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Capı́tulo 4

r
Ca
Produtos e aplicações

Palavras-chave: produto escalar, produto vetorial, produto misto, vetores ortogo-

FS
nais, base ortogonal, base ortonormal, ângulos, distâncias, projeção ortogonal, área de
paralelogramo, volume de paralelepı́pedo, retas perpendiculares no plano, vetor normal a
plano
-U
4.1 Produtos escalares
Neste tópico iremos estudar um novo tipo de operação entre vetores do plano e do
espaço. Vamos fazer inicialmente uma consideração geométrica, como segue.
DM

Seja um triângulo ABC com medidas dos lados a, b e c.


C C
b b C
b

b a
a a b
b
b
A Â

b b b b b b b b
A c B A cD B D A c B
b Podemos
A lei dos cossenos da geometria plana estabelece que a2 = b2 +c2 −2bc cos A.
b é reto, o triângulo é
ver as possı́veis situações na figura acima. Quando o ângulo A
retângulo com catetos b e c e hipotenusa a, e a lei acima se reduz ao Teorema de Pitágoras:

175
176

b não é reto, considere o ponto D na reta AB, de forma que


a2 = b2 + c2 . Quando A
b seja reto. Temos que a2 = (b sen A)
B DC b 2 + |−−→
DB|2 = b2 sen2 Ab + (c − b cos A)
b2 =
b + cos2 A)
b2 (sen2 A b + c2 − bc cos A
b = b2 + c2 − 2bc cos A.
b
−→ −→
Usando linguagem vetorial, podemos considerar os vetores ~u = AB, ~v = AC e
−−→
w
~ = BC, de modo que |~u| = c, |~v | = b e |w|
~ = a.
−−→ −→ −→
Temos BC = AC − AB e portanto w ~ = ~v − ~u.

r
C
b
Cb
C

Ca
b

~v w
~ = ~v − ~u ~v w
~ w
~
~v
b
A b
A b
A
b
~u b Ab ~u b Ab ~u bB
B
A b=0 B
cos A b>0
cos A b<0
cos A

FS
Definindo o ângulo entre dois vetores ~u e ~v como o ângulo formado pelas semirre-
tas com origem num ponto e determinadas pelos vetores, podemos reescrever a lei dos
cossenos na forma:
−→ −→
AB |{z}
|{z} AC
2 2 2
|~v − ~u| = |~v| + |~u| − 2|~v ||~u| cos ∡( ~u , ~v )
-U
Assim, os vetores ~u e ~v têm direções perpendiculares entre si quando |~v ||~u| cos ∡(~u, ~v ) =
0.
Definição: O produto escalar entre dois vetores ~u e ~v é definido como o número real
DM

|~u||~v| cos ∡(~u, ~v) e é denotado por ~u · ~v ou < ~u, ~v >.


Obs: A notação ~u · ~v é mais comum em livros de Cálculo e Fı́sica, enquanto que a
notação < ~u, ~v > aparece nos livros de Álgebra Linear. Aqui vamos usar a notação ~u · ~v.
A notação com ponto (ponto = “dot”, em inglês) dá o nome ao comando no programa
Octave: “dot(u,v)” é usado para calcular o produto escalar entre os vetores u e v.
É claro que se ~u ou ~v for nulo temos ~u · ~v = 0. No caso de ambos não nulos, ~u · ~v = 0
se, e somente se, cos ∡(~u, ~v ) = 0.
Definição: Dois vetores ~u e ~v são ortogonais se ~u · ~v = 0. Notação: ~u ⊥ ~v
177

Observamos que, com a definição acima, o vetor nulo é ortogonal (já era paralelo) a
qualquer vetor do seu ambiente.
Mais geralmente, o produto escalar ~u · ~vpermite  calcular a medida do ângulo entre
~u · ~v
os vetores ~u e ~v , fazendo ∡(~u, ~v ) = arccos . Convencionamos tomar a medida
|~u||~v|
do ângulo entre dois vetores não nulos sempre entre 0 e π radianos.
O ângulo entre ~u e ~v é agudo (entre 0 e π/2) se ~u · ~v > 0 e obtuso (entre π/2 e π)

r
se ~u · ~v < 0.

Ca
4.1.1 Produto escalar em um sistema de coordenadas

O Cálculo do produto escalar entre dois vetores fica extremamente simples se estes
vetores são dados em sistemas de coordenadas cartesianas ortogonais.

y2 Q(x , y )
• 2 2
FS
No plano R2 , se ~u = (x1 , y1 ) e ~v = (x2 , y2 ) então ~u · ~v = x1 y1 + x2 y2 .

De fato:
Sejam P = (x1 , y1 ) e Q = (x2 , y2) de modo que
−→ −→
-U
w
~ OP = ~u e OQ = ~v
~v
Seja θ o ângulo entre ~u e ~v .
y1 • P (x1 , y1 ) Então ֒→
θ
b
~u −→
O x2 x1 w
~ = ~v − ~u = P Q = Q − P = (x2 − x1 , y2 − y1 ).
DM

Escrevendo a lei dos cossenos para o triângulo OP Q, temos

(x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 = [x21 + y12 ] + [x22 + y22] − 2~u · ~v


−→ 2 −→ 2 −→ 2 −→ −→
|P Q| = |OP | + |OQ| − 2|OP ||OQ| cos θ

Desenvolvendo, temos: x22 − 2x1 x2 + x21 + y 22 − 2y1 y2 + y 21 = x22 + y 22 + x21 + y 21 − 2~u ·~v,
donde −2(x1 x2 + y1 y2 ) = −2~u · ~v .
Logo,
~u · ~v = (x1 , y1 ) · (x2 , y2 ) = x1 x2 + y1 y2
178

e
x1 x2 + y1 y2
cos(θ) = cos ∡(~u, ~v ) = p 2 p .
x1 + y12 x22 + y22

No espaço R3 , se ~u = (x1 , y1 , z1 ) e ~v = (x2 , y2 , z2 ), então ~u · ~v = x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 .


A idéia geométrica é exatamente a mesma do caso plano e a obtenção da fórmula do
cálculo em coordenadas cartesianas ortogonais é análoga. Mostre como exercı́cio.

r
No GeoGebra, podemos calcular o produto escalar entre dois vetores u e v do plano,

Ca
digitando u*v no Campo de Entrada. Não temos vetores no espaço no GeoGebra.
No Octave, como já foi mencionado anteriormente, basta executar dot(u,v), para os
mesmos vetores u e v, que podem ser ambos do plano, ou ambos do espaço.

4.1.2 Propriedades dos produtos escalares

FS
As seguintes propriedades são elementares e a sua verificação é um exercı́cio.

1. ~v · ~v = |~v|2 para todo vetor ~v .

Segue que ~v ·~v ≥ 0 para qualquer vetor ~v e a igualdade só se verifica quando ~v = ~0.
-U
2. ~u · ~v = ~v · ~u (propriedade comutativa)

3. ~u · (~v + w)
~ = ~u · ~v + ~u · w
~ (propriedade distributiva)
DM

Para a verificação, utilize coordenadas.

4. (λ~u) · ~v = ~u · (λ~v) = λ(~u · ~v ), para escalares λ e vetores ~u, ~v .

5. |~u · ~v | ≤ |~u||~v|: Desigualdade de Cauchy-Schwarz

De ~u ·~v = |~u||~v| cos ∡(~u, ~v ) segue a Desigualdade de Cauchy-Schwarz |~u ·~v | ≤ |~u||~v|,
já que | cos ∡(~u, ~v)| ≤ 1.

6. |~u + ~v| ≤ |~u| + |~v|: Desigualdade Triangular


179

Da desigualdade de Cauchy-Schwarz podemos deduzir a chamada Desigualdade


Triangular:

•C |~u + ~v | ≤ |~u| + |~v |

~v O nome da desigualdade vem da Geome-


+ ~v
~u tria Euclidiana:

r
Se A, B e C são vértices de um

Ca
triângulo, então um lado tem medida de
• • comprimento sempre menor que a soma
A ~u B
das medidas dos outros dois lados.
−→ −−→ −→
Se ~u = AB e ~v = BC então o lado AC representa o vetor AC = ~u + ~v. Então

FS
|~u + ~v |2 = (~u + ~v ) · (~u + ~v ) = ~u · ~u + ~u · ~v + ~v · ~u + ~v · ~v = |~u|2 + 2~u · ~v + |~v|2 ,
usando as propriedades distributiva e comutativa do produto escalar e também que
~v · ~v = |~v|2 (exercı́cios!).

Como ~u ·~v ≤ |~u ·~v| (um número real é menor ou igual a seu módulo) e |~u ·~v | ≤ |~u||~v|
-U
(desigualdade de Cauchy-Schwarz), temos:

|~u + ~v|2 = |~u|2 + 2~u · ~v + |~v |2 ≤ |~u|2 + 2|~u||~v| + |~v|2 = (|~u| + |~v|)2 .

Logo, |~u + ~v | ≤ |~u| + |~v |.


DM

A igualdade se verifica se, e somente se, | cos ∡(~u, ~v)| = 1.

Isto significa que ou ∡(~u, ~v) = 0 ou ∡(~u, ~v ) = π, e em ambos os casos, temos que
~u e ~v são paralelos, ou seja, são l.d.

Exemplos e Exercı́cios:

1. Mostre que, no plano, (a, b) ⊥ (−b, a).


Basta mostrar que o produto escalar entre os vetores é 0.
180

2. Quais são todos os vetores (a, b) do plano ortogonais a (2, 3)?


Resp: São vetores (a, b) satisfazendo a equação 2a + 3b = 0: )2 ,3−( ed solpitl mú .

−−→
3. Sejam A = (x0 , y0 ) e ~u = (a, b). Mostre que se AX é ortogonal a ~u, onde
X = (x, y), tem-se que a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = 0. Que objeto geométrico é
representado pelos pontos X que satisfazem essa equação? Represente-o num

r
esboço, relacionando-o com A e ~u
Resp: O objeto é: u~ rotev oa ralucidne pre p é e A ro p assap euq ater a

Ca
4. Seja A = (2, −1). Determine uma equação para descrever os pontos X = (x, y)
pertencentes à reta r que passa por A e é perpendicular à direção dada pelo
vetor ~u = (1, 3).
Resp: 0 = )1 + y(3 + )2 − x(

FS
5. Mostre que se ~u ⊥ ~v , então ~u ⊥ k~v para ∀k ∈ R.

6. Seja a reta r no plano, dada pela equação 2x−3y+4 = 0. Mostre que ~n = (2, −3)
é ortogonal a todos os vetores da reta r.
-U
Considere os vetores da forma ~u = B − A, onde A = (x0 , y0 ) e B = (x1 , y1 ) pertencem
à reta r, isto é, satisfazem a equação da reta, e mostre que ~n · ~u = 0.
Ou então, encontre a equação vetorial da reta, e mostre que o vetor direção da reta é
ortogonal a ~n.
DM

7. Seja w
~ ortogonal a ~u e ~v. Mostre que w
~ é ortogonal a qualquer c.l. de ~u e ~v .
~ · (λ~u + µ~v ) = 0 para ∀λ, µ ∈ R, usando que w
Basta mostrar que w ~ · ~u = w
~ · ~v = 0.
Consequentemente, para mostrar que um vetor é ortogonal a todos os vetores de
um plano, basta mostrar que é ortogonal a dois vetores l.i. do plano.

8. Sejam os vetores ~u = (2, 3, −1) e ~v = (−1, 3, 4). Encontre um vetor w


~ = (a, b, c)
ortogonal a ambos, de módulo 1. Quantas existem?
181

Suponha que w = (x, y, z). Por ser ortogonal a ~u e ~v , deve satisfazer um sistema linear
de 2 equações a 3 variáveis. Resolva, escolha um deles não nulo e calcule o versor.
9. Seja α o plano que passa por P = (3, −2, 1) e é perpendicular ao vetor ~u =
−−→
(3, −1, 5). Se X = (x, y, z) ∈ α, justifique que P X ⊥ ~u. Utilize este fato, para
deduzir uma equação geral do planos α.
Resp: 0 = )1 − z(5 + )2 + y( − )3 − x(3.

r
10. No espaço R3 , cujos pontos têm coordenadas (x, y, z), verifique que a equação

Ca
x = 3 representa o plano perpendicular a ~n = (1, 0, 0).
Resolva a equação para obter a equação vetorial do plano e mostre que os vetores do
plano são ortogonais a ~n.

~ = (a, b, c) é ortogonal a
11. Seja o plano α : ax + by + cz + d = 0. Mostre que N
qualquer vetor do plano α.

−−
→ ~
AB · N
FS
Para isto, tome A = (x0 , y0 , z0 ) e B = (x1 , y1 , z1 ) dois pontos do plano e mostre que
= 0, utilizando que os pontos do plano satisfazem a equação do plano.

−−→
-U
12. Seja X = (x, y, z) um ponto do espaço tal que o ângulo entre OX e o eixo Oz é
θ = π/3. Mostre que (x, y, z) satisfaz uma equação polinomial de segundo grau
nas variáveis x, y e z: x2 + y 2 − 3z 2 = 0.
Sugestão: Utilize a fórmula do cosseno e eleve ao quadrado para eliminar a raiz.
DM

13. Seja o triângulo ABC, onde A = (1, 2, 3), B = (−2, 1, 0) e C = (3, 3, −1).
Verifique se o ângulo em A é reto, agudo ou obtuso.
−−
→ −→
Utilize o sinal do produto escalar entre AB e AC

14. Mostre que as diagonais de um losango são perpendiculares entre si.


Lembre-se que as diagonais de um losango são da forma ~u + ~v e ~u − ~v , com |~u| = |~v |.
182

4.1.3 Sobre bases ortonormais e ortogonais

Lembremos que uma base de R2 é um conjunto de 2 vetores l.i. B = {~u, ~v }.


Dizemos que uma base B é uma base ortogonal se ~u e ~v forem ortogonais (~u ⊥ ~v),
isto é, ~u · ~v = 0.

Por exemplo,

r
y ~u = (2, 5) se ~u = (2, 5) e ~v = (−5, 2),
B = {~u, ~v } é uma base ortogonal pois

Ca
~u ·~v = 2 × (−5) + 5 × 2 = −10 + 10 = 0
~v = (−5, 2)
e os vetores não são nulos.
a
a Geometricamente,

π
x ~u e ~v formam um ângulo de radianos.

Por exemplo, B = √ , √
(2, 5) (−5, 2)
29 29
FS 
2

Se, além de ortogonais entre si, os vetores ~u e ~v forem unitários, então a base é dita
ortonormal (o.n.). 
formada pelos versores de ~u e ~v do exemplo
anterior, é uma base ortonormal.
-U
Claro que a base canônica C = {~ı, ~} = {(1, 0), (0, 1)} de R2 é uma base ortonormal
de R2 .
De maneira análoga, uma base ortogonal do espaço cartesiano R3 é um conjunto de
3 vetores não nulos, dois a dois ortogonais (e consequentemente são l.i.):
DM



~u · ~u = 0

 1 2
B = {~u1 , ~u2 , ~u3} satisfazendo ~u1 · ~u3 = 0



~u · ~u = 0
2 3
Observação: Podemos mostrar que um conjunto de vetores não nulos e dois a dois
ortogonais é l.i.
Provemos para n = 3 (espaço). De fato, seja B = {~u1, ~u2 , ~u3 } satisfazendo essas
condições.
Consideremos uma combinação linear λ1~u1 + λ2~u2 + λ3~u3 = ~0 e mostremos que λ1 =
183

λ2 = λ3 = 0, para verificar que são l.i.


