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SSN:2446-
9270
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JUNHO DE2015
JORNADA DE ESTUDOS IRLANDESES
Publicação anual
ISSN: 2446-9270
comissão local
comissão da abei
Introdução
James Joyce é considerado um dos escritores de língua
inglesa mais influentes do século XX. Ficou conhecido por sua
principal obra, Ulysses, um romance que revolucionou a narrativa
ficcional nas primeiras décadas do século passado. Sua primeira
publicação, Dublinenses, é uma coletânea de quinze contos sobre
a cidade de Dublin e a vida de seus habitantes. Trata-se de um
olhar sui generis sobre a sociedade dublinense, que o escritor
considerava “paralisada” frente ao desenvolvimento intelectual
e social do continente. O conto “Um caso triste”, que será abordado
neste trabalho, concluído em maio de 1905, narra a história do
Narrador e narrativa
O narrador usa a terceira pessoa e mantem-se fora da
diegese, é portanto um narrador extra e heterodiegético. Por outro
lado, se o narrador fosse um personagem da diegese, seria um
narrador homodiegético.
Mrs. Sinico por sua vez, era uma mulher casada, com uma
filha adulta. Seu marido era capitão da marinha e fazia a rota de
navegação Dublin – Holanda. Ao analisar a situação, observa-se
que é uma relação fadada a complicações: um casamento de 22
anos, e um marido distante que não dá importância nem
demonstra afeto pela esposa.
Para Mr. Duffy, um homem que não enfrenta muitos
desafios, talvez a situação criasse apenas mais um paradoxo.
Devido sua personalidade, existem fortes chances que ele não
desestabilizaria uma relação existente. Porém, essa nova
perspectiva, que bate às portas de Mr. Duffy, faz com que ele seja
tomado por novos anseios, a fim de ter o prazer da companhia de
Mrs. Sinico.
Os dois gostavam de fazer caminhadas noturnas, com a
privacidade necessária que estavam procurando, só que essas
também lhes traziam perturbações, pois estavam organizando suas
caminhadas às escondidas. Assim Mr. Duffy faz com que Mrs.
Referências
Referências
HE, Chu. Non Modern Culture in Brian Friel’s Plays. Disponível em:
< http://www.abei.org.br/images/ABEIJournal16Internet,pdf>
Acesso em: 22 mai. 2015.
O movimento de leitura
Para falar sobre minha compreensão sobre a relação
wakeana com os mitos e sua visão sobre identidade, gostaria de
apresentar primeiro como entendo o movimento de leitura do
Finnegans Wake. Isso porque forma e conteúdo estão intimamente
ligados na obra e creio que o modo como nos relacionamos com
ela foi arquitetado por Joyce para ser análogo a como, tanto como
indivíduos quanto como sociedades, relacionamos-nos com o
entorno, com tudo que nos chega como informação das mais
diversas formas. Nossa percepção é guiada por um jogo contínuo
entre a tentativa de estabilizar compreensões, própria da
racionalidade, e a aleatoriedade caótica do inconsciente, sempre
utilizando vários tipos de lógica para conduzir uma leitura.
O principal recurso wakeano para se aproximar de tal
instabilidade é a modificação que o livro faz da língua, criando
uma linguagem sem regras definidas, que trabalha através da
sugestão de sentidos diversos. O movimento de interpretação do
Wake se diferencia daquele comum à leitura de outros livros pela
impossibilidade de ser ter uma base para a qual retornar. Se,
desde o início, nunca partimos de códigos já definidamente
compartilhados, regrados pelas línguas, como é comum em outras
obras, partimos já de uma interpretação do que está escrito. A
falta de limites básicos para a leitura define um processo
A formação da identidade
O modo com que as figuras wakeanas se apresentam é
bastante complexo, mas para demonstração da ideia sobre
identidade aqui defendida, é possível delimitar algumas formas.
Por exemplo, a personagem masculina é frequentemente referida
pela sigla HCE. Sugere-se ao longo da obra que este homem
cometeu algum pecado não muito claro. Já a personagem
feminina pode ser identificada pela sigla ALP. Ela é representante
da tentadora da queda de HCE, a Eva que o induz a pecar, mas é
também símbolo do criador, aquele que conta as histórias e,
portanto, que produz novos HCEs (uma analogia com a
maternidade).
Notemos que, desde o início, é difícil falar das figuras
wakeanas sem que se traga imagens míticas para ilustrar seus
papéis. Para falar destas duas personagens, apoiar-me-ei em
Norris, que faz uma leitura de ambas baseada nos conceitos de
formação do mito de Levis-Strauss. Conforme a estudiosa, no
Finnegans Wake como um todo, o gênero masculino tem a
necessidade de reafirmar a estabilidade de sua identidade. Norris
(1974) toma como exemplo um trecho do primeiro capítulo, no
qual entramos em um museu e ouvimos uma explicação sobre a
Batalha de Waterloo. A autora nos lembra de que, na narrativa,
os dois oponentes riem da masculinidade um do outro, um reflexo
Conclusões
A base que o Wake nos tira com sua língua sem códigos
definidos nunca nos dá clareza plena do que estamos conseguindo
estabilizar, nunca nos permite ‘confirmar’ certos acúmulos de
compreensão sobre ela. Ainda assim, quanto mais estudamos a
obra, mais sabemos (saberes esses sempre prontos a se alterarem).
De modo que nunca temos uma noção de totalidade – não apenas
da obra, mas do que nós mesmos conhecemos dela. Num livro
sobre a humanidade e tudo que a envolve, essa estrutura é uma
analogia ao quanto sabemos de nós e de onde viemos. Nós somos,
como indivíduos e como sociedades, um grande borrão para nós
mesmos – repleto de informações, cheio de conclusões possíveis,
mas ainda assim um grande borrão.
O que quero ressaltar aqui é que é preciso que notemos,
neste projeto artístico, a multiplicação de possibilidades de leitura
da obra não vem apenas do excesso de estranhamento, mas
também da abundância de reconhecimento, e que é isso que
desestrutura qualquer localização da origem do sentido. A pura
desestabilização poderia ser bem mais identificável, mas o Wake
não é só feminino, ele se dá num jogo com a masculinidade. Creio
que Joyce atordoa-nos com a duplicidade de estados que criou
porque era essencial que o fizesse. Do modo contrário,
permaneceríamos na lógica da verdade, do absoluto, da afirmação
de uma ideia que pode ser provada como a verdadeira. Deste, ele
acaba por ser verdadeira instável e não-identificável.
Referências
A criança está numa piscina. Parece que ela nunca vai alcançar
o fundo, então o alcança. Uma porta de forte se abre com um
rangido, um reluzir de barbatanas douradas, a sereia aparece.
– Até que enfim, você veio finalmente – diz a criança. A sereia
sorri, aquele sorriso de anos atrás na mesa de fórmica azul. A
criança se prepara para a descida nas águas. O rabo da sereia
ilumina o caminho. (CARR, 2006 p. 6)
A cabeleireira
Construído em primeira pessoa, o que acrescenta grande
carga de verossimilhança ao conto, A cabeleireira apresenta a
narrativa das memórias de uma mulher que teve uma vida de
repressão sexual e moral por parte de sua família durante a
infância, e pelo marido, na idade adulta. Ela conta sua história
para a companheira de cela enquanto corta seus cabelos. No fim
do conto, depreendemos que a protagonista está presa por ter
assassinado seu marido.
Tendo sido criada em um lar tradicional, a protagonista
sofre nas mãos de um pai machista, uma mãe que a reprimia por
sua condição submissa de mulher e também de um tio, que desde
cedo abusa sexualmente dela, obrigando-a ao silêncio.
Depois de adulta, casa-se com um homem poderoso e
influente, ícone da televisão portuguesa e símbolo de integridade
e honestidade. Entretanto, a vida matrimonial era permeada pela
humilhação, pelas traições e pela violência psicológica que o
marido infligia a ela. Como uma tentativa desesperada de
encontrar consolo, a protagonista almeja se tornar mãe. Tal desejo
fica expresso no trecho em que ela diz:
(...) decidi ter uma criança. Não foi para o prender. Foi para não
ter medo de o perder. Para fazer nascer um amor absoluto,
imune a traições. Comecei a sonhar com o sorriso do meu
bebê, com os seus abraços. Seríamos tudo um para o outro.
(...) Mas de repente parecia-me que o poder de gerar um novo
ser era uma força feminina que devia ser exercida. (PEDROSA,
2007, p. 47)
Aos cinco meses de gravidez tornara-se tão visível que ele não
aguentou. Atirou-me ao chão e desatou aos pontapés nessa
barriga que o afrontava. Tentei proteger o meu filho, mas não
fui capaz. Desmaiei. É só isso que até hoje não me perdoo: não
ter sido capaz de me fechar em concha sobre o meu bebê, não
ter sido capaz de evitar a sua morte. Deixei-o ir. (PEDROSA,
2007, p. 49)
Considerações finais
O distanciamento e a desumanização sofrida pelas
protagonistas das obras analisadas nos mostram que para
compreender como se origina a violência é necessário considerar
as relações familiares, as dimensões culturais, as relações de
poder e todas as nuances das interações humanas. Consideremos
PEDROSA, Inês. Fica comigo essa noite. São Paulo: Planeta do Brasil,
2007.
