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Realização

PROJETO FUNDO GLOBAL TUBERCULOSE BRASIL


Organização
MARIA ESTHER DALTRO MD OMS MPH
Universidade Federal da Bahia
Autores
DANIELA PRADO TAVARES (arquiteta)
Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal Fluminense
MARCELO LUIZ CARVALHO GONÇALVES (médico)
Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas – FIOCRUZ
PAULA RODRIGUES BRAGA (arquiteta)
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PROARQ|FAU|UFRJ – Linha de Pesquisa: Ambientes de Saúde)
Capa e Projeto Gráfico
Daniela Freire e Otoniel Santos Junior

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

T229r
Tavares, Daniela Prado
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de ambientes de tratamento da
tuberculose / Daniela Prado Tavares, Marcelo L. Carvalho Gonçalves, Paula Rodrigues Braga. - Rio
de Janeiro : CORBA EDITORA ARTES GRÁFICAS, 2012.
112p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-98460-10-9
1. Arquitetura de hospitais - Medidas de segurança. 2. Biossegurança. 3. Arquitetura - Aspectos
ambientais 4. Turbeculose - Medidas de segurança. I. Gonçalves, Marcelo L. Carvalho. II. Braga,
Paula Rodrigues. III. Título.
12-2223. CDD: 725.51
CDU: 725.1:614.21
09.04.12 11.04.12 034492
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Prefácio

O Encontro Nacional sobre Tuberculose em Hospitais realizado em São Paulo, em agosto


2007, resultou de uma parceria entre o Projeto Fundo Global e a Rede Brasileira de
Pesquisas em Tuberculose (REDE-TB). O Encontro teve como público alvo profissionais das
Coordenações do Programa de Controle de TB (PCT) e do Programa DST/AIDS nas três esferas
de governo, dos Núcleos de Vigilância Epidemiológica Hospitalar estadual e municipal, da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), da Coordenação Geral de Laboratórios
de Saúde Pública (CGLAB) e de representantes da Sociedade Civil, incluindo as Sociedades
Brasileiras de Pneumologia e Tisiologia, de Medicina Tropical e de Infectologia. O objetivo da
oficina foi promover uma discussão ampla sobre o diagnóstico situacional dos hospitais que
atendiam pacientes com Tuberculose e a elaboração de um plano operativo para o controle
da TB em hospitais. Na avaliação dos participantes a grande disparidade entre as realida-
des dos serviços de saúde no país impossibilitava a elaboração de um plano que contem-
plasse todos os estados envolvidos.
Os representantes do Comitê Metropolitano dos Estados do Norte e Nordeste solicitaram
ao Projeto Fundo Global a realização de oficinas em seus estados com o objetivo de aprimorar
o diagnóstico situacional e promover maior integração entre os serviços de atenção primária,
terciária e laboratórios. O Fundo Global representado por Dra. Esther Daltro e pela REDE-TB
representada por Dra. Monica Kramer conduziram treze Encontros Estaduais. Nestas oficinas
ficou evidenciada a grande fragilidade dos serviços de saúde em relação à biossegurança1. A
ausência de medidas administrativas e, sobretudo, medidas de controle ambiental para ga-
rantir a biossegurança foi encontrada na grande maioria das instituições visitadas. Eram fre-
quentes salas de recepção com ar-condicionado e o uso de película de controle solar e visual
nos vidros gerando riscos de transmissão da tuberculose devido à má ventilação e ausência de
luz solar direta, falta de quartos de isolamento adequados para abrigar os pacientes infec-
tantes, e reformas precárias, muitas vezes em imóveis alugados que não foram construídos
para fins de atendimento em saúde, portanto não planejados com cuidados sanitários obriga-
tórios para unidades de saúde.
Na agenda desses Encontros constava uma aula (palestra) sobre biossegurança em am-
bientes de tratamento da tuberculose e uma visita a um serviço de saúde eleito pelo PCT local
para receber uma obra para a melhoria das condições de biossegurança. Participaram dos en-
contros as arquitetas Daniela Tavares e Paula Braga e o médico Marcelo Gonçalves, um estu-
dioso desta área. A sistematização desta experiência resultou no conhecimento sobre o tema
que divulgamos na presente publicação.

Esther Daltro
Projeto Fundo Global

1. Procedimentos que visam à proteção da saúde do homem e do ambiente.


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Sumário

1. Apresentação ....................................................................................................7
2. Introdução ........................................................................................................9
3. Aspectos históricos ........................................................................................... 13
3.1. A saúde e a arquitetura .............................................................................13
3.2. Os Sanatórios ..........................................................................................16
4. Aspectos da saúde ............................................................................................ 19
4.1. A Tuberculose ..........................................................................................19
4.2. A Biossegurança ......................................................................................24
5. Aspectos ambientais ......................................................................................... 27
5.1. O Projeto de Arquitetura e a Biossegurança ....................................................27
5.2. Diretrizes projetuais .................................................................................32
5.2.1. Orientação ...................................................................................34
5.2.2. Setorização ..................................................................................38
5.2.3. Fluxos .........................................................................................40
5.2.4. Iluminação ...................................................................................44
5.2.5. Ventilação ...................................................................................47
6. Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose................... 53
6.1. Área/ Sala de espera .................................................................................55
6.2. Consultório (atendimento ambulatorial) .......................................................56
6.3. Área para coleta de escarro ........................................................................57
6.4. Sala de broncoscopia (endoscopia respiratória) ..............................................59
6.5. Sala de escarro induzido ............................................................................61
6.6. Enfermaria .............................................................................................62
6.7. Quarto de isolamento ................................................................................64
6.8. Laboratório local de baciloscopia ................................................................67
6.9. Outros ambientes .....................................................................................72
6.10. Checklist ...............................................................................................74
7. Equipamentos coadjuvantes................................................................................ 77
8. Situações comuns em estabelecimentos assistenciais de saúde .................................. 89
9. Aspectos Normativos ......................................................................................... 99
10. Bibliografia ..................................................................................................103
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Apresentação

E ste trabalho destina-se a arquitetos e engenheiros que atuam na área da saúde e busca or-
ganizar informações para orientar os projetos de arquitetura de ambientes de saúde, onde
se realizam atendimentos a pacientes com tuberculose. Em tais ambientes, além do cuidado
com as questões da arquitetura, é necessário atender as exigências de biossegurança, devido
ao risco de transmissão dos microorganismos causadores da tuberculose.
Observando-se os locais de atendimento a pacientes com tuberculose nas unidades da
rede pública do país, é comum perceber inadequações, tanto na arquitetura quanto na utilização
dos espaços, o que pode contribuir para o aumento do número de casos da doença no país.
O projeto dos ambientes para atendimento de tais pacientes dentro de uma unidade de
saúde exige determinado conhecimento técnico, que incluam aspectos de biossegurança e
meios de transmissão da doença. Deste modo, pode-se minimizar o risco de sua transmissão
para outros pacientes e para os profissionais de saúde.
A participação dos autores junto ao Projeto Fundo Global Tuberculose Brasil, nas “Oficinas
de Hospitais”, em várias cidades do país, possibilitou a compreensão do quanto os profissionais
de arquitetura e engenharia podem auxiliar no combate à tuberculose. Entretanto, também evi-
denciou as dificuldades enfrentadas pela prática profissional não especializada.
O reduzido número de cursos de especialização em arquitetura hospitalar no Brasil,
assim como o reduzido acervo bibliográfico sobre o tema contribuem para a carência de

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Recomendações para Projetos de Arquitetura de Ambientes de Tratamento da Tuberculose

informação na área. Tal cenário motivou a elaboração desta publicação, em apoio ao desen-
volvimento de projetos mais adequados.
O objetivo principal desta publicação é disponibilizar informações sobre a tuberculose e
seus ambientes de tratamento, diagnóstico e apoio, examinando sua relação com os demais
espaços dos estabelecimentos de saúde e os cuidados de biossegurança necessários, com-
preendendo a implantação, a organização interna, os fluxos, a ventilação e a iluminação dos
ambientes.
Entende-se ainda que a elaboração deste documento possa contribuir para a aproximação
entre os profissionais de arquitetura e os de saúde, promovendo também a ampliação do diálogo
entre pacientes e equipe. A melhoria das condições ambientais dos usuários, assim como a valo-
rização da atuação do arquiteto capacitado são propósitos relevantes para os autores.
Pode-se dividir este trabalho em quatro partes distintas: A primeira parte, voltada para
os conhecimentos gerais acerca da tuberculose (itens 2, 3 e 4); a segunda parte, que aborda
as diretrizes de arquitetura e biossegurança para a elaboração dos projetos (itens 5 e 6); a
terceira parte, relacionada às recomendações práticas do projeto, uso dos ambientes e apli-
cação dos equipamentos (itens 7 e 8); e a quarta parte, que busca aproximar o conhecimento
abordado à rotina profissional, incorporando exemplos práticos onde são analisadas situa-
ções comumente encontradas. Como complementação ao conteúdo proposto, comenta-se
sobre os aspectos normativos gerais do tema.
Este guia não se designa a ser fonte de soluções a serem reproduzidas automaticamente.
O arquiteto trabalha, invariavelmente, com especificidades locais e demandas pontuais que
o impedem de realizar uma abordagem tão simplista. Espera-se, entretanto, que esta pu-
blicação seja uma referência capaz de auxiliar nas tomadas de decisões e na divulgação de
informações que excedem o conhecimento da maioria dos arquitetos e engenheiros, e que, em
função da complexidade do tema, se tornam fundamentais para o exercício profissional.

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·2·
Introdução

S egundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), a infecção pelo agente causador da
tuberculose atualmente atinge um terço da população mundial e o Brasil é o 15° entre os 22
países que concentram 80% dos casos da doença. São notificados aproximadamente, 85.000
casos por ano. A tuberculose é responsável por 5.000 mortes por ano no país e é a primeira causa
de morte entre as pessoas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Atinge, principal-
mente, a população com menor nível de renda e escolaridade, mas não se restringe a este grupo.
Trabalhadores da área da saúde e indivíduos com imunodeficiência também são frequentemente
acometidos. Este quadro epidemiológico demonstra a magnitude da doença e a importância em
se atuar intersetorialmente nas medidas preventivas que possibilitem o seu controle.
O tratamento da tuberculose é oferecido gratuitamente no Brasil desde 1958. A partir
de 1999, o país adota, por meio do SUS2 (Sistema Único de Saúde), a estratégia Tratamento
Supervisionado/Tratamento Diretamente Observado (TS/TDO), onde o paciente recebe o medica-
mento diretamente nas unidades públicas de saúde. O combate à tuberculose se realiza em todos
os serviços de saúde do SUS, desde o atendimento ambulatorial até os níveis de maior complexi-
dade. Muitas das ações de controle são desenvolvidas pelos agentes comunitários de saúde, com
atendimento no domicílio do paciente e pelo Programa de Saúde da Família.

2. Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema público de saúde vigente no país.

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Recomendações para Projetos de Arquitetura de Ambientes de Tratamento da Tuberculose

Esta publicação não se propõe a abordar questões relacionadas à biossegurança dos


indivíduos fora das unidades de saúde, como, por exemplo, as condições de moradia even-
tualmente envolvidas na transmissão da tuberculose. Não se pode, porém, deixar de citar
referências para que arquitetos e engenheiros possam, adicionalmente, conhecer o trabalho
que vem sendo desenvolvido por alguns grupos e instituições, cuja proposta é “trazer para
o campo da saúde pública, de forma sistematizada, a questão da habitação saudável como
componente intrínseco à proposta da promoção da saúde” (COHEN, 2004).
A Rede Brasileira de Habitação Saudável (RBHS), seção brasileira, é uma ferramenta
para fomentar a política de promoção de saúde no âmbito da habitação e seu entorno. Sua
estratégia se baseia no enfoque intersetorial, multidisciplinar, na participação comunitária e
na aliança em rede.
Para reforçar e investir na melhoria das ações de combate à tuberculose, o Brasil conseguiu
apoio internacional através do Fundo Global. O Fundo Global é uma parceria público-privada que
capta e concentra recursos, mundialmente, para investimento na prevenção e combate da aids,
tuberculose e malária. A atuação do Fundo Global se dá principalmente em países onde são ne-
cessários investimentos adicionais através do financiamento internacional da saúde.
Desde 2007, o Projeto Fundo Global Tuberculose — Brasil vem atuando em 57 municípios
de 10 regiões metropolitanas brasileiras, que concentram a maioria dos casos de tuberculose.
As regiões metropolitanas compreendem Manaus (AM), Belém (PA), São Luís (MA), Fortaleza
(CE), Recife (PE), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e
Porto Alegre (RS).
O trabalho desenvolvido no Projeto é alinhado com o Programa Nacional de Controle da
Tuberculose (PNCT) do Ministério da Saúde. O objetivo é atingir as metas definidas pelo PNCT
no menor tempo possível, contribuindo para a redução da incidência, prevalência e número de
mortes, além do aumento do número de pacientes que terminam o tratamento, através de es-
tímulos às iniciativas e ações que cooperem para a melhoria da cobertura do TS/TDO.

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Introdução

No período de ação do Projeto Brasileiro para Tuberculose, de 2007 a 2012, já foram


realizadas e estão previstas atividades que focam a disseminação do conhecimento a res-
peito da doença (para profissionais de saúde e população), a identificação dos problemas
mais comuns, as ações que possam minimizá-los e o estímulo à ação da sociedade civil
na luta para o controle da doença. Percorrer os estabelecimentos de saúde das regiões
abrangidas pelo Fundo Global e observar a realidade cotidiana do atendimento revelou a
importância e a necessidade de envolvimento de profissionais da área de arquitetura e en-
genharia no combate à doença, pois eles são os autores dos espaços onde se realizam os
serviços de atenção à saúde.
A demanda por serviços de saúde é ampla, principalmente nas camadas mais caren-
tes, para as quais os investimentos do Fundo Global são direcionados. Porém, nem sempre
as instalações de saúde da rede pública são adequadas em relação aos ambientes e poucas
possuem as condições de biossegurança necessárias a locais com grande concentração de
agentes infecciosos.
A especialidade da arquitetura de ambientes de saúde e os aspectos de biossegurança
que envolvem esses espaços nem sempre são de conhecimento dos arquitetos e engenheiros
envolvidos nos projetos da rede pública de saúde. É essencial possuir o conhecimento básico
sobre a doença, como causas e meios de transmissão, tipo de atendimento, rotina dos proce-
dimentos etc. para que o arquiteto seja capaz de projetar espaços adequados.
É relativamente comum encontrar nas unidades públicas ambientes que podem agravar
as condições de saúde de seus usuários, tais como: fluxos cruzados de pacientes de diferentes
patologias, salas de espera enclausuradas e compartilhadas por usuários com diferentes pa-
tologias, iluminação e ventilação inadequadas, entre outros. É evidente que as soluções ina-
dequadas não são todas causadas pela arquitetura – coadjuvante neste processo – mas são
resultantes de um conjunto maior de fatores que abrange outros componentes, como a adminis-
tração de recursos, as políticas públicas, o comprometimento e treinamento dos profissionais.

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Recomendações para Projetos de Arquitetura de Ambientes de Tratamento da Tuberculose

No Brasil, conforme comentado anteriormente, a arquitetura de ambientes de saúde


é uma especialidade com reduzida bibliografia e poucos cursos de formação. O tema não é
encontrado em muitos cursos de graduação e os profissionais que trabalham na área muitas
vezes se qualificam apenas por meio da prática. Neste processo empírico de aprendizado,
cometem-se erros que podem comprometer não só o conforto, mas a saúde da equipe, dos
pacientes, dos familiares e visitantes.
O foco deste trabalho são os ambientes onde são tratados os pacientes com tubercu-
lose. No entanto, o conteúdo que ele apresenta poderá contribuir para as demais áreas da
arquitetura de saúde, especialmente as relacionadas a outras doenças transmitidas por via
aérea e, espera-se, possa ainda estimular a publicação de outros trabalhos no Brasil.

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Aspectos históricos

3.1. A saúde e a arquitetura

Os indícios mais remotos da relação entre saúde e arquitetura parecem estar na Antiguidade.
Os templos da Grécia e as termas de Roma ofereciam conforto físico e espiritual através
de rituais e práticas que pouco tinham a ver com o conhecimento médico atual.
Os espaços de saúde da Antiguidade – os templos e as termas – se caracterizavam por
edificações com pórticos, pátios internos e a presença da água, por meio de fontes ou pisci-
nas que, acreditava-se, auxiliavam na purificação dos homens. Na obra “Ar, Água e Lugares”,
Hipócrates (460-377 a.C.) descreveu as relações entre a ventilação, a iluminação e a quali-
dade da água na saúde dos habitantes dos povoados.
Durante a Idade Média, a assistência à saúde foi bastante precária, praticamente
limitando-se ao abrigo dos doentes loucos e dos pobres. Caracterizava-se mais como uma
tentativa de resolver problemas sociais do que de saúde. O hospital desse período represen-
tava um local para os excluídos, muitas vezes de propagação de doenças ou até mesmo um
local de morte, já que poucos sobreviviam à experiência hospitalar (FOUCAULT, 1979).
As edificações de arquitetura gótica que abrigavam as atividades hospitalares possuíam
janelas pequenas e paredes espessas de cor escura, que favoreciam reduzida ventilação e ilu-
minação. Além disso, a separação dos pacientes era feita somente por sexo (COSTI, 2002).

