Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Paulo Sousa
Considerações finais
Referências
Capítulo 2
Panorama do food service e tendências mundiais
1 O segmento e seus nichos
2 Aspectos operacionais
3 Perspectivas de mercado
Considerações finais
Referências
Capítulo 3
Segmentação de mercado e competitividade
1 Identificação dos nichos de mercado, onde atuar e estudo do potencial de crescimento
4 Lazer e turismo
Considerações finais
Referências
Capítulo 4
Tendências no mercado de alimentação
1 Praticidade e conveniência
3 Alimentação saudável
4 Perfil do consumidor
5 Food design
Considerações finais
Referências
Capítulo 5
Modelos de negócios
1 Operação e gestão
Considerações finais
Referências
Capítulo 6
Ferramentas para o empreendedorismo: Canvas e design
thinking
1 Definição e conceitos da metodologia Canvas
2 Desenvolvimento estratégico
Considerações finais
Referências
Capítulo 7
Perfil do empreendedor e atitudes empreendedoras
1 Tipos de empreendedores, habilidades e o seu papel na criação de novos negócios
Considerações finais
Referências
Capítulo 8
Gestão empreendedora, inovação e criatividade
1 Empreendedorismo a partir da gestão da inovação
Considerações finais
Referências
Sobre o autor
Capítulo 1
História e evolução da gastronomia
Com base em uma reflexão histórica, serão discutidos temas que envolvem a gastronomia
num âmbito social e cultural para que entremos em uma abordagem mais específica sobre
empreendimentos de sucesso. Este primeiro capítulo vai além de uma perspectiva generalizada
sobre a história da gastronomia, elucidando o papel da alimentação na formação social do
homem, desde os nossos ancestrais até os dias contemporâneos. Portanto, não se pretende
elaborar uma reconstrução linear e única a respeito da gastronomia, mas apontar os momentos
históricos em que a comida e seus significados ilustraram relações de poder e dinâmicas sociais
em diferentes culturas.
Comer não é um ato solitário ou autônomo do ser humano, ao contrário, é a origem da socialização, pois, nas
formas coletivas de se obter a comida, a espécie humana desenvolveu utensílios culturais diversos, talvez até
mesmo a própria linguagem. O uso do fogo há pelo menos meio milhão de anos trouxe um novo elemento
constituidor da produção social do alimento. A comensalidade é a prática de comer junto, partilhando
(mesmo que desigualmente) a comida, sua origem é tão antiga quanto a espécie humana, pois até mesmo
espécies animais a praticam. A diferença entre a comensalidade humana e a dos animais é que atribuímos
sentidos aos atos da partilha e eles se alteram com o tempo. A comensalidade ajuda a organizar as regras da
identidade e da hierarquia social – há sociedades, por exemplo, em que as mulheres ou as crianças são
excluídas da mesa comum –, assim como ela serve para tecer redes de relações serve também para impor
limites e fronteiras, sociais, políticas, religiosas, etc. Ao longo das épocas e regiões, as diferentes culturas
humanas sempre encararam a alimentação como um ato revestido de conteúdos simbólicos cujo sentido
buscamos atualmente identificar e classificar como “políticos” ou “religiosos”. O significado desses
conteúdos não é interpretado pelas culturas que o praticam, mas sim cumprido como um preceito
inquestionável, para o qual não são necessárias explicações (CARNEIRO, 2008, p. 71-72).
Com o decorrer do tempo, a comensalidade se expressa por meio dos banquetes, exemplo
de alimentação fora do padrão doméstico da época. Esses primeiros banquetes têm a constante
característica de suntuosidade e riqueza; o anfitrião apoia-se no que tem para marcar sua posição
social diante dos seus convidados. Os temas e as motivações por trás dos banquetes variam de
acordo com a região e a época em que ocorrem. Os banquetes são muitas vezes religiosos, mas
também relacionados com épocas do ano de acordo com a produção agrícola e do processamento
de alimentos como vinho, queijo e pão. O significado atribuído ao banquete celebra a
solidariedade entre determinada classe social como aparente nas culturas mesopotâmicas,
egípcia, grega, entre outras sociedades antigas que desenvolveram seus rituais e significados
próprios por meio da comida.
Variado era o uso da mandioca na culinária indígena; e muitos dos produtos preparados outrora pelas mãos
avermelhadas da cunha preparam-nos hoje as mãos brancas, pardas, pretas e morenas da brasileira de todas as
origens e de todos os sangues. Da índia a brasileira aprendeu a fazer de mandioca uma série de delicados
quitutes: a farinha fina, de curimã, para o filho pequeno; o mingau; o mbeiu ou beiju. “Conheciam”, escreve
Couto de Magalhães dos indígenas do Brasil, “processos de fermentação pelos quais preparavam excelentes
conservas alimentares e próprias para estômagos enfraquecidos; entre outros, citarei os bolos de carimã, com
os quais quase todos nós fomos alimentados durante o período da nossa infância (FREYRE, 1998, p. 67).
A adoção dessas ferramentas, isolada ou conjuntamente, foi a base para a grande mudança no padrão de
produção agrícola, a chamada Revolução Verde. A partir da Segunda Guerra Mundial, as inovações
cumpriram com os seus objetivos: proporcionaram um expressivo aumento da oferta de alimentos e criaram a
cultura da busca continuada por novos indutores da produção, com a premissa fundamental da preservação do
ativo terra (...) No Brasil, a relativa disponibilidade de terras retardou os efeitos locais da Revolução Verde
(BRASIL FOOD TRENDS 2020, 2010, p. 14).
2 A globalização da gastronomia e os hábitos de
consumo no Brasil e no mundo
A partir do período das grandes navegações, produtos estrangeiros passam a ser
incorporados na cultura alimentar e nos hábitos cotidianos dos europeus. Isso pode ilustrar o que
seria o início de uma globalização alimentar: alimentos como a batata, o tomate e as especiarias
introduzidas na alimentação e no cotidiano, como canela e ópio, foram levados para a Europa e
incorporados em sua cultura. As frutas brasileiras, por exemplo, demoraram muito mais para
serem reconhecidas e incorporadas no paladar global (como aconteceu com o consumo do açaí e
da pitaia).
No século XXI, temos um desafio que encontra um apoio: além da globalização dos
alimentos, agora há também a alta difusão da informação e dos costumes. A internet e a difusão
das redes sociais trazem maior ansiedade para o público buscar novas experiências, novos
sabores e entrar em contato com o que ocorre no mundo além do que vemos por perto. Para o
empresário do ramo da gastronomia, isso é vantajoso. Não mais precisamos nos prender ao
comum, ao sempre aceitável. Inovações não só são bem-vindas, como são estratégias de
mercado. São opções que podemos trazer destarte para um negócio.
NA PRÁTICA
Aberto há pouco mais de um ano na cidade de São Paulo, o bar Negroni surgiu em resposta ao recente
crescimento do consumo de coquetéis na cidade e à tradição paulistana de consumir pizza, e uniu ambos em uma
proposta contemporânea.
A era da informação difundiu as diferentes opções alimentares. Por uma foto ou um artigo
de revista, muitas vezes até propagandas, o comensal é motivado a experimentar produtos com
os quais não se vê familiarizado ou mesmo nem considerou como alimento. A curiosidade e a
facilidade de acesso a produtos importados permitem que alimentos diferentes sejam consumidos
no cotidiano. A globalização do alimento, que é apoiada também na prévia globalização dos
ingredientes, já explicada anteriormente, é em si uma oportunidade nova de mercado. Trazer a
variação para o cardápio, seja de maneira explícita, como em cardápios focados em culinária
oriental ampla (japonesa, chinesa, indiana), ou implícita, como os que utilizam técnicas e
ingredientes diferentes para criar uma variedade de produtos com característica própria, é uma
saída para o empreendedor.
Um outro exemplo de sucesso é o rodízio de comida japonesa, que, até então, era de difícil
acesso aos brasileiros, devido ao alto custo e ao sabor diferenciado. A comida tradicional
japonesa surgiu no Brasil há tempos, quando os imigrantes desse país conseguiram se apropriar
de uma área urbana paulistana, o bairro da Liberdade. Assim, conseguiram trazer produtos
importados e cultivar produtos de origem nipônica no cinturão verde da cidade. Porém, somente
na década de 1990 a culinária japonesa invade o horizonte gastronômico brasileiro, começando
por São Paulo e pelo estado do Paraná. Como é um tipo de comida servida em pequenas porções
e com grande variedade, em 1990 o restaurante Mariko, no Rio de Janeiro, adotou a prática do
rodízio, tendo aceitação imediata.
Mundialmente, a virada do século foi recebida com uma oferta de produtos de qualidade
superior e a busca pelos alimentos gourmets cresceu, permitindo uma oferta maior de produtos
com alto valor agregado. O cenário brasileiro, então, recebeu essa iniciativa de diversas
maneiras, aprimorando seus produtos. Começou-se a utilizar produtos de qualidade, matéria-
prima mais cara, criando uma preocupação com sustentabilidade e produtos orgânicos e naturais,
o que foi viável economicamente e socialmente abriu uma porta para um novo ramo da
agricultura, que até então era inexpressivo.
No entanto, esse processo não se restringiu a oferecer produtos de qualidade e preço
superior, mas abriu a mente do comensal brasileiro; não só produtos de maior qualidade ou
elevado cuidado de preparo se difundiram como também teve início o consumo de produtos
diferenciados. Começamos a comer novos tipos de carne, cortes a que não estávamos
acostumados; além disso, abriu-se espaço para uma pizza mais tradicional, mais parecida com a
servida na Itália. Ainda, as antigas cantinas italianas deram lugar a restaurantes modernos e a
produtos variados.
Agora com foco no alimento como um costume, devemos lembrar que a sociedade
brasileira, apesar de bastante influenciada pela cultura italiana, tem em sua base o arroz e feijão,
a carne e o acompanhamento. O empresário do ramo deve sempre ter isso em mente: será difícil
agradar e atrair a maioria dos brasileiros sem oferecer essas combinações. Já com uma
mentalidade atual, há uma forte campanha midiática para o incentivo e a formação de novos
hábitos. Empreendimentos baseados em uma nova maneira de comer estão surgindo em larga
escala no país (pizza no almoço, prato executivo de comida japonesa, restaurantes com bufê
inaugurando unidades à la carte, entre outros), mostrando essa tendência.
3 Inovação e perspectivas futuras
A capacidade de explorar e transitar dentro do meio gastronômico reside no fato de que a
alimentação é, ao mesmo tempo, um hábito difícil de mudar e uma fonte de cansaço e mesmice.
Por mais que queiramos manter nossos hábitos, não buscamos sempre as mesmas coisas.
Andamos em uma corda bamba, podendo cair para o lado do desconhecido ou do que é
conhecido demais.
Hoje temos como tendência mundial o cuidado do corpo como cuidado de si, o que reflete
em uma maior atenção ao que se come e a como se come. A questão alimentar na Grécia Antiga
envolvia mais do que o ato de comer: ela se relacionava com a dieta, a saúde, o exercício, a
higiene e era um meio de prevenir e curar doenças em busca do equilíbrio. Para Sócrates, a
política deve promover a felicidade; ser feliz é ter domínio de si mesmo, ser autônomo, racional,
a política se concebe como técnica relacionada à alma. Na linha desse pensamento grego, temos
como tendência uma maior preocupação com a alimentação em relação à esfera política da vida
das pessoas, como um comprometimento com a realidade e uma maior preocupação com a saúde
e a sustentabilidade.
Para as indústrias atentas aos movimentos do mercado, as tendências como “sensorialidade e prazer”,
“saudabilidade e bem-estar”, “conveniência e praticidade”, “confiabilidade e qualidade”, “sustentabilidade e
ética” já fazem parte dos seus produtos, por meio de atributos que ofereçam um diferencial de
competitividade presente nos processos produtivos, nos ingredientes e nas embalagens. Estes, influenciados
pelos diferentes objetivos e tecnologias existentes, além de determinarem fortemente a competitividade do
negócio, hoje também são capazes de, por conta própria, potencializar as vendas por proporcionarem
diferenciais relevantes às marcas e produtos (BRASIL FOOD TRENDS 2020, 2010, p. 14).
MORIN, Edgar. O caçado sabendo caçar. In: O enigma do homem: para uma nova
antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
PROJETO BRASIL FOOD TRENDS 2020. Brasil Food Trends 2020. São Paulo: Fiesp Ital,
2010.
RIBEIRO, Carlos Manoel A.; PAOLUCCI, Luciana. Gastronomia, interação cultural e turismo:
estudo sobre a dispersão da culinária nipônica na cidade de São Paulo – 100 anos da imigração
japonesa no Brasil. In: IV SeminTUR – Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL.
Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2006.
