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ANÁLISE DA VIBRAÇÃO OCUPACIONAL PARA A FUNÇÃO DE

OPERADOR DE TRATOR AGRÍCOLA14


Alana Indah Boaventura
Departamento de Engenharia Mecânica - UNESP - Bauru/SP, Avenida Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube 14-01, CEP.
17033-360.
alanaboaventura@hotmail.com
Ana Cláudia Rodrigues
Departamento de Engenharia Mecânica - UNESP - Bauru/SP, Avenida Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube 14-01, CEP.
17033-360.
anaclaudiarodrigues22@yahoo.com.br
Sueli Souza Leite
Departamento de Engenharia Mecânica - UNESP - Bauru/SP, Avenida Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube 14-01, CEP.
17033-360.
leitess@bol.com.br

Resumo:
A vibração trata-se de movimentos oscilatórios de um corpo em torno do seu ponto de equilíbrio,
sendo analisada por meio da frequência (Hz) ou aceleração máxima sofrida pelo corpo (m/s²). Tal
oscilação, é emitida por máquinas e equipamentos, que se propagam ao corpo do operador,
podendo provocar lesões passives de serem qualificadas como doenças profissionais. Sabido disto,
este estudo teve por finalidade, analisar o comportamento da vibração no sistema homem –
máquina. Para isto, um operador trabalhou com quatro potências diferentes, quando o trator
estáico, , baixa rotação ( E1) e alta rotação ( E2) e em movimento, baixa rotação ( M1) e alta
rotação – 1 ª marcha ( M2). Sendo estas condições repetidas quatro vezes cada, com duração de
um minuto. Os dados experimentais obtidos, foram transferidos para o software BLAZE, sendo
então analisados e manipulados para as devidas considerações estatísticas, utilizando o software
Excel. Após, a análise dos resultados, conclui-se segundo a NHO 09 e a ISO 2631, que para a
operação do trator analisado, no quesito vibração, o operador não terá malefícios à sua saúde
ocupacional, se trabalhar menos que 15 h por dia.
Palavra- chave : potência, saúde, vibração.

1. INTRODUÇÃO

Em 1936 nos Estados Unidos o cineasta Charlie Chaplin lançou o filme tempos modernos, o
qual retratou o cotidiano dos trabalhadores na época da Revolução Industrial, sendo estes,
submetidos a um ambiente de trabalho desfavorável fisicamente e psicologicamente. Visto que, a
forma de produção atentava-se para maior lucratividade da indústria, ignorando para isto, as
condições impostas aos seus trabalhadores.
Então, para propor melhorias no âmbito de trabalho, como as contextualizadas no filme, surge
após a Segunda Guerra Mundial, na Inglaterra o Ergonomics Research Society, uma sociedade de
pesquisadores preocupados em estudar o ambiente de trabalho, contribuindo para a difusão da
ergonomia em nível mundial (IIDA, 2005).
A ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele existente,
harmonizando a relação homem e máquina, às características, habilidades e limitações das pessoas,
com vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro (ROSSI et al., 2011).
Dentre as diversas variáveis na interface máquina – homem, tem-se a vibração, a qual não
analisada corretamente, origina problemas quanto a saúde e qualidade de vida dos operadores, pois
está relacionada ao conforto, segurança e desempenho.
Segundo, Iida (1990), a vibração trata-se de qualquer movimento que o corpo executa em torno
de um ponto fixo, podendo ser regular, do tipo senoidal ou irregular, quando não segue nenhum
padrão determinado. E é definida por três variáveis: frequência (Hz), aceleração máxima sofrida
pelo corpo (m/s²) e a direção do movimento.
A direção do movimento é de suma importância a ser analisada, porque o corpo humano reage
às vibrações de formas diferentes para cada eixo, sendo estes, longitudinal ao longo do eixo z,
referente a coluna vertebral e transversal, eixos x ou y, atuando em membros superiores ou através
do tórax (NIETIEDT et al., 2012).
Por isso, ao estudar a vibração em tratores agrícolas, contribui para o aperfeiçoamento de
projetos destes equipamentos, objetivando o conforto do operador no decorrer do trabalho (PINHO
et al., 2014)
Além da influência da vibração, os operadores de tratores também estão submetidos a limitações
e adversidades como: ruídos, poeiras, temperatura, umidade, iluminação entre outros, provenientes
do maquinário e do ambiente de trabalho (SCHLOSSER et al.,2002).
Sabido disto, este trabalho teve por finalidade analisar a vibração exposta pelo operador de um
trator agrícola, e o seu comportamento em relação a direção do movimento.

