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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO, Maio/2008 – Vol.

III

JAMESON: UM ESTILO DIALÉTICO.

Marcelo F., LOTUFO


(Orientador): Prof. Dr. Eric M. Sabinson

RESUMO: Este ensaio se propõe a uma pequena reflexão sobre o estilo do conhecido pensador
marxista norte americano Fredric Jameson, baseado na tradução do ensaio Actually Existing
Marxism. O texto procura, colocando-se no papel de um tradutor marxista, entender os nuances
do autor e sua validade no mundo contemporâneo. Por que escrever em um estilo de difícil
acesso? Como pensar a tradução de algo assim? Como pensar em um estilo dialético? Essas são
algumas perguntas que o ensaio tenta pensar. Acompanha também o ensaio uma breve discussão
sobre o próprio ato da tradução.
Palavras chave: teoria literária, crítica literária, marxismo, Jameson, tradução.

I
traduzir e Traduzir

Por trás do ato de traduzir existe a concepção de tradução do próprio


tradutor, que tentaremos resumir a partir de uma importante questão: a diferença
entre traduzir um texto técnico (ou científico) e um poético-literário.
Alguns radicais diriam que esta diferença é bastante clara. Para se traduzir
o segundo, somente um poeta está capacitado e para o primeiro é dada a
necessidade do tradutor se anular. Não descambando para abstrações e extremos
(como comparar Pound a um manual para montar bicicleta) mas tendo sempre
em mente a tradução do ensaio Actually Existing Marxism, de Fredric Jameson,
esta distinção é bastante questionável.
Paulo Rónai, em seu livro Escola de Tradutores, afirma que para traduzir
um manual de geologia em húngaro é importante conhecer bem o húngaro,
assim como o português, mas também, e não menos importante, deve-se
conhecer profundamente geologia A partir desta afirmação pertinente e até
bastante óbvia, percebemos que em idéias “radicais” como a já citada, em geral
se esquece que a afirmação pode funcionar também para o outro lado. Da
mesma maneira que para se traduzir um texto de física é necessário um vasto
conhecimento da própria física, para se traduzir um poema é preciso um vasto
conhecimento em poesia.
Outra questão é a necessidade de fidelidade, que em nossa sociedade
técnica, com suas máquinas de Xerox, de scanners, fotográficas, entre muitas
outras, tornou-se objetiva ao ponto de entendermos fiel como cópia do original.1
Todo texto traduzido deve ser fiel, não há dúvida, mas cabe ao tradutor
interpretar o sentido de 'fiel'. Rònai, por exemplo, afirma que a tradução técnica
pode chegar a uma maior fidelidade do texto, pois utiliza um critério mais
objetivo de fidelidade, enquanto o tradutor literário deve se apegar ao “espírito
do texto”. Ser fiel pode, entre outras definições, significar ser fiel palavra por
palavra, ou à idéia central do texto2, ou ainda reproduzir “o espírito” do mesmo.
Um outro fator que aproxima os supostos tipos de tradução é a
responsabilidade, pelo texto traduzido, que o tradutor tem junto do público
leitor e do próprio autor. Não há como negar que é o tradutor quem faz a ponte
entre o texto (ilegível para aqueles não versados na língua da escritura) e o leitor
interessado.
Além disso, outro tema empregado para diferenciar os tipos de tradução é a
questão de estilo. Costuma-se negar para os textos técnicos a importância, tão
grande nos textos poéticos, do estilo do autor. Mas, como colocou Maillot3, no
livro A tradução científica e técnica, o estilo é como, através da língua, se
exprime o pensamento e, portanto, surgirá em qualquer tipo de prática de
tradução – mais importante e explícito ainda no caso de Fredric Jameson (como
veremos mais adiante), um pensador dialético.
Como conclusão de uma primeira etapa deste estudo, podemos citar Paulo
Ottoni que, em A formação do tradutor científico,4 (que serviu de base para a
maioria destes apontamentos) chega à síntese de que, para a tradução, “levando
às últimas conseqüências podemos, então, afirmar que não é mais possível fazer
a distinção (...) entre texto literário e técnico.”

