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DIREITO PENAL

Princípios IV – BIS IN IDEM


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PRINCÍPIOS IV – BIS IN IDEM

PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM

De maneira geral, o princípio do ne bis in idem – também denominado como non bis in
idem ou simplesmente proibição do bis in idem –, veda a dupla punição por um mesmo fato,
de modo que o agente não poderá ser processado, julgado e condenado mais de uma vez
pela mesma conduta. Através desse princípio determina-se também que o mesmo fato não
pode ser considerado em dois momentos distintos da dosimetria da pena, aumentando-a
duas vezes em uma mesma sentença.

O princípio do ne bis in idem pode ser analisado sob 3 aspectos:

1. Processual: ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo fato.
De acordo com esse aspecto, caso determinado sujeito seja absolvido com sentença
transitada em julgado por crime de homicídio, por exemplo, e após determinado período
surjam novas provas que levem a polícia ou o Ministério Público a acreditarem que o sujeito
tenha, de fato, praticado o crime, este não poderá ser denunciado novamente,dado o fato de
o sujeito já ter sido processado, julgado e absolvido em sentença condenatória transitada em
julgado por esse fato.
2. Material: ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo fato.
Em razão do aspecto material, quando existirem duas ações penais concorrendo conjun-
tamente sobre o um mesmo fato, estas devem ser unificadas, posto que ninguém pode ser
processado ou condenado duas veze por uma mesma conduta.
3. Execucional: ninguém pode sofrer execução penal duas vezes por condenações rela-
cionadas ao mesmo fato.

EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM


5m

Em sua Parte Geral, ao tratar sobre a extraterritorialidade, o art. 8º do Código Penal apre-
senta a seguinte exceção à aplicação do o princípio do ne bis in idem:

Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quan-
do diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
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A fim de compreender melhor o artigo acima apresentado imaginemos a seguinte situ-


ação: determinado cidadão, residente no Japão, pratica o crime de tentativa de homicídio
contra o Presidente da República Federativa do Brasil durante uma visita do político ao país
estrangeiro. No ato do cometimento do crime o sujeito é preso pela polícia japonesa e, pos-
teriormente, condenado pela justiça do país a dez anos de reclusão, cumprindo a sentença
integralmente. No entanto, os crimes praticados contra a vida do Presidente da República
são considerados crimes de extraterritorialidade incondicionada, de modo que a lei penal
brasileira será aplicada independentemente de qualquer condição. Nesse sentido, ainda que
o indivíduo tenha sido processado, julgado, condenado e cumprido pena no estrangeiro, a
justiça brasileira também o processa e o condena pelo mesmo fato, dessa vez a vinte anos
de prisão, pena que deverá ser cumprida no país através do pedido de extradição do sujeito,
por exemplo.
Observe que, nessa situação, como o art. 8º do Código Penal determina que a pena cum-
prida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, o sujeito condenado
a vinte anos de prisão no Brasil terá a sua pena reduzida para dez anos por já ter cumprido
outros dez no Japão.

SÚMULA 241 DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Referente à teoria da aplicação da pena, a Súmula 241 do Supremo Tribunal de Justiça


(STJ) determina que:

Súmula 241. A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, si-
multaneamente, como circunstância judicial.
10m

Em relação ao estabelecido pela súmula apresentada, é importante destacar que existem


três fases a serem executadas pelo juiz no que se refere à aplicação de uma pena:
• Primeira fase: análise das circunstâncias judiciais;
• Segunda fase: análise dos agravantes e atenuantes; e
• Terceira fase: análise das causas de aumento e diminuição da pena.
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Ocorre que a reincidência penal é um agravante, de modo que será analisada na segunda
fase da dosimetria da pena. Entretanto, conforme exposto acima, na primeira fase são ana-
lisadas as circunstâncias judiciais, presentes no art. 59 do Código Penal, encontrando-se,
dentre elas, os antecedentes do réu:

Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento
da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime:
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV – a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

Nesse sentido, a súmula 241 do STJ determina que a reincidência penal deverá ser
levada em consideração apenas em um momento da dosimetria da pena, ou seja, não poderá
ser analisada na primeira e também na segunda fase. Assim, o juiz não poderá aumentar a
pena do réu na primeira fase em razão dos maus antecedentes por este ser reincidente e,
na segunda fase, querer aumentá-la novamente emface da reincidência penal; caso isso
ocorresse se estaria diante de bis in idem: a mesma circunstância sendo analisada e prejudi-
cando o réu em dois momentos distintos.
Todavia, supondo-se que o agente tenha sido condenado pelos crimes A, B e C, por
exemplo, sendo considerado, desse modo, como multirreincidente, a condenação pelo crime
A poderá ser aplicada para aagravante da reincidência (relativa à segunda fase da dosime-
tria da pena) e a condenação referente ao crime B para a aplicação dos maus anteceden-
tes (análise verificada na primeira fase da dosimetria), conforme determinado pelo entendi-
mento do STJ:

Inexiste bis in idem se a pena-base do paciente foi aumentada por força dos maus antecedentes,
fazendo-se referência a determinadas condenações, e, na segunda fase, incidiu a agravante da
reincidência em decorrência de outra condenação diversa.
(HC 359871/SP. Julgamento em 27/09/2016).
15m

Ainda no que se refere ao tema em análise, cabe apontar que não caracteriza bis in idem:

1. A aplicação da agravante da reincidência (STF, RE 453.000/RS, 03/10/2013).


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Obs.: inúmeras teses defensivas foram apresentadas aos tribunais superiores sob a alega-
ção que a agravante da reincidência não deveria existir, posto que esta seria incons-
titucional por desrespeitar a proibição do bis in idem. Essa compreensão decorre do
pensamento de que (ao aplicar a agravante por reincidência ao agente que houvera
praticado um crime anteriormente e cumprira a pena determinada em sua integra-
lidade, aumentando a punição relativa à nova pena) se estaria punindo o indivíduo
duas vezes pelo mesmo fato. No entanto, no Recurso Extraordinário n. 453.000, o
Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento de que a aplicação da agravante
da reincidência não caracteriza o bis in idem, possuindo previsão legal, de maneira
que, em que pese a reincidência ser levada em consideração, o sujeito é punido de
maneira agravada por um novo fato por ele praticado.