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Este tópico faz primeiramente a relação dos equipamentos usados, e em seguida os menciona no
procedimento adotado para efetuar o experimento.

Equipamentos:
- 1 Trator agrícola monocilíndrico com 14,7 cv de potência, e motor a 2750 rpm;
- 1 sensor de assento com acelerômetro tri dimensional da marca Larson Davis, modelo Triaxial
ICP, série: SEN027;
- Módulo de aquisição de sinais Modelo LARSON DAVIS HVM100, modelo 1.33;
- Software Blaze para a leitura dos sinais.
Um operador qualificado na categoria com massa de 65 kg dirigiu o trator cujo assento, foi
acoplado ao sensor tri dimensional, o qual foi fixado conforme a norma NHO09-2013 (referência),
como poder ser visto na Figura 1.
(a) (b)
Figura 1 – (a) Trator agrícola monocilíndrico da marca Agrale 4100 (b) sensor de assento com
acelerômetro tri dimensional

Para captar a vibração ao longo do experimento, foi considerada a variação da potência do


motor em quatro condições distintas, as quais, podem ser visualizadas na Tabela 1.

Tabela 1- Condições estabelecidas para o experimento


Estático Siglas Movimento Siglas
Baixa rotação (966 rpm) E1 Baixa rotação M1
Alta rotação (1422 rpm) E2 Alta rotação – 1ª marcha M2

Para cada condição, realizaram-se quatro repetições com duração de um minuto, totalizando em
16 ensaios, cujos dados obtidos no experimento, foram arquivados pelo módulo de aquisição de
sinais.
O trator deslocou-se nas condições M1 e M2, em uma pista não pavimentada com
aproximadamente 25 metros e cerca de 2 % de declividade. Enquanto, nas demais condições, o
trator permaneceu estático.
3. METODOLOGIA

Após o procedimento, os dados experimentais foram transferidos para o software BLAZE,


sendo então analisados e manipulados para as devidas considerações estatísticas, utilizando o
software Excel.
Primeiramente, os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) a qual consiste em
uma técnica estatística que permite a avaliação e afirmações sobre as médias amostrais, bem como a
verificação se existe diferença significativa entre estas, e se os fatores exercem influência em
alguma variável dependente (Vieira, 2006).
Em seguida, com o intuito de descrever os dados obtidos no experimento, visualizar sua
variabilidade e simetria, e poder comparar as condições experimentadas, fez-se o gráfico boxplot.
Posteriormente, fizeram-se as análises dos dados técnicos, onde utilizou-se como referência a
norma Europeia ISO 2631-97 e NHO 09. Neste momento, foram utilizadas as medições da vibração
em cada eixo separadamente e um vetor soma foi considerado no desenvolvimento dos cálculos.
Para calcular o tempo máximo de exposição do operador, em relação à vibração sofrida pelo
corpo durante o trabalho, utilizou Equação (1):

(1)

Sendo: A(8) aceleração normalizada para uma jornada de trabalho de 8 horas; Aeq aceleração
equivalente; T o tempo aceitável de exposição; e T0 o tempo correspondente à duração de 8 horas
em segundos (s).
Por meio da NHO 09, pode-se obter o Aeq, o relacionando com o valor da dose de vibração
(VDV), fornecido pelo acelerômetro no momento da aquisição dos dados, conforme mostra a
Tabela 2.
Tabela 2 - Critério de julgamento e tomada de decisão.
Aeq (m/s2) VDV (m/s1,75) Consideração Técnica Atuação Recomendada
No mínimo manutenção da
0 a 0,5 0 a 9,1 Aceitável
condição existente.
No mínimo adoção de medidas
> 0,5 a < 0,9 > 9,1 a < 16,4 Acima do nível de ação
preventivas.
Adoção de medidas preventivas
0,9 a 1,1 16,4 a 21 Região de incerteza e corretivas visando à redução
da exposição diária.
Adoção imediata de medidas
Acima de 1,1 Acima de 21 Acima do limite de exposição
corretivas.
Fonte: NHO 09 (2013).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da aquisição dos dados colhidos em campo, fez-se o gráfico das acelerações em relação
ao tempo, para cada condição experimental, conforme apresentado na Figura 2.

1,2
1
Aceleração ( m/s²)

0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (s)
E1 E2 M1 M2

Figura 2 - Comportamento da vibração em relação às condições estipuladas, para o trator estático e


em movimento.