Capítulo 2
Panorama do food service e tendências
mundiais
Como visto no capítulo anterior, o mercado de alimentos e bebidas é guiado por diferentes
diretrizes. Os costumes na alimentação são um resultado da época em que vivemos somada a
diferentes fatores, como a situação econômica e social do país onde o alimento é consumido, o
ambiente de produção, os hábitos familiares e religiosos da sociedade. A alimentação permeia
uma série de atividades humanas desde a educação infantil, com as merendas e lanchonetes,
eventos familiares, comemorações, até o âmbito profissional, com a alimentação em grandes
eventos. Notamos, assim, que o mercado na área abrange outros aspectos além de simplesmente
vender comida em um restaurante.
São muitos outros estudos que geram os conceitos de base para essas ideias e, muitos deles, – consagrados
intensamente pelos estudiosos –, concentram-se na identificação das chamadas “vantagens competitivas” que
podem se conseguidas e exercidas pelo setor produtivo, por pessoas ou países. Aqueles que coletaram e
puderam concertar um maior número dessas vantagens, operando com eficiência e qualidade em nichos de
oportunidade e de mercado identificados, chegaram a conquistar uma boa parcela de sonhados e perseguidos
sucessos (SILVA, 2007, p. 12).
1.6 Restaurantes
É o nicho de mercado que carrega um número maior de especificidades. Eles podem variar
em preço, estilo, função social, horários e tipos de alimento. É o modelo de negócio mais geral e
de difícil abordagem. O empreendedor que decide por esse mercado livre e abrangente deve se
atentar a uma série de aspectos que aparecem muitas vezes de maneiras indiretas e mais difíceis
de identificar.
NA PRÁTICA
A Affari é uma empresa especializada em consultoria e treinamento de funcionários em diversas áreas. Focando-
se em comunicação direta e planejamento profissional, ela se responsabiliza por todo o processo de
desenvolvimento de recursos humanos de uma empresa.
2 Aspectos operacionais
O funcionamento do mercado se encontra envolvido em uma série de processos, alguns
específicos da área, outros gerais. Esses processos englobam questões financeiras, contábeis e
gerenciais. A operação desse segmento é geral, complexa e com diferentes especialidades dentro
de um mesmo empreendimento. Dessa maneira, navega-se entre questões de especificidade
técnica e objetivas e questões humanas e subjetivas.
A maioria das organizações apresenta itens que são uma mistura de produtos e serviços – por exemplo, um
restaurante oferece um produto (comida) e um serviço (atendimento à mesa). O termo gestão de operações foi
criado para denotar as habilidades e técnicas desenvolvidas em setores de fabricação e serviços no intuito de
auxiliar no apoio à transferência de melhores práticas. Em uma era globalizada de produção e concorrência
em massa, é, frequentemente, o elemento serviço, em qualquer transação, que confere a vantagem
competitiva essencial às operações de fornecimento. O estudo de caso, ao final deste capítulo, mostra como a
produção de um livro é apenas parte da operação que envolve sua publicação e a consequente
disponibilização ao cliente. Logo, a inovação dentro da função operacional é fundamental para atingir os
objetivos estratégicos da organização (TROTT, 2012, p. 114).
Quando pensamos nas questões técnicas, algumas são aplicáveis em todo e qualquer
segmento de A&B. A seguir, apresentamos e comentamos alguns exemplos.
2.1 Matéria-prima
Consideramos matéria-prima em alimentação produtos de origem agropecuária e derivados.
Nesse caso, contamos com aspectos técnicos gerais e específicos.
2.2 Alimento
Como alimento, consideramos o produto a ser consumido em si. Seja o consumidor cliente
ou o consumidor comensal, o alimento deve agradar a quem o consome. A viabilidade de um
empreendimento na área de alimentos depende diretamente do prazer oferecido com a
experiência, e a qualidade do alimento em si é um dos pontos importantes a serem considerados.
A questões técnicas aqui são inúmeras, mas podem ser resumidas em dois grandes grupos:
transformar e combinar matéria-prima. Portanto, além da questão técnica, devemos considerar
que, independentemente da produção do alimento, há o consumo. Não adianta atentar-se somente
ao aspecto técnico ou ao resultado final. O conhecimento das técnicas aprimora o controle,
porém o que atinge o comensal será somente o resultado disso. Novamente, aqui, dependemos de
uma relação próxima e efetiva entre o profissional da área e sua matéria-prima, além de
conhecimentos sobre como transformá-la, levando em consideração o resultado apresentado ao
consumidor.
NA PRÁTICA
Na Itália dos anos 1980 ocorreu um escândalo decorrente da mistura do vinho com etanol. Tal fato acabou
demonstrando a estreita relação entre a produção de alimentos, a economia do país e o estilo de vida das pessoas.
Ou seja, a enologia não estava apenas conectada com o setor econômico, mas também estritamente relacionada
com a vida das pessoas, principalmente as de classe social baixa, que produziam os vinhos: “gente que cultivava
e transformava, era também a vida dos territórios, a sua fertilidade, o seu tecido social, a sua cultura e o seu
ecossistema” (PETRINI, 2015, p. 16). Segundo Carlo Petrini, a partir desse momento houve uma mudança de
concepção em relação à produção, à responsabilidade social e à concepção do empreendedor sobre o próprio
negócio:
Naquele contexto histórico, repentinamente parecia que nossas degustações, que no início
nos eram revolucionárias pelo modo como nos auxiliavam a despertar os sentidos, assumiram
quase os tons do absurdo. Para que servia examinar os detalhes de uma impressão, um
perfume, uma cor no copo, se nesse meio tempo explodia o vínculo com o território, com a
existência real das pessoas? Se tudo podia ser poluído, adulterado, desnaturado? (PETRINI,
2015, p. 16).
Por meio desse escândalo do vinho, Petrini demonstra exatamente isso: um público
preocupado com o aspecto estético do alimento e empreendedores, com o viés econômico. A
partir de acontecimentos como esse, a gastronomia passa a conquistar um território para se
firmar como ciência e técnica:
Muitos anos depois, tornou-se urgente reformular essa ciência, para que se tornasse holística,
interdisciplinar, em condições de abraçar todo o saber, mas também o ser que está por trás de
cada alimento. Não só gosto, porque era inconcebível limitar-se a experimentar, diante do
drama dos vinhateiros obrigados a se ajoelhar pelo escândalo do metanol. Não só economia,
porque pensar a gastronomia unicamente do ponto de vista dos negócios é estritamente
funcional e equivale a se enganar, exatamente como inebriar-se com o aroma de frutos
silvestres de um buquê do Sauvignon, cujo cheiro remete tipicamente a urina de gato.
(PETRINI, 2015, p. 18)
Atualmente, existem faculdades e cursos de gastronomia que oferecem um olhar tanto técnico como criativo para
a produção de alimentos. O profissional que tem essa formação pode auxiliar na organização de estoque, compras
e contas, não necessariamente sendo essencial para o processo criativo e de desenvolvimento de produtos. O
cuidado e a produção de alimentos deve envolver profissionais com diferentes capacidades e funções. Algo que o
empreendedor deve ter em mente no processo de recrutamento.
2.3 Pesquisa
A pesquisa é outro fator indispensável para a manutenção de um empreendimento
duradouro. É importante estar sempre atento a novas tendências de mercado e diferentes
características dos consumidores. De acordo com Donald Cooper, no livro Métodos de pesquisa
em administração, em relação à pesquisa e às táticas em restaurantes:
A pesquisa em administração também pode ser usada para ajudar um gestor a decidir qual das diversas táticas
tem maior probabilidade de realizar a estratégia desejada com sucesso. No exemplo anterior, o gerente do
restaurante pode ter alterado o cardápio (tática de marketing) para incluir entradas que poderiam ser
preparadas com maior rapidez (tática operacional) e servidas em menos tempo. O gerente também poderia ter
instituído um novo programa de treinamento (tática de RH) para implementar uma nova estrutura de
atendimento de mesas por zona (tática operacional), juntamente com um novo programa de incentivo de
vendas (tática de RH) que desencorajasse a equipe de garçons a jogar conversa fora com os fregueses e
recompensasse o trabalho em equipe e a eficiência. Todos os exemplos anteriores demonstram os propósitos
da pesquisa em administração: Identificar e definir oportunidades e problemas. Definir, monitorar e refinar
estratégias. Definir, monitorar e refinar táticas. Melhorar nosso entendimento acerca dos vários campos da
administração (COOPER, 2016, p. 10).
2.4 O humano
Outro aspecto que permeia todo o segmento A&B é o fator humano. Como já abordado,
esse fator é um dos que mais podem trazer complexidades para um empreendimento. Lidamos
com um aspecto íntimo do comensal que é a fonte de prazer. Quando, por exemplo, abrimos um
restaurante, devemos considerar todos os modos de atingir as individualidades, como o ambiente,
a música, a localidade, as opções do cardápio, o atendimento, entre muitas outras. Assim, o
cliente que não vai necessariamente consumir o alimento também deve ser considerado. O
cuidado com esse fator, em negócios de alimentação, deve ser aplicado na gestão operacional da
equipe.
A divisão entre palavras e ações persiste no local de trabalho, onde os grupos resolvem problemas falando –
ou “planejando” – até que concordem com relação ao que acham ser a melhor resposta; só depois agem. As
crianças não fazem reunião na escola; elas descobrem a sua existência quando ficam adultas, no trabalho (...)
[sobre uma dinâmica em equipe proposta em uma experiência] todas as crianças que fazem parte da equipe
constroem e experimentam, comparam resultados, aprendem umas com as outras e criam em comunidade
assim que o relógio começa a marcar o tempo. Não discutem antecipadamente. Só vão adiante. Todos os
adultos numa equipe não fazem nada nos primeiros minutos, porque, em vez disso, estão falando; e a maioria
deles não faz nada além de olhar – ou “administrar” – outra pessoa (ASHTON, 2016, p. 214).
3 Perspectivas de mercado
Como citado anteriormente, as oportunidades e as ameaças dentro do ramo da alimentação
se misturam. Dessa forma, o que ameaça um negócio, quando detectado previamente, pode
originar uma oportunidade. Por exemplo, as pizzarias podem ser prejudicadas pela diminuição do
consumo de produtos com glúten, mas também surge a oportunidade de atender a demanda de
produtos sem glúten e, assim, destacar-se para esse público específico.
Há uma variação contínua no quanto um alimento pode ser sau-dável. Enxergando dessa
maneira, é possível atingir aos poucos um acordo entre o saudável, o saboroso e o
economicamente viável. É assim que adversidades podem se tornar oportunidades.
Bons exemplos disso são histórias contadas por Carlo Petrini no livro Comida e liberdade:
slow food – histórias de gastronomia para a libertação. No início do livro, o autor descreve
como surgiu a Arcigola, movimento anos depois denominado slow food. Petrini descreve, por
meio de suas experiências nos Estados Unidos, a maneira que ameaças ao mercado se
desenvolveram como tendências bem aproveitadas:
Tive a oportunidade de descobrir fenômenos emergentes que já se tornaram tendências reais norte-americanas
e internacionais; de pensar sobre a relação entre comércio e identidade, e de entender como, para cada
tendência negativa que surgir, sempre ocorre algo contrário que está perfeitamente em condições de subverter
a ordem aparente das coisas. É chocante o quanto aquela sociedade pode mudar rapidamente, quanto se
percebe que a pátria do fast food e da agricultura industrial, aquela que nos “presenteou” com tantos daqueles
elementos que tornaram o sistema mundial do alimento o grave problema que é hoje (organismos
geneticamente modificados – OGM, híbridos comerciais, DDT, pesticidas como a conversão da produção de
armas, etc.), seja ao mesmo tempo a terra em que o conceito de tradição e de biodiversidade se desenvolvem
com maior velocidade, em formas muito criativas que sabem doar uma perspectiva totalmente diferente ao
eurocêntrico que se alberga dentro de cada nativo do Velho Continente. (PETRINI, 2015, p. 101)
Outro exemplo é o bom aproveitamento da difusão de informação por meio de redes sociais.
Podemos saber o que é consumido ao redor do mundo, como se diferencia e se assemelha com o
que nos é de costume. O comensal está mais curioso e aberto a novas experiências. O diferencial
é uma oportunidade importante no cenário atual e tem várias nuanças. Por exemplo, podem-se
mudar:
Técnicas, que o comensal nem mesmo perceberá conscientemente, mas seu paladar vai
aceitar melhor.
Difícil encontrar uma cerveja diferente das duas ou três grandes marcas industriais principais, impossível
comer um queijo que não trouxesse o gosto do plástico em que estava embalado; as hortaliças geralmente,
sobretudo nas grandes cidades, não tinham gosto, eram seriais como um parafuso poderia ser. (PETRINI,
2015, p. 101)
Entretanto, a coisa que mais me surpreendeu naquela viagem foi conhecer a nascente diversidade das
microcervejarias e das cervejas locais, que julguei exemplares. Garrett era mestre cervejeiro desde a fundação
da Brooklyn Brewery havia onze anos, uma marca quase impossível de não ser encontrada em Nova York,
presente em quase todos os bares e restaurantes. Na época, essa cervejaria ainda não era tão poderosa, tinha
dimensões médias e conservava muitas características do verdadeiro artesanato. Ao contrário, hoje é muito
grande e seus produtos são distribuídos de forma capilar, se bem que não seja quase nada em comparação
àquelas duas ou três marcas industriais de que eu me lembrava como as únicas cervejas disponíveis nos
Estados Unidos (PETRINI, 2015, p. 103).