Efetuando o produto escalar por ~u1 em ambos os membros da equação, temos (λ1~u1 +
u1 | 2
|~ 0 0
z }| { z }| { z }| {
λ2~u2 + λ3~u3 ) · ~u1 = ~0 · ~u1 , donde λ1 ~u1 · ~u1 +λ2 ~u2 · ~u1 +λ3 ~u3 · ~u1 = λ1 |~u1 |2 = 0, donde
λ1 = 0 já que |~u1 | =
6 0.
Analogamente, efetuando o produto escalar por ~u2 segue que λ2 = 0 e por ~u3 , que

r
λ3 = 0.
Uma base ortogonal do espaço (cartesiano R3 ) é ortonormal (o.n.) se os vetores forem

Ca
2 a 2 ortogonais e, além disso, unitários.
A base canônica C = {~ı = (1, 0, 0), ~ = (0, 1, 0), ~k = (0, 0, 1)} de R3 é uma base
ortonormal do espaço.
Vamos agora enumerar uma série de propriedades sobre bases ortonormais, muito
utilizadas na prática.
FS
Propriedade 1: Se M é uma matriz cujas linhas são as coordenadas dos vetores de
uma base ortonormal, em relação a uma base ortonormal, então M é uma matriz cuja
-U
transposta é a inversa (ou seja, M é uma matriz ortogonal). E vale a recı́proca: as
linhas de uma matriz ortogonal são coordenadas de vetores de uma base ortonormal,
dadas em relação a uma base ortonormal.
Vejamos no caso 2 × 2: Suponha uma base ortonormal {~u = (a, b),
 ~v =(c, 
d)}, donde

a b a c
DM

a2 + b2 = 1 = c2 + d2 e ac + bd = 0. Então M · M t =  ·  =
c d b d
   
a2 + b2 ac + bd 1 0
 = . Assim, M −1 = M t .
ac + bd c2 + d2 0 1
       
2 2
a b a c a + b ac + bd 1 0
Reciprocamente, se M · M t =  ·  =   =  ,
2 2
c d b d ac + bd c + d 0 1
2 2 2 2
devemos ter a + b = 1 = c + d e ac + bd = 0, donde a base {~u = (a, b), ~v = (c, d)}
é ortonormal.
184

O Caso 3 × 3 é análogo e fica como exercı́cio.

Propriedade 2: As coordenadas de um vetor ~v em relação a uma base ortonormal


B podem ser encontradas com o produto escalar.
No caso plano, seja B = {~e1 , ~e2 } uma base o.n. (ortonormal). Então ~v = x′~e1 + y ′~e2 =
1 0
z }| { z }| {
′ ′ ′ ′ ′
(x , y )B . Mas ~v · ~e1 = (x ~e1 + y ~e2 ) · ~e1 = x ~e1 · ~e1 +y ~e2 · ~e1 = x′ . Analogamente,

r
~v · ~e2 = y ′. Ou seja, ~v = (~v · ~e1 , ~v · ~e2 )B .

Ca
Para o caso espacial, é análogo:
Se B = {~e1 , ~e2 , ~e3 } é base o.n., então ~v = (~v · ~e1 , ~v · ~e2 , ~v · ~e3 )B .

Propriedade 3: Se B é uma base ortonormal, (a, b, c)B · (a′ , b′ , c′ )B = aa′ + bb′ + cc′ .
Basta usar a propriedade distributiva junto com a hipótese de ortonormalidade da base.
Exercı́cio.
FS
Propriedade 4: Se um vetor é dado em relação a uma base ortonormal, o cálculo
do módulo pode ser feito como na base canônica.
Vejamos o caso espacial: considere ~u = (a, b, c)B , sendo B uma base o.n. Temos que
-U
√ √
|~u| = ~u · ~u = a2 + b2 + c2 . A última igualdade segue da observação anterior.

Exemplos e Exercı́cios:
DM

1. Mostre que uma matriz ortogonal tem determinante 1 ou -1, mas nem toda
matriz com determinante ±1 é ortogonal.
Na primeira parte, considere M ortogonal. Então M M t = I, donde det(M ) det(M t ) =
det(M )2 = det(I) = 1 e portanto, det(M ) = ±1. Na segunda parte, para construir
o exemplo de M com det(M ) = ±1 e que não seja matriz ortogonal, lembre-se que
as linhas (ou colunas) de uma matriz ortogonal formam base o.n. Fica como exercı́cio
apresentar um exemplo.
185

~

(−
sen
)
enθ

θ
s

,c
2. Mostre que a base θ ,
s

os
(co

θ)
{(cos θ, sen θ), (− sen θ, cos θ)} é uma base θ
b

ortonormal do plano. O

r
Basta verificar que os vetores são ortogonais entre si (produto escalar 0) e unitários.

Ca
Na verdade, estes vetores são obtidos rotacionando a base canônica de ângulo θ.

3. Verifique que a matriz cujas linhas são os vetores da base acima é matriz orto-
gonal.
Construa a matriz e faça produto com a sua transposta. Deve resultar na matriz identi-
dade.
FS
4. Verifique também que as colunas também formam uma base ortonormal.

5. Suponha θ = π/3 na base acima. Ou seja, ~e1 = ( 21 ,



3
) e ~e2 = (−

3 1
, 2) são os
2 2
-U
vetores da base B. Escreva o vetor ~v = (3, 4) nesta base.
Solução 1: Usando matriz de mudança de base.
Suponha que C seja a base canônica. Então a matriz de mudança de base [I]B
C é a matriz

cujas colunas são ~e1 e ~e2 na base canônica. Esta matriz é ortogonal e portanto sua
DM

inversa, [I]CB , é a transposta.


 Então,
√     √ 
1 3 3
3 + 2 3
[~v ]B = [I]CB [~v ]C =  2√ 2   
= 2 √ 
− 23 12 4 −3 23 + 2
Solução 2: Usando produto escalar.
√ √
3 3
Temos que ~v = (x′ , y ′ )B = x′~e1 + y ′~e2 . Mas x′ = ~v · ~e1 = (3, 4) · ( 12 , 2 ) = 3
2 +4 2 e
√ √
3 1 3
y ′ = ~v · ~e2 = (3, 4) · −( 2 , 2) = −3 2 + 4 21 .

6. Seja B = {~u, ~v }, onde ~u = (3, 4) e ~v = (−4, 3). Mostre que a base B é uma
base ortogonal, mas não é ortonormal. Obtenha uma base ortonormal E cujos
186

vetores tem direção e sentido dos vetores da base B.

7. Obtenha uma base o.n. do plano, onde o primeiro vetor é paralelo a (1, 2).
Suponha que nesta base, B, ~u = (3, 5)B e ~v = (8, −2)B . Determine o módulo de
cada vetor e o ângulo entre eles.

8. Obtenha uma base o.n. do plano, onde o ângulo entre o primeiro vetor da base

r
e o vetor ~ı é de π/6 radianos.

Ca
9. Obtenha uma base o.n. do plano, onde o primeiro vetor faz ângulo θ com o eixo
Ox, com tg(2θ) = 43 .
\ é 2θ.
O ângulo em AOB
−→
B = (4, 3) Seja ~u = OA e
b

θ
θ
~v

Cb

~u
FS b
C′ ~v k (4, 3), com
|~v | = |~u| = 4.
−−→′
OC = ~u + ~v
é diagonal do losango e
b b
-U
O 2 4A 6 8 determina a direção do
primeiro vetor.

10. Mostre que a base B = {(1, 2, 4), (2, −1, 0), (4, 8, −5)} é ortogonal. Obtenha
uma base ortonormal do espaço E = {~e1 , ~e2 , ~e3 }, com vetores paralelos aos de
DM

B. Escreva o vetor ~v = (4, 5, −2) nas bases B e E.


Para encontrar E, basta normalizar (encontrar o versor) dos vetores da base B. Utilize
produto escalar para encontrar as novas coordenadas.

11. Seja a base canônica C = {~ı, ~, ~k} e considere os representantes dos vetores com
origem em O = (0, 0, 0). Considere uma reta r que passa pela origem. Se
E = {~e1 , ~e2 , ~e3 } é obtido rotacionando os vetores da base canônica de um ângulo
θ em torno da reta r, esta nova base é também ortonormal?
Resp: miS. Comprimentos e ângulos são preservados por esse movimento.
187

Atividades com GeoGebra (10): Determinando uma base ortonormal


do plano (dada uma das direções), e obtendo as coordenadas de qualquer vetor do plano
na nova base o.n.

• Desenhe o vetor ~u dado. Por exemplo, digite “u = (3,4)”.

r
1
• Vamos normalizar o vetor ~u, criando o versor ~u1 = ~u através do comando
|~u|

Ca
“u 1=(1/sqrt( u*u)) u”.

• Vamos construir agora um vetor ~v ortogonal a ~u: “v = (-y(u), x(u))”. Norma-


lizando: “v 1=(1/sqrt(v*v)) v” para obter ~v1 .
A base {~u1 , ~v1 } é base ortonormal.

• Insira um vetor qualquer w.

os vetores w
~ u = t~u1 e w
~ v = s~v1 :
FS
~ Por exemplo, “w=(-1,3)”.

• Vamos obter as coordenadas de w


~ na nova base: t = w
~ · ~u1 e s = w
~ · ~v1 e construir
-U
use os comandos “t = w*u 1”, “s=w*v 1”, “w u= t u 1” e “w v= s v 1”.

• Para visualizar melhor, construı́mos os pontos O = (0, 0), W = O+w,


~ Wu = O+w
~u
e Wv = O + w
~ v e ligamos W Wu e W Wv por segmentos pontilhados.
DM

• Altere os elementos livres ~u e w


~ à vontade, para analisar diversas situações.

W
b

3
v
u
2w
b Wu
Wv b

1 wu
wv
v1 u1
b

−3 −2 −1 O 1 2 3
188

4.1.4 Projeção ortogonal de um vetor sobre outro

Utilizando produto escalar, podemos definir a projeção ortogonal de um vetor ~v na


direção de um vetor não nulo ~u, que terá muitas aplicações geométricas.
Sejam dados os vetores ~u e ~v , sendo ~u não nulo. Considere as representações
−→ −→
geométricas AB = ~u e AC = ~v . Suponhamos inicialmente que A, B e C não sejam

r
colineares.
C Pela Geometria Euclidiana, podemos consi-

Ca
derar a reta pelo ponto C que é perpendi-
~v
cular à reta suporte de AB, determinando o
• • • r ponto D como sendo o pé da perpendicular
A ~u B D
sobre a reta r(A, B).

−→ −−→ −−→

−−→
−−→
FS
O triângulo ADC é retângulo por construção, com ângulo reto em D. Vetorialmente,
−→ −−→
temos AC = AD + DC, onde AD é paralelo ao vetor ~u = AB e DC é ortogonal ao
vetor ~u.
O vetor AD assim obtido é chamado de projeção ortogonal do vetor ~v = AC na
−→
−→
-U
direção do vetor ~u = AB e é denotado por P roju~~v .
−→
Quando A, B e C são colineares, o próprio vetor ~v = AC é, por si, a sua projeção na
direção de ~u.
−−→
Chamando P roju~~v de ~v1 e DC de ~v2 temos uma decomposição ~v = ~v1 + ~v2 onde ~v1 e
DM

~u são l.d. e ~v2 · ~u = 0 (por serem ortogonais).


Sendo ~v1 e ~u paralelos (isto é, l.d.) existe um escalar λ que satisfaz ~v1 = λ~u. Então
podemos escrever ~v = λ~u + ~v2 , em que λ~u = ~v1 = P roju~~v .
Fazendo o produto escalar com ~u em ambos os lados da equação, temos
~v · ~u = (λ~u + ~v2 ) · ~u = λ~u · ~u + ~v2 · ~u = λ~u · ~u, onde ~u · ~u 6= 0.
~v · ~u ~v · ~u
Logo, o escalar λ que caracteriza a projeção de ~v sobre ~u é dado por λ = = .
  ~u · ~u |~u|2
~v · ~u
Assim, P roju~~v = ~u = ~v1 . A componente ortogonal ~v2 de ~v é dada por
|~u|2
~v2 = ~v − P roju~~v .
189

Por exemplo, se ~v = (2, 3, 4) e ~u = (1, 0, 2), temos que |~u|2 = 12 + 02 + 22 = 5 e


10
~v · ~u = 2 × 1 + 3 × 0 + 4 × 2 = 10. Logo, P roju~~v = 5
~u = 2(1, 0, 2) = (2, 0, 4).
Em particular, se ~u for unitário (norma 1), então P roju~~v = (~v · ~u)~u.
Por exemplo, para ~v = (x, y, z) = x~ı+y~+z~k, temos que P roj~ı~v = [(x~ı+y~+z~k)·~ı] ~ı =
[x(~ı ·~ı) + y(~ ·~ı) + z(~k ·~ı)] ~ı = x~ı, já que ~ı ·~ı = 1, ~ ·~ı = 0 e ~k ·~ı = 0. Analogamente,
P roj~~v = y ~ e P roj~k~v = z ~k.

r
Ca
Atividades com GeoGebra (11): Vamos trabalhar com produto escalar
e projeções, no plano.

• Defina dois vetores no plano, ~u = (4, 5) e ~v = (−2, 3), digitando no campo Campo
de Entrada: “u=(4,5)” e “v=(-2,3)”.

FS
• Calcule o produto escalar ~u · ~v e ~u · ~u: “u*v”e “u*u”. Veja que são escalares.
~u · ~v
• A projeção ortogonal de ~v sobre ~u é dada por: P roju~~v =
~u · ~u
~u.
Então, “p = (u*v)/(u*u) u” (com p minúsculo) define o vetor ~p como o vetor
-U
projeção. Se nomear com letra maiúscula, “P = (u*v)/(u*u) u”, temos o ponto
−→
P = O + ~p que define o vetor projeção OP , onde O = (0, 0). Construa o ponto P .

• Verifique que ~v − ~p é ortogonal ao vetor ~u. Construa w


~ = ~v − p~ e mostre que
DM

w
~ · ~u = 0. Para obter o resultado visual, contrua os pontos O = (0, 0), V = O + ~v
[
e U = O + ~u, e defina α = UP V que deve ser reto. Este último passo pode ser
feito no Campo de Entrada: “α =^
Angulo[U,P,V]”, ou pela Barra de Ferramentas,

selecionando a ferramenta (Ângulo) e clicando sobre os 3 pontos, na ordem.


Observe que na Janela de Álgebra, aparecerá escrito “α = 90◦ ”. Mas o ângulo
também pode ser obtido como “a = acos(u*v/sqrt(u*u v*v))”. O que aparece
escrito na Janela de Álgebra? Aparece “a = 1.57”. E agora? Não deveria ser igual
a α?
190

• Altere o vetor ~v e veja que ~p e w


~ mantém a propriedade de serem o vetor projeção
P roju~~v e seu ortogonal. Altere ~u e observe a mesma propriedade.
b
V
3
w U
b
u
v 2
α
b

r
1 P
p

Ca
b

−2 −1 O 1 2 3
−1

Exemplos e exercı́cios:


b) ~u = ( 3/2, 1/2) e ~v = (5, 10)
FS
1. Obtenha a projeção ortogonal de ~v sobre ~u nos seguintes casos:
a) ~u = ~ı e v = (a, b, c)

c) ~u = (2, −3, 1) e ~v = (3, −3, 4).


-U
2. Em cada um dos casos do exercı́cio anterior, decomponha o vetor ~v como soma
de dois vetores, ~v = ~v1 + ~v2 , onde ~v1 k ~u e ~v1 ⊥ ~v2 .

3. Seja o triângulo ABC. Calcule a altura do triângulo em relação à base AB nos


DM

casos abaixo.
C
a) A = (0, 0, 0), B = (1, 0, 0) e C = (1, 1, 1). b

b) A = (2, −3), B = (3, 4) e C = (−4, 10).


~v
−→ w
~
Observe que a altura h é o módulo de w
~ = AC − p~,
−→
Ab p~
AC .
onde p~ = P roj−→
b b B
AB D

4. Determine as coordenadas de um vetor ~v em relação a uma base o.n. B, utili-


zando projeções. Antes, verifique que a base é o.n.
191
√ √
a) ~v = (3, −2) e B = {( 3/2, 1/2), (−1/2, 3/2)}.
√ √
b) ~v = (2, 3, 10) e B = {( 3/2, 0, 1/2), (0, 1, 0), (−1/2, 0, 3/2)}.

