Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Literatura Portuguesa Atraves Dos Text PDF
A Literatura Portuguesa Atraves Dos Text PDF
Para o autor, é uma literatura rica em poetas - Massaud Moisés destaca quatro teses para a
Camões, Bocage, Antero, Fernando Pessoa, entre origem da poesia trovadoresca:
outros - “(...) A poesia é o melhor que oferece a
Literatura Portuguesa, dividida entre o apelo metafí- 1) A tese arábica. Relaciona a poesia trovadoresca
sico, que significa a vivência e a expressão de pro- à cultura árabe em virtude das invasões mouras à
blemas fundamentais e perenes (a existência ou Península Ibérica.
não de Deus, o ser e o não-ser, a condição humana,
os valores do espírito, etc.), e a atração amorosa da 2) A tese popular ou folclórica. Segundo essa linha
terra (representada por temas populares, folclóri- de estudo a poesia trovadoresca foi uma manifesta-
cos), ou um sentimento superficial, feito da confis- ção literária de “espontânea”, surgido naturalmente
são de estados de alma provocados pelos embates a partir das manifestações e cultura do povo da
amorosos (...)”. época.
Geralmente é o próprio trovador quem confessa O “eu-lírico” (quem fala) é a própria mulher, diri-
seus sentimentos, dirigindo-se em vassalagem e gindo-se em confissão à mãe, às amigas, aos pás-
subserviência à dama (mia senhor ou minha senho- saros, aos arvoredos, às fontes, aos riachos. O teor
ra), e rendendo-lhe o culto que o "serviço amoroso" da confissão é sempre uma paixão não correspon-
lhe impunha: as regras do "amor cortês", recebidas dida, mas a que ela se entrega de corpo e alma.
da Provença: o trovador teria de mencionar comedi-
damente o seu sentimento (mesura), a fim de não Traduz um sentimento espontâneo, natural e
incorrer no desagrado (sanha) da bem-amada; teria primitivo por parte da mulher, e um sentimento don-
de ocultar o nome dela ou recorrer a um pseudôni- juanesco e egoísta por parte do homem, que geral-
mo, e prestar-lhe uma vassalagem que apresentava mente está “(...) no fossado ou no bafordo, isto é, no
quatro fases: a primeira correspondia à condição de serviço militar ou no exercício de armas. Por isso, a
fenhedor, de quem se consome em suspiros; a se- palavra amigo pode significar namorado e amante”.
gunda é a de precador, de quem ousa declarar-se e
pedir; entendedor é o namorado; drut, o amante. Trata-se de uma poesia de caráter narrativo e
descritivo e se classifica de acordo com o lugar
Segundo Moisés, “(...) O trovador, portanto, su- geográfica e as circunstâncias em que decorrem os
bordina todo o seu sentimento às leis da Corte amo- acontecimentos (serranilha, pastorela, barcarola,
rosa, e ao fazê-lo, conhece das dificuldades inter- bailada, romaria, alva ou alvorada - surpreende os
postas pelas convenções e pela dama no rumo que amantes no despertar dum novo dia, depois de uma
o levaria à consecução dum bem impossível. Mais noite de amor).
ainda: dum' bem (e "fazer bem" significa correspon-
der aos requestos do trovador) que ele nem sempre
deseja alcançar, pois seria por fim ao seu tormento CANTIGAS DE ESCARNIO E DE MALDIZER
masoquista, ou início dum outro Maior. Em qualquer
hipótese, só lhe resta sofrer, indefinidamente, a A Cantiga de Escárnio revela uma sátira que se
coita amorosa”. constrói indiretamente, por meio da ironia e do sar-
casmo, usando palavras ambíguas, de duplo senti-
O sofrimento segue uma ordem crescente, atra- do.
vés das estrofes (cobra ou talho) sendo reforçado
no estribilho ou refrão, onde o trovador pode rema- Na Cantiga de Maldizer, a sátira é feita direta-
tar cada estrofe, reforçando a angustiante idéia fixa mente, com agressividade, com palavras chulas e
para a qual ele não encontra consolo. muitas vezes obscenas.
Amadis de Gaula marca com relevância a ficção Os cronicões, de pouco valor literário, deram
da época, através do enredo amoroso e guerreiro, origem à historiografia portuguesa e serviram de
bem ao gosto do gênero, do cavaleiro perfeito, des- material de suporte para Herculano compor sua
truidor de monstros, tímido e heróico, apaixonado e Portugaliae Monumenta Historica. Crônicas Breves
fiel a sua amada Oriana, seguindo o modelo dos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Crónica
cantares de amor. A novela surpreende, sobretudo, Geral de Espanha (1344), provavelmente elaborada
pela atmosfera de sensualidade que une o par amo- por D. Pedro, Conde de Barcelos, filho bastardo de
roso, em especial pelo fato da amada ter-se ofereci- D. Dinis.
do, gentilmente, antes do casamento.
As hagiografias (= vidas de santos), escritas em
A Demanda do Santo Graal é uma novela místi- Latim, possuem ainda menos significado literário.
ca, tem começo numa visão celestial de José de
Arimatéia e no recebimento dum pequeno livro (A Os livros de linhagens eram relações de nomes,
Demanda do Santo Graal). José parte para Jerusa- especialmente de nobres, com o objetivo de estabe-
lém; convive com Cristo, acompanha-lhe o martírio lecer graus de parentesco que serviam para dirimir
da Cruz, e recolhe-lhe o sangue no Santo Vaso. dúvidas em caso de herança, filiação ou de casa-
Deus ordena-lhe que o esconda. Tendo-o feito, mor- mento em pecado (= casamento entre parentes até
re em Sarras. O relato termina com a morte de Lan- o sétimo).
celote: seu filho, Galaaz, irá em busca do Santo
Graal. Ao lado de informações tipicamente genealógi-
cas revelam veleidades literárias: nas referências às
Conforme Moisés “(...) A Demanda do Santo ligações genealógicas se intercalam, com realismo,
Graal contém o seguinte: em torno da "távola re- colorido e naturalidade, narrativas breves, mas de
donda", em Camelot, reino do Rei Artur, reúnem-se especial interesse, como a da Batalha do Salado.
dezenas de cavaleiros. É véspera de Pentecostes.
Chega uma donzela à Corte e procura por Lancelote
do Lago. Saem ambos e vão a uma igreja, onde III – HUMANISMO (1418-1527)
Lancelote arma Galaaz cavaleiro e regressa com
Boorz a Camelot. Um escudeiro anuncia o encontro Em Portugal, o Humanismo inicia-se quando
de maravilhosa espada fincada numa pedra de Fernão Lopes, guarda-mor da torre do Tombo des-
mármore boiando n'água. Lancelote e os outros de 1418, é encarregado por D. Duarte (filho de D.
tentam arrancá-la debalde. Nisto, Galaaz chega João I) de “por em crônica as histórias de seus an-
sem se fazer anunciar e ocupa a seeda perigosa (= tepassados. e ou da sua promoção a Cronista-Mor
cadeira perigosa) que estava reservada para o ca- do Reino, em 1434, e encerra-se em 1527, quando
valeiro "escolhido": das 150 cadeiras, apenas falta- Sá de Miranda regressa da Itália trazendo a medida
va preencher uma, destinada a Tristão. Galaaz vai nova (ou o decassílabo).
ao rio e arranca a espada do pedrão. A seguir, en-
tregam-se ao torneio. Surge Tristão para ocupar o Pela primeira vez, é demonstrada uma preocu-
último assento vazio. pação com a História documentada, envolvendo a
descrição dos fatos sociais fora dos parâmetros da
Em meio ao repasto, os cavaleiros são alvoro- Corte.
çados e extasiados com a aérea aparição do Graal
(= cálice), cuja luminosidade sobrenatural os transfi- OS CRONISTAS: FERNÃO LOPES
gura e alimenta, posto que dure só um breve mo-
mento. Galvão sugere que todos saiam à demanda Autodidata, de origem humilde, foi um dos legítimos
(= à procura) do Santo Graal. No dia seguinte, após representantes do saber popular, embora já no seu
ouvirem missa, partem todos, cada qual por seu tempo um novo tipo de saber começava a surgir: de
lado. cunho erudito-acadêmico e humanista.
A poesia do período se caracteriza pelo divórcio Recebeu influências do teatro medieval e tam-
entre a "letra" e a música. O ritmo é alcançado com bém de Juan Del Encina, dramaturgo castelhano,
os próprios recursos da palavra disposta em versos, seu contemporâneo, e pode ser constatada na pin-
estrofes, etc., e não com a pauta musical. tura dos quadros sociais ou através de citações
direta ao mestre espanhol.
O Cancioneiro Geral introduziu o emprego do
verso redondilha (redondilha menor, com 5 sílabas, Durante trinta e quatro anos de produção drama-
e redondilha Maior, com 7 sílabas) e trouxe novida- túrgica, pontilhados de algumas trovas, sermões e
des temáticas: a influência clássica (Ovídio), o influ- epístolas, ele nos legou 44 peças, sendo a primeira
xo italiano (Dante e Petrarca: o lirismo centrado no em 1502, com o Monólogo do Vaqueiro e a última
conhecimento do amor e suas contradições. inter- Floresta de Enganos, no ano de 1536.
nas) e o espanhol (Marques de Santilhana, Juan de
Mena, Gómez Manrique, Jorge Manrique). No teatro de Gil Vicente, conviveram elementos
característicos do medievo e do humanismo. “Em
Há, ainda, registros de poesia épica, religiosa e seu teatro desfilava uma verdadeira fauna humana,
satírica. conforme Saraiva, sendo suas personagens muito
mais tipos que se comportam segundo automatis-
Entretanto, o ponto alto do Cancioneiro Geral é mos inveterados”.
representado pela poesia lírica.
