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Departamento de Matemática

Geometria Analítica
Lições para o ensino a distância

Docente: Leonardo S. Banze

Ano Lectivo: 2014

Docente: Leonardo Simão Banze 0


Introdução
A Geometria, como ciência dedutiva, foi historicamente criada pelos gregos. Porém, apesar do
seu brilhantismo, faltava operacionalidade à geometria grega. E isto só iria ser conseguido
mediante a Álgebra como princípio unificador. Os gregos, porém, não eram muito bons em
Álgebra. Mais do que isso, somente no século XVII a Álgebra estaria razoavelmente preparada
para uma fusão criativa com a Geometria.
A Geometria Analítica, também denominada de coordenadas geométricas, se baseia nos estudos
da Geometria através da utilização da Álgebra. Os estudos iniciais estão ligados aos matemáticos
franceses René Descartes (1596 -1650), criador do sistema de coordenadas cartesianas e Pierre
de Fermat (1601-1665).
Descartes, ao relacionar a Álgebra com a Geometria, criou princípios matemáticos capazes de
analisar por métodos geométricos as propriedades do ponto, da recta e da circunferência,
determinando distâncias entre eles, localização e pontos de coordenadas.
A contribuição de Fermat à Geometria Analítica encontra-se num pequeno texto intitulado
“Introdução aos Lugares Planos e Sólidos” e data no máximo, de 1636 mas que só foi publicado
em 1679, postumamente, junto com sua obra completa. É que Fermat, bastante modesto, era
contrário à publicação de seus trabalhos. Disso resulta, em parte, o facto de Descartes ser
geralmente mais lembrado como criador da Geometria Analítica.
Uma característica importante da Geometria Analítica se apresenta na definição de formas
geométricas de modo numérico, extraindo dados informativos da representação. Com base
nesses estudos, a Matemática passa a ser vista como uma disciplina moderna, capaz de explicar e
demonstrar situações relacionadas ao espaço. As noções intuitivas de vectores começam a ser
exploradas de forma contundente, na busca por resultados numéricos que expressem as ideias da
união da Geometria com a Álgebra.
Os vectores constituem a base dos estudos do espaço vetorial, objectos que possuem as
características relacionadas ao tamanho, direção e sentido. Os vectores são muito utilizados na
Física, como ferramenta auxiliar nos cálculos relacionados à Cinemática Vetorial, Dinâmica,
Campo Elétrico entre outros conteúdos relacionados. Os cientistas Isaac Newton (1643-1727) e
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) concentraram estudos na Geometria Analítica, que
serviu como base teórica e prática para o surgimento do Cálculo Diferencial e Integral, muito
utilizado actualmente na Engenharia.

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Unidade I: Vectores e operações com vectores
Introdução
Nesta unidade vamos falar do conceito de vector e suas propriedades, bem como das operações
de adição e multiplicação com vectores. Estes fundamentos da Álgebra vectorial constituem a
base para o tratamento das matérias das próximas unidades. Por isso, é importante que voce
assimile e domine bem as operações com os vectores para melhor compreender as matérias a
seguir a esta unidade.

Objectivos
No final desta unidade você deverá ser capaz de:
 Efectuar as operações com vectores e interpretar os resultados do ponto de vista da
geometria.
 Representar vectores num sistema de coordenadas, no plano e no espaço.
 Determinar o ângulo formado por dois vectores.
 Resolver problemas práticos de geometria aplicando as operações sobre vectores e suas
propriedades

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Lição nº 1

Vectores. Adição de vectores


Geometricamente um vector é um segmento de recta orientado, podendo, geralmente, ser
designado pelas letras que indicam os seus extremos (origem e extremidade) ou por uma letra
minúscula:

Notação:
a) Se AB é um segmento orientado, o vector correspondente é denotado por AB .
  
b) Usam-se também letras latinas minúsculas para indicar vectores. Por exemplo, u , v , w , etc.

Vector a  QP
Q
Q – origem
P – extremidade
P Repare que QP  PQ pois PQ  QP

Vector nulo é aquele cujo representante é um segmento orientado nulo e é representado por

0  AA  BB
Vectores iguais – Dois vectores AB e CD são iguais se, e somente se são equipolentes ou seja,
se têm a mesma direcção, mesmo sentido e mesmo comprimento.
D
B
AB  CD
C
A

Soma e diferença de vectores

Vectores consecutivos

C

c  
 A soma de dois vectores a e b é um vector

b c que se obtém unindo a origem do 1º com a
extremidade do 2º

A a B
    
c  a  b vector soma dos vectores a e b

    
D

C c  a  ( b )  a  b
c
 
–b b Portanto, a diferença de dois vectores é

a um 3º vector igual à soma de um deles
A B pelo simétrico do outro.
    
c  a  b vector diferença dos vectores a e b

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Vectores com a mesma origem
C D
 
Sejam a e b dois vectores aplicados num  
mesmo ponto A. A sua soma é um vector b c

c que se obtém usando a regra do
paralelogramo A B

a
  
c a b

B
    
 c  a  b vector diferença dos vectores a e b
    
b
 c  a  ( b )  a  b
a
O A  
 ou c  BA c
–b 
 b
c 
a

Propriedades da soma de vectores


        
P1 : Para quaisquer u , v e w de V tem-se: (u  v )  w  u  (v  w)
     
P2 : Para quaisquer vectores u e v de V tem-se: u  v  v  u
     
P3 : Para qualquer vector v de V tem-se: 0  v  v  0  v
      
P4 : Para qualquer vector v V existe um vector simétrico  v V tal que: v  ( v )  v  v  0

Vectores em coordenadas rectangulares


Um vector no plano (R2) pode ser definido pelas coordenadas dos dois pontos extremos do
segmento orientado que o define. Se o vector é posicionado no sistema de coordenadas de tal
maneira que a sua origem coincida com a origem dos eixos coordenados, o vector é definido
pelas coordenadas do seu ponto extremidade. Nos casos em que a origem do vector não coincide
com a origem dos eixos, as coordenadas deste vector são obtidas pela diferença das coordenadas
dos seus pontos extremos. Veja os exemplos a seguir:
y
y
Q u x  x 2  x1
y2  
u u y  y 2  y1
vy A

v y1 P

O vx x x2 x1 x
O
Vector v  OA  v  v x ; v y 
   
Vector u  PQ  (Q  A)  u  (u x ; u y )
A localização exacta de um ponto no espaço faz-se através de um referencial constituído por três
eixos. Para simplificar, usa-se um referencial ortonormado, isto é constituído por três eixos

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perpendiculares entre si e admitindo para os três a mesma unidade de comprimento. A
localização do ponto P é dada por três coordenadas. Vejamos o exemplo do vector no espaço R3:

vz

 
v v  (v x , v y , v z )

vx vy
y
x

Norma de um vector
 
Definição: Chama-se norma de um vector v (ou módulo) e representa-se por v ao valor
numérico igual ao comprimento do vector.
Se o vector é dado num sistema ortonormado de coordenadas, então a sua norma é calculada pela
 
fórmula: v  v x2  v y2 no plano ou v  v x2  v y2  v z2 no espaço tridimensional.

Vector unitário
Definição: Chama-se vector unitário a um vector cuja norma é igual a unidade.
 
Sendo v um vector unitário, temos que v  1 .

Versor – de um vector v não nulo é o vector unitário com mesma direcção e mesmo sentido que

  v   
v , ou seja, e 
v    v  v  ev . Vejamos a seguir alguns exemplos de vectores unitários
v

definidos pelas coordenadas cartesianas:


 
a) a  (1; 0) , a  12  0 2  1  1
 
b) b  (0;  1; 0) , b  0 2  (1) 2  0 2  1  1
 
c) c  (0; 0;1) , c  0 2  0 2  12  1  1

Vector nulo
Considera-se vector nulo o vector definido por um ponto, ou seja, aquele em que a origem

coincide com a extremidade e representa-se geralmente pelo símbolo o .
 
Por exemplo: u  AA  BB  o .
 
A norma do vector nulo é zero: o  (0; 0; 0) e o  0 .

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Vectores colineares
Dois ou mais vectores são colineares se tiverem a mesma direcção.
 
Em Álgebra vectorial, dois vectores u e v dizem-se colineares se existir um escalar k  R tal
 
que: u  kv .
Exemplos de vectores colineares e não-colineares no plano:
Vectores colineares:

a)   b)
v u  
u v
 
u  2v O
 1
u v
2
Vectores não-colineares:

u

v

Nota: No plano, os vectores colineares são vectores linearmente dependentes (LD) e os não
colineares são linearmente independentes (LI).

Vectores complanares
Consideram-se complanares os vectores que estejam no mesmo plano (ou em planos paralelos)
e não-complanares quando não estão todos no mesmo plano.
  
Definição: Três vectores u , v e w no plano dizem-se complanares se um deles pode ser escrito
como combinação linear dos outros dois ou seja, se existem escalares k  R e   R tais que
  
w  k u   v .

Exercício resolvido: Considere os pontos A 2 ; 3 , B 4 ;  1 e C 2 ; 1;  3 e D  2 ; 0 ;  1 .


  
Determinar as coordenadas e a norma de cada um dos vectores u , v e w com as seguintes
características:

a) O vector u tem a origem na origem Solução:
 
do sistema de coordenadas e a) u  4 ;  1 e a sua norma é: u  4 2  (1) 2  17
extremidade no ponto B. 

b) O vector v tem a origem em A b) v  AB . Como B  A  (4  2  2;  1  3  4) , então
extremidade no ponto B.  
 v  (2 ;  4) . v  2 2  (4) 2  20  2 5
c) O vector w tem a origem no ponto 
D e extremidade no ponto C. c) w  DC e
D  C  (2  2; 0  1;  1  3)  (4;  1;  4) . Temos
 
w  (4;  1;4) . w  (4) 2  (1) 2  (4) 2  33

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Lição nº 2
Produto escalar de vectores

Nesta aula começemos por ver o produto de um vector por um escalar.

Multiplicação de escalar (número real) por vector


 
Seja v um vector e λ um número real qualquer. A multiplicação do escalar λ pelo vector v é a
 
operação “externa” em que a cada escalar λ e a cada vector v associa um vector v tal que:
  
 Se λ = 0 ou v = 0 , então v  0 (por definição).
 
 Se   0 e v  0 , então v é caracterizado por:
 
a) v é paralelo a v .
 
b) v e v tem mesmo sentido se λ>0 e sentidos contrários de λ<0.
   
c) v    v , isto é, a norma de v é igual ao produto do módulo de λ pela norma de v .

Propriedades da multiplicação de escalar por vectores


 
Sejam u e v dois vectores e os escalares α e β quaisquer, então as seguintes propriedades são
válidas para a multiplicação de escalar por vector:
   
P1)  (u  v )  u  v
  
P2) (   )v  v  v
 
P3) Elemento Neutro: 1 v = v
  
P4) Elemento Oposto:  (v )  ( )v   (v )
   
Definição: Chama-se ângulo entre dois vectores a e b , e representa-se (a , b ) por ao ângulo φ
do plano definido por estes vectores de um vector.

B

a

φ

O P b A
  
OP chama-se projecção do vector a sobre o vector b e escreve-se: Proj ba  OP
Considerando o triângulo OPB rectangular em P, tem-se:


OP Pr ojba     
  
cos     donde Pr ojba  a  cos (a , b ) assim como Pr oj ab  a  cos (a , b ) .
OB a

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 
Definição: Sejam u e v dois vectores quaisquer, não nulos, de um espaço vectorial V. Chama-
 
se produto escalar (ou produto interno) dos vectores dados e representa-se por u v , a um número
     
real c tal que c  u  v  u  v  cos(u, v ) .
 
          u v
u  v  u  Pr oju
v
u  v  v  Pr oj v e
u
cos(u , v )   
u  v
Propriedades do produto escalar:
         
P1 : Para quaisquer u , v e w de V tem-se: (u  v )  w  u  w  v  w
     
P2 : Para quaisquer vectores u e v de V tem-se: u  v  v  u
       
P3 : Para qualquer escalar α de e quaisquer vectores u , v de V tem-se: u.(  v )  (u )  v    (u  v )
     
P4 : u  u  0; u  u  0  u  o
  
 
 
P5 : u  v > 0  0  (u, v ) < P8 : k  v  k  v
2    
    P9 : u  v  u  v → desigualdade de Schwarz
P6 : u  v  0  u  v    
     P10 : u  v  u  v → desigualdade triangular
P7 : u  v < 0  < (u, v )  
2

Versor de um vector
   1 
Se v é um vector do espaço vectorial e u o seu versor, então: u    v
v
Ângulos directores e co-senos directores de um vector

Qualquer vector v de um espaço vectorial forma (em 3) determinados ângulos (α, β e γ) com
os eixos coordenados Ox, Oy e Oz respectivamente. Tais ângulos são denominados ângulos

directores e as razões co-seno dos mesmos ângulos chamam-se co-senos directores de v :

i  1,0,0
z 
j  0,1,0 versores (perpendiculares entre si)

k  0,0,1

v

 v ;i 

γ
 v ; j  ângulos directores
k β
  v ; j 
α  cosα, cosβ e cosγ são os co-senos directores:
i j y
v vy v
cos   x ; cos    e cos   z
v v v
x

Teorema: A soma dos quadrados dos co-senos dos ângulos directores é igual à unidade, isto é,
cos 2   cos 2   cos 2   1 . (TPC→ demonstrar)

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Produto escalar de vectores definidos em coordenadas cartesianas

O produto escalar de vectores dados em coordenadas rectangulares u  u x , u y , u z  e

v   v x , v y , v z  pode ser determinado pela expressão:
 
u  v  u x , u y , u z    v x , v y , v z   u x v x  u y v y  u z v z
 
Ou: u  v  u x v x  u y v y (em 2)

Distância entre dois pontos


Consideremos num referencial bidimensional, dois pontos P1(x1, y1) e P2(x2, y2). A distância
entre eles │P1P2│ pode ser determinada com a ajuda do teorema de Pitágoras:
O ∆ P1QP2 é rectangular em Q, onde a hipotenusa é P1P2 e os catetos são QP1 e QP2.
Tem-se:
2 2 2
P1Q  x 2  x1 e QP2  y 2  y1 , portanto: P1 P2  P1Q  QP2
y

y2 P2 2 2
P1 P2  P1Q  QP2
2

2
P1 P2  x 2  x1  y 2  y1
2 2
e obtém-se:
y1 P1 Q
P1 P2  ( x 2  x1 ) 2  ( y 2  y1 ) 2 → distância
0 x1 x2 x entre dois pontos P1 e P2 no plano .

