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LA POTENZA DEL PENSIERO

THE POTENCY OF THOUGHT


Tradução de Carolina Pizzolo Torquato1

Giorgio Agambeni

ABSTRACT

The concept of potency has, in the occidental philosophy, a long history and,
at least from Aristotle, it occupies a central place of it. In this article, Giorgio
Agamben shows us how Aristotle looked for exhaustingly to collate with the
ambiguities and the aporias of his theory of the potency. The figure of the
potency that he extracts of this reading compels us to not only rethink the
relation between the potency and the act, between possible and real, but the
understanding of the alive being is all that must be revoked in question, if is
truth that the life must be thought as a potency that incessantly exceeds its
forms and its accomplishments.

Keywords: Potency. Act. Aristotle.

A POTÊNCIA DO PENSAMENTO
RESUMO

O conceito de potência tem, na filosofia ocidental, uma longa história e, pelo


menos a partir de Aristóteles, ocupa um lugar central dentro dela. Neste artigo,
Giorgio Agamben mostra-nos como Aristóteles procurou confrontar-se exausti-
vamente com as ambigüidades e as aporias da sua teoria da potência. A figura da
potência que ele extrai dessa leitura obriga-nos a repensar não apenas a relação
entre a potência e o ato, entre o possível e o real, mas é toda a compreensão do ser
vivo que deve ser revogada em questão, se é verdade que a vida deve ser pensada
como uma potência que excede incessantemente as suas formas e as suas
realizações.

Palavras-chave: Potência. Ato. Aristóteles.2


Professor doutor de Estética na Universidade de Verona, Itália; e professor de Filosofia
no Collège International de Philosophie em Paris e na Universidade de Macerata, na Itália

Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 18 - n. 1, p. 11-28, Jan./Jun. 2006 11


Giorgio Agamben

CHE COSA SIGNIFICA: “IO POSSO” ? O QUE SIGNIFICA: “EU POSSO”?


Il concetto di potenza ha, nella fi- O conceito de potência tem, na
losofia occidentale, una lunga storia e, filosofia ocidental, uma longa história
almeno a partire da Aristotele, occupa e, pelo menos a partir de Aristóteles,
in essa un posto centrale. Aristotele ocupa um lugar central dentro dela.
oppone – e, insieme, lega – la potenza Aristóteles opõe – e, ao mesmo tempo,
(dynamis) all’atto (energeia) e questa vincula – a potência (dynamis) ao ato
opposizione, che traversa tanto la sua (energeia) e essa oposição, que atraves-
metafisica che la sua fisica, è stata da sa tanto a sua metafísica quanto a sua
lui trasmessa in eredità prima alla filo- física, foi transmitida por ele como he-
sofia e poi alla scienza medievale e reditariedade primeiro à filosofia e de-
moderna. Se ho scelto di parlarvi del pois à ciência medieval e moderna. Se
concetto di potenza, ciò è perché il mio decidi falar-lhes do conceito de potên-
scopo non è semplicemente storio- cia, é porque o meu objetivo não é sim-
grafico. Non si tratta, per me, di ridare plesmente historiográfico. Não se trata,
attualità a categorie filosofiche da tem- para mim, de dar novamente atualidade
po cadute in oblio; sono convinto, al a categorias filosóficas há muito caídas
contrario, che questo concetto non abbia no esquecimento; estou convicto, ao
mai cessato di operare nella vita e nella contrário, de que esse conceito nunca
storia, nel pensiero e nella prassi di parou de operar na vida e na história,
quella parte dell’umanità, che ha no pensamento e na práxis daquela par-
accresciuto e sviluppato a tal punto la te da humanidade que ampliou e desen-
sua potenza, da imporre su tutto il volveu de tal forma a sua “potência”, a
pianeta il suo potere. Piuttosto, ponto de impor o seu “poder” a todo o
seguendo il consiglio di Wittgenstein, planeta. Antes, seguindo o conselho de
secondo il quale i problemi filosofici Wittgenstein, segundo o qual os proble-
diventano più chiari se li riformuliamo mas filosóficos tornam-se mais claros
come domande sul significato delle se os reformulamos como perguntas
parole, potrei enunciare il tema della mia sobre o significado das palavras, eu po-
ricerca come un tentativo di com- deria enunciar o tema da minha pesqui-
prendere il significato del sintagma “io sa como uma tentativa de compreen-
posso”. Che cosa intendiamo dire quan- der o significado do sintagma “eu pos-
do diciamo: “io posso, io non posso”? so”. O que pretendemos dizer quando
dizemos: “eu posso, eu não posso”?
Nella breve introduzione pre-
messa alla raccolta Requiem, Anna Na breve introdução à coletânea
Achmatova racconta come queste Requiem, Anna Achmatova conta como
poesie sono nate. Erano gli anni della aquelas poesias nasceram. Eram os anos
Ezovschina e da mesi la poetessa faceva da Ezovschina e havia meses a poetisa
la fila davanti alla prigione di Leningra- fazia fila em frente à prisão de Lenin-
do, sperando di aver notizie di suo figlio, grado com a esperança de ter notícias
arrestato per delitti politici. Con lei, do seu filho, preso por delitos políticos.
stavano in fila decine di altre donne, che Junto dela, estavam na fila dezenas de
si ritrovavano ogni giorno nello stesso outras mulheres que se reencontravam
luogo. Una mattina, una di queste donne todos os dias no mesmo lugar. Numa

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la riconobbe e le rivolse quest’ unica manhã, uma dessas mulheres a reconhe-


domanda: “può lei dire questo”? ceu e lhe fez esta única pergunta: “a se-
Achmatova tacque per un istante e poi, nhora pode dizer isto”? Achmatova fi-
senza sapere perché, si trovò sulle labbra cou muda por um instante e depois, sem
la risposta: “sì, io posso”. saber por que, deparou-se com a respos-
ta nos lábios: “sim, eu posso”.
Mi sono chiesto molte volte che
cosa Achmatova intendesse dire. Forse Perguntei-me muitas vezes o que
che aveva un così grande talento Achmatova pretendia dizer. Talvez que
poetico, che sapeva maneggiare con tan- tivesse um talento poético tão grande,
ta abilità il linguaggio, da poter que soubesse manejar com tanta habili-
descrivere quell’esperienza così atroce, dade a linguagem, a ponto de poder des-
così difficile da dire? Non lo credo, non crever aquela experiência tão atroz, tão
era questo che voleva dire. Viene per difícil de dizer? Não acredito, não era
ciascun uomo il momento in cui egli isso que ela queria dizer. Chega para
deve pronunciare questo “io posso”, che todo homem o momento em que ele
non si riferisce ad alcuna certezza nè ad deve pronunciar este “eu posso”, que
alcuna capacità specifica, e che tuttavia não se refere a uma certeza nem a uma
lo impegna e mette in gioco interamente. capacidade específica, e que, no entan-
Questo “io posso” al di là di ogni facoltà to, o compromete e o coloca inteiramen-
e di ogni saper fare, quest’ affermazione te em jogo. Este “eu posso” além de
che non significa nulla pone imme- qualquer faculdade e de qualquer
diatamente il soggetto di fronte all’ savoir-faire, essa afirmação que não sig-
esperienza forse più esigente – e, nifica nada, coloca o sujeito imediata-
tuttavia, ineludibile – con cui gli sia dato mente diante da experiência talvez, mais
di misurarsi: l’esperienza della potenza. exigente – e, no entanto, ineludível –
com a qual lhe seja dado medir-se: a ex-
CHE COS’ È UNA FACOLTÀ? periência da potência.
“Vi è, però, un’aporia: perché non O QUE É UMA FACULDADE?
vi è sensazione dei sensi stessi (ton
aistheseon aisthesis)? Perché, in assenza “Há, porém, uma aporia: por que
di oggetti esterni, essi non procurano não há sensação dos próprios sentidos
sensazione, pur avendo in sé il fuoco, l’ (ton aistheseon aisthesis)? Por que, na
acqua e gli altri elementi di cui vi è ausência de objetos externos, eles não
sensazione? Ciò avviene perché la provocam sensação, mesmo tendo em
facoltà sensitiva (to aisthetikon) non è si o fogo, a água e os outros elementos
in atto, ma solo in potenza (dynamei dos quais há sensação? Isso ocorre
monon). Per questo essa non prova porque a faculdade sensitiva (to
sensazione, così come il combustibile aisthetikon) não é em ato, mas apenas
non brucia da sé, senza un principio di em potência (dynamei monon). Por isso
combustione; altrimenti consumerebbe ela não sente sensação, assim como o
se stesso e non avrebbe bisogno di fuoco combustível não queima por si só, sem
esistente in atto (entelecheiai ontos)”. um princípio de combustão; do contrá-
rio consumiria a si mesmo e não pre-
cisaria de fogo existente em ato
(entelecheiai ontos)”.

