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Assinado com login e senha por PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA ANTONIO AUGUSTO BRANDAO DE ARAS, em 30/07/2020 17:19.

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PGR-00278512/2020

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Ofício nº 736/2020- SUBCAP/SEJUD/PGR


Brasília, 30 de julho de 2020.

A Sua Excelência o Senhor

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Senador DAVI ALCOLUMBRE
Presidente do Congresso Nacional
Congresso Nacional
Palácio do Congresso Nacional - Praça dos Três Poderes
70165-900 - Brasília - DF

Assunto: Convenção sobre o Crime Cibernético.

Senhor Presidente,

1. Cumprimentando-o e em atenção ao encaminhamento pelo Excelentíssimo


Senhor Presidente da República do texto da Convenção sobre o Crime Cibernético, celebrado
em Budapeste, com fins de adesão brasileira, através da Mensagem nº 412, de 22 de julho de
2020, venho manifestar a Vossa Excelência o interesse do Ministério Público Federal quanto à
rápida tramitação da ratificação legislativa dessa Convenção, a fim de garantir que o Brasil,
desde logo, possa usufruir de todos os benefícios que esse instrumento trará.
Atenciosamente,

Augusto Aras
Procurador-Geral da República
Assinado digitalmente

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PGR-00278069/2020

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA
2ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Memorando n° 73/2020/2ªCCR

Brasília, 29 de julho de 2020

Assinado com login e senha por CARLOS FREDERICO SANTOS, em 29/07/2020 15:56. Para verificar a autenticidade acesse
Ao Exmo. Senhor
ANTÔNIO AUGUSTO BRANDÃO DE ARAS
Procurador-Geral da República

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Assunto: Convenção sobre o Crime Cibernético

Senhor Procurador-Geral,

1. Cumprimentando-o, informo a Vossa Excelência que o Excelentíssimo


Senhor Presidente da República, através da Mensagem nº 412, de 22 de julho de 2020,
encaminhou ao Congresso Nacional o texto da Convenção sobre o Crime Cibernético,
celebrado em Budapeste, com fins de adesão brasileira ao instrumento.

2. Como a matéria tratada é de grande importância para a 2ª Câmara de


Coordenação e Revisão, solicito a Vossa Excelência externar o interesse do Ministério
Público Federal ao Presidente do Congresso Nacional quanto à rápida tramitação da
ratificação legislativa dessa Convenção, a fim de garantir que o Brasil, desde logo, possa
usufruir de todos os benefícios que esse instrumento trará.

Respeitosamente,

CARLOS FREDERICO SANTOS


Subprocurador-Geral da República
Coordenador da 2ªCCR
PR-SP-00079435/2020

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA - SÃO PAULO
GABINETE DE PROCURADOR DA REPÚBLICA - 42º OFÍCIO

Assinado com login e senha por FERNANDA TEIXEIRA SOUZA DOMINGOS, em 29/07/2020 13:38. Para verificar a autenticidade acesse
Rua Frei Caneca, nº 1360, Sala 153, São Paulo (SP) - CEP: 01307-002
E-mail: prsp-gabfernanda@mpf.mp.br - Telefone: (11) 3269-5079

Ofício nº 8142/2020

São Paulo, 28 de julho de 2020

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Excelentíssimo Senhor
Carlos Frederico Santos
Subprocurador-Geral da República
Coordenador da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal

Ref. Encaminha Nota Técnica do Grupo de Apoio sobre Criminalidade Cibernética sobre
a Convenção do Cibercrime (CONVENÇÃO DE BUDAPESTE)

