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1 Coríntios 14

1.1 Introdução
Este capítulo apresenta o princípio que os dons espirituais são para serviço na
edificação da igreja e não para colar grau pessoal ou agrado individual. De acordo
com o critério principal—edificação—a profecia é superior porque “edifica” a
congregação ao passo que línguas sem interpretação não benefícia a(s) pessoa(s) que
não entendem. Do contexto, percebe-se que alguns em Corinto concedia alto valor a
línguas devido esto dom ter caráter misterioso e impressionante (Cambridge Greek
Text, 199).

Apesar que tenha diversas questões exegéticas, a mensagem geral deste capítulo
completamente reprova o movimento Pentecostal-Carismático contemporâneo.

1.2 A Prioridade da Profecia sobre Línguas (cap 14)

1.2.1 Introdução
Mesmo sem considerar os primeiros capítulos da carta, o próprio contexto próximo
reflete uma igreja cheia de partidarismo, pecado e orgulho e faltando amor nas
diversas áreas do culto público. Além de mulheres escandalizando o decoro público
(cap. 11) e alguns ricos desprezando os pobres (cap. 11), a soberba também se
manifestava no (ab-)uso dos dons na igreja. Os que tinham dons mais visíveis e
extraordinários achavam-se superiores aos demais, por se considerar mais
“espirituais.” Entre as outras manifestações espetaculares, línguas sendo
externamente o mais extraordinário, acirrava a soberba do falante.

1.2.2 Sequência de Assuntos


14:1-5 Contraste entre línguas e profecia: interno-externo; edifica a si mesmo- edifica
outros
14:6-13 Compreensão Distinta—é necessário que a comunicação tenha sons distintos
14:14-19 Mente; edificação dos outros (a igreja)
14:20-25 mais útil p/ o visitante (RYRIE, nota)
14:26-38 Regulamentos:
Geral: “Seja tudo feito para edificação” (14:26)
Individual: línguas (14:27-28)
Individual: profecia (14:29-36)
Final: severa (14:37-38)
14:39-40 Resumo: Zelo profetizar; não proibais línguas; Tudo decência e ordem.

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Cambridge Greek Text, (199):
v. 1-25 Uma comparação de profecia e ‘línguas’; profecia é dom superior porque
serve melhor a Igreja.
v. 26-33 Ao profetizar na assembléia, tinha que manter ordem conforme certas regras
v. 34-36 As membras não devem falar na assembléia
v. 37 A aceitação das regras é prova do profeta e da verdadeira espiritualidade
v. 38 Buscai a profecia, não inibeis línguas. Tudo feito com decência e ordem.

Resumo por GODET (288) (re: 14:1-20)


vs. 1-5 Línguas são inferiores à profecia
vs. 6-15 Sem interpretação este dom se torna completamente inútil.
vs. 16-19 Ao exercer o dom desta maneira, traz inconveniência (cf. 13:5) à igreja.
v. 20 Apelo ao bom senso.

Resumo por PRIOR (259)


v. 1-25 “Paulo compara e contrasta línguas e profecia em relação à edificação da
igreja.”
v. 26-36 “Ele estabelece algumas linhas de orientação para o devido uso desses dons
na igreja.”
v. 37-49 “Ele conclui o assunto fornecendo algumas instruções essenciais”

1.2.3 Estrutura
“irmãos”—v. 6, 20, 26, 39

1.2.4 Esboço
Esboço 1
Línguas e Profecia:
I. Comparação: Profecia edifica a igreja (14:1-5)
II. Compreensão: Profecia dá entendimento a igreja (instrue por meio da mente)
(14:6-19)
III. Conversão: Profecia evita escândalo e expôe a necessidade espiritual do
incrédulo (14:20-25)
IV. Controles: Princípios para a edificação (14:26-38)
“Seja tudo feito para edificação” (v. 26.c)
Línguas (vs. 27-28)
Profecia (vs. 29-36)
Reforço (vs. 37-38)
V. Conclusão: Procura profetizar; permite falar em línguas (14:39-40)
“Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (v. 40)

Esboço 2
A Profecia Edifica Mais (v. 1-25)

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I. Maior Abrangência (v. 2-5)
II. Maior Compreensão (v. 6-12)
não necessita interpretação
III. Diretamente Inteligível (v. 13-19)
Ao passo que línguas deve orar que tenha intérprete
IV. Mais certo (v. 20-25)
(no sentido que é mais seguro a cumprir sua função).

