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07/07/2019 Identidade imperial e multietnicidade na União Soviética.

Ensaio bibliográfico

Ler História
69 | 2016 :
Vária
Em debate

Identidade imperial e
multietnicidade na União
Soviética. Ensaio bibliográfico
A C
p. 125-137

Texto integral
1 Assinalam-se no ano de 2016 os 25 anos da dissolução da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS), formalmente declarada em 26 de dezembro de 1991, após
uma sucessão de declarações de independência das várias repúblicas que até então a
compunham. Chegava assim ao fim uma entidade política de tipo imperial1, que
abrangia um largo grupo de nacionalidades, etnias, línguas, religiões e culturas
distintas (no auge da sua existência, a URSS compreendia 15 repúblicas e mais de 100
nacionalidades). A passagem deste aniversário constitui por isso um momento
oportuno para fazer um balanço da produção historiográfica que, antes e depois dessa
data, se tem ocupado da problemática das nacionalidades, do nacionalismo e da
multietnicidade no espaço político da URSS.
2 Importa lembrar que, do ponto de vista da história soviética, essa sempre foi uma
questão crucial e simultaneamente complexa, na medida em que se baseava em
dinâmicas e princípios contraditórios. A própria fórmula político-constitucional
encontrada aquando da criação formal da URSS em 1922 – um Estado de tipo federal e
multinacional, dirigido por um soviete supremo e controlado por um partido único – foi
a primeira expressão evidente dessas contradições, ou, se preferirmos dar-lhe uma
interpretação mais generosa, foi uma solução de compromisso entre as mesmas. Ou
seja, se, por um lado, a URSS correspondia, para muitos efeitos, à reconstituição do
espaço político e económico do antigo império russo, por outro, os dirigentes soviéticos
negavam tratar-se de um império, e sempre mantiveram uma retórica anti-imperialista;
se, por um lado, necessitavam de envolver as nacionalidades e, para isso, reconhecer-
lhes identidade cultural e um estatuto territorial formalizado, por outro, rejeitavam o
nacionalismo como princípio político, aliás, contrário à doutrina de um
internacionalismo de classe; se, por um lado, a união ou federação das nacionalidades

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implicava conceder-lhes direitos políticos de representação e autogoverno, por outro,


isso colidia com a disposição intrinsecamente centralista do poder soviético. Estas
contradições, com um balanço entre os seus termos que foi variando ao longo do tempo,
mantiveram-se no decurso de toda a existência da URSS, em cuja dissolução, de resto,
viriam a desempenhar um papel decisivo.
3 Durante muito tempo, especialmente durante a Guerra Fria, a questão das
identidades e da diversidade nacional e étnica no interior da URSS foi relativamente
negligenciada pelos académicos, pelos próprios analistas políticos e pela opinião
pública do «Ocidente», que tendiam a olhar para a URSS como um bloco monolítico.
Os estudos publicados nessa época são, por isso, relativamente escassos, embora
mereçam a devida atenção. Seria sobretudo no contexto da dissolução do bloco
soviético e da emergência dos nacionalismos no seu antigo espaço, que se seguiu à
queda do muro de Berlim e ao fim da URSS, que o mundo verdadeiramente se deu
conta daquela diversidade e os académicos começaram a estudá-la intensivamente. Os
anos 1990 foram assim o período de maior concentração de estudos sobre estas
matérias. Mais recentemente, o assunto voltou à agenda historiográfica, e de outras
disciplinas, agora com um novo enquadramento e, porventura, maior distanciamento.
A este respeito, importa ter presente que quer a ascensão e queda de um bloco
ideológico que durante décadas rivalizou com um bloco antagónico na partilha da
influência no mundo, quer a subsequente explosão das questões étnicas e nacionais em
torno dos Estados pós-soviéticos, foram fenómenos geradores de paixões políticas, que
enviesaram, num sentido ou noutro, muita da literatura sobre o assunto.
4 A revisão bibliográfica que a seguir se apresenta está organizada, quanto ao essencial,
de modo cronológico, arrumando os estudos de acordo com os três períodos acima
indicados. Embora o propósito principal deste trabalho seja o de fazer um balanço
historiográfico, é importante notar que as matérias em questão têm sido objeto de uma
abordagem disciplinar que vai muito para além da história, com contributos
importantes, nomeadamente, da ciência política e relações internacionais, da
sociologia, da antropologia e da linguística, dos quais se dará alguma conta nas páginas
que se seguem, sobretudo na medida em que incorporem alguma perspetiva histórica.
Deve advertir-se, no entanto, que sendo já muito vasta, no seu conjunto, a produção
académica com relevância direta ou indireta sobre as matérias em causa, está fora dos
propósitos deste ensaio a sua recapitulação exaustiva, tendo havido apenas a
preocupação de selecionar os trabalhos, e sobretudo os autores, mais influentes e
representativos.