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Noi siamo così abituati a rappre- Nós estamos tão acostumados a


sentarci la sensibilità come una facoltà representar a sensibilidade como uma
dell’ anima, che questo passo del De faculdade da alma, que esse fragmento
anima (417a 2-9) non sembra porci do De anima (417a 2-9) não nos parece
problemi. Il vocabolario della potenza colocar problemas. O vocabulário da
è penetrato così profondamente in noi, potência penetrou tão profundamente
che non ci accorgiamo che, in queste em nós que não nos damos conta de que,
righe, appare per la prima volta un pro- naquelas linhas, aparece pela primeira
blema fondamentale, che, come tale, vez um problema fundamental que,
emerge alla luce nella storia del pensiero como tal, vem à luz, na história do pen-
occidentale solo in alcuni momenti samento ocidental, apenas em alguns
decisivi (nel pensiero moderno, uno di momentos decisivos (um desses mo-
questi momenti è l’opera di Kant). mentos, no pensamento moderno, é a
Questo problema – che è il problema obra de Kant). Esse problema – que é o
originale della potenza- si enuncia nella problema original da potência – enun-
domanda: “che significa avere una cia-se na pergunta: “o que significa pos-
facoltà? In che modo qualcosa come suir uma faculdade? De que forma algo
una ‘facoltà’ esiste”? como uma ‘faculdade’ existe?”
La grecia arcaica non concepiva A Grécia arcaica não concebia a
la sensibilità, l’intelligenza (o, ancor sensibilidade, a inteligência (ou, menos
meno, la volontà) come delle “facoltà” ainda, a vontade) como “faculdades” de
di un soggetto. La stessa parola um sujeito. A própria palavra aisthesis
aisthesis è, nella sua forma, un nome é, na sua forma, um nome de ação em -
di azione in -sis , che esprime un’ attività sis, que expressa uma atividade real.
reale. Come può, allora, una sensazione Como pode existir, portanto, uma sen-
esistere in assenza di sensazione, una sação na ausência de sensação, uma
aisthesis esistere allo stato di anestesia? aisthesis no estado de anestesia? Essas
Queste domande ci introducono perguntas nos introduzem imediatamen-
immediatamente nel problema di quel te no problema daquilo que Aristóteles
che Aristotele chiama dynamis, potenza chama dynamis, potência (um termo –
(un termine rispetto al quale sarà bene será bom lembrar – cujo significado é
ricordare che esso significa tanto tanto o de potência quanto o de possibi-
potenza che possibilità e che i due lidade, sendo que esses dois significa-
significati non andrebbero mai disgiunti, dos não deveriam jamais ser dis-
come purtroppo avviene nelle tradizioni sociados, como infelizmente acontece
moderne). Quando diciamo che un nas tradições modernas). Quando dize-
uomo ha la ‘facoltà’ di vedere, la mos que um homem tem a “faculdade”
‘facoltà’ di parlare (o, come Hegel de ver, a “faculdade” de falar (ou, como
scrive e Heidegger ripeterà a suo modo, Hegel escreve e Heidegger repetirá a seu
la ‘facoltà’ della morte), quando modo, a “faculdade” da morte), quando
affermiamo semplicemente “questo non afirmamos simplesmente “isso não está
è nelle mie facoltà”, ci muoviamo già dentro das minhas faculdades”, já nos
nella sfera della potenza. Il termine movemos na esfera da potência. Ou seja,
‘facoltà’ esprime, cioè, il modo in cui o termo “faculdade” exprime o modo
una certa attività è separata da se stessa em que uma certa atividade é separada

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e assegnata a un soggetto, il modo in de si mesma e destinada a um sujeito, o


cui un vivente ‘ha’ la sua prassi vitale. modo em que um ser vivo “tem” a sua
Qualcosa come una ‘facoltà’ di sentire práxis vital. Algo como uma “faculda-
viene distinta dal sentire in atto affinché de” de sentir é distinta do sentir em ato,
questo possa essere riferito in proprio a a fim de que isso possa ser referido pro-
un soggetto. In questo senso, la dottrina priamente a um sujeito. Nesse sentido,
aristotelica della potenza contiene un’ a doutrina aristotélica da potência con-
archeologia della soggettività, è il modo tém uma arqueologia da subjetividade,
in cui il problema del soggetto si é a forma com a qual o problema do
annuncia a un pensiero che non ha an- sujeito se anuncia a um pensamento que
cora questa nozione. Exis (da echo, ainda não tem essa noção. Exis (de echo,
avere), abito, facoltà è il nome che ter), hábito, faculdade é o nome que
Aristotele dà a questa in-esistenza della Aristóteles dá a essa in-existência da
sensazione (e delle altre ‘facoltà) in un sensação (e das outras “faculdades”) em
vivente. Ciò che è così ‘avuto’ non è una um ser vivo. Aquilo que é assim “tido”
semplice assenza, ma ha, piuttosto, la não é uma simples ausência, mas tem
forma di una privazione (nel na realidade a forma de uma privação
vocabolario di Aristotele, steresis, (no vocabulário de Aristóteles, steresis,
privazione, è in relazione strategica con privação, está estrategicamente relaci-
exis), cioè di qualcosa che attesta la onada com exis), ou seja, de algo que
presenza di ciò che manca all’atto. atesta a presença daquilo que falta no
Avere una potenza, avere una facoltà ato. Ter uma potência, ter uma faculda-
significa: avere una privazione. Per de significa: ter uma privação. Por isso
questo la sensazione non sente se stessa, a sensação não sente a si mesma, como
come il combustibile non brucia se o combustível não queima a si mesmo.
stesso. La potenza è, pertanto, l’ exis di A potência é, portanto, a exis de uma
una steresis: “a volte” si legge in Met. steresis: “às vezes”, lê-se em Met. 1019
1019 b, 5-8 “il potente è tale perchè ha b, 5-8, “o potente é tal porque tem algo,
qualcosa, a volte perchè ne manca. Se às vezes porque lhe falta algo. Se a pri-
la privazione è in qualche modo una vação é de uma certa forma uma exis, o
exis, il potente è tale, o perchè ha potente é tal ou porque tem uma certa
una certa exis, o perchè ha la steresis exis, ou porque tem a steresis dela”.
di essa”.
TER UMA PRIVAÇÃO
AVERE UNA PRIVAZIONE
Que interesse a Aristóteles essa
Che a interessare Aristotele sia segunda forma da potência (ter uma pri-
questa seconda forma della potenza vação) é evidente na passagem do De
(l’ avere una privazione), è evidente nel anima que segue aquela da qual pega-
passo del De anima che segue quello mos a deixa. Aristóteles distingue aqui
da cui abbiamo preso le mosse. (417 a 21 sq.) uma potência genérica –
Aristotele distingue qui (417 a 21 sq.) que é aquela segundo a qual dize-
una potenza generica, che è quella mos que uma criança tem a potência da
secondo cui diciamo che un bambino ciência, ou que é um arquiteto ou chefe
ha la potenza della scienza, o che è in de Estado em potência – da potência que
potenza architetto o capo di stato, dalla compete a quem já tem a exis corres-

