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Steven Lukes
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alemão, Karl Brüggemann, contrastou o significado sansimonista com aquele individualismo
“infinito” (unendlichen) e “íntimo” (innigen), caracteristicamente alemão, significando "a
autoconfiança infinita no propósito individual para ser pessoalmente livre em moralidade e
em verdade" (K. II. Brüggemann, Dr. Lists nationales System der politischen Ökonomie,
1842; ver Koebner, p. 282). A partir daí, o termo se tornou virtualmente sinônimo,
principalmente no uso alemão, da concepção romântica inicial de individualidade, como
aparece nos escritos de Wilhelm von Humboldt, Schlegel e Schleiermacher. Assim, em 1917,
Simmel escreveria:
Uma síntese dos significados franceses e alemães do termo pode ser encontrada na
obra de Jacob Burckhardt, Die Kultur der Renaissance in Italien (1860), onde
"individualismo" combina a noção de agressiva auto-afirmação de indivíduos livres de uma
estrutura de autoridade externamente determinada (como aparece em Louis Blanc), com a
noção de retirada do indivíduo da sociedade para uma existência privada (como em
Tocqueville), com a idéia, mais claramente expressa por Humboldt, do desenvolvimento
completo e harmonioso da personalidade individual, visto como representando a humanidade
e apontando para seu maior desenvolvimento cultural (Koebner, 1934). O italiano do
Renascimento era, para Burckhardt, o primogênito da Europa moderna, em virtude da
autonomia de sua moral, de seu cultivo da privacidade e da individualidade de seu caráter.
Foi na América que "individualismo" veio a especificar um conjunto completo de
ideais sociais e a adquirir um imenso significado ideológico: expressou os ideais operativos
do final do século XIX e do início do XX (e com certeza continua representando o principal
papel ideológico), levando adiante um conjunto de reivindicações universais vistas como
incompatíveis com as reivindicações paralelas do socialismo e do comunismo do Velho
Mundo. Refere-se não às fontes de dissolução social ou à transição penosa para uma futura
ordem social harmoniosa, mas à real ou iminente realização do estágio final do progresso
humano, uma ordem de iguais direitos individuais, governo limitado, laissez-faire, justiça
natural e igualdade de oportunidades, além de liberdade, autodesenvolvimento e dignidade
individuais. Naturalmente, as suas interpretações variam amplamente.
Importado com conotações negativas através dos escritos de vários europeus, entre
eles os socialistas e o sansimonista Michel Chevalier, o economista Friedrich List, e
Tocqueville, “individualismo” adquiriu um significado positivo e expressou uma
reinterpretação desenvolvida pela ideologia americana. Em 1839, um artigo no United States
Magazine and Democratic Review (VI, 208-09) já descrevia o "curso da civilização" como "o
progresso do homem de um estado de individualismo selvagem para este, de um
individualismo mais elevado, moralizado, e refinado". Concepções de individualismo
desenvolveram-se sob as influências sucessivas do puritanismo da Nova Inglaterra, da
tradição jeffersoniana e da filosofia dos direitos naturais; do Unitarismo, do
Transcendentalismo, e do Evangelismo; da necessidade de elaborar uma defesa ideológica do
sistema social do Norte contra o desafio do Sul; e das idéias imensamente populares de
Herbert Spencer (o precursor do "individualismo austero”), junto com o ímpeto continuado de
ideologias alternativas oriundas da Europa (Arieli, 1964). Para Emerson, o individualismo,
por ele dotado de significado religioso e moral, ainda não havia sido experimentado; era a rota
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para a perfeição, uma ordem social espontânea de indivíduos autoconfiantes e independentes.