II
Phármakon

O termo grego que dá o título a esta etapa do breve ensaio representou,


para Derrida, em La dissémination, a dificuldade de se traduzir. Em grego, esta
mesma palavra pode significar “remédio”, “receita”, “veneno”, “droga”, “filtro”

1
. Esta idéia está melhor trabalhada em Johnson, Barbara. “A fidelidade considerada
filosoficamente”, in Tradução: A prática da diferença. Org. Paulo Ottoni, Editora da Unicamp,
2005.
2
.“à idéia central do texto” foi o critério de fidelidade adotado por mim no ensaio já
referido.
3
.La traduction scientifique et technique, 1969. Trad. por Paulo Rónai. Brasília: Editora da
UNB; 1975. citado por Paulo Ottoni em Tradução Manifesta: double bind & acontecimento.
4
. In Tradução Manifesta: double bind & acontecimento. Editora da Unicamp, 2005
270
etc, dependendo de seu contexto. No caso de Fredric Jameson, o contexto é
sempre deixado bastante claro logo nas primeiras páginas. Em seu livro
Marxismo e Forma, por exemplo, avisa ainda no prefácio, que sua intenção é
difundir o marxismo na cultura americana, o que faz de sua tarefa modesta, uma
vez que trabalha com autores consolidados no mundo marxista, algo bastante
ousado. Sendo claras as intenções do autor e somadas com a necessidade de
explicar para seu público algumas questões5, o problema interpretativo e
conotativo que alguns termos poderiam causar é quase eliminado. É interessante
pontuar, sem muito se alongar, também como uma forma de introdução a uma
parte (referente ao estilo do autor) mais empolgante do ensaio, algumas
questões relativas a dificuldades práticas envolvidas nesta tradução.
Em Actually Existing Marxism, em contraposição aos seus “difíceis”
parágrafos e ao complexo tema de que trata, o autor se aproxima do leitor por
meio de expressões bastante coloquiais, como: “the proof, by the way...”,
“Marxism was in any case...”, “The anti-Soviets on the right, of course,
swell...”(grifos meus) e isto somente na primeira página do texto. Na tradução
houve a tentativa, pelo menos, de se manter alguma coloquialidade. Em
português, os exemplos ficaram da seguinte maneira: “confirmado através,
aliás, ...”, “Afinal das contas, marxismo sempre foi...” e “Os anti-soviéticos na
direita, é claro,...” Uma outra leitura possível desta coloquialidade, é que o
autor, através de uma certa ironia, trata o tema complexo, junto a seu
“interlecutor”, com toda a naturalidade possível.
Outra questão que precisa ser pensada ao se traduzir não só o artigo em
questão, mas qualquer texto em língua inglesa, é a da repetição de palavras. No
português a repetição excessiva se torna bastante enfadonha. Já na língua
inglesa, talvez por esta estar acostumada a repetir pronomes, a repetição não é
tão notável. No texto de Jameson, em pouco mais de meia página (me refiro à
segunda página do ensaio), o termo “social-democracy” aparece seis vezes. Em
português, a opção feita foi substituir a expressão por pronomes (esta, aquela,
sua etc...). Outra repetição bastante evidente no texto do autor é o uso do “but”.
Quatro dos parágrafos da primeira parte do texto, sendo dois em seqüência,
iniciam-se com essa palavra, sem falar das existentes no interior dos mesmos.
No português é bastante fácil, sem causar prejuízos ao texto, trocar o “mas”
(but) por sinônimos, tais como: “entretanto”, “todavia”, “porém”, “ao
contrário”, etc...
Outra coisa que pode assustar o leitor desprevenido são os longos períodos
do autor. Somente como uma introdução a esta questão (que, no meu entender,