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potenza che compete a chi ha già la exis pondente àquele certo saber ou àquela
corrispondente a quel certo sapere o a certa habilidade. É nesse segundo sen-
quella certa abilità. E’ in questo secondo tido que se diz que o arquiteto tem a
senso che si dice che l’architetto ha la potência de construir mesmo quando
potenza di costruire anche quando non não está construindo, ou que o tocador
sta costruendo, o che il suonatore di de cítara tem a potência de tocar mes-
cetra ha la potenza di suonare anche mo quando não toca. A potência que está
quando non suona. La potenza che è qui em questão aqui difere essencialmente
in questione differisce essenzialmente da potência genérica que compete à
dalla potenza generica che compete al criança. A criança, escreve Aristóteles,
bambino. Il bambino, scrive Aristotele, é potente no sentido de que deverá so-
è potente nel senso che dovrà subire frer uma alteração por meio do apren-
un’alterazione attraverso l’appren- dizado; aquele que já possui uma técni-
dimento; colui che giá possiede una ca, ao contrário, não deve sofrer uma
tecnica, invece, non deve subire alteração, mas é potente a partir de uma
un’alterazione, ma è potente a partire exis, que pode não colocar em ato ou
da una exis, che può non mettere in atto atuar, passando de um não ser em ato a
oppure attuare, passando da un non um ser em ato (ek tou… me energein
essere in atto a un essere in atto (ek eis to energein – 417b, 1). Quer dizer, a
tou… me energein eis to energein – potência é definida essencialmente pela
417 b 1). La potenza è, cioè, definita possibilidade do seu não-exercício, as-
essenzialmente dalla possibilità del suo sim como exis significa: disponibilida-
non-esercizio, così come exis signifi- de de uma privação. Ou seja, o arquite-
ca: disponibilità di una privazione. L’ to é potente enquanto pode não-cons-
architetto è, cioè, potente, in quanto può truir, e o tocador de cítara é tal porque,
non-costruire e il suonatore di cetra diferentemente daquele que se diz po-
è tale perché, a differenza di colui che è tente apenas em sentido genérico e que
detto potente solo in senso generico simplesmente não pode tocar a cítara,
e che semplicemente non può suonare ele pode não-tocar a cítara.
la cetra, può non-suonare la cetra.
É desse modo que Aristóteles res-
È in questo modo che Aristotele ponde, na Metafísica, à tese dos
risponde, nella Metafisica, alla tesi dei Megáricos, que afirmavam, aliás, não
Megarici, che affermavano, peraltro non sem boas razões, que a potência existe
senza buone ragioni, che la potenza apenas no ato (energei mono dynastai,
esiste solo nell’atto (energei mono otan me energei ou dynastai – 1046b,
dynastai, otan me energei ou dynastai 29-30). Se isso fosse verdade, objeta
– 1046b, 29-30). Se ciò fosse vero, Aristóteles, nós não poderíamos consi-
obietta Aristotele, noi non potremmo derar arquiteto o arquiteto mesmo quan-
considerare architetto l’ architetto anche do não constrói, nem chamar o médico
quando non costruisce, né chiamare de médico no momento em que ele não
medico il medico nel momento in cui está exercitando a sua arte. Isto é, está
non sta esercitando la sua arte. In ques- em questão o modo de ser da potência,
tione è, cioè, il modo di essere della que existe na forma da exis, da sobera-
potenza, che esiste nella forma nia sobre uma privação. Há uma forma,
della exis, della signoria su una uma presença daquilo que não é em ato,

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privazione. Vi è una forma, una presenza e essa presença privativa é a potência.


di ciò che non è in atto, e questa Como Aristóteles afirma sem reservas
presenza privativa è la potenza. Come numa passagem extraordinária da sua
Aristotele afferma senza riserve in un Física: “a steresis, a privação, é como
passo straordinario della sua Fisica: “la uma forma (eidos ti, uma espécie de
steresis, la privazione, è come una for- rosto: eidos de edenai, ver)” (193b
ma (eidos ti, una specie di viso: eidos 19-20).
da eidenai, vedere)” (193b 19-20).
DO ESCURO
DEL BUIO
Uma das figuras mais significa-
Una delle figure più significative tivas dessa presença privativa da potên-
di questa presenza privativa della cia é, no De anima, o escuro (skotos).
potenza è, nel De anima, il buio (skotos). Aristóteles trata aqui da sensação e, par-
Aristotele sta trattando qui della ticularmente, da visão (418a, 26 – 418b,
sensazione e, in particolare, della 31). Objeto da vista, ele escreve, é a cor
visione (418a, 26 – 418b, 31 ). Oggetto e mais alguma outra coisa para a qual
della vista, egli scrive, è il colore, più não temos um nome, mas que ele suge-
qualcos’ altro per cui non abbiamo un re chamar de o diáfano (diaphanes). O
nome, ma che egli suggerisce di termo aqui não se refere simplesmente
chiamare il diafano (diaphanes). Il ter- aos corpos transparentes, como o ar ou
mine non si riferisce qui semplicemente a água, mas a uma certa “natureza”
ai corpi trasparenti, come l’aria o (physis) presente neles e que constitui
l’acqua, ma a una certa “natura” (physis) aquilo que é propriamente visível em
presente in essi e che costituisce ciò che todos os corpos. Aristóteles não define
è propriamente visibile in ogni corpo. essa natureza, mas se limita a postular
Aristotele non definisce questa natura, sua existência (esti ti diaphanes, há o
ma si limita a postularne l’esistenza (esti diáfano); ele afirma, porém, que o ato
ti diaphanes, vi è il diafano); egli dessa natureza como tal é a luz e que as
afferma, però, che l’atto di questa natura trevas são a sua potência (418b, 9-10).
come tale è la luce e che la tenebra ne è E se a luz é, como ele acrescenta logo
la potenza (418b, 9-10). E se la luce è, depois, a cor do diáfano em ato
com’ egli aggiunge subito dopo, il co- (chroma... tou diaphanous otan ei
lore del diafano in atto (chroma… tou entelecheiai diaphanes), então não se-
diaphanous otan ei entelecheiai ria errado definir o escuro, que é a
diaphanes), non sarebbe allora errato steresis da luz, como a cor da potência.
definire il buio, che è la steresis della De qualquer forma, é apenas uma e a
luce, come il colore della potenza. In ogni mesma natureza que se apresenta ora
caso, è una sola e stessa natura che si como as trevas e ora como luz (e gar
presenta una volta come tenebra e una aute physis ote men skotos ote de phos
volta come luce (e gar aute physis ote estin – 418b, 31).
men skotos ote de phos estin – 418b,
(O lugar comum que sustenta que
31).
a metafísica antiga seja uma metafísica
(Il luogo comune che vuole che da luz não é, portanto, correto. Trata-
la metafisica antica sia una metafisica se, na verdade, de uma metafísica do

