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INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO: Licenciatura em Química


DISCIPLINA: Didática
DOCENTE: Giselia Antunes Pereira
ALUNA: Priscilla Barreto Cardoso

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia II – Para além da teoria da curvatura da vara. In: SAVIANI,
Demerval. Escola e Democracia. 32. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. cap. 3, p. 69-89.
SAVIANI, Demerval. Onze teses sobre educação e política In: SAVIANI, Demerval. Escola e
Democracia. 32. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. cap. 4, p. 91-99.
No capítulo 3, Saviani retorna às três teses apresentadas no capítulo 2 com o objetivo de superação. No
início do capítulo, o autor afirma que tanto a Pedagogia Tradicional quanto a Pedagogia Nova são
ingênuas e idealistas, pois acreditam que é possível modificar a sociedade através da educação.
Novamente Saviani discorre sobre o Movimento da Escola Nova como mecanismo de recomposição da
hegemonia burguesa, mas, em seguida, o autor cita os movimentos da chamada “Escola Nova Popular”
– que surgiu com o propósito de tornar a Escola Nova acessível às camadas populares – citando a
Pedagogia de Freinet (na França) e o Movimento Paulo Freire de Educação. Logo após, Saviani
introduz uma “pedagogia revolucionária” empenhada em colocar a educação a serviço da
transformação das relações de produção. Nesse contexto, o autor sugere um método de ensino, na
forma de passos à semelhança dos esquemas de Herbart e Dewey, onde propõe que o ponto de partida
(1º passo) do ensino seja a prática social, comum a professor e alunos. O segundo passo proposto é a
problematização, ou seja, a detecção das questões que precisam ser resolvidas na prática social; o
terceiro, é a instrumentalização, a apropriação de ferramentas culturais pelas camadas populares; o
quarto passo é a catarse, que consiste na efetiva incorporação dos instrumentos culturais, transformados
em ferramentas ativas de transformação social; por fim, o quinto passo é a própria prática social. Ao
final do capítulo, Saviani conclui que o professor, independentemente das disciplinas que ministra,
deve ser capaz de compreender a relação entre a sua prática docente com a prática social global e, com
isso, contribuir para a democratização da sociedade brasileira, para a transformação estrutural da
sociedade.

No capítulo quatro, Saviani discute sobre as relações entre política e educação e aponta suas diferenças.
Em seu texto, o autor disserta que, diferentemente da política, o objetivo da educação é convencer e
não vencer, mas ressalta que toda prática educativa possui uma dimensão política e vice-versa. Nesse
contexto, Saviani aborda a dependência recíproca entre política e educação e afirma que apesar de
serem práticas distintas, ambas são modalidades da prática social. Por fim, o autor de Escola e
Democracia apresenta de forma ordenada e resumida as suas 11 teses sobre educação e política e
conclui que a importância política da educação está na sua função de socialização do conhecimento.
“[…] tanto a pedagogia tradicional como a pedagogia nova entendiam a escola como “redentora da
humanidade”. Acreditavam que era possível modificar a sociedade através da educação. Nesse sentido,
podemos afirmar que ambas são ingênuas e idealistas.” (SAVIANI, 1999, p. 73)

No capítulo 3, Saviani (1999, p. 74-75) volta a discutir sobre o caráter socialmente antidemocrático da
Escola Nova:
[…] ao reconhecer e absorver as pressões contra o caráter formalista e estático dos
conhecimentos transmitidos pela escola, o Movimento da Escola Nova funcionou como
mecanismo de recomposição da hegemonia burguesa. Isto porque subordinou as aspirações
populares aos interesses burgueses tornando possível à classe dominante apresentar-se como a
principal interessada na reforma da escola, reforma esta que viria finalmente atender aos
interesses de toda a sociedade contemplando ao mesmo tempo suas diferentes aspirações,
capacidades e possibilidades. Com isso a importância de transmissão de conhecimentos foi
secundarizada e subordinada a uma pedagogia das diferenças, centrada nos métodos e
processos: a pedagogia da existência ou pedagogia nova.

Em seguida, Saviani (1999, p. 77) apresenta a o movimento da “Escola Nova Popular”:


É nessa direção que surgem tentativas de constituição de uma espécie de “Escola Nova
Popular”. Exemplos dessas tentativas são a “Pedagogia Freinet” na França e o “Movimento
Paulo Freire de Educação” no Brasil. Com efeito, de modo especial no caso de Paulo. Freire, é
nítida a inspiração da “concepção ‘humanista’ moderna de filosofia da educação”, através da
corrente personalista (existencialismo cristão).

“A diferença, entretanto, em relação à Escola Nova propriamente dita, consiste no fato de que Paulo
Freire se empenhou em colocar essa concepção pedagógica a serviço dos interesses populares. Seu alvo
inicial foi, com efeito, os adultos analfabetos.” (SAVIANI, 1999, p. 77-78)

Ao discutir sobre uma “pedagogia revolucionária”, Saviani (1999, p. 79) propõe um método de ensino
com 5 passos em que
[…] o ponto de partida do ensino não é a preparação dos alunos cuja iniciativa é do professor
(pedagogia tradicional) nem a atividade que é de iniciativa dos alunos (pedagogia nova). O
ponto de partida seria a prática social (1º passo), que é comum a professor e alunos. Entretanto,
em relação a essa prática comum, o professor assim como os alunos podem se posicionar
diferentemente enquanto agentes sociais diferenciados.