5
. Esta afirmação é bastante válida para o ensaio em questão, que reflete mais diretamente
uma discussão política. No caso de seus estudos sobre literatura e crítica, aparentemente, isto se
dilui na densidade dos textos.
271
melhor se enquadra na discussão sobre o estilo do autor), cito Marisa Lajolo
que, ao resenhar o livro o Inconsciente Político, diz o seguinte: “a tradução
brasileira disponível acrescenta aos conglomerados mais intransponíveis do
original inglês soluções vernáculas às vezes discutíveis.” Como veremos
adiante, tais soluções são, de acordo com uma possível leitura da proposta do
autor, algo discutíveis. Mas, por serem justificadas, a tradução em questão
tentou manter os períodos longos e maçantes2.

III
(Pensamento)6

Da mesma forma que nos retratos de um pintor há quem enxergue o


próprio pintor, quando Jameson escreve sobre Adorno, a impressão que temos é
que podia estar referindo a si mesmo. Esta, inclusive, é a justificativa que o
autor dá para seu estilo peculiar: “a intenção de fazer o leitor passar
rapidamente por uma frase, de modo que ele pudesse saudar uma idéia pronta
sem esforço, de passagem, sem suspeitar que o pensamento verdadeiro exige
uma descida à materialidade da linguagem uma conformidade com o próprio
tempo na forma da frase? Na linguagem de Adorno – talvez a mais fina
inteligência dialética, o mais fino estilista deles todos – a densidade é ela mesma
um conduto de intransigência: a massa áspera de abstrações e de referências
cruzadas é destinada, precisamente, a ser lida em situação, contra a facilidade
barata daquilo que a circunda, como preço que ele tem de pagar pelo
pensamento genuíno.” 7
Não há como negar à escrita de Jameson, apesar de sua dificuldade de
leitura, qualidades literárias excepcionais. Terry Eagleton, comentando o autor,
escreve que “Jameson composes rather than writes his texts, and his prose (...)
carries an intense libidinal charge, a burnished elegance and unrufflued poise,
which allows him to sustain a rethorical lucidity through the most tortous,
intractable materials” e “For me, its equally unimaginable that anyone could
read Jamesons's own magisterial, busily metaphorical sentences without
profound pleasure, and indeed i must aknowledge that I take a book of his from
the shelf as often in place of poetry or fiction as of literary theory.”8

6.
Na tradução de Marxism and Form, Iumna Simon, Ismail Xavier e Fernando Oliboni, de
maneira muito consciente, mantiveram a essência dos longos períodos presentes no original.
7
. Retirado do prefácio do livro Marxismo e Forma. Este excerto também foi citado por
Marisa Lajolo em sua resenha sobre o autor.
8
. Eagleton, Terry “Frederic Jameson: The politics of style” in Diacritics, Vol 12, No. 3.
Baltimor: The Johns Hopkins University Press. (Autumm, 1982), pp 14-22.
272
O que precisa ser refletido, pensando em nossa tradução, e que Eagleton já
dá indícios em sua afirmação supracitada, é a validade desta prática estilística
do autor e suas implicações. Jameson, um hegeliano-marxista9, procura praticar
e difundir um estilo dialético de escrita10 . O texto de Jameson ilustra muito bem
a famosa afirmação de Hegel: “Tudo é contraditório, todo pensamento” que é,
na realidade, um vir-a-ser “avança graças às contradições que contém, examina
e supera”. Quando o autor fala, por exemplo, da social democracia, parece
defender esta, mas logo em seguida afirma que o valor que a mesma tem é o de
ser falha. “The Social democratic program has a pedagogical value wich
emerges from its very failures when these are able to be perceived as
structurally necessary and inavitable within the system...”
Um leitor desatento, ou um mal tradutor, que não estiver disposto a voltar
no texto para ter certeza das necessárias contradições, provavelmente não seria
capaz de perceber os nuances do pensamento. Mesmo entre os parágrafos, como
podemos verificar pelo grande número de conjunções adversativas que os
iniciam, existe um movimento de sobreposição de idéias. Esta constante
inversão dialética, que mostra a guinada paradoxal de um fenômeno em direção
ao seu oposto, move todo o pensamento do autor. Suas construções se dão
através de seqüências diacrônicas, nas quais o novo vem para deslocar o velho e
onde a mudança em uma proposição altera não só seu oposto, mas todo o resto.
O tecido textual de Jameson é bastante intrincado e se não olhado com cuidado
pode parecer bastante contraditório. Colocado nas mãos de um tradutor não
familiarizado com esta forma de pensar, o texto corre o risco de perder suas
contradições intrínsecas e, conseqüentemente, seu próprio motor.
O próprio Jameson dá um recado, que serve também como um aviso para
tradutores de seus textos, para aqueles que querem escrever dialeticamente
tomarem cuidado com sua liberdade perante o texto e atentarem para a
importância de seu estilo: “Mas, precisamente porque o pensamento dialético
depende tão intimamente do modo de pensar cotidiano que é instado a
transcender, pode tomar uma grande variedade de formas diferentes e
aparentemente contraditórias.” Na tradução, humildemente, foi tentado manter
as contradições do texto.

