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1 Coríntios 7

1.1 Introdução

1.1.1 Relação ao contexto da carta


 Neste capítulo Paulo passa a discorrer sobre perguntas enviadas a ele cf. 7:1
“Quanto ao...”
 Conexão: O cap. 6 termina com impureza, esp. a impureza sexual; ao passo que
o cap. 7 ensina acerca do corpo no casamento, ect.
 6:20 “glorificai a Deus no vosso corpo” conecta com o conteúdo do cap. 7.

1.1.2 O Pano de Fundo


Entende-se que no contexto de Corinto houve quem afirmasse que certas posições ou
práticas eram “mais espirituais.” Parece que os coríntios em geral tinham distorções
acerca da verdadeira espiritualidade. Portanto havia afirmações quanto a
espiritualidade das facetas da vida conjugal e que a união física era “menos
espiritual.” Nota-se algumas áreas afetada:
 abstenção dentro do casamento
 separação do cônjuge descrente
 proibição de filha virgem se casar
Diante da pressão cultural a se casar, ou eclesiástica, a não se casar, Paulo apresenta
doutrina transcultural em respeito os estados conjugais.

veja Morris, 84
o contexto cultural de Corínto—asceticismo.

1.1.3 Sequência de Assuntos


Geralmente divido pelo V. de pronunciar na primeira pessoa do singular.
obs. PARRY, ed. afirma—“no decorrer do discurso há distinção rigorosa entre
conselho e ordem” (PARRY, ed. Cambridge Greek Testament, p. 110).
v. 6 “Eu digo”
v. 7 “Eu quero”... “mas cada um tem...”
v. 8 “Eu digo”
v. 10 “Eu ordeno”
v. 12 “Eu digo”
v. 17 “Eu ordeno” [outra palavra do v. 10]
v. 26 “Eu considero” (acho/ julgo)
v. 32 “Eu quero”
v. 35 “Eu digo”
v. 36 “Entretanto se alguém julga” (acha/ considera)

TMF. Natal, SIBB, Análise de 1 Coríntios: cap. 7, v. 2008.3, p. 1


1.1.4 Esboço
Esboço 1
Cap 7 “Casar? ou não casar? –eis a questão.”
7:1-7 Casar? ou não se casar? Qual é melhor?
7:1-2 Introdução, admissão, Instrução
7:4-6 Deveres dos casados
7:7-9 Deveres dos não-casados e viúvas
7:10-16 Casar? ou não se casar? Quanto a separações.
7:10-11 O Casal Crente (“aos casados, ordeno...”)
7:12-16 O Casal Misto (um é crente) (“aos mais digo...”)
7:17-24 Chamado? ou Alterado? (“ordeno”)
obs. esta seção é continuação e ampliação do teor do 7:1-16 (“permanecer”)
quanto alterações gerais do estado do crente.
7:17 O Princípio Afirmado (v. 17.b)
7:18-23 Exemplos e o princípio confirmado (v. 20)
7:24 O Princípio Finalizado (v. 24)
7:25-38 Casar? ou não se casar? Quanto a virgens.
7:39-40 Casar? ou não se casar? Quanto a viuvas.

Ryrie (e BKN) com acréscimos:


I. Casamento e Celibato (v. 1-9).
As responsabilidades do casado e solteiro
II. Casamento e Divórcio (v. 10-24)
A. Crentes (v. 10-11)
B. Descrentes (v. 12-16)
C. Princípio Geral (v. 17-24): “Permanecer”
III. Casamento e Serviço Cristão (v. 25-38)
A. Virgens (v. 25-31)
B. Princípios (v. 32-35): Livre de Preocupações
C. O Pai com a sua virgem (v. 36-38)
IV. Casamento e Ré-casamento (v. 39-40)

