Você está na página 1de 8

O efeito Beau bou rg 82 Sim ulacros e Sim ulação

Im p losão e d issu asão rança absoluta, q u e vai gen eralizar-se a tod o o cam p o social e
qu e é p rofu n d am en te u m m od elo d e d issu asão (é o m esm o
qu e nos rege m u n d ialm en te sob o sign o d a coexistên cia
p acífica e d a sim u lação d e p erigo atóm ico).
O m esm o m od elo, gu ard an d o as d ev id as p rop orções, se
elabora no Cen tro: fissão cu ltu ral, d issu asão p olítica.
Dito isto, a circu lação d os flu id os é d esigu al. Ven tilação,
arrefecim en to, red es eléctricas — os flu id os «trad icion ais»
circu lam aí m u ito bem . Já a circu lação d o flu id o h u m an o é
m en os bem assegu rad a (solu ção arcaica d as escad as rolan tes
n os cilin d ros d e p lástico, d ev eríam os ser asp irad os, p rop u l­
O efeito Bea u b o u rg , a m áq u in a Bea u b ou r g , a coisa sad os, sei lá, m as u m a m obilid ad e q u e esteja à altu ra d esta
Beau bou rg — com o d ar-lh e u m nom e? En igm a d esta carcaça teatralid ad e barroca d os flu id os q u e con stitu i a origin alid ad e
d e flu xos e d e sign os, d e red es e d e circu itos — ú ltim a v elei­ d a carcaça). Q u an to ao m aterial d e obras, d e objectos, d e
d ad e d e trad u zir u m a estru tu ra q u e já n ão tem n om e, a livros e ao esp aço in terior d ito «p olivalen te», já nad a circu la
estru tu ra d as relações sociais en tregu es à ven tilação su p er­ d e tod o. Q u an to m ais nos en terram os em d irecção ao in te­
ficial (an im ação, au togestão, in form ação, media) e a u m a rior, m enos circu la. É o op osto d e Roissy, on d e d e u m cen tro
im p losão irreversív el em p rofu n d id ad e. M on u m en to aos fu tu rista com design «esp acial» irrad ian d o p ara «satélites»,
jogos d e sim u lação d e m assas, o cen tro fu n cion a com o u m etc. se ch ega, m u ito terren am en te a... aviões trad icion ais.
in cin erad or q u e absorve tod a a en ergia cu ltu ral d evoran d o- Mas a in coerên cia é a m esm a. (Qu e se p assa com o d in h eiro,
esse ou tro flu id o, qu e se p assa com o seu m od o d e circu lação,
-a — d e certo m od o com o o m on ólito n egro d e 2001: con ­
d e em u lsão, d e recaíd a em Beau bou rg?)
vecção lou ca d e tod os os con teú d os qu e aí v ieram m ate­ A m esm a con trad ição se verifica até n os com p ortam en tos
rializar-se, absorv er-se e an iqu ilar-se. d o p essoal d estin ad o ao esp aço «p olivalen te» e sem esp aço
Tu d o á volta d o bairro n ão é m ais q u e u m vern iz — p rivad o d e trabalh o. De p é e em m ovim en to, as p essoas
lim p eza d a fach ad a, d esin fecção, design snob e h igién ico — afectam u m com p ortam en to cool *, m ais su btil, m u ito design,
m as sobretu d o m en talm en te: é u m a m áqu in a d e p rod u zir ad ap tad o à «estru tu ra» d e u m esp aço «m od ern o». Sen tad os
vazio. De certo m od o com o as cen trais n u cleares: o verd ad eiro no seu can to, q u e n em sequ er é v erd ad eiram en te isso, u m
p erigo qu e elas con stitu em n ão é a in segu ran ça, a p olu ição, can to, esgotam -se segregan d o u m a solid ão artificial, a refazer
a exp losão, m as o sistem a d e segu ran ça m áxim o q u e irrad ia a su a «bolh a». Bela táctica d e d issu asão a í tam bém : são con ­
à su a volta, u m vern iz d e con trole e d e d issu asão qu e se d en ad os a em p regar tod a a su a en ergia nesta d efen siva in d i­
esten d e, a p ou co e p ou co, a tod o o território, vern iz técn ico, vid u al. Cu riosam en te, v oltam os a en con trar, assim , a m esm a
ecológico, econ óm ico, geop olítico. Q u e im p orta o n u clear se
a cen tral é u m a m atriz on d e se elabora u m m od elo d e segu ­
Hm in glês n o origin al. (N . d a T.)
Jean BaudriUard 83 84 Sim ulacros e Sim ulação

