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Viaja pela Europa e fixa-se perto de Nápoles vivendo com o namorado Luigi Pulci
(2004-2007)
Tese de Mestrado Villa Paulista, sobre a estada de Emilio Villa em S. Paulo e a sua
relação com a arte Moderna Brasileira (2015)
ensaio — o melhor verso da lingua portuguesa (eclipse, nesse passo, o sol padeça), a
partir do soneto "o dia em que nasci morra e pereça"
vem para Lisboa em Agosto de 2018 para investigar sobre o Soropita e Camões — o
título da tese é o Ritmo das Rhytmas. Escreve uma série de poemas 20 páginas, dos
quais publica alguns na net e em jornais
Não termina ainda a tese. Torna-se artista no Outono de 2019 e começa a expôr
Expurgos e Heresias, influênciada por Kosuth e a Escolástica. Expõe também críticas
de arte e textos curatoriais em forma de poemas visuais a partir de textos existentes,
transcrevendo-os muitas vezes à mão, invertendo assim o processo. Considera a sua
arte uma forma de "copismo".
A OBRA-EXPURGO DE FABIANA SORRENTO UMA ANTI-MENARD
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O equívoco dá-se no esquecimento não detectado do sufixo di- (àn, em grego). A passagem é
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«Algumas vezes (...) exigi-me eliminar poemas escritos e publicados por desordens e
escândalos da atenção. Esta espécie de errata não bastou para me purificar; os poemas a
mais, embora refluxadamente destituídos, projectam a sua mácula nos poemas legítimos.
Cada erro, mesmo ignorado, introduz-se nas conjecturas do acerto.»
(Herberto Helder, texto sem título in A Phala, nº 40)
Não sei quando começou o expurgo, o grande expurgo. Sei que desde sempre
abundam as interpolações. E falando de interpolações começamos com Homero — as
interpolações abundam, detectivescamente detectadas.
Pound é o grande expurgador, e expurgar faz-se na fábrica gerida pelo miglor fabbro.
Cortar para intensificar. Cortar até se tornar epitáfico, memorável.
Expurgar é elidir, semear buracos, tirar o que está a mais. A juvenilia é a imprecisão
da continuidade. Tudo parece que vai fluir. Mas na poesia nada flui porque tudo está
sempre a regressar, a ser relido e rememorado. Há um perpétuo rewind ou recorrentes
loops. Na poesia nada sucede, ao contrário da narrativa que é toda ela propensão.
"Baudelaire disse: acabou a narração; porque Poe falara de poemas instântaneos ligados
por faixas verbais mortas. (…) Não se trata propriamente de montagem, diga-se: uma
cuidadosa maneira de receber a memória, assistir à ressurreição do que foi morrendo, e
morre e vai morrer." Assistir à ressurreição no momento da eclosão. Não só se nasce
morrendo — é no plano da ressurreição que se entende o caracter iniciático da poesia.
Por isso a poesia não é para todos, só para os longamente iniciados nesse descalabro
que parece salvar-se no apuramento dos poemas. O poeta ou os que lêem na carne a
poesia sentir-se-ão doravante separados. Vivem noutro plano da experiência. Mais
inclinados para outros lados.
O ready-made surge na sua mecânica mais pura com a publicação do poema de Emilio
Villa Mata-Borrão para Flávio Motta como sendo vertido para português. Tendo sido
a primeira parte do meu trabalho encontrar o poema e publicá-lo com inocência, em
1964, achei-me capaz, mais de três décadas depois, de executar a segunda pate, e essa
parte era libertina. Era fazer como se tivesse traduzido o poema, como se o tivesse
mudado para português e para mim — e esse "mim" é um idioma, suponho, ou
pretendo —, era enfim deixar-me atravessar pela fortíssima gramática portugueza de
Villa, e dar o poema por "traduzido". Fica claro como àgua que traduzir é verter para
uma língua e para "mim". Verter (ou com-verter) é encaminhamento líquido. Se a
equação "poemas vertidos" = "poemas seus" era um dado no bebedor nocturno, este
singularissímo caso, seguindo essa lógica, coloca a questão se nas futuras edições da
sua obra este poema figurará como poema do autor? Exercício ménardiano?
O critério herbertiano para expurgar obras da sua obra, do seu Ofício Cantante,
parece, à partida, ser meramente qualitativo.