbia antiquorum, Linn.), jala pippali
(Commelina salicifolia, Roxb.), tumburu (Xanthoxylum alatum,
Roxb.), bhustrna (Cymbopogon citratus, Staph.), kharahva
(Trachyspermum roxburghianum, Sprague), dhanyaka
(Coriandrum sativum, Linn.), ajagandha (Gynandrapsis
gynandra, Briquet.), palandu (Allium cepa, Linn.) e lasuna (Allium
sativum, Linn.)
 Madya varga (bebidas alcoólicas)
As bebidas alcoólicas relacionadas a seguir são
freqüentemente descritas no Ayurveda:
Sura, mad ra, jagala, arista, sarkara, pakvarasa, sitarasika,
gauda, aksiki, surasava, madhvasava, maireya, dhatakyasava,
asava, sauviraka e tusodaka.

 Jala varga (vários tipos de água)


No Ayurveda, as propriedades dos diferentes tipos de água
são descritas em detalhes. Os textos fornecem características da
água da chuva coletada durante as diferentes estações e da água
dos rios que passam através de diferentes tipos de terra, de várias
regiões da Índia. As águas de represa, poço, lago, fonte, tanque,
cascata e do oceano são descritas com referência especial aos
seus efeitos benéficos ou prejudiciais.

187
 Gorasa varga (derivados do leite)
As propriedades do leite proveniente de diferentes tipos de
animais como a vaca, a égua, a cabra, as fêmeas do camelo, do
asno, do elefante, do búfalo e o leite da mulher são descritos em
detalhes. As qualidades benéficas e prejudiciais do iogurte, da
nata, manteiga e do ghee são também descritas.

 Iksu varga (produto da cana de açúcar)


As propriedades do suco de diferentes tipos de cana-de-
açúcar são descritas em detalhes. Vários produtos derivados da
cana-de-açúcar, assim como o próprio açúcar e o melaço também
estão descritos com relação aos seus efeitos benéficos e
prejudiciais. As propriedades do mel produzido por diferentes
espécies de abelhas também estão relatadas dentro deste grupo.

 Krtanna varga (preparações de alimentos cozidos)


As propriedades das diferentes preparações de arroz, trigo,
cevada, frutas, sucos, sopas, vegetais, grãos e leite estão
descritas.

 Aharayogi varga (acessórios das preparações)


São descritas as propriedades dos óleos utilizados na
cocção dos alimentos, por exemplo, óleos de gergelim, de
mostarda, de rícino, o óleo extraído da priyala (Buchanania
lanzan, Spreng,) e kusumbha (Carthamus tinctorius, Linn.), além
dos efeitos benéficos e prejudicias dos condimentos, especiarias,
sais e álcalis.

188
CAPÍTULO 7

DROGAS

As descrições das propriedades das dietas e drogas


Ayurvédicas baseiam-se em seus sabores. São as seguintes:
Ações do Sabor Doce
As drogas e dietas com sabor doce são saudáveis para o
corpo e como tal potencializam o desenvolvimento de rasa (fluido
corporal), do sangue, dos músculos, gordura, medula óssea, do
sêmen e da longevidade. Proporcionam suavidade aos seis
órgãos sensoriais, promovem vigor e compleição, aliviam pitta,
vata e os efeitos dos venenos. Eliminam a sede e a sensação de
queimação, proporcionam vigor e uma pele, cabelos e voz
saudáveis. Suavizam, revigoram e nutrem. Fornecem estabilidade
e curam a consumpção e o enfraquecimento. São calmantes para
o nariz, boca, garganta, lábios e língua e aliviam o espasmo. Tais
substâncias são gordurosas, frias e pesadas.
Ações do Sabor Azedo
Tais drogas tornam os alimentos mais saborosos,
estimulam o apetite, a nutrição e a energia corporal, clareiam a
mente, aumentam o vigor dos órgãos sensoriais, promovem vigor,
aliviam vata, nutrem o coração, causam salivação e agem como
auxiliares na deglutição, na umectação e na digestão do alimento.
São refrescantes, leves, quentes e gordurosas.

189
Apesar destas boas qualidades descritas acima, se tais
gêneros alimentícios forem utilizados em excesso, causam sede,
sensação desagradável nos dentes, fechamento dos olhos,
horripilação, liquefação de kapha, distúrbio de pitta, desequilíbrio
de rakta, decomposição muscular, amarelecimento do corpo,
edema em pacientes que passam por processo de debilidade,
emagrecimento, caquexia e consumpção.
Devido à sua qualidade quente, causam supuração de
lesões resultantes de ulceração, traumas, mordidas contagiosas,
contato com animais venenosos, queimaduras, fraturas, edemas,
luxação, contusões, excisões, incisões, deslocamentos,
perfurações, esmagamentos e do contato com veneno de urina .
Causam sensação de queimação na garganta, no peito e na
região cardíaca.
Ações do Sabor Salgado
As drogas que possuem sabor salgado auxiliam na
produção de viscosidade, na digestão, na incisão, na extirpação e
nas flatulências. São penetrantes, móveis, vikasa (purificadoras ou
antiespasmódicas), laxativas e avakasakara (desobstrutoras).
Aliviam vata, curam a rigidez, a obstrução e os acúmulos, anulam
o efeito de outros sabores, causam salivação, liquefazem kapha,
clareiam os canais de circulação, restituem a sensibilidade de
todos os órgãos corporais e dão mais sabor aos alimentos. São
ingredientes essenciais do alimento. Não são nem muito pesados
e gordurosos nem quentes.
Apesar de todas estas qualidades benéficas mencionadas,
se utilizadas em excesso causam distúrbios de pitta, desequilíbrio
de rakta, sede, desmaios, sensação de calor, erosão, depleção de
tecido muscular, crostas nas partes do corpo afetadas por
doenças crônicas de pele, incluindo a hanseníase, piora dos
sintomas de envenenamento, supuração das partes inflamadas,
deslocamento dos dentes, redução da virilidade, bloqueio da

190
função sensorial e produção de rugas, calvície e cabelos grisalhos
precocemente.
Causam também doenças como rakta pitta (condição
caracterizada por sangramento através de diferentes partes do
corpo), amla pitta (dispepsia ácida), visarpa (doença de pele
aguda disseminada), vatarakta (gota), vicarcika (um tipo de
erupção de pele) e alopécia.
Ações do Sabor Pungente
As drogas e as dietas que possuem sabor pungente
conservam a boca limpa, promovem a digestão, auxiliam na
absorção do alimento, provocam secreção nasal, lacrimejamento,
favorecem a adequada atividade dos órgãos sensoriais, curam
doenças como inércia intestinal, obesidade, urticária, conjuntivite
crônica, auxiliam na eliminação dos produtos residuais que são
viscosos por natureza e produzem efeitos como fomentação e
oleação, dão mais sabor aos alimentos, curam o prurido,
diminuem o desenvolvimento excessivo das úlceras, são
bactericidas, consomem os tecidos musculares, dissolvem os
coágulos de sangue e outras obstruções, purificam as passagens
e aliviam kapha. São leves, quentes e gordurosas.
Apesar de todos estes aspectos benéficos, se utilizadas
em excesso, reduzem a virilidade como conseqüência de seu
vipaka, afetam a potência devido ao seu sabor e causam também
inconsciência, fadiga, asma, emagrecimento, desmaios, choque,
vertigem, sensação de queimação na garganta, produzem calor
excessivo e sede, além de reduzirem o vigor em virtude de sua
ação específica.
Causam também tremor, sensação de queimação,
vertigem, dores em pontada e em facada nas pernas, mãos e
dorso etc. como conseqüência da predominância de vayu e agni
mahabhutas.

191
Ações do Sabor Amargo
As drogas e as dietas que possuem sabor amargo não são
saborosas por si mesmas, mas quando adicionadas a outras
substâncias promovem sabor aos alimentos. São antitóxicas e
germicidas. Curam a sensação de queimação, o prurido, doenças
crônicas de pele, incluindo hanseníase, sede, desmaios e febre.
Promovem firmeza à pele e músculos. Possuem ação carminativa
e digestiva, purificam o leite, causam ressecamento e auxiliam na
redução da umidade, da gordura muscular, do suor, da urina, das
fezes, de pitta e kapha. São untuosas, frias e leves.
Apesar de todas as qualidades benéficas mencionadas
acima, se utilizadas em excesso, como conseqüência de sua
aspereza, não-oleosidade e não-viscosidade, estas substâncias
causam depleção do plasma, do sangue, da gordura muscular, da
medula óssea e do sêmen. Elas produzem aspereza nos canais
circulatórios, reduzem o vigor, causam emagrecimento, fadiga,
inconsciência, vertigens, ressecamento da boca e produzem
outras patologias resultantes do desequilíbrio de vata.
Ações do Sabor Adstringente
As drogas e os alimentos que possuem sabor adstringente
são sedativas e constipantes. Produzem pressão sobre a área
afetada e causam granulação, absorção e rigidez. Aliviam kapha e
rakta pitta (uma doença causada por sangramento de várias
partes do corpo). Absorvem o fluido corporal e são secas, frias e
pesadas.
Apesar de todas estas qualidades benéficas, se tais
substâncias forem utilizadas em excesso, causam ressecamento
da boca, sensação de angústia no coração, distensão abdominal,
obstrução da fala, constricção dos canais circulatórios, compleição
negra e depleção da virilidade. Sua digestão é lenta e podem
obstruir a passagem dos flatos, da urina, das fezes e do sêmen;

192
causam emagrecimento, fadiga, sede e rigidez. Como
conseqüência de características como aspereza, ação secativa e
não-viscosidade produzem doenças como hemiplegia, espasmos,
convulsões, paralisia facial etc. resultantes do desequilíbrio de
vata.
Classificação das Drogas Ayurvédicas
Em geral, as drogas Ayurvédicas consistem de produtos
vegetais, minerais e animais e podem ser classificadas em cinco
categorias:
1.Drogas científicamente estudadas: Algumas drogas e
compostos, por exemplo, sarpagandha (Rauwolfia serpentina,
Benth e Kurz) e yogaraja guggulu foram estudadas cientificamente
e as considerações terapêuticas feitas a seu respeito foram
verificadas. Sarpagandha é indicada na hipertensão e yogaraja
guggulu para o reumatismo. A resina de uma planta chamada
guggulu (Commiphora mukul, Engl.) é um ingrediente importante
na preparação do medicamento yogaraja guggulu.
2.Drogas populares não-tóxicas: Alguns medicamentos
Ayurvédicos são populares por sua utilidade terapêutica e
absolutamente não-tóxicas. Uma destas drogas chama-se
Cyavanaprasa. Amalaki (Emblica officinalis, Gaertn.) é o
ingrediente mais importante deste medicamento, útil no tratamento
de doenças pulmonares crônicas como a bronquite e a
tuberculose.
3.Drogas eficazes mas tóxicas: Há algumas drogas (por
exemplo, Bhallatakavaleha) que possuem valor terapêutico
conhecido mas que produzem toxicidade severa se usadas sem
critérios. A Ballataka (Semecarpus anacardium, Linn.) é o
ingrediente mais importante deste medicamento o qual é
empregado no tratamento de doenças crônicas de pele,
resistentes ao tratamento.

193
4.Drogas de uso raro: Por exemplo, Srivisnutaila apesar de
mencionada nos clássicos Ayurvédicos não é extensivamente
utilizada. Apenas médicos de certas regiões da Índia fazem uso
das mesmas e afirmam sua eficácia.
5.Drogas hereditárias e patenteadas: Alguns médicos
especializaram-se na cura de certas patologias. A formulação e os
métodos de preparação das drogas por eles administradas são
conhecidos apenas pelos mesmos ou por membros de confiança
de sua família. Algumas destas drogas não são eficazes como
afirmam, mas outras são muito benéficas. Na maioria dos casos
os médicos não concordam em revelar a fórmula e, mesmo
quando concordam em fazê-lo requerem uma elevada
compensação.
Preparações Compostas
Geralmente, são utilizadas nas drogas Ayurvédicas as
preparações combinadas. Com freqüência, é o efeito completo de
todos os ingredientes da formulação que representa um papel vital
na terapêutica, melhor do que a ação das drogas isoladas.
Considera-se que as combinações de drogas sirvam para os
seguintes propósitos:
1.Ação sinérgica: Trnapañcamula kvatha representa um caso de
ação sinérgica. Apesar de todos os ingredientes deste grupo
serem individualmente conhecidos como diuréticos, quando
administrados juntos produzem acentuada diurese, um efeito não
observado em drogas individuais.
2.Ação combinada: O caso de Rasnasaptaka kvatha, utilizado
nas patologias reumáticas, ilustra a ação combinada de um
medicamento Ayurvédico. Para a cura do reumatismo, conhecido
no Ayurveda como amavata, o medicamento deve possuir ação
sedativa, digestiva, laxante e antiinflamatória. Dentre todos os
ingredientes desta droga, rasna é antiinflamatório e sedativo; o
gengibre promove a digestão e a raiz de eranda é um laxante.

194
3.Neutralização da toxicidade: Um exemplo é o caso da droga
Agnitundivati. O componente kupilu (Strychnos nux-vomica, Linn.)
é um irritante dos nervos. Não pode ser ingerido isoladamente na
elevada dosagem necessária para torná-la terapeuticamente
eficaz. Entretanto, é tolerada quando ingerida em combinação
com outras drogas especialmente após ser submetida ao sodhana
ou purificação (desintoxicação).
4.Ação específica: Um exemplo é o caso de Cyavanaprasa. O
ingrediente pippali (Piper longum, Linn.) adicionado a esta
preparação apresenta um efeito aquecedor combinado a uma
propriedade antituberculosa. O efeito aquecedor da preparação é
neutralizada através da adição de outras drogas frias como
amalaki (Emblica officinalis, Gaertn.) Portanto, deixa-se o
medicamento com um acentuado efeito antituberculoso.
Conservando na mente estes itens, várias fórmulas são descritas
para preparações medicinais nos clássicos Ayurvédicos.
Nomes das Formulações de Drogas
Os nomes das formulações baseiam-se geralmente nos
seis fatores a seguir:
1.Importância do ingrediente: Algumas preparações são
denominadas depois do ingrediente mais importante, por exemplo,
Amalaki rasayana.
2.Autoria: O nome do sábio ou rsi que descobriu ou padronizou
primeiramente a fórmula é utilizado na denominação da droga, por
exemplo, Agastya haritaki.
3.Propriedade terapêutica: Doenças para as quais as fórmulas
estão indicadas são, eventualmente, utilizadas para denominar a
preparação, por exemplo, Kusthaghna lepa.
4.O primeiro ingrediente da fórmula: A droga que encabeça a
lista na fórmula é eventualmente utilizada na denominação da
preparação, por exemplo, Pippalyasava.

195
5.Quantidade de determinada droga: Eventualmente, a
preparação é denominada após a quantidade da droga utilizada,
por exemplo, Satpala ghrta.
6.Parte da planta: A droga é denominada, às vezes, após o nome
da parte da planta empregada, por exemplo, Dasamula kasaya.
Processos Farmacêuticos
No Ayurveda, diferentes processos farmacêuticos são
utilizados na preparação das drogas. Além de auxiliar no
isolamento da fração terapeuticamente eficaz das mesmas, estes
processos ajudam a tornar os medicamentos facilmente
administráveis, mais saborosos, digestíveis e assimiláveis,
terapeuticamente mais eficazes, menos tóxicos, mais toleráveis e
podem ser conservados por mais tempo.
Sodhana ou Purificação
Algumas drogas brutas necessitam de sodhana antes de
serem utilizadas. O significado literal da palavra sodhana é
―purificação‖, mas é freqüentemente mal interpretada para
determinar que a substância apresentada é física e quimicamente
pura. Sodhana, sem dúvida, apresenta pureza física e química em
alguma extensão. Mas, às vezes, mais impurezas são adicionadas
à substância durante certos estágios do processamento. Através
destas adições, a droga torna-se menos tóxica e terapeuticamente
mais eficaz. O acônito puro, por exemplo, não pode ser
administrado tão livremente quanto o acônito sodhita. Esta droga,
que é um depressor da atividade cardíaca, torna-se um esti-
mulante cardíaco após o sodhana com urina de vaca. Portanto, o
processo real de sodhana necessita de um estudo detalhado e,
além disso, a precisão em submeter as preparações
medicamentosas a estes procedimentos deve ser avaliada pelo
efeito terapêutico dos produtos finais.

196
Algumas resinas vegetais, como o guggulu e certas drogas
que contém óleos voláteis, como o kustha também necessitam
submeter-se ao sodhana através da fervura com leite, urina de
vaca etc. Entretanto, a fervura reduz o conteúdo de óleos voláteis
da droga, os quais admite-se serem terapeuticamente muito
ativos.
Melhores Drogas, Dietas e Condutas
No Ayurveda, as seguintes drogas, dietas e com-
portamentos são considerados os melhores em certas condições:
1. Anna ou alimento é o melhor remédio para a sustentação da
vida.
2. Água é a melhor terapia para a produção de um efeito
suavizante.
3. Vinho é o melhor tratamento para dissipar a fadiga e é
hilariante.
4. Leite é o melhor revigorante.
5. Carne é o melhor alimento para a nutrição.
6. Sopa de carne é o mais refrescante.
7. Sal é o melhor para tornar a comida saborosa.
8. Coisas azedas são as melhores para um bom paladar.
9. Carne de galo é a melhor para promover vigor.
10. Mel é o melhor para aliviar kapha e pitta.
11. Ghee é o melhor alimento para aliviar vata e pitta.
12. Óleo de gergelim é o melhor para eliminar vata e kapha.
13. Eméticos são os melhores tratamentos para eliminar kapha.
14. Purgação é a melhor terapia para eliminar pitta.
15. Enema (tanto anuvasana quanto asthapana) é o melhor
tratamento para eliminar vata.
16. Fomentação é a melhor para proporcionar suavidade ao
corpo.
17. Exercício é o melhor para proporcionar firmeza.
18. Álcalis são os melhores para causar impotência.

197
19. Tinduka (Diospyros peregrina, Gurke) é o melhor para tornar
os gêneros alimentícios não dietéticos mais saborosos.
20. Ghee de leite de ovelha gera um efeito prejudicial no coração.
21. Leite de cabra é o melhor para gerar salubridade e efeitos
galactogogos, curar a consumpção e rakta pitta (doença
caracterizada por sangramentos em diversas partes do corpo).
22. Leite de cabra desequilibra kapha e pitta.
23. Leite de fêmea de búfalo é o melhor para induzir o sono.
24. Comida preparada com gavedhuka (Triticum aestivum, Linn.) é
a melhor para o emagrecimento.
25. Cana-de-açúcar é a melhor para produzir efeitos diuréticos.
26. Cevada é o melhor alimento para aumentar a quantidade de
fezes.
27.Jambu (Syzygium cumini, Skeels.) altera vata.
28. Kulattha (Dolichos biflorus, Linn.) causa amla pitta (dispepsia
ácida)
29. Masa (Phaseolus radiatus, Linn.) desequilibra kapha e pitta.
30. Fruto da madana (Randia dumentorum, Lam.) é o melhor para
induzir vômitos e para os tipos de enemas asthapana e
anuvasana.
31. Trivrt (Operculina turpethum, Silva Manso) é o melhor para
induzir purgação leve.
32. Aragvadha (Cassia fistula, Linn.) é o melhor para produzir
purgação moderada.
33. Leite de snuhi (Euphorbia nerifolia, Linn.) é o melhor para
produzir purgação forte.
34. Apamarga (Achyranthes aspera, Linn.) é o melhor para
eliminar doshas localizados na cabeça.
35. Vidanga (Embelia ribes, Burm. F.) é o melhor para eliminar
parasitas.
36. Sirisa (Albizzia lebbeck, Benth.) é o melhor para produzir
efeitos antitóxicos.

198
37. Khadira (Acacia catechu, Willd.) é o melhor para curar
doenças crônicas de pele, resistentes ao tratamento, incluindo a
hanseníase.
38. Rasna (Pluchea lanceolata, Oliver e Hiern) é o melhor para
aliviar vata (doenças resultantes do desequilíbrio de vata).
39. Amalaka (Emblica officinalis, Gaertn.) é o melhor para produzir
rejuvenescimento.
40. Haritaki (Terminalia chebula, Linn.) é o melhor para produzir
efeitos saudáveis.
41. Raiz de eranda (Ricinus communis, Linn.) é a melhor para
aumentar a virilidade e aliviar vata.
42. Raiz de pippali (Piper longum, Linn.) é a melhor para promover
digestão, alívio da constipação e como antiflatulenta.
43. Raiz de citraka (Plumbago zeylanica, Linn.) é a melhor para
promover digestão, para curar hemorróidas, dores em cólicas e
age como antiflatulenta.
44. Puskaramula (Inula racemosa, Hook. F.) é o melhor
medicamento para curar soluços, dispnéia, tosse e dor no peito.
45. Musta (Cyperus rotundus, Linn.) é o melhor para causar efeito
adstringente, promover a digestão e como antiflatulento.
46. Udicya (Pavonia odorota, Willd.) é o melhor para produzir um
efeito refrescante, promover a digestão, curar vômitos e diarréia e
é antiflatulento.
47. Syonaka (Oroxylum indicum, Vent.) é o melhor para produzir
um efeito adstringente, promover a digestão e a antiflatulência.
48. Ananta (Hemidescus indicum, R.B.) é o melhor para produzir
um efeito adstringente e curar rakta pitta (doença caracterizada
por sangramento através de diferentes partes do corpo)
49. Guduci (Tinospora cordifolia, Miers.) é o melhor para produzir
um efeito adstringente, promover a digestão e aliviar vata, kapha,
constipação e rakta pitta (idem 48).

199
50. Bilva (Aegle marmelos, Corr.) é o melhor para produzir efeito
adstringente, promover a digestão e aliviar vata e kapha.
51. Ativisa (Aconitum heterophyllum, Wall.) é o melhor para
produzir um efeito adstringente, promover digestão, antiflatulência
e alívio de todos os doshas.
52. Pólen de utpala (Nymphaea alba, Linn.), kumuka (uma
variedade de utpala) e padma (Nelumbo nucifera, Gaertn.) são os
melhores para produzir um efeito adstringente e aliviar rakta pitta.
53. Duralabha (Fagonia cretica, Linn.) é o melhor para aliviar
kapha e pitta.
54. Priyangu (Callicarpa macrophylla, Vahl.) é o melhor para
combater os ataques agudos de rakta pitta.
55. Casca de kutaja (Holarrhena antidysenterica, Wall.) é a melhor
para proporcionar um efeito adstringente e aliviar kapha, pitta e
rakta.
56. Fruta de kasmarya (Gmelina arborea, Linn.) causa hemostasia
e cura rakta pitta.
57. Prsniparni (Uraria picta, Desv.) é o melhor para causar um
efeito adstringente, aliviar vata e proporcionar digestão e
virilidade.
58. Salaparni (Desmodium gangeticum, D.C.) é o melhor para
produzir um efeito afrodisíaco e aliviar todos os doshas.
59. Bala (Sida cordifolia, Linn.) é o melhor para produzir um efeito
adstringente, promover vigor e aliviar vata.
60. Goksura (Tribulus terrestris, Linn.) é o melhor para curar a
disúria e distúrbios de vata.
61. Extrato de hingu (Ferula foetida, Regel) é o melhor para
causar excisão, promover a força da digestão, os movimentos
descendentes do vento e aliviar kapha e vata.
62. Amlavetasa (Rheum emodi, Wall.) é o melhor para ocasionar
purgação, promover a força digestiva, os movimentos
descendentes do vento e aliviar vata e kapha.

