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Algumas Perspectivas Sobre A Interpretação Na História - Gomes - 2017 PDF
Algumas Perspectivas Sobre A Interpretação Na História - Gomes - 2017 PDF
da História
http://dx.doi.org/10.20396/resgate.v25i1.8647927
Algumas perspectivas
sobre a interpretação
na História
Resumo Abstract
Abordo nesse texto como alguns autores traba- I will study in this article how some authors
lham ou analisam o paradigma hermenêutico. work or analyze the hermeneutic paradigm.
Esta perspectiva é relevante para pesquisadores This perspective is relevant for researchers
que se utilizam, principalmente, da análise de who are using the analysis of texts and
textos e discursos para o seu fazer histórico. O discourses in their historical work. The in-
estudo aprofundado do paradigma interpretati- depth study of the interpretive paradigm
vo e suas variantes apresenta-se como uma boa and its variants is a good alternative when
alternativa quando nos deparamos com análise we come across language analysis for history
da linguagem para a escrita da história. Nesse writing. Therefore, we will highlight authors
sentido, destacaremos autores como Hayden such as Hayden White, François Dosse,
White, François Dosse, Hans-Georg Gadamer e, Hans-Georg Gadamer and, mainly, Reinhart
principalmente, Reinhart Koselleck. Koselleck.
Palavras-chave: Interpretação; Historiogra- Keywords: Interpretation; Historiography;
fia; História dos conceitos. History of concepts.
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I n t r o d u ç ã o
A
interpretação ou hermenêu- escrita da história. Dessa feita, longe
tica na história é um tema de esgotarmos tal assunto, neste artigo
debate caro a alguns historia- objetivamos colaborar com o debate
dores e filósofos, dentre os quais des- em torno do tema.
tacamos François Dosse, Hayden Whi-
te, Paul Ricoeur, Reinhart Koselleck e,
ainda, Hans-Georg Gadamer. Preten-
demos, primeiramente, nesse artigo, A interpretação e a história
promover um debate historiográfico
sobre o paradigma hermenêutico e o
papel da interpretação na história. Vi- François Dosse defende que as ciên-
samos, também, evidenciar e analisar cias humanas e sociais não podem
o debate entre os intelectuais alemães mais usar pressupostos das ciências
Koselleck e Gadamer sobre o campo exatas e naturais, pois aquelas se di-
hermenêutico.
ferenciam epistemologicamente des-
Outro aspecto que nos preocupamos tas. As ciências humanas e sociais têm
em demonstrar é como podemos uma epistemologia comum – o que
aplicar cada uma dessas abordagens, Jean-Claude Passeron (1995) chama
a História dos conceitos ou a história de raciocínio sociológico –, que as di-
conceitual alemã, na pesquisa em his- ferenciam e muito das demais. Dosse
tória. A preocupação com os conceitos (2001, p. 40) apropria-se da ideia de
presentes nas fontes elencadas pelos “dupla hermenêutica”, de Antony Gi-
historiadores, pensados dentro de seu ddens, que consiste no processo de
contexto sócio-político, e a consciên- traduzir e interpretar fenômenos e
cia da importância que tem a lingua- ações de atores e instituições. Segun-
gem para as relações sociais, políticas do Dosse, a dupla hermenêutica “tem
e econômicas, demostram como esta um efeito de retorno na apropriação
abordagem pode contribuir para a pelos autores e pelas instituições dos
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colhe “uma estratégia pela qual as im- -Georg Gadamer, e foi publicado no
plicações ideológicas de uma dada re- livro Historia y hermenéutica, de autoria
presentação possam ser deduzidas para de ambos. Parte dele também está no
a compreensão de problemas sociais do livro Estratos do Tempo: Estudos sobre a
presente”. história, de autoria de Reinhart Kosel-
leck (2014), com a contribuição de Ga-
A interpretação e a narrativa na histó-
damer, recentemente traduzido para
ria não são aspectos que surgiram no
o português. Nessas obras, Koselleck
século XX. Ao contrário, White aponta
rebate afirmações de hermeneutas de
alguns historiadores, como Leonard von
que a sua Historik (Teoria da história3),
Ranke, Jacob Burkhardt e Jules Michelet,
seria um campo da hermenêutica filo-
que interpretavam – além de narrar – ao
sófica e, assim, seu esforço nos textos
escrever história. Contudo, o que pro-
é separar ambas as abordagens e rea-
curamos foi realizar um debate sobre
firmar o valor e a autenticidade da sua
a atualidade da prática historiográfica,
teoria da história.