Introdução
Na segunda metade do século XIX, a estética do drama
romântico, que havia se consolidado em uma fórmula dramática
amplamente difundida sob o rótulo de peça bem-feita (pièce bien-
faite, em francês; e well-made play, em inglês), aperfeiçoada no
início do século por Eugène Scribe, Victorien Sardou e Alexander
Dumas Père e Fils, exauriu-se. O drama burguês e o melodrama,
que haviam abraçado os parâmetros dessa fórmula de sucesso,
repleta de exagêros e sentimentalismos, também entraram em
um processo de estagnação e degeneração.
Hoje, entende-se por melodrama uma modalidade de teatro
comercial de fórmulas gastas e exauridas, reduzidas a clichês,
Considerações finais
Em A importância de ser Prudente, a paródia e a sátira
interagem de uma maneira complexa e extremamente eficiente.
Ao utilizar a paródia com fins satíricos, o dramaturgo denuncia a
moral dupla da era vitoriana que, sob a máscara da
respeitabilidade, escondia sua face hipócrita.
Ao flagrar a podridão que jazia por trás da fachada polida
da estrutura social, Wilde expõe ao ridículo o sistema fechado de
classes sociais na Inglaterra, os ócios da nobreza e a falsidade da
sociedade em geral, que estava sempre preocupada em manter
as aparências
Uma outra função da paródia na peça de Wilde é mostrar o
estado decadente em que se encontrava o teatro inglês à época.
Após o período áureo do teatro elisabetano-jaimesco, e um breve
florescimento do teatro na época da restauração, seguiu-se a
franca decadência das formas dramáticas até a metade do século
XIX.
A fábula
Fábula é o conjunto de acontecimentos, fatos ou episódios
ligados entre si que nos são narrados no decorrer de uma obra.
Segundo Boris Tomachevski, “a fábula aparece como o conjunto
A trama
Diferente da fábula, “a trama é um conceito que
corresponde ao modo como a história narrada é organizada sob a
forma de texto, ou seja, ela é a própria construção do texto
narrativo” (FRANCO JUNIOR, 2005, p.36). Em “A morte da vaca”,
essa organização – a arquitetura – é construída de forma linear,
com os acontecimentos encadeados em ordem cronológica: o
bezerro nasce morto, é jogado no abismo, a vaca dá por sua falta,
percorre um trajeto com obstáculos até encontrá-lo e, finalmente,
joga-se no penhasco para se reunir a ele. Para situar esses
acontecimentos, o autor escolheu uma pequena propriedade rural,
Conclusão
A presente análise procurou mostrar, com base em alguns
pressupostos de Boris Tomachevski, como foi construída a trama
no conto “A morte da vaca”, dando destaque à humanização do
animal, protagonista do conto, em contraposição à arquitetura
das personagens humanas, as quais são desumanizadas. Foram
abordados aspectos da caracterização da personagem, como sua
obstinação, capacidade de tomar iniciativas e decidir, com a
finalidade de atingir seus objetivos. Além disso, examinou-se
como e em que medida a dor da personagem foi utilizada como o
elemento que se destacou em relação aos demais componentes
da trama, atuando como o dominante artístico, um conceito de
Roman Jakobson. Ficou demonstrado, ainda, que, ao completar a
jornada que a conduziu ao objeto amado, a personagem finalmente
se libertou do sofrimento e se completou na união com sua
“metade adorada”.
Referências
Referências
Considerações iniciais
Caryl Phillips, escritor britânico afro-caribenho, publica,
em 2003, o romance Uma margem distante [A Distant Shore], e Anne
Enright, escritora irlandesa, publica, em 2007, o romance O
encontro [The Gathering]. Enright, ganhadora de vários prêmios,
mora na Irlanda, seu país natal. Phillips mora na Inglaterra desde
os quatro meses de idade, mas nasceu no Caribe e é
afrodescendente. Portanto, apesar da distância entre a origem
dos dois escritores, Enright e Phillips “convivem” em espaços
relativamente próximos. A mobilidade internacional de Phillips,
“Eu não sou ingênua”, digo para mim mesma. Sussurro sob
minha respiração. Já fui pega nessa discussão no passado.
Para começar, minha mãe e meu pai, pois ambos não gostavam
de gente de cor. Papai considerava as pessoas de cor um desafio
O encontro
A estrutura de O encontro, de Anne Enright, segue também
esse padrão de desequilíbrio, de incerteza, de fluidez do romance
de Phyllips. O romance é dividido em 39 capítulos, tem como
gatilho a notícia do suicídio de Liam, irmão da protagonista-
escritora Veronica, que narra em primeira pessoa. A narrativa
tem início com o “presente” da diegese (1998), mas é intercalada
com narrativas conscientemente nebulosas e imaginárias dos
anos 1920 e lembranças mais nítidas dos anos 1960.
Estaríamos sendo simplistas se disséssemos, como disse
uma leitora irlandesa, que o romance é “sobre um típico funeral
de uma família irlandesa, apenas isso”, durante um grupo de
estudos irlandeses. A narrativa em primeira pessoa, os
Considerações finais
É uma determinação de pouca duração, pois, mesmo ao
relatar o que aconteceu na casa de Ada quando ela tinha oito e
Liam quase nove anos, a lembrança surge de uma percepção
totalmente irreal. Podemos acrescentar, portanto, que ela própria
convence o leitor da impossibilidade de tomá-la como uma
narradora confiável. Assim como nos narradores em primeira
pessoa de Phyllips, o que vemos é a impossibilidade de criar uma
Referências
There have been few writers whose life and work seem so
inseparable, but there seems little point in debating whether
it was her experiences in New Zealand or in England which
had the greater influence on her work — she could not have
written as she did without the particular combination of both
those very different worlds, her own peculiar form of
“geographical schizophrenia”. (BODDY, 1988, p. 158)
... it is true that these characters are not in any high degree
important — but how much life have they? — we have the queer
sensation that once the author’s pen is removed from them
they have neither speech nor motion, and are not to be revived
again until she adds another stroke or two or writes another
sentence underneath. Were they shadowy or vague that would
be less apparent, but they are held within the circle of steady
light in which the author bathes her world, and in their case
the light seems to shine at them, but not through them.
(MANSFIELD, 1930, p. 109)
Referências
ELIOT, T.S. Hamlet and his problems. In: ___.The sacred wood.
Essays on poetry and criticism. London: Methuen and Co Ltd. 1972.
p. 95-103.
the Irish boom coincided with not just one ‘end of history’ but
four. There was the general Western illusion that, after the
fall of the Berlin Wall, history was over and the American model
of free-market democracy would be established as the universal
norm. There was the complementary illusion that the historical
cycles of capitalism had been ended by the sheer brilliance of
the masters of the universe […]. And there was a specifically
Irish ‘end of history’. Two of the great continuities of Ireland
since the eighteenth century - mass emigration and political
violence – seemed, by the late 1990s, to be definitely over.
Together, these forces fed a feeling that the past had little
relevance to the new era and that it should be, quite literally,
obliterated”. (O’TOOLE, 2009, p. 175)
brooding on the one million dead and the one million who fled
the famine is hardly much in vogue in an Ireland keen to play
down its colonial past and flaunt its new-found modernity. With
Ireland and the UK now cheek by jowl in the EU, it is not exactly
politic to recall the bungled British relief effort, which sped a
good many of the dead to their graves. Or to recall that quite a
few eminent Britons, including a man in charge of the relief
project, regarded the famine as God’s way of punishing the
feckless Micks for their congenital indolence. Moving in his
usual mysterious way, the Almighty had chosen potato blight
And yet could there be silence? What did silence mean? Could
you allow yourself to say nothing at all to such things? To remain
silent, in fact, was to say something powerful: that it never
happened: that these people did not matter. They were not
rich. They were not cultivated. They spoke no lines of elegant
dialogue; many, in fact, did not speak at all. They died very
quietly. They died in the dark. And the materials of fiction -
bequests of fortunes, grand tours in Italy, balls at the palace -
these people would not even know what those were. They had
paid their betters’ accounts with the sweat of their servitude
but that was the point where their purpose had ended. Their
lives, their courtships, their families, their struggles; even their
deaths, their terrible deaths - none of it mattered in even the
tiniest way. They deserved no place in printed pages, in finely
wrought novels intended for the civilized. They were simply not
worth saying anything about. (O’CONNOR, 2003, p. 130-1)
Referências
Aspectos da tradução
Um aspecto importante para a leitura dos personagens no
livro envolve a questão da tradução linguística que ocorre da obra
original, concebida em inglês, para o português (Brasil). A
compreensão do livro sofre reinterpretações devido às
transformações que a tradução oferece. Verifica-se esta mudança
já no título da obra, essencialmente com relação à palavra monstro,
utilizada no português (Brasil), e a sua expressão correspondente
wild thing, utilizada no original em inglês.
O título do livro em inglês é Where the Wild Things Are, e
pode ser traduzida livremente como onde as coisas selvagens estão
ou vivem. Em Portugal o título foi traduzido como O sítio das coisas
selvagens. A tradução para o português (do Brasil), realizada
através da editora Cosac Naif pela tradutora Heloisa Jahn, traz o
título Onde vivem os monstros. O conflito apresenta-se entre a
expressão wild thing e monstros. Porém, mesmo parecendo muito
distintas, elas possuem proximidade, mesmo no dicionário.