Com isso, percebe-se que o olhar fixo em algum aspecto do ramo gastronômico pode
parecer suficiente, mas também pode ser um equívoco. Um empreendimento deve sempre
considerar as diferentes nuanças para se posicionar e, consequentemente, manter-se no mercado.
Renovar e buscar profissionais qualificados e diferenciados é um ponto crucial. Abrir os olhos
para o mundo ao redor e entender o consumidor como parte da sociedade pode ajudar a perceber
potenciais comerciais que não são tão claros e tampouco óbvios. A polivalência do mercado de
alimentos deve ser aproveitada no sentido de criar oportunidades de produção e consumo, para
que se adéquem a uma sociedade consumidora e obtenham sucesso.
Referências
ASHTON, Kevin. A história secreta da criatividade. São Paulo: Sextante, 2016.
PETRINI, Carlo. Gastronomia libertada e libertar a diversidade. In: Comida e liberdade: slow
food – histórias de gastronomia para a libertação. 2. ed. São Paulo: Editora Senac, 2015.
Em relação à falta de planejamento formal, há pesquisas recentes realizadas internacionalmente que mostram
que o planejamento inicial do negócio dificilmente reflete o que a empresa realmente será nos próximos
meses ou anos. Esses empreendedores que não fizeram um planejamento detalhado aparentemente se
encaixam nessa categoria e passam a aperfeiçoar seu planejamento com o tempo, de acordo com a
necessidade. Na verdade, mais importante que um plano de negócios completo no início é ter a consciência
de que esse plano de negócio deverá ser atualizado com muita frequência e que não deve ser considerado uma
receita pronta e acabada. O empreendedor experiente e conhecedor das dificuldades de se gerenciar um
negócio próprio acaba por equilibrar a necessidade do planejamento formal com a de fazer sua empresa
crescer rapidamente e encontrar um equilíbrio entre o ótimo e o bom ou necessário (DORNELAS, 2007, p.
43).
Começamos fazendo a relação sobre a região e a estrutura onde o negócio acontecerá. Esses
são fatores importantes, pois o local de um comércio gastronômico normalmente dita seu
público-alvo e a estrutura física que vai limitar a oferta, em quantidade e tipo de alimento.
Determinando o que e onde vender, passamos a entender para quem vamos vender, o poder
aquisitivo desse consumidor, seu grupo social, horários e dias de funcionamento do negócio.
Tudo isso depende do nosso público-alvo, e todos esses itens alterarão, por exemplo, o preço
praticado. Podemos pensar em um lugar que funcione em um bairro comercial e que sirva
somente almoço, pois durante a noite os consumidores estão em suas casas, em bairros
residenciais.
Não adianta levar em conta somente demanda e oferta quando decidimos empreender, pois
independentemente delas, devemos ser competitivos. Algumas estratégias se aplicam nesses
casos e alguns conceitos devem ser considerados.
A chave está na vantagem competitiva de que goza uma determinada empresa e em sua capacidade de
sustentar tal vantagem. Os bons gestores sabem que estão em uma luta competitiva pela sobrevivência e pela
vitória. Para sobreviver e vencer é preciso conquistar vantagem sobre os competidores e lucrar. Conquista-se
essa vantagem competitiva superando os concorrentes na realização de coisas de valor para os clientes. Mas o
que isso quer dizer? Para obter êxito, os gestores precisam fornecer os vetores fundamentais do sucesso:
inovação, qualidade, serviço, velocidade e competitividade em custo (BATEMAN; SNELL, 2012, p. 9).
Nesse sentido, um segundo instrumento para a tomada de decisões relevantes em colegiado é a reunião geral
de associados, conhecida também como assembleia da rede. Nela, os representantes de todas as empresas são
convocados para discutir e deliberar sobre o andamento das ações referentes aos objetivos que a rede almeja
alcançar. A reunião geral de associados tem outras funções. Ela monitora a implementação das estratégias e a
consecução dos objetivos, por meio da avaliação comparativa entre os indicadores e os resultados alcançados
pela rede. É importante que essas decisões sejam tomadas com a participação dos associados, pois só assim a
rede de cooperação exercerá efetivamente seu maior diferencial competitivo: a capacidade e a sinergia do
grupo na busca de objetivos comuns. Além do mais, as decisões tomadas em assembleia devem ser assumidas
por todas as empresas envolvidas, ainda que ausentes ou discordantes, prezando pela busca constante do
consenso e evitando votações que desunam o grupo de associados (BALESTRIN; VERSCHOORE, 2016).
3 Áreas de atuação e características do mercado
O mercado gastronômico se transforma constantemente, diferentes inovações descobrem
novos nichos e alteram suas características e possibilidades. Dessa maneira, surgem novas
opções e tendências, como a alimentação itinerante, ou opções exclusivas.
Inovação é a introdução de novos bens e serviços no mercado. Sua empresa precisa adaptar‐se a mudanças
das demandas dos consumidores e a novos competidores. Os produtos não vendem para sempre; aliás,
justamente porque tantos competidores introduzem novos produtos o tempo todo, já não vendem mais por
tanto tempo quanto antes. (...) A inovação é o Santo Graal de nossos dias. E, assim como outras fontes de
vantagem competitiva, ela vem das pessoas, deve ser uma meta estratégica e precisa ser corretamente gerida.
(BATEMAN; SNELL, 2012, p. 9).
NA PRÁTICA
As paletas mexicanas surgiram repentinamente e se difundiram pela cidade de São Paulo, porém, em menos de
dois anos, quase não víamos mais lojas com esse tipo de produto. O que fica evidente aqui é a diferença entre
tendência e modismo. Este último tem duração mais curta e não evidencia um comportamento de consumo.
Para o cliente, a casual food oferece uma opção de alimentação segura no cuidado com o
alimento, na qualidade de matéria-prima e na elaboração do produto, além de manter o padrão
rápido de serviço.
A excelência também se aprimora quando as empresas ajustam bens e serviços aos desejos de um consumidor
individual. As opções da Starbucks dão aos consumidores literalmente milhares de variações de bebidas: com
ou sem cafeína, com leite desnatado ou de soja, doses de expressos e uma variedade de xaropes aromatizados.
Os compradores de carros podem usar a internet para optar entre centenas de características para “fazer o
próprio” Mini Cooper, indo até a cor da luz do velocímetro. E, por um preço especial, os amantes de doces
podem eles mesmos criar as mensagens de seus confeitos M&M’s (BATEMAN; SNELL, 2012, p. 9).
Sobre esse ramo, é interessante perceber a lucratividade que elas apresentam aqui no Brasil.
Ao entrar no nosso mercado, eles focaram no público que pode pagar mais caro. Em outros
países, a margem de lucro é significantemente menor. Isso fica claro quando vemos que, de
acordo com o semanário Meio & mensagem, no caso do Outback, nove das dez unidades mais
lucrativas do mundo estão no Brasil.
Atualmente, esse segmento está bastante ocupado, porém sempre existe espaço para novos
empreendimentos se sua proposta for coerente, inovadora e embasada em percepções e pesquisas
de mercado.
Preço baixos.
3.3 Gelaterias
Pensar em sorveteria no Brasil é pensar em sorvete por quilo, com uma série de coberturas e
confeitos, na casquinha. Víamos esse tipo de sorvete dentro de clubes, em lojas de rua,
shoppings, padarias, escolas, entre outros locais. No início do século, o gelato italiano começou
a ser expressivo em São Paulo, tendência que foi acompanhada nas diferentes regiões do país,
principalmente nas capitais, primeiro aparecendo com algumas marcas exclusivas e, em seguida,
com o desenvolvimento de redes de franquias, sejam elas regionais ou mais amplas.
Hoje em dia, o consumo desse produto é maior que sua modalidade antiga. Lojas enchem
aos domingos, fecham tarde, abrem cedo e se mostram lucrativas. Apesar de seguirem o mesmo
padrão, apresentam uma série de diferenciais competitivos, como casquinhas feitas na hora,
sabores da estação, preços promocionais, entre outros.
Filiar-se a uma rede de franqueados parece ser a melhor opção nesse caso: o sorvete torna-
se competitivo e de qualidade. Pouco é feito em marketing, a divulgação é boca a boca e, para
isso, o produto deve ser de alto padrão, garantindo a fidelização do cliente. Na entrevista
publicada em junho de 2017 na revista Pequenas empresas & grandes negócios, Eduardo
Weisberg, empreendedor na área de sorvetes, aponta para as tendências e as marcas inovadoras
no Brasil:
Continuam sendo os sorvetes premium aqueles diferenciados. Sorvete com foco funcional, por exemplo, é
uma tendência mundial. Trabalhar com frutas do Brasil também é uma ótima oportunidade. Há uma grande
diversificação no mercado. As sorveterias e gelaterias vão muito atrás do lançamento de novos produtos. Nós
estamos cada vez mais recuperar melhor esses lançamentos. Quanto ao negócio, já tivemos um nicho das
iogurterias, das paleterias... Não tem como definir. As gelaterias, por exemplo, são uma tendência, mas que
vão continuar em alta. O brasileiro começou a gostar do gelato e entender que a qualidade do produto é
fundamental. (...) Hoje em dia, o pessoal que está fazendo coisas diferentes dos outros já estão inovando A
tendência é ser diferente. Se você vai em um supermercado, todos os sorvetes são similares. Se diferencia
aquele que faz um produto de altíssima qualidade, produtos distintos ou algum nicho específico. Tem a
Whaka Whaka, com um sorvete à base de água, a Diletto, com um produto mais premium, a Rochinha, com
as frutas. Depende da empresa e de seu foco. Cada um tem que sobressair de uma forma, nosso maior produto
é satisfazer o cliente (DUARTE, 2017).
4 Lazer e turismo
Está se percebendo no mercado uma diferente forma de consumo. Eventos em torno de
alimentos e bebidas surgiram e estão se difundindo pelo mundo inteiro. Esses eventos vão de
simples feiras até grandes realizações, com participação de diferentes empresas do ramo e tendo
como alvo tanto profissionais do ramo como consumidores leigos.
O turismo também se beneficia, uma vez que existem diversas regiões especializadas em
algum produto de consumo, como vinhos, queijos, carnes, pães e outros. Existem estratégias de
movimentação de turistas com base nessas capacidades. Sobre o turismo gastronômico no Brasil,
Marina Rossi Ferreira aponta:
Durante toda a história, o território brasileiro foi palco do encontro entre diversas culturas, da população
nativa indígena às diferentes correntes imigratórias que chegaram ao nosso país. A gastronomia brasileira é
fruto do conjunto da diversidade dessas heranças históricas influenciada por nossa ancestralidade indígena,
africana, portuguesa e de outros fluxos imigratórios, além das variações regionais, influenciadas também
pelas diferenças de clima e geografia. No Brasil, com o fluxo migratório, culturas foram se misturando e
alterando a cultura e a gastronomia, processo que dura até hoje (FERREIRA, 2016, p. 95).
NA PRÁTICA
Apesar de não ser muito reconhecida, existe uma região do estado de São Paulo especializada em vinhos. As
cidade de Vinhedo, Jundiaí e Jaú se uniram e desenvolveram a rota do vinho, com eventos, jantares e, claro,
venda da bebida.
Há também grandes feiras de produtos e tecnologia voltados para a gastronomia, que trazem
para as grandes capitais muitos turistas em busca das novidades do mercado. Seguem
depoimentos coletados na pesquisa de José Dornelas sobre empreendedores de sucesso:
Pura intuição. Quando deu o start, resolvi abrir e sempre achei que daria certo. Já tinha grande experiência no
ramo e uma carteira de clientes. Além disso, amo que faço. (Empreendedor do setor de turismo)
(...)
Na verdade, na avaliação para aquisição do negócio, considerei a localização e vi outras pessoas prosperarem
nos negócios ao lado do restaurante. Eu sabia que muitas pessoas trabalhavam nos escritórios e que isso
garantiria uma clientela cativa no horário de almoço. Não tinha nenhum planejamento prévio e assim assumi
um risco que considerava calculado. (Empreendedor do setor alimentício)
(...)
Sempre procuro saber bem onde pôr os pés, não faço suposições e otimizo ao máximo meus recursos (..) Sou
bom observador e estudo bem o negócio antes de investir. Procuro sempre fazer três perguntas: 1) Quem é
meu cliente?; 2) Por que meu cliente vai comprar meu produto?; 3) Como devo executar o projeto?
(Empreendedor do ramo de turismo) (DORNELAS, 2007, p. 41-42)
Considerações finais
Atualmente, o mercado gastronômico se vê como um atrativo em si, o que abriu portas para
um novo mercado: eventos em torno da alimentação que agregam venda de comidas, palestras,
bebidas, livros, equipamentos, entre outros. Discutir e aprender sobre comida também é um novo
mercado que cresce ano após ano. O mercado está cada vez mais aberto para absorver essas
realidades e tem se mostrado capaz disso. Um olhar atento para as vantagens e os diferenciais do
mercado são essenciais para que consigamos ser competitivos.