Senhor Coordenador,

Cumprimentando-o, encaminho a Vossa Excelência a Nota Técnica em anexo


elaborada pelo GACC - Grupo de Apoio sobre Criminalidade Cibernética sobre a Convenção
de Budapeste.
Essa Nota Técnica foi encaminhada ao Itamaraty por meio da Secretaria de
Cooperação Internacional, listando benefícios para a adesão à Convenção do Cibercrime e
esclarecendo dúvidas referentes ao funcionamento da mesma. Ele foi elaborada após inúmeras
reuniões com os diplomatas e também com o grupo multi institucional criado para discutir essa
adesão. Após a última reunião, na qual o documento foi entregue, e parecer favorável do
Ministério da Justiça, o Ministério das Relações Exteriores provocou o Conselho da Europa
para que o Brasil fosse convidado a aderir à Convenção.
A deliberação pelo convite ao Brasil foi exarada em 11 de dezembro de 2019.
Desde então, outros países já aderiram ou foram convidados a aderir, havendo atualmente 65
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partes, além dos que possuem status de observadores, como o Brasil. Completar o processo de
acessão à Convenção é importante o quanto antes porque está em discussão o 2º Protocolo
Adicional à Convenção com a próxima reunião inclusive agendada para o fim de setembro do
corrente. Nesse Protocolo Adicional estão sendo deliberadas formas de MLAs emergenciais e
outros ordinários, porém com rito abreviado, além de outras formas de cooperação expedita e
mais eficiente, como a formação de equipes de investigação conjunta, aceitação como prova
de videoconferências no âmbito da Convenção, dentre outras medidas. Por ora, com status de

Assinado com login e senha por FERNANDA TEIXEIRA SOUZA DOMINGOS, em 29/07/2020 13:38. Para verificar a autenticidade acesse
observador, o Brasil pode influenciar as discussões, mas ainda não tem direito a voto, o que
ocorrerá tão logo deposite o instrumento de ratificação da Convenção.
Essa Convenção é o único instrumento internacional sobre crimes cibernéticos e
provas eletrônicas. O novo protocolo irá moldar a forma da investigação e cooperação
internacional nessa área por muitos anos e há todo o interesse do MPF em poder utilizar desde
logo as ferramentas já existentes para a eficiência da investigação criminal, bem como
influenciar no formato das novas formas de cooperação.

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A Câmara Criminal, por meio do GACC, tem estudado a Convenção de
Budapeste desde 2011, participando de conferências e reuniões, elaborando notas técnicas
sobre a compatibilidade da Convenção com a legislação brasileira, sobre os benefícios para a
investigação criminal e a cooperação internacional e desmistificando os equívocos acerca desse
importante instrumento internacional para o combate aos crimes cibernéticos e obtenção de
evidências digitais.
A argumentação do Ministério Público Federal teve importância fundamental
para a decisão em favor da adesão do Brasil à Convenção.
Assim, é de suma importância que a Procuradoria Geral da República continue
a acompanhar o processo para a acessão à Convenção nesta etapa de ratificação legislativa, a
fim de garantir que o País, desde logo, possa usufruir de todos os benefícios que esse
instrumento trará.

Aproveito o ensejo para renovar protestos de elevada estima e consideração.

Fernanda Teixeira Souza Domingos


Coordenadora
GRUPO DE APOIO sobre CRIMINALIDADE CIBERNÉTICA

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PR-SP-00095455/2018

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


CÂMARA CRIMINAL DA PGR

NOTA TÉCNICA DO GRUPO DE APOIO SOBRE CRIMINALIDADE CIBERNÉTICA SOBRE


A CONVENÇÃO DO CIBERCRIME (CONVENÇÃO DE BUDAPESTE)

O Ministério Público Federal se fez representar na 11ª Conferência Octopus sobre Crime Cibernético, de
11 a 13 de julho de 2018, em Estrasburgo, França, dado o crescente aumento na criminalidade cometida
pelos meios digitais, internet e outros sistemas informáticos, bem como a atual necessidade de obtenção
de provas digitais para a elucidação de praticamente todos os delitos.