2. A condenação simultânea por roubo majorado pelo emprego de arma de fogo e por
associação criminosa armada, porque cada tipo penal visa à proteção de bem jurídico espe-
cífico (patrimônio e paz pública, respectivamente), não havendo relação de dependência
entre elas. (STF, HC 113.413/SP, 12/11/2012)

Obs.: em seu art. 288, o Código Penal trata sobre o crime de associação criminosa, apre-
sentando, no parágrafo único do mesmo artigo, a associação criminosa armada como
qualificadora, conforme reproduzido a seguir:

Associação Criminosa

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a
participação de criança ou adolescente.

O crime de roubo simples, por sua vez, é previsto pelo art. 157 do mesmo Código, sendo
o roubo com o emprego de arma de fogo caracterizado tanto pelo art. 157, § 2º-A, inciso I,
quanto pelo art. 157, § 2º-B:

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
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Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.


(...)
§ 2º-A. A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum
§ 2º-B.Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
20m

Dado o exposto, as teses defensivas argumentavam que haveria a presença de bis in


idem tanto em relação ao roubo à mão armada em um contexto de associação criminosa,
relativo à aplicação do parágrafo único do art. 288, como no que se refere ao aumento da
pena de roubo efetuado nessa circunstância, presente no art. 157. Entretanto, com o HC
113.413, o Supremo Tribunal Federal entendeu que apesar do fato de a arma de fogo estar
sendo levada em consideração tanto na associação criminosa quanto no roubo, agravando
as duas espécies condutas, estes são crimes que atingem bens jurídicos distintos, configu-
rando-se em delitos autônomos. Logo, a associação criminosa armada responde pelo pará-
grafo único do art. 288 e, caso venha a praticar roubo com o emprego de arma de fogo, res-
ponderá também pelo art. 157, § 2º-A ou 2º-B.

3. A condenação de roubo circunstanciado pelo concurso de agentes (art. 157, § 2º, II)
cumulada com a condenação pelo crime de corrupção de menores (art. 244-B, ECA),
na situação em que um maior de idade pratica o crime patrimonial em conluio com um
menor de idade. São condutas autônomas e independentes, que atingem bens jurídicos
distintos (patrimônio e formação moral do menor). (STJ, HC 362.726/SP, Dje 06/09/2016)

Obs.: o menor que pratica roubo em conluio com um maior de idade responderá por ato in-
fracional análogo ao crime de roubo, majorado pelo concurso de pessoas. Já o sujei-
to maior de idade responderá pelo art. 157, § 2º, inciso II, do Código Penal e também
pelo art. 244-B do ECA, ambos reproduzidos a seguir, sem que isso configure bis in
idem, conforme o entendimento apresentado pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
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(...)
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
(...)
III – se há o concurso de duas ou mais pessoas;

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando
infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas
utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet.
§ 2º As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração
cometida ou induzida estar incluída no rol do art. 1º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990.

DIRETO DO CONCURSO
1. (AGU/2009) Julgue o item subsequente, acerca dos crimes contra a administração pública.
Segundo entendimento do STJ em relação ao crime de peculato, configura bis in idem a
aplicação da circunstância agravante de ter o crime sido praticado com violação de dever
inerente a cargo.
25m

COMENTÁRIO
O crime de peculato é um crime funcional/próprio, de modo que somente poderá ser
praticado por funcionário público, consistindo, dessa maneira, a violação de dever inerente
a cargo em uma elementar dessa espécie de crime. Nesse sentido, caso a pena relativa ao
crime de peculato seja aplicada em conjunto com a agravante de o crime ter sido praticado
com violação de dever inerente a cargo, estar-se-á considerando essa violação em dois
momentos da dosimetria da pena, desrespeitando o princípio do bis in idem.

2. (CESPE/TJ-RO/2012) Com relação aos princípios aplicáveis ao direito penal, julgue o


item a seguir.
De acordo com o princípio ne bis in idem, o agente não pode ser responsabilizado por
dois ou mais crimes, caso tenha praticado apenas uma única conduta.
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COMENTÁRIO
A contrário do que afirma o item da questão, é possível que o agente possa ser
responsabilizado por dois ou mais crimes, embora tenha praticado apenas uma única
conduta, é o que se denomina como concurso formal de crimes: mediante uma ação ou
omissão, dois ou mais delitos são praticados.

3. (CESPE/PC-GO/2017) É vedada a imposição de multa por infração administrativa am-


biental cominada com multa a título de sanção penal pelo mesmo fato motivador, por
violação ao princípio do non bis in idem.
30m

COMENTÁRIO
A imposição de multa por infração administrativa consiste, como pode-se inferir, em uma
pena da esfera administrativa, enquanto a multa a título de sanção penal refere-se a uma
pena relativa à esfera penal. Nesse sentido, a imposição dessas multas em cominação
não viola o princípio do non bis in idem, posto que se está diante de esferas distintas: o
bis in idem ocorrerá apenas quando o agente vier a ser punido, processado, julgado e/ou
condenado pelo mesmo fato dentro da esfera penal.

GABARITO
1. C
2. E
3. E

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Erico de Barros Palazzo.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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