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della luce non è, dunque, esatto. Si tratta, diáfano, dessa physis anônima capaz
piuttosto, di una metafisca del diafano, tanto das trevas quanto da luz).
di questa physys anonima capace tanto
Algumas páginas depois, fa-
della tenebra che della luce).
lando do senso comum, Aristóteles se
Qualche pagina dopo, parlando pergunta como se dá o fato de, en-
del senso comune, Aristotele si chiede quanto vemos, sentimos que vemos
come avviene che, mentre vediamo, noi (aisthanometha oti oromen) ou, enquan-
sentiamo di vedere (aisthanometha oti to ouvimos, sentimos que ouvimos. No
oromen) o, mentre udiamo, sentiamo di que concerne à vista, isso pode aconte-
udire. Per quanto riguarda la vista, ciò cer ou porque sentimos ver com um
può avvenire o perché noi sentiamo di outro sentido ou com a própria vista. A
vedere con un altro senso o con la vista resposta de Aristóteles é a de que nós
stessa. La risposta di Aristotele è che sentimos ver com o mesmo sentido com
noi sentiamo di vedere con lo stesso o qual vemos. Isso implica, porém, uma
senso con cui vediamo. Ciò implica, aporia: “dado que sentir com a vista sig-
però, un’aporia: “poiché sentire con la nifica ver, e aquilo que se vê é a cor mais
vista significa vedere, e quel che si vede aquilo que a cor tem, então, se aquilo
è il colore più ciò che ha il colore, allora, que vemos é aqui o próprio vidente, é
se ciò che vediamo è qui il vedente preciso que o princípio do ver (to oron
stesso, è necessario che il principio del proton) seja, por sua vez, colorido. É
vedere ( to oron proton ), sia a sua volta claro, portanto, que ‘sentir com a vista’
colorato. È chiaro, dunque, che “sentire tem mais de um significado, já que mes-
con la vista” ha più di un significato, mo quando não vemos, distinguimos
poichè anche quando non vediamo, com a vista as trevas da luz. Portanto, o
distinguiamo tuttavia con la vista la princípio da visão é de algum modo
tenebra dalla luce. Dunque il principio colorido” (425b 17-25).
della visione è in qualche modo
Nessa passagem extraordinária,
colorato” (425b 17-25).
na qual o problema da potência mostra
In questo passo straordinario, in a sua relação essencial com o da auto-
cui il problema della potenza mostra la afecção, Aristóteles retoma e desenvol-
sua relazione essenziale con quello ve a pergunta inicial: “por que, na au-
dell’autoaffezione, Aristotele riprende e sência de objetos externos, não há sen-
sviluppa la domanda iniziale: “perché, sação dos próprios sentidos?”, à qual
in assenza di oggetti esterni, non c’è tinha respondido afirmando que isso
sensazione dei sensi stessi?”, a cui aveva ocorre porque a sensação é em potên-
risposto affermando che ciò è perché la cia, e não em ato. As considerações se-
sensazione è in potenza, e non in atto. guintes permitem uma melhor compre-
Le considerazioni successive perme- ensão do significado dessa resposta.
ttono di comprendere meglio il sig- Quando não vemos (quer dizer: quando
nificato di questa risposta. Quando non a nossa vista permanece em potência),
vediamo (cioè: quando la nostra vista ainda assim nós distinguimos o escuro
rimane in potenza), tuttavia noi da luz, vemos, por assim dizer, as tre-
distinguiamo il buio dalla luce, vas como cor da visão em potência. O
vediamo, per così dire, le tenebre, come princípio da visão “é, de alguma forma,
colore della visione in potenza. Il prin- colorido”, e as suas cores são o escuro

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cipio della visione “è, in qualche modo, e a luz, a potência e o ato, a privação e a
colorato”, e i suoi colori sono il buio e la presença. Isso significa que sentir ver é
luce, la potenza e l’ atto, la privazione e possível porque o princípio da visão
la presenza. Ciò significa che sentire di existe tanto como potência de ver quanto
vedere è possibile perché il principio della como potência de não-ver, e esta última
visione esiste tanto come potenza di não é uma simples ausência, mas algo
vedere che come potenza di non-vedere, existente, a exis de uma privação. A
e quest’ultima non è una semplice neurofisiologia moderna parece, neste
assenza, ma qualcosa di esistente, la exis ponto, estar de acordo com Aristóteles.
di una privazione. Quando, pela ausência de fontes lumi-
nosas ou porque estamos com os olhos
La neurofisiologia moderna
fechados, não vemos objetos externos,
sembra, su questo punto, d’accordo con
isso não significa para a retina a ausên-
Aristotele. Quando, per l’assenza di
cia de todas as atividades. O que acon-
sorgenti luminose o perchè teniamo gli
tece, ao contrário, é que a falta de luz
occhi chiusi, noi non vediamo oggetti
coloca em função uma série de células
esterni, questo non significa, per la re-
periféricas chamadas off-cells, que pro-
tina, l’assenza di ogni attività. Quel che
duzem aquela auto-afecção particular da
avviene, al contrario, è che la mancanza
retina que nós chamamos de escuro. A
di luce mette in funzione una serie di
escuridão é realmente a cor da potên-
cellule periferiche dette off-cells , che
cia, e a potência é essencialmente a dis-
producono quella particolare auto-
ponibilidade de uma steresis, potência
affezione della retina che noi chiamiamo
de não-ver.
buio. L’oscurità è veramente il colore
della potenza, e la potenza è POTÊNCIA PARA AS TREVAS
essenzialmente disponibilità di una
steresis, potenza di non-vedere. Em seu comentário ao De anima,
Temístio nota com singular perspicácia
POTENZA PER LA TENEBRA todas as implicações dessa passagem.
“Se a sensação não tivesse uma potên-
Nel suo commento al De anima,
cia tanto para o ato como para o não-
Temistio coglie con particolare acutezza
ser-em-ato, se ela fosse sempre e somen-
tutte le implicazioni di questo passo. “Se
te em ato, ela não poderia jamais distin-
la sensazione non avesse una potenza
guir o escuro (skotos) nem ouvir o si-
tanto per l’ atto che per il non-essere-
lêncio; da mesma forma, se o pensamen-
in-atto, se essa fosse sempre e soltanto
to (nous) não fosse capaz tanto do pen-
in atto, essa non potrebbe mai percepire
samento quanto do não-pensamento
il buio (skotos) né udire il silenzio; allo
(anoia), não poderia jamais conhecer o
stesso modo, se il pensiero (nous) non
sem-forma (amorphon), o mal, o sem-
fosse capace tanto del pensiero che del
figura (aneideon)… Se o pensamento
non-pensiero (anoia), non potrebbe mai
não tivesse algo em comum com a po-
conoscere il senza-forma (amorphon),
tência, não conheceria a privação
il male, il senza-figura (aneideon)… Se
(steresis)”.
il pensiero non avesse comunità con la
potenza, non conoscerebbe la privazione A grandeza – mas também a mi-
(steresis)”. séria – da potência humana está no fato

Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 18 - n. 1, p. 11-28, Jan./Jun. 2006 19


Giorgio Agamben

La grandezza – ma anche la de ela ser, também e sobretudo, potên-


miseria – della potenza umana è che cia de não passar ao ato, potência para
essa è, anche e innanzitutto, potenza di as trevas. Se se considera que skotos,
non passare all’atto, potenza per la no grego homérico, é antes de tudo as
tenebra. Se si considera che skotos, trevas que invadem o homem no mo-
nel greco omerico, è innanzitutto la mento da morte, é possível medir todas
tenebra che invade l’uomo al momento as conseqüências dessa vocação anfíbia
d e l l a da potência. A dimensão que ela desti-
morte, è possibile misurare tutte le na ao homem é o conhecimento da pri-
conseguenze di questa vocazione vação, ou seja, nada menos que a místi-
anfibia della potenza. La dimensione ca como fundamento secreto de todo o
che essa assegna all’ uomo è la conos- seu saber e de todo o seu agir (a idéia
cenza della privazione, cioè nulla di medieval de um Aristoteles mysticus
meno che la mistica come fondamento mostra, aqui, a sua pertinência). Se a
segreto di ogni suo sapere e di ogni suo potência fosse, de fato, apenas potência
agire (l’idea medievale di un Aristoteles de ver ou fazer, se ela existisse como
mysticus mostra qui la sua pertinenza). tal apenas no ato que a realiza (e uma
Se la potenza fosse, infatti, soltanto potência assim é aquela que Aristóteles
potenza di vedere o fare, se essa chama de natural e destina aos elemen-
esistesse come tale solo nell’atto che la tos e aos animais alógicos), então nun-
realizza (e una tale potenza è quella che ca poderíamos ter a experiência do es-
Aristotele chiama naturale e assegna curo e da anestesia, nunca poderíamos
agli elementi e agli animali alogici), conhecer e, portanto, dominar a steresis.
allora noi non potremmo mai fare O homem é o senhor da privação por-
esperienza dell’oscurità e dell’ anestesia, que mais que qualquer outro ser vivo
non potremmo mai conoscere e, quindi, ele está, no seu ser, destinado à potên-
dominare, la steresis. L’uomo è il cia. Mas isso significa que ele está, tam-
signore della privazione, perchè più di bém, destinado e abandonado a ela, no
ogni altro vivente egli è, nel suo essere, sentido de que todo o seu poder de agir
assegnato alla potenza. Ma ciò signifi- é constitutivamente um poder de não-
ca che egli è, anche, consegnato e agir e todo o seu conhecer; um poder de
abbandonato ad essa, nel senso che ogni não-conhecer.
suo poter agire è costitutivamente un
poter non-agire, ogni suo conoscere TODA POTÊNCIA É IMPOTÊNCIA
un poter non conoscere.
É no livro theta da Metafísica que
OGNI POTENZA È IMPOTENZA Aristóteles procurou confrontar-se
exaustivamente com as ambigüidades e
È nel libro theta della Meta- as aporias da sua teoria da potência. O
fisica che Aristotele ha cercato di momento talvez decisivo desse confron-
misurarsi nel modo più esaustivo con to está nas passagens em que ele define
le ambiguità e le aporie della sua teoria o co-pertencer constitutivo da potên-
della potenza. Il momento forse decisi- cia e da impotência. “A impotência
vo di questo confronto è nei passi in (adynamia)”, ele escreve (1046a 29-32),
cui egli definisce la costitutiva “é uma privação contrária à potência
coappartenenza di potenza e impotenza. (dynamis). Toda potência é impotência

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La potenza del pensiero/A potência do pensamento

“L’impotenza (adynamia)” egli scrive do mesmo e em relação ao mesmo (do


(1046a 29-32) “è una privazione con- qual é potência) (tou autou kai kata to
traria alla potenza (dynamis). Ogni auto pasa dynamis adynamia)”.
potenza è impotenza dello stesso e Adynamia, impotência não significa
rispetto allo stesso (di cui è potenza) (tou aqui ausência de toda potência, mas
autou kai kata to auto pasa dynamis potência de não (-passar ao ato),
adynamia)”. Adynamia, impotenza non dynamis me energein. A tese define, as-
significa qui assenza di ogni potenza, sim, a ambivalência específica de toda
ma potenza di non (-passare all’atto), potência humana, que, na sua estrutura
dynamis me energein. La tesi definisce, originária, se mantém relacionada com
cioè, l’ambivalenza specifica di ogni a própria privação, é sempre – e em re-
potenza umana, che, nella sua struttura lação à mesma coisa – potência de ser e
originaria, si mantiene in rapporto con de não ser, de fazer e de não fazer. É
la propria privazione, è sempre – e essa relação que constitui, para Aristó-
rispetto alla stessa cosa – potenza di teles, a essência da potência. O ser vivo,
essere e di non essere, di fare e di non que existe no modo da potência, pode a
fare. È questa relazione che costituisce, própria impotência, e apenas dessa for-
per Aristotele, l’essenza della potenza. ma possui a própria potência. Ele pode
Il vivente, che esiste nel modo della ser e fazer porque se mantém relacio-
potenza, può la propria impotenza, e nado ao próprio não ser e não-fazer. Na
solo in questo modo possiede la propria potência, a sensação é constitutivamente
potenza. Egli può essere e fare, perché anestesia, o pensamento não-pensamen-
si tiene in relazione col proprio non to, a obra inoperosidade. Poucas linhas
essere e non-fare. Nella potenza, la depois, Aristóteles precisa ainda mais
sensazione è costitutivamente anestesia, esse estatuto anfibólico da potência hu-
il pensiero non-pensiero, l’opera mana: “Aquilo que é potente (dynatos)
inoperosità. Poche righe dopo, Aristo- pode (endechetai) não ser em ato (me
tele precisa ulteriormente questo statuto energein). Aquilo que é potente de ser
anfibolico della potenza umana: “Ciò pode tanto ser quanto não ser. O mes-
che è potente (dynatos) può (endechetai) mo é, de fato, potente de ser e de não
non essere in atto (me energein). Ciò che ser (to auto ara dynaton kai einai kai
è potente di essere può tanto essere che me einai)” (1050b 10-). Dechomai sig-
non essere. Lo stesso è, infatti, potente nifica “acolho, recebo, admito”. Poten-
e di essere e di non essere (to auto ara te é aquilo que acolhe e deixa acontecer
dynaton kai einai kai me einai)” (1050 o não ser e esse acolher do não ser defi-
b 10- ). Dechomai significa “accolgo, ne a potência como passividade e pai-
ricevo, ammetto”. Potente è ciò che xão fundamental. E é nesse dúplice ca-
accoglie e lascia avvenire il non essere ráter da potência que, como é evidente
e questa accoglienza del non essere no próprio termo com o qual Aristó-
definisce la potenza come passività e teles expressa o contingente (to
passione fondamentale. Ed è in questo endechomenon), radica-se o problema
duplice carattere della potenza che, da contingência, da possibilidade de não
come è evidente nel termine stesso con ser.
cui Aristotele esprime il contingente (to
endechomenon), si radica il problema