200
63. Cinzas de cevada é o melhor para proporcionar um efeito
laxativo, causar antiflatulência e curar hemorróidas.
64. Uso habitual de manteiga de leite é o melhor para curar
grahani (espru), edema, hemorróidas e complicações decorrentes
da administração inadequada de ghee (terapia de oleação).
65. Uso habitual de sopa de carne de animais carnívoros é o
melhor para curar grahani (espru), consumpção e hemorróidas.
66. Uso habitual de leite e ghee é o melhor para causar
rejuvenescimento.
67. Uso habitual de ghee e farinha de milho torrada na mesma
proporção é o melhor para proporcionar virilidade e curar
distúrbios peristálticos.
68. Gargarejo habitual com óleo de gergelim é o melhor para
tornar a comida saborosa e dar vigor aos dentes.
69. Aplicação de pasta de sândalo é a melhor para remover o mau
cheiro e a sensação de queimação do corpo.
70. Aplicação de rasna (Pluchia lanceolata, Oliver e Hiern.) e
aguru (Aquilaria agalocha, Roxb.) na forma de ungüento são os
melhores para remover a frialdade.
71. Lamajjaka (Cymbopogon jwarancusa, Schult.) e usira
(Vetiveria zizanoides, Nash.) são os melhores para curar a
sensação de queimação, doenças da pele e sudorese.
72. Massagem e cataplasma de kustha (Saussurea lappa, G.B.
Clarke) são os melhores para aliviar vata.
73. Madhuka (Glycyrrhiza glabra, Linn.) é o melhor para
proporcionar boa visão, virilidade, cabelos saudáveis, boa voz,
pigmentação e saúde.
74. Ar fresco é o melhor para dar vida e consciência.
75. Calor é o melhor para curar indigestão, rigidez, frio, dores em
cólica e calafrios.
76. Ingestão de quantidade excessiva de alimentos causa tipos
graves de indigestão.

201
77. Ingestão de alimentos de acordo com o poder digestivo é o
melhor para promover a digestão.
78. Ingestão de alimentos no horário correto é a melhor dentre as
práticas saudáveis.
79. Supressão das necessidades básicas é a mais prejudicial
dentre as práticas.
80. Ingestão de alimentos antes que a refeição anterior tenha sido
digerida causa desequilíbrio do grahani (intestino delgado,
incluindo duodeno.)
81. Ingestão de refeições irregulares gera distúrbios no poder
digestivo.
82. Tranqüilidade é o hábito mais saudável.
83. Esforço é o hábito mais prejudicial.
84. Ato sexual com uma mulher em seu período menstrual é o
hábito mais desfavorável.
85. Celibato gera longevidade.
86. Adultério reduz a longevidade.
87. Infelicidade gera perda da virilidade.
88. Esforços extremos que excedam os limites de sua própria
capacidade reduzem o tempo de vida.
89. Tristeza causa agravamento das doenças.
90. Banho remove a fadiga.
91. Bom humor causa prazer.
92. Preocupação causa emagrecimento.

Melhores Drogas para Certas Doenças


Além das drogas, dietas e condutas descritas acima,
muitos medicamentos – simples ou compostos – estão descritos
nas obras Ayurvédicas. Existem, entretanto, algumas drogas de
maior preferência para determinadas condições patológicas. Isto é
invariavelmente levado em consideração pelos médicos

202
Ayurvédicos quando prescrevem medicamentos aos seus
pacientes. São as seguintes:
1.Musta (Cyperus rotundus,Linn.) e parpataka (Fumaria parviflora,
Lam.) são os melhores medicamentos para o tratamento de
diferentes tipos de febre.
2.Água na qual se tenha feito a imersão de um torrão de terra
queimado é o melhor para sede patológica.
3.Laja (arroz com casca frito) é o melhor para tratamento de
vômitos.
4.Silajatu (resina mineral ou um exsudato de rochas) é o melhor
para o tratamento de distúrbios urinários.
5.Amalaki (Emblica officinalis, Gaertn.) e nisa (Curcuma longa,
Linn.) são extremamente úteis no tratamento de meha (patologias
urinárias resistentes ao tratamento, incluindo diabetis mellitus).
6.Diferentes preparações de ferro (na forma de bhasma) são os
melhores para o tratamento de anemia e perda de sangue.
7.Haritaki (Terminalia chebula, Retz.) é o melhor para corrigir
distúrbios de vata e kapha.
8.Pippali (Piper longum, Linn.) é o melhor para doenças do fígado
e do baço.
9.Goma-laca é o melhor medicamento para curar fraturas ósseas.
10.Sirisa (Albizzia lebbeck, Benth.) é a melhor droga para o
tratamento de todos os tipos de envenenamento.
11 Guggulu (Commiphora mukul, Engl.) é a melhor droga para o
tratamento das doenças causadas pelo excesso de gordura e
vata. É também uma das importantes drogas utilizadas no
tratamento das ulcerações e ferimentos.
12.Vasa (Adhatoda vasica, Nees.) é a melhor droga para o
tratamento de rakta pitta (doença caracterizada por sangramentos
por várias partes do corpo), ksaya (tuberculose) e kustha
(doenças de pele crônicas, incluindo hanseníase).

203
13.Kutaja (Holarrhena antidysenterica, Wall.) é a melhor droga
para o tratamento de diarréia e disenteria.
14.Bhallataka (Semecarpus anacardium, Linn. F.) é a melhor
droga para o tratamento de hemorróidas, kustha (doenças de pele
crônicas, incluindo a hanseníase) e tumores malignos.
15.Ouro (em forma de bhasma) é o melhor tratamento para
envenenamentos e doenças cardíacas.
16.Maksika (calcopirita) é o melhor tratamento para obesidade.
17.Vidanga (Embelia ribes, Burm. F.) é a melhor droga para o
tratamento de doenças causadas por krmi (bactérias, vírus,
bacilos e parasitas intestinais).
18.Vinho e leite, assim como carne de cabrito são extremamente
benéficos para o tratamento de sosa (emagrecimento causado
pela tuberculose).
19.Haritaki (Terminalia chebula, Retz.), bibhitaki (Terminalia
belerica, Roxb.) e amalaki (Emblica officinalis, Gaertn.) são
extremamente benéficas para o tratamento de erro de refração e
cura de ferimentos.
20.Guduci (Tinospora cordifolia, Miers) é a melhor droga para o
tratamento de gota.
21.Manteiga de leite é o melhor tratamento para a síndrome do
espru.
22.Ghee envelhecido (ghee de vaca) é o melhor para o tratamento
da insanidade.
23.Brahmi (Bacopa monnieri, Pennell) é a melhor droga para
promover a memória.
24.Leite de búfalo é o melhor para induzir o sono.
25.Lasuna (Allium sativum, Linn.) é o melhor para o tratamento
dos distúrbios nervosos.
26.Manteiga misturada com açúcar mascavo é o melhor para o
tratamento da paralisia facial.

204
27.Urina e leite da fêmea do camelo são extremamente benéficos
para o tratamento de udara (doenças abdominais resistentes
incluindo as ascites).
28.Nasya (terapia inalatória) é o melhor para o tratamento de
doenças da cabeça e do pescoço.
29.Gengibre é o melhor para o tratamento da indigestão.
30.Goksura (Tribulus terrestris,Linn.) é o melhor para o tratamento
de mutrakrcchra (disúria).
31.Kantakari (Solanum xanthocarpum, Schrad. e Wendl.) é o
melhor para o tratamento de asma e bronquite.

205
CAPÍTULO 8

MÉTODOS DE PREPARAÇÃO DAS DROGAS


AYURVÉDICAS

Tendo em vista a obtenção de benefícios terapêuticos


máximos e em tornar a receita médica agradável ao paladar, são
descritos no Ayurveda diferentes processos farmacêuticos. A
seguir estão alguns dos mais importantes:

 Suco
Geralmente obtido de folhas, flores, frutas e talos macios.
Tais partes são primeiramente bem lavadas e pressionadas a frio
para a retirada de seu suco. Algumas vezes são transformadas
em uma pasta através da adição de água. Depois o suco é
extraído, passando-se a pasta através de um tecido. Alguns casos
necessitam da utilização de métodos especiais.
-Kumari (Aloe barbadensis) é uma droga muito benéfica para
jovens do sexo feminino. É comumente utilizada nos distúrbios
menstruais e desequilíbrio hormonal assim como nos distúrbios
hepáticos de ambos os sexos. Devido à sua natureza polpuda, a
extração do suco é um pouco trabalhosa. Para este propósito, a
planta deve ser primeiramente fervida no vapor ou assada sobre o
fogo para que depois o suco possa ser extraído passando-se a
planta através de um tecido. Este suco possui um sabor amargo.

206
-Bilva (Aegle marmelos) é utilizada na cura de diabetis e distúrbios
gástricos. Para a extração do seu suco, as folhas desta planta são
cobertas com lama e transformadas em uma massa redonda. Esta
é aquecida no fogo e o suco é espremido após partir-se a massa.

 Pó (Curna)
Geralmente, as folhas, os talos, as cascas e as raízes são
utilizadas para o preparo de pós. Para tal, as partes da planta são
postas a secar na sombra e então transformadas em pó. Certas
plantas devem também ser expostas ao sol enquanto secam. A
transformação em pó é feita apenas após a completa secagem, de
outro modo, o produto fica sujeito ao desenvolvimento de fungos.
Este pó deve ser estocado em recipientes de vidro secos e
herméticos e desta forma permanece terapeuticamente eficaz
durante um ano. Em geral, os pós de diferentes drogas são
misturados para torná-los mais eficazes. Plantas mais fibrosas e
lenhosas podem ser trituradas apenas com o auxílio de alguns
tipos de equipamentos. A madhuyasti (Glycyrrhiza glabra) é um
exemplo. A bhrnga raja (Eclipta alba) é uma planta comumente
utilizada em óleos capilares, administrada internamente para cor-
rigir as funções hepáticas. Para isso, o pó de katuki (Picrorhiza
kurroa) mais o sal-gema em pó são adicionados à droga. O pó de
madhuyasti (Glycyrrhiza glabra) é um bom laxante e é também
utilizado para o tratamento de reumatismo e como medicamento
rejuvenescedor.

 Decocção (Kvatha)
Preparada através da fervura das drogas em água.
Dependendo de sua dureza, adiciona-se quatro, oito ou dezesseis
partes de água até que um quarto permaneça. Esta decocção é
filtrada e utilizada como medicamento. Podem ser adicionadas a
outras substâncias como manteiga, mel, açúcar, açúcar masca-
vado indiano ou óleos.

207
 Pasta (Kalka)
A folha, a flor, a casca, o talo ou a raiz é triturada
adicionando-se água para preparar a pasta.

 Infusão (Phanta)
São em geral infusões quentes de ervas em água, por
exemplo, os clássicos chás de ervas, de hortelã, jasmim, rosa, etc.
As ervas são colocadas em infusão por poucos minutos e depois
coadas. Durante a preparação, a solução deve permanecer
coberta.

 Infusão fria (Situ kasaya)


A droga em pó é macerada em água e conservada em
repouso durante a noite. Na manhã seguinte, é passada através
de um pano e ingerida com a adição de mel, açúcar, etc. Em
geral, para este propósito, é utilizada uma colher de chá para um
copo de água. Triphala (um nome coletivo para as três plantas:
amalaki, haritaki e bibhitaka, respectivamente, Emblica officinalis,
Terminalia chebula e Terminalia belerica) é comumente utilizado
como sita kasaya. O sabor é adstringente. Adiciona-se mel para
ser administrado internamente. Para uso externo é prescrita na
lavagem dos olhos. Proporciona boa visão e poder de resistência.

 Preparação com leite (Ksira paka)


Preparado através de fervura da droga com oito partes de
leite e trinta e duas partes de água. Ao ser reduzido a um quarto,
procede-se à filtragem sendo que o produto filtrado deve ser
ingerido com a adição de açúcar, etc.

 Emplastro ou geléia (Avaleha, lehya, paka ou khanda)


Esta é uma preparação tipicamente Ayurvédica.
Geralmente junta-se a droga principal em pó ou em pasta (uma
parte) com açúcar refinado ou cristal (quatro partes), mais açúcar

208
mascavado indiano (duas partes), um líquido que pode ser o suco
ou a decocção da droga (quatro partes) e ferve-se ao fogo.
Quando a mistura adquire uma consistência semi sólida, as refe-
ridas drogas em pó, como praksepa, por exemplo, devem ser
adicionadas e devem ser bem misturadas. Depois a preparação
deve ser retirada do fogo, resfriada e à ela adiciona-se mel. Este
ungüento deve ser armazenado em pote de barro ou porcelana
untado com ghee. Quando são mencionados na receita ghee, óleo
ou pasta de drogas como amala (abóbora branca), deve-se
primeiramente aquecer o ghee ou o óleo ou então deve-se fritar a
pasta para que depois sejam adicionados o líquido, o açúcar
mascavado indiano etc. e fervidos conforme o procedimento.
Talvez Cyavana prasa seja a melhor preparação na forma de
ungüento. É um excelente tônico, rico em amalaki (Emblica offici-
nalis). É benéfico na cura de doenças pulmonares crônicas como
a bronquite crônica, tuberculose, tosse e asma.

 Ghee e óleo medicinal (taila e ghrta)


Preparados a partir da cocção do ghee ou do óleo com o
suco, a decocção ou a pasta de drogas. Geralmente são
adicionados os seguintes componentes:
-Drava ou líquido: inclui as decocções, sucos, leite, manteiga,
caldo de carne, etc. Pode ser um ou mais.
-Kalka ou pasta: uma pasta fina da droga.
-Sneha dravya ou gordura: inclui taila (óleo) e ghrta (ghee).
A menos que especificados de outra maneira, para tais
preparações a pasta deve ter um quarto de parte de ghee ou óleo
e o líquido deve ter quatro partes de ghee ou óleo. Se nenhum
líquido estiver especificado na fórmula, então deve-se utilizar
água. Quando houver quatro ou menos líquidos, cada um deles
deve ter quatro partes de óleo ou ghee. Quando houver mais de
quatro líquidos, então cada um deve conter igual quantidade de
óleo de ghee.

209
Para a preparação de ghee ou óleo medicinais, a pasta, o
líquido e o óleo ou o ghee são combinados e cozidos. A
preparação deve ser constantemente agitada para evitar que a
pasta no fundo se queime. Quando a fórmula mencionar mais que
um líquido, devem ser adicionados um após o outro. O segundo lí-
quido deve ser adicionado apenas quando o primeiro se evaporar.
Após a mistura de líquidos se evaporar, a mistura da pasta
também iniciará seu processo de evaporação. É o momento no
qual a preparação deve ser mais freqüentemente agitada para
evitar que a pasta se queime no fundo do recipiente. Se o taila ou
o óleo medicinal não estiver adequadamente cozido, haverá uma
grande quantidade de espuma na superfície do recipiente. Por
outro lado, quando a ghrta ou ghee medicinal estiver
adequadamente cozido, a grande quantidade de espuma que
havia aparecido na superfície deposita-se. Depois disso, o prepa-
rado deve ser coado. Se for necessária a adição de qualquer sal
ou preparação alcalina à fórmula, deve ser feito no óleo já coado e
muito bem misturado. A cocção do ghrta ou taila medicinais deve
ser feita sobre um fogo moderado pois é muito provável que o
calor excessivo danifique a fórmula. Estas preparações devem ser
estocadas em recipientes de vidro ou polietileno. O ghrta ou o taila
medicinais conservam sua utilidade terapêutica durante
aproximadamente um ano e meio.

 Preparações alcoólicas (Asava e arista)


São variedades de vinhos de ervas preparados por
fermentação natural com levedura. A porcentagem máxima de
álcool nestas preparações é quinze. No caso de arista, a droga é
utilizada após fervura e decoção, enquanto que para a preparação
de asava a substância não é fervida mas simplesmente
adicionada. Todas as drogas, decocções, sucos etc. são
fermentados em um recipiente adequado. Em épocas remotas era
utilizado um frasco de barro. O interior do recipiente é untado com

210
um pouco de açafrão em pó e ghee para evitar que a fórmula se
torne azeda. O frasco é lacrado e conservado durante cerca de
um mês em uma adega subterrânea, sob pilhas de cevada etc.

 pílulas (Gutika, vati e modaka)


Este tipo de medicamento é preparado em forma de
comprimidos ou pílulas. Os ingredientes individuais destas
preparações, ou seja, produtos vegetais e animais, minerais,
metais e pedras preciosas são primeiramente limpos de suas
impurezas externas e efeitos tóxicos internos. As drogas vegetais
devem ser secas e transformadas em pó fino, separadamente.
Depois o ingrediente líquido da fórmula é adicionado e tritura-se
bem até que uma fina pasta seja produzida. Caso a fórmula
mencione mais que um líquido, devem ser adicionados um após o
outro. Caso nenhum líquido esteja mencionado, deve ser
adicionada água. Após, são preparadas as pílulas no tamanho
especificado. Elas são postas a secar na sombra ou no sol
conforme mencionado no texto. Sugandha dravya (drogas com
fragrância) como a karpura (cânfora), o kasturi (almíscar) etc. são
adicionadas no final e trituradas.
Se o açúcar mascavado indiano, o açúcar etc. forem
mencionados na fórmula, então deve ser preparado um paka
(xarope) destas drogas em fogo moderado e depois misturado
com o pó das drogas. Se forem mencionados o mercúrio (parada)
e o enxofre, deve ser preparado primeiramente um kajjali
(semelhante a um fino pó preto) e depois outras drogas devem ser
adicionadas. Atualmente, ao invés de pílulas, estas fórmulas estão
sendo preparadas em forma de comprimidos, em máquinas
próprias. Para este propósito, são adicionados ingredientes que
dão liga, como a goma arábica. Se guggulu for mencionado como
um dos ingredientes, não é necessária qualquer outra substância.
Estas pílulas devem ser estocadas em frascos de vidro secos,
limpos e herméticos. Com isso, conservam sua utilidade

211
terapêutica por dois anos. Pílulas contendo minerais podem ser
utilizadas por um tempo indeterminado.

 Preparações em crosta (Parpati)


Geralmente preparadas com uma substância derretida que
é derramada sobre uma folha. Primeiro adiciona-se o kajjali
(semelhante a um pó fino preto), de parada, gandhaka ou outras
drogas em pó, em um recipiente de ferro e leva-se ao fogo. Esta
substância derretida deve ser despejada sobre uma folha de
banana ou de eranda (Ricinus communis) estendida sobre esterco
de vaca fresco. Depois outra folha é colocada sobre o preparado e
levemente pressionado espalhando-se um pouco o esterco fresco.
Quando estiver frio, a preparação semelhante a uma crosta deve
ser transformada em pó.

 Medicamentos preparados por sublimação (Kupipakva


rasayana)
Significa, literalmente, um agente rejuvenescedor
preparado em uma garrafa de vidro. Para sua preparação, drogas
de origem mineral ou metálica, muito bem misturadas em forma
de um pó fino são colocadas juntas em uma garrafa de vidro (kaca
kupi), um terço de sua capacidade. A garrafa é esfregada com um
pano cheio de barro em sete camadas consecutivas. Esta garrafa
é aquecida em valukayantra. Seu bocal é mantido aberto no início
e depois fechado. Desta forma, o enxofre é sublimado. Um bastão
de ferro quente, incandescente, é inserido na garrafa através de
sua abertura, de modo que esta não seja obstruída por uma
grossa camada de enxofre sublimado. Quando a garrafa estiver
fria, é removida cuidadosamente e partida ao meio. O sindura
depositado no gargalo é raspado com cuidado e coletado. Estas
preparações são geralmente vermelhas, amarelas ou escuras.
Elas conservam suas propriedades terapêuticas por período
indeterminado.

212
 Pisti
Preparado pela trituração da droga com os líquidos
especificados. Após a purificação, a droga é geralmente triturada
através da adição de água de rosas, a não ser que haja outra
especificação. É levada a secar à luz do sol ou da lua. Eles são
tão finos quanto bhasmas e devem ser estocados em garrafas de
vidro secas e herméticas. Mantém seus efeitos terapêuticos
durante período indeterminado.

 Colírio (Anjana)
São preparações especiais para os olhos. Estas drogas em
forma de pó fino devem ser bem trituradas através da adição do
líquido específico para produzir uma pasta macia. A partir disso,
fazem-se palitos finos.

 Metais, minerais, pedras preciosas e outros calcinados em


pó (Bhasma)
Metais e minerais são invariavelmente utilizados na forma
bhasma (calcinada). A maioria deles é tóxica quando
administrados em suas formas originais. Para propósitos
medicinais eles precisam ser transformados em substâncias não-
tóxicas e trazidas para um estado no qual sejam facilmente
absorvidos. Para a preparação de bhasma estes metais, minerais
etc. são primeiramente purificados de acordo com os
procedimentos prescritos nos clássicos. Este processo é
conhecido como sodhana no Ayurveda. Após o sodhana, segue-
se o processo de marana (eliminação). Este consiste em triturar a
droga purificada em um khalva (pilão ou almofariz de pedra) com
a adição de decocções e sucos de drogas específicas. A partir
desta pasta são preparados pequenos cakrikas (bolos), levados a
secar sob os raios de sol e colocados dentro de um sarava
samputa (dois pratos rasos de louça). A borda é lacrada com um

213
pano cheio de lama em sete camadas consecutivas. Este sarava
samputa é cozido em um buraco repleto de bolas de esterco de
vaca. Este cozimento é conhecido como putas denominados gaja
puta, maha puta, vara puta etc. O processo de trituração, feitura
das bolas e das putas é repetido tantas vezes quantas forem
mencionadas no texto. Depois o sarava samputa é removido e o
medicamento é reduzido a um pó fino através de trituração. Estes
bhasmas são geralmente amarelados, pretos, escuros, brancos,
preto-avermelhados, cinzas ou vermelhos. São conservados em
recipientes de barro ou de vidro. Não possuem sabor ca-
racterístico e mantém sua potência terapêutica indefinidamente.
Para ilustrar os fatos mencionados nos capítulos 7 e 8, três
importantes drogas serão descritas nos próximos capítulos.

214
CAPÍTULO 9

A CANNABIS E OS ANTIGOS TEXTOS


MÉDICOS

Os psicotrópicos estiveram em uso através de toda a


história1 em quase todas as culturas. A Cannabis é um dos
psicotrópicos mais largamente conhecidos e o súbito aumento em
sua utilização tornou-se causa de grave preocupação da
sociedade. O uso desta planta foi bem tolerada na cultura puritana
da Índia e, portanto, é necessário examinar a formação cultural e
histórica da utilização desta droga no país.
A idéia de eliminar as misérias terrestres tem mantido
ocupados filósofos e cientistas de todas as eras. Os meios

1‖Os produtos químicos que podem alterar o estado da mente ou do humor


têm sido administrados por médicos, feiticeiros, sacerdotes, curandeiros ou
como auto-medicação em toda a história e em quase todas as culturas.
Desde os tempos dos Vedas da Índia antiga encontramos referências à
droga soma como possuidora de propriedades místicas e aliviadoras. O
álcool foi descrito pelos egípcios como uma substância dada aos homens por
Ouris para aliviar os problemas de suas vidas. Kava kava tem sido
empregado pelos nativos da Ilha Soman por seus efeitos mentais e os índios
da América do Sul têm sido relativamente privilegiados na grande variedade
de plantas com substâncias alcalóides ingeridas para induzir alterações em
seu funcionamento mental‖. Em ―Psychotropic Drugs In the Year 2000‖, 1971,
pág. xix.