GODET (14:1-25)
Por que a profecia é principal?
I. Principal na edificação da Igreja (14:2-20)
Dá melhor para o ensino dos irmão.
II. Principal na conversão dos de fora da Igreja (14:21-25)
Dá melhor para o evangelismo dos descrentes.

1.2.5 Mensagem
Comparação: Profecia edifica a igreja (14:1-5)
v. 1 “segui”—contém a idéia mais ativa do que indicado no port.; uma busca intensa;
correr atrás, perseguir; almejar”. É figura paulina para esforço espiritual (cf. Rom
9:30,31; 12:13; Fil 3:12ss; 1 Tes 5:15; 1 Tim 6:11; 2 Tim 2:22) (C.G.T., 199).
v. 1 “procurai com zelo” lit. “zelar”. veja 12:31; comp. 14:12 grg “desejais” (cf.
MORRIS, 14:12)
v. 1 “os dons espirituais”—lit. “espiritualidade” veja 12:1.
v. 1 “...que profetizeis”
O vs. 1 parece trazer três níveis de intensidade:
priorizar o amor
prezar pelos dons—nenhum dom deve ser abandonado (zelo conjugal)
preferir o profetizar
v. 2 “fala em outra língua”
 obs. os vs. 2, 4, e 14 são onde se baseia a interpretação que línguas em 1
Cor. fosses fala extática.
 Porém não é necessário entender que foram extáticas para compreender o
texto.
- veja RYRIE, 14:2
- LOWERY afirma que em nenhum lugar do N.T. a palavra “língua” se
refere a linguagem extática. Ele diz—“Se é sensato interpretar o
desconhecido pela ajuda do conhecido; o obscuro do claro; então o peso de
prova está sobre os ombros do que acha neste termo um sentido outro que
linguagem humana” (em BKN, ad. loc).
 Se fosse extática, seria dificil compreender como é possivel “falar a Deus”
sem saber o que está dizendo. Os “pentecostais” entendem que é algo que
Deus sabe o que o espírito do homem quer dizer. Porém em nenhum lugar

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na Bíblia notamos o ser humano “funcionar” sem consciência, ou, segundo
conceito moderno, a “subconsciência.”
 obs. a palavra “outra” (RA) não está no grg. porém foi acrescentada pelos
tradutores a fim de auxiliar na compreensão. (tb. v. 4, 5, 14, 27; cf. 12:30)
 MORRIS afirma que “ninguém o entende” comprova que o dom de línguas
em Corinto era diferente da manifestação em Atos 2 onde, diz MORRIS,
“todos entenderam.” Porém veja Atos 2:12-13.
  Prefere-se o conselho de LOWERY (acima) que o oculto deve ser
interpretado à luz do certo.
 veja considerações ref. vs. 4 abaixo.
v. 2 “em espírito” Três opções:
a. em espírito (seu próprio espírito) pessoal, interno
fala a si mesmo
b. pelo espírito (sendo este o Espírito Santo)
veja Morris
c. com “vento” fala o desconhecido (mistérios)
Paulo fazendo uma certa crítica ao afirmar que o balbúcio é sopro sem
sentido.
obs. o grg. pneuma significa “vento ou espírito” sendo que a
interpretação é regida pelo contexto, que as vezes não deixa claro.
“mistérios” musthria –uma verdade que antes não fora revelado.
a. não é no sentido popular da palavra
b. possivelmente no sentido teológico da palavra: algo não conhecido mas
agora revelado por Deus. Comp. Rom. 16:25; Ef. 3:3-9.
c. no paganismo grego (como tb. em outras religiões antigas, e.g. a Maçonaria),
se tratam de segredos reservados aos adeptos, revelados mais e mais ao se
aprofundar na religião.