5. Seja {~e1 , ~e2 , ~e3 } uma base ortonormal do espaço. Dado um vetor ~v do espaço,
seja p~ = (~v · ~e1 ) ~e1 + (~v · ~e2 ) ~e2 . Mostre que ~v − p~ é ortogonal ao plano de ~e1 e ~e2 .
Dizemos que p~ é a projeção ortogonal do vetor ~v no plano de ~e1 e ~e2 (considere

r
vetores na origem e plano pela origem).

Ca
4.1.5 Aplicação na Fı́sica

O conceito de projeção ortogonal que acabamos de estudar está ligado a um importante


conceito de Fı́sica.



FS
Imaginemos que uma partı́cula (um corpo) se desloca numa trajetória retilı́nea, sujeita
a uma força F constante, na direção e sentido do deslocamento.
Considerando A e B dois pontos desta trajetória, o estabelecimento de um sentido
do deslocamento de A para B permite considerar o vetor deslocamento representado pelo
−→ −→
segmento orientado AB, com |AB| = distância deslocada.
-U

→ −

F F
DM

• •
A B


→ −

Sendo F um vetor paralelo ao deslocamento, com intensidade constante (| F | cons-


tante), o trabalho realizado por F no deslocamento de A para B é definido como

→ −→ −

±| F ||AB|, onde o sinal é negativo se a força F atua no sentido oposto ao desloca-


mento. Neste caso, dizemos que F realiza um trabalho contra o deslocamento.

→ −→
Considere agora uma força F constante, mas de direção não paralela ao vetor AB,


agindo sobre a partı́cula (corpo) durante o deslocamento. Seja θ o ângulo que F faz com
192

−→
o deslocamento AB.


→ −
→ −

F2 F F

→ θ
F1
• •
A B

r

→ −
→ − → − → −

Neste caso geral, F se decompõe como F = F1 + F2 , em que F1 é a componente

Ca
−→ − →
paralela ao deslocamento AB e F2 é a componente ortogonal ao deslocamento. A com-

→ −
→ −

ponente F2 não contribui para o trabalho realizado por F , e é a componente F1 , na
−→
direção de AB que o realiza.

→ −→ −
→ −→
O trabalho realizado por F durante o deslocamento AB é dado por T = F · AB =

→ −→

→ −
− → −→ −



→ −→
| F ||AB| cos θ, onde θ = ∡( F , AB).
→ −

→ −→ −
FS

→ −→

→ −→
Notemos que, sendo F = F1 + F2 com F2 ⊥ AB, temos que T = F · AB =
→ −→ −

→ −→


(F1 + F2 ) · AB = F1 · AB + F2 · AB = F1 · AB que é o trabalho realizado pela F1 .
É claro que se θ for obtuso, cos θ < 0 e teremos que o trabalho é realizado contra o
-U
sentido do deslocamento.
Na Fı́sica, quando a intensidade da força é medida em N (Newton) e a distância
deslocada é medida em m (metros) então o trabalho é uma grandeza escalar medida em
J (joules) = N × m.
DM

Exemplo: Um bloco de massa igual a 10kg vai ser deslocado de baixo para cima em uma
rampa inclinada de 5 metros de comprimento, cuja extremidade superior está 3 metros
acima do solo.

→ •
− Supondo as superfı́cies em contato sem
#\
F 

## \  →
\ \ − atrito, qual é o trabalho que será realizado
\  3m
\ m
 5 pela força paralela ao plano inclinado que


 ←− faz o bloco subir com velocidade constante?
•
(cf. Halliday-Resnick, Fı́sica)
193

Para modelar a situação-problema de modo que envolva todos os dados apropriada-


mente, vamos fixar um sistema de coordenadas cartesianas no plano de perfil do problema,
reduzindo-o a um problema bi-dimensional.
Considere o seguinte sistema, em que O e P representam as extremidades da rampa
e Ox esteja no nı́vel horizontal.
Como o movimento rampa acima não é

r
acelerado (observe que o bloco deve su-

Ca
y P bir com velocidade constante), a resul-
•

 tante das forças que atuam sobre o bloco
 →
 −
 3m é o vetor nulo, isto é, as forças estâo em

→ →  5 m
− −→
N F equilı́brio. Tais forças são: o peso W , a

 ←− −

• componente F paralela à rampa da força
O





W


Px
FS
x
que faz o bloco subir, e a componenente


N normal à rampa da dita força.
O peso W é dado por W = (0, −mg), onde m é a massa em kg e g = 9.8m/s2 é a


aceleração da gravidade. Logo, W = (0, −98) no sistema fixado.
-U

→ − → −
→ −

O equilı́brio das forças implica que devemos ter F + N = −W . A força N não
−→
realiza trabalho no sentido do deslocamento OP , por ser ortogonal a este. Então o


trabalho realizado por F ao subir a rampa de O a P é dado por:

→ −→ −
→ − → −→ −
→ −→
F · OP = ( F + N ) · OP = (−W ) · OP = −(0, −98) · (4, 3) = +294J.
DM

−→ −→
Obs: Como |OP | = 5 e P = (Px , 3), temos que Px = 4 e portanto, OP = (4, 3).
Isto quer dizer que o trabalho realizado é de 294 joules contra a gravidade.

4.1.6 Coordenadas em base ortonormal e os cossenos direto-


res

Suponhamos que B = {~e1 , ~e2 } seja uma base ortonormal de um plano (pode ser R2
ou mesmo um plano contido em R3 ).
194
√ √ √ √
2
Por exemplo, sejam ~e1 = ( 2
, 22 ) e ~e2 = ( −2 2 , 2
2
). Sendo B uma base do R2 ,
todo vetor ~v se escreve como ~v = a1~e1 + a2~e2 . Com a base B ortonormal, temos que
~v · ~e1 = (a1~e1 + a2~e2 ) · ~e1 = a1~e1 · ~e1 + a2~e2 · ~e1 = a1 e ~v · ~e2 = (a1~e1 + a2~e2 ) · ~e2 =
a1~e1 · ~e2 + a2~e2 · ~e2 = a2 , já que |~ei |2 = 1 e ~e1 ⊥ ~e2
√ √ √
2 2
Assim, se ~v = (x, y) (em relação à base canônica), então ~v = (x 2
+y 2
, −x 22 +
√ √ √ √ √ √ √ √ √
y 22 ) na base B. Por exemplo, se ~v = ~e1 = ( 22 , 22 ), ~v = ( 22 22 + 2 2
, − 2 2
+

r
2 2 2 2
√ √
2 2
2 2
) = ( 12 + 21 , − 12 + 12 ) = (1, 0)B . Analogamente, ~v = ~e2 = (0, 1)B .

Ca
b
V
Efetivamente, as coordena- 4
das de ~v na base B são os V1
3 b
valores das projeções ortogonais de v
2 α = ∠(~v , ~e1 )
~v sobre os vetores unitários ~e1 e ~e2 : V2
b

~v = a1~e1 + a2~e2 = (a1 , a2 )B ,


com a1 = |~v| cos α
e a2 = |~v | cos β.
FS −2
−1
−1
1
e2

2
1

O3
β
b
α

Logo, se o vetor ~v for unitário e B = {~e1 , ~e2 } o.n., temos que ~v = (cos α, cos β)B ,
e1
β = ∠(~v , ~e2 )
-U
onde α = ∠(~v , ~e1 ) e β = ∠(~v , ~e2 ).
Analogamente, se B = {~e1 , ~e2 , ~e3 } é uma base ortonormal do espaço R3 , as coorde-
nadas de um vetor ~v em relação à base B são dadas por (~v · ~e1 , ~v · ~e2 , ~v · ~e3 ).
Prosseguindo a idéia desenvolvida no exemplo acima, considere agora um vetor unitário
DM

~v = (X, Y, Z) no espaço R3 e a base canônica C = {~ı, ~, ~k}. Sejam φ, ψ e θ os ângulos


que ~v forma com os vetores ~ı, ~, ~k, respectivamente, representados nos desenhos abaixo
bv , Y O~
como os ângulos X O~ bv e Z O~
bv .
195

Z Z Z

V V V

r
X X X
Y Y Y
O O O

Ca
~ ~
 Como ~v = (~v ·~ı)~ı + (~v · ~)~ + (~v · k)k, as coordenadas de ~v na base canônica são:



 X = ~v ·~ı = |~v||~ı| cos φ = cos φ


 Y = ~v · ~ = |~v||~| cos ψ = cos ψ , chamados cossenos diretores de ~v.




Z = ~v · ~k = |~v||~k| cos θ = cos θ

FS
Os cossenos diretores satisfazem a relação cos2 φ + cos2 ψ + cos2 θ = 1, pois |~v | = 1.
Se ~v = (x, y, z) é um vetor não nulo, então ~v = |~v |versor(~v). Como as coordenadas
de versor(~v) são os cossenos dos ângulos φ, ψ e θ que ~v forma com os vetores da base
canônica, segue que x = |~v| cos φ, y = |~v| cos ψ e z = |~v| cos θ.
-U
Exercı́cio: Calcule os cossenos dos ângulos formados pelo vetor ~v com os vetores
da base canônica, nos seguintes casos:
a) ~v = (3, −2, 4) b) ~v = (3, 4) c) ~v = (3, −5, 1).
DM

4.1.7 Bases ortogonais de planos no espaço

Consideremos um plano π dado pela equação vetorial π : X = A + λ~u + µ~v, λ, µ ∈ R,


com ~u, ~v l.i., como na figura.
196

Como qualquer ponto X ∈ π satisfaz a pro-



~v  −−→
 priedade de AX ser uma combinação linear
•X 
 de ~u e ~v , dizemos que {~u, ~v } é uma base de

 vetores do plano π, ou simplesmente,
• 
A ~u  uma base de π.
π 


r
A questão que colocamos agora é: como obter uma base de vetores de π que seja

Ca
ortogonal? Se isto for obtido, então podemos obter uma base ortonormal de π, conside-
rando os versores da base ortogonal obtida.

De projeções ortogonais, temos que ~v =


π
~v P roju~~v + ~v2 , onde ~v2 ⊥ ~u e P roju~~v = λ~u,
versor(~v2 )


P roju~~v
~v2 ⊥ ~u FS com λ = v ·~
~ u
u|2
|~
. Então, ~v2 = ~v − λ~u é uma
combinação linear de ~u e ~v , sendo portanto
um vetor do plano e {~u, ~v2 } é l.i. por serem
ortogonais.
versor(~u) ~u
-U
Portanto {~u, ~v2 } é uma base ortogonal que
gera o mesmo plano π.
n o
Como visto anteriormente, B = ~
u
|~
, ~vv22 | é uma base ortonormal de π.
u| |~

Exemplo: Dado o plano π : X = (1, 2, 1) + λ(1, 0, 3) + µ(−1, 1, , 2), λ, µ ∈ R, os


DM

vetores ~u = (1, 0, 3) e ~v = (−1, 1, 2) são vetores geradores l.i. de π (formam uma base
de π).
Temos que ~v · ~u = (1, 0, 3) · (−1, 1, 2) = 1 × (−1) + 0 × 1 + 3 × 2 = −1 + 6 = 5 e
|~u|2 = ~u · ~u = (1, 0, 3) · (1, 0, 3) = 12 + 32 = 10.
v ·~ 5
Assim P roju~~v = ~ u
u|2
|~
~u = 10
(1, 0, 3) = 12 (1, 0, 3) = ( 21 , 0, 32 ) e portanto ~v2 = ~v − P roju~~v =
(−1, 1, 2) − ( 12 , 0, 23 ) = (− 32 , 1, 21 ).
Se queremos apenas que ~v2 esteja no plano e seja ortogonal a ~u, podemos tomar qualquer
múltiplo do vetor encontrado, por exemplo, ~v2 = (−3, 2, 1) = 2(− 32 , 1, 12 ) Observe que
197

~u · ~v2 = (1, 0, 3) · (−3, 2, 1) = 0, confirmando o perpendicularismo.


n o
Então, uma base ortonormal de π pode ser obtida como B = |~~uu| , |~~vv22 | , ou seja, B =
n o
(1,0,3) (−3,2,1)

10
, √
14
.

Observação: Quando somente a direção do vetor importa, como no caso ~v2 acima, a
troca por um múltiplo pode ser muito útil para simplificar as contas futuras, por exemplo,
para encontrar o versor.

r
Ca
Exercı́cios:

1. Encontre uma base ortonormal do plano X = (1, 2, 3)+t(3, −1, 2)+s(2, 2, 1), t, s ∈
R, com o primeiro vetor paralelo a ~u = (3, −1, 2).

2. Encontre uma base ortonormal qualquer do plano x − 2y + 3z = 0.

FS
Sugestão: Encontre uma equação vetorial do plano e faça o exercı́cio anterior.

3. Obtenha uma base ortonormal do espaço, onde os dois primeiros vetores da


base são vetores do plano α : x − 2y + 3z = 0. Utilize esta base para obter as
-U
coordenadas do ponto P ′ simétrico a P = (2, 5, −6) em relação ao plano α.
Observe inicialmente que, encontrados ~e1 e ~e2 como base ortonormal do plano α, o vetor
~e3 pode ser encontrado como o versor do vetor w
~ = (1, −2, 3).
−−→
Na segunda parte, observe que o plano α passa pela origem O = (0, 0, 0). Assim, OP e
−−→′
DM

OP são refletidos em relação ao plano α. Utilizando a base ortonormal B = {~e1 , ~e2 , ~e3 }
−− → −−→
encontrada, temos que se OP = (a, b, c)B , então OP ′ = (a, b, −c)B .

4. Dada a base B = {~v1 , ~v2 , ~v3 } do espaço, obtenha uma base ortornormal E =
{~e1 , ~e2 , ~e3 }, onde ~e1 k ~v1 e ~e2 é coplanar com ~v1 e ~v2 , nos seguintes casos:
a) ~v1 = (1, 2, 3), ~v2 = (0, 1, 1), ~v3 = (0, 0, 1).
b) ~v1 = (0, 1, 2), ~v2 = (1, 1, 2), ~v3 = (1, 2, 5).
Para encontrar ~e1 e ~e2 do plano de ~v1 e ~v2 , proceda como nos exercı́cios anteriores:
~e1 = versor(~v1 ) e ~e2 = versor(~v2 − (~v2 · ~e1 ) ~e1 ).
198

Para ~e3 , normalize (encontre o versor) w


~ = ~v3 − p~, onde p~ = (~v3 · ~e1 ) ~e1 + (~v3 · ~e2 ) ~e2 é a
projeção ortogonal de ~v3 no plano de ~e1 e ~e2 .
Este método é conhecido como Processo de ortogonalização de Gram-Schmidt.

4.1.8 Retas perpendiculares no plano

r
Considere uma reta no plano R2 dada pela equação vetorial r : X = (x0 , y0 ) + t(a, b),
t ∈ R. A direção de r é dada pelo vetor não nulo ~v = (a, b) 6= (0, 0).

Ca
~ ℓ ∈ R, é uma reta perpendicular a r se o vetor direção w
Uma reta s : X = P + ℓw, ~
~ 6= ~0).
for ortogonal a ~v (claro que w
Como obter vetores w
~ ortogonais a ~v ?
Ora, se w
~ = (x, y) é ortogonal a ~v = (a, b), então devemos ter w
~ · ~v = (x, y) · (a, b) =
ax + by = 0. Temos infinitas soluções w
FS
~ = (x, y) para o problema, todos múltiplos
de (−b, a). De fato, da resolução de sistemas lineares indeterminados, temos que se a 6= 0,
podemos considerar y como variável livre, obtendo x = (−b/a)y, donde para y = a temos
w
~ 1 = (−b, a) e para y = −a temos w
~ 2 = (b, −a). E se b 6= 0, podemos considerar x como
-U
variável independente, obtendo y = (−a/b)x, donde para x = b temos w
~ 2 = (b, −a) e para
x = −b, temos w
~ 1 = (−b, a). E é claro que os múltiplos de w
~1 e w
~ 2 são também ortogonais a ~v .

Interprete geometricamente as escolhas na-


r
DM

~v  turais w
~ 1 = (−b, a) e w
~ 2 = (b, −a),

 olhando na figura. É claro que dado ~v =

w~1 
•
 (x0 , y0 ) (a, b) 6= (0, 0) existe uma única direção or-

 (a, b)
 togonal a ~v gerada por w
~ 1 (ou w
~ 2 = −w
~ 1 ).