Dentre os ‘tipos’ sociais que desfilam nas peças
Poetas que se destacam no Cancioneiro Geral: vicentinas, podemos mencionar como mais recor-
João Ruiz de Castelo-Branco representa-se com a rentes: a alcoviteira, o escudeiro pobre, o clérigo
"Cantiga sua partindo-se", Garcia de Resende, com corrupto, a viloa casadoira, o almocreve, o sapatei-
as Trovas à Morte de Dona Inês de Castro, graças ro, os pajens etc. Todos são descritos com morda-
ao forte sentimento de adesão ao "caso" da amante cidade pelo dramaturgo.
de D. Pedro, a ponto de possivelmente o poema
haver estado presente no espírito de Camões quan- Gil Vicente foi autor e ator e suas representa-
do este desenhou igual episódio em Os Lusíadas, ções, cheias de improvisos já previstos, são ricas,
além de Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda. densas e variadas.
O TEATRO POPULAR DE GIL VICENTE Sua galeria de tipos humanos é imensa: o padre
corrupto, o cardeal ganancioso, o sapateiro que
Anteriormente a Gil Vicente, o teatro em Portugal explora o povo, a beata, o médico incompetente, os
consistia na representação de breves quadros reli- aristocratas decadentes, etc.
giosos alusivos a cenas bíblicas e encenados em
datas festivas, como o Natal e a Páscoa. Geralmen- Seus personagens não têm nome - são sempre
te falados em Latim, eram encenados nas igrejas. designados pela profissão, assim registrando os
Posteriormente, surge o teatro profano, de caráter tipos sociais que faziam parte da sociedade da épo-
não religioso. ca.
A biografia de Gil Vicente é muito enigmática. O teatro era sua arma de combate e de denúncia
Seria ele o ourives autor na famosa cruz de Belém? contra a imoralidade. Sua linguagem, bastante sim-
Nobre arruinado? O enigma continua a possibilitar ples, espontânea e fluente. Assim como os cenários
teses a favor e contra, na busca de esclarecer as e as montagens.
incertezas biográficas do grande teatrólogo portu-
guês. A relevância das quarenta e quatro peças de Gil
Vicente não se exauriu até os nossos dias, fossem
O concreto é que Gil Vicente mantinha proximi- elas autos ou farsas, tratassem de temas cotidianos,
dade aos integrantes da corte, em especial à rainha fantásticos ou religiosos.
D. Maria, cuja homenagem ao nascimento do filho
da monarca, mais tarde D. João III, Rei de Portugal, A genialidade e habilidade de Gil Vicente fizeram
escreveu e interpretou o Auto da Visitação (também dele o maior dramaturgo português de todos os
conhecido como Monólogo do Vaqueiro), no ano de tempos. Trata-se do princípio intemporal que, se-
1502. gundo SARAIVA, caracteriza a arte de forma geral.
Os temas do teatro vicentino também variam: Este otimismo ufanista chega ao fim com a bata-
lha em Alcácer-Quibir, no ano de 1578, quando
Teatro tradicional, predominantemente medie- morre D. Sebastião e Portugal passa ao domínio
val: são as peças de caráter religioso (Auto da Fé, o espanhol. Sob Felipe II, Camões reflete essa atmos-
Auto da Alma), peças de assunto bucólico (Auto fera de exaltação épica e desafogo financeiro que
Pastoril Castelhano, o Auto Pastoril Português), as cruza as primeiras décadas do século XVI, mas não
peças de assunto relacionado com as novelas de deixa de refletir também o desalento dos lúcidos
cavalaria (D.Duardos, Auto de Amadis de Gaula). perante a efêmera superioridade portuguesa através
da fala do Velho do Restelo e do epílogo d’ Os Lu-
Teatro atual: caracteriza-se por conter o retrato síadas.
satírico da sociedade do tempo, em seus vários
estratos, a fidalguia, a burguesia, o clero e a plebe Do Classicismo ao teocentrismo medieval, vai
(Farsa de Inês Pereira e em Quem tem farelos? (ou opor-se uma concepção antropocêntrica do mundo,
Farsa do Escudeiro), ou pelo teatro alegórico-crítico, em que o "homem é a medida de todas as coisas".
como a Trilogia das Barcas. Enfatiza-se a imitação dos autores clássicos gregos
e romanos da antiguidade: Homero, Virgílio, Ovídio,
Sua obra, compilada por seu filho, Luís Vicente etc.; uso da mitologia: Os deuses e as musas, inspi-
segue a seguinte divisão: radoras dos clássicos gregos e latinos aparecem
também nos clássicos renascentistas (Em Os Lusí-
1) Obras de devoção (Monólogo do Vaqueiro, Auto adas: (Vênus) = a deusa do amor e (Marte) o deus
Pastoril Castelhano, Auto da Alma, Auto da Feira, da guerra, protegem os portugueses em suas con-
Trilogia das Barcas, etc.); quistas marítimas; predomínio da razão sobre os
sentimentos: a linguagem clássica não é subjetiva
2) Comédias (Comédia do Viúvo, Comédia de Ru- nem impregnada de sentimentalismos e de figuras,
bena, Divisão da Cidade de Lisboa, Floresta de porque procura coar, através da razão, todos os
Enganos); dados fornecidos pela natureza e, desta forma ex-
pressou verdades universais; linguagem sóbria,
3) Tragicomédias (Exortação da Guerra, Cortes de simples, sem excesso de figuras literárias; idealis-
Júpiter, Frágoa de Amor; mo: o classicismo aborda os homens ideais, libertos
de suas necessidades diárias, comuns.
4) Farsas (Quem tem farelos?, Auto da índia, O
Velho da Horta, Inês Pereira, Juiz da Beira, Farsa Os personagens centrais das epopéias (grandes
dos Almocreves, etc.). poemas sobre grandes feitos e atos heróicos) nos
são apresentados como seres superiores, verdadei-
Segundo o autor, “o teatro de Gil Vicente carac- ros semideuses, sem defeitos. amor Platônico: Os
teriza-se, antes de tudo, por ser rudimentar, primiti- poetas clássicos revivem a idéia de Platão de que o
vo e popular, muito embora tenha surgido e se te- amor deve ser sublime, elevado, espiritual, puro,
nha desenvolvido no ambiente da Corte, para servir não-físico; busca da universalidade e impessoalida-
de entretenimento aos animados serões oferecidos de. A obra clássica torna-se a expressão de verda-
pelo Rei”. des universais, eternas e despreza o particular, o
individual, aquilo que é relativo. O saber concreto,
"científico" e objetivo, tende a valorizar-se em detri-
IV – CLASSICISMO (1527-1580) mento do abstrato; notável avanço opera-se no
campo das ciências experimentais; a mitologia gre-
PRELIMINARES co-latina, esvaziada de significado, passa a funcio-
nar apenas como símbolo ou ornamento; em suma:
O marco inicial do Classicismo português é em o humano prevalece ao divino.
1527, quando se dá o retorno do escritor Sá de Mi-
randa de uma viagem feita à Itália, de onde trouxe Em 1527, depois de ausente seis anos, Sá de
as idéias de renovação literária e as novas formas Miranda regressa da Itália, impregnado das novas
de composição poética, como o soneto. idéias.
Estende-se pelas 18 estrofes do Canto I e subdivi- Camões utiliza a mitologia pagã pelas seguintes
de-se em: razões:
Síntese do poema: quando a ação do poema co- -Glorifica o povo português ao colocá-lo em cená-
meça (estância 19), as naus estão navegando pelo rios adversos criados pelos deuses, mas que ainda
meio da viagem, em pleno Oceano Indico. No Olim- assim conseguem ser superados, criando uma
po, os deuses se reúnem em concílio, para decidir a comparação entre a força de ambos;
sorte dos navegantes. Júpiter, Vênus e Marte são
favoráveis à sorte dos portugueses e Baco é o opo- - Evidencia a grandeza dos feitos portugueses co-
sitor ferrenho que fará o que puder para atrapalhar o mo: vencer o mar (Netuno), ultrapassar o gigante
feito daqueles que ofuscariam suas façanhas. As Adamastor e vencer as guerras (Marte);
agressões são poderosas, porém Vênus está atenta
para protegê-los sutilmente. Durante a viagem, onde - Demonstra que os portugueses enquanto heróis
aportam, Vasco da Gama vai narrando a história são deuses, pois se tornam "imortais" pelos feitos
dos portugueses, a partir da fundação da pátria, praticados.
prosseguindo com uma série de episódios históri-
cos: o de Egas Moniz, Inês de Castro, a batalha de Na verdade, o poeta se viu obrigado a colocar
Ourique, a batalha do Salado, a batalha de Aljubar- maior ênfase naquilo que era marginal ao eixo cen-
rota, a tomada de Ceuta, o sonho profético de D. tral da epopéia, como se pode observar na fisiono-
Manuel, os aprestos da viagem, a fala do Velho do mia de alguns episódios fundamentais: a Ilha dos
Restelo e a largada; a seguir, o Gama conta a pri- Amores, os Doze de Inglaterra, Inês de Castro, o
meira parte da viagem, cujas peripécias mais impor- Gigante Adamastor, a fala do Velho do Restelo.
tantes são: o fogo de Santelmo, a tromba marinha, a Essas inovações ressaltam a criatividade de Ca-
aventura de Veloso, o Gigante Adamastor, chegada mões e a edificação duma epopéia renascentista,
a Melinde. moderna.