“A União”, escreveu, “deve ser ideal no individualismo verdadeiro" (“New England
Reformers”, 1844). Para Walt Whitman, a força progressista da história moderna era o
conceito "da singleness do homem, o individualismo" (Democratic Vistas, 1871), embora nas
mãos de darwinistas sociais, como William Graham Sumner, o termo tenha adquirido um
significado mais desagradável e completamente menos idealista. Finalmente, veio a fundir a
doutrina do laissez-faire com uma ideologia empresarial e foi assim usado por Andrew
Carnegie e Henry Clews, autores de The Wall Street Point of View (1900), que falam "daquele
sistema de Individualismo que guarda, protege e encoraja a competição", cujo espírito era "o
Espírito Americano o amor à liberdade, à indústria livre, com oportunidades livres e
desimpedidas..." (Individualism versus Socialism [1907], Cap. I). Em 1928, Herbert Hoover
pronunciou seu famoso discurso de campanha sobre o "sistema americano de individualismo
austero”. Contudo, até mesmo críticos radicais do capitalismo, como os Single Taxers e os
Populists, argumentaram em nome do individualismo. Como observou James Bryce, ao longo
de sua história "o individualismo, o amor ao empreendimento, o orgulho pela liberdade
pessoal, foram considerados pelos americanos não apenas sua escolha, mas sua posse peculiar
e exclusiva” (The American Commonwealth [1888], III, Parte V, Cap. XCII).
Na Inglaterra, o termo representou um papel menor. Robert Owen e John Stuart Mill,
sob influência francesa, usaram-no pejorativamente, referindo-se aos males da competição
capitalista. Como um epíteto favorável para o liberalismo inglês, embora raramente usado
pelos economistas do laissez-faire e os benthamistas, veio a ser mais amplamente usado na
segunda metade do século XIX. O ministro Unitarista William McCall proferiu o discurso
"Princípios do Individualismo"; Spencer adotou o termo, assim como o ultra spenceriano
Auberon Herbert, autor de The Voluntaryist Creed (1908) e editor de The free Life (onde
descreveu seu credo como sendo "individualismo total” ). T. H. Green usou-o favoravelmente,
enquanto Dicey, em um uso influente, comparou-o com o benthamismo e o liberalismo
utilitário (ver mais adiante). Segundo Dicey, foi largamente usado para significar a ausência
ou a mínima intervenção estatal nas esferas econômicas e outras (em contraste com
"coletivismo"), e normalmente está associado, tanto por seus partidários quanto por seus
oponentes, com o liberalismo clássico, ou negativo. L. T. Hobhouse mostra este significado
claramente quando escreve que o "individualismo, quando luta com os fatos, caminha não
distante da linha socialista” (Liberalism, 1911, Cap. IV). Finalmente, "individualismo" foi
aplicado às qualidades genuínas de ingleses livres e auto-confiantes, como quando Samuel
Smiles escreveu sobre aquele "individualismo enérgico que... constitui a melhor educação
prática” (Self-Help, 1859), Cap. I).
Os historiadores e sociólogos vieram a usar o termo em uma variedade de contextos.
Alguns, como Ernst Troeltsch, associam-no com o Cristianismo primitivo e a Ética
Evangélica; outros, como Burckhardt, com o Renascimento italiano; outros, como Max
Weber e R. H. Tawney, com o Protestantismo, especialmente o Calvinismo, e a ascensão do
capitalismo (Weber, 1904-05; Tawney, 1926), ou com o crescimento de uma "sociedade de
mercado possessiva” na Inglaterra do século XVII (Macpherson, 1962). Outros, como Otto
Gierke, associam individualismo com a moderna teoria da Lei Natural, da metade do século
XVII ao início do século XIX (Gierke, 1913), e ainda outros, como Simmel e Friedrich
Meinecke, com a ascensão do romantismo. Finalmente, quando economistas do tipo
doutrinário liberal, como os liberais austríacos Ludwig von Mises e F. A. Hayek, e Milton
Friedman, como também ideólogos do laissez-faire, como Ayn Rand, aderem ao
"individualismo", neste sentido, o termo indica uma tendência ideológica da direita, de
significado comparativamente menor na maioria das sociedades industriais contemporâneas.
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Quase todos estes usos de “individualismo” combinam vários significados diferentes
ou unidade de idéias, e é este o valor da tentativa de analisar estes elementos. Nesta tentativa,
o objetivo é indicar amplos esboços conceituais, em parte por definição (positivo e negativo) e
em parte por alusão histórica, mas sem pretensão de que os itens seguintes sejam mutuamente
exclusivos ou totalmente exaustivos.
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moral, que é fundamental para transformar um princípio, de justificativa geral, em argumento
moral.
... ficou claro para mim que cada homem deve representar a humanidade em si
mesmo e de seu próprio modo, por sua própria combinação especial de
elementos, de forma que ela se revele em cada maneira especial, e, na plenitude
de espaço e tempo, tornar-se tudo o que pode emergir como algo individual, fora
das profundidades de si mesmo.