 •




w
~2

Vimos no capı́tulo anterior, que para obtermos a equação geral da reta r : (x, y) =
199

0 , y0 ) + t(a, b), t ∈ R, consideramos que {(x − x0 , y − y0 ), (a, b)} é l.d. e portanto


(x

x − x0 y − y0
= 0, donde b(x − x0 ) − a(y − y0 ) = 0 . Logo, uma equação geral da

a b
reta fica: r : bx − ay − (bx0 − ay0 ) = 0. Temos também que qualquer outra equação
geral que define a mesma reta é múltipla desta equação.
Assim, se Ax + By + C = 0 define a reta r, o vetor w
~ = (A, B) é perpendicular

r
a r, ou seja, a direção de r é dada por ~v = (a, b) = (B, −A). E consequentemente,

Ca
Bx − Ay + D = 0 é equação de uma reta perpendicular a r.
A forma mais simples de obter a equação geral da reta r que passa por A = (x0 , y0)
−−→
e é perpendicular a w
~ = (a, b) é lembrar que se X = (x, y) ∈ r, AX ⊥ w. ~ Assim,
(x − x0 , y − y0 ) · (a, b) = a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = 0.
w
~ = (a, b)

FS b
α
b

X = (x, y)
A = (x0 , y0 )
r : a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = 0
-U
Dizemos também que a reta ax + by + c = 0 tem direção normal dada pelo vetor
~v = (a, b).
DM

Exercı́cios:

−→ −−→
1. Sejam ~v = (a, b) = AB e w
~ = (−b, a) = BC, onde A, B e C são pontos num
terreno plano. Quando uma pessoa vai andando de A até B e depois, de B
até C, significa que no ponto B está virando à direita ou à esquerda? E se
w
~ = (b, −a)?

−→
Sugestão: Represente graficamente um vetor genérico ~v = AB = (a, b) e seu ortogonal
w
~ = (−b, a) a partir de B e faça uma análise visual. No primeiro caso, está virando à
esquerda.
200


x = 2 + 5ℓ
2. Dada a reta r : , ℓ ∈ R, obtenha as equações paramétricas da

y = −1 + 3ℓ
reta s perpendicular a r que passa pelo ponto P = (1, −5). Encontre o ponto
de intersecção das retas.

3. Verifique a reta r do exercı́cio anterior satisfaz a equação 3(x−2) −5(y + 1) = 0.

r
Qual a equação da reta s?

Ca
4. Seja a reta r : 2x − 4y + 5 = 0. Obtenha a equação da reta s perpendicular à
reta r e que passa pelo ponto P = (5, 2).

4.1.9 Ângulo entre duas retas


FS
Consideremos inicialmente duas retas concorrentes (no plano ou no espaço),

r : X = A + λ~u, λ ∈ R

s : X = B + µ~v, µ ∈ R
-U
Só para relembrar: estamos considerando o caso em que r e s são coplanares e não
−→
paralelas, isto é, {AB, ~u, ~v } l.d. e {~u, ~v} l.i. Então existe P , ponto de intersecção.
As retas formam em P dois ângulos, com
r medidas suplementares entre si, isto é, θ e
Q ~
v 
Q 
DM

Q B 
Q π−θ  π − θ, como na figura.
Q
• 
Q 
Q  Quando θ = π − θ ocorre o perpendicula-
Q 
Q• θ
Q
 P Q rismo entre as retas, θ = π2 .
 Q
 Q
 Q Quando não são perpendiculares, um dos
 ~ Q
 u
• Q
A Q
 Qs ângulos é agudo e o outro obtuso.
Neste caso, convenciona-se definir o ângulo entre duas retas concorrentes como sendo
o ângulo agudo no ponto de intersecção.
201

Os ângulos que se formam em P são: o ângulo entre ~u ~v ~u


e ~v e o ângulo entre ~u e −~v , tendo em vista que ~v ou −~v • θ
P −~v
determina a direção de s.  
~u · ~v |~u · ~v |
A fórmula cos ∡(~u, ±~v ) = ± mostra que arccos determina o ângulo agudo
|~u| |~v| |~u| |~v|
entre as retas pois cos θ = − cos(π − θ) ⇒ | cos θ| = | cos(π − θ)|.

Exemplo: Calcular o ângulo entre as retas

r

Ca

x =2+λ



r : y =3+λ , λ ∈ R e s : X = (1, 2, 4) + µ(0, −1, −2), µ ∈ R.





z = −1 − 5λ

Primeiro, verifica-se (exercı́cio!) que as retas são de fato coplanares, mostrando que
−→
FS
{AB, ~u, ~v} é l.d., onde A = (2, 3, −1), B = (1, 2, 4), ~u = (1, 1, −5) e ~v = (0, −1, −2).
Na verdade, B ∈ s ∩ r, pois quando λ = −1 na equação de r, temos (x, y, z) =
(2, 3, −1) + (−1)(1, 1, −5) = (1, 2, 4) que é o ponto B ∈ s. Como ~u e ~v são l.i., as retas
se encontram unicamente em B.  
-U
|~u · ~v |
O ângulo entre r e s em B é dado por arccos onde ~u · ~v = (1, 1, −5) ·
|~u| |~v| √ √
(0, −1, 2) = 1 × 0 + 1 × (−1) + (−5) × (2) = −11 < 0, |~u| = 1 + 1 + 25 = 27 e
√ √
|~v | = 1 + 4 = 5.
Como ~u · ~v é negativo, o ângulo entre os vetores é obtuso. Por isso o ângulo entre r
DM

e s é dado pelo ∡(~u, −~v ), isto é, basta considerarmos o valor absoluto de ~u · ~v .
| − 11| 11
Assim, ∡(r, s) = arccos √ √ = arccos √ √ ≈ 0.32787radianos ≈ 18.786◦ .
27 5 27 5
Observação1: Considere por exemplo as retas



x = 0



r : y = ℓ, ℓ ∈ R e s : (x, y, z) = (µ, 2, 0), µ ∈ R.





z = 3
202

O vetor diretor de r é ~ = (0, 1, 0) e o de s é ~ı = (1, 0, 0), e são claramente ortogonais


(~ ·~ı = 0).
Mas as retas são reversas, e portanto, as retas são ditas ortogonais (e não perpendiculares).
Duas retas concorrentes formando ângulo reto são ditas perpendiculares.
Em geral, se duas retas são reversas, ou se diz que elas não formam ângulo, já que não
são concorrentes, ou, dependendo do contexto, convenciona-se que o ângulo entre elas é

r
o ângulo entre duas retas concorrentes, cada uma delas paralela a uma das retas dadas.

Ca
Neste último caso, o ângulo entre as retas reversas pode ser dada pelos vetores diretores,
como no caso de retas concorrentes.

Observação 2: No caso de retas do plano r : ax + by + c = 0 e s : dx + ey + f = 0,


com direções normais ~nr = (a, b) e ~ns = (d, e), o ângulo entre as retas pode ser calculado
com as direções normais: cos ∠(r, s) =

s
b
~ns b
FS|~nr · ~ns |
|~nr | |~ns|
.

De fato, o ângulo entre r e s é o mesmo


que o ângulo entre as retas normais, cujas
r direções são dadas por ~nr e ~ns .
-U
b

~nr
b
DM

Exercı́cios:

1. Calcule o cosseno do ângulo entre as retas r e s dadas abaixo. E use uma


calculadora ou Octave, para obter aproximadamente o ângulo, em graus e em
radianos.
a) r : X = (1, 2, −1) + t(3, 0, 1), t ∈ R e s : X = (4, 2, 0) + ℓ(2, 1, 1), ℓ ∈ R.
b) r : 2x − 3y + 1 = 0 e s : x + 5y − 3 = 0.

2. Determine a equação geral de uma reta s no plano que passa por A = (2, 3) e
forma ângulo θ = π/6 com a reta r : x − y = 1. Quantas soluções existem?
203

Esboce a situação geométrica.

4.1.10 Retas perpendiculares a planos no espaço

Uma reta r é perpendicular a um plano π se for ortogonal a todas as retas do plano.


~ λ ∈ R é perpendicular a um plano π se w
Ou seja, r : X = P + λw, ~ for ortogonal a

r
todas as direções ~v do plano π.
Dado um plano π : X = A + t~u + s~v , t, s ∈ R, para que um vetor w
~ seja ortogonal

Ca
a todas as direções do plano, basta que w
~ seja ortogonal a ~u e a ~v . De fato, qualquer
vetor do plano é combinação linear dos vetores ~u e ~v , isto é, é da forma x~u + y~v, com
x, y ∈ R. Assim, se w
~ é ortogonal a ~u e a ~v , tem-se que w
~ é ortogonal a todos os vetores
do planos, pois w
~ · (x~u + y~v) = w
~ · ~u + w
~ · ~v = 0 + 0 = 0. Tal vetor w
~ é chamado vetor
normal ao plano π.
FS w
~
-U
w
~
 H
H π 
 ~v • x~u 
  + y~v 
 ~u 
 A• 
 
DM

•P
r
Então, vamos ao problema de encontrar um vetor w
~ = (a, b, c) ortogonal a π, encon-
trando um vetor ortogonal a ~u = (u1, u2 , u3 ) e a ~v = (v1 , v2 , v3 ). Por enquanto, temos
somente o produto escalar para resolver o problema.
Como w
~ · ~u = 0 e w
~ · ~v = 0, o seguinte sistema linear nas variáveis a, b e c deve ser
204


u1 a + u2 b + u3 c = 0
satisfeito: .

v1 a + v2 b + v3 c = 0
Como ~u e ~v são l.i., o sistema tem grau de liberdade 1, o que implica que todas as
soluções (a, b, c) são múltiplos de um vetor w
~ 1.
Por exemplo, se π : X = (5, 3, 7) + t(1, −1, 1) + s(2, 2, −1), t, s ∈ R, procuramos
w = (a, b, c) tal que w·(1,
~ −1, 1) = a−b+c = 0 e w·(2,
~ 3, −1) = 2a+3b−c=0, ou seja,

r
  a  
 

Ca
1 −1 1   0
~ = (a, b, c) deve ser solução do sistema linear homogêneo 
w   b  =  .
2 2 −1   0
c
       
1
1 −1 1 ℓ 1 −1 1 ℓ 1 −1 1 ℓ 1 0 4
Escalonando:  ∼ ∼ ∼  temos
3 3
2 2 −1 0 4 −3 0 1 −4 0 1 −4

FS
que o sistema original é equivalente ao sistema

a + 1 c = 0

4

b − 3 c = 0
4
Logo temos que (a, b, c) = (− 14 c, 34 c, c) e portanto, considerando c como o parâmetro
t (c = t), temos que (a, b, c) = (− 41 t, 43 t, t) = t(− 14 , 43 , 1). Ou seja, os vetores normais a
-U
~ 1 = (− 41 , 34 , 1). Ou de (−1, 3, 4)
π são múltiplos de w

No capı́tulo anterior, encontramos


a equação geral do plano π fazendo o determinante

x − x0 y − y0 z − z0


u1 u2 u3 = 0 (*), já que X = (x, y, z) ∈ π ⇐⇒ {(X − A), ~u, ~v}l.d..

DM


v1 v2 v3

w
~ = (a, b, c)
A = (x0 , y0 , z0 ), X = (x, y, z) ∈ π
~v
{X − A, ~u, ~v} l.d.
A• •X ⇓ (∗)
a(x − x0 ) + b(y − y0 ) + c(z − z0 ) = 0
~u π
(a, b, c) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0
205


x − 5 y − 3 z − 7


No exemplo, 1 −1 1 =


2 2 −1


−1 1 1 1 1 −1
= (x−5)

−(y−3)

+(z−7)

=

2 −1 2 −1 2 2
= −(x − 5) + 3(y − 3) + 4(z − 7) = 0.

r
−−→
Essa equação diz que o vetor w
~ = (−1, 3, 4) é ortogonal a todos os vetores AX, onde

Ca
X ∈ π, ou seja w
~ é vetor normal a π.

Resumindo, dados A = (x0 , y0 , z0 ) e w


~ =
(a, b, c), a equação do plano π passando por w
~ = (a, b, c)

A e tendo w
~ como vetor normal é dado por

significa exatamente w
X ∈ π.
−−→ FS
a(x − x0 ) + b(y − y0 ) + c(z − z0 ) = 0, que
~ · AX = 0 para todo




 (x0 , y0 , z0 )•

 π : ax + by + cz
X
X


(x, y, z)
+d=0 





-U
Continuando os cálculos, ax + by + cz − (ax0 + by0 + cz0 ) = ax + by + cz + d = 0,
fazendo d = −(ax0 + by0 + cz0 ).

Distância de ponto a plano

Como aplicação, vamos encontrar a distância d(P, π) do ponto P = (1, 1, 1) ao plano


DM

π : 2x−3y +4z −10 = 0. Sabemos que a distância procurada é a distância de P ao pé da


perpendicular a π por P . Para isso, tomamos a reta r : (x, y, z) = (1, 1, 1) + t(2, −3, 4),
perpendicular ao plano π, já que sua direção é dada por w
~ = (2, −3, 4) que é o vetor
normal de π. O ponto Q = (1 + 2t0 , 1 −3t0 , 1 + 4t0) de r que pertence ao plano π satisfaz
a equação 2(1 + 2t0 ) − 3(1 − 3t0 ) + 4(1 + 4t0 ) − 10 = 0, donde 29t0 = 10 − 2 + 3 − 4 = 7
7 7 7 7
e portanto t0 = . Assim, Q = (1 + 2 29 , 1 − 3 29 , 1 + 4 29 ) e d(P, π) = |P Q| =
29 √
7 7 7 7 7 29
|2 29 , −3 29 , 4 29 ) = 29 |(2, −3, 4)| = .
29
206

r P
•P •
d(P, π)
w
~ −→ w
~
P rojwAP
~
H
H (
(
"•HH
" Q H A•
π π

r
Outra opção para encontrar a distância é calcular a projeção ortogonal de um vetor
−→

Ca
AP , onde A é qualquer ponto do plano, sobre o vetor normal ao plano. Se o plano é
dado pela equação geral, o vetor normal aparece explicitamente e fica portanto o trabalho
de encontrar um ponto do plano e efetuar a projeção. No exemplo acima, para calcular a
distância do ponto P = (1, 1, 1) ao plano π : 2x−3y+4z−10 = 0, temos inicialmente que
w
~ = (2, −3, 4) é o vetor normal e o ponto A = (5, 0, 0) ∈ π pode ser facilmente calculado


7 29
29
.
FS −→
AP
fazendo y = z = 0. Logo d(P, π) = |P rojw~ | =
−→
|(AP · w)|
|w|
~
~
=
|(−4, 1, 1) · (2, −3, 4)|

29
=

Se o plano é dado pela equação vetorial, o ponto A é explı́cito, mas será necessário
-U
calcular o vetor normal, antes de efetuar a projeção.

Exemplos e exercı́cios:

1. Determine a equação da reta r que passa por P = (2, 3, −1) e é perpendicular


DM

ao plano π : x − 5y − 4z − 1 = 0. Encontre o ponto Q onde r fura π.

2. Determine a equação da reta r que passa por P = (2, 3, 4) e é perpendicular ao


plano α : X = (2, 3, 1) + λ(1, 0, −1) + µ(3, 1, 1), λ, µ ∈ R.

3. Determine a equação do plano α que passa por P = (2, 3, 1) e é perpendicular


à reta r : X = (3, 0, 0) + t(2, 1, −3), t ∈ R. Determine Q = r ∩ α.

4. Determine o plano mediador π entre os pontos A = (1, 2, 3) e B = (3, 2, −1).


O plano mediador de A e B é o conjunto dos pontos X do espaço, equidistantes de A e
207

B. O ponto médio M de AB é um de seus pontos. Para cada plano α contendo AB, a


mediatriz de AB em α está contida em π. Logo, concluı́mos que o plano mediador π é
o plano perpendicular a AB por M .