Por sugestão de por Dom Manuel I, iniciou a Numa prosa desataviada, coloquial, ingênua,
escrita de uma história que narrava os feitos dos Trancoso mistura o sobrenatural com o real sem
portugueses na Índia - as Décadas da Ásia (Ásia de medo à inverosimilhança, aproveitando-se da tradi-
Ioam de Barros, dos feitos que os Portuguezes fize- ção oral e dos ensinamentos de contistas espa-
ram na conquista e descobrimento dos mares e nhóis, como D. Juan Manuel, e italianos, como
terras do Oriente). Boccaccio, autor do conhecido Decamerone, do
inglês Geoffrey Chaucer, autor de The Canterbury
Enquanto historiador e lingüista, João de Barros Tales, entre outros.
merece a fama que começou a correr logo após a
sua morte. As "Décadas" são não só um precioso A NOVELISTICA
manancial de informações sobre a história dos por-
tugueses na Ásia, mas, principalmente o início da A novelística segue o espírito da cavalaria, que
historiografia moderna em Portugal e no Mundo. ainda teimava em subsistir em Portugal. A matéria
cavaleiresca, que tinha sido cultivada na Idade Mé-
Obras de João de Barros: Crónica do Imperador dia, agora se nacionaliza e se aportuguesa, uma
Clarimundo, Rhopica pneuma ou Mercadoria Espiri- vez que surgem novelas de autores portugueses e
tual , Grammatica da Língua Portuguesa com os de espírito português.
Mandamentos da Santa Madre Igreja, Diálogo da
Viciosa Vergonha, Diálogo sobre Preceitos Morais, Caracteriza-se por tentar manter vivo um ideal de
Diálogo Evangélico sobre os Artigos da Fé, Panegí- vida próprio da Cavalaria medieval, mas adaptada
ricos: de D. João III e da Infanta D. Maria , Décadas ao Renascimento. O individualismo bélico cede
da Ásia. Volumes I a IV entre outros. lugar à guerra coletiva, aos torneios, em flagrante
concessão ao aprimoramento operado na confecção
A LITERATURA DE VIAGENS de armas e às novidades em matéria de tática mili-
tar. Já não se considerando como valoroso e digno
Quanto à literatura de viagens é importante res- de admiração o cavaleiro que luta mas o que ama.
saltar o objetivo maior: transmitir a beleza deslum-
brante das descobertas de novas esferas e paisa- Embora de larga circulação na Espanha e Itália,
gens. Dessa forma, nascem os relatos de viagens, em Portugal a novela bucólica e sentimental é re-
roteiros, diários ou equivale, "reportagens" do mun- presentada por Menina e Moça (ou Saudades,
do que se alargava incrivelmente. 1554), de Bernardim Ribeiro. Ao mistério que envol-
ve a vida do escritor, é preciso acrescentar a dúvida
Exemplos do gênero: História Trágico-Marítima, que ainda paira sobre a identidade da novela. A
coletânea de relatos e naufrágios ocorridos nos narrativa divide-se em duas partes, a primeira com
séculos XV, XVI e XVII, organizada por Bernardo trinta e um capítulos, a segunda com cinqüenta e
Gomes de Brito. oito. Seu caráter bucólico e sentimental se revela
pelo tom melancólico e pessimista que varre toda a
As crônicas de viajantes como Francisco Álva- novela.
res, autor da Verdadeira Informação das Terras do
Preste João (Abissínia); Fernão Cardim, autor dos Duas são as interlocutoras, a Menina e Moça,
Tratados da Terra e Gente do Brasil. que funciona como narradora, e a Senhora idosa.
Em 1578, quando Dom Sebastião desaparece na Dono de uma linguagem dramática, ainda hoje a
batalha de Alcacer-Quibir é chegado o ocaso me- leitura dos sermões demonstram o autor e ator
lancólico da pátria portuguesa. O barroco em Portu- cheio de vigor e que surpreende a cada passo pelas
gal desenvolve-se entre 1580 quando Portugal respostas paradoxais que dá às perguntas que ele
perde sua autonomia política, passando a integrar o próprio faz ao texto pregado e a si mesmo.
reino da Espanha e vai até 1756 com a fundação da
Arcádia Lusitana – uma academia poética -, e tem Uma das virtudes da eloqüência de Vieira é a
início um novo estilo: o Arcadismo. chamada “propriedade”, ou a arte de encontrar as
palavras mais próprias para o que se quer significar.
Moisés afirma que o movimento barroco, iniciado A mais famosa criação da sua imaginação é a teoria
na Espanha e introduzido em Portugal durante o do quinto império do mundo, sob a égide do rei de
reinado filipino, corresponde a uma profunda trans- Portugal, que seria inaugurado com a segunda vin-
formação cultural, cujas raízes constituem ainda da de Cristo a Terra e com a chegada do messias
objeto de discussão e divergência. dos judeus: “seria D. João IV, quem estava destina-
do a derrotar definitivamente os turcos e reconduzir
Para ele, o Barroco procurou conciliar o espírito os judeus dispersos no mundo à sua terra de ori-
medieval, considerado de base teocêntrica, e o es- gem, a Palestina.” O quinto império tem a ver com a
pírito clássico, renascentista, de essência pagã, crença na missão providencial dos Portugueses
terrena e antropocêntrica. Entendendo que conhe- (equivalente à dos Hebreus no seu tempo). A dou-
cer é identificar-se com, assimilar o objeto ao sujei- trina do quinto império, tal como é tratada por Vieira,
to, parece evidente que a dicotomia barroca (corpo especialmente na sua obra incompleta História do
e alma, luz e sombra, etc.) corresponde a dois mo- Futuro, tem um lado prático: obter o regresso a Por-
dos de conhecimento. cultismo e conceptismo: tugal dos judeus fugidos e seus capitais.
1. Cultismo ou gongorismo - valorização de for- Sua imaginação verbal, e o estilo de pensar, com
ma e imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, os seus paradoxos, aproximam o Padre Antonio
hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se Vieira de Fernando Pessoa, que o considerava seu
uma expressão da angústia de não ter fé. mestre e “imperador da língua portuguesa”.
Nasceu em Lisboa e compôs sua obra no silên- Durante o século XVII, a epistolografia ganhou
cio claustral. Sua existência e sua obra opõem-se fisionomia literária autônoma, como exercício literá-
às do Padre António Vieira. Era um contemplativo e rio, onde o epistológrafo imaginava um destinatário
místico por natureza, e as obras que escreveu, re- qualquer ou dirigia-se a uma audiência fictícia.
fletem essa condição e sua fé inquebrantável: “es-
creveu suas obras com os olhos voltados para o SÓROR MARIANA ALCOFORADO
plano transcendente, embora não se esquecesse
de os dirigir igualmente para os seus semelhantes, Nasceu em Beja e ingressa no Convento de
dentro e fora dos mosteiros”. Nossa Senhora da Conceição em sua cidade natal.
Conhece e enamora-se por Chamilly, oficial Fran-
Deixou Nova Floresta (5 vols), Pão Partido em cês servindo em Portugal durante as guerras da
Pequeninos, Luz e Calor, Exercícios Espirituais, Restauração e quando ele volta para a França tro-
Últimos Fins do Homem, Armas da Castidade, Ser- caram correspondência e suas cartas são publica-
mões e Práticas (2 vols, 1711), Estímulo prático das como “Lettres Portugaises”, sem declarar o
para seguir o bem e fugir o mal. nome do destinatário e o tradutor.
Segundo Moisés, o Padre Manuel Bernardes No texto das cartas vinha o nome da remetente:
tornou-se um autêntico modelo da prosa literária Mariana.
seiscentista através da linguagem, conceptista, ele-
gante, espontânea e precisa. As cartas retratam segundo Moisés, “a sincera,
franca e escaldante confissão duma mulher que se
A HISTORIOGRAFIA. desnuda interiormente para o amante cínico, ingrato
A HISTORIOGRAFIA ALCOBACENSE e ausente, com fúria de fêmea abandonada, sem
qualquer rebuço ou pudor. (...) As Cinco Cartas de
Observa-se nítida regressão na historiografia Amor, escritas por uma mulher, que alcança dizer
seiscentista. É o que se nota claramente no caso da com rara precisão os seus transes íntimos (via de
"historiografia alcobacense", assim chamada por ser regra mantidos ocultos ou disfarçados pelo comum
escrita por algumas gerações de sacerdotes do das mulheres), ganham maior relevo ainda como
Mosteiro de Alcobaça. documento "humano" e literário precisamente por-
que não visavam à publicação nem a ser encaradas
Na obra coletiva, intitula-se Monarquia Lusitana, como peça literária (...)”.
está presente uma concepção medieval e imaginosa
da História, pois “seus autores não temeram incluir A POESIA BARROCA
tudo quanto era fábula e mitologia relacionada com
a história de Portugal, a começar de Adão e Eva, ao A poesia barroca corresponde mais ao culto da
mesmo tempo que davam por verdadeiros docu- forma, do verso, que da essência, do conteúdo, do
mentos apócrifos, ou inventavam-nos quando ne- sentimento, da emoção lírica, ao contrário da litera-
cessários ao panorama que pretendiam oferecer”. tura doutrinária e moralista.