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Na Idade Moderna, o Renascimento posiciona o homem no centro do universo e a razão e


a ciência acima da fé, auxiliando o início das descobertas que modificaram definitivamente a
abordagem das patologias e de seus ambientes de tratamento.
O conceito de hospital como local de cura é relativamente recente. Surge apenas na
Idade Contemporânea, a partir do final do século XVIII, assessorado pelo desenvolvimento da
ciência e da medicina (FOUCAULT, 1979). O “novo” hospital encontra na tipologia palaciana
maior adequação às suas necessidades e passa a separar os pacientes também por patologia,
além de por sexo.
No século XIX, a enfermeira italiana Florence Nightingale surge como importante
personagem na reflexão sobre o novo ambiente hospitalar. Em 1863, no livro Notes on
Hospitals, a enfermeira destacou as características que acreditava serem os principais
pontos negativos dos hospitais: a ausência de ventilação e iluminação natural adequada
(NIGHTINGALE, 1863).
Florence preconizava a abertura de janelas nos dois lados das edificações, de modo a
obter-se sol, luz natural e ventilação cruzada, proporcionando assim condições propícias ao
tratamento dos pacientes. Em sua visão, estes elementos eram mais relevantes até do que
o conforto térmico. A luz natural era importante, pois além de trazer a noção de tempo ao
paciente, trazia a sensação de liberdade e integração com a natureza. O calor do sol, nem
sempre era desejado, mas reduzia a umidade dos ambientes, controlando a proliferação de
microrganismos. A arquitetura pavilhonar – cujo primeiro exemplar foi o Hospital Lariboisière,
em Paris – encontrou em Nightingale uma partidária fiel. As descobertas de Pasteur relaciona-
das aos processos infecciosos das doenças também contribuíram na melhoria da qualidade do
ambiente hospitalar, que passou a ser mais ventilado e higienizado.
Em 1893, o médico alemão Karl Turban publicou as Normas de Estabelecimentos de
Estações Terapêuticas para Doentes Pulmonares, onde considerava a insolação, a ventilação e
a higiene fundamentais para o tratamento das doenças pulmonares (COSTI, 2002).

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Aspectos históricos

A evolução da tecnologia e a valorização do solo urbano, no século XX, contribuem para


o estabelecimento do monobloco vertical como a linguagem desejada para as edificações
hospitalares. A arquitetura moderna é o estilo característico dos hospitais desse período, que
buscavam a padronização e o menor custo.
Esse período traduz o modelo centrado na tecnologia médica, com ambientes funcionais
que permitiam a crescente inclusão de novos equipamentos, mas que não traduziam o conforto
e amparo desejado pelos pacientes. O agrupamento das atividades em setores, no interior dos
blocos de grandes dimensões, contribuía para a criação de áreas sem janelas no centro dos pa-
vimentos – situação “contornada” pelos sistemas de ventilação e de climatização mecânica e
pelos mecanismos de iluminação artificial (VERDERBER; FINE, 2000). Estabeleciam-se as “má-
quinas de curar”, cujo foco da abordagem era a doença e não o paciente.
No século XXI, a insatisfação dos usuários, o alto custo da tecnologia médica e o avanço
das pesquisas científicas colaboraram na instituição de um novo modelo de assistência mé-
dica – centrado na promoção da saúde – capaz de prevenir doenças e oferecer atendimento
humanizado, focado no paciente e em sua qualidade de vida (SANTOS; BURSZTYN, 2004).
Diversificam-se as tipologias arquitetônicas hospitalares. Entretanto, considera-se a
edificação horizontal mais adequada à escala humana e mais flexível para a utilização de
ventilação e iluminação naturais e acesso aos jardins, componentes considerados relevantes
para o conforto humano, especialmente nos ambientes de atenção à saúde.
Frente às mudanças no modelo de assistência médica e seu impacto na arquitetura,
é fundamental que o ambiente hospitalar se manifeste envolvido com as necessidades psi-
cológicas dos indivíduos e compreenda que a cura é promovida através de um processo te-
rapêutico que engloba não somente os componentes técnicos, mas também os de conforto,
bem-estar, arte, natureza e estética (CARPMAN; GRANT, 1993). O arquiteto deve buscar pro-
jetar ambientes que ofereçam suporte psicossocial aos seus usuários, além de responder as
questões funcionais e normativas.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

3.2. Os Sanatórios

A tuberculose, considerada uma das doenças mais antigas do mundo, foi caracterizada
pela dificuldade no tratamento e pelo grande número de vítimas fatais ao longo da história.
Os primeiros casos de que se tem conhecimento datam de milhares de anos, mas, apenas no
final do século XIX são realizadas as primeiras relações entre a propagação da doença e o am-
biente físico.
Ao final do século XVIII, o tratamento da tuberculose consistia, basicamente, no isola-
mento dos pacientes em localidades com clima considerado adequado, com dieta e repouso
controlados. Nesse período, ocorreu o deslocamento de um número significativo de doentes
para o campo, em busca da cura. Tal peregrinação contribuiu para a sua rejeição, com códigos
sanitários delimitadores de sua liberdade.
A Suíça foi um dos locais de grande atração de doentes para suas hospedarias. A busca
por estabelecimentos higiênicos em clima conveniente para a climatoterapia caracterizava o
turismo curativo. A medicina praticada nesse contexto era de alto custo. Pode-se considerar
esses hotéis como protótipos dos sanatórios para as pessoas com tuberculose (BITTENCOURT,
2000).
Em 1791 é fundado, por Lettsom, o primeiro hospital especializado em tuberculose pul-
monar, o Royal Sea Bathing Hospital, na cidade de Margate, na Inglaterra. Na Alemanha, em
1854, Brehmer inaugura o primeiro sanatório para tratamento da tuberculose, em Görbersdorf,
Silesia.
Preferencialmente localizado em pontos altos, como montanhas, os sanatórios foram
instituídos baseados no conceito de que o ar rarefeito das altas altitudes inibiria a multipli-
cação do bacilo, diminuindo a velocidade da progressão da doença. A exposição à luz solar
também contribuiria para o seu controle, devido à característica bactericida dos raios sola-
res. O tratamento nos sanatórios era longo e, muitas vezes, seus resultados eram incertos.

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Aspectos históricos

Nos sanatórios os pacientes seguiam uma rigorosa rotina de alimentação, higiene e re-
pouso, apoiada nos preceitos da climatoterapia. Entretanto, era possível a troca de bacilos
entre os doentes, ocasionando a ocorrência de infecções cruzadas, com aumento dos casos de
resistência aos antimicrobianos.
Conforme o conhecimento médico sobre a doença se consolidava, as tipologias e os pro-
gramas sanatoriais modificavam-se, na tentativa de adequação das soluções de arquitetura
às características da doença. Os sanatórios iam ao encontro das premissas de higiene, ausên-
cia de ornamentos, racionalidade e funcionalidade, tão característicos da arquitetura hospi-
talar quanto da arquitetura moderna, que veio a ser sua principal expressão. Um exemplo de
partido arquitetônico encontrado em alguns documentos brasileiros é o do bloco central com
alas laterais, que formam ângulos obtusos. No princípio, o formato de planta em “V” tornou-
se modelo em toda a Europa e América. O objetivo era evitar o efeito de fortes ventos, assim
como no formato em “Y”. Ambos demonstraram pouca eficiência ao facilitar a formação de
redemoinhos junto à fachada. Posteriormente, as formas em “I”, “U” e “T” dominaram as
construções, com maior sucesso (BITTENCOURT, 2000).
Na Europa, foi dada ênfase à ventilação e à insolação das enfermarias e varandas,
denominadas galerias de cura. A galeria de cura constituía um elemento muito importante
nos sanatórios, por ser o local onde os doentes se expunham ao sol e ao ar puro, sob a obser-
vação dos médicos. O programa do sanatório também incluía áreas verdes, usualmente um
bosque em torno da edificação, horta e a criação de animais, utilizados na alimentação dos
pacientes.
Nas edificações de atendimento à tuberculose óssea, nas quais se fazia uso da heliotera-
pia, percebe-se o cuidado maior com a exposição solar em detrimento da atuação dos ventos.
Usualmente, o programa de necessidades dos sanatórios distribuía-se em pavilhões im-
plantados de modo a usufruir melhor da insolação e da ventilação natural, ligados entre si por
passarelas cobertas.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Conforme já mencionado, acreditava-se que características climáticas favoreciam o


tratamento da tuberculose e, por este motivo, no Brasil, cidades como Campos de Jordão e
São José dos Campos, em São Paulo, atraíram grande número de tísicos3 no início do século XX.
Posteriormente, os resultados positivos no tratamento da doença sem a aplicação da cli-
matoterapia promoveram a construção de sanatórios públicos e particulares em diversas cida-
des, inclusive com o desenvolvimento de projetos-padrão pelo Governo Federal para a replicação
em cidades com alta prevalência da doença. Tais edificações eram predominantemente horizon-
tais, do tipo pavilhonar ou monobloco e localizavam-se afastadas dos centros urbanos.
As construções realizadas pelo governo não se limitaram aos sanatórios. Dispensários
também foram projetados, com o objetivo de atender a demanda por assistência de diferentes
grupos populacionais.
Vale destacar a importância do Sanatório de Curicica, localizado em Jacarepaguá,
no Rio de Janeiro, projeto de Sérgio Bernardes, na época chefe do Setor de Arquitetura da
Campanha Nacional Contra a Tuberculose, da década de 50. O complexo modernista pavilho-
nar possuía 1.500 leitos em uma área de 25.000 m² e é considerado um marco da arquitetura
sanatorial no Brasil (COSTA et al).

3. Pessoas acometidas pela tuberculose pulmonar.

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Aspectos da saúde

4.1. A Tuberculose

A tuberculose é uma doença infecciosa causada por um microorganismo denominado


Bacilo de Koch, em homenagem ao cientista que o descobriu: Robert Koch, em 1882.
Esta doença pode acometer vários órgãos, tais como os gânglios linfáticos, os rins, os os-
sos e as meninges, mas os órgãos mais comumente atingidos são os pulmões. O principal
sintoma é a tosse por tempo prolongado, geralmente superior a três semanas, que pode vir
acompanhada de outros sinais e sintomas, como febre baixa vespertina, falta de apetite,
perda de peso, sudorese noturna, cansaço, dor no peito e escarro com sangue (BRASIL,
2010).
Apesar de atualmente se ter o conhecimento para a cura da tuberculose, ainda morrem
três milhões de pessoas no mundo por causa da doença. Para que se obtenha a cura, é ne-
cessário que a pessoa acometida cumpra o tratamento de maneira disciplinada pelo período
previsto. As dificuldades em se diagnosticar e tratar os doentes, somada às más condições
de vida, habitação e alimentação, torna o problema grave em regiões mais pobres, como na
África, América Latina e parte da Ásia.
Há vários tipos de microrganismos que são transmitidos de pessoa a pessoa por via aé-
rea, inclusive em unidades de saúde, como é o caso da tuberculose. Falar, tossir e espirrar são

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

atividades que geram um número grande de partículas, macro e microscópicas. De acordo com
o tamanho destas partículas e com o tipo de microrganismo envolvido, a categoria de infec-
ção por via de infecção pode ser dividida em dois tipos (TANG et al, 2006):
Transmissão por aerossol: envolve partículas líquidas muito pequenas, geralmente me-
nores que 5 micrômetros de diâmetro, que podem ficar em suspensão por tempo prolongado e
atingir grandes distâncias, de acordo com o fluxo de ar no local. São exemplos os casos de sa-
rampo, varicela e tuberculose. Neste último caso, as partículas são também conhecidas como
partículas nucleadas.
Transmissão por gotículas: envolve gotículas maiores de secreções de vias aéreas, que
devido ao seu tamanho, se depositam mais rapidamente. Não tem grande dispersão, não indo
geralmente além de um metro do paciente-fonte. São exemplos os casos de difteria, menin-
gite meningocócica e coqueluche.
As partículas nucleadas, oriundas de um paciente com tuberculose de vias aéreas, po-
derão ser posteriormente inaladas por outros indivíduos, chegando aos pulmões onde se ins-
talam e se multiplicam. Gotículas maiores, que se depositam no chão ou sobre objetos, não
oferecem o mesmo risco, pois não estão em suspensão no ar, portanto não são aspiradas. Não
há transmissão indireta, ou seja, por contato com objetos.
O principal transmissor da doença é a pessoa com tuberculose no pulmão ou nas vias
aéreas, capaz de expelir grande quantidade de bacilos na tosse, fala e espirro. Assim, ela re-
presenta um risco às pessoas que conviverão num mesmo ambiente, seja na residência ou na
unidade de saúde.
Embora a tosse, o espirro e a fala dos indivíduos com tuberculose de vias aéreas sejam
as principais causas de dispersão das partículas infectantes no ambiente, principalmente as
provenientes de pacientes com baciloscopia de escarro positiva, há vários casos de transmis-
são da tuberculose descritos na literatura médica causados pela inalação das partículas por
meios distintos (CDC, 2005; D’AGATA et al, 2001; HUTTON et al, 1995).

· 20 ·
Aspectos da saúde

A manipulação de curativos com secreções respiratórias, tais como o líquido pleural


purulento de indivíduos com doença nesta localização anatômica, e ainda a manipulação de
algumas secreções e vísceras durante necrópsias e embalsamamento de corpos de pacientes
com tuberculose têm sido apontadas na transmissão da doença, uma vez que podem gerar ae-
rossóis (LAUZARDO et al., 2001). Tais procedimentos devem ser realizados em ambientes com
ventilação e fluxo de ar adequados, por profissionais devidamente equipados com os disposi-
tivos de proteção individual.
Destaca-se que a dispersão das partículas infectantes pode atingir distâncias relativa-
mente extensas dentro da instituição, dependendo do fluxo de ar. Por este motivo, a infecção
de um paciente ou de um profissional de saúde pode ocorrer sem que haja contato direto des-
tes com o paciente-fonte.
No entanto, nem todos os indivíduos infectados vão desenvolver a doença. Na maior
parte dos casos, o sistema imune controla os bacilos da tuberculose espontaneamente.
Algumas situações clínicas, tais como o diabetes, o alcoolismo e a aids podem facilitar a rea-
tivação desses bacilos, ocasionando então o adoecimento do indivíduo anteriormente infec-
tado (BRASIL, 2010).
Pessoas infectadas nas quais a doença não se manifestou não são transmissoras da tu-
berculose. De modo semelhante, pacientes com tuberculose que não nas vias aéreas e crianças
pequenas não são transmissoras da infecção. Os pacientes com tuberculose de vias aéreas, após
duas semanas de tratamento efetivo, igualmente não são consideradas mais infectantes.
Após a suspeita clínica, o diagnóstico poderá ser confirmado através da realização de
alguns exames complementares, dentre os quais se destacam (BRASIL, 2010):

 Baciloscopia do escarro
Exame direto do escarro do doente ao microscópio, para se verificar a presença de bacilos
de Koch. Caso positivo, este paciente é considerado bacilífero, ou seja, transmissor da infecção.

· 21 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

 Cultura de escarro
Exame utilizado quando o resultado da baciloscopia é negativo (baixa quantidade de
bacilos no escarro – paciente não bacilífero), ou quando se deseja realizar o teste de resistên-
cia às drogas utilizadas no tratamento.

 Radiografia do tórax
Exame realizado através de equipamento de emissão eletromagnética que possibilita a
análise da imagem dos pulmões.

 Teste de tuberculínico
Exame realizado através da injeção intradérmica de um derivado protéico purificado
(PPD) do bacilo de Koch. O resultado positivo sugere que o indivíduo examinado já teve con-
tato com o bacilo, não indicando a presença de doença, e, sim de infecção.

Dentre esses exames, a baciloscopia é especialmente importante no processo de aten-


dimento, diagnóstico e acompanhamento dos pacientes com tuberculose, pois além de ser
um exame simples e de baixo custo, é capaz de detectar os casos bacilíferos de tuberculose
pulmonar, que são os principais transmissores da infecção. A baciloscopia pode ser realizada
através de métodos simplificados que não envolvem a produção de aerossóis podendo ser de-
senvolvidos sobre bancadas lisas e estanques, caso da baciloscopia direta, ou com métodos
mais elaborados que produzem aerossóis, sendo necessário maior nível de biossegurança, por
meio de equipamentos como a cabine de segurança biológica, por exemplo, caso da bacilos-
copia com concentração de amostra clínica (BRASIL, 2008).
Uma vez confirmado o diagnóstico, o tratamento deve ser iniciado. A maioria das situ-
ações clínicas tem a duração de seis meses, não sendo necessária a internação do paciente,

· 22 ·
Aspectos da saúde

a não ser nos casos de maior gravidade, de comorbidades4 ou de intolerância medicamentosa


não controlável em nível ambulatorial. O esquema de primeira linha atualmente preconizado
pelo Ministério da Saúde envolve o uso de quatro drogas por via oral, ingeridas concomitante-
mente em uma única dose diária (BRASIL, 2010).
As pessoas que tiveram contato próximo com o paciente até o início efetivo da terapia
específica são consideradas contactantes e devem ser examinadas devido à possibilidade de
terem se infectado. Esse grupo é formado por pessoas do convívio com o portador bacilífero da
doença, principalmente os residentes no mesmo domicílio. Também os profissionais de saúde
estão sob um risco elevado de infecção pelo bacilo, principalmente aqueles que convivem fre-
quentemente com os pacientes com tuberculose.
O tratamento interrompido precocemente pode ocasionar o surgimento de microrganis-
mos resistentes às drogas comumente utilizadas, conhecidos como bacilos multirresistentes.
Com o objetivo de garantir-se a eficácia do tratamento e a redução dos riscos de criação de
bacilos resistentes aos medicamentos, a Política Nacional de Saúde aplica o método TS/TDO,
já anteriormente mencionado.
No tratamento supervisionado, o profissional de saúde observa a ingestão da medicação
pelo paciente. O indivíduo deve comparecer ao estabelecimento de saúde diariamente, ou no
mínimo, três vezes por semana, nos primeiros meses de tratamento. Existe ainda a possibili-
dade de o profissional de saúde ministrar o tratamento na própria residência do paciente. Os
ambientes que envolvem o atendimento, os procedimentos e o diagnóstico da tuberculose nas
unidades de saúde serão analisados no item 6.