Apresentar todos os significados deixaria a análise extensa, mas
podemos atentar para alguns dos termos mais relevantes desta
relação. No dicionário Webster a palavra wild apresenta suas
definições uncontrolled, unruly e barbaric. A expressão wild thing
não possui uma correspondência exata no português, que pode
ser usada sem gerar contestação, o que reflete um problema
linguístico quanto a tradução. As aproximações possíveis para a
tradução comportam a palavra selvagem. Em português (Brasil) a
palavra selvagem apresenta definições como “[...] grosseiro, rude
e bruto” (WEBSTER). Já ao verificarmos os sentidos atribuídos à
palavra monstro, diretamente no português, temos os seguintes
conceitos.
Sobre os monstros
O termo monstro, usado no título e no texto do livro, é o
centro da análise, não apenas com relação à tradução, mas
também quanto aos novos significados que o termo pode adquirir,
quando utilizado na linguagem verbal da obra assim como na
leitura realizada das imagens do livro. Verificar as
transformações que a expressão monstro, atribuída pela tradução,
oferece no livro não significa afirmar que o termo foi corretamente
empregado. A intenção é levantar e vislumbrar as leituras da
obra que podem ser adquiridas diante deste pressuposto.
Referências
LINDEN, Sophie Van der. Para ler o livro ilustrado. São Paulo: Cosac
Naify, 2011.
SENDAK, Maurice. Where the wild things are. Disponível em: http:/
/www.epubsearch.com/free-download/Where-The-Wild-Things-
Are.pdf Consultado em: 10 mai. 2015
Introdução
O RPG ou Role Playing Game é um jogo de interpretação e
performance livres, que difere do teatro e de outros jogos, por não
ter um roteiro pronto a seguir. Aos iniciantes promove certa dose
de estranhamento. No presente trabalho, transcrevemos as
teorias dos autores em forma de diálogo e escolhemos a
interpretação para apresentá-lo. A formalidade da língua se deve
a ambientação que se passa em meados de 1940. Contaremos
com a presença de: James Joyce, Hannah Arendt e Sigmund
Dia 16 de Junho
No convite, um belíssimo cartão negro com letras douradas que
imitam a grafia cursiva, estava escrito:
“Temos o imenso prazer de te convidar para a inauguração da
Sapientae Libris que se dará às 19h do dia 16 de junho. É
imprescindível a leitura do conto ‘Os mortos’ de James Joyce, para o
debate de abertura. O manuscrito segue anexo ao convite”.
O convite foi suficiente para despertar o interesse de Hannah
Arendt pela Sapientae Libris. Passados quinze dias, Hannah se
levanta de sua poltrona de leitura e mesmo com frio, chama o
taxi para levá-la ao centro da cidade.
Ao chegar ao prédio mencionado no convite, ela acende o charuto
e espera pacientemente seu relógio de pulso marcar 18h55min.
Decide então, após alguns minutos, entrar no elevador e acionar
o botão que marca o 16º andar.
Caminha com postura impecável, revelando elegância e estilo
que nem a guerra e as marcas que permaneceram conseguiram
roubar. Olha para os lados, percebe que viera fumando e que não
existem lixeiras ou cinzeiros para depositar os restos mortais de
seu charuto. Sorri para si mesma. Sente o ímpeto de segurar o
colar de pérolas que repousa preguiçosamente sobre seu pescoço,
mas tem as mãos ocupadas, com o charuto e com a maleta de
couro preto, abarrotada de livros, que escolhera, demoradamente,
para o encontro da Sapientae Libris.
O prédio certamente tem mais de sessenta anos, calcula Hannah
Arendt em seus pensamentos. Conserva a fachada original e a
imponência que remete aos anos de sua infância há muito
perdidos.
Referências
Introdução
O irlandês George Bernard Shaw (1856-1950), aos vinte
anos, partiu para a Inglaterra, local em que iniciou suas
atividades como crítico de música e de teatro, consagrando-se,
mais tarde, como escritor (SHAW, 2011). A prática dele no campo
do teatro era variada, incluindo: direção, dramaturgia, controle
de orçamento e divulgação (SHAW, 1971). A função de Shaw está
próxima à de um “dramaturgista” do contexto atual que, de acordo
com a descrição de Saadi (2013), trabalha com o delineamento do
projeto artístico do grupo e sua difusão, a escolha do repertório,
leitura e comentários de peças, tradução, criação, adaptação,
oferecimento do material de pesquisa à montagem,
acompanhamento dos ensaios, elaboração do programa do
espetáculo, debates com o público e registro dos feitos da trupe.
As traduções de Pygmalion
A partir da escritura da peça teatral em 1912, houve várias
traduções em diversas línguas, representações em teatros e
também adaptações em outros formatos, como filmes e musicais.
“Siegfried Trebitsch [...] apostou suas fichas na tradução
daquelas peças [de Shaw] para o alemão [...] De fato, sua fama
chegou à Inglaterra via Alemanha [...] pois o Independent Theatre
londrino não teria sido capaz de fazer por esta fama” (MANN, 2011,
p. 143).
Após uma encenação em Viena (1913), utilizando-se a
tradução alemã, aconteceu, em 1914, a produção teatral de
Pygmalion em Londres, no His Majesty’s Theatre. O público a
recebeu como uma grande comédia, descrita no artigo “Why My
Fair Lady betrays Pygmalion” (BOSTRIDGE, 2014) como: “the
longest laugh in British theatrical history” [a mais longa
gargalhada da história do teatro britânico], pelo sotaque e uso de
termos esdrúxulos de Eliza, proveniente dos guetos de Londres, o
mesmo do pai dela (o Sr. Doolittle) e de outras personagens
secundárias e inclusive pelos modos “animalescos” dela, os quais
se chocavam enormemente com os do professor Higgins e com os
do coronel Pickering, amigo e companheiro de trabalho. McGovern
(2011, p. 87-89) expõe que Herbert Beerbohm Tree, o ator que fez
o papel de Higgins nessa peça de 1914, conforme a avaliação de
Bernard Shaw, parecia um Romeu na última cena, apesar de
todas as orientações de Shaw para que isto não acontecesse. Ele
Considerações finais
As questões apresentadas e a maneira pela qual foram
trabalhadas por Bernard Shaw em Pygmalion são marcadamente
surpreendentes para seu tempo. Na época do lançamento e
durante várias décadas mais tarde as concepções
antirromânticas não eram, em geral, aceitas. A tentativa de Shaw
no sentido de manter a carga total de realismo na obra, fugindo
do modelo tradicional do romance como gênero literário, e de não
promover a união entre Eliza e Higgins viu-se frustrada desde a
primeira encenação na Inglaterra até pelo menos a década de
1960, quando é lançado o filme My Fair Lady (1964), um musical
adaptado para as telas. Contudo, o sucesso e popularização da
obra ocupavam e ocupam um importante espaço no cenário
cultural de variadas épocas e locais.
A peça, construída a partir de mitos como o de Pigmaleão
e o de Don Juan, contestou também estereótipos – a moralidade
Referências
ALONE
Juventude tem seu fim: o fim está aqui. Jamais será. Você
sabe muito bem. E aí? Escreva a respeito, diabo, escreva! O
que mais você sabe fazer?
“Por quê?”
“Porque senão eu não vou poder te ver.”
Um deslizar – espaço – eras – folhagem de estrelas – e
um paraíso minguante – imobilidade – e mais profunda a
imobilidade – imobilidade da aniquilação – e a voz dela. (JOYCE,
2014, p. 153)
Considerações finais
Os problemas gerados pela publicação de obras de caráter
diverso de James Joyce não se esgotam nessa tentativa de indicar
algumas características da estética do autor. Essas características
não esgotam todas as formulações estéticas do autor. As suas
descobertas sobre as possiblidades de elaboração e de recepção
do texto literário são muito complexas. Portanto, a limitação a
duas obras, dentre as publicadas recentemente, se justifica.
Trata-se de exemplificar algo dentro da estética que o autor
procurou elaborar, e que passou por etapas diversas. O escritor,
em Giacomo Joyce, evidencia uma maturidade e uma originalidade
que não podem ser constatadas em Pomes penyeach, texto da
juventude. No entanto, é nessa juventude que Joyce procura, de
um modo bem sistematizado, criar uma estética pessoal. A sua
formação católica o leva a retomar Aristóteles e Tomás de Aquino,
como autores preocupados com uma formulação da Beleza que
também abarque a Verdade e o Bem. Percebe-se que a estética
joyceana faz das três partes da apreensão da obra literária um
Referências bibliográficas
Introdução
O estilo ficcional de Hilda Hilst é marcado por intensidade,
liberdade e exuberância – características que lhe conferem o
estatuto de escritora hermética durante grande parte de sua
trajetória. Esse estatuto afasta a sua escrita das escolas literárias
dominantes na cena brasileira da segunda metade do século XX.
As peculiaridades de estilo, os temas polêmicos, o afastamento
dos grandes centros culturais do país e a quase inexistência de
um mercado editorial sedimentado no Brasil dos anos 70,
dificultam a ampla distribuição de seu trabalho e,
consequentemente, o acesso do público. A literatura de Hilst
permanece pouco conhecida (apesar do reconhecimento crítico),
Lázaro tem uma ótima aparência, achas meu Senhor? Êle não
responde, apenas olha-me e sorri. Há uma certa impaciência
no rosto de alguns. Estão mudos, mas parecem dizer: porque
Êsse homem não fala? Por que fica misterioso de repente e
apenas olha Lázaro? Não somos todos seus amigos? Será que
é preciso morrer para que eu nos ressuscite, e depois nos ame?