5. Determine a distância de P = (1, 2, 3) ao plano x − 2y − z − 1 = 0.

6. Calcule a distância entre os planos paralelos π1 : x − 2y + 3z − 1 = 0 e π2 :

r
x − 2y + 3z − 10 = 0. Porque os planos são paralelos?

Ca
7. Determine a equação vetorial da reta s que passa por P = (0, 0, 0) e é perpen-
dicular à reta r : X = (1, 0, 0) + t(2, −1, 3), t ∈ R.
Obs: Retas perpendiculares são concorrentes e ortogonais. Logo esta reta s está contida
no plano π que passa por P e é perpendicular a r. Como s é concorrente com r, temos

o plano π. FS
que r ∩ s = r ∩ π = Q. Basta então calcular o ponto Q de s como o ponto onde r fura

Outra opção é por projeção. Veja o final da sugestão para o próximo exercı́cio.

8. Determine a distância do ponto P = (1, 1, 2) à reta r : X = (1, 3, −1) +


-U
t(2, 5, 1), t ∈ R.
−−→
Sugestão: Encontre o ponto Q como no exercı́cio anterior e calcule d(P, r) = |P Q|.
−→
Ou então, por projeção, considere A = (1, 3, −1) ∈ r, projete AP sobre ~v = (2, 5, 1)
−→
obtendo ~p e tome o módulo da diferença |AP − ~p|.
DM

Observe que Q = A + p~.

9. Sejam P = (2, 3, −1) e o plano π : x − 3y − 4z = 0.


a) Calcule o ponto Q do plano π que é a projeção ortogonal do P sobre o plano
π;
b) Calcule o ponto R do espaço, conhecido como simétrico de P em relação a
π.
Para (a), o ponto procurado é exatamente o ponto Q onde a reta normal a π fura o plano
208
−→
π, que também pode ser calculado como Q = P − P rojwAP .
~

−→ −−→ −→ −−→ −− → −−→
Para (b), defina R como o ponto tal que QR = −QP . Logo P R = P Q + QR = 2 P Q,
−−→ −→
AP .
donde segue que o ponto é R = P + 2P Q. Ou então, R = P − 2 P rojw
~

4.1.11 Retas tangentes à circunferência no plano

r
Uma circunferência de centro C e raio R é uma curva plana (isto é, contida num
plano), cujos pontos distam R do centro C. Consideremos aqui as circunferências no

Ca
plano cartesiano R2 .

Dado C = (x0 , y0) e um raio R > 0, um


ponto X = (x, y) ∈ R2 pertence à
y0 C
•b
circunferência de centro C e raio R se
−−→
|CX|2 = (X − C) · (X − C) = R2 , donde FS
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = R2 é a equação
da circunferência.
x0
bR
b•
X
-U
Uma reta r é tangente à circunferência S se a intercepta num único ponto P . Além
disso, por ser uma circunferência, o raio CP da circunferência é normal à reta de tangência
r.

r
Então, a equação vetorial da reta tangente
DM


 à circunferência pelo ponto P é dada por
y0 •C ~v −→
• r : X = P + λ~v, λ ∈ R, onde ~v · CP = 0.
P −→
 E se CP = (a, b), a equação geral da reta

x0 tangente é a(x − x1 ) + b(y − y1 ) = 0,

onde P = (x1 , y1 ).

Use esta idéia para resolver os seguintes exercı́cios:

1. Encontre a equação da circunferência de centro (2, 3) e raio 5. Ache os pontos


209

de intersecção da circunferência com o eixo Ox. Encontre as equações das retas


tangentes nesses pontos.

2. Dado Q = (−3, −4), encontre as equações das retas tangentes à circunferência do


exercı́cio anterior e que passam pelo ponto dado. Analise a mesma questão para
A = (−1, 2)

r
4.1.12 Planos tangentes à esfera no espaço

Ca
Uma esfera de centro C e raio R é uma superfı́cie cujos pontos distam R do centro
C.
Assim, uma esfera de centro C = (x0 , y0 , z0 ) e raio R é dada pela equação (x−x0 )2 +
(y − y0 )2 + (z − z0 )2 = R2 .

FS
Analogamente ao caso de retas tangentes a circunferências no plano, os planos tan-
gentes a esferas de centro C e passando por um ponto P da esfera, são perpendiculares
−→
ao raio da esfera CP .
-U
DM

Assim, se C = (x0 , y0, z0 ) é o centro e P = (x̄, ȳ, z̄) um ponto da esfera, o vetor


normal ao plano tangente è dado por N = (x̄ − x0 , ȳ − y0 , z̄ − z0 ) = (a, b, c) e portanto,
sua equação fica π : a(x − x̄) + b(y − ȳ) + c(z − z̄) = 0.

Exercı́cios:

1. Encontre um plano paralelo ao plano x − 2y − z = 0 e também tangente à esfera


210

(x − 1)2 + (y − 3)2 + (z + 1)2 = 9. Qual o ponto de tangência? Quantos desses


planos existem?

2. Determine a esfera de raio r = 2 tangente ao plano π : x − y + 3z − 1 = 0 pelo


ponto (1, 0, 0) ∈ π.

3. Determine o ponto da esfera (x − 2)2 + (y − 3)2 + (z + 1)2 = 25 com plano

r
tangente ortogonal a ~v = (1, 2, 5). Qual a equação do plano tangente? Qual a

Ca
equação da reta normal à esfera pelo ponto?

FS
-U
DM

4.2 Produto Vetorial


Dados dois vetores ~u e ~v no espaço, vamos definir um novo vetor, ortogonal a ~u e ~v,
denotado por ~u × ~v (ou ~u ∧ ~v , em outros textos) e denominado produto vetorial de ~u e
~v , cujo módulo representa a área do paralelogramo de arestas dadas pelos vetores. Para
definir o sentido de ~u × ~v entre os dois sentidos possı́veis, vamos introduzir o conceito de
orientação no espaço.
211

4.2.1 Orientação geométrica

Orientação sobre uma reta r

Dada uma reta r em que fixamos arbitrariamente um ponto O, temos uma noção
imediata de orientação da reta a partir da escolha de uma das semirretas determinadas
pelo ponto O como sendo o semieixo positivo.

r
Numa representação geométrica de r na posição horizontal, é usual convencionar como

Ca
“orientação positiva”a escolha da semirreta “à direita”do ponto O, que é sua origem.
•O r

Escolhendo a outra semirreta, estarı́amos com “orientação negativa”.


Em linguagem vetorial, a escolha de um vetor diretor ~v da reta r determina auto-

oposto de ~v ) da reta. FS
maticamente o sentido positivo (no sentido do vetor ~v) e o sentido negativo (no sentido

Por isso, dizemos que um vetor ~v 6= ~0 determina a orientação de r.

Orientação do plano R2
-U
Consideremos o plano R2 . Dados um ponto O do plano e um par de vetores {~v1 , ~v2 }
l.i., todos os pontos X do plano são dados pela equação vetorial X = O + λ~v1 + µ~v2 ,
λ, µ ∈ R.
Geometricamente, o ponto O e o vetor ~v1 determinam
DM

uma reta r contida no plano, que separa o plano em dois ~v2


semiplanos. Então, considerando os representantes dos

  r
vetores ~v1 e ~v2 a partir de O, temos que o representante 

 
• ~v1
de ~v2 determina um único semiplano que o contém.  O
212

O ângulo orientado medido no sentido de ~v1


i o
~v2
horár para ~v2 (dentro do semiplano):
-
i
o ant
tid   ou tem sentido horário (acompanhando o
sen  r

 movimento dos ponteiros do relógio)
• ~v1
 O  ou tem sentido anti-horário.
Na ilustração, {~v1 , ~v2 }, nesta ordem, tem o ângulo orientado no sentido anti-horário.

r
Convenciona-se que uma base l.i. de geradores do plano tem orientação positiva

Ca
quando o ângulo orientado no sentido da ordem dos vetores da base tem o sentido
anti-horário.
Exemplo 1: A base canônica C = {~ı, ~} do plano cartesiano R2 tem orientação positiva.
Exemplo 2: Vimos anteriormente que dada uma reta r : X = (x0 , y0 ) + t(a, b), t ∈ R,

~ 1 = (−b, a) ou w
~ 2 = (b, −a) = −w

Os conjuntos B1 = {~v , w
~ 1.

~ 1} e B2 = {~v, w
FS
com ~v = (a, b) 6= (0, 0), a direção de uma reta perpendicular a r poderia ser dada por
w

~ 1}


~v 
r

formam ambos bases ortogonais de R2 , 


w~1 
-U
•
 (x0 , y0 )
porém, B1 é base positiva e B2 é base ne- 
 ~v

gativa, conforme podem ser verificados por 

 •
meio de ângulos orientados. 



DM

w
~2
Em geral, convenciona-se que em R2 , uma base é positiva se possui a mesma ori-
entação da base canônica C = {~ı, ~}.

~ ~v2 ~v1 ~ı ~v1 ~v2

~ı −~
orientação positiva orientação positiva orientação negativa orientação negativa
213

Um critério algébrico para checar se a escolha de uma base B = {~v1 , ~v2 } de R2 é


positiva ou negativa, é o critério do determinante, como segue.
Sejam ~v1 = (a,b) e ~v2 = (c, d) dados num sistema de coordenadas cartesianas.
a b
A matriz A =   cujas linhas são as coordenadas dos vetores, tem determinante
c d
não nulo, já que os vetores são l.i.

r
Se det(A) > 0 a base B tem a mesma orientação da base canônica do sistema, isto

Ca
é, tem orientação positiva. Se det(A) <
0, a base
terá orientação negativa.

a b
No exemplo das bases ortogonais,
= a2 + b2 > 0 donde a base {~v , w
~ 1 } é
−b a


a b
positiva e
= −(a2 + b2 ) < 0, donde a base {~v, w
~ 2 } é negativa.
b −a


a b
definida por B se

> 0.

c d
FS
Mais geralmente, se (a, b) e (c, d) são as coordenadas dos vetores de uma base B1
dados em relação a uma
base B, a orientação definida por B1 é a mesma orientação

-U
Exercı́cios:

1. Determine quais das bases abaixo são positivas:


a) {(1, 1), (−1, 2)} b) {~ı − ~,~ı + ~} c) {(2, −1), (1, −3)}.
d) {(cos θ, sen θ), (− sen θ, cos θ)} obtido da base canônica, por rotação de ângulo
DM

θ
e) {(cos 2θ, sen 2θ), (sen 2θ, − cos 2θ)} obtido da reflexão da base canônica em
relação à direção de ~u = (cos θ, sen θ).

2. Sejam 3 pontos A = (1, 0), B = (0, 1) e C = (1, 1) no plano e a reta r : x − 2y =


4. Considere o triângulo A′ B ′ C ′ refletido do triângulo ABC em relação à reta
−−→ −−→
r. A orientação definida por {A′ B ′ , A′ C ′ } é igual ou oposta à orientação dada
−→ −→
por {AB, AC}? Qual é positiva e qual é negativa?
214

Orientação geométrica no espaço

Consideremos inicialmente dois vetores ~u e ~v no espaço, linearmente independentes.


Fixando arbitrariamente um ponto O no espaço, podemos considerar o plano passando
por O e com direções geradas pelos vetores.
Tal plano determina no espaço dois semiespaços. Seja w
~ um terceiro vetor, não

r
coplanar com ~u e ~v . A semirreta positiva considerando O e w
~ determina a escolha de um
dos semiespaços.

Ca
O conjunto {~u, ~v , w}
~ nesta situação geométrica forma uma base de vetores do espaço,
pois os vetores são não coplanares.
z
Essa base {~u, ~v , w}
~ terá
orientação positiva se, co- wk

locando o observador no
semiespaço escolhido,
orientação no plano de
a
FS x

v
u

{~u, ~v} for positiva (ângulo


-U
orientado de ~u a ~v no sen- y
tido anti-horário).

O observador no outro semiespaço deve “enxergar”a orientação no sentido anti-horário,


DM

pois a base {~u, ~v , −w}


~ será negativa.
Na literatura, é muito usada a versão da “regra da mão direita”: abra a sua mão
direita, espalmada, e alinhe o representante do primeiro vetor, digamos ~u, com o dedo
indicador.
215

Dobre o dedo médio, como na figura ao z

lado, alinhando com o vetor ~v. O sentido w

de ~u para ~v fica de acordo com o fechar da


x u
mão. Se o polegar puder ser alinhado com a
direção de w,
~ então a base é positiva. Caso
v

contrário, a base é negativa.

r
y

Ca
Exemplo 1: A base canônica {~ı, ~, ~k} é uma base com orientação positiva. Assim
como as bases {~, ~k,~ı} e {~k,~ı, ~}. Já as bases {~,~ı, ~k}, {~ı, ~k, ~}, {~k, ~,~i} são bases
negativamente orientadas.

FS
Exemplo 2: Existem exemplos na Fı́sica que seguem a regra da mão direita natural-
mente, como o caso de campo eletromagnético (no sentido de ~u para ~v ) gerando uma
corrente elétrica na direção e sentido de w
{~u, ~v, w}
~ é positiva.
~ ortogonal a ~u e ~v , e de forma que a base
-U
Exemplo 3: Normalmente os parafusos seguem a orientação positiva do espaço: se
giramos a cabeça do parafuso no sentido antihorário (observador no lado da chave de
fenda), o parafuso sai (avança na sua direção). Se giramos no sentido horário, o parafuso
entra (estamos no semiplano oposto à ponta do parafuso). Acontece o mesmo com os
DM

sacarrolhas.
Parafuso sendo apertado, avançando na
w
~
direção e sentido de w,
~ quando girado no sen-
~u
tido horário, de ~u para ~v .
~v
{~u, ~v , w}
~ positivamente orientado.

Assim como no caso de bases no plano, a orientação da base pode ser obtida pelo
determinante da matriz cujas linhas (ou colunas) são as coordenadas dos vetores. Se o
216

determinado é positivo, a nova base tem a mesma orientação da base que geraram as
coordenadas. Caso contrário, a orientação é invertida.
Exemplo 4: A base B = {~v1 = (2, 1, 0), ~v2 = (0, 1, 3), ~v3 = (−1, 2, 1)}
 , cujos vetores

2 1 0
 
 
foram dados em relação à base canônica (base positiva), tem a matriz  0 1 3 com
 
−1 2 1

r
determinante −13 < 0. Logo a base B tem orientação negativa. Veja na ilustração os

Ca
vetores dados, sendo que a figura à direita representa a vista com o observador na extre-
midade final do vetor ~v3 que foi visualizada num ponto.

b
~v2 b

~v2

~k b
b

b
b
b
~v3
FS b

b

~k
b

O O
-U
bb

b
b
b
b
bb
b

~ı b
b

~v1 b ~v3
b

~ b

~
b
b

b
b

~v1
DM

Pode-se observar que olhando do semiespaço determinado pelo vetor ~v3 , a orientação
de {~v1~v2 } no plano por eles definido em O é horária, e portanto, a orientação da base no
espaço B é negativa.
Para usar o dedo indicador como ~v1 , o médio como ~v2 e o polegar como ~v3 seria
necessário utilizar a mão esquerda, indicando que a base é negativa.
É claro que o critério algébrico usando determinantes é mais fácil de ser aplicado
do que os que envolvem visualização geométrica, se os vetores da base forem dados em
coordenadas. Mas se os vetores forem dados pela descrição geométrica, pode ser mais
217

fácil usar os critérios geométricos.

Exercı́cios:
Verifique quais das bases abaixo são positivamente orientadas:
a) {(1, 2, 3), (2, −1, 3), (2, 3, 1)} b) {(1, 2, 3), (2, −1, 3), (−2, −3, 1)}
c) {~e1 , ~e2 , ~e3 } obtida refletindo a base canônica em relação ao plano z = 0. Que base é
essa?

r
d) {f~1 , f~2 , f~3 } obtida rotacionando a base canônica em torno do eixo Oz. Que base é

Ca
essa?
E {f~3 , f~2 , f~1 }? E {f~3 , f~1 , f~2 }?

4.2.2 Definição geométrica do produto vetorial

produto vetorial de ~u por ~v .