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Giorgio Agamben

della contingenza, della possibilità di non Se lembramos que, na Metafísi-


essere. ca, os exemplos da potência-de-não são
quase sempre retirados do âmbito das
Se ricordiamo che, nella
técnicas e dos saberes humanos (a gra-
Metafisica, gli esempi della potenza-di-
mática, a música, a arquitetura, a medi-
non sono quasi sempre tratti dall’ambito
cina etc.), podemos então dizer que o
delle tecniche e dei saperi umani (la
homem é o ser vivo que existe em modo
grammatica, la musica, l’architettura, la
eminente na dimensão da potência, do
medicina ecc.), possiamo allora dire che
poder e do poder-não. Toda potência
l’uomo è il vivente che esiste in modo
humana é, cooriginariamente, impotên-
eminente nella dimensione della
cia; todo poder-ser ou -fazer está
potenza, del potere e del poter-non. Ogni
constitutivamente relacionado, para o
potenza umana è, cooriginariamente,
homem, com a própria privação. E essa
impotenza; ogni poter-essere o -fare è,
é a origem da incomensurabilidade da
per l’uomo, costitutivamente in rapporto
potência humana, muito mais violenta
alla propria privazione. E questa è
e eficaz que aquela dos outros seres vi-
l’origine della smisuratezza della
vos. Os outros seres vivos podem ape-
potenza umana, tanto più violenta e
nas a potência específica deles, podem
efficace rispetto a quella degli altri esseri
apenas este ou aquele comportamento
viventi. Gli altri viventi possono
inscrito na vocação biológica deles; o
soltanto la loro potenza specifica,
homem é o animal que pode a própria
possono solo questo o quel comporta-
impotência. A grandeza da sua potên-
mento iscritto nella loro vocazione
cia é medida pelo abismo da sua impo-
biologica; l’uomo è l’animale che può
tência.
la propria impotenza. La grandezza
della sua potenza è misurata dall’abisso POTÊNCIA, NÃO LIBERDADE
della sua impotenza.
Poder-se-ia sentir a tentação de
POTENZA, NON LIBERTÀ reconhecer nessa doutrina da natureza
anfibólica de toda potência o lugar no
Si potrebbe essere tentati di
qual o problema moderno da liberdade
scorgere in questa dottrina della natura
poderia encontrar o seu fundamento.
anfibolica di ogni potenza il luogo in
Isso ocorre porque a liberdade como
cui il problema moderno della libertà
problema nasce justamente do fato de
potrebbe trovare il suo fondamento.
que todo poder é também, imediatamen-
Poiché la libertà come problema nasce
te, um poder-não, toda potência tam-
proprio dal fatto che ogni potere è,
bém uma impotência. Autenticamente
immediatamente, anche un poter-non,
livre, nesse sentido, seria não quem
ogni potenza anche un’impotenza. Au-
pode simplesmente realizar esse ou
tenticamente libero, in questo senso,
aquele ato, nem simplesmente quem
sarebbe non chi può semplicemente
pode não realizá-lo, mas aquele que,
compiere questo o quell’ atto nè
mantendo-se relacionado com a priva-
semplicemente colui che può non
ção, pode a própria impotência.
compierlo, ma colui che, mantenendosi
in relazione con la privazione, può la Como, então, Aristóteles, além de
propria impotenza. não mencionar nunca nesse contexto o

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La potenza del pensiero/A potência do pensamento

Come mai, allora, non soltanto termo “liberdade”, também não evoca
Aristotele non menziona mai, in questo de nenhuma forma o problema da von-
contesto, il termine ‘libertà’, ma tade e da decisão? É evidente, como
nemmeno evoca in alcun modo il pro- Schlomo Pines mostrou com clareza,
blema della volontà e della decisione? que para um grego o conceito de liber-
Certo, come Schlomo Pines ha mostrato dade define um status e uma condição
con chiarezza, per un greco il concetto social e não, como para os modernos,
di libertà definisce uno status e una algo que possa se referir à experiência
condizione sociale e non, come per i e à vontade de um sujeito. Mas decisi-
moderni, qualcosa che possa essere vo é o fato de que, para Aristóteles, a
riferito all’esperienza e alla volontà di potência, enquanto se determina como
un soggetto. Ma decisivo è che, per exis de uma privação, como potência de
Aristotele, la potenza, in quanto si de- não-fazer e de não-ser, não pode ser
termina come exis di una privazione, destinada a um sujeito como um direito
come potenza di non-fare e di non- ou como uma propriedade. No dicioná-
essere, non può essere assegnata a un rio filosófico contido no livro delta da
soggetto come un diritto o una proprietà. Metafísica (1022b, 7-10), lê-se que se a
Nel dizionario filosofico contenuto nel exis é uma relação entre aquele que tem
libro delta della Metafisica (1022b, 7- e aquilo que é tido, então “é impossível
10), si legge che se la exis è una ter uma exis (echein exin; exis, habitus
relazione fra colui che ha e ciò che è é o deverbal de “ter”), já que se chega-
avuto, allora “è impossibile avere una ria ao infinito, se fosse possível ter o
exis (echein exin; exis, habitus è il hábito daquilo que se tem”.
deverbale di ‘avere’), poichè si andrebbe
Que a exis de uma potência não
all’infinito, se fosse possibile avere
possa ser, por sua vez, possuída, isso
l’abito di ciò che si ha”.
significa a impossibilidade de um su-
Che la exis di una potenza non jeito no sentido moderno, isto é, de uma
possa essere a sua volta posseduta, ciò consciência auto-reflexiva como centro
significa l’impossibilità di un soggetto de imputação das faculdades e dos há-
in senso moderno, cioè di una coscienza bitos. Mas isso significa também que o
autoriflessiva come centro di impu- problema da potência não tem, para um
tazione delle facoltà e degli abiti. Ma grego – e provavelmente com razão –,
ciò significa, anche, che il problema nada a ver com o problema da liberda-
della potenza non ha, per un greco – e, de de um sujeito.
probabilmente, a ragione – nulla a che
fare col problema della libertà di un NADA HAVERÁ DE IMPOTENTE
soggetto.
Chegou o momento de questio-
NULLA SARÀ DI IMPOTENTE nar mais de perto a relação entre potên-
cia e impotência, entre poder e poder-
È venuto il momento di inter- não. Como pode, de fato, uma potência
rogare più da vicino la relazione fra passar ao ato, se toda potência já é sem-
potenza e impotenza, fra il potere e il pre potência de não passar ao ato? E
poter-non. Come può, infatti, una como podemos pensar o ato da potên-
potenza passare all’atto, se ogni potenza cia-de-não? O ato da potência de tocar

