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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


PLANO DE SAÚDE

Florianópolis
2019
1 - INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em um estudo dirigido da Jurisprudência escolhida na


atividade avaliativa 1 (ANEXO 1).

Trata-se de Agravo de Instrumento com pedido de tutela antecipada recursal


interposto por João Carlos Kaio Fraga, em face da decisão interlocutória que indeferiu
a tutela provisória de urgência e afastou a inversão do ônus probante (autos nº
0319427-13.2018.8.24.0008) em desfavor de Caixa de Assistência dos Advogados de
Santa Catarina e Unimed Grande Florianópolis, nos autos da "ação de reparação por
danos materiais e morais em virtude de interrupção indevida de serviços de plano de
saúde, com pedido de antecipação de tutela".
2 - DESENVOLVIMENTO

2.1 - DOS FATOS

O Agravante teve seu plano de saúde cancelado unilateralmente, mesmo


tomando todas as medidas de evitar o acontecimento. As Agravadas enviaram várias
faturas sem código de barras, ou sem registro no sistema financeiro, bem como o
consumidor teve o seu acesso ao sistema de emissão de segunda via da fatura
bloqueado. O Agravante poderá provar, por meio da inversão do ônus da prova,
mediante provas testemunhais, emails e as gravações das tentativas do consumidor
permanecer adimplente. Alega o Agravante que o cancelamento do plano ocorreu por
culpa exclusiva das Agravadas, pois a empresa dificultou o envio das faturas com
intuito da consumidora cancelar o plano, em razão de que utiliza os serviços do plano
com frequência devido seu tratamento médico para tumores cerebrais, deste 13-8-
2018. Logo em seguida, o plano foi cancelado, em 30/09, sem a devida prévia
notificação.

2.2 - DOS DIREITOS VIOLADOS

O Agravante em seu recurso pugnou pela:

a) concessão de tutela antecipada recursal, em razão de que tomou todas as medidas


cabíveis, por inúmeras tentativas de pagar as faturas em dia e evitar o cancelamento
do plano, porque se encontra em tratamento de risco.

b) reforma da decisão pela inversão do ônus da prova em razão da verossimilhança


das alegações e evidência da hipossuficiência em relação à produção de prova a fim
de ter seu plano de saúde reativado.

2.3 - DA FUNDAMENTAÇÃO LEGAL PELO CDC E JURISPRUDÊNCIA


a) Violação ao dever de informação do fornecedor (CDC, art.6, III) e seu dever de
reparação dos danos (CDC, art.14).

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes


produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos

Nos contratos coletivos de saúde, permite-se a rescisão unilateral desde que


preenchidas as condições estabelecidas na Resolução Normativa n. 195/2009 da ANS,
cujo artigo 17 assim dispõe:

Art. 17 As condições de rescisão do contrato ou de suspensão


de cobertura, nos planos privados de assistência à saúde
coletivos por adesão ou empresarial, devem constar do contrato
celebrado entre as partes.

Parágrafo único. Os contratos de planos privados de assistência


à saúde coletivos por adesão ou empresarial somente poderão
ser rescindidos imotivadamente após a vigência do período
de doze meses e mediante prévia notificação da outra parte
com antecedência mínima de sessenta dias.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