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Há vários anos o Ministério Público Federal vem se deparando com os desafios da criminalidade
cibernética, tanto que já em 2003 foi criado um grupo de atuação especializada em São Paulo, com o
respectivo Núcleo Técnico, com o objetivo de aprimorar o conhecimento especializado necessário para
investigar e processar os delitos cometidos via web e outros sistemas informáticos, iniciativa seguida

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pela Procuradoria da República no Rio de Janeiro e pela criação do Grupo de Trabalho Nacional sobre
criminalidade cibernética, transformado em Grupo de Apoio e que efetivamente vem prestando auxílio
tanto às unidades do MPF nos estados quanto aos Ministérios Públicos Estaduais do País.

Nos quinze anos de atividade dos grupos, verificou-se um aumento exponencial na quantidade e
sofisticação no cometimento dos delitos cibernéticos, com a migração de delitos comuns como fraudes,
estelionatos, ameaças e extorsões (ramsonware) para o meio digital que não têm encontrado nem
capacitação para o seu combate, nem ferramentas jurídicas aptas a permitir a persecução penal efetiva,
aumentando a insegurança da vida diária e dificultando a prevenção.

Da mesma forma, a necessidade de obtenção de provas digitais para a comprovação da autoria e


materialidade dos mais variados delitos, como homicídios, corrupção, crimes financeiros etc, cuja
elucidação pode depender de e-mails, interceptações telemáticas, arquivos armazenados na "nuvem",
tornou-se uma constante para os operadores do direito.

A aprovação do Marco Civil da Internet em 2014 criou um importante arcabouço legislativo para a
persecução penal ao estabelecer regras de preservação de dados e sua utilização para fins cíveis e
criminais, assim como as regras para obtenção dessas informações digitais, sejam elas dados cadastrais,
informações de conexão à internet, de acesso a aplicações de internet ou conteúdo de comunicações. As
disposições seguem a tradição do direito brasileiro, nos termos da Lei de Introdução às Normas
Brasileiras, e asseguram a soberania nacional ao estabelecer, grosso modo, que as operações de coleta e
tratamento de dados a partir do território nacional por empresas que prestem seus serviços aqui,
possuindo sede, filial ou representante do mesmo grupo econômico, ou que, pelo menos, ofertem o
serviço ao público brasileiro, mesmo que não tenham representante em território nacional, estão sujeitas
à lei nacional e devem se submeter à jurisdição brasileira.

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No entanto, os meios digitais não respeitam fronteiras, havendo inúmeros serviços prestados na web ou
via web que, apesar de não oferecidos ao público brasileiro, estão disponíveis e são alcançáveis por
quem deles queira se utilizar, e quando utilizados para a prática de delitos, impõem desafios aos agentes
de segurança e investigação.

Nesses casos, existe a necessidade de obter cooperação dos países onde a prova pode ser obtida. Essa
cooperação internacional precisa ser ágil e eficiente, notadamente tratando-se de provas digitais,
extremamente voláteis, a fim de não se perderem e também com o fito de interromper as condutas
criminosas, as quais, praticadas pelos meios digitais passam a ter um alcance com consequências antes
inimagináveis. Como exemplo recente, tem-se o ataque do vírus Wannacry, ocorrido em maio de 2017,
que afetou mais de 200.000 computadores em 150 países, inclusive no Brasil. Nesse ataque cibernético,
que se acredita ter-se originado na Coreia do Norte, os computadores atingidos tinham seus dados
criptografados e eram alvo de extorsão, já que se prometia que tais dados somente seriam liberados
mediante o pagamento de resgate em criptomoedas, no caso, o Bitcoin. Estima-se que o prejuízo

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resultante do ataque variou de 100mil a bilhões de dólares.

Atualmente, qualquer ataque cibernético que tenha por objetivo interferir em sistemas vitais da
infraestrutura nacional pode em instantes, por exemplo, deixar o país sem energia ou comunicação,
afetando diretamente a economia e segurança nacionais.

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Nesse cenário, a Convenção do Cibercrime, que data de 2001 e já conta com mais de 60 países
aderentes, apresenta-se como um instrumento eficaz de cooperação internacional para a obtenção de
provas digitais, além de inserir o Brasil no mapa do combate ao crime cibernético.