4. Presença de duas ou mais doenças em um mesmo paciente.

· 23 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

4.2. A Biossegurança5

A transmissão da tuberculose dentro de unidades de saúde, principalmente em hos-


pitais que também prestam atendimento a pacientes infectados com o HIV, é bem docu-
mentada na literatura médica. O risco de transmissão nosocomial6 do bacilo da tuberculose
(Mycobacterium tuberculosis) varia em função da prevalência local da tuberculose e da
qualidade das medidas de controle da infecção na instituição (COORDENAÇÃO NACIONAL DE
PNEUMOLOGIA SANITÁRIA, 1997). Pacientes com tuberculose nas vias aéreas são as principais
fontes de transmissão, conforme mencionado. Destaca-se que os pacientes com tuberculose
resistente a múltiplas drogas podem permanecer infectantes por longos períodos, aumen-
tando a probabilidade de ocorrer a infecção (CDC, 2005).
As medidas de controle da transmissão nosocomial da tuberculose preconizadas pelo
Center for Disease Control and Prevention (CDC), Atlanta, EUA (CDC, 2005) e da World Health
Organization, Genebra, Suíça (WHO, 1999 e 2009) são em grande parte simples e de baixo
custo. Dividem-se em três categorias: medidas administrativas, medidas de controle ambien-
tal e medidas de proteção individual. Têm como finalidade diminuir a exposição dos profis-
sionais de saúde e dos usuários da instituição às partículas infectantes da tuberculose, e são
apresentadas a seguir.

 Medidas administrativas:
São hierarquicamente as mais importantes no controle da transmissão da tuberculose,
não só pela sua eficácia comprovada, mas pela facilidade de implantação e o baixo custo.
Baseiam-se na busca ativa de casos potencialmente infectantes e no controle do fluxo do

5. Este capítulo teve como base o artigo “Transmissão nosocomial da tuberculose:diminuindo o risco”,
de um dos autores, publicado no Boletim de Pneumologia Sanitária, 9 (2):21-26, em 2001.
6. Relativo a hospital ou aos hospitais.

· 24 ·
Aspectos da saúde

paciente na instituição. Aglomerações em salas de esperas, frequentemente partilhadas por


muitas especialidades e demora excessiva no atendimento do paciente são terrenos favorá-
veis à transmissão da infecção.
Os pacientes devem aguardar a consulta em locais bem ventilados, sempre que possível
ao ar livre. Os pacientes com tuberculose de vias aéreas ainda infectantes e os casos suspei-
tos devem ter prioridade de atendimento, devendo permanecer na unidade de saúde o menor
tempo possível. Em caso de necessidade, o escarro deve ser coletado ao ar livre e nunca den-
tro da unidade, a menos que a unidade disponha de ambientes devidamente preparados para
a coleta, tais como salas com pressão negativa, comentadas nos itens 5.2.5 e 7.
Em caso de internação, os pacientes com tuberculose pulmonar e os casos suspeitos
devem ficar sempre em quartos individuais. Em hospitais onde não são disponíveis quartos de
isolamento em número suficiente, aceita-se a colocação de mais de um paciente por quarto.
Neste caso, os pacientes devem ter o diagnóstico de tuberculose confirmado, estar sob tra-
tamento e não haver suspeita de estarem envolvidas cepas do microrganismo resistentes. Em
função da alta prevalência da tuberculose no país, todas as unidades que prestam atendi-
mento de emergência deveriam contar com quartos de isolamento.
Sugere-se ainda, a criação de uma comissão de controle da infecção nosocomial da
tuberculose, cujas atribuições compreendem determinar as áreas de risco de transmissão da
tuberculose na unidade, estabelecer normas de isolamento e rotinas de atendimentos, e oti-
mizar o fluxo dos pacientes na instituição.

 Medidas de controle ambiental


Baseiam-se na ventilação da unidade, e, em locais selecionados, pressão negativa.
Quanto maior a ventilação numa unidade de saúde, menor o risco de transmissão da tubercu-
lose. A ventilação do ambiente pode ser avaliada através da medida do número de trocas do
volume de ar do local por hora. O número mínimo recomendado de trocas de ar para quartos

· 25 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

de isolamento é de 6 a 12 trocas por hora. Em ambientes com maior concentração de partícu-


las este valor deve ser maior.
O ar proveniente dos locais de atendimento aos pacientes com tuberculose deve ser dire-
cionado para o exterior da unidade, em local onde não haja a circulação de pessoas ou sistemas
de captação de ar. Esses ambientes devem estar sob pressão negativa em relação às demais
áreas internas adjacentes. Geralmente a pressão negativa é obtida através do uso de exaustores.
O balanço criterioso das aberturas de portas e janelas, na medida em que permite o fluxo de ar, é
útil na remoção das partículas infectantes, principalmente em regiões onde há vento constante.

 Medidas de proteção individual (ou de proteção respiratória)


As máscaras para proteção respiratória devem ser utilizadas pelos profissionais em lo-
cais onde as medidas administrativas e de controle ambiental não são suficientes para impe-
dir a inalação de partículas infectantes. Tais equipamentos de proteção individual devem ser
utilizados pelos profissionais de saúde nos quartos de isolamento de pacientes com tubercu-
lose de vias aéreas, confirmada ou suspeita, durante os procedimentos médicos que possam
gerar partículas infectantes e na manipulação de secreções potencialmente contaminadas
com o bacilo da tuberculose, como o escarro dos pacientes.
As máscaras recomendadas para os profissionais de saúde visando a proteção con-
tra a tuberculose são as do tipo N95, aprovadas pelo CDC através do National Institute for
Occupacional Safety and Health. A letra N caracteriza as máscaras projetadas para o uso em
ambientes sem partículas de óleo e o número 95 o nível de eficiência na filtração de partículas
com o diâmetro de 0,3 micrômetros. As máscaras cirúrgicas não oferecem proteção adequada
contra a tuberculose.

· 26 ·
·5·
Aspectos ambientais

5.1. O Projeto de Arquitetura e a Biossegurança

D esenvolver projetos para estabelecimentos de saúde, sejam de unidades de atenção bási-


ca ou de serviços de maior complexidade, requer o conhecimento e a aplicação de variá-
veis específicas, além daquelas já comumente consideradas nos projetos de arquitetura, tais
como dimensionamentos, fluxos, conforto ambiental etc.
O fato de serem edificações que abrigam pessoas enfermas, onde se realizam atividades
que envolvem o uso de substâncias controladas, a realização de procedimentos invasivos, a
manipulação de material biológico e agentes patológicos, dentre outros, as tornam especiais
no que tange o cuidado necessário que se deve ter com os ambientes, para que sejam:

– biologicamente seguros;
– funcionais;
– estruturalmente harmoniosos, com instalações adequadas, que permitam minimizar a
interferência da manutenção predial no atendimento;
– humanizados, oferecendo qualidade ambiental aos seus usuários e contribuindo para a
recuperação dos pacientes.

· 27 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

O projeto de arquitetura é o instrumento de manipulação do grau de interação entre as


variáveis que compõem o desafio de se construir estes espaços. O profissional deve buscar
soluções coerentes, esteticamente adequadas, que comporte confortavelmente as necessida-
des da rotina do serviço, da biossegurança, das instalações prediais, das exigências normati-
vas e dos usuários.
A complexidade do tema e as especificidades da área tornam o projeto uma etapa fun-
damental nas obras dos estabelecimentos de saúde. Neste momento é possível compatibi-
lizar o conhecimento técnico do profissional com as necessidades da equipe e as exigências
ambientais, desenvolvendo a solução mais adequada, inclusive em termos de custo, para
cada caso.
Os ambientes dos estabelecimentos assistenciais de saúde, pela própria natureza da
atividade, são locais de concentração de microrganismos e, como tais, há de se considerar os
riscos, em menor ou maior escala, de proliferação e disseminação de microrganismos. O pró-
prio ambiente, bem como os elementos que o compõem, pode potencializar tais riscos quando
projetados ou mantidos inadequadamente.
Portanto, um ponto importante a se observar nesse tipo de projetos são os aspectos
relacionados à biossegurança, deve-se projetar de modo a prevenir e minimizar os riscos
de infecção do homem por agentes biológicos. Conforme definição da Comissão Técnica de
Biossegurança da Fiocruz – CTBio Fiocruz (2005), a biossegurança abrange os “... saberes
direcionados para ações de prevenção, minimização ou eliminação dos riscos inerentes às ati-
vidades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços,
as quais possam comprometer a saúde do homem, dos animais, das plantas e do ambiente ou
a qualidade dos trabalhos desenvolvidos”.
Para cada especialidade médica ou tipo de patologia, existem questões e caracte-
rísticas ambientais específicas para melhorar a segurança dos usuários. Compete ao pro-
fissional de projeto buscar informações relativas à especialidade médica em questão, às

· 28 ·
Aspectos ambientais

características de transmissão e tratamento da doença, aos espaços necessários aos proce-


dimentos, aos equipamentos adequados, entre outros, para que seja possível a aplicação dos
princípios de biossegurança.
O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Norma Regulamentadora nº 32 (BRASIL,
2005), estabelece as recomendações sobre segurança e saúde no trabalho em serviços de saú-
de. Em relação aos riscos no ambiente de trabalho, estes podem ser provenientes de agentes
físicos (ruído ou temperatura extrema, por exemplo), agentes químicos (medicamentos ou
gases medicinais, por exemplo) ou agentes biológicos (organismos ou substâncias oriundas
de um organismo). Podem ainda compreender riscos mecânicos (arranjo físico, iluminação e
sinalização inadequadas) e riscos ergonômicos (esforço físico intenso, exigência de postura
inadequada, jornadas de trabalho prolongadas, por exemplo (BRASIL, 1995).
Os riscos biológicos são classificados em quatro categorias, crescentes conforme o risco
oferecido pelo patógeno (BRASIL, 2004):

 Risco 1 – baixo risco individual e coletivo;


 Risco 2 – risco individual moderado e risco comunitário baixo;
 Risco 3 – risco individual alto e risco comunitário limitado: onde se enquadra o bacilo da
tuberculose;
 Risco 4 – risco individual e comunitário alto.

Conhecendo-se os riscos biológicos envolvidos, aplica-se um conjunto de métodos pre-


ventivos com o objetivo de aumentar a segurança. São os chamados princípios de contenção.
A contenção depende principalmente de procedimentos adequados de conduta, e pode ser
primária, quando alia tais procedimentos ao uso de equipamentos de proteção individual, ou
pode ser secundária, quando há a combinação de condutas de segurança e instalações físicas
(BRASIL, 2001). Em arquitetura, principalmente para projetos de laboratórios, o tratamento das

· 29 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

instalações físicas se dá através do projeto de barreiras de contenção, ambientes que servem de


antessala e que são dotados de sistemas de controle, como por exemplo, controle de abertura de
portas, controle da pressão e qualidade do ar, entre outros, e que buscam garantir a contenção
do risco dentro do ambiente laboratorial. Este assunto será abordado novamente no item 7.
No caso de ambientes de tratamento de doenças como a tuberculose, onde ocorre trans-
missão da infecção pelo ar, os riscos envolvidos nas instalações físicas estão relacionados
principalmente aos aspectos de ventilação, controle da qualidade do ar e áreas de insolação.
De um modo geral, os elementos relevantes no controle da biossegurança são o ar, a água
(equipamentos/ locais de higienização), as superfícies (materiais de revestimento), as plan-
tas (possíveis reservatórios de agentes patogênicos), os carpetes, as roupas de cama e cor-
tinas, as roupas pessoais, o acondicionamento e a destinação de resíduos, a manutenção e a
higiene das instalações (BRASIL, 1995).
Em um estabelecimento de saúde, pode-se classificar os ambientes – em relação ao
risco de transmissão de patógenos – em áreas críticas, áreas semicríticas e áreas não críticas
(BRASIL, 2002):

 Áreas críticas: ambientes nos quais há risco aumentado de infecções, onde se realizam
procedimentos de risco ou onde há pacientes imunocomprometidos. Exemplos: centro de
terapia intensiva, centro cirúrgico, unidade de hemodiálise e os ambientes de tratamen-
to da tuberculose;
 Área semicrítica: áreas ocupadas por pacientes com doenças infecciosas de baixa
transmissibilidade ou não infecciosas. Exemplos: algumas enfermarias, ambulatório,
lavanderia;
 Áreas não-críticas: todos os demais compartimentos da unidade de saúde não ocupados
por pacientes ou aonde não se realizam procedimentos de risco. Exemplos: áreas admi-
nistrativas, almoxarifado.

· 30 ·
Aspectos ambientais

Em relação aos laboratórios, onde há manipulação de patógenos, os níveis de


Biossegurança são controlados e empregados conforme a seguinte classificação (BRASIL,
2001):

 NB1 e NB2 – Laboratórios Básicos (Nível de Biossegurança 1 e 2);


 NB3 – Laboratórios de contenção (Nível de Biossegurança 3);
 NB4 – Laboratórios de contenção máxima (Nível de Biossegurança 4);

De acordo com a Fundação Nacional de Saúde, através da publicação Biossegurança em


Laboratórios Biomédicos e de Microbiologia, os laboratórios de diagnóstico da tuberculose
são classificados como NB3. No entanto, há situações em que se pode classificar o laboratório
como NB2, se ele está restrito a realizar apenas tipos específicos de procedimentos, como o de
baciloscopia direta, sem emissão de aerossóis (BRASIL, 2001). Mais detalhes a respeito desses
laboratórios serão vistos no item 9.
Pode-se concluir que a produção de ambientes saudáveis é corresponsabilidade de
todos e resultado da soma de vários fatores. Abrange medidas administrativas (ex: rotina
dos serviços, fluxo de pacientes, fluxo de resíduos etc.), medidas ambientais (ex: soluções de
arquitetura, rotina de limpeza e desinfecção das salas etc.) e medidas individuais (ex: lava-
gem das mãos, uso de máscaras etc.). Quando os riscos biológicos são contidos de maneira
adequada é possível oferecer segurança aos usuários.
Os serviços de tratamento da tuberculose devem dispensar atenção máxima às questões
ambientais, principalmente devido às características de transmissão da doença (dissemina-
ção pelo ar) que requerem cuidado especial com os aspectos de ventilação e iluminação. Não
é aceitável que ambientes com a função de curar se tornem potenciais propagadores de doen-
ças e coloquem em risco a saúde não só dos pacientes, mas dos visitantes e funcionários dos
estabelecimentos.

· 31 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

A biossegurança é um processo contínuo e não se resume à implantação de um determi-


nado número de medidas. Deve haver constante vigilância dos procedimentos e mecanismos
adotados para que sejam possíveis adequações e atualizações de modo a permitir a manuten-
ção das condições adequadas de biossegurança.
Vale destacar que a importância da biossegurança transpõe a de um instrumento de
controle de infecção nos serviços de saúde, ampliando-se para outras questões, que dizem
respeito à educação e à formação da consciência sanitária e ambiental da comunidade.

5.2. Diretrizes projetuais

Ao iniciar-se a análise do espaço a ser projetado, seja ele um ambiente, um setor ou a


unidade inteira, é necessário que se tenha uma visão global das potencialidades e limitações
com as quais se irá trabalhar. Inclui-se aí a legislação municipal, o código de obras, os pla-
nos diretores, as normas sanitárias, entre outros, para que se conheçam as exigências quanto
aos afastamentos, aos alinhamentos, aos usos, aos gabaritos, às taxas de ocupação do solo,
entre outros. Cabe lembrar que a Resolução – RDC n° 50 de 21 de fevereiro de 2002, determina
que, para estabelecimentos de saúde, nenhum ambiente de permanência prolongada deverá
ter afastamento menor que três metros, mesmo que se observe a legislação local.
O projeto de arquitetura de um estabelecimento de saúde irá atender a um perfil funcio-
nal que define o grau de complexidade da unidade e o tipo de atendimento a ser realizado, se
especializado ou não, ambulatorial, hospital-dia ou de internação, ou ainda se o atendimen-
to é de emergência. Assim, os diversos serviços de saúde existem para prestar atendimentos
variados e em níveis de complexidade distintos à população: hospitais, centros médicos, pos-
tos de saúde, ambulatórios, maternidades etc.
A assistência a pessoas com tuberculose ocorre em regime ambulatorial (consultas
e atividades de prevenção, de forma programada e continuada), em regime de internação

· 32 ·
Aspectos ambientais

(assistência direta em tempo integral) e no apoio ao diagnóstico (análise laboratorial).