Ao observar a Figura 2, nota-se que na operação da máquina em condição estática, ambos


apresentam gráficos uniformes, que se destoa por um pico, sendo na baixa rotação (E1) no início do
experimento, enquanto em alta rotação (E2) tem-se o pico entre 35 a 40 segundos.
O pico apresentado nos ensaios (E1) e (E2) se devem à interferência dos dados, como por
exemplo, "esbarrões" ou qualquer outro tipo de movimento no trator durante seu ensaio. Nota-se
também, ao comparar a condição estática, que a aceleração do (E2) é menor que (E1). Isto ocorreu,
pois a vibração diminui, conforme ocorre o aumento da frequência do pistão do motor
(MÀRQUEZ, 1990, apud FRANCHINI, 2007).
Ao visualizar o comportamento nas condições de movimento, os gráficos apresentaram maiores
sinuosidade, principalmente o ensaio de alta rotação (M2), resultado consequentemente da
movimentação do trator no solo, em que o solo heterogêneo, faz com que ocorra grande número de
picos, e consequentemente maior vibração transmitida ao operador.
Segundo ALBERT MILJO INSTITUTED et al. (1990), apud SANTOS (2002), a intensidade da
vibração nos tratores nos tratores agrícolas depende da estrutura do solo, do projeto do trator, da
velocidade, da técnica de dirigir, entre outros. Já MÀRQUEZ, 1990, apud FRANCHINI, 2007,
afirma que, a tendência é que a vibração diminua conforme o aumento da rotação do motor, porém,
no caso em movimento, têm-se duas variáveis que causam vibração, sendo uma derivada do sistema
de transmissão e a outra ocasionada pelo sistema rodado, entre pneu e solo. Logo, a diminuição da
vibração devido à alta rotação é compensada com a vibração proveniente do sistema de rodado,
comprovando o resultado encontrado no gráfico para (M2), onde o operador é quem absorve a
vibração resultante.
Além disso, (M2) em relação à (M1) apresenta maior variação da aceleração ao longo tempo.
Isso ocorre, pois o aumento da rotação associado à pista irregular acarreta no aumento da vibração.
E também, ocorre o chamado "efeito galope", este fenômeno faz com que o trator fique saltitando,
sem equilíbrio dinâmico, normalmente este efeito ocorre devido à implementos acoplados, com
elevada solicitação de cargas na barra de tração do trator (OKUNO, 2015).
Nota-se também, que comparando todas as situações, o (M2) teve maior variação da vibração,
enquanto o (M1), a menor, mostrando que a absorção da vibração proveniente do sistema de
transmissão e do sistema de rodado foi maior do que no caso (M2).
Ainda comparando o comportamento gráfico da Figura 2, é possível observar a diferença de
comportamento quando o trator está estático e quando em movimento. Nas duas primeiras situações
(E1 e E2) tem-se uma única vibração, proveniente do sistema de transmissão. Enquanto que nos
casos (M1) e (M2), parte da vibração vem do sistema de transmissão e parte vai para o sistema
rodado, trazendo um comportamento de aceleração diferente da condição estática. Além do que, o
trator em movimento e com implemento agrícola acoplado, tem-se a absorção da vibração dividida
entre o implemento e o operador (VILLIBOR et al., 2014).
Ao realizar a análise de variância, constatou-se que houve significância dos dados, visto que os
p-value < 0,05 mostrou-se para todas as condições, exceto E2 como pode ser visto na Tabela 3 e na
Figura 3.
Tabela 3 - Valores p-value encontrados para cada condição ensaiada.
CONDIÇÕES E1 E2 M1 M2
Pr(>F) 0,00069 0,21287 3,842 x 10-6 1,659 x 10-7

Figura 3 – Analise estatística da aceleração resultante entre as condições ensaiadas

Os valores apresentados são referentes à média dos ensaios realizados para cada condição, e os
valores considerados na análise foram os dados da soma vetorial da aceleração dos três eixos (x, y,
z) para cada leitura.
Nota-se ao observar a Figura 3 que nas condições E1, M1 e M2, não houve grande dispersão
dos dados, além de os mesmos apresentarem-se dentro dos limites inferior e superior, mostrando-se
dados estatisticamente satisfatórios. Porém, a condição E2, apresentou um valor p-value > 0,05,
apresentando-se dados estatisticamente insignificantes. Esse resultado estatístico encontrado se deve
as interferências obtidas durante a aquisição dos dados.
A partir dos dados obtidos, obtiveram-se os respectivos valores da dose de vibração (VDV) das
condições ensaiadas, como mostrado na Tabela 4.
Tabela 4 - Valores VDV das condições ensaiadas.
TESTE E1 E2 M1 M2
VDV 2,29 1,41 1,37 2,26