215
aprovados nas antigas escrituras indianas para subjugar estas
misérias são geralmente espirituais. Entretanto, no Yoga Sutra2
menciona-se que certos medicamentos podem ajudar no combate
a estes sofrimentos e na obtenção das perfeições espirituais
(siddhis). Embora a Cannabis não seja mencionada diretamente
nas escrituras originais como uma destas drogas, seus
seguidores3 a descreveram posteriormente como uma das plantas
que controlam as diferentes alterações da mente, dando assim
alívio às misérias. O Tantra sastra4, cujo objetivo primário é a
regulação das funções da mente, tem prescrito certas drogas com
esta finalidade e a Cannabis é uma delas.
De acordo com o Ayurveda, a Ciência da Medicina Indiana,
a saúde (arogya)5 é a base para a obtenção dos objetivos
instintivos quádruplos do homem. No Ayurveda, a saúde é um
conceito positivo que, entre outros, implica na excelência da alma,
dos sentidos e da mente6. Para a manutenção da saúde positiva,
assim como a prevenção e a cura das doenças psíquicas,
somáticas e psicossomáticas, muitas drogas têm sido prescritas
entre elas a Cannabis.
Revisão da Literatura
No Atharva Veda (xi.8(6).15) uma planta denominada
bhanga é mencionada como uma das cinco plantas sagradas
2Janmausadhi mantra tapah samadhijah siddhayah, Yoga Sutra IV:I
3Forças psíquicas de baixa qualidade podem, com freqüência, ser desen-
volvidas pelo uso de certas drogas. Muitos Fakiras na Índia utilizam certas
ervas como Gunja para o desenvolvimento da clarividência de uma categoria
inferior. Outros podem realizar muitas alterações químicas extraordinárias
através do uso de certas drogas ou ervas, mas aqueles que conhecem estes
segredos não os concedem aos outros. ―The Science of Yoga‖, 1972,
pág.381.
4Srikali Nityarcana, 1955
5Caraka Samhita: Sutra 1:15
6Susruta Samhita: Sutra 15:41

216
denominadas soma. Sayana interpretou este termo como sana
que é um tipo de mato verde, enquanto Whitney refere-se a ele
como haxixe ou Cannabis. Estudiosos, cujas opiniões podem ser
levadas em consideração, concordam com o ponto de vista de
Whitney, pois bhanga é classificada como soma, posteriormente
conhecida por suas propriedades rejuvenescedoras.
No Atharva Veda (viii.8.3) este termo bhanga surge
novamente sem qualquer menção à sua propriedade
rejuvenescedora. Há uma referência em uma analogia
considerando que esta planta brota facilmente.
No Rk veda (ix.61.13) este termo bhanga ocorre como um
epíteto de soma (Indu) mencionado neste mantra sendo que este
termo é eventualmente mal interpretado como Cannabis.
Bhanga era conhecido por Katyayana (século 4 A.C.), o
autor das regras suplementares (vartika) sobre Panini (v.2.29),
como uma substância utilizada em forma de pó.
Susruta7 (século 7 A.C.), o autor dos mais importantes
clássicos Ayurvédicos sobre cirurgia, descreveu a raiz desta
planta (vijaya) como venenosa e nenhuma propriedade medicinal
foi atribuída a ela. Apenas no Anandakanda8, um texto do século
10 basicamente sobre Iatroquímica, há uma descrição exaustiva
desta planta além da análise de suas propriedades medicinais.
Além disso, suas propriedades são descritas nos seguintes
trabalhos sobre matéria médica Ayurvédica:
1. Dhanvantari nighantu (século 10 D.C.)
2. Sodhala nighantu (século 12 D.C.)
7Susruta Samhita: Kalpa 15:5
8Ananda kanda, cujo autor permanece desconhecido, foi composto no século
10 D.C. Está escrito na forma de um diálogo entre Bhairava e Bhairavi. É a
princípio um livro sobre iatroquímica que lida extensivamente com o proces-
samento do mercúrio, entre outros. Além disso, são descritas em detalhes as
propriedades rejuvenescedoras de algumas plantas medicinais escolhidas e
a Cannabis é uma delas.

217
3. Madanapala nighantu (1347)
4. Kaiyadeva nighantu (1450)
5. Bhavaprakasa nighantu (século 16)
6. Raja nighantu (século 17)
7. Rajavallabha nighantu (1450)
8. Brhat Yogatarangini (século 17)
9. Nighantu ratnakara (1867)
10. Saligrama nighantu (1896)
11. Rasatarangini (século 19)
12. Rasajalanidhi (1938)
Sinônimos
Cerca de 43 sinônimos 9 foram atribuídos a esta planta e
são fornecidos nestes textos justificativas etimológicas10 para
muitos deles. Nos textos Ayurvédicos esta droga é comumente

9Sinônimos: 1. Adhakipatra chadana, 2. Ajeya, 3. Anañdasajna, 4. Katuvadini,


5. Bhangi (ni), 6. Bhangika, 7. Capala, 8. Cidalhada, 9. Devarajapriya, 10.
Divya (divyaka), 11. Gañja, 12. Gañjakini, 13. Indrasana, 14. Jaya, 15.
Kalaghni, 16. Madayitri, 17. Madhudrava, 18. Madika, 19. Madini, 20. Madu,
21. Manonmani, 22. Matulani, 23. Matuli, 24. Mohini, 25. Nativistara, 26.
Pasupasavinasini, 27. Pika, 28. Ranjika, 29. Sakrasana, 30. Samvidamanjari,
31. Sarvarogaghni, 32. Siddha, 33. Siddhamuli, 34. Siddhi, 35. Siddhida, 36.
Sitaksira, 37. Sivamuli, 38. Tandrakarini, 39. Tandrakrt, 40. Trailokya vijaya,
41. Vijaya, 42. Vimardini, 43. Virapatra.
10Justificativas etimológicas de alguns sinônimos fornecidos no
Anandankanda: A)Bhangini: que elimina (bhanga) três tipos de sofrimento, ou
seja, adhyatmika, adhibhautica e adhidaivika. B)Cidalhada: que proporciona
felicidade à mente. C)Divyaka: que proporciona prazer, brilho, intoxicação e
beleza; D)Ganja: que intoxica como o álcool; E)Kalaghni: que (auxilia)
sobrepuja a morte; F)Madhudrava: que auxilia na extração do néctar
localizado no Brahmarandha; G)Manonmana: que realiza os objetos da
mente; H)Pasupasavinasini: que liberta as criaturas vivas das prisões do
mundo; I)Sarvarogaghini: que cura todas as doenças; J)Siddhamuli: cuja raiz
é siddha; K)Siddha: que realizou o siddhi (perfeições espirituais), M)
Siddhida: que doa o sidhi aos outros.

218
mencionada com os nomes bhanga e vijaya, enquanto nos textos
tântricos o nome mais comum para a Cannabis é samvid.
Mitologia sobre a Origem da Cannabis
Assim como muitas outras importantes plantas medicinais
utilizadas no Ayurveda, afirma-se que a Cannabis tem origem do
néctar (amrta)11 após a agitação do oceano. De acordo com a
mitologia, esta droga possuiu cores diferentes 12 dependendo da
era. No Satya yuga ela foi branca; no Treta yuga, foi vermelha; no
Dvapara yuga, foi amarela e no Kali yuga, é verde. Os textos
Tantrika dividem esta planta em quatro tipos 13 dependendo do
sistema de castas dos hindus – o tipo brahmana é de coloração
branca; o tipo ksatriya é vermelho; o tipo vaisya é verde e o sudra
é preto. Foram descritos diferentes tipos de mantras para os
diferentes tipos de Cannabis.
Descrição Morfológica em Textos Antigos
Como foi mencionado antes, alguns dos sinônimos
atribuídos a esta planta são indicativos de suas características
11Anandakanda, 1952, pág. 235
12Anandakanda, 1952, pág. 236
13Para a purificação das diferentes variedades de Cannabis estão prescritos

diferentes tipos de mantras no Sri Kali Nityarcana. São os seguintes:


A)Para o tipo Brahmana de Cannabis: Om samvide brahmasambhute
brahmaputri sadanaghe. Bhairavanam ca trptyartham pavitra bhava sarvada.
Om brahmanyai namah svaha.
B)Para o tipo Ksatriya de Cannabis: Om siddhimule priye devi hinabodha
prabodhini. Rajapraja vasankari satrukanthantra sulini. Aim Ksatriyayai
namah svaha.
C)Para o tipo Vaisya de Cannabis: Om ajñanendhana diptagne jvalagne
jnanarupini. Anandasyahutim pritim samyag jñamam prayaccha me. Hrim
vaisyayai namah svaha.
D)Para o tipo Sudra de Cannabis: Om namasyami yogamarga prabodhini.
Trailokyavijaye matah samadhi phalada bhava. Om hrim sudrayai namah
svaha.

219
morfológicas. À parte, nas estórias mitológicas, afirma-se que a
folha desta planta é como um trisula do deus Shiva, ou seja, há
folíolos nas folhas e estes folíolos possuem extremidades
pontiagudas e afiladas, serrilhadas nas margens. Nos textos
tântricos a planta é dividida em oito variedades 14, baseando-se no
número de folíolos nas folhas da planta. De acordo com este
texto, a planta possui um, três, cinco, seis, nove, dez, onze ou
treze folíolos em uma folha.
Sexo da Planta
Para médicos e estudiosos da Índia antiga, a planta é
unissexuada. A planta fêmea15 produz frutos e é macia. A planta
macho, por outro lado é uma árvore robusta. Menciona-se16
especificamente que a planta fêmea produz efeitos narcóticos,
gera prazer para a mente e causa desmaios quando utilizada em
excesso. Afirma-se que quando adicionada a qualquer
medicamento resulta em uma ação sinérgica, isto é, o efeito do
medicamento é potencializado. Esta planta fêmea é descrita como
amarga e pungente no sabor e de odor penetrante.
Usuários Autorizados
Aqueles que utilizam a Cannabis podem ser divididos em
quatro categorias:
I- Sacerdotes, ascetas, faquires, iogues e sanyasis: A Cannabis
auxilia-os na meditação e na realização de rituais religiosos.

14Anandakanda, 1953, pág. 236


15Anandakanda, 1952, pág, 236
16A Cannabis obtida da planta macho e da planta fêmea polinizada é

comumente conhecida como bhang e aquela obtida da planta fêmea virgem é


chamada Ganja. Como ganja possui um efeito narcótico mais forte do que
bhang, com a finalidade de evitar a polinização, geralmente as plantas do
sexo masculino são destruídos nos campos de Cannabis.

220
II- Seguidores do deus Shiva, da deusa Durga, Hanuman etc.:
Eles compartilham da planta após a cerimônia ou puja, com o
objetivo de adquirir benefícios materiais e espirituais. Após o puja,
ela é distribuída entre os membros familiares e outros parentes
em ocasiões festivas como Holi, Durgapuja e Sivaratri.
III- Pessoas expostas a trabalho físico pesado: A droga alivia sua
dor e fadiga.
IV- Pacientes: Alivia-os de seus distúrbios psíquicos, somáticos e
psicossomáticos.
De acordo com um texto médico tântrico, a Cannabis é útil
para sidhas (aqueles que buscam a perfeição espiritual), para
munis (sábios ou pensadores), mulheres, pessoas de todas as
castas (brahmanas, ksatriyas, vaisyas e sudras), iogues (aqueles
que se dedicam à meditação), crianças, idosos, pacientes,
pessoas impotentes e para aqueles que possuem muitas
esposas17.
Processos Farmacêuticos
Seu uso está estabelecido, tanto para pacientes quanto
para indivíduos saudáveis, nas seis formas seguintes:
1.Curna ou em pó
2.Modaka ou em forma de uma massa redonda
3.Vatika ou comprimidos
4.Leha e paka ou ungüento
5.Dugdhapaka ou fervido com leite
6.Kvatha ou decocção
Além disso, é prescrita e tradicionalmente utilizada em
vários tipos de alimentos: sarabat (bebidas doces), barfee, ladoo e
majun. A Cannabis em sua forma bruta é utilizada para mascar ou
para ser adicionada à folha de bétele e mascada. Alguns

17Anandakanda, 1952, pág.236

221
indivíduos também a utilizam como fumaça, através do auxílio de
um cachimbo conhecido como chilam.
Formulação
Para o tratamento de pacientes, esta droga raramente é
empregada isoladamente. Muitas outras drogas são adicionadas a
ela com o objetivo de torná-la isenta de seus efeitos narcóticos
naturais, potencializá-la e ampliar a variedade de efeitos
terapêuticos.
Nos trabalhos Ayurvédicos, cerca de 51 formulações 18
contendo Cannabis foram descritas. São as seguintes categorias:

1. Pós (curna)
2. Comprimidos (rasa e vati)
3. Formulações em forma de bolas (modaka)
4. Ungüentos (avaleka ou paka)

18Formulações:

I-Curna (pós): Brhat gangadhara curna, Brhannayika curna, Grahani sardula


curna, Jatiphaladi curna, Laghu lai curna, Lai curna, Madhyama nayika curna,
Nagakesaradi curna, Narayana curna, Sauvarcaladi curna, Scalpa nayika
curna, Talisadya curna.
II-Vati e Ras (comprimidos): Agni kumara rasa, Ajirna rasa, Ajirnari rasa,
Grahani gajendra vatika, Grahani kapata rasa, Jvalanala rasa, Kapha
cintamani rasa, Laghu puspadhanva rasa, Laksmivilasa rasa, Madana
kamadeva rasa, Mahalaksmivilasa rasa, Manmatha rasa, Manmathabhra
rasa, Nagasundara rasa, Naradiya laksmivilasa rasa, Rasa candrika vati,
Sparsavataghna rasa, Sukra vallabha rasa, Trailokya sammohana rasa,
Trailokya vijaya vati, Talakesvara rasa, Vajra kapata rasa, Vilajaya rasa.
III-Modaka: Agni kumara modaka, Brhat satavari modaka, Jirakadi modaka,
Kamagni sandipana modaka, Kamesvara modaka, Madana modaka,
Madanodaya modaka, Maha kamesvara modaka, Rati vallaba modaka ,Sri
kamesvara modaka, Sri madanananda modaka.
IV-Ungüento: Dadimavaleha, Kesara paka, Vijaya avaleha.

222
Em algumas destas formulações, a parte da planta a ser
utilizada é claramente especificada. Às vezes, a semente é
mencionada, a qual não apresenta qualquer efeito narcótico
significativo. Nestas formulações são adicionadas substâncias
vegetais, ingredientes de origem metálica e mineral (na forma de
bhasma) e produtos animais. Nestas formulações há menção
específica para o uso da Cannabis após o processamento (fervura
com leite, etc.), apesar das regras gerais para este propósito.
Em certa preparação, declara-se que após o completo
processamento farmacêutico, o medicamento deve ser oferecido
primeiro ao deus Shiva, a Indra, Kamadeva e Gananatha e,
portanto, deve ser oferecida ao fogo, enquanto se recita um
mantra. A natureza do recipiente no qual ela deve ser conservada
também foi descrita. A droga deve ser prescrita durante diferentes
horas do dia e da noite, para diferentes tipos de pacientes.
Indicações Terapêuticas
Está indicada tanto para indivíduos saudáveis como para
pacientes. Para os primeiros, é utilizada como um agente
rejuvenescedor. É benéfica nos seguintes distúrbios dos pacientes
em ordem de prioridade:

1.Síndrome do espru (grahani)


2.Esterilidade masculina e feminina (bandhyatva)
3.Impotência (napunsakatva)
4.Diarréia (atisara)
5.Indigestão (ajirna)
6.Epilepsia (apasmara)
7.Insanidade (unmada)
8.Cólicas (sula)

223
Quando a Cannabis é combinada com outras drogas,
torna-se indicada para o tratamento de outras 32 doenças 19.
Toxicidade
Os efeitos prejudiciais produzidos por esta droga quando
utilizada em excesso eram bem conhecidos pelos estudiosos da
Índia antiga. Sua raiz é descrita como um veneno no Susruta
samhita (700 A.C.) e em muitos trabalhos Ayurvédicos sobre
matéria médica é descrita como um upavisa20 (veneno pouco
importante). Para torná-la livre da toxicidade e aumentar sua
eficácia terapêutica deve ser fervida com leite de vaca ou deve ser
frita com ghee de vaca antes de seu uso.
Anandakanda forneceu uma detalhada descrição dos
efeitos tóxicos que surgem nos seres humanos em nove estágios
sucessivos. Os aspectos característicos do corpo e da mente do

19Além da síndrome do espru, da esterilidade, impotência, diarréia,


indigestão, epilepsia, insanidade e cólicas, a Cannabis está indicada também
no tratamento das seguintes condições patológicas:
1.Amavata (reumatismo), 2.Amlapitta (gastrite), 3.Aruci (anorexia),
4.Bhagandara (fístula anal), 5.Galagraha (obstrução da garganta), 6.Hrllasa
(náusea), 7.Jvara (febre), 8.Kamala (icterícia), 9.Kasa (bronquite), 10.Ksaya
(consumpção), 11.Kustha (doenças de pele crônicas, incluindo a
hanseníase), 12.Manyastambha (torcicolo), 13.Pliha (distúrbio esplênico),
14.Pralapa (delírio), 15.Prameha (distúrbios urinários crônicos, incluindo o
diabetis), 16.Pratisyaya (frio), 17.Nadivrana (sinusite), 18.Pandu (anemia),
19.Pinasa (rinite crônica), 20.Rajah krcchra (dismenorréia), 21.Rajayaksma
(tuberculose), 22.Slipada (elefantíase), 23.Sotha (edema), 24.Sutika
(infecção puerperal), 25.Svasa (asma), 26.Trsna (sede mórbida), 27.Vamana
(vômitos), 28.Vatarakta (gota), 29.Vatavyadhi (doenças do sistema nervoso),
30.Vibandha (constipação), 31.Visama jvara (malária), 32.Yakrt roga
(doenças hepáticas).
20Nos seguintes livros, a raiz é descrita como um upavisa: a)Dhanvantari

nighantu, b)Rasa ratna samuccaya, c)Rasa tarangini e d)Rasa jalanidhi.

224
indivíduo durante estes nove estágios estão descritos em
detalhes21.
Controle dos Efeitos Tóxicos
As seguintes terapias e condutas são sugeridas para o
tratamento de seus efeitos narcóticos:

1.Purgação, ingestão de substâncias azedas e banhar a cabeça


com água fria.
2.Unção com pasta de sândalo, cânfora e água fria.
3.Uso de perfumes, flores resfriantes e adornos
4.Dormir em cama refrescante
5.Ingestão de folhas de bétele juntamente com cânfora, cravos-
da-Índia etc.
6.Vestir-se com roupas de seda finas e perfumadas.
7.Ingestão de bebidas preparadas com açúcar, leite, ghee etc.
8.Repouso absoluto no leito.
Vijaya Kalpa ou Preparação Especial para o Rejuvenescimento

21A seguir estão descritos os sinais e sintomas dos nove estágios de


manifestações tóxicas:
-Primeiro estágio: hiperemia dos olhos, ressecamento da língua, lábios e
palato duro, ressecamento da extremidade do nariz e exalação de ar quente.
-Segundo estágio: fechamento dos olhos e rigidez do corpo.
-Terceiro estágio: sensação de queimação nos pés, mãos e olhos; sufocação
da voz.
-Quarto estágio: fome e sede, olhos sonolentos com movimentos dos globos
oculares.
-Quinto estágio: sufocação da voz e esquecimento dos fatos recentes.
-Sexto estágio: esquecimento completo.
-Sétimo estágio: fraqueza dos membros superiores e do corpo, prostração.
-Oitavo estágio: erros de direção, queda dos cílios, choro em excesso.
-Nono estágio: gritos, desmaios, coma, produção de sons murmurantes, o
indivíduo rola no chão, a fala é desconexa e produzida com dificuldade,
revelação de sentimentos secretos, sofrimento, prostração extrema.

225
No Anandakanda22 há um capítulo completo dedicado à
descrição da Cannabis e seu processamento para o propósito do
rejuvenescimento. Métodos especiais são prescritos para o
cultivo, a coleta, o processamento e a preservação desta droga e
a manufatura de medicamentos assim como sua administração.
Cultivo
Para o cultivo da Cannabis, o solo deve estar livre de
pedras, cascalhos e areia. Ele deve ser preto, macio e misturado
com cinzas e esterco de vaca. A carne fresca de cobra deve ser
utilizada como adubo antes de semear. As sementes são
conservadas dentro da boca de uma cobra e aquelas que forem
gordurosas e pesadas são selecionadas para a semeadura em um
dia auspicioso de uma quinzena luminosa (suklapaksa), no mês
de Sravana (primeiro mês da estação chuvosa). A pessoa que
realizou rituais religiosos como nyasa e acamana deve semeá-las
voltado para a direção norte ou leste e meditar sobre os pés de
seu preceptor. Depois, água com leite deve ser borrifada sobre as
sementes. Após a germinação, deve-se aspergir água misturada
com ghee. Quando as folhas tenras aparecem, devem ser
borrifadas com água do mar. Quando os ramos surgem, a
extremidade da planta deve ser cortada e um buraco deve ser
feito. Neste orifício deve ser despejada uma grama de mercúrio e
a abertura deve ser fechada com enxofre. Quando surgem as
flores e frutos, a planta deve ser respingada com água misturada
com álcool e carne. Borrifa-se a planta com leite durante uma
quinzena. Depois disso, outra planta chamada Jatamansi
(Nardostachys jatamansi, DC.) deve ser atada a um ramo da
Cannabis e deve ser respingada com água e mel. Nos dias
restantes, esta planta deve ser respingada com água misturada ao

22Anandakanda, 1952, págs. 234-251.

226
álcool. Depois disso, quatro rituais diferentes devem ser
realizados:
1.Sthapana
2.Sevana
3.Tantubandhana (―amarrando a árvore com fibras‖)
4. Lavana (―corte‖)
A amarração deve ser feita por uma pessoa que tenha se
banhado, vestido roupas limpas, com perfumes e flores e que
tenha realizado oferendas de álcool e carne a Bhairava. Fios de
coloração vermelha, amarela, preta e branca devem ser utilizados
para amarrar.
O Aghora mantra deve ser recitado por sete dias. No quinto
dia da quinzena luminosa, deve-se meditar sobre a Cannabis e ela
deve ser visualizada como uma divindade. Quando as sementes
tornam-se gordurosas, a planta deve ser cortada juntamente com
as folhas, enquanto se recita o mantra acima.
Processamento
A planta é deixada a secar sob sol moderado em um
recipiente recentemente adquirido sobre um local limpo. As folhas
devem ser transformadas em um pó fino e conservada entre dois
pratos quentes sucessivamente, sete vezes.
Um litro de leite de vaca deve ser misturado a um
quilograma de açúcar e fervido. A este xarope devem ser
adicionados 400 mg. de Cannabis em pó e 50 mg. de cada uma
das oito plantas medicinais e misturados cuidadosamente. Depois
de frio, devem ser adicionados 500 mg. de mel e a mesma
quantidade de ghee e misturados. Esta preparação deve ser
conservada dentro de uma pilha de grãos durante um mês. Todos
os dias devem ser recitados mantras.