con trad ição q u e é a d a coisa Beau bou rg: u m exterior m óvel, d e u m sólid o geom étrico. Tal com o as carrip an as d e César
com u tan te, cool e m od ern o — u m in terior crisp ad o sobre os saíd as sem beliscad u ra d e u m acid en te id eal, já n ão exterior,
velh os valores. m as in tern o à estru tu ra m etálica e m ecân ica e q u e teria feito
Este esp aço d e d issu asão, articu lad o sobre a id eologia d e u m a gran d e q u an tid ad e d e ferro-v elh o cú bico em q u e o caos
visibilid ad e, d e tran sp arên cia, d e p olivalên cia, d e con sen so e d e tu bos, alav an cas, carroçaria, m etal e carn e hu m an a no
d e con tacto, é virtu alm en te h oje em d ia o d as relações sociais. in terior é talh ad o à m ed id a geom étrica d o m ais p equ en o
Tod o o d iscu rso social está aí p resen te e n este p lan o, com o esp aço p ossível — assim a cu ltu ra d e Beau bou rg está fractu -
no d o tratam en to d a cu ltu ra, Beau bou rg é, em total con tra­ rad a, torcid a, cortad a e p ren sad a n os seu s m ais p equ en os
d ição com os seu s objectivos exp lícitos, u m m on u m en to gen ial elem en tos sim p les — feixe d e tran sm issões e m etabolism o
d a n ossa m od ern id ad e. É bom p en sar q u e a id eia n ão veio ao d efu n to, con gelad o com o u m m ecan óid e d e ficção cien tífica.
esp írito d e u m q u alq u er rev olu cion ário m as sim ao d os Mas em vez d e p artir e d e com p rim ir aqu i tod a a cu ltu ra
lógicos d a ord em estabelecid a, d estitu íd os d e q u alqu er esp í­ n esta carcaça qu e d e tod as as m an eiras tem o ar d e u m a com ­
rito crítico e, logo, m ais p róxim os d a verd ad e, cap azes, na p ressão, em vez d isso exp õe-se César. Exp õe-se D u bu ffet e a
su a obstin ação, d e p ôr em fu n cion am en to u m a m áqu in a no con tracu ltu ra, cu ja sim u lação in versa serve d e referen cial à
fu n d o in con trolável, q u e lh es escap a n o seu p róp rio êxito, e cu ltu ra d efu n ta. N esta carcaça q u e p od eria ter serv id o d e
qu e é o reflexo m ais exacto, até n as su as con trad ições, d o m au soléu à op eracion alid ad e in ú til d os sign os, reexp õem -se
estad o d e coisas actu al. as m áqu in as efém eras e a u tod estru id oras d e Tin g u ely sob o
sign o d a etern id ad e d a cu ltu ra. Assim se n eu traliza tod o o
Claro q u e tod os os con teú d os cu ltu rais d e Beau bou rg con ju n to: Tin g u ely é em balsam ad o na in stitu ição d o m u seu ,
são an acrón icos p orqu e a este in v ólu cro arq u itectón ico só Beau bou rg é abatid o sobre os seu s p reten sos con teú d os
p od eria ter corresp on d id o o v azio in terior. A im p ressão artísticos.
geral é d e q u e tu d o aqu i está em com a p rofu n d o, q u e tu d o Felizm en te tod o este sim u lacro d e v alores cu ltu rais é
se qu er an im ação e n ão é m ais q u e rean im ação e q u e está an iqu ilad o com an teced ên cia p ela arq u itectu ra e x t e r i o r E
bem assim , p ois a cu ltu ra m orreu , o qu e Beau bou rg d es­ q u e esta, com as su as red es d e tu bos e o seu ar d e ed ifício d e
creve ad m iravelm en te, m as d e m an eira v ergon h osa, qu an d o exp osições ou d e feira u n iv ersal, com a su a fragilid ad e (cal­
se d everia ter aceite triu n falm en te esta m orte e ter erigid o cu lad a?) d issu asiv a d e tod a a m en talid ad e ou m on u m en tali­
u m m o n u m en to ou u m a n tim o n u m en to eq u iv a len te à d ad e trad icion al, p roclam a abertam en te qu e o n osso tem p o
in an id ad e fálica d a Torre Fiffel n o seu tem p o. M on u m en to à n u n ca m ais será o d a d u ração, q u e a nossa tem p oralid ad e é
d escon exão total, à h ip er-realid ad e e à im p losão d a cu ltu ra a d o ciclo acelerad o e d a reciclagem , d o circu ito e d o trân sito
— feita h oje em d ia p ara nós com o u m efeito d e circu itos d os flu id os. A n ossa ú n ica cu ltu ra no fu n d o é a d os h id rocar-
tran sistorizad os, sem p re esp reitad os p or u m cu rto-circu ito
gigan tesco.
Beau bou rg é já u m a com p ressão à César — figu ra d e
1. Ain d a ou tra coisa an iq u ila o p rojecto cu ltu ral d e Beau bou rg: as
u m a tal cu ltu ra q u e é esm agad a p elo seu p róp rio p eso — p róp rias m assas q u e a í aflu ein p ara o g oz a r (v oltarem os a este p on to m ais
com o os m óv eis au tom óveis con gelad os d e rep en te d en tro ad ian te).
86 Simulacros e Simulação
Jean Baudrillard 85