Observa-se na Tabela 4 que o maior VDV foi o do E1, com valor de 2,29 m/s1,75. Porém, por
meio deste resultado, sabe-se que o operador não sofrerá riscos, em relação à saúde ocupacional
ocasionado pela variável vibração. Isto porque, tal valor está no padrão estabelecido na NHO 09 de
um VDV de até 9,1 m/s1,75.
Para encontrar o tempo máximo de exposição, utilizou-se a aceleração resultante para uma
jornada de trabalho de 8 horas (A(8)) sendo o valor de 0,5 m/s2, conforme recomenda a NHO 09. E
aplicando a Equação 1 obteve-se os limites de exposição para cada condição, apresentados na
Tabela 5.

Tabela 5 - Tempo máximo de exposição para as condições ensaiadas.


CONDIÇÕES E1 E2 M1 M2

Tempo de Exposição (h) 136 29 68 15

Nota-se ao observar a Tabela 5 que a situação M2 é a de maior risco, onde o limite máximo de
exposição é de 15 horas. Porém, considerando que o operador cumpre uma carga horária de 8 horas
diária, o mesmo não sofrerá nenhum dano ao utilizar o trator em alta rotação. Mas, deve-se atentar à
carga horária, para que o mesmo não faça dois turnos, pois ao dobrar o turno, atinge o limite de
exposição, podendo trazer malefícios a sua saúde ocupacional.

5. CONCLUSÕES

Conclui-se que para a operação do trator analisado, nas variações ergonômicas (vibrações)
ensaiadas, o operador não terá malefícios à sua saúde ocupacional. Porém, deve-se atentar a carga
horária de trabalho, pois quando ultrapassada de 15 horas consecutivas, pode trazer problemas ao
operador. Sugere-se também, como solução preventiva, a utilização de assentos com maior nível de
absorção da vibração, para diminuir a sua transmissibilidade ao operador.
É importante também, a realização de novos testes considerando diferentes implementos
agrícolas acoplados ao trator, pois suas características (peso, função, estrutura, etc.) podem alterar
de maneira expressiva na análise da vibração transmitida ao corpo humano.
6. REFERÊNCIAS

AGRALE. Manual do Proprietário - Tratores 4100 e versões. Caxias do Sul. Disponível em:
http://docslide.com.br/documents/manual-trator-agrale-4100.html. Acesso em: 08/11/2016.

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IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. 2ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 2005.

FRANCHINI, D. Análise do Nível de Vibrações Verticais no Assento de um Trator Agrícola. Santa


Maria: UFSM, Departamento de Engenharia Rural, 2007.

NORMA DE HIGIENE OCUPACIONAL. NHO 09: Avaliação da Exposição Ocupacional a


Vibração de Corpo Inteiro. São Paulo, 2013.

NIETIEDT, G. H.; RIBAS, R. L.; SCHLOSSER, J. F.; et al. Distribuição dos comandos de
operação em tratores agrícolas nacionais com até 55 kW de potência. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande, v.16, n.6, mar.

OKUNO, M., Evitando o galope (Power Hop) em tratores. Disponível em:


http://inteliagro.com.br/como-evitar-o-galope-em-tratores/. Acesso em: 08/11/2016.

PINHO, M. da S. et al. Efetividade de um coxim de cabina do trator agrícola na atenuação das


vibrações. Revista Ciência Agronômica, SciELO Brasil, v. 45, n. 3, p. 461–468, 2014.

ROSSI, M. A.; SANTOS, J. E. G.; SILVA, A. L.Conformidade ergonômica dos controles no posto
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Londrina, v. 2, n.1, jun. 2011.

SANTOS FILHO, P. F. Avaliação dos níveis e vibração vertical no assento de um trator agrícola de
pneus utilizando um sistema de aquisição automática de dados. Viçosa: Universidade Federal de
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SCHLOSSER, J. F. Tratores Agrícolas. Santa Maria: UFSM, Departamento de Engenharia Rural,


2001.

VIEIRA, S. Análise de Variância - ANOVA. Atlas. São Paulo, 2006.

VILLIBOR, G. P.; SANTOS, F. L.; QUEIROZ, D. M.; et al. Vibration levels on rear and front
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