Êle será realmente aquilo que desejamos? Sim, êles pensam
assim como estou lhes dizendo. (HILST, 1970, p. 101)
Considerações finais
Neste ensaio procuramos evidenciar interfaces da escrita
ficcional de Hilda Hilst a partir dos diálogos que a escritora
estabelece do campo formal, compositivo e temático com diversas
referências da cultura ocidental. Na Forma/Composição, Hilst
se apropria de procedimentos utilizados pela tradição moderna
irlandesa: O fluxo de consciência, o uso do tempo, a carga paródica,
a transformação na figura do herói aproxima sua escrita a
experiência de James Joyce, enquanto a presença constante do
nonsense, a impossibilidade de narrar e a estrutura dialógica da
narrativa, aproxima a sua escrita a experiência de Samuel
Beckett.
Durante a leitura das narrativas, vimos que a composição
caleidoscópica de Hilst envolve apropriações de fontes de diversos
tempos/espaços. Em “Lázaro” e “O unicórnio” temos a apropriação
paródica de dois símbolos da cultura religiosa/mística ocidental.
Nestes textos temos ainda as referências à tradição clássica com
as Metamorfoses de Ovídio e a referência a Franz Kafka, no enredo
de “O unicórnio”.
A Paródia parece ser, na escrita ficcional de Hilst, um dos
principais procedimentos compositivos. A partir da união de
fragmentos e da afirmação/inversão de sentidos dos textos-fontes,
a escritora pensa o papel da literatura na modernidade, bem como
a sua forma de produção e circulação. A escrita de Hilda Hilst se
constitui num território de diluição das fronteiras: está entre a
criação e a crítica, entre a ficção e a teoria. Parece questionar, a
partir da literatura, as fronteiras entre arte e pensamento,
Notas
1
Entrevista de Alcir Pécora, concedida ao Itaú Cultural, por conta da
exposição dos arquivos da autora, Ocupação Hilda Hilst, que aconteceu
em março/abril na sede do Itaú Cultural em São Paulo. Esta entrevista,
e outras podem ser acessadas via youtube.com.
2
O parêntese é meu.
Referências
Introdução
Dublinenses, a primeira obra em prosa publicada por Joyce,
em 1914, é uma coletânea de quinze contos ambientados na
cidade de Dublin. Escritos a partir de 1904, os contos enfocam
diversos aspectos da vida da cidade e de seus habitantes, que
poderiam representar o coração de qualquer cidade do mundo,
segundo afirmativa do próprio autor.
Observa-se nas personagens das três primeiras
narrativas, que retratam a infância, particularmente no menino
anônimo de “Arábia”, a sugestão do perfil psicológico e emocional
Certa noite, fui à sala dos fundos onde o padre havia morrido.
Era uma noite chuvosa e eu ouvia a chuva bater contra a terra,
Referências
VIZIOLI, P. James Joyce e sua obra literária. São Paulo: EPU, 1991.
Fantasmas em Shakespeare
Eventos sobrenaturais são ocorrências comuns nas peças
shakespearianas. Na realidade, o sobrenatural permeava todo o
pensamento popular no período elisabetano, quando Shakespeare
escrevia. Em seu livro Ghosts in Shakespeare (2010), L. W. Rogers
analisa os episódios sobrenaturais em seis peças de Shakespeare:
Hamlet, Macbeth, Ricardo III, Júlio César, Tróilo e Créssida e O conto
do inverno. Rogers (2010, p. 4) propõe ao leitor a questão sobre
qual seria a intenção de Shakespeare ao inserir fantasmas e
fadas em suas peças. Seria um artifício dramático e artístico ou
seria uma interpretação válida e condizente com a época das
verdades da natureza?
[...]
HAMLET Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte -
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante - nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos? (SHAKESPEARE,
2005, 3.1.63)
O Hamlet de Almereyda
Em primeiro lugar, é necessário discutir a adaptação
cinematográfica do texto literário ou dramático em um contexto
pós-estruturalista. Sob essa perspectiva, o filme não é visto como
uma mera transposição do texto literário para as telas do cinema
- mesmo porque tal feito seria impossível, já que o texto literário
Introdução
“Enquanto ainda nos restar algo por fazer, então nada fizemos.”
(MELVILLE, 2009, p. 83)
Intertextos
Ciência, geografia, história e literatura, são alguns dos
campos dos intertextos que constroem uma escrita precisa e
organizada. Essa organização compartimentada dos capítulos: 32
“Cetologia”, 42 “A brancura da cachalote”, 60 “A linha”, 74 “A
cabeça da cachalote; análise comparativa”, se assemelha a
ordenação por meio de arquivos. Porém Melville afirma o contrário
em uma carta a Hawthorne: “Entretanto, considerando-se tudo,
não posso escrever de outra maneira. Desse modo, o produto é
uma bagunça final, e todos os meus livros são malfeitos.”
(MELVILLE, 2009, p. 72)
As inúmeras citações de documentos de naturezas
diversas e, em especial, as de caráter imagético, e que trataremos
adiante, parecem suscitar uma averiguação de veracidade, ou
pelo menos, algum rastro com o mundo não ficcional ao livro. De
onde viriam tais fontes e o como seria o acesso do autor a elas
em meados do século XIX, tais intertextos acrescentam um fio
investigativo ao leitor descontente com o papel de mero receptor.
Dentro desse contexto Claus Clüver afirma:
Intermidialidade
Neste momento da narrativa, ocorre um impasse entre
visão e representação, desde o olhar da personagem para a
realidade que o cerca e de como esta seria representada a seu
contento. Em busca de uma origem, do olhar primevo do autor,
percebemos em Moby Dick percebemos diversas camadas de
conhecimento, de pesquisas e da vivência de Melville como
marinheiro quando teve contato com a imagens nas suas fontes
documentais e a o relato crítico das representações narradas por
Ismael. Claus Clüver aponta uma definição própria para écfrase
– uma das subcategorias de “referências intermídiaticas” de
Rajewsky (2012, p. 25-27) –, como a “representação verbal de um
texto real ou fictício composto num sistema sígnico não-verbal.”
Considerações finais
Nesta pesquisa continua premente a necessidade de
perscrutar – neste sentido mesmo de vasculhar com o olhar – os
mares descritos por Herman Melville. Por seus vestígios
imagéticos e atemporais, surgem detalhamentos de tecituras em
filamentos espraiados de narrativas infinitas, permitindo
inumeráveis possibilidades de leitura. As linhas baleeiras de
Ismael, as linhas da narrativa, alinhavam texto e imagem,
escrevem uma cartografia sensória – abissal – dos mares
existenciais em Moby Dick. Através da leitura com o auxílio dos
dispositivos conceituais será preciso transpor, ancorar e revolver
o que há no fundo do texto. A pulsação da obra literária se
intensifica nas camadas de sedimentos móveis dos intertextos,
da intermidialidade e no iconotexto que ampliam o horizonte de
leitura.
Enchamos os pulmões plenamente para o último
mergulho, em apnéia, sem qualquer aparato covarde de respiração
submarina, suspensos no nada. Somente um leitor que “se lance
como baleeiro” fará da caçada ao texto indomável um desejo de
busca e sujeito aos perigos da derrota, pode comprovar que tudo
apenas começou.
Referências
Introdução
A trajetória na escrita de Henrik Ibsen (1828-1906) passa
pelas transformações em termos de escola literária do século 19.
Tradicionalmente, se atribui ao autor norueguês fases que
começam com o romantismo nacionalista, passando por um
realismo com alguma influência do naturalismo, desembocando
numa escrita interiorizante, muitas vezes, com tintas simbolistas
e místicas.
Seu legado é composto por 25 peças de teatro, que o escritor
desejava fossem lidas numa continuidade, como se “cada peça
Um idealista
Pode-se dizer que, durante quase duas décadas, Ibsen
manteve acesa a busca por um ideal nacional de grandeza – numa
época em que os teatros só repetiam comédias francesas e alemãs,
ele surge como um excêntrico, abordando temas que seus
conterrâneos, como o também dramaturgo Bjoernson, não
julgavam prioridade.
A primeira fase da escrita de Ibsen se volta para a
antiguidade escandinava, com incursões pelos reinados medievais
e os códigos de conduta viking. Destaca-se Os pretendentes da
coroa (1863), em que a personalidade e a conduta de dois líderes
que almejam o reinado é contraposta (MENEZES, 2006). A
supremacia da nação e seus rumos surge como ideal nacionalista,
bem como a tipificação dos dois personagens em conflito. Um
terceiro elemento é acrescido por um mago que detém as provas
Pilares da sociedade
A liberdade que Ibsen conquista em sua escrita é bastante
paulatina, e se constrói à custa da derrubada de “espectros”, ou
ideias mortas, que assombram o homem daquele momento de
transição, quando está em movimento a própria forma como as
pessoas pensam em si mesmas (MENEZES, 2006).
O resultado para a literatura de Ibsen é um estilo e visão
de mundo realistas, que o levam a examinar a incapacidade das
pessoas de se realizar – e a combater os motivos que as impedem
de alcançar tal realização. Nessa busca por respostas para o
fracasso humano, Ibsen abraça a crença no espírito de verdade e
de liberdade, proclamado por Lona Hessel em Pilares da sociedade.
Nessa obra, datada de 1877, a primeira a adotar um personagem
contemporâneo e não heroico, o cônsul Bernick aproveita
oportunidades para lucrar, ainda que precise omitir-se ou mesmo
mentir.