MORRIS prefere o sentido teológico com uma ênfase no “elemento de segredo.”


LOWERY (em BKN)—“algo desconhecido.”

v. 3 Três benefícios de profecia:


1. Edificação (construir)
2. Exortação (corrigir; fortalecer)
3. Encorajamento (consolar; confortar)
obs. não deve confundir este com o “Consolador” (Jo 16:7) que é cognato de
“exortação” acima.
No vs. 3 a profecia é destinada a outrem (não egoista) ao passo que o vs. 4 acrescenta
a ênfase que beneficia a igreja (toda) em vez de “si mesmo.”
v. 4 “se edifica” obs.: Aqui é a base de alguns pentecostais (mais sérios) justificar um
“uso pessoal ou devocional” de línguas. Porém todos os dons eram para edificar a
igreja; de benefício dos outros (Ef. 4:12ss; 1 Cor 14:5.d “para que...”; 14:26). Por
isso era tão importante ser acompanhado pela interpretação.
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 Este versículo é má interpretado como se ensinasse um uso pessoal do dom
de línguas—i.e. em culto particular a Deus. Porém, isso erra completamente
a orientação do texto. O autor não tem em mente abrir espaço para tal idéia.
Parece que a idéia aqui é—“se não edifica o outro, so resta edificar a si
mesmo.” Por outro lado, todos os dons são orientados a outrem sendo que
sua ênfase é são para a edificação do corpo todo. Se o corpo não é edificado,
só resta edificar o membro falador. Fica implícito o egoismo, logo
reprovada ao contexto todo (comp. 13:1,4,5). Conclui-se que a própria
justificativa carismática atual é auto-evidentmente reprovada.
 Como é que línguas edificam o indivíduo? (v. 4) Sugere-se que Paulo não
abre espaço para uso egoísta do dom no culto público, mesmo assim nota-se
que Deus proporciona prazer no Seu serviço. Desta forma, mesmo na
ausência de quem a entenda ou interprete, o exercício de línguas auto-
edificava no sentido que daria satisfação; de que exerceu/ serviu o Senhor
com o dom; que fora objeto da graça (i.e. dom) de Deus (cf. 12:18, 28) e
portanto, louvaria a Deus por isso (14:16). LOWERY explica a posição
—“Apesar que não compreendesse o conteúdo do louvor, seus sentimentos e
emoções seriam invigorados” (BKN).
 MACARTHUR afirma que a satisfação que vem do abuso (tanto em Corinto
quanto hoje) é ilegítimo, para autosatisfação das emoções e procede muitas
vezes do orgulho espiritual.

v. 5 A primeira frase não deve ser isolado do contexto como que Paulo exortasse a
uma busca de línguas como o dom predileto. Todos os dons são bons e proveitosos.
A ênfase aqui é no “muito mais, porém...”
 A primeira frase “arma o fôlego” da torcida extática e depois declara
ponto para a profecia.
 comp. a mesma coisa dita sobre o celibato (7:7) mas “em nenhum dos
dois caso esperava que fosse de fato para todos” (BKN).
v. 5 b Mesmo assim, com a interpretação de línguas não faz ela melhor do que
profecia, mas a interpretação resgata da sua fraqueza—carência na edificação.

Compreensão: Profecia dá entendimento à igreja (instrue por meio da mente)


