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Autor: Eleandra de Silva Piazzon Tagliari

Junho de 2020
Aulas EaD para Anos Iniciais – Uso da criatividade dos professores

Resumo
O presente estudo trata-se do relatório de Estágio de Observação Independente de
aulas no formato EaD para Ensino fundamental e relacionado à transversalidade do
BNCC aplicado aos anos iniciais. A seguinte observação se deu com alunos do
primeiro ano do Ensino Fundamental em caráter virtual devido ao contexto de restrição
de convívio social devido ao Corona Vírus. As aulas observadas foram as de
português onde a professora fez uso da música para conseguir passar o conteúdo de
uma forma mais prazerosa e que despertasse o interesse dos alunos para o assunto a
ser estudado. Foram ao todo observadas cinco aulas sendo três delas online e duas
em vídeos previamente gravados e em todas as aulas a música foi utilizada
conjuntamente com vídeos relacionados a cada música e assim a professora trabalhou

1 INTRODUÇÃO

Conforme informações das Organizações das Nações Unidas – ONU


atualmente 9 em cada 10 estudantes estão temporariamente fora do ambiente
escolar em decorrência da Pandemia do Novo Corona Vírus e neste sentido o
Ministério da Educação - MEC e Conselho Nacional de Educação – CNE
destacam que no Brasil o Estudo à Distância – EaD é uma saída para o
contexto, no entanto, existem inúmeras limitações tanto para as escolas,
profissionais e para os estudantes e esta limitações se tornam desafios a todos
os atores da comunidades escolar.

O MEC e o CNE na Campanha “Todos pela educação” lançaram


manuais em seus portais de orientações aos professores e às instituições de
ensino com a finalidade de contribuir com estratégias de combater às
desigualdades educacionais que poderão se agravar neste contexto. Além de
se preocupar com o apoio estratégico o MEC e o CNE estão discutindo e
Diretrizes voltadas acolhimento e avaliações diagnósticas para o retorno às
aulas presenciais para que se possam minimizar os impactos negativos e a
evasão escolar.
Diante deste contexto o presente estudo trata-se do relatório de Estágio
Obrigatório do Curso de Licenciatura em pedagogia da UNIASSELVI. As
observações foram realizadas na modalidade EaD acompanhando aulas de um
aluno do Primeiro ano do Ensino Fundamental do Colégio Anglo de Balneário
Camboriú – SC. O escopo das observações ficou voltado para as aulas de
Português nas quais a professora faz uso de música para tornar as aulas mais
atraentes e obter maiores resultados na assimilação dos conteúdos.

O uso da Música no processo de aprendizado vem de longos tempos na


sociedade e conforme Granja (2006) sempre ocupou lugar de destaque na
sociedade. E além de servir como fator socializante e até mesmo em rituais
pode transmitir conhecimentos e histórias de uma comunidade. Com o passar
do tempo a música passou a fazer parte da escola, principalmente nos anos
iniciais da educação. O Padrão Curricular Nacional - PCNs (1997) propõe o uso
da música quando trata da Interdisciplinaridade e Transversalidade de Temas.

No atual contexto o uso da música está relacionado também com o uso


da tecnologia que tem sido fator determinante para dar continuidade às
atividades escolares. Através da tecnologia o professor por intermédio da
música pode aproximar o aluno do tema estudado e assim as aulas EaD se
tornarem mais prazerosas para os alunos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os anos iniciais na vida escolar são importantes para os alunos e neste


estudo serão tratadas aulas para o primeiro ano do Ensino Fundamental no
qual a criança ainda está construindo o processo de leitura e conforme Moraes
e Pinheiro (2012) é nesse contexto de aprendizado que a criança aprende a
valorização da cultura escrita, pois fará parte de sua vida social. E nesta etapa
da vida do aluno a música pode contribuir para o desenvolvimento do aluno em
sala de aula ou em contexto de estudo. Os autores destacam que a música
pode ser utilizada em qualquer das matérias estudadas, mas que no processo
de letramento e alfabetização pode ser um fator de despertar o interesse ao
conhecimento.
Os autores acima citados destacam que a música é uma das artes que
sempre foi utilizada para chamar a atenção dos atores sociais e que o estudo
das letras das canções revela traços evolutivos da língua. Na visão dos autores
a música pode ser considerada um dos primeiros instrumentos pedagógicos da
humanidade quando o Homem buscou transmitir seus conhecimentos, seus
ritos e heranças culturais às gerações que iam chegando. Neste sentido pode-
se observar a importância do uso da música no “desenvolvimento afetivo,
estático, cognitivo, sensorial e musical específico e que contribui no conviver
em sociedade.” (MORAES e PINHEIRO, 2012, p. 19).