Segundo Moisés “é com base no mito da Arcádia Outras arcádias existiram como a Arcádia Portu-
que erguem suas doutrinas (...) procuram realizar ense, a Arcádia Conimbricense e os Árcades de
obra semelhante à dos clássicos antigos (...) imita- Guimarães, além Arcádia Ultramarina, organizada
rão dos modelos greco-latinos (...) elogio da vida em Minas Gerais, por Cláudio Manuel da Costa.
simples, sobretudo em face da natureza, no culto
permanente das virtudes do espírito; fuga da cidade Paralelamente, alguns poetas renegaram a Ar-
para o campo (fugere urbem), pois a primeira é con- cádia (como Bocage), ou fundaram outras agremia-
siderada foco de mal-estar e corrupção; desprezo ções para combatê-la (como Filinto Elísio, líder do
do luxo, das riquezas e de todas as ambições que Grupo da Ribeira das Naus), enquanto outros cria-
enfraquecem o homem; elogio da vida serena, plá- ram obra autônoma, de onde o nome "dissidentes"
cida, pela superação estóica de todos os apetites ou "independentes", que por suas características
menores; elogio da velhice como exemplo desse podem ser classificados como pré-românticos, es-
ideal tranqüilo da existência, da aurea mediocritas; pecialmente a José Anastácio da Cunha, a Marque-
elogio da espontaneidade primitiva, pré-civilizada; sa de Alorna e Bocage.
por outro lado, o gozo pleno da vida, minuto a minu-
to, na contemplação da beleza e da natureza, pres- Filinto Elísio, pseudônimo arcádico do Pe. Fran-
supõe certo epicurismo, que equilibra as tendências cisco Manuel do Nascimento é considerado o último
estóicas do movimento; por fim, a incidental presen- legítimo árcade. Freqüentou a roda literária da mar-
ça da Virgem Maria se explica por sua condição de quesa de Alorna. Foi um dos autores da “guerra dos
neoclássicos católicos. poetas”, ao lado do chamado “grupo da Ribeira das
Naus”.
Seguem os modelos antigos (defendem a sepa-
ração de gêneros, a abolição da rima, o emprego de Preceptor da futura Marquesa de Alorna e de sua
metros simples, o despojamento do poema, a impor- irmã, cai na desgraça da Inquisição e evade-se para
tância da mitologia), ao mesmo tempo em que pro- Paris, onde vive até o fim da vida e publica sua obra
curam aproveitar-se da orientação racionalista de poética: Versos de Filinto Elísio. Pré-romântico pelo
teóricos do tempo. tom confessional de alguns poemas exerceu notável
influência em vida e depois da morte, inclusive em
Para que o "fingimento" poético seja completo, Garrett.
imaginam-se vivendo num mundo habitado por deu-
ses e ninfas, numa natureza e num tempo absolu- Em posição semelhante se coloca a Marquesa
tamente fictícios e adotam pseudônimos pastoris. de Alorna (Leonor de Almeida de Portugal Lorena e
Lencastre), adotou o pseudônimo de Alcipe.
Suicida-se em 11 de setembro de 1891, com Eça de Queirós tornou-se um dos maiores pro-
dois tiros na boca, desalentado, deprimido, sentindo sadores em Língua Portuguesa, sendo considerado
fechadas as portas que o conduziria de regresso por Massaud Moisés um divisor de águas lingüístico
aos mitos da infância. entre a tradição e a modernidade. Cultivou o roman-
ce, o conto, o jornalismo, a literatura de viagens e a
Antero cultivou a poesia e a prosa polêmica e hagiografia.
filosófica. No primeiro caso, temos: Odes Modernas
(1865), Primaveras Românticas. Versos dos Vinte Moisés organiza sua rica produção em três fa-
Anos (1871), Sonetos Completos (1886), Raios de ses:
Extinta Lux (1892). No segundo, seus escritos estão
coligidos em três volumes: Prosas (1923, 1926, a) A primeira fase, de indecisão, preparação e pro-
1931). Para a compreensão do caso anteriano, ain- cura, traz um escritor ainda jovem e romântico, co-
da possuem interesse as Cartas de Antero de meça com Prosas Bárbaras, e termina em 1875,
Quental (1921), as Cartas Inéditas de Antero de com a publicação de O Crime do Padre Amaro.
Quental a Oliveira Martins (1931) e as Curtas a An- Pertencem ainda a essa fase: Prosas Bárbaras, O
tonio de Azevedo Castelo Branco (1942). Mistério da Estrada de Sintra, As Farpas.
Segundo Moisés, a poesia de Antero é para sen- b) A segunda fase onde o autor adere às teorias do
tir e compreender ao mesmo tempo, pois só assim, Realismo passa a escrever obras de combate às
vendo as duas formas de conhecimento fundidas, é instituições vigentes (Monarquia, Igreja, Burguesia).
possível entender e julgar seu autor, um dos maio- São romances comprometidos com a geração de
res ícones poéticos de Portugal, ao lado de Ca- 1870 e traçam um retrato da sociedade Portuguesa
mões, Bocage e Fernando Pessoa. contemporânea, erguido em linguagem original,
plástica, já impregnada daquelas qualidades carac-
terísticas de seu estilo: naturalidade, fluência, vigor
A PROSA REALISTA. O ROMANCE narrativo, precisão, "oralidade" além de certo lirismo
melancólico, da sátira e a ironia. Pertencem a esta
No Realismo, o romance abandona o esquema fase: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A
do Romantismo, segundo o qual a prosa de ficção Relíquia e Os Maias.
era baseada na intriga e visava ao entretenimento, e
passa a ser obra de combate e arma de ação re- c) A terceira e última fase da carreira de Eça de
formadora da sociedade burguesa dos fins do sécu- Queirós onde o escritor resolve erguer uma obra de
lo XIX, ressurgindo como instrumento de ataque e sentido construtivo, fruto da dolorosa consciência de
demolição. Procurando mostrar os erros básicos da ter investido inutilmente contra o burguês e a famí-
mentalidade romântica, o romance realista (e o na- lia. Ao derrotismo e pessimismo analítico da etapa
turalista) propõe-se a desmascarar que os três po- anterior, sucede um momento de otimismo, de es-
deres sobre os quais se apoiava o estilo de vida em perança e fé, mas tendo por base o culto dos valo-
moda no Romantismo, não tinham mais consistên- res da Alma e do Espírito. A Ilustre Casa de Rami-
cia e força suficientes para resistir ao impacto das res, A Correspondência de Fradique Mendes e A
novas descobertas científicas e filosóficas da se- Cidade e as Serras.
gunda metade do século XIX. Em síntese, a Bur-
guesia, como classe social dominante, a Monarquia, “Prosas Bárbaras” exibe o mais fantasmagórico
como classe imperante e reinante, e o Clero, como romantismo, em que os seres da Natureza se trans-
força ideológica desse organismo social, não eram figuram e antropomorfizam. Eça faz um levanta-
capazes de transformar-se e adaptar-se aos novos mento, uma análise crítica da sociedade portuguesa
tempos. A esse intento reformador se juntava a do seu tempo. Em “O Crime do Padre Amaro”, o
preocupação de criar obra artística, o que implicava foco é a vida de uma cidade provinciana e a influên-
em considerar o romance com muita seriedade. cia clerical.
Enquanto escritor, Eça se mantém extraordinari- Além disso, podemos destacar as seguintes
amente vivo e atuante no espírito de grande massa característica do Simbolismo:
de leitores ainda hoje. Está entre os mais lidos em
Língua Portuguesa: aí reside, sem dúvida, seu Misticismo e espiritualismo: Os simbolistas ne-
grande e imperecível mérito. gam o espírito científico e materialista dos realis-
tas/naturalistas, valorizando as manifestações místi-
IX – SIMBOLISMO (1890-1915) cas e mesmo sobrenaturais do ser humano.
O Simbolismo surge como reação às correntes Ênfase na sugestão: Um dos princípios básicos
materialistas e cientificistas da sociedade industrial dos simbolistas era sugerir através das palavras
do início do século XX. Os simbolistas, negando os sem nomear objetivamente os elementos da reali-
parnasianos, aboliram o culto à forma de suas com- dade. Ênfase no imaginário e na fantasia;
posições.
Percepção intuitiva da realidade: Para interpretar
Concorre para a formação da atmosfera simbo- a realidade, os simbolistas se valem da intuição e
lista uma série de influências estéticas e filosóficas: não da razão ou da lógica.
Sua obra recebe influência de sua estada na Pascoaes (mentor do grupo), afirmou que "o
França, inaugura o Simbolismo português com Oa- movimento da Renascença Portuguesa se realizaria
risto, cuja técnica é baseada na poesia de Paul Ver- dentro da Saudade revelada, dentro dela Portugal,
laine. sem deixar de ser Portugal, poderá realizar os maio-
res progressos de qualquer natureza."