Note-se que, apesar de datar de 2001 e ser um tratado com origem no Conselho da Europa, isto é,
aparentemente regional, a Convenção é um instrumento vivo, com constantes reuniões de trabalho para
treinamento e aprimoramentos em sua interpretação.

Ao par de trazer um arcabouço básico que estatui requisitos mínimos e indispensáveis a serem
cumpridos pelos países para possibilitar a cooperação, já que a harmonização da legislação,
consequência da adesão à Convenção do Cibercrime, traz tranquilidade aos países-membros no que toca
ao respeito por direitos e salvaguardas mínimos e padronizados, a Convenção possui comissões,
formadas por todos os países aderentes, que discutem as inovações e interpretações que podem ser dadas
aos artigos da Convenção a fim de acompanhar a evolução tecnológica e as necessidades jurídicas atuais.

Esses grupos de discussão, derivados do T-CY ou Comitê da Convenção do Cibercrime, permitem que
todos os países membros da Convenção tratem da interpretação das normas da Convenção e do seu
alcance. Como exemplo, citem-se o Comitê para o acesso transfronteiriço a provas, o Comitê para o
acesso da prova digital na nuvem, o Comitê para o artigo 13 que trata das sanções, dentre outros.

Demonstração clara da constante evolução da convenção é a discussão atual sobre um Protocolo


Adicional com o objetivo de tornar mais rápida a obtenção das provas digitais mediante a simplificação
dos procedimentos de cooperação internacional via MLAs (multilateral assistance agreements). Logo,
um país aderente à Convenção neste estágio, está apto a participar das discussões das comissões
e influir no resultado dos novos acordos.

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Elencamos abaixo os principais ganhos que identificamos para a investigação criminal e a segurança do
nosso País com a adesão à Convenção do Cibercrime, analisando também a inexistência de óbices à
adesão:

1. Melhoria do arcabouço legal. Assinar a Convenção cria a obrigação para o Congresso em


aprovar os tipos penais específicos, preenchendo importantes lacunas na legislação brasileira
que têm prejudicado a efetiva persecução de crimes cibernéticos;

2. Harmonização. A criação de novos tipos penais também harmonizará a legislação brasileira


com a legislação de outros países, o que facilitará a cooperação internacional em investigações,
a obtenção de provas e a extradição de envolvidos;

3. A Convenção já existe. Apesar de a Convenção de Budapeste ter sido uma iniciativa do


Conselho da Europa, atualmente ela abarca mais de 60 países ao redor do mundo, incluindo
diversos países da América Latina, como Argentina (ratificou, em 05/06/2018), Chile (ratificou,
em 20/04/2017), Costa Rica (ratificou, em 22/09/2017), República Dominicana (ratificou, em

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07/02/2013), Panamá (ratificou, em 05/03/2014), Paraguai (ratificou, em 30/07/1018), e
Colômbia (aprovou o projeto de lei para aderir à Convenção do Cibercrime), e são países
observadores da Convenção México e Peru, de forma que a adesão do Brasil também é
importante para facilitar o combate ao crime na nossa região;

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4. Convenção da ONU. A eventual adesão à Convenção do Cibercrime não exclui a
continuidade das tratativas para a elaboração de uma Convenção no âmbito da ONU; inclusive
países integrantes do BRICS, como Rússia e África do Sul, são países observadores;

5. Provas Digitais. A Convenção do Cibercrime é útil não somente para a persecução de crimes
cibernéticos, mas principalmente para a obtenção das provas digitais que estão presentes em
quase todos os delitos, de fraudes financeiras a tráfico internacional de drogas, obtenção esta
que depende de cooperação internacional quando não atendidos os requisitos do Marco Civil da
Internet;

6. Ampliação da rede 24/7. No âmbito da Organização dos Estados Americanos-OEA existe a


rede 24/7 dos pontos de contato (vinte e quatro horas, sete dias por semana). A Convenção do
Cibercrime abarca pontos de contato entre todos os signatários, havendo a possibilidade de
indicar tanto um órgão para o processamento dos pedidos de cooperação quanto indicar um
ponto de contato que atenda diretamente a autoridade judicial ou o ministério público para
esclarecer dúvidas ou mesmo acelerar a obtenção da prova eletrônica nos casos emergenciais;