No espaço, a distância entre dois pontos P1(x1, y1, z1) e P2(x2, y2, z2) (que representa o
comprimento da diagonal de um paralelepípedo rectangular) é dada por:

z O segmento P1Q é diagonal da base


rectangular do paralelepípedo (hipotenusa do
triângulo) no plano x0y e ao mesmo tempo, é
cateto do ∆P1QP2 rectangular em Q, onde
P1P2 é a hipotenusa. Daqui obtém-se
P2 expressão:

P1 P2  ( x 2  x1 ) 2  ( y 2  y1 ) 2  ( z 2  z1 ) 2
0 Q y
P1
da distância entre dois pontos P1P2 no espaço
3

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Divisão de um segmento numa razão dada

Consideremos agora o segmento P1P2 com um ponto Q (pertencente à ele) e que divide-o numa
PQ
razão λ ,isto é, se Q(xq, yq)  P1P2 então existe um número λ  tal que 1   .
QP2
Se λ > 0, a divisão é interna;
Se λ < 0, a divisão é externa. Agora: como encontrar as coordenadas do ponto Q?
a) xq→?
y P1Q x q  x1
  
QP x2  xq
y2 P2 2

x q  x1   ( x 2  x q )  x 2  x q
yq Q x q  x q  x 2  x1 donde se tem:
x 2  x1
x q (1   )  x 2  x1  x q 
y1 P1  1
(λ ≠ −1)
b) yq→? usando o mesmo procedimento,
P1Q y q  y1
0 x1 xq x2 x     obtém-se:
QP2 y2  yq
y 2  y 1
yq  (λ ≠ −1)
 1

Resumo dos três teoremas:


T1: Dados dois pontos P1 e P2, a distância entre eles é dada por P1 P2  ( x 2  x1 ) 2  ( y 2  y1 ) 2 no
plano e P1 P2  ( x 2  x1 ) 2  ( y 2  y1 ) 2  ( z 2  z1 ) 2 no espaço.

P1Q
T2 : Dados dois pontos P1 e P2, existe um ponto Q, tal que   , com λ  .
QP2
P1Q
T3 : Dados dois pontos P1(x1, y1), P2(x2, y2) e um ponto Q(xq, yq), tal que   , então, as
QP2
coordenadas do ponto Q que divide o segmento P1P2 na razão λ (divisão interna) são dadas
x  x 1 y  y 1
por x q  2 e yq  2 , com λ  \{–1}.
 1  1

Corolário do T3: (Ponto Médio de um Segmento)


PQ
Se   1  1  1 , então, as coordenadas do ponto Q que divide o segmento P1P2 na razão
QP2
x  x2 y  y2
  1 são x q  1 e yq  1 , o que significa que Q é o ponto médio do segmento
2 2
P1P2.

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Exercício resolvido:
Dados os vectores no pano cartesiano da figura abaixo. Determine:
a) O produto dos dois vectores
b) O ângulo formado pelos vectores dados

y
4

1 B

-4 -3 -2 -1 1 2a 3 4 5 x
-1

b
-2 B
A
-3

-4

Solução:
Temos os pontos A(1; –2), B(5; –2) e C(4; 1) tais que:
 
a  AC  4  1; 1  (2)  (3; 3) e b  AB  5  1;  2  (2)  (4; 0)
 
a) a  b  3  4  3  0  12
 
b) Seja φ o ângulo definido pelos vectores a e b , então:
 
a b 12 12 12 1 2
cos         
a  b 9  9  16  0 18  16 12 2 2 2

2 
  arccos 
2 4

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Lição nº 3
Produto vectorial
 
Consideremos dois vectores em V3, u  u x , u y , u z  e v   v x , v y , v z  , e comecemos por fazer
uma interpretação geométrica do produto vectorial dos vectores dados, tendo em conta a
orientação do ângulo por eles formado:
Ângulo φ no sentido anti-horário: Ângulo φ no sentido horário:

v
   
u ×v φ  (u, v )
O

u


v
φ
  
O u u ×v
Quando na representação gráfica do produto vectorial, nada se diz em relação à orientação do
ângulo, sempre se considera o 1º caso (sentido anti-horário). Porém, o produto vectorial nos dois
   
casos é o mesmo mas com sentidos opostos ( u × v   v × u ).
   
O produto vectorial de dois vectores u e v (representa-se por u × v ) é um terceiro vector
perpendicular aos vectores dados e cujo valor numérico é igual à área do plano por eles formado:
     
u ×v  u e u ×v  v
 
u ×v BP é altura do paralelogramo [OABC]
  
φ  (u, v ) e BP  v  senφ
  
AOABC   OA  BP e ║ u × v ║  AOABC   u  BP
B C ou seja:
      
v
 ║ u × v ║  u  v  sen(u, v ) → módulo do produto
φ u vectorial
O A
P
Daqui se conclui que a norma do produto vectorial de dois vectores no plano corresponde à área
do paralelogramo definido por esses vectores.

Propriedades do produto vectorial


  
Sejam u , v e w vectores de 3:
   
P1 : u × v é um vector perpendicular ao plano definido por u e v .
 
P2 : O módulo do vector u × v corresponde à área do paralelogramo cujos lados são os vectores
 
u e v (interpretação geométrica do comprimento do produto vectorial).
   
P3 : Os produtos vectoriais dados pelos vectores u e v em orientações diferentes do ângulo (u , v ) são
   
iguais em módulos e de sentidos contrários, ou seja, u × v  (v × u ).
      
P4 : u × v  0  u  v ou v  u ,  
      
P5 : Se u  0 ou v  0 então u × v  0
    
P6 : Se os dois vectores forem colineares, isto é, u  v , com λ  R, então u × v  0
             
P7 : u × (v  w)  u × v + u × w e ( u + v ) × w = u × w + v × w
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     
P8 : (α u )× v  u × (α v )  α( u × v )
     
P9 : i  i  j  j  k  k  0
        
P10 : i  j  k , j  k  i , k  i  j

   
Como vector, o produto vectorial u × v dos vectores u  u x , u y , u z  e v   v x , v y , v z  pode ser
determinado pela seguinte expressão matricial:
  
i j k
    
u × v  ux uy u z  (u y v z  u z v y )  i  (u x v z  u z v x )  j  (u x v y  u y v x )  k
vx vy vz

Exercício resolvido
Dado o paralelogramo [ABCD] com A( 2,  1, 0 ),
B( 2, 3, 0 ), C( 2, 5, 2 ) e D( 2, 1, 2 ) representado D C
ao lado. Determinar:
a) O ângulo BAD
b) O produto vectorial dos vectores AB e AD .
c) A área do aralelogramo A B
Solução:
a) Sejam os vectores AB e AD . Então temos: AB  (0, 4, 0) e AD  (0, 2, 2)
AB  0 2  4 2  0 2  4 e AD  0 2  2 2  2 2  2 2

AB  AD 080 1 1 
cos( BAˆ D)    e arccos 
AB  AD 42 2 2 2 4
R: O ângulo BAD mede 45o.
  
i j k
  
b) AB  AD  0 4 0  8i  0 j  0k  (8, 0, 0)
0 2 2
1
c) A[ABCD] = AB  AD  AB  AD  cos( BAˆ D)  4  2 2  8
2
Ou A[ABCD] = AB  AD  8 2  0 2  0 2  8

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Lição nº 4
Produto misto
  
Sejam u , v e w três vectores linearmente independentes, isto é, nenhum deles pode ser expresso
como combinação linear dos outros (cada tripla forma uma base). Ao produto escalar de um
deles pelo produto vectorial dos outros dois, chama-se produto escalar triplo ou produto misto e
escreve-se:
     
u  ( v × w ) → produto escalar de u pelo produto vectorial de v e w .

Em termos de valor numérico, o produto misto corresponde ao volume do paralelepípedo


formado pelos três vectores no espaço:
V = Abh
   
   u  cosu , ( v  w)

  h  Pr oj u
v xw
v ×w  
Ab = ║ v × w ║
     
u  ( v × w ) = ║ v × w ║  Pr oj vuxw
  

u u  ( v  w)
Pr oj vxw =  
 

 uw
u   
      u  ( v  w)
v V = A b h = ║ v × w ║  Pr oj u
  =║ v × w ║  
uw
v xw

   
w Donde: V = Abh = u  ( v × w )
     
Sendo u  u x , u y , u z  , v   v x , v y , v z  e w   w x , w y , wz  o produto misto u  ( v × w ) é dado
por:

ux uy uz
  
u  ( v × w )  vx vy v z  ( v y w z  v z w y )u x  ( v x w z  v z w x ) u y  ( v x w y  v y w x ) u z .
wx wy wz

  
Teorema: Se u , v e w são três vectores linearmente independentes, então:
        
u (v × w ) = v (u ×w ) = w (u ×v )

Propriedades do produto misto


  
Sejam u , v e w vectores de 3:
P1 : O produto misto é um escalar correspondente ao volume do prisma de arestas definidas pelos
três vectores (significado geométrico do produto misto).
     
P2 : u  ( v × w ) ≠ 0  u , v e w são vectores LD
     
P3 : u  ( u × w ) = w  ( v × w ) = 0

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Exercícios de auto-avaliação

1. A figura abaixo representa um losango EFGH inscrito no rectângulo ABCD, sendo O, o


ponto de interseção das diagonais desse losango. Com base na figura, determine os vectores
abaixo, expressando-os com origem no ponto A:
a )OC  CH d ) EH  EF 1
g ) BC  EH i)OG  HO
b) EH  FG e) EO  BG 2
h) FE  FG j ) AF  FO  AO
c)2 AE  2 AF f )2OE  2OC

2. Dados os pontos A(–1,–1) e B(3,5) no plano. Determine C, tal que:


1  2 
a) AC  AB b) A C  A B .
2 3
3. No triângulo ABC com os vértices A (1,2), B(–2,3) e C(0,5), determine:
a) a natureza do triângulo;
b) o comprimento da mediana AM. Sendo M o ponto médio do lado BC.
       
4. Sejam a  i  2 j  3k e b  2 i  j - 2k . Determine um versor dos vectores abaixo:
     
a) a + b B) 2 a –3 b c) 5 a +4 b

5. Num paralelogramo ABCD sabe-se que A (1,3,–2) e que as diagonais são


AC  (4, 2,  3) e BD  (2, 0, 1) . Calcule as coordenadas dos outros três vértices.
 
6. Dados dois vectores u = ( 2,3,1) e v = ( 1,4, 5) . Calcule:
           
a) u  v b) ( u – v ) c)( u + v )2 d) (3 u – 2 v )2 e) (2 u -3 v )( u +2 v )

7. Os vértices de um triângulo são M(1,1,2) ,N(5,1,3) e Q(–3,9,3). Calcule as coordenadas do


vector MH , onde H é o pé da altura relativa ao lado NQ.
   
8. Determinar o vetor x , paralelo ao vetor ao vetor w =(2,–3,0) e tal que x  u = v , onde

u =(1,–1,0) e v =(0,0,2).
  
9. Qual é o valor de x para que os vetores a =(3,–x,–2), b =(3,2,x) e c =(1,–3,1) sejam
coplanares.

10. Determinar o valor de k para que os pontos A(0,0,3),B(1,2,0), C(5,–1,–1) e D(2,2,k) sejam
vértices de uma mesma face de um poliedro.

11. Dado um tetraedro de volume 5 e de vértices A (2,1,–1), B(3,0,1) e C(2,–1,3). Calcular as


coordenadas do quarto vértice D, sabendo-se que se acha sobre o eixo OY.

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Soluções:

1. a) AE b) AC c) AC d) AB e) AO f ) AD g) AH h) AD i) AO j) AC
5 
2. a) C(1; 2) b) C  ; 3 
3 

3. a) triângulo isósceles b) AM  2 2
 1  1  1
4. a) u  (3,3,–5) b) u  ( 4,1,0) c) u  (13,14,–23)
43 17 894
5. C(5,5,–5) ,B( 4,4,–4) e D( 2,4,–3)
6. a) 19 b)18 c)94 d)66 e) –205 f)–28
7. MH = (2,2,1)

8. x = (4.–6,0)
9. x =14 ou x =–2
10. k =– 1
11. D(0,–7,0) ou D(0,8,0)

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Unidade II: Estudo da recta
Introdução
Nesta unidade vamos fazer um estudo da recta no plano e no espaço do ponto de vista da
geometria analítica. Portanto, vamos definir uma recta e estudarmos suas propriedades através
das equações da recta definida no plano e também no espaço. Veremos também a a distância
entre um ponto e uma recta, bem como estudaremos as condições de perpendicularidade e de
paralelismo entre rectas. A interpretação geométrica das equações por meio de figuras
ilustrativas é um aspecto importante neste capítulo. O pré-requisito para a abordagem destes
conteúdos é o que falamos na unidade anterior, sobre a Álgebra dos vectores.

Objectivos
No final desta unidade você deve ser capaz de:
 Definir a recta no plano e no através duma equação, sendo dados os elementos básicos da
recta num sistema de coordenadas rectangulares.
 Determinar o ângulo entre duas rectas.
 Definir com a ajuda da álgebra vectorial, a posição relativa entre duas rectas
 Resolver problemas práticos de geometria, aplicando os conhecimentos sobre a recta.

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Lição nº 5

Equações vectorial e paramétricas


Para se determinar uma recta no espaço precisamos de pelo menos dois elementos: dois pontos
com coordenadas bem definidas, ou um ponto e um vector.

Equação vectorial da recta



Seja r uma recta, A(xo, yo, zo) um ponto de r e um vector v   a, b, c tal que:
z
 
A(xo, yo, zo)  r e v // r . Ao vector v chama-se r
vector director de r . P.
Tomando um ponto qualquer P(x, y, z) de r,
então, a sua representação a partir de A sobre a
 
direcção de v é: A v

 k
r: P  A  t  v → equação vectorial
 
 i j y
da recta, onde v é um vector director e t é um
parâmetro ( t  ). x

Sendo P(x, y, z), A(xo, yo, zo) e v   a, b, c , tem-se a equação vectorial (em 3
) da recta que

passa por A e tem a direcção do vector v :

r: ( x, y, z )  ( xo , y o , z o )  t   a, b, c , t  → equação vectorial da recta no espaço

2
Se P, A e são elementos dados no plano ( ), então a equação vectorial é da forma:

r: ( x, y )  ( xo , y o )  t   a, b , t  → equação vectorial da recta no plano

Equações paramétricas da recta

Da equação vectorial da recta, obtém-se:



P  At v
( x, y, z )  ( xo , y o , z o )  t   a, b, c
( x, y, z )  ( xo  ta, y o  tb, z o  tc )
 x  x o  ta
 → equações paramétricas da recta
r:  y  y o  tb , t 
 z  z  tc
 o

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Exercícios resolvidos:

1. Sejam dados dois pontos A (3; 2) e B (1;  2) . Compor uma equação vectorial da recta AB.

Solução: Os dois pontos definem um vector director da recta dada, o vector


AB  (1  3;  2  2)  (4;  4)
Seja P(x; y) um ponto genérico de AB e λ um escalar real qualquer. Então, P pode ser escrito
como combinação linear de um ydos pontos, A por exemplo, com o vector AB, esta
combinação dá-nos uma equação vectorial da recta: P = A + λ AB , ou seja: AB:
( x; y)  (3; 2)    (4;  4)

y
P

2
A

x –3 1 x

–2
B
Nota: uma recta pode ser definida por várias equaçõs vectoriais.