en tre o in terior e o exterior já n ão d everia ser colocad a. É aí


bon etos, d a refin ação, d o crackin g* d a p artição d e m olécu las qu e resid e a n ossa verd ad e, verd ad e d e M oebiu s — u top ia
cu ltu rais e d a su a recom bin ação em p rod u tos d e síntese. irrealizável, sem d ú vid a, m as à qu al Beau bou rg n ão d eixa de
Isto, Beau bou rg-M u seu qu er escon d ê-lo m as Beau bou rg- d ar razão, na m ed id a em qu e q u alq u er d os seu s con teú d os é
-carcaça p roclam a-o. E é o qu e con stitu i p rofu n d am en te a u m contra-senso e está an tecip ad am en te an iqu ilad o p elo con ­
beleza d a carcaça e o fracasso d os esp aços in teriores. De tinen te.
tod as as m an eiras, a p róp ria id eologia d a «p rod u ção cu ltu ­ N o en tan to — no en tan to... se d ev esse h av er algu m a
ral» é a an títese d e tod a a cu ltu ra, com o a d e v isibilid ad e e coisa em Beau bou rg — d everia ser labirin to, u m a biblioteca
d e esp aço p olivalen te: a cu ltu ra é u m lu gar d e segred o, d e com bin atória in fin ita, u m a red istribu irão aleatória d os d esti­
sed u ção, d e in iciação, d e u m a troca sim bólica restrita e alta­ n os p elo jog o ou p elas lotarias — em resu m o, o u n iverso de
m en te ritu alizad a. N ad a a fazer. Tan to p ior p ara as m assas, Borges — ou ain d a as Ru ín as circu lares: en cad eam en to d es-
tan to p ior p ara Beau bou rg. m u ltip licad o d e in d ivíd u os son h ad os u n s p elos ou tros (não
u m a Disn eylân d ia d e son ho, u m laboratório d e ficção p rática).
Mas qu e h averia, p ois, q u e p ôr em Beau bou rg? Um a exp erim en tação d e tod os os p rocessos d iferen tes da
N ad a. O v azio q u e sign ificasse o d esap arecim en to d e rep resen tação: d ifracção, im p losão, d esm u ltip licação, en ca­
tod a a cu ltu ra d o sen tid o e d o sen tim en to estético. Mas isto d eam en tos e d esen cad eam en tos aleatórios — d e certo m od o
é ain d a d em asiad o rom ân tico e d ilaceran te, esse vazio teria com o n o Exp loratoriu m d e São Fran cisco ou nos rom an ces
aind a o valor d e u m a obra d e arte d e an ticu ltu ra. d e Philip Dick — em resu m o, u m a cu ltu ra d a sim u lação e da
Talvez u m rod op io d e lu zes estroboscóp icas e giroscó- fascin ação, e n ão sem p re a d a p rod u ção e d o sen tid o: eis o
p icas, estrian d o o esp aço d o qu al a m u ltid ão teria forn ecid o q u e p od eria ser p rop osto q u e não fosse u m a m iserável anti-
o elem en to m óvel d e base? cu ltu ra. Será p ossível? N ão d e m an eira tão evid en te. Mas
De facto Beau bou rg ilu stra bem o facto d e qu e u m a cate­ essa cu ltu ra faz-se n ou tro sítio, em tod a a p arte, em lado
goria d e sim u lacros n ão se su sten ta sen ão com o alibi d a nen h u m . A p artir d e hoje a ú n ica verd ad eira p rática cu ltu ral,
categoria an terior. Aqu i, u m a carcaça tod a d e flu xos e con e­ a d as m assas, a nossa (já não há d iferen ça) é u m a p rática
xões d e su p erfície d á a si p róp ria com o con teú d o u m a cu ltu ra m an ip u latória, aleatória, labirín tica d e sign os e q u e já não
trad icion al d a p rofu n d id ad e. Um a categoria d e sim u lacros faz sen tid o.
an teriores (a d o sen tid o) forn ece a su bstân cia vazia d e u m a
categoria u lterior qu e, essa, já nem con h ece a d istin ção en tre Con tu d o, d e u m a ou tra m an eira, n ão é v erd ad e qu e em
o sign ifican te e o sign ificad o, nem en tre o con tin en te e o Beau bou rg haja in coerên cia en tre o con tin en te e o conteú d o.
conteú d o. É verd ad e se se d er algu m créd ito a o p rojecto cu ltu ral oficial.
A p ergu n ta: «Qu e se d everia p ôr em Beau bou rg?» é, p ois, M as é exactam en te o op osto qu e se faz. Beau bou rg n ão é
absu rd a. N ão se lhe p od e resp on d er p orqu e a d istin ção tóp ica m ais qu e u m im en so trabalh o d e tran sm u tação d essa fam osa
cu ltu ra trad icion al d o sen tid o p ara a categoria aleatória d os
sign os, p ara u m a categoria d e sim u lacros (a terceira) p erfei­
* Processo d e tran sform ação d e p etróleo em d erivad os p or m eio d e tam en te h om ogén ea à d os flu xos e d os tu bos d a fachad a. E é
calor e p ressão. Em in glês n o origin al. (N . d a T.)
Jean Baudrillard 87 88 Sim ulacros e Sim ulação