Para Martins (1985, p. 47) “Educar musicalmente é propiciar à criança


uma compreensão progressiva de linguagem musical. Através de experimentos
e convivência orientada” e que o ato de cantar e ler uma letra de música auxilia
na compreensão e assimilação de grafemas e fonemas e assim a criança
percebe a linguagem da música dentro da linguagem oral além de perceber a
interdisciplinaridade do seu conteúdo. Neste sentido para Ribas e Guimarães
(2004, p. 02):

A visão do prazer como agente motivador e estimulador da


aprendizagem parece ser uma das chaves para uma educação
inteligente e proveitosa. Aquilo que nos chama atenção, que nos
revela coisas com as quais nos identificamos ou nos rebelamos; que
nos desperta sensações ou mesmo emoções, parece ser o que
constrói nossos conhecimentos mais significativos. Talvez
poderíamos perguntar as bases de tal reflexão e encontraríamos,
entre as muitas respostas, duas de peso considerável: o estímulo da
crítica e a vivência de cada um (RIBAS e GUIMARÃES, 2004, p.2).

Os autores ressaltam que a música torna o aprendizado mais


relacionado com as experiências cotidianas da criança e que ela pode perceber
o seu mundo no conteúdo em que está estudando por meio de atividades
transversais como a música. Para Oliveira et al (2008) a música pode ser
considerada atividade lúdica e trazer grandes benefícios ao processo de
aprendizado além de aumento de conhecimento científico, também estimula os
valores, regras e padrões de se viver em sociedade.

Manezes (2001) relembra que muitas vezes as atividades lúdicas não


recebem o devido valor e muitas vezes passam por atividades supérfluas, mas
que conforme o autor, isso ocorre em ambientes em que há pouco
profissionalismo e há o uso de metodologias inflexíveis de ensino ou muitas
vezes por despreparo do profissional.

A contribuição de Paz (2000) é bastante interessante:

O ensino de música deve ser, desde o começo, uma força viva. [...] a
criança, muito antes de dominar as regras gramaticais, utiliza
palavras com fluência e formula frases já com entonação. A
linguagem é, para ela, uma coisa viva e, não, regras no papel. Deve-
se educar o ouvido para que sejam sentidas, perfeitamente,
modulações e combinações sonoras diversas. Deve-se deixar o aluno
perceber a harmonia com seu próprio ouvido, antes de se deparar
com o ensino da mesma. O conhecimento das regras não deve ser o
objeto e, sim, uma necessidade a ser atendida em tempo devido.
(PAZ, 2000, p.16-17).

Para Brito (2003, p.34) a música é eficaz no processo de aprendizado


pelo foto de ser muito difícil encontrar uma pessoas que não se relacione com
música e que em geral as música funcionam como “cola” nos pensamentos e
que neste sentido contribuem para que a criança interiorize o conteúdo que lhe
é apresentado, o autor diz: “[...] Surpreendemo-nos cantando aquela canção
que parece ter “cola” e que não sai da nossa cabeça e não resistimos a, pelo
menos, mexer os pés, reagindo a um ritmo envolvente [...]” e com isso a
música pode ser usada na educação básica e da memória de integração e
percepção sensorial o que está relacionado com o desenvolvimento dos
sentidos e noção oral e gráfica do aluno além da motricidade e raciocínio.