2. Compor as equações paramétricas de uma recta t que passa pelo ponto A ( 2; 1;  1) e é



paralela ao vector v  (1; 2;  3) .
Solução:

 t
v


v // t
A

Seja P(x, y, z) um ponto genérico de t, temos que:



P = A + k  v ( k  R)  ( x, y, z)  (2, 1,1)  k  (1, 2,3)
 x  2  k

Por fim temos as equações paramétricas da recta t :  y  1  2k ; k R
 z  1  3k

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Lição nº 6

Equações cartesianas
Seja r uma recta definida em R3. Das equações paramétricas da recta que vimos na lição anterior,
 x  x o  ta

vem que r:  y  y o  tb , t  :
 z  z  tc
 o

 x  xo
 x  x o  ta  t  a

 y  yo
 y  y o  tb  t  e dado que t é o mesmo para as três expressões do sistema, tem-se:
 b
 z  zo
 z  z o  tc  t  c

x  xo y  yo z  zo
r:   → equações canónicas (ou simétricas) da recta em 3
a b c

Também se podem escrever as seguintes expressões no plano:

x  xo y  y o x  xo z  zo y  yo z  zo
   → são as equações
a b a c b c
2
canónicas da recta em .

Equação reduzida da recta


Consideremos a equações canónicas dadas no plano, seja o plano xOy por exemplo, onde x é tido
como variável independente e y uma função de x. Assim sendo, teremos:
x  xo y  yo b
  a  ( y  y o )  b  ( x  xo )  y  y o  ( x  xo )
a b a
b b
y  x  xo  yo
a a
b b
sejam m  e n   x o  y o sendo y como f(x), então:
a a

y  m x  n → equação reduzida da recta no plano

m → é o declive da recta, que é o quociente b/a das coordenadas do vector director da recta .

A mesma equação pode ser obtida em relação a x e a z, bastando para isso considerar:

x  xo z  zo y  yo z  zo
 , com x em função de z e,  , com z em função de y.
a c b c

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Equação da recta que passa por dois pontos dados
Sejam dois pontos A(xo, yo, zo) e B(x1, y1, z1) pertencentes a uma recta r dada no espaço:


Tomando o vector v  AB   x1  x o , y1  y o 
z
como vector director de r, então, para qualquer
ponto P(x, y, z) de r é valida a equação
r
P  A  t  AB , onde:
B ( x, y, z )  ( x o , y o , z o )  t  AB , t 

A
 x  x o  t ( x1  x o )

O y r:  y  y o  t ( y1  y o ) ; t 
ou ainda:
z  z  t( z  z )
 o 1 o

x  xo y  yo z  zo
r:   → equações simétricas da recta que passa por dois
x1  x o y 1  y o z 1  z o
pontos (xo, yo, zo) e (x1, y1, z1).

Exercício reolvido:
Compor as equações cartesianas da recta m que passa pelos pontos A( 1, 0,1 ) e B(  1, 2, 2 )
Solução
Seja o vector direccional AB  (2, 2, 3) e P(x, y, z) um ponto genérico de m.

Esboço:

P
m

Tomando como referência o ponto A(xo, yo, zo) = A( 1, 0,1 ), teremos as equações:
x 1 y z 1
m:  
2 2 3

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Lição nº 7

Equação geral e axial da recta


Nesta lição vamos deduzir a equação geral da recta (no plano) e em seguida vamos eduzir a
equação axial. Analiticamente, as transformações algébricas que vamos efectuar são simples e de
fácil compreensão, você vai ver.

Equação geral da recta no plano


 
Seja r uma recta dada no plano xOy, com v   a, b como vector director, n   A, B o vector
normal à r e um ponto da recta Po(xo, yo):
y
  
n  v  n  r . Tomando um ponto P(x, y)
qualquer da recta, temos:
   
Po P  n e Po P  r  ro n   A, B
    
n   r  ro   0  r   x, y  e ro   x o , y o 
Po
 A, B   x  x o , y  y o   0 P
 
Ax  By  Ax o  By o  0 ro r
Seja  Ax o  By o  C então:
O x

v   a, b
Ax  By  C  0 → equação geral
da recta no plano.

Equação auxiliar da recta no plano

Da equação geral temos as seguintes transformações:


Ax  By  C  0  Ax  By  C
Ax By
  1, C  0 entendeu? Dividimos ambos os membros por –C e depois passamos
C C
x y os coeficientes A e B para o denominador (álgebra, não é?).
  1
C C
  A seguir vamos fazer a seguinte substituição:
A B
C C
sejam a   e b   , obtemos a equação:
A B
x y
  1 → equação auxiliar ou segmentaria da recta no plano
a b

Execício resolvido: Determinar a equação segmentária da recta t: 7 x  14 y  28  0 e as


coordenadas dos pontos de intersecção da recta com os eixos do plano.
Solução: Para determinar a forma segmentária da equação da recta t devemos isolar o termo
independente C. Assim, teremos:

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7x + 14y = 28 Com a equação segmentária, podemos determinar os
Dividindo toda igualdade por 28, pontos de intersecção da recta com os eixos
obtemos: ordenados do plano. O termo que divide x na
equação segmentária é abcissa do ponto de
intercecção da recta com o eixo x, e o termo que
divide y é abcissa do ponto de intersecção da retca
com o eixo y. Assim:
(4, 0) é o ponto de intersecção da recta com o eixo x.
(0, 2) é o ponto de intersecção da recta com o eixo y.
Que é a equação segmentária da
recta t.

Equação normal da recta no plano


Agora vamos deduzir uma equação normal da recta definida num plano. Para o efeito temos que
considerar as coordenadas de um vector normal à recta, definida através das coordenadas do seu
versor (vector normal unitário).
Lembre-se: o vector normal de uma recta é o vector perpendicular à recta considerada.
Seja r uma recta dada no plano cartesiano tal como ilustra a figura a seguir:

y n o é o vector normal unitário, tal que
   
no  cos   i  sen  j sendo Po P  no
temos:

r n o  Po P  o
  cos  , sen    x  x o , y  y o   0
Po  x cos   ysen  ( x o cos   y o sen )  0
 P designando xo cos   y o sen por ρ, onde
 
j no r ρ  , obtemos:

O i x x cos   ysen    0 → equação
 
  (i , n o ) normal da recta no plano
com   OPo

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Redução da equação geral da recta para a forma normal:
Podemos passar para a equação normal da recta a partir da equação geral. Para isso temos de
encontrar um factor que estabelece a relação entre as duas equações, para uma mesma recta.
Preste atenção nas seguintes transformações.

Sendo a recta r dada pelas equações: r : Ax  By  C  0 e r : x cos   ysen    0


E como as duas equações são da mesma recta, então existe um factor φ tal que
cosα = φA,
senα = φB e
–ρ = φC.

Do teorema fundamental da trigonometria, sabe-se que:


cos 2   sen 2  1
(A) 2  (B ) 2  1
 2 ( A2  B 2 )  1
donde obtemos
1
 → factor normalizador, cujo uso faz-se observando o seguinte:
A  B2
2

1) Se C ≠ 0, então φ toma o sinal contrário ao de C.


2) Se B = C = 0, então φ toma o sinal de A.
3) Se A = C = 0, então φ toma o sinal de B.

De φ( Ax  By  C ) = 0 segue que:
A B C
cos    sen    
A2  B 2 A2  B 2 A2  B 2

Distância entre um ponto e uma recta no espaço


Consideremos uma recta r e um ponto Po fora dela em R3. Como encontrar a distância d ( Po , r ) ?
Para uma análise, consideremos os vectores
 
r Po v   a, b, c director e v o   xo , y o , z o  :

d r
Po

d ( Po ,  )  MPo vo
d

v
 
O produto vectorial dos vectores v e v o corresponde em módulo à área do paralelogramo (ou do
rectângulo) formado por estes vectores:

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 
Aparal= │ v × v o │= A□

A□= d  v , sendo as duas áreas iguais, temos:
  
d  v =│ v × v o │ donde
  
v  vo  vo
v 
d   o que é o mesmo que d    vo . d d
v v 
v
 x  x o  ta

Seja r :  y  y o  tb t  , então, obtemos:
 z  z  tc
 o

ax o  by o  cz o
d ( Po , r )  → fórmula da distância entre um ponto Po e a recta r.
a 2  b2  c2

Sendo a recta dada no plano pela sua equação geral, a distância do ponto Po(xo, yo) à recta r
(atendendo às duas equações anteriores) pode ser determinada pela expressão:

d(Po, r) = │ x cos   ysen    0 │ ou então:

Ax o  By o  C
d ( Po , r )  → fórmula da distância entre um ponto Po e a recta r.
A2  B 2

Você poderá usar estas fórmulas para calcular a distância entre um ponto dado e uma recta, nos
exercícos que aparecem no final desta unidade.

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Lição nº 8
Posição relativa de duas rectas

Nesta aula pretendemos estudar as condições que nos permitem saber se duas rectas dadas
intersectam-se ou não, se são perpendiculares ou paralelas, ou ainda reversas. Para o efeito,
comecemos por definir o ângulo entre duas rectas que se intersectam.

Ângulo entre as rectas


Dadas duas rectas concorrentes r e s com os ângulos de inclinação α e β respectivamente.
Designemos por θ o ângulo entre elas, tal que 0o < θ < 90o:

r : y  m1 x  n1 y
s : y  m2 x  n 2 , com r  s  P e s r

m1  tg e m2  tg

Por outro lado do ∆ABP vem que: P


β = α + θ donde θ = β – α. Então,
θ
sen(    )
tg  tg (    )  simplificando e
cos(    ) α β
expressão acima (desenvolva), obtemos O A B x
tg  tg
tg  tg (    )  e sendo
1  tg  tg

m1  tg e m2  tg segue que:

m 2  m1
tg  → fórmula para o cálculo do ângulo entre duas rectas.
1  m 2  m1

Critério de paralelismo: Duas rectas são paralelas (ou coincidentes) se tiverem a mesma
declividade.
Com efeito, se r // s temos θ = 0 e da última equação vem que:
m 2  m1 m2  m1
tg  = 0  0  m2  m1  0 donde se obtém:
1  m 2  m1 1  m 2  m1
m1  m2 → condição de paralelismo de duas rectas com declives m1 e m2.
Para r // s tem-se que r ∩ s = Ø
Para r ≡ s, a sua intersecção r ∩ s é uma infinidade de pontos.

Condição de perpendicularidade: Duas rectas são perpendiculares se o produto das suas


declividades for igual a (– 1).

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Tendo r  s significa θ = 90o e da equação para o cálculo do ângulo entre duas rectas. teremos a
razão inversa nula, ou seja:
1  m2  m1
cot g   0  1  m2  m1  0 donde segue que:
m2  m1
m1  m2  1 → condição de perpendicularidade de duas rectas com declives m1 e m2

Posição relativa de duas rectas no espaço

Com duas rectas no espaço, pode ocorrer um dos seguintes casos


→ As rectas são paralelas (ou coincidentes)
→ As rectas são concorrentes, ou seja, intersectam-se num ponto
→ As rectas são reversas, isto é, não são paralelas mas também não se intersectam.
Vamos analisar caso por caso, considerando as seguintes as rectas:

 Uma recta r com o vector director v1   a1 , b1 , c1  e um ponto de r A(x1, y1, z1).

 Uma recta s com o vector director v 2   a 2 , b2 , c 2  e um ponto de s B(x2, y2, z2).
Tomemos o vector AB   x 2  x1 , y 2  y1 , z 2  z1 
   
a) Se ( v1 e v 2 ) são vectores LD, isto é, se v1    v 2 ,   , então r // s ou r ≡ s.
Neste caso, é válida a igualdade:
a1 b1 c1
 
a 2 b2 c 2 → paralelismo de duas rectas no espaço

Sendo r // s, as rectas não têm nenhum ponto comum (r ∩ s = Ø)


Sendo r ≡ s, qualquer ponto de uma delas pertence também à outra recta.

   
b) Se ( v1 e v 2 ) são vectores LI e ( v1 , v 2 e AB ) são LD, então as rectas são concorrentes,
isto é, r ∩ s = P e tem-se:

a1 b1 c1
→ para duas rectas concorrentes no espaço
a2 b2 c2 0
x2  x1 y2  y1 z 2  z1

E como determinar o ponto de intersecção e o ângulo entre as duas rectas?

Rectas reversas
 
c) Se ( v1 , v 2 e AB ) são vectores LI, então as rectas não são paralelas e nem se intersectam.
Elas chama-se rectas reversas ou enviesadas. Neste caso, temos que:

a1 b1 c1
→ para duas rectas reversas no espaço
a2 b2 c2 0
x 2  x1 y 2  y1 z 2  z1

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Distância entre duas rectas reversas:
Para determinarmos a distância entre duas rectas reversas r e s ( que é o comprimento do
segmento perpendicular às duas rectas) podemos tomar em consideração o seguinte:

Sejam π1 e π2 dois planos tais que π1 // π2, com


r  1 e s  2 .
Seja α um plano perpendicular aos planos
paralelos π1 e π2 contendo a recta r e qu Q
intersecte a recta s num ponto P. R
Traçando do ponto P um segmento perpendicular π1
à recta r num ponto Q desta, temos PQ  ,
sendo que PQ   1 e PQ   2 .
   1  r ,    2  t e r // t s t
s t   s  P P
O segmento PQ é a distância entre as rectas r e s. π2

α
d(r, s) = │PQ│

Como r // t então v1   a1 , b1 , c1  também é vector director de t. Assim, o produto vectorial
 
v1 × v 2 dá-nos um vector da direcção PQ. Tomando um ponto qualquer B de r, obtemos um
     
vector u cuja projecção sobre v1 × v 2 é PQ  d : Pr oj vu1 v2  d :

u  PB com P  s  t e B  r  
O volume do prisma V corresponde ao produto v1 × v 2 r
   
misto u  (v1  v 2 ) que é igual ao volume do B v1 Vl
prisma Vl pois, apesar de as formas serem Q
diferentes, uma vez preservada a área da base e a V

altura dos dois sólidos, o volume não se altera u
(V = Vl ): d t
 
V  Ab  h  Ab  d com Ab  v1  v 2 e 
 v1
h  d  Pr oj v1 v2
u
 
   
Por outro lado, temos: Vl = u  (v1  v 2 ) P v2 s
Dado que o volume é o mesmo, segue que:
  
   u  ( v1  v 2 )
Ab  d  u  (v1  v 2 ) , ou seja d 
Ab

  
u  ( v1  v 2 )
d ( r, s )    → fórmula da distância entre duas rectas reversas.
v1  v 2

Onde u é um vector resultante de dois pontos quaisquer das rectas consideradas.

x  5 y  5 z 1
Exemplo: Estudar a posição relativa entre duas rectas r :   e
3 2 2

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x9 y z2
s :   e, no caso de serem enviesadas (reversas), determinar a
6 2 1
distância mínima entre elas.
Dados:

Para a recta r temos um vector director v1  3, 2, 2 e um ponto A(–5, –5, 1) e

para a s temos um vector director v 2  6, 2, 1 e um ponto B(9, 0, 2).

Tomemos o vector u  AB  14, 5, 1 e, achando o produto misto , verificamos que
  
os vectores são LI, pois u  (v1  v 2 ) = 183 ≠ 0. Logo r e s são reversas.
         
v1 × v 2 =  6i  9 j  18k onde ║ v1 × v 2 ║= 21 onde u  (v1  v 2 ) = –147. Então:
 147
d ( r, s )   7.
21

Exercícios de auto-avaliação
Caro estudante, aqui estão exercícios relacionados com esta seguna unidade. Poderá resolvê-los e
confrontar o resultado com a o que aparece na solução.