7. Ampliação das hipóteses de cooperação. A Convenção do Cibercrime possibilita a cooperação


com todos os países signatários, mesmo com aqueles com os quais o Brasil não possui acordo
bilateral de cooperação em matéria penal, o que incrementa e acelera a obtenção de provas que
dependem da cooperação desses países;

8. Capacitação e aprimoramento. O país membro da Convenção tem acesso aos programas de


capacitação e treinamento para investigação e processamento de Crimes Cibernéticos, bem
como para obtenção de Provas Digitais mediante a cooperação internacional. Os inúmeros
projetos já em andamento são implementados através do escritório C-Proc, do Conselho da
Europa, com orçamento específico para as diversas regiões do planeta, inclusive América
Latina, o que permitiria capacitar as polícias, os Ministérios Públicos e os Juízes no Brasil todo,

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contando com alcance e apoio inéditos em nosso País. É preciso ressaltar as dificuldades
enfrentadas principalmente pelos Ministérios Públicos Estaduais e Polícias Civis que
diariamente confrontam o crime organizado, dentro e fora das unidades prisionais, e que
necessitam urgentemente de apoio para esse enfrentamento, seja em conhecimentos
tecnológicos e técnicas de investigação, seja em instrumentos jurídicos que precisam ser
aperfeiçoados. Note-se ainda a noticiada expansão do crime organizado, notadamente no tráfico
de drogas, o Primeiro Comando da Capital, que alcança diversos países vizinhos do Brasil com
organização e sofisticação tecnológicas invejáveis aos agentes do Law Enforcement, sendo as
provas digitais e a tecnologia a ser compartilhada, essenciais na persecução desses delitos;

9. Acesso direto a provas eletrônicas em harmonia com a legislação brasileira. A Convenção do


Cibercrime possui previsão de acesso transfronteiriço a provas no seu Artigo 32, o que por
vezes gera desconfiança em relação a ele.
Entretanto, é preciso dizer que o Marco Civil da Internet, após ampla discussão com todos os setores da
sociedade, trouxe arcabouço legislativo mais ousado, deixando claro em seu Artigo 11 que a jurisdição
brasileira é aplicável aos dados coletados em território nacional não importando o local do planeta onde
eles estejam armazenados, desde que o serviço atrelado a esses dados esteja sendo ofertado ao público

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brasileiro. Assim, o acesso a dados armazenados em serviços de nuvem, por exemplo, é quotidianamente
feito com ordem judicial fundamentada embasada no Artigo 240 do Código de Processo Penal e no
Artigo 11 do MCI.

10. A Convenção reconhece a soberania local no acesso direto a provas digitais. Como exposto, o

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Artigo 11 do Marco Civil explicita que os dados coletados em território nacional por empresas
com filiais em território nacional ou pertencentes a grupo econômico com uma sede ou filial em
território nacional devem ser fornecidos às autoridades judiciais brasileiras mesmo que tais
dados estejam sendo mantidos armazenados fora do País. Tal dispositivo, que apenas reflete
questões básicas de soberania (dados coletados no Brasil devem ser acessíveis a autoridades
brasileiras diretamente desde que respeitados os ditames do devido processo legal previstos na
legislação pátria) tem sido alvo constante de investidas de corporações estrangeiras que desejam
ver aplicada no Brasil legislação estrangeira que em nada se assemelha ao quanto defendido
pela sociedade brasileira (vide, a esse respeito, a ADC 51, atualmente em trâmite no Supremo
Tribunal Federal).
A Convenção, em seu Artigo 18, traz dispositivo semelhante ao citado Artigo 11.