Vale destacar que a internação só ocorrerá em alguns casos especiais, indicados no Manual
Técnico para Controle da Tuberculose, do Ministério da Saúde, tais como meningoencefalites,
intercorrências clínicas ou cirúrgicas graves, intolerâncias medicamentosas não controláveis
ambulatorialmente e determinados casos onde o contexto social assim o indicar (BRASIL,
2002). Destaca-se que o tempo de internação deve ser o menor possível.
Em relação ao espaço físico dos ambientes, as características de fluxo de circulação,
iluminação e ventilação são os itens mais relevantes para se atender as necessidades de bios-
segurança exigidas pelo projeto. Esses aspectos serão abordados ainda neste item e consti-
tuem as diretrizes que devem nortear as decisões de projeto para essa especialidade. Deve-se
observá-las não somente para a biossegurança dos ambientes, mas também para o planeja-
mento de espaços com qualidade.
Considerando que a forma de transmissão da doença é aérea, os ambientes onde são
tratados os pacientes com tuberculose devem possuir características que garantam a troca
de ar adequada, para que não haja a não retenção de ar contaminado e, de preferência, com
incidência solar, que contribui na higienização do ambiente. Deste modo, reduz-se o risco de
transmissão a terceiros.
Além do uso de equipamentos para garantir a qualidade do ar, em alguns casos, reco-
menda-se a utilização dos recursos de projeto para que seja possível tirar partido de soluções
simples, que envolvam o uso da ventilação e iluminação naturais. Essa estratégia é importante,
pois agrega ao espaço qualidades que facilitarão o controle ambiental em um maior número de
situações, reduzindo custos com equipamentos, e são, em princípio, acessíveis a todos os tipos
de unidades, considerando as especificidades climáticas e ambientais de cada localidade.
Abaixo estão elencadas as principais diretrizes para o projeto de ambientes que desen-
volvem atividades relacionadas ao tratamento das doenças de vias respiratórias, em especial
a tuberculose, que serão analisadas em seguida:

· 33 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

 Orientação da edificação ou ambiente em relação ao norte geográfico – implantação;


 Setorização dos ambientes em relação à unidade – articulação entre necessidades ope-
racionais, fluxos entre setores e acessos;
 Fluxos de pacientes com tuberculose e demais pacientes da unidade;
 Iluminação natural – necessidades e recursos para a adequada iluminação dos
ambientes;
 Ventilação – articulação dos vãos de abertura para o melhor aproveitamento dos ventos
e planejamento dos fluxos de ar interno realizados mecanicamente.

Apesar de estarmos tratando da iluminação e da ventilação sob o foco das necessida-


des dos ambientes de tratamento da tuberculose, entende-se que o conhecimento técnico
da relação do edifício com o ambiente natural fornecerá condições para que o profissional
da arquitetura alcance as soluções mais adequadas em situações específicas. A iluminação e
a ventilação das edificações são analisadas de modo sistematizado pela área de estudos do
conforto ambiental. Por se tratar de um campo específico, amplo e com muitos pormenores,
recomendamos a consulta à bibliografia da área para complementar o entendimento da inte-
ração da edificação com o meio ambiente e para ampliar a compreensão das possibilidades de
solução para diferentes casos.
Sendo assim, o comportamento das massas de ar, dos fluxos externos e internos de ven-
tilação, a incidência e o tratamento da insolação na edificação devem ser consultados na
bibliografia específica do tema.

5.2.1. Orientação
A posição do edifício em relação ao norte geográfico determina as possibilidades
de obtenção de um aproveitamento mais adequado da incidência solar, assim como a sua
posição em relação aos ventos dominantes influencia na incidência da ventilação natural.

· 34 ·
Aspectos ambientais

Entretanto, não apenas a orientação influi neste aspecto, como também os obstáculos natu-
rais ou construídos, no entorno da edificação e na própria edificação.
A topografia da região e as construções no entorno da unidade a ser projetada, por
exemplo, interferem na incidência de sol e ventos, e na formação de microclimas. Isso é
importante, pois se forem consideradas apenas as variáveis climáticas, em algum momento
tais interferências podem gerar condições em que o resultado esperado para a edificação não
seja alcançado. Com relação a isso, também é importante estar atento ao plano diretor da
região, de modo a saber se a área do projeto se encontra em região de expansão da cidade, se
há previsão de verticalização e adensamento urbano, ou se há uma tendência a se tornar uma
região voltada a um determinado tipo de serviço, entre outros.
A luz e o calor que a edificação irá receber estão vinculados à sua orientação em função
do movimento do sol. Existirão áreas de maior e menor insolação no terreno e na edificação
conforme o período do dia e do ano, bem como áreas de sombra, próprias da edificação ou
projetadas sobre ela, conforme o entorno. Essa informação apoiará, por exemplo, a seleção
dos locais mais propícios, dentro do terreno ou edificação, para a implantação das áreas de
atendimento às pessoas com tuberculose, principalmente as áreas de maior tempo de perma-
nência (Figuras 1 e 2).
A orientação em relação aos ventos dominantes define a área da edificação que rece-
berá maior incidência de ventos. Sendo possível assim identificar as áreas de maior e menor
pressão, para a escolha dos pontos de abertura. A ventilação será tratada de modo mais
detalhado no item 5.2.5.
Associada à orientação, a forma da edificação é outro fator de influência no aproveitamento
das condições naturais. A incidência dos ventos no corpo da edificação gera fluxos de ar ao redor
dela conforme cada situação, interferindo na ventilação dos ambientes internos. O comportamento
dos ventos tende a seguir uma trajetória reta, assim, ao se chocar contra volumes sólidos, ele bus-
cará voltar à sua trajetória inicial, depois de ter sido desviado (MASCARÓ, 1985).

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Figura 1 – Planta esquemática com movimento aparente do sol e


incidência de ventos. Fonte: Os autores.

Verão – 15 h. Primavera – 13 h. Inverno – 10:30 h.


Figura 2 – Estudos de Insolação. Fonte: Os autores.

· 36 ·
Aspectos ambientais

Nas unidades que atendem pacientes com tuberculose é preciso buscar a orientação
mais adequada, a fim de se garantir:

– a ventilação nos setores de permanência de pacientes com o bacilo;


– o sentido de circulação do ar, com deslocamento do ar infectado para áreas onde não
haja permanência ou circulação de pessoas;
– a insolação, ao menos por um período, nas áreas de maior concentração de pacientes
em tratamento;
– a não exposição das edificações do entorno às áreas de maior concentração de agentes
infectantes na unidade;
– que as áreas de sombra produzidas por edificações do entorno ou elementos naturais sejam
conhecidas e utilizadas em prol do desempenho da edificação, assim como as alterações
nas correntes de ar provocadas por elementos construídos ou pela topografia da região.

As informações climáticas necessárias para a melhor orientação da edificação devem


ser obtidas conforme a região onde está localizada a unidade, devendo-se trabalhar basica-
mente com os seguintes dados:

– norte magnético/ verdadeiro do terreno;


– direção dos ventos dominantes;
– incidência solar ao longo do dia, nas estações quentes e frias.

Dados climáticos contribuem também para decisões de projeto capazes de influenciar o


conforto ambiental, como por exemplo, o tipo de cobertura mais adaptada ao clima, a contri-
buição de varandas, o dimensionamento da área verde. Deve-se portanto, conhecer ao menos
os dados relativos aos:

· 37 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

– temperatura média da região nas estações quentes e frias;


– umidade relativa do ar;
– índice pluviométrico e estações de maior precipitação.

5.2.2. Setorização
Os serviços oferecidos por um estabelecimento de saúde pode ser muito diversificado,
desde uma unidade especializada num único tipo de atendimento até a que oferece serviços
diversificados. Para racionalizar a concepção destes espaços é necessário distrubuir os servi-
ços e tipos de atendimento em setores, os quais se articularão entre si e representarão o fluxo
de trabalho na unidade.
Assim, a articulação entre setores com serviços que se comunicam, a necessidade de
proximidade a acessos ou áreas externas e a localização em relação às áreas de risco e áreas
de fluxo/permanência de pessoas, ajudarão a determinar a configuração mais adequada para
os ambientes do estabelecimento de saúde.
Os ambientes que compõem a tisiologia7, por exemplo, são a recepção e espera, o con-
sultório, a área para coleta de escarro, a sala de broncoscopia, a sala de escarro induzido, a
enfermaria, o quarto de isolamento e o laboratório de microbiologia. Estes ambientes, no caso
de médios e grandes estabelecimentos, serão setorizados de acordo com a unidade funcional
a que pertencem: ambulatorial, apoio ao diagnóstico ou internação. Portanto, o atendimento
da tisiologia poderá estar presente em diferentes setores e, para se organizar o espaço com
os cuidados necessários à biossegurança, deverá se estabelecer “um subsetor de tisiologia”,
incorporado nos, já mencionados, setores do ambulatório, do apoio ao diagnóstico e da inter-
nação. Nas unidades menores, com um tipo único de atendimento, por exemplo, ambulatorial,
pode-se pensar no setor de tisiologia em relação à unidade como um todo.

7. Área da medicina que estuda a Tuberculose. No caso refere-se ao setor do estabelecimento.

· 38 ·
Aspectos ambientais

É importante atentar que, em ambas as situações, em termos de biossegurança, a defi-


nição de uma setorização irá influenciar o fluxo de pacientes dentro da unidade. Deve-se evi-
tar as seguintes condições:

– compartilhamento das áreas de espera do setor de tisiologia com outras especialidades


médicas;
– confinamento do setor de tisiologia;
– proximidade entre o setor de tisiologia com o de outros pacientes mais vulneráveis
(pediatria e geriatria, por exemplo);
– posicionamento das áreas de coleta de material para exame em local próximo a ambien-
tes de permanência (sendo apropriado projetá-lo deslocado ou protegido de áreas de
circulação/concentração de pessoas).

Deve-se buscar posicionar o setor de tisiologia observando os seguintes aspectos:

– proximidade do setor com áreas externas, ou de transição, como pátios e varandas;


– proximidade com os acessos do estabelecimento, de modo a minimizar-se a circulação
das pessoas com tuberculose dentro da unidade,
– privacidade, de modo que áreas para coleta de escarro, por exemplo, não exponham o
paciente a constrangimento.

Considerando que os ambientes de tisiologia poderão estar presentes em setores dis-


tintos dentro de um grande estabelecimento, é necessário considerar a articulação espacial
entre estes setores, para que necessidades operacionais sejam atendidas sem prejuízos às
questões de biossegurança.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Por exemplo, entre os setores de atendimento ambulatorial e de internação geralmente


não há conexão entre as atividades, apenas quando, por exemplo, a partir de uma avaliação
clínica for constatada a necessidade de internação. Existe, porém, relação entre estes setores
e o de diagnóstico – o de transporte de material coletado para realização dos exames labo-
ratoriais. Neste caso, os cuidados em relação à biossegurança também incluem os procedi-
mentos de conduta da equipe em relação à manipulação e ao acondicionamento adequado no
transporte do material biológico na unidade.

5.2.3. Fluxos
A organização espacial dos ambientes definirá os fluxos dos usuários, seja da equipe ou
de pacientes, no interior dos estabelecimentos de saúde. Estes fluxos podem ser racionali-
zados no projeto de arquitetura de modo a se “controlar” determinadas situações, podendo
estar organizados de maneira a agilizar e reduzir o deslocamento das pessoas, limitar as áreas
de circulação, a otimizar o tempo despendido com atividades ou atendimentos, a minimizar
fluxos indesejados entre setores, entre outros.
Ao se pensar nos fluxos de circulação de pacientes com tuberculose no estabelecimento
de saúde, deve-se atentar para os seguintes elementos:

– distância a ser percorrida, desde a entrada da unidade até o setor de atendimento;


– percurso realizado dentro das dependências da unidade;
– frequência e volume de pessoas nos eixos de circulação;
– sequência de atendimento.

O local para a consulta dos pacientes com diagnóstico ou suspeita de tuberculose de vias
aéreas são os ambulatórios (nível de atenção primária à saúde). Entretanto, o atendimento a tais
pacientes pode ocorrer em estabelecimentos de diferentes níveis de atenção à saúde. A maior

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Aspectos ambientais

parte dos atendimentos a pacientes com tuberculose ocorre no nível primário de assistência, onde
a população tem acesso às especialidades básicas, tais como: postos de saúde, unidades básicas,
ambulatórios etc. Em muitos casos, o atendimento pode ocorrer em níveis assistenciais de maior
complexidade, como é o caso de hospitais e serviços de emergência. Assim, para que se tenha uma
compreensão geral das etapas do atendimento envolvidas, dos ambientes em que cada atividade
irá ocorrer e, consequentemente do fluxo que irá se estabelecer na edificação de saúde, é impor-
tante o conhecimento da atividade assistencial em cada um desses níveis. Com este intuito, são
apresentados os fluxogramas a seguir, referentes aos serviços de tuberculose (Figuras 3, 4 e 5).

 Atendimento no nível básico:

Figura 3 – Representação do fluxo de serviço de atendimento à tuberculose


em unidades de atenção básica de saúde. Fonte: os autores.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

 Atendimento hospitalar:

Figura 4 – Representação do fluxo de serviço de atendimento à tuberculose em


hospitais. Fonte: os autores.

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Aspectos ambientais

 Atendimento de emergência:

Figura 5 – Representação do fluxo de serviço de atendimento à


tuberculose em emergências. Fonte: os autores.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

5.2.4. Iluminação
Um dos aspectos relevantes relacionados aos ambientes de tratamento da tuberculose é a
iluminação. A iluminação natural possui papel importante nos ambientes de tratamento de tuber-
culose, pois o bacilo em suspensão no ambiente não apresenta resistência aos raios solares, sendo
assim eliminados. Por este motivo, a iluminação natural abundante é sempre muito bem-vinda
nos espaços de longa permanência das pessoas com tuberculose. Entretanto, devido às caracte-
rísticas climáticas do nosso país, geralmente é um desafio conciliá-la com o conforto térmico.
No caso da iluminação artificial, há lâmpadas especiais que diminuem a concentração
de microrganismos do ambiente, porém tais lâmpadas têm a função específica de higieni-
zação do ar e não de iluminação propriamente dita, portanto devem ser utilizadas em casos
específicos e de maneira controlada (ver item 7).
Sobre a iluminação natural, os artifícios dos quais dispõe a arquitetura são variados:
definição das dimensões e posicionamento dos vãos, tipos de esquadrias, aberturas em planos
verticais e horizontais, vidros e materiais translúcidos, elementos vazados, entre outros, que
podem ser aplicados em situações diversas.
Os principais pontos a serem observados com relação à iluminação natural são:

– a posição do ambiente em relação ao sol ao longo do dia, para a definição do plano mais
adequado para a abertura de vão;
– o período de insolação do ambiente, para se conhecer o tempo de atuação do sol em seu
interior;
– a existência de elementos externos nas proximidades do ambiente, que poderão projetar
sombra durante o período de insolação.

Vale lembrar que a iluminação de um ambiente não é alcançada apenas com a incidên-
cia direta da luz solar. A abóboda celeste da terra por si só já é uma significativa fonte de

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Aspectos ambientais

luz. Também a iluminação obtida através da reflexão dos raios luminosos pelas superfícies
do entorno e pela reflexão das superfícies de acabamento dos elementos internos contribuem
para a iluminação do ambiente. É importante atentar para as características dos elemen-
tos construtivos, como a variação do grau de reflexão e absorção de cada cor e material. Em
linhas gerais, quanto mais clara a cor, maior a reflexão e quanto mais escura, maior a absor-
ção das ondas do raio luminoso.
Embora desejada, a presença do sol nos ambientes ocasiona a elevação de sua tempera-
tura, comprometendo o conforto de seus usuários. Esta situação pode ser tolerável em algu-
mas regiões brasileiras, mas em outras não, principalmente no verão. O excesso de luminância
em um ambiente também pode causar desconforto em seus ocupantes. O projeto de arquite-
tura deve buscar o equilíbrio entra a iluminação e a proteção. Outros aspectos também devem
ser considerados em relação às aberturas e transparências dos ambientes, como a privacidade
necessária à atividade realizada no ambiente, e a qualidade visual (paisagem) proporcionada
ao usuário.
A iluminação natural de um ambiente pode ser obtida através de aberturas nos planos
verticais do edifício, iluminação lateral, ou nos planos horizontais, iluminação zenital. Sheds,
domos e lanternins são alguns dos elementos arquitetônicos para a iluminação zenital. Estes
são recursos importantes, principalmente para os casos em que há dificuldade em se obter
iluminação natural adequada proveniente dos planos verticais. Deve-se atentar para as limi-
tações deste tipo de solução, em relação à incidência solar, à carga térmica à qual o ambien-
te será exposto e as necessidades do ambiente a ser projetado. Também é preciso considerar-
se as dificuldades de manutenção e limpeza, naturais à condição de estarem nas coberturas
das edificações, no momento de se optar por essa solução de projeto.
As janelas e “peles” de vidro são os principais elementos de um sistema de iluminação
lateral. As primeiras devem ser estudadas de modo a terem tamanho proporcional ao ambien-
te que se pretende iluminar, localização adequada no plano em relação à incidência solar,

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

quantidade e posicionamento em relação ao interior do ambiente (layout) para maior efici-


ência, e complementarmente, deve-se avaliar a influência de elementos externos geradores
de áreas de sombra. Para alguns casos, a utilização da superfície do forro para reflexão da luz
que entra pela janela pode ser um recurso interessante (MASCARÓ, 1985). Este efeito é obtido
definindo-se a borda superior da janela o mais próxima possível do forro, não esquecendo, no
entanto, de avaliar as interferências em relação à visão para o exterior e a privacidade dos
ambientes.
Para efeito deste trabalho, considerando-se a incidência dos raios solares nos ambien-
tes, classificamos a iluminação natural nos ambientes como direta, indireta e protegida.
A iluminação direta decorre da utilização de vãos simples, em planos desprovidos de
artifícios construtivos (como brises, painéis ou similares), além do beiral da construção. Os
raios solares entrarão no ambiente diretamente através do vão ou plano transparente (jane-
las convencionais, panos de vidro, coberturas translúcidas etc). Os recursos para interferir na
incidência do sol se limitam à adoção de materiais não transparentes, mas que permitem a
entrada da iluminação (vidros texturizados, leitosos etc.). O uso de películas não é indicado
para aplicação nos vidros das janelas de ambientes de tratamento de tuberculose, devido à
sua interferência no raio solar.
A iluminação indireta é aquela onde a incidência dos raios solares é, de certo modo,
filtrada para o interior do ambiente. É o caso de cobogós, pérgolas e alguns tipos de brises,
que bloqueiam parte dos raios solares e proporcionam uma atmosfera de transição (“meia-
sombra”), ou iluminam através da reflexão.
A iluminação protegida ocorre quando elementos construtivos impedem a entrada do
raio solar, mantendo o ambiente na sombra. Assim, podemos considerar as situações em que
são utilizadas grandes marquises/beirais de proteção associadas ou não a elementos verti-
cais de proteção; ou em que são criados espaços entre a parede externa e a área de uso do
ambiente para que esta permaneça constantemente na sombra.