p ara elev ar as m assas a esta nova ord em sem iú rgica qu e elas p ap el d e agen te catastrófico n esta estru tu ra d e catástrofe, são
são aqu i ch am ad as — sob o p retexto op osto d e acu ltu rá-las as próprias massas que põem fim à cultura de massas.
ao sen tid o e à p rofu n d id ad e.
Circu lan d o n o esp aço d a tran sp arên cia, são, d ecerto, con ­
H á, p ois, qu e p artir d este axiom a: Beau bou rg é u m monu­ vertid as em flu xo m as a o m esm o tem p o, p ela su a op acid ad e
mento de dissuasão cultural. Sob u m cen ário d e m u seu qu e só e in ércia, p õem fim a este esp aço «p olivalen te». São con v i­
serve p ara salv ar a ficção h u m an ista d e cu ltu ra, é u m v erd a­ d ad as a p articip ar, a sim u lar, a br in ca r com os m od elos
d eiro trabalh o d e m orte d a cu ltu ra q u e a í se faz e é a u m fazem ain d a m elh or: p articip am e m an ip u lam tão bem qu e
verd ad eiro trabalh o d e lu to cu ltu ral aqu ele a qu e as m assas ap agam tod o o sen tid o qu e se q u er d ar à op eração e p õem
são alegrem en te ch am ad as. em p erigo até a in fra-estru tu ra d o ed ifício. C om o sem p re
E elas p recip itam -se p ara lá. É essa a su p rem a ironia d e acon tece u m a esp écie d e p aród ia, d e h ip ersim u lação em
Beau bou rg: as m assas p recip itam -se p ara lá n ão p orqu e resp osta à sim u lação cu ltu ral, tran sform a as m assas, q u e n ão
salivem p or essa cu ltu ra d e q u e estariam p rivad as d esd e há d everiam ser m ais qu e o cheptel* d a cu ltu ra, no execu tor qu e
sécu los, m as p orqu e têm p ela p rim eira vez a op ortu n id ad e m ata esta cu ltu ra, d a qu al Beau bou rg era a en carn ação ver­
d e p articip ar m aciçam en te n esse im en so trabalh o d e lu to d e gon hosa.
u m a cu ltu ra qu e, n o fu n d o, sem p re d etestaram . H á qu e ap lau d ir este êxito d a d issu asão cu ltu ral. Tod os
O m a l-en ten d id o é, p ois, total q u a n d o se d en u n cia os an tiartistas, esqu erd istas e d etractores d e cu ltu ra n u n ca
Beau bou rg com o u m a m istificação cu ltu ral d e m assas. As tiveram , n em d e lon ge, a eficácia d issu asiv a d este m on u ­
m assas, essas, p recip itam -se p ara lá p ara g ozar essa m orte, m ental bu raco n egro qu e é Beau bou rg. É u m a op eração
essa d ecep ção, essa p rostitu ição op eracion al d e u m a cu ltu ra v erd ad eiram en te revolu cion ária, ju stam en te p orqu e é in vo­
p or fim v erd ad eiram en te liqu id ad a, in clu in d o tod a a con ­ lu n tária, louca e in con trolad a, en qu an to as ten tativas sen satas
tracu ltu ra q u e não é sen ão a su a ap oteose. A s m assas aflu em d e acabar com a cu ltu ra n ão fizeram m ais, com o se sabe, q u e
a Beau bou rg com o aflu em aos locais d e catástrofe, com o ressu scitá-la.
m esm o im p u lso irresistível. M elh or: elas são a catástrofe d e
Beau bou rg. O seu n ú m ero, a su a obstin ação, o seu fascín io, o Em rigor, o ú n ico con teú d o d e Beau bou rg são a s p róp rias
seu p ru rid o d e v er tu d o, d e m an ip u lar tu d o é u m com p or­ m assas, qu e o ed ifício trata com o u m con versor, com o u m a
tam en to objectiv am en te m ortal e catastrófico p ara qu alqu er câm ara escu ra ou , em term os d e iuput-output, exactam en te
em p reen d im en to. N ão só o seu p eso p õe em p erigo o ed ifício com o u m a refin aria trata u m p rod u to p etrolífero ou u m
com o a su a ad esão, a su a cu riosid ad e an iqu ila os p róp rios flu xo d e m atéria bru ta.
con teú d os d esta cu ltu ra d e an im ação. Este ru sh* já não tem N u n ca foi tão claro q u e o con teú d o — aqu i a cu ltu ra,
qu alqu er m ed id a com u m com o q u e se p rop u n h a com o objec- n ou tro sítio a in form ação ou a m ercad oria — é ap en as o
tivo cu ltu ral, é m esm o a su a n egação rad ical, no seu excesso su p orte fan tasm a d a op eração d o p róp rio médium, cu ja fu n ção
e no seu p róp rio êxito. São, p ois, as m assas qu e fazem o é sem p re in d u zir m assas, p rod u zir u m flu xo h u m an o e m ental