Referências
BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge. Redes de cooperação empresarial: estratégias
de gestão na nova economia. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.
BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração: série A. 2. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2012.
DUARTE, Débora. Confira as tendências para o mercado de sorvetes. Pequenas empresas &
grandes negócios, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em:
<http://revistapegn.globo.com/Administracao-de-empresas/noticia/2017/06/confira-tendencias-
para-o-mercado-de-sorvetes.html>. Acesso em: 12 abr. 2018.
STUTZ, Frederick P.; WARF, Barney. The world economy: resources, location, trade and
development. 5. ed. London: Pearson Education Incorporated, 2007.
A criação não é um momento de inspiração, e sim uma vida inteira de resistência. As gavetas do mundo estão
cheias de coisas começadas. Esboços inacabados, pedaços de invenções, ideias de produtos incompletos,
cadernos com hipóteses formuladas pela metade, patentes abandonadas, manuscritos parciais. Criar é mais
monotonia do que aventura. É acordar cedo e dormir tarde: longas horas realizando um trabalho que
provavelmente vai fracassar – um processo sem progresso que deve ser repetido diariamente durante anos.
Começar é difícil, mas continuar é ainda mais (ASHTON, 2016, p. 76).
O tempo dedicado ao momento da refeição nos dias atuais não é mais necessariamente isolado e delimitado
(marcando, por exemplo, a interrupção da jornada de trabalho). Se antes tais momentos estimulavam a
sociabilidade familiar, atualmente a maioria das pessoas come quando está na rua, correndo de um
compromisso ao outro, no meio de um passeio, enquanto trabalham, às vezes, sem sequer sair de seu espaço
de trabalho, com olhar constantemente preso a monitores e celulares. Na leitura de alguns autores, o modelo
de consumo alimentar cada vez mais estilizado, individual e independente de eletrodomésticos como o micro-
ondas acabou por alterar o ritual alimentar, que passou a ser um processo impessoal e fragmentado, sem mais
tempo e espaço predeterminados para tal, fazendo com que, aos poucos, as refeições percam sua função
social (FISHLER; CANESQUI; GARCIA; FERNANDEZ-ARMNESTO, 2010 apud FERREIRA, 2016, p.
56).
A internet também permite a melhor disseminação cultural, o que, ao lado de experiências efetivas com
outras nações e costumes, graças a viagens de negócios ou meramente turísticas, promove o conhecimento de
novos modelos alimentícios e nutricionais que passam a influenciar as preferências dos consumidores no dia
a dia. A elevação da renda, tanto no Brasil quanto no mundo, tem possibilitado um maior intercâmbio
cultural, como se pode observar pela elevação do número de desembarques internacionais nos aeroportos de
todo o planeta (BRASIL FOOD TRENDS 2020, 2010).
No prefácio de seu livro Empreendedorismo na prática, José Dornelas aponta para esse
mundo contemporâneo que nos parece cada dia menor e a difusão de informação também
significa aumento da complexidade da competitividade no mercado:
Com o imenso progresso da tecnologia das comunicações o mundo parece hoje menor do que ontem.
Sabemos o que está acontecendo do outro lado do globo de modo instantâneo e com informações completas
como não se conseguia há alguns anos atrás. Uma nova ideia aqui pode já ter sido posta em prática acolá,
implementando algo que se consagrou chamar de “competitividade” e que se apresenta entre nós de forma
intensa e direta. O tremendo impacto da competição pode se medido e sentido como resultado da enorme
dinâmica da troca de riquezas, entre nações e empresas. O resultado disso é que, neste mesmo momento em
que estas frases estão sendo lidas, uns ficam mais ticos e ganham; outros, perdem (DORNELAS, 2007, p.12).
Orçamentos apertados e impactos ecológicos reduzidos cada vez mais são as limitações dentro das quais os
serviços de alimentação internos e comerciais devem operar. Um plano de projeto sensato pode melhorar toda
operação do negócio de alimentação. Estima-se que 50% do tempo de um funcionário em um serviço de
alimentação seja gasto com andanças, conversas, observações e esperas. Se o projeto puder reduzir algum
desses quatro itens, a eficiência será melhorada. Um bom projeto também pode melhorar a produtividade, a
qualidade dos alimentos e os serviços, o conforto e a segurança dos funcionários e o apelo ao cliente
(PAYNE-PALACIO; THEIS, 2012, p. 261).
2 Onde estaremos daqui a 20 anos?
Uma preocupação na qual o ramo de alimentação também se insere é a disposição de
resíduos recicláveis e orgânicos. A maioria dos produtos alimentícios apresenta algum tipo de
descarte. Cascas, sobras, gorduras e embalagens são alguns dos muitos exemplos de resíduos
inevitáveis decorrentes da necessidade humana de alimentação. Parece dramático, mas a
realidade é que simplesmente existir gera uma “pegada” ecológica no mundo. Segundo o
relatório “Estado do mundo”, publicado já em 2004 pelo Worldwatch Institute:
Uma medida do impacto do consumo humano sobre os ecossistemas globais é encontrada no sistema de
contabilidade da “pegada ecológica,” que mede a quantidade de terra produtiva que uma economia requer
para produzir os recursos de que precisa e assimilar seus resíduos (...) A análise das pegadas (cálculos
realizados pelo grupo californiano Redefining Progress) revela que os níveis totais de consumo já haviam
excedido a capacidade ecológica do planeta no final dos anos 70 ou início dos anos 80. Tamanho
superconsumo só é possível por meio da redução dos estoques das reservas naturais, como quando a água de
poço é bombeada a ponto de reduzir os níveis freáticos (WORLDWATCH INSTITUTE, 2004, p. 20).
Não acredito que existam maneiras efetivas de prever a situação do mercado nos próximos
anos. Porém, com uma conduta consciente e responsável, o empreendedor pode ajudar a prevenir
desastres ecológicos, esgotamento dos recursos naturais e preservação dos indivíduos como
habitantes do planeta Terra.
3 Alimentação saudável
Como apontado anteriormente, a informação difundida sobre a relevância da alimentação
em nossas vidas afeta diretamente a maneira de consumo. O consumidor enxerga o produto final
e sua procedência. Para empreender, é preciso pensar no futuro, mas isso não é tão simples
quanto parece. A alimentação saudável também deve ser vista como uma jogada comercial, pois
virou tendência e fez com que todo um mercado se adaptasse a suas demandas. Dessa maneira,
existem tendências dentro da alimentação saudável que se transformam ao longo do tempo.
Para esclarecer essa ideia, o açaí é um bom exemplo. Quando teve maior visibilidade na
sociedade, era conhecido como um alimento saudável. Aos poucos, percebeu-se que não era bem
assim, pois o açaí podia, também, ser uma fonte de gordura, em razão da adição de xarope de
açúcar e de guaraná para ser consumido. É interessante observar como esse produto transita entre
esses dois extremos, podendo ser um alimento saudável e também sofrer a adição de açúcares e
outros produtos para ser consumido. Mesmo assim, o açaí é uma maneira de veicular
estabelecimentos de produtos saudáveis e naturais.
Dez anos atrás, Ryan Black estava surfando no Brasil quando observou muitos brasileiros devorando enormes
tigelas de uma gosma roxa congelada. Curioso, descobriu que aquilo era feito dos frutos da palmeira açaí, que
são abundantes na área e podem ser transformados em uma bebida parecida com uma raspadinha quando
esmagados, misturados com água e congelados. Como já bem sabem os brasileiros, os frutos contêm
antioxidantes e gorduras ômega benéficas. Refletindo sobre a demanda dos consumidores americanos por
alimentos mais saudáveis, Ryan achou que ele e seu irmão poderiam oferecer um novo sabor que também
seria nutritivo. Os irmãos fundaram a Sambazon para desenvolver e comercializar bebidas congeladas à base
de açaí, mas precisaram educar o público, inclusive restaurantes, lojistas e outros clientes em potencial. “Eles
davam um belo show, indo de loja em loja como se fosse um ato circense”, diz Larry Sidoti, vice-presidente
de desenvolvimento da Juice It Up! Franquia Corp., que aceitou incluir o Sambazon em seu cardápio. A
Sambazon agora tem 100 funcionários e fatura US$ 12 milhões ao ano, com produtos nas prateleiras da
Whole Foods, da Wild Oats e da Jamba Juice (BATEMAN; SNELL, 2012, p. 118).
Conclui-se que, somente atentar em vender comida saudável não é o suficiente. É preciso
enxergar o que o mercado e a sociedade estão propondo como saudável a cada momento.
Atendendo a isso, sempre haverá um direcionamento sobre o que vender.
Quando diferentes antecedentes culturais ou étnicos são representados nos clientes de um serviço de
alimentação para o qual o cardápio está sendo planejado, a tarefa de satisfazer a todos pode ser, de fato,
desafiadora. Na sociedade móvel de hoje as pessoas estão conhecendo melhor alimentos étnicos e regionais.
O interesse na culinária tailandesa, etíope, vietnamita e de outras nacionalidades fica evidente com
crescimento dos restaurantes étnicos. Muitas instalações de saúde, escolas, faculdades e serviços de
alimentação semelhantes incluem esses alimentos em seus cardápios para proporcionar variedade e contribuir
para a educação cultural de sua clientela. O planejado de cardápios deve estar consciente de costumes
elementares locais e restrições religiosas. (PAYNE-PALACIO; THEIS, 2012, p. 261).
5 Food design
Para ilustrar a origem e a multiplicidade do termo design, Adriana Melo e Ricardo
Abelheira, no prefácio do livro Design thinking & thinking design, abordam a etnologia da
palavra para posteriormente demonstrar os meios de atuação da área e introduzir o conceito de
design thinking, que será trabalhado nos próximos capítulos. Segundo os autores:
O termo deriva do latim designare, sendo mais tarde adaptado para o inglês como design, que tem uma série
de significados. A palavra design, então, foi traduzida para o espanhol como diseño (que se refere ao design,
ao desígnio ou à especificação), e não como dibujo (que se refere ao desenho ou traçado). Por algum desvio
de tradução, em português ficamos com a expressão ‘desenho industrial’, que não representa a correta
atuação da profissão, visto que popularmente a palavra desenho significa representação, traçado ou ilustração.
Atualmente, o termo desenho industrial está caindo em desuso, sendo substituído pelo termo design, que tem
mais aderência ao significado desejado – projeto (MELO; ABELHEIRA, 2015, p. 18).
O conceito de design como projeto é o ponto de contato entre o produto, o serviço, a marca
e o usuário. A otimização da relação do homem com o produto ou serviço está na forma e na
funcionalidade desenvolvida por um projeto de design. Quando se fala em ‘forma’ no mundo do
design, falamos em uma função, um propósito, uma estratégia, e não somente na forma física
propriamente dita. Ela deve atender a requisitos emocionais, psicológicos, ergonômicos,
técnicos, funcionais e de negócio.
Existem diferentes áreas de atuação para o designer no mercado, assim, é possível atuar no
ramo industrial, no design gráfico, na arte ou no design de interfaces, projetando layouts,
conteúdo audiovisual, design thinking e food designer, área de atuação no desenvolvimento, na
criação e na elaboração de todo o processo de apresentação de pratos, bufês, vitrines, etc. Um
profissional que atua na área do food design pode também exercer atividades que envolvam a
produção, o desenvolvimento de logística e a preparação de alimentos. De acordo com o artigo
publicado pelo site do Instituto de Engenharia da Universidade Mauá, em 2012, ano que a
disciplina food design entrou no currículo do curso de engenharia de alimentos, a tendência é a
capacidade de propor soluções alimentares eficazes em um contexto onde o produto seja
funcional ao tipo de ambiente de consumo e às exigências e demandas do consumidor.
A nova área está mais presente no dia a dia do que se imagina. Ao longo dos anos, a sociedade modificou
seus aspectos antropológicos e sociais e o ato de comer acompanha os costumes como alimentar-se em pé ou
sentado, em casa ou num piquenique, sozinho ou em família e assim por diante. No passado, a humanidade
comia com as mãos e, ao perceber que isso diminuía a validade dos alimentos por causa da contaminação,
tornou-se necessário o uso de utensílios como garfos, facas, hashis e outros (INSTITUTO MAUÁ, 2012).
Existem profissionais que trabalham efetivamente em empresas e bufês de eventos, como
também os que prestam consultorias e serviços terceirizados para qualquer segmento no mercado
que envolva a apresentação de devido alimento. As atividades de um food designer podem ser
atribuídas a chefs de cozinha, portanto nem todo chef tem técnica para ser considerado um food
designer. Atualmente, existem poucos cursos e universidades que oferecem esse tipo de ensino,
as técnicas do food designer não costumam ser aprendidas no mundo acadêmico, são padrões de
apresentação, composição de pratos, entre outros. De acordo com Claudia Facca, coordenadora
do curso de design de produto da Mauá: “O food design alia a forma de pensar do designer
(design thinking) ao processo de desenvolvimento alimentício. É uma nova maneira de olhar o
produto e o contexto em que está inserido, partindo das necessidades dos usuários e dos
problemas que existem hoje” (INSTITUTO MAUÁ, 2012).