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Aspectos ambientais

A escolha por uma solução adequada à necessidade de iluminação natural do ambiente


deverá considerar as características climáticas da região do projeto. Conforme comentado aci-
ma, há recursos arquitetônicos capazes de proporcionar iluminação adequada aos espaços, sem
comprometer o conforto, ao mesmo tempo em que se tira partido da luz solar para a melhoria
das condições de biossegurança. É importante que os ambientes de permanência dos pacientes
com tuberculose sejam bem iluminados e ventilados, de preferência, com a presença do sol.

5.2.5. Ventilação
A ventilação dos ambientes tem função primordial para a melhoria das condições
ambientais de biossegurança nos estabelecimentos de saúde. Um ambiente bem ventilado tem
o ar constantemente renovado e, portanto com menor presença de microorganismos. Sob este
aspecto, as variáveis que podem ser tratadas pela arquitetura acerca da ventilação natural
compreendem os modelos de esquadrias (sua influência na entrada e saída do ar); o tamanho
e a posição das aberturas, definindo o fluxo de ar nos ambientes.
É importante analisar a área de implantação dos ambientes em relação à movimenta-
ção natural do ar para que se possa tirar partido da ventilação, conforme comentado no item
5.2.1. Conhecer os ventos dominantes da região, sua direção, velocidade, frequência e varia-
ções sazonais, bem como o regime de chuvas é fundamental nas decisões em relação às aber-
turas, de modo a se evitar, também, que o ar infectado seja direcionado a áreas com aglome-
ração de pessoas, como as salas de espera de outras especialidades e locais para a retirada
de medicamentos ou aplicação de vacinas, por exemplo.
De um modo geral, o movimento das massas de ar ocorre das áreas de maior pressão
para as de menor pressão. Também tendem a se movimentar das zonas mais frias para as
mais aquecidas. Ao se deslocarem e incidirem em obstáculos físicos, as massas de ar cos-
tumam criar zonas positivas (maior pressão) e negativas (menor pressão) na região oposta
(MASCARÓ, 1985).

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Quando uma massa de ar entra no interior da edificação, tende a se dirigir para a aber-
tura na face oposta à entrada, estabelecendo assim uma corrente de ar. Ao encontrar obstá-
culos internos, como móveis ou paredes, o ar se dispersa. Para que se estabeleça uma corrente
de ar interna deve haver uma abertura para a entrada e outra, oposta, para a saída do ar, com
o menor número de obstáculos possível entre as mesmas, quando se pretender que a corrente
seja contínua. O efeito é potencializado abrindo-se os vãos nas paredes de pressão positiva e
negativa (KONYA, 1980).
A movimentação interna do ar pode ocorrer de diversos modos, conforme a posição em
que as aberturas são dispostas. Esta avaliação permite estabelecer uma estratégia entre
o edifício e a natureza, possibilitando o uso da ação natural dos ventos para, não apenas
refrescar internamente a edificação, mas também prover a troca de ar capaz de contribuir
para a qualidade dos ambientes.
A análise do tamanho e a posição das aberturas num ambiente permite prever o fluxo de
ar em seu interior. Levando-se em consideração uma adequada orientação em função dos ven-
tos dominantes, pode-se esperar, por exemplo, que, ao se fazer uma abertura pequena na face
da edificação onde ocorre a pressão positiva do ar (incidência dos ventos) e, outra abertura,
grande, na face oposta onde ocorre a sucção do ar (pressão negativa), ocorra um aumento da
velocidade do fluxo de ar (OLGYAY, 1998). Existem inúmeras possibilidades de manipulação do
tamanho das aberturas de modo a se provocar determinado efeito na ventilação dos ambientes,
as quais devem ser estudadas em bibliografia específica (ver bibliografia).
Vale ressaltar que, apesar da recomendação geral por ambientes mais amplos, nem
sempre uma sala de tamanho maior irá trazer benefícios em relação à ventilação, quan-
do comparada a uma sala menor. Grandes salas podem possuir pouca movimentação de ar
e apresentarem maiores dificuldades em se promover uma adequada ventilação enquanto
que, salas menores podem ser mais facilmente bem ventiladas. Decisões como esta e tantas
outras, já vistas e ainda por ver, fazem parte do papel do arquiteto.

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Aspectos ambientais

O desempenho das esquadrias também é um fator importante. Elas definem os pontos


de controle para a entrada e saída do ar dos ambientes. A variedade de modelos disponíveis
corresponde a mecanismos diferentes. Conforme o tipo de abertura, por exemplo, estabe-
lecem-se determinados volume e fluxo de ar. Em relação aos mecanismos de abertura, as
janelas podem ser: fixas, de rotação (ex: janelas de abrir, pivotantes, basculantes, proje-
tantes), de translação (ex: janelas de correr e as guilhotinas), e combinadas (ex: janelas
maximar, camarão), entre outros.
A opção por determinado tipo de esquadria e a definição do tamanho e posição de um
vão deve ser baseada na análise das condições climáticas de cada região, bem como nas
condições de orientação geográfica, entorno e interferências locais já citadas anterior-
mente (item 5.2.1.). Publicações relacionadas ao conforto ambiental tratam de tais ques-
tões de maneira científica e detalhada.
Em relação ao tipo de ventilação, ela poderá ser natural ou forçada (mecânica),
porém, independentemente de se adotar soluções artificiais de ventilação é importante
oferecer autonomia aos ambientes, de modo a permitir qualidade ambiental em situações
adversas, como a interrupção no funcionamento dos equipamentos.
O ventilador é um dos equipamentos mais comuns para o aumento da sensação
de conforto térmico das pessoas, e em ambientes de saúde não é diferente. Há uma
variedade de modelos e os principais tipos são os de mesa, os de coluna e os de teto.
Especificamente para os ambientes onde se trata de tuberculose, o ventilador de teto
não é recomendado. Deve-se evitar o seu uso, pois sua ação é voltada para dispersar o ar
no ambiente, facilitando dessa forma a contaminação de uma área ainda maior do que
aquela próxima ao paciente bacilífero. Para que haja a renovação de ar, é necessário que
o ar “usado” saia do ambiente, causando um movimento de entrada de ar “novo” no sen-
tido oposto. O fluxo de ventilação deve ser em sentido unidirecional, de dentro para fora
do ambiente.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Os ventiladores de coluna ou de parede são encontrados em alguns ambientes de saú-


de e, em muitos casos, nos ambientes onde pacientes com tuberculose são atendidos. Neste
caso, ele é utilizado com o objetivo de “proteger” os profissionais do ar contaminado pelo
bacilo. É importante destacar que o ventilador comum não é um equipamento projetado para
esta função, portanto sua ação é limitada e ocorre mais no sentido de ajudar na movimenta-
ção do ar nas direções desejadas do que, propriamente, garantir a qualidade do ar no ambien-
te (ver mais sobre o assunto no item 7).
Nem sempre os ventiladores são usados de modo adequado, podendo contribuir para um
fluxo de ar interno que direcione os microorganismos em suspensão para local indesejado ou à
propagação do ar infectado em todo o ambiente. A posição recomendada para o ventilador é
aquela na qual ele contribuirá para “empurrar” o ar para o exterior do ambiente.

Uso inadequado do ventilador Uso adequado do ventilador


Figura 6 – Exemplos do emprego do ventilador de coluna. Fonte: os autores.

Outro aspecto importante relacionado à ventilação é a pressão do ar, que pode ser
negativa ou positiva, conforme já mencionado. A pressão produzida artificialmente em um
ambiente é obtida através de equipamentos específicos (ver maiores detalhes no item 7),
conforme as exigências de biossegurança. A pressão negativa pode ser criada artificialmente

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Aspectos ambientais

com o auxílio de exaustores que retiram o ar interno, direcionando-o para o exterior e a pres-
são positiva pode ser criada através do insuflamento do ar exterior no interior do ambiente.
A pressão negativa é indicada para as áreas infectadas, pois o ar não “sai” do ambiente
(a não ser através do exaustor) e a pressão positiva é indicada para as áreas que não podem
ser infectadas como, por exemplo, ambientes com pessoas imunocomprometidas, pois o ar
não “entra” no ambiente (a não ser através do insuflamento).
Graficamente, podemos demonstrar essa aplicação da seguinte forma:

Figura 7 – Exemplos de ambientes com pressão negativa e positiva. Fonte: CHOWDHURY,


Pranab K., BAJAJ, Samta. HVAC Design Criteria for Isolation Rooms. In Air Conditioning and
Refrigeration Journal. July-setember, 2002.

A seta “A” indica onde ocorre o insuflamento do ar e as setas “B” e “C” indicam onde
ocorre a exaustão do ar. As setas “D” indicam o sentido do fluxo de ar criado. Os sinais de
positivo e negativo indicam a intensidade da pressão do ar em cada compartimento.
No primeiro caso, a sucção do ar é maior que o insuflamento e no segundo caso o insu-
flamento é maior que a sucção do ar. Estas medidas podem estar associadas a um sistema de
filtragem do ar, quando necessário um controle maior da qualidade do ar externo ou interno.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Onde não houver condições de se estabelecer uma ventilação adequada, indica-se o


uso de exaustores e a aplicação de controle da qualidade do ar mecanicamente, conforme as
observações já realizadas e o uso de equipamentos, que será comentado no item 7.

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Recomendações para projetos de ambientes de
tratamento da tuberculose

A consulta à Resolução – RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002 e às demais normas pertinen-


tes ao planejamento dos ambientes de saúde, além de se fazer obrigatória para aqueles
responsáveis pelos respectivos projetos, deve ser habitual, devido à complexidade do tema.
Além de atender às exigências do espaço físico e das condicionantes ambientais, o pla-
nejamento dos estabelecimentos assistenciais de saúde deve levar em consideração todos os
itens de infraestrutura como, por exemplo, instalações elétricas e eletrônicas, hidrossanitá-
rias, fluido-mecânica, climatização, coleta e afastamento de efluentes diferenciados, prote-
ção contra descargas elétricas, prevenção e combate a incêndio, além da gestão dos resíduos.
Entretanto, o projeto de tais ambientes não se resume aos itens mencionados e deve con-
siderar outras questões, como o desenho universal, o desenvolvimento sustentável e a huma-
nização. Os espaços de saúde devem ser capazes de satisfazer à complexidade de questões que
estão inseridas nestes ambientes, muito além do seu contexto técnico, incorporando também os
conceitos da arquitetura terapêutica, a arquitetura comprometida com os objetivos de saúde.
O Ministério da Saúde lançou, em 2003, o HumanizaSUS, a Política Nacional de
Humanização. Neste documento, o governo federal estabelece a humanização como eixo nor-
teador das práticas de atenção e gestão em todas as esferas do SUS (BRASIL, 2003).
As recomendações a seguir são indicações genéricas e não visam à substituição da consul-
ta às normas e demais referências necessárias à elaboração dos projetos nem à qualquer forma

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

de compilação das mesmas. O objetivo é a introdução ao tema “projeto para ambientes de tra-
tamento de tuberculose” aos arquitetos e engenheiros não familiarizados com este objeto.
O objetivo dos desenhos apresentados a seguir é apenas o de ilustrar os ambientes em
análise. Representam situações específicas, não configurando modelos a serem reproduzidos.
Lembre-se: não existe solução única! “Cada caso é um caso”! O arquiteto deve buscar apre-
ender as variáveis envolvidas no projeto e realizar as escolhas mais adequadas.
Anteriormente à análise de cada ambiente, vale destacar as recomendações a seguir que,
de um modo geral, devem ser aplicadas aos ambientes apresentados. As orientações foram
extraídas da NR17/1978, Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e Emprego,
que trata da Ergonomia (BRASIL, 1978); da NBR 5413/1992, norma da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), que trata da iluminância de interiores; da NBR 10152/1987, também
da ABNT, que trata dos níveis de ruídos para o conforto acústico e da RDC 50/2002, Resolução da
Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que dispõe sobre o regulamen-
to técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação dos projetos físicos dos
estabelecimentos assistenciais de saúde (BRASIL, 2002) e, configura-se na principal norma para
aqueles que trabalham na área da arquitetura de ambientes de saúde.
Esta publicação não pretende abordar todas as normas relativas ao tema, apenas as
mais relevantes ao exercício profissional do arquiteto. Os aspectos normativos serão apresen-
tados mais detalhadamente no item 9.

Recomendações gerais para os ambientes de saúde:


Temperatura (NR 17/1978): entre 20° C e 23° C;
Velocidade do ar (NR 17/1978): não superior a 0,75m/s;
Umidade (NR 17/1978): não inferior a 40%;
Iluminação (NBR 5413/1992): 200 lux-geral para quarto de pacientes, dispensários,
banheiros e 300 lux-geral para laboratórios (consultar norma para outros ambientes);

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

Ruído (NBR 10152/1987): 35-45 dB(A) para quartos e enfermarias e 40-50 dB(A) para
laboratórios e áreas de uso público (consultar norma para outros ambientes);
Classificação das áreas quanto ao risco de transmissão de infecção (RDC 50/2002): áreas
críticas;
Materiais de revestimento (RDC 50/2002): Em relação aos revestimentos, por se tratar de
áreas críticas, as paredes, pisos e tetos deverão ser resistentes à lavagem e à desinfecção, com
superfícies preferencialmente monolíticas e com o menor número possível de ranhuras ou frestas.

A seguir, abordaremos as recomendações para os principais ambientes de tratamento


da tuberculose: área/sala de espera, consultório, área para coleta de escarro, sala de bron-
coscopia, sala de escarro induzido, enfermaria, quarto de isolamento, laboratório local de
baciloscopia, além de outros ambientes, não específicos da TB, mas que podem oferecer risco
de transmissão da doença, por apresentarem a possibilidade de existência de pessoas conta-
minadas nelas, como a sala de inalação coletiva, a sala de radiologia e a sala de necropsia.
Para cada ambiente será apresentada a descrição geral das atividades envolvidas, as dire-
trizes para o projeto e a identificação dos itens críticos, os quais merecem maior cuidado no
momento do projeto. Também são apontadas as áreas mínimas indicadas pela RDC 50/2002 e
as áreas médias, referentes ao exemplo apresentado.

6.1. Área/Sala de espera

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente para a espera do atendimento.


Diretrizes para o projeto: A espera para o serviço de tuberculose deve ser preferencialmente
externa, bem ventilada, coberta, exclusiva (separada das outras esperas) e livre da circulação
de pessoas. Quando isto não for possível, o recinto deve ser bem ventilado, com luz natural e
incidência de radiação solar (desejável), entretanto, sem comprometer o conforto ambiental.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Itens críticos: Fluxo de pessoas, ventilação.


Área mínima (RDC 50/2002): 1,20 m² por pessoa.
Área média: 2,00 m² por pessoa.

Figura 8 – Exemplo | Área de espera | Escala 1:125. Fonte: os autores.

6.2. Consultório (atendimento ambulatorial)

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente para exame clínico do paciente.
Diretrizes para o projeto: O consultório deve ser bem ventilado e iluminado, preferencial-
mente com ventilação cruzada para que se estabeleça uma corrente de ar interna, promoven-
do a renovação do ar. É importante que a ventilação seja intencionalmente dirigida à criação
de um fluxo de ar entre o profissional e o paciente, de modo a minimizar a possibilidade de

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

contágio. Observar que o ar que sai de dentro do consultório não deve seguir para ambientes
fechados, portanto as janelas devem abrir para uma área externa, sem circulação de pessoas
ou captação de ar de equipamentos.
Não se indica o uso de ar-condicionado para este ambiente (ver item 7).
É obrigatória a instalação de um lavatório para mãos.
Itens críticos: Ventilação.
Área mínima (RDC 50/2002): 7,00 m², com dimensão mínima de 2,20 m.
Área média: 15,00 m².