Segundo Massaud Moisés, apesar de fazer uso
de prefácios polêmicos e agressivos para inserir os Assim, o Saudosismo foi encarado como uma
pressupostos da estética simbolista em seus livros, atitude perante a vida que definia a "alma nacional"
revela uma tendência inata para o equilíbrio clássi- em todo o seu idealismo transcendentalista.
co, para a contenção e para o formalismo de tradi-
ção. Essa tendência vai substituindo de forma gra- Pascoaes, apoiado por Leonardo Coimbra, pre-
dativa a postura simbolista. conizou um Portugal agrário, uma organização mu-
nicipalista e uma Igreja independente, e identifica o
A produção literária de Eugênio de Castro apre- Saudosismo como sendo um Sebastianismo escla-
senta versos livres, vocabulário erudito, pessimismo recido, revelado pelos novos poetas.
e ambigüidade nos temas trabalhados (blasfêmias-
liturgia; ocultismo-catolicismo). Suas principais obra Fernando Pessoa, colaborador da "A Águia",
são: Oaristo (1890), Horas (1891), Silva e Interlúdio afirma que os poetas saudosistas anunciam o pen-
(1894). samento da "futura civilização européia", que cor-
responderia à "civilização lusitana", e é neste clima
ANTÔNIO NOBRE de exaltação sebastianista que escreve "Mensa-
gem".
Publica sua obra mais importante, Só, uma cole-
tânea de poemas em que utiliza uma linguagem António Sérgio e Raul Proença acusam Pascoa-
coloquial, para voltar ao passado, à infância. Res- es de "utópico e passadista, fechado num lusitanis-
taura uma hipersensibilidade, um forte sentimento mo xenófobo, provinciano, incompatível com o mo-
de tristeza e de completa inadaptação ao mundo. derno espírito europeu", gerando bastante polêmica
Suas descrições são preenchidas por ambientes no seio do grupo.
vagos ou nebulosos, razão pela qual é chamado de
“poeta crepuscular”, isto é, voltado para as horas de Quanto ao tipo de linguagem, os Saudosistas
recolhimento. preferem uma expressão mais tradicional e clássica
("verso escultural" de Pascoaes), não se preocu-
A produção literária de Antônio Nobre apresenta pando muito com a análise do subconsciente.
vocabulário simples, temas coloquiais, apego a ter-
ra, às raízes populares, descrição de seu exílio pari- Por ser um momento de transição, uma vez que
siense e egocentrismo. Suas principais obras são: em 1915 surge a revista "Orpheu", marco inicial do
Só (1892), Despedidas (1902), Primeiros Versos Modernismo português, esse período também pode
(1921) e Alicerces (1983). ser classificado como Pré-Modernismo.
O Modernismo em Portugal é difícil de ser estrutu-
CAMILO PESSANHA rado.
Pessanha, estudioso da civilização chinesa, mor- Massaud Moisés adota a seguinte divisão: Pri-
reu em Macau. É considerado o maior simbolista meiro Momento ou Orphismo e Segundo Momento
português. ou Presencismo. As duas outras fases são classifi-
cadas como Neo-realismo e Surrealismo.
Alguns de seus poemas foram publicados na
revista Centauro em 1916, graças ao interesse e Os escritores da fase Neo-realista repudiam a
esforço de João de Castro Osório. Mais tarde, em literatura psicológica e propõem uma literatura de
1920, conseguindo outras composições às quais caráter social, muito próxima à praticada pelos auto-
reuniu as já publicadas, publicou Clepsidra. O nome res Realistas.
da obra significa relógio movido à água.
Já os escritores da fase Surrealista são influen-
Suas composições trabalham temas sentimen- ciados pelas teorias de Andre Breton, idealizador do
tais, apresentam uma musicalidade marcante e uma Surrealismo. Devido a todas estas circunstâncias, o
postura de resignação diante da adversidade. Esse ano de 1940, quando o grupo da Presença se desin-
quadro compõe imagens fugidias, carregadas de tegrou, é considerado o término do período Moder-
pessimismo, e transitoriedade da vida. nista em Portugal.
- Chocar a burguesia com sua obra irreverente (po- Pessoa, em 8 de março de 1914, faz surgir seus
esias sem metro, exaltando a modernidade); heterônimos (cada um dos quais tem um estilo e
uma atitude que os distingue dos demais), escre-
- Tirar Portugal de seu descompasso com a van- vendo de uma só vez, os 49 poemas de O Guarda-
guarda do resto da Europa. dor de Rebanhos, de Alberto Caeiro. Escreve tam-
bém os seis poemas de Chuva Oblíqua, que assina
Portanto, os traços marcantes da Geração Or- com seu próprio nome.
pheu são as tendências futuristas (exaltação da
velocidade, da eletricidade, do "homem multiplicado Fernando Pessoa ortônimo (ele-mesmo), seguia
pelo motor"; antipassadismo, antitradição, irreverên- os modelos da poesia tradicional portuguesa, usa o
cia). Agitação intelectual, "escandalizar o burguês", verso tradicional, rimado, admiravelmente musical.
o moderno como um valor em si mesmo. Poeta introvertido e meditativo, anti-sentimental,
refletia inquietações e estranhezas que questiona-
O primeiro número da revista Orpheu, publicado vam os limites da realidade da sua existência e do
em Abril de 1915, causa grande polêmica graças a mundo.
críticas violentas, encontradas nos poemas "Ode
triunfal" de Álvaro de Campos (Heterônimo de Fer- A temática de Pessoa ortônimo gira em torno da
nando Pessoa) e "Manucure" de Mário de Sá- identidade perdida; da consciência do absurdo da
Carneiro. existência, revela tensão sinceridade/fingimento,
consciência/inconsciência, sonho/realidade, duali-
O segundo e último número da revista foi lança- dade e oposição sentir/pensar, pensamen-
do em julho de 1915, com conteúdos bem mais to/vontade, esperança/desilusão), anti-
futuristas. O terceiro número chegou a ser planeja- sentimentalismo (intelectualização da emoção, es-
do, mas não foi editado por causa do suicídio de tados negativos (solidão, cepticismo, tédio, angús-
Mário de Sá-Carneiro, responsável pelos custos da tia, cansaço, desespero, frustração), inquietação
revista. metafísica (dor de viver) e auto-análise.
Os orfistas foram influenciados pelos vários ma- Autor de Mensagem, um conjunto de poemas de
nifestos de vanguarda europeus e, apesar do pre- inspiração ocultista e épico-messiânica, de exalta-
coce desaparecimento da "Orpheu", a revista deixou ção ao sebastianismo denota certo desalento, uma
uma rica herança, uma vez que surgiram várias expectativa ansiosa de ressurgimento nacional,
outras revistas. revela uma faceta misteriosa e espiritual do poeta,
manifestada também nas suas incursões pelas ci-
Ainda nesse primeiro momento do Modernismo ências ocultas. É o único livro publicado pelo autor
português, surgiram as figuras de Aquilino Ribeiro e nas vésperas da sua morte, em 1934.
Florbela Espanca, nomes de destaque na Literatura
Portuguesa, que não tiveram ligação com nenhum Os heterônimos são concebidos como individua-
dos momentos modernistas. lidades distintas da do autor, com biografia e horós-
copo próprios. Traduzem a consciência da fragmen-
Para o professor de Literatura Portuguesa Mas- tação do eu, reduzindo o eu “real” de Pessoa a um
saud Moisés, esses dois poetas são enquadrados papel que não é maior que o de qualquer um dos
em um momento literário que classifica como "Inter- seus heterônimos na existência literária do poeta.
regno".
Alberto Caeiro é o Mestre, inclusive do próprio
FERNANDO PESSOA Pessoa ortônimo. Nasceu e morreu em Lisboa, tu-
berculoso, embora tenha vivido a maior parte de sua
Nascido em Lisboa, Fernando Pessoa perdeu o vida no campo, numa quinta no Ribatejo, onde fo-
pai aos cinco anos de idade. Em 1896, a família se ram escritos quase todos os seus poemas. Para
transfere levada pelo segundo marido de sua mãe, Caeiro, “o único sentido íntimo das coisas é não
para a cidade de Durban, na África do Sul. Lá, cursa terem sentido íntimo nenhum”, o poeta nega qual-
o secundário, cedo revelando seu pendor para a quer forma “de religiosidade, qualquer coisa em si”.
literatura. Em 1903, ingressa na Universidade do Não desempenhava qualquer profissão e teria ape-
Cabo. nas a instrução primária.
Caeiro escreve numa linguagem simples com o Seus poemas são marcados pela oralidade e
vocabulário limitado de um poeta camponês pouco pela prolixidade que se espalha em versos longos,
ilustrado. Procura perceber as coisas como elas próximos da prosa. Despreza a rima e a métrica
são, sem refletir sobre elas e sem atribuir a elas regular.
significados ou sentimentos humanos. Em perfeita
consonância com sua busca de simplicidade e es- Segundo Moisés, a temática dos heterônimos só
pontaneidade. pode classificar-se como metafísica: o que é a reali-
dade daquilo a que chamamos realidade? Há algum
São da sua autoria as obras O Guardador de significado nas coisas, além do seu simples ser?
Rebanhos, O Pastor Amoroso e os Poemas Incon- Que espécie de coisa se manifesta no que supomos
juntos. ser a nossa consciência? “O que em mim sente está
pensando”: este verso é uma das chaves para com-
Ricardo Reis nasceu no Porto, foi educado num preendê-la. O pensar é já a forma que toma o sentir,
colégio de jesuítas, ou seja, recebeu uma educação independentemente de doutrinas com as quais o
clássica (latina), formado em medicina nunca exer- sentimento da realidade seja contrastado. O que
ceu a profissão. Dedicou-se ao estudo do helenis- interessa, escreveu ele a propósito de outro poeta,
mo, isto é, o conjunto das idéias e costumes da não são os sentimentos, mas o uso que se faz de-
Grécia antiga e adota Horácio como seu modelo les.
literário. Sua formação clássica reflete-se em sua
obra (nível formal, temas tratados) e na própria lin- MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
guagem que utiliza, de um purismo exacerbado.