1. Determine a equação reduzida da recta t que forma um ângulo de 135o com o eixo das
abscissas e que passa pelo ponto P(4, 5).

2. Determine a equação geral da recta s que passa pelos pontos A(1, 0) e B(3, 4).

3. A recta r é perpendicular à recta s. Sabendo-se que a recta s possui o seu coeficiente angular
igual à 0,5 e que a recta r passa pelo ponto A(5,3), determine a equação geral da recta r.

4. Considere no plano cartesiano uma recta r de equação 3x  5 y  1  0 e um ponto Q de


coordenadas (5, 5). Determine a equação da recta s perpendicular à r passando por Q.

5. Os pontos M(2, 2), N(–4,0) e P(–2,4) são, respectivamente, os pontos médios dos lados AB,
BC e CA do triângulo ABC. Determine a equação geral da reta mediatriz do segmento AB.

6. Calcule as equações paramétricas da recta r que passa pelo ponto A( 2,  1, 1 ) e faz um


 x  1  2t

ângulo de 45 com a recta s :  y  1 .
o

z  t

7. Seja o triângulo de vértices A( 1, 0,2 ), B( 2,1,6 ) e C(  4, 5, 2 ). Estabeleça as equações da


recta m mediana do triângulo ABC relativa ao lado BC.

8. Determine o ponto P equidistante dos pontos A( 1, 1, 4 ) e B(  6, 6, 4 ).

9. Num triângulo ABC, rectangular em A, de vértices B(1, 1) e C(3, –2), o cateto que contém o
ponto B é paralelo à recta r : 3x  4 y  2  0 . Determine a equação da recta que contém o
cateto AC.
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x 1
10. Dada a recta s:  y  z  1 , e o ponto P=(3,–1, 5) determine a equação vectorial da
2
recta r que passa por P e intersecta perpendicularmente a recta dada.

11. Determine as equações simétricas da recta que passa pelo baricentro do triângulo de vértices
A(3,4,–1), B(1,1,0) e c(2,4,4) e é paralela à recta suporte do lado AB do triângulo.
.
Soluções:  x  1  2t
1. t: y = – x + 9 
2. s: y – 2x + 2 = 0 7. m :  y  2t
3. r: 2x + y - 13 = 0  z  2
4. s: 5x–3y–10 = 0 
5. r: x + 2y – 6 = 0 8. P(0, 7, 0)
9. AC: 4x + 3y – 6 = 0
x  2  t

6. r :  y  1
10. X  (3,1,5)  t (1,  5 , 9 )
2 2
 z  1  3t 11. x  2  y  3  z  1

2 3 1

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Unidade III: Estudo do plano

Introdução
O termo “plano” é designativo da superfície sobre a qual se pode assentar completamente uma
recta em todas as direcções. Para determinar a situação de um plano, é necessário conhecer pelo
menos um ponto pelo qual ele passa e a direcção desse plano; tal direcção é geralmente dada
através de um vector desse plano (vector normal ao plano).


n → vector normal ao plano α

n 

Nesta unidade vamos estudar as diferentes equações que definem um plano no espaço e a
respectiva interpretação geométrica, por meio de esboços ilustrativos. Estudaremos também as
condições de perpendicularidade e de paralelismo entre planos, a distância entre um ponto e um
plano, a posição relativa entre recta e plano e entre planos, bem como o ângulo resultante da
intersecção entre uma recta e um plano e o ângulo formado pela intersecção de dois planos.

Objectivos
No final desta unidade você deverá ser capaz de:
 Definir o plano através duma equação, sendo dados os elementos básicos, num sistema de
coordenandas cartesianas.
 Deduzir as equações do plano.
 Definir com o auxílio da Álgebra vectorial, a posição relativa entre recta e plano, bem
como entre planos.
 Resolver problemas práticos de geometria, aplicando os conhecimentos sobre o plano e
suas propriedades.

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Lição nº 9
Equações vectorial, paramétricas e cartesianas do plano
Nesta aula vamos deduzir a equação vectorial de um plano, as equações paramétricas e
cartesianas do plano.

Equação vectorial do plano


 
Seja n o vector normal do plano π ( n   ) e M um ponto pertencente ao plano. Então, a posição

do ponto pode ser dada pelo raio vector r  0M .
   z
Assim, PM  r  n .Então, qualquer vector v do

plano é perpendicular ao vector normal n e pela
 
ortogonalidade dos vectores PM  v e v tem-se: P

v M π

n  PM  0
       
n  (r  n )  0  n  r  n 2  0 n r
   2
Seja n 2  n  n  n   2 , com  
0 y
Então:
 
n  r   2  0 → equação vectorial do plano
x

Equação normal do plano na forma vectorial


  
Consideremos o vector normal unitário n o , então n  no , com   . Substituindo na primeira
   
equação vectorial acima, obtém-se:   no  r   2  0    (no  r   )  0 , donde:
 
no  r    0 → equação normal do plano na forma vectorial

Equação vectorial do plano que passa por um ponto



A equação vectorial de um plano que passa por um ponto dado M o com o raio vector ro , obtém-
 
se substituindo r por ro na equação:

   
n  ro   2  0   2  n  ro e da equação z
 
vectorial resulta, ao substituir  2 por n  ro :
Mo π
    P M
n  r  n  ro  0 donde:
  
n ro r
  
n  ( r  ro )  0 → equação
vectorial do plano que passa por um ponto 0 y
dado Mo

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 
Sejam M o ( xo , y o , z o ) e M ( x, y, z ) pontos do plano, com os raios vectores ro e r
 
respectivamente e sejam u  u x , u y , u z  e v   v x , v y , v z  dois vectores quaisquer do plano,
então a equação vectorial pode ser expressa da seguinte forma:
   
r  ro  u  v → equação vectorial do plano com  ,  
 
Assim, para qualquer ponto genérico A do plano, tendo dois vectores u e v do plano ou
 
paralelos à ele, pode se escrever A = Po+λ u +  v , com   R e   R.
 
Sejam A( x, y, z ), Po( x0 , y0 , z 0 ), u  (u1 , u2 , u3 ) e v  (v1 , v2 , v3 ) as coordenadas dos pontos e
vectores considerados, a equação vectorial pode ser escrita da forma:

( x, y, z ) = ( x0 , y0 , z 0 ) +   (u1 , u 2 , u3 ) +   (v1 , v2 , v3 ) → equação vectorial do plano

Equações paramétricas do plano


Da equação e tendo em conta as coordenadas dos pontos Mo e M, tem-se:
( x, y, z )  ( x o , y o , z o )   (u x , u y , u z )   (v x , v y , v z ) , donde:
 x  x o  u x  v x

 :  y  y o  u y  v y  ,   → equações paramétricas do plano
 z  z  u  v
 o z z

 
Exemplo: Seja π um plano que passa por A(3, 0, –1) e é paralelo aos vectores a  1, 1, 0 e b  2, 1, 2 .
a) Compor uma equação vectorial do plano π.
b) Compor as equações paramétricas do plano π.

Resolução:
a) De harmonia com as condições indicadas, temos que, para qualquer ponto P(x, y, z) de π é valida a
relação:
 
P = A + λ a + μ b ou seja
 
π : (x, y, z) = (3, 0, –1) + λ a + μ b com ,   , que é uma equação vectorial de π.

c) A partir do resultado anterior e tomando em conta as coordenadas do ponto A e dos vectores


considerados, tem-se:
 x  3    1    ( 2)  x  3    2 
 
 :  y  0   1   1   y     que são as equações paramétricas do plano π com
 z  1    0    2  z  1  2 
 
 ,  R.

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Lição nº 10
Equações normal, geral, axial do plano
Nesta aula vamos deduzir a equação geral e a equação normal do plano, e em seguida a equação
axial. Com base na equação axial vamos fazer o estudo dos casos especiais da equação do plano.

Equação geral do plano

De acordo com as considerações anteriores, em que π é o plano, onde P  π , o vector normal



com as coordenadas A, B e C: n   A, B, C  ; as coordenadas do vector normal unitário serão os
 
co-senos directores de n , isto é, os co-senos dos ângulos directores de n (α, β e γ) ou os
  
ângulos que o vector normal forma com os eixos coordenados (ou com os versores i , j e k ,
  
respectivamente): no  cos  , cos  , cos   . Sendo r   x, y, z e ro   x o , y o , z o  os raios
vectores dos pontos do plano P e Mo respectivamente e partindo da equação vectorial que vimos
na lição anterior, tem-se:
   
n  r   2  0 e substituindo n e r pelas
suas coordenadas, obtém-se: z
 A, B, C    x, y, z    2  0
Ax  By  Cz   2  0 P Mo
seja D    e substituindo na expressão
2

acima, obtém-se: π M
  
Ax  By  Cz  D  0 → equação n ro r
geral do plano, onde os coeficientes A, B e
C são as coordenadas do vector normal do 0 y
plano π considerado.
X

Equação normal do plano


De forma análoga, pode-se obter a equação normal do plano em coordenadas cartesianas,
partindo, neste caso, da equação normal na sua forma vectorial:
   
no  r    0 e substituindo n o e r pelas respectivas coordenadas, obtém-se
cos  , cos  , cos     x, y, z    0 , donde:

x cos   y cos   z cos     0


Esta é a equação normal do plano em coordenadas cartesianas, onde ρ é um número positivo
igual ao comprimento do vector normal ao plano, traçada desde a origem ao plano.
É possível reduzir a equação do plano da forma geral para a forma normal, segundo o teorema
seguinte:

Teorema: A equação geral do plano Ax  By  Cz  D  0 pode ser reduzida à forma normal


x cos   y cos   z cos     0 , multiplicando cada termo por

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1

  ( A  B  C ) (factor normalizador), onde o sinal de φ deve ser escolhido
2 2 2 2

como se segue:
a) Se D ≠ 0, φ toma o sinal contrário ao de D.
b) Se A = B = D = 0 e C ≠ 0, então φ e C concordam em sinal.
c) Se A = C = D = 0 e B ≠ 0, então φ e B concordam em sinal.
d) Se B = C = D = 0 e A ≠ 0, então φ e A concordam em sinal.

Equação normal do plano que passa por um ponto

Considerando a equação vectorial do plano que passa por um ponto vista atrás, vem que:
  
n  ( r  ro )  0 e substituindo os três vectores pelas suas coordenadas cartesianas, tem-se
 A, B, C   ( x, y, z   x o , y o , z o  )  0
 A, B, C   ( x  x o ), ( y  y o ), ( z  z o )  0
donde se obtém:

A( x  xo )  B( y  y o )  C( z  z o )  0 → equação normal do plano que passa por


por um ponto Mo ( x o , y o , z o ) .
Equação axial do plano

Considerando agora equação geral (6), é possível transformá-la de modo a obter-se uma outra
equação que nos permite obter a posição do plano em relação aos eixos coordenados:
Ax  By  Cz  D  0  Ax  By  Cz   D e dividindo ambos os membros (–D):
Ax By Cz x y z
  1   1
D D D D D D
  
A B C
D D D
sejam a   , b   e c   , e substituindo na expressão acima, obtém-se:
A B C
x y z
   1 → equação axial do plano
a b c

Significado dos coeficientes a, b e c:


 Se y  0 e z  0 na equação geral, vem z
que x  a e obtém-se as coordenadas
do ponto de intersecção do plano com o
eixo Ox: M1(a, 0, 0). M3
 Se x  z  0 vem que y  b e obtém-
se as coordenadas do ponto de
intersecção do pleno com o eixo Oy:
M2(0, b, 0).
O M2
 Se x  y  0 vem que z  c e obtém-se
as coordenadas do ponto de intersecção M1
y
do pleno com o eixo Oz: M3(0, 0, c). x

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Portanto, os coeficientes a, b e c definem a posição do plano no que diz respeito à sua
intersecção com os eixos coordenados Ox, Oy e Oz.
Esta análise é feita tendo como base o primeiro octante do sistema ortonormado de coordenadas.
Porém, convém notar que no espaço, o sistema tridimensional de coordenadas cartesianas pode
ser encarado como o resultado da intersecção de três planos perpendiculares entre si, que
dividem o espaço em oito octantes, sendo o primeiro definido pelos eixos Ox, Oy e Oz no sentido
positivo a partir da origem; o 2º formado pelo eixo Ox, Oy positivo e Oz positivo, o 3º formado
pelos eixos negativos 0x, 0y e o eixo positivo 0z e assim em diante, tal como ilustra a figura
abaixo.

α β γ

α β

y
x

α → plano de cor vermelha α∩β = –ZOZ


β → plano de cor amarela α∩γ = –XOX
γ → plano de cor azul β∩γ = –YOY

Casos especiais da equação geral do plano


Vamos ver as equações imperfeitas do plano e sua posição no espaço.
Seja π : Ax  By  Cz  D  0 . As equações imperfeitas resultam dos casos em que algum (ou
alguns) dos coeficientes é nulo e, de acordo com as considerações anteriores, é possível
caracterizar o plano definido por essas equações.

1º caso: D = 0
A equação do plano fica na forma Ax  By  Cz  0 que representa um plano que passa pela
origem dos eixos coordenados.

Docente: Leonardo Simão Banze 36


z

n
O (0,0,0) 
π   Ox  Oy  Oz  O(0,0,0)
y
O

2º caso: A = 0
Obtém-se a equação By  Cz  D  0 de um plano paralelo ao eixo Ox e que intersecta os eixos

Oy e Oz nos pontos M2 e M3 respectivamente, com o vector normal n  0, B, C  :

π // Ox

n  Ox
n  0, B, C  
M3
y z
π  1
b c
M2 y

3º caso: B = 0
Obtém-se a equação Ax  Cz  D  0 de um plano paralelo ao eixo Oy e que intersecta os eixos

Ox e Oz nos pontos M1 e M3 respectivamente, com o vector normal n   A,0, C  :

z
π // Oy

n 
n  Oy
M3

x z
π y  1
a c
M1

x n   A,0, C 

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4º caso: C = 0
Obtém-se a equação Ax  By  D  0 de um plano paralelo ao eixo Oz e que intersecta os eixos

Ox e Oy nos pontos M1 e M2 respectivamente, com o vector normal n   A, B,0 :
z

π π // Oz

n   A, B,0

n  Oz

x y
 1
a b

M2 y

M1

5º caso: Se tiver D = 0 nos casos 2º, 3º e 4º, obtêm-se as equações dos planos que passam pela
origem, contendo cada um deles um dos eixos coordenados:
z z z


n π

n


n
y y y
π

x x B=D=0 x C=D=0
π A=D=0
π : By  Cz  0 π : Ax  Cz  0 π : Ax  By  0

6º caso: A = 0 e B = 0
Obtém-se a equação Cz  D  0 de um plano que intersecta perpendicularmente o eixo

coordenado Oz e paralelo ao pano coordenado xOy, com o vector normal n  0,0, C  :

Docente: Leonardo Simão Banze 38



z n
 // xOy

n  xOy
M3
π

0 y

7º caso: A = 0 e C = 0
Obtém-se a equação By  D  0 de um plano que intersecta perpendicularmente o eixo

coordenado Oy e paralelo ao pano coordenado xOz, com o vector normal n  0, B,0 :
z


n π // xOz

n  xOz

O M2 y

x π

8º caso: B = 0 e C = 0
Obtém-se a equação Ax  D  0 de um plano que intersecta perpendicularmente o eixo

coordenado Ox e paralelo ao pano coordenado yOz, com o vector normal n   A,0,0 :
z

π // yOz

n  yOz
y

n

π
x

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9º caso: Se tiver D = 0 nos casos 6º, 7º e 8º, obtêm-se as equações dos planos que passam pela
origem, contendo cada um deles um dos planos coordenados:
z

Ax = 0
(x = 0)

By = 0 O y
(y = 0)

Cz = 0
( z = 0)
x

Exercício resolvido: Determinar os pontos de intersecção do plano  : 4 x  3 y  z  12  0 com


os eixos coordenados.
Resolução:
Intersecção no eixo dos x:
Queremos um ponto em que a ordenada e a cota são nulos A(x, 0, 0)
Fazendo y  z  0 na equação dada, obtemos 4 x  12  0 , donde: 4 x  12  0  x  3
Logo, temos: A(3, 0, 0)

Intersecção no eixo dos y:


Fazendo x  z  0 na equação dada, obtemos 3 y  12  0 , donde: 3 y  12  0  y  4
Logo, temos: B(0, 4, 0)

Intersecção no eixo dos z:


Fazendo x  y  0 na equação dada, obtemos
 z  12  0 , donde:  z  12  0  z  12
Logo, temos: C(0, 0,–12) .