Os pioneiros do período da Guerra Fria


5 O interesse académico internacional pela questão das nacionalidades no império
soviético conheceu o que poderemos chamar uma primeira fase – longa, com pouca
produção, e em geral ideologicamente comprometida – durante a denominada Guerra
Fria. Uma incursão pelos estudos realizados nessa época, chamemos-lhes pioneiros,
passa necessariamente por Richard Pipes, autor que produziu uma vasta obra sobre a
Europa de Leste e os processos de doutrinação do comunismo, tendo dado especial
atenção à questão do nacionalismo no contexto da transformação da Rússia na URSS. A
obra de referência deste professor emérito da Universidade de Harvard foi publicada
pela primeira vez em 1954, focando-se no processo de integração dos não-russos da
periferia na dinâmica construtiva da União Soviética2. É uma abordagem
historicamente original sobre as nacionalidades. Richard Pipes procura encontrar a
natureza do regime político através de uma reflexão sobre a institucionalização forçada
das etnias locais processadas pela revolução russa de 1917 e o progressivo alargamento
à Ucrânia, Bielorrússia, Crimeia e Cáucaso. A obra desenvolve um debate sobre o
relacionamento entre o centro imperial e a periferia através dos vários organismos
resultantes da construção política soviética. Richard Pipes pretende demonstrar que a
descentralização nas várias repúblicas resultou precisamente numa centralização em
Moscovo, ou seja, os grupos nacionais surgem aqui como simples instrumentos da

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política soviética. Esta interpretação transporta as marcas ideológicas resultantes do


contexto de antagonismo entre a URSS e os Estados Unidos, não podendo deixar de se
registar que o autor se posicionava parcialmente no debate, tendo mesmo vindo a
exercer funções políticas durante a administração de Ronald Reagan. Porém, o estudo
mantém o seu carácter original e incontornável na historiografia contemporânea.
6 Em sentido semelhante, é impossível não referir Robert Conquest, um dos autores
mais prolíficos e influentes da segunda metade do século XX, mas também um dos mais
controversos, dada a sua personalidade bastante singular e a sua ligação ao
departamento de propaganda antissoviética dos serviços secretos britânicos, onde
recolheu muita da informação em que baseou os seus livros. A sua obra porventura
mais conhecida é aquela que dedicou ao «terror estalinista» dos anos 1930,
descrevendo nomeadamente os processos de Moscovo, os métodos de obtenção de
confissões, os saneamentos de escritores e as purgas das elites, mas na qual a questão
das nacionalidades era focada apenas de forma lateral3. Especificamente sobre esse
tópico havia já publicado, no entanto, um livro acerca da deportação das
nacionalidades, que logo se destacou pelo facto de o autor assumir o conceito de
império multiétnico4. Mas também porque, quando foi publicada em 1960, se tratava
da única obra completa e de perfil académico sobre as deportações em massa de grupos
étnicos minoritários durante o estalinismo, como foi então classificada por Walter
Kolarz, ele próprio um dos principais especialistas sobre a questão das nacionalidades
no império soviético5.
7 O balanço da produção académica publicada em plena vigência do regime soviético
deve ainda incluir as importantes obras de Edward C. Thaden que tratam do
nacionalismo conservador dos russos e das fronteiras ocidentais do seu império6. O
processo da russificação exercido sobre as outras etnias e nacionalidades apresentou-se
como uma forma de assimilação das populações não-russas através da língua e da
cultura, mas, segundo o autor, na maior parte das vezes, o domínio acabou por ser
apenas administrativo.
8 Mais tarde, no final da década de 1970, Alexandre Bennigsen e S. Ender Wimbush
ensaiaram uma articulação conceptual entre comunismo e nacionalismo, tendo em
vista responder às realidades concretas da implantação ideológica nos países e nas
regiões de maioria muçulmana7. Trata-se de uma abordagem com interesse específico
para um nicho dos estudos relativos ao islamismo soviético, tema que também foi
objeto de análise por Hélène Carrère d’ Encausse8. Desta historiadora francesa
destaquem-se igualmente os seus vários estudos sobre a articulação entre as dinâmicas
revolucionárias e os nacionalismos, tomando nomeadamente como linha de
investigação o diálogo e a tensão entre o comunismo e as questões da nacionalidade9,10.
9 Desta mesma época, há que dar também o devido relevo às investigações de Teresa
Rakowska-Harmstone. Professora emérita de ciência política na Carleton University
(Canadá), é considerada uma das principais referências nos estudos soviéticos,
distinguindo-se sobretudo pelos vários artigos e livros que publicou ainda na década de
1970, com destaque para a sua obra sobre o comunismo na Europa de Leste11. Em 1974,
escreveu um ensaio sobre as «Dialéticas do Nacionalismo na União Soviética», onde
identificava o potencial de crescimento deste problema e previa as condições em que
poderia ocorrer uma rutura: «Pode-se antecipar um crescimento contínuo da
consciência nacional entre as minorias soviéticas», escreveu Harmstone, acrescentando
que a perturbação seria crescente, «mas não necessariamente destrutiva do sistema
político existente». Isto porque se apresentava como previsível que as lideranças
políticas soviéticas conseguissem «anular tais manifestações extremas em condições
normais». Esta expressão era a chave-interpretativa: «condições normais.» Teresa
Rakowska-Harmstone advertia que as premissas poderiam ser anuladas e antecipava
que os nacionalismos explodiriam perante um «estímulo externo», ou seja, «um
conflito internacional»12. Esse detonador acabaria, porém, por ser essencialmente
endógeno ao império.
10 Num registo um pouco diferente, importa também considerar os influentes estudos
de Walker Connor sobre a origem e as dinâmicas dos nacionalismos, na medida em que
se assumiram como indutores e formadores do próprio debate. Apelando a uma
clarificação de conceitos, Connor foi responsável pela formulação original do próprio
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conceito de «etno-nacionalismo» – que encerra em si a ideia de que o nacionalismo tem