1.1.5 Definições:
“viúva”—ocorre somente no vs. 8
 obs. 7:34 “viúva” na ARA é propriamente “solteira”
 7:40 “viúva” é subentendida do contexto
“virgem”—o foco do parágrafo 7:25-38
 termo técnico
 geralmente do gênero fem. (mas não restrito, comp. Apoc 14)
“solteiro”—agamo lit. “não-casado”
 termo abrangente (MORRIS)
 classe distinta da viúva (cf. 7:8)
TMF. Natal, SIBB, Análise de 1 Coríntios: cap. 7, v. 2008.3, p. 2
 classe distinta da virgem (cf. 7:34. obs. “viúva” na ARA propriamente é
“solteira”)
 instrução à solteira crente cujo marido é crente—7:11 “permanecei solteira”
 MORRIS (86) prefere a idéia mais ampla, i.e. “viúvo”, porém (também?) é a
situação da pessoa separada (7:11 “não se case”—lit. “permaneça solteira/
não-casada”)
 A minha proposta atual prefere que esta seja “pessoa com sequela conjugal”
a nivel inferior a casamento cristão. Não é difícil imaginar que houve
muitos irmãos coríntios com “bagagem” moral—regeneradas de procedência
complicada. Entre estas haviam um ou mais (ou inúmeros?) parceiro(s)
ainda vivos. Seriam, então, pessoas separadas ou até divorciadas antes da
conversão.

1.2 Deve-se casar? (7:1-9)

1.2.1 Introdução
 Entende-se que os vs. 8-9 se relacionam ao contexto à luz dos vs. 1-2. Desta
forma, não há novo assunto completo mas segunda linha de pensamento quanto à
pergunta se deve casar.

1.2.2 Esboço
I. Introdução: “ ‘Tocar’ ou não ‘tocar’?”
Resposta: “é bom... mas...”
II. Os Casados: Deveres—devem “tocar.”
Resposta: uma exceção exata.
III. Os Solteiros: Desafios—não devem “tocar.”
Resposta: “seria bom... caso porém...”

1.2.3 Comentário
7:1 “bom” (kalo comp. c/ agaqo) palavra menos forte não falando de algo
moralmente superior, mas de melhor proveito, utilidade ou vantagem (comp. vs. 26).
Alguns (Ryrie,nota; BKN) sugerem que se trata de uma concessão ou admissão
da veracidade limitada da afirmação. Portanto, não é ensino positivo do estado
melhor pois o autor limita a aplicação completo dentro do casamento.
7:1 “tocar”—eufemismo (comp. Gên 20:6; Pv 6:29) para união física
7:2 “mas”—conjunção de contraste à aplicação absoluta do vs. 1 “não toque...”
v. 3-4 As responsabilidades do cônjuge:
 igualdade e reciprocidade. A ênfase é na responsabilidade de satisfazer o
cônjuge (BKN).
 O cônjuge não deve se segurar do outro.
 O cônjuge não deve “barganhar” diante dos desejos do outro.

TMF. Natal, SIBB, Análise de 1 Coríntios: cap. 7, v. 2008.3, p. 3


Três condições necessárias para abstenção dentro do casamento (BKN):
v. 5 “salvo talvez”; v. 6 “concessão”
1. consentimento mútuo
2. tempo limitado
3. propósito espiritual específico: dedicação a oração.
7:6 “isto… concessão” ref. à abstenção (v. 5), não o fato de se casarem
Porém MORRIS acha que se refere a casamento
7:7 Paulo cuida para que não haja idéia que o celibato é inferior
7:8 “solteiros”—veja “definições” acima.
7:8 “viúvos”
7:8 “no estado...eu”
7:9 “que se casem”—uma ordem para os abrasados (MORRIS, ad loc)

1.3 Alterações de estado (7:10-24)

1.3.1 Introdução
 de certa forma, os vs. 17-24 fazem parte do discurso maior desde o vs. 10.
 porém, abre a aplicações mais amplas na vida cristã
  o princípio geral é repetida diretamente nos vs. 17.b, 20, 24. Também é
ensinada por meio de figuras concretas (vs. 18-19, 21-22). Comp. tb. vs. 26.b.
 obs. o 7:24 parece ser conclusão geral. Sugere-se que remonte desde o início do
capítulo.