A representação do plano π no sistema de


coordenadas fica como segue ao lado:

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Lição nº 11
Posição relativa entre uma recta e um plano
Nesta aula vamos estudar as condições que nos permintem saber se uma determinada recta está
ou não contida num certo plano; se são paralelos ou se intersectam. E no caso de intersecção
vamos deduzir a equação que nos permite achar o ângulo entre a recta e o plano

Recta sobre o plano


Quanto à posição relativa entre uma recta e um plano no espaço, há a destacar dois casos:
 a recta é paralela ao plano, ou em particular, ela está contida no plano, e
 a recta é transversal ao plano.

Recta paralela a um plano:



Dados um plano π : Ax  By  Cz  D  0 e uma recta r de vector director v   a, b, c . Se a
 
recta r for paralela ao plano π, ou contida em π então verificar-se que: n  v onde
 
Aa  Bb  Cc  0 , onde n   A, B, C e v   a, b, c .
Se r // π então r    
Se r   então qualquer ponto de r pertence também a π.

v
r r 
     
n nv n nv

r

π π v

r // π

Recta transversal a um plano:


Consideremos agora o caso em que a recta r não é paralela ao plano π (e nem é perpendicular a
π). Portanto, r fura o plano π num ponto P. Diz-se que r é uma recta transversal ao plano π
(veja a figura a abaixo). Teremos Aa  Bb  Cc  0 P  : r    P ou seja, tomando um
 
vector director de r, v   v1 , v 2 , v 3  e dois vectores directores do plano a   a1 , a 2 , a 3  e

b  b1 , b2 , b3  , segue que os três vectores são LI:

a1 a2 a3 r
b1 b2 b3  0
v1 v2 v3

v

A recta r é transversal ao plano π no P

a
ponto P. π b

Docente: Leonardo Simão Banze 41


Ângulo entre uma recta e um plano:
Uma recta r transversal a um plano π forma r
um ângulo β com esse plano (ângulo
formado pela recta e pela sua projecção
  
sobre o plano). Sendo n o vector normal n v

de π e v , o vector director de r, os dois α
vectores formam um ângulo α tal que este e P β
β sejam complementares:
 
  (v , n ) ,   ( r,  ) . Então temos:
 
v n
cos     e esta razão também é igual
v  n α + β = 90o
ao seno do complementar de α, isto é: cosα = senβ

 
v n
sen    → fórmula de cálculo do ângulo β entre uma recta e um plano
v  n

Exemplo: Estudar a posição relativa entre o plano


π : (x, y, z) = (1, 0, 1) + λ (1, 1, 1) + μ(0, 0, 3); λ, μ  e a recta
r : (x, y, z) = (2, 2, 1) + t(3, 3, 0); t 

Resolução

Sobre a recta, temos um vector director v = (3, 3, 0) e um ponto A(2, 2, 1)
 
Sobre o plano, temos dois vectores directores a  (1, 1, 1) e b  (0, 0, 3).
3 3 0
  
Achando o produto misto, obtemos v  ( a  b )  1 1 1  0 . Os vectores são LI, então r // π
0 0 3
ou r   .
Substituindo (x, y, z) por A na equação do plano obtemos
(2, 2, 1) = (1, 0, 1) + λ (1, 1, 1) + μ(0, 0, 3) um sistema impossível, o que prova que r // π.

Recta dada pela intersecção de dois planos:


Sejam π1: A1 x  B1 y  C1 z  D1  0 e π2: A2 x  B2 y  C2 z  D2  0 dois planos que se
intersectam. A recta r de intersecção r   1   2 é definida pelas equações dos dois planos:

 A1 x  B1 y  C1 z  D1  0
r : → equação da recta de intersecção de 2 planos
 A2 x  B2 y  C 2 z  D2  0

A solução deste sistema é o conjunto de pontos que definem a recta r.

Sendo que a recta está contida em ambos os planos, então ela é perpendicular a ambos os
 
vectores normais n1   A1 , B1 , C1  e n 2   A2 , B2 , C2  .

Docente: Leonardo Simão Banze 42


Assim, r é paralela ao produto vectorial dos vectores normais dos dois planos, o que quer dizer
  
que o vector n1  n 2  v é direccional para r, portanto:
  
i j k
  
v  n1  n 2  A1 B1 C1   a, b, c que é o vector director de r.
A2 B2 C2

Exercícios resolvidos:
x  3 y  2 z  10
1. Achar as coordenadas do ponto P de intersecção da recta r:   com o plano
1 2 3
 : 3x  2 y  4 z  12  0 .
Resolução:
 x  3  t

As equações paramétricas da recta r são r:  y  2  2t ; t R. Substituindo a equação do plano
 z  10  3t

pelas equações paramétricas teremos: 3(3  t )  2(2  2t )  4(10  3t )  12  0  t  3
E substituindo o valor obtido de (t) nas equações da recta obtemos as coordenadas do ponto
dado: P(0, 4, –1).

x  y  z  2  0
2. Dada a recta r :  . Obter as equações simétricas desta recta.
x  3 y  z  2  0
Resolução: Vamos obter dois pontos P1 e P2 desta recta:
Fazendo, por exemplo, y  0 e z  0 temos:
x  0  0  2  0
  x  2 logo: P1(2,0,0)
x  0  0  2  0
Fazendo, por exemplo, y  1 e z  1 temos:
x  1  1  2  0
  x  0 logo: P2(0,1,1)
x  3  1  2  0
Assim, obtemos o vector director P1 P2   2,1,1
x  x1 y  y1 z  z1 x2 y z
Pala fórmula   obtemos as equações procuradas r:  
x2  x1 y 2  y1 z 2  z1 2 1 1

Docente: Leonardo Simão Banze 43


Lição nº 12
Posição relativa de dois planos
Nesta aula vamos estudar as condições que nos permitem saber se dois planos são ou não
paralelos, perpendiculares ou simplesmete concorrentes e, neste caso, o ângulo por eles formado.

Relações entre planos:


Dados dois planos π1: A1 x  B1 y  C1 z  D1  0 e π2: A2 x  B2 y  C2 z  D2  0 , as seguintes
relações são condições necessárias e suficientes para que se verifique:

a) Paralelismo (π1 // π2):


A1 B1 C1
A1  kA2 , B1  kB2 , C1  kC2 onde k  
e k  0 , isto é, 
A2 B2 C 2
Em particular, se A1  kA2 , B1  kB2 , C1  kC2 e D1  kD2 os planos são coincidentes.

b) Perpendicularidade (π1  π2):


 
n1  n2  A1  A2  B1  B2  C1  C2  0

Ângulo entre dois planos:


Se os dois planos se intersectam, então o
menor ângulo φ por eles formado (que é
congruente ao ângulo formado pelos

respectivos vectores normais) é dado pela n2
relação: 
  n1
  (n1 , n 2 )
π2
 
n1  n 2
cos    
n1  n 2

π1
Família de planos
Uma família de planos é o conjunto dos planos que obedecem a uma mesma característica, tal
como se descreve nos exemplos a seguir:

A família de todos os planos paralelos (a um


plano Ax  By  Cz  D  0 ) tem a
característica de possuir, ou de poderem ser 
apresentados com o mesmo vector normal . n   A, B, C 
Esta família é representada pela equação
Ax  By  Cz  k  0 , onde k  .

α β γ δ α // β // γ // δ

Docente: Leonardo Simão Banze 44


Uma família de planos que passam por uma recta, tem a recta como seu ponto de intersecção e
qualquer vector ou ponto desta é elemento de cada plano que pela recta passa. Sejam
A1 x  B1 y  C1 z  D1  0 e A2 x  B2 y  C2 z  D2  0 dois planos que se intersectam, então a
família de todos os planos que passam pela intersecção destes é representada pela equação:
A1 x  B1 y  C1 z  D1  k  ( A2 x  B2 y  C2 z  D2 )  0 onde k  . A esta família de planos
chama-se feixe de planos e a sua recta comum (de intersecção) denomina-se eixo do feixe.

α
β r

γ α  β  γ  ... = r

Uma família de planos que passa por um ponto dado Po ( x o , y o , z o ) é representada pela equação
A( x  xo )  B( y  y o )  C( z  z o )  0 . A esta família de planos denomina-se estrela de planos e
o ponto comum, o centro ou vértice da estrela.

O vértice P do paralelepípedo
é o ponto comum dos planos α
definidos pelas 3 faces

γ
P

Distância entre um ponto e plano

Sejam π : Ax  By  Cz  D  0 um plano e Po um ponto fora do plano. Então, a distância plano


– ponto d(π, Po) é tal que:
d ( Po ,  )  MPo e MPo   , Po  
n
sejam os pontos M e P do plano, então
 Po
MPo // n  PM  MPo
Nestas condições o ∆PMPo é rectangular,
pois d ( , Po )  MPo  Pr ojnPPo ou
P M π

Docente: Leonardo Simão Banze 45



n
d ( Po ,  )  MPo  PPo  
n
sendo Ax  By  Cz  D  0 onde

D   Ax  By  Cz , n  A2  B 2  C 2
Po ( x o , y o , z o ) , P(x, y, z) e
PPo   x o  x, y o  y, z o  z tem-se:

 A, B, C  A( x o  x )  B( y o  y )  C ( z o  z )
d ( Po ,  )   x o  x, y o  y, z o  z   
A2  B 2  C 2 A2  B 2  C 2

Ax o  By o  Cz o  Ax  By  Cz
 e dado que D   Ax  By  Cz , obtém-se
A2  B 2  C 2

Ax o  By o  Cz o  D
d ( Po ,  ) 
A2  B 2  C 2
que é a fórmula para calcular a distância entre um ponto dado Po ( x o , y o , z o ) e um plano π.

Exercícios de auto-avaliação

1. Determine a equação geral do plano que contém o ponto A( 3, 0,1 ) e é paralelo aos vectores
 
u  1, 2, 0 e v  0, 3,1 .

2. Verifique se os pontos A( 1,1,1 ) e B( 2, 0,1 ) pertencem ao plano  : 2 x  3 y  z  3  0 .

3. Ache a equação geral do plano que passa pelos ponto P( 1, 2, 3 ) e Q( 1, 2, 0 ) e tem a direcção
  
do vectore v  2i  3k .

4. Componha a equação geral do plano que contém os ponto A( 3, 0,1 ) e B( 2,1,1 ) e C( 3, 2, 2 ).

5. Obtenha a equação segmentária do plano  : 2 x  3 y  4 z  24  0 .

6. Obtenha os pontos de intersecção do plano  : x  2 y  4 z  5  0 com os eixos


coordenados.

7. Determine o volume do tetraedro limitado pelo plano  : 3x  2 y  2 z  6  0 e pelos planos


coordenados.

8. Componha a equação geral do plano que contém os ponto Ao( 0,1, 3 ) e seja ortogonal ao

vector n  (3, 2, 5) .

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9. Obtenha a equação geral do plano que passa por P( 1, 2,1) e Q( 3,1,1 ) e seja paralelo ao
eixo dos y.

10. Achar a equação do plano que passa por P( 1, 3, 3 ) e é paralelo ao plano xy.

11. Calcule os valores de a e b para que sejam paralelos os planos  : 2 x  3 y  3  0 e


 : (a  2) x  6 y  (b  1) z  5  0 .

12. Determine o valor de k para que sejam ortogonais os planos  : 2 x  3z  1  0 e


 : 3x  y  kz  2  0 .

13. Ontenha a equação geral do plano que contenha o ponto P( 0,1, 2 ) e seja paralelo ao plano
 : 2x  3 y  z  5  0 .

x  y  z  3  0
14. Componha a equação geral do plano que contém a recta r :  e é paralelo ao
x  y  2z  5  0
eixo das abcissas.

x  y  z  0
15. Obtenha a equação geral do plano que contém a recta r :  e é perpendicular ao
 y  z  2  0
plano  : 2 x  2 z  3  0 .

x  y  3  0
16. Ache a equação geral do plano que passa pelo ponto P (0,1,1) e pela recta r : 
x  2z  1  0
e é paralelo ao eixo das abcissas.

Soluções:
1. 2 x  y  3z  9  0 8. 3x  2 y  5z  17  0
2. A   B  9. x  z  2  0
3. y20 10. z  3  0
4. x  y  2z 1  0 11. a  6  b  1
12. k  2
5. x  y  z  1
12 8 6 13. 2 x  3 y  z  1  0
6. (5,0,0);  0, 5 , 0 ;  0,0, 5 
 14. 2 y  3z  2  0
 2   4 15. 2 x  y  z  6  0
7. 3 16. 3x  y  4 z  5  0

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Unidade IV: Transformação de coordenadas

Introdução
No espaço, nem tudo é plano e nem tudo é recto. Isto significa que podemos ter linhas de formas
quaisquer. Para o estudo de curvas e superfícies de formas variadas, por exemplo, precisamos,
antes, de efectuar transformações tais que nos permitam reconhecer as equações dessas curvas ou
superfícies na forma canónica.
Seja, por exemplo, um ponto P(x, y) no plano, pertencente a uma figura plana, uma
circunferência, cujo centro não se encontra no centro de coordenadas.
Para melhor estudo da equação desta figura y
dada a partir do ponto P considerado, pode
se mover a figura para o centro de
coordenadas ou o contrário (mover os eixos
coordenados para o centro da figura).
y P(x, y)
l
Como se pode, então, representar a equação O
da circunferência dada neste para o novo
sistema de coordenadas?