Figura 9 – Exemplo | Consultório | Escala 1:125. Fonte: os autores.

6.3. Área para coleta de escarro

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Local para a coleta do escarro, a ser
encaminhado ao laboratório de microbiologia.
Diretrizes para o projeto: A área para coleta do escarro deve ser preferencialmente,
externa, bem ventilada, coberta, exclusiva e livre da circulação de pessoas. É recomendável a
implantação do ambiente em local que garanta um mínimo de privacidade ao paciente.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Itens críticos: Ventilação.


Área mínima (RDC 50/2002): sem indicação.
Área média: 7,50 m² (Figura 10).
O Fundo Global desenvolveu um “kit” para a instalação/adequação da área para coleta
de escarro nas unidades em que atua. É composto por toldo, banco e jardineiras. A escolha do
local para a implantação do “kit” no estabelecimento é realizada considerando-se questões
relacionadas à privacidade e biossegurança (Figura 11).

Figura 10 – Exemplo | Área para Figura 11 – Área para coleta de


coleta de escarro | Escala 1:100. escarro.
Fonte: os autores. Fonte: Fundo Global.

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

6.4. Sala de broncoscopia (endoscopia respiratória)

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente para a realização de proce-


dimento de broncoscopia (também conhecida como endoscopia respiratória). Este exame
invasivo, realizado sob anestesia, permite a visualização do sistema respiratório através de
um equipamento com fibras óticas e tem o objetivo de coletar amostras para o diagnóstico
de doenças. O paciente poderá ter reações adversas ao exame, necessitando permanecer sob
vigilância durante determinado período, principalmente nos casos em que foi sedado, até
passar os efeitos da medicação.
Diretrizes para o projeto: Para a sala de broncoscopia é recomendada pressão negativa, 6 ou
mais trocas de ar por hora, fluxo de ar dirigido no sentido do ambiente não infectado para o infec-
tado, filtragem do ar com eficiência superior a 99,97% e janelas vedadas. Em locais com poucos
recursos, o ar pode ser retirado do ambiente, sem ser filtrado, desde que se disponha de locais ade-
quados para a exaustão, sem circulação de pessoas. Adicionalmente, recomenda-se que o ambien-
te seja projetado de modo a receber insolação no seu interior por, ao menos, um período do dia.
A bancada com pia, utilizada para a limpeza e desinfecção do material após o exame
poderá ser localizada no interior ou no exterior da sala. É recomendada a instalação de gela-
deira para o armazenamento do material coletado e armário.
Em unidades maiores, onde esse ambiente se encontra integrado a um setor de image-
nologia e há o compartilhamento de algumas salas, indica-se a previsão de uma sala para
recuperação do paciente e outra para a interpretação e laudos. A sala de recuperação deve
ser bem iluminada, também com incidência solar direta, e bem ventilada, preferencialmente
com ventilação cruzada. Em unidades menores, onde exista apenas uma única sala de exames,
a recuperação pode ocorrer na mesma sala, dispensando-se também a sala de laudos.
Para a sala de interpretação e laudos não se aplicam recomendações específicas, pois
não é um ambiente com risco de infecção.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Itens críticos: Iluminação e controle da qualidade do ar.


Área mínima (RDC 50/2002): 12,00 m², com área de limpeza e desinfecção e 9,00 m², sem
área de limpeza e desinfecção.
A sala de recuperação deve oferecer distância mínima entre leitos de 0,80 m, distân-
cia mínima entre o leito e a parede de 0,60 m, além de espaço para manobra no pé do leito
(BRASIL, 2002).
Área média: 15,00 m² (Figura 12).

Figura 12 – Exemplo | Sala de broncoscopia | Escala 1:125. Fonte: os autores.

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

6.5. Sala de escarro induzido

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente para a indução do escarro


através de nebulização de solução salina hipertônica. O material colhido será encaminhado ao
laboratório para análise.
Diretrizes para o projeto: A sala de escarro induzido deve possuir pressão negativa e,
quando não for possível a exaustão para local adequado, exaustão com filtro HEPA (a ser
comentado no item 7). Pode ainda ser realizada em área externa, bem ventilada, coberta,
exclusiva e livre da circulação de pessoas.
É desejável bancada para o preparo do procedimento (área “limpa”) e bancada com
pia para desinfecção do material utilizado (área “suja”), além de geladeira para guarda do
material coletado e armário.
Itens críticos: Ventilação.
Área mínima: sem indicação (RDC 50/2002)
Área média: 10,50m² (Figura 13).

Figura 13 – Exemplo | Sala de


escarro induzido | Escala 1:100.
Fonte: os autores.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

6.6. Enfermaria

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente para acomodação dos pacien-
tes internados, que precisam de assistência direta por período superior a 24 horas. Nas enfer-
marias encontram-se os pacientes com quadros graves de tuberculose ou os que apresentam
efeitos colaterais ao tratamento, não controláveis ambulatorialmente.
Diretrizes para o projeto: Recomenda-se que a enfermaria seja dimensionada para o
menor número de pacientes e seja exclusiva para pessoas com tuberculose. É importante que
possua banheiro próprio ou, no caso de ser compartilhado com outras enfermarias, esteja em
posição onde não ocorra cruzamento de fluxos com pacientes de outras especialidades médi-
cas. O ambiente deve ser bem ventilado e iluminado, preferencialmente com incidência de
luz solar em seu interior. É recomendado ainda, que sejam dotadas de varandas ou sacadas.
Solários, terraços ou pátios são áreas que agregam qualidade ao ambiente, contribuindo para
a aeração dos espaços e para o bem-estar do paciente.
A RDC 50/2002 considera como enfermaria quartos com no mínimo três leitos e no
máximo seis, entretanto, recomenda-se que a unidade disponha de quartos individuais com
banheiro. Se isto não for possível, admite-se colocar mais de um paciente na mesma enferma-
ria caso todos tenham diagnóstico de tuberculose, não haja suspeita de casos com resistência
aos antimicrobianos entre eles, e todos estejam sob tratamento.
Indica-se a instalação de visores nas portas e/ ou paredes, para facilitar a visualização
dos pacientes pela equipe. É obrigatória a instalação de um lavatório para a lavagem das mãos.
Itens críticos: Ventilação e Iluminação.
Área mínima (RDC 50/2002): 6,00 m² por leito, com número máximo de seis leitos por enfermaria.
Entre leitos paralelos deve haver uma distância mínima de 1,00 m; entre a lateral do leito e a
parede, mínimo é de 0,50 m e entre o pé do leito e a parede (área de maior circulação), mínimo de 1,20 m.
Área média: 10,50 m² por leito (Figura 14).

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

Figura 14 – Exemplo | Enfermaria | Escala 1:125.


Fonte: os autores.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

6.7. Quarto de isolamento

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: O quarto de isolamento, em conjunto


com a antecâmara e o banheiro, compõe a unidade de isolamento cujo objetivo é oferecer
local seguro para a internação de pessoas com tuberculose, quando necessário, evitando-se
a contaminação de terceiros. O acesso ao quarto de isolamento é restrito à equipe de saúde,
treinada nas medidas de biossegurança.
Diretrizes para o projeto: A unidade de isolamento deverá possuir pressão negativa em
relação à circulação, com 12 trocas de ar por hora, no mínimo. A pressão negativa mantém o
fluxo de ar dentro do ambiente, evitando a contaminação do ar exterior.
O filtro HEPA é indicado para os locais onde não é possível a exaustão do ar para as áre-
as externas sem comprometer a saúde de terceiros. Além do alto custo, requer manutenção
periódica (a ser comentado no item 7).
Agrupar unidades de isolamento de tuberculose em uma mesma área dentro do estabe-
lecimento de assistência à saúde permite reduzir a possibilidade de transmissão da doença a
outros pacientes, além de facilitar o cuidado aos pacientes com tuberculose e a instalação e
manutenção dos sistemas de ventilação.
É desejável que o quarto de isolamento possua:
– Iluminação e ventilação naturais e incidência de luz solar;
– Porta com vão mínimo de 1.10 m e visor (a porta deve permanecer sempre fechada);
– Lavatório para a lavagem das mãos, iluminação e mesa para a cabeceira, mesa para
refeições, televisor e/ou rádio, armário, poltrona, entre outros.

Itens críticos: Ventilação e pressão controlada.


Área mínima (RDC 50/2002): 12,00 m².

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

Distância mínima entre o pé do leito e a parede de 1,20 m e distancia mínima entre o lei-
to e as paredes laterais de 0,50 m (RDC 50/2002).
Área média: 14,50 m².

 Antecâmara
Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente destinado à paramentação dos
profissionais envolvidos na assistência ao paciente isolado. Constitui importante barreira físi-
ca ao acesso direto ao quarto.
Diretrizes para o projeto: É desejável que a antecâmara possua:
– Pressão positiva em relação ao quarto de isolamento e negativa em relação ao corredor;
– Porta com vão mínimo de 1.10m e visor (a porta deve permanecer sempre fechada);
– Lavatório para lavagem das mãos, armário para roupa limpa, hamper para roupa suja,
local para armazenamento de equipemento de proteção individual (EPI), bancada com
pia de despejo.
Itens críticos: Ventilação e pressão controlada.
Área mínima (RDC 50/2002): 1,80 m².
Área média: 6,50 m².

 Banheiro
Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente destinado ao uso exclusivo do
paciente em isolamento.
Diretrizes para o projeto: É desejável que o banheiro possua:
– Iluminação e ventilação naturais;
– Porta abrindo para fora do ambiente, com sistema de molas e vão livre mínimo de 0,80 m;
– Lavatório, bacia sanitária, chuveiro e barras de apoio (ABNT NBR 9050).

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Itens críticos: Ventilação e pressão controlada.


Área mínima (RDC 50/2002): 3,60 m².
Área média: 8,50 m² (Figura 15).

Figura 15 – Exemplo | Unidade de Isolamento | Escala 1:100.


Fonte: os autores.

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

6.8. Laboratório local de baciloscopia

Objetivo / descrição das atividades envolvidas: Ambiente onde se realiza a manipulação


e análise de amostra biológica para realização da baciloscopia, com finalidade de diagnóstico
ou pesquisa. Também possui a atribuição de coletar amostras para cultura e testes de sensibi-
lidade que poderão ser encaminhadas para outro laboratório. Esse tipo de laboratório realiza
exames de interesse dos Programas de Controle da Tuberculose (PCT).
Diretrizes para o projeto: Laboratórios são ambientes que requerem cuidados específi-
cos para prevenir e minimizar os riscos inerentes às atividades neles desenvolvidas. A biosse-
gurança, de acordo com o Departamento de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2008), é “a
condição de segurança alcançada quando da utilização conjunta de equipamentos de pro-
teção, práticas e procedimentos laboratoriais, e estrutura física, da instituição destinada a
minimizar a exposição dos funcionários e do meio ambiente aos agentes infecciosos.” O tipo
de estrutura necessária ao laboratório é definida em função do grau de risco do agente infec-
cioso (ver item 5.1) e dos tipos de procedimentos que serão realizados. Optou-se por exempli-
ficar aqui laboratórios locais apenas para baciloscopia direta, por se tratar de um laboratório
mais simples de ser instalado e, portanto acessível a um número maior de estabelecimentos,
sem com isso minimizar a importância dos outros laboratórios (ver informações adicionais no
item 4).
O procedimento para a baciloscopia direta não emite aerossóis, assim o laboratório,
aqui exemplificado, classifica-se no Nível de Biossegurança 2 – NB2 (ver informações adicio-
nais no item 5.1). Quando o procedimento laboratorial possuir o potencial de gerar aerossóis,
o laboratório se classificará como NB3, sendo, neste caso, obrigatório, além do uso de equi-
pamentos de proteção individual (EPI), a manipulação do material em cabines de segurança
biológica (ver item 7), o acesso controlado ao ambiente, a desinfecção da roupa utilizada,
dos resíduos, dos efluentes e a pressão negativa (BRASIL, 2008; BRASIL 2004; BRASIL, 2001).

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Embora o conteúdo deste manual, assim como as normas específicas, possam contribuir
no momento do projeto, é importante conhecer as condutas laboratoriais, a rotina da equi-
pe, os equipamentos necessários e os usuários do ambiente (principalmente no que se refere
à quantidade de pessoas e às suas necessidades). Tais informações auxiliam na tomada de
decisões de projeto.
Apesar de frequentemente observada a realização de diferentes procedimentos num
mesmo laboratório de microbiologia, o ideal é que haja local exclusivo para realização das
baciloscopias.
As instalações físicas do laboratório devem prever a separação da área de trabalho do
acesso público, área para desinfecção e locais para a lavagem das mãos. A adoção de ante-
câmaras, chuveiros ou outras barreiras deverá ser determinada para cada caso, através de
avaliação de risco biológico.
A área onde ocorrem os procedimentos laboratoriais deve ser isolada, sem acesso dire-
to a outros ambientes, como os administrativos ou os de apoio. Tais ambientes devem estar
externos à área do laboratório e possuir acessos independentes.
Recomenda-se que a área para lavagem das mãos fique próxima da porta de acesso do
laboratório. Deve ser prevista uma bancada com pia e bancadas de apoio para o preparo dos
esfregaços e uso dos microscópios. A área de preparo do esfregaço deve ser bem iluminada e
protegida contra fluxos de ar que possam comprometer a saúde dos profissionais. A capela de
exaustão, utilizada na manipulação de substâncias que liberam vapores tóxicos ou irritan-
tes, deve estar localizada em região da sala protegida das correntes de ar e da circulação de
pessoas.
As superfícies e os revestimentos também são importantes na limpeza e desinfecção dos
laboratórios. Devem ser estanques, impermeáveis e resistentes aos esforços mecânicos e às
substâncias químicas. As bancadas podem possuir frontispícios selados nas junções e bordas

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

para evitar o derramamento de líquidos. Recomenda-se o acabamento arredondado para as


gavetas, os tampos, as maçanetas etc., de modo a facilitar sua higienização.
O fluxo de ar no interior da sala de procedimentos deve ser planejado no sentido das
áreas “limpas” para as áreas “sujas”. As janelas são indicadas para a ventilação do ambiente,
principalmente quando não há sistema de exaustão instalado, porém deve-se ter o cuidado
de posicionar os vãos de modo a não criar fluxos de ar na área de preparo das lâminas. Caso
isto não seja possível, pode-se prever o fechamento das mesmas durante a realização do pro-
cedimento. Conforme mencionado, não é recomendado o uso de ventiladores de teto. No caso
de uso de ar condicionado é desejável que este seja provido de sistema de tratamento do ar
exaurido, sendo obrigatória a filtragem do ar para os laboratórios tipo NB3 (consultar as nor-
mas específicas para este caso).
Quando existir a área de recepção e armazenamento temporário de amostras, esta deve
ser isolada das áreas comuns, oferecer passador para a entrega da amostra pelo paciente e
estar localizada o mais próxima possível do laboratório. A amostra deverá ser acondicionada e
transportada segundo os procedimentos de biossegurança. Nesta sala, recomenda-se a insta-
lação de um exaustor com capacidade de 6 a 12 trocas de ar por hora.

É obrigatório:
– Separação das áreas de circulação de público;
– Acesso controlado e restrito;
– Sinalização de segurança nas portas de acesso;
– Paredes, teto e piso lisos e impermeáveis, resistentes à limpeza e desinfecção;
– Lavatório para higienização das mãos;
– Autoclave no laboratório e próxima ao laboratório, para desinfecção do material
reutilizável.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

É recomendável:
– Porta com abertura mínima de 1,20 m, considerando-se a possibilidade de vãos maiores
para passagem de equipamentos;
– Vestiários para paramentação da equipe ou local para armazenamento de EPI exclusivos
do laboratório;
– Torneira com acionamento sem o uso das mãos;
– Fluxo interno de ar natural e/ou sistema de exaustão com capacidade de 6 a 10 trocas
de ar por hora;
– Lava-olhos em local acessível, à menor distância do maior número de pontos da
sala.

Itens críticos: Ventilação.


Área mínima (RDC 50/2002): 6,00 m² (refere-se somente à área de procedimentos).
Área média: 20,00 m² (refere-se somente à área de procedimentos) (Figura 16).

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

Figura 16 – Exemplo | Laboratório local de baciloscopia | Escala 1:100.


Fonte: os autores.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

6.9. Outros ambientes

Em muitos casos, as pessoas com tuberculose não possuem o conhecimento de que


estão infectadas. O melhor modo de se evitar a transmissão da doença é descobri-la o mais
cedo possível e realizar o tratamento adequado até o final. Entretanto, seja pela ausência de
diagnóstico ou pela não adesão ao tratamento, deve-se considerar que a tuberculose possa
estar presente em outros usuários das unidades de saúde, que não estão restritos ao setor de
Tisiologia.
Adicionalmente, os pacientes com tuberculose eventualmente podem permanecer por
um curto período em outras áreas das unidades de saúde como, por exemplo, a sala de inala-
ção e a sala de radiologia. E em casos de óbito, pode ser necessária a realização de necróp-
sias. A seguir serão analisados tais ambientes.
Em linhas gerais, deve-se considerar que a ventilação e a iluminação adequadas con-
tribuem para a diminuição do risco de transmissão da infecção, conforme mencionado ante-
riormente. Destacam-se também a importância das medidas administrativas na prevenção da
transmissão nosocomial da tuberculose, consideradas “linha de frente”. Sem elas, somente
as medidas ambientais não são suficientes para a redução do risco de transmissão da doença.
Vale lembrar que as medidas administrativas incluem, por exemplo, uma classificação ade-
quada do risco na unidade, o controle adequado do fluxo de pacientes no estabelecimento, o
diagnóstico precoce da doença e seu tratamento adequado.