O autor situa a peça num momento de crescente
industrialização, e surge en passant a questão da emigração para
Ciclo de 12 peças
Já instalado na Alemanha, o autor produz as obras pelas
quais é mais conhecido, seja devido à crítica positiva ou negativa.
A fase é denominada por Tereza Menezes e muitos outros como
“drama realista”. São suas peças “de ideias”, ou “de tese”, que
abririam caminho para a escrita, por exemplo, de George Bernard
Shaw e Sartre (MORETTI, 2011). Otto Maria Carpeaux aponta a
forma como Ibsen revolucionou o conceito de “peça de tese”, por
meio da inclusão da forma caricaturada de seus personagens
idealistas, como o médico Stockmann, com quem Ibsen foi
erroneamente identificado (CARPEAUX, s.d., p.47). Ao apresentar
as peças-problema de estilo francês (como em Scribe) de forma
caricaturada, Ibsen estaria elevando seus trabalhos “acima delas”.
São essas peças que tratam de “problemas da época” que farão o
nome de Ibsen ser conhecido por toda a Europa, sobretudo pelo
escândalo causado por Casa de bonecas (1879) e Espectros (1881).
Apresentada no início da peça Casa de bonecas como uma
mulher infantilizada, que passara das mãos guardiãs do pai para
Um inimigo do povo
O protagonista em cuja voz mais comumente se
identificam traços autorais de Ibsen é o doutor Stockman de Um
inimigo do povo, visto se tratar de uma peça-resposta às ferozes
críticas recebidas por Espectros. A peça causou revolta por abordar
o amor livre, a sífilis e até a eutanásia. Para o crítico Otto Maria
Carpeaux, porém, a identidade do médico idealista é a do
conterrâneo e concorrente de Ibsen, Bjoernson. Ibsen, por sua
vez, “já não acreditava na verdade absoluta [como faz o
personagem]. Com incrível coragem procedeu ao desmentido
integral de toda a sua obra anterior” (CARPEAUX, in IBSEN, s.d.,
p.47).
A mentira nesta peça, como em muitas na obra de Ibsen,
é a escolha descarada da sociedade: Stockman ergue-se como
voz solitária ao clamar pela verdade, quando descobre que os
esgotos envenenaram as fontes da estância de águas do local.
Para o personagem, é inconcebível que a população da cidade,
incluindo seu irmão, o prefeito, desconsiderem as evidências
Técnica analítica
Como já foi mencionado, a técnica analítica de Ibsen foi
inovadora. Conforme Stella Adler, a inserção do elemento
argumentativo em suas peças criou toda uma nova forma de
drama (2002, p.30). Trata-se de um teatro em que a principal
ação ocorreu no passado, de forma que “a representação dramática
de Ibsen está exilada no passado e na interioridade” (SZONDI,
2011, p.44).
Essa ação dramática representa um foco de tensão na vida
dos personagens, que vão desvelando pouco a pouco esses
“espectros” uns aos outros, de forma que sua exposição faz parte
do próprio desenvolvimento da peça. Não é algo novo, se pensarmos
em Sófocles e a forma como Édipo vai conhecendo a profundidade
de sua tragédia ao longo dos diálogos. Mas Ibsen surge como
inovador ao aliar a técnica analítica, ou seja, o desvelamento
progressivo da tragédia, a um teatro realista – realista, ainda
que com características próprias.
A partir de seu aprendizado da “peça-bem-feita” aos moldes
do francês Scribe, Ibsen alia seus diálogos, em que nada parece
acontecer, ao ambiente doméstico burguês típico das peças de
teatro da época. O resultado era um incômodo na plateia, um
desconforto que tinha muito a ver com o clima entre os próprios
personagens. Mais do que conflito ou ação, seus personagens
enfrentavam dissonâncias, desajustes. Para piorar, não há heróis
ou vilões claros: em Ibsen, “no bom há algo de mau, e no mau há
algo de bom” (ADLER, 2002, p.27).
Referências
Introdução
No princípio, um deus criou o céu e a terra. O dono do
mundo criou o Sol e ordenou a ele que fosse fonte de vida, de luz,
de calor, de nascimento. E o deus, decidindo que toda a sua criação
carregaria em si a ambiguidade, sabia que o astro, muitas vezes,
em vez de aquecer, poderia tudo secar. E criou o Vento como o
senhor da renovação e do impulso, mas o movimento do ar também
se transformaria em ilusão e engano. Esse ser todo-poderoso criou
a Terra como mãe, ponto de apoio e refúgio, e também como palco
de dramas, comédias e túmulo da mais alta de suas criações: o
que nascera para, irremediavelmente, morrer. E criou o mar,
seu maior mistério, sua mais perfeita imagem, sua semelhança.
E fez a borboleta, que uniria terra e céu, amiga do sol e inimiga
Conclusão
O conto de Liam O’Flaherty, “A tola borboleta”, ao estabelecer
um paralelo entre a vida humana e a do animal, explicita seu
tema: a jornada humana entre o nascimento e a morte. A
existência do animalzinho, “desde o instante em que desdobra as
asas úmidas para secá-las ao sol, passando pelas alegrias e
surpresas de sua breve vida até o momento fatal, reflete a
pungência e a brevidade da vida humana” (MUTRAN, 2006, p. 288).
Humaniza-se a borboleta e outros elementos da natureza, como o
vento, o sol, a terra, o mar.
Percebemos, portanto, como em “A tola borboleta”, o conflito
dramático reproduz a condição humana: a jornada do nascimento
à morte. As ações, o movimento constante, as alegrias, o
aprendizado e a pungência são marcados pela brevidade, pelo
efêmero do qual a borboleta é o símbolo mais adequado. Para tal
fim, Liam O’Flaherty apropria-se da linguagem simbólica, da
prosopopeia e traduz o humano. O humano de inconcebível
fragilidade, que se descobre num espaço sem fim. A grandiosidade
Referências
A diáspora irlandesa
Bonicci esclarece que “diáspora (do grego, dia = longe, e
speirein = espelhar) é o deslocamento livre ou forçado de populações
fora de seus país para novas regiões” (BONICCI, 2009, p. 277).
A história da Irlanda é permeada por movimentos
migratórios diversos. O historiador e jornalista Tim Pat Coogan,
em seu livro Wherever Green Is Worn - The History of Irish
Diaspora (Onde o Verde É Usado - A História da Imigração Irlandesa)
faz menção à existência de mais de 70 milhões de irlandeses
espalhados pelo mundo, enquanto no país a população não
ultrapassa 5 milhões. Ou seja, há muito mais Irlandeses
espalhados pelo mundo do que na própria Irlanda. A pesquisa
desenvolvida por Coogan aponta ainda a gênese das correntes
migratórias irlandesas o século XII, durante a invasão dos
normandos à ilha.
Entretanto, os maiores movimentos migratórios ocorreram
nos séculos XVIII e XIX na Irlanda devido à falta de alimentos. A
fome tornara-se parte integrante do cenário Irlandês e castigou
seus moradores por quatro vezes: de 1725 e 1729; de 1740 a 1741;
em 1836, 1837 e 1839; e, finalmente, de 1845 a 1849. País agrícola
e dependente da produção de batatas, foi dizimado pelo fungo
Phytophora infestans que arrasou as colheitas de batata, enquanto
as intempéries climáticas destruíram as de cereais. Na colheita
de 1845 a perda foi total, conhecida também como Irish Potato
Famine – 1845 (A fome da batata). Da crise agrícola decorreu a
crise econômica, com cenário de grande recessão e desemprego,
além, é claro da fome, que assolou o país e matou 1 milhão de
pessoas (vitimados pela falta de alimento, desnutrição e péssimas
condições sanitárias) e fez com que mais 1,5 milhão de irlandeses
Referências
(…)
(…)
You have taken the east from me, you have taken the west from me,
You have taken what is before me and what is behind me;
You have taken the moon, You have taken the sun from me,
And my fear is great that you have taken God from me.
(Disponível em: AZEVEDO, blog. Acesso em 17 jul. 2015)
Ela caminhava à frente dele tão leve e tão ereta que ele desejava
alcançá-la na surdina, agarrá-la pelos ombros e sussurrar-lhe
ao ouvido algo tolo e apaixonado. Parecia-lhe tão frágil que
tinha ímpetos de defendê-la de um perigo qualquer e então
ficar a sós com ela. Momentos da vida íntima dos dois
irromperam-lhe na memória como estrelas (JOYCE, 2012, p.
189).
Em frente ao hotel:
Referências
Introdução
“Os Mortos”, de James Joyce, é o último, de uma coletânea
de quinze contos do livro Dublinenses, lançado em 1912. As cópias
foram queimadas por um desconhecido, só restando um volume.
Foi reeditado mais tarde, 1914. Como o próprio nome indica,
Dublinenses, fala de Dublin e seus habitantes. Os contos do livro,
inovadores, prenunciavam o Modernismo. Em “Os mortos” há uma
crítica à paixão política, e são colocados em evidência os costumes
da sociedade da época.
A festa
Na primeira parte do conto, Gabriel Conroy chega à festa,
e é recebido por Lilly, a filha do zelador:
O discurso
No início da narrativa, logo depois de seu encontro com
Lilly, e do incidente que ocasionara, Gabriel encontra-se no salão
onde as pessoas dançam:
O hotel
Na terceira parte de nossa análise de “Os mortos”, Gabriel
e sua esposa Gretta, vão para um hotel, onde irão passar a noite.