(14:6-19)
 v. 7-9 É necessário que a comunicação seja clara, distinta e certa.
obs.: parece claro que as línguas comparadas nestes vs. 6-13 são idiomas.
Duas figuras:
1. Música (v. 7)
obs. a influência sobre a definição/ filosofia de música. Música não é som nem
uma aglomeração de sons, mas é uma organização lógica de sons que deve
comunicar algo. Como veículo de comunicação, passa a ter cargo moral.
Portanto, música, como a fala, é moralmente infundida pelo agente humano.
2. Militar (v. 8)
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v. 10 “vozes”—o autor escolha outra palavra (figura) palavra para enfatizar o aspecto
sonoro da comunicação. Se a sequência sonora não tenha sentido, para nada serve.
raíz do port. “fonema”
v. 10 “sem sentido” (comp. 12:2) BAGD prefere “incapaz de transmitir sentido”)
veja MORRIS, jogo de palavras. lit. “vozes não são mudos”
v. 11 “A linguagem extática, que parecia questão de tanto orgulho para os corítios,
transforma-se no meio de torná-los nada mais que ‘bárbaros.’ Isto seria pior para um
grego do que para nós” (MORRIS, 155). Apesar que MORRIS entenda como sendo
linguagem extática, teria a mesma força emocional se fossem idiomas estrangeiras,
pois o “bárbaro” não falava o grego. Além disso, na mente grega, este carecia de
cultura civil logo, era bruto, ignorante, etc.
raíz do port. “barbaridade”
v. 14 “espírito” cf v. 2. Parece que a idéia é “no âmbito da esfera espiritual.”
 Estes vs. são usados para justificar que as línguas em Corinto sejam
balbúcio, porém isso não é conclusivo. Sim, parece claro que o falador,
(junto com os demais exceto o intérprete) não compreendia a sua própria
voz, porém pode ser o caso de idioma legítima.
 Parece que a ênfase está em ambos—espírito e mente. Portanto, aqui não
abre espaço para praticar o dom fora da mente, pelo contrário mostra que o
âmbito deve ser maior (“na igreja”), deve considerar os outros (vs. 16) e
cumprir o propósito (edificação do outro) (comp. considerações no vs. 4).
 Apesar das diversas questões interpretativas, o vs. 14 deve ser visto no seu
contexto (v. 14-19), onde, por meio de hipótese concreta, o apóstolo enfatiza
que seja compreendível.
vs. 14-19 Um exêmplo concreto:
 É muito mais preferível uma mensagem compreendível.

v. 16 “indouto” idiwth—Quem é o “indouto?


Seria qualquer pessoa sem o dom (cf. RYRIE, nota) sem referência a seu estado
espiritual (crente ou descrente).

Conversão: Profecia evita escândalo e expôe a necessidade espiritual do


incrédulo (14:20-25)
v. 20 evita o mal
 “A paixão corintiano com línguas era para Paulo, mais outra manifestação da
sua imaturidade e mundanismo (cf. 3:1-3)” (BKN, 14:20)
 Aqui é uma profunda crítica contra o carismaticismo hoje que de fato é
caracterizado pela imbecilidade teológica. Tanto das pregações como
também dos próprios adeptos. Conhecimento Bíblico não é tão importante
nestes meios.
v. 21 citação: línguas, mesmo assim não iriam obedecer

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 veja RYRIE, nota Is 28:11. Os judeus que rejeitavam a mensagem clara
declarada por Isaías, teriam que ouvir línguas estranhas—ser levados cativos
por uma invasão Assíria.
 “Deus passou a falar de forma não-inteligível porque eles recusaram ouvir a
revelação clara” (GODET, 292)
 cf. Mt 18:11-12
 No livro de Atos, notamos que, como no caso do cativeiro Assírio, era sinal
negativo à incredulidade dos judeus. Desta feita, aquele Pentecostes era
consequência da desobediência à mensagem messiânica culminada pela
crucificação.

Duas cenas opostas:


1. uma assembléia com somente línguas (v. 23)
“não dirão... que estais loucos?”
2. uma assembléia com somente profecia (v. 24-25)
“[reconhecerão] que Deus está no meio de vós.”

v. 24-25 Por apelar à mente eu posso alcançar o não-crente (“incrédulo”) e “indouto”


Não é necessário experimentar algo para saber se é bom ou mal; se dá o que
realmente quero.
v. 25 MORRIS explica como não é contradição com v. 22 (“profecia não é para o
incrédulo”)

Controles: Princípios para a edificação (14:26-38)