Sala de inalação coletiva


Nas salas de inalação coletiva, também conhecidas como sala de nebulização, os
pacientes realizam a inalação de medicamentos que chegam até as vias aéreas inferiores,
atuando localmente e em menor tempo. Os pacientes com tuberculose de vias aéreas ainda
em fase infectante, bem como os casos suspeitos, não devem realizar nebulização nestes

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

ambientes coletivos, pelo risco de transmissão da infecção. Porém, pela possibilidade de


serem realizadas nestes ambientes nebulizações em pacientes com tuberculose (como, por
exemplo, naqueles ainda sem diagnóstico), estas salas devem ser invariavelmente bem
ventiladas.

Sala de radiologia
Nesta sala são realizados os exames de radiológicos (também conhecidos com raio-x),
considerados auxiliares no diagnóstico da tuberculose e de outras pneumopatias. Como os
equipamentos e a própria sala de radiologia possuem custo elevado, não parece viável a exis-
tência de um local exclusivo para o setor de Tisiologia.
A sala de radiologia possui características especiais, pois é uma sala sem janelas, devi-
do à proteção radiológica (aplicação de folhas de chumbo ou argamassa baritada), necessá-
ria para a blindagem da radiação. Quanto ao vidro, quando aplicado (geralmente no visor do
biombo de proteção do operador), é também blindado e possui custo elevado.
A radiação deste tipo de equipamento atua como um feixe de luz, que é “ligado” e “des-
ligado” e que se propaga para os lados, em linha reta. A Portaria do Ministério da Saúde nº
453, de 01 de junho de 1998 (BRASIL, 1998), no entanto, estabelece que a proteção radiológi-
ca faz-se necessária tanto nas paredes e portas quanto no piso e teto. Neste caso, portanto,
não é conveniente a abertura de janelas. Sugere-se que, além das medidas administrativas
cabíveis (como o agendamento de pacientes com tuberculose ao final do dia) seja utilizada a
lâmpada ultravioleta para auxiliar na desinfecção do ar e/ou equipamento portátil com filtro
HEPA (a ser comentado no item 7), além do uso de máscaras para o paciente com suspeita ou
diagnóstico de tuberculose.
Deve-se considerar que a sala de radiologia utilizada por um paciente com tuberculose
irá se configurar num local com potencial de transmissão da doença, durante o exame e por
determinado período após a realização do mesmo.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Sala de necrópsia
A sala de necrópsia é o local onde os médicos legistas realizam os exames nos cadáveres
para a determinação das causas de morte. Nela também há a guarda temporária de cadá-
veres. Tais salas são frequentemente mal ventiladas, constituindo-se em locais de alto risco
de transmissão da tuberculose, pois a manipulação de órgãos ou tecidos contendo o bacilo
da Tuberculose pode gerar aerossóis potencialmente infectantes. É desejável que o arquiteto
projete soluções capazes de aumentar a ventilação da sala e o conforto da equipe, sem com-
prometer a privacidade dos exames, como, por exemplo, janelas baixas voltadas para um jar-
dim exclusivo, com barreira visual e sem acesso a terceiros.

6.10. Checklist

Na elaboração dos projetos de ambientes de tratamento da tuberculose, não se deve


esquecer de observar prioritariamente a ventilação (seja ela natural ou não), a necessidade
de controle da qualidade do ar do ambiente, a insolação e a posição do setor/ambiente em
relação aos fluxos de circulação de pessoas no estabelecimento. Estas medidas contribuirão
para uma solução arquitetônica mais adequada aos ambientes de tratamento da tuberculo-
se. Nesse sentido, foi elaborada uma lista de itens básicos aos quais o projeto deverá atender
para que se alcance um resultado satisfatório. Não se pretende abranger todas as questões
envolvidas num projeto de arquitetura deste tipo, mas, sim, oferecer uma ferramenta que
auxilie no seu desenvolvimento.

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Recomendações para projetos de ambientes de tratamento da tuberculose

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Equipamentos coadjuvantes

A ventilação é o processo de renovação do ar em um ambiente. Seu objetivo essencial é


regular a pureza e o deslocamento do ar no recinto, contribuindo ainda para a diminuição
da carga térmica dos ambientes. O ar salubre é aquele que possui características físicas e quí-
micas capazes de favorecer a saúde (COSTA, 2005).
A contaminação do ar ocorre por fontes diversas: pessoas, vapores, gases, animais,
entre outros. Quando confinadas em um ambiente, as pessoas promovem a redução da taxa de
oxigênio, o aumento da taxa de gás carbônico e do vapor d’água, além de gerar partículas com
microrganismos e compostos orgânicos complexos, através da respiração e da pele.
Existem no mercado equipamentos que contribuem para um sistema de ventilação ade-
quado à contenção da infecção do ar nos estabelecimentos assistenciais de saúde. Os equipa-
mentos, frequentemente utilizados em laboratórios, salas de cirurgia, quartos de isolamento,
entre outros, possuem características e aplicações específicas que serão apontadas a seguir.
A avaliação de risco do local indicará o sistema de contenção mais apropriado para
cada caso. É importante lembrar que a escolha pela utilização de equipamentos implica, obri-
gatoriamente, na manutenção preventiva e corretiva, na realização de testes periódicos, na
observação das condutas de utilização e instalação dos equipamentos, além da seleção de
fabricantes certificados segundo as normas técnicas. O custo final do equipamento inclui a
contabilização de todos esses itens.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Pode-se dizer que não existe equipamento capaz de garantir um ambiente 100% seguro,
cabendo grande parte da responsabilidade ao trabalhador e suas condutas. Conforme já men-
cionado, a contenção biológica refere-se a medidas que objetivam a redução dos riscos de
infecção nos ambientes de saúde. Será analisada a seguir, mais detalhadamente.
O desenvolvimento de projetos para ambientes de saúde deve ser realizado, idealmente,
por equipe multidisciplinar composta de, no mínimo, profissional da área de saúde, arquiteto,
responsável pelo planejamento físico (importante possuir noções de biossegurança) e engenhei-
ro, responsável pelo planejamento do sistema de ventilação e condicionamento artificial do ar.

Barreiras de contenção primária (proteção primária)

As barreiras de contenção primária visam à proteção de indivíduos ou ambientes do


agente causador do risco. São exemplos de barreiras de contenção primária: capela de exaus-
tão, cabina de segurança biológica, capela de fluxo laminar.

 Capela de exaustão
Constituída por um gabinete ventilado capaz de exaurir os gases expelidos na manipula-
ção de substâncias pelo trabalhador. Possui dimensões, material e revestimentos variáveis.

 Cabina de segurança biológica


Constituída por um gabinete onde são manipulados substâncias químicas ou radioisóto-
pos nas análises dos agentes de risco biológicos, ou ainda, quando a manipulação do material
biológico possa gerar aerossóis. Oferecem proteção ao trabalhador, podendo ainda oferecer
proteção ao produto e ao meio ambiente, dependendo do tipo de cabina. Os tipos de substân-
cias manipuladas caracterizarão a composição da cabina e os tipos de filtros necessários na
exaustão. Podem ser fabricadas em diversos tamanhos.

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Equipamentos coadjuvantes

 Cabina de Fluxo Laminar


Constituída por um gabinete com área de trabalho para a manipulação de materiais bio-
lógicos ou estéreis (que não podem sofrer infecção do meio ambiente). O fluxo de ar pode ser
horizontal ou vertical, dependendo do plano de trabalho.
No momento do projeto, deve-se observar alguns elementos importantes que podem
influenciar no funcionamento dos equipamentos:

– A localização do equipamento na sala, deve ser preferencialmente afastado da entrada


e de outras rotinas;
– A circulação de pessoas, a abertura e fechamento de portas e janelas, o sistema de venti-
lação, entre outros, podem gerar turbulências no ar e afetar o desempenho das cabinas;
– Podem haver interferências entre equipamentos próximos.

É importante a previsão de acesso para a manutenção do equipamento, assim como vãos


suficientes para a entrada do equipamento embalado no local. Também é desejável circuito
elétrico independente para cada cabina, em rede de emergência, além de disjuntor exclusivo e
tomada em local visível e de fácil acesso.

Barreiras de contenção secundária (proteção secundária)

As barreiras de contenção secundária visam a proteção do ambiente no qual foi gerado o


risco, do ambiente externo. São exemplos de barreiras de contenção secundária: Filtragem do
ar, diluição de contaminantes (através do tratamento do ar – ex: radiação ultravioleta – ou
do aumento da vazão do ar limpo), entre outros.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

A Renovação do ar

Conforme já comentado, a qualidade do ar de um recinto está relacionada à renovação


do ar. O número de vezes em que o ar de um ambiente é renovado, durante o período de uma
hora, é estabelecido pela relação entre o volume de ar que entra no compartimento e o volume
de ar presente neste, denominada índice de renovação do ar. Quanto maior o número de tro-
cas de ar por hora, melhor a qualidade do ar interno (COSTA, 2005).
A renovação do ar de um ambiente ou, ventilação, pode ser natural ou espontânea e
artificial, ou forçada. A ventilação natural é a realizada devido às diferenças de pressão
naturais, causadas pela ação dos ventos ou pelas diferenças de temperatura. Promove, em
condições habituais, um índice de renovação de ar entre 1 e 2 trocas por hora, podendo ser
incrementado conforme a disposição das aberturas no ambiente.
A ventilação artificial é realizada devido à ação mecânica de equipamentos, através da
criação de diferenças de pressão. Atua com índices de renovação do ar geralmente entre 6 e 20
trocas por hora. Pode ser diluidora ou exaustora, conforme o tipo de contaminação do ambiente.
Na ventilação mecânica do tipo diluidora o insuflamento de ar externo ocasiona a
mistura com o ar interno, diluindo os contaminantes. Na ventilação mecânica do tipo local
exaustora o ar infectado produzido no ambiente é retirado antes de se espalhar por todo o
recinto. Quando a contaminação do ambiente é elevada, opta-se pela exaustão geral, com
extração maior de ar do compartimento.
A ventilação artificial é recomendada quando a ventilação natural não atende a reco-
mendação mínima de renovação do ar para a atividade desenvolvida no local ou por motivos
ligados à biossegurança. Conforme mencionado anteriormente, para ambientes de atendi-
mento à tuberculose o índice exigido é de 6 a 12 trocas de ar por hora.
A seguir, são apresentados alguns dos equipamentos utilizados em sistemas de ventila-
ção mecânica nos ambientes de saúde:

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Equipamentos coadjuvantes

 Unidade de Descontaminação
Equipamento compacto para insuflamento, exaustão ou recirculação de ar com três
tipos de filtros: pré-bactericida, carvão ativado e HEPA. A Unidade de Descontaminação,
quando acoplada a um duto, pode ser utilizada para exaurir o ar interior após filtragem, para
insuflar o ar limpo, ou ainda, na recirculação do ar, melhorando a qualidade do ar interno. O
equipamento pode ser instalado como uma unidade móvel no recinto (com rodízios), fixado
no teto, embutido no forro, instalado externamente ao compartimento ou utilizado como um
equipamento portátil.
Os filtros a serem utilizados na unidade de descontaminação variam de acordo com o
objetivo do equipamento, seja promover a filtragem absoluta ou parcial do ar ou apenas a eli-
minação de odores.

 Unidade de Ventilação
Equipamento compacto para insuflamento ou exaustão de ar, com o objetivo de promo-
ver a ventilação estéril nos locais onde não é possível a instalação central. Possui pré-filtro e
filtro HEPA.

 Unidade de Filtragem Refrigerada


Equipamento compacto para insuflamento do ar refrigerado. Possui 02 filtros além do
filtro HEPA.

 Filtros
Os filtros podem ser classificados em grossos, finos e absolutos, em diversas categorias
cada um, conforme a sua eficiência na retenção dos contaminantes.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

 Filtros HEPA
Os filtros do tipo high efficiency particulate air (HEPA) podem auxiliar no controle da
transmissão nosocomial da tuberculose, na medida em que removem as partículas infectantes
do ar. Os filtros HEPA oferecem o mais alto nível de filtragem do ar, por isso, são considerados
filtros absolutos ou de alta eficiência de partículas aéreas. Podem reter 99,97% das partícu-
las em suspensão com diâmetro de 0,3 mícron8 (µm) ou maiores, o que significa a retenção de
bactérias, fungos, entre outros. Não possuem efeito sobre gases ou vírus.
Devido ao seu custo elevado, o emprego dos filtros HEPA fica restrito aos locais onde
não é possível realizar a exaustão do ar para áreas externas, sem comprometer a saúde de ter-
ceiros. Além do custo, requer manutenção periódica, configurando-se, portanto, como uma
medida pontual e complementar.

 Filtros Finos
Os filtros finos oferecem nível alto de filtragem do ar, retendo entre 60 e 95% das par-
tículas maiores que um mícron. São utilizados como filtros intermediários do HEPA ou filtros
finais em sistemas de ventilação.

 Filtros de carvão ativado


Os filtros de carvão ativado possuem capacidade de reter apenas moléculas gasosas,
não atuando sobre as partículas em suspensão no ar. Com a utilização, estes filtros perdem a
capacidade de reter as moléculas gasosas, devendo ser testados e trocados periodicamente,
assim como qualquer outro tipo de filtro.

8. Unidade de medida que equivale à milésima parte do milímetro.

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Equipamentos coadjuvantes

A descontaminação do ar

 Lâmpada Ultravioleta
A radiação ultravioleta (UV) é eficaz na inativação do bacilo da tuberculose em condi-
ções experimentais. Podem auxiliar na descontaminação do ar por possuir ação germicida.
Em conjunto com a ventilação, colaboram para a diminuição da carga de bacilos no ambien-
te, embora sejam eficazes somente caso o raio atue diretamente sobre o microorganismo.
Fatores como distância, tempo de uso, umidade do ar, poeira, grau de mistura do ar, nível de
ventilação do ambiente, entre outros, influenciam em sua eficácia. Vale lembrar que a expo-
sição direta à radiação das lâmpadas germicidas é perigosa e pode causar doenças, por isso a
importância da adequada instalação e manutenção, realizada pelo fabricante.
As lâmpadas UV podem ser suspensas no teto ou fixadas nas paredes (como arandelas),
com a luz direcionada apenas para cima. Podem ainda, ser utilizadas dentro de dutos de ven-
tilação - sendo que o fluxo de ar do ambiente deve circular em sua totalidade pelos dutos com
UV - ou aplicadas na parte superior do recinto, para minimizar a quantidade de bacilo no ar,
enquanto evita-se a exposição direta das pessoas à radiação. Menos eficaz que o filtro HEPA, a
lâmpada UV não é considerada sua substituta, principalmente se o ar contém uma concentração
muito elevada de partículas infectantes. As lâmpadas UV atuam como medida complementar.

Ventiladores de ar

Os ventiladores de ar promovem a agitação do ar e a evaporação do suor, mas frequen-


temente não são capazes de promover a renovação do ar, já que não o retira do ambiente. A
renovação do ar é essencial para a boa higiene, especialmente em ambientes de saúde. Os
ventiladores, entretanto, misturam as camadas do ar dos ambientes, deixando partículas,
como a poeira e o suor, em suspensão (MONTENEGRO, 1984).

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

A atuação do ventilador, portanto, fica limitada à possibilidade de auxílio na saída do


ar por uma janela. Para os ambientes de assistência à tuberculose, o posicionamento adequa-
do do ventilador na sala é importante para a segurança da equipe, assim como a especifica-
ção do equipamento a ser utilizado, com modelo, dimensão e potência adequados.
Conforme mencionado anteriormente, os ventiladores de teto não são indicados para os
ambientes de saúde, pois, ao realizarem a mistura do ar em um recinto, promovem a suspen-
são de partículas que podem comprometer a saúde, embora a evaporação do suor que ele pro-
porciona ofereça melhoria na sensação de conforto dos usuários, oferecendo uma percepção
equivocada de ambiente mais saudável.

Ar condicionado de janela / parede

Os equipamentos de ar condicionado de janela/parede possuem o menor custo entre os


equipamentos de refrigeração do ar. Na verdade não condicionam o ar, destinando-se ape-
nas à redução de sua temperatura, promovendo a diminuição da umidade e a recirculação do
ar no ambiente que, no entanto, é renovado apenas quando se abre uma porta, por exemplo.
Alguns modelos podem renovar o ar de modo contínuo, entretanto, deve-se verificar com o
fabricante a taxa de renovação proporcionada e conferir se ela é adequada ao ambiente em
questão. De um modo geral, não se indica o uso de equipamentos de ar-condicionado de jane-
la/parede nos ambientes de tratamento à tuberculose, pois estes não são capazes de estabe-
lecer um adequado sistema de ventilação para os recintos.
O equipamento normalmente possui apenas filtro comum (grosso), que retém partícu-
las de poeira e deve ser higienizado e substituído constantemente, para garantir a qualidade
mínima do ar. Deve-se evitar posicionar o ar-condicionado de janela/parede em fachadas
com incidência solar muito forte, de modo a não diminuir sua eficiência, assim como evitar
que o motor do equipamento esteja voltado para um ambiente fechado, como circulações.

