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Comentar um pouco a importância da Iná para os teatros de grupo de São Paulo, como sucessora de
Decio de Almeida Prado e Sabato Magaldi nessa função.
A autora também nos ajuda a fazer duas objeções ao texto de Adorno, que
já antecipo pra não precisarmos voltar ao comentário:
o Em que medida o texto não se coloca como uma prescrição que, na
prática, retira da categoria ensaio uma boa parte dos textos, caso
observemos todas as características apontadas pelo filósofo.
o Não haveria algo de idealização nisso, de perda das bases materiais?
Adorno começa seu ensaio falando do desconforto que o ensaio tem causado
na Alemanha justamente por sua “falta de autonomia”. Vejam bem: isso que
lhe falta é seu trunfo, porque a autonomia também pode significar sob
dominção de um saber.
O ensaio “evoca aquela liberdade de espírito” que remonta ao século XVII
(Leibniz). Os textos posteriores estariam sempre demandando subordinação
uma instância qualquer (instância esta que traz uma série de prescrições). “O
ensaio, porém, não admite que seu âmbito de competência seja prescrito.
Em vez de... ” (p.16).
O recorte e a duração do ensaio dependem do gesto do ensaísta . Para Adorno, o
ensaio não transforma a subjetividade em falsa objetividade, e isso seria
uma conquista decisiva. Outra: ao apostar nessa subjetividade, aposta na
mediação, na matéria mediada. A mediação é o inverso da regressão, da
reificação, do misticismo, da religiosidade.
o Tenho uma aposta muito forte de que a mediação vem sendo suprimida
e este é um dos nossos problemas.
O ensaio, então, se distancia da análise (que é a realização de uma forma ou
método), da compreensão (que caminha rumo a um sentido que supostamente
estaria guardado pelo texto), do artigo (que preza pelos pontos objetivos de seu
argumento), do estudo acadêmico (que não raro comprova aquilo que já previa,
como um dogma).
o Em crítica ao Lúkacs de A alma e as formas, Adorno defende que o
ensaio se distancia da arte (“por seu meio específico, os conceitos” e
“por sua pretensão à verdade desprovida da aparência estética”)
Aqui tem um “eureka” maravilhoso do Adorno, que ele não
explicita: o tratado, as análises, os artigos, a arte etc. nunca
podem chegar à verdade. Mas o ensaio pode. Por quê?
Voltaremos a isso.
Adorno comenta o quanto a arte acaba se afastando da
verdade esta que o ensaio pode alcançar (p.22).
o Ao não seguir as regras do jogo – o que leva a crer que seguir as regras
do jogo, mesmo para combatê-lo, é algo não subversivo –, constrói-se a
subversão do ensaio.