essencialmente uma raiz étnica –, conceito que se constituiria como um instrumento
metodológico de interpretação e de análise dos fenómenos concretos que foram
surgindo especialmente após a desintegração da União Soviética13. Mas Connor teve
ainda um outro importante papel na renovação dos estudos sobre o problema das
nacionalidades na URSS, ao introduzir no debate, numa obra publicada em 1984, o
modo como o nacionalismo e a questão nacional eram perspetivados à luz da própria
matriz ideológica do regime soviético – o marxismo e o leninismo. É certo que já alguns
anos antes vários autores, reunidos num livro editado por Haupt, Lowy e Well, tinham
discutido a relação teórica e ideológica entre marxismo e nacionalismo, mas haviam-no
feito apenas para o período 1848-191414. Mas, na década de 1980, a convicção ainda
prevalecente nos meios académicos (e políticos) era a de que o regime soviético, tal
como outros Estados socialistas, tinha conseguido incorporar e dissolver os ímpetos
nacionalistas, uma tese que Connor vinha contrariar, pondo em relevo precisamente as
características particulares que permitiam aos nacionalismos agregados na União
Soviética resistir aos princípios unificadores e supranacionais do marxismo-
leninismo15.
11 Entretanto, os anos 1980 começavam a ficar marcados por uma certa alteração do
enquadramento político internacional, nomeadamente com o advento da era
Gorbatchev e da Perestroika, o que também reanimava o interesse académico pela
URSS e pelo mundo comunista. No campo dos estudos soviéticos (embora não
especificamente sobre a questão das nacionalidades) destaca-se por essa altura a
historiadora de origem australiana Sheila Fitzpatrick, cujas investigações na busca de
particularismos sociais na URSS constituem um ponto de referência na reinterpretação
da mobilidade social como explicação e legitimação do regime soviético. Nesta
perspetiva revisionista, as possibilidades concretas concedidas às massas trabalhadoras
terão sido instrumentalizadas num sentido positivo e o «Estado proletário» significaria
por definição, e consequência, a ascensão dos proletários, não apenas no aparelho
produtivo como também nas próprias estruturas estatais e partidárias. Esta dimensão
da luta de classes focada nas suas dimensões sociais e culturais apelava em simultâneo
à secundarização das dinâmicas políticas, no sentido em que o modelo do Estado não
esgotava a compreensão de fenómenos interpretativos de considerável relevância. Mas
Fitzpatrick merece referência neste balanço historiográfico sobretudo pelo papel
principal que desempenhou na dinamização dadenominada escola revisionista de
Chicago, tão influente nesses anos e nos seguintes16.
12 É verdade que os trabalhos produzidos no «Ocidente» durante a era da Guerra Fria
estão muito marcados tanto pelos preconceitos e pela rivalidade de natureza ideológica,
quanto, não menos importante, pela inacessibilidade aos arquivos soviéticos. No
entanto, é sobre o trabalho destes «pioneiros» que a historiografia da especialidade
assenta uma parte importante do percurso identificado neste ensaio bibliográfico.

A renovação dos anos 1990


13 A queda do muro de Berlim, nos finais de 1989, e os vários acontecimentos que se lhe
seguiram, nomeadamente a desagregação do bloco soviético e da própria URSS,
despertaram um grande interesse público e académico pelas questões do nacionalismo
e da etnicidade naquele espaço político. Esse interesse, renovado pela própria
atualidade da questão, de par com a progressiva abertura dos arquivos dos antigos
países socialistas, marcaram necessariamente a abertura de um ciclo regenerador,
conduzindo os especialistas para novos caminhos analíticos que geraram novos
debates.
14 Entre os primeiros dos muitos trabalhos que então se publicaram, cabe destacar dois
livros que surgiram ainda nos conturbados anos finais da URSS – um assinado por
Bohdan Nahaylo e Victor Swoboda, e outro pelo historiador alemão Gerhard Simon17.
Embora com perspetivas diferentes, tinham a ambição de traçar os avanços e recuos da
política de reconhecimento das nacionalidades ao longo de todo o regime soviético, e de