FS
Dados dois vetores ~u e ~v no espaço, podemos definir um terceiro vetor, chamado de

Ao contrário do produto escalar, que resulta num escalar, e pode ser definido em
vetores do espaço e em vetores do plano, o produto vetorial só pode ser definido em
-U
vetores do espaço pois está ligado essencialmente ao conceito de orientação no espaço.
O produto vetorial de ~u por ~v, denotado por ~u × ~v (ou ~u ∧ ~v ) é definido como:

1. vetor nulo ~0 se {~u, ~v } for l.d.;


DM

2. um vetor não nulo tal que:


i) seu módulo é |~u × ~v | = |~u||~v| sen ∡(~u, ~v )
ii) sua direção é ortogonal a ~u e a ~v (simultaneamente)
iii) o sentido é tal que {~u, ~v, ~u × ~v } é base positivamente orientada do espaço.
218

w
~ = ~u × ~v
Portanto, ~u × ~v 6= ~0 se, e somente se,
{~u, ~v} for l.i. e temos mais um critério para |w|
~ = |~u| |~v| sen ∠(~u, ~v )
verificar se 2 vetores no espaço são l.i.
{~u, ~v, w}
~ positivamente orientado
A condição (2) determina o módulo, a b
~v b

r
b

b
direção e o sentido de ~u ×~v e portanto a de- A b b

Ca
finição caracteriza completamente o vetor. ~u b

Exercı́cio:
Considere a base o.n. {~ı, ~, ~k} e calcule: ~ı × ~ı, ~ı × ~, ~ı × ~k, ~ × ~ı, ~ × ~, ~ × ~k, ~k × ~ı,
~k × ~ e ~k × ~k.

FS
Por exemplo, ~ı ×~ı = ~0 pois {~ı,~ı} é l.d. e ~ı × ~ = ~k, pois ~k é ortogonal a ~ı e ~, |~k| = 1 é a área
do quadrado determinado por ~ı e ~, e a base {~ı, ~, ~k} é positivamente orientada. Já ~ ×~ı = −~k
para que {~,~ı, ~ ×~ı} seja positivamente orientada.
-U
4.2.3 Propriedades

Pode-se deduzir, a partir da definição geométrica do produto vetorial, as seguintes


propriedades:
DM

1. ~u × ~u = ~0, qualquer se seja ~u.

2. ~0 × ~u = ~0, qualquer se seja ~u.

3. ~u × ~v = −~v × ~u (propriedade anti-comutativa)


Por isso, dados ~u, ~v l.i., a base {~u, ~v , ~u × ~v } é positiva e a base {~v, ~u, ~u × ~v } é
negativa.

4. (~u + ~v ) × w
~ = ~u × w
~ + ~v × w
~ (propriedade distributiva em relação à soma)
219

5. (λ~u) × ~v = ~u × (λ~v ) = λ(~u × ~v ) (propriedade linear em relação à multiplicação por


escalar).

6. ~u · (~u × ~v ) = 0 e ~v · (~u × ~v ) = 0.

7. Se ~u e ~v são unitários e ortogonais, então {~u, ~v , ~u × ~v } é base ortonormal positiva.

r
Exceto pela propriedade (4), as demonstrações são simples e ficam a cargo do leitor.
A propriedade (4) será demonstrada mais tarde.

Ca
Com base nessas propriedades, podemos deduzir o cálculo do produto vetorial de dois
vetores dados em coordenadas em relação à base canônica.

4.2.4 Cálculo do produto vetorial, em coordenadas

~ı ×~ı = ~0
FS
Consideremos a base canônica de R3 , C = {~ı = (1, 0, 0), ~ = (0, 1, 0), ~k = (0, 0, 1)}.
Usando a definição de produto vetorial (exercı́cio!), temos que:

~ ×~ı = −~k ~k ×~ı = ~


-U
~ı × ~ = ~k ~ × ~ = ~0 ~k × ~ = −~ı

~ı × ~k = −~ ~ × ~k = ~ı ~k × ~k = ~0

Sejam ~u = (a1 , a2 , a3 ) = a1~ı + a2~ + a3~k e ~v = (b1 , b2 , b3 ) = b1~ı + b2~ + b3~k. O


produto vetorial ~u × ~v sendo um vetor de R3 , pode ser expresso em coordenadas. Vamos
DM

obter essas coordenadas, utilizando as propriedades anteriomente citadas:


~u × ~v = (a1~ı + a2~ + a3~k) × (b1~ı + b2~ + b3~k) =
a1 b1 (~ı ×~ı) + a1 b2 (~ı × ~) + a1 b3 (~ı × ~k) +
a2 b1 (~ ×~ı) + a2 b2 (~ × ~) + a2 b3 (~ × ~k) +
a3 b1 (~k ×~ı) + a3 b2 (~k × ~) + a3 b3 (~k × ~k) =
a1 b1 (~0) + a1 b2 (~k) + a1 b3 (−~) +
a2 b1 (−~k) + a2 b2 (~0) + a2 b3 (~ı) +
a3 b1 (~) + a3 b2 (−~ı) + a3 b3 (~0)
220

Logo, ~u × ~v = (a2 b3 − a3 b2 )~ı − (a1 b3 − a3 b1 )~ + (a1 b2 − a2 b1 )~k =


= (a2 b3 − a3 b2 , −(a1 b3 − a3 b1 ), a1 b2 − a2 b1 ),
que corresponde ao cálculo do determinante “simbólico”


~ı ~ k
~
a a



a a



a a

2 3 1 3 1 2
a1 a2 a3 =
~ı − ~k.
b b ~ +
2 3 b1 b3 b1 b2

r
b1 b2 b3

Ca
Dizemos “simbólico”porque a matriz não é numérica e portanto, apenas a forma de
calcular é que corresponde ao do cálculo do determinante. Esta representação simbólica
auxilia apenas o cálculo de ~u × ~v em coordenadas.

Exemplo: Vamos calcular o produto vetorial de ~u = (1, 2, 3) por ~v = (4, 5, 6):








4 5 6

~ı ~ ~k


~u × ~v = 1 2 3 =


2 3
5 6








FS
1 3
~ı −
4 6




1 2
~ +



4 5


~k = (−3, 6, −3)

Observamos que a notação ~u × v para o produto vetorial de ~u por ~v inspira o nome


-U
da função no programa Octave que calcula o produto vetorial: ”cross“.
Para calcular o produto vetorial w
~ = ~u × ~v entre ~u = (1, 2, 3) e ~v = (4, 5, 6) no
Octave, digitamos:

u = [1 2 3]
DM

v = [4 5 6]
w = cross(u,v)

Para verificarmos as propriedades do produto vetorial, vamos utilizar o produto escalar e


a norma, já disponı́veis no Octave:

dot(u,w) % ans = 0
dot(v,w) % ans = 0
det([u;v;w]) % ans deve ser positivo,
221

% para que {u,v,w} seja positivamente orientado


norm(w) % ans é a norma do vetor w

Exercı́cios: Determine os seguintes vetores:


a) (1, 2, 3) × (2, −1, 3) b) (~ı − ~ + ~k) × (3~ı + 4~ − ~k)
c) w
~ de módulo 5, ortogonal aos vetores ~u = (1, 2, −1) e ~v = (1, −1, 2), de forma que

r
{~u, ~v, w}
~ seja positivamente orientado.

Ca
Seria possı́vel obter w
~ como acima, com {~u, ~v , w}
~ e {~v, ~u, w}
~ positivamente orientados?

4.2.5 Algumas aplicações do produto vetorial

Cálculo de áreas

D
−−→
com AB = ~u e AD = ~v.


C

FS
O módulo de ~u × ~v , quando ~u e ~v são l.i. representa a área do paralelogramo ABCD
−→
~ h = |~u| h, onde h é
Temos que a área de ABCD é |AB|
a altura em relação à base AB.
~v h 
-U
Sendo θ = ∠(~u, ~v ), temos que

θ  −−→
h = |AD| sen θ = |~v | sen θ.

A ~u B Logo, Área(ABCD) = |~u||~v | sen θ = |~u × ~v | .
−→ −→
|AB × AC|
Consequentemente, a área do triângulo ABC pode ser calculado como .
2
DM

Por exemplo, o triângulo ABC onde A = (1, 2, 0), B = (2, 3, 1) e C = (1, 0, 4) tem
|(1, 1, 1) × (−1, −3, 3)| |(6, −4, −2)| |2(3, −2, −1)| √
área dada por = = = 14. A área
2 −→ −→ 2 √ 2
do paralelogramo ABDC onde D = A + AB + AC, é 2 14.

Cálculo da equação geral do plano dado vetorialmente

Seja o plano π : X = A + λ~u + µ~v , λ, µ ∈ R, onde ~u = (a1 , a2 , a3 ), ~v = (b1 , b2 , b3 ) e


A = (x0 , y0, z0 ).
222

−−→
A equação geral desse plano foi inicialmente calculada fazendo {AX, ~u, ~v} l.d. e
portanto

x − x0 y − y0 z − z0


a1 a2 a3 = 0.


b1 b2 b3


a2 a3 a1 a3 a1 a1

r
Ou seja,

(x − x0 ) −

(y − y0 ) +

(z − z0 ) = 0 é a equação

b2 b3 b1 b3 b1 b2

Ca
geral do plano π. 

a2 a3 a1 a3 a1 a1
Mas como 
,−

,

 = ~u × ~v , a equação acima diz que

b2 b3 b1 b3 b1 b2
−−→
~u × ~v é ortogonal a AX = (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) para todo X ∈ π.
−−→
Logo, calcular o vetor normal ~u ×~v e obter a equação geral de π fazendo AX ·(~
u ×~v ) =

−−→ FS
x − x0 y − y0 z − z0


0 é equivalente a impor que {AX, ~u, ~v } é l.d, fazendo a1


b1
a2
b2



a3 = 0.


b3
Exemplo: Se π : X = (1, 2, 0)+λ(2, 1, 3)+µ(0, 2, 3), λ, µ ∈ R é nosso plano, podemos
-U

~ı ~ ~k


calcular w~ = (2, 1, 3) × (0, 2, 3) calculando o determinante simbólico 2 1 3 = (3 −


0 2 3
6)~ı − (6 − 0)~ + (4 − 0)~k = −3~ı − 6~ + 4~k = (−3, −6, 4).
DM

Então a equação geral do plano π pode ser dada por


−3(x − 1) − 6(y − 2) + 4z = 0.

x − 1 y − 2 z − 0


Esta equação também pode ser obtida fazendo 2 1 3 = 0.


0 2 3

Ortogonalização de bases no espaço

Dada uma base {~u, ~v, w}


~ no espaço, surgem situações em que se deseja contruir uma
base ortonormal {~e1 , ~e2 , ~e3 } tal que ~e1 seja colinear com ~u e ~e2 coplanar com ~u e ~v .
223

~
u
Claro que ~e1 = versor(~u) = |~
u|

Como ~e3 deve ser ortogonal a ~e1 e a ~e2 , e estes são coplanares com ~u e ~v , temos que
~e3 é ortogonal a ~u e ~v, e portanto, podemos considerar ~e3 como o versor de ~u × ~v .
Tendo ~e1 e ~e3 , podemos escolher ~e2 como sendo ~e3 × ~e1 , se quisermos base positiva.
Temos que ~e2 é coplanar com ~u e ~v pois os vetores com essa propriedade são os vetores
ortogonais a ~u × ~v que tem a mesma direção que ~e3 , e ~e2 é ortogonal a ~e3 .

r
Por exemplo, se ~u = (1, 2, 1), ~v = (1, −1, 2) e w
~ = (−3, 2, 1), teremos:

Ca
(1, 2, 1)
• ~e1 = √ ,
6


~ı ~ ~k


• Inicialmente, calculamos ~u × ~v = 1 2 1 = 5~ı − ~ − 3~k = (5, −1, −3).

Então ~e3 =
(5, −1, −3)

35
1 1

1 −1 2
FS

(5, −8, 11)


• ~e2 = ~e3 × ~e1 = √ √ (5, −1, −3) × (1, 2, 1) = √ .
35 6 210
-U
Este processo NÃO é o Processo de ortogonalização de Gram-Schmidt estudado em
Álgebra Linear, que obtém o mesmo resultado sem utilizar produtos vetoriais, somente
com produtos escalares e que, por isso mesmo, se estende para outras dimensões.
Lembramos que para obter as coordenadas dos vetores na nova base ortonormal, basta
DM

fazer ~v = (v · ~e1 )~e1 + (~v · ~e2 )~e2 + (~v · ~e3 )~e3 .


Além disso, (v · ~ei )~ei é a projeção ortogonal de ~v na direção de ~ei e (v · ~ei )~ei + (~v · ~ej )~ej
é a projeção ortogonal de ~v sobre o plano dado pelos vetores ~ei e ~ej (i, j ∈ {1, 2, 3}).
Represente os vetores a partir de um único ponto A para enxergar a geometria.

Exercı́cios:

1. Calcule a área do paralelogramo ABCD, onde A = (1, 2, 3), B = (2, −3, 4) e


D = (1, 3, 5). Calcule também a área do triângulo ABD.
224

2. Determine a equação geral do plano π : X = (0, −1, 3) + λ(1, 1, 4) + µ(2, −3, 1),
λ, µ ∈ R, usando produto vetorial.

3. Determine um vetor w
~ de módulo 10, ortogonal a ~u = (−1, 3, 5) e ~v = (2, −1, 7),
de forma que {~u, ~v , w}
~ seja negativamente orientado.

4. Ortonormalize a base {(1, 2, 3), (0, 1, 3), (0, 0, 5)}, isto é, obtenha uma base or-

r
tonormal, onde o primeiro vetor é paralelo a (1, 2, 3) e o segundo, coplanar com

Ca
(1, 2, 3) e (0, 1, 3).

5. Determine a equação vetorial da reta de intersecção entre os planos π1 : x −


3y + 4z = 0 e π2 : 2x − y − z = 0, sem resolver sistemas.
Observe que a reta de intersecção possui direção comum aos dois planos. Se w
~ define

(1, −3, 4) × (2, −1, −1). FS


essa direção, ele é ortogonal à normal de π1 e à normal de π2 , logo w

~ ∧ AC||.
6. Sendo ABCD um tetraedro regular de lado 1, calcule ||AB ~
~ é paralelo a
-U
7. Encontre a equação vetorial da reta perpendicular comum às retas r : X =
(1, 0, 0) + λ(1, 2, 3) e s : X = (−1, 2, 1) + µ(3, −2, 1). Qual a posição relativa
entre r e s?

8. Enconte um vetor x ortogonal a (1, 1, 0) e a (−1, 0, 1), com norma 3, que faz
DM

ângulo agudo com (0, 1, 0).

9. Determine a equação vetorial da reta que passa por P = (2, 1, −1) e é perpen-
dicular ao plano π : X = (1, 2, −1) + t(2, 3, −1) + s(2, 1, 1), t, s ∈ R.

4.3 Produto misto e o volume do paralelepı́pedo


Dados três vetores ~u, ~v e w,
~ o produto misto desses vetores é definido como o escalar
(~u × ~v) · w
~ e é denotado por [~u, ~v , w].
~
225

Se {~u, ~v, w}
~ for base positiva, o produto misto [~u, ~v , w]
~ representa o volume do para-
lelepı́pedo de arestas ~u, ~v e w
~ com vértice em um ponto A qualquer do espaço.
~u × ~v De fato:
Vimos que |~u × ~v | representa a área do
H
 G
 



paralelogramo da base ABCD,


E  F  −→ −−→




onde ~u = AB e ~v = AD.


r



Além disso, a altura h é medida pela
h ~

Ca



projeção ortogonal de w
~ sobre ~u × ~v, sendo
θ


~v D
 C portanto h = w
~ cos θ, onde






A ~u B θ = ∡(w,
~ ~u × ~v).