Um dos escritores portugueses mais identificado
Apesar de ser formado em medicina, não exerci- com a obra de Pessoa, de quem foi amigo. Projetou
a. Dotado de convicções monárquicas, emigrou e editou conjuntamente com os seus amigos, em
para o Brasil após a implantação da República. Ca- especial Fernando Pessoa, a revista Orpheu.
racterizava-se por ser um pagão intelectual lúcido e
consciente (concebia os deuses como um ideal Sofrendo de crises depressivas, sentimentais e
humano), limitava-se a viver o momento presente, financeiras do poeta (já por várias vezes tinha escri-
evitando o sofrimento (“Carpe Diem”) e aceitando o to a Fernando Pessoa comunicando o seu suicídio),
caráter efêmero da vida. Sá-Carneiro suicida-se, com vários frascos de es-
tricnina, a 26 de abril de 1916, num Hotel de Nice,
Álvaro de Campos nasceu em Tavira e era um suicídio esse descrito por José Araújo, que Mário
homem viajado, formado em engenharia mecânica Sá-Carneiro chamara para testemunhar a sua mor-
e naval na Escócia e, numas férias, fez uma viagem te. Deixou a Fernando Pessoa a indicação de publi-
ao Oriente (de que resultou o poema “Opiário”). car a obra que dele houvesse, onde, quando e co-
Viveu em Lisboa, dedicou-se à literatura, intervindo mo melhor lhe parecesse.
em polêmicas literárias e políticas. É da sua autoria
o “Ultimatum”, manifesto contra os literatos instala- O delírio e a confusão dos sentidos, marcas da
dos da época. Até com Pessoa ortônimo polemizou. sua personalidade, sensível ao ponto da alucinação,
Defensor ferrenho do modernismo era o cultor da com reflexos numa imagística exuberante, definem
energia bruta e da velocidade, da vertigem agressi- a sua procura de exprimir o inconsciente e a disper-
va do progresso, sendo a Ode Triunfal um dos me- são do eu no mundo.
lhores exemplos, evoluindo depois no sentido de um
tédio, de um desencanto e de um cansaço da vida, Como escritor, Mário de Sá-Carneiro demonstra,
progressivos e auto-irônicos. Representa a audácia na fase inicial da sua obra, influências do decaden-
suprema a que Pessoa se permitiu (experiências tismo e até do saudosismo, numa estética do vago,
futurista e até no campo da ação político-social). do complexo e do metafísico.
A trajetória poética de Álvaro de Campos está Escreveu algumas das páginas mais importantes
compreendida em três fases: a primeira, da morbi- da Literatura Portuguesa: A Confissão de Lúcio
dez e do torpor, é a fase do "Opiário" (oferecido a (novela), Dispersão (poesia), Princípio (coetânea de
Mário de Sá-Carneiro e escrito enquanto navegava contos) Indícios de Ouro (póstumo) e Cartas a Fer-
pelo Canal do Suez, em março de 1914), a segunda nando Pessoa (reunidas em dois volumes).
fase, mais mecanicista, é onde o Futurismo italiano
mais transparece, é nesta fase que a sensação é JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS
mais intelectualizada.
O escritor e pintor José de Almada Negreiros
levou mais longe algumas tendências implícitas no
A terceira fase, do sono e do cansaço, aquela futurismo: textos e atitudes de provocação do con-
que, apesar de parecer um pouco surrealista, é a formismo burguês e de academismo literário. “No-
que se apresenta mais moderna e equilibrada ("Não me de Guerra” é um dos grandes textos narrativos
sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer de toda a Literatura Portuguesa. A maior parte do
ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os livro trata das relações entre um homem e uma mu-
sonhos do mundo."). lher.
Massaud Moisés destaca alguns escritores que, Empreende a fusão entre o regionalismo e o
embora não filiados a nenhum grupo, são influenci- universalismo na análise psicológica das persona-
ados pelas tendências em voga (Neo-realismo, Sur- gens, cujas peculiaridades desvenda aos poucos.
realismo e às tendências contemporâneas). Ressal-
ta a importância das revistas literárias, em torno das Vários dos seus romances foram já adaptados
quais se congregaram algumas das vozes literárias ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, de
da atualidade. quem é amiga e com quem tem trabalhado de perto.
Estão, neste caso, Fanny Owen ("Francisca"), Vale
O autor destaca a obra e acrescenta minibiogra- Abraão e As Terras do Risco ("O Convento"), para
fias dos poetas Rui Cinatti, José Blanc Portugal, além de "Party", cujos diálogos foram igualmente
Tomaz Kim e António Ramos Rosa, Raul de Carva- escritos pela escritora. É também autora de peças
lho, Sebastião da Gama, Albano Martins, Fernando de teatro e para televisão.Em 2004, recebe, aos 81
Guimarães, Fernando Echevarria, Alberto de Lacer- anos, o Prêmio Camões, o mais importante prêmio
da, Luís Amaro, José Terra e Hélder Macedo. literário da língua portuguesa.
2) (FUVEST) Aponte a alternativa correta em rela- c) Ricardo Reis simboliza uma forma humanística
ção a Gil Vicente: de ver o mundo do espírito da Antigüidade Clássica.
a) Compôs peças de caráter sacro e satírico. d) junto com Mário de Sá-Carneiro, dirige a publica-
b) Introduziu a lírica trovadoresca em Portugal. ção do segundo número de Orpheu, em 196.
c) Escreveu a novela Amadis de Gaula.
d) Só escreveu peças em português. e) a Tabacaria, de Alberto Caeiro, mostra seu dese-
e) Representa o melhor do teatro clássico portu- jo de deixar o grande centro em busca da simplici-
guês. dade do campo.
A relação dos atores com as práticas de lingua- A escola é eminentemente lugar de comunicação
gem também varia, e a distância que pode separá- e as situações escolares são ocasiões de produ-
los ou aproximá-los têm efeitos importantes nos ção/recepção de textos, com seus pontos fortes e
processos de apropriação. fracos.
Estudar o funcionamento da linguagem como Os autores fazem uma análise sobre os pontos
práticas sociais significa analisar as diferenciações fortes e fracos dos gêneros em virtude da importân-
e variações, em função de sistemas de categoriza- cia dos mesmos para o desenvolvimento da lingua-
ções sociais à disposição dos sujeitos observados. gem.
Assim, conclui o autor, há ficcionalização nos - aspecto exterior: roupas, disfarces, penteado,
gêneros complexos a serem trabalhados em sala de óculos, limpeza etc.;
aula. A particularidade do oral em relação à escrita
reside no fato de que essa ficcionalização deve se - disposição dos lugares: lugares, disposição,
articular com uma representação do aqui e agora, iluminação, disposição das cadeiras, ordem, ventila-
gerenciada simultaneamente, graças especialmente ção, decoração etc.
a meios de linguagem que são o gesto, a mímica, a
corporalidade, a prosódia. Palavra, implicação mate- Dessa forma, na análise de um texto oral de um
rial e corporal na situação de produto de linguagem dado gênero que se tornará objeto de ensino, deve-
e ficcionalização, a necessidade de construir, ao remos verificar o seu contexto de produção, a sua
mesmo tempo, uma representação da situação abs- organização textual, as marcas lingüísticas e os
trata, constituem os dois vetores a partir dos quais meios não-lingüísticos que o caracterizam, para que
se constroem as novas capacidades de linguagem. assim possamos ensinar ao aluno em que situações
poderão usar esse gênero, como estruturá-lo, qual
O fato de que essa construção não pode ocorrer linguagem e postura utilizar, ou seja, poderemos
sem uma intervenção mais ou menos maciça da levá-lo a desenvolver as capacidades de linguagem
escrita mostra o poder desse instrumento e prova e as capacidades não-verbais de que ele precisará
que é necessário que se forje uma concepção dialé- para participar plenamente das situações comunica-
tica dos diferentes aspectos do ensino da língua tivas.
materna.