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analisar a receção e reação das populações não-russas a essas políticas. Numa linha um
pouco diferente, procurando introduzir uma perspetiva histórica comparativa, um
outro livro editado em 1992, mas resultante de uma conferência realizada em 1990,
punha em comparação o modo como a problemática dos nacionalismos fora enfrentada
por três entidades políticas assentes em realidades multiétnicas – o império
Habsburgo, o império czarista e a União Soviética18.
15 Também merece referência, nesse contexto de transição, um livro dirigido ao público
generalista logo após o golpe de Moscovo de 1991, coordenado por Miron Rezun,
especialista de ciência política e autor de uma dúzia de livros sobre as lutas pelo poder
na URSS e em países do Médio Oriente e da Ásia Central19. Nesta obra coletiva
sustentava-se que o governo soviético estava a viver uma crise imperial decorrente da
perturbação da consciência imperial russa e identificava-se a origem do mal nos
problemas dos nacionalismos e da multietnicidade. Sem que a queda do império
constituísse propriamente uma novidade, «desta vez as mudanças serão tão
importantes que terão um impacto duradouro, não apenas sobre os muitos não-russos
no território da ex-URSS, mas no resto do mundo também, sendo difícil prever as
implicações da desintegração dessa política outrora poderosa», escrevia-se na
introdução. Os contributos dos vários autores reunidos nesta obra tentam apresentar
uma análise abrangente do impacto do nacionalismo na dissolução soviética e os efeitos
dessa dissolução, concluindo que, apesar de o império se ter esgotado, a Rússia
permaneceria como potência mundial, e antecipavam o surgimento de uma nova forma
de nacionalismo russo agressivo e tendencialmente expansionista.
16 Com uma abrangência interdisciplinar mais ambiciosa, registe-se a publicação em
1992 de um livro reunindo um conjunto de cinco estudos de especialistas de várias
nacionalidades nas áreas de história, economia, sociologia e relações internacionais.
Este volume abordava de forma transversal o colapso da URSS e o surgimento dos
novos Estados independentes, e apontava no sentido de que as políticas soviéticas que
pretendiam dissolver as distinções nacionais produziram de forma não intencional uma
poderosa rede de identidades nacionais como consequência da revolution from above,
ou seja, a lógica interna da mudança das lideranças políticas transformou a questão das
nacionalidades de um problema menor para um problema maior e desencadeou o
processo de desintegração da URSS20.
17 No contexto político internacional dos anos 1990, especialmente marcado pela
implosão da União Soviética, um acontecimento para muitos tão extraordinário quanto
surpreendente, era inevitável que a problemática das nacionalidades fosse investigada
principalmente na sua articulação com esse acontecimento. Assim aconteceu também
com Ronald Suny, um dos mais influentes especialistas de estudos soviéticos (em
história e ciência política), que já havia publicado vários trabalhos sobre os
nacionalismos da Ásia Central nas décadas de 1970 e 1980, e que voltou ao tema em
1993 com um livro sugestivamente intitulado A Vingança do Passado, no qual defendia
claramente que o colapso do regime soviético tinha sido causado pelos nacionalismos
unificados em torno da hostilidade ao Kremlin21. Partindo do estudo da formação e
crescimento das nações dentro da União Soviética e das políticas contraditórias
dirigidas aos povos não-russos, Suny garantia que foram as reformas internas que
acabaram por conduzir à revolução, e que as tentativas de renovação levaram à própria
desintegração. À medida que o próprio centro abdicou de grande parte do seu controlo
sobre o país, durante os anos de Mikhail Gorbatchev, os comunistas não-russos (e,
quando esse controle se extinguiu, até mesmo os russos) dividiram-se entre os que
desejavam preservar o Estado mais abrangente, sem os seus aspetos imperiais, e os que
estavam dispostos a afastar-se dele em busca de uma soberania separada22.
18 Essa tem sido, de resto, uma interpretação genericamente partilhada pelos
especialistas de ciência política ao longo da década de 1990, e mesmo em alguns
trabalhos mais tardios. A título de exemplo, Mark Beissinger, professor de ciência
política na Universidade de Princeton, e diretor do Princeton Institute for International
and Regional Studies, aborda a relação entre o nacionalismo e o colapso da União
Soviética recorrendo a vários casos de estudo para tentar responder a uma pergunta
essencial: como é que aquilo que parecia impossível em 1987, isto é, a desintegração da
URSS, se tornou igualmente inevitável em 1991? O recurso ao inovador conceito de
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«thickened history» (história concentrada, ou aceleração do curso da história pela


acumulação de eventos extraordinários num curto período) permitiu-lhe construir uma
tese que tenta identificar relações entre as condições estruturais pré-existentes ao
império e os eventos gerados pelas explosões massivas de nacionalismos que
conduziram ao colapso23.
19 Outro exemplo é o trabalho de Astrid Tuminez, formada em estudos soviéticos em
Harvard, e atualmente professora em Singapura, que identifica as políticas de
Gorbatchev como o bater de asas que iniciou a derrocada24. Em primeiro lugar, cita a
incapacidade do último líder soviético para estabelecer acordos viáveis entre o centro e
a periferia; depois, a sua recusa em usar a força quando surgiram os primeiros
confrontos étnicos e nacionalistas, e, por fim, a deserção das elites russas do regime
soviético. Neste caso se inclui Boris Yeltsin, cujo posicionamento contribuiu
decisivamente para acelerar a desintegração. O que leva Tuminez a afirmar que as
pressões étnicas e nacionalistas não foram as principais causas. Esta interpretação da
ciência política sobre o conflito entre dirigentes soviéticos foi também integrada pela
autora numa perspetiva de muito mais longa duração, como está patente no seu livro
sobre o nacionalismo russo desde 185625. Diga-se, de passagem, que uma parte
substancial do debate na ciência política insiste em aprisionar a questão dos
nacionalismos e da extinção da União Soviética numa projeção tardia do pós-Guerra
Fria.
20 Entretanto, diversamente da maioria dos trabalhos que temos vindo a citar, outros
autores exploravam as questões da multietnicidade e das nacionalidades dentro da
URSS através de linhas de investigação menos diretamente dependentes da
problemática da sua dissolução. Nesse âmbito, cumpre referir a publicação, em 1994, de
um monumental dicionário etno-histórico do império russo e soviético, dirigido por
James Stuart Olson, que constituiu um contributo muito importante para o
aprofundamento dos estudos sobre a diversidade étnica das populações incorporadas
na URSS26. A obra reúne informação que favorece enormemente o estudo das forças
centrífugas dos nacionalismos étnicos que se libertaram e destruíram o império
comunista. Este dicionário disponibiliza centenas de entradas temáticas para as várias
etnias e inclui referências bibliográficas, tabelas cronológicas e anexos com informações
estatísticas. Trata-se de um instrumento de referência essencial para os estudiosos da
especialidade. A análise dessa complexidade cultural da antiga União Soviética
contribui para a compreensão da posterior explosão das identidades étnicas e
nacionalistas dentro do império, assim como do processo de formação de novos
Estados-nação nesse mesmo espaço.
21 Num artigo publicado nesse mesmo ano de 1994, sobre a reconfiguração da Europa
de Leste após o colapso da União Soviética, o sociólogo Rogers Brubaker introduziu a
ideia de uma herança centrada num sentimento de pertença, tópico que o autor
desenvolveria, dois anos mais tarde, num livro onde aprofunda ideias sobre os
nacionalismos europeus e procede à sua análise numa dimensão histórica e
comparativa27. A obra constituiu acima de tudo uma referência para os estudos sobre a
etnicidade e formação dos Estados-nação numa vertente marcadamente sociológica.
22 Esta discussão sobre a variedade e a complexidade étnica do império soviético seria
entretanto enriquecida com a publicação de uma obra coordenada por John Morison,
reunindo um vasto conjunto de estudos apresentados num congresso em 1995 por
académicos de várias áreas disciplinares28. Cerca de duas dezenas de autores de várias
nacionalidades apresentaram comunicações envolvendo questões históricas, culturais,
linguísticas, religiosas e económicas, no sentido de construir um quadro sólido e
abrangente sobre etnicidade, nacionalismo e identidade imperial. O encontro permitiu
que um conjunto de historiadores pudesse pela primeira vez apresentar investigações
que decorreram da então recente abertura dos arquivos dos antigos regimes
comunistas. Esta obra reúne informação que permite compreender quais os
mecanismos soviéticos de expansão territorial e como se exerceu a dominação
multiétnica resultante do alargamento territorial.
23 Por fim, esta breve recapitulação da literatura dos anos 1990 não ficaria completa
sem assinalar aquele que foi sem dúvida um dos autores mais marcantes e influentes –
Yuri Slezkine, um jovem historiador russo, emigrado nos EUA, que emergia do grupo
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de investigadores que tinham anteriormente acompanhado Sheila Fitzpatrick. Num


