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Afogando Mágoas Na Cidade dos Sonhos

Despedida Em Las Vegas é, mais ou menos, o filme da minha vida. Exceto


pelo fato de eu nunca ter estado em Vegas e outros milhares de detalhes
absolutamente descontextualizados, importa tão-somente que, para mim, trata-se
de uma metáfora ao pé da letra, seja lá o que isso signifique. O personagem vivido
por Nicolas Cage é um cara de meia-idade que perdeu o fio-da-meada da vida,
arruinou casamento, trabalho, e se encontra pronto para realizar seu último projeto:
foder com o resto de sua vida. É nesse plano suicida que Las Vegas entra no mapa
dos destinos, não como parque de diversões para adultos mas como fim da linha de
uma existência jogada no lixo. Beber até morrer passa a ser o objetivo desse sujeito
pra lá de excêntrico e inclassificável. Parece lindo, mas não é.
Isso aqui não é uma crônica de cinema, então não vou me dar ao trabalho de
entrar em detalhes sobre quem dirigiu, quantos Oscar ganhor, etc.. Isso aqui é
apenas uma tergivesação inútil e pretensiosa sobre um personagem de filme. Nada
além disso, ou nem isso, pra dizer a verdade. Apenas algumas obsessões sobre
cinema sem dar a mínima para aquela baboseira crítica.
É claro que não dá pra falar desse filme sem primeiro abrir uma garrafa. Ou
primeiro abrir a garrafa para depois dele falar. Tanto faz.
No meu caso particular, o filme em questão traz o seguinte dilema: se a tua
vida virou uma merda o que de fato vai fazer você levantar da cama todas as
manhãs para recomeçar? Se as coisas que te estruturam, como mulher, filhos e
trabalho, não dão mais certo, o que ainda pode funcionar? Se o prazer do álcool
tomou o lugar de todas as outras realizações, como não fazer com que novas
recaídas te façam descer de novo ao fundo do poço todas as manhãs?
Não estou para julgar, longe disso, e me parece que o buraco é mais embaixo.
Não vou aqui dizer se o cara no filme conseguiu levar seu plano até o fim, para não
estragar a sessão de quem ainda não viu, só quero apontar para essa condição
fudida na qual todos nós estamos enfiados: a maldita condição humana e seu jogo
sórdico com a morte, para quem sempre perderemos no final.
E claro que no meio disso tudo tinha que aparecer uma mulher, e não apenas
uma​, mas a belíssima Elisabeth Shue, no auge da beleza e esbanjando charminho
com roupas de couro e cabelos louros presos em belíssimas tranças. Ela tá mesmo
um verdadeiro tesão! E o seu personagem, de uma prostituta “de férias” na cidade
dos jogos, acaba trombando com o pobre coitado em linha desviante e sem volta.
Eles até formam um belo casal e os planos de ambos, de alguma forma, se juntam e
parecem produzir suas conexões plausíveis. A puta e o bêbado.. Mas não por muito
tempo.
O melhor disso tudo, meio que fechando essa cachaça (sem duplo sentido), é
que Cage tá muito foda e convincente e Shue levou o Oscar de Melhor Atriz
daquele ano de 1995.
No mais, recomendo para assistir em vésperas de Ano Novo, para inspirar
planos e projetos. Eu, pelo menos, não passo uma Virada sem revê-lo e assim me
consolar diante de belas imagens de sentimentalismos & desilusões.

G.D.S.

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