* A rrem etid a. Hm in glês n o orig in al. (N . d a T.) * O gad o d ad o a criar em arren d am en to. (N . d a T.)
90 Sim ulacros e Sim ulação
fcan Baudrillard 89

cu ltu rais, com o n ou tros sítios os objectos d e con su m o, n âo


h om ogén eo. Im en so m ovim en to d e vaivém sem elh an te ao
têm ou tro fim q u e o d e n os m an terem em estad o d e m assa
áos com m uters * d os arred ores, absorvid os e rep elid os a horas
in tegrad a, d e flu xo tran sistorizad o, d e m olécu la m agnetizad a.
fixas p elo seu local d e trabalh o. E é m esm o d e u m trabalh o
É isso o q u e se vem ap ren d er n u m h ip erm ercad o: a h ip er-
qu e aq u i se trata — trabalh o d e teste, d e son d agem , d e in ter­
-realid ad e d a m ercad oria — é isso q u e se vem ap ren d er a
rogação d irigid a: a s p essoas vêm seleccion ar aqu i objectos-
Beau bou rg: a h ip er-realid ad e d a cu ltu ra.
-resp ostas a tod as a s p ergu n tas qu e p od em fazer, ou an tes,
Já co m eça com o m u seu tr a d icio n a l este co r te, este
vêm cies próprios cm resposta â p ergu n ta fu n cion al e d irigid a
reagru p am en to, esta in terferên cia d e tod as a s cu ltu ras, esta
qu e os objectos con stitu em . Mais q u e u m a cad eia d e trabalh o
estetização in con d icion al qu e faz a h ip er-rcalid ad e d a cu ltu ra,
trata-se, p ois, d e u m a d iscip lina p rogram ática, cu jas lim itações
m as o m u seu é ain d a u m a m em ória. N u n ca com o aqu i a cu l­
se ap agaram p or d etrás d e u m vern iz d e tolerân cia. M u ito
tu ra tin h a p erd id o a su a m em ória em favor d o arm azen a­
além d as in stitu ições trad icion ais d o cap ital, d o h ip erm ercad o
m en to e d a red istribu ição fu n cion al. E isto trad u z u m facto
ou Beau bou rg «h ip erm ercad o d a cu ltu ra» está já o m od elo
m ais geral: é q u e p or tod o o m u n d o «civilizad o» a con stru ção
d e tod a a form a fu tu ra d e socialização con trolad a: retotali-
d e slocks d e ob jectos con d u ziu a u m p rocesso com p lem en tar
zaçào nu m esp aço-tem p o h om ogén eo d e tod as as fu n ções
d os slocks d e p essoas, à fila, à esp era, ao en garrafam en to, à
d isp ersas, d o corp o e d a vid a social (trabalh o, tem p os livres,
con cen tração, a o cam p o. E isto a «p rod u ção d e m assas», não
media, cu ltu ra), retran scrição d e tod os os flu xos con trad itórios no sen tid o d e u m a p rod u tiva m aciça ou em ben efício d as
em term os d e circu itos in tegrad os. Esp aço-tem p o d e tod a m assas, m as a p rod u ção das massas. As m assas com o p rod u to
u m a sim u lação op eracion al d a vid a social. fin al d e tod a a socialid ad e e p on d o fim d efin itiv o à sociali-
Para isso é p reciso q u e a m assa d os con su m id ores seja d ad e, p ois estas m assas qu e n os q u erem fazer crer serem o
equ iv alen te ou h om óloga d a m assa d os p rod u tos. É o con ­ social, são p elo con trário o lu gar d e im p losão d o social. A s
fron to e a fu são d estas d u as m assas qu e se op eram n o h ip er­ massas são a esfera cada vez m ais densa onde vem itnplodir todo o
m ercad o d o m esm o m od o q u e em Beau bou rg e qu e faz d este social e on de v êm dev orar-se n u m processo de sim u lação
algo d e m u ito d iferen te d os locais trad icion ais d a cu ltu ra ininterrupto.
(m u seu s, m on u m en tos, galerias, bibliotecas, casas d a cu ltu ra, Daí o esp elh o côn cav o: é ao v er as m assas n o in terior qu e
etc.). Aqu i elabora-se a massa crítica p ara além d a qu al a as m assas serão ten tad as a aflu ir. M étod o típ ico d e m arketin g:
m ercad oria se torna h ip erm ercad oria, e a cu ltu ra h ip ercu ltu ra tod a a id eologia d a tran sp arên cia ad qu ire aq u i o seu sen tid o.
— isto é, já n ão ligad a a trocas d istin tas ou a n ecessid ad es O u ain d a: é a o en cerrar u m m od elo id eal red u zid o q u e se
d eterm in ad as, m as a u m a esp écie d e u n iverso sin alético to­ esp era u m a gravitação acelerad a, u m a aglu tin ação au tom ática
tal, ou d e circu ito in tegrad o p ercorrid o d e u m lad o ao ou tro d e cu ltu ra com o u m a a g lom eração au tom ática d as m assas. O
p or u m im p u lso, trân sito in cessan te d e escolh as, d e leitu ras, m esm o p rocesso: op eração n u clear d e reacção em cad eia, ou
d e referên cias, d e m arcas, d e d escod ificação. Aqu i os objectos op eração esp ecu lar d e m agia bran ca.
Beau bou rg é, assim , p ela p rim eira v ez à escala d a cu ltu ra
o q u e é o h ip er m er ca d o : o operador circu lar p er feito , a
* O s q u e vivem n os a rred ores d as cid ad es. Em in g lês n o origin al. d em on stração d e q u alq u er coisa (a m ercad oria, a cu ltu ra, a
(N . d a T.)
Jean Baudrillard 91 92 Simulacros e Simulação