Essas capacidades de linguagem são de três
6 – O ORAL COMO TEXTO: tipos, segundo Dolz & Schneuwly: capacidade de
COMO CONSTRUIR UM OBJETO DE ENSINO ação que será desenvolvida com o trabalho com a
situação de produção; capacidade discursiva, com a
De acordo com os autores, apesar de a lingua- organização textual; e capacidade lingüístico-
gem oral estar bastante presente no cotidiano das discursiva, com os aspectos lingüístico-discursivos.
salas de aula, nas rotinas, nas leituras, na correção
de exercícios, ela não é ensinada a não ser inciden-
talmente, durante atividades diversas e pouco con- Prosseguem os autores afirmando que na esco-
troladas. la, para que se possa fazer um bom trabalho com os
gêneros de modo geral, e com os orais mais especi-
O paradoxo, entretanto, consiste na análise de ficamente, será necessário, construir um modelo
que o oral está presente nas duas pontas do siste- didático do gênero, ou seja, um levantamento de
ma escolar: na pré-escola e nos primeiros anos do suas características no nível do contexto de produ-
ensino fundamental, onde os professores consoli- ção, da organização textual, da linguagem e dos
dam os usos informais da linguagem e no ensino meios não lingüísticos.
superior onde se requer um domínio da palavra em
público (jornalista, advogado, empresários, profes- A construção desse modelo requer a análise de
sores, etc.). vários exemplares desse gênero, a consulta a textos
de especialistas que discorrem sobre ele, além da
O oral como objeto de estudo não poderia ser consulta aos autores desses gêneros. Partindo des-
incluído entre as duas pontas? sas informações, conseguiremos fazer um modelo
didático que contemplará a situação de produção
Inicialmente, os autores apresentam e discutem desse gênero, sua organização textual, seus aspec-
aspectos indubitavelmente relacionados à lingua- tos lingüístico-discursivos, seus meios não-
gem oral, por sua materialidade fônica, como a pro- lingüísticos.
dução sonora vocal, a voz como suporte acústico da
fala através da articulação de vogais e consoantes, Essas características nos indicarão as dimen-
as sílabas, os fatos prosódicos, a música, a entona- sões ensináveis do gênero estudado e nos mostra-
ção, acentuação e ritmo, as falas espontâneas, os rão também que outros recursos podem ser neces-
meios não-lingüísticos da comunicação oral, etc., sários para que o aluno aprenda a agir por meio
até chegarem à interação entre o oral e o escrito. desse gênero.
a) Descrever e explicitar o projeto educativo (as III. No agrupamento Instruir ou Prescrever, figu-
intenções e o plano de ação) em relação às finali- ram os gêneros cuja função é estabelecer formas
dades da educação e às expectativas da sociedade; corretas de proceder. A situação de produção des-
ses gêneros sempre envolve uma expectativa em
b) Fornecer um instrumento que oriente as práticas relação a comportamento do receptor.
dos professores;
IV. No agrupamento Relatar, estão os gêneros rela-
c) Levar em conta as condições nas quais se reali- cionados com a memória e a experiências de vida.
zam essas práticas; Nas situações de produção desses gêneros está a
necessidade de contar alguma coisa que realmente
d) Analisar as condições de exeqüibilidade, de mo- ocorreu, o que torna os relatos diferentes das narra-
do a evitar uma descontinuidade excessiva entre os tivas, que são ficcionais.
princípios e as restrições colocadas pelas situações
de ensino. V. No agrupamento Argumentar, ficam os gêneros
que têm origem nas discussões sociais de assuntos
e) Todas as alternativas estão corretas. polêmicos, que provocam controvérsias.
2) Apenas uma das alternativas abaixo não contem- a) As alternativas I, II, III e IV estão corretas.
plam os estudos sobre gêneros textuais, conforme
Schneuwly e Dolz. b) As alternativas II, III, IV e V estão corretas.
a) É através dos gêneros, orais ou escritos, que as c) As alternativas I, III, IV e V estão corretas.
práticas de linguagem se materializam nas ativida-
des dos aprendizes. d) Todas as alternativas estão corretas.
Teoria da dependência
Sujeito, o lado oculto do receptor, escrito em
1994, é uma coletânea dos textos sobre os assun- Teoria gerada nos anos 60, onde os meios de
tos tratados em um seminário na USP, um novo comunicação impunham uma reificação ao sujeito,
olhar lançado sobre a recepção na comunicação. mantendo não apenas os padrões econômicos,
Traz dois textos extremamente teóricos, referência tecnológicos e culturais, como também os de lin-
sobre as novas tendências e estudos que serviram guagem e os estilos de concepção da vida pessoal
de base à pesquisa sobre a recepção. Os outros e da social.
textos analisam em torno do novo enfoque a produ-
ção midiática, às vezes fazendo um histórico sobre Essa teoria procurava explicitar como as rela-
o que já se discutiu e apresentando novos enfoques ções dos países centrais com os periféricos iam
teóricos. além de questões econômico-financeiras, mas en-
volviam tecnologia, cultura, saber e concepções de
RECEPÇÃO: UMA QUESTÃO ANTIGA EM UM vida.
PROCESSO NOVO
Nesse contexto, os meios de comunicação eram
RECEPÇÃO E COMUNICAÇÃO: concebidos como agentes desse processo cabendo
A BUSCA DO SUJEITO a nós resgatar o receptor dessa reificação impingida
(Mauro Wilton de Souza) pelo sistema, mediante sua conscientização para
lutar contra a dominação do Estado capitalista, alia-
O autor, professor da Escola de Comunicação e do aos interesses estrangeiros. Esse paradigma
Artes da Universidade de São Paulo, onde leciona materialista é reforçado pela instalação do regime
na graduação, na pós-grduação, além de atuar co- militar nos país.
mo pesquisador do Núcleo de Pesquisas sobre Re-
cepção. Essa concepção histórica da relação homem–
sociedade vai se desdobrar na teoria crítica.
Neste texto, ele propõe reflexões a respeito das
questões relacionadas ao receptor e à comunica- Modelo frankfurtiano (indústria cultural)
ção, tomando como ponto de referência as seguin-
tes questões “quem é, afinal, o homem no processo Entre as décadas de 60 e 80, o modelo frankfur-
de comunicação social contemporâneo? Onde se tiano, em especial a concepção de “indústria cultu-
colocar para melhor visualizá-lo?”. ral” apontava a não-linearidade na relação de domi-
nação entre as sociedades capitalistas desenvolvi-
Inicialmente, ele faz uma introdução sobre o das e subdesenvolvidas. A racionalidade técnica,
assunto-tema, explicita o novo lugar do receptor na base da modernidade, acaba se transformando em
comunicação onde ele passa a ser considerado principal instrumento de dominação. O mercado é o
como sujeito, parte do processo comunicacional. eixo explicativo do sistema, onde comunicação e
cultura interagem.
Fazendo uma retrospectiva sobre os caminhos
percorridos (entre 1950 e 1980), o autor situa o final No nível teórico, o receptor era a razão técnica;
dos anos 50, o início dos primeiros trabalhos ligados no empírico, o sujeito reificava-se em indivíduo/
ao sujeito e à comunicação no Brasil, assim como o objeto/ mercadoria/ instrumento.
princípio das primeiras intervenções do meio aca-
dêmico brasileiro com estudos inicialmente nas á-
reas de ciências sociais e humanas, e mais tarde Estruturalismo
nas escolas de comunicação.
Segundo Habermas, se a razão técnica não ha-
Nesse período, os modelos importados para a via dado respostas ao processo de dominação, de-
comunicação estavam situados em dois paradigmas ver-se-ia buscar outra forma de uso da razão, a
básicos: o positivista e o marxista, razão pela qual razão comunicativa (teoria da ação comunicativa).
não permitiram uma produção nacional mais autô-
noma. O sujeito, sendo deslocado do homem para a
estrutura, gerava o sujeito como “estrutura estrutu-
rante”, trazendo a necessidade de estudos sobre
Modelo norte-americano funcionalista esse sujeito, seu funcionamento, sua linguagem e
de análise da comunicação seus códigos, cujos desdobramentos se tornaram
fundamentais para o pós-modernismo e para os
O modelo norte-americano funcionalista de aná- pensadores do pós-68.
lise em comunicação, que surge com a expansão
das agências norte-americanas de publicidade e Na produção teórica e empírica em comunica-
dos institutos de pesquisa e opinião pública e se ção, entre os anos 50 e 80, percebe-se o movimen-
sustentava no trabalho com o indivíduo, e não com to pendular entre o individual e o social, e a decor-
a massa, porém recusa a análise das causas soci- rente dificuldade em identificar o receptor nesse
ais em nível estrutural, preservando e sustentando a processo, pois não se abdicou do social nem se
lógica do sistema sócio-econômico de produção. resgatou o receptor como indivíduo.
- Cotidiano: a comunicação e a cultura vivem no Para ele, a recepção não é só uma etapa no
mundo plural das práticas cotidianas, nos modos de interior do processo de comunicação, mas um de
viver e fazer. Como as pessoas encontram elos rever e repensar os estudos e a pesquisa em comu-
para relacionar-se consigo mesmas, como se vêem nicação, o processo inteiro da comunicação.
a si mesmas e como constroem sua identidade de
sujeito. Significa, portanto, explodir o modelo mecânico,
hegemônico atualmente nos estudos da comunica-
- Popular: elaboração e reelaboração das práticas ção onde não há verdadeiros atores nem intercâm-
sociais e dos conteúdos da comunicação de massa. bios. Neste contexto, comunicar é fazer chegar a
Como trabalhar com a subjetividade numa socieda- informação, onde a recepção é o ponto de chegada
de em que o indivíduo já não existe mais, é simula- daquilo que já está concluído.
cro de si mesmo?