9
. Jameson considera que o marxismo, por ser mais abrangente, contém todo o
hegelianismo.
10
. Como ilustrador da dialética referida no texto e pensada por Jameson, vale citar
Lafebvre, H. Que em seu livro Lógica Formal Lógica Dialética apresenta a dialética hegeliana de
maneira simplificada. “Já que o conteúdo é feito da interação de elementos opostos, como o
sujeito e o objeto, o exame de tais interações é chamado por definição de dialética” (p.83) “O
raciocínio é o esforço para obter conhecimentos novos a partir de conhecimento já adquiridos, por
penetrar no desconhecido a partir do conhecido. O raciocínio lógico parte, portanto, de certas
proposições admitidas e se esforça por delas extrair, através da mediação, se for o caso, outras
proposições igualmente admitidas, ou seja, conclusões.” (p.150)
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É importante, também, lembrar que manter o estilo de Jameson, que Terry
Eagleton afirma ser “the excess or self delight wich escapes even his own most
strenousuly analytical habits, that which slips through the very dialectical forms
it so persuasively delineates.”11,, não é somente fruto de uma super fidelidade
(in)consciente ao original. Apesar de controversa, sua escrita é bastante
defensável. “O estilo difícil de Jameson deve ser visto, em contrapartida como
uma tentativa sistemática de mascarar a irrealidade do enredo quando posto
frente-a-frente com suas pretensões: como estratégia necessária a escrita tem
que ocultar os buracos na História Una, ela tem que camuflar os holes no
whole.”(p.55-6) afirma Fábio Durão em seu trabalho Uma leitura da dialética e
a dialética do Texto12. Outro fato que poderia justificar esta escrita, e que é tema
do próprio texto traduzido, é a ausência de movimentos de massa no país do
autor, o que o aproximaria a idéia de práxis dos filósofos Adorno e Horkheimer
em Teoria tradicional e Teoria crítica13.. Eagleton coloca, ainda, a escrita do
autor como fruto de uma tentativa de fugir de um discurso crítico fácil
americano (representado tanto pelo pós-estruturalismo, como pela linguagem de
massa) e de não cair no obscurantismo que os teóricos europeus fazem de seus
textos. Por último, como defesa da postura do autor, vale lembrar a primeira
citação desta parte do ensaio, que remete a uma necessidade de se des-reificar a
linguagem como um todo.
Tentando manter, a exemplo do próprio Jameson, um texto dialético, é
importante também procurar algumas contradições no estilo do autor. O próprio
Fábio Durão, aparente defensor deste estilo, nos fornece um primeiro
argumento, quando afirma: “a idéia de práxis para ele [Jameson] está muito
veiculada ao poder libertador que a literatura poderia trazer para a realidade
reificada.” (p.65) Terry Eagleton comenta, e é difícil discordar, que nesta
tentativa de des-reificar a linguagem o autor se coloca em outro extremo, o que,
de certa maneira, ocasiona uma nova reificação da mesma. Negativa à primeira,
é verdade, mas ainda assim uma reificação. Em terceiro lugar, para ilustrar o
real grau de dificuldade que esta proposta textual causa, cabe citar novamente a
professora Marisa Lajolo: “como pode a militância (que é como estou
entendendo a assumida noção de práxis política) exercer-se na opacidade às
vezes inexpugnável deste texto de Jameson? Seus imensos parágrafos,
construídos por igualmente imensos períodos, podem ser desalentadores.