simples, mas muito inspirador, artigo publicado em 1994, Slezkine descrevia
metaforicamente a URSS como uma espécie de casa comunal em que os senhorios (os
dirigentes comunistas russos) tentavam subordinar os diversos inquilinos (as
repúblicas nacionais) a um conjunto de regras comuns, ao mesmo tempo que os
incentivavam a viver de forma autónoma nos seus próprios quartos29. Slezkine
começava por criticar os estudiosos que recusavam compreender a «etnofilia crónica»
do regime soviético, defendendo que as políticas soviéticas de nacionalidade não só
existiram por si mesmas, como foram concebidas e realizadas por nacionalistas. Depois,
posicionou esta tentativa de institucionalizar territorialmente a heterogeneidade étnica
no período estalinista e, com oportunidade semântica, classificou Estaline como o «pai
das nações», para logo advertir, com sentido histórico, «embora não de todas as nações
nem durante todo o tempo». Slezkine pretendia assim destacar a centralidade da
etnicidade acima do próprio conceito de classe e acomodar os nacionalismos e os
sentimentos de libertação nacional na própria fundação do marxismo-leninismo. A
construção soviética como um império de nações baseou-se na integração dos
nacionalismos na sua própria conceção de uma união de repúblicas socialistas, sendo
que os fatores de unidade na construção estiveram mais tarde presentes nas dinâmicas
da desintegração da periferia multinacional. Mas o essencial do seu argumento era o de
que os dirigentes soviéticos, como princípio, tinham promovido e não oprimido os
particularismos étnicos30.
24 Esta mesma tese seria depois retomada e desenvolvida, entre outros, por Terry
Martin, autor de alguns dos estudos mais consistentes sobre a política soviética de
nacionalidades. Num artigo publicado em 1998 sobre as limpezas étnicas soviéticas,
assim como na tese de doutoramento de 1996 (só publicada em 2001), Martin
procurava resolver ou explicar um aparente paradoxo: como é que um Estado
genuinamente empenhado em salvaguardar as particularidades étnicas pôde ser ao
mesmo tempo responsável por algumas das políticas de limpeza étnica mais violentas
do século XX, especialmente aquelas que foram prosseguidas durante o consulado de
Estaline? A resposta que o autor dá é complexa, mas pode resumir-se do seguinte
modo. Nos anos 1920 a política soviética baseava-se em dois princípios: por um lado,
promover ativamente (aquilo a que Martin chama uma política de «ação afirmativa») a
consolidação e institucionalização das múltiplas nacionalidades que integravam a
URSS, e, por outro, desvalorizar num certo sentido a nacionalidade russa, de modo a
que as políticas centralizadoras fossem percecionadas como soviéticas e não como
russas, assim prevenindo a emergência de nacionalismos separatistas. Porém, a partir
dos anos 1930, com Estaline, a primeira política tornou-se mais contida, ao passo que a
segunda foi invertida, com uma sobrevalorização, ainda que não institucionalizada, da
nação russa, ao mesmo tempo que os cidadãos de etnias não nativas das repúblicas
soviéticas (polacos, finlandeses, estónios, lituanos, alemães, gregos, ciganos, iranianos,
coreanos, chineses, etc.) foram estigmatizados e violentamente perseguidos e
deportados em ações maciças de limpeza étnica. Em suma, a limpeza étnica foi
fundamentalmente dirigida apenas contra algumas das nações31.

As novas tendências na viragem do


século
25 Depois do interesse que suscitaram nos anos 1990, no contexto da desagregação da
URSS ou no seu rescaldo, os problemas em discussão neste ensaio bibliográfico viriam
a ganhar uma nova atualidade, e também um novo enquadramento, sobretudo devido à
revitalização e renovação dos estudos sobre impérios ocorrida nos últimos 10-15 anos.
Os impérios voltaram à agenda historiográfica, e de outras disciplinas, suscitando novas
investigações e discussões quer sobre a sua definição conceptual ou princípios
constitutivos, quer sobre a sua história ou sobre as suas heranças32, neste caso
convergindo por vezes com os interesses temáticos de outro campo interdisciplinar
bastante dinâmico e pertinente, o dos estudos pós-coloniais.
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26 Um dos temas em destaque tem sido precisamente o da relação entre impérios e