6 Tecnologia como investimento
Processos dentro da área de restaurantes muitas vezes são artesanais. Técnicas e tradições
tornaram o profissional da área proficiente em suas tarefas a ponto de nem mesmo considerar
que se pode organizar o ambiente com insumos específicos que diminuem a mão de obra.
Atualmente, existem equipamentos que facilitam a produção de etiquetas, a higienização de
verduras, a embalagem, o porcionamento e o cozimento. Assim, tem-se um novo mercado
baseado em desenvolvimento de tecnologias para facilitar o processo de produção de alimentos.
Devemos nos manter atentos para quais dessas tecnologias podem ser essenciais para nosso
empreendimento.
Fora da cozinha também há bastante evolução no âmbito tecnológico. Podemos pedir por
internet, tablets e celulares, pagar por dispositivo remoto, fazer reservas, consultar preços e
comprar cupons promocionais pela internet, são muitas as possibilidades que a tecnologia pode
nos trazer. Devemos nos manter atentos ao desenvolvimento nessa área e acompanhar a difusão
de dispositivos e aplicativos relacionados ao ramo da gastronomia. Há diversos aplicativos
voltados para o consumo do cliente e para melhorar a logística de quem está vendendo. Por
exemplo, empresas especializadas em desenvolver soluções tecnológicas voltadas ao auxílio da
gestão e operação de bares e restaurantes.
BALLERINI, Franthiesco. Jornalismo cultural no século 21. São Paulo: Summus, 2015.
BATEMAN, Thomas S., SNELL, Scott A. Administração: série A. 2. ed. Porto Alegre: AMGH,
2012.
MELO, Adriana; ABELHEIRA, Ricardo. Design thinking & thinking design: metodologia,
ferramentas e reflexões sobre o tema. São Paulo: Novatec, 2015.
PROJETO BRASIL FOOD TRENDS 2020. Brasil Food Trends 2020. São Paulo: Fiesp Ital,
2010.
O aumento do interesse pelo tema gastronomia também se relaciona à elevação dos chefs ao status de
celebridades, que passaram dos restaurantes para as colunas em revistas, promoções de eventos
gastronômicos, livros e programas de televisão. Entre eles, podemos citar Gordon Ramsay, Jamie Oliver,
Ferran Adrià, Claude Troisgros e o brasileiro Alex Atala, cujo restaurante figura entre os 10 melhores do
mundo, de acordo com a premiação “The World’s 50 Best Restaurants”, promovida pela revista inglesa
Restaurant (FERREIRA, 2016, p. 60).
O serviço deve estar adequado ao conceito do restaurante. O cliente de um restaurante tradicional procura um
tipo de serviço condizente com aquele ambiente. Um barman free-style, apesar de ser extremamente
interessante, nesse caso não é adequado. Além disso, o serviço deve ser eficiente e organizado (FONSECA,
2014, p. 3).
NA PRÁTICA
O restaurante Bio, do renomado chef Alex Atala, apoia-se no uso completo dos produtos, sem nenhum
desperdício. Encontramos para vender até mesmo porções de casca de legumes, além de um cardápio totalmente
pensado para que nada seja descartado.
Operador social: aqui, encontra-se mais uma oportunidade que poderia ser mais bem
aproveitada na área da gastronomia. Muitas vezes, as pessoas que trabalharão nos
estabelecimentos de A&B não são instruídas corretamente ou com a atenção necessária para
exercer suas tarefas como empregado. Muitos são os casos nos quais o funcionário nem mesmo
tem ensino fundamental ou médio completo. Uma tentativa de recrutar e educar os funcionários
de maneira estratégica é uma boa saída para o desenvolvimento de um negócio duradouro.
Quando se abre um negócio do tipo, geralmente há poucos recursos para investir em treinamento,
porém, com coordenação e boa orientação, conseguimos evoluir de diferentes maneiras dentro
dessa realidade.
Os recursos humanos implicam não só a contratação de pessoas com os perfis adequados para as funções,
mas também treinamento, qualificação e definição de tarefas e objetivos comuns. A gerência deve saber quais
são as medidas corretivas necessárias, lembrando sempre que essas pessoas devem ser respeitadas e que, por
vezes, um erro do funcionário é decorrência de um aspecto que não havia sido planejado ou previsto. Assim,
essas medidas devem levar em consideração os objetivos a serem alcançados (FONSECA, 2014, p. 5).
Treinamento, motivação, reconhecimento, incentivo, abertura, respeito e disciplina são fatores que não
podem e não devem faltar no relacionamento entre gerência e equipe. Cordialidade, respeito,
profissionalismo e eficiência são fatores fundamentais na relação entre clientes e equipe. Começando com
esses aspectos pequenos, porém vitais, podem-se equalizar recursos e atingir os dois principais objetivos de
um restaurante: satisfazer os clientes e obter lucros. Muitas pessoas estão envolvidas nesse processo. Assim,
ao gerir pessoas, deve-se direcionar corretamente as energias. Pode-se ampliar um pouco esse conceito de
gerência definindo-a como a capacidade de alocar recursos para atingir objetivos. Falando-se de restaurantes,
estes existem para gerar lucros aos investidores. Seus produtos são serviço e alimentação (incluem-se as
bebidas), com os quais geram-se os lucros (FONSECA, 2014, p. 2).
2 A hora de abrir um negócio
2.1 Negócio próprio ou franquia
Um dos primeiros questionamentos em relação a empreender na área de alimentação e
bebidas é sobre criar algo próprio ou abrir uma franquia. É uma pergunta importante, que vai
direcionar o esforço e o investimento do empreendedor. Como será exposto a seguir, as
vantagens e as desvantagens são relativas, principalmente se levarmos em consideração com o
que e como queremos trabalhar.
Para alguém fora da área, tornar-se um franqueado pode ser a melhor alternativa, uma vez
que, por não conhecer a área e não saber como operá-la, o empresário terá maior tranquilidade.
Quando se opta por abrir uma franquia, a empresa matriz fornece treinamento, estrutura,
padronização, mercado, parcerias e outras vantagens. Com uma pequena noção de administração
de recursos, sejam financeiros, estruturais e humanos, o investidor consegue conduzir uma
franquia.
Quando investe em uma franquia, o empreendedor adquire todo o know-how de uma empresa que oferece
apoio gerencial em caso de dificuldades e a possibilidade de criação de promoções e divulgação coletiva (de
âmbito regional, estadual, nacional e internacional, dependendo da franquia). Além disso, o futuro gestor
investe em um estabelecimento que possui uma marca já estabelecida perante o mercado. No entanto, é
preciso levar em consideração que essa modalidade de empreendimento restringe a liberdade na tomada de
decisões do empreendedor, afinal, tudo já está predefinido, o que inclui a escolha de receitas, além da fachada
e da decoração do salão. Deve-se seguir obrigatoriamente os mesmos padrões e moldes das demais unidades
da rede franqueada. Além disso, só se pode utilizar os serviços de fornecedores autorizados. Ao optar por
esse tipo de estabelecimento, é preciso que o empreendedor leia atentamente o contrato de franchising
(franqueamento), em especial os itens acerca dos repasses mensais (que pode ser um valor fixo ou
porcentagem da movimentação do estabelecimento), a máster franqueada (FERREIRA, 2016, p. 132).
Por outro lado, a franquia será sempre limitada. Não haverá muitas opções para desenvolver
novos produtos, promoções e estratégias de gerenciamento, ou seja, os mesmos fatores que
contribuem para a facilidade da empreitada também serão limitadores. Sugerimos que o
empreendedor não fique preso a essas condições. Tendo um capital inicial para investir em uma
franquia e, ao perceber que essa franquia obteve sucesso, as lições e os recursos frutos dessa
experiência podem abrir portas e ideias para o desenvolvimento de um negócio próprio.
Por meio dessa discussão, pode-se perceber que o negócio próprio pode ter vantagens e
desvantagens. No caso de um empreendimento autônomo, ganha mais quem tiver experiência na
área, seja do ponto de vista prático ou comercial. Empreender fora da franquia é empreender em
novidade. Nesse momento, devemos colocar em prática todos os aspectos discutidos
anteriormente. Manter-se antenado com a situação do mercado é essencial. Porém, sempre
cairemos no fato de que é essencial conhecermos o empreendimento gastronômico em sua
totalidade para, dessa maneira, não virarmos refém de funcionários.
É importante reiterar a ideia de que um negócio fora de uma franquia é mais maleável, pois
nele se pode tomar atitudes baseadas no conhecimento do público frequentador e realizar ajustes
para aumentar as vendas e o consumo como um todo. Uma alternativa para quem não quer ser
franqueado e também não é da área é buscar sociedades. Os negócios em A&B normalmente
constituem sociedades de pessoas que têm um plano de negócios com outras que têm capital para
investimento. Tomando-se os devidos cuidados, essa solução pode ser a melhor para começar a
investir dentro do ramo.
O mito da criatividade implica que poucos indivíduos podem ser criativos, que qualquer criador bem-
sucedido experimentará grandes clarões de ideias e que criar tem mais a ver com magia do que com trabalho.
Poucos e raros possuem o que é necessário, e para eles a coisa é fácil. Os esforços criativos de qualquer outra
pessoa são condenados (ASHTON, 2016, p. 15).
Nada nessa experiência lembrava as histórias sobre ‘criatividade’ que eu lera nos livros. Não havia
acontecido magia, tampouco clarões de inspiração – apenas dezenas de milhares de horas de trabalho.
Construir a internet das coisas foi um processo lento e difícil, assolado por política, infestado de erros,
desconectado de estratégias e planos grandiosos. Aprendi a ter sucesso aprendendo a fracassar. Aprendi a
esperar o conflito. Aprendi a não ficar surpreso com a adversidade, e sim me preparar para ela (ASHTON,
2016, p. 17).
Vistas em conjunto, essas histórias revelam um padrão de como os seres humanos fazem coisas novas, um
padrão que é ao mesmo tempo encorajador e desafiador. A parte encorajadora é que todo mundo pode criar, e
podemos demonstrar isso de modo bastante conclusivo. A parte desafiadora é que não existe momento de
criação mágico. Os criadores passam quase todo o tempo perseverando, apesar da dúvida, do fracasso, do
ridículo e da rejeição, até conseguirem realizar algo novo e útil. Não existem truques, atalhos ou esquemas
para se tornar criativo de uma hora para a outra. O processo é comum, ainda que o resultado não seja. Criar
não é magia; é trabalho (ASHTON, 2016, p. 18).
Considerações finais
Novamente, reforça-se a importância em abrir os olhos para todos os aspectos do mercado.
Os canais operadores são diferentes ferramentas que, tomadas especificamente, podem contribuir
para o sucesso. Profissionais diversificados e polivalentes podem trazer soluções, alternativas e
estratégias diferentes para problemas comuns. Porém, outra lição deixada por este capítulo é que
o planejamento é um fator indispensável para que as ideias e os projetos inovadores se tornem
empreendimentos bem-sucedidos, tanto quanto a inovação e a criatividade. Não apenas o
planejamento financeiro, mas estratégias e soluções desenvolvidas com base no olhar e na
atenção do empreendedor sobre seu negócio.
O mito aqui é de que se acredita que não há nenhum tipo de planejamento. Há, de fato, um controle
financeiro mínimo e um planejamento de custos e despesas, que por si só já contribui para o desenvolvimento
do negócio. O que ocorre em muitos negócios sem planejamento algum é que vão à falência devido à falta de
planejamento financeiro por parte do empreendedor, e não necessariamente porque não tinham uma estratégia
bem definida (DORNELAS, 2007, p. 43).
Com base no pensamento dos autores José Dornelas e Kevin Ashton, é possível concluir
que planejamento estratégico, conhecimento do mercado, pesquisa e recrutamento de equipes
qualificadas são fatores que influenciam o direcionamento de um negócio tanto como se
aproveitar de diferentes circunstâncias e oportunidades, arriscar, inovar e criar podem levar a
empreitada ao sucesso ou ao fracasso. Isso depende da maneira que o empreendedor se aproveita
das ferramentas que tem em suas mãos para vencer e se posicionar no mercado e, para isso, é
preciso muito trabalho, persistência e coragem.
Referências
ASHTON, Kevin. A história secreta da criatividade. Tradução de: Alves Calado. Rio de
Janeiro: Sextante, 2016.
FONSECA, Marcelo Traldi. Tecnologias gerenciais de restaurantes. São Paulo: Editora Senac,
2014.
PORTAL ALIMENTAÇÃO FORA DO LAR. Quais são os canais da alimentação fora do lar
(food service). Disponível em: <http://alimentacaoforadolar.com.br/canais-de-comercializacao>.
Acesso em: 9 nov. 2017.