Administração da Terapia

227
Depois de um mês o medicamento deve ser removido da
pilha de grãos e deve ser ingerido pelo indivíduo na dosagem de 5
mg. Enquanto este procedimento é feito, a pessoa deve residir em
uma casa hermética, observar o celibato e ingerir apenas leite e
arroz. Continua-se por 3 anos e com isso afirma-se que o homem
vive 300 anos livre de quaisquer doenças e sinais de
envelhecimento.
No Anandakanda estão descritas também outras 50
preparações diferentes de Cannabis para o propósito do
rejuvenescimento, efeito afrodisíaco e para a cura de diversas
doenças.
Discussão
Como demonstrado, o uso de tais drogas era predominante
através da história e em quase todas as culturas. Estas drogas
eram utilizadas tendo em vista aliviar os sofrimentos e promover
felicidade.
A causa de todo sofrimento, de acordo com o sistema
Sankhya de filosofia indiana, é a identificação do Purusa
(Elemento da Consciência) com o Prakrti, i.e., o fenômeno no
mundo manifestado que está presente antes dele através dos
órgãos psíquicos: o Buddhi ou o Intelecto, Ahankara ou o Ego e
Manas ou a Mente. Estes sofrimentos são classificados em três
categorias:
1.Adhyatmika ou os sofrimentos de origem interna que incluem as
doenças psicossomáticas,
2.Adhibhautica ou sofrimentos de origem externa,
3.Adhidaivika ou sofrimentos de origem divina.
A mente possui três aspectos, ou seja, o sattva ou
tranquilidade, o rajas ou momento e o tamas ou inércia. O que
está disponível no indivíduo está também presente no universo e
todos estes fenômenos são representados na forma de deuses.
Os deuses dos Hindus, portanto, representam um ou outro

228
aspecto destes trigunas: sattva, rajas e tamas. Divindades como o
deus Shiva e a deusa Kali representam os aspectos rajasika e
tamasika. Quando o homem precisa desenvolver seus atributos
rajasika e tamasika, deve oferecer orações às divindades que
possuem atributos semelhantes. Todas as coisas oferecidas a
estas divindades possuem atributos rajasika e tamasika23. A
compreensão adequada deste simbolismo do conceito henoteísta
é essencial para a compreensão adequada das várias práticas,
incluindo preconceitos, sentimentos, dogmas e superstições
predominantes na sociedade indiana. A Cannabis é um dentre os
muitos itens oferecidos de diferentes formas para o deus Shiva e
também para a deusa Kali, e seus seguidores e sacerdotes a
repartem após a cerimônia.
Os Vedas estão repletos com referências para o uso da
planta soma. O hábito de ingerir psicotrópicos não foi socialmente
desprezado mesmo na época do ―Mahabharata‖24. Na história de
Kaca e Devayani deste grande épico, menciona-se que
Sukracarya foi levado a cometer um sério erro devido a bebidas
alcoólicas e quando isso ocorreu, ele proibiu o uso de álcool não
só para si como para todos os Brahmins.
A Cannabis, que está em uso desde a época dos Vedas,
encontrou refúgio seguro entre os tantrikas, especialmente
aqueles pertencentes à ala esquerda e devotos do deus Shiva e
da deusa Kali. Durante o período medieval, seu uso como
medicamento para a cura das doenças surgiu como um
aglomerado de religião, filosofia e ciência. Esta prática ainda é
existente apesar dos abusos com a droga.
Desde os tempos dos Vedas, a Cannabis está em uso na
Índia tanto por seus efeitos rejuvenescedores como pelas

23Além da Cannabis são oferecidos ao deus Shiva psicotrópicos como


Dhustura, Arka, Puja e Jatiphala.
24Mahabharata, I. 76.43-68.

229
características. Nos tantrikas e nos textos médicos tantrikas, o uso
desta planta ganhou força durante o período medieval. Era tratada
como um produto do néctar possuindo propriedades
rejuvenescedoras e dando vida.
Nos antigos textos indianos eram utilizadas as plantas
macho e fêmea da Cannabis. O efeito narcótico da planta fêmea,
a partir da qual é preparada a ganja, está muito bem descrito.
Seus efeitos tóxicos e narcóticos foram estudados em detalhes.
Muitos sinônimos foram-lhe atribuídos e muitos compostos
medicinais foram preparados a partir desta planta. Eram utilizadas
no tratamento de doenças graves, incuráveis e resistentes à cura
e foram descritos os modos de administração assim como o
tratamento das manifestações tóxicas.
O uso de Caras ou a resina extraída da planta Cannabis
era talvez desconhecida na Índia antiga e medieval. Não há
referência direta recomendando a Cannabis pela fumaça. Apenas
bhanga e ganja eram utilizados. Sabe-se que o primeiro possui
menor efeito narcótico que o último. Na maioria das cerimônias
religiosas e médicas, é utilizada bhanga, enquanto ganja, que
possui mais efeito narcótico, é utilizado exclusivamente por
algumas seitas de mendicantes.
Nos medicamentos são raramente empregados
isoladamente. A Cannabis é normalmente combinada com outros
produtos vegetais, minerais e animais, tendo em vista neutralizar
seus efeitos narcóticos e potencializar sua eficácia terapêutica. O
processo de purificação, obrigatório antes da manufatura da
droga, torna-a absolutamente livre dos efeitos narcóticos.
Apesar das sanções religiosas e aprovações sociais, seu
uso era permitdo apenas em quantidade reduzida, não sendo
prejudicial para a mente e o corpo. A imposição da
obrigatoriedade em se fazerem oferendas para uma divindade

230
antes do uso pelo indivíduo possui um efeito benéfico sobre a
proibição do abuso para propósitos narcóticos e luxuriosos.
A Cannabis é desprezada atualmente por seus efeitos
prejudiciais, mas se as prescrições Ayurvédicas forem seguidas,
talvez possam provar que a planta atue para ―doar vida‖ e não
para ―tirar vida‖. Assim como Sarpagandha (Rauwolfia serpentina,
Benth. e Kurz.), descoberta pela medicina indiana, esta droga
pode trazer bênçãos para a humanidade se utilizada de acordo
com as diretrizes fornecidas nos textos Ayurvédicos.

231
CAPÍTULO 10

A DROGA TERMINALIA CHEBULA NA


LITERATURA MÉDICA AYURVÉDICA E
TIBETANA

A planta medicinal Terminalia chebula mantém-se em


elevada consideração tanto na medicina Ayurvédica como na
tibetana por suas propriedades na prevenção e cura das doenças.
No Ayurveda ela é conhecida como haritaki e na medicina tibetana
é denominada arura. Enquanto na última a droga é conhecida

como ―Sman-mchod rgyal-po‖1 , o rei dos medicamentos, no
Ayurveda é descrita como benéfica para os seres humanos como
a mãe, ―às vezes mesmo a mãe torna-se zangada, mas haritaki
nunca causa qualquer dano à pessoa que a ingere‖2 .
Em todos os clássicos3 assim como nos Nighantus4, ou
trabalhos sobre matéria médica do Ayurveda, estão disponíveis
dados sobre esta planta medicinal. A literatura tibetana dispõe de
uma exaustiva coleção de dados nos livros ―An Illustrated Tibeto-
Mongolia Materia Medica of Ayurveda‖5 e ―Principles of Lamaist
Pharmacognosy‖6.


Ver nota no fim do capítulo, pág.222.

232
O ―Madanapala nighantu‖7 fornece a derivação do termo
haritaki como segue:
1.Porque cresce no local onde reside Hara, que é o Himalaia, é
denominada haritaki.
2.Por causa de sua natureza harita (amarelo-esverdeado), é
chamada haritaki.
3.Porque ela retira (―hr‖= levar embora) as doenças, é chamada
haritaki.
Na linguagem tibetana, haritaki é conhecida como a ru ra.
Um dos comentários do ―Shel Phreng‖ destina-se a explicar o
significado destas sílabas. De acordo com ele, ―a‖ indica que este
é o melhor dos medicamentos e cura todas as doenças causada
por vayu, pitta e kapha; ‖ru‖ indica que possui carne, osso e pele,
os quais removem as doenças de todos os três doshas e ―ra‖
indica que seu corpo é como o do rinoceronte e elimina as
doenças de todos os sete dhatus.
Estórias Mitológicas
Muitas estórias mitológicas sobre a origem desta droga são
encontradas tanto na literatura médica tibetana como na
Ayurvédica. São as seguintes:
1.Sete gotas de néctar caíram da boca de Vishnu sobre a Terra
(de acordo com alguns, da boca de Brahma), dando origem aos
sete tipos de haritaki.8
2.Gotas de néctar caíram da boca de Indra sobre a Terra
originando haritaki.9
3.Na literatura tibetana as estórias mencionadas acima são
descritas em detalhes. Além disso, foi estabelecido que ―para o
benefício dos seres sencientes, a monja divina Matisankari colheu
um feixe de Vijaya azulada, semelhante à cabeça de um cavalo.
Ela o ofereceu a Manohari Devi, que era Siddha Devi e
Nirmanakaya de Amrta, a deusa da medicina. Ao fazer a oferenda

233
disse: ‗Manohari Devi, ouça-me. Este é o feixe de Vijaya, o melhor
dos medicamentos, completo, belo, com todos os gunas e na
forma adequada. Ofereço-o a você, Manohari Devi, em
consideração ao seu amor por mim. Por favor, aceite-o para o
benefício das gerações de seres sencientes que virão. Peço-lhe,
plante esta semente de orações. Seu fruto será indubitavelmente
benéfico‘. De acordo com o que lhe foi dito, Manohari Devi pegou
aquele haritaki, dirigiu-se a Vajrasana, em Bharata, e ofereceu
avahana, stuti e puja para Jina Parasara, das dez direções. Pediu
também ao guru e aos tri ratnas para que tivessem compaixão e
disse: ‗Estou motivado pela força da pureza, a qual é livre da
decepção de hetu e phala. Permita que seja Siddhi, de acordo
com a oração, pela força da verdade‘. E assim, haritaki veio a
existir.‖10
4.De acordo com Zur-mkhar dharma-svami, citado no ―Shel
phreng‖11, no movimento de Gadhamardana, situado ao leste de
Varanasi, o deus da terra Lag-pa chen-po e a deusa da água
Gtsang-chen (Brahmaputra) obtiveram prazer sexual abraçando-
se um ao outro e como conseqüência deste ato, virya e artava
misturaram-se na terra. Assim surgiu a floresta de haritaki .
Sinônimos
Os sinônimos descritos na literatura sânscrita são:
1)abhaya, 2)amogha, 3)amrta, 4)avyatha, 5)kayastha, 6)girija,
7)cetaki, 8)cetanika, 9)jaya, 10)jivanti, 11)jivantika, 12)jivapriya,
13)jivya, 14)divya, 15)devi, 16)nandani, 17)pathya, 18)pacani,
19)putana, 20)pramathya, 21)prapathya, 22)pranada, 23)balya,
24)bhisag priya, 25)bhisag vara, 26)rasayana phala, 27)rudra
priya, 28)rohini, 29)vayastha, 30)vanatikta, 31)vijaya, 32)vrtatha,
33)saka, 34)siva, 35)sukra srsta, 36)sreyasi, 37)sudha,
38)sudhodbhava, 39)haritaki, 40)himaja, 41)haimaja, 42)hemavati.
No ―Shel phreng‖12 estão os seguintes sinônimos:

234
1)abhaya (jigs med), 2)amogha (don yod), 3)amrta (‗chi med ou
bhud rtsi), 4)aroha dirgha (mchu snyung),5)avyatha (nad sel),
6)cetaki (sems byed), 7)dhanya (dpal yon can),
8)dirghamarghata (mchu rings), 9)divya (lha rdzas), 10)haritaki
(tshad pa’i mdangs phrod), 11)hva va (bde byed), 12)jivanti
(‘tsho byed), 13)kasayaka (bska shas ldan), 14)kayastha (lus
gnas byed), 15)kumbha kantha (buim mgrin), 16)krsa (skem
po), 17)krzsalaka (skem po), 18)maha balama (sa chen),
19)mahavita (gser ldan), 20)mula dirgha (rtsa rings), 21)mularara
(rtsa snyung), 22)pavani (dag byed), 23)prmatha (nad rab
‘homs), 24)phala (‗abras bu can), 25)prni (nad ‘dor), 26)raja
hutira (rgyal bo skem po zer la), 27)rasa kalkala (ro bska),
28)rasavati (roldan), 29)rasayana (bcud len), 30)samarphka (nus
ldan), 31) sakravrsta (brgya bying spros), 32)sona barna (gser
mdog), 33)siva (ziba), 34)sreyasi (dge legs can), 35)sudana (tshi
can), 36)vardhakara (‘phel byed), 37)vayastha (na rshod gnas),
38)vijaya (rnam par rgyal ba).

Observa-se a partir da listagem acima que dezessete dos


sinônimos descritos na literatura médica tibetana são idênticos
àqueles descritos no Ayurveda e os vinte e um restantes possuem
alguma diferença.
Variedades
Na literatura Ayurvédica, a classificação quanto às
variedades de haritaki difere consideravelmente. A seguir, um
demonstrativo fornecendo dados relacionados ao haritaki nos
diferentes textos Ayurvédicos e Nighantus:

235
Nome da H.S., R.N.,
Variedade S.G.N., B.P. R.B.N. A.S. D.N. N.R.
vijaya x x - - x
rohini x x - - x
putana x x x x x
amrta x x - x x
cetaki x - x x -
abhaya x x x x x
jivanti x x x - x
kalika - x - - -
pathya - - - x -
jaya - - - x -
haimavati - - - x -

Legenda:
H.S.= Harita Samhita, R.N.= Raja Nighantu,
S.G.N.= Saligrama Nighantu, B.P.= Bhava Prakasa, R.B.N.=
Rajavallaba Nighantu, A.S.= Atreya Samhita, D.N.= Dhanvantari
Nighantu, N.R.= Nighantu Ratnakara.
(X)= descrição disponível
( - )= descrição não disponível

No livro ―Lamaist Phamacognosy‖, estão citadas as


opiniões de vários autores, tanto indianos como tibetanos, com
relação à classificação da droga. De acordo com o ―Bdud-rtsi-
snying-po‖ há sete tipos13: 1)rnam par rgyal ba (vijaya), 2)bum
gyi mgrin (kalasa kantha), 3)gso byed (ayuh vardhaka), 4)bdud
rtsi (amrta), 5)’jigs med (abhaya), 6)’phel byed (vrddhikari),
7)skam po (suska).
De acordo com a literatura médica tibetana, Vijaya é o tipo
mais importante e é extremamente útil no tratamento das
doenças. Outras variedades são consideradas apenas

236
secundárias ou subsidiárias do Vijaya em características
terapêuticas. Na literatura Ayurvédica, apenas o ―Raja Nighantu‖14
enfatiza a superioridade do Vijaya sobre as outras.
Identificação dos Vários Tipos
As características físicas assim como as propriedades
terapêuticas do haritaki são descritas na literatura médica tibetana
e Ayurvédica com o objetivo de auxiliar em sua identificação.
De acordo com o ―Bhava Prakasa Nighantu‖15 o vijaya
possui a forma de uma cabaça, rohini tem formato redondo,
putana contém um caroço proporcionalmente maior, amrta é
carnosa, abhaya apresenta cinco sulcos, jivanti é de coloração
dourada e cetaki possui três sulcos. Neste sentido, há diferentes
tipos de descrição em outros trabalhos Ayurvédicos.
Como citado no ―Shel Phreng‖16, de acordo com Brang-ti-
pa, a variedade rnam par rgyal ba (vijaya) é caracterizada por
fruto de lábios fechados e pescoço fino, gser mdog (kanaka
varna) é de coloração dourada e semelhante a um bulbo redondo,
com seis ou oito sulcos (rugas), sa chen (mamsala) é carnosa,
bigs byed (vindhya) é negra e não tem caroço, snung (suksma)
possui muitas rugas.
Habitat
De acordo com o ―Shel phreng‖17, vijaya, a melhor de todas
as variedades, crescia no palácio celestial de Yaksa Vaisravana e
daí era levada para a montanha Gandhamardana18 (Spos-ngad-
ldan). Vários autores tibetanos enfatizam que o tipo vijaya de
haritaki, a melhor de todas, está disponível apenas nesta monta-
nha.
Está estabelecido no ―Gso-dpya phrang bu‖19 que, para os
não-arianos, a procura por esta droga na montanha mágica de
Gandhamardana era difícil. Por essa razão, suas sementes foram

237
semeadas em outros locais da terra. De acordo com Zur-mkhar
Dharma Swami20, todas as variedades de haritaki que crescem em
Bharata são coletivamente chamadas Tra-la-ha e no Tibete, kru-
sin-’bu.
De acordo com Zur-rdol21, todos os cinco tipos de haritaki
crescem na mesma árvore: no centro está vijaya, no leste está
abhaya, no sul está mamsala, no oeste, rohini e ao norte, suska.
No ―Brang-ti-pa‖ há uma descrição semelhante, diferindo apenas
no nome das variedades.
Nesta correlação, a descrição disponível na literatura
Ayurvédica é diferente. Mesmo que todos os trabalhos
Ayurvédicos não sejam unânimes em seus pontos de vista, a
maioria deles afirma que o vijaya cresce na montanha Vindhya
(Gandhamardana, de acordo com a literatura tibetana), cetaki e
putana crescem no Himalaia, rohini cresce em Sindh, amrta e
abhaya em Camba(?) e jivanti cresce em Saurastra.
Portanto, exceto na literatura tibetana, segundo o
Ayurveda, a montanha não é muito significativa com relação ao
habitat desta droga.
Características Botânicas
De acordo com Khrungs-dpe22 ,esta árvore possui um
grande tronco, suas folhas são grossas, a flor é amarela e o fruto
é amarelo enegrecido. Em vários outros textos, estão descritos os
aspectos característicos deste fruto. Tais tipos de descrições não
estão disponíveis nos textos Ayurvédicos existentes.
Análogos
Na literatura sobre medicina tibetana, existem análogos
para diferentes partes desta droga. De acordo com o ―Gso-dpyad
phrang-bu‖23, as folhas desta droga são como panca-li-ka(?) e as
flores, como as da u-dam-bar (figueira). De acordo com ‗Dra-yig24

238
(Upamana tantra), o haritaki é semelhante a um pedaço seco de
açafrão-da-Índia.
De acordo com ‗Dra-dpe25, outro trabalho sobre similares, o
vijaya é semelhante à extremidade de uma cabaça (alabu). Suas
flores são amarelo-ouro, como um ovo dourado. Elas são como
uma rã inchada. Abhya é semelhante a um ovo de girino. É como
um pote redondo. Este tipo de upama é raro nos trabalhos
Ayurvédicos existentes.
Rasa, Virya, Vipaka e Guna
De acordo com a literatura Ayurvédica, o haritaki possui
diferentes sabores, ou seja, madhura (doce), amla (azedo), katu
(pungente), tikta (amargo) e kasaya (adstringente). Tem sido
repetidamente enfatizado que esta droga não possui o sabor
lavana (salgado).
Na literatura médica tibetana, este aspecto foi discutido em
detalhes e vários autores indianos são citados nesta correlação.
Mas alguns eruditos tibetanos não concordam com a observação
dos autores indianos. O autor do ―Shel phreng‖26 parece ter
entrado em contato com vários iogues da Índia, mas não se con-
venceu com os argumentos expostos por eles. Portanto, o autor
assegura que haritaki possui todos os seis tipos de sabores, ou
seja, mnar-ba (doce), skyur-ba (azedo), lan tshva ba (salgado),
tsha ba (pungente), kha ba (amargo) e bska ba (adstringente).
De acordo com a literatura Ayurvédica, esta droga é usna
ou quente em seu virya (potência). Na literatura médica tibetana27,
considera-se que possua oito nus pas (virya ou potências), que
são: lci va (guru ou pesada), snum pa (snigdha ou gordurosa),
bsil ba (atisita ou excessivamente fria), rtul ba (manda ou
embotada), yang ba (laghu ou leve), rusub pa (ruksa ou seca),
tsha ba (usna ou quente) e rno ba (tiksna ou penetrante).28

239
O vipaka29 desta droga, de acordo com o Ayurveda, é
madhura (doce). Mas de acordo com a literatura médica tibetana,
o zhu rjes (vipaka) desta droga é mnar ba (doce), skyur ba
(azedo) e kha ba (pungente).30
Laghu (leve) e ruska (seco) são ambos considerados os
gunas (atributos) de haritaki na literatura médica Ayurvédica. De
acordo com a medicina tibetana, entretanto, esta droga possui
dezessete yon tan (gunas ou atributos)31. São eles: ajam pa
(mrdu ou macio), lci ba (guru ou pesado), dro ba (usna ou
quente), snum pa (snigdha ou gorduroso), brtan pa (sthira ou
estável), grang ba (sita ou frio), rtul ba (manda ou embotado),
bshil ba (atisita ou excessivamente frio), mnyen ba (slaksna ou
suave), sla ba (drava ou líquido), skam pa (suska ou seco), skya
ba (sandra ou denso), tsha ba (usna ou quente), yang ba (laghu
ou leve), rno ba (tiksna ou penetrante), rtsub pa (kathina ou duro)
e gyo ba (sara ou fluido)32.
A maneira como estes atributos auxiliam na correção dos
desequilíbrios dos doshas e dhatus está descrita em detalhes na
literatura médica tibetana. A literatura Ayurvédica é muito
específica quanto aos cinco rasas (sabores) desta droga.
Propriedades Terapêuticas
De acordo com alguns autores da medicina tibetana, as
outras variedades de haritaki possuem propriedades terapêuticas
quase semelhantes ao vijaya. Esta opinião tem sido fortemente
repudiada por outros eruditos da medicina tibetana, para os quais
―o sábio ri ante a estupidez de tal descrição‖33. Na literatura
Ayurvédica, como descrito anteriormente, a variedade vijaya não
adquire muita importância mesmo que alguns a considerem
curativa para todos os tipos de doenças. Outras variedades de
haritaki possuem propriedades terapêuticas específicas. De
acordo com o Raja vallabha nighantu, a variedade jivanti é

240
benéfica como medicamento para terapia de unção, rohini é útil no
tratamento de ksayaroga (doenças consumptivas), vijaya é útil em
todos os tipos de terapias, putana é benéfica nos medicamentos
de uso externo, amrta é útil como purgativo, abhaya é benéfica
para os olhos e kalila é útil na remoção do odor fétido das úlceras.
Na literatura médica tibetana, as diferentes partes da
planta possuem propriedades terapêuticas diversas. De acordo
com Zur-mkhar-dharma Svami 34, sua raiz elimina as doenças
ósseas, a haste elimina doenças musculares, a casca alivia
doenças de pele, os ramos eliminam as doenças dos vasos, as
folhas removem as doenças das asayas (vísceras) e os frutos
removem as doenças dos órgãos vitais e do coração. Na literatura
Ayurvédica, tal tipo de descrição não está disponível.

 Notas

1. ‖Principles of Lamaist Pharmacology‖: Fólio 172.