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Giorgio Agamben

è già sempre potenza di non passare piano é certamente, para o pianista, a


all’atto? E come possiamo pensare l’atto execução de um trecho no piano; mas
della potenza-di-non? Poiché l’atto della qual será, para ele, o ato da sua potên-
potenza di suonare il piano è certamen- cia de não tocar? E o que acontece com
te, per il pianista, l’esecuzione di un essa potência de não tocar no momento
pezzo sul pianoforte; ma quale sarà, per em que ele começa a tocar? Assim, o
lui, l’atto della sua potenza di non ato da potência de pensar será pensar
suonare? E che cosa avviene di questa este ou aquele pensamento; mas como
potenza di non suonare nel momento in pensar o ato da potência de não-pensar?
cui egli comincia a suonare? Così l’atto Será que as duas potências são tão
della potenza di pensare sarà pensare assimétricas e heterogêneas que essas
questo o quel pensiero; ma come perguntas simplesmente não têm senti-
pensare l’atto della potenza di non- do? E, no entanto, se nas palavras de
pensare? Forse le due potenze sono così Aristóteles, “toda potência é impotên-
asimmetriche e eterogenee, che queste cia do mesmo e em relação ao mesmo”,
domande non hanno semplicemente o problema do destino da impotência na
senso? Eppure se, nelle parole di passagem ao ato não pode simplesmen-
Aristotele, “ogni potenza è impotenza te ser deixado de lado.
dello stesso e rispetto allo stesso”, il pro-
A resposta que Aristóteles dá a
blema del destino dell’impotenza nel
essas perguntas constitui, mesmo na sua
passaggio all’atto non può essere
drástica brevidade, um dos resultados
semplicemente lasciato da parte.
mais extraordinários do seu gênio filo-
La risposta che Aristotele dà a sófico; e, todavia, não foi ouvida na tra-
queste domande costituisce, pur nella dição da filosofia:
sua drastica brevità, una delle pres- Esti de dynaton touto, hoi ean
tazioni più straordinarie del suo genio yparxei he energeia hou
filosofico; e, tuttavia, essa è rimasta legetai echein ten dynamin,
senza ascolto nella tradizione della fi- ouden estai adynaton. (Met.
losofia: 1047a, p. 24-25).
Esti de dynaton touto, hoi ean É potente aquilo para o qual,
hyparxei he energeia hou se ocorre o ato do qual é dito
legetai echein ten dynamin, haver a potência, nada haverá
ouden estai adynaton . (Met. de impotente.
1047a, 24-25)
A leitura comum entende essa
È potente ciò per il quale, se frase como se Aristóteles quisesse di-
avviene l’atto di cui è detto zer: é possível, isto em relação a
avere la potenza, nulla sarà
que não há nada de impossível. Já
di impotente.
Heidegger, no seu curso sobre o livro
La lettura comune intende questa theta da Metafísica, tinha ironizado so-
frase come se Aristotele volesse dire: è bre a “vácua sutileza” dos intérpretes
possibile, ciò rispetto a cui non vi è nulla que, com um “sentimento de triunfo mal
di impossibile. Già Heidegger, nel suo dissimulado”, atribuem a Aristóteles
corso sul libro theta della Metafisica, uma semelhante tautologia. A impotên-
aveva ironizzato sulla “vacua sotti- cia, da qual se diz que no momento do

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La potenza del pensiero/A potência do pensamento

gliezza” degli interpreti che, con un ato não será nada, não pode ser, na ver-
“malcelato sentimento di trionfo” dade, senão aquela adynamia que, se-
attribuiscono ad Aristotele una simile gundo Aristóteles, pertence a toda
tautologia. L’impotenza, di cui si dice dynamis: a potência de não (ser ou fa-
che al momento dell’atto, non sarà zer). A tradução correta é, portanto: “é
nulla, non può essere, invece, che potente aquilo para o qual, se ocorre o
quell’adynamia che, secondo Aristotele, ato do qual é dito haver a potência, nada
appartiene a ogni dynamis: la potenza haverá de potente não (ser ou fazer)”.
di non (essere o fare). La traduzione Mas como entender, então: “nada ha-
corretta sarà, pertanto: “è potente ciò per verá de potente não –”? Como a potên-
il quale, se avviene l’atto di cui è detto cia pode neutralizar a impotência que
avere la potenza, nulla sarà di potente lhe co-pertence?
non (essere o fare)”. Ma come intendere,
Uma passagem do De Interpre-
allora: “nulla sarà di potente non–”?
tatione fornece algumas indicações pre-
Come può la potenza neutralizzare
ciosas. Em relação às negações dos
l’impotenza che le coappartiene?
enunciados modais, Aristóteles distin-
Un passo del De Interpretatione gue, e ao mesmo tempo relaciona, o pro-
fornisce delle indicazioni preziose. blema da potência e o da enunciação
A proposito delle negazioni degli modal. Enquanto a negação de um enun-
enunciati modali, Aristote distingue e, ciado modal deve negar o modo e não o
insieme mette in relazione, il problema dictum (por isso a negação de “possível
della potenza e quello dell’ enunciazione que seja” é “não possível que seja” e a
modale. Mentre la negazione di un negação de “possível que não seja” é
enunciato modale deve negare il modo “não possível que não seja”), no plano
e non il dictum (per cui la negazione di da potência as coisas não são diferentes
“possibile che sia” è “non possibile che e negação e afirmação não se excluem.
sia” e la negazione di “possibile che non “Já que aquilo que é potente não é sem-
sia” è “non possibibile che non sia”), pre em ato”, escreve Aristóteles, “a ne-
sul piano della potenza le cose gação também lhe pertence: de fato,
stanno diversamente e negazione e pode até não caminhar aquilo que é ca-
affermazione non si escludono. “Poiché paz de caminhar, e pode não ver aquilo
ciò che è potente non è sempre in atto” que pode ver” (21b, 14-16). Por isso,
scrive Aristotele “anche la negazione no livro theta e no De anima, a negação
gli appartiene: infatti, può anche da potência (ou melhor, a sua privação)
non camminare ciò che è capace di tem, como vimos, sempre a forma:
camminare e può non vedere ciò che “pode não” (e nunca a forma: “não
può vedere” (21b, 14-16). Per questo, pode”). “Por isso parece que as expres-
nel libro theta e nel De anima, la sões ‘possível que seja’ e ‘possível que
negazione della potenza (o, meglio, la sua não seja’ sucedem uma à outra, já que a
privazione) ha, come abbiamo visto, mesma coisa pode ser e não ser. As
sempre la forma: “può non” (e mai enunciações desse gênero não são, por-
quella: “non può”). “Sembra perciò che tanto, contraditórias. Por outro lado,
le espressioni “possibile che sia” e ‘possível que seja’ e ‘não possível
“possibile che non sia” conseguano que seja’ nunca estão juntas” (21b, 35-
l’una all’ altra, poichè la stessa cosa può 22a, 2).

Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 18 - n. 1, p. 11-28, Jan./Jun. 2006 25