As principais transformações de
coordenadas de que nos vamos debruçar,
são a translação e a rotação. O x x

Nesta unidade pretendemos estudar as transformações de coordenadas como uma ferramenta


para auxiliar a definição dos lugares geométricos através de equações, num sistema de
coordenadas. Veremos também outros tipos de sistemas de coordenadas e sua relação com o
habitual sistema de coordenadas rectangulares.

Objectivos
No final desta unidade, você deve ser capaz de:
 Transformar a equação que define um determinado lugar geométrico numa outra mais
simples, através das equações de transação e de rotação dos eixos coordenados.
 Definir um ponto ou a equação de um conjunto de pontos num sistema de coordenadas
polares.
 Converter a equação de um lugar geométrico dado no sistema de coordenadas polares
para o sistema de coordenadas rectangulares e vice-versa.
 Compôr a equação de um determinado lugar geométrico no distema de coordenadas
cilíndricas.
 Compôr a equação de um determinado lugar geométrico no distema de coordenadas
cilíndricas.

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Lição nº 13
Equações de translação e de rotação dos eixos
Nesta aula vamos deduzir as equações de transformação por translação dos eixos coordenados,
por rotação dos eixos e por translação seguida de rotação.

Translação dos eixos coordenados


Teorema: Se os eixos coordenados são transladados para uma nova origem Ol e se as
coordenadas de qualquer ponto P antes e depois da transformação são
respectivamente (x, y) e (xl, yl), então as equações de transformação das antigas
para as novas coordenadas são dadas por:
x  x/  h e y  y/  k .

Observando a figura, conclui-se que


y yl
l l
h = OA, x = AB = O E
k = OC, yl = CD = OlF (y)D F P(x, y) ≡ (xl, yl)
r
x = OB = OA + AB C
y = OD = OC + CD Ol E xl

x = xl + h → xl = x – h
y = yl + k → yl = y – k, r = OlP

x2 + y2 = r2 → xl2 + yl2 = r2
De acordo com estas relações, obtemos as
seguintes equações de transformação: O A B x

(xl + h)2 + (yl + k)2 = r2 → das antigas para as novas coordenadas

(x – h)2 + (y – k)2 = r2 → das novas para as antigas coordenadas

Exemplo: Transformar a equação x 3  3x 2  y 2  3x  4 y  5  0 por translação dos eixos


coordenados para a nova origem Ol(1, 2).
Resolução:

y yl
h=1ek=2
Já temos a equação nas antigas y yl (x, y) ≡ (xl, yl)
coordenadas, queremos a mesma
transformada para as novas
coordenadas: 2 xl

O 1 x x

x 3  3x 2  y 2  3x  4 y  5  0
Docente: Leonardo Simão Banze 49
( x /  1) 3  3( x /  1) 2  ( y /  2) 2  3( x /  1)  4( y /  2)  5  0 donde obtemos:
3 2
x /  y /  0 esta é a equação transformada.
Com a equação transformada podemos representar graficamente com mais facilidade
do que a equação original:
yl

3
y/  x/

3 2 3
x/  y/  0  y/   x/
O xl

3
y/   x/

Rotação dos eixos coordenados


Teorema: Se os eixos coordenados são girados por um ângulo θ em torno de sua origem O
como ponto fixo se as coordenadas de qualquer ponto P antes e depois da
rotação são respectivamente (x, y) e (xl, yl), então as equações de transformação
das antigas para as novas coordenadas são dadas por:
x  x / cos   y / sen e y  x / sen  y / cos  .

Observação: Consideramos neste estudo que 0    .
2
Dado um ponto de uma curva em coordenadas rectangulares P(x, y). Girando os eixos de tal
modo que a figura (ou a curva) em P tenha uma posição que torne a sua equação simples em
relação aos eixos, obtém-se um novo sistema (xl, yl).
Demonstração
│OA│= x e │OlAl│= xl
y │AP│= y e │Al Pl│= yl
θ = (x, xl) =  AOAl e β = (xl, r) =  AlOP
yl y P(x, y) ≡ (xl, yl) Seja │OP│= r e do ∆OAP temos:
x  r  cos(   ) e y  r  sen(   ) .
∆OAlPl: x /  r  cos  e y /  r  sen
r
Sendo:
xl
l
A cos(   )  cos  cos   sen  sen
β e sen(   )  sen  cos   sen  cos 
θ segue que: x  r  cos   cos   r  sen  sen
O≡O l
A x e y  r  sen  cos   r  sen  cos  donde
obtemos
 x  x / cos   y / sen

 y  x sen  y cos 
/ /

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Exemplo: Transformar a equação 2 x 2  3xy  y 2  4 por rotação dos eixos coordenados
através de um ângulo θ medindo 30o.
3 / 1 /
x  x / cos 30 o  y / sen30 o  x  y ,e
2 2
1 3 /
y  x / sen30 o  y / cos 30 o  x /  y . Substituindo na equação dada pelas
2 2
antigas coordenadas 2 x 2  3xy  y 2  4 e simplificando a expressão, obtemos a
2 2
equação 5x /  y /  8  0 .
Representando graficamente a equação dada no novo sistema de coordenadas,
obtemos
y

2 2
5x /  y /  8  0 yl
5 /2 1 /2
x  y 1
8 8
x/
2
y/
2
xl
 1
8 8
30o
5 O≡Ol x

Translação seguida de rotação (vice-versa)


Teorema: Se os eixos coordenados são submetidos tanto a uma rotação como a uma
translação, tomadas em qualquer ordem, e se as coordenadas de um ponto
qualquer P referido aos conjuntos dos eixos inicial e final são, respectivamente,
(x,y) e (xll, yll), então, as equações de transformação das antigas para as novas
coordenadas finais são dadas por:

 x  x // cos   y // sen  h

 y  x sen  y cos   k
// //

onde θ é o ângulo de transformação por rotação e (h, k) são as coordenadas da


nova origem referidos aos eixos originais.

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Tendo P(x, y) ≡ (xl, yl) ≡ (xll, yll) em que pela y yl
translação x  x /  h e y  y /  k , a rotação
ll
y
que segue depois é x /  x // cos   y // sen e
y /  x // sen  y // cos  com Ol ≡ Oll.
l
y y P
Aplicadas a translação e depois a rotação,
obtém-se: yll xll
x  x /  h  x // cos   y // sen  h e xll
k O≡O l ll
x
l

y  y /  k  x // sen  y // cos  + k

As mesmas equações são obtidas aplicando a


rotação e, a seguir, a translação. O h x x

Transformação de coordenadas cartesianas no espaço


Se os eixos coordenados são transladados, no espaço tridimensional, para uma nova origem Ol e
se as coordenadas de qualquer ponto P antes e depois da transformação são respectivamente (x,
y, z) e (xl, yl, zl), então as equações de transformação das antigas para as novas coordenadas são
dadas por:
x  x /  h

 y  y  k (6) → equações de transformação de coordenadas
/

z  z /  m

Onde (h, k, m) são as coordenadas da origem Ol para os eixos originais (x, y, z).

O(0, 0, 0) e Ol(xl, yl, zl) são as origens


dos sistemas original e novo zl
respectivamente. z
Sejam os vectores: P(x, y, z)≡(xl, yl, zl)
OO /   h, k , m , OP   x, y, z e
O / P   x / , y / , z /  e da soma de Ol yl
vectores consecutivos segue que:
O xl
OP  OO  O P e daqui vem (6).
/ /
y

x
  
Por outro lado, sendo a , b e c vectores que formam uma base do novo sistema de coordenadas
em 3. Então, para um ponto qualquer P, existem escalares reais xl, yl e zl tais que.
  
O/ P  x/a  y /b  z/c
Reciprocamente, dados os escalares reais xl, yl e zl, a igualdade anterior determina o ponto P. E
se xl, yl e zl variam em , então todo ponto P de 3 é determinado desse modo, ou seja:
  
P  R 3  P  O /  x / a  y / b  z / c , xl, yl, zl 

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Esta última expressão representa, por analogia com os casos da recta e plano vistos no capítulo
  
anterior, uma equação vectorial do espaço 3 . Assim, os vectores a , b e c assumem o papel
de vectores directores, enquanto que xl, yl e zl actuam como parâmetros reais. Conhecidas as
  
coordenadas dos vectores a , b e c , pode-se obter a equação acima na forma paramétrica:
  
Sejam a   a1 , a 2 , a 3  , b  b1 , b2 , b3  e c   c1 , c 2 , c3  . Tem-se:

x  h  a1 x /  b1 y /  c1 z /
→ equações de transformação de coordenadas
y  k  a 2 x /  b2 y /  c 2 z / antigas (x, y, z) para novas (xl, yl, zl).
z  m  a 3 x /  b3 y /  c 3 z /

Os coeficientes de xl, yl e zl na relação acima formam a chamada matriz da mudança de base:

 a1 b1 c1 
a b2 c 2  → matriz de transformação de coordenadas.
 2 
 a 3 b3 c 3 

No caso da rotação dos eixos coordenados em que O ≡ Ol a equação anterior assume a forma:

x  a1 x /  b1 y /  c1 z /
→ equações de transformação de coordenadas
y  a 2 x /  b2 y /  c 2 z / antigas (x, y, z) para novas (xl, yl, zl) por rotação
z  a 3 x /  b3 y /  c 3 z / dos eixos.

Algumas vezes, temos a necessidade não apenas de representar um ponto, mas também de
descrever a orientação de um corpo geométrico no espaço. A posição de um ponto, como se
sabe, é descrita através de um vector posição (raio vector), enquanto que a orientação de um
corpo é descrita por um sistema de coordenadas situado no próprio corpo.

Fazem parte deste conjunto de sistemas, por exemplo, o sistema de coordenadas cilíndricas e o
sistema de coordenadas esféricas.

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Lição nº 14
Sistemas de coordenadas polares
No plano cartesiano, para descrever a localização um determinado ponto P usamos a notação
P(a, b) onde a é a projecção de P sobre o eixo Ox e b a sua projecção sobre Oy. Também se pode
descrever a localização do ponto P a partir da distância de P à origem O (OP) e do ângulo θ
formado pelo eixo das abcissas e o segmento OP, onde P ≠ O. Neste caso , denota-se P(r, θ),
onde r é a distância de O a P e θ é o ângulo entre o eixo positivo Ox e e o segmento OP, tomado
no sentido anti-horário. Se P = O, denota-se P(O, θ), para qualquer θ.
y

b P
r

θ
O a x

Esta representação P(O, θ) é do sistema de coordenadas polares.


Portanto, o sistema de coordenadas polares compreende um ponto fixo O chamado pólo e uma
semi-recta com origem em O, chamada eixo polar. Qualquer ponto neste sistema é definido pelo
segmento r que une a origem O e o ponto considerado, e o ângulo entre o eixo polar e r (O, θ):

P
r
θ
O eixo polar

Para r e θ positivos, sendo θ tomado no sentido horário, o ponto P é denotado por (r, –θ). Assim
(r, –θ) = (r, 2π–θ) é simétrico de (r, θ) em relação à recta suporte do eixo polar.
Consideremos alguns exemplos:

(r, θ) (3, π/2)


O π/4
O O
P(r, –π/4)=( r, 7π/4)
(–r, θ) = (r, θ+π) (–3, π/2) = (3, 3π/2)

Qualquer ponto neste sistema pode ser representado por uma infinidade de pares de coordenadas
(r, θ). Dado um ângulo θ, temos θ = θ + 2kπ para todo o k inteiro. Assim, temos:
(r, θ) = (r, θ + 2π) = (r, θ + 4π) = (r, θ – 2π) = (r, θ – 4π) = ...

Exemplo: (5, π/2) = (5, π/2 + 10π) = (5, 21π/2)

Docente: Leonardo Simão Banze 54


Um ponto P do plano pode ser representado em coordenadas cartesianas por (x, y) ou em
coordenadas polares por (r, θ). Para isso basta considerar o pólo coincidindo com a origem dos
eixos e o eixo Ox com o eixo polar:

x = rcosθ
y P y = r senθ
y
r r  x 2  y 2 e   arctg
x
θ
O x x

Exemplos resolvidos:
1. Vamos transformar as coordenadas do ponto (4, 2π/3) para o sistema cartesiano.
Solução:
(4, 2π/3) → r = 4 e θ = 2π/3
x = 4cos2π/3 = –2 e y = 4sen2π/3 = 2 3 e temos (4, 2π/3) = (–2, 2 3 )

2. Transformemos agora (1, –1)em coordenadas polares:


Solução:
r  2 , θ = arctg(–1) = –π/4 e temos (1, –1) = ( 2 , – π/4) = ( 2 , 7 π/4)

Exercícios de auto-avaliação

1. Determineas coordenadas do ponto P(0, 3) em relação ao sistema de coordenadas xOy girado


sob um ângulo de 60o.

2. Encontre as novas coordenadas dos pontos P(1, 0) e Q(0, 1) quando os eixos coordenados
são girados de um ângulo de 90o.

3. Por meio de uma translação dos eixos coordenados, transforme a equação


x 2  4 y 2  6 x  8 y  1  0 em outra equação desprovida de termos do primeiro grau.

4. Em cada uma das alíneas seguintes, simplifique a equação dada por uma translação dos
eixos coordenados:
a) x 2  8x  3 y  10  0
b) 16 x 2  16 y 2  8x  48 y  5  0
c) 72 x 2  36 y 2  48x  36 y  55  0

5. Transforme a equação 2 x 2  3xy  y 2  4 por meio de rotação dos eixos coordenados sob
um ângulo de 30o.

6. Transforme a equação x 2  2 xy  y 2  4  0 numa outra desprovida do termo misto xy.


Docente: Leonardo Simão Banze 55
7. Dada a equação 17 x 2  12 xy  8 y 2  100  0 , determine razões trigonométricas cosθ e senθ
para que a mesma equação em novas coordenadas não tenha o termo em xy.

8. Determine as novas coordenadas do ponto A(2, 2) quando os eixos coordenados são,


primeiramente, girados de um ângulo de 45 e, então transladados à nova origem O’(–1, 1).