2. Haritaki manusyanam mateva hitakarini
Kadacit kupyate mata nodarastha haritaki
3. Os mais importantes clássicos Ayurvédicos são os seguintes:
I-Caraka samhita originalmente composto por Agnivesa e
subsequentemente redigido por Caraka. Foi composto antes de
700 A.C.
II-Susruta samhita originalmente composto por Susruta e
subseqüentemente redigido por Nagarjuna. Composto antes de
700 A.C.
III-Astanga hrdayan por Vagbhata (300 D.C.)
4. Nighantus são compilações sobre sinônimos, descrições gerais
e terapêuticas de drogas, incluindo produtos vegetais, minerais
e animais. São importantes os seguintes nighantus:
Dhanvantari nighantu (1000 D.C.), Raja nighantu (1200 D.C.),

241
Madanapala nighantu (1347 D.C.), Sodhala nighantu (1400
D.C.), Kiyadeva nighantu (1450 D.C.) e Bhavaprakasa nighantu
(1600 D.C.) Estas obras foram compiladas durante o período
medieval a partir de trabalhos clássicos muitos dos quais não
mais existem.
5. Composto por ‗Jam-dpal-rdo-rje, da Mongólia, e publicado pelo
Dr. Lokesh Chandra, International Academy of Indian Culture,
Nova Delhi, 1971. As ilustrações e esboços das drogas de
origem vegetal, mineral e animal são raros na literatura
Ayurvédica, enquanto que tais trabalhos são disponíveis em
número considerável na literatura médica tibetana.
6. Este trabalho contém três textos, i.e., Dri med shel gong, Dri
med shel phreng e Lag len gces bsdus de Dil-dmar dge-bshes
Bstan-dzin-phun-tshogs. No Shel gong estão disponíveis as
descrições de muitas drogas e o Shel phreng é um auto-
comentário em prosa sobre o primeiro. Foi composto no século
18, no Tibete Oriental (Khams) pelo excepcionalmente versado,
o erudito Kar-gyu-pa (Dkar-brgyud-pa), contemporâneo do
grande Si-tu Pan-chen Chos-kyi-‘byung-gnas (1699 ou 1700-
1774). Shel gong e Shel phreng são amplamente
fundamentados nas fontes Ayurvédicas (tanto indianas como
tibetanas), mas o autor parece ter estudado também a
medicina chinesa. Há extensas obras isoladas escritas por ele
sobre acupuntura e moxa. Ele organiza todas as substâncias
medicinais e tratamentos em treze categorias: 1)Rin po che‟i
sman (metais e pedras preciosas), 2)Rdo sman (substâncias
minerais derivadas de rochas e minerais), 3)Sa sman (terras
medicinais), 4)Rtsi sman (exsudatos e secreções), 5)Shing
sman (substâncias medicinais obtidas das árvores), 6)Thang
sman (medicamentos preparados a partir dos extratos fervidos
de várias partes das plantas), 7)Sngo sman (plantas, ervas e
gramíneas medicinais), 8)Lan tshwa‟i sde tshan (sais

242
medicinais), 9)Srog chags las byung ba'i sman (medicamentos
obtidos de seres sencientes), 10)Zhing gi lo tog (plantas
cultivadas), 11)Chu‟i sman (águas medicinais), 12)Me‟i sman
(fogos medicinais), 13)Gdugs pa‟i sman (uso de fogo e água
em preparações medicinais). No ―Shel phreng‖, ao descrever
vários aspectos da droga Terminalia chebula, as importantes
fontes ou autores citados, entre outros, são os seguintes:
1)Gso-dpyad phran-bu (um pequeno fascículo de trabalhos
médicos), 2)Gyu-thog rnying-ma (o mais velho de uma família
de médicos famosos), 3)Tsho-mdzad Gzhon-nu (Kumara
Jivaka), 4)Zur rdol (um livro da famosa escola de medicina Zur),
5)Zur-mkhar Dharma-swami, 6)Brang-ti-pa (uma família de
médicos famosos),7)Rtsa rgyud (Mula tantra), 8)Bshad rgyud
(Akhyata tantra), 9)Yan lag nag po‟i rgyud (Krsnanga tan-
tra),10)Bdud rtsi bum pa (Amrta kalasa), 11)Gser-‟od (Suvarna
prabhasa), 12)Drang-srong Tsa-ra-ka (Caraka muni), 13)A tsa
ra‟i rda skor (nome de um trabalho sobre magia), 14)Yan lag
brgyad pa (Astanga), 15)‘Dra dpe (um trabalho sobre similares),
16)‘Dra yig (um trabalho sobre similares), 17)Klu-sgrub
(Nagarjuna), 18)Bdud-rtsi snying-po (Amrta hrdayan), 19)Tsa-
ra-ka‟ai Bdud rtsi (Amrta de Caraka), 20)Rin-po-che Tsa-pa
shilaha (Lama Campasilaha), 21) Rgyu mtsham rgyud
(Pramana tantra), 22)Klu rgyud (Naga tantra), 23)Phyi ma rgyud
(Uttara tantra), 24)Tsa ra ka‟i „grel pa (comentário sobre/de
Caraka), 25)‘Khrungs dpe (nome de um trabalho de
compilação).
7. Harasya bhavane jata haritasca svabhavatah, Harayet
sarvarogansca tena prokta haritaki,
Madanapala Nighantu, 1:8.
8. Bhavaprakasa.
9. Bhavaprakasa nighantu. 1:5.
10. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 173.

243
11. Ibid. Fólio 175.
12. Lamaist Pharmacognosy. Fólios186-187.
13. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 181.
14. Rajanighantu. 11:13.
15. Bhava prakasa nighantu. 1:8-9.
16. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 176.
17. Lamaist Phamacognosy. Fólio 173.
18. Há duas montanhas em Orissa atualmente – uma no
distrito de Bolangir e a outra no distrito de Mayurbhanj –
conhecidas como Gandhamardana. Elas pertencem à cadeia
de montanhas dos desfiladeiros orientais e estas duas
montanhas estão repletas de árvores de haritaki. De fato, esta
planta é utilizada também no curtimento, além de suas
propriedades medicinais, e é um dos produtos florestais de
menor importância do Estado.
19. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 174.
20. Ibid. Fólio 175.
21. Ibid. Fólio 176.
22. Ibid. Fölio 187.
23. Ibid. Fólio 173.
24. Ibid. Fólio 188.
25. Ibid. Fólio 188.
26. Ibid. Fólio 180.
27. Ibid. Fólio 178.
28. Ibid. Fólio 178.
29. O sabor produzido após a digestão de uma droga ou
alimento ingerido é conhecido como vipaka.
30. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 178.
31. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 178.
32. Estes gunas ou atributos são designados com um si-
gnificado simbólico, ou seja, não significa que esta droga
possua ambos os atributos leve e pesado, ou quente e frio etc.

244
Estes gunas ou atributos indicam na realidade o efeito que esta
droga produz no organismo. Dependendo das várias condições
predominantes no mesmo, esta droga produz diferentes efeitos
- mesmo opostos - sobre o corpo. Para maiores detalhes sobre
estes atributos deve-se fazer uma referência ao livro ―Concept
of Agni in Ayurveda‖, publicado pelo Chawkhamba Sanskrit
Series Office, Varanasi, Índia.
33. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 175.
34. Lamaist Pharmacognosy. Fólio 175.

245
CAPÍTULO 11

O ALHO NOS ANTIGOS TEXTOS MÉDICOS


INDIANOS

O alho, em sânscrito é comumente conhecido como lasuna


ou rasona. A espécie geralmente disponível na Índia é conhecida
botanicamente como Allium sativum, Linn.
Além do uso medicinal, o Allium sativum é geralmente
utilizado como condimento nas cozinhas dos lares indianos. Como
medicamento, possui uma posição significativa. Os textos
Ayurvédicos estão repletos de referências sobre sua excelência
terapêutica. Esta planta é extensivamente utilizada como
medicamento em todo o mundo. Há mais de 45 espécies, usadas
como medicamentos em diferentes regiões do planeta, da Sibéria
aos países tropicais como a Índia. Dependendo da condição
geográfica, sua coloração e sabor variam. Mas todas as espécies
terapeuticamente úteis desta planta possuem o característico odor
do alho.
Apesar de sua superioridade terapêutica, sendo até
mesmo comparável ao néctar, não alcança uma alta estima nos
smrti sastras (textos sobre rituais religiosos) como ingrediente
normal do alimento, talvez por causa de seu sabor desagradável e
propriedades como estimulante sexual. O Manu samhita, um dos
principais smrti sastras da Índia, trata-o como abhaksya (algo que

246
não se deve ingerir). Ainda que seu uso seja permitido com
reserva para os homens comuns, é estritamente proibido para os
Brahmins e para aqueles envolvidos em práticas espirituais. Os
clássicos iogues apresentam instruções estritas para a não
utilização do alho na alimentação, pois estimula a paixão e a
emoção, ambos atributos dos rajas e contrários ao satva guna. A
promoção do satva guna é essencial para todas as realizações
descritas no Yoga e no Dharma sastras (textos que tratam dos
rituais religiosos). Baseado neste ponto de vista, Yavanesta
(aquilo que é apreciado por heréticos) mantém-se como um dos
sinônimos desta droga.
Sua descrição está disponível nos clássicos Ayurvédicos
escritos antes do século 7 A.C. e também nos nighantus (textos
que lidam com matéria médica) do período medieval. O Kashyapa
samhita que é talvez o mais antigo dentre os clássicos
Ayurvédicos ainda existentes, dedica um espaço considerável
para a descrição desta planta. Além dos sinônimos e propriedades
terapêuticas este texto dá acesso a detalhadas descrições desta
planta para sua utilização como um agente rejuvenescedor
especial.
Mitologia Sobre a Origem de Lasuna
Estórias mitológicas sobre a origem desta droga são
descritas de diferentes formas nos textos Ayurvédicos. De acordo
com o Kashyapa samhita, ―a esposa de Indra não concebia há
centenas de anos. Portanto, seu marido deu-lhe amrta (ambrosia)
para beber. Quando estava administrando esta poção à sua
esposa, por causa de sua ternura, ela vomitou uma pequena
porção que caiu no chão. Então, disse Indra: Você terá muitas
crianças por causa desta poção, a porção que vomitou e que caiu
sobre a terra possuirá um cheiro desagradável, em conseqüência
de seu contato com o odor desagradável da terra. Exercerá o
mesmo efeito sobre os seres humanos, mas não será apreciado

247
pelos Brahmins e pelas pessoas envolvidas na elevação
espiritual‖ 1.
Tanto Gada nigraha2 como Astanga hrdaya3 trazem uma
estória mitológica diferente. Quando os deuses e demônios
agitaram o oceano, saiu dele a amrta (ambrosia). Rahu, que
pertencia ao grupo de demônios, pegou dissimuladamente uma
porção dela. Quando o deus Vishnu tomou conhecimento,
decapitou o demônio e a porção de amrta caiu sobre o solo, origi-
nando o alho. Como é uma porção de amrta, possui excelentes
propriedades terapêuticas. Simultaneamente, ele tornou-se
contaminado, pois foi comido pelo demônio e por esta razão os
Brahmins estão proibidos de utilizá-lo.
O Harita samhita contém uma estória mitológica
completamente diferente. Quando o oceano foi agitado pelos
deuses e demônios, o amrta (néctar) emergiu. Garuda (nome de
um pássaro celestial) levou o recipiente contendo o amrta para o
paraíso. No caminho, precisou lutar contra os demônios e assim,
algumas gotas caíram sobre a terra originando o alho. Certa vez,
uma escassez generalizada assolava a terra havia anos e todas
as florestas estavam secas. Os santos habitantes destas florestas
não conseguiam alimentos e deixaram o local. Um dentre eles era
muito velho e incapaz de movimentar-se. Como não poderia
acompanhar os demais foi deixado na floresta. À procura de
alimentos, moveu-se de um local para outro. Em conseqüência de
suas virtudes, avistou algumas plantas que possuíam coloração
verde, comendo-as completamente, inclusive as folhas, durante
seis meses. Após este período, as plantas não estavam mais
acessíveis para serem comidas. Portanto, durante um mês, ele
viveu dos bulbos (raízes) desta planta. Passada a escassez, os
santos que haviam abandonado aquela floresta regressaram e
encontraram aquele velho rejuvenescido. Ficaram surpresos e
perguntaram-lhe a razão de sua juventude. Ele não revelou a

248
razão, sendo amaldiçoado pelos sábios, que lhes disseram: ―o que
quer que tenha ingerido, não será conveniente para que os
Brahmins o comam e possuirá odor desagradável‖. O responsável
pela seu rejuvenescimento havia sido o alho. O Bhava prakasa4
descreve uma estória semelhante.
O Kashyapa samhita5 descreve outra estória mitológica
sobre a origem desta planta. Uma vez, Rudra estava caminhando
sobre a terra disfarçado quando avistou algumas mulheres,
esposas dos santos que habitavam a floresta. Elas não possuíam
filhos e pediram a Rudra que as abençoasse. Ele pediu que
pegassem uma planta e que esta as tornaria livre de doenças e
lhes daria muitas crianças vigorosas e de boa compleição. As
esposas tomaram daquela planta e tiveram filhos. Era o alho.
Variedades
Nos textos Ayurvédicos são descritas as sete variedades
de alho:

1.Sveta: variedade branca


2.Rakta: variedade vermelha
3.Mahakanda: variedade com bulbo grande
4.Ksudrakanda: alho com bulbo pequeno
5.Gramya: variedade cultivada
6.Vanya: variedade selvagem
7.Alho com um único dente

A classificação com base na coloração, ou seja, branca e


vermelha, está disponível no Raja nighantu, Nighantu siromani e
Kaiyadeva nighantu. O Dhanvantari nighantu e o Raja nighantu
classificam a planta em dois grupos dependendo do tamanho do
bulbo, pequeno ou grande. Kashyapa samhita classificou-a em
duas variedades dependendo de sua origem, cultivada ou

249
selvagem. A descrição do alho com um único dente está
disponível nos últimos textos Ayurvédicos como o Vanausadhi
candrodaya.
Sinônimos
Os antigos textos médicos indianos fornecem muitos
sinônimos para esta droga. Alguns deles indicam as
características botânicas e outros, as propriedades terapêuticas
desta planta. São os seguintes:

Sinônimos Deduções destes termos


1. Rasona
2. Rasuna São desprovidos de um sabor (azedo)
3. Rasonaka
4. Lasuna
5. Ugragandha Apresenta odor forte
6. Mahausadha Apresenta grande valor medicinal
7. Mlecchakanda Possui um bulbo apreciado pelos
8. Yavanesta Yavanas
9. Suklakanda Possui bulbo branco
10.Vilohita Possui bulbo vermelho
11.Sthulakanda Apresentam bulbo grande
12.Mahakanda
13.Vatari Que equilibra vayu
14.Dirghapatraka Possui folhas compridas
15.Prthucchada Possui folhas grossas
16.Katukanda Possui bulbo pungente
17.Sikhimula Possuem bulbo ramificado
18.Sikhakanda
19.Vartula Possui bulbo redondo
20.Granthimula Possui bulbo nodoso

250
21.Rahucchista Que derivam de Rahu
22.Rahutsrsta
23.Bhutaghna Que equilibra as aflições dos espíritos
prejudiciais
24.Sitamardaka Que elimina os efeitos do frio
25.Jugupsita Que é abominado pelos santos
26.Rasayanavara Que é um excelente elixir
27.Amlakanta Que neutraliza os efeitos do sabor azedo

Além dos citados acima, há outros sinônimos desta droga


cujas implicações (deduções) são difíceis de serem feitas como
arista, granjana, garvari e dindira modaka.
Rasa ou Sabor da Droga
O universo é composto de cinco mahabhutas. Portanto,
tudo no universo possui todos os seis rasas ou sabores, em forma
manifestada ou não-manifestada. A característica peculiar do alho
é que apenas cinco sabores estão manifestados nele. Diferentes
autoridades sustentam opiniões diversas sobre a manifestação
destes sabores nas diversas partes desta planta, conforme
relação abaixo:
1. Na raiz da planta:
-Sabor pungente, de acordo com Bhava prakasa
-Sabores doce e pungente, de acordo com Raja nighantu
2. Na folha da planta:
-Sabor amargo, de acordo com Bhava prakasa e Raja nighantu
-Sabor adstringente de acordo com Kashyapa samhita
3. No caule da planta:
-Sabor adstringente, de acordo com o Bhava prakasa e Raja
nighantu
-Sabores salgado e amargo, de acordo com Kashyapa samhita
4. Na extremidade do caule:

251
-Sabor salgado, de acordo com o Bhava prakasa
5. Na semente:
-Sabor doce, de acordo com Bhava prakasa
-Sabor pungente, de acordo com Kashyapa samhita
6. No bulbo da planta:
-Sabor salgado de acordo com Raja nighantu
Pode ser observado a partir desta relação que apesar de
diferentes partes da planta apresentarem diferenças nos sabores
que as compõem, todos os textos são unânimes em que nenhuma
parte desta planta apresenta o sabor azedo. As variações na des-
crição dos diversos textos médicos deve-se, talvez, às condições
geográficas ou ao habitat onde a amostra foi colhida e
experimentada.
Propriedades e Ações Farmacológicas
Muitas propriedades e ações farmacológicas estão
descritas nos diferentes textos Ayurvédicos e foram relacionadas
na tabela abaixo em ordem de importância e significado:

Propriedades 6
Textos de Referência
Guru (pesada) MV, KS, HS, RN, KN, DN, CS,
SS, NS, BP, RVN
Vrsya (afrodisíaca) MV, NA, KN, DN, CS, SS, RN,
RVN, NS, BP
Usna (quente) MV, NA, KN, DN, CS, SS, RN,
NS, BP
Bala prasadana (promove o vigor) KS, SS, GN, HS, RVN, DN, RN,
NS, BP
Sasneha (gordurosa) KS, RN, MV, CS, KN, DN, SS,
BP
Varna prasadana (gera compleição) KS, GN, HS, DN, SS, RN, NS,
BP

252
Kantha madhuryakaraka (promove a HS, MV, RVN, DN, SS, RN, NS,
voz) BP
Medhavi praja karaka (que auxilia na KS, HS, SS, DN, RN, BP
obtenção de uma criança inteligente)
Caksuprasadana (promove a visão) DN, KS, HS, SS, RN, BP
Tiksna (penetrante) KN, DN, MV, SS, RN, BP
Sara (laxante) RVN, KN, MV, SS, BP
Brmhana (proporciona nutrição) KS, KN, MV, BP
Picchila (viscosidade) DN, SS, RN, NS
Pacana (antiflatulento) KN, MV, BP
Rasayana (rejuvenescedor) KS, VC, GN
Sukra-janana (espermatogênese) KS, SS, BP
Smrti prasadana (promove a KS, SS, BP
memória)
Dipana (estimula a digestão) KS, GN
Rujapaha (elimina a dor) KS
Ayusya (promove a longevidade) KS
Vayah prasadana (preserva a KS
juventude)
Sukra janana (produtora de feli- KS
cidade)
Saugandhya janana (gera felicidade) KS
Srotovisodhana (desobstrução dos KS
canais de circulação)
Sonitajanana (promove a hema- KS
topoiese)
Saukumaryakara (gera compaixão) KS
Kesya (promove a saúde dos KS
cabelos)
Dantamamsa-nakhasmasru vardhaka KS
(promove a saúde dos músculos,
dentes, unhas e cabelos.
Garbha janana (promove a con- KS
cepção)

253
Saundarya vardhaka (promove a KS
beleza)
Prajabalayuraksaka (auxilia na KS
formação de uma criança vigorosa e
com vida longa)
Gramyadharmobhavaroga pra- KS
tisedhaka (previne doenças causadas
pelo excesso sexual)
Vandhyatva nasaka (cura este- KS
rilidade)
Priyadarsana karaca (gera uma KS
aparência agradáve)
Gatra mardava karaka (promove KS
maciez à pele)
Laghu (leve) KS
Vakprasadaka (promove a fala) GN
Hrdya (cardiotônico) KN
Usos Terapêuticos
Além de suas propriedades quanto à prevenção de
doenças e promoção da saúde, esta droga é utilizada no
tratamento de muitas doenças e os textos Ayurvédicos variam
consideravelmente na descrição de sua utilidade terapêutica.
Seus usos estão relacionados aqui em ordem de prioridade:

Indicações Textos de Referência


Kustha (doenças de pele re- KS, GN, HS, KN, DN, NS, MU,
sistentes, incluindo hanseníase) BP, CS, SS, RN
Gulma (tumores fantasmas) idem
Vataroga (doenças do sistema NS, KS, HS, KN, DN, MV, BP,
nervoso) CS, SS, RN
Krimi (infecções por bactérias, vírus, KS, GN, KN, DN, MV, BP, CS,
parasitas intestinais etc.) SS, RN

254
Bhagnasthi (fraturas ósseas) KS, NS, HS, RVN, KN, DN, MV,
BP
Arsas (hemorróidas) GN, HS, KN, DN, MV, BP, SS,
RN, NS
Sula (cólicas) HS, KN, DN, MV, BP, SS, RN, NS
Jirnajvara (febre crônica) KS, HS, DN, MV, BP, SS, RN, NS
Aruci (anorexia) HS, KN, DN, MV, BP, SS, RN, NS
Kasa (bronquite) KS, BP, SS, NS, KN, MV, RN, HS
Sotha (edema) HS, KN, DN, MV, BP, SS, RN, NS
Hrdroga (cardiopatias) RN, NS, HS, KN, DN, BP, SS
Svasa (bronquite asmática) KS, GN, HS, KN, MV, BP, SS
Kaphamaya (doenças causadas por DN, MV, BP, SS, RN, NS
kapha)
Meha (doenças urinárias re- GN, HS, KN, MV
sistentes, incluindo diabetes)
Mutrakrcchra (disúria) KS, DN, RN, NS
Sosa (doenças consumptivas) KS, GN, HS, SS
Agnimandya (supressão do poder KS, BP, SS
digestivo)
Kilasa (leucoderma) KS, CS, KN
Bhrama (vertigens) KS, HS
Visamajvara (malária) KS, KN
Yaksma (tuberculose) GN, HS
Hikka (soluços) HS, KN
Grahani (espru) KS
Kandu (prurido) KS
Visphota (erupção vesicular) KS
Vaivarnya (descoloração da pele) KS
Timira (catarata) KS
Naktandhya (cegueira) KS
Daha (sensação de queimação) KS
Jadya (afasia) KS
Asmari (cálculo renal) KS

255
Srotorodha (obstrução dos canais KS
de circulação)
Bhagandara (fístula anal) KS
Pradara (menorragia) KS
Pliha (esplenomegalia) KS
Vatarakta (gota) KS
Anaha (timpanite) HS
Pitta roga (doenças causadas por HS
pitta)
Ksaya (emagrecimento) HS
Pandu (anemia) HS
Kamala (icterícia) HS
Raktapitta (sangramento por HS
diferentes partes do corpo)
Murccha (desmaios) HS
Apasmara (epilepsia) HS
Amavata (reumatismo) HS
Pinasa (rinite crônica) KN
Adjuvantes para Diferentes Doenças
O alho deve ser fornecido em combinação com os
seguintes adjuvantes nas diferentes doenças:

Adjuvante Indicações
Asvagandha em pó (Withania Emagrecimento extremo
somnifera, Dunal)
Yastimadhu (Glycyrrhiza glabra, Bloqueio da voz
Linn.)
Óleo Gulma (tumor fantasma)
Khadira (Acacia catechu, Willd.) Kustha (doenças de pele crônicas,
incluindo hanseníase)
Vidanga (Embelia ribes, Burm. F.) Krimi (infecções por bactérias,
parasitas etc.)
Ghee e leite Tuberculose

256
Casca de kutaja (Holarrhena Hemorróidas
antidysenterica, Wall.)
Triphala (Terminalia chebula, Asma, bronquite e meha (doenças
Retz.; Terminalia belerica, Roxb.; urinárias resistentes, incluindo
Emblica officinalis, Gaertn.) diabetis)
Hingu (Ferula narthex, Boiss.) Doenças causadas por vata
Matulunga (Citrus medica, Linn.) Cólicas e timpanite
Iogurte Doenças causadas por vata
Leite e açúcar Doenças causadas por pitta

Rasona Kalpa
Nos textos Ayurvédicos estão prescritos diferentes
métodos para a administração de uma droga. Para efeitos
duradouros e especialmente para o propósito de rejuvenescimento
as drogas devem ser administradas em altas doses e geralmente
esta elevada quantidade não é tolerada pelas pessoas comuns.
Portanto, a dose administrada precisa ser gradualmente
aumentada. Há indicações e contra-indicações para tais terapias.
Mesmo para algumas pessoas (inclusive pacientes), para as quais
tais drogas estão normalmente indicadas para serem
administradas em pequenas doses, em uma terapia kalpa estão
contra-indicadas. Para obter o máximo de benefício é necessário
coletá-las de uma maneira específica e combiná-las com outras
substâncias antes da administração. O médico deve estar atento
às complicações que podem surgir e ao controle bem sucedido.
Isto se deve, em resumo, à natureza da kalpa terapia.
Normalmente, são escolhidas para esta terapia drogas
altamente potentes, como o alho. Ela é utilizada para proporcionar
uma saúde verdadeira e para prevenir doenças inclusive o
processo de envelhecimento em indivíduos saudáveis. É

257
administrada também para curar algumas doenças resistentes e
incuráveis.