Ele encontra-se recuperado das duas situações que abalaram a
sua autoconfiança e, por conseguinte, a sua reputação social
impecável, e na suposta proximidade com a esposa apercebe-se
de que: “Momentos de sua vida íntima irromperam como estrelas
na memória” (JOYCE, 2012 p. 182).
Gretta não compartilha da mesma euforia de seu esposo
e, no quarto do hotel, encontra-se triste e introspectiva. Gabriel
depois de vê-la na festa, na escada, parada, ouvindo uma música
ao fundo, intriga-se. Ela acaba por revelar que a música lhe trazia
a lembrança de alguém que conhecera quando jovem:
Considerações finais
Sem a dúvida que gera a procura por respostas nos seres
humanos, o homem não seria um ser lógico e racional. A morte
da certeza e o florescimento da dúvida é o que se percebe como a
passagem de uma situação determinada a outra, uma vez que o
objetivo é idêntico, isto é, o abalo das estruturas que suportam a
imagem social que Gabriel vê transparecer em sua vida.
Ao mesmo tempo em que relembra pontos do seu discurso,
agora voltado para a hospitalidade irlandesa, sente-se incomodado
com as palavras de Molly Ivors, que, apesar de elogiá-lo, não crê
em suas palavras: “Molly Ivors elogiara-o. Teria sido sincera? Será
que, apesar de todo seu proselitismo, ela teria uma verdadeira
vida interior? Até aquela noite, nunca existira animosidade entre
eles” (JOYCE, 2012, p.164). Assim, Gabriel lembra uma frase que
escreveu num dos seus artigos, a qual reflete exatamente como
está se sentindo naquele baile: “Sente-se estar ouvindo uma
música torturada pelo pensamento” (JOYCE, 2012, p.164). Bakhtin,
em sua obra Estética da criação verbal, afirma:
Referências
A operação historiográfica
Estágio do testemunho e dos arquivos
No prelúdio do capitulo intitulado “História/Epistemologia”,
em A memória, a história, o esquecimento, Paul Ricoeur recorre ao
Fedro de Platão para explanar o nascimento mítico da escrita da
história e a valoração maior atribuída no mito ao discurso oral %
“o discurso da verdadeira memória, de nascimento legítimo,
inscrito na alma”. Todavia, tanto o discurso oral como o escrito
são escrituras, o que permite dizer que ambos são aparentados e
“o discurso escrito é de certa forma uma imagem (eidólon) daquilo
que na memória viva é vivo” (2007, p. 153).
Para conhecer o Casement histórico e levantar seu perfil
seria necessário ouvir sua voz. Mas onde ouvi-la? Na falta de
testemunhos orais, propomo-nos utilizar as cuidadosas anotações
feitas durante a viagem ao Putumayo, bem como as cartas em
que ouvimos suas preocupações sobre as dificuldades da missão
– anotações que constituem a segunda parte do Diário do
Amazonas, editado por Mitchell.
Referências
Introdução
Religião sempre foi um tema polêmico na história da
humanidade. Em seu nome, principalmente pelo do Cristianismo,
povos foram dizimados, reinos conquistados, pessoas foram
enviadas à fogueira. Amparados pelo texto bíblico cometeram-se,
e ainda se cometem inomináveis atrocidades contra a
humanidade. O texto cristão já foi (e em alguns locais do mundo
ainda é) utilizado para afirmar e impor valores, posições sociais,
legitimar racismo, desigualdade social e outros tipos de
preconceito.
Introdução
Desde as últimas décadas do século XX, a ficcionalização
de pessoas que desempenharam papéis na História tem sido uma
constante tanto na literatura brasileira quanto na literatura
inglesa. Quatro aspectos da ficção histórica carecem de destaque:
o primeiro diz respeito aos grandes homens que desempenharam
papéis relevantes em fatos históricos, sobretudo em guerras e
conflitos de uma maneira geral, assentados nos livros de História.
O segundo, mais acentuadamente na última década do século
XXI, refere-se àquelas pessoas das quais não se tem registro
É uma época difícil para ele [Wilde] [...], Lady Wolseley me diz
que o senhor não tem esposa. Essa poderia ser uma solução.
Considerações finais
Em 04 de setembro de 2004, Alan Hollinghurst escreve
uma crítica a Author, Author, para o jornal The Guardian, com o
nome de The middle fears, com o intuito de fazer um jogo de
palavras com “The middle years,” de Henry James – conto
inacabado, e publicado postumamente em 1917. Nessa crítica,
Hollinghurst aborda os aspectos tomados por Lodge para criar
ficcionalmente a vida e o percurso literário de Henry James em
Author, Author, em comparação às abordagens de Tóibín, em The
Master, sobre o mesmo artista. Afirma que Tóibin se mantém
mais próximo do que James considerou o ponto de vista puro. O
narrador de The Master, segundo o crítico inglês, permanece na
consciência do protagonista, apontando para seus medos,
inseguranças, dúvidas, desejos e sua ansiedade acerca da própria
sexualidade.
A crítica é pertinente na medida em que Henry James
penetrou na consciência de suas personagens e as constituiu
com intensa interioridade. Dessa forma, Tóibín cria um
protagonista largamente convincente e completo, tanto que
agradou ao público e à crítica e o romance fora indicado para o
Booker Prize. Todavia, pelo fato de o narrador de The Master tratar,
mais especificamente, da suposta homossexualidade de Henry,
http://www.guardian.co.uk/books/2004/sep/04/
fiction.henryjames, Acesso em 19/07/2015.
Conclusão
O mito da América tem sido representado artisticamente,
em diferentes épocas e contextos da história humana. Como
procuramos observar, no presente estudo, os fenômenos
migratórios de fins do século XIX e início do século XX, ocuparam
e ocupam boa parte da literatura e do cinema.
Hoje, mais do que nunca, alargam-se as questões em torno
da nova reconfiguração geográfica mundial, em grande parte
determinada pelas arbitrariedades impetradas pelo
póscolonialismo, que vêm obrigando o êxodo incessante de
populações inteiras, como por exemplo, as do norte da África.
Os fenômenos migratórios da contemporaneidade se
impregnam das marcas trágicas das diásporas, cujas
consequências funestas, equiparadas a verdadeiros genocídios,
estão nas páginas de todos os jornais, acusando o Mediterrâneo
como um Mar de Morte (EURONEWS, 2014).
Como não poderia deixar de ser, a literatura e o cinema
(enquanto expressões artísticas) abrem-se ao diálogo crítico com
o contexto histórico atual, por meio das múltiplas representações
e abordagens que nos apresentam, seja retomando mitos para
reforçá-los, seja revisitando-os de forma irônica e relativizadora.
Justamente porque percebemos a urgência de abordar tais
questões é que nos propusemos a analisar, especificamente, duas
linguagens cinematográficas distintas, criadas por grandes nomes
Referências
Referências
Referências
Considerações finais
Em Romance, o diretor e roteirista Guel Arraes volta a
produção mais uma vez para o sertão – assim como em O auto da
Compadecida e Lisbela e o prisioneiro – retratando o espaço de
maneira peculiar, com detalhes típicos da cultura local, como as
rimas, o cordel, entre outras artimanhas do diretor que não nega
suas origens. O detalhe mais importante é que o filme se passa
no presente, ancorado no clássico conto de amor de Tristão e
Isolda, lenda que se propaga desde o século XII. Essa informação
foi didaticamente inserida no roteiro, gerando mais conhecimento
para o grande público e vendendo o argumento do filme. No
inteligente roteiro de Guel Arraes e Jorge Furtado, Pedro é um
diretor e ator de teatro que procura uma atriz para encenar a
peça “Tristão e Isolda”. Em sua busca, ele encontra em Ana alguém
para atuar e também viver uma história de amor. Furtado e Arraes
Referências
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo fazer uma leitura da narrativa
cinematográfica Breakfast on Pluto no que se refere à representação
de estereótipos de gênero, bem como suas desconstruções, na medida
em que a personagem Kitten – uma figura em constante conflito e
transição – vai moldando sua própria identidade ao longo da obra. Dessa
forma, esta leitura insere a adaptação fílmica no debate contemporâneo
sobre identidade, gênero e sexualidade; campos que estão em
constantes dinâmicas sociais. Neste filme, tais dinâmicas se dispõem
enquanto elementos que se complementam na construção de sentido
em diferentes níveis; tanto do contexto histórico-social, quanto na
jornada íntima da protagonista em busca de suas raízes, identidade e
liberdade. Jornada esta que resultará na incorporação de práticas
subversivas, como as inscritas nos estudos queer das teóricas Judith
Butler e Guacira Lopes Louro, as quais nortearão a presente análise.
PALAVRAS-CHAVE: Breakfast on pluto. Estudos queer. Estudos de gênero.
Análise.
Introdução
Este trabalho tem por objetivo fazer uma leitura da
narrativa cinematográfica Breakfast on Pluto no que se refere à
representação de estereótipos de gênero, bem como suas
desconstruções, na medida em que a personagem Kitten – uma
figura em constante conflito e transição – vai moldando sua própria
identidade ao longo da obra. Dessa forma, esta leitura insere a
adaptação fílmica no debate contemporâneo sobre identidade,
gênero e sexualidade; campos que estão em constantes dinâmicas
sociais. Neste filme, tais dinâmicas se dispõem enquanto
elementos que se complementam na construção de sentido em
Considerações finais
Kitten é o sujeito em constante transição, aquela que
representa a subversão das ordens de gênero de uma sociedade
patriarcal. Ela não pertence, seja as convenções sociais, nem ao
seu local de origem, embora terceiros tentem reivindica-los por
ela. É uma personagem que se apropria de signos e a partir de
possibilidades dentro das próprias normas regulatórias, produz
um corpo que não se ajusta. Um sujeito abjeto, porém,
indispensável, visto que ela fornece o limite e a fronteira, aquilo
que está aquém do entendimento dentro de uma cultura
patriarcal; a possibilidade de transitar.