Capítulo 6
Ferramentas para o empreendedorismo:
Canvas e design thinking
Nos primeiros capítulos, foram abordadas informações sobre como o mercado gastronômico
se configura. Foram analisados os significados atribuídos à alimentação na sociedade em que
vivemos, discutidas as expectativas do consumidor, avaliados nichos de mercado, oportunidades
e como sempre podemos inovar em diferentes circunstâncias. Além disso, foram expostos
conceitos de competitividade que auxiliam nossa conduta e tomada de decisões frente às
adversidades que encontramos no mercado. Explicitando a diferença entre atuação nas franquias
e negócios individuais, foram introduzidas reflexões sobre como podemos nos posicionar dentro
das diferentes opções no mercado alimentício, considerando sempre os canais operadores que
temos à nossa disposição.
De acordo com a metodologia Canvas, todo e qualquer negócio pode ser esquematizado e
organizado de maneira estratégica para que se possa analisar seus potenciais, objetivos,
vantagens e desvantagens. A metodologia Canvas se encaixa nesse objetivo de facilitar a
discussão e a apresentação da situação do negócio para todos os envolvidos, colaborando, assim,
com mais agilidade durante os processos de formatação de um empreendimento.
2. Atividades:
3. Recursos:
4. Proposições de valor:
5. Clientes:
6. Canais:
Quanto estamos gastando com cada um deles? O gasto está valendo a pena?
Nossos clientes interagem com nosso modelo de negócios (canais, produtos, valores,
etc.)?
8. Custos:
9. Fluxo de receita:
O item 4 refere-se ao tipo de produto e/ou serviço que será oferecido. Nele, destaca-se o
diferencial da empresa frente à concorrência.
Os itens 8 e 9 dizem respeito às finanças, aos meios utilizados para comercialização e suas
influências no projeto geral.
NA PRÁTICA
Uma comparação entre o restaurante Gero, da rede Fasano, e as unidades da rede Viena: no primeiro, temos um
salão pequeno, menu à la carte, preços altos e produtos com bastante valor agregado; no segundo, vemos salões
enormes, serviço de bufê por peso, preço baixo e pouco valor agregado.
NA PRÁTICA
Existe no mercado uma procura crescente por restaurantes que fabricam seus próprios produtos. Oferecer
alimentos curados, envelhecidos, defumados, bem fatiados, no próprio estabelecimento, torna o produto
diferenciado, resultando em um aumento de preço. Por outro lado, essas ações exigem também um aumento de
recursos disponíveis e acesso à matéria-prima diferenciada.
O pensamento estratégico, apoiado no quadro de Canvas (figura 1), não é algo desenvolvido
como um caminho, mas uma avaliação e constante reavaliação da situação do empreendimento
em si. Ou seja, esse recurso não se mantém estático, e sim em constante mudança e evolução,
considerando a importância do aspecto crítico e analítico dos envolvidos.
3 A ideia de inovação com base no design
thinking
O design thinking[1] é tido como uma diretriz inovadora para atuar no mercado,
distanciando-se do design de produtos e aproximando-se da realidade de negócios. Aparece
como uma área estratégica da empresa, responsável pela manutenção do serviço e pelas relações
de troca de uma empresa, apoiando-se em alguns pontos-chave que serão discutidos a seguir:
A experimentação, que diz respeito às tentativas de solução que nos permitem diminuir
riscos, erros e desperdícios.
Quando tais pilares do design thinking são colocados em prática, os processos se dão da
seguinte maneira:
E a prototipação, fase que tem como objetivo testar diferentes maneiras de extrair as ideias
mais viáveis e confirmar as mais impactantes, identifica oportunidades priorizadas para o
desenvolvimento futuro.
NA PRÁTICA
Quando inaugurei o bar Negroni, em São Paulo, eu e meus sócios optamos por um serviço que oferecesse pizzas
individuais que podiam também ser divididas em pequenos pedaços. Aos poucos, percebemos a necessidade de
oferecer outros produtos e experimentamos um a um, até incluirmos mais de 10 entradas e/ou porções diferentes
no cardápio. Nesse processo, não tivemos desperdício, pois produzimos pouco e experimentamos um produto por
vez para analisar sua aceitação. A apresentação de um novo cardápio só apareceu depois de alguns meses.
O objetivo da experimentação é reduzir riscos. Apesar de nos valermos de muitas informações para que os
serviços sejam perfeitamente desenhados, não estamos livres de erros. Experimentar para verificar se o
público adere ou não a um determinado produto ou serviço é imprescindível. Os testes e protótipos devem
acompanhar o processo desde o início, o mais cedo possível. A proposta é criar e experimentar
repetidamente. Assim os primeiros erros são eliminados no início e menos recursos são empregados em
soluções equivocadas (MELO; ABELHEIRA, 2015, p. 36).
De acordo com o design thinking, inovação é algo que surge de novo e que tem valor
econômico positivo, resultando em aumento de valor, diminuição de custos, melhora da relação
entre clientes, entre outros.
Neste capítulo discutiremos o outro lado, o do empreendedor, como ele se comporta e seus
perfis, para que isso também seja considerado ao iniciar um empreendimento.
1 Tipos de empreendedores, habilidades e o seu
papel na criação de novos negócios
Como visto anteriormente, no mundo contemporâneo, lidamos com o ritmo acelerado do dia
a dia e a difusão das informações torna o mercado mais competitivo e exigente. Por meio de
entrevistas e pesquisas sobre empresários e empreitadas de sucesso, o professor José Dornelas,
em seu livro Empreendedorismo na prática, procura generalizar métodos e processos que
materializam as iniciativas que geram riquezas e oportunidades aos empreendimentos.
Dornelas consolida regras básicas e práticas para ajudar aqueles que, nas palavras de Ozires
Silva, “desejando correr riscos, tentam criar seu próprio espaço nos amplos espaços abertos pelas
modernas sociedades implantadas nos países, desde o início da idade moderna” (SILVA, 2007,
p. 11).
De sua cabeça saem ideias de êxito ou caminhos que levam ao sucesso. Daí a importante necessidade da
educação e do treinamento dos povos, em quantidade e em qualidade. O poder avassalador do conhecimento
tem sido decantado, de todos os modos e por todos. Surge, no entanto, a frustração de que, a despeito de tudo
o que se procurou fazer ou materializar no setor do ensino, sempre tem sido insuficiente. Realmente, se isso
efetivamente se constitui em um problema, sem dúvida, ao mesmo tempo, abre espaço para enormes
oportunidades (SILVA, 2007, p. 11).
Sobre a atual situação do mundo, num ponto de vista econômico e social, o autor ainda
aponta de maneira otimista sua perspectiva em relação ao mercado e ao futuro do planeta:
A partir de anos recentes tem sido possível identificar transformações realmente espetaculares e que já estão
moldando o futuro. Nos países mais desenvolvidos, novas tecnologias trouxeram grande aumento da
produtividade e determinaram altos valores de crescimento absoluto. Tudo indica que a evolução do
conhecimento humano vai continuar a dar dramáticas contribuições ao crescimento e ao progresso econômico
de regiões extensas e de suas populações. Países como o nosso, populoso e de grandes dimensões
geográficas, não podem ficar à margem desse processo, que pode ser considerado de mudanças realmente
alucinantes. Muito ao contrário, temos as melhores condições de superar outras nações menos aquinhoadas.
Temos de confiar que podemos enfrentar o desafio e participar desse cenário estimulante e provocante.
Dizem os chineses que o melhor momento para se buscar as oportunidades é durante as crises. Assim, nesse
início de novo século, as nações mais desenvolvidas estão forjando trajetórias baseadas nos avanços da
cultura, da ciência e da tecnologia, mostrando com clareza que o desenvolvimento vem da liberdade para
empreender e do crescimento do cidadão. (SILVA, 2007, p. 14)
Assim como a relevância da educação, da instrução e da preparação dos nossos
trabalhadores e cidadãos, não devemos esquecer de encarar o mercado, o ambiente e os sujeitos
como produtores e consumidores como um todo. Deve-se pensar em pegada ecológica e
consciência social quando somos colocados na posição de empreendedor. Dornelas aponta para o
artigo “Quem é o empreendedor?”, de William Gartner, no qual o autor traça um perfil
psicológico do empreendedor, cujo temperamento cria organizações e as leva ao sucesso. Na
leitura de Dornelas, isso não tem muita relação com características psicológicas, “mas com o ato
de agir na gestão de uma empresa e seu envolvimento com o ambiente corporativo”
(DORNELAS, 2007, p. 21).
Busca de informações
Estabelecimento de metas
Planejamento e monitoramento sistemático
Entendo que o empreendedor apresenta em suas características todos os tipos aqui citados,
em menor ou maior intensidade. Para exemplificar contarei um pouco da minha história:
Minha primeira experiência como empreendedor foi aos 12 anos. Iniciei cuidando de carros
em uma feira livre, na rua em que morava, e depois de algum tempo comecei a fazer amizade
com as pessoas que iam à feira fazer compras, carregando os carrinhos de compra pela feira para
meus clientes. Na feira, fiz amizade com os feirantes, que me convidaram a ajudar a montar as
barracas. Durante a montagem das barracas, percebi que todos iniciavam o trabalho com fome,
não haviam se alimentado antes de ir ao trabalho e esperavam ansiosamente a abertura de uma
padaria próxima. Então, pensei: “Posso vender sanduíches para os feirantes durante a montagem
das barracas”. Foi o que fiz: preparava sanduíches de frango e atum e vendia no sistema “fiado”,
ou seja, ia marcando em um caderno o consumo de cada cliente e depois recebia o pagamento,
uma vez por mês.
Aos 14 anos, comecei a organizar festinhas para amigos na garagem de casa. Decorava o
espaço e tocava música para as pessoas dançarem. Havia cobrança de entrada nesses bailes. Os
bailes cresceram e viraram festas em grandes casas no bairro do Morumbi. Em apenas 3 anos, as
festas reuniam cerca de 3 mil pessoas, já em formato próximo ao de casas noturnas, com
cobrança de entrada e venda de comidas e bebidas. Um modelo muito parecido com o que
encontramos hoje na cena da música eletrônica de São Paulo: festas autônomas e independentes
que acontecem em locações inusitadas e representam liberdade e resistência na cultura
underground da cidade.
Em uma reunião para buscar patrocinadores para essas festas, conheci um restaurante que
contratava jovens para trabalhar como garçons, me interessei pela ideia e fui atrás de uma vaga.
Consegui o trabalho quando já estava com 18 anos. Nesse lugar, percebi minha facilidade para
assumir a liderança da equipe e, em menos de um ano, de forma quase que natural, fui
promovido a gerente do restaurante.
Então, descobri o que queria fazer da minha vida: trabalhar com alimentos e bebidas. Logo
identifiquei que, para poder sobreviver no ramo e alcançar meus objetivos pessoais, precisaria
empreender. Naquela época, década de 1990, o mercado não oferecia muitas oportunidades em
cargos altos e bem remunerados.
Por meio do reconhecimento adquirido, resolvi partir para um novo projeto, planejado desde
o início com o objetivo de captar investidores para financiar o negócio, já que os negócios
anteriores foram financiados com nossos recursos.
Assim tenho construído minha história profissional, que me fez perceber as diferentes
características de um empreendedor.
Para Dornelas, “o empreendedor é aquele que faz acontecer, se antecipa aos fatos e tem uma
visão futura da organização” (DORNELAS, 2007, p. 27). Veja os diferentes perfis de
empreendedor citados por José Dornelas e suas respectivas dinâmicas e características:
Obstinado com a ideia de ganhar dinheiro no Brasil, Matarazzo sempre esteve à frente de seu tempo. Inquieto
e visionário, buscava conhecer as necessidades do seu público-alvo, diversificar os negócios, entender o
contexto de seu entorno e do país. Pomim destaca que o pensamento desse empresário era que “uma coisa
puxa a outra”, ou seja, ele produzia tudo o que suas empresas precisavam e aproveitava tudo. Em Jaguariaíva,
havia um frigorífero de carne de porco. Além da carne que era vendida, os restos do animal serviam para a
fabricação de outros produtos, como sabão, banha, adubo, botões e até pincéis feitos com o pelo do animal.
“Ele fabricava até a lata e o rótulo para seus produtos”. Se o Matarazzo percebesse a necessidade de algo, ele
não buscava um fornecedor – abria uma fábrica para produzi-lo (PORTAL TERRA, 2014).
É o clássico caso de quando a oportunidade bate à porta. O empreendedor inesperado nunca pensou em se
tornar empreendedor: o momento de disparo ou de tomada de decisão ocorre quando alguém o convida para
fazer parte de uma sociedade ou ainda quando ele próprio percebe que pode criar um negócio (...). Antes de
se tornar empreendedor, acreditava que não gostava de assumir riscos. Tem de se aprender a lidar com as
novas situações e se envolver em todas as atividades de um negócio próprio. Quem está pensando em uma
alternativa à aposentadoria muitas vezes se encaixa nesse tipo” (DORNELAS, 2007, p. 28).