3 VIVÊNCIA DO ESTÁGIO

A realização do Estágio Obrigatório se deu de forma virtual em


decorrência do contexto do isolamento social. A observação ocorreu na forma
de acompanhamento de aulas de português de um aluno do primeiro ano do
Ensino Fundamental do Colégio Anglo da cidade de Balneário Camboriú – SC.
O colégio oferece aulas vespertinas online e algumas aulas gravadas sendo
que a opção de aulas online pode ser acessada posteriormente, pois muitas
vezes os pais e responsáveis encontram dificuldades para acompanhar as
aulas online.
Observou-se muitos pais e responsáveis tem encontrado dificuldades
para fazer com que os alunos “levem a sério” as aulas EaD e muitos reclamam
que é difícil entregar um Smatphone ou um computador na mão de uma
criança e exigir que ela estude e que fique conectada com a aula sem que
esteja sob a supervisão de adultos. O aluno que fora observado é um caso
típico em que os pais trabalham e estão Home Office e a criança está o tempo
todo tentando desviar-se da aula e acessar jogos e divertimentos na internet.
Neste contexto a criatividade do professor é uma ferramenta muito importante
para manter o aluno interessado no conteúdo e nas atividades.

As aulas acompanhadas foram de Português no Livro II da escola onde


são tratados sons de letras como o som do “R” na palavra Honra e o som do
“S” entre vogais e associado a consoantes, assim como o Som do “X”, “NH” e
“CH” e para isso, na primeira aula acompanhada, o próprio livro iniciou com
uma letra de Música de Kleiton e Kledir “par ou ímpar”. Para as crianças poder
acompanhar a leitura a professora colocou a música rodar no Youtube e foi
cantando para eles conhecer a música e logo em seguida cantar junto com a
dupla.

A letra da música despertou curiosidade e pesquisas, pois muitas das


brincadeiras citadas as crianças não faziam ideia de como funcionavam e nem
que a palavra nomeava uma brincadeira e que a grande maioria eles nunca
brincaram. Essa atividade os fez refletir que a maioria deles passa muito tempo
brincando com “Brinquedos e Brincadeiras” eletrônicas.
Par ou ímpar

Você só quer amarelinha


E eu quero futebol
Esconde-esconde, cirandinha
Patinete, frescobol...
Tem bicicleta, tem peteca
Tanta coisa pra brincar
Vamos deixar pro par ou ímpar
Decidir o que será

Par ou ímpar? Par ou ímpar?


Não leve tudo isso tão a sério
Enquanto o mundo gira a gente brinca
E se eu vou brincar de roda
Você quer jogar pião
Pra mim, bolinha é de gude
Pra você é de sabão
Eu pulo corda, solto pipa
Você zigue zigue zá

Vamos tirar no par ou ímpar


Que é pra gente não brigar
Par ou ímpar? Par ou ímpar?
Não leve tudo isso tão a sério
Enquanto o mundo gira a gente brinca (KLEITON e KLEDIR 2012).

Após estudadas as rimas da música, entendido o seu contexto fita uma


conexão com a posição da Letra “R” da Palavra Honra, os alunos fizeram
atividades de cópias e pintura no livro de palavras com “R”, bem como palavras
com “S” e seu som dependendo da sua posição.

A segunda aula observada fora uma aula gravada pela professora de


sala de aula utilizando música e associando a imagens do livro e propondo que
os alunos escrevessem uma música pequena. Para ajuda-los na atividade ela
passou algumas músicas como Adriana Calcanhoto “Lig-lig-lig-lé”, Vinícius de
Moraes “O pato” e Kleiton e Kledir “Noite de São João”.

A terceira aula observada fora uma aula online em que as crianças


compartilharam suas músicas. O comentário mais recorrente foi que acharam a
música do Toquinho mais engraçada e que se inspiraram nela para suas
composições. A professora ouviu as letras compostas pelos alunos e logo em
seguida reforçou os sons das letras com os alunos.

A Quarta aula observada também fora uma aula online a professora


também fez uso de músicas para revisar o conteúdo de português e os
preparar para a prova online e também passar informações de como realizar a
prova. Foi relembrado aos alunos que deviam acessar os e-mails e entrar no
link da prova que seria uma prova de “assinalar” (Google Dosc) e que lessem
com atenção, respondessem todas as 10 questões e no final da prova havia
um “botão” escrito enviar e que assim enviasse e ficasse curiosos já poderiam
ver a sua pontuação.