11
. Trecho do ensaio já citado. Neste ensaio, Terry Eagleton, além das questões mais
referentes a linguagem, que justificam o estilo de Jameson, também levanta diversas questões de
caráter político que complementam a discução sobre a questão. Nos reteremos, por nos ser de
maior interesse, às questões linguísticas.
12
. Dissertação de Mestrado – universidade de Campinas, Instituto de Estudos da
Linguagem., 1997
13
. in Os Pensadores: Escola de Frankfurt, editora Abril
274
Alguns leitores, ao menos os como eu, sem uniforme nem carteirinha assinada,
se não se perdem na leitura (e, perdidos, fecham o livro e vão à vida...) saem do
texto com a desconfortável sensação de que não sabem bem se entenderam o
que acabaram de ler...”14 (p.130)
Tentando tirar uma síntese de todas as opiniões citadas, entendo que o ideal
é ler em inglês mesmo, evitando o problema da mediação, mas como esta
particular resposta não pode ser válida para um ensaio sobre tradução, considero
melhor manter, quando traduzido, a complicação e estranheza do autor. O
motivo disto é, que mesmo sendo difícil, discutível e até (para alguns)
incoerente, é uma proposta feita em sã consciência pelo próprio Jameson.
Aqueles capazes de entender que entendam e aos demais resta esperar que
algum marxista altruísta explique. Pelo menos é esta, aparentemente, a possível
solução quanto à “práxis” que se pode dar a um autor como Jameson15.

IV
Apêndice

Por que traduzir um texto que, muito provavelmente, nem a maioria de


meus colegas estudantes universitários irá entender? É com esta pergunta na
cabeça que terminei este ensaio. É verdade que a maioria das citações e das
reflexões (re)produzidas se referem a outros textos mais complexos do autor,
como Marxismo e Forma, ou O Inconsciente Político, mas, mesmo assim,
continuo acreditando que grande parte de meus “colegas” não será capaz de
entender nem o texto traduzido.
O primeiro impulso para esta tradução surgiu como uma vontade de ver a
práxis, tão falada pelos marxistas, acontecer. Em um momento no qual o que
mais se escuta é que os movimentos de massa estão em refluxo, momento no
qual, saídos de uma greve, estudantes não são capazes de se manter mobilizados
e nem desejam qualquer forma de prática política, um alento poderia ser o de
tentar convencer os outros, através de argumentos bastante racionais, que ainda
existe uma saída. E que esta saída é a apresentada por Jameson, entre outros
marxistas. Porém, minha iniciativa já nasce morta, nasce um paradoxo. Qual o
poder que eu tenho de convencimento? Nenhum. Não mais com meus colegas
pelo menos, que, seduzidos por um discurso simples demais para ter qualquer
conteúdo (que, logicamente não é o discurso do Jameson) preferem uma crítica