Esta concepção epistemológica condutista está
- Meios de comunicação: espaços de processos centrada no emissor, enquanto ao receptor caberia
de construção de valores grupais, não apenas como apenas reagir aos estímulos do emissor. Esta con-
expressão do sentido dado pelo produtor ou recep- cepção está intimamente relacionada a outra, a
tor, mas no processo em que ocorre. Enfim, a satu- iluminista, onde educação era a transmissão de
ração dos meios de comunicação e de informação conhecimento para que nada sabia.
nos dias atuais não levaria à impossibilidade de
construção da subjetividade, que pode vir a ser uma O receptor era um depósito vazio que receberia
“subjetividade saturada”? conhecimentos originados e produzidos em outro
lugar. Segundo o autor, dos anos 60 até pouco tem-
O caminho dos estudos de comunicação, princi- po atrás, o que percebemos na AL é a contradição
palmente nos países da América Latina, está dei- entre dois elementos: a politização absoluta da aná-
xando um pouco de lado suas vinculações com a lise das mensagens e a despolitização, a dissocia-
sociologia e a política, e se ocupando das ligações ção do receptor que é pensado apenas individual-
dessa comunicação com o mundo plural das práti- mente.
cas culturais cotidianas, mas não somente na busca
das significações e usos sociais e sim com uma O receptor não é vítima manipulada como quer a
visão de cultura, de como a comunicação pode ser visão de crítica social de esquerda, que vê o domi-
vista com base nessas práticas. Os meios de comu- nador politicamente, mas vê o receptor individual-
nicação são, na verdade, o lugar onde a sociedade mente, isoladamente.
é simbolizada, por um lado ela é refletida, e por
outro são apresentados aos sujeitos os padrões e Esta contradição, este descompasso configura-
as possibilidades de ser. se, segundo Barbero, no ângulo novo por onde de-
vemos rever e repensar o processo da comunicação
O termo “recepção” em si se torna insuficiente, em nossos países, culturas e sociedades.
pois traduz visões de um sujeito que, em determi-
nado momento, é tido como “receptor” e em outros Mediações da recepção:
como “construtor” e “colaborador” das mensagens.
- A heterogeneidade da temporalidade. Requer a-
A ruptura da trajetória generalizadora para uma tenção às temporalidades diferentes de cada grupo
percepção mais ligada ao processo, na qual o sujei- dentro de uma mesma sociedade, em um mesmo
to começou a ser “visto”, surgiu a partir do momento país, em uma mesma região.
em que a visão do sujeito-objeto passou a não fun-
cionar mais, pois os desejos desses sujeitos se - As fragmentações sociais e culturais: o que faz
tornaram o ponto de mudança nesse olhar que pas- com que as pessoas se juntem e se reconheçam ou
sou a admitir vários ângulos, visualizando tanto o não? Aqui, significando as tradicionais e estruturais
sujeito/indivíduo como suas relações. Segundo Mar- divisões sociais. Ex: divisão entre a informação e a
tin-Barbero, “o emissor e o receptor se situam (...) cultura dirigidas para os que tomam decisões na
não tanto com relação a um canal, a um meio, po- sociedade e a informação e a cultura dirigida às
rém em relação a necessidades e problemas”. massas. Essa divisão reforça a divisão entre os que
detêm o poder e a imensa maioria a quem os meios
AMÉRICA LATINA E OS ANOS RECENTES: de comunicação se dirigem.
o estudo da recepção em comunicação social
JESÚS MARTÍN-BARBERO - Um novo organizador perceptivo, um reorganiza-
dor das experiências sociais: os diferentes sensori-
Jesús Martín-Barbero é um dos mais instigantes um: elite x popular, sexo, idade, público x privado,
pesquisadores latino-americanos da atualidade. etc.
Seus trabalhos versam sobre o fenômeno da comu-
nicação massiva, embora ele se dedique a outras Os valores de nossa sociedade estão sendo
questões como a configuração das cidades e a e- refragmentados e rearticulados.
mergência dos novos sujeitos sociais.
Mais de 3h00 em média e 3h45 aos do- Segundo ela, esse produto é aberto aos estudos
mingos: 20% do tempo em que a pessoa de recepção por que a mesma mensagem é decodi-
permanece acordada. As mulheres ficam ficada por grupos diferentes, “negociação do signifi-
mais 20’. Os mais jovens se expõem cado”.
Exposição à mais à TV. Quanto a escolaridade, os de
TV nível universitário se expõem menos que Ela busca empreender uma discussão metodoló-
os de nível médio, assim como é menor a gica a respeito dos estudos de etnografia da audi-
exposição daqueles com renda familiar
mais alta. ência em relação à recepção da telenovela.
Em todas as classes, o tempo de exposi-
ção aumenta nos fins de semana. A autora diz que é o olhar antropológico que
51% demonstraram conhecimento (22% conduz o direcionamento de sua análise sobre o
conhecimento baixo e 27% alto conheci- objeto, no caso, a telenovela: “eu não sou da comu-
Índice de mento). As mulheres atingiram nível mé- nicação, mas a tenho como objeto”.
conheci- dio de conhecimento maior que os ho-
mento da mens. Os mais idosos (com mais de 41 Assim sendo, embora seja um estudo de comu-
programa- anos) conhecem menos a programação nicação, é também um exercício antropológico e
ção que os mais jovens e apesar de menos
exposto à TV os mais escolarizados es- etnográfico. Sua base de discussão é o diário de
tão mais informados que os outros. campo, feito sistematicamente no curso dos traba-
TV com controle remoto: 66 % entre os lhos, segundo ela o instrumento ideal para esse tipo
Audiência mais abastados possuem, contra 33% de estudo.
nos interva- dos de todas as outras sociais. 55 % dos
los comerci- telespectadores ficaram vendo os comer- Escolhe a novela das “oito”, telenovela do horário
ais (pesqui- ciais e quanto mais jovens, a tendência é nobre da Globo, justificando sua escolha em função
sa flagrante) permanecer menos diante da TV durante do grande número de audiência que esta telenovela
os comerciais. possui.
130 Bibliografia para Língua Portuguesa
Apostilas Solução - Professor Educação Básica – PEB II
Segundo dados da autora, 50 milhões de pesso- Enfocando a narrativa da telenovela, a autora
as assistem à telenovela por dia. Sua intenção pri- tece considerações sobre a fórmula do mito, familiar
meira com a análise de campo é observar como tal ao antropólogo: o mito tem relação com a crença.
telenovela é entendida, decodificada, vivenciada por
grupos diferenciados de pessoas. Assim, o que é apresentado pela mídia passa
por um filtro que leva em conta o contexto social e
A delimitação do objeto se dá a partir da classe doméstico de envolvimento dos receptores acerca
social. O local escolhido para a pesquisa de campo do mito apresentado.
é um boteco, muito embora sua intenção inicial seja
observar a recepção da telenovela por uma classe Concluindo, na análise dos dados fornecidos no
social, de forma secundária, ela deseja obter alguns diário de campo, a autora evidencia sua angústia
dados particulares, através da audiência masculina em perceber as pistas encontradas em sua pesqui-
da telenovela. sa: a pertinência de um receptor ativo no processo
de codificação e decodificação da mensagem midiá-
Na escolha do recorte pela classe social, por tica é desconsiderada por uma comunidade acadê-
exemplo, Fachel se encontra com um problema de mica da comunicação e a literatura disponível nesse
ordem metodológica que é: “se o receptor é neces- meio que não tratam dessa questão.
sariamente segmentado, torna central toda a pro-
blemática metodológica de investigação a respeito Isso revela seu entendimento dos estudos de
de a recepção dar conta dessa segmentação.” comunicação tradicionais, que desconsideram a
questão da recepção em comunicação e, através do
Ondina Fachel fala, em seu texto, como se pro- desenvolvimento da pesquisa etnográfica, ela pre-
cessou a escolha de parâmetros e pressupostos tende comprovar sua hipótese contrária a essa idéia
que orientaram sua pesquisa. tradicional.
Do ponto de vista da antropologia, ela considera - A TV opõe e ratifica, aos olhos infantis, uma
a televisão e a telenovela são objetos fundamentais ação masculina (que envolve força) a uma expres-
do espaço doméstico sendo essa característica são feminina (à base de sensibilidade e comunicabi-
essencial para o fazer etnográfico. lidade).
Para ela, o recente desenvolvimento dos estudos Estudar as mediações significa incursões a cam-
de recepção no Brasil está muito vinculado ao cená- pos cujos objetos não são os tradicionalmente tra-
rio latino-americano, que em meados da década de balhados pela pesquisa de comunicação. Significa
1980 trouxe para o debate as preocupações que focalizar a região em todos os seus contextos, reali-
circulavam entre parte dos pesquisadores norte- zar a compreensão total de seu território para que a
americanos e europeus. O Brasil carece de pesqui- mediação seja apreendida na sua amplitude e com-
sas sobre o tema. plexidade. A cultura regional admite a coexistência
de sub-culturas, sendo ela mesma uma sub-cultura
A produção brasileira ainda está por ser analisa- em relação à cultura geral.
da de forma mais sistemática e o levantamento so-
bre os estudos de recepção dos meios de comuni-
cação ainda estão em andamento. RECEPÇÃO:
O MUNDO POLÊMICO DAS MEDIAÇÕES
Nesse contexto, parte para a análise da recep- SOCIAIS
ção. MARIA RITA KEHL
A mensagem é uma forma cultural aberta a dife- No texto seguinte, Maria Rita Kehl, diz que desde
rentes decodificações. Já a audiência é formada por que a TV foi inventada, ela produz efeitos no espec-
indivíduos ativos, produtores de sentido. Os estudos tador.
de recepção envolvem, assim, uma leitura compara-
tiva entre os discursos da mídia e da audiência. Segundo ela, há uma relação imaginária entre
recepção de informação e produção de resposta
A cultura e a identidade influenciam os indivíduos que segue a ordem de realização de desejos que se
em seus comportamentos, sentimentos e atitudes. dá a partir do discurso televisivo.