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Equipamentos coadjuvantes

Split-system

Os equipamentos do tipo Split-system se assemelham ao ar-condicionado de janela


convencional, entretanto, a diferença principal é que se dividem em dois módulos: a unidade
externa (compressora e condensadora), que se localiza fora do ambiente e a interna (ventila-
dora e evaporadora), que se localiza no interior do ambiente e é responsável pela saída do ar
refrigerado. Por esse motivo, este tipo de refrigeração é normalmente mais silencioso.
O split-system convencional não permite a troca de ar, entretanto, hoje existem alguns
modelos já dotados de renovação do ar, segundo os fabricantes. Apesar disso, deve-se estar
atento à taxa dessa troca de ar, pois, como já visto, os ambientes de atendimento à tubercu-
lose exigem de 6 a 12 trocas de ar por hora.
Podem ser acoplados filtros e ser instalados na parede ou no teto. É importante lembrar
que existem distâncias máximas permitidas no sentido vertical e horizontal entre as duas uni-
dades, a externa e a interna.
Caso seja desejada maior taxa de renovação do ar, é necessária a instalação de, além
do split, ventilador que capte o ar externo e o insufle dentro do ambiente, e um exaustor, para
realizar a retirada do ar interno.

Ar-condicionado central

Os sistemas de ar-condicionado central, também denominados self-contained, são os


mais indicados em termos de qualidade do ar, pois neles existem a captação do ar externo
(que deve ser feita em local adequado) e a exaustão de parte do ar do ambiente, promovendo
a sua renovação. Outra vantagem é o fato de não interferirem na fachada das edificações.
O condicionamento de ar central deve ser composto de filtros adequados ao tratamen-
to desejado para o ar. Pode-se citar como pontos negativos o custo elevado de aquisição e

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

manutenção, para garantir o funcionamento adequado do sistema e a qualidade do ar.


É fundamental que o ar proveniente de locais onde são atendidos pacientes com tuber-
culose não circule nas demais áreas da unidade. Portanto, caso o ar condicionado central
seja utilizado, deverá possuir sistema exclusivo e independente em relação ao sistema de ar-
condicionado de outros setores.
A Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), vinculada ao Ministério da Saúde, publicou
uma nota técnica denominada “Ações de Engenharia em Saúde Pública para o Atendimento
de Casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave – SRAG”, na qual fornece orientações sobre os
sistemas de ventilação nas unidades de isolamento. Nesse documento, a respeito da refrige-
ração do ar, a Funasa não recomenda a utilização de equipamentos do tipo ar-condicionado
de janela ou split, e observa que nesses aparelhos o insuflamento e o retorno do ar acontecem
no mesmo local no ambiente, gerando turbulência no ar e impedindo o fluxo unidirecional
recomendado para o insuflamento e a exaustão do ar.
Em 2008, a norma da ABNT NBR 6401, sobre instalações centrais de ares-condicionados
para conforto, de 1980, foi cancelada e substituída pela NBR 1640-1, 1640-2 e 1640-3 –
Instalações de Ar-condicionado, representando um avanço nas recomendações relacionadas
à qualidade do ar nos estabelecimentos.

Exaustor axial

O exaustor axial objetiva a extração do ar do interior de um ambiente para o exterior, de


modo a promover a renovação mecânica do ar. O ar extraído é naturalmente substituído pela
mesma quantidade de ar proveniente do exterior (através de aberturas, como portas, janelas
ou frestas). Estão disponíveis no mercado diversos modelos, com tamanhos e vazões variadas.

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Equipamentos coadjuvantes

Exaustor eólico

O exaustor eólico realiza a retirada do ar quente do interior dos compartimentos, quan-


do suas palhetas são giradas devido à ação dos ventos. Na ausência de vento, o equipamento
age devido ao diferencial de temperatura externa e interna – a massa de ar quente, por ser
mais leve, sobe e movimenta o exaustor. O exaustor eólico não utiliza energia elétrica.
Para um adequado desempenho do exaustor eólico, é importante haver entradas de ar
(por meio de janelas, basculantes, portas e/ou elementos vazados), em quantidade propor-
cional às dimensões do ambiente. Quando possível, as tomadas de ar devem estar posiciona-
das mais próximas do piso, e distantes dos exaustores. O exaustor eólico pode ser encontrado
em alumínio e policarbonato, este último contribuindo para a melhoria da iluminação natural
do local. Pode atingir vazão de até 4.000 m³/h por equipamento.
Vale destacar que as informações aqui fornecidas em relação aos equipamentos são
genéricas e não substituem a consulta a um engenheiro mecânico, profissional habilitado para
a realização dos projetos dos sistemas de ventilação mecânica.

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·8·
Situações comuns em estabelecimentos
assistenciais de saúde

Em estabelecimentos assistenciais de saúde é comum se identificar configurações


da arquitetura que contribuem para situações de riscos e/ou desconforto de seus
usuários. Especialmente quando se trata de estabelecimentos públicos, é usual o arquiteto
deparar-se com edificações que foram adaptadas para serem unidades de saúde, limitando a
possibilidade de atuação do profissional na concepção de ambientes com qualidade. A análi-
se das situações frequentemente encontradas objetiva aproximar as questões tratadas nesta
publicação do cotidiano do profissional, auxiliando na percepção de que as adequações ne-
cessárias aos ambientes possam ser simples.
As imagens apresentadas a seguir são de ambientes de tratamento da tuberculose, em
unidades de diferentes regiões do país onde o Fundo Global atua. Cada grupo de imagens será
analisado em seus aspectos negativos, sendo comentadas as suas principais deficiências, de
modo a contribuir com a reflexão acerca da qualidade dos ambientes produzidos.
Vale relembrar que não há uma solução única ou um modelo que possa ser replicado
sem contextualização. Cada caso terá uma solução adequada específica, que responda às
variáveis ambientais e às limitações presentes no local. Neste cenário, a capacidade de iden-
tificação dos problemas e a escolha da solução mais adequada, incorporando as diretrizes já
mencionadas, são relevantes para a melhoria da qualidade dos ambientes.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Situações nº 01, 02 e 03

Figura 17 – Sala de espera. Figura 18 – Quarto. Figura 19 – Circulação (com


Fonte: Fundo Global. Fonte: Fundo Global. espera). Fonte: Fundo Global.

Aspectos negativos: Ausência de ventilação e iluminação naturais.


Em ambientes enclausurados, sem aberturas para o exterior (ou sistema de ventilação
artificial) não ocorre a renovação natural do ar, nas taxas preconizadas para os ambientes
de tratamento da tuberculose. Caso não seja possível a realocação do setor na unidade ou
a criação de aberturas para o exterior, deve-se utilizar equipamentos que promovam um
sistema de ventilação adequado às atividades desenvolvidas no ambiente.

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Situações comuns em estabelecimentos assistenciais de saúde

Situações nº 04 e 05

Figura 20 – Croqui da Figura 21 – Sala de espera e recepção. Figura 22 – Quarto.


sala de espera e recepção. Fonte: Fundo Global. Fonte: Fundo Global.
Fonte: Fundo Global.

Aspectos negativos: Ausência de ventilação cruzada.


Em alguns casos, quando a permanência de pessoas no ambiente é prolongada ou a
quantidade de indivíduos é grande, a existência de apenas um vão no ambiente é insuficiente
para a qualidade do ar. É importante que se crie condições para que o ar seja renovado.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Situações nº 06, 07 e 08

Figuras 23 e 24 – Sala de espera. Fonte: Fundo Global. Figura 25 – Circulação (com


espera). Fonte: Fundo Global.

Aspectos negativos: Sala de espera compartilhada com diferentes especialidades e/ou


sobreposição dos usos de circulação e espera.
A aglomeração de pessoas somada à ausência de janelas criam condições favoráveis
para a transmissão da tuberculose.

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Situações comuns em estabelecimentos assistenciais de saúde

Situações nº 09, 10 e 11

Figura 26 – Consultório. Figura 27 – Sala para coleta de Figura 28 – Consultório.


Fonte: Fundo Global. escarro. Fonte: Fundo Global. Fonte: Fundo Global.

Aspectos negativos: Uso inadequado de ventiladores.


O posicionamento inadequado do ventilador na sala pode dificultar a saída do ar para
a área externa, por meio da janela. O ar contaminado fica disperso no ambiente ou pode ser
direcionado para o sentido oposto, aumentando o risco de contaminação.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Situações nº 12, 13, 14, 15, 16 e 17

Figura 29 – Sala de procedi- Figura 30 – Posto de enfermagem.


mentos. Fonte: Fundo Global. Fonte: Fundo Global.

Figura 31 – Consultório. Figura 32 – Sala de espera.


Fonte: Fundo Global. Fonte: Fundo Global.

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Situações comuns em estabelecimentos assistenciais de saúde

Figura 33 – Quarto. Figura 34 – Circulação de enfer-


Fonte: Fundo Global. marias. Fonte: Fundo Global.

Aspectos negativos: Iluminação e ventilação naturais existentes, porém pouco


eficientes.
Nos casos acima, a área útil dos vãos das janelas é reduzida, insuficiente para o
ambiente, ou ainda, as janelas não abrem diretamente para o exterior, mas para um corredor
(ventilação indireta). Quando instalada em altura inadequada, a janela pode não favorecer
a criação dos fluxos de ar desejados. Deste modo, a troca de ar é reduzida. Percebe-se ainda,
nas imagens acima, que a iluminação natural poderia ser incrementada. Para contornar
este tipo de situação, o arquiteto pode projetar o aumento do vão ou a troca do modelo de
esquadria, com cuidado para que não haja comprometimento da privacidade.

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Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Situações nº 18, 19 e 20

Figuras 35, 36, 37 – Quartos de isolamento. Fonte: Fundo Global.

Aspectos negativos: Isolamento compartilhado, sem pressão negativa e antecâmara.


Na situação nº 18, o quarto possui equipamento de split-system, não permitindo a
renovação do ar adequada para o local.
Nas situações nº 19 e 20, o isolamento é tratado como uma enfermaria convencional,
tendo aberturas livres e comunicação com outros quartos.
Conforme mencionado anteriormente, recomenda-se que o quarto de isolamento seja
individual, com acesso e condições ambientais controladas, uma vez que propiciam risco de
infecção elevado.

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Situações comuns em estabelecimentos assistenciais de saúde

Situações nº 21, 22 e 23

Figura 38 – Sala de espera. Figura 39 – Fachada. Figura 40 – Consultório.


Fonte: Fundo Global. Fonte: Fundo Global. Fonte: Fundo Global.

Aspectos negativos: Modelos de esquadrias que promovem fluxo de ar reduzido ou com


elementos que dificultam a ventilação.
Dividir uma grande abertura em várias aberturas menores pode reduzir a eficiência
esperada para uma esquadria, assim como a inserção elementos que possam dificultar o
grande fluxo de ar, como grades e muros com pouco afastamento da edificação.
Não apenas a posição e as dimensões das aberturas são relevantes para a ventilação dos
ambientes, mas também o modelo de esquadria adotado, pois o mesmo poderá maximizar ou
minimizar a circulação de ar.
Na situação nº 21, poderia ser realizada a abertura de vãos de acesso para a área ex-
terna, aproveitando-se o jardim existente na lateral do edifício para a realização da espera,
solução mais agradável e mais segura.

· 97 ·
·9·
Aspectos normativos

9.1. A arquitetura de ambientes de saúde e as normas técnicas

No Brasil, o Ministério da Saúde iniciou a normatização dos projetos físicos do setor em


meados da década de 60. A importância da elaboração de normas ou recomendações
para os projetos de ambientes de saúde é evidente e a complexidade ou o desconhecimento do
tema pode produzir soluções inadequadas, que oferecem risco aos usuários. A especificidade
de tais projetos demanda orientação e cuidado.
As principais publicações do Ministério da Saúde para os projetos de estabelecimentos
de saúde são (em ordem cronológica):
1965| Projeto de normas disciplinadoras das construções hospitalares
1974| Normas de Construção e Instalação do Hospital Geral
1977| Portaria nº400 de 06 de dezembro de 1977
1994| Portaria nº1884 de 11/11/94 - Normas para projetos físicos de estabelecimentos
assistenciais de saúde
2002| Resolução – RDC nº50 de 21 de fevereiro de 2002 – Regulamento Técnico para o
Planejamento, Programação, Elaboração e Avaliação de Projetos Físicos de Estabelecimentos
Assistenciais de Saúde.

· 99 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

A RDC nº50/2002, é uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária que esta-
belece os parâmetros mínimos para o planejamento dos estabelecimentos de saúde, públicos
ou privados, obrigatórios em todo o território nacional, abrangendo as construções novas, as
ampliações e as reformas. Esta norma contempla a edificação hospitalar como um todo, onde
os ambientes são apresentados de acordo com sua atribuição no estabelecimento. Atribuição
é o “conjunto de atividades e subatividades específicas, que correspondem a uma descrição
sinóptica da organização técnica do trabalho na assistência à saúde” (BRASIL, 2002). Cada
atribuição se desdobra em Unidades Funcionais, que representam o “conjunto de atividades e
subatividades pertencentes a uma mesma atribuição”, que então se desdobram nos ambien-
tes propriamente ditos, identificados pelo “espaço fisicamente determinado e especializado
para o desenvolvimento de determinada(s) atividade(s), caracterizado por dimensões e ins-
talações diferenciadas”, podendo ser definido por uma sala ou área (BRASIL, 2002).
Nesse documento, não há recomendações específicas para os ambientes de tratamento
da tuberculose, entretanto, neste caso, as recomendações mínimas aplicáveis a esse locais
são as mesmas para os demais setores, como no caso das recomendações para os quartos de
isolamento, consultórios, enfermarias, entre outros.
Para os quartos privativos de isolamento, que são aqueles destinados a “internar
pacientes suspeitos ou portadores de doenças transmissíveis ou proteger pacientes altamen-
te suscetíveis (imunodeprimidos ou imunosuprimidos)” (BRASIL, 2002), encontram-se, por
exemplo, as seguintes recomendações:

“(O quarto privativo de isolamento) é obrigatório somente nos casos de


necessidade de isolamento de substâncias corporais infectantes ou de blo-
queio; nesses casos deve ser dotado de banheiro privativo (com lavatório,
chuveiro e vaso sanitário), exceto UTI, e de ambiente específico com pia e
armários estanques para roupa e materiais limpo e sujo anterior ao quarto

· 100 ·
Aspectos normativos

(não necessariamente uma antecâmara). O quarto privativo no EAS tem


flexibilidade para, sempre que for requerida proteção coletiva (PC), operar
prontamente como isolamento. Poderá, ainda, atuar como isolamento de
substâncias corporais (ISC) e como isolamento de bloqueio (IB), se instalar-
se sistema de abertura de porta por comando de pé ou outro, que evite tocar
na maçaneta.”

A RDC 50/2002 ainda aborda os níveis de biossegurança em laboratórios, entre eles o


Nível de Biossegurança 3 (NB3), classificação correspondente ao bacilo da tuberculose:

“No Nível de Biossegurança 3, enfatizamos mais as barreiras primárias e


secundárias para protegermos os funcionários de áreas contíguas, a comu-
nidade e o meio ambiente contra a exposição aos aerossóis potencialmente
infecciosos. Por exemplo, todas as manipulações laboratoriais deverão ser
realizadas em uma CSB (Cabine de Segurança Biológica) ou em um outro
equipamento de contenção como uma câmara hermética de geração de
aerossóis. As barreiras secundárias para esse nível incluem o acesso contro-
lado ao laboratório e sistemas de ventilação que minimizam a liberação de
aerossóis infecciosos do laboratório”.

Sobre as instalações necessárias para o NB3 estão ainda as seguintes recomendações:

“– Separação física dos corredores de acesso.


– Portas de acesso duplas com fechamento automático.
– Ar de exaustão não recirculante.
– Fluxo de ar negativo dentro do laboratório”.

· 101 ·
Recomendações para projetos de arquitetura de ambientes de tratamento da tuberculose

Também pertinentes ao trabalho do arquiteto, são as normas da Associação Brasileira


de Normas Técnicas (ABNT), referentes à iluminância de interiores – NBR 5413, de 1992; aos
níveis de ruído para conforto acústico – NBR 10152, de 1987 e, do Ministério do Trabalho e
Emprego, a Norma Regulamentadora nº 17 – NR17, de 1978, que trata da Ergonomia, entre
outras (comentadas no item 6).
O Ministério da Saúde também possui publicações que, apesar de não se constituí-
rem normas, contém recomendações relevantes para o planejamento dos estabelecimentos
de assistência à saúde e estão disponíveis na internet. Outros documentos publicados pelo
Ministério, acerca da Tuberculose, embora não se refiram especificamente ao ambiente físico,
auxiliam no maior entendimento sobre a doença. São alguns deles:
– Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil (BRASIL, 2010)
– Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2005)
– Tuberculose Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2002)

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Anotações

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Impressão e Acabamento
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Tel. 21 2573-7342 • 3868-4504
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