9. Represente os seguintes pontos no sistema de coordenadas polares e encontre suas


coordenadas cartesianas:
   
a) A  3,  c) C  3,  
 3  3
   
b) B   3,  d) D   3, 
 3  3

10. Encontre as coordenadas cartesianas dos seguintes pontos dados em coordenadas polares:
 2   
a) P   2,  c) R   10, 
 3   2
 3 
d) S   10, 
 13   2 
b) Q  3, 
 4  e) T (1, 0)

11. Encontre um par de coordenadas polares dos seguintes pontos:


a) A (1, 1)
b) B (1,1)
c) C (1,  1)

Soluções: 2 5 5
3 3 3 7. cos    sen 
1. P  ,  5 5
 2 2 
8. A’ 2 2 ,  2 
2. P’(0, –1) e Q’(1, 0) 3 3 3  3 3 3 3 3 3  3 3 3
3. x'2 4 y'2 4  0 9. A  ,  B ,
  2
 C ,
 2
 D ,
  2 2 

 2 2   2   2   
4. a) x'2 3 y'  0 b) x'2  y'2  2
c) 2 x'2  y'2  2   3 2 3 2 
10. P 1,  3 Q 
2
,
2
 R 0,  10 S 0,10 T 1, 0

5. 5x'2  y'2  8  
   3   5   
6. y'   2 11. A  2 ,  B  2 ,  C  2 ,  D  2 , 
 4  4   4   4

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Unidade V: Curvas de segunda odrem

Introdução
As secções cónicas são curvas obtidas pela interseção de um cone circular recto de duas folhas
com um plano. Estudos gerais sobre as seções cónicas são conhecidas antes da época de
Euclides ( 325265 a.C.) e existe uma diversidade de definições para elas, cuja equivalência é
mostrada na Geometria elementar. Actualmente, as mais usuais referem-se à propriedade foco e
directriz dessas curvas, porém, em seu célebre tratado sobre as seções cónicas, Apolônio de
Perga ( 262190 a.C.) não mencionou essa propriedade e não existia um conceito numérico que
correspondia ao que chamamos de excentricidade. Coube a Pierre de Fermat a descoberta de que
as seções cónicas podem ser expressas por equações do segundo grau nas coordenadas (x,y).
Neste trabalho, mostramos que uma seção cônica é uma curva cuja equação cartesiana é do
segundo grau, e inversamente, toda curva cuja equação é do segundo grau pode ser obtida a
partir da interseção de um cone circular recto de duas folhas com um plano. Por essa razão, as
curvas cujas equações são do segundo grau são chamadas de secções cónicas, ou simplesmente
de cónicas.
Você, caro estudante, pode aprofundar este conhecimento, lendo obras que falam da história das
cónicas, tais como as esferas de Dandelin, entre outras.
Nesta unidade temática vamos falar de curvas de segunda ordem, as cónicas.
Pretendemos deduzir as equações canónicas e estudar as propriedades dos três tipos de cónicas:
elipse, hipérbole e a parábola.

Objectivos
No final desta unidade você deve ser capaz de:
 Definir as cónicas
 Deduzir as equações reduzidas da elipse, hipérbole e parábola.
 Esboçar uma cónica a partir da equação dada ou dos elementos que a caracterizam no
plano.
 Resolver problemas práticos de geometria, aplicando os conhecimentos adquiridos nesta
área.

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Lição nº 15
Cónicas
O termo cónica, como se torna evidente, vem da palavra cone.
Dada uma recta g que passa por um determinado ponto V. Fazendo-a girar em torno de V, ela vai
transcrever uma determinada superfície.

A superfície assim formada é chamada


cone. g

À recta g chama-se geratriz do cone, ao


ponto V, vértice do cone e à curva C
descrita pela rotação de g em torno de V
chama-se directriz do cone que é, portanto, V
a orientação da recta em torno do ponto V.

Se a directriz C for uma circunferência


num determinado plano π (plano de base) e
a perpendicular (VO) baixada do vértice ao
plano π (eixo do cone) coincidir com o
centro da circunferência, então temos um C
cone circular recto.
Definição: Consideremos um cone circular recto κ onde a directriz se encontra num plano de
base π que forma um ângulo α com o cone (ou com a geratriz do cone). Seja ε um plano secante
e β o ângulo entre π e β. A intersecção do plano secante ε com cone κ dá-nos uma curva
chamada cónica.

cone circular recto


k

ε cónica

α
π
β

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À medida que o plano secante ε vai variando de inclinação, estará formando ângulos diferentes
com o plano de base (e com o cone) e vão surgindo nesta intersecção cónicas diferentes também,
desde as cónicas reais (autênticas) até às cónicas imaginárias (degeneradas).

Cónicas autênticas
Quando o plano secante não contém o vértice V do cone da intersecção resultam as chamadas
cónicas verdadeiras ou autênticas. Variando o ângulo β de intersecção do plano secante com o
cone, obtém-se as seguintes cónicas autênticas:
 Se 0o  β < α → a intersecção do plano secante com o cone é um elipse.
Em particular, se o plano secante é paralelo ao plano de base, isto é, se β = 0, a
intersecção é uma circunferência.
 Se β = α → a intersecção do plano secante com o cone é uma parábola.
 α < β  90o → a intersecção do plano secante com o cone é uma hipérbole.

κ κ κ

V V ε V

ε
Elipse Parábola Hipérbole

Cónicas degeneradas
Quando o plano secante passa pelo vértice V do cone, da intersecção entre o cone e o plano
secante resultam as cónicas não autênticas ou degeneradas, podendo ser:
 Se 0o  β < α → a intersecção do plano secante com o cone é um ponto (o vértice V).
 Se β = α → a intersecção do plano secante com o cone é uma recta (a geratriz).
 α < β  90o → a intersecção do plano secante com o cone é um par de rectas
concorrentes em V, isto é, o plano secante ε é perpendicular ao cone servindo de eixo de
simetria do cone.

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Lição nº 16
Estudo da elipse
Comecemos o estudo da elipse com um teorema, depois veremos os elementos que caracterizam
a elipse e por fim vamos deduzir a equação canónica ou reduzida e falaremos das propriedades
da elipse.

Teorema: Se F1 e F2 são focos de uma elipse, então, para todo e qualquer ponto P desta elipse,
a soma das distâncias de P a F1 e F2 é constante e maior que a distância entre os
dois focos, isto é: F1 P  F2 P  constante e F1 P  F2 P > F1 F2 .

Definição: Em termos de lugar geométrico, a elipse é o conjunto de todos os pontos P do plano


para os quais a soma das suas distâncias a dois pontos fixos F1 e F2, pertencentes a
este plano, é constante e maior que a distância entre os dois pontos fixos dados.

F1 P  F2 P = constante e F1 P  F2 P > F1 F2

Elementos de uma elipse:


V4 F1 e F2 → são os focos da elipse
V1 e V2 → vértices principais da elipse
V3 e V4 → vértices adjacentes da elipse
a b V1V2  2a → comprimento do eixo maior

V1 V3V4  2b → comprimento do eixo menor


F1 O F2 V2
OV1  OV2  a → semi-eixo maior
OV3  OV4  b → semi-eixo menor
V3 F1 F2  2c → distância focal
F1O  OF2  c → semi-distância focal
Olhando para o ΔF1OV4 rectangular em O:
a 2  b2  c 2 , b2  a 2  c 2 e c  a 2  b2
Equação canónica da elipse:
Consideremos uma elipse num sistema de coordenadas planas, em que o seu centro coincide com
a origem dos eixos e os eixos de simetria são os eixos coordenados:
Sabe-se que F1 P  F2 P  k para todo o
ponto P da elipse. Seja, P ≡ V1, por
y exemplo (ver figura anterior), temos
P(x, y)
F1 P  F1V1 e F2 P  F2V1 , mas
F1V1  V2 F2 e V1 F2  V1 F1  F1 F2
Então, segue que:
F1(–c, 0) O F2(c, 0) x F1 P  F2 P  V1 F1  V1 F2
 V1 F1  ( F1 F2  V1 F1 )
 V1 F1  F1 F2  V2 F2  V1V2  2a
Portanto: F1 P  F2 P  2a
Docente: Leonardo Simão Banze 60
Tendo as coordenadas do ponto P e dos focos, e usando a fórmula da distância entre dois pontos
no plano cartesiano, teremos:
F1 P  F2 P  2a  ( x  c) 2  y 2  ( x  c) 2  y 2  2a
 ( x  c) 2  y 2  2a  ( x  c) 2  y 2 , eliminando o radical, temos
( x  c ) 2  y 2  4a 2  4a  ( x  c ) 2  y 2  ( x  c ) 2  y 2
x 2  2cx  c 2  4a 2  4a  ( x  c ) 2  y 2  x 2  2cx  c 2
4a  ( x  c ) 2  y 2  4a 2  4cx  a  ( x  c) 2  y 2  a 2  cx
eliminando novamente o radical, temos
a 2  (( x  c ) 2  y 2 )  a 4  2a 2 cx  c 2 x 2
a 2 x 2  2a 2 cx  a 2 c 2  a 2 y 2  a 4  2a 2 cx  c 2 x 2
a 2 x 2  c2 x 2  a 2 y 2  a 4  a 2c2
(a 2  c 2 ) x 2  a 2 y 2  a 2 (a 2  c 2 )
dividindo agora ambos os membros por a 2 (a 2  c 2 ) , obtemos
(a 2  c 2 ) x 2 a2 y2 x2 y2
  1    1 , sendo b 2  a 2  c 2
a (a  c ) a (a  c )
2 2 2 2 2 2
a 2
a c
2 2

e substituindo nesta expressão, obtemos finalmente:

x2 y2
  1 → equação canónica da elipse
a 2 b2

Propriedades da Elipse

P1 : Da equação canónica vem que:


x2 y2
 1   a  x  a e  1  b  y  b
a2 b2
A elipse é uma curva fechada e centralmente simétrica (com dois eixos de simetria
perpendiculares entre si).

P2 : Uma recta tangente à elipse em qualquer ponto P(xo, yo) desta é dada pela equação
b 2 xo x  a 2 y o y  a 2 b 2  0

P3:A equação duma recta tangente à elipse, com declive m, é dada por y  mx  a 2 m 2  b 2 .

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P4 : Propriedade focal: Se P é um ponto t
qualquer da elipse de focos F1 e F2, então P
os raios focais PF1 e PF2 formam
ângulos de igual medida com a recta t
tangente à elipse nesse ponto.
(veja a figura ao lado)
F1 F2

P5 : Uma recta r normal à elipse num y r


ponto qualquer P desta, bissecta o r2 P
ângulo formado pelos raios focais que r2
passam por esse ponto.
F1 F2 x
(ver a figura ao lado)

r2 e r2 → raios focais
A recta r é bissectriz do ângulo ( r2 , r2 )
P6 : Propriedade direccional y
t1 e t2 são directrizes da elipse cujas t1 t2
equações são:
a a A d1 P d2 B
t1 : x   e t2 : x 
e e r2 r2
d1 e d2 são as distancias entre as F1 F2
directrizes e um ponto P da elipse de x
raios focais r2 e r2 .
r1  a  ex e r2  a  ex
r1 r
 2  e → propriedade direccional
d1 d 2
d 1  AP e d 2  PB

c
A elipse é caracterizada por uma excentricidade (e) tal que e  e dado que c < a segue que e
a
< a e, portanto, 0 < e < 1.
y
 Se F1 ≡ F2 = F, então F1 F2  0 , onde
F≡ O e e  0  a 2  b 2  0 , ou seja, P(x, y)
a = b. A elipse nestas condições r
é uma circunferência de raio r = a = b:
O x
x  y r
2 2 2 → equação canónica
da circunferência
Docente: Leonardo Simão Banze 62
 Se o centro da elipse não se situa na origem dos eixos, mas sim num ponto (xo, yo), tendo
os eixos paralelos aos eixos coordenados, teremos a equação canónica na forma:

( x  xo ) 2 ( y  y o ) 2
 1 → equação canónica da elipse de centro Oi(xo, yo).
a2 b2

( x  xo ) 2  ( y  y o ) 2  r 2 → equação canónica da circunferência de centro


Oi(xo, yo).

 Se os focos da elipse localizam-se no eixo Oy, y


isto é, sendo F1(0, –c) e F2(0, c) então a
equação da elipse toma a forma :
F2
2 2
x y
2
 2 1 c a
b a

Esta é a equação canónica da elipse com os focos


O b x
no eixo Oy com b  a .

Repare que as equações das directrizes também


modificam-se neste caso, temos rectas paralelas
ao eixo Ox.

Exercícios resolvidos:

1. Compor a equação canónica, a excentricidade e as directrizes da elipse de focos ( 5 , 0) e


com o comprimento do eixo maior medindo 8.
Solução: Dos dados, temos F1(  5 , 0) , F2( 5 , 0) e 2a = 8 então a  4, c  5 e
x2 y2
b 2  a 2  c 2  11 . A equação reduzida da elipse dada é   1.
16 11
Esboço gráfico a seguir:

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y
4

-4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 x
-1

-2

-3

-4

2. Determinar a equação da elipse, cujo eixo maior é paralelo ao eixo dos y, com o centro no
ponto (4, –2), eixo menor medindo 6 e excentricidade 0,5.

Solução: Esboço gráfico:


Como o eixo maior da elipse é paralelo ao y
eixo dos y e seu centro é o ponto (4,  2) , 3
podemos concluir que a equaçao desta
2
elipse é da forma
( x  xo ) 2 ( y  y o ) 2 1
  1 com
a2 b2
c 1 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 x
2b  6  b  3 . Sendo e    a  2c . -1
a 2
Do teorema de Pitágoras, sabe-se que -2
a 2  b 2  c 2  2c 2  32  c 2  c  3 .
-3
Donde temos a  2 3  a  12 .
Portanto, a equação canónica da elipse é -4
( x  4) 2 ( y  2) 2
  1. -5
9 12
-6

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7
3. Dada a elipse da figura ao lado, 6
determinar a equação canónica, as
coordenadas dos seus focos, 5

excentricidade e as directrizes. 4

3
Solução:
Do gráfico facilmente constatámos 2

que 2a  10 e 2b  6 então a  5 e 1
b  3.
O centro não está na origem, é o -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7
ponto (1, 2) . Então, a equação -1

canónica da elipse dada é -2


( x  1) 2 ( y  2) 2
 1. -3
25 9
Sendo c  a 2  b 2  4 , coordenadas dos focos são F1(–3, 2) , F2(5, 2). Analiticamente, é
possível determinar estas coordenadas considerando a transformação de coordenadas por
translação dos eixos para a nova origem Ol(1, 2).
c 4
Excentricidade: e  
a 5
a 25 21
Directrizes: x   e atendendo a translação, temos x  1   ou seja, x   e
e 4 4
29
x .
4

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Lição nº 17
Estudo da hipérbole
Teorema: Se F1 e F2 são focos de uma hipérbole, então, para todo e qualquer ponto P desta
hipérbole, o valor absoluto da diferença das distâncias de P a F1 e F2 é constante,
positiva e menor que a distância entre os dois focos, isto é: F1 P  F2 P  constante e

Definição: A hipérbole é o lugar geométrico de todos os pontos do plano para os quais o valor
absoluto da diferença das suas distâncias a dois pontos fixos F1 e F2, pertencentes a
este plano, é constante e menor que a distância entre os dois pontos fixos dados.