1.3.2 Ao Crente casado com crente (7:10-11)


7:10 sequência das palavras enfatiza mudança—“o Senhor, não eu”
7:11 “não se case” (ARA)—lit. “permanecei solteira” (menetw agamo)

1.3.3 Ao Crente casado com descrente (7:12-16)


O casamento em relação a descrentes
1. a conversão não deve por em risco o casamento (pelo menos da parte do
crente)
 O Cristianismo não é uma religião que chama (nem procura) seus
seguidores a cortar seus vínculos matrimoniais (ou outros, cf. v. 17ss)
nem usar o casamento para constranger a outra parte a se converter.
 comp. algumas seitas (T.J.; Mormon, etc.)
2. o crente não deve abandonar o casamento.
3. o crente não deve lutar para se manter casado com o descrente que não quer.
7:12 “Aos mais”—mundança de caso: Onde há só um cônjuge crente
mudança quanto a referência espiritual—“irmão,” “incrédulo”
7:12-13 Não abandone o casamento (consentimento)
TMF. Natal, SIBB, Análise de 1 Coríntios: cap. 7, v. 2008.3, p. 4
7:14 santificação: separados mesmo que não seja no sentido absoluto-teológico
“santo- tificado”—no sentido primordial—“pertencente a...”
O aspecto moral é derivação lógica de possessão—se pertence, logo deve
haver semelhanças
o pecado do incrédulo não corrompe o cônjuge crente (MacArthur).
7:14 “impuros” (cf. Atos 10:14,28; 2 Cor 5:17) Há três estados rituais:
1. impuro—no caso de filhos sem algum pai crente.
2. limpo
3. santo
7:14 “filhos santos”—o comentário de MORRIS parecer ser influenciado pela
Teologia das Alianças.
7:15 “sujeito à servidão”
Esta frase é o centro da discussão quanto ao ré-casamento. Entende-se que o cônjuge
está livre para sair do relacionamento. Porém livre até que nível?
a. o relacionamento e convivência conjugal
b. o pacto matrimonial
c. Quanto a questão—“E se não houve pacto?”
i.e. simplesmente “moravam” juntos.
Claramente a idéia inclue o ponto “a” acima. Quanto ao ré-casamento, se trata
de outra questão completamente (veja abaixo)
7:15 “paz” O crente não deve lutar contra a vontade do incrédulo.

Quanto ao ré-casamento (parceiros vivos):


Esta questão é difícil visto pelas divergências mesmo entre comentaristas sérios.
Segue algumas considerações e citações:
 Paulo dá o melhor conselho em vista às circunstâncias. De fato há muitas
complicações que não são “preto e branco.”
 VANGORDER: não livre para ré-casar
 Morris—“parece significar... livre para casar-se outra vez.”
 MacArthur: afirma que recasamento é permissível no caso do ex-cônjuge ser
descrente. Argumenta ainda que a permissão do divórico praticamente
pressupõe recasamento.
 WIERSBE: caso o outro cônjuge contrair outro relacionamento, se torna
adultério e portanto, livra o crente a se casar.
 PARRY, ed.: argumento a favor da permissibilidade a partir do nivel do
casamento. Segundo ele, estes não estão casados no sentido completo
cristão, pois os casamentos destes são dissolúveis por consentimento mútuo
como na mente quando as partes pagãs entraram nos votos. Acrescenta
—“Ele [Paulo] não afirma categoricamente que o parceiro cristão é livre
para se casar novamente, mas o fato que não o proibe, deixa espaço para
permitir isso” cf. vs. 15.b “servidão.” Novamente PARRY diz—isto parece
involver a possibilidade de outro casamento.”

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 Talvez o “nível” do casamento (entre descrentes, logo, inferior), permitisse
dissolução, que então enquadraria a pessoa “solteira” no conselho do vs. 8.

7:16 “...se salvarás” MacArthur entende não como raio de esperança. Ele acha que
Paulo aqui lança dúvida sendo parafraseada—“não permaneça casado simplesmente
para tentar converter o cônjuge pois quem sabe se vai acontecer?”