Trabalham de olho nos resultados para crescer no mundo corporativo. Assumem riscos e têm o desafio de
lidar com a falta de autonomia, já que nunca terão o caminho 100% livre para agir. Isso faz com que
desenvolvam estratégias avançadas de negociação. São hábeis comunicadores e vendedores de ideias.
Desenvolvem seu networking dentro e fora da organização. Convencem as pessoas a fazerem parte de seu
time, mas sabem reconhecer o empenho da equipe. Sabem se autopromover e são ambiciosos. Não se
contentam em ganhar o que ganham e adoram planos com metas ousadas e recompensas variáveis. Se saírem
da corporação para criar o próprio negócio, podem ter problemas no início, já que estão acostumados com as
regalias e o acesso a recursos do mundo corporativo (DORNELAS, 2007, p. 29).
NA PRÁTICA
O Instituto Chefs Especiais é uma ONG que oferece para jovens com síndrome de Down o ensino de técnicas
gastronômicas e informações sobre alimentos. Ele produz eventos, como hamburgadas, além de conduzir um café
na região dos Jardins, em São Paulo. Com a ajuda de diferentes personalidades da área, a ONG conquistou
diversos prêmios por iniciativas inclusivas.
Geralmente não tem acesso ao mercado de trabalho ou foi demitido. Não resta outra opção a não ser trabalhar
por conta própria. Geralmente se envolve em negócios informais, desenvolvendo tarefas simples, prestando
serviços e conseguindo como resultado pouco retorno financeiro. É um grande problema social para os países
em desenvolvimento, pois, apesar de ter iniciativa, trabalhar arduamente e buscar de todas as formas a sua
subsistência e a dos seus familiares, não contribui para o desenvolvimento econômico. Na verdade, os
empreendedores por necessidade são vítimas do modelo capitalista atual, pois não têm acesso a recursos, à
educação e às mínimas condições para empreender de maneira estruturada. Suas iniciativas empreendedoras
são simples, pouco inovadoras, geralmente não contribuem com impostos e outras taxas, e acabam por inflar
as estatísticas empreendedoras de países em desenvolvimento, como o Brasil (DORNELAS, 2007, p. 30-31).
Esse tipo de empreendedor está presente em cada canto das grandes cidades. São pessoas
que, na dificuldade de encontrar emprego, desenvolvem atividades no mercado informal, como
os vendedores de balas em transporte público.
O empreendedor herdeiro recebe logo cedo a missão de levar à frente o legado de sua família. Empresas
familiares fazem parte da estrutura empresarial de todos os países, e muitos impérios foram construídos nos
últimos anos por famílias empreendedoras, que mostram habilidade de passar o bastão a cada nova geração.
Mais recentemente, porém, tem ocorrido a chamada profissionalização da gestão de empresas familiares, por
meio da contratação de executivos de mercado para a administração da empresa e para a criação de uma
estrutura de governança corporativa, com os herdeiros opinando no conselho de administração e não
necessariamente assumindo cargos executivos na empresa (DORNELAS, 2007, p. 31).
Toda teoria sobre o empreendedor de sucesso sempre apresenta o planejamento como uma das mais
importantes atividades desenvolvidas pelos empreendedores. E isso tem sido comprovado nos últimos anos,
já que o planejamento aumenta a probabilidade de um negócio ser bem sucedido e, em consequência, leva
mais empreendedores a usarem essa técnica para garantir melhores resultados. O empreendedor que “faz a
lição de casa, que busca minimizar riscos, que se preocupa com os próximos passos do negócio, que tem uma
visão de futuro clara e que trabalha em função de metas é o empreendedor aqui definido como normal ou
planejado” (DORNELAS, 2007, p. 32).
A apresentação desses perfis é uma ferramenta de análise tão válida quanto as que
trouxemos nos capítulos anteriores. Entender vantagens e desvantagens em cada tipo de
empreendedor permite que direcionemos nossos investimentos e energia de maneira positiva.
Além disso, nos ajuda a decidir melhor os tipos de parcerias e sociedades.
2 Empreendedorismo social: intenção, contexto e
desafios
O empreendedorismo social apresenta um grande crescimento nos tempos atuais. A ideia
dessa modalidade surge como uma tentativa de suprir as faltas que o sistema público não
consegue sanar. Os primeiros exemplos desse tipo de empreendimento datam da primeira metade
do século XX. Aqui é importante levar as ferramentas de gestão, de tecnologia e de inovação
para consolidar uma empreitada que não foca em produção de lucros e riquezas.
NA PRÁTICA
Florence Nightingale foi uma enfermeira que, durante a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu um primitivo
sistema de empreendedorismo social que ajudava feridos de guerra. Seus exemplos de inovação aparecem na área
de biomedicina, estatística e enfermagem.
Neste capítulo final, serão discutidos os temas abordados no decorrer do curso e como eles
se relacionam na teoria e na prática. É possível perceber, ao longo dos capítulos, a relevância da
criatividade e da inovação quando se fala em empreendedorismo no ramo gastronômico. Além
disso, analisamos os diferentes modelos de negócio e como lidamos com a competitividade em
vários aspectos. No decorrer do curso, abordamos desde a compreensão da alimentação em
sociedade como recurso evolutivo até a possibilidade de criar um negócio próprio ou abrir uma
franquia.
O resultado de nosso estudo ratifica uma estatística mundial sobre os empreendedores de que, na maioria dos
casos, o recurso inicial para começar o negócio é proveniente do próprio empreendedor (de suas economias
pessoais, fundo de garantia, heranças etc.)(...) Isso leva à sugestão de que o empreendedor deve desenvolver
melhor sua rede de contatos caso não faça parte da categoria dos que possuem um recurso inicial mínimo ou
buscar alternativas, como as apresentadas a seguir. A falta de recursos sempre foi e parece que continuará a
ser uma das principais reclamações dos empreendedores quando pretendem criar um negócio.
Especificamente no caso do Brasil, as taxas de juros e restrição de acesso ao crédito dificultam ainda mais a
capitalização dos negócios. Mas há alternativas que estão crescendo nos últimos anos, até a ‘fundo perdido’
(recursos não reembolsáveis, ou seja, não são financiamento) para o empreendedor estruturar e desenvolver
sua empresa. Nosso estudo mostra que menos de 4% dos empreendedores entrevistados usufruíram dessa
fonte de recurso.
A principal premissa para acessar esse tipo de recurso é que os projetos devem focar em inovação, ou seja,
apresentar um diferencial que crie barreira de entrada para os competidores e permita à empresa crescer
rapidamente. As linhas existentes geralmente são provenientes de agências governamentais estaduais e do
governo federal, sendo destinadas para capacitação de pessoal, pesquisa e desenvolvimento, acesso ao
mercado e outras finalidades. De todas as linhas, as mais atraentes são as destinadas a empresas inovadoras e
que não exigem contrapartida significativa. Isso já é um diferencial considerável, haja vista que, para a
maioria dos empreendedores, conseguir dinheiro em bancos significa oferecer alguma garantia real como
contrapartida (DORNELAS, 2007, p. 53).
Dessa maneira, é possível afirmar que, por meio da criatividade, conseguimos não apenas
desenvolver produtos e modelos de negócio inovadores como podemos também captar
investimentos e recursos externos por meio de parcerias e projetos de financiamento do governo
ou de grandes empresas como bancos e fornecedores de alimentos. Sobre como exercitar nossa
mente criativa e evitar que nos deixemos levar pelo “seguro”, “comum” e “confortável”:
Curiosamente, em Stanford há uma disciplina dentro do mestrado em inovação que trabalha técnicas para
potencializar a criatividade. Isto é útil para os diversos profissionais que querem arriscar abordagens mais
criativas, mas têm receio de não serem capazes. O programa é dirigido por Bill Burnett. David Kelley
também dá uma palestra (TED Talks) na qual revela sua nova missão: resgatar a confiança criativa que as
pessoas tinham quando criança, e a perderam (MELO; ABELHEIRA, 2015, p. 88).
A primeira constatação é que, como resultado de um processo evolutivo, nosso cérebro roda em um modo de
“poupar energia” na maior parte do tempo. Ele opera em um nível de consumo entre 30 e 60 watts. Para
provocar o nosso cérebro para fora da zona de conforto, precisamos questionar os ‘esquemas’ que temos.
Estes ‘esquemas’ são inerentes ao ser humano, e é por meio deles que codificamos as coisas. O problema é
que estes padrões nos limitam a explorar o nosso próprio potencial, pois acreditamos neles de corpo e alma.
Os psicólogos concluíram que não enxergamos exatamente o que miramos, mas sim o que esperamos
enxergar.
Voltando a ‘como ser criativo’, descobriram que as pessoas criativas apresentam algumas características.
Tendem a ser mais visuais; tendem a ser mais sensíveis (por exemplo, com respostas táteis mais
exacerbadas); apresentam alta resposta social e são naturalmente mais empáticas (nada a ver com extroversão
necessariamente, mas são excelentes observadoras). Agora, o principal é: ELAS NÃO TÊM MEDO DE
NOVIDADES! O interessante é que esta característica não é dominante, justamente por ser contrária à
preservação da espécie. Ao se deparar com algo estranho, um reflexo racional do ser humano é se proteger.
Mas a pessoa criativa também é curiosa e, por não ter medo de experimentar, aceita o novo. Ao se deparar
com algo estranho, a pessoa criativa o toma nas mãos, pensando “nossa, o que será isto?”. A luz do perigo
não acende. Então, a conclusão é a seguinte: criatividade é um comportamento cerebral de alta energia que
não é normal para a maioria das pessoas. A boa notícia é que a criatividade pode ser trabalhada (MELO;
ABELHEIRA, 2015, p. 89).
Vou contar um processo criativo que surgiu a partir de um gosto pessoal. Há uns 20 anos
conheci o coquetel negroni, um clássico italiano pouco conhecido no Brasil até então. Me
interessei pela história dele e percebi que poderia elaborar um negócio a partir desse coquetel,
conceituando o espaço e sua arquitetura, o cardápio de comidas e bebidas, a música e o que mais
envolve a criação do conceito de um novo negócio.
Deixei um esboço registrado para o momento que surgisse uma oportunidade. Passaram-se
18 anos e recebi o convite para alugar um imóvel bem localizado na região de Pinheiros, em São
Paulo, e logo pensei ser este o local ideal para o Negroni bar.
Devemos procurar onde surgem essas tendências para que estejamos sempre um passo à
frente.
2 Boas práticas de gestão empresarial para a
competitividade
Como foi afirmado ao longo do livro e neste último capítulo, a inovação e a criatividade,
aliadas ao comportamento estratégico do empreendedor, são os fatores mais importantes para o
desenvolvimento de um negócio de sucesso no mercado de alimentação e bebidas. Como visto
no capítulo anterior, a coragem para assumir riscos é uma característica comum entre os
empreendedores de sucesso. No entanto, como o levantamento realizado foi feito com
empreendedores que obtiveram sucesso, devemos também considerar os empreendedores que
assumiram riscos, mas não obtiveram sucesso, e reavaliar o que pode ser modificado para evitar
situações semelhantes.
Ashton (2015) apresenta uma suposta carta escrita por Mozart sobre o seu processo criativo,
como se sinfonias, concertos e óperas lhe viessem inteiros à mente quando ele estava sozinho e
bem-humorado, como se não precisasse de ferramentas para compor. A carta era forjada,
obviamente, e como aponta o autor:
As verdadeiras cartas de Mozart – para o pai, a irmã e outras pessoas – revelam seu verdadeiro processo de
criação. Ele era excepcionalmente talentoso, mas não compunha por magia. Esboçava suas composições,
revisava-as e às vezes ficava empacado. Não conseguia trabalhar sem um piano ou um cravo. Punha o
trabalho todo de lado e voltava a ele mais tarde. Avaliava a teoria e a qualidade enquanto escrevia; pensava
muito sobre ritmo, melodia e harmonia. Ainda que o talento e toda uma vida de prática o tornassem rápido e
fluente, seu trabalho consistia nisso: trabalho (ASHTON, 2015, p. 14).
Os gênios têm momentos dramáticos de percepção quando obras e teorias grandiosas nascem inteiras.
Poemas são escritos em sonhos. Sinfonias são compostas completas. São feitas descobertas na ciência com
gritos: “Eureca!”. Empresas são construídas como num passe de mágica. Algo não existe e, então, passa a
existir. Não vemos a estrada que vai do nada ao novo, e talvez não queiramos ver. A arte deve ser magia
nebulosa, e não suor e esforço. Embota o brilho pensar que toda equação elegante, toda pintura bela e toda
máquina brilhante nasce do esforço e do erro, origina-se de impulsos equivocados e fracassos. É sedutor
concluir que a grande inovação chega até nós por milagre por meio do gênio. Daí o mito (ASTHON, 2015, p.
14).