Elementos da hipérbole:
F1 e F2 → são os focos da hipérbole s t
V1 e V2 → vértices
V1V2 → eixo transverso
PQ → eixo conjugado Q1 Q Q2
V1V2  2a e PQ  2b
OV1  OV2  a e OP  OQ  b F1 V1 O V2 F2
F1 F2  2c → distância focal
F1O  OF2  c P1 P P2
s e t → são assímptotas
C1 e C2 → são ramos da hipérbole
Olhando para o ΔOV2Q2 rectangular em V2:
c 2  a 2  b2 , b2  c 2  a 2 e c  a 2  b2

Equação canónica da hipérbole:


Consideremos uma hipérbole num sistema de coordenadas planas, em que o seu centro coincide
com a origem dos eixos e os eixos de simetria são os eixos coordenados:
Dado que a diferença F1 P  F2 P é y

constante para qualquer ponto P da s t


hipérbole, consideremos, por exemplo, o
caso em que P ≡ V1, teremos:
P
F1 V1 O V2 F2 b
F1 P  F1V1  V2 F2
–a a x
F1 F2  F1 P  PV 2  V2 F2
F2 P2  V1V2  V2 F2  V1V2  F1 P
F1 P  F2 P  F1 P  (V1V2  F1 P )
b b
y x y x
 F1 P  V1V2  F1 P   V1V2  2a a a
E, usando os mesmos procedimentos como na dedução da equação da elipse e considerando que
b 2  c 2  a 2 , obtemos:

Docente: Leonardo Simão Banze 66


x2 y2
 1 → equação canónica da hipérbole
a 2 b2

Propriedades da Hipérbole
x2 y2
P1 : Da equação canónica vem que:   1 1  x  a ou x  a .
a 2 b2
Portanto, a hipérbole é uma curva não fechada composta de dois ramos e centralmente
simétrica (com dois eixos de simetria perpendiculares entre si).
b
Ela tem duas assímptotas que são rectas que passam pelo centro e com declives  .
a
c
A hipérbole é caracterizada por uma excentricidade (e) tal que e  e dado que c > a segue
a
que e > 1. Repare que os semi-eixos da hipérbole são catetos do triângulo rectangular
considerado no início, daí que tanto a > b como b > a.
a
P2 : A hipérbole é caracterizada por duas rectas directrizes e de equações x   onde e é a excentricidade.
e
P3 : Propriedade focal: Tal como na elipse, se P é um ponto qualquer da hipérbole de focos F1 e F2, então
os raios focais PF1 e PF2 formam ângulos de igual medida com a recta t tangente à hipérbole nesse
ponto. Veja a figura a seguir:

y t

P
r1
r1

F1 F2

P3 : Propriedade direccional t1 y t2
t1 e t2 são directrizes da hipérbole cujas
equações são:
a a A B P
t1 : x   e t2 : x 
e e
d1 e d2 são as distancias entre as
directrizes e um ponto P da hipérbole de
raios focais r2 e r2 .
F1 F2
d 1  AP e d 2  PB

Docente: Leonardo Simão Banze 67


r1 r
 2  e → propriedade direccional
d1 d 2

 Se o centro da hipérbole não se situa na origem do sistema de coordenadas, mas sim num
ponto (xo, yo), tendo os seus eixos paralelos aos eixos coordenados, teremos a equação
canónica na forma:

( x  xo ) 2 ( y  yo ) 2
  1 → equação canónica da hipérbole de centro Oi(xo, yo).
a2 b2

 Se os focos da hipérbole localizam-se no


eixo Oy, isto é, sendo F1(0, –c) e F2(0, c)
então a sua equação toma a forma : y
s t
2 2
x y
 2
 2 1 F2
b a
Esta é a equação canónica da hipérbole
a c
com os focos no eixo Oy.
b x
É evidente que as equações das directrizes e das
assímptotas também modificam-se neste caso,
temos rectas paralelas ao eixo Ox.
F1
a a
y   são as directrizes e x   x são as
e b
assímptotas.

Exercício resolvido:
Achar a equação reduzida da hipérbole, bem como as equações das suas assímptotas,
sabendo que os focos ( 13 , 0) são e o eixo transverso é 6.
y
Os focos estão no eixo das abcissas (eixo 5
transverso), então: 4
3
2a  6  a  3
2
c 3 1
b c a 2
2 2
-6 -5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 x
x2 y2 -1
Obtemos a equação reduzida:  1 e
9 4 -2
as assímptotas são 3 y  2 x . -3
-4
-5

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Lição nº 18
Estudo da Parábola

Teorema: Se F é foco de uma parábola e d é a sua directriz, então, para todos os pontos P desta
parábola, a distância de P a D (onde D é a projecção de P sobre d), é igual à distância de P a F,
isto é: PD  PF .

Definição: A parábola é o lugar geométrico de


todos os pontos do plano para as
distâncias de um ponto fixo F, D P
pertencente a este plano, e de uma
recta d também do mesmo plano
são iguais. eixo da parábola
O ponto F é o foco e d é a directriz da O V F
parábola. V→ vértice da parábola

OV  VF  p → parâmetro d

Equação canónica da parábola:


Consideremos uma parábola num sistema de coordenadas cartesianas, em que o seu vértice
coincide com a origem dos eixos coordenados e o eixo da parábola coincida com o eixo Ox:
De acordo com a figura ao lado , temos P(x, y), y
F(p, 0) d(F,d) = 2p
│DP│ = │x + p│ D y P(x, y)
│FP│= ( x  p) 2  y 2
Pela definição da parábola: PD  PF
Então, para qualquer ponto P(x, y) da parábola
é válida a igualdade: F x x
( x  p)  y = │x + p│
2 2

 ( x  p) 2  y 2  ( x  p) 2
 x 2  2 px  p 2  y 2  x 2  2 px  p 2
 2 px  y 2  2 px  y 2  4 px

y 2  4 px → equação canónica da parábola

Sendo d(F,d) = 2p, a equação da recta directriz da parábola é x  p  0 ou x   p .


A parábola é uma curva não fechada, sem centro, com apenas um eixo de simetria que passa pelo
foco perpendicularmente à directriz. A distância do vértice ao foco é denominada parâmetro (p)
e é igual à distância do vértice à directriz, ao longo do eixo de simetria.
Observação: Há autores que consideram como parâmetro a distância que vai do foco à directriz.
Para este caso, p  OF , a equação reduzida da parábola é y 2  2 px .

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Se o vértice da parábola não coincide com a origem das coordenadas, seja Oi(xo, yo), então a
equação reduzida da parábola pode ser representada na forma seguinte:

( y  y o ) 2  4 p( x  x o ) → equação da parábola com vértice em Oi(xo, yo)

Designa-se por corda focal ao segmento


cujos extremos são pontos da parábola e que
passa pelo foco.

Em particular, a corda focal perpendicular a b c


ao eixo focal chama-se lactus rectum.
F
Na figura ao lado:
a, b e c são cordas da parábola
a e b são cordas focais
a é o lactus rectum

Casos particulares da equação da parábola


A equação da parábola modifica-se em função da sua posição da curva em relação aos eixos
coordenados:

y y
y
d

x
F F
F x
x
d

d
y  4 px
2
F(–p, 0) x 2  4 py F(0, p) x 2  4 py F(0, –p)
d : x p0 d : y  p0 d : y  p0

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Exercícios resolvidos:
1. Estabelecer a equação canónica da parábola, sendo dados:
a) Foco F (2, 0) e directriz d : x  2  0
b) Vértice (0, 0) e directriz d : y  2
Solução:
a) Pelos dados podemos constatar que p  2 e o eixo da parábola está sobre o eixo dos x.
Assim temos a equação y 2  8x . Veja o esboço gráfico a abaixo.

b) Pelos dados constatamos que a parábola tem o seu eixo sobre o eixo dos y e virada para
cima, com p  2 . Temos a equação x 2  8 y . Veja o esboço a seguir.
a) Esboço b) Esboço
y
4 y5
3
4
2

1 3
-4 -3 -2 -1 1 2 3 4 x F2
-1 F
-2 1
d -3

-4 -5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 x
-1
d
-2
-3

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Lição nº 19

Equação geral das cónicas


Seja d uma recta fixa e F um ponto fixo não situado sobre a referida recta. Seja um ponto P que
se move num plano π ( que contém d e F) de tal maneira que a razão de sua distância a F |PF|
PF
para sua distância a D de d ( |PD| ) seja sempre uma constante positiva >0. Então, o lugar
PD
geométrico obtido denomina-se cónica.

A recta fixa d é a directriz, o ponto fixo F é o foco e a razão constante positiva (e) é a
excentricidade da cónica.

π F  π; P  π; d  π e F  d
D D  d e D = Proj dP
 DP  d

d C

P
F

Teorema: Para cada ponto P de uma cónica diferente da circunferência, verifica-se que quando
PF
F é foco, d é respectiva directriz e D a projecção de P sobre d, então:  e com e
PD
uma constante positiva.

Deste teorema temos que:


 Se 0 < e < 1 a cónica é uma elipse;
 Se e = 1 (quando PF  PD ), a cónica é uma parábola;
 Se e > 1 a cónica é uma hipérbole.
c
Para o caso específico da elipse e hipérbole, tem-se e  .
a

Em termos analíticos, dado um sistema ortogonal de coordenadas num plano π, chama-se cónica
ao conjunto de pontos P(x,y) de π tais que se verifica a equação:

Ax 2  Bxy  Cy 2  Dx  Ey  F  0 com A2  B 2  C 2  0 .

Esta é a equação geral das cónicas. A partir dela, pelos processos de transformação de
coordenadas que vimos na unidade IV, podemos reduzir para uma equação canónica e daí
estudarmos melhor as propriedades dessa cónica. Os teoremas que vamos ver a seguir irão nos

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ajudar para melhor trabalharmos com a equação geral das cónicas, no sentido de podermos
identificar o tipo de cónica definida pela equação.

Portanto, se Ax 2  Bxy  Cy 2  Dx  Ey  F  0 é uma equação geral da cónica, uma pergunta


natural seria: Qual das curvas ela representa?
Responder a esta pergunta é tratar de um problema fundamental da geometria; o de
reconhecer um objeto geométrico a partir de sua equação cartesiana. É claro que no caso de uma
cónica a resposta depende das constantes A, B, C, D, E e F que aparecem na equação. Tudo é
resolvido escolhendo um sistema de eixos coordenados especial, mediante translação e rotação
de eixos, e encontrando a equação da cónica em relação a esse sistema. Essas equações estarão
na forma reduzida, conforme visto nas lições anteriores.

Classificação das cónicas

Teorema: A equação geral do 2º grau Ax 2  Bxy  Cy 2  Dx  Ey  F  0 é do tipo


parabólico, ou elíptico, ou hiperbólico conforme o indicador ( I  B 2  4 AC ) é zero,
ou menor que zero, ou maior que zero, respectivamente (Parabólico: I  0 ; Elíptico:
I  0 ; Hiperbólico: I  0 ).

Transformação
Teorema: A equação geral do 2º grau Ax 2  Bxy  Cy 2  Dx  Ey  F  0 com B ≠ 0, pode ser
transformada em A’x’2 + C’y’2 + D’x’ + E’y’ + F’ = 0, onde o termo em x’y’ não
aparece por rotação dos eixos coordenados através de um ângulo agudo positivo θ
B
tal que tg 2  se A  C e   45 o se A  C (0 ≤ θ ≤ 90º).
AC

A equação geral das cónicas pode ser escrita na forma ax 2  2bxy  cy 2  2dx  2ey  f  0 em
que:
a b d
a b
Δ b c e ;  e S  a  c  al + cl
b c
d e f

Onde S é invariante com a transformação dos eixos coordenados, com o seguinte significado
geométrico:

VALOR DO Δ CÓNICAS CENTRAIS (δ≠0) CÓNICAS SEM CENTRO (δ = 0)


δ>0 δ<0
ΔS < 0
Elipse real
Δ≠0 ΔS > 0 Hipérbole
Cónicas Elipse imaginária Parábola
Autênticas a' = c'
Circunferência
Δ=0 Cónicas não autênticas
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Formas cónicas

Nº EQUAÇÃO TIPO DE CÓNICA


x2 y2
01  1 Uma elipse
a 2 b2

x2 y2
02   –1 Uma elipse imaginária { }
a 2 b2

x2 y2
03  0 Um ponto (0, 0)
a 2 b2
x2 y2
04  1 Uma hipérbole
a 2 b2

x2 y2
05  0 Um par de rectas com intersecção na origem (0, 0)
a 2 b2
06 x2  a , a > 0 Duas rectas paralelas
07 x2  a , a < 0 Duas rectas paralelas imaginárias { }
08 x2  0 Rectas coincidentes (uma recta)
09 x 2  4 py Uma parábola

Exemplo: Determinar o lugar geomértico definido pela equação do segundo grau


2 x 2  4 xy  4 y 2  2 x  8 y  9  0 .
Solução: Dados A = 2, B = –4, C = 4.
Do indicador I  B 2  4 AC temos:
I  2 2  4  2  4  4  32  28 donde concluímos que a equação define uma curva de natureza
elíptica ( I  0 ). Colocando-a na forma ax 2  2bxy  cy 2  2dx  2ey  f  0 temos
2 x 2  2  2 xy  4 y 2  2 x  2  4 y  9  0 onde a  2, b  2, c  4, d  1, e  4, f  9.
 2  2  2
Calculando Δ   2 4  4  28  0 concluímos que se trata de uma cónica autêntica.
  1  4 9 
Efectuando a transformação por rotação dos eixos coordenados (lição nº 13) obtemoa a forma
reduzida: (3  5 ) x'2 (3  5 ) y'2 4  0 que é uma elipse.

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Exercícios de auto-avaliação
Agora, para consolidação, resolva os exercícios desta unidade a seguir apresentados.

1. Determine o lugar geométrico definido pelas seguintes equações do 2º grau:


a) 4 x 2  12 xy  9 y 2  0
b) y 2  2 xy  4 x  2 y  2  0
c) x 2  2 xy  y 2  5x  0
d) 4 x 2  4 xy  y 2  6 x  3 y  2  0
e) 2 x 2  2 y 2  4 x  6 y  7  0
f) x 2  8xy  16 y 2  4 x  16 y  7  0

2. Reduza as seguintes equações às formas canónicas:


a) 5x 2  6 xy  5 y 2  1  0
b) 11x 2  16 xy  y 2  6 x  18 y  9  0
c) 13x 2  10 xy  13 y 2  4 x  68 y  28  0
d) 2 x 2  4 xy  2 y 2  x  y  1  0
e) 11x 2  10 3xy  y 2  4
f) 16 x 2  24 xy  9 y 2  60 x  80 y  100  0

3. Para cada uma das equações abaixo determine o tipo de cónica, o foco (ou focos), a recta
directriz (se for parábola) e as assímptotas (no caso de hipérbole):
a) 2 x  y 2  8 y  22
b) 4 x 2  y 2  16
c) y 2  x 2  4
d) x 2  4 y  2 y 2
e) 9 x 2  18x  4 y 2  27
f) x 2  4 x  28  8 y
g) y 2  2 y  4 x 2  3
h) y 2  2 y  12 x  25  0

Soluções:
1. a) Rectas coincidentes b) Hipérbole c) Parábola d) Duas rectas paralelas e) Ø f) Ø
2. a) Elipse: 4 x'2  y'2  2 b) Hoipérbole: x'2 3 y'2  3 c) Elipse: 4 x'2 9 y'2  36
d) Parábola: y'  2 x' 2 1 e) Hipérbole: 4 x'2  y'2  1 f) Parábola: y'2  4( x'1)
3. a) Parábola, F( 3, 5;  4 ), d: x  2,5  0 b) Elipse, F( 0;  2 3 ) c) Hipérbole F( 0;  2 2 ), y   x
d) Elipse F(  1; 1) e) Elipse F( 1;  5 ) f) Parábola F(  2 ; 5 ), d: y  1  0
g) Hipérbole F( 0;  1  5 ), y  1   2 x h) Parábola F(  5;  1 ), d: x  1  0

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