que se preocupa em teorizar e praticar a
interpretação. Para continuar trilhando É necessário salientar que a herme-
esse caminho, entendemos que o diá- nêutica (a teoria da interpretação ou
logo entre a hermenêutica filosófica de compreensão), que Gadamer defende
Gadamer e a História dos conceitos de como forma de apreender as repre-
Koselleck seja muito importante. sentações da realidade passada, foi
ressignificada por intelectuais como
Wilhelm Dilthey e Martin Heidegger,
os quais se apropriaram da herme-
A historiografia de Reinhart nêutica dos estudos teológicos, que se
Koselleck versus a hermenêutica de apoiavam na exegese para interpretar
Hans-Georg Gadamer a Bíblia através dela mesma, ou seja,
na interpretação do texto pelo texto,
sem o apoio de fatores externos ou co-
O debate entre Gadamer e Koselleck 3 Podemos ver “historik” também traduzida como “histó-
rica”, como notamos no trabalho de Luisa Rauter Pereira
(1997) ocorreu durante uma série de (2004), que utilizou a versão em espanhol do debate entre
Koselleck e Gadamer (1997). Encontramos a tradução “Teo-
palestras em homenagem à Hans- ria da história” na versão em português (KOSELLECK, 2014).
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Para além das diferenças entre Ga- vidos. Outras preocupações teórico-
damer e Koselleck, podemos notar -metodológicas são: a diferenciação
alguns traços em comum entre as entre palavra e conceito, a inserção
duas abordagens, começando pelas no contexto, os conceitos contrários,
interpretações (mesmo que distintas) a consciência da importância da lin-
da filosofia heideggeriana. Koselleck guística, mesmo que se enfatize a dis-
(2014) chega a admitir que a pesquisa tância necessária para a História e a
histórica e a produção narrativa histó- coexistência de significações antigas
rica pertencem ao mundo hermenêu- e “modernas” de um conceito (e as
tico, visto que a interpretação e a sub- camadas temporais). Os estudiosos
jetividade do historiador, nesses casos, da História dos Conceitos valorizam
possuem uma grande importância. também a dinâmica das transforma-
Nesse sentido, a historiografia de Rei- ções históricas, e buscam o uso de
nhart Koselleck e a hermenêutica de elementos hermenêuticos para a in-
Hans-Georg Gadamer aproximam-se terpretação dos textos escritos, sem-
ao “mediar o passado, o presente e o pre se apoiando no conjuntural e não
futuro, num saber dialógico e crítico, apenas no textual (FERES JÚNIOR &
ligado a questões políticas, sociais e JASMIN, 2006a, p. 5-38).
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processo, pois tanto as mudanças e dizia: “o Brazil quer tão bem sahir no
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deste tema. A história, escrita por um boas leituras das linguagens presentes
historiador que, como evidenciamos, nas fontes históricas, sejam elas escri-
parte de um lugar social próprio e car- tas, orais ou iconográficas. Como afir-
rega seu modo de ver o mundo, tem no mamos anteriormente, não pretende-
equilíbrio entre a teoria, a metodolo- mos exaurir a discussão sobre o tema,
gia e a prática sua possibilidade. Dessa mas sim contribuir para o estudo do
forma, esta harmonia contribuirá para mesmo.
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