A mesma idéia é encontrada em Wilhelm von Humboldt, para quem o "verdadeiro fim
do homem" é "o maior e mais harmonioso desenvolvimento dos seus poderes no sentido de
um todo completo e consistente” cujo “ideal mais alto... da co-existência de seres humanos"
consiste em "uma união na qual cada um se esforça para se desenvolver a partir de sua própria
natureza íntima, e para seu próprio fim”, concluindo que
...a razão não pode desejar para o homem nenhuma outra condição que aquela
em que cada indivíduo não só desfruta a liberdade mais absoluta de se
desenvolver por suas próprias energias em sua individualidade perfeita, mas na
qual a natureza externa mesma é até deixada de lado por qualquer agência
humana, mas só recebe a impressão dada por cada indivíduo, dele e de sua
própria vontade livre, de acordo com a medida de seus desejos e instintos, e
restrita apenas pelos limites de seus poderes e direitos (Ideen zu einem Versuch,
die Gränzen der Wirksamkeit des Staats zu bestimnen [1852], Cap. II; trans. J.
Coulthard).
A história desta idéia é bem conhecida: tão logo desenvolvido numa teoria de
comunidade orgânica, o termo Individuelle tem sua referência deslocada de pessoas para
forças suprapessoais, e individualidade tornou-se um predicado do Volk ou do Estado. À parte
este aspecto, entrou na tradição liberal especialmente através de John Stuart Mill em “On
Liberty” (1859, Cap.III: Of Individuality...), e também como um elemento crucial no
fundamento ético do pensamento de Marx, como em Die deutsche Ideologie (1845-46, Parte
I, Seção C, onde Marx descreve o indivíduo sob o comunismo "cultivando seus dons em todos
os sentidos"), enquanto permaneceu atraente para artistas de todos os tipos, desde Byron e
Goethe. Em geral, especifica um ideal para a vida dos indivíduos - um ideal tanto anti-social
(como em alguns dos primeiros românticos), extra-social (como em Mill), ou altamente social
(como em Marx, ou Kropotkin, ou os idealistas ingleses).
Isto é a liberdade tal como foi concebida por liberais no mundo moderno, dos
dias de Erasmo (alguns diriam, de Occam) aos nossos. Todo argumento em prol
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de liberdades civis, todo protesto contra exploração e humilhação, contra o
abuso da autoridade pública, ou a hipnose das massas pelos costumes ou
propaganda organizada, emerge desta individualista, e muito controvertida,
concepção de homem (1958, pp. 14, 12).
Constant mais adiante comenta sobre o caráter essencialmente moderno desta noção
de liberdade como "o pacífico prazer da independência pessoal”: os antigos, “para preservar
sua importância política e sua parte na administração do Estado, estavam prontos a renunciar
à sua independência privada”, enquanto que "quase todos os prazeres dos modernos
encontram-se em suas vidas privadas: a imensa maioria, sempre excluída do poder,
necessariamente tem somente um interesse passageiro em suas vidas públicas” (De l'esprit de
conquête [1814], Parte II, Cap. VI).
Esta idéia contrasta não só com vários tipos de autoritarismo, mas também com aquela
tradição poderosa do pensamento (que podemos retornar de Elton Mayo até Rousseau) que
salienta “comunidade” e “grupismo”, como concentrando esforços para curar doenças
psicológicas e sociais, ou alcançar propósitos políticos e sociais por ação destes grupos, sejam
grupos primários, grupos de trabalho, associações profissionais, classes, partidos, ordens
religiosas, corporações, cidade-estados, ou nações. É esta tradição que David Riesman ataca
em seu ensaio “Individualismo Reconsiderado" no qual conclui que, "celebrar aquela
conformidade com a sociedade não somente como uma necessidade mas também como um
dever, [é] destruir aquela margem de liberdade que dá à vida seu sabor e sua possibilidade
infinita de progresso" (Individualism Reconsidered [1954], Cap. 2).
Talvez a mais notável expressão contemporânea de “grupismo” e, certamente, a mais
influente, esteja no pensamento de Mao Tse-Tung. De acordo com Mao, o liberalismo "é
extremamente prejudicial em um coletivo revolucionário... um corrosivo que destrói pouco a
pouco a unidade, mina a coesão, causa apatia e cria dissensão"; "origina-se do egoísmo
pequeno-burguês, coloca em primeiro lugar os interesses pessoais, e os interesses da
revolução como secundários..." Um comunista deveria “estar mais interessado no Partido e
nas massas que em qualquer pessoa privada, e mais interessado nos outros que em si mesmo”
(Combat Liberalism, September 7, 1937).