Introdução
MORRIS maravilha pela “visão mais íntima que temos da igreja primitiva em
adoração” porém não é completa (MORRIS, 159).
Esboço de 14:26-38:
Introdução: quanto à reunião v. 26
“Quando vos reunis” (v. 26)
Instrução a todos (v. 26.d)
Instrução para o falador em língua (v. 27-28)
“No caso de alguém falar em língua” (v. 27)
Instrução para o profeta (v. 29-33.a)
“Tratando-se de profetas...” (v. 29)
Instrução para as mulheres (v. 33.b-36)
Advertência (v. 37-38)
“Se alguém...” (v. 37)

Os Princípios para a Edificação:


O propósito que guiava os princípios: aquilo que dá “para edificação”
O princípio geral: “decência e ordem” (v. 40)
As regras específicas:
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Para o falador em línguas (v. 27-28):
 Dois ou no máximo três durante o culto
 “Sucessivamente”—não podia ser ao mesmo tempo
 simplesmente proibe que falassem ao mesmo tempo = “não ao
mesmo tempo”.
 Seja interpretado: tinha que ser interpretado,
 Sujeito à presença do intérprete: não havendo intérprete, fique calado
 obs.: de certa forma é um subponto do anterior, só que também não
deixa espaço para interpretar em outra ocasião—tinha que ser na
hora.
 obs. 2: que indica que o dom estava debaixo do domínio próprio.
 obs. 3: fica claro que a igreja conhecia que tinham o dom de
interpretação.
Para o profeta (v. 29-33.a)
 Dois ou três
 Avaliado (“julgar”) pelos outros profetas
 Sucessivamente (comp. falar em língua, v. 27)
Para as mulheres (v. 33.b-36)
 Conservem-se caladas no culto público como expressão de submissão
 Interroguem aos próprios maridos

Ao falador em língua (v. 27-28)


v. 27 línguas precisavam de um intérprete
Parece que era uma outra pessoa (diferente do falador)
Parece que, como no caso dos outros dons, era conhecida a pessoa que possuia
este dom. Na ausência de tal pessoa, o falador permanecia calado.
Mesmo sem beneficiar a igreja, tinham outro benefícios (v. 4, 14-15, 22)
v. 28 obs. que o falar em línguas, mesmo se “a Deus”, era sujeito ao controle da
pessoa. O sujeito não perdia o domínio próprio.
Quando um sujeito perde o domínio próprio, dentro ou fora da igreja, é garantido
que não foi fruto do Espírito Santo (comp. Gal 5:23).

Ao profeta (v. 29-33.a)


v. 29 “outros”—Quem são:
a. os outros crentes
Tanto no A.T. como no N.T. parece que todos tinham o direto de questionar
a autenticidade do profeta. Era reservada a todos o direito de avaliar a
veracidade do profeta conforme o padrão objetivo (cf. Deut 18). Aliás,
todos eram responsáveis por avaliar por si mesmo qualquer suposta
mensagem profética.
b. os outros da mesma classe: profetas
allo~ -“outro” da mesma classe (comp etero~, “outro” de classe diferente).
Profetas avaliam profetas
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v. 29 “julgavam”—não “condenar”; mas “avaliar” (cf. MORRIS)
v. 30 Como no caso do dom de línguas, a profecia era sujeito ao domínio próprio
v. 31 “serem consolados” cf MORRIS; cf. tb. v. 3.

v. 32 “os espíritos dos profetas”


a. Sujeito à classe: “espírito” em sentido “idéia” sendo sujeito à avaliação pela
classe que possuiam o dom. i.e. profetas avaliam profetas.
b. Sujeito ao domínio próprio: “espírito”—O próprio profeta tinha domínio
próprio. O espírito do sujeito está, e deve estar, sujeito ao raciocínio do
profeta. (veja RYRIE, rodapé) (tb. MORRIS)
Em alguns casos no A.T. se vê uma força “profética” que sobrevem uma
pessoa (comp. 1 Sam 18:20-24); mas o teor geral é que interagia pela
mente e vontade (comp. o chamado dos diversos profetas, e.g. Moisés,
Isaías, Jeremias)