Estados-nação, com óbvias implicações para o caso em apreço, mesmo que muitas das
novas contribuições se reportem a outros contextos históricos e geográficos ou a uma
discussão geral do tópico. Entre os vários trabalhos sobre o assunto, merecem aqui uma
especial referência aqueles que têm vindo a questionar a linha de interpretação mais
comum, e ainda prevalecente na academia, segundo a qual estes dois tipos de entidades
políticas seriam essencialmente antagónicos e historicamente sequenciais, ou seja, e
simplificando, que no curso da história os Estados-nação vieram a seguir aos impérios e
contra eles. Afastando-se desta perspetiva, Miguel Angel Centeno e Elaine Enriquez
veem na organização política e no funcionamento dos estados nacionais mais elementos
de continuidade, sobrevivência ou herança dos impérios dos quais emergiram do que
elementos de rutura33. Na mesma linha, Krishan Kumar chama a atenção para a
existência de semelhanças significativas entre os dois tipos – reconhecendo
inclusivamente que existem Estados-nação que são «impérios em miniatura», do
mesmo modo que muitos impérios são «Estados-nação em grande» – e prefere
considerar impérios e Estados-nação mais como projetos políticos alternativos do que
antagónicos, ambos à disposição das elites consoante as circunstâncias34. Consolidando
estas perspetivas revisionistas que questionam a dicotomia entre impérios e nações (e
nacionalismo), refira-se ainda o livro recentemente publicado por Stefan Berger e
Aleksey Miller35. Conforme sugere o próprio título, a proposta teórica destes autores é a
de «nacionalizar os impérios», ou seja, a de mostrar que, sobretudo durante o longo
século XIX, tanto a consolidação e formação de impérios como a de nações foram dois
processos muito mais interligados do que opostos. A aposta no nacionalismo, na
identidade nacional e na criação de outros elementos próprios do Estado-nação no
próprio seio dos impérios – no seu núcleo central, entenda-se – foi mesmo um dos
instrumentos chave desses impérios para se manterem e reforçarem o seu domínio. Em
abono desta tese, o livro inclui um conjunto de casos de estudo e de capítulos de
discussão assinados por vários autores de referência.
27 Os trabalhos acabados de indicar, como se disse, não têm a Rússia como foco
específico, mas, neste novo contexto académico do século XXI, também o império
russo, já não necessariamente apenas na sua «fase soviética», voltou a constituir um
objeto de estudo com renovado interesse. Dentro desta renovação, cabe referir, desde
logo, o historiador Andreas Kappeler, cuja obra de referência ensaia um certo regresso
às origens, ou seja, à questão nacional na formação do império russo, e posteriores
dinâmicas que se manifestaram nos séculos seguintes, onde se incluem as formas
encontradas pelos soviéticos para integrarem novos territórios, ou as consequências
desagregadoras das políticas adotadas por Mikhail Gorbatchev36.
28 Entre os autores com maior atividade e originalidade nos últimos anos, importa
também citar os nomes de Francine Hirsch, que estudou o papel dos etnógrafos russos
da primeira metade do século XX na definição e execução da política soviética de
nacionalidades37, ou de Willard Sunderland, sobre a colonização russa das estepes da
Eurásia ou (com Stephen Norris) sobre a diversidade multicultural do império russo
captada através de histórias de vida singulares38. Outros, como Nicholas Breyfogle e os
seus colaboradores, têm-se ocupado da colonização russa das periferias do império39.
Entretanto, em 2013, o historiador britânico Jeremy Smith deu à estampa a mais
atualizada síntese de conjunto sobre a problemática das nacionalidades na URSS e nos
Estados pós-soviéticos40. Ainda mais recentemente, Sanna Turoma e Maxim Waldstein
coorganizaram um livro onde, a partir das categorias combinadas de espaço e império,
procuram reinterpretar a sempre ambígua relação entre as identidades nacionais e
imperiais na história russa e soviética41. A estes nomes poderíamos ainda acrescentar,
entre outros, os de Jane Burbank42 e Marina Mogilner43, esta última, autora também de
um recente balanço da historiografia pós-soviética, onde procura divisar a emergência
de um novo paradigma no estudo dos impérios e do nacionalismo44. Tudo isto mostra
com estamos perante um tema de indiscutível relevância, que, por isso mesmo, tem
atraído, e vai provavelmente continuar a atrair a atenção de sucessivas gerações de
investigadores.