Giorgio Agamben

essere e non essere. Le enunciazioni di Se chamamos de privação o es-


questo genere non sono dunque tatuto da negação na potência, como en-
contraddittorie. Invece “possibile che tender em modo privativo a dupla ne-
sia” e “non possibile che sia” non gação contida na frase: “nada haverá de
stanno mai insieme” (21b, 35-22a, 2). potente não (ser ou fazer)”? Enquanto
não contraditória em relação à potência
Se chiamiamo privazione lo
de ser, a potência de não ser não deve
statuto della negazione nella potenza,
aqui se anular simplesmente, mas, vol-
come intendere in modo privativo la
tando-se para si mesma, deverá assumir
doppia negazione contenuta nella fra-
a forma de um poder não-não ser. A ne-
se: “nulla sarà di potente non (essere o
gação privativa de “potente não ser” é
fare)”? In quanto non contraddittoria
“potente não-não ser” (e não “não po-
rispetto alla potenza di essere, la
tente de não ser”).
potenza di non essere non deve
qui semplicemente annullarsi, ma, Aquilo que Aristóteles diz na pas-
rivolgendosi a se stessa, dovrà assumere sagem em questão é, portanto, algo
la forma di un poter non-non essere. muito diferente e mais interessante do
La negazione privativa di “potente que aquilo que a leitura tautológica dos
non essere” è, cioè, “potente non-non comentadores modernos lhe faz dizer.
essere” (e non “non potente di Se uma potência de não ser pertence
non essere”). originalmente a toda potência, será ver-
dadeiramente potente apenas quem, no
Ciò che Aristotele dice nel pas-
momento da passagem ao ato, não anu-
so in questione è, allora, qualcosa di
lará simplesmente a própria potência
assai diverso e più interessante di quel
de não, nem a deixará para trás em re-
che gli fa dire la lettura tautologica dei
lação ao ato, mas fará com que ela pas-
commentatori moderni. Se una potenza
se integralmente nele como tal, isto é,
di non essere appartiene originalmente
poderá não-não passar ao ato”.
a ogni potenza, sarà veramente potente
solo chi, al momento del passaggio DOAÇÃO E SALVAÇÃO
all’atto, non annullerà semplicemente
la propria potenza di non, nè la lascerà Podemos agora responder às per-
indietro rispetto all’atto, ma la farà guntas que tínhamos feito: o que acon-
passare integralmente in esso come tale, tece com a potência de não, no momen-
potrà, cioè, non-non passare all’atto”. to em que o ato se realiza? Como pen-
sar o ato de uma potência de não – ? A
DONO E SALVEZZA interpretação que propomos obriga-nos
a pensar, de uma forma nova e não ba-
Possiamo ora rispondere alla
nal, a relação entre potência e ato. A
domande che ci eravamo posti: che ne
passagem ao ato não anula nem exaure
è della potenza di non, al momento in
a potência, mas esta se conserva no ato
cui l’atto si realizza? Come pensare
como tal e marcadamente na sua forma
l’atto di una potenza di non – ? L’
eminente de potência de não (ser ou fa-
interpretazione che proponiamo ci
zer). É o que Aristóteles diz com clare-
obbliga a pensare in modo nuovo e non
za numa passagem do De anima (417b,
banale la relazione fra potenza e atto. Il
2-16), da qual podemos agora compre-
passaggio all’ atto non annulla
ender todas as implicações decisivas.

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La potenza del pensiero/A potência do pensamento

nè esaurisce la potenza, ma questa si “Padecer (paschein) não é um


conserva nell’atto come tale e, termo simples, mas, em um certo senti-
segnatamente, nella sua forma eminen- do, significa uma certa destruição por
te di potenza di non (essere o fare). obra do contrário, em um outro, signi-
Aristotele lo dice con chiarezza in un fica na verdade a conservação (soteria)
passo del De anima (417b, 2-16), di daquilo que é em potência naquilo que
cui possiamo ora comprendere tutte le é em ato e se parece com ele, da mesma
decisive implicazioni: forma que a potência (se conserva) em
relação ao ato. De fato, aquele que pos-
“Patire (paschein) non è un ter-
sui a ciência torna-se contemplante em
mine semplice, ma, in un certo senso,
ato (theoroun) e isso não é uma altera-
significa una certa distruzione ad opera
ção (alloiusthai, tornar-se outro), visto
del contrario, in un altro significa
que há doação para si mesmo (epidosis
piuttosto la conservazione (soteria) di
eis eauto) e para o ato”.
ciò che è in potenza in ciò che è in atto
ed è simile ad esso, allo stesso modo A potência (a única potência que
che la potenza (si conserva) rispetto interessa a Aristóteles, aquela que parte
all’atto. Infatti colui che possiede la de uma exis) não passa ao ato sofrendo
scienza diventa contemplante in atto uma destruição ou uma alteração; o seu
(theoroun), e questo non è un’ alte- paschein, a sua passividade consiste, na
razione (alloiusthai, diventar altro), verdade, em uma conservação e em um
poiché vi è dono a se stesso (epidosis aperfeiçoamento de si (epidosis, literal-
eis eauto) e all’atto” mente “doação acrescida”, significa
também “acréscimo”: Willem van
La potenza (la sola potenza che
Moerbeke traduz in ipsum id additio, e
interessa Aristotele, quella a partire da
Temístio glosa teleiosis, cumprimento).
una exis) non passa all’ atto subendo una
distruzione o una alterazione; il suo Nós devemos ainda medir todas
paschein, la sua passività consiste as conseqüências dessa figura da potên-
piuttosto in una conservazione e in un cia que, doando-se a si mesma, se salva
perfezionamento di sé (epidosis, e cresce no ato. Ela obriga-nos a repen-
letteralmente “dono aggiuntivo”, sar do zero não apenas a relação entre a
significa anche “accrescimento”: potência e o ato, entre o possível e o
Guglielmo di Moerbeke traduce in real, mas também a considerar de uma
ipsum id additio, e Temistio glossa forma nova, na estética, o estatuto do
teleiosis, compimento). ato de criação e da obra, e na política, o
problema da conservação do poder
Noi dobbiamo ancora misurare
constituinte no poder constituído. Mas
tutte le conseguenze di questa figura
é toda a compreensão do ser vivo que
della potenza che, donandosi a se stessa,
deve ser revogada em questão, se é ver-
si salva e accresce nell’atto. Essa
dade que a vida deve ser pensada como
ci obbliga a ripensare da capo non
uma potência que excede incessante-
soltanto la relazione fra la potenza
mente as suas formas e as suas realiza-
e l’atto, fra il possibile e il reale, ma
ções. Talvez apenas sob essa perspecti-
anche a considerare in modo nuovo,
va podemos enfim entender a natureza
nell’estetica, lo statuto dell’atto di
do pensamento, se é verdade, como
creazione e dell’opera e, in politica,
Aristóteles não se cansa de repetir, que

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Giorgio Agamben

il problema della conservazione del é a potência que define a sua essência.


potere costituente nel potere costituito. Como ele escreve numa passagem am-
Ma è tutta la comprensione del vivente pliada do De anima (429b, 6-10):
che dev’ essere revocata in questione, Quando (o pensamento)
se è vero che la vita dev’ essere pensata tornou-se cada coisa, no
come una potenza che incessantemente sentido em que aquele que
eccede le sue forme e le sue rea- sabe é dito tal em ato (e isso
lizzazioni. E forse solo in questa acontece quando pode passar
prospettiva potremo infine capire la ao ato por si), então de
natura del pensiero, se è vero, come alguma forma ele permanece
Aristotele non si stanca di ripetere, che também em potência… e
è la potenza a definirne l’essenza. Come pode portanto pensar a si
egli scrive in un passo sommativo del mesmo.
De anima (429b, 6-10):
Aquilo que a tradição filosófica
Quando (il pensiero) è habituou-nos a considerar como o vér-
divenuto ciascuna cosa, nel tice do pensamento e, ao mesmo tem-
senso in cui colui che sa è po, como o próprio cânone da energeia
detto tale in atto (e questo e do ato puro – o pensamento do pensa-
avviene quando può passare mento – é, na verdade, a doação extre-
all’atto da sè), esso resta ma da potência a si mesma, a figura
anche allora in qualche modo completa da potência do pensamento.
in potenza… e può allora
pensare se stesso
Ciò che la tradizione filosofica ci
ha abituato a considerare come il vertice
del pensiero e, insieme, come il canone
stesso dell’ energeia e dell’atto puro –
il pensiero del pensiero – è, in verità, il
dono estremo della potenza a se stessa,
la figura compiuta della potenza del
pensiero.

NOTAS
1
Com agradecimentos a Cláudio Oliveira e Susana Scramim pela revisão da tradução.
2
Resumos e palavras-chave, em inglês e português, feitos pela Editoria da Revista.

Recebido em novembro/2005
Aceito em março/2006

28 Revista do Departamento de Psicologia - UFF, v. 18 - n. 1 p. 11-28, Jan./Jun. 2006

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