PLANO DE SAÚDE (BRADESCO SAÚDE S/A). DEFERIMENTO
DA TUTELA ANTECIPADA. AGRAVADA ACOMETIDA DE
QUEIMADURAS. INDICAÇÃO MÉDICA DE TRATAMENTO
COM TERAPIA OCUPACIONAL. NEGATIVA DA
SEGURADORA DE CONTINUIDADE DAS SESSÕES
TERAPÊUTICAS ALICERÇADA NO NÃO PREENCHIMENTO
DAS DIRETRIZES DA ANS. ALEGADO TAMBÉM O PERIGO
DE IRREVERSIBILIDADE DA MEDIDA. INSUBSISTÊNCIA.
VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES INICIAIS. RISCO À
SAÚDE DA PACIENTE. REQUISIÇÃO FEITA POR MÉDICO
CONVENIADO. DEVER DE PROPORCIONAR A REALIZAÇÃO
DO TRATAMENTO CONFIGURADO. REQUISITOS DO ART.
300 DO CPC PRESENTES NO CASO. PLEITO DE
AFASTAMENTO DA MULTA. INSUBSISTÊNCIA. VALOR
PROPORCIONAL AO BEM JURÍDICO TUTELADO.
PRECEDENTES DESTA CORTE NO MESMO SENTIDO.
INTERLOCUTÓRIO MANTIDO. RECURSO DESPROVIDO.
Para a concessão da tutela de urgência, deve o juiz observar o
cumprimento de requisitos legais insculpidos no art. 300 do
Código de Processo Civil, quais sejam, a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.
(TJSC, Agravo de Instrumento n. 4027495-78.2018.8.24.0000,
de Joinville, rel. Des. Marcus Tulio Sartorato, Terceira Câmara
de Direito Civil, j. 26-02-2019).

b) Inversão do ônus da prova (CDC, art.6, VIII)

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive


com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;

AGRAVO DE INSTRUMENTO. REVISIONAL DE


CONTRATO. PLANO DE SAÚDE. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS
DA PROVA. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES
E HIPOSSUFICIÊNCIA. DECISÃO MANTIDA.
RECURSO DESPROVIDO.

A discussão envolvendo plano de saúde e seus


beneficiários deve ser travada à luz do Código
Consumerista.
Presentes a hipossuficiência do consumidor e a
verossimilhança das suas alegações autorizado está
a inversão do ônus probatório, nos termos do artigo
6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor. (TJSC,
Agravo de Instrumento n. 2012.062502-9, de Joinville,
rel. Des. Fernando Carioni, j. 20-08-2013 – grifou-se).
3 - CONCLUSÃO

O presente caso escolhido trata-se da aplicação do CDC em contratos de plano


de saúde, que está de acordo com a Súmula n.469,do STJ. O conceito de fornecedor
(prestadora de serviços), está conceituado no art. 3º, caput, do CDC.

Inicialmente, o Agravante teve seus direitos como consumidor negados: o dever


de informação do fornecedor, bem como a reparação de danos relativos à má
prestação de serviços, conforme artigos 6º, III e 14 do do CDC, na medida em que os
fatos e provas demonstraram às inúmeras tentativas de se manter adimplente no plano
de saúde.

Diante dos fatos expostos, o Agravante por meio da tutela de urgência


demonstrou a convicção dos fatos e credibilidade sobre o direito alegado (fumus boni
iuris), bem como por meio de cognição sumária, justificou que o direito violado pode
acarretar danos irreversíveis à saúde do paciente, e o resultado útil do processo pode
ser comprometido (periculum in mora). Diantes dos requisitos legais atendidos para a
concessão da tutela de urgência, e sendo medida de urgência, é defeso a prevalência
do direito à saúde do paciente em relação ao dano patrimonial da empresa do plano de
saúde.

Nessa perspectiva, é sabido que o consumidor encontra-se em tratamento de


risco, então em demandas envolvendo conflito entre o direito à saúde do beneficiário e
direito estritamente patrimonial da operadora do plano, deve aquele prevalecer sobre
este, em razão da possibilidade de eventual prejuízo patrimonial ser reparado em ação
própria, o que pode ser irreversível com relação aos prejuízos ocasionados à saúde do
paciente.

Como se vê, não é razoável permitir à Agravante o ônus do transcurso do


tempo, haja vista o risco de inutilidade do provimento final de mérito em razão do risco
da patologia que acomete o consumidor. Assim, a tutela de urgência deve ser
concedida para determinar a reinclusão do Agravante no plano de saúde, cabendo ao
consumidor adimplir regularmente os custos mensais advindos da reabilitação do
plano.

Na sequência, o Agravante busca seus direitos acerca da inversão do ônus da


prova conforme fundamentação legal do CDC, em seu art.6, VIII.