Então o volume do paralelepı́pedo é area(ABCD)·h = |~u ×~v ||w|


~ cos θ = (~u ×~v )· w
~=
[~u, ~v, w].
~
Se {~u, ~v, w} FS
~ for base negativa, o produto misto [~u, ~v, w]
~ é negativo e seu módulo é o
volume do paralelepı́pedo. O produto vetorial ~u × ~v estará no semiespaço oposto ao do
paralelepı́pedo ABCDEF GH, em relação à base ABCD formada por ~u e ~v. Observe
-U
que {~u, ~v , −w}
~ será base positiva e o paralelepı́pedo correspondente a ela terá volume
[~u, ~v, −w].
~ Este paralelepı́pedo tem o mesmo volume do anterior. Da propriedade de
produto escalar, segue que o volume é −[~u, ~v, w].
~
Portanto, [~u, ~v , w]
~ representa o volume do paralelepı́pedo, a menos de sinal.
DM

Em coordenadas, se ~u = (u1 , u2, u3 ), ~v = (v1 , v2 , v3 ) e w


~ = (w1 , w2 , w3 ), temos que
[~u, ~v, w]
~ é o determinante da matriz cujas linhas são as coordenadas dos vetores.
De fato,
 

u2 u3 u1 u3 u1 u2
[~u, ~v , w] ~ = 
~ = (~u × ~v ) · w
,−

,

 · (w1 , w2 , w3) =

v2 v3 v1 v3 v1 v2


u2 u3 u1 u3 u1 u2
= w1

− w2

+ w3

=

v2 v3 v1 v3 v1 v2
226


u1 u2 u3


= v1 v2 v3


w1 w2 w3
.
Consequentemente, [~u, ~v, w]
~ = 0 se, somente se, {~u, ~v , w}
~ l.d. Isto generaliza a de-
finição de volume do paralelepı́pedo por produto misto para paralelepı́pedos degenerados,

r
lembrando que quando os vetores são l.d., o “paralelepı́pedo”se achata num plano, dando

Ca
volume nulo.

Exemplo: Vamos calcular o volume do paralelepı́pedo ABCDEF GH como na figura


anterior, onde .A = (1, 2, 0), B = (0, 1, 2), D = (1, 1, 3) e E = (2, 3, 5).
−→ −−→ −→
Temos ~u = AB = (−1, −1, 2), ~v = AD = (0, −1, 3) e w ~ = AE = (1, 1, 5). Assim, o

FS
volume do paralelepı́pedo é |[~u, ~v, w]|. ~ = 0 −1 3 = 7, tem-se que
~ Como [~u, ~v , w]

o volume é 7u3 , onde u é a unidade de medida utilizada..


−1 −1 2




1 1 5



Como o produto misto é positivo, temos também que {~u, ~v , w}


~ é uma base positiva no
-U
espaço.
1 7
O volume do tetraedro ABDE é V olume(paralelepipedo) =
6 6
Exercı́cios:
DM

1. Calcule o volume do paralelepipedo cujas arestas que incidem num vértice são
dados pelos vetores ~u = (1, −2, 3), ~v = (1, 1, −3) e w
~ = (2, −1, 1).

2. Calcule o volume do tetraedro de vértices A = (1, 1, 3), B = (0, 1, 1), C =


(3, −2, 1) e D = (−1, 1, 5). Qual a altura deste tetraedro em relação à base
ABC?

3. Justifique que se A, B e C são três pontos do espaço, e a matriz cujas linhas


são as coordenadas dos pontos tem determinante não nulo, os três pontos são
227

não colineares.
Dê exemplo de uma terna de pontos, mostrando que a recı́proca não é verda-
deira, isto é, os pontos podem ser não colineares e o determinante ser nulo.

4. Suponha que ~u, ~v e w


~ sejam três vetores do espaço cujo produto misto é nulo.
Pode-se dizer que: ( ) os vetores são l.d., ( ) os vetores são coplanares, ( )

r
os vetores são colineares, ( ) w
~ é c.l. de ~u e ~v .
−−→

Ca
5. Seja o plano α : X = A + λ~u + µ~v . Justifique que [AX, ~u, ~v] = 0.
Seja E+ o semiespaço determinado por α contendo P = A + ~u × ~v e seja E− o
semiespaço oposto.
−→ −→
Se Y e Z são pontos do espaço com [AY , ~u, ~v ] > 0 e [AZ, ~u, ~v] < 0, em qual

4.3.1
FS
semiespaço está Y e em qual está Z?

Propriedades de determinantes versus produto misto

1. Se trocarmos duas linhas de uma matriz entre si, o determinante muda de sinal.
-U
Trocando duas vezes, volta ao original.
Consequentemente, [~u, ~v, w]
~ = −[~v , ~u, w]
~ = −[w,
~ ~v, ~u] = −[~u, w,
~ ~v] = [~v , w,
~ ~u] =
[w,
~ ~u, ~v].
Isto é equivalente às bases {~u, ~v , w},
~ {~v, w,
~ ~u} e {w,
~ ~u, ~v } terem a mesma ori-
DM

entação, assim como as bases {~v , ~u, w},


~ {~u, w,
~ ~v } e {w,
~ ~v , ~u}, com orientações
contrárias às do primeiro grupo.

Para memorização, veja o esquema da figura abaixo:


228

~v ~v

w
~ ~u w
~ ~u

{~u, ~v, w},


~ {~v, w,
~ ~u} e {w,
~ ~u, ~v } {~u, w,
~ ~v }, {w~
~ v , ~u} e {~v , ~u, w}
~
no mesmo sentido da seta no sentido da seta ao contrário

r
◭◮

Ca
2. [~u1 + ~u2 , ~v, w]
~ = [~u1 , ~v, w]
~ + [~u2 , ~v , w],
~ ~u, ~v1 + ~v2 , w]
~ = [~u, ~v1 , w]
~ + [~u, ~v2 , w]
~ e
[~u, ~v, w
~1 + w
~ 2 ] = [~u, ~v , w
~ 1] + [~u, ~v, w
~ 2 ], das propriedades de produto vetorial e
escalar (prove!). Isto corresponde a uma propriedade conhecida dos determinantes:
se uma linha Li [ou coluna Cj ] da matriz pode ser escrita como uma soma L1i + L2i
[ou Ci1 + Ci2 ], o determinante da matriz é uma soma de dois determinantes, como
no exemplo:


1




2







3 1 2 3 1 2 3




FS



4 + 5 6 + 7 8 + 9 = 4 6 8 + 5 7 9


10 11 12 10 11 12 10 11 12
-U
3. A propriedade [λ~u, ~v , w]
~ = [~u, λ~v , w]
~ = [~u, ~v, λw]
~ (prove!), corresponde a outra
propriedade dos determinantes: se multiplicarmos uma linha [ou coluna] de uma
matriz quadrada por um escalar λ, temos que o determinante da nova matriz é
λ det A. A propriedade de determinantes vale para qualquer ordem da matriz.
DM

Consequentemente, se A é uma matriz n × n, det(λA) = λn det A, já que multi-


plicamos n linhas por λ.
Geometricamente, se multiplicarmos o comprimento de uma aresta de um parale-
lepı́pedo por λ > 0 (ampliação se λ > 1 ou redução se 0 < λ < 1), o volume será
multiplicado pelo mesmo fator λ.

4. [~u, ~v, w]
~ = 0 se dois dos vetores são múltiplos entre si (logo o conjunto é l.d.).
Numa matriz quadrada, se duas linhas [ou colunas] são múltiplas uma da outra, o
229

determinante é 0.
Na verdade, isto é só um caso particular de linhas [ou colunas] l.d., em que uma
delas é combinação linear das outras.

Observe que a definição da relação entre [~u, ~v , w]


~ e o volume de um paralelepı́pedo

r
não dependeu de coordenadas. Assim como o fato de que [~u, ~v, w]
~ = [~v , w,
~ ~u] e portanto

Ca
(~u × ~v ) · w
~ = ~u · (~v × w)
~ (*). Além disso, para o produto escalar já foi visto que
(~u + ~v ) · ~a = ~u · ~a + ~v · ~a (**).
Assim, podemos utilizar os fatos acima para demonstrar a propriedade do produto
vetorial: (~u + ~v ) × w
~ = ~u × w
~ + ~v × w.
~
De fato:

FS
Considere uma base ortonormal {~ı, ~, ~k} do espaço. Como os vetores são escritos de
maneira única nesta base, basta mostrar que (~u + ~v ) × w
~ e ~u × w
~ + ~v × w
~ têm as mesmas
coordenadas (x, y, z). Como a base é ortonormal, essas coordenadas de um vetor se
expressam em termos de produto escalar (lembrando que ~v = (~v ·~ı, ~v · ~, ~v · ~k)). Ou seja,
-U
basta mostrar que

x = ((~u + ~v ) × w)
~ ·~ı = (~u × w
~ + ~v × w)
~ ·~ı = (~u × w)
~ ·~ı + (~v × w)
~ ·~ı
y = ((~u + ~v ) × w)
~ · ~ = (~u × w
~ + ~v × w)
~ · ~ = (~u × w)
~ · ~ + (~v × w)
~ · ~
~ · ~k = (~u × w ~ · ~k = (~u × w)
~ · ~k + (~v × w)
DM

z = ((~u + ~v ) × w) ~ + ~v × w) ~ ·~.

∗ ∗∗ ∗
Mas x = ((~u +~v)× w)·~
~ ı = (~u +~v )·(w×~
~ ı) = ~u ·(w×~
~ ı)+~v ·(w×~
~ ı) = (~u × w)·~
~ ı+(~v × w)·~
~ ı.
Para y e z é análogo.

Exercı́cios

1. Sejam ~u = (1, 0, −1), ~v = (2, 3, 1) e w


~ = (1, 1, 2). Calcule [u, v, w], [v, w, u],
[w, u, v], [v, u, w], [u, w, v] e [w, v, u], calculando somente um determinante.
Quais são bases positivas?
230

2. Mostre, usando propriedades do produto misto, que [~u, ~v, λ~u + µ~v ] = 0, para
quaisquer ~u, ~v no espaço e quaisquer escalares λ e µ. Conclua que ~u, ~v e w
~ são
l.d. se, e somente se, o produto misto [~u, ~v, w]
~ é nulo (não precisa ser o terceiro
vetor a ser c.l. dos demais!).

4.4 Mais geometria analı́tica de retas e planos

r
Ca
4.4.1 Equações da reta na forma simétrica

Lembremos que uma reta r é determinada por um ponto A e um vetor ~v , não nulo,
sendo sua equação vetorial dada por r : X = A + λ~v , λ ∈ R.
O escalar λ é chamado parâmetro da equação.
f

FS
A aplicação λ 7−→ X = A + λ~v , que associa a cada λ real um ponto X = A + λ~v,
é chamada parametrização da reta r e evidencia o caráter dinâmico da trajetória retilı́lea
percorrida por um ponto X da reta, dependendo do parâmetro λ.
As equações paramétricas da reta que passa por A = (x0 , y0 , z0 ) e tem a direção de
-U
~v = (a, b, c) 6= (0, 0, 0) (no caso de R3 ) expressam a dependência das coordenadas de
X = (x, y, z) da reta, em relação ao parâmetro em questão:




 x = x0 + λa

DM


y = y0 + λb , λ∈R





z = z0 + λc

Se a, b e c forem todos não nulos, então em cada uma das equações paramétricas
podemos isolar o parâmetro λ correspondente ao ponto (x, y, z):
x − x0 y − y0 z − z0
λ= = =
a b c
As expressões dentro do retângulo acima não contém λ e expressam as relações que
existem entre as coordenadas de X ∈ r, independente do parâmetro. São chamadas
231

equações da reta r na forma simétrica.


y − y0 z − z0
Se a = 0, b 6= 0 e c 6= 0, ficamos com as equações x = x0 , = e fica
b c
claro que a reta r está contida num plano paralelo ao plano yz dado por x = x0 .
Se a = 0 e b = 0 (neste caso, somente c 6= 0), ficamos com as equações x = x0 , y = y0
como as equações na forma simétrica.
Faça como exercı́cio as análises dos outros casos: (i) somente b = 0, (ii) somente

r
c = 0, (iii) somente a 6= 0, (iv) somente b 6= 0.

Ca
Nesta ilustração, a reta foi dada pela
equação na forma simétrica
y−2 z−1
r : x = 2, = , e visualizada na
1 3
região [0, 4] × [−2, 4] × [−2, 4]
4

0
1

–1
π1 :
x=2

r
FS A reta r é a intersecção do plano
π1 : x = 2, paralelo ao plano yz,
com o plano π2 :
y−2
1
=
z−1
3
.
-U
–2
–2 π2 0
–1
1
0
1 2
y x
2
3
3
4 4
DM

Agora, consideremos o caso em R2 :  Sejam A = (x0 , y0), ~v = (a, b) 6= (0, 0) e a reta



x = x0 + ta
r(A, v) dada em equações paramétricas , t ∈ R.

y = y0 + tb
x − x0 y − y0
Considerando a 6= 0 e b 6= 0, temos a equação simétrica = , donde
b b
b b
y − y0 = (x − x0 ), que pode ser escrita na forma y = m(x − x0 ) + y0 , onde m = ,
a a
ou ainda, y = mx + n, onde n = −mx0 + y0 .
232

r y = mx + n
y • b
A m = = tg θ, onde θ é o ângulo entre r e
a
n o eixo positivo Ox, é conhecido como
~v
b coeficiente angular da reta r.
θ n é a ordenada do ponto de intersecção da
~ı a x
reta r como o eixo Oy.

r
Quando a = 0, a equação da reta na forma simétrica será simplesmente x = x0 .

Ca
Analogamente, se b = 0, a equação na forma simétrica é y = y0 .
Em qualquer dos casos acima, a forma simétrica de uma reta no plano é um caso
particular da equação da reta na forma geral, da forma αx + βy + γ = 0, onde w
~ = (α, β)
é o vetor normal à reta.

4.4.2 FS
Posição relativa entre dois planos

A partir da equação geral de um plano no espaço, π : ax + by + cz + d = 0, onde


~n = (a, b, c) é o vetor normal ao plano, o estudo das posições relativas entre dois planos
-U
se torna mais rico.
Consideremos os planos π1 : a1 x + b1 y + c1z + d1 = 0 e π2 : a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0,
com vetores normais ~n1 = (a1 , b1 , c1 ) e ~n2 = (a2 , b2 , c2 ), respectivamente.
DM

1. O plano π1 é paralelo ao plano π2 se e somente se π1 ∩ π2 é vazio. Isto é, o



a1 x + b1 y + c1 z + d1 = 0
sistema linear é impossı́vel. Neste caso, posto(A)=1

a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0
e posto([A | B])=2.
Geometricamente, isto ocorre quando {~n1 , ~n2 } é l.d. e, portanto, ~n2 = k~n1 para
um escalar k 6= 0, mas d2 6= kd1 .
233

Nesta ilustração, os planos são


π1 : y + z = 1 e π2 : 2x + 2z = 4.
2 π2 ~n2
~n1 = (0, 1, 1) é paralelo a ~n1 = (0, 2, 2)
1.5
com ~n2 = 2~n1 , mas 4 6= 2 × 1.
1 π1 Logo não existe (x, y, z) satisfazendo as
duas equações ao mesmo tempo.

r
0.5
~n1
0

Ca
0 1
0 0.5 x
1 1.5
y 2

2. π1 é coincidente com π2 se todosos pontos de π1 também são pontos de π2 e



a1 x + b1 y + c1 z + d1 = 0
vice-versa. Neste caso, o sistema é possı́vel e inde-

a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0

é 2, que é a dimensão de um plano. FS


terminado, com posto(A)=1 e posto([A | B])=1, e portanto, o grau de liberdade

Geometricamente, {~n1 , ~n2 } é l.d., ~n2 = k~n1 e além disso, d2 = kd1 .

3. π1 intercepta π2 segundo uma reta.


-U
Neste
 caso {~n1 , ~n2 } é l.i. e o sistema

a1 x + b1 y + c1 z + d1 = 0

~n1 
a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0
π1 possı́vel e indeterminado, com grau de
DM

liberdade 1, ou seja, existe a escolha de


~v
• ~n2 um parâmetro escalar para descrever o
P
π1 ∩ π2 = r conjunto de soluções, e portanto esse
conjunto é uma reta.
π2

Já vimos que a equação vetorial (ou as paramétricas) da reta aparece naturalmente
quando aplicamos o método de eliminação de Gauss para resolver o sistema.