m u ltid ão, o ar com p rim id o) pela sua própria circulação ace­ en qu an to tal — m assa p rojéctil qu e d esafia o ed ifício da
lerada. cu ltu ra d e m assa, qu e rip osta com o seu p eso, isto é, p elo seu
asp ecto m ais d estitu íd o d e sen tid o, m ais estú p id o, m en os
M as sc os stocks d c objectos in d u zem o arm azen am en to cu ltu ral, ao d esafio d e cu ltu ralid ad e q u e lhe é lan çad o p or
d os h om en s, a violên cia laten te no stock d e objectos in d u z a Beau bou rg. A o d esafio d a acu ltu ração m aciça a u m a cu ltu ra
violên cia op osta d as p essoas. esterilizad a, a m assa resp on d e p or u m a irru p ção d estru id ora,
Q u alqu er stock é v iolen to e existe u m a v iolên cia em qu e se p rolon ga n u m a m an ip u lação bru tal. À d issu asão
qu alqu er m assa d e p essoas tam bém , p elo facto d e q u e ela m ental a m assa resp on d e p or u m a d issu asão física d irecta. É
im p lod e — v iolên cia p róp ria à gravitação, à su a d en sificação o seu p róp rio d esafio. A su a astú cia, q u e con siste em resp on ­
em torno d o seu p róp rio foco d e in ércia. A m assa é foco d e d er nos m esm os term os em q u e é solicitad a, m as p ara além
inércia e d aí foco d e u m a violên cia com p letam en te n ova, d isso, em resp on d er ã sim u lação em qu e a en cerram , com
in exp licável e d iferen te d a violên cia exp losiva. u m p rocesso social en tu siasta qu e lh e u ltrap assa os objectivos
Massa crítica, m assa im p losiva. Para além d os 30000, a e d esem p en h a o p ap el d e h ip ersim u lação destru idoraQi.
estru tu ra d e Beau bou rg corre o risco d e «vergar». Q u e a
m assa atraíd a p ela estru tu ra se torn e n u m a variável d es­ As p essoas têm von tad e d e tom ar tu d o, p ilh ar tu d o, com er
tru id ora d a p róp ria estru tu ra — se isto tiver sid o d a von tad e tu d o, m an ip u lar tu d o. Ver, d ecifrar, ap ren d er n ão as afecta.
d os q u e a con ceberam (m as com o esp erá-lo?), se eles p ro­ O ú n ico afecto m aciço é o d a m an ip u lação. O s organ izad o­
gram aram assim a p ossibilid ad e d e acabar d e u m a só vez res (e os artistas e os in telectu ais) estão assu stad os com esta
com a arqu itectu ra e a cu ltu ra — en tão Beau bou rg con stitu i veleid ad e in con trolável, p ois n u n ca esp eram sen ão a ap ren ­
o objecto n iais au d acioso e o happen in g* m ais bem su ced id o d izagem d as m assas ao espectdculo d a cu ltu ra. N u nca esp eram
d o sécu lo. esse fascín io activo, d estru id or, resp osta bru tal e origin al ao
Façam vergar Beaubourg! N ova p alavra d e ord em revolu ­ d om d e u m a cu ltu ra in com p reen sível, atracção qu e tem tod as
cion ária. Inú til in cen d iar, inú til con testar. Força! É a m elh or as características d e u m arrom bam en to e violação d e u m
m an eira d e o d estru ir. O êxito d e Beau bou rg já n ão é m istério: santu ário.
as p essoas vão lá para isso, p recip itam -se p ara este ed ifício, Beau bou rg p od eria ou d everia ter d esap arecid o n o dia
cu ja fragilid ad e resp ira já a catástrofe, com o ú n ico objectivo a segu ir à in au gu ração, d esm on tad o ou rap tad o p ela m u l­
d e o fazer vergar. tid ão, o qu e teria con stitu íd o a ú n ica resp osta p ossível ao
Decerto qu e obed ecem ao im p erativ o d e d issu asão: d á- d esafio absu rd o d e tran sp arên cia e d e d em ocracia d a cu ltu ra
-se-lh es u m objecto p ara con su m ir, u m a cu ltu ra p ara d ev o­ — levan d o cad a qu al u m p ed aço fetich e d esta cu ltu ra, ela
rar, u m ed ifício p ara m an ip u lar. M as ao m esm o tem p o visam p róp ria fetich izad a.
exp ressa m en te, e sem o saberem , esse an iqu ilam en to. A cor­
rid a p recip itad a é o ú n ico acto qu e a m assa p od e p rod u zir
2. Em relação a esta m assa crítica e à su a rad ical com p reen são d e
Beau bou rg, com o foi irrisória a m an ifestação d os estu d an tes d e Vin cen n es
• Em in glês n o origin al. (N . d a T.) na n oite d a in au gu ração!
94 S im u lacros e Sim ulação
Jeatt Baudrillard 93