Às mulheres (v. 33.b-36)


obs. O vs. 33.b é geralmente tido como vinculado ao que se segue (ao assunto de
mulhers no v. 34).
(e.g. MORRIS)
obs. este trecho segue logicamente a mesma linha—a necessidade do domínio
próprio. Neste caso, que as mulheres tenham silêncio para que haja paz na
assembléia (BKN).
v. 33.b “como em todas a igrejas” cf. 4:17; 7:17
cf tb. 11:16 “<paz>...igreja”
Parece ser importante manter um padrão entre as igrejas.
v. 34 “mulheres”
obs. não se trata de profetizas (subponto das regras aos profetas) mas de
mulheres em geral.
Parece claro que é dirigida às casadas (obs. a solteiras estariam longe de ser
contempladas em alguma liderança na igreja) porém visto o contexto da igreja
(cf. cap. 11) supomos que o problema se complicava pela posição social, i.e. uma
mulher rica facilmente chegaria a uma influência autoritária sobre o homens
pobres/ escravos, mesmo eles sendo de idade e maturidade espiritual. Forças
naturais tão facilmente atropelam procedimentos espirituais.
v. 34 “conservem-se... caladas”
Até onde se abrange esta ordem?
 à luz de 11:3-16 alguns comentaristas afirmam que a mulher, ao estár
debaixo da submissão ao marido, podia orar e profetizar no culto público
(esp. 11:5).
 outros (e.g. MACARTHUR) acham o Texto não deixa dúvida, i.e. mesmo se
tiver dúvida legítima (cf. vs. 35).

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Conclusão: Procura profetizar; permite falar em línguas (14:39-40)
(obs. BKN faz a conclusão começar no vs. 37)
Estes vss. não foram escritos à igreja do século XXI, mas a Corínto. 1 Coríntios foi
escrita cedo na formação do cânon do N.T. Ainda havia todos os dons presentes...
havia até então o apostolado. Para tranferir o contexto desta ordem à atualidade
apresenta um risco hermenêutico, supondo que ainda exista esse dom... e que não
devemos rejeitar a manifestação “carismática” da atualidade. Mas o nosso sistema
teológico não depende somente desta linha de argumento. Teologia forte é como uma
teia, está bem amarrada e não cai na ausência de uma ou outra linha de argumento.
Mesmo se alguém cedesse a possibilidade que ainda exista o dom de línguas, a
confusão carismática da atualidade deve ser rejeitada por motivo de tantos outros
fatores anti-Bíblicos: lógico, filosófico, histórico, prático.
Lógico: o fato da ordem em 14:39 não é argumento que o dom permanecesse
(i.e. que não cessou). Simplesmente é prova que existia na igreja de Corinto no
primeiro século e que, apesar dos abusos, não era para ser proibido. “As
instruções de Paulo sobre o abuso em Corinto não são diretrizes para o uso hoje”
(BKN, 14:5; 14:21-22). Ou seja, a correção que Paulo fez dos erros corintianos
não implica a prescrição atual para tudo que havia naquela igreja.
Filosófico: como explicamos a presença dos dons carismáticos da atualidade
entre pessoas certamente não-regeneradas (i.e. Católicos, neo-pentecostais). Os
dons do Espírito Santo foram dados aos membros do corpo de Cristo para a
edificação do mesmo. Também questionamos “Qual seria a diferença então do
efeito ‘legítimo’ de alcool e drogas?” Eles igualmente produzem experiências
incontestáveis.
Histórico: a igreja desconheceu o “dom de línguas” por mais de 16 séculos.
Como pode sustentar que reapareceu agora, tão tarde.
Prático: O movimento carismático quase por completo pode ser rejeitado pelo
desobediência às normas estabelecidas em 14:27-28. Sem contar que é
fomentada por pessoas que buscam o dom (cf. 12:11,18); o dom é considerado
um índice de espiritualidade e, nem tão raramente, indício da próprio regeneração
requerida de todos (12:12-13); e a proliferação de divisões entre os pentecostais
(i.e. centenas de denominações de todo nivel de radicalismo e barbaridade
teológica) certamente não contribui à paz (14:33) nem à edificação da igreja.
Sem o movimento pentecostal, teria menas divisões e aberrações.
Portanto, temos todo o direito teológico, responsabilidade pastoral e autoridade
Bíblica de rejeitar e proibir a confusão carismática entrar em nossas igrejas. É um
movimento que começou errado, continua errado, conduz a erros teológicos e práticos
e cancela o Espírito Santo—certamente não é do Espírito Santo. Deus pode e, de
fato, atua apesar das falhas e desobediências humana, mas isso não é justificativa para
caminhar no erro.
Também perguntamos—“Será que a confusão carismática, esp. por promover
‘sinais e milagres’, está preparando o mundo para a ilusão e decepção do Anti-
cristo?”
TMF. Natal, SIBB. Análise de 1 Coríntios: cap. 14, v. 2008.3, p. 10
Infelizmente esta confusão enfraquece muito as nossas igrejas porque existem
tantas vozes de todos os lados da igreja como também de dentro da parentela dos
membros—vozes que defendem a linha carismática. Também muitos dos coros
cantado no mundo “evangélico” estão “salgados” com teologia (i.e. falta de teologia)
carismática.
Não devemos ceder ao erro carismático. Há quem sugira que o erro Corintiano
está sendo repetido na atualidade (e.g. LOPES). De qualquer forma, as palavras
fortes de Paulo referente o decoro no culto público como também sua demanda a
aceitar as instruções devem condenar o erro atual.