1.3.4 O Princípio Geral (7:17-24)


Introdução
 veja introdução ao 7:10-24, acima.
 O conceito de vocação: permanece naquilo que Deus concedeu a você mas dê
preferência a evitar a escravidão.
 Há um conceito geral que permeia este trecho. O crente deve “permanecer:”
esp. v. 17-24
v. 8 solteiros e viúvas
v. 40 viúva
dito no negativo: “não deixe/ abandone” (v. 12-13)
Aplicada a todas as igrejas (não só Corinto) (v. 17.d)
Esboço de 7:17-24
Princípio (v. 17)
Exêmplo 1 (v. 18-19)
Princípio (v. 20)
Exêmplo 2 (v. 21-23)
Princípio resumo (v. 24)
v. 24 Resumo do ensino a crente casados.
7:18 O evangelho não apaga, por necessidade, o estado natural.
7:21 O evangelho não abole, por necessidade, a estrutura social.
7:22 “liberto” comprado, libertado portanto implica serviço ao libertador.
comp. 2 Reis 5:19
Aplic.
1. Vivemos no mundo cheio de novidades. “Novo” subentende-se que é melhor.
Se mudou então, melhorou; sempre na busca de algo melhor. Paulo pergunta
—“Será que você já está no melhor?”
2. Deus salva a pessoa para então ser luz no seu contexto. O evangelho tem
impacto ao testemunhar—dentro do lamaçal—uma transformação. Observa-se
que ao regenerar, Deus não leva a pessoa imediatamente ao céu. Ela tem
vocação; tem função no corpo. Logo, a igreja não é, nem deve ser, condomínio
evangélico. Ela existe como comunidade para fortalecimento mútuo a exercer o
ministério (cf. Ef. 4:12).
3. Viver fiel ao nosso chamado. Devemos viver como bons crentes qualquer que
seja a circunstância. O evangelho não é curinga para se livrar das opressões
deste mundo.

TMF. Natal, SIBB, Análise de 1 Coríntios: cap. 7, v. 2008.3, p. 6


1.4 Com respeito a virgens (7:25-38)

1.4.1 Introdução

1.4.2 Considerações
7:25 “com respeito” parece introduzir o próximo assunto. Morris sugere que é
resposta a outra pergunta (tb. Lightfoot).
7:33 “o que se casou”—entende-se que se refere ao casado, não ao solteiro (v. 32)
que case; i.e. não compreende ré-casamento.
7:36-38 Há quem afirme que estes vss se tratem de noivos que considerem se abster
indefinitivamente o casamento, porém isso não considera bem os contextos.
 veja MORRIS
 e.g. gamizw e uperakmo.
 Ambas nas culturas gregas e judaicas esta decisão era com o pai (PARRY,
ed.).
Preferiu permanecer solteiro por três motivos:
1. a angustia presente (v. 26-28)
2. a volta de Cristo iminente (v. 29-31)
3. oportunidade para servir a Deus melhor (32-35)
Considerações antes de contrair casamento (Wiersbe, 77ss)
1. Considerar as circunstâncias presentes (v. 25-31)
2. Enfrentar as responsabilidades com franqueza (v. 32-35)
“cuidado” requer maturidade que nem sempre corresponde a idade
3. Cada situação é única (v. 36-38)
4. Lembrar que o matrimônio é para toda a vida (v. 39-40)

1.5 Com respeito a viúvas (7:39-40)


 A viúva têm opção quanto a contrair um cônjuge (semelhante a solteiros) (cf. 1
Tim 5:11,14).
 Esta liberdade é regida somente “no Senhor.” Entende-se que seja somente com
outro crente (porém MORRIS seguindo LIGHTFOOT (?) evita esta definição ao
optar por um sentido mais amplo ~ “de acordo com a vontade do Senhor”).
Outros ensinos implícito aqui (GROMACKI, 99):
1. a permanência do casamento—indissolúvel enquanto o cônjuge viver (cf.
7:27)
2. a morte dissolve o vínculo conjugal (cf. Rom 7:2-3)

TMF. Natal, SIBB, Análise de 1 Coríntios: cap. 7, v. 2008.3, p. 7


1.6 Apêndice: Princípios Gerais

1.6.1 O Casamento
 O Casamento é bom e tem suas responsabilidades e suas preocupações
 O Celibato é bom mas só é para quem Deus capacita.
- não é moralmente superior,
- porém proporciona vantagens, pois permite servir sem distração por está mais
livre.
 Servir a Deus o melhor possivel
 Permanecer na vocação
- não procure mudança
 Não se deve pressionar alguém a se casar ou não se casar.
- a decisão quanto ao casamento inclue diversos fatores pessoais e ministeriais
(comp. tb. acima).

1.6.2 Perguntas para quem quer se casar


(Wiersbe, 83):
1. Qual dom tem Deus me dado?
2. Vou me casar com um crente?
3. São apropriadas a circunstâncias pelo qual esse matrimônio seja correto?
4. Como este matrimônio afetará o meu serviço a Cristo?
5. Estou preparado para entrar esta união para a vida toda?

TMF. Natal, SIBB, Análise de 1 Coríntios: cap. 7, v. 2008.3, p. 8

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