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Notas
1 Sobre a natureza imperial ou não da URSS, tema controverso e com largo número de
interpretações, veja-se, por exemplo, Dominic Lieven, «Russian Empire and Soviet Union as
imperial polities», Journal of Contemporary History, 30(4), 1995, pp. 607-636; Tania Raffass,
The Soviet Union – Federation or Empire? Londres, Nova Iorque, Routledge, 2012.
2 Richard Pipes, The Formation of the Soviet Union: Communism and Nationalism, 1917-1923.
Cambridge, Londres, Harvard University Press, 1954.
3 Robert Conquest, The Great Terror: Stalin’s Purge of the Thirties. Nova Iorque, Macmillan,
1968. Em 1991, após a abertura dos arquivos soviéticos, esta obra seria reeditada e atualizada
com novos dados e um longo prefácio, onde o autor, no essencial, sustentava a validade das
interpretações iniciais – The Great Terror: A Reassessment. Nova Iorque, Oxford University
Press, 1991.
4 Robert Conquest, The Nation Killers: The Soviet Deportation of Nationalities. Londres, Nova
Iorque, Macmillan, St. Martin’s Press, 1960. Obra revista e atualizada em 1991 como Stalin:
Breaker of Nations. Nova Iorque, Viking, 1991.
5 Walter Kolarz, «The Fate of Soviet Nationalities», Problems of Communism, n.º 11, pp. 48-51
(recensão de um conjunto de sete obras sobre o tema, publicadas em 1959 e 1960). Deste mesmo
autor, ver também Russia and her Colonies. Londres, Philip, 1952, e The Peoples of the Soviet
Far East. Nova Iorque, Praeger, 1954.
6 Edward C. Thaden, Conservative nationalism in nineteenth-century Russia. Washington,
University of Washington Press, 1964; Edward C. Thaden, Russification in the Baltic Provinces
and Finland, 1855-1914. Princeton, Princeton University Press, 1981; Edward C. Thaden, Russia
since 1801: the making of a new society. Oxford: Wiley-Interscience, 1971.
7 Alexandre Bennigsen e S. Ender Wimbush, National Communism in the Soviet Union: A
Revolutionary Strategy for the Colonial World. Chicago, Londres, University Chicago Press,
1979.
8 Hélène Carrère D’Encausse, Réforme et révolution chez les musulmans de l’Empire russe.
Paris, Presses de Sciences Po, 1981.
9 Hélène Carrère D’Encausse, «Communisme et nationalisme» , Revue française de science
politique, vol. 15, n.º 3, 1965, pp. 466-498; Hélène Carrère D’Encausse, L’empire éclaté: la
révolte des nations en U.R.S.S. Paris, Flammarion, 1978.
10 Sobre este mesmo tópico vale a pena citar – não obstante o desfasamento cronológico, mas
porque se trata dos raríssimos exemplos da atenção (indireta) que o tema em revisão neste ensaio
bibliográfico tem recebido da historiografia portuguesa – alguns trabalhos de José Neves:
Comunismo e Nacionalismo em Portugal. Política, Cultura e História no Século XX. Lisboa,
Tinta da China, 2008; «The role of Portugal on the stage of imperialism: communism,
nationalism and colonialism (1930-1960)», Nationalities Papers, 37.04, 2009, pp. 485-499.
11 Teresa Rakowska-Harmstone, Communism in Eastern Europe. Bloomington, Indiana
University Press, 1979; Teresa Rakowska-Harmstone, Russia and Nationalism in Central Asia:
the case of Tadzhikistan. Baltimore, Johns Hopkins Press, 1970; Teresa Rakowska-Harmstone,
The Communist States in Disarray, 1965-1971. Minneapolis, University of Minnesota Press,
1972; Teresa Rakowska-Harmstone, Perspectives for Change in Communist Societies. Nova
Iorque, Westview Press, 1979.
12 Teresa Rakowska-Harmstone, «The Dialectics of Nationalism in the USSR», Problems of
Communism, 1974, mai, pp. 1-22.

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07/07/2019 Identidade imperial e multietnicidade na União Soviética. Ensaio bibliográfico
13 Ver Walker Connor, Ethnonationalism: The Quest for Understanding. Princeton, Princeton
University Press, 1994 (livro que reúne ensaios publicados desde a década de 1960); e Daniele
Conversi (ed), Ethnonationalism in the Contemporary World: Walker Connor and the Study of
Nationalism. Londres, Routledge, 2002 (obra coletiva de tributo ao autor e desenvolvimento
aplicado das suas proposições).
14 Georges Haupt, Michel Lowy e Claudie Well (eds.), Les marxistes et la question nationale
1848-1914. Paris, F. Maspero, 1974. Sobre este mesmo tópico, considerar ainda uma obra
posterior: Roman Szporluk, Communism and Nationalism: Karl Marx versus Friedrich List.
Oxford, University Press, 1991.
15 Walker Connor, The National Question in Marxist-Leninist Theory and Strategy. Princeton,
Princeton University Press, 1984.
16 Desta autora veja-se sobretudo: «New perspectives on stalinism», The Russian Review, vol.
45.04, 1986, pp. 357-373; «The Russian Revolution and social mobility: a reexamination of the
question of social support for the soviet regime in the 1920s and 1930s», Politics and Society, vol.
13.02, 1984, pp. 119–141; The Cultural Front. Power and Culture in Revolutionary
Russia, Ithaca, Londres, Cornell University Press, 1992. Sobre a relevância do seu trabalho, ver
Alexopoulos Golfo, Julie Hessler e Kiril Tomoff (ed.), Writing the Stalin Era: Sheila Fitzpatrick
and Soviet Historiography. Nova Iorque, Palgrave Macmillan, 2011.
17 Ver respetivamente Nahaylo Bohdan e Victor Swoboda, Soviet Disunion: A History of the
Nationalities Problem in the USSR. Nova Iorque, Free Press, 1990; Gerhard Simon, Nationalism
and Policy Toward the Nationalities in the Soviet Union: From Totalitarian Dictatorship to
Post-Stalinist Society. Boulder, Westview Press, 1991. Este último correspondia, na verdade, a
uma tradução para inglês da edição original alemã de 1986, o que é sintomático da oportunidade
editorial do tema.
18 Richard L. Rudolph e F. David Good (eds), Nationalism and Empire: The Habsburg Empire
and the Soviet Union. Nova Iorque, St. Martin’s Press, 1992.
19 Miron Rezun (ed), Nationalism and the Breakup of an Empire: Russia and Its Periphery.
Nova Iorque, Praeger, 1992.
20 G. Lapidus, V. Zaslavsky e Ph. S. Goldman. (eds), From Union to Commonwealth:
Nationalism and Separatism in the Soviet Republics. Cambridge, Cambridge University Press,
1992.
21 Ronald Suny, The Revenge of the Past: Nationalism, Revolution, and the Collapse of the
Soviet Union. Stanford, Stanford University Press, 1993.
22 O autor voltaria mais recentemente ao problema da formação dos novos Estados-nação no
espaço geográfico da antiga URSS em The Soviet Experiment: Russia, the USSR, and the
Successor States. Oxford, Oxford University Press, 2010.
23 Mark R. Beissinger, Nationalist Mobilization and the Collapse of the Soviet State: a tidal
approach to the study of nationalism. Cambridge, Cambridge University Press, 2002.
24 Astrid S. Tuminez, «Nationalism, Ethnic Pressures, and the Breakup of the Soviet Union»,
Journal of Cold War Studies, vol. 5, n.º 4, 2003, pp. 81-136.
25 Astrid S. Tuminez, Russian Nationalism since 1856. Lanham. Rowman & Littlefield
Publishers, 2000.
26 James Stuart Olson (ed), An Ethnohistorical Dictionary of the Russian and Soviet Empires.
Westport, Greenwood Press, 1994.
27 Rogers Brubaker, «Nationhood and the National Question in the Soviet Union and post-Soviet
Eurasia: An Institutionalist Account», Theory and Society, n.º 23, 1994, pp.23-47. Rogers
Brubaker, Nationalism Reframed: Nationhood and the National Question in the New Europe.
Cambridge: Cambridge University Press, 1996.
28 John Morison (ed), Ethnic and National Issues in Russian and East European History
(Selected Papers from the Fifth World Congress of Central and East European Studies). Nova
Iorque, Palgrave Macmillan, 2000.
29 Yuri Slezkine, «The USSR as a Communal Apartment, or How a Socialist State Promoted
Ethnic Particularism», Slavic Review, 53, n.º 2, 1994, pp. 414-452.
30 Deste mesmo autor veja-se também «Imperialism as the highest stage of socialism», Russian
Review, vol. LIX, n.º 2, 2002, pp. 227-234, assim como a interessante entrevista recente em que
descreve e situa historiograficamente a sua obra (disponível em
http://historians.in.ua/index.php/intervyu/1180-yuri-slezkine-i-tend-to-do-my-own-things-and-
expect-you-to-do-yours).
31 Ver Terry Martin, «The Origins of Soviet Ethnic Cleansing», The Journal of Modern History,
vol. 70.04, 1998, pp. 813-861; Terry Martin, The Affirmative Action Empire: Nations and
Nationalism in the Soviet Union, 1923-1939. Ithaca/Londres, Cornell University Press, 2001.
32 Veja-se, por exemplo, Jane Burbank e Frederick Cooper, Empires in World History: Power
and the Politics of Difference. Princeton, Princeton University Press, 2010. Ou, para uma
abordagem mais concetual, Philip Pomper, «The history and theory of empires», History and
Theory, 44.4, 2005, pp. 1-27.