Em geral, a idéia de privacidade se refere a uma relação entre o indivíduo, por um
lado, e a sociedade ou o Estado, por outro - uma relação caracteristicamente assegurada pelos
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liberais como desejável, ou como valor final, ou (como em Mill) como meio para a realização
de outros valores.
5. A quinta idéia-unidade de individualismo, a noção de indivíduo abstrato, precisa ser
especificada cuidadosamente, porque tem sido freqüentemente mal interpretada,
especialmente por seus oponentes do século XIX. Implica uma concepção de sociedade de
acordo com a qual arranjos sociais reais ou possíveis são vistos como respondendo às
exigências de indivíduos com determinadas capacidades, desejos e necessidades. As regras da
sociedade e instituições são, nesta visão, consideradas coletivamente como um artifício, um
instrumento modificável, meios de cumprir determinados objetivos individuais; os meios e os
fins são distintos. O ponto crucial desta concepção é que as características relevantes dos
indivíduos determinam os fins que os arranjos sociais garantem (de fato ou idealmente)
cumprir; sejam estas características chamadas instintos, faculdades, necessidades, desejos, ou
direitos, são assumidas como dadas, independentemente de qualquer contexto social.
Morris Ginsberg denomina esta visão “individualismo sociológico” e a define como "a
teoria em que a sociedade é concebida como um agregado de indivíduos cujas relações uns
com os outros são puramente externas" (1956, pág. 151). É o que Gierke quis dizer quando
observou que “o fio condutor de toda especulação na área da lei natural foi sempre, do
princípio ao fim, o individualismo - um individualismo levado continuamente às suas
conclusões lógicas”, de forma que, para os teóricos modernos da lei natural, de Hobbes a
Kant, "uma soberania prévia do indivíduo foi a última e única fonte da autoridade de grupo" e
"a comunidade era só um agregado - uma mera união, restrita ou não - das vontades e poderes
de pessoas individuais”; todos eles concordaram que "todas as formas de vida comum eram
criação de indivíduos" e "só poderiam ser consideradas como meios para objetivos
individuais” (1934, pp. 96, 106, 111).
Gierke estava certo ao localizar o predomínio desta idéia entre meados do século XVII
e início do século XIX. Estava, obviamente, intimamente relacionada à argumentação nos
moldes do “contrato social” e, em geral, a argumentos relativos à sociedade baseados na
concepção de homem no estado de natureza, embora esta noção abstrata de homem também
possa ser vista de forma diferente nos primeiros utilitaristas e nos economistas clássicos.
Desnecessário dizer, os “indivíduos” envolvidos aqui (pré-social, trans-social ou não-social) –
homens naturais, utilitários ou econômicos – sempre se mostram como sendo sociais e, ainda,
historicamente específicas (por exemplo, Macpherson, 1962). “A natureza humana” pertence
sempre, em realidade, a um tipo particular de homem social.
Para Hobbes, o individualista abstrato arquetípico, o Leviatã era um dispositivo
artificial construído para satisfazer as exigências dos elementos componentes da sociedade –
“como se os homens houvessem germinado da terra agora, e de repente, como cogumelos,
atinjam a maturidade completa, sem compromisso uns com os outros” (De cive [1642], VIII,
1). Locke discutiu de forma semelhante, como o fizeram muitos pensadores do século XVIII,
especialmente na França e Alemanha. Até mesmo Rousseau, desde que usou a idéia de
contrato social, brincou com esta concepção, embora a propulsão central de seu pensamento
fosse incompatível com isto. Talvez a expressão mais explícita (e mais característica do
século XVIII) apareça em um artigo de Turgot, na Encyclopèdie (1752-72) de Diderot: “Os
cidadãos têm direitos, direitos que são sagrados para todo o corpo da sociedade; eles
constituem os elementos necessários da sociedade; só a consideram para se colocar, com
todos os seus direitos, sob a proteção dessas mesmas leis para as quais sacrificam sua
liberdade” (artigo em “Fondation (Politique et Droit Naturel)”, Vol. VII).