Para tal, faz-se necessário atender o requisito da verossimilhança.Como se vê, é


compreensível que não houve informação clara pela empresa do plano de saúde, pois
o Agravante demonstrou "print-screens" do sistema gerido pela CAASC, informando
que o cadastro não foi encontrado, além de cópia de seus e-mails enviados à
operadora de saúde, informando a dificuldade em recebimento dos boletos, e
confirmação das Agravadas de recebimento. Ademais, as provas mostram que o
pagamento das competências 08/2018, 09/2018,10/2018 e 11/2018 encontravam-se
em aberto, bem como demonstra que houve negativa de solicitação de procedimento
datado em 20/11/2018, ou seja, posterior a data de exclusão do plano. Pela coerência
da sequência dos fatos, ficaram comprovadas as dificuldades em receber as faturas
logo após diagnóstico da doença grave em 13-8-2018, e que resultaram no
cancelamento em data próxima, 30/09, sem a devida prévia notificação. Assim, a
verossimilhança ficou bem evidente, pois o Agravante transmitiu coerência e verdade
nos fatos narrados, e apontou forte conteúdo persuasivo mediante exibição das datas
dos acontecimentos.

Outrossim, deve atender também o requisito da hipossuficiência em relação à


produção de prova do consumidor em face das empresas Agravadas. Este ficou claro,
pois é indiscutível que o Agravante possui maior dificuldade para produzir
determinadas provas, sobretudo em virtude do grande porte econômico e elevado nível
organizacional das Agravadas, que estão em melhores condições de produzir prova no
sentido de que a sua prestação de serviços não possui falhas, autorizando a inversão
do encargo probante indeferida na origem. Pelo todo exposto, a inversão do ônus da
prova foi concedida, uma vez atendidos os requisitos da verossimilhança e
hipossuficiência em relação à produção de prova.
Por fim, com o provimento do recurso de Agravo de Instrumento, o consumidor
foi capaz de atingir seu objetivo final mais importante, que é o seu direito da reativação
do plano de saúde reconhecido, uma vez fundamentados seus direitos pelo Código de
Defesa do Consumidor.
4 - REFERÊNCIAS

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm - Código de Defesa do Consumidor

https://www.ans.gov.br/component/legislacao/?
view=legislacao&task=TextoLei&format=raw&id=MTQ1OA== - Resolução Normativa da
ANS Sobre Planos de Saúde (RN) nº 195, de 14 de julho de 2009
ANEXO 1 - Jurisprudência escolhida na Atividade 1

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER


(RESTABELECIMENTO DO CONTRATO) E REPARAÇÃO CIVIL POR DANOS MORAIS. PLANO DE
SAÚDE. DECISÃO QUE INDEFERIU A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A TUTELA DE URGÊNCIA
REQUERIDA. INSURGÊNCIA DA PARTE AUTORA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES E HIPOSSUFICIÊNCIA
DO POSTULANTE COMPROVADAS NOS AUTOS. REFORMA NECESSÁRIA. Restando inconteste, no
caso em apreço, a condição de hipossuficiência do consumidor e a verossimilhança de suas alegações,
há que se inverter o encargo probatório da demanda, nos estritos termos do art. 6º, inciso VIII, do Código
de Defesa do Consumidor. TUTELA DE URGÊNCIA NÃO CONCEDIDA SOB O FUNDAMENTO DE
AUSÊNCIA DE PROBABILIDADE DO DIREITO PRETENDIDO. INSUBSISTÊNCIA. COMPROVAÇÃO
DOS REQUISITOS INDISPENSÁVEIS À CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA. REATIVAÇÃO DO
PLANO DE SAÚDE QUE, ADEMAIS, TEM ÍNTIMA RELAÇÃO COM OS CUIDADOS DE SAÚDE DO
AUTOR. DECISÃO REFORMADA. RECLAMO CONHECIDO E PROVIDO. (TJSC, Agravo de
Instrumento n. 4006824-97.2019.8.24.0000, de Blumenau, rel. Des. André Carvalho, Sexta Câmara de
Direito Civil, j. 27-08-2019).

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