“O quinto passo; finalmente, também não será a aplicação (pedagogia tradicional) nem a
experimentação (pedagogia nova). O ponto de chegada é a própria prática social, compreendida agora
não mais em termos sincréticos pelos alunos.” (SAVIANI, 1999, p. 81)

“É preciso, no entanto, ressalvar que a alteração objetiva da prática só pode se dar a partir da nossa
condição de agentes sociais ativos, reais. A educação, portanto, não transforma de modo direto e
imediato e sim de modo indireto e mediato, isto é, agindo sobre os sujeitos da prática.” (SAVIANI,
1999, p. 82)

“A pedagogia por mim denominada ao longo deste texto, na falta de uma expressão mais adequada, de
‘pedagogia revolucionária’, não é outra coisa senão aquela pedagogia empenhada decididamente em
colocar a educação a serviço da referida transformação das relações de produção.” (SAVIANI, 1999, p.
85)

“[...] só é possível considerar o processo educativo em seu conjunto como democrático sob a condição
de se distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e a democracia como realidade no
ponto de chegada. [...] democracia é uma conquista; não um dado.” (SAVIANI, 1999, p. 87)

Ao concluir o capítulo 3, Saviani (1999, p. 89) revela o papel do professor na chamada “pedagogia
revolucionária”:
[…] um professor de história ou de matemática, de ciências ou estudos sociais, de comunicação
e expressão ou de literatura brasileira etc., têm cada um uma contribuição específica a dar, em
vista da democratização da sociedade brasileira, do atendimento aos interesses das camadas
populares, da transformação estrutural da sociedade. [...] tal contribuição será tanto mais eficaz
quanto mais o professor for capaz de compreender os vínculos da sua prática com a prática
social global. Assim, a instrumentalização se desenvolverá como decorrência da
problematização da prática social atingindo o momento catártico que concorrerá a nível da
especificidade da matemática, da literatura etc., para alterar qualitativamente a prática de seus
alunos enquanto agentes sociais.

No capítulo 4 de Escola e Democracia, Saviani (1999, p. 94) disserta sobre a relação existente entre a
educação e a política:
[…] toda prática educativa, enquanto tal, possui uma dimensão política assim como toda prática
política possui, em si mesma, uma dimensão educativa. […] A dimensão pedagógica da política
envolve, pois, a articulação, a aliança entre os não-antagônicos visando à derrota dos
antagônicos. E a dimensão política da educação envolve, por sua vez, a apropriação dos
instrumentos culturais que serão acionados na luta contra os antagônicos.

Ainda, o autor (SAVIANI, 1999, p. 95) ressalta a dependência entre as duas:


Configura-se, aí, uma dependência recíproca: a educação depende da política no que diz
respeito a determinadas condições objetivas como a definição de prioridades orçamentárias que
se reflete na constituição-consolidação-expansão da infraestrutura dos serviços educacionais
etc.; e a política depende da educação no que diz respeito a certas condições subjetivas como a
aquisição de determinados elementos básicos que possibilitem o acesso à informação, a difusão
das propostas políticas, a formação de quadros para os partidos e organizações políticas de
diferentes tipos etc.

“[…] a plenitude da educação como, no limite, a plenitude humana, está condicionada à superação dos
antagonismos sociais.” (SAVIANI, 1999, p. 96)

“De tudo o que foi dito conclui-se que a importância política da educação reside na sua função de
socialização do conhecimento.” (SAVIANI, 1999, p. 98)

O capítulo 3 de Escola e Democracia se mostrou muito interessantes pois apresenta a continuação dos
pensamentos de Saviani a respeito das pedagogias “tradicional” e “nova” e introduz a “pedagogia
revolucionária”, uma pedagogia que não só une elementos positivos das duas anteriormente citadas,
mas que tem por objetivo colocar a educação a serviço da transformação social. Com a sugestão de um
método educativo alicerçado em 5 passos, Saviani indica que o ponto de partida deverá ser a prática
social, passando pela problematização, instrumentação e catarse, até chegar à própria prática social,
compreendida agora não mais em termos sincréticos pelos alunos. O texto traz uma visão muito lúcida
sobre o papel do professor para a democratização da sociedade, evidenciando que, independente da
disciplina ministrada, o docente deve estar ciente da relação entre os seus ensinamentos com a prática
social, contribuindo para a transformação qualitativa da prática de seus alunos enquanto agentes
sociais. Já no capítulo 4, o autor discute sobre as relações entre a educação e a política e fica evidente
que as duas são inseparáveis e dependentes entre si, onde a política precisa da educação na formação de
propostas, quadros e instrumentos de informação e a educação depende da política para a constituição-
consolidação-expansão dos espaços educacionais. Saviani nos traz uma reflexão profunda a respeito da
grande importância política da educação, que é justamente a socialização do conhecimento, mostrando
que esse papel só é cumprido quando realizado como prática pedagógica.

Como futuros professores de química, como podemos nos engajar para transformar a sociedade e
contribuir para a formação dos alunos como agentes sociais? Quando eu penso em democratização da
educação e contribuir para levar o conhecimento (no caso específico da química) para todas as classes
sociais, logo me vêm à mente os projetos de extensão envolvendo alunos, professores, etc. que
aproximam a escola da comunidade e vice-versa. Acredito que proporcionar ao aluno o papel de
protagonista em projetos que levem conhecimentos específicos à população, contribuem para que este
aluno se enxergue como agente social ativo e seja despertado então um sentimento de responsabilidade
para com a sociedade. E, além disso, a comunidade em geral se sentirá mais confortável em relação a
alguns conhecimentos que lhe foram “negados” ou “propositalmente mal apresentados”.

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