Ao nível das tensões políticas, a identidade de gênero da
personagem e sua nacionalidade são fatores que fazem com que
a coloquem numa posição de marginalidade, sendo no filme esses
dois traços metonímicos, realidades que compartilham no contexto
sócio-histórico.
Referências
Referências
“Eu nunca entendi”, disse Helen, “como você foi capaz de nos
deixar aqui durante a doença do meu pai e ficar tanto tempo
longe, sem nos visitar uma única vez”. [...] “Você não sabe o
que aconteceu com seu pai”, disse Lily. “Não faz idéia de como
ele estava amedrontado, de como ele se sentia solitário e
Paul and Larry não apenas moldam uma alternativa, mas, eles
também integram a família do Declan como está. [...] Declan
teve por muito tempo Larry e Paul como parte de sua família,
mas a presença deles também foi excluída de seu núcleo
familiar. Em vez de uma simples redefinição de família, a
presença deles proporciona, assim, reconhecimento de uma
parte da família dele que tem sido fundamental para o Declan
o tempo todo, uma transcrição da narrativa familiar mais
inclusiva, apurada e representativa. [...] Em vez de substituir a
família nuclear de Declan, Larry e Paul suplementam e
completam a célula familiar tradicional. (COSTELLO-SULLIVAN,
2012, p. 142)
PERSSON, Ake. „”Do your folks know that you re gay? : Memory
and Oral History as Education and Resistence in Colm Tóibín s
The Blackwater Lightship”. In: FRIBERG, Hedda; NORDIN, Irene
Gilsenan; PEDERSEN, Lene Yding. Recovering Memory: Irish
Representations of Past and Present. Newcastle: Cambridge
Scholars Publishing, 2007.
Dublinenses
Visando melhor situar a coletânea de contos Dublinenses,
de James Joyce, se faz necessário fazer um breve apanhado
histórico da Irlanda do início do século XX – abordando algumas
questões socioculturais – e alguns comentários breves sobre o
autor e sua obra. Durante décadas, o governo britânico praticou
uma política de austeridade, condenando a Irlanda ao declínio,
que eclodiram, em 1840, com a deflagração de problemas
econômicos, sociais e políticos, como o desemprego, a fome, a
mortandade, os altos tributos e a falta de investimentos; motivados
pelo “maior desastre da história da Irlanda”, denominado a “grande
fome”. A fome, considerada tragédia nacional, dizimou quase
O conto “Eveline”
Vamos nos deter, agora, no conto “Eveline”, um dos contos
da adolescência, como definido pelo autor. O conto é construído
por meio da disjunção espacial e familiar da protagonista. Eveline,
adolescente de dezenove anos, pobre, filha de pai alcoólatra e
violento, trabalha duro em casa e na loja, sem reconhecimento.
A situação remete a uma existência tediosa, frágil e insegura.
Aspira fugir com Frank, seu namorado, para levar uma nova vida
em outro país.
A narrativa interliga o real e o imaginário, onde autor, leitor
e momento histórico compõem os arranjos, criando uma forma
de escrita que é impressionante até hoje. O enredo é preciso,
descreve com clareza e sensibilidade a vida da classe média. Exibe
alto grau de sensibilidade. O conto é narrado em terceira pessoa,
pelo narrador onisciente seletivo. Emprega o discurso indireto
livre, onde a narrativa assume a linguagem da personagem por
meio do fluxo de consciência: “Estaria casada; ela, Eveline. As
pessoas iriam tratá-la com respeito, não sofreria como sua mãe”
(JOYCE, 2001, p. 18).
Cria uma atmosfera de introspecção e contemplação,
permeada por conflitos psicológicos, fluxo de consciência, que
embasa a junção particular, familiar e afetiva, da protagonista,
E, em:
Referências
Introdução
A presença de animais e sua humanização, estão
ganhando cada vez mais evidências na literatura, demonstrando
o respeito devido pelos animais bem como seu lugar no espaço.
Podemos considerar que é com este intuito que irlandes Liam
O’Flaherty (1896-1984), renomado novelista e contista, escreveu
seus contos, dando a possibilidade de natureza humana a seus
personagens animais.Percebemos o gosto que o autor tem com
histórias relacionadas ao respeito pela natureza e os animais.
Mesmo com extensa bibliografia, Liam O’Flaherty, não tem no
Brasil a mesma visibildade que outros escritores irlandeses dos
séculos XIX e XX, como Bram Stocker, Oscar Wilde, James Joyce
Espaço social
Considerado por Brandão o espaço que se divide com a
comunidade, com a família, com os amigos. Podemos fazer uma
comparação indireta com a nossa própra condição humana e “O
primeiro voo”, pois temos expectativas em relação aos outros, no
sentido de sua adaptação às regras de convivência social:
Espaço psicológico
Aquele espaço em que cabe a relação com as próprias
características do personagem, o seu próprio eu. No conto verifica-
se que o filhote apresenta medo e insegurança para fazer seu
primeiro voo, passando até por humilhação e ofensa por parte de
seus pais e irmãos.
Viu os dois irmãos a irmã cochilando sobre o platô, com a
cabeça enfiada no pescoço. O pai alisava as penas do dorso branco.
Somente a mãe, em pé sobre uma protuberância do platô, o peito
branco estufado, olhava para ele. A intevalos, bicava um pedaço
de peixe a seus pés e a segur aspava os dois lados do bico na
rocha. A visão da comida era de enlouquecer. Como ele gostava
de rasgar a comida desse jeito, raspando o bico repetidas vezes
para afiá-lo! Grasnou baixinho. A mãe grasnou também e olhou
para ele. - Ga, ga, ga - gritou ele - suplicando-lhe que lhe trouxesse
comida (O’FLAHERTY, 2006, p. 209).
- Ga, ga, ga. Ga, ga, ga. Gó uul-ah. A mãe mergulhou perto
dele, ruflando ruidosamente as asas. Respondeu-lhe com outro
grito. Então o pai esvoaçou acima dele, soltando guinchos
agudos. Daí viu os dois irmãos e irmã voando à sua volta,
corcoveando e fazendo curvas contra o vento, elevando-se e
mergulhando. (O’FLAHERTY, 2006, p. 210)
Referências
O despertar do herói
Os diferentes aspectos da personalidade de Casement –
idealista, aventureiro, poeta, tímido, sensível e intuitivo – já estão
presentes no relato de sua infância e adolescência, antecipando
assim os traços que se tornarão marcantes quando adulto e que,
em decorrência dos acontecimentos e das aventuras pelas quais
O desenlace
Durante os três meses em que se encontra na prisão de
Pentonville, em Londres, Roger recebe informações sobre o
andamento do processo, visitas e, principalmente, reavalia sua
trajetória de vida: reflete sobre os erros que cometeu, que
culminaram no seu julgamento como traidor do Império Britânico
e, também, sobre sua reintegração ao catolicismo da mãe: ao
receber a visita do Padre Carey, antes de ser enforcado, este lhe
confirmou que “No necesita ser recibido de nuevo en la Iglesia
católica. Siempre estuvo en ella”. Roger “se alegró por la
complicidad que esse secreto establecía entre él e Anne Jephson.
Y porque de este modo se sentia más en consonancia consigo
Referências
Considerações finais
Embora o tema da violência atraia estudiosos de várias
áreas, sabemos que ele ainda carece de muita investigação. Ao
iniciarmos este estudo, constatamos que as fontes de pesquisa
não se restringem ao campo literário ou filosófico. Vimos a
importância dos inúmeros documentos de instituições
internacionais ou governamentais, relatórios das áreas de saúde
e criminal que se debruçam sobre o assunto. Neste artigo,
detivemo-nos nesses documentos iniciais, que consideramos a
base para análises posteriores.
A afirmação unânime dos documentos e dos teóricos é a
de que a violência que ocorre no espaço público, coletivo, é
facilmente identificável. A maior dificuldade está em detectar e
mapear a violência de caráter privado, aquela que se desenvolve
no seio das famílias.
A literatura, ao representar a obscuridade do ser humano,
a sociedade minada por abuso, incesto, violência, cruamente
revela o caos (interno e externo) de nosso mundo. Ao mesmo tempo
em que provoca, desperta a consciência humana para questões
cruciais.
Os textos “Crie uma sereia só para você”, de Marina Carr,
e “The Parting Gift”, de Claire Keegan, têm em comum
personagens crianças cujos nomes não sabemos, e que são
vítimas de abuso, crueldade, violência física e/ou psicológica
dentro da própria família. O limite de sua resistência é testado. A
criança do primeiro conto transforma-se em uma mulher. As
pequenas tragédias familiares dão a tônica à história: sua avó,
abandonada pelo avô, humilhada, mal suportava a dor da solidão;
Referências
______. Walk the Blue Fields. London: Faber and Faber, 2007.
Araby
“Araby” is about a boy on his quest to buy a gift to his
friend’s sister, with whom he is in love, from a bazaar called Araby.
The story tells of his sexual awakening, as he seems to be in
pubertal or pre-pubertal age. Among the analyzed short stories, it
is the only one narrated in the first person by the boy himself.
