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Caro (a) aluno (a),

Disponibilizamos alguns exemplares de artigos de opinião. Três deles foram elaborados


por alunos do Colégio Militar de Brasília no ano de 2012. Os demais foram extraídos de
uma revista de grande circulação no país.

Texto 1 - A farsa da proteção adulta

Elga Tegethoff –Turma 205

Twitter, Facebook, Google +, Tumbler e Instagram, enfim, diversas redes sociais.


Não existe um meio (estratégia, formato) mais clichê de começar um texto sobre a
influência das redes sociais na educação dos jovens do que esse. A toda hora surgem
novos escritores defendendo que os pais devem dar maior proteção aos seus
adolescentes por meio do controle do acesso e das escolhas de seus adultos em
formação.

Ora, convenhamos, a imaturidade está presente em qualquer faixa etária.


Trabalhar a independência de escolhas e atitudes desde jovem proporciona que este
mesmo possa entender e ingressar na mentalidade não de um mundo “adulto”, pois
adultos nem sempre são o melhor exemplo, mas de um mundo real, bonito e feio,
bondoso e maledicente, acalentador e frio, excepcional e medíocre.

Cansa-me a afirmação de que adolescentes não têm capacidade de discernir o


certo do errado. Como adolescente, afirmo que tenho amigos da mesma faixa etária que
são bem mais inteligentes e críticos do que vários adultos, que, com seu complexo de
superioridade e sua inflexibilidade ante novas ideias, adotam concepções que não
passam de senso comum e servem para reafirmar seu ego.

Paremos, por favor, com essa superproteção juvenil, um tanto quanto prejudicial
e vamos atentar para a resolução de problemas que realmente importam. Não escutei
ninguém comentando acerca do ingresso da Venezuela no Mercosul ante uma atitude
(depois de uma manobra) covarde contra o Paraguai.

Enfim, aparentemente, são os jovens, como eu, que estão fadados a livrar o
mundo desta mentalidade conservadora e adulta.

Texto 2 - As interações sociais por meio da internet

Maurício - turma 205

Nós sempre achamos que o passado era melhor que o presente. Meus pais
dizem isso. Os pais deles diziam isso. Provavelmente, os meus bisavós também diziam.
O passado só é tão maravilhoso porque o futuro vem para quebrar nossa rotina e abrir
novos caminhos. E qual foi a maior quebra na rotina global recentemente? A internet.

A internet é a maior vilã dos mais velhos: “Na minha época, a gente brincava de
subir em árvore.” Desculpe-me, senhor, mas não existem tantas árvores para serem
escaladas hoje. Terei que me contentar com a internet; mais especificamente com as
redes sociais, o novo alvo dos conservadores guiados pela mídia.
O argumento mais usado contra as redes sociais é a desumanização do
indivíduo. Segundo essa linha de pensamento, o usuário deixa de se socializar no
mundo real para fazê-lo na internet. Mas basta uma observação rápida no mundo dos
jovens para se constatar que isso não é verdade. Os adolescentes continuam a sair com
os amigos e a praticar esportes. Claro que os casos de isolamento existem, mas são
exceções.

As redes sociais são, de fato, meios válidos de socialização. Elas derrubam


fronteiras e encorajam a afirmação da própria identidade. Por meio delas, você vai
encontrar alguém para discutir um gosto que compartilham – por mais impopular que
seja. Esses meios de comunicação organizam revoluções e plantam ideias, uma vez
que a censura é quase impossível.

Por mais controverso que seja o emprego da internet pelos jovens, não devemos
negar que nossas vidas já mudaram para sempre. Para aqueles que ainda não
entenderam a dinâmica das redes sociais, só lhes resta aceitar e procurar entender
melhor essa nova forma de interação interpessoal.

Texto 3 - Liberais? Não tenho tanta certeza

Júlia Dalete – Turma 205

Existe, desde a antiguidade, uma série de comportamentos considerados


“abomináveis” pela sociedade. No entanto, com o passar do tempo, práticas como o
homossexualismo passaram a ser aceitas pelas pessoas. Começamos, então, a nos
chamar de “liberais”. Mas eu me pergunto: será que somos mesmo tão liberais? Será
que nossos conceitos realmente mudaram?

Há alguns anos, o homossexualismo era considerado uma doença mental, e


muitos homens foram internados em manicômios por isso. Hoje em dia, não existe mais
essa concepção e os homossexuais são aceitos pela maioria das pessoas. Existe, no
entanto, uma minoria que considera essa prática algo completamente errado e
intragável. E são alguns desses que, movidos por seus próprios ideais preconceituosos,
usam a violência para com aqueles que se declaram “gays”.

Muitas dessas pessoas, quando confrontadas, dizem estar no seu direito de ter
opinião própria. Não discordo disso. Vivemos em um país livre e temos o direito de
concordar ou não com as “coisas” que presenciamos. Mas isso não nos permite agredir,
seja de qualquer forma que for, o outro. Somos todos seres humanos em primeiro lugar.