Aqui apresentamos uma outra maneira geometricamente interessante para o pro-


234

blema de determinar r, que é observar que o vetor direção ~v 6= ~0 de r = π1 ∩π2 deve


ser ortogonal a ~n1 e a ~n2 simultaneamente. De fato, por ~v ser um vetor contido
em π1 , segue que ~v ⊥ ~n1 e por ~v ser um vetor de π2 , segue que ~v ⊥ ~n2 . Logo ~v e
~n1 × ~n2 são paralelos.

Assim, conhecido um ponto P , solução do sistema, a equação vetorial será conhe-


cida: r : X = P + t(~n1 × ~n2 ), t ∈ R.

r
Por exemplo, os planos da ilustração, π1 : 3x − z = 0 e π2 : −x + z = 0 têm

Ca
o ponto P = (0, 0, 0) na intersecção. Como ~n1 = (3, 0, −1) e ~n2 = (−1, 0, 1),
temos que ~v k ~n1 × ~n2 = (0, 2, 0). Podemos tomar ~v = (0, 1, 0. Então r : X =
(0, 0, 0) + t(0, 1, 0), t ∈ R, ou seja, r neste caso é o eixo Oy.

4.4.3
FS
Posições relativas entre retas no espaço, com produto
vetorial

As posições relativas entre retas no espaço também podem ser analisadas com o uso
-U
do produto vetorial. Sejam r1 : X = A + λ~v1 , λ ∈ R e r2 : X = B + µ~v2 , µ ∈ R as
duas retas.

1. Se ~v1 × ~v2 = ~0 temos que ~v1 e ~v2 são l.d., e portanto, as retas são paralelas ou
coincidentes. Se além disso, A ∈ r2 (ou B ∈ r1 ), então são coincidentes. É claro
DM

que se ~v1 e ~v2 são conhecidos em coordenadas, é muito mais fácil ver se são l.d ou
l.i. verificando se são múltiplos ou não.
−→
Quando as retas são paralelas, temos também que {~v1 , AB} é l.i. O plano deter-
−→
minado por A, ~v1 e AB é o plano contendo ambas as retas.

2. Se ~v1 × ~v2 6= ~0 as retas têm direções l.i. e portanto, são concorrentes ou reversas.
−→ −→
Se ainda [~v1 , ~v2 , AB] = 0, então AB é coplanar com ~v1 e ~v2 , donde as retas são
−→
concorrentes. Caso contrário, {~v1 , ~v2 , AB} é l.i. e as retas são reversas.
235

Se as retas são concorrentes, o plano


X = A + λ~v1 + µ~v2 é o plano contendo
r s
•A as retas. O vetor normal a esse plano é
~v1 × ~v2
~v1 × ~v2 .
~v1

~v2

r
•B

Ca
Se as retas são reversas, o plano ~v1 × ~v2
π1 : X = A + t~v1 + s~v2 , t, s ∈ R, r1
A
contendo r1 e paralelo a r2 , • π1
~v1
é paralelo ao plano
π2 : X = B + t~v1 + s~v2 , t, s ∈ R,
contendo r2 e paralelo a r1 .
Ambos os planos têm vetor normal
FS ~v1 × ~v2

B

~v2 r2
π2
-U
~v1 × ~v2 .

Observe que não existe plano algum contendo as duas retas simultaneamente.

Além disso, a reta s perpendicular comum às duas retas reversas tem a direção de
~v1 ×~v2 . E o plano contendo r1 e a direção ~v1 ×~v2 encontra r2 no ponto s∩r2 . Como
DM

exercı́cio, construa duas retas reversas e determine a reta perpendicular comum às
retas dadas.

4.4.4 Ângulo entre dois planos

Consideremos dois planos π1 : a1 x+b1 y +c1 z +d1 = 0 e π2 : a2 x+b2 y +c2 z +d2 = 0.


Os vetores ~n1 = (a1 , b1 , c1 ) e ~n2 = (a2 , b2 , c2 ) são respectivamente os vetores normais
de π1 e π2 .
236

Já vimos que se {~n1 , ~n2 } é l.d. os planos são paralelos ou coincidentes. Quando são
coincidentes, dizemos que o ângulo entre π1 e π2 é zero. Quando são paralelos, não
definimos o ângulo entre π1 e π2 .
Consideremos então o caso em que {~n1 , ~n2 } é l.i. e portanto a intersecção π2 ∩ π2 é
uma reta, e tem sentido considerar os ângulos que se formam na intersecção, chamados
ângulos diedrais, como na figura. As medidas dos ângulos diedrais correspondem às

r
medidas dos ângulos formados pelos planos num plano perpendicular aos dois.

Ca
Observemos que, por um ponto P fora dos •P
planos, podemos traçar retas ~n1
π1 ~n2
perpendiculares aos planos π1 e π2 , que Q•
interceptam os planos nos pontos Q e R, π2
•R
respectivamente. Veja a ilustração ao lado. •
Os pontos P , Q e R determinam um plano
FS
que é ortogonal a π1 e π2 simultaneamente
(um vetor normal deste plano é ~n1 × ~n2 ) e r

S

~n1 × ~n2

que intercepta r = π1 ∩ π2 no ponto S,


-U
formando um quadrilátero P QSR.
Neste quadrilátero, os ângulos em R e Q são retos por construção, e os ângulos em
S e P têm medidas suplementares e descrevem aos ângulos diedrais que se formam entre
os planos (confira na figura).
DM

Definimos como ângulo entre os planos π1 e π2 , o menor dos dois ângulos, que é
exatamente o ângulo entre as retas normais, r1 (P, Q) e r2 (P, R).
|~n1 · ~n2 | π
Logo, ∡(π1 , π2 ) = arccos , sendo o ângulo entre 0 e radianos.
|~n1 ||~n2 | 2
Em particular, se ~n1 ⊥ ~n2 , temos que π1 ⊥ π2 .
237

4.4.5 Ângulo entre uma reta e um plano

Consideremos uma reta dada por r : X = A + t~v , t ∈ R, e um plano π : ax + by +


cz + d = 0, com vetor normal ~n = (a, b, c).

1. Se {~v, ~n} for l.d., então a reta r é perpendicular ao plano π, e portanto o ângulo
π
entre r e π é reto (90 graus ou radianos). (Obs: Não confundir a notação π

r
2
utilizada ao nome do plano e o número real π usada na medição de ângulos!)

Ca
2. Se {~v , ~n} for l.i, há três casos a considerar:

(a) ~v · ~n = 0, isto é, ~v ⊥ ~n, e A ∈


/ π. Neste caso, a reta r é paralela ao plano π já
que a direção de ~v é uma direção do plano. Nenhum ponto da reta pertence

considerar. FS
ao plano, isto é, a intersecção r ∩ π é vazia. Neste caso, não há ângulo a

(b) ~v ·~n = 0, e A ∈ π. Como ~v é um vetor do plano, r estará inteiramente contida


em π. Neste caso, o ângulo entre a reta e o plano é zero.
-U
(c) ~v · ~n 6= 0. Neste caso a reta r é transversal ao plano π, interceptando-o num
único ponto P .

Podemos considerar então um plano α contendo a reta r e é perpendicular ao


plano π dado, gerado por {~v , ~n} e que passa pelo ponto P .
DM
238

A reta s de intersecção de α com o


plano π é chamada projeção ortogonal
de r sobre o plano π.
r
O ângulo entre s e r em P é definido
~n α
~v como o ângulo entre a reta r e o plano
π. Pela própria construção, este ângulo

r

P
s é complementar do ângulo agudo entre

Ca
π as direções de ~v e de ~n.

π |~v · ~n| |~v · ~n|


Logo, ∡(r, π) = − arccos = arcsen .
2 |~v ||~n| |~v ||~n|

4.4.6 Distâncias

1. Distância entre ponto e plano.


FS
A distância de um ponto P a um plano π é o comprimento do segmento P Q, com
−→
-U
Q ∈ π e P Q ⊥ π. O ponto Q é a intersecção da reta normal a π que passa por P ,
com o plano π.
P P
• •
~n
dist(P, π) −→
P roj~nAP
DM

H
H (
(
π π
"•HH
" Q H A•

Também se pode obter a distância de P a π escolhendo qualquer ponto A ∈


−→
π e projetanto ortogonalmente AP sobre a normal ~n do plano π e tomando o
comprimento da projeção.
239

Quando π : ax + by + cz + d = 0 e P = (x̄, ȳ, z̄), temos a fórmula clássica:

|ax̄ + bȳ + cz̄ + d|


d(P, π) = √ .
a2 + b2 + c2

De fato, seja A = (x0 , y0, z0 ) um ponto qualquer de π. Temos que d(P, α) =


|(P − A) · ~n| |(x̄ − x0 , ȳ − y0 , z̄ − z0 ) · (a, b, c)|
= √ .
|~n| a2 + b2 + c2
Mas |(x̄ − x0 , ȳ − y0 , z̄ − z0 ) · (a, b, c)| = |a(x̄ − x0 ) + b(ȳ − y0 ) + c(z̄ − z0 )| =

r
|ax̄ + bȳ + cz̄ + d − (ax0 + by0 + cz0 + d) | = |ax̄ + bȳ + cz̄ + d|, donde segue o
| {z }

Ca
=0 pois A∈π
resultado.

2. Distância entre reta e plano.

Se algum ponto da reta estiver também P r


no plano, a distância é zero.

Se a reta for paralela ao plano, a


FS
distância da reta ao plano é a distância
H
H

"•HH
" Q H
~n

de qualquer um de seus pontos ao


-U
plano.

3. Distância entre dois planos.


A distância entre dois planos é zero se
DM

eles se interceptam ou são coincidentes.


A distância entre dois planos paralelos é P

a distância de qualquer ponto de um dos ~n
planos ao outro plano. H
H
π
"•HH
" Q H

4. Distância entre ponto e reta no espaço.


240

Dada uma reta r : X = A + t~v , t ∈ R, e um ponto P = (x0 , y0 , z0 ) fora de r,


a distância de P a r é o comprimento do segmento P Q perpendicular a r, com
Q ∈ r.

Pode-se determinar Q como a


intersecção de r com o plano π

r
perpendicular a r passando por P , de P•
r

Ca
equação geral

a(x − x0 ) + b(y − y0 ) + c(z − z0 ) = 0. A
T
 ~v
−→ •
Daı́, basta calcular |P Q|. Q
Mas também pode-se projetar o vetor
−→

vetor ~v1 , donde o vetor w

|w|
−→
FS
AP sobre o vetor ~v da reta, obtendo um
~ = AP − ~v1
será ortogonal a r e seu comprimento
~ é a distância procurada.
-U
5. Distância entre duas retas.

Sejam as retas r1 : X = A + t~v1 , t ∈ R, e r2 : X = B + s~v2 , s ∈ R.

se r1 e r2 forem duas retas coincidentes ou duas retas concorrentes, a distância


DM

entre elas é zero.

Se r1 e r2 são duas retas paralelas, a r1


distância entre elas é o comprimento de )
P• P ,r 2
um segmento P Q, onde P ∈ r1 , Q ∈ r2 ist(
A
 =d
r 2) r2
e P Q perpendicular às duas retas. Para t( r 1,
dis
se obter esta distância, basta escolher


qualquer ponto P ∈ r1 e calcular a A •
Q
distância de P a r2 .
241

Também no caso de retas r1 e r2 reversas, a distância é dada como o comprimento


do segmento P Q, onde P ∈ r1 , Q ∈ r2 e P Q é perpendicular às duas retas.

O plano
~v2 × ~v1
α : X = A + t~v1 + s~v1 × ~v2 é um
r1
plano contendo r1 e a direção P
A •

r
( π1
normal às duas retas. Logo o • ~v1 ( d(r1 ,r2 )

Ca
segmento P Q procurado está em ~v2 × ~v1 α
α e portanto, Q ∈ r2 só pode ser • (((
B (•((((((
(
((( Q
r2 ∩ α. Fica como exercı́cio (((( π2
~v2 r2
encontrar P .

os pontos P e Q. FS
Essa distância pode ser obtida de diversas maneiras sem necessariamente obter-se

• Os planos paralelos π1 e π2 contendo r1 e r2 respectivamente, como na figura,


distam entre si dist(π1 , π2 ) = dist(r1 , r2 ).
-U
• Mas tendo o plano π1 contendo r1 e paralelo a r2 , a distância de r1 a r2 é a
distância deste plano a r2 .

• Ou ainda, tomando dois pontos quaisquer A ∈ r1 e B ∈ r2 . e projetando


−→
ortogonalmente o vetor AB sobre o vetor ~v1 × ~v2 ,obtemos um vetor ortogonal
DM

às duas retas e de comprimento igual à distância.

Em todos os casos, a distância entre as retas r1 e r2 é o menor comprimento |XY |,


onde X ∈ r1 e Y ∈ r2 . E esse mı́nimo ocorre no segmento P Q perpendicular às
duas retas.
242

4.4.7 Simétrico de um ponto P em relação a um plano π


P Por P ∈
/ π, considere a reta

~n perpendicular a π que o intercepta num
único ponto Q. O ponto simétrico a Q
H
H
π
"•HH em relação a π é o ponto P ′ sobre esta
" Q H
−→ −−→
reta que satisfaz P Q = QP ′ . Que

r

estratégia você usaria para encontrar o

Ca
•P
ponto P ′ ?

Exercı́cios:

1. Determine as equações (i) paramétricas, (ii) vetorial e (iii) na forma simétrica,


das retas:

(a) r :


x − 2y + 3z − 2 = 0

2x − y − z + 10 = 0
FS (b) s :


x = 0

y + z = 2
(c) ℓ :


x = 0

y = 2

2. Calcule os ângulos entre os pares de planos que definiram as retas do exercı́cio


-U
anterior.

3. Seja a reta r : X = (1, 5, 2) + λ(1, 3, 2), λ ∈ R. Determine as equações na


forma simétrica. Exiba equações de dois planos α e β com r = α ∩ β. Calcule
a distância de P = (0, 0, 0) a r. Repita o exercı́cio com outras retas.
DM

4. Determine o ângulo entre:


x−1 y−3 z−1
(a) as retas r : X = (1, 2, 0) + λ(1, 3, 7) e = = .
2 1 3
(b) a reta r : x = (1, 0, 0) + t(3, 3, 5) e o plano α : x − 3y − 7z − 1 = 0.
(c) os planos α : x − 2y + 3z − 1 = 0 e β : x + y + z − 1 = 0.
(d) os planos α : x − 2y + 3z − 1 = 0 e β : X = (2, 3, 0) + t(1, 2, 0) + s(2, 4, −1).

5. Calcule a distância entre:


(a) o ponto P = (0, 0, 0) e o plano α : x + 3y − z − 10 = 0.
243




x= 5−t


(b) o ponto P = (1, 2, 0) e a reta r : y = 2 + 3t ,t∈R





z = 1 − 2t
(c) o ponto P = (1, 2) e a reta r : x − 2y = 0.
(d) os planos x − 2y + z − 1 = 0 e x − 2y + z 
− 10 = 0.

r

x= 5−t+s


x−2 y−3 

Ca
(e) a reta r : = ; z = 3 e o plano y = 2 + 3t − s , t, s ∈ R.
2 1 




z = 1 − 2t
(f) as retas r : x = 5, z = 3 e s : X = (1, 0, 0) + t(5, −1, 2), t ∈ R.

6. Determine a distância de P = (9, 1, 0) ao plano x − 2y + z − 3 = 0, das seguintes


maneiras:
FS
(a) calculando o pé da perpendicular.
(b) pela fórmula da distância de ponto a plano com equação geral.
(c) por projeção de um vetor (qual?) na direção normal do plano (qual?)
-U
7. Determine o ponto simétrico a P = (3, 5, 9) em relação ao plano π : X =
(1, 0, 0) + t(2, −2, 1) + s(3, 4, 0), t, s ∈ R, das seguintes maneiras:
(a) calculando o pé da perpendicular. (b) usando projeções.
DM

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