Throughout the story, the young narrator cannot explain
what is happening with him, although he can approach the topic
to himself with his feelings and sensations. He tries to express
what is happening with him through comparisons and metaphors.
As the girl passes through the street, the boy narrates: “my body
was like a harp, and her words were like fingers running upon
the wires.” (JOYCE, 1996, p. 31). All of the girl’s movements and
actions cause a reaction in his body. He cannot quite explain
what he is feeling, but he tries to, for example, comparing his
own body to a musical instrument, in which every note played
reverberates. And this ability to create metaphors to explain the
subject highlights childhood’s natural approach over sex and
sexuality.
In another important passage, the narrator learns about
the bazaar Araby, and feels the girl’s influence on him again:
Not only pregnancy and Mrs. Mooney make the youngster feel
oppressed, but also the priest, representing the Catholic Church,
makes Mr. Doran feel unnaturally guilty about his sexuality.
According to Corrêa, “in almost all the stories of Dubliners the
Catholic Church is ubiquitous” (CORREA, 2014, p. 122). Joyce, in
a subtle manner so present throughout Dubliners, criticizes, or
rather, unveils the Catholic Church: The priest from “The
Boarding House” is more interested in the details of the affair
than in Mr. Doran’s reparation of his sin. Other similar examples
A painful case
Regarding adulthood, the analyzed short story is “A Painful
Case”. It tells the story of Mr. James Duffy, a reclusive, single,
middle-aged man. He befriends a couple, Mr. and Mrs. Sinico. Mr.
Sinico is a sailor who “had dismissed his wife so sincerely from
his gallery of pleasures that he did not suspect that anyone else
would take an interest in her.” (JOYCE, 1996, p. 122). Due to this
dismissal and Mr. Sinico’s constant travels, Mr. Duffy and Mrs.
Sinico become closer. During one of their meetings, Mrs. Sinico
touches Mr. Duffy’s cheek while “[…] showing every sign of
unusual excitement.” (JOYCE, 1996, p. 124). So, Mr. Duffy decides
to end his friendship with her. Four years later, Mr. Duffy reads
on the newspaper that Mrs. Sinico had been hit by a train while
crossing the rails and had passed away.
Mrs. Sinico, in another instance of Joyce’s subtle use of
language, may have committed suicide, and this may be the result
of successive cases of sexual repression she suffered: first, being
forgotten by her husband; second, being rejected by her friend.
Therefore, adults are characterized by the repression of the
subject. Another example is when, while reading some books,
Duffy writes the following note: “Love between man and man is
impossible because there must not be sexual intercourse, and
friendship between man and woman is impossible because there
must be sexual intercourse.” (JOYCE, 1996, p. 125). It summarizes
The dead
The last analyzed short story is “The Dead”, regarding
social life. During the first half of the story silence is meaningful,
for the subject of sex and sexuality is never commented on. Gabriel
Conroy and his wife, Gretta, attend their aunts’ traditional annual
party, held around Christmas time.
During the whole party, Gabriel fails when trying to
interact with any women younger or the same age as himself:
first Lilly, the caretaker’s daughter, is offended by his question
about marriage; after that, Miss Ivors calls him a “west Briton”
because he writes book reviews for a British newspaper called
The Daily Express; and last, his wife becomes angry at him for his
refusal to travel, saying “’There’s a nice husband for you, Mrs.
Mallins’” (JOYCE, 1996, p. 218).
And this is not to mention that he and his wife follow
different ways during the majority of the party, and Gabriel only
perceives her again, maybe affectively, maybe sexually, maybe
both, at the end of the party, when Bartell d’Arcy is singing The
Lass of Aughrim. Afterwards, on the way back home, Gabriel
pictures his private moments with Gretta at home: First, his “blood
went bounding along his veins and the thoughts went rioting
through his brain, proud, joyful, tender, valorous.” Then, “Moments
A possible conclusion
There seem to occur an involution in the way Dubliners’
characters deal with sex and with their own sexuality: the incipient
awareness of one’s own sexuality in “Araby” and “The Boarding
House” gives place to repression, silence and disillusionment.
The inability to deal with sex and sexuality may also be another
aspect of the paralysis so present throughout Dubliners’ short
stories.
According to Michels, Joyce
believed that the people of Ireland had the capacity, but lacked
the true desire, to come to a realization about their situation.
He thought that their refusal to open their eyes to their
situation (and also to accept some responsibility for it) was
the reason they were trapped in a state of paralysis. Physically,
emotionally and sexually, the people of his Dubliners could do
no more than float through a life that barely scratched the
surface of what they could truly experience. (MICHELS, p. 64)
References
ELLMAN, Richard (ed.). Letters of James Joyce. Volume II. New York:
The Viking Press, 1966.
Introdução
Este trabalho relaciona o romance Drácula (1897), de Bram
Stoker, às narrativas contemporâneas da literatura e do cinema,
as quais fazem parte do que pode ser considerado como novo
gótico. A partir de Drácula, obra precursora no mito do vampiro,
personagem considerado um morto-vivo, são estudados o livro
Memórias desmortas de Brás Cubas (2010), de Pedro Vieira; e o
filme Drácula, a história nunca contada (Dracula untold, EUA, 2014),
do diretor Gary Shore.
Contemporaneamente, é bastante expressivo o número
de obras em que vampiros e zumbis são os protagonistas. Nas
artes, nos meios de comunicação de massa e até mesmo nas
manifestações populares, o horror e o estranho refletem as
transformações da sociedade atual. Para demonstrar essa
Conclusão
Neste trabalho, verificou-se de que modo a obra Drácula,
de Bram Stoker, que deu origem ao mito do vampiro, influencia
as produções literária e cinematográfica contemporâneas, ambas
relacionadas ao novo gótico. Por sua vez, esse processo de
retomada das narrativas de horror protagonizadas por mortos-vivos
foi relacionado ao perfil da sociedade contemporânea, que, de acordo
com Bauman, privilegia a individualidade, em detrimento da
comunidade, como consequência da globalização: “A globalização
parece ter mais sucesso em aumentar o vigor da inimizade e da
luta intercomunal do que em promover a coexistência pacífica
das comunidades” (BAUMAN, 2001, p. 219). Na concepção do autor,
essa ruptura com o social acabou por enfatizar a violência, tema
que motivou a reinserção de vampiros e zumbis na
contemporaneidade, afinal, essas criaturas exemplificam a
disputa com o outro, especificamente de um humano contra outro,
encenado uma guerra entre iguais.
Desse modo, os monstros do passado servem, hoje, como
metáforas e se encaixam perfeitamente no que Bauman
denomina “comunidades explosivas”, as quais “precisam de
violência para nascer e para continuar vivendo” (BAUMAN, 2001,
p. 221). Nesse contexto contemporâneo, cabe ressaltar a
predominância dos zumbis, já que eles, ao contrário dos vampiros,
não seduzem, nem hipnotizam suas vítimas com o olhar, com
Referências
O mito
Embora o foco deste artigo sejam as representações do mito
de Cuchulain tanto em Yeats quanto no Japão, é necessário
primeiro conhecer a lenda em si. Portanto, dedicarei esta
primeira parte às histórias sobre a vida de Cuchulain, de sua
infância a sua vida adulta e morte. As histórias reproduzidas aqui
são uma tradução e adaptação minha de partes do artigo From
Legend to Literature, W. B. Yeats and the Cuchulain Cycle, escrito
por Robert Coltrane e publicado em 1971 no periódico Lock Haven
Reviews.
Os primórdios da vida do herói são contados no livro
intitulado The Book of the Dun Cow (Lebor Na Huidre), em que se
encontra a narrativa The Cattle Raid of Cooley (Tain Bo Cualnge).
Cuchulain em Yeats
O poeta e dramaturgo irlandês escreveu cinco peças que
têm Cuchulain como personagem principal. São elas On Baile’s
strand (1904), The Green Helmet (1910), At the Hawk’s Well (1917),
The Only Jealously of Emer (1919) e The Death of Cuchulain (1939).
As peças não foram escritas apresentando a vida do herói em
ordem cronológica (por exemplo, o acontecimento mais antigo
retratado numa peça é o encontro de Aoife e Cuchulain em At
The Hawk’s Well, a terceira peça escrita). Como Coltrane (1971)
aponta, Yeats preferiu escrever de acordo com suas necessidades
na época, ao invés da ordem cronológica.
Quanto à representação do herói, observamos um foco no
lado humano da personagem, com seus feitos marciais deixados
em segundo plano (em On Baile’s strand, por exemplo, o combate
entre Cuchulain e seu filho ocorre fora de cena, com o foco da
peça sendo na conversa entre um cego e um tolo durante a luta,
os fatos desta contados depois). Yeats também mostra Cuchulain
como impertinente, porém honrado e confiante em sua habilidade.
Outro foco da obra de Yeats é a abnegação ou auto sacrifício,
mais precisamente, o sacrifício nas peças que contêm o herói
Cuchulain como personagem. Como tema, tal altruísmo aparece
nas peças On Baile’s Strand, The Only Jealously of Emer e The Green
Helmet, embora, segundo Richman (1970), de formas diferentes.
Em On Baile’s Strand, Cuchulain, após descobrir que havia matado
seu próprio filho, joga-se ao mar, parecendo lutar contra as próprias
ondas, e acaba se afogando. Aqui, o herói busca absolvição pelo
pecado que cometera, entregando sua vida ao mar. Em The Only
Referências