Além disso, devemos nos lembrar de que vivemos sob uma legislação, que nos
proíbe terminantemente de cometer qualquer tipo de violência com o outro. Nenhum de
nós está acima da lei e não podemos nos dar o direito de agredir, seja física, psicológica
ou emocionalmente alguém.

Por isso, temos que ter em mente que, gostando ou não, concordando ou não,
a homossexualidade existe sim e está se tornando cada vez mais comum. A violência
não é e jamais será uma opção. Até porque violência gera violência, mas também gera
sua ida à cadeia.
Texto 4 - Questão de classe

J.R. Guzzo

Uma das crenças mais resistentes do pensamento que imagina a si próprio como
o mais moderno, democrático e popular do Brasil é a lenda da inocência dos criminosos
pobres. Por essa maneira de ver as coisas, um crime não é um crime se o autor nasceu
no lado errado da vida, cresceu dentro da miséria e não conheceu os suportes básicos
de uma família regular, de uma escola capaz de tirá-lo da ignorância e do convívio com
gente de bem. De acordo com as fábulas sociais atualmente em vigência, pessoas
assim não tiveram a oportunidade de ser cidadãos decentes - e por isso ficam
dispensadas de ser cidadãos decentes. Ninguém as ajudou; ninguém lhes deu o que
faltou em sua vida. Como compensação por esse azar, devem ser autorizadas a
cometer delitos - ou, no mínimo, considera-se que não é justo responsabilizá-las pelos
atos que praticaram, por piores que sejam. Na verdade, segundo a teoria socialmente
virtuosa, não existem criminosos neste país quando se trata de roubo, latrocínio,
sequestro e outras ações de violência extrema - a menos que tenham sido cometidos
por cidadãos com patrimônio e renda superiores a determinado nível. E de quem seria,
nos demais casos, a responsabilidade? Essa é fácil: "a culpa é da sociedade".

Toda essa conversa é bem cansativa quando se sabe perfeitamente, desde que
Moisés anunciou os Dez Mandamentos, que certas práticas são um mal em si mesmas,
e ponto-final; não apareceu nas sociedades humanas, de lá para cá, nenhuma novidade
capaz de mudar esse entendimento fundamental.

Um crime não deixa de ser um crime pelo fato de ser cometido por uma pessoa
pobre, da mesma forma que ser pobre, apenas, não significa ser honesto. Mas e daí?
Em nosso pensamento penalmente correto, a ideia de que as culpas são sobretudo uma
questão de classe é verdade científica, tão indiscutível quanto a existência do ângulo
reto. Por esse tipo de ciência, um homicídio não é "matar alguém", como diz o Código
Penal brasileiro; para tanto, é preciso que o matador pertença pelo menos à classe
média. Daí para baixo, o assassinato de um ser humano é apenas um "fenômeno
social". Fim da discussão. No mais, segundo os devotos da absolvição automática para
os criminosos que dispõem de atestado de pobreza, "somos todos culpados". Nada
como as culpas coletivas para que não haja culpa alguma - e para que todos ganhem o
direito de se declarar em paz perante sua própria consciência.

Embora não faça parte dos programas de nenhum partido ou governo, esta é a
fé praticada pela maioria das nossas altas autoridades - junto com as camadas
superiores da Ordem dos Advogados do Brasil, juristas de renome e estrelas do mundo
intelectual, artístico e sociológico. A mídia, de modo geral, os acompanha. Há aliados
de peso nos salões de mais alta renda da nação, onde é de bom-tom deplorar a
"criminalização da pobreza"; é comum, quando se reúnem, haver mais seguranças do
lado de fora do que convidados do lado de dentro. A moda do momento, para todos, é
escandalizar-se com a proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos,
em caso de crimes graves. Não se trata de uma questão de ideologia, ou de moral. A
punição pela prática de crimes tem, obrigatoriamente, de começar em algum ponto, e
16 anos é uma idade tão boa quanto 18 - é impossível, na verdade, saber qual o número
ideal. Mas o tema se tornou um divisor entre o bem e o mal - sendo que o mal, claro, é
a redução, já declarada "coisa da direita selvagem".
Alega-se que o número de menores de 18 anos que praticam crimes violentos é
muito pequeno, e que a mudança não iria resolver o problema da criminalidade no Brasil.
Ambas as afirmações são verdadeiras e sem nenhuma importância. Quem está dizendo
o contrário? O objetivo da medida é punir delitos que hoje ficam legalmente sem punição
- e nada mais. Também é verdade que pessoas de 60 anos cometem poucos crimes, e
nem por isso se propõe que se tornem livres de responder por seus atos. Também é
verdade que os crimes não vão desaparecer com nenhum tipo de lei - e nem por isso
se elimina o Código Penal.