14
. Tirado da resenha já citada da professora.
15
. Pensando como marxistas, divulgar as idéias de um autor como este é como distribuir e
enriquecer a consciência de classe e o papel de sujeito histórico que todos temos.
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baseada, quando muito, em um nada elegante. Se dependesse deles, a história
realmente já teria acabado.
Meu impulso iluminista-marxista-altruísta durou muito pouco, uma vez
que, como coloca o próprio Jameson, em um discurso verdadeiramente
dialético, devemos nos afastar, a ponto de pensarmos nossa própria situação.
Em tempos de mercado global, de produtividade, faz muito mais sentido
traduzir um texto publicável. Já que não sou produtor, melhor encarnar meu
papel de varejista16 (Para Eagleton, Jameson é um mediador diferenciado, mas
não um produtor). Produtos intelectuais também são mercadorias. “É uma
experiência salutar aos intelectuais profissionais serem lembrados que os
objetos de seu estudo e manipulação têm também uma infra-estrutura completa
(...) do sistema universitário que parece ser destinado a exercer um papel tão
crucial na cultura do capitalismo pós-industrial como o do mosteiro nos tempos
medievais...”(p.298)16. Em tempos de Capes, o melhor é produzir com objetivo.
Subrepticiamente aos motivos já citados, existia um desejo por desafio.
Jameson não me era um desconhecido antes desta tradução, pois em outras
leituras já havia me deparado com seu estilo opaco. Traduzir e refletir sobre o
processo, não havia dúvida, iria ter de me fazer transpor o espesso estilo já
bastante referido. Iria, de uma maneira dialética, modificar e mobilizar todo o
meu conhecimento (que não é muito) sobre marxismo, além de meus
conhecimentos em língua Inglesa. Era um desafio que, caso eu aceitasse, iria me
fazer estudar e aprender.
Já terminando, vale fazer uma rápida defesa dos autores mobilizados para
este ensaio. Pode parecer estranho misturar, em uma proposta que se pretendia
marxista, intelectuais como Derrida, Paulo Ottoni, Hegel, entre outros. Mas, de
acordo com a proposta quase antropofágica do próprio autor-tema do trabalho,
de reescrever teorias contemporâneas em categorias marxistas, faz todo o
sentido esta amálgama bastante heterogênea usada no presente ensaio.

_________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

DURÃO, Fábio Akcelrud. Uma leitura da dialética e a dialética do Texto, Dissertação


apresentada ao curso de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem da
Universidade de Campinas, 1997.
EAGLETON, Terry. “Frederic Jameson: The Politics of Style” in Diacritics vol.12
JAMESON, Fredric. Marxism and Form, Princepton University Press, Princepton, New Jersey,
1974.
_____. Marxismo e Forma, Hucitec, São Paulo Sp. 1985 trad. De Iumna Simon, Ismail Xavier e
Fernando Oliboni.

16
. Me refiro, aqui, ao dito por Jameson sobre o mercado intelectual, nas páginas 298-99 de
seu livro Marxismo e Forma.
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_____. “Actually Existing Marxism” in Polygraph, 1993
LAJOLO, Marisa, Resenha de “O Inconsciente Político” in Crítica Marxista 1
LEFEBVRE, Henri, Lógica formal Lógica Dialética, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, trad.
Nelson Coutinho
OTTONI, Paulo, Tradução Manifesta, Editora da Unicamp, Campinas, Sp 2005
_____. Tradução: a prática da diferença, Editora da Unicamp, Campinas, Sp 2005

Dicionários:

Dicionário do Pensamento Marxismo, Jorge Zahar, Rio de Janeiro 1988


Dictionary of English - Language and Culture, Longman, 2002.
Oxford Advanced Learner's Dictionary of Currente English, A.S. Hornby with A.P. Cowie and
A.C. Gimson, , 3ª ed., Oxford University Press, 1974.
Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, 10ª
ed. , Editora Civilização Brasileira, 1963
Random House Unabridged Dictionary, Stuart Berg Flexner and Leonore Crary Hauck, 2ª ed,
Random House, 1987.
E diversos dicionários bilíngues.

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