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07/07/2019 Identidade imperial e multietnicidade na União Soviética. Ensaio bibliográfico
33 «Legacies of empire?», Theory and Society, vol. 39.03, 2010, pp. 343-360.
34 Krishan Kumar, «Nation-states as empires, empires as nation-states: two principles, one
practice?», Theory and Society, vol. 39.02, 2010, pp. 39-119.
35 Stefan Berger e Alexei Miller (eds),Nationalizing Empires. Budapeste, Central European
University Press, 2015.
36 Andreas Kappeler, The Russian Empire: A Multi-Ethnic History. Londres, Nova Iorque,
Longman, 2001.
37 Francine Hirsch (2005), Empire of Nations: Ethnographic Knowledge and the Making of the
Soviet Union. Nova Iorque, Cornell University Press, 2005.
38 Willard Sunderland, Taming the Wild Field: Colonization and Empire on the Russian Steppe.
Nova Iorque, Cornell University Press, 2006; Stephen Norris e Willard Sunderland (eds),
Russia’s People of Empire: Life Stories from Eurasia, 1500 to the Present. Bloomington: Indiana
University Press, 2012.
39 Nicholas Breyfogle, Heretics and Colonizers: Forging Russia’s Empire in the South Caucasus.
Nova Iorque, Cornell University Press, 2011; Nicholas Breygfole, Abby Schrader e Willard
Sunderland (eds.), Peopling the Russian Periphery: Borderland Colonization in Eurasian
History. Oxon, Nova Iorque, Routledge, 2007.
40 Jeremy Smith, Red Nations: The Nationalities Experience in and after the USSR. Cambridge,
Cambridge University Press, 2013.
41 Sanna Turoma e Maxim Waldstein (eds.), Empire De/Centered: New Spatial Histories of
Russia and the Soviet Union. Londres, Nova Iorque, Routledge, 2016.
42 Jane Burbank; Mark von Hagen; Remnev, Anatolyi Remnev (eds.), Russian Empire: Space,
People, Power, 1700-1930. Bloomington, Indiana University Press, 2007.
43 Marina Mogilner, Homo Imperii: A History of Physical Anthropology in Russia. Lincoln,
Londres, University of Nebraska Press, 2013.
44 Marina Mogilner, «New Imperial History. Post-Soviet historiography in search of a new
paradigm for the history of empire and nationalism», Revue d’Études Comparatives Est-Ouest,
45 (02), 2014, pp. 25-67.

Para citar este artigo


Referência do documento impresso
Adelino Cunha, « Identidade imperial e multietnicidade na União Soviética. Ensaio
bibliográfico », Ler História, 69 | 2016, 125-137.

Referência eletrónica
Adelino Cunha, « Identidade imperial e multietnicidade na União Soviética. Ensaio
bibliográfico », Ler História [Online], 69 | 2016, posto online no dia 01 março 2017, consultado no
dia 07 julho 2019. URL : http://journals.openedition.org/lerhistoria/2455 ; DOI :
10.4000/lerhistoria.2455

Autor
Adelino Cunha
Universidade Europeia, Lisboa

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Internacional.

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