A idéia de indivíduo abstrato constitui o objetivo principal de muitos pensadores do
século XIX, muitos dos quais asseguraram ser ela um dogma tipicamente estreito e superficial
do Iluminismo. Foi atacada por contra-revolucionários e conservadores românticos na França,
Inglaterra e Alemanha, por Hegel e Marx e seus respectivos seguidores, por Saint-Simon e
seus discípulos, por Comte e os positivistas, por sociólogos, especialmente na França, por
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historiadores alemães, e por idealistas ingleses. É o que Bonald tinha em mente quando
escreveu: “Não só o homem não constitui a sociedade, como é a sociedade que constitui o
homem, quer dizer, o forma através da educação social...” (Théorie du pouvoir [1796],
Preface); e é isso que F. H. Bradley pensava quando escreveu que “o indivíduo, fora da
comunidade, é uma abstração”. O homem, para Bradley, “ é um ser social; ele só é real
porque é social...” e se nós abstraímos dele todas as características que são resultado de seu
contexto social, ele se torna “uma tentativa teórica de isolar o que não pode ser isolado”
(Ethical Studies [1876], essay V, “My Station and its Duties”).
6. Distinta desta idéia (embora, em certas interpretações, seja uma aplicação dela) é uma
doutrina que veio a ser conhecida como individualismo metodológico. Ela afirma que todas as
tentativas para explicar o fenômeno social devem ser rejeitadas (ou, de acordo com uma
versão corrente, mais sofisticada, rejeitadas como explicações de “baixo nível”) a menos que
sejam totalmente expressas em termos de fatos sobre indivíduos. Assim, de acordo com seu
principal expoente contemporâneo, Sir Karl Popper: “... todo fenômeno social, e
especialmente o funcionamento de todas as instituições sociais, deveria sempre ser
compreendido como sendo o resultado das decisões, ações, atitudes, etc., de indivíduos
humanos, e... nunca deveríamos ficar satisfeitos com explicações em termos dos assim
chamados ‘coletivos’...” (The Open Society and its Enemies [1945], Vol II, Cap. XIV).
Esta idéia foi articulada claramente primeiro por Hobbes, para quem “tudo é melhor
compreendido por suas causas constitutivas” (De cive, Preface), as causas do composto social
sendo os homens hobbesianos. Foi abraçada pelos pensadores do Iluminismo, dentre os quais,
com algumas exceções importantes (como Vico e Montesquieu), um modo individualista de
explicação tornou-se preeminente, embora com grandes divergências sobre o que e quanto
deve ser incluído na caracterização dos elementos explicativos. O homem foi visto por alguns
como egoísta, por outros como cooperativo; alguns supuseram um mínimo de condições
sociais, outros (como Diderot) empregaram uma genuína psicologia social. Como vimos,
muitos argumentaram como se os “indivíduos” em questão fossem “anteriores” à sociedade,
quer dizer, não determinados por características do contexto social.
O individualismo metodológico foi confrontado, ao longo do século XIX, por um
grande número de pensadores que trouxeram, para a compreensão da vida social, uma
perspectiva que outorgou ao fenômeno coletivo prioridade em relação aos indivíduos. Na
Alemanha esta era uma tendência influente, envolvendo todas as ciências sociais, como
história, economia, direito, psicologia e filologia (de, digamos, Adam Muller em diante). Na
França, esta tradição passou de Saint-Simon e Comte, através de Alfred Espinas, para Émile
Durkheim, cuja sociologia inteira foi fundada na negação do individualismo metodológico. Os
marxistas e hegelianos igualmente fizeram tal negação, da mesma forma que a corrente
principal da sociologia americana moderna. Porém, muitos continuaram apoiando esta idéia.
Os utilitaristas estavam com John Stuart Mill, afirmando que as “leis do fenômeno da
sociedade são resultado, e só podem ser, das ações e paixões de seres humanos”, isto é, “das
leis da natureza humana individual” (A System of Logic [1843], Livro VI, Cap. VII, 1).
Semelhantemente, muitos cientistas sociais foram individualistas metodológicos, entre os
quais obviamente daqueles que apelaram para elementos psicológicos fixos como fatores
explicativos últimos – como Pareto (“resíduos”), McDougall (“instintos”), Sumner
(“motivos”), e Malinowski (“necessidade”).