Artigo 18º - Injunção


1. Cada Parte adoptará as medidas legislativas e outras que se revelem
necessárias para habilitar as suas autoridades competentes para ordenar:
a) A uma pessoa que se encontre no seu território que comunique os dados
informáticos específicos, na sua posse ou sob o seu controlo e armazenados
num sistema informático ou num outro suporte de armazenamento de dados
informáticos; e
b) A um fornecedor de serviços que preste serviços no território da Parte, que
comunique os dados na sua posse ou sob o seu controlo, relativos aos
assinantes e respeitantes a esses serviços

Assim, a adesão do Brasil à Convenção dará à legislação local respaldo do direito internacional público,
permitindo que seja preservada a soberania nacional quanto aos dados aqui colhidos, e tornando mais

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difíceis as recusas de corporações estrangeiras que aqui atuam e aqui possuem filial em cumprir a
legislação pátria.

Ao aderir à Convenção de Cibercrime, nossa legislação ganha o reforço de uma Convenção


Internacional.

11. Propriedade intelectual e Direito do Autor. O Artigo 10 da Convenção do Cibercrime


estabelece que devem ser previstas como infrações penais do direito interno do país aderente a
violação do direito do autor e dos direitos conexos, para a proteção dos direitos estabelecidos na
Convenção Universal sobre o Direito de Autor, de Paris; na Convenção de Berna para a
Proteção das Obras Literárias e Artísticas; do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio; Convenção Internacional para a Proteção
dos Artistas Intérpretes ou Executantes, dos Produtores de Fonogramas e dos Organismos de
Radiodifusão (Convenção de Roma); do Tratado da OMPI sobre o Direito do Autor e Tratado
da OMPI sobre Interpretações, Execuções e Fonogramas. De todos esses documentos citados, o
Brasil somente não é signatário dos dois últimos tratados da OMPI, que datam de 1996 e
referem-se a esses direitos no âmbito da tecnologia, protegendo, por exemplo, programas de

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computador como obras literárias, nos termos da Convenção de Berna, e visando à proteção dos
direitos do autor e conexos no âmbito da internet.
Embora o Brasil não tenha ratificado esses dois últimos tratados, a legislação penal atual possui
dispositivo que atende ao quanto determinado pela Convenção de Budapeste e é aplicável à proteção dos
direitos do autor e conexos na sua difusão pela internet. O Artigo 184 do Código Penal criminaliza a

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violação do direito do autor e conexos por qualquer meio, o que inclui a internet:

Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos


Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito
de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra
intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização
expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor,
conforme o caso, ou de quem os represente

Logo, não há qualquer impedimento à adesão à Convenção do Cibercrime por falta de adesão aos
Tratados da OMPI. Nada impedindo também que nossa legislação seja alterada para que fique mais
específica, sem que haja a necessidade de se aderir aos Tratados mencionados, caso não seja essa a
intenção do País.

12. Proteção de dados. Com a promulgação da Lei de Proteção de Dados, espelhada no GDPR-
General Data Protection da União Europeia, a adesão à Convenção do Cibercrime completará a
introdução do Brasil no cenário mundial da era digital, garantindo que as trocas financeiras e
comerciais estarão dentro do padrão internacional também do ponto de vista da segurança,
permitindo um melhor combate aos delitos.

O Ministério Público Federal espera ter debelado qualquer dúvida que eventualmente existisse sobre os
benefícios da adesão do Brasil à Convenção do Cibercrime e se coloca à disposição para qualquer
informação complementar.

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NEIDE CARDOSO DE OLIVEIRA
Coordenadoras do Grupo de Apoio sobre Criminalidade Cibernética da 2ª CCR
FERNANDA TEIXEIRA DOMINGOS

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Assinatura/Certificação do documento PR-SP-00095455/2018 NOTA TÉCNICA

Signatário(a): FERNANDA TEIXEIRA SOUZA DOMINGOS


Data e Hora: 28/08/2018 12:39:32
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Signatário(a): NEIDE MARA CAVALCANTI CARDOSO DE OLIVEIRA


Data e Hora: 28/08/2018 12:41:15
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