1.2.6 Aplicação
 Calcular, planejar, trabalhar para que tudo que fazemos de “igreja” seja para a
edificação (na liturgia, na arquitetura, na agenda de atividades/ “ministérios.”
 Procurar reconhecer e valorizar a diversidade (legítimo) no corpo de Cristo.
 Encorajar, esp. os membros menos visíveis, a exercerem seu dom. Valorizá-los
mesmo ao permanecer “invisiveis.”
 Ensinar e defender a posição Bíblica em respeito os dons espirituais. Endoutrinar
nossos membros a se defenderem contra o erro pentecostal. “A melhor
prevenção é nunca tomar o primeiro gole.” Da mesma forma o melhor anti-virus
para a praga do emocionalismo é aprender a pensar e raciocinar biblicamente.
Quem é guiado pelo racional (a sã doutrina) não cairá ao emocional (experiências
ilegítimas).

1.3 Apêndice

1.3.1 A Função dos dons milagrosos


Heb 2:1-4 “...dando Deus testemunho...por sinais, prodígios e vários milagres e
por...”
2 Cor 12:12 “Pois as credenciais do apostolado foram apresentados no meio de vós,
com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos.”

1.3.2 A Função de línguas (MACARTHUR)


obs. MACARTHUR diz “propósito de línguas”
esp. 14:22
Um Sinal de maldição (p/ Judeus):
1 Cor. 14:20-22 Citando Is. 28:11
Is. 28:9-10—Isaias ensinando c/ toda clareza
Is. 28:12—A solução era no Senhor mas recusaram escutar.
Dt. 28:49
Jer. 5:15

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At. 2:7-11 os judeus deveriam reconhecer que julgamento estava iminente (Lk.
19:44 cf. 21:20-24
“Depois da destruição de Jerusalem, e especialmente o templo, a razão para as
línguas cessou. O julgamento, do qual era sinal, chegou.” Pedro lembrou os
ouvintes do julgamento vindouro (cf. Atos 2:36; comp. v. 22-23). Portanto,
depois de A.D. 70, não havia mais a necessidade de um sinal (ex: sinalização nas
estradas só existem até chegar ao destino, depois do qual não há mais placas para
aquele destino pois fico ultrapassado.)
Um Sinal de benção (p/ Gentios):
Para gentios—a rejeição do Messias traria bençãos p/ os gentios. (Gal. 3:28; Rom
11:11-12, 25-26). É interessante que quando o evangelho abriu aos gentios (Atos
10—Cornélio), línguas foram repetidas (v. 44-46).
Um Sinal de autoridade (p/ a palavra):
Para autenticar o mensageiro e as mensagens de maldição e de benção.
1 Cor. 14:22
2 Cor. 12:12 cf. Rom 15:18-19 (cx. se tratam de sinai milagrosos, mas línguas
foram uma das manifestações milagrosas).
Portanto, a profecia tem mais proveito, pois é mais do que um sinal; comunica mais.