O debate acerca do individualismo metodológico repetiu-se sob diferentes disfarces –
na disputa entre a escola “histórica” alemã em economia e a teoria “abstrata” de economia
clássica e neo-clássica (especialmente como exposta por Carl Menger e a Escola austríaca),
em disputas infindáveis entre filósofos da história e entre os sociólogos e psicólogos, e, acima
de tudo, na prolongada controvérsia entre Durkheim e Gabriel Tarde (na qual a maioria dos
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problemas foi mais claramente apresentada). Entre outros, Georg Simmel e Charles Horton
Cooley tentaram solucionar a questão, como o fizeram Georges Gurvitch e Morris Ginsberg
(Ginsberg, 1954), mas ela constantemente reaparece, por exemplo, em reações à macro
teorização de Talcott Parsons e seus seguidores, e no debate provocado pelas polêmicas
metodológicas de Popper e Hayek em nome do individualismo metodológico.
Sinteticamente, pode-se dizer que o individualismo metodológico adquire uma
amplitude de significados diferentes conforme a quantidade de “sociedade” que é construída
nos “indivíduos” explicativos. Num extremo estão os pensadores como La Mettrie e H. J.
Eysenk, que buscam uma explicação final fisiológica, até mesmo física, do fenômeno social;
há outros, como Pareto e Freud, que em última instância se utilizam de variáveis psicológicas,
mas sem referência social; em seguida, há aqueles, de Tarde a George Homans, que buscam
explicações em termos de formas gerais e “elementares” de comportamento social, mas com
uma referência social mínima; e finalmente, há os que apelam para indivíduos concretos, não
abstratos, que incorporam todas as características pertinentes do contexto social. (Para
elaboração adicional e discussão do tema, ver Lukes, 1968).
O príncipe deriva de seus súditos a autoridade que tem sobre eles; e esta
autoridade está limitada pelas leis da natureza e do estado. As leis da natureza e
do estado são as condições sob as quais eles se submetem - ou se supõe que se
submetam - à regra dele. Uma destas condições é que, não tendo nenhum poder
ou autoridade sobre eles exceto por escolha e consentimento deles, ele nunca
pode usar esta autoridade para quebrar o ato ou contrato pelos quais foi
conferido a ele... (Vol. I).
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daqueles “democratas totalitários” que reivindicaram conhecer os “reais” propósitos dos
homens e os usaram como uma justificativa para a tirania. Na prática, o termo foi
normalmente restrito àquele tipo de liberalismo político que objetiva confinar as funções e a
autoridade do Estado dentro de limites fixos. Aqui, o que conta como “propósitos individuais”
equivale freqüentemente às reivindicações (principalmente econômicas) dos indivíduos de
classes particulares. É neste sentido que Dicey caracterizou a legislação do utilitarismo como
“individualismo sistematizado”, observando que “o Benthamismo não significou nada mais
que a tentativa de levar a cabo, por meio de legislação efetiva, os ideais políticos e sociais
fixados antes dele por todo comerciante, negociante ou artesão inteligente” (Lectures on the
Relation Between Law and Publica Opinion in England during the nineteenth century [1905],
Lecture VI, Part [B]). Como o trabalho de Macpherson sugere (Macpherson, 1962), dentro de
certos limites o individualismo político é a teoria política requerida pela oitava idéia, a ser
considerada a seguir.
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9. Há ainda o individualismo religioso, estreitamente relacionado conceitualmente às noções
de autonomia e de privacidade (veja acima: II, secs. 3 e 4). Pode ser definido como a visão de
que o crente individual não precisa de intermediários, que ele tem o direito, e às vezes o
dever, de se relacionar com Deus de sua própria maneira e por seu próprio esforço. É, assim,
tanto uma doutrina religiosa quanto, por implicação, uma visão da natureza de religião, e
aponta para duas outras idéias importantes: igualdade espiritual e auto-escrutínio religioso. A
primeira foi acentuada nos primórdios da Igreja e a segunda encontra sua expressão suprema
no pensamento de Santo Agostinho. Na verdade, o individualismo religioso poderia ser
localizado bem mais atrás, pelo menos em Jeremias, mas suas formas modernas datam
caracteristicamente da Reforma, quando foi expresso em termos da doutrina da “luz interna” e
do sacerdócio universal dos crentes.