Considerando o mercado de alimentação e bebidas, ao se falar em práticas de um
empreendedor inovador, logo pensamos em planejamento e brainstorming. Melo e Abelheira
(2015) apresentam o brainstorming como principal ferramenta da cocriação. Como comentado ao
longo do livro, nunca fazemos nada sozinhos. Dependemos de sócios, investidores, fornecedores,
equipe e consumidores. Em tradução literal para o português, “a tempestade de ideias” tem como
objetivo principal capturar muitas ideias de maneira rápida e bruta. Entre os elementos apontados
por eles para um brainstorming eficiente, encontra-se o ambiente onde acontecem as reuniões:
É necessário ter espaço e uma grande mesa ou uma área comum, onde as pessoas possam se sentir próximas,
ver todos e ouvir a todos. Áreas verticais livres (quadros brancos, paredes, vidros) são importantes para
receber ideias (...) O astral de um brainstorming é um comando de guerra preparando uma operação de
invasão, mas sem a hierarquia. Não é baderna, estão todos direcionados ao mesmo objetivo, e há algumas
regras básicas de conduta (MELO; ABELHEIRA, 2015, p. 82).
Outros fatores essenciais para um brainstorming eficiente são confiança, ou seja, as pessoas
precisam estar à vontade e, para isso, precisam ser conhecidas, para que não tenham medo de se
expressar livremente. “Por esse motivo, equipes que praticam brainstorming juntas tendem a
ficar cada vez melhor como equipe, pois há descontração; e sucessos passados constroem
credibilidade para desafios futuros” (MELO; ABELHEIRA, 2015, p. 82). O tempo de duração
das sessões de brainstorming também é importante. Segundo os autores, não deve passar de uma
hora. Além disso, as ideias e os resultados que aparecerem durante as sessões devem ser
registrados de 15 em 15 minutos.
É proibido julgar! “Vai ter uma hora para isso. Cuidado com a sua linguagem corporal ou
com os seus resmungos. Eles podem ser igualmente desestimulantes e minar a energia do
time” (p. 84).
Construa sobre as ideias dos outros! “Não há nada mais nobre e revigorante para uma
equipe do que uma boa ideia refinada em conjunto, em que se adiciona tempero ou uma boa
distorcida. Bom para quem sugere, bom para o moral da própria equipe” (p. 84).
Seja visual! “A expressão do brainstorming é visual, mas, para ter quantidade no tempo
disponível, quanto mais cru, melhor. Bonequinhos de pauzinho, histórias em quadrinhos,
esquemas, diagramas, tudo é válido” (p. 84).
Pense centrado no usuário! “Não se esqueça que é para ele que trabalhamos. É em volta do
ser humano e das relações afetivas com seu entorno que se constrói valor no mundo
material” (p. 84).
As ferramentas citadas servem de guia para como, na elaboração de um novo negócio, uma
equipe com habilidades e ideias distintas e com o mesmo objetivo pode, organizando seu
processo criativo, realizar um trabalho consistente, a fim de facilitar o estudo dos detalhes de seu
futuro negócio.
Um novo pensamento que permeia a gestão no século XXI é uma reavaliação do paradigma
piramidal de gestão e liderança. Ou seja, inverte-se a pirâmide e, com isso, a importância da
opinião de quem está na “linha de frente” do negócio surge com maior relevância. O que o gestor
deve ter em mente é que o contato com o cliente, por meio dos produtos vendidos, será sempre
com o setor da empresa que está na linha de produção, e não o contrário.
Por mais que tenhamos um gestor que se relaciona com os clientes, que vai até a mesa
conversar, pedir a opinião das pessoas, não podemos considerar essa relação mais importante do
que a pessoa que produz a comida. Mesmo que não haja o contato pessoal, a relação entre
produto e cliente está estabelecida por meio de quem produz. Outro exemplo é referente à pessoa
que recebe os pratos sujos. Algo que costuma ser ignorado, mas é bastante importante: as
pessoas que limpam os pratos sabem como eles voltam do cliente e são uma das linhas de frente
da observação de resultados. Ao saber como os pratos voltam da mesa, sabemos se a comida foi
satisfatória tanto em sabor e qualidade como em quantidades e proporções. Essas informações
são essenciais para que esbocemos o perfil do cliente e do produto servido.
3 Atividades empreendedoras e capacidade
criativa
O empreendedorismo, como dito em capítulos anteriores, não só diz respeito a uma vontade
ou uma opção profissional, ele é de fato um estilo de vida e uma maneira diferente de garantir
nosso sustento. No Brasil, temos uma taxa de 15% dos cidadãos entre 18 e 64 anos de idade em
atividade empreendedora, ou seja, negócios com menos de 42 meses de existência (GLOBAL
ENTREPRENEURSHIP, 2016). Ainda que em momento de crise, estamos em uma fase
econômica cujo leque de atividades e produtos é amplo e está em crescimento. Assim, como
alternativa para atividades que se tornam obsoletas e que, por consequência, geram desemprego,
o brasileiro tem buscado alternativas de empreendimentos para garantir seu sustento.
Um dos principais pontos em que me apoiei para o desenvolvimento desses três lugares
citados foi trabalhar com pessoas jovens com quem já trabalhara em empreendimentos prévios.
Ou seja, boa parte dos funcionários do Mano Sanduíches vieram do restaurante Nou. O gerente e
o chefe de bar do Estepe vieram do Negroni Bar. Essas pessoas não só já vieram capacitadas para
o trabalho, como também trouxeram a bagagem de como lidar com os clientes da região e da
faixa etária específica, além de já conhecerem a maneira como eu trabalho e gerencio meus
negócios.
Eles são minha linha de frente para lidar com os clientes, e ouvir e respeitar suas ideias e
opiniões foram essenciais para o desenvolvimento do projeto empreendedor. Portanto, em vez de
investir em uma empresa de consultoria, dei chance para pessoas adaptadas ao mercado, com
“jogo de cintura”, boas relações pessoais e que, acima de tudo, sabiam o que iriam vender. Isso
foi fundamental para que déssemos um passo ousado, mas seguro. Que nos permitiu, em vez de
reconquistar o sucesso, dar um passo com sucesso mais garantido e estável.
Considerações finais
O empreendedorismo na área gastronômica é complexo como em todas as áreas. Analisar os
fatores envolvidos, como área, mercado, região, especialidade e tipo de empreendimento, é uma
tarefa fundamental. Em seguida, entender o tipo de empreendedor que somos e como
pretendemos nos encaixar dentro de uma empresa é peça-chave para ter um desenvolvimento
produtivo.
MELO, Adriana; ABELHEIRA, Ricardo. Design thinking & thinking design: metodologia,
ferramentas e reflexões sobre o tema. São Paulo: Novatec, 2015.
Sobre o autor
Gerente/Publisher
Jeane Passos de Souza
Coordenação Editorial/Prospecção
Luís Américo Tousi Botelho
Márcia Cavalheiro Rodrigues de Almeida
Administrativo
João Almeida Santos
Comercial
Marcos Telmo da Costa
Acompanhamento Pedagógico
Ana Cláudia Neif Sanches Yasuraoka
Designer Educacional
Wallace Roberto Bernardo
Revisão Técnica
Sabrina Salvitti
Colaboração
Estênio Azevedo Neves
Coordenação de Preparação e Revisão de Texto
Luiza Elena Luchini
Preparação de Texto
Eloiza Mendes Lopes
Revisão de Texto
Amanda Lassak
Projeto Gráfico
Alexandre Lemes da Silva
Emília Correa Abreu
Capa
Antonio Carlos De Angelis
Editoração Eletrônica
Cristiane Marinho de Souza
Sandra Regina Santana
Ilustrações
Cristiane Marinho de Souza
Imagens
iStock Photos
Produção do ePub
Ricardo Diana
Beatriz Bevilacqua
Sousa, Paulo
Contextualização, inovação e competitividade para negócios em alimentação /
Paulo Sousa. – São Paulo : Editora Senac São Paulo, 2020. (Série Universitária)
Bibliografia.
e-ISBN 978-85-396-2426-3 (ePub/2020)
e-ISBN 978-85-396-2427-0 (PDF/2020)
1. Gastronomia 2. Negócios em alimentação 3. Modelos de negócios 4. Food
Service 5. Food Design. I. Título. II. Série.
A Série Universitária foi desenvolvida pelo Senac São Paulo com o intuito de preparar
profissionais para o mercado de trabalho. Os títulos abrangem diversas áreas, abordando desde
conhecimentos teóricos e práticos adequados às exigências profissionais até a formação ética e
sólida. O livro Planejamento e operação em mídias sociais traça um panorama sobre os possíveis
ganhos das marcas e de seus públicos no território das mídias sociais, não só do ponto de vista do
negócio, mas sobretudo do relacionamento e da troca de experiências de valor. Nesse sentido,
apresenta caminhos para a criação e distribuição de conteúdos nas redes sociais diante da
implementação de um processo específico para esse fim. Por meio do estudo de ferramentas e de
casos de mercado, convidamos os leitores a pensarem sobre como traduzir os valores, o universo
e a visão de mundo de suas empresas em uma escolha coerente das plataformas sociais e dos
temas a serem desenvolvidos, integrando-os, ainda, aos canais já existentes. Dessa maneira,
buscamos mostrar formas mais atuais de produção de sentido, engajamento e aproximação de
seguidores e consumidores.
As informações contidas neste livro constituem o essencial de uma área básica do conhecimento
humano: a nutrição, compreendendo a dietética como um de seus ramos mais delicados. E saber
nutrir é papel essencial de todo profissional dedicado à saúde. O livro está dividido em quatro
grandes grupos, ou assuntos importantes para o estudante ou profissional da área: Nutrição e
saúde pública; Nutrição aplicada à área clínica; Alimentação coletiva e Estudo experimental dos
alimentos. Assim, aborda os princípios que envolvem a nutrição humana e os aspectos
específicos que devem ser considerados nos diferentes estágios da vida, como também traz
conceitos relativos à avaliação nutricional, à saúde pública e à alimentação saudável. Ao tratar da
nutrição ligada à área clínica, considera os aspectos relativos à fisiopatologia e à dietoterapia,
além de questões que implicam higiene e segurança alimentar. As técnicas dietéticas e a gestão
em alimentação coletiva aprofundam o tema, sem deixar de suscitar questões relativas à
gastronomia, ao estudo dos alimentos e ao desenvolvimento de novos produtos. Publicação do
Senac São Paulo destinada a alunos, professores e profissionais da área da saúde relacionada à
nutrição e dietética.
Como é esperto esse seu bebê: nem fez um ano e já vai melhorar a alimentação da casa toda. Não
acredita? Está tudo aqui, nas páginas de Comida de Bebê: uma introdução à comida de verdade.
Com apoio de médicos e nutricionistas, Rita Lobo traz as respostas para as dúvidas mais comuns
da fase de introdução alimentar e, de quebra, ainda ensina a família a comer com mais saúde,
mais sabor e muito mais prazer. Venha descobrir como o pê-efe, o prato feito, essa grande
instituição brasileira, vai virar o pê-efinho do bebê.
Se o casal decidiu cozinhar, já deu o passo mais importante para manter uma alimentação
saudável. Rita Lobo apresenta receitas para jantares rápidos e também ensina a planejar o almoço
do dia a dia (pê-efe), a marmita para levar para o trabalho, o brunch para receber os familiares e
ideias de happy hour para os amigos. E todos os cardápios vêm com plano de ataque – um guia
com instruções detalhadas para que cada refeição seja preparada a quatro mãos, em menos tempo
e sem pesar para ninguém. Você vai encontrar dicas para elaborar a lista de compras, orientações
para armazenar os alimentos e escolher utensílios e muitos truques para economizar. Cozinhar
vai virar programa a dois!
Como é que eu transformo a compra da feira em refeições variadas e saborosas todo santo dia?
Este livro tem a resposta. Rita Lobo ensina sua fórmula de criar receitas e apresenta mais de 200
opções para variar o cardápio. Em O que tem na geladeira?, que é baseado na série de mesmo
nome do canal Panelinha no YouTube, você vai descobrir que preparar comida saudável de
verdade é mais simples do que parece. O livro é dividido em 30 capítulos, cada um dedicado a
um alimento da abóbora ao tomate, passando pela cebola, escarola, milho, repolho, entre outros.
E você vai aprender os melhores cortes, técnicas de cozimento e combinações de sabor para
esses alimentos. Além das preparações com hortaliças, raízes e legumes, o livro apresenta
também opções de receitas com carnes para compor o cardápio. Tem filé de pescada frita, tagine
de peixe, coxa de frango assada, peito de frango grelhado, bisteca grelhada, lombo de porco,
costelinha, kafta de carne, bife de contrafilé e muito mais. Nas mais de 200 receitas, bem
variadas, você encontra opções de entradas, pratos principais, muitos acompanhamentos e até
alguns bolos, como o de cenoura, de mandioca, de pamonha, e sobremesas, como o doce de
abóbora, o curau e um incrível sorvete de cenoura indiano, o kulfi. Para Rita Lobo, cozinhar é
como ler e escrever: todo mundo deveria saber. Mas ninguém nasce sabendo! Este livro vai dar
uma mãozinha nesse processo de aprendizagem.