A quinta aula observada fora uma aula gravada de português em que a


professora deu sequência ao conteúdo pelo livro da escola. Este conteúdo
tratava mais especificamente do uso da Letra “S” e para isso fora utilizada a
música de Vinícius de Moraes e Toquinho “A casa” dos mesmos autores “O
caderno”. Em seguida foram realizados os exercícios propostos pelo livro de
compreensão de texto e de treino da ortografia relacionada ao uso do “S”.
4 IMPRESSÕES DO ESTÁGIO – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A oportunidade de realizar o Estágio Obrigatório para o curso de forma


virtual foi bastante diversa do que geralmente se espera, pois quando o estágio
é realizado de forma presencial envolvem mais fatores como a observação em
tempo real de um numero grande de alunos e seus comportamentos. Neste
caso a observação dos alunos participantes era fragmentada pelo próprio
sistema que vai alterando as carinhas deles na tela geral da sala virtual. O que
foi percebido é que a maioria deles precisava de estímulos da professora para
permanecer em atenção à aula e alguns dele tiveram a intervenção de pais ou
responsáveis para se manter focados.

As aulas na forma online são desafiadoras para toda a comunidades


escolar, pois demandam de atenção de todos e para as crianças pequenas é
ainda mais desafiador. Em informações do Colégio Anglo e de outras escolas
nos anos iniciais há muitos pais que “não deram conta” de acompanhar os
filhos nas aulas online e optaram por não fazer as aulas e deixar para ver como
as coisas vão se resolver assim que a reclusão social for cancelada. O aluno
acompanhado neste estudo também enfrenta dificuldades para acompanhar as
aulas devido ao trabalho dos pais e por essa razão os pais preferiram pagar
tutores para acompanhá-lo principalmente em dia de estudos para as provas e
tarefas avaliativas.

O que se pode considerar por fim é que mesmo que desafiador o


ambiente online para as crianças pequenas se a escola e os profissionais se
propõem a contribuir e usar da criatividade a criança aprende e desenvolve os
conteúdos sem prejuízos maiores. Para isso é necessário o comprometimento
e envolvimento de toda a comunidade escolar e principalmente dos pais e
responsáveis que de certa forma não estavam preparados para coordenar a
vida escolar do filho dentro de casa.

O aluno acompanhado consegue entender as explicações e se envolve


com as atividades. Logicamente que ele tenta, como ele mesmo diz:
“trapacear” e usar o telefone ou o computador para entrar em jogos e vídeos,
mas quando solicitado ele participa e contribui para o bom andamento da aula.
Suas notas são boas e ele está lendo muito bem para a idade. Sua mãe atribui
a boa leitura ao fato de ele vir de um colégio mais forte de São Paulo e que por
conta da pandemia os pais resolveram vir para Balneário Camboriú uma vez
que passaram a trabalhar em Home office e para facilitar a vida escolar
transferiram o filho para uma escola da cidade.

Em relação às professoras que foram observadas usando música nas


aulas do primeiro ano, a de inglês foi apenas observada em uma aula a convite
do aluno, a professora das matérias em geral é que teve as aulas observadas.
A professora observada é uma professora jovem e muito dinâmica e tem
domínio de apresentação e intervenção com os alunos. As suas aulas são bem
organizadas e ela sempre busca enriquecer o conteúdo com informações extar
ao livro da escola.

Outro fato importante observado nas aulas é que a professora consegue


fazer com que os alunos participem das aulas e sejam ouvidos e também
ouçam os colegas. Neste sentido considera-se que a pesar do contexto e da
pandemia essa turma do primeiro ano ao retornar às aulas presenciais estará
apta a dar sequência nos estudos da programação curricular normal.

REFERÊNCIAS
BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil: propostas para a formação integral da
criança. 3. ed. São Paulo: Petrópolis, 2003.

GRANJA, C.E.S.C. Musicalizando a escola: música, conhecimento e


educação. São Paulo: Escrituras, 2006.
MARTINS, Raimundo. Educação Musical: Conceitos e preconceitos. Rio de Janeiro. Editora
Furnarte, Instituto Nacional de Música, 1985.

MEC - Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares


nacionais : apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de
Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997.
MENEZES, E. Por um outro lúdico na educação científica. 2001. Disponível em
www.educabrasil.com.br/ eb/exe/texto.asp?id=443. Acesso em 25/06/2020.

MORAIS, Francieli Pagani; PINHEIRO, Giovani Gonçalves. Música como instrumento


intermediação de ensino e aprendizagem. 2012. Monografia (Pós-Graduação)
PAZ, Ermelinda A. Pedagogia musical brasileira no século XX: metodologias e tendências.
Brasília: MusMed, 2000.

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