Evidentemente isto abarca um amplo campo, das formas mais comunais de
Protestantismo aos cultos privados de misticismo, mas usualmente está associado ao
Calvinismo. Aqui o auto-escrutínio espiritual e a “internalização da consciência” foram
levados ao extremo. Como Max Weber escreveu: “Apesar da necessidade de associação na
verdadeira Igreja para a salvação, a relação do calvinista com seu Deus ocorria num
isolamento espiritual profundo” (Weber, 1904-05 [1930], pp. 106-107; ver Watt, 1957 para
um exame das conseqüências literárias da tendência introspectiva do Puritanismo). Weber
salientou a conexão entre a doutrina da predestinação e “um sentimento de solidão sem
precedentes do indivíduo isolado”, dada “a eliminação completa da salvação através da Igreja
e dos sacramentos (que estava no luteranismo mas não foi desenvolvida até sua conclusão
final)...”:
No que era para o homem da época da Reforma a coisa mais importante de sua
vida, sua salvação eterna, ele foi forçado a seguir seu caminho sozinho, para
encontrar um destino que tinha sido decretado para ele desde a eternidade (ibid.,
pp. 104-05).
Este “isolamento interno do indivíduo”, Weber discutiu, “forma uma das raízes do
individualismo desiludido e pessimista, que pode ser identificado hoje até mesmo no caráter
nacional e nas instituições dos povos com um passado puritano...” (ibid., pág. 105).
10. As últimas duas idéias a serem analisadas são teorias filosóficas (moral e
epistemológica) cujas relações conceituais e históricas com as idéias discutidas acima são
complexas e merecedoras de exploração. A primeira delas, que pode ser chamada de
individualismo ético, é uma visão da natureza da moralidade. De acordo com esta visão, a
fonte de valores morais e de princípios, o criador de todo critério de avaliação moral, é o
indivíduo: ele se torna o árbitro supremo dos valores morais (e, por implicação, de outros), a
autoridade moral final no sentido mais fundamental. De certo modo, esta visão pode ser vista
como a conseqüência filosófica de levar a idéia de autonomia até sua conclusão lógica
extrema. Além disso, está intimamente vinculada à dissociação lógica de fato e valor (e só
pode ser expressa dentro de um vocabulário que incorpora esta disjunção). Esta idéia pode ser
vista como latente no pensamento de Kant e de Hume, mas ambos evitaram suas implicações,
o primeiro postulando uma lei moral impessoal, o segundo apelando à uniformidade moral de
gênero humano.
Os dilemas do individualismo ético só se tornaram acentuados neste século, embora
fossem claramente revelados no pensamento de Nietzsche e de Weber; este argumentou que,
quando enfrenta posições morais e contraditórias, “o indivíduo tem que decidir o que é Deus
para ele e o que é o diabo” (“Wissenschaft als Beruf”, 1919). Muitos tipos de existencialismo,
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emotivismo e prescritivismo todos os três negando princípios de uma moral universal
objetiva são formas de individualismo ético. Suas expressões contemporâneas mais
coerentes estão nos escritos iniciais de Jean-Paul Sartre, por exemplo, L’existentialism est un
humanisme (1948), e no trabalho do filósofo contemporâneo de Oxford, R. M. Lebre, e. g.,
The Language of Morals (1951).
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GLOSSÁRIO
SAINT-SIMON (sansimonistas)
Industrial = produtor, indicativo de sociedade nova
Socialismo planificado e tecnocrático, Estado organizado reacionalmente por cientistas e
industriais
Meritocracia, emancipação feminina, abolição do direito de herança; Propriedade privada
implicando organização anárquica da produção e exploração do homem pelo homem
A cada um segundo suas necessidades, de cada um segundo suas capacidades
CARBONÁRIOS - sociedade secreta derivada da franco maçonaria e criada para lutar contra
o domínio de Napoleão no reino de Nápoles. Depois de 1818, é difundida na França e
conquista os bonapartistas liberais. Muitos complôs, fracassados
PROUDHON
A propriedade é um roubo
“Filosofia da Miséria” (1846) ocasiona o afastamento de Marx, que responde com “A
miséria da filosofia” (1848)
Após o fracasso da revolução de 1848, passa a defender somente o mutualismo e a
organização de crédito gratuito como resposta aos problemas da miséria social
Influente na classe operária pelo crédito gratuito = supressão dos juros sobre o crédito
levariam à supressão das classes; Individualismo solidário
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