1.3.3 As Línguas de 1 Cor. 12-14


Introdução:
1 Cor. é uma carta ocasional. É evidente que esta igreja era longe de ser igreja
modêlo pois observamos numerosos fraquezas—imoralidade, falta de amor,
partidismo, divisões, carnalidade em geral, orgulho, etc. No cap. 14 o apóstolo trata
do abuso de dons, esp. o dom de línguas. No capítulo anterior, ele estabelece a
primazia do amor sobre qualquer dom. Todos os dons teriam que ser movidos pelo
amor.

Como nas outras áreas, parece que esta igreja também era fortemente influênciada
pela cultura pagã. MACARTHUR sugere que neste capítulo Paulo trata da prática de
“língua” importada das religiões mistérias (v. 3) dos pagãos. Informamos nos que
estas religiões, como outras até hoje, praticavam uma forma de experiência elevada
com o(s) deus(es) que incluia o falar extático (experiência religiosa de êxtase).
MACARTHUR faz uma distinção do uso do singular e plural (língua e línguas) nas
frases sem explicação alternativa porque o apóstolo troca de número. Ele sugere que
“língua” refere à prática pagã pois não há variedades/ dialetos do balbuciar. Pelo
contrário, quando se refere a idioma, o autor usa “línguas” pois é obvio que existem
muitos e são classificáveis. (A exeção se acha no v. 27 esplicável literariamente—
Paulo apresenta um exemplo hipotético da aplicação da regra do v. 26 na igreja.
Quando uma pessoa fala noutra idioma, ele não fala vários ao mesmo tempo).

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Apesar de tudo, notamos que os dons são dados pelo Espírito Santo a crentes
individuais com o propósito de edificar a igreja—os outros membros do corpo de
Cristo. Em vista disso, Paulo ensina que as línguas em Corinto são inferior à
profecia. Também deveriam ser exercidos sucessivamente, com intérprete, e sujeito
aos outros (línguas tinham que ser traduzidas; profecia sujeito aos outros profetas, v.
29, v. 30). Isso indica, que ambos os dons foram submissos ao intelecto do crente e
não uma cousa que “cai em cima” da pessoa cujo sujeito não é capaz de controlar (v.
28, 30), pois fica vedada o exercer quando certos prerequisitos (racionais) não
estiverem presentes. Portanto hoje, “é incrível que tantos cristãos coloquem tanta
importância em sons inteligíveis que ninguem, até mesmo quem os produz, entendem.
Em alguns casos, aquilo dito ser a interpretação foi provado que não houve relação
alguma com aquilo pronunciado” (MACARTHUR, 374).

Finalmente notamos uma questão hermenêutica: A interpretação correta do texto


nunca muda mesmo com outras revelações (posteriores). Não podemos trocar a
interpretação do texto baseada em outro texto(s). Sim, outros textos ajudariam
chegarmos à interpretação correta do primeiro texto mas não pode mudar ou
transformar a intenção do autor. Cabe a nós teólogos juntar o ensino de todos os
textos para formular uma teologia sistemática submissa aos textos das Escrituras,
teologia esta baseada na presuposição que não há contradição na Palavra de Deus.

1.4 Bibliografia
STOTT, John. A Mensagem de Atos 68-71.
B.A.G.D.
MACARTHUR, Jr. John, I Corinthians (The MacArthur New Testament
Commentary) (Chicago, Moody Press: 1984) p. 369 ff.
CATE, B.F Os nove Dons do Espírito Não se manifestam na Igreja no dia de hoje
(São Paulo: IBR, 1987)

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