cita, m esm o em p rofu n d id ad e — refaz-se a p artir d e u m a


A s p essoas vem tocar, olh am com o se estiv essem a tocar,
esp écie d e cód igo gen ético q u e p erm ite rep eti-la u m n ú m ero
o seu olh ar é ap en as u m asp ecto d a m an ip u lação táctil. Trata-
in d efin id o d e vezes a p artir d a m em ória cibern ética acu m u ­
-se d e facto d e u m u n iverso táctil, já não visu al ou d e d iscu rso lad a. Acabou até a u top ia d e Borges, d o m ap a coexten siv o
e as p essoas estão d irectam en te im p licad as n u m p rocesso: ao território e a tod o o red u p licad or: h oje o sim u lacro já n ão
m a n ip u la r /ser m an ip u lad o, a r eja r /ser arejad o, circu lar/fazer p assa p elo d u p lo e p ela red u p licação m as p ela m in iatu rização
circu lar, q u e já n ão é d o d om ín io d a rep resen tação, nem da gen ética. Fim d a rep resen tação e d a im p losão, tam bém aí, d e
d istân cia nem d a reflexão. Q u alq u er coisa qu e tem a v er com tod o o esp aço nu m a m em ória in fin itesim al, qu e nad a esqu ece
o p ân ico e com u m m u n d o p ân ico. e q u e n ão é d e n in gu ém . Sim u lação d e u m a categoria irre­
versív el, im an en te, cad a vez m ais d en sa, p oten cialm en te
Pân ico ao retard ad or sem m óbil extern o. E a violên cia satu rad a e q u e n u n ca m ais con h ecerá a exp losão libertad ora.
intern a a u m con ju n to satu rad o. A implosão. N ós iram os u m a cu ltu ra d a v iolên cia libertad ora (a racion a­
Beau bou rg n ão p od e sequ er ard er, tu d o está p revisto. O lid ad e). Q u er seja a d o cap ital, d a libertação d as forças p rod u ­
in cên d io, a exp losão, a d estru ição Já n ão são a altern ativa tivas, d a exten são irreversível d o cam p o d a razão e d o cam p o
im agin ária a este tip o d e ed ifício. H a im p losão a form a d e d o valor, d o esp aço ad qu irid o e colon izad o até ao u n iversal
abolição d o m u n d o «qu atern ário», cibern ético e com binatório. — qu er seja a d a revolu ção, qu e an tecip a n as form as fu tu ras
A su bv ersão, a d estru ição violen ta é o q u e resp on d e a u m d o social e d a en ergia d o social — o esqu em a é o m esm o: o
m od o d e p rod u ção. A u m u n iverso d e red es, d e com bin atória d e u m a esfera em exp an são, p or fases len tas ou violen tas, o
e d e flu xos resp on d em a reversão e a im p losão. d e u m a en ergia libertad ora — o im agin ário d a irrad iação.
O m esm o se p assa com as in stitu ições, o Estad o, o p od er, A v iolên cia q u e a acom p an h a é aqu ela qu e d á à lu z u m
etc. O son h o d e ver tu d o isto exp lod ir à força d e con trad ições m u n d o m ais vasto: é a d a p rod u ção. Essa v iolên cia é d ialéc-
não é, ju stam en te, m ais q u e u m son h o. O qu e se verifica na tica, en ergética, catártica. É aqu ela qu e ap ren d em os a an alisar
realid ad e é q u e as in stitu ições im p lod em p or si p róp rias, à e qu e nos é fam iliar: aqu ela q u e traça os cam in h os d o social
força d e ram ificações, d e feed-back, d e circu itos d e con trole e q u e leva à satu ração d e tod o o cam p o d o social. É u m a
sobrcd esen volv id os. O poder im plode, é o seu m od o actu al d e v iolên cia determ inada, an alítica, libertad ora.
d esap areci m en to. Um a ou tra v iolên cia com p letam en te d iferen te q u e n ão
Verifica-se o m esm o com a cid ad e. In cên d ios, gu erra, sabem os an alisar ap arece h oje, p orq u e escap a ao esqu em a
p este, revolu ções, m argin alid ad e crim in al, catástrofes: tod a trad icion al d a violên cia exp losiv a: violên cia im plosiya qu e
a p roblem ática d a an ticid ad e, d a n egativ id ad e in tern a ou resu lta já n ão d a exten são d e u m sistem a m as d a su a sa tu r a ­
extern a à cid ad e, a q u alqu er coisa d e arcaico em relação ao ção e d a su a retraeção, com o acon tece com os sistem as físicos
seu verd ad eiro m od o d e an iqu ilam en to. estelares. Violên cia con secu tiv a a u m a d en sificação d esm e­
O p róp rio cen ário d a cid ad e su bterrân ea — versão ch inesa d id a d o social, a o estad o d e u m sistem a d e h ip er-regu lação,
d e en terro d as estru tu ras — é in gén u o. A cid ad e já n ão se d e u m a red e (d e saber, d e in form ação, d e p od er) sob recarre­
rep ete segu n d o u m esqu em a d e reprodução ain d a d ep en d en te gad a, e d e u m con trole h ip ertróp ico qu e cerca tod as a s vias
d o esqu em a d a rep resen tação. (É assim q u e se restau ra ain d a in tersticiais.
d ep ois d a Segu n d a Gu erra M u n d ial). A cid ad e já n ão r essu s­
lean Baudrillnrd 95
96 Sim ulacros c Sim ulação