Talvez esteja na hora de pensar que existe alguma coisa profundamente errada
com a paixão pela tese de que a desigualdade social é a grande culpada pela
criminalidade no Brasil. Segundo o governo, a redução da pobreza está passando por
um avanço inédito na história; nesse caso, deveria haver uma redução proporcional no
número de crimes, não é? Mas o crime só aumenta. Ou não houve o progresso que se
diz, ou a tese está frouxa. Como fica?

REVISTA VEJA. Ed. Abril, ed. 2428, 3 de junho de 2015

Texto 5 – A vovó na janela


Cláudia de Moura Castro

Cada sociedade tem a educação que quer. A nossa é péssima, antes de tudo,
porque aceitamos passivamente que assim seja, além de não fazermos a nossa
parte em casa como pais.

Em uma pesquisa internacional sobre aprendizado de leitura, os resultados da


Coréia pareciam errados, pois eram excessivamente elevados.

Despachou-se um emissário para visitar o país e checar a aplicação. Era isso


mesmo. Mas, visitando uma escola, ele viu várias mulheres do lado de fora das janelas,
espiando para dentro das salas de aula. Eram as avós dos alunos, vigiando os netos,
para ver se estavam prestando atenção nas aulas.

A obsessão nacional que leva as avós às janelas é a principal razão para os


bons resultados da educação em países com etnias chinesas. A qualidade do ensino é
um fator de êxito, mas, antes de tudo, é uma consequência da importância fatal atribuída
pelos orientais à educação.

Foi feito um estudo sobre níveis de stress de alunos, comparando americanos


com japoneses. Verificou-se que os americanos com notas muito altas eram mais
tensos, pois não são bem-vistos pelos colegas de escolas públicas. Já os estressados
no Japão eram os estudantes com notas baixas, pela condenação dos pais e da
sociedade.

Pesquisadores americanos foram observar o funcionamento das casas de


imigrantes orientais. Verificou-se que os pais, ao voltar para casa, passam a comandar
as operações escolares. A mesa da sala transforma-se em área de estudo, à qual todos
se sentam, sob seu controle estrito. Os que sabem inglês tentam ajudar os filhos. Os
outros - e os analfabetos - apenas vigiam. Os pais não se permitem o luxo de outras
atividades e abrem mão da TV. No Japão, é comum as mães estudarem as matérias
dos filhos, para que possam ajudá-los em suas tarefas de casa.

Fala-se do milagre educacional coreano. Mas fala-se pouco do esforço das


famílias. Lá, como no Japão, os cursinhos preparatórios começam quase tão cedo
quanto a escola. Os alunos mal saem da aula e têm de mergulhar no cursinho. O que
gastam as famílias pagando professores particulares e cursinhos é o mesmo que gasta
o governo para operar todo o sistema escolar público.

Esses exemplos lançam algumas luzes sobre o sucesso dos países do Leste
Asiático em matéria de educação. Mostram que tudo começa com o desvelo da família
e com sua crença inabalável de que a educação é o segredo do sucesso. Países como
Coréia, Cingapura e Taiwan não gastam muito mais do que nós em educação. A
diferença está no empenho da família, que turbina o esforço dos filhos e força o governo
a fazer sua parte.

É curioso notar que os nipo-brasileiros são 0,5% da população de São Paulo.


Mas ocupam 15% das vagas da USP. Não obstante, seus antepassados vieram para o
Brasil praticamente analfabetos.

Muitos pais brasileiros de classe média achincalham nossa educação. Mas seu
esforço e sacrifício pessoal tendem a ser ínfimos. Quantos deixam de ver TV para
assegurar-se de que seus pimpolhos estão estudando? Quantos conversam
frequentemente com os filhos? As pesquisas mostram que tais gestos têm impacto
enorme sobre o desempenho dos filhos. Se a família é a primeira linha de educação e
apoio à escola, que lições estamos dando às famílias mais pobres?

O Ministério da Saúde da União Soviética reclamava contra o Ministério da


Educação, pois julgava que o excesso de horas de estudo depois da escola e nos fins
de semana estava comprometendo a saúde da juventude. Exatamente a mesma queixa
foi feita na Suíça.

No Brasil, uma pesquisa recente em escolas particulares de bom nível mostrou


que os alunos do último ano do ensino médio disseram dedicar apenas uma hora por
dia aos estudos - além das aulas. Outra pesquisa indicou que os jovens assistem
diariamente a quatro horas de TV. Esses são os alunos que dizem estar se preparando
para vestibulares impossíveis.

Cada sociedade tem a educação que quer. A nossa é péssima, antes de tudo,
porque aceitamos passivamente que assim seja, além de não fazer nossa parte em
casa. Não podemos culpar as famílias pobres, mas e a indiferença da classe média?
Está em boa hora para um exame de consciência. Estado, escola e professores têm sua
dose de culpa. Mas não são os únicos merecendo puxões de orelha.

REVISTA VEJA. Ed. Abril, 10 de novembro de 2004.

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