 Pessoas Adequadas para a Administração de Rasona


Kalpa
Esta terapia deve ser administrada apenas em pessoas
fisicamente vigorosas, cujo poder de digestão e metabolismo
sejam adequados.

 Pessoas Inadequadas para Rasona Kalpa


Rasona Kalpa não deve ser administrada em crianças
pequenas, gestantes e pessoas portadoras de doenças causadas
por pitta e kapha. Está contra-indicada no primeiro estágio da
febre, nas diarréias, na icterícia, sutika (período imediatamente
após o parto, ou seja, o puerpério), hemorróidas, constipação e
dores na garganta e na boca. Aqueles que estão sendo
submetidos a emese, purgação, inalação e enema também são
inadequados para a terapia. Não deve ser administrada em
pacientes que estejam sofrendo de sede extrema, vômitos,
soluços e asma. Pessoas desprovidas de paciência, que estejam
sem assistentes, e aquelas que possuem natureza perversa não
devem receber esta terapia.
De acordo com o Gada nigraha, pacientes portadores de
anemia, udara (doenças abdominais resistentes, incluindo as
ascites), doenças consumptivas, edema, sede, alcoolismo,
envenenamento, pessoas com úlceras, acometidas por vômitos,
por doenças causadas por pitta, patologias dos olhos e fraqueza
podem gerar prováveis complicações se receberem esta terapia.
O mesmo deve ser observado para aqueles que apresentam
aversão ao álcool, ao açúcar mascavado indiano, ao leite, massas
e substâncias azedas. Portanto, a administração de Rasona Kalpa
nestes pacientes deve ser proibida.

258
Além do mencionado acima, o Harita samhita sugere que
esta terapia não seja administrada em pessoas portadoras de
rakta pitta (doença caracterizada por sangramentos em diferentes
partes do corpo), gota e erisipela.

 Estação Adequada
Kasyapa samhita, Gada nigraha e Harita samhita são
unânimes com relação à administração desta terapia durante o
inverno. O Harita samhita sugere também como apropriada para
esta terapia a estação chuvosa. Gada nigraha acrescenta a
primavera como adequada para pessoas com predominância de
vata. Está também estabelecido no Gada nigraha que as pessoas
de vata prakrti podem fazê-la em todas as estações, mesmo no
verão, sem qualquer dificuldade.

 Coleta do Allium sativum


O alho destinado à kalpa terapia deve ser colhido em um
dia chuvoso. Uma pessoa virtuosa, que possua paciência assim
como felicidade deve empreender este trabalho. Para tal, deve ser
utilizada uma bolsa feita de seda, algodão, couro ou lã, defumada
com aguru (Aquilaria agalocha, Roxb.) As folhas e as hastes de-
vem ser removidas, apenas os bulbos devem ser coletados para o
propósito referido.
De acordo com o Harita samhita, durante o verão as folhas
destas plantas murcham e os bulbos tornam-se brancos como um
ovo. Estes bulbos devem ser amarrados dentro de um saco e
conservados com segurança para uso no futuro.

 Processamento
De acordo com o Kashyapa samhita, a casca do alho deve
ser removida e os dentes devem ser cortados em pequenos
pedaços. Estes devem ser conservados dentro de um recipiente
de ghee, manteiga ou óleo durante dois, três, cinco, oito ou dez

259
dias, até que estejam completamente impregnados pela gordura.
Isto deve ser administrado a uma pessoa livre de preocupações.
Antes do uso, deve-se evitar escovar os dentes e sua refeição
anterior deve estar bem digerida. Durante a administração, os
Brahmins devem recitar encantamentos auspiciosos. O paciente
deve beber apenas água morna. Se estiver acometido por upa-
damsa (um tipo de doença venérea), deve ser fornecido gengibre
verde, gengibre seco, açafrão, matuhunga (Citrus medica, Linn.),
Punica granatum ou qualquer harita (vegetais ingeridos crus) com
excessão do rabanete.
O Gada nigraha prescreve muitos métodos para o
processamento desta droga. Uma pasta de alho pode ser
preparada com a adição de igual quantidade de ghee. O pilão e o
almofariz utilizados para a homogeneização também devem ser
untados com ghee. Esta pasta deve ser estocada por doze dias e
depois ingerida com leite. Uma pasta de alho preparada recente-
mente também pode ser utilizada. Neste caso, deve ser preparada
adicionando-se ghee, impregnado com suco de alho em igual
proporção. Sua potência é consideravelmente aumentada se
administrada com água morna.
A pasta de alho preparada através da adição de ghee de
leite de cabra, conservada durante seis meses, cura doenças
torácicas e a febre decorrente da malária. Pode ser empregada
nas massagens, bebidas, no colírio e na terapia inalatória.
Uma pasta de alho deve ser misturada com óleo ou vinagre
em quantidades iguais e conservada dentro de uma montanha de
grãos de cevada. Sua administração cura todas as doenças
causadas por vayu. Tais pacientes devem ingerir ghee e óleo
juntamente com a pasta.
Para intensificar a eficácia terapêutica posterior, deve-se
administrar 80 gramas de alho a 120 gramas de gengibre seco,
pippali (Piper longum, Linn.) e marica (Piper nigrum, Linn.) e 40

260
gramas de tvak (Cinnamomum zeylanicum, Linn.) Todas estas
drogas devem ser transformadas em uma pasta fina, e con-
servadas em um recipiente untado com ghee durante dois anos,
dentro de uma montanha de grãos de cevada. Depois disso, serão
administradas ao paciente.
De acordo com o Astanga hrdaya, os bulbos de alho que
crescem no Himalaia devem ser coletados e conservados dentro
de um vinho do tipo madira por uma noite. No próximo dia deve
ser preparada a pasta destes bulbos, extraindo seu suco. Este é
misturado a três partes de vinho. Aqueles que apresentam
aversão ao vinho devem utilizar a manteiga de leite ou vinagre
para depois utilizar a terapia.

 Dosagem
Dependendo do poder digestivo e da estação na qual
esteja sendo administrada, há variações quanto à melhor
dosagem. A menor possível é 40 g., a dose média é 60 g. e a
melhor dosagem é de 100 g. por dia. Pode ser administrada com
uma dose de 100 dentes de alho também. De acordo com o
Astanga hrdaya, a posologia deve ser aproximadamente 200 g.
Para aqueles que não podem ingerir esta quantidade a dose é de
100 g. Deve ser administrada para o indivíduo que já ingeriu a
refeição ou antes da mesma.

 Preparação do Paciente
Antes da administração da droga, o paciente deve receber
óleo, ghee, gordura, medula óssea, leite, caldo de carne ou a
decocção da droga indicada para a doença. Esta preparação
auxilia na desobstrução e limpeza da faringe, facilitando a
administração do alho.

261
 Método de Administração
Deve ser administrada seguida de álcool, o qual deve ser
novamente seguido por alho e álcool consecutivamente até que
toda a dose seja ingerida.
De acordo com o Gada nigraha, deve ser fornecida ao
paciente uma sopa de alho juntamente com uma sopa preparada
com leite ou carne fervidos em sali (um tipo de arroz). Após a
ingestão do alho deve ser oferecido ghee para beber.
Navanitaka prescreve um método diferente de
administração. O corpo do paciente deve estar limpo e ele deve
oferecer orações aos deuses, aos Brahmins e ao fogo sagrado. O
suco de alho coado deve ser oferecido para o paciente beber em
um dia auspicioso.

 Complicações e seu Controle


Se o paciente sente dor após a administração de Rasona
Kalpa, deve ser administrada uma terapia de fomentação. No caso
de vômitos súbitos ou desmaios, deve ser borrifada água fria
sobre seu corpo. Para aqueles que apresentam uma sensação de
queimação está indicado um banho de água fria. Estes pacientes
devem usar um ornamento de pérolas, cânfora ou flores de
jasmim.

 Anupana
Após a administração da terapia, deve ser oferecido álcool
para o paciente beber, se ele estiver com muita sede. O álcool
deve ser diluído com água. Para aqueles não habituados à
ingestão de álcool, pode ser oferecida manteiga, sopa de carne,
vinagre ou suco de lima. Pode ser oferecida ao paciente água fria
de poço, de preferência fervida e resfriada antes da administra-
ção.

262
 Cuidados Pós-Terapia
Após a administração da terapia deve ser oferecido ao
paciente feijão ou ervilha em pó para a limpeza das mãos e da
boca, juntamente com água morna. As roupas devem ser pesadas
e ele deve ingerir noz de areca juntamente com ingredientes
perfumados como cravo-da-Índia e cânfora. Não deve ser
permitido dormir durante o dia. O odor desagradável que exala do
corpo, por causa da ingestão do suco de alho é removido pela
ingestão de cravos-da-Índia, cânfora etc. Após a digestão deve
ser oferecida água fervida. À noite o paciente deve beber água
fervida com gengibre antes de deitar-se.

 Duração da Terapia
Deve continuar por quinze dias, um mês ou três meses,
podendo chegar até aos quatro meses. O paciente deve evitar
relações sexuais durante este período. É provável que ocorra um
desequilíbrio de pitta em seu organismo. A quantidade total de
alimento a ser oferecida ao paciente deve ser muito pequena. O
Gada nigraha prescreve seis meses como limite máximo e quinze
dias como limite inferior para a duração da terapia.

 Pathya ou Dieta Adequada


O paciente que recebeu a terapia rasona kalpa deve
alimentar-se com cevada ou trigo, que deve ser frito em panela de
barro e transformado em pó. Adiciona-se água, substâncias
perfumadas e sal. Deve ser oferecido ao paciente arroz tipo sali
com mudga (Phaseoles mungo, Linn.) Pode ingerir carne de
coelho, veado e outros animais que habitem terras secas, seguida
por substâncias azedas e sal. Pode alimentar-se com frutas como
amalaka (Emblica officinalis, Gaertn.) e Punica granatum (romã).
Rabanete fresco pode ser benéfico para ele. Para aqueles que
estão habituados a muita gordura será necessário acrescentar

263
uma certa quantidade de ghee ao alimento. Pessoas que sofrem
de kustha (doenças de pele crônicas, incluindo a hanseníase),
bronquite, prameha (doenças urinárias crônicas, incluindo o
diabetes), esplenomegalia, hemorróidas e gulma (tumores
fantasmas) a dieta deve ser isenta de água. Iogurte ou manteiga
podem ser ingeridos por três dias junto com sopa de vegetais. Nos
próximos três dias, a sopa de mudga (Phaseoles mungo, Linn.)
pode ser ingerida com vinagre. O paciente não deve ingerir carne
deteriorada. A sopa e os alimentos devem ser preparados todos
os dias e ingeridos frescos. Álcool, carne e substâncias azedas
são invariavelmente úteis para as pessoas que estão recebendo a
terapia rasona kalpa.

 Alimentos e Condutas Insalubres


O suco de cana-de-açúcar e seus produtos, viagens em
veículos, exposição ao sol e ao vento, longos diálogos,
preocupações, dormir durante o dia, passar a noite caminhando, a
ingestão de massas, relações sexuais e exercícios físicos estão
proibidos para as pessoas que estejam se submetendo à rasona
kalpa. Esta pessoa deve dormir em um quarto não exposto ao
vento.

 Complicações Decorrentes de Condutas Inadequadas


É provável que o indivíduo adquira ascite por causa da
ingestão de substâncias frias. A ingestão de gordura excessiva
resulta em anemia, edema, etc. Dietas com alimentos pesados
podem causar espru e icterícia. Aqueles que ingerem peixe
podem ser acometidos por febre, patologias da pele crônicas e
doenças consumptivas. Se for administrada no verão, é provável
que o indivíduo adquira distúrbios causados por pitta, cólicas,
diarréia, timpanite, náuseas, vômitos, anorexia, soluços, diarréia
crônica e bronquite asmática.

264
 Tratamento das Complicações
Quando surgem tais complicações, elas devem ser
tratadas de acordo com a terapia indicada para o distúrbio em
questão. Se forem conseqüências do desequilíbrio de kapha, o
paciente deve recorrer ao jejum. Pode-se proceder à purgação, à
emese e à terapia inalatória. Os medicamentos fortes devem ser
evitados tanto quanto possível.

 Cuidados Pós-Terapia
Após a administração da terapia, o paciente deve manter
uma dieta leve durante sete dias. Pode alimentar-se de ghee
fervido com triphala e sal durante dois dias. Estes procedimentos
auxiliam na eliminação dos doshas residuais do corpo. Depois
disso, aplica-se um purgativo. Por outro lado, o indivíduo pode
desenvolver uma doença de pele crônica.
Formulações Combinadas
Além da kalpa terapia para o rejuvenescimento e cura de
doenças crônicas e incuráveis, os trabalhos Ayurvédicos estão
repletos de referências a vários tipos de fórmulas a serem
utilizadas em pequenas doses e sem quaisquer precauções
laboriosas para a cura de doenças comuns. Em algumas destas
formulações utiliza-se o alho como simples componente e em ou-
tras, as demais drogas devem ser adicionadas ao mesmo.
Algumas fórmulas possuem nomes e outras não recebem uma
denominação específica nos textos Ayurvédicos.
De acordo com uma determinada fórmula, devem ser
combinados 40 g. de alho, 80 g. de ghee e um pouco de mel.
Devem ser transformados em um emplastro e empregado. Depois
o paciente deve ingerir leite. Após ter sido digerida a poção de
alho, deve ser ingerido leite e arroz. Isto deve ser feito durante um
ano para que a pessoa viva de maneira saudável, livre de
doenças por uma centena de anos.

265
Outra fórmula descrita no Kashyapa samhita refere-se ao
paciente acometido por doenças causadas por vata que não deve
utilizar o alho apenas internamente, mas também externamente.
Seu turbante deve ser guarnecido com alho e ele deve utilizar
coroas com a planta. Seus ornamentos para a cabeça e orelhas
devem ser feitos de alho. Suas vestimentas, inclusive mantas,
devem ser impregnadas com o suco do alho. Dentes de alho
devem ser amarrados às suas mãos, pernas e pescoço. As
roupas íntimas e a cama devem estar impregnadas com o suco do
alho. Sua esposa e serventes devem utilizar o alho de maneira
semelhante. Com este procedimento, todas as doenças causadas
por vata conseguem ser eliminadas imediatamente.
A seguir estão outras importantes preparações com alho:
1. Suco (svarsa)
Lasunadya svarsa (VS)
Rasona yoga (BBR)
2.Pó (curna)
Lasuna yoga curna (GN)
Lasunadya curna (BBR)
Rasona saptaka (VS)
Rasona pañcaka (BBR)
3.Pasta (kalka)
Lasuna yoga (YR)
Lasuna kalka (VS)
Rasona kalka (SA)
Rasonadi kalka (VM)
Rasonadi kalka (GN)
4. Decocção (kvatha)
Lasunadya kvatha (YR)
Lasuna kvatha (BBR)
5. Ungüento (lepa)
Lasunadya lepa (BBR)

266
Rasonadi lepa (BBR)
6. Preparação láctea (dugdhapaka)
Lasunaksira (CS)
7.Colírio (añjana)
Lasunadyañjana (YR)
Lasunañjana (GN)
8. Preparação oleosa (taila)
Lasuna taila (VS)
Lasunadya taila (BR)
Rasona taila (VS)
9. Preparação com ghee (ghrta)
Lasuna ghrta (GN)
Lasunadya ghrta (CS)
Rasona sarpi (GN)
Rasonadya ghrta (CD)
10. Preparações alcoólicas (madya)
Rasona yoga (BBR)
Rasona sura (CD)
11. Emplastro (leha)
Rasona pinda (CD)
Rasona paka (BNR)
Rasona paka (BYR)
Maha rasona pinda (BR e YR)
12. Comprimidos (vataka)
Rasona vataka (BNR)

 Notas e Referências

1.Kashyapa samhita, Kalphastana: Lasuna Kalpa: 7-12.


2.Gadanigraha; Ausadhi kalpa adhikara: 212-213.
3.Astanga hrdaya: Uttarasthana: 39, 112-113.
4.Bhavaprakasa: Haritakyadi varga:218.

267
5.Kashyapa samhita, Kalpasthana: Lasuna kalpa: 107-111.
6.MV= Madanavinoda; KS= Kashyapa samhita; HS= Harita
samhita; RN= Raja nighantu; KN= Kayadeva nighantu; DN=
Dhanvantari nighantu; CS= Caraka samhita; SS= Susruta samhita;
NS= Nighantu siromani; BP= Bhava prakasa; RVN= Rajavallabha
nighantu; NA= Navanitaka; BBR= Bhavata bhaishajya ratnakara;
YR= Yoga ratnakara; VS= Vanga sena; VM= Vrnda madhava;
GN= Gada nigraha; CD= Cakradatta; BR= Baishajya ratnavali;
BNR= Brhannighantu ratna kara; BYR= Brhat yoga ratnakara.

268
CAPÍTULO 12

ESTUDO E PRÁTICA

No Ayurveda, enfatiza-se a seleção do texto médico


apropriado ao estudo. Os estudantes e professores de medicina
devem possuir uma natureza especial, de forma a serem
adequados ao estudo e à prática da medicina. Invariavelmente,
são realizadas cerimônias para iniciação dos estudantes à
profissão médica.
Seleção de Textos Médicos
A pessoa que deseja adotar a profissão médica deve,
primeiramente, selecionar um texto adequado sobre medicina,
dependendo da competência em empreender um tipo de trabalho
sério ou leviano, sua disposição para resultados a longo ou a
curto prazo, seu habitat e sua idade. Há muitos destes textos,
disponíveis para os médicos, mas devem ser adotados apenas
aqueles que possuem os seguintes aspectos característicos:
1.Aqueles que são defendidos por eminentes, ilustres e sábios
médicos (que são famosos, populares e seguidos por pessoas
sábias);
2.Repletos de idéias e respeitados por especialistas de reputação;
3.Adequados ao desenvolvimento intelectual dos discípulos de
todas as três categorias: altamente inteligentes,
moderadamente inteligentes e pouco inteligentes;

269
4.Isentos de defeitos de repetição, transmitidos por videntes e que
possuam aforismos bem colocados juntamente com
comentários em ordem apropriada;
5.Que possuam idéias distintas para transmitir;
6.Que estejam livres de expressões irregulares e difíceis e que
contenham expressões claras e não-ambíguas;
7.Que transmitam idéias de maneira ordenada;
8.Que se dediquem primariamente à determinação dos objetos
reais;
9.Que estejam livres de contradições;
10.Nos quais não haja qualquer confusão com relação ao
contexto;
11.Que transmitam rapidamente as idéias;
12.Que estejam equipados com definições etiológicas,
sintomatológicas, terapêuticas e ilustrações.
Seleção de um Professor de Medicina
O preceptor ideal é aquele bem versado nas escrituras,
equipado com conhecimento prático, sábio, habilidoso, cujas
prescrições sejam infalíveis, que seja excelente, que possua todos
os equipamentos necessários para o tratamento, que não seja
deficiente com relação a quaisquer órgãos dos sentidos, que
esteja familiarizado com a natureza humana e com o tratamento
racional, cujo conhecimento não seja obscurecido pelo conteúdo
de outras escrituras, que esteja livre da vaidade, da inveja e da
raiva, que trabalhe duramente, que tenha uma disposição afetiva
com seus discípulos e que seja capaz de expressar suas opiniões
com clareza. Um preceptor com tais qualidades infunde
conhecimento médico ao bom discípulo como a nuvem periódica
ajuda a trazer uma boa colheita em uma terra fértil.
Você deve aproximar-se de tal preceptor e respeitá-lo
como fogo, deus, rei, pai e mestre, com todos os cuidados. Após
obter o conhecimento completo da escritura, o discípulo deve

270
trabalhar novamente e novamente para adquirir profundidade nas
mesmas, esclarecimento das expressões, compreensão dos
vários conceitos e poder de oração.
Seleção do Estudante de Medicina
Uma pessoa que possua as seguintes qualidades deve ser
escolhida como um estudante de medicina:
1.Tranquilidade;
2.Generosidade;
3.Aversão às atitudes desprezíveis;
4.Condições normais dos olhos, da face e da saliência do nariz;
5.Língua fina, vermelha e clara;
6.Ausência de qualquer desequilíbrio nos dentes, lábios e voz;
7.Perseverança;
8.Livre de vaidade;
9.Possuidor de inteligência, poder de raciocínio e memória;
10.Mentalidade liberal;
11.Nascido na família de um médico ou que tenha o
temperamento de um médico;
12.Desejoso de saber a verdade;
13.Fisicamente perfeito;
14.Sentidos não enfraquecidos;
15.Modéstia e ausência de ego;
16.Habilidade para compreender o real significado das coisas;
17.Ausência de irritabilidade;
18.Ausência de vícios;
19.Bom caráter, puro, boa conduta, amor aos estudos, entusiasmo
e temperamento simpático;
20.Devoção ao estudo;
21.Predileção ininterrupta pela teoria e prática da ciência;
22.Ausência de ganância e preguiça;
23.Boa vontade para com os seres vivos;
24.Obediência a todas as instruções do preceptor;

271
25.Devoção ao preceptor.
Iniciação ao Estudo
Deve ocorrer durante um favorável muhurta (uma unidade
de tempo que consiste de 48 minutos, também denominado Siva,
Bhujanga etc.) e um auspicioso ksana (divisão do dia utilizada na
ciência astrológica), quando a lua estiver favorável em virtude de
sua conjunção com as constelações de Pusya, Hasta Sravana ou
Asvayuk, em um dia auspicioso de uma quinzena luminosa de
uttarayana (solstício do verão) no qual o discípulo deve estar
cumprindo o jejum, com o corpo limpo, vestindo uma roupa cor de
açafrão e com material perfumado nas mãos. Deve trazer consigo
samidha (ramos secos empregados em oferendas), fogo, ghee,
pasta de sândalo, um recipiente de barro cheio de água,
grinaldas, lâmpadas, ouro, ornamentos de ouro, prata, pedras
preciosas, pérolas, coral, vestimentas de seda, paridhi ou varetas
de palasa (Butea monosperma, Kuntze.) de 50 cm. que serão
colocadas nos quatro lados do homakunda (uma lareira escavada
retangularmente para oferendas), kusa (Desmostachya bipinnata,
Stapf.), arroz frito, sarsapa (Brassica nigra, Koch.), aksata (arroz
descascado e em grão), flores brancas soltas e grinaldas feitas
com as mesmas, gêneros alimentícios que promovam o intelecto e
pastas perfumadas doces.
Quando o discípulo chega com os preparativos
mencionados acima, o médico já deve ter construído um sthandila
(um quadrado de dois metros em um local elevado) com um lado
para a direção norte ou leste, em local plano e puro, untado com
esterco de vaca, espalhado kusa (uma erva) sobre a área e
deixado uma boa margem em todos os lados. Este local deve
estar decorado com pasta de sândalo, vaso de barro, água,
tecidos de seda, ouro, ornamentos de prata, ouro, pedras
preciosas, corais e gêneros alimentícios. Após realizar o homa, o
estudante deve ser iniciado no estudo.

272
Os Médicos e suas Características
No Ayurveda, os médicos são classificados em três
categorias:
1.Pseudomédicos;
2.Aqueles que fingem ser médicos e
3.Médicos genuínos
Aqueles que parecem médicos simplesmente por exibirem
uma maleta de médico contendo drogas, livros de medicina,
blefando e se apresentando como médicos pertencem à primeira
categoria. São ignorantes da ciência da medicina e simplesmente
impostores.
Aqueles que se caracterizam por sua ligação com pessoas
realizadas na riqueza, na fama e no conhecimento também
passam a ser conhecidos como médicos, apesar de não o serem.
Pessoas desta categoria estão relacionadas como aqueles que se
passam por médicos.
Aqueles que são educados na administração de terapias e
possuem discernimento assim como conhecimento da terapêutica,
que são dotados de sucesso infalível e podem levar felicidade ao
paciente são salvadores de vidas. Tais médicos estão
classificados sob a categoria de médicos genuínos.
Características de um Bom Médico
Médicos nascidos em famílias nobres, bem letrados, com
experiência prática, habilidosos, puros, cujas prescrições
terapêuticas e procedimentos cirúrgicos sejam infalíveis e que
possuam todos os equipamentos, que sejam dotados de órgãos
sensoriais saudáveis e autocontrole, familiarizados com as
manifestações naturais e que possuam presença de espírito são
salvadores de vidas e destruidores de doenças. Tais médicos são
bons conhecedores da anatomia e fisiologia humana, da formação
e do desenvolvimento do corpo e da origem e evolução do

273
universo. São livres de dúvidas relacionadas com a etiologia, com
os primeiros sintomas e sinais, com a sintomatologia e sinais reais
assim como o controle das doenças facilmente curáveis, daquelas
difíceis de curar, daquelas que podem ser aliviadas e das
incuráveis.
São versados nos seguintes temas:
1.Nos três princípios da ciência da vida (ou sejam, a etiologia, a
sintomatologia e o controle do bom e do mal estado de saúde);
2.Nos princípios fundamentais e sua elaboração;
3.Nas três fontes de drogas;
4.Nas trinta e cinco raízes e frutas, quatro tipos de gorduras, cinco
tipos de sais, oito tipos de vinhos, oito tipos de leites e seis
plantas cujo látex e cascas são úteis;
5.Nos vários tipos de drogas utilizadas nas cinco terapias
eliminativas;
6.Nos vinte tipos de sopas;
7.Nos trinta e dois tipos de pós e pomadas;
8.Nos seiscentos tipos de purgativos;
9.Nos quinhentos tipos de decocções;
10.Nos fatores responsáveis pela manutenção da saúde
verdadeira, incluindo dieta, drogas, conduta, residência,
movimento, sono, repouso, doses, colírio, fumo, inalação, unção,
lavagem, não-supressão das necessidades básicas, supressão
das necessidades psíquicas, exercícios físicos e saúde para
examinar os órgãos sensoriais;
11.Conhecimento dos quatro aspectos terapêuticos e seus
dezesseis fatores;
12.Na determinação da natureza das doenças;
13.Nos três objetivos da vida;
14.Nas várias ações de vayu;
15.Nos quatro tipos de substâncias gordurosas preparadas de
acordo com vinte e quatro métodos, com drogas de vários

274
sabores, cujas combinações e permutações perfazem sessenta e
quatro tipos;
16.Nos vários métodos de preparação das drogas e terapias para
oleação, fomentação, emese e purgação;
17.Nas doenças da cabeça etc;
18.No resumo das doenças causadas pela combinação e
permutação dos vários doshas;
19.Nas doenças como carbúnculos e abscessos;
20.Nos três tipos de edemas e outras doenças que apresentem
distensão em qualquer parte do corpo;
21.Nos quarenta e oito tipos de doenças;
22.Nos cento e quarenta tipos de doenças da variedade
nanatmaja (doenças causadas especificamente por um dosha);
23.Na etiologia, nos sinais, sintomas e controle de pessoas
mesquinhas que sejam muito corpulentas ou magras;
24.Na natureza prejudicial e benéfica do sono, do repouso e do
sono excessivo, juntamente com sua etiologia e controle;
25.Nas seis medidas terapêuticas como a terapia de alívio etc;
26.Nos sinais, sintomas e tratamento das doenças decorrentes da
superalimentação e da subnutrição;
27.Nas doenças causadas pelo desequilíbrio do sangue, ou seja,
intoxicação, desmaios e síncopes juntamente com suas etiologias,
sinais, sintomas e tratamento por medicamentos e
comportamento;
28.Nas regras dietéticas, na preparação de alimentos de natureza
saudável ou insalubre;
29.Na natureza das dietas e condutas mais importantes dentro de
seu grupo;
30.Nos quarenta tipos de preparações alcoólicas;
31.Na determinação do dravya (matéria), guna (qualidade),
karman (ação) primários e secundários dos sabores;
32.Nos vários tipos de ingredientes alimentares incompatíveis;

275
33.Nos ingredientes dos alimentos e bebidas classificados em
doze grupos, juntamente com suas propriedades;
34.Nas propriedades dos líquidos pós-prandiais;
35.Nos nove fatores que necessitam de observação para
determinar as propriedades do alimento;
36.Nos processos digestivos e metabólicos;
37.Nos bons e maus efeitos dos alimentos saudáveis e insalubres;
38.Nas doenças causadas pelo desequilíbrio dos vários elementos
teciduais assim como, em resumo, seus tratamentos e
39.Nos dez refúgios da vida.

Estes médicos compreendem as oito seções do Ayurveda


(Ciência da Vida) em sua totalidade assim como seu campo de
ação. Possuem o poder da compreensão, da memorização e do
domínio do texto. Aplicam seu conhecimento assim adquirido para
o tratamento das doenças com o objetivo de trazer os dhatus ao
seu estado de equilíbrio, após dominar o estágio da doença, com
sua própria habilidade e com as propriedades das drogas
empregadas. São dotados de boa memória, inteligência,
conhecimento teórico e prático. Nutrem sentimentos cordiais por
todas as criaturas exatamente como pai, mãe, irmãos e familiares.
Os médicos que possuem tais qualidades dão vida ao paciente e
curam suas doenças.
Características dos Médicos Fingidos e Pseudomédicos
De acordo com o Caraka, tais médicos são aqueles que se
movem de uma rua para outra à procura de sustento, vestidos de
médico. Quando ficam sabendo que alguém está doente,
aproximam-se do mesmo e começam a enumerar suas próprias
qualidades em voz alta de modo que o paciente possa escutá-lo.
Se o paciente já está sob tratamento, tentam descobrir falhas e
mais falhas com relação ao médico que o está assistindo. Cativa
os amigos do paciente com maneiras agradáveis, calúnias e

276
adulações. Propaga também que está interessado apenas em
uma remuneração sem importância. Depois de bem sucedido em
conquistar o paciente, examina-o muitas vezes, cuidadosamente,
tentando ocultar sua ignorância. Se não for capaz de aliviar a
doença, alega que faltou ao paciente autocontrole, assistência e
equipamentos. Assim que o paciente falece, parte para outros
locais com outra aparência. No encontro entre leigos, proclama
sua habilidade, em caráter contraditório. Como uma pessoa
impaciente, fala mal da paciência dos indivíduos corajosos. No
caso de encontrar uma reunião de sábios, imediatamente afasta-
se para longe do local. Caso tenha o conhecimento superficial de
alguma fórmula terapêutica, nunca hesita em citá-lo, sem qualquer
cuidado com a importância do assunto. Não aprecia qualquer
pergunta feita por outros nem gosta de colocar qualquer questão
para outro. Torna-se perturbado pelo questionamento como se
atacado pela morte. Ninguém sabe nada sobre seu preceptor,
discípulos, colegas de classe ou mesmo seus concorrentes.
Os pseudomédicos, com sua aparência, tentam capturar o
paciente como um caçador de pássaros pega sua vítima na
armadilha. Estão distantes da teoria, da experiência prática, do
conhecimento sobre os períodos de administração das terapias e
suas doses. São como mensageiros da morte sobre a terra;
portanto, não podem ser acolhidos.

277
CAPÍTULO 13

OUTROS SISTEMAS TRADICIONAIS DE


MEDICINA

Juntamente com o Ayurveda são praticados na Índia,


tradicionalmente, os sistemas Unani, Siddha, Emchi e a
Naturopatia. A Yoga e o Tantra, basicamente significativos para a
obtenção de um estado espiritual elevado são eventualmente
utilizados para tratar doenças. Todos estes sistemas tradicionais
possuem muitos princípios fundamentais em comum com o
Ayurveda. Mesmo na prática existe entre eles uma livre troca de
conhecimentos.
Unani Tibb

O sistema Unani Tibb de medicina, como já indica o nome,


foi proposto originalmente por estudiosos e filósofos gregos e
desenvolvido posteriormente nos países árabes. Este antigo
sistema está fundamentado nos conceitos médicos da Grécia
antiga de Hipócrates e Galeno. Originou-se e desenvolveu-se com
o auxílio das contribuições dadas por eminentes médicos das
diferentes regiões, independente de suas afinidades religiosas.
Em 750 D.C., quando Abbasids subiu ao poder na Arábia, havia
um empreendimento organizado para o aprendizado científico. Por
esta razão, textos médicos da Grécia e da Índia foram traduzidos

278
por estudiosos convidados de diferentes países. Este trabalho foi
efetuado sob o patrocínio dos califas Harun-al-Rashid e seu filho,
al-Mamum, nos séculos 8 e 9. A tradução dos textos médicos da
Grécia e da Índia e seu estudo originou o estabelecimento de
muitos centros médicos beneficentes, hospitais, bibliotecas
médicas e faculdades no império árabe. Nos séculos 10 e 11, os
trabalhos sobre este sistema de medicina foram traduzidos para o
persa por estudiosos famosos como al-Razi (Rhazes). Outro
eminente médico deste período foi Ibn Sinha (980-1037 D.C.),
popularmente conhecido como Avicena. Seu conhecimento era
multifacetado e multidimensional. Sua obra ―Al Quanun‖ (Cânone)
lida com os princípios fundamentais do sistema de medicina.
Rhazes e Avicena eram de origem persa. Suas obras sobre
medicina foram, no entanto, escritas em árabe. Quando a Ásia
Central foi atacada por mongóis, como Gêngis Khan e Timur, os
médicos e estudiosos desta região foram forçados a deixar seus
países nativos e dispersaram-se para os diferentes Estados
vizinhos como a Índia, ou seja, para Delhi, naquela época sob o
governo de sultões como Allauddin Khilji (1296-1321 D.C.), que
mantinham boas relações com Bagdá. Portanto, os estudiosos e
médicos da Ásia Ocidental e Central conseguiram um refúgio
seguro sob sua proteção e Unani Tibb tornou-se popular na Índia.
As condições da Índia na época eram ligeiramente diferentes
daquelas que prevaleciam nos países árabes e o sistema Unani
de medicina foi submetido a certas mudanças significativas para
acomodar os costumes, as tradições e as condições geográficas
deste país.
Durante o período Moghul, entre os séculos 15 e 17 D.C.,
hospitais e clínicas Unani foram abertos em diferentes regiões do
país e os governantes patrocinaram muitos estudiosos
Ayurvédicos e Unanis, famosos na época por seu conhecimento
médico. Apesar da queda do império Moghul, o povo da Índia

279
patrocinou o sistema Unani de medicina, seus médicos, assim
como seus estudiosos. Muitos estudiosos Ayurvédicos enri-
queceram seu sistema de medicina com o auxílio do
conhecimento das drogas utilizadas no sistema médico Unani.

 Princípios Fundamentais do Sistema Unani de Medicina


O sistema Unani baseia-se na antiga teoria grega dos
quatro humores e dos quatro elementos básicos. A composição do
corpo humano, assim como a dos medicamentos, são explicadas
com base em certos princípios fundamentais: 1)Arkan
(elementos), 2)Mizaj (temperamento), 3)Akhlat (humores), 4)Aza
(órgãos), 5)Arwah (espíritos vitais ou sopros vitais), 6)Quva
(energia) e 7)Afa‟al (ação).
Arkan (Elementos)
De acordo com o sistema Unani de medicina, existem
quatro elementos básicos denominados mitti (terra), aag (fogo),
pani (água) e hawa (ar). Estes quatro elementos básicos são
reminiscências do pañcabhautica, conceito de matéria do
Ayurveda. Estes elementos básicos combinam-se para produzir os
órgãos (aza) e o espírito vital (arwah). Estes órgãos e o espírito
vital combinam-se para juntos produzirem energia (quva) que é
responsável pela manifestação dos diferentes tipos de ações
(afa‟al) fisiológicas no corpo.
Mizaj (Temperamento)
Este é um importante conceito da medicina Unani e forma
a base do diagnóstico assim como do tratamento e seleção de
uma droga para preveni-la e curá-la.
Akhlat (Humores)
Assim como o conceito de tridosha do Ayurveda, o sistema
Unani de medicina acredita nos quatro humores básicos que
regulam as funções fisiológicas do corpo–são eles balgam
(fleuma), khoon (sangue), safra (bile amarela) e sauda (bile
negra). Estes quatro humores representam as quatro modalidades

280
primárias dos elementos básicos; permanecem no corpo em uma
proporção definida para conservá-lo saudável e qualquer distúrbio
em sua predominância relativa resulta em morte e decadência.
Estes humores são produzidos durante o processo de digestão e
metabolismo.
Juntos, todos estes sete conceitos básicos do sistema
Unani são chamados Umur-e-Tabia.

Sistema Siddha de Medicina

Siddha é um termo sânscrito que significa ―perfeição‖. As


pessoas que realizaram a perfeição espiritual são também
denominadas siddhas. A região sul da Índia deu origem a grandes
santos no passado e eles conseguiram grandes realizações nos
diferentes campos da arte e da ciência. Como parte da cultura
indiana, com freqüência o conhecimento entre os santos do norte
e do sul passavam por um intercâmbio sendo, portanto, muito
difícil definir uma linha demarcatória entre o Ayurveda e o sistema
de medicina concebida, patrocinada e propagada pelos santos
(siddhas) do sul da Índia. Alguns dos princípios básicos do
Ayurveda e do sistema Siddha de medicina são comuns.
Entretanto, este sistema tem oferecido uma contribuição única e
significante para a terapêutica e farmácia.

 Mitologia sobre a Origem do Sistema Siddha


De acordo com a tradição, foi o deus Shiva quem revelou o
conhecimento do sistema médico Siddha à sua consorte, Parvati,
que o transmitiu ao seu descendente Nandi. Todos os Siddhas ou
santos aprenderam este sistema de medicina através de Nandi.
Por esta razão, este sistema é conhecido como escola Saiva de
medicina.

281
Os Tamils possuem uma civilização única e distinta. A
história documentada remonta a milhões de anos. A origem da
língua Tâmil * é atribuída ao sábio Agastya e o sistema Siddha de
medicina também é atribuído à ele. Seu nome é encontrado em
diferentes puranas, tanto em tâmil como em sânscrito.

 Propositores do Sistema Siddha de Medicina


A seguir está a relação dos dezoito Siddhas que
propuseram este sistema de medicina:
Nandi, Agasthyar, Thirumular, Punnakkesar, Pulasthiyar,
Poonaikannar, Idaikkadar, Bogar, Pulikai Isar, Karuvurar,
Konkanavar, Kalangi, Sattainathar, Azhuganni, Agappai, Pambatti,
Thevaiyar, Kudhamlai.
Nomes como Bogar, Idaikkadar e Thevaiyar são de origem
recente enquanto que os Siddhas viveram provavelmente na
Idade Média. Há autores de tratados de medicina Siddha como
Sattaimuni, Yogimuni, Machamuni, Kakabusundar etc., cujas
obras atualmente estão disponíveis em partes e continuam sendo
utilizadas. Alguns destes santos são mantidos em alta estima
como proponentes do sistema Ayurvédico também.

 Princípios Fundamentais
Este sistema de medicina compartilha com o Ayurveda
alguns dos princípios fundamentais como a teoria
Pañcamahabhuta, a teoria dos Tridoshas e do Sapta dhatu. Há,
entretanto, variação considerável na classificação e no uso das
drogas entre estes sistemas.
Os Siddhas pertencem ao Saiva sampradaya e, de acordo
com este sistema, todo o universo é composto de duas entidades
essenciais – a matéria e a energia que os Siddhas chamam Siva e

*N. do T.: A mais culta das línguas dravídicas, falada no sul da Índia e ao
norte e oeste de Sri lanka.

282
Sakati respectivamente. A matéria não pode existir sem a energia
e vice-versa. O componente material do universo é posteriormente
subdividido em cinco: 1) munn; 2) neer; 3) thee; 4) vayu e 5)
akasan. Eles são idênticos aos Pañcamahabhutas do Ayurveda.
Em consideração à significativa contribuição que os
Siddhas têm dado à matéria médica e à farmácia, uma
característica única do sistema precisa ser mantida em mente. A
prevenção e a cura da doença são os objetivos básicos de todos
os sistemas de medicina. O sistema Siddha possui, além disso,
uma preocupação com a imortalidade do corpo.

 Classificação das Drogas


Além da divisão nas categorias vegetal, animal, metálica e
mineral, os Siddhas também classificam as drogas sob as
seguintes seis categorias:
1. Uppu (Lavanam): Drogas solúveis em água e que calcinam
quando colocadas no fogo dando origem a vapor. São,
evidentemente, compostos inorgânicos hidrossolúveis que
desprendem água da cristalização ou decompõem-se e emitem
gases quando inflamados.
2.Pashanam: Drogas que não são solúveis em água mas
desprendem vapores quando submetidos ao fogo, compostos
inorgânicos que não se dissolvem na água e não se decompõem
sob o fogo.
3. Uparasam: Drogas que não se dissolvem na água, mas que
desprendem vapores quando colocados no fogo, quimicamente
semelhantes ao Pashana, diferindo nos modos de ação.
4. Loham: Ligas metálicas e metais que não são solúveis em água
mas derretem quando colocados no fogo e solidificam quando
resfriados.
5. Rasam: Drogas que são moles, sublimam quando colocadas no
fogo, transformam-se em pequenos cristais ou pós amorfos –

283
mercúrio, combinações e compostos de mercúrio, arsênico etc. Os
quais sublimam sob o calor.
6. Gandhakam: Enxofre insolúvel em água, cauteriza-se quando
submetido ao fogo.
A partir das duas últimas categorias, os médicos Siddha
preparam compostos com propriedades inteiramente diferentes,
que diferem dos Rasam e Gandhakam pois não queimam, não
desprendem vapor e não sublimam quando aquecidos no fogo.
No sistema Siddha de medicina, os metais e as
preparações metálicas são também classificadas de acordo com
os cinco mahabhutas, como relacionados abaixo:

Bhuta Metal Pashanan


Prithvi Ouro Trisulfeto de Arsênico
Appu Chumbo Veeram (Cloreto de mercúrio)
Theyu Cobre Lingam (Sulfeto de mercúrio vermelho)
Vayu Ferro Vellai pashanam (Arsênico branco)
Akasam Zinco Cendi (Enxofre)

 Diagnóstico das Doenças


Os Siddhas dedicam grande importância ao exame do
pulso, da urina e dos olhos, língua, voz, tato e coloração das fezes
para o diagnóstico de um paciente.

 Kalpa Cikitsa
O sistema Siddha desenvolveu uma disciplina denominada
Kaya kalpa destinada a uma longevidade completamente livre de
doenças.

284
Emchi ou Sistema Tibetano de Medicina

Este sistema de medicina tradicional é prevalente entre a


população budista do Laddakh, Lahul, Spiti, Darjeeling, Sikkim e
algumas outras regiões do Himalaia. O povo destas regiões
possui cultura e costumes predominantemente tibetanos e para o
tratamento de suas doenças habituais recorrem ao auxílio do
sistema tibetano de medicina.
Antes da difusão do Budismo no Tibete, os habitantes
locais, seguidores da religião Bon, possuíam um tipo de medicina
tradicional que foi consideravelmente influenciada pelos princípios
fundamentais do Ayurveda. Esta influência cresceu com o advento
do Budismo. Eles seguiram as mesmas teorias de pañca-
mahabhuta, tridosha e saptadhatu do Ayurveda. Também utilizam
drogas Ayurvédicas, mas empregam simultaneamente, em
considerável proporção, suas próprias plantas medicinais que
crescem em elevadas altitudes. Em uma de suas escrituras
religiosas, ou seja, no Tanjur, estão incluídas 22 obras
Ayurvédicas traduzidas. Na literatura antiga, possuem também
muitos trabalhos, sendo que o mais popular é conhecido como
―rGyu-bzhi‖ (pronunciado como Gyu-si). Esta obra possui quatro
partes:

Título em tibetano Sânscrito Equivalente em


português
I- Rtsa rgyud Mula tantra O Texto Introdutório
II- Rsad rgyud Akhyata tantra O Texto Explicativo
III- Man nag rgyud Upadesa tantra O Texto das Instruções
IV- Phyi ma rgyud Uttara tantra O Texto Conclusivo

285
 Classificação do Conhecimento
De acordo com a mais popular das tradições tibetanas,
todas as escrituras leigas e religiosas, conhecidas como Rig gnas
(literalmente, vidya sthana ou conhecimento), estão divididas em
dez categorias. Cinco delas formam um grupo de matérias
maiores que incluem as seguintes:

Título em tibetano Sânscrito Equivalente em


português
1.Bzo-rig-pa Silpa sastra Tecnologia, etc.
2.Gso-ba-rig-pa Cikitsa sastra Medicina
3.Sgra‟i-rig-pa Shabda sastra Gramática
4.Tshad-ma-rig-pa Pramana sastra Lógica
5.Nan-don-rig-pa Dharma sastra Religião

As cinco categorias restantes são conhecidas como o


grupo das matérias menores e são elas:

Título em tibetano Sânscrito Equivalente em


português
1. Snan dnags Kavya sastra Poesia
2. Sbed sbyor Chanda sastra Geometria
3. Mnon brjod Abhidhana sastra Lexicologia
4. Zlos gar Natya sastra Dramatização
5. Rcis Jyotisa sastra Astrologia

 Relações Indo-Tibetanas
A amizade entre Índia e Tibete é muito antiga. Mesmo
alguns historiadores tibetanos atribuem o primeiro reinado do
Tibete a um indiano, gNa-khri-btsan-po, descendente do rei
Bimbisara. O contato indo-tibetano assumiu seu aspecto formal

286
durante o reinado de Sron-bstsans-gan-po. Este rei casou-se com
uma princesa nepalesa e uma princesa chinesa e, durante seu
reinado, o Budismo foi introduzido no Tibete, sendo reconhecido
como religião oficial daquele país. Ele governou o país até 650
D.C. e convidou muitos estudiosos indianos, inclusive médicos,
para que visitassem seu país. A Índia e o Tibete tornaram-se mais
próximos durante a metade do século XI, quando o rei Ye-ses-‘od
enviou um grupo de estudiosos tibetanos para a Índia para o
estudo das escrituras. Convidou também um grupo de estudiosos
indianos sob a liderança de Atisa Dipankara. Muitos textos
Ayurvédicos foram traduzidos do sânscrito para o tibetano entre
os séculos 12 e 14 D.C.
Vairocana, discípulo de Padmasambhava, veio para a Índia
e aprendeu medicina com vinte e cinco professores e estudiosos.
De Candranandana, aprendeu o ―rGyud-bzhi‖. No século 10 D.C.,
Rin-chen bzan-po veio à Índia e durante dez anos aprendeu
medicina, pagou uma centena de moedas de ouro a um Pândita
de Kashmir chamado Jnardana, e aprendeu com ele 120 capítulos
do ―Yan-lag brgyad-pa‟i snin-po bsduds-pa‖, ou seja, o
―Astangahrdaya Samhita‖ juntamente com seu comentário
―Candrika‖, escrito por Candranandana. Durante a última metade
do século 10 D.C., o Pândita indiano Dharma Srivarman,
juntamente com Sne-bo lo-tsa-ba, Dbyig-gi‘ Rin-chen e outros
traduziram o famoso auto-comentário ―Vaiduryakabhasya‖, por
Vagbhata, sobre seu próprio trabalho ―Astanga hrdaya‖.
Mesmo que o sistema de medicina tradicional tibetano
tenha sido grandemente influenciado pelo Ayurveda, foram
realizados grandes avanços em diferentes áreas. Seu sistema de
dissecar cadáveres, dando-os aos urubus, deu-lhes oportunidades
para desenvolver um extenso conhecimento anatômico, o qual é
escasso no Ayurveda. O desenvolvimento dos exames do pulso e
da urina na medicina tibetana é único e estudiosos competentes

287
da área sugerem que os exames empregados pelos eruditos em
Ayurveda na Índia sejam emprestados dos estudiosos tibetanos. A
flora e a fauna do Tibete são diferentes daquelas encontradas na
Índia. Baseada nos princípios fundamentais enunciados no
Ayurveda, a matéria médica da medicina tibetana foi
consideravelmente enriquecida pelo acréscimo de plantas
medicinais e produtos animais ao seu sistema médico. Os
médicos receberam o patrocínio dos monastérios e dos
governantes do Tibete e escolas médicas de reputação foram
estabelecidas durante o período medieval. Chakpori e Men-tsi-
khang são alguns dos mais importantes centros médicos do Tibete
onde lamas não só deste país mas também de outras regiões
distantes como Mongólia, da República Buryat da Rússia
Soviética, do Japão e da China recebiam o treinamento médico.
Nagarjuna, o famoso filósofo, reformador religioso, alquimista e
estudioso do tantrika da Índia era altamente estimado pelos
eruditos tibetanos e suas obras sobre medicina foram
abundantemente traduzidas e adaptadas para a prática diária.
Entre os estudiosos tibetanos estão Bu-ston e Dre-si sangs-gye
gyam-tso escritores de muitas obras originais sobre medicina
tibetana que enriqueceram sua literatura.

Prakrtika Cikitisa (Naturopatia)

 História
Os princípios fundamentais da Naturopatia derivam dos
sistemas filosóficos da Índia antiga. Eles podem ser encontrados
também nos Vedas, nos clássicos Ayurvédicos e na Yoga. Há,
portanto, muitas semelhanças nas práticas destes sistemas.
Mesmo que a Naturopatia em geral não acredite em medica-
mentos destinados a terapêutica, alguns deles empregam

288
vegetais não-tóxicos do Ayurveda em seus pacientes. Alguns
empregam mesmo algumas posturas da Yoga e do Pranayama
para o tratamento das doenças.
Mahatma Gandhi, pioneiro do movimento de
independência na Índia, chamado ―Pai da Nação Indiana‖
mostrava grande interesse pela Naturopatia por causa de sua
abordagem simplificada, fácil de manobrar e sua utilidade
terapêutica.

 Princípios Fundamentais
Quando o homem se expõe às excentricidades da natureza
e favorece a satisfação indiscriminada de seus desejos, ele
adoece. É necessário que disponha de métodos para eliminar
estas dificuldades. Uma vez que as doenças são causadas pelos
caprichos da natureza, seria natural que o indivíduo observasse o
ambiente que o circunda para coletar informações para a cura de
suas doenças.
O corpo humano, de acordo com a filosofia indiana, é
composto de cinco mahabhutas denominados prtvi, jala, agni,
vayu e akasa. Eles estão em uma proporção particular nos vários
tipos de tecidos do corpo humano. Se o equilíbrio de seu corpo é
mantido, o homem permanece saudável. O equilíbrio destes
mahabhutas sempre experimentam mudanças por causa dos
processos fisiológicos que ocorrem no interior do organismo e
também como conseqüência das atividades físicas e mentais do
indivíduo. Para preencher a perda, o indivíduo deve levar estes
mahabhutas para o interior do corpo, principalmente através dos
alimentos, das bebidas e do ar. Ele deve estar seguro de que o
alimento ou a bebida ingeridos possuem exatamente a mesma
composição daquela que seu corpo está necessitando. Para um
homem comum, é muito difícil compreender este problema. Às
vezes ele favorece os excessos, conscientemente, para satisfazer
seus desejos, e então é acometido pelas doenças. Para corrigi-las

289
são necessários alimentos, bebidas e outros métodos naturais em
quantidades adequadas. Este é essencialmente o fundamento da
Naturopatia. O princípio básico da cura natural é de que toda cura
vem de dentro do próprio corpo. Existem forças autocurativas
inerentes ao corpo humano trabalhando para manter o estado de
saúde. São estas forças que tratam e eliminam a doença, sendo
que o médico, através de suas ténicas de cura natural, deve
auxiliar.

 Prática da Naturopatia
Para a eliminação destes produtos residuais do corpo, um
naturopata utiliza diferentes tipos de exercícios físicos, dietas e
jejum. Utiliza diferentes tipos de água e são prescritas compressas
de barro e banhos de sol para o tratamento das doenças.
Nos países ocidentais, a naturopatia existente é diferente
daquela praticada pelos naturopatas indianos. A Naturopatia é
essencialmente um tratamento sem drogas. Diferentes
equipamentos sofisticados são utilizados no Ocidente para
massagem etc., semelhantes àqueles empregados pela
fisioterapia da medicina moderna. Na Índia, os naturopatas, em
sua maioria, dependem de alguns métodos simples e naturais no
uso da lama, da água, dos raios de sol, do ar etc. Dá-se grande
ênfase ao uso das frutas e para que sejam evitados os temperos e
os alimentos excessivamente frios.

Yoga

A filosofia da Yoga é um presente incalculável do grande


sábio Patanjali para todos aqueles que buscam a realização
espiritual. É de grande auxílio para aqueles que desejam realizar a
experiência do espírito como um princípio independente, livre de
todas as limitações do corpo, dos sentidos e da mente. O valor da

290
Yoga, como um importante método para a realização das
verdades espirituais da filosofia indiana, tem sido reconhecido por
quase todos os sistemas indianos. Há uma clara evidência de
reconhecimento das práticas da Yoga já nos Upanisads, nos
Sastras e nos épicos que determinam as práticas religiosas da
Índia. Através dos anos, a sociedade indiana fundamentou
firmemente sua religião e é por esta razão que o sistema de filoso-
fia iogue e suas várias práticas ganharam popularidade neste
país.

 Princípios Fundamentais
O objetivo básico das várias prescrições da Yoga é impedir
as alterações da mente ou citta. A mente passa por cinco tipos de
modificações. São elas:
1. Pramana ou reconhecimento da verdade;
2. Viparyaya ou falso conhecimento;
3. Vipalka ou o conhecimento verbal;
4. Nidra ou sono e
5. Smrti ou memória.
O domínio dos tamas no citta (mente) impede o despertar
da consciência. Quando citta está modificado, o próprio ser está
refletido nele e tende a atribuir esta modificação como um estado
de si mesmo. Isto resulta em uma falsa realização do eu que está
sujeito ao nascimento e ao desenvolvimento, à decadência e à
morte nos diferentes estágios da vida. Portanto, a dependência do
eu deve-se à identificação com as modificações mentais e quando
estas modificações deixam de existir o resultado é a liberação.
Há cinco diferentes condições ou níveis de vida mental, ou
cittabhumi. O primeiro estágio é denominado ksipta, no qual a
mente está sob a influência de rajas e tamas e é atraído pelos
objetos dos sentidos e pelos meios de obter poder. O segundo
estágio é mudha, marcado pelo excesso de tamas na mente, a
qual apresenta uma tendência ao vício, à ignorância, ao sono e

291
outros. O terceiro estágio é viksipta ou abstração, no qual a mente
está livre da influência de tamas e apresenta apenas um toque de
rajas. Possui a capacidade de manifestar todos os objetos e trans-
formá-los em virtude, conhecimento etc. O quarto estágio é
ekagrata ou concentração no qual a mente está limpa das
impurezas dos rajas e há perfeita manifestação do sattva. Isto
auxilia na concentração prolongada da mente em um objeto fixo
com a finalidade de realizar sua verdadeira natureza. Neste
estágio a mente está preparada para se desfazer de todas as
suas manifestações.
As práticas iogues sempre objetivam a obtenção dos
últimos dois estágios da mente citados acima. Através deste
processo o indivíduo pode obter a consciência distinta do objeto
de contemplação, conhecida como samprajnata samadhi ou sua
mente deve estar completamente afastada de qualquer
pensamento e isto é conhecido como asamprajnata samadhi. A
mente neste estágio consegue concentrar-se em um objeto físico
grosseiro, como a imagem de um deus ou deusa (savitarka), ou
pode concentrar-se em um determinado objeto como tanmatra*
(savicara). No último estágio, o iogue deve concentrar-se em um
objeto mais sutil como os sentidos ou a substância do ego com o
qual o eu está geralmente identificado e a pessoa obtém os
estágios de sananda e sasmita samadhi.
Para alcançar este estágio da mente, certas práticas são
necessárias, conhecidas como Yogangas. São elas:
1. Yama ou auto-restrição;
2. Niyama ou observação das prescrições escriturais;
3. Asana ou postura física;
4. Pranayama ou controle da respiração;
5. Pratyahara ou remoção dos sentidos;
6. Dharana ou atenção ou concentração da mente;

* N. do T.: Ver página 18

292
7. Dhyana ou meditação e
8. Samadhi ou meditação profunda.
Os primeiros cinco estágios são conhecidos como
bahiranga ou forma externa da Yoga. Os outros três estágios são
conhecidos como antaranga ou forma interna da Yoga. Os
primeiros cinco estágios exercem um considerável controle sobre
o corpo e a mente para torná-los livres das doenças, de modo que
os três estágios subseqüentes possam ser convenientemente
adotados pelo indivíduo.
Yama ou auto-restrição compreende abstenção da
violência, roubo e ganância, adesão à verdade e celibato. A
pureza, a satisfação, a penitência, o estudo das escrituras
religiosas e a entrega a Deus, isto constitui Niyama. Estes
primeiros dois estágios da Yoga fornecem a base moral
necessária para a prática dos estágios subseqüentes deste
sistema. Tais observações são essenciais para a prática tanto dos
tipos mais elevados como dos mais inferiores da Yoga. Para a
prática da Yoga mais elevada é necessário estar rigorosamente
atento e qualquer redução da concentração ou frouxidão irá gerar
um impedimento no caminho. Entretanto, para o tipo mais inferior
de Yoga, uma certa frouxidão nestas observações não importa
muito. Como o iogue continua em sua prática nos estágios
subseqüentes, sua mente torna-se automaticamente condicionada
a estes yamas e nyamas. Portanto, a observação dos yamas e
niyamas auxilia na prática dos estágios subseqüentes da Yoga
como asana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi.
Um iogue que os exercita torna-se automaticamente harmonizado
com estes yamas e niyamas. Além de seus efeitos espirituais,
estas observações exercem considerável controle sobre a mente
e o corpo. Mesmo a observação parcial destes yamas e niyamas
auxiliam na manutenção da saúde física e mental.

293
Não é apenas a violência física que deve ser evitada.
Mesmo a fala e os pensamentos doentios com relação aos outros
são impedimentos ao caminho de um iogue. Ahimsa ou não-
violência denota uma atitude ou um tipo de comportamento de um
indivíduo para com as outras criaturas do universo. A Yoga afirma
a crença na unidade de vida entre todas as criaturas e qualquer
dano a outrem, mesmo através de palavras, pensamentos ou
ações prejudicará a própria pessoa. Isto afeta sua saúde física e
mental e gera impedimentos no caminho das realizações
espirituais.
Da mesma forma, a observação da verdade e de
características como não furtar e não ser ganancioso auxiliam um
indivíduo a livrar-se da tensão e do stress mental. Além disso,
auxiliam na criação de uma sociedade harmoniosa, a qual é
essencial para uma boa saúde.
Brahmacarya é importante na saúde perfeita. Tanto no
Ayurveda como na Yoga a preservação do sêmen no corpo do
indivíduo é considerado essencial para a manutenção da saúde.
O sêmen é considerado o melhor de todos os elementos teciduais
do corpo. A preservação deste fluido vital é essencial para a
evolução ininterrupta no caminho da Yoga. Para aqueles que
desejam praticar a forma mais elevada da Yoga, o celibato
absoluto é essencial. Para os praticantes da forma mais inferior e
para pessoas comuns, os excessos sexuais devem ser limitados e
racionais. Isto os conserva feliz e saudáveis. Tanto yama quanto
niyama possuem um propósito em comum, ou seja, a transmu-
tação dos instintos mais elevados de modo que o corpo e a mente
do indivíduo possam se tornar adequados para o progresso
posterior no caminho da Yoga. Entretanto, as práticas incluídas no
yama são principalmente de natureza proibitiva, enquanto que no
niyama referem-se à auto-disciplina e são de natureza criativa. A
prática destes itens incluídos no yama e niyama concedem

294
realizações espirituais ao indivíduo. Ninguém ousa ser hostil
contra alguém que pratica ahimsa ou não-violência. Mesmo os
animais selvagens bloqueiam sua natureza violenta na presença
de tais pessoas. As previsões sempre são verdadeiras quando
fornecidas por aquele que pratica satya ou a verdade. Aqueles
que praticam o não-roubar estão dotados com a riqueza universal.
A prática do celibato dota o indivíduo com vigor físico e mental
super-humano. A prática do aparigraha (não-ganância) direciona o
indivíduo para o conhecimento sobre o nascimento e a morte.
Aqueles que praticam a pureza espiritual, desenvolvem um
senso de separação do corpo. A prática de santosa ou da
satisfação torna a pessoa extremamente feliz. A prática de tapas
(penitência) proporciona perfeição nos órgãos dos sentidos do
indivíduo através da destruição das impurezas. O estudo das
escrituras religiosas auxilia na união do indivíduo com a divindade
tutelar. A Isvara pranidhana ou rendição a Deus auxilia na
obtenção do estado de samadhi ou meditação profunda.
O terceiro estágio da Yoga é asana ou postura física. A
postura na qual o indivíduo pode permanecer sentado
constantemente durante um longo tempo com conforto e
estabilidade é chamada asana. Estas posturas físicas auxiliam na
promoção de uma saúde verdadeira e na cura de certas doenças.
Estes asanas, quando praticados regularmente, produzem certos
efeitos em diferentes órgãos do corpo para regular suas funções.
Também exercem considerável impacto no funcionamento das
glândulas endócrinas. Suas secreções regulam as funções de
alguns órgãos vitais como o coração, os rins, a bexiga, o fígado, o
pâncreas, estômago e os intestinos. As funções destas glândulas
endócrinas estão perturbadas devido a fatores físicos e mentais.
Certas posturas físicas ou asanas auxiliam no funcionamento
equilibrado destas glândulas e, portanto, os distúrbios causados
pela perturbação em seu funcionamento são eliminados.

295
O número de espécies de seres neste universo é de 84
lakhs, de acordo com as escrituras indianas. Na Yoga, as posturas
físicas mantidas por eles são consideradas asanas. Uma vez que
são inúmeras para a prática dos iogues, apenas 84 asanas são
recomendados. Antes da prática do asana, são realizados alguns
tratamentos preparatórios como neti e dhauti. Perfazem um total
de seis preparações e o conjunto é denominado satkarma.
Enquanto auxiliam na preparação do corpo para a prática dos
asanas e do pranayama, eliminam certas impurezas do corpo e,
durante este processo, curam certas doenças. Por exemplo, jala
neti e sutra neti curam pacientes acometidos por resfriado crônico,
tonsilite, faringite, laringite etc. Estes dois kriyas também corrigem
distúrbios refratários nos seres humanos. Dhauti kriya ou kuñjala
limpa o estômago de suas impurezas. Durante este processo
auxilia também na cura de pacientes que sofrem de gastrite
crônica, colite e constipação. O muco do estômago e dos pulmões
é eliminado durante este processo e isto auxilia no tratamento da
bronquite asmática. Proporcionam muita tranquilidade mental.
Distúrbios psicossomáticos como diabetis, asma e eczemas são
aliviados pela prática de kuñjala kriya.
De maneira semelhante, os asanas também curam
doenças incuráveis e resistentes ao tratamento. Mayurasana cura
a colite crônica e a síndrome do espru. Ardha-matsyendra-asana é
específico para a cura do diabetis mellitus. Bhujanga asana
revigora a coluna vertebral e a visão, além de curar a bronquite
asmática, a lombalgia e distúrbios refratários.
De acordo com a Yoga, há seis centros de energia no
corpo humano. São eles: Muladhara, na região coccígea;
Svadhisthana, na região do órgão genital; Manipura, na região
umbilical; Anahata, na região cardíaca; Visuddhi, na base do
pescoço e Ajña, entre as duas sobrancelhas. O Kundalini sakti,
que permanece adormecido na região do cóccix em todos os

296
indivíduos, desperta através de diferentes asanas e pranayama
bandha ou mudra. Este poder passa através dos seis chakras ou
centros de energia para alcançar o Sahasrara ou o centro de
energia de 1000 pétalas no cérebro. O despertar deste poder
latente em quaisquer dos seis chakras ajuda na manutenção da
saúde verdadeira do indivíduo e cura muitas doenças resistentes
ao tratamento.
A quarta fase na Yoga é denominada pranayama ou
controle respiratório. A prática lenta e uniforme desta fase da
Yoga ajuda a aumentar a capacidade vital dos pulmões e muitas
doenças como bronquite, asma e distúrbios cardíacos são
curados. O controle da respiração proporciona tranquilidade para
a mente e, portanto, a prática do pranayama ajuda a curar doen-
ças psicossomáticas como diabetis, bronquite asmática, eczema e
psoríase. Regula o funcionamento do coração e dos vasos
sangüíneos. Deste modo, a prática do pranayama cura indivíduos
hipertensos, hipotensos e cardiopatas.
A quinta fase, que é a última dentre as formas externas de
Yoga é pratyahara ou a remoção dos sentidos dos seus objetos. A
prática desta fase auxilia consideravelmente no controle das
atividades mentais e, portanto, funciona como um curativo para
doenças psíquicas como insanidade e insônia.
As três fases restantes, que constituem a forma interna da
Yoga, apresentam indubitavelmente efeito considerável sobre a
mente, auxiliando na regulação de suas funções. São, desse
modo, fundamentalmente significativos para a elevação espiritual.
Além destas oito fases, a Yoga enfatiza a utilização correta
da dieta e da conduta para a manutenção da saúde. Os
ingredientes da dieta estão divididos em três categorias
dependendo de seu efeito sobre a mente por estimular as
características sattvika, rajasika ou tamasika. Substâncias de
sabor doce e gorduroso estimulam a faculdade sattvika da mente.

297
Aquelas que são azedas, salgadas ou pungentes no sabor
estimulam rajasika. Os gêneros alimentícios que estão
deteriorados, com sabor adstringente e amargo levam ao
desenvolvimento da faculdade tamasika da mente. Carne, peixe e
gêneros alimentícios não vegetarianos são estimulantes da
faculdade rajasika. Muitos vegetais também estimulam rajasika.
Bebidas fermentadas como o álcool são consideradas de natureza
rajasika e tamasika. Certos ingredientes não-vegetarianos como
leite, queijo, manteiga e ghee são considerados sattvika. Para a
evolução no caminho da Yoga é necessário que a pessoa adote
alimentos sattvika e evite alimentos rajasika e tamasika.
De acordo com a Yoga, um indivíduo possui cinco
camadas concêntricas conhecidas como kosas. São elas:
annamaya kosa, pranamaya kosa, manomaya kosa, vijñanamaya
kosa e anandamaya kosa. A dieta e a conduta adequadas
exercem um efeito saudável sobre as três primeiras camadas
concêntricas denominadas annamaya kosa, o corpo físico com
carne e ossos; pranamaya kosa, a parte do corpo ocupada pelo ar
vital e manomaya kosa ou a parte do corpo na qual reside a
mente. A regulação do funcionamento destas três camadas auxilia
na conservação de condições adequadas para as outras duas
camadas do indivíduo.
O termo Yoga é derivado da palavra raiz Yuj que significa
ordinariamente ―unir‖ ou ―combinar‖. Portanto, o significado geral
de Yoga seria ―meios que auxiliam na união da alma do indivíduo
com a alma universal, retirando a máscara da ilusão‖. Vyasa, em
seu comentário sobre o ―Patanjala Yoga Sutra‖, deu um signifi-
cado diferente à raiz Yuj. De acordo com ele, a raiz Yuj significa ―ir
ao samadhi‖ ou ―meditação profunda‖. Portanto, o objetivo
primário da Yoga, de acordo com Vyasa, é alcançar o estado de
samadhi no qual o indivíduo poderia realizar a verdade sobre a

298
alma individual, a alma universal e a ilusão na forma do corpo
físico superimposta pelo ego, intelecto e faculdades mentais.
―Srimad Bhagavada Gita‖ possui uma interpretação
diferente para o termo Yoga. Segundo esta escritura popular, o
termo Yoga significa ―equilíbrio‖. Portanto, o objetivo primário da
Yoga não é ir para qualquer extremo, mas manter um equilíbrio,
aplicável tanto ao indivíduo como para a sociedade. Outra inter-
pretação fornecida aqui é ―cumprir seu dever com perfeição e
sinceridade‖ que também significa Yoga. Dependendo destas
diferentes interpretações, a Yoga é classificada em karmayoga,
jnanayoga, rajayoga, hathayoga, bhaktiyoga, layayoga,
mantrayoga e tantrayoga. Todas estas diferentes interpretações
denotam apenas aspectos diferentes da Yoga e, portanto,
representam aspectos diferentes da verdade. Qualquer que seja a
escola de Yoga que o indivíduo possa seguir, deve conservar seu
corpo e sua mente preparados para sua prática e,
automaticamente, a prática de qualquer forma de Yoga contribui
para a manutenção da saúde física e mental. Desse modo, saúde
e Yoga estão estreitamente inter-relacionados.

Tantra

Tantra é essencialmente o processo de elevação espiritual.


Considera-se o ser humano como um microcosmo e de acordo
com a doutrina do Tantra sastra, o macrocosmo inteiro ou o
universo está presente no ser humano em formas diferentes. São
descritas diferentes práticas para este propósito na forma de
acara (conduta), mantra (encantamento), yantra (representação
simbólica dos vários aspectos do macrocosmo), mudra (ritual
diferente com gestos, com o auxílio das mãos), puja (orações),
yajna (veneração), vrata (ritual), tapas (penitência), japa (recitação
de mantra), samskara (cerimônias de purificação), purascarana

299
(repetição de um mantra um grande número de vezes) e bhuta
suddhi (purificação do corpo astral). A maioria é comum à Yoga.
Os objetivos do Tantra e da Yoga são os mesmos. Eles
desenvolvem certos poderes no corpo humano através de suas
práticas e estes poderes, físicos, psíquicos e espirituais, exercem
controle sobre o corpo, a mente e a alma de outro indivíduo
quando praticadas. As diferentes formas de executar os tantras
aliviam uma pessoa de suas doenças psíquicas, somáticas e
psicossomáticas e os praticantes desenvolvem simultaneamente
poder para exercer controle sobre o corpo, a mente e a alma dos
outros indivíduos. Estes poderes são freqüentemente utilizados
para curar certas doenças dos pacientes. Este não é, entretanto, o
objetivo principal do Tantra sastra, mas apenas suplementar. No
entanto, está sendo mencionado aqui porque seus métodos são
empregados em diferentes partes da Índia para a cura de
doenças.

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