Esta violên cia é-n os in in teligível p orqu e tod o o n osso


im agin ário está cen trad o na lógica d os sistem as em exp an ­ Talvez as gran d es m etróp oles — com certeza elas, se é
são. É in d ecifrá v el p orqu e in d eterm in a d a . Ta lv ez nem qu e esta h ip ótese tem algu m sen tid o — se ten h am torn ad o
d ep en d a já d o esqu em a d a in d eterm in arão. É qu e os m od e­ locais d e eleição d e im p losão n este sen tid o, d e absorção e d e
los aleatórios qu e tom aram o lu gar d os m od elos d e d eter­ reabsorção d o p róp rio social cu ja id ad e d e ou ro, con tem p o­
m in arão e d e cau salid ad e clássicos n ão são fu n d am en ­ rânea d o d u p lo con ceito d e cap ital e d e revolu ção, está sem
talm en te d iferen tes. Trad u zem a p assagem d e sistem as d e d ú vid a u ltrap assad a. O social in volu i len tam en te, ou bru tal­
exp an são d efin id os p ara sistem as d e p rod u ção e d e exp an ­ m ente, nu m cam p o d e in ércia q u e já en volve a p olítica. (A
são em tod as as d irecrões — em estrela, ou em rizom a, tan to energia op osta?) Deve evitar-se tom ar a im p losão p or u m p ro­
faz — tod as as filosofias d e d escon exão d as en ergias, d e cesso n egativo, in erte, regressivo, com o a lín gu a n o-lo im p õe
irrad iarão d as in ten sid ad es e d a m olecu lizarão d o d esejo ao exaltar os term os op ostos d e evolu ção, d e revolu ção. A
vão no m esm o sen tid o, n o sen tid o d e u m a satu ração até ao im p losão é u m p rocesso esp ecífico d e con sequ ên cias in cal­
in tersticial e ao in fin ito d as red es. A d iferen ça d o m olar p ara cu láveis. O M aio d e 68 foi sem d ú vid a o p rim eiro ep isód io
o m olecu lar é ap en as u m a m od u lação, talvez a ú ltim a, no im p losivo, isto é, con trariam en te à su a reescrita em term os
d e p rosop op eia revolu cionária, u m a p rim eira reacção violenta
p rocesso en ergético fu n d am en tal d os sistem as em exp an são.
à satu ração d o social, u m a retracção, u m d esafio â h egem on ia
d o social, d e resto em con trad ição com a id eologia d os p ró­
Seria d iferen te se p assássem os d e u m a fase m ilen ária d e
p rios p articip an tes, qu e p en savam ir m ais lon ge n o d om ín io
libertação e d e d escon exão d as en ergias p ara u m a fase d e
d o social — assim é o im agin ário qu e con tin u a a d om in ar-
im p losão, ap ós u m a esp écie d e rad iação m áxim a (rever os
-nos — e, d e resto, u m a boa p arte d os acon tecim en tos d e 68
con ceitos d e p erd a e d e d isp ên d io d e Bataille n este sen tid o
p od em ter d ep en d id o ain d a d esta d in âm ica revolu cion ária e
e o m ito sola r d e u m a rad iação in esgotável sobre a qu al
d e u m a violên cia exp losiva, u m a ou tra coisa com eçou aí ao
baseia a su a an trop olog ia su m p tu ária: é o ú ltim o m ito
m esm o tem p o: a in volu ção lenta d o social, sobre u m p onto
exp losivo e rad ian te d a nossa filosofia, ú ltim o fogo d e arti­
d eterm in ad o e a im p losão con secu tiva e sú bita d o p od er,
fício d e u m a econ om ia geral n o fu n d o, m as isto já não tem
sem u m breve lap so d e tem p o, m as qu e d esd e en tão nu nca
sen tid o p ara nós), p ara u m a fase d e reversão do social —
m ais cessou — é m esm o isso q u e con tin u a em p rofu n d id ad e,
reversão gigan tesca d e u m cam p o, u m a vez atin gid o o p onto
a im p losão, a d o social, a d as in stitu ições, a d o p od er — e
d e satu ração. O s sistem as estelares tam bém n ão d eixam
d e m od o n en h u m u m a qu alqu er d in âm ica revolu cion ária
d e existir, u m a vez d issip ad a a su a en ergia d e rad iação:
im p ossível d e en con trar. Pelo con trário, a p róp ria revolu ção,
im p lod iria segu n d o u m p rocesso, nu m p rim eiro m om en to
a id eia d e revolu ção, im p lod e ela tam bém e esta im p losão
lento e d ep ois aceleran d o p rogressiva m en te — con traem -se
tem con sequ ên cias m ais sérias q u e a p róp ria revolu ção.
com u m a au ra fabu losa e torn am -se sistem as in volu tivos,
Claro qu e d esd e 68 o social, com o o d eserto, au m en ta —
qu e absorvem tod as as en ergias q u e os rod eiam até se tor­
p articip ação, gestão, au togestão gen eralizad a, etc. — m as ao
narem bu racos n egros on d e o m u n d o, n o sen tid o em qu e o
m esm o tem p o ap roxim a-se em m ú ltip los p on tos, em m aior
en ten d em os, com o rad iação e p oten cial in d efin id o d e en er­ nú m ero qu e em 68, d o seu d esafectam en to e d a su a reversão
gia, se an u la. total. Sism o lento